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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PRODUÇÃO ANIMAL CONSUMO E DIGESTIBILIDADE APARENTE DE DIETAS COM NÍVEIS CRESCENTES DO SUBPRODUTO DO CAJU EM OVINOS DYEGO FELIPE DE LIMA LEITE MACAÍBA RN / BRASIL Março/2013

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PRODUÇÃO ANIMAL

CONSUMO E DIGESTIBILIDADE APARENTE DE DIETAS

COM NÍVEIS CRESCENTES DO SUBPRODUTO DO CAJU

EM OVINOS

DYEGO FELIPE DE LIMA LEITE

MACAÍBA – RN / BRASIL

Março/2013

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DYEGO FELIPE DE LIMA LEITE

CONSUMO E DIGESTIBILIDADE APARENTE DE DIETAS

COM NÍVEIS CRESCENTES DO SUBPRODUTO DO CAJU

EM OVINOS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação

em Produção Animal da Universidade Federal do Rio

Grande do Norte como parte das exigências para obtenção

do título de Mestre em Produção Animal

Orientador: Prof. Dr. Emerson Moreira de Aguiar

MACAÍBA – RN / BRASIL

Março/2013

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DYEGO FELIPE DE LIMA LEITE

CONSUMO E DIGESTIBILIDADE APARENTE DE DIETAS

COM NÍVEIS CRESCENTES DO SUBPRODUTO DO CAJU

EM OVINOS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação

em Produção Animal da Universidade Federal do Rio

Grande do Norte como parte das exigências para obtenção

do título de Mestre em Produção Animal

APROVADA EM: 15/03/2013

Banca examinadora

Prof. Dr. Emerson Moreira de Aguiar (UFRN)

Presidente (Orientador)

Dr.(a) Nivea Regina de Oliveira Felisberto (UFRN)

Examinadora

Prof. Dr. Marcelo de Andrade Ferreira (UFRPE)

Examinador

Prof. Dr. Luiz Januário Magalhães Aroeira (UFERSA)

Examinador

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“Aqueles que se sentem satisfeitos sentam-se

e nada fazem. Os insatisfeitos são os únicos

benfeitores do mundo”...

Walter S. Landor

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vi

Agradecimentos

Em primeiro lugar agradeço ao senhor Deus pela perseverança, força de vontade,

obstáculos enfrentados e pela presença permanente em minha vida e a nossa senhora

Sant´Ana por tudo.

Ao Programa de Pós-Graduação em Produção Animal – UFRN, pela oportunidade de

realização deste curso e a CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de

Nível Superior, pela oportunidade de concessão da bolsa de estudo.

Meus agradecimentos ao PROCAD pela oportunidade de realizar o estudo sanduíche

na Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais e a concessão da

bolsa de estudo.

Aos meus amados pais Eunápio Leite Neto e Ana Cristina pela educação, carinho,

atenção, preocupação e orações, tudo em prol do meu crescimento.

Aos meus avós Severina Rita (vovó Sinhá), vovô Edmundo e minha avó Joselita

(Cordeira), pelas orações e por sempre acreditarem no meu potencial e prestigiarem os

meus esforços.

Ao meu autêntico irmão Moacyr Neto (Moca) pelos momentos de descontração e

boas horas de lazer.

A minha namorada Munik Meybel pelo exemplo de força, dedicação, carinho e por

me apoiar nos momentos que mais precisava. Presente de Deus na minha vida.

Ao meu tio e tias: Cláudio Adriano, Érika Cristiane e Susana Estelita pelo exemplo

de vida, conselhos e dedicação aos estudos.

Sinceros agradecimentos ao senhor Bira Rocha – Fazenda Lanila Agropecuária®, por

fornecer seus animais para condução deste trabalho.

Agradeço a Prof. (a) Dr. Elizete Teresinha pelo incentivo e ajuda na obtenção dos

animais para condução deste trabalho.

Ao pesquisador, orientador e amigo Prof. Dr. Emerson Moreira de Aguiar pelos

ensinamentos, pela formação científica e pelo apoio na condução desta pesquisa.

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vii

Ao professor e amigo Dr. Luciano Patto Novaes pelas correções feitas no resumo e

conversão para língua inglesa.

A todos os Professores do Programa de Pós-Graduação em Produção Animal –

UFRN.

Meus agradecimentos a Dr.(a) Nivea Regina de Oliveira Felisberto pela paciência,

ajuda e apoio na condução deste trabalho, contribuindo para meu aprendizado nos

estudos da Nutrição de Ruminantes.

Agradeço ao GEFOR – Grupo de Estudos em Forragicultura, em nome do professor

Dr.Gelson dos Santos Difante, por disponibilizar as baias coletivas para realização desta

pesquisa e aos bolsistas que me ajudaram na realização deste trabalho.

Aos amigos do Laboratório de Nutrição Animal – UFRN, Luis Antônio, Bruna

Maria, Francisco das Chagas, Igor de Paula, Riozi Castro, Priscila Medeiros e Pollyanna

Emanuela pela convivência e momentos de descontração.

Agradeço a professora Dr.(a) Eloísa de Oliveira Simões Saliba pelas orientações,

ensinamentos, amizade e pela oportunidade de estagiar no Laboratório de Nutrição

Animal da Escola de Veterinária da UFMG.

Aos funcionários do Laboratório de Nutrição Animal da EV – UFMG pelas dicas

fornecidas durante o meu período de permanência e, pela oportunidade de aprender um

pouco mais sobre as técnicas experimentais.

Aos novos colegas de profissão: Hélio Costa e Wandenberg Lira por me acolherem

em sua residência durante o período de estudo em Belo Horizonte – MG.

Ao casal de amigos Cecília e Filipe Silva por me ajudarem na condução das análises

de determinação do indicador Dióxido de Titânio e ao Otaviano Pires, pela orientação

junto ao Laboratório de Produção de Gases da EV – UFMG.

Ao pesquisador Dr. José Simplício de Holanda, pelas contribuições e por

disponibilizar o subproduto do caju para condução deste trabalho.

E a todos que me ajudaram direta e indiretamente nesta pesquisa...

O meu muito obrigado.

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RESUMO

Leite, Dyego Felipe de Lima. Consumo e digestibilidade aparente de dietas com níveis

crescentes do subproduto do caju em ovinos. 35 f. Dissertação (Mestrado em Produção

Animal). Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN. Macaíba – RN, 2013.

O presente estudo foi conduzido com o objetivo de avaliar o consumo e a

digestibilidade aparente de dietas contendo níveis crescentes do subproduto do caju em

ovinos. Os animais foram distribuídos em um delineamento experimental inteiramente

casualizado, onde foram avaliados quatro níveis de inclusão (0%, 20%, 40%, 60%) do

subproduto do caju com quatro repetições, perfazendo-se 16 observações. O indicador

utilizado foi a Lignina Purificada e Enriquecida - LIPE®. O marcador foi administrado

de forma oral diretamente na boca dos animais, no formato de cápsulas de

250mg/animal/dia por um período de dois dias de adaptação e cinco dias de coletas

sendo o mesmo, fornecido com a ajuda de uma mangueira de polietileno e um

dispositivo que permitisse o lançamento da cápsula no esôfago dos ovinos. Com a

estimativa feita pelo indicador LIPE foi observado uma redução nos consumos de MS,

MO, PB, FDN, EE, CNF e MM ao longo da inclusão do subproduto do caju. Os

resultados de digestibilidade dos nutrientes não foram satisfatórios com a inclusão do

subproduto do caju, reduzindo linearmente com a inclusão deste nas dietas. O uso dos

níveis crescentes do subproduto do caju nas dietas dos ovinos não apresentou resultados

satisfatórios, não sendo viável o seu uso para os animais estudados neste experimento.

Palavras chaves: alimentos alternativos, marcadores, resíduos da agroindústria,

ruminantes, valor nutritivo

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ABSTRACT

Leite, Dyego Felipe de Lima. Apparent intake and digestibility of diets with increasing

levels of the byproduct of Cashew in sheep 2013. 35 f. Master Science Degree in

Animal Production. Federal University do Rio Grande do Norte – UFRN. Macaíba –

RN, 2013.

The present study was conducted to evaluate the intake and digestibility of diets

containing increasing levels of byproduct of cashew in sheep. The animals were

distributed in a completely randomized design were evaluated in four levels (0%, 20%,

40%, 60%) by product of cashew with four replicates, making up 16 observations. The

indicator used was the Purified Lignin and Enriched - LIPE ®. The scorer was orally

administered directly into the mouth of the animals, in the form of capsules

250mg/animal/dia for a period of two days and five days of adaptation samples being

the same supplied with the aid of a hose polyethylene and a device allowing the release

of the capsule in the esophagus of sheep. With the estimate made by the indicator LIPE

was observed a reduction for DM, OM, CP, NDF, EE, NFC and MM along the

inclusion of byproduct of cashew. The results of nutrient digestibility were not

satisfactory with the inclusion of byproduct of cashew, reducing linearly with the

inclusion of the diets. The use of increasing levels of byproduct of cashew in the diets of

sheep did not provide satisfactory results, it is not feasible to use the animals studied in

this experiment.

Key words: alternative feeds, markers, waste agribusiness, ruminant byproducts,

nutritive value

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráficos 1 e 2 Consumo de Matéria seca em g/dia e % PVem função dos níveis

crescentes do subproduto do caju em ovinos .......................... 28

Gráficos 3 e 4 Consumos de Fibra em detergente neutro em g/dia e % PV em

função dos níveis crescentes do subproduto do caju em ovinosna

dieta dos ovinos ........................................................................ 30

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 Proporção dos ingredientes utilizados nas dietas dos ovinos ... 22

TABELA 2 Composição química dos ingredientes utilizados nas dietas

experimentais ............................................................................ 22

TABELA 3 Composição química das dietas experimentais em função dos

níveis crescentes do subproduto do caju em ovinos ................. 22

TABELA 4 Consumos de Matéria Seca (CMS), Matéria Orgânica (CMO),

Proteína Bruta (CPB), Fibra em Detergente Neutro (CFDN),

Extrato Etéreo (CEE), Carboidratos não Fibrosos (CCNF),

Matéria Mineral (CMM), Fibra em Detergente Ácido (CFDA) e

Lignina (CLIG), equações de regressão, coeficiente de

determinação (R²) e coeficiente de variação (CV %) em função

dos níveis crescentes do subproduto do caju em ovinos,

estimado pelo indicador Lignina Purificada e Enriquecida

(LIPE®) .................................................................................... 25

TABELA 5 Coeficientes de Digestibilidade aparente dos nutrientes,

equações de regressão, coeficiente de determinação (R²), e

coeficiente de variação (% CV) em função dos níveis crescentes

do subproduto do caju em ovinos ............................................. 30

TABELA 6 Resultados de digestibilidade in vitro dos alimentos utilizados

nas dietas dos ovinos. ............................................................... 30

TABELA 6 Coeficientes de Digestibilidade aparente da Matéria Seca

(CDMS), Matéria Orgânica (CDMO), Proteína Bruta (CDPB) e

Fibra em Detergente Neutro (CDFDN), equações de regressão,

coeficiente de determinação (R²), e coeficiente de variação (%

CV) em função dos níveis crescentes do subproduto do caju em

ovinos. ....................................................................................... 36

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LISTA DE ABREVIATURAS

MS ­ Matéria Seca

MO ­ Matéria Orgânica

PB ­ Proteína Bruta

EE ­ Extrato Etéreo

FDA ­ Fibra em Detergente Ácido

FDN ­ Fibra em Detergente Neutro

LIG ­ Lignina

CEL ­ Celulose

HEM ­ Hemicelulose

MM ­ Matéria Mineral

NDT ­ Nutrientes Digestíveis Totais

CMS ­ Consumo de Matéria Seca

CPB – Consumo de Proteína Bruta

CMO – Consumo de Matéria Orgânica

CEE – Consumo de Extrato Etéreo

CFDN – Consumo de Fibra em Detergente Neutro

CFDA – Consumo de Fibra em Detergente Ácido

CCNF – Consumo de Carboidratos não Fibrosos

CLIG – Consumo de Lignina

CDMS – Coeficiente de Digestibilidade da Matéria Seca

CDMO - Coeficiente de Digestibilidade Matéria Orgânica

CDPB - Coeficiente de Digestibilidade Proteína Bruta

CDFDN - Coeficiente de Digestibilidade da Fibra em Detergente Neutro

g – grama

kg­ quilograma

g/kg0,75

­ gramas por quilo de peso metabólico

LIPE – Lignina Purificada e Enriquecida

PV ­ Peso Vivo

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SUMÁRIO

LISTA DE GRÁFICOS .................................................................................................... X

LISTA DE TABELAS ................................................................................................... xi

LISTA DE ABREVIATURAS....................................................................................... xii

1. REFERENCIAL TEÓRICO .........................................................................................1

REFERÊNCIAS .....................................................................................................4

CAPÍTULO 2 REVISÃO DE LITERATURA....................................................5

Avaliação do consumo e digestibilidade de dietas contendo o

subproduto do caju na alimentação de ovinos .............................5

2.1. Aspectos agronômicos da cultura do cajueiro .............................5

2.2. Subproduto do caju e seu uso na alimentação de ruminantes ......6

2.4. Consumo voluntário e digestibilidade aparente ...........................9

2.5. Técnicas utilizadas na determinação da digestibilidade: Métodos

e medidas de estimativas ...........................................................10

2.6. Método direto ou convencional .................................................10

2.7. Avaliação da digestibilidade dos alimentos e uso de indicadores

em ensaios de metabolismo. ......................................................10

2.7.1. LIPE – Lignina Purificada e Enriquecida®

...............................12

REFERÊNCIAS ...................................................................................................15

CAPÍTULO 3 CONSUMO E DIGESTIBILIDADE APARENTE DE DIETAS

COM NÍVEIS CRESCENTES DO SUBPRODUTO DO CAJU

EM OVINOS ............................................................................ 18

RESUMO ...................................................................................................18

ABSTRACT ...................................................................................................19

INTRODUÇÃO ...................................................................................................20

MATERIAIS E MÉTODOS............................................................................................21

RESULTADOS E DISCUSSÃO ....................................................................................25

CONCLUSÃO ...................................................................................................32

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................33

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1. REFERENCIAL TEÓRICO

O Nordeste brasileiro é uma região onde as condições climáticas adversas

dificultam o desenvolvimento das atividades na agropecuária, gerando carências,

principalmente nutricionais, que acometem parte de sua população. A situação se

estende aos rebanhos criados, cuja baixa produtividade se deve aos deficientes manejos

alimentar, sanitário e reprodutivo. Nesta região a fruticultura vem se desenvolvendo

como uma atividade econômica de destaque. Nos últimos anos, tem-se observado, de

maneira geral, um processo de profissionalização, caracterizado pela exploração de

áreas mais extensas, pela utilização da irrigação e pelo incremento de novas tecnologias,

visando um incremento quantitativo e qualitativo da produção de frutos tipo exportação.

O Brasil bate recorde ano após ano com agronegócio, gerando uma abundante

quantidade de resíduos agrícolas e subprodutos agroindustriais que apresentam

potencial para serem usados na alimentação animal. Segundo informações da FAO

(2010) a produção agropecuária no Brasil e no mundo, aponta a castanha do caju como

1º colocado no ranking de produção com 1.715.700 toneladas, correspondendo a 90,3%

da produção mundial.

O aproveitamento destes resíduos na alimentação dos ruminantes poderá ser uma

alternativa nas regiões onde existe escassez na produção de forragem. Além disso, o uso

dos subprodutos da agroindústria não só reduziria os custos com a compra de

concentrados como também daria um destino a esses produtos, já que são considerados

custos operacionais para as empresas ou fonte de contaminação ambiental.

Segundo Oliveira (2003), mesmo com o grande volume produzido e do alto

potencial de uso, estes alimentos tem sido pouco utilizados, de forma empírica, nas

cercanias de indústrias e fazendas. Entretanto, a sua utilização na alimentação dos

rebanhos, como reporta Lima (2005), depende de uma série de fatores como:

proximidade, composição química, características nutricionais (fatores tóxicos ou

antinutricionais), custo com transportes, possibilidade de armazenamento e manipulação

dos mesmos.

Segundo Dantas Filho (2004), em decorrência da safra de caju na região Nordeste

ocorrer na estação seca do ano, no período da entressafra do milho e da soja, com

algumas variações dependendo do estado, o farelo do pseudofruto do cajueiro apresenta

grande potencial de utilização na indústria de ração animal. O aproveitamento na

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alimentação animal desse subproduto e de outros que normalmente são desperdiçados

podem liberar quantidades significativas de milho para utilização na alimentação

humana, diminuindo a competição por alimentos entre o homem e os animais

domésticos.

Diante desse cenário favorável, cada vez mais a pesquisa tem buscado sistemas de

produção eficientes capazes de fornecer adequada quantidade de energia e nutrientes

digestíveis e metabolizáveis para os ruminantes. Esse objetivo vem sendo alcançado

com a melhoria na eficiência de produção animal, onde os alimentos são utilizados de

forma racional, contribuindo para redução da contaminação ambiental e perdas de

lucratividade, possibilitando dessa forma, maior competitividade e sustentabilidade na

atividade.

Uma possível maneira de definir a qualidade da dieta seria o produto da

digestibilidade pelo consumo de matéria seca, intimamente correlacionada com o

consumo de energia. Assim, as estimativas de digestibilidade têm grande valor prático

para a alimentação animal, tendo em vista que a digestão incompleta normalmente

representa a maior perda no processo da utilização da energia consumida (Rodriguez et

al., 2006).

Portanto, na avaliação completa do valor nutritivo dos alimentos, os efeitos dos

processos de consumo, digestão, absorção e metabolismo animal devem ser

considerados, além da sua composição química.

Considerando a importância da avaliação da digestibilidade e consumo de

alimentos, a busca por métodos de estimativa do valor nutricional tem sido alvo de

inúmeras pesquisas nacionais e internacionais na nutrição de ruminantes, uma vez que

os ensaios com animais são caros, laboriosos e relativamente longos.

Entretanto, o método in vivo continua a ser importante, uma vez que é referência,

tanto na avaliação de alimentos, como na validação dos métodos de estimação. A

determinação da digestibilidade tem sido o principal objetivo da experimentação in vivo,

uma vez que esta variável quantifica a disponibilidade dos nutrientes dos alimentos no

trato gastrointestinal dos animais, envolvendo mensurações de consumo e da excreção

fecal (Rodriguez et al., 2006)

Considerando o elevado consumo de alimentos pelos ruminantes e a proporcional

elevada excreção fecal, a coleta total de fezes por determinado período de tempo torna-

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se impraticável, o que levou à utilização de substâncias indicadoras para a estimação da

excreção fecal e da digestibilidade (Moraes, 2007).

O uso de marcadores externos ou internos em avaliações de digestibilidade de

nutrientes dos alimentos não é recente. Esta técnica foi inicialmente utilizada décadas

atrás, com a finalidade de facilitar a determinação da produção fecal, realizada mediante

a coleta total, procedimento bastante trabalhoso, feito com sacolas que, na maioria das

vezes, provocam quedas significativas de consumo (Berchielli et al., 1996)

A determinação da digestibilidade pelo método de indicadores não requer o

manuseio de grandes quantidades de material, pois, para o cálculo de produção fecal

leva-se em conta a quantidade do indicador fornecido ao animal e a sua concentração

nas fezes (Rodriguez et al., 2006).

Desde então, diversos experimentos tem sido conduzidos visando avaliar o

comportamento dos indicadores no processo de digestão animal, quer seja através da

interação dos mesmos com o organismo animal ou com a dieta fornecida, quer seja pela

elevada variação de excreção destes, do tipo animal ou pelas metodologias utilizadas, o

que faz com que as estimativas de produção fecal, consumo e digestibilidade

representem de forma menos precisa e acurada a realidade (Zeoula et al., 1994).

Alguns trabalhos mostram que existe interação entre indicador e o tipo de fibra

utilizada como volumoso em ensaios com animais. Dessa forma, a pesquisa busca

relacionar corretamente qual o indicador mais apropriado, dependendo da dieta

utilizada, visando assim, obter dados menos conflitantes, e mais adequada, quando

comparados aos da coleta total de fezes. No entanto, esses dados ainda são escassos e os

resultados obtidos ainda muito divergentes (Berchielli et al. 1996)

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REFERÊNCIAS

BERCHIELLI, T. T.; RODRIGUEZ, N. M.; GONÇALVES, L. C. Polietilenoglicol e

cobalto-EDTA como marcadores de fase líquida ruminal. Arq. Bras. Med. Vet.

Zootec. v. 48, n. 4, p. 463-471, 1996.

DANTAS FILHO, L. Inclusão da polpa de caju (Anacardium occidentale L.)

desidratada na alimentação de ovinos mestiços da raça Santa Inês: Desempenho,

digestibilidade e balanço de nitrogênio. Teresina, PI. 2004. 60 p. Dissertação

(Mestrado em Ciência Animal) – Centro de Ciências Agrárias, Universidade Federal do

Piauí.

Food and Agriculture Organization (FAO) - Exportação de castanha de caju sem

casca. Disponível em < www.fao.org > 2010.

LIMA, M.L.M., Uso de subprodutos da agroindústria na alimentação de bovinos.

REUNIÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 42, Goiânia, 2005,

Anais. Goiânia SBZ, 2005. P.322 – 329.

MORAES, S.A. Subprodutos da agroindústria e indicadores externos de

digestibilidade aparente em caprinos. 2007, 57p. Tese (Doutorado em Ciência

Animal). Escola de Veterinária - UFMG, Belo Horizonte – MG.

OLIVEIRA, E.R., Aproveitamento de resíduos agroindustriais na alimentação de

ovinos. Simpósio Internacional sobre Caprinos e Ovinos de corte, 2003, v.1, p. 611 –

619

RODRIGUEZ, N.M.; SALIBA, E.O.S.; JÚNIOR, R.G. Uso de indicadores para

estimativa de consumo a pasto e digestibilidade. In: REUNIÃO ANUAL DA

SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 43, 2006, João Pessoa – PB. Anais...

Paraíba: SBZ, 2006.

ZEOULA, L. M.; BRANCO, A. F.; SALINA, L. J. Avaliação de indicadores em

estudo de digestibilidade de alimentos para ruminantes. Rev. Unimar, v. 22, n. 3,

p.165-174, 1994.

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CAPÍTULO 2 - REVISÃO DE LITERATURA

Avaliação do consumo e digestibilidade de dietas contendo o subproduto do caju

na alimentação de ovinos

2.1. Aspectos agronômicos da cultura do cajueiro

O caju Anacardium occidentale L. pertence à família Anacardiaceae. Esta família,

composta por mais de 60 gêneros e 400 espécies, engloba árvores e arbustos tropicais e

subtropicais que apresentam caule resinoso e folhas alternadas. Além do caju,

pertencem a esta família outras frutas como: manga, umbu, cajá-umbu, cajá e seriguela.

O sistema radicular constitui-se de uma raiz pivotante bem desenvolvida, normalmente

bifurcada, que pode passar dos 10 metros de profundidade, e de uma malha lateral

subsuperficial (91% encontram-se de 15 a 32 cm de profundidade), bastante importante

para a planta, pois cerca de 82% das raízes efetivas na absorção de nutrientes

encontram-se até 30 cm de profundidade.

O fruto do cajueiro é constituído da castanha (10%) e o pedúnculo (90%). A produção

de caju no Nordeste do Brasil é bastante elevada, porém, 96% dessa produção são

desperdiçados (Holanda et al.,1996a). O cajueiro é uma planta andromonóica, ou seja, o

seu sistema reprodutivo constitui-se de flores masculinas (estaminadas) e hermafroditas. A

inflorescência é uma panícula onde se encontram os dois tipos de flores, em quantidades e

proporções que variam muito, tanto entre plantas como entre panículas de uma mesma

planta.

O cajueiro é uma planta típica de clima tropical, sendo encontrada como

espontânea ou cultivada em vários países do mundo. Os locais onde o cajueiro

encontrou melhores condições de propagação foram no Nordeste do Brasil,

principalmente nos Estado do Ceará, Rio Grande do Norte e Piauí, nas costas Leste e

Oeste da Índia, e nas regiões litorâneas de Moçambique, Tanzânia e Quênia (Soares,

1986). A região mais provável onde o cajueiro tenha se originado é no Nordeste do

Brasil, próximo à linha do Equador, entre as latitudes de 0º e 10º Sul.

A pluviosidade ideal para exploração da cultura fica em torno de 1.000 mm

anuais. Esta cultura não se adapta em regiões de altitudes acima de 600 metros. De

maneira geral, o cajueiro é resistente à seca.

A importância econômica da cajucultura está relacionada principalmente com a

produção da castanha e beneficiamento da amêndoa do cajueiro. Segundo a FAO

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(2010), os principais produtores de castanha de caju são: Brasil, Mali e Madagascar. A

participação do Brasil corresponde a 90,3% na produção mundial da amêndoa do caju.

O cajueiro destaca-se ainda no contexto socioeconômico pelo valor nutritivo e

comercial dos seus produtos, cuja produção e industrialização garantem expressivo

fluxo de renda, além de geração de milhares de empregos (Lima, 1998).

A partir dos meados da década de 90, houve uma maior expansão da cultura

empregando clones melhorados de cajueiro anão precoce, sobretudo em estados com

menor participação na produção, como Pernambuco, Paraíba, Tocantins e Pará, que

adotaram essa tecnologia de maior produtividade em detrimento dos cultivos

tradicionais.

Este novo cenário implicará em um aumento da oferta de castanha e pedúnculo, e

exigirá o desenvolvimento de novas tecnologias de pós-colheita e processamento

industrial. Cabe aos órgãos envolvidos no desenvolvimento do país executar políticas e

ações proativas para reduzir possíveis efeitos negativos do aumento da oferta de

castanha, esperada para os próximos anos.

Da mesma forma, o elo mais fraco da cadeia produtiva, o produtor, deve exercitar

estratégias e ações, preferencialmente coletivas, para amenizar esses possíveis efeitos

negativos (Pimentel et al., 2002).

De acordo com este autor, uma das ações sugeridas é o estudo do comportamento

dos países competidores em relação às estratégias de produção e de ocupação dos

mercados. Outro aspecto importante é obedecer às tendências dos consumidores mais

exigentes e vigilantes quanto a opções alimentares. Finalmente, será fundamental

disciplinar a expansão da área produtiva e incentivar o desenvolvimento de técnicas que

agreguem valor para o produtor.

2.2. Subproduto do caju e seu uso na alimentação de ruminantes

A matéria prima para obtenção do subproduto do caju pode ser obtida a partir do

bagaço, que nada, mais é que o resíduo da extração do suco bem como os pseudofrutos

descartados pela agroindústria, ou os que não foram aproveitados durante a colheita da

castanha (Lopes et al., 2005).

O período para a secagem do bagaço a um ponto de umidade que permita a

moagem e conservação é variável em função dos seguintes fatores: Teor de umidade

inicial do bagaço, intensidade de insolação diária, umidade relativa do ar, velocidade do

vento, espessura da camada de material na área destinada à secagem e teor de umidade

final do produto (Dantas Filho, 2004).

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De acordo com Ramos (2005), o processo de secagem do pseudofruto do cajueiro

consiste na exposição do material ao sol durante três a quatro dias, revirando-se o

produto para uniformizar a secagem e evitar fermentação do material.

Em trabalho de pesquisa, Dantas Filho (2004) encontrou os valores de 91,52% de

matéria seca, 16,05% de proteína bruta, 2,23% de matéria mineral, 62,64% de fibra em

detergente neutro e 26,79% de fibra em detergente ácido para o pseudofruto desidratado

do cajueiro.

Ramos (2005) encontrou para o pseudofruto desidratado do cajueiro os valores de

88,70%, 4,15%, 14,00%, 12,07%, 0,45%, 0,30%, 0,8% e 4.320 kcal/kg,

respectivamente, para matéria seca, extrato etéreo, proteína bruta, fibra bruta, cálcio,

fósforo total, tanino e energia bruta.

O resíduo da indústria de suco de caju apresentou, segundo (Fonseca Filho, 1983)

e (Ferreira et al, 2004) os seguintes resultados: 25,4% de matéria seca, 91,6% de matéria

orgânica, 13,3 e 14,2% de proteína bruta, 4,1 e 5,4% de extrato etéreo, 12,2% de fibra

bruta, 65,5% de fibra em detergente neutro, 47,0% de fibra em detergente ácido, 11,9%

de carboidratos fibrosos, 67,4% de nutrientes digestíveis totais (NDT) e 2.964 kcal/kg

de energia digestível. É muito pobre em cálcio, fósforo, cobre e cobalto e a proteína

apresenta deficiência acentuada em aminoácidos essenciais tais como: isoleucina,

fenilalanina e metionina.

De acordo com (Holanda et al., 1996b), os animais podem consumir o pedúnculo

de caju in natura, desidratado ou como resíduo da extração do suco. Porém, é

importante a correção das deficiências minerais para maximizar o potencial alimentar

do pedúnculo do caju que deve ser consumido em misturas balanceadas.

A composição química do pseudofruto do caju desidratado foi relatada por Soares

(1986) e Tocchini (1985), com os seguintes percentuais: 87,24% e 87,00% de matéria

seca, 13,14% e 10,15% de proteína bruta, 4,27 e 5,76% de extrato etéreo, 8,94 e 12,63%

de fibra bruta, 2,89% e 2,64% de matéria mineral, respectivamente. Já em trabalhos

realizados por Araújo (1987), o caju apresenta em sua constituição, um grupamento

químico (compostos fenólicos), que não é observado no grão do milho. Os teores de

taninos variam de acordo com o ano de colheita, local, tipo de caju, variedade e método

de secagem do pseudofruto. Em análises realizadas, foram encontrados valores que

variaram de 1,09 a 1,40% de tanino no caju.

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2.3. Introdução aos métodos de determinação de digestibilidade em ruminantes

Os primeiros experimentos de digestão foram conduzidos na mesma época em

que os métodos químicos foram utilizados na avaliação dos alimentos, sendo que alguns

dos métodos químicos foram desenvolvidos pelos mesmos pesquisadores que

conduziram um dos primeiros experimentos de digestão na “Weende Experiment

Station”, na Universidade de Goettingen, na Alemanha (Teixeira, 1997).

Os primeiros trabalhos sobre perdas de nutrientes nas fezes, levando à avaliação

do valor energético dos alimentos em termos de nutrientes digestíveis totais, iniciaram

antes de 1860, sendo que no ano de 1884, foi publicado nos Estados Unidos, o boletim

“Composição Digestibilidade de Alimentos”, primeira publicação sobre experimentos

de digestibilidade, realizado na Estação Experimental de Agricultura da Universidade

de Winconsin, pela equipe comandada pelos professores Henry e Armsby, considerados

os pais da nutrição animal nos Estados Unidos. Em 1947, Schneider citado por Teixeira

(1997) constatou a existência de mais de 3.000 publicações com resultados de mais de

25.000 ensaios de digestibilidade.

Com o conhecimento adquirido com o tempo, os métodos foram modificados e

desenvolvidos para melhorar a confiança com a qual as técnicas laboratoriais antigas

pudessem ser usadas para predizer o valor nutritivo dos alimentos para os animais.

Segundo este mesmo autor, mesmo que os procedimentos laboratoriais (in vitro), sejam

desenvolvidos e modificados, simplesmente tentam imitar o processo “in vivo”.

Atualmente, os experimentos de digestibilidade em ruminantes têm sido mais

detalhados, fracionando-se a digestão, avaliando desta maneira o potencial do alimento

em fornecer nutrientes para os diferentes compartimentos do trato gastrointestinal.

A digestão do alimento é definida como o processo de conversão de

macromoléculas da dieta em compostos mais simples, que podem ser absorvidos a partir

do trato gastrointestinal (Van Soest, 1994). Essa conversão é expressa em coeficiente de

digestibilidade do nutriente e esta, é uma característica do alimento e não do animal.

Geralmente na avaliação de alimentos para ruminantes, utiliza-se o coeficiente de

digestibilidade aparente, o qual é definido como parte do nutriente do alimento que não

é excretado nas fezes (Silva e Leão, 1979). Portanto, quando se trabalha com

digestibilidade aparente não existe a preocupação em fazer a distinção entre nutrientes

que aparecem nas fezes, originários da fração indigerível do alimento e aqueles

originários do próprio corpo do animal que são secretados no trato digestivo na forma

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de enzimas e outras secreções endógenas e descamações da mucosa. Após o

conhecimento da composição química, a estimativa dos valores de digestibilidade é

essencial para determinar o valor nutritivo dos alimentos (Valadares Filho, 2000).

2.4. Consumo voluntário e digestibilidade aparente

O consumo voluntário pode ser definido como sendo a quantidade de alimento

ingerido espontaneamente por um animal ou um grupo de animais em um determinado

período com livre acesso aos alimentos. O consumo de nutrientes é um dos principais

fatores limitantes da produção de ruminantes. A capacidade de um alimento ser ingerido

por um animal depende de vários fatores que interagem em diferentes situações de

alimentação, comportamento e meio ambiente (Mertens, 1997; Van Soest, 1994)

A predição da ingestão em ruminantes é extremamente importante e difícil,

devido às interações que ocorrem entre o animal e a dieta, existindo poucos dados

disponíveis para subsidiar o uso de equações. Quando os animais são alimentados com

volumosos de baixa qualidade, a ingestão pode ser predita com mais acurácia por

fatores que descrevem o limite físico da ingestão e do peso vivo. Em dietas de melhor

qualidade, a ingestão pode ser predita por fatores que descrevem a demanda fisiológica

do animal. (Karue et al. (1973 citado por FORBES, 1995).

Sendo assim, maximizar o consumo de alimentos pelo animal é um componente

chave no desenvolvimento de rações e estratégias de alimentação para otimizar a

rentabilidade da produção. O processo básico envolvido em um simples teste de

digestão consiste em se medir a quantidade de nutrientes consumidos e a quantidade

excretada nas fezes durante um determinado período de tempo.

A partir da quantidade de alimento consumido, das fezes excretadas e das

composições bromatológicas dos alimentos e das fezes computa-se a digestibilidade dos

nutrientes além de outros parâmetros envolvidos no processo digestivo. A quantidade de

nutrientes que é aparentemente digerida é então igual à diferença entre a quantidade do

nutriente consumido e aquela excretada nas fezes. Essa diferença é expressa como uma

porcentagem da quantidade do nutriente na ração e o coeficiente de digestão é então

obtido. De acordo com Silva e Leão (1979), o coeficiente de digestibilidade é calculado

pela seguinte fórmula:

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2.5. Técnicas utilizadas na determinação da digestibilidade: Métodos e medidas de

estimativas

Nos estudos de determinação da digestibilidade dos alimentos, tanto concentrado

como volumoso, admite-se que o processo possa ser determinado levando em conta

todo o trato gastrointestinal (Digestibilidade total) ou considerando apenas parte do

sistema rúmen-retículo e intestino (Digestibilidade parcial). Na digestibilidade total,

utilizam-se animais sem nenhum preparo cirúrgico, alojados em gaiolas metabólicas,

com coleta total ou parcial da excreta. Na determinação da digestibilidade parcial

necessita-se de animais preparados cirurgicamente com a implantação de cânulas em

um ou em vários órgãos do trato digestivo. Existem vários métodos, porém, nesta

pesquisa incluiu-se a utilização do método indireto.

2.6. Método direto ou convencional

O método convencional é considerado o mais trabalhoso, porém, oferece

resultados mais precisos na determinação do coeficiente de digestibilidade (Silva e

Leão, 1979). Nessa determinação considera-se o alimento ingerido e os nutrientes

recuperados nas fezes, calculando-se a digestibilidade por diferença, podendo ser

estudada a digestibilidade da matéria seca e outras frações do alimento.

Este método tem como fator limitante a mão de obra envolvida nas coletas diárias

de fezes, a manutenção das instalações e fornecimento das dietas adequadamente,

entretanto, é compensada se for conduzido com rigor na metodologia, em virtude dos

resultados obtidos.

2.7. Avaliação da digestibilidade dos alimentos e uso de indicadores em ensaios de

metabolismo.

Segundo Van Soest, (1994) a digestão vem a ser o processo de transformação de

macromoléculas dos alimentos em moléculas menores até que possam ser absorvidas no

trato gastrointestinal. Entretanto, o balanço de matéria perdida na passagem através do

trato digestivo é o que melhor mensura o aproveitamento de um alimento. Acontece que

as fezes não contêm apenas o alimento não digerido, mas também produtos metabólicos

como bactérias e perdas endógenas do metabolismo animal.

A digestibilidade aparente é o balanço dos nutrientes dos alimentos menos aqueles

contidos nas fezes. A digestibilidade verdadeira é o balanço entre a dieta e os

respectivos resíduos alimentares que escaparam da digestão e chegaram às fezes,

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excluindo os produtos metabólicos. O coeficiente de digestibilidade verdadeira é sempre

mais alto que o da digestibilidade aparente (Van Soest et al., 1994)

Em dietas totais, proteínas e lipídios sempre têm perdas metabólicas nas fezes.

Para fibras não há perdas metabólicas nas fezes e por essa razão os coeficientes de

digestibilidade aparente e verdadeira são iguais. Resíduos alimentares que ultrapassam o

trato digestivo intacto são chamados de verdadeiramente indigestíveis. (Van Soest et al.,

1994)

Em ensaios de metabolismo animal o processo de coleta total de fezes em

experimentos para avaliação do consumo e digestibilidade de nutrientes, assim como

comportamento de trânsito digestivo, ou ainda, a incapacidade de uma mensuração

direta em animais em pastejo, têm sido ajudados pela utilização de substâncias

indicadoras. Essas substâncias podem estar presentes como componentes indigeríveis da

dieta ou substâncias indigeríveis que atendendo alguns requisitos podem ser utilizadas

para os propósitos citados.

Os indicadores podem ser classificados como internos representados por

substâncias indigestíveis presentes naturalmente em algum componente da dieta, ou

externos, quando adicionados à dieta ou fornecidos via oral ou ruminal aos animais. Os

principais indicadores internos utilizados em ensaios de digestibilidade e consumo são:

Fibra em detergente neutro indigestível (FDNi), Fibra em detergente ácido indigestível

(FDAi), Matéria seca indigestível (MSi), Cinza insolúvel em detergente ácido (CIDA),

Lignina (LIG), n-alcanos e cromógeno. Dentre os vários indicadores externos tem-se:

Óxido crômico (Cr2O3), Lignina Purificada e Enriquecida (LIPE®

) e dióxido de titânio

(TiO2).

Podem ser divididos em indicadores de fase líquida, ao se movimentarem na

mesma velocidade que a fase líquida, e indicadores de fase sólida, quando transitam

com as partículas sólidas do conteúdo digestivo (Berchielli et al., 2005)

A substância sugerida como indicador, deve possuir alguns atributos que a tornam

apta para sua utilização, devendo esta apresentar as seguintes propriedades: ser inerte e

atóxico, preferencialmente de ocorrência natural no alimento, totalmente indigerível e

inabsorvível, não apresentar função fisiológica, poder ser processado com o alimento,

misturar-se bem ao alimento e permanecer uniformemente distribuído na digesta, não

influenciar ou ser influenciado por secreções intestinais, absorção, motilidade e a

população microbiana intestinal, possuir método específico e sensível de determinação.

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Nenhum indicador consegue atender a todos os critérios e ser considerado ideal,

mas o grau tolerável de erros difere de acordo com a variável a ser medida (Owens e

Hanson, 1992).

Os indicadores têm se mostrado úteis e eficientes na estimativa da produção

fecal, proporcionando resultados semelhantes aos obtidos pelo método de coleta total

(Mendes et al., 2005).

Indicadores externos e internos têm sido usados atualmente na experimentação

com ruminantes. Os resultados variáveis podem ser devidos à falta de padronização das

metodologias e das análises de determinação, tipo da dieta empregada no ensaio, ou

ainda inadequação do indicador ao propósito pretendido.

A seguir, será feita uma abordagem geral sobre o indicador externo LIPE® usado

neste ensaio experimental.

2.7.2. LIPE – Lignina Purificada e Enriquecida®

Caracterizado como hidroxifenilpropano modificado e enriquecido, a LIPE® é um

indicador externo de digestibilidade desenvolvido especificamente para pesquisas.

Pesquisas relacionadas à Lignina se iniciaram a partir dos trabalhos realizados no

Departamento de Química, do Instituto de Ciências Exatas (ICEX) da UFMG, onde um

grupo de pesquisadores conseguiu extrair e caracterizá-la estruturalmente a partir do

eucalipto.

Conjuntamente, iniciava-se no Departamento de Zootecnia da Escola de

Veterinária da UFMG um estudo abrangente envolvendo o isolamento da lignina de

palhas de resíduos de cultura de milho e soja, seus efeitos sobre a digestibilidade da

fibra e comportamento como indicador em ruminantes (Saliba, 1998; Saliba et al.,

1999a).

Estudos conduzidos com o objetivo de investigar a capacidade da LIPE® na

estimativa da digestibilidade, da produção fecal e do consumo em diferentes espécies

animais, como aves, suínos, equinos e bovinos, demonstraram que este marcador

assemelha-se às ligninas de madeiras duras, sendo recuperado nas fezes sem

modificações, digestão ou absorção (Rodriguez et al., 2006; Vasconcelos et al., 2007).

Além disso, a LIPE®

não apresenta variação diurna de excreção nas fezes,

possibilitando que o seu fornecimento e a amostragem das fezes sejam feitos uma vez

ao dia (Rodriguez et al., 2006). Esses estudos revelaram que a LIPE® apresenta

propriedades físico-químicas bastante estáveis e uma grande consistência químico-

estrutural.

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De acordo com Ferreira et al. (2009), o óxido crômico ou o dióxido de titânio,

adicionados ao concentrado e fornecido duas vezes ao dia, e a LIPE®

podem ser

utilizados para estimativa da digestibilidade em ruminantes. A escolha do indicador

externo vai depender da facilidade de análise, disponibilidade e o preço. Saliba et al.

(2004) utilizando a Ressonância Nuclear Magnética e produtos de oxidação com o nitro

benzeno, caracterizaram a composição estrutural da LIPE® antes e após a sua passagem

pelo trato gastrointestinal de ovinos e verificaram que as amostras da lignina fecal

mostraram espectros similares aos da LIPE®.

Através deste experimento demonstrou-se que este indicador passou pelo trato

gastrointestinal sem ser digerido e absorvido, sendo totalmente recuperado nas fezes.

Com o auxílio da microscopia eletrônica de varredura pôde-se observar a integridade

ultraestrutural do polímero recuperado nas fezes. A principal vantagem da LIPE®

é

apresentar maior estabilidade durante a passagem pelo trato gastrintestinal do animal,

sendo que sua concentração e seu trajeto pouco variam. Ademais, mostra-se totalmente

recuperável nas fezes.

A principal vantagem da LIPE® é apresentar maior estabilidade durante a

passagem pelo trato gastrintestinal do animal, sendo que sua concentração e seu trajeto

pouco variam. Ademais, mostra-se totalmente recuperável nas fezes. Outras principais

vantagens do emprego deste indicador são: baixo custo; curto período de adaptação

(aproximadamente, 48 horas) e facilidade de análise, pois pode ser analisada por

espectroscopia no infravermelho, Lopes (2007).

Marcondes et al. (2006a) realizaram experimento com novilhas mestiças

alimentadas à base de cana de açúcar e concentrado, e utilizaram a LIPE®

como

indicador. Estes autores encontraram resultados de excreção fecal semelhantes aos

obtidos com o método de coleta total de fezes. Em condições experimentais similares,

Ferreira et al. (2009) também encontraram resultados satisfatórios com o emprego da

LIPE®. Em outro experimento para avaliação da LIPE

®, com vacas em lactação

alimentadas com silagem de milho e 4 kg/dia de concentrado, Ferreira et al. (2009)

encontraram valores de produção fecal semelhantes aos obtidos com a coleta total de

fezes.

Silva et al. (2006) trabalharam com novilhas leiteiras em dois sistemas de pastejo

e consideraram a LIPE® mais precisa para estimar a produção fecal, quando

comparada ao óxido crômico.

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Moraes (2007) avaliaram o consumo e a digestibilidade de nutrientes em caprinos

alimentados com dietas à base de subprodutos da agroindústria (semente de urucum,

bagaço de caju desidratado e farelo da castanha de caju). Em todos os ensaios a LIPE®

apresentou estimativas de produção fecal semelhantes às obtidas a partir do método de

coleta total de fezes.

Silva et al. (2008) trabalharam com borregos castrados recebendo níveis

crescentes de torta de babaçu na dieta e concluíram que a LIPE® pode ser recomendada

para estimativa da produção fecal. Além disso, relataram que sua concentração nas

fezes não variou durante o dia.

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Sociedade Brasileira de Zootecnia, 2000. P. 267-338.

VAN SOEST, P.J. Nutritional ecology of the ruminant. 2 ed. Ithaca, New York

Cornell University Press, 1994. 476p.

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18

Capítulo 3

CONSUMO E DIGESTIBILIDADE APARENTE DE DIETAS COM NÍVEIS

CRESCENTES DO SUBPRODUTO DO CAJU EM OVINOS

Leite, Dyego Felipe de Lima. Consumo e digestibilidade aparente de dietas com níveis

crescentes do subproduto do caju em ovinos. 2013. 35 f. Dissertação (Mestrado em

Produção Animal). Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN. Macaíba –

RN, 2013.

RESUMO

O presente estudo foi conduzido com o objetivo de avaliar o consumo e a

digestibilidade aparente de dietas contendo níveis crescentes do subproduto do caju em

ovinos. Foram utilizados 16 ovinos ½ sangue Dorper x ½ Santa Inês, distribuídos em

um delineamento experimental inteiramente casualizado, sendo quatro níveis (0%, 20%,

40% e 60%) de inclusão do subproduto do caju e quatro repetições, perfazendo 16

observações. Para estimar o consumo e a digestibilidade dos nutrientes foi utilizado o

indicador Lignina Purificada e Enriquecida – LIPE. Os resultados de consumo de MS,

MO, MM, PB, EE, FDN, CHOT, CNF foram reduzindo linearmente ao longo das dietas

com a inclusão do subproduto do caju. Apenas para o consumo de lignina, houve um

efeito linear crescente com a inclusão do subproduto. Os resultados de digestibilidade

da MS, MO, PB e FDN diminuíram linearmente com a inclusão do subproduto do caju.

Os parâmetros consumo e digestibilidade dos nutrientes das dietas não foram

satisfatórios com a adição do subproduto do caju. A dieta sem a inclusão do subproduto

do caju proporcionou melhores resultados de consumo e digestibilidade dos nutrientes.

A inclusão do subproduto da agroindústria do suco do caju não apresentou resultados

satisfatórios neste experimento com os ovinos, havendo a necessidade de se estudar este

ingrediente nas diversas categorias de ovinos.

Palavras chaves: LIPE®

, nutrição animal, ovinos, produção fecal, resíduo de frutas

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ABSTRACT

Leite, Dyego Felipe de Lima. Intake and apparent digestibility of diets with increasing

levels of byproduct cashew fruit in sheep. 2013. 35 f. Master Science Degree in Animal

Production. Federal University of Rio Grande do Norte – UFRN. Macaíba – RN, 2013.

The present study was conducted to evaluate the intake and digestibility of diets

containing increasing levels of byproduct of cashew in sheep. We used 16 sheep blood

Dorper ½ x ½ Santa Inez, were distributed in a completely randomized design, with

four levels (0%, 20%, 40% and 60%) inclusion of byproduct of cashew and four

replications, totaling 16 observations. To estimate the intake and digestibility of

nutrients was used indicator Purified Lignin and Enriched - LIPE. The results of DMI,

MO, MM, CP, EE, NDF, TCHO, CNF were reduced linearly along the diets with the

inclusion of byproduct of cashew. Just for the consumption of lignin, there was an

increased linearly with the inclusion of byproduct. The results of DM, OM, CP and

NDF decreased linearly with the inclusion of byproduct of cashew. The parameters of

nutrient intake and digestibility of diets were not satisfactory with the addition of the

product of the cashew. A diet without the inclusion of byproduct of cashew showed

higher intake and digestibility of nutrients. The inclusion of agroproduct of the cashew

juice did not show satisfactory results in this experiment with sheep, there is a need to

study this ingredient in various categories of sheep.

Key words: LIPE animal nutrition, sheep, feces production, fruit residue

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INTRODUÇÃO

A necessidade de intensificação da produção de ovinos requer a utilização de

diversas fontes alimentares disponíveis, desde as convencionais, até as alternativas,

sendo estas, na maioria dos casos, as que apresentam menores custos de produção.

Com o aumento da competitividade na atividade pecuária e a crescente elevação

dos custos dos insumos, especialmente na alimentação animal, cresce a necessidade de

encontrar alternativas para substituição parcial ou total de alimentos concentrados

tradicionalmente utilizados, como o milho e a soja, por outros com custos menores

(SILVA, 2006).

Dentre as fontes alternativas de destaque na região Nordeste, o pseudofruto do

cajueiro destaca-se pela sua disponibilidade, baixo custo e elevada produção,

principalmente, nas épocas mais críticas do ano (Dantas Filho et al., 2004)

Segundo (Holanda et al., 1996) mais de um milhão de toneladas/ano de caju são

produzidas na região Nordeste, onde 96% dessa produção são desperdiçadas. Na região

Nordeste, destaca-se os estados do Ceará, Rio Grande do Norte e Piauí, onde a

cajucultura apresenta elevada atividade econômico-social (Paula Pessoa et al.,1995).

Quanto ao seu uso nas rações de ruminantes, Lima (1998) recomenda utilizar os

resíduos agroindustriais do pseudofruto do cajueiro em níveis superiores a 50% dos

concentrados na alimentação de bovinos leiteiros, com redução nos custos dos

concentrados comumente utilizados.

Trabalhando com cordeiros Santa Inês, (Furusho et al., 1997) utilizaram 30% do

pseudofruto seco do caju no concentrado e obtiveram ganho de peso equivalente ao

dieta testemunha, composto por concentrado formulado com constituintes tradicionais.

O pseudofruto do caju, em média, 81% é representado pelo suco e o restante pelo

resíduo úmido. O consumo pelos animais pode ser feito de forma in natura, porém não

deve ser administrado puro, pois é deficiente em cálcio (0,059%), fósforo (0,037%) e

cobre (0,87 ppm) (Holanda et al., 1996). O produto final, após secagem, apresenta

maior conteúdo proteico que o caju fresco e maduro, com determinação de até 14.8% de

PB (Fonseca Filho, 1983).

Já Ferreira et al.,(2004) avaliando o valor nutritivo das silagens de capim elefante

com adição de bagaço de caju, observaram melhora nas características fermentativas da

silagem, com elevação no teor de proteína bruta (PB) e redução dos teores de FDN,

recomendando à adição de até 47,7% de bagaço de caju para se obter o nível máximo de

PB e, aproximadamente, 37.5% de adição de bagaço de caju para atingir o menor nível

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de FDN. Portanto, o objetivo deste trabalho foi avaliar dietas contendo níveis crescentes

do subproduto do caju na alimentação de ovinos.

MATERIAIS E MÉTODOS

O experimento foi conduzido nas dependências do Grupo de Estudos em

Forragicultura – (GEFOR), na Escola Agrícola de Jundiaí, localizada no município de

Macaíba – RN, pertencente à Universidade Federal do Rio Grande do Norte, realizado

no mês de Outubro de 2012.

Foram utilizados 16 cordeiros ½ Dorper x ½ Santa Inês com 45 dias de vida com

peso vivo médio de 19,5±kg, distribuídos em um delineamento experimental

inteiramente casualizado, sendo quatro dietas e quatro repetições, perfazendo 16

observações. Os animais foram previamente pesados, vermifugados e alocados em baias

coletivas, (quatro animais por baia) com dimensões de 3,0 x 3,0 m² cercadas por tela de

arame liso e providas de saleiros, uma linha de cocho para alimentação e bebedouros

automáticos.

As dietas foram formuladas com base no NRC (2007) sendo estas isoproteicas e

compostas pelos seguintes ingredientes: feno de tifton 85, farelo de soja, milho moído e

o subproduto do caju além de água e sal mineral ad libitum. O feno de tifton 85 foi

cortado aos 37 dias sendo este, oriundo da Fazenda Lanila Agropecuária®

localizada no

município de Ceará Mirim – RN, situada a 28 km da capital Natal – RN. O milho moído

e o farelo de soja foram adquiridos em lojas de produtos agropecuários e o subproduto

do caju foi obtido na Fazenda São João em Macaíba - RN.

As dietas foram divididas em duas refeições iguais, oferecidas às 8 horas da

manhã e 15 horas da tarde. As sobras dos alimentos (volumoso e concentrado) foram

colhidas e acondicionadas em sacolas plásticas diariamente pela manhã, pesadas e a

quantidade de alimento oferecido baseou-se nesse valor acrescido do necessário para

que se mantivesse 10% de sobras. Nesta pesquisa, o subproduto do caju foi oriundo da

agroindústria de extração do suco, sendo este prensado obtendo-se assim, um resíduo

que em seguida, foi posto para secar e, posteriormente triturado em moinhos

forrageiros.

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A proporção e a composição química dos ingredientes e das dietas experimentais

encontram-se nas tabelas 1, 2 e 3 respectivamente.

Tabela 2 – Composição química dos ingredientes utilizados nas dietas experimentais

¹MS= Matéria Seca;; PB= Proteína Bruta; EE = Extrato Etéreo; FDN= Fibra em Detergente Neutro; FDA= Fibra em

Detergente Ácido; MM= Matéria Mineral; LIG = Lignina, CHOT = Carboidratos Totais; CNF = Carboidratos não

Fibrosos, NDT = Nutrientes Digestíveis Totais.

Tabela 1 – Proporção dos ingredientes utilizados nas dietas dos ovinos

T1 T2 T3 T4

Subproduto do caju 0 % 20 % 40 % 60 %

Feno de tifton 70% 55% 40% 25%

Farelo de Soja 4% 3% 2% 1%

Milho moído 24% 20% 16% 12%

Sal comercial 2% 2% 2% 2%

Item Subproduto

do Caju

Feno de

tifton 85 Farelo de

Soja Milho moído

MS (%) 88,69 89,26 89,07 90,73

PB (%) 16,17 13,94 40,99 12,48

EE (%) 2,72 2,42 1,76 1,28

FDN (%) 68,5 68,22 18,33 17,96

FDA (%) 46,18 34,47 9,29 2,47

MM (%) 6,39 9,11 7,13 3,64

LIGNINA (%) 25,93 4,34 1,51 2,70

CHOT (%) 74,72 74,53 50,12 82,60

CNF (%) 6,22 6,31 31,79 64,63

NDT (%) 44,41 59,12 80,68 81,66

Tabela 3 - Composição química das dietas experimentais em função dos níveis crescentes do subproduto

do caju em ovinos

Item¹

Níveis do subproduto do Caju (%)

T1 T2 T3 T4

0% 20% 40% 60%

MS (%) 87,82 87,65 87,48 87,31

PB (%) 14,39 14,63 14,86 15,09

FDN (%) 52,80 55,36 57,93 60,49

FDA (%) 25,09 28,97 32,84 36,71

MM (%) 7,54 7,23 6,93 6,62

LIGNINA (%) 3,75 8,16 12,57 16,98

CNF(%) 21,20 18,59 15,99 13,38

NDT(%) 64,21 60,15 56,09 52,09

PIDA/PB (%) 18,27 19,81 21,30 22,74

LIG/FDN (%) 7,10 14,74 21,70 28,07 ¹MS = Matéria Seca; PB= Proteína Bruta; FDN= Fibra em Detergente Neutro; FDA= Fibra em Detergente Ácido;

MM= Matéria Mineral; LIG = Lignina; CNF = Carboidratos não Fibrosos; NDT = Nutrientes Digestíveis Totais.

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O indicador externo utilizado foi a Lignina Purificada e Enriquecida (LIPE®)

sendo esta administrada na forma de cápsulas na dosagem de 250mg/animal/dia, com o

auxílio de uma mangueira de polietileno e um dispositivo também de polietileno que

permitisse o lançamento da cápsula até o esôfago dos animais. O período de adaptação

foi de dois dias e cinco dias de coleta de fezes

Para realização da coleta de fezes, foram retiradas amostras diretamente na

ampola retal de cada animal no período da manhã às 11:00. Quando não se obtinha uma

amostragem satisfatória das fezes, uma nova retirada era feita às 14:00 horas

. O material foi acondicionado em sacolas de plástico, identificadas e colocadas

no freezer a uma temperatura de -5ºC.

O período experimental teve duração de 17 dias, sendo 12 dias para adaptação dos

animais às dietas e cinco dias para coleta das fezes, sobras e ingredientes.

Posteriormente as amostras foram, homogeneizadas e moídas em moinhos do tipo

“Willey” com peneiras de crivo de 1mm e armazenadas em frascos de vidro para

posteriores análises laboratoriais.

Os teores de matéria seca, matéria orgânica, proteína bruta, matéria mineral,

foram determinados conforme procedimentos descritos por AOAC (1995) e Silva e

Queiroz (2002), sendo que a proteína bruta foi obtida pela multiplicação do teor de

Nitrogênio pelo fator 6,25. Os teores de fibra em detergente neutro, fibra em detergente

ácido e lignina foram determinados pelo método sequencial descrito por Van Soest et

al.(1991) utilizando equipamento Ankon Fiber Analizer da ANKOM Tecnology®. As

análises foram realizadas no Laboratório de Nutrição Animal da Universidade Federal

do Rio Grande do Norte, localizada no Núcleo de Tecnologia.

Os carboidratos totais (CHOT) foram estimados a partir da fórmula: 100 –

(%PB+%EE+%MM). Já os teores de Carboidratos não fibrosos foram estimados

conforme (Sniffen et al., 1992).

A análise do indicador LIPE®

foi feita no Laboratório de Nutrição Animal da

Escola de Veterinária da UFMG por meio da Espectroscopia no Infravermelho próximo

em equipamento FTIV – 800 da Varian, segundo Saliba (1998) e Saliba (2001).

A digestibilidade dos nutrientes foram calculados a partir das quantidades do

ingerido e excretados e da porcentagem do nutriente determinada no alimento e fezes,

através da seguinte fórmula:

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Para cálculos de Produção Fecal através do indicador LIPE®

utilizou-se a fórmula

segundo Saliba (2005):

çã

Onde PF = Produção fecal

Com a impossibilidade da realização da coleta total das fezes, para o estudo do

consumo dos nutrientes, foi realizado um ensaio de digestibilidade in vitro dos

alimentos das dietas no aparelho Dayse Incubator modelo D220 da ANKOM

Tecnology. Foi coletado inoculo de rúmen de um bovino adulto portando cânula

ruminal sendo este, alimentado com silagem de milho e concentrado comercial. Os

procedimentos realizados para a análise foram desenvolvidos conforme proposto por

(Tilley & Terry 1963). O consumo foi obtido pela razão entre a produção fecal obtida

pelos indicadores e o inverso da digestibilidade, conforme a equação relatada por Prigge

et al., (1981):

Para os cálculos de consumo de MO, PB, EE, MM, FDN, CHOT, CNF, FDA e

LIGNINA, baseou-se na expressão do produto do consumo de matéria seca (CMS) pela

composição do nutriente consumido dividido por 100. Para determinação da

digestibilidade in vitro da MS, foi realizado o cálculo do produto da digestibilidade in

vitro dos alimentos pelas suas respectivas proporções nas dietas. Para a digestibilidade

da MO, PB e FDN, foi utilizado a fórmula:

O delineamento utilizado foi o inteiramente casualizado com quatro repetições.

As variáveis foram avaliadas por meio da análise de variância, pelo teste F a 95% de

probabilidade e submetidas à análise de regressão. Como ferramenta de auxílio às

análises estatísticas foi utilizado o programa SAS (2009).

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0

200

400

600

0% 20% 40% 60%

Subproduto do caju

CMS (g/dia)

CMS (g/dia) 0

2

4

0% 20% 40% 60%

Subproduto do caju

CMS (% PV)

CMS (% PV)

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Matéria seca (MS), Matéria orgânica (MO), Proteína bruta (PB), Fibra em detergente neutro (CFDN), Extrato

etéreo (CEE), Carboidratos não fibrosos (CCNF), Fibra em detergente ácido (CFDA), Lignina (CLIG),

expressos em (g/dia), (% PV) e (g/kg0,75

) em função dos níveis crescentes do subproduto do caju em ovinos.

Com base nos dados das tabelas, houve efeito linear decrescente para os

consumos de CMS, CMO, CPB, CFDN, CEE, CCNF, em g/dia. Para o consumo de

FDA em g/dia e % PV houve efeito linear crescente dos níveis de inclusão do

subproduto do caju. Comportamento inverso foi observado para o consumo de lignina

(CLIG) a medida que se incluiu o subproduto do caju nas dietas. Os gráficos 1 e 2

mostram as médias de CMS em g/dia e % PV estimados pelo LIPE em função dos

níveis crescentes do subproduto do caju na dieta de ovinos.

Gráfico 1 Gráfico 2

Tabela 4 - Consumos dos nutrientes, equações de regressão, coeficiente de determinação (R²) e coeficiente de

variação (CV %) em função dos níveis crescentes do subproduto do caju em ovinos, estimado pelo indicador

Lignina Purificada e Enriquecida (LIPE®)

Itens¹ Inclusão do Subproduto do caju (%) Equação de regressão r² CV (%)

0% 20% 40% 60%

Consumo (g/dia)

CMS 512,89 426,96 378,46 337,39 Y = 500,18 – 2,88 CSC 0,95 2,61

CMO 476,95 397,48 353,75 316,4 Y = 464,95 – 2,63CSC 0,95 2,62

CPB 79,38 64,29 57,63 52,24 Y = 76,60 – 0,44CSC 0,92 2,84

CFDN 253,69 229,27 217,58 203,79 Y = 250,29 – 0,81CSC 0,91 2,48

CEE 10,68 9,30 8,85 8,42 Y = 10,40 – 0,04CSC 0,86 2,65

CCNF 133,2 94,63 69,69 51,95 Y = 127,67 – 1,34CSC 0,97 2,91

CFDA 115,85 125,88 124,81 123,93 Y = 122,62 - 3,37

CLIG 11,67 34,23 50,00 57,49 Y = 15,37 – 0,77SC 0,95 10,71

Consumo (% PV)

CMS 2,41 1,99 1,71 1,56 Y = 2,34 – 0,01CSC 0,91 4,41

CMO 2,24 1,85 1,60 1,46 Y = 2,18 – 0,01CSC 0,90 4,45

CPB 0,37 0,30 0,26 0,24 Y = 0,36 – 0,002CSC 0,88 4,54

CFDN 1,19 1,07 0,98 0,94 Y = 1,17 – 0,004CSC 0,80 4,41

CFDA 0,54 0,59 0,56 0,57 Y = 0,57 - 4,94

Consumo (g/Kg 0,75

)

CMS 51,78 42,78 37,1 33,63 Y = 50,35 – 0,30CS 0,93 4,95

CMO 48,15 39,83 34,68 31,54 Y = 46,80 – 0,27SC 0,92 4,97

CPB 8,01 6,44 5,65 5,21 Y = 7,71 – 0,05SC 0,90 5,93

CFDN 25,61 22,97 21,33 20,31 Y = 25,19 – 0,08SC 0,85 3,94

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O maior CMS foi encontrado na dieta 1 (0%) de inclusão do subproduto do caju

(512,89 g/animal dia) com valores médios de (413,92g). Com base na composição

química das dietas houve redução no consumo de MS com a inclusão do subproduto do

caju. Esta redução pode ser explicada pela presença dos altos níveis de lignina

encontrada neste subproduto. Trabalhando com níveis crescentes do subproduto do caju

(0%, 19%, 38% e 52%) na dieta de cordeiros machos com 20 kg de peso vivo e 8 meses

de idade, Rogério (2005) verificou (971,58g) de CMS expresso em g/animal dia, sendo

que os maiores resultados de consumo no trabalho do respectivo autor foram nos níveis

de 19% de inclusão do subproduto do caju com 1435,6g/animal/dia.

Costa (2008) realizou um experimento com ovinos pesando 20,4 kg e 5 meses de

idade alimentados com o subproduto do caju em níveis crescentes (11%, 21%, 28% e

33%) não encontrando diferenças significativas (P>0,05) quanto à inclusão do

subproduto do caju. Furusho et al. (1997) verificaram consumos superiores aos obtidos

nessa pesquisa, ao estudar a inclusão de 30% do pseudofruto seco do cajueiro (PSC)

obtendo valores médios de 1,024 g/animal/dia.

Para o consumo de MS em (% PV), houve redução deste parâmetro à medida que

se incluiu o subproduto do caju. Para os animais da dieta com 60% de inclusão do caju,

obteve-se um consumo de 1,56% do seu PV. Os resultados em % PV não foram

atendidos conforme os cálculos provenientes do NRC (2007) para ovinos, estabelecidos

para este experimento. Supostamente, o tamanho dos animais e o seu conteúdo

estomacal pequeno, podem ter influenciado no consumo. Com base nesta conclusão e

em informações relatadas por Van Soest., (1982) os animais limitam a ingestão de

alimentos em relação ao conteúdo “fill” estomacal.

Rogério (2005) verificou 1,79% do consumo em % de PV em ovinos alimentados

com dietas à base do subproduto do caju no nível de 52%, sendo próximo aos dados

encontrados neste trabalho. O consumo em g/UTM variou de 51,78 a 33,63 nos níveis

de 0% e 60% de inclusão do subproduto do caju, respectivamente.

Moraes (2007) realizou um experimento de consumo e digestibilidade com

caprinos machos SRD pesando 18,2kg alimentados com o subproduto do caju

desidratado, fazendo-se uso dos indicadores externos LIPE e Óxido Crômico. Foram

encontrados valores de 1,40 a 3,34%PV e 28,84 a 68,59g/UTM para os níveis de 18 e

72% de adição de bagaço de caju às dietas, respectivamente. Dantas Filho (2004)

encontrou valores que variaram de 100,64 a 109,05 g/UTM para os níveis de 0% e 40%

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de inclusão do subproduto do caju. Leite et al., (2011) trabalhando com diferentes

concentrados na dieta de fêmeas Morada nova com 8 meses de idade pesando 18kg,

tendo o subproduto do caju como ingrediente nas dietas, encontrou valores médios de

95,02g/UTM.

Os resultados de CPB estimado pelo indicador LIPE reduziram ao longo das

dietas, apresentando maior consumo na dieta que não foi fornecido o subproduto do

caju (Dieta 1) de 79,38%. O subproduto do caju apresenta em sua constituição,

componentes que indisponibilizam a proteína da dieta para aproveitamento dos

microorganismos, reduzindo assim, o consumo deste nutriente (Borges, 2004).

A presença de compostos fenólicos e ligninas podem ter limitado o consumo de

PB com a inclusão do subproduto do caju. Segundo (Van Soest, 1994) os compostos

fenólicos tem a capacidade de formar complexos com as proteínas da dieta, causando

redução na digestibilidade e consumo de nutrientes.

Em trabalhos realizados por Borges (2004), utilizando pseudofruto do caju nos

níveis de 0, 15, 30 e 45% (PSC), em dietas para ovelhas Santa Inês, encontrou CPB

superior ao obtido neste estudo quando expresso em g/animal/dia, com valores de

151,75g/animal/dia.

Segundo Rogério (2005) o subproduto do caju quando incluído em até 19%,

apresenta bons resultados de consumo de PB. Trabalhando com caprinos alimentados

com bagaço de caju, oriundo da indústria processadora de suco, Moraes (2007) obteve

aumento linear no consumo de PB com o aumento na inclusão deste subproduto.

Segundo Van Soest (1994) dietas pobres em nitrogênio estão associadas com

redução de consumo. O gráfico 3 mostra o declínio

Rogério (2005) encontrou média de consumo de proteína bruta de 12,28 g/UTM,

inferior aos valores encontrados por Oliveira et al.(2003), 16,16 g de proteína

bruta/UTM em cordeiros que receberam subproduto de caju em níveis crescentes a uma

dieta basal composta de feno de Tifton 85, milho e farelo de soja, sendo os mesmos

ingredientes utilizados neste trabalho.

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0

100

200

300

0% 20% 40% 60%

Subproduto do caju

CFDN (g/dia)

CFDN (g/dia) 0

0,5

1

1,5

0% 20% 40% 60%

Subproduto do caju

CFDN (% PV)

CFDN (% PV)

Os consumos de fibra em detergente neutro (CFDN) apresentaram valores

variando de 253,69 a 203,79 g/animal/dia. Ao se confrontar o consumo de FDN em

g/animal/dia, da dieta controle (0%) com a de (60%) do subproduto caju observou-se,

respectivamente, uma diminuição no consumo, indicando que as dietas com maior teor

do subproduto do caju propiciam menor consumo de FDN, seguindo a tendência

observada do percentual do caju nas outras dietas. Os gráficos 3 e 4 mostram os

consumos de FDN em g/dia % PV, respectivamente.

Gráfico 3 Gráfico 4

Este resultado difere dos resultados encontrados por (Moraes, 2007) onde o

consumo de fibra em detergente neutro (CFDN) aumentou com a inclusão do bagaço de

caju desidratado, no entanto, este autor observou que os valores não apresentaram

diferenças a partir de 36% de inclusão.

No nível de 20% de inclusão do subproduto do caju, foram encontrados valores de

229,27g/dia, sendo superior ao encontrado por (Moraes, 2007) no nível de 18% de

inclusão do bagaço do caju, obtendo valores de 199,19g/dia. Os consumos de FDN em

% PV reduziram, à medida que se incluiu o subproduto.

A inclusão de subprodutos agroindustriais, particularmente os de frutas (fontes de

fibra não forrageira), em substituição a fontes de fibra forrageiras (gramíneas de modo

geral) nas dietas de ovinos pode, diminuir a efetividade física da fibra dietética,

principalmente por causa da redução da atividade mastigatória, da secreção salivar e

consequentemente, depressão da atividade ruminal (Rogério, 2005). Justamente por isso

a dieta com o maior nível de subproduto do caju continha 25% de feno, para garantir os

19% oriundo de forragens grosseiras.

Os dados de consumo em % PV obtidos pelo LIPE® foi maior na dieta que não

havia o subproduto do caju, sendo a fibra oriunda da própria forragem utilizada (feno de

tifton 85). Uma possível explicação para a diminuição do consumo de fibra em % PV

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deve-se aos elevados teores de fibra do subproduto do caju, sendo esta fibra incapaz de

promover uma boa efetividade física no rúmen, conforme (Rogério, 2005). A

efetividade da fibra oriunda de subprodutos de frutas está intimamente relacionada com

seu processamento. Neste trabalho, o pedúnculo do caju foi prensado e posto para secar,

obtendo-se o bagaço desidratado. Após este procedimento, o bagaço desidratado foi

moído em moinhos forrageiros, e neste processo parte de alguns componentes como

carboidratos solúveis foram perdidos, restando material lignificado e outros

componentes indigestíveis que limitaram o consumo dos nutrientes.

Dantas Filho et al. (2010) avaliando diferentes níveis de polpa de caju desidratada

em dietas de ovinos Santa Inês encontraram CFDN variando de 576,35 a 812,28

g/animal/dia, de 1,64 a 2,58 % do PV e de 40,05 a 61,25 g/UTM. Macedo Júnior (2004)

recomendou que, para ovinos, é necessário um mínimo de 28,1% de FDN presente na

dieta fornecida, para que não ocorram transtornos metabólicos e para que a função

ruminal não seja prejudicada. De acordo com o National Research Council (2007), a

exigência nutricional de cordeiros com quatro meses de idade, 30 kg de peso vivo, em

maturidade rápida e ganho de peso de 200 g/dia é de 93,6 gramas de MS/kg0,75

/dia.

Os consumos de FDA expressos em g/animal/dia apresentou efeito linear

crescente, à medida que se incluiu o subproduto do caju. Os maiores resultados

encontrados foram 125,88g/dia de consumo de FDA para o nível de 20% de inclusão do

caju e 115,85g/dia em 0 % de inclusão do subproduto. Houve efeito linear crescente

para os consumos de FDA em %PV com valores médios de 0,54, 0,59, 0,56, 0,57 para

os níveis de 0%, 20%, 40% e 60% respectivamente.

Ferreira et al. (2004) mediram o consumo voluntário de silagens de capim-

elefante com subprodutos da indústria de suco de caju em ovinos e observaram CFDA

de 128,2g/animal/dia, sendo este resultado próximo ao encontrado nesta pesquisa.

Para o subproduto testado houve relação do teor de lignina nas dietas com maiores

teores do subproduto do caju com o consumo de FDA, conforme é mostrado na tabela

de composição das dietas (tabela 3).

A medida que se adicionou o subproduto do caju as dietas, houve um aumento no

consumo de lignina (CLIG). Este aumento está relacionado com o maior teor de lignina

no subproduto do caju ao longo do seu fornecimento as dietas. Foram encontrados 11,67

%, 34,23 %, 50,00 % e 57,49 % nos níveis de 0%, 20%, 40% e 60% respectivamente.

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Conforme apresentado, houve efeito linear crescente com a inclusão do

subproduto do caju nas dietas. A lignina é um composto fenólico indigestível, portanto a

concentração desta nas dietas é inversamente proporcional a digestibilidade da mesma

(Van Soest, 1994). Com base na composição química da dieta sem a inclusão do

subproduto do caju (0%) foi observado valores de 3,75% de lignina, tendo um aumento

com a inclusão do subproduto do caju.

Os resultados de digestibilidade aparente da MS, MO, PB, FDN em função dos

diferentes níveis do subproduto do caju, encontra-se na tabela 6.

Tabela 5 – Coeficientes de Digestibilidade aparente dos nutrientes, equações de regressão, coeficiente de

determinação (R²), e coeficiente de variação (% CV) em função dos níveis crescentes do subproduto do caju em

ovinos

¹Coeficientes de digestibilidade da Matéria seca (CDMS), Matéria orgânica (CDMO), Proteína Bruta (CDPB) e

Fibra em Detergente Neutro (CDFDN)

Conforme mostra a tabela 6 os resultados de digestibilidade apresentou efeito

linear decrescente da inclusão do subproduto do caju. Certamente, a presença de

componentes antinutricionais tais como, taninos condensados e hidrolisáveis podem ter

se complexado com os nutrientes das dietas, causando queda nos coeficientes de

digestibilidade.

Os resultados obtidos para a digestibilidade da MS foi maior para o nível (0%) de

inclusão do subproduto do caju, apresentando 48,09% de digestibilidade e menores

coeficientes para o nível de 60% de inclusão do subproduto apresentando 26,08% de

digestibilidade. Os resultados obtidos foram utilizados na fórmula para obtenção da

digestibilidade dos nutrientes quando os alimentos foram submetidos a um ensaio in

vitro, conforme procedimentos propostos por Tilley & Terry (1963).

Tabela 6 - Resultados de digestibilidade in vitro dos alimentos utilizados nas dietas dos ovinos.

Itens¹ Inclusão do Subproduto do Caju Equação de regressão R² CV

0% 20% 40% 60%

CDMS 48,09 40,75 33,42 26,08 Y = 37,08 - -

CDMO 54,72 48,43 40,96 34,94 Y = 44,76 - 4,31

CDPB 60,94 41,24 31,93 20,47 Y = 38,64 - 14,92

CDFDN 43,49 48,39 37,35 37,49 Y = 41,67 - 13,98

Alimentos Digestibilidade in vitro da Matéria seca (DIVMS)

Farelo de milho 62,66 %

Farelo de soja 68,67 %

Feno de tifton 85 43,29 %

Subproduto do caju 11,75 %

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Houve redução nos coeficientes de digestibilidade de todos os nutrientes, como

consequência do aumento na inclusão do subproduto do caju. Entretanto, para o nível

(0%) foram encontrados coeficientes de digestibilidade da MO e PB de 54,72, 60,94

respectivamente e no nível de 20% de inclusão do subproduto obteve-se 48,39% no

CDFDN.

Os baixos resultados nos coeficientes de digestibilidade encontrados neste

trabalho podem está relacionado com os elevados teores de ligninas neste subproduto

estudado. De acordo com (Thiago & Gill, 1993) compostos fenólicos (ligninas)

presentes no subproduto do caju podem ocasionar queda na digestibilidade dos

alimentos.

Conforme apresentado na tabela 7 os baixos resultados de digestibilidade dos

alimentos deve-se ao fato, desse componente antinutricional criar uma barreira física,

envolvendo os ingredientes das dietas, impedindo assim um acesso da microbiota

ruminal. Além disso, o mecanismo de ação da lignina envolve um efeito de formação de

uma barreira sobre a hemicelulose e celulose e também por prevenir a adesão dos

microrganismos à parede celular Thiago & Gill (1993) afetando assim, a digestibilidade

dos alimentos.

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CONCLUSÃO

Mesmo apresentando possibilidades de uso na alimentação de ruminantes, o

subproduto do caju não proporcionou resultados satisfatórios nesta pesquisa com os

cordeiros.

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