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Adequação sociotécnica em Fábricas Recuperadas: a experiência da Flaskô (Brasil) e da CAFLA (Argentina) Rafael de Almeida Martarello 1 Rafael de Brito Dias 2 Juan Facundo Picabea 3 Resumo No campo da Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS), e eventualmente fora dele, a tecnologia é geralmente considerada um elemento fundamental para a formação das relações sociais. Para diversos autores, ela é reconhecida também como instrumento político, por meio do qual as relações de poder são preservadas e transformadas. O presente estudo situa-se nessa tradição e tem como objeto de análise alguns dos processos por meio dos quais se modificam as estruturas de propriedade dos meios de produção, bem como dos resultados dessas mudanças no âmbito da Economia Solidária. Por meio de revisão bibliográfica, entrevistas e visitas (realizadas em 2014 e 2015), foram estudadas duas fábricas recuperadas por seus trabalhadores, uma localizada no Brasil (Fábrica Ocupada Flaskô) e outra na localizada na Argentina (Cooperativa de Trabalho CAFLA), para averiguar a existência de processos de modificações realizadas pelos trabalhadores na tecnologia e na gestão dessas duas fábricas, associados a estratégias de “adequação sociotécnica”. A Adequação Sócio-Técnica (AST) é um conceito que surge para a solução da transformação da tecnologia convencional para a tecnologia social, através do redesenho do artefato físico e a redefinição de seus valores, pelo dos usuários. Observamos a existência de vários exemplos de reprojetamento tecnológico e organizacional com a finalidade de tornar a forma de produzir mais aderente aos princípios da autogestão, do cooperativismo e da economia solidária. A pesquisa mostrou que têm havido experiências relevantes em termos de adequação sociotécnica em fábricas recuperadas latino- americanas, bem como inovações tecnológicas em arranjos produtivos que fogem do padrão típico das empresas capitalistas. 1 Rafael de Almeida Martarello. Universidade Estadual de Campinas (CHS-UNICAMP), Limeira, Brasil. [email protected] 2 Rafael de Brito Dias. Universidade Estadual de Campinas (CHS-UNICAMP), Limeira, Brasil. [email protected] 3 Facundo Picabea. Universidad Nacional de Quilmes (IESCT-UNQ), Buenos Aires, Argentina. [email protected]

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Adequação sociotécnica em Fábricas

Recuperadas: a experiência da Flaskô (Brasil) e da

CAFLA (Argentina)

Rafael de Almeida Martarello1

Rafael de Brito Dias2

Juan Facundo Picabea3

Resumo

No campo da Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS), e eventualmente fora dele, a

tecnologia é geralmente considerada um elemento fundamental para a formação das

relações sociais. Para diversos autores, ela é reconhecida também como instrumento

político, por meio do qual as relações de poder são preservadas e transformadas. O

presente estudo situa-se nessa tradição e tem como objeto de análise alguns dos processos

por meio dos quais se modificam as estruturas de propriedade dos meios de produção,

bem como dos resultados dessas mudanças no âmbito da Economia Solidária. Por meio

de revisão bibliográfica, entrevistas e visitas (realizadas em 2014 e 2015), foram

estudadas duas fábricas recuperadas por seus trabalhadores, uma localizada no Brasil

(Fábrica Ocupada Flaskô) e outra na localizada na Argentina (Cooperativa de Trabalho

CAFLA), para averiguar a existência de processos de modificações realizadas pelos

trabalhadores na tecnologia e na gestão dessas duas fábricas, associados a estratégias de

“adequação sociotécnica”. A Adequação Sócio-Técnica (AST) é um conceito que surge para

a solução da transformação da tecnologia convencional para a tecnologia social, através do

redesenho do artefato físico e a redefinição de seus valores, pelo dos usuários. Observamos

a existência de vários exemplos de reprojetamento tecnológico e organizacional com a

finalidade de tornar a forma de produzir mais aderente aos princípios da autogestão, do

cooperativismo e da economia solidária. A pesquisa mostrou que têm havido experiências

relevantes em termos de adequação sociotécnica em fábricas recuperadas latino-

americanas, bem como inovações tecnológicas em arranjos produtivos que fogem do

padrão típico das empresas capitalistas.

1 Rafael de Almeida Martarello. Universidade Estadual de Campinas (CHS-UNICAMP), Limeira, Brasil. [email protected] 2 Rafael de Brito Dias. Universidade Estadual de Campinas (CHS-UNICAMP), Limeira, Brasil. [email protected] 3 Facundo Picabea. Universidad Nacional de Quilmes (IESCT-UNQ), Buenos Aires, Argentina. [email protected]

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Palavras Chave: Fábricas Recuperadas; Adequação Sócio-Técnica; Flaskô; CAFLA

Introdução

A importância das fábricas fica imersa no aspecto aparentemente natural da sua existência cotidiana. Não é simplista reforçar o que nas fábricas ocorreram as condicionantes técnicas e econômicas para o nascedouro de uma sociedade capitalista e todas as mudanças positivas e negativas decorrentes. O sistema fabril capitalista foi vencedor perante outras formas de organização de trabalho, segundo Decca (1995), graças ao desenvolvimento técnico que ali foi gerado. Estas técnicas, e posteriormente máquinas, muito mais que mais eficazes, eram precisas para o controle e disciplina de todo processo de trabalho.

A Revolução Industrial foi um processo consequente da evolução tecnológica surgida no meio do século XVIII, através do visível e continuo desenvolvimento de novas máquinas, que pelo processo de mecanização substituiu o uso de simples ferramentas por aparatos tecnológicos mais aplicáveis a dinâmica econômica desejada.

Estas novas dinâmicas criaram ambiente com dois tipos de alterações, endógenas e exógenas. As mudanças endógenas se referem ao ciclo da cadeia produtiva de uma mercadoria: a produção, distribuição, troca e consumo. Na produção houve mudanças na matéria-prima, na fonte energética, além da criação de economias de escala. Já na distribuição houve ampliação da velocidade do transporte de matérias-primas, pessoas e mercadorias. Na troca surgiram novas relações capitalistas, e por fim o consumo foi adequado para absorver toda produção em massa, o que cria uma demanda cíclica para a produção.

As alterações exógenas foram a consolidação do sistema fabril de produção, a mudança na percepção do tempo, não mais periódico, mas linear e progressivo acompanhando o ritmo da máquina, e por último a adequação das relações entre pessoas e o processo produtivo, pois “ao introduzir inovações, o capitalista não estaria buscando só a acumulação de capital, mas também o controle do processo de trabalho no interior da empresa” (DIAS; NOVAES, 2010,p.140).

Para o entendimento da Revolução Industrial que se iniciou na Grã Bretanha Szmrecsányhi (2001), faz apontamentos de determinantes fora do âmbito produtivo, mostrando ser a Revolução Industrial não ser uma ‘obra do acaso’ e sim, uma união de fatores que facilitaram sua aparição. Na Inglaterra, desde a revolução gloriosa no século XVII desfrutava de um regime político que se importava com assuntos comerciais, como também, sua formação territorial a obrigava a manter um comercio internacional e competitivo, o que possibilitou a acumulação de capital para futuros investimentos, além de usar de forças militares para proteção comercial. O autor pontua algumas questões societárias marcantes, como os princípios consolidados na propriedade e iniciativa privada, o desejo pelo lucro e a proteção intelectual. Por fim, este país já tinha passado por uma reforma agrícola e

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tinha instituições e infraestrutura eficientes, além de possuir força de trabalho qualificada para os futuros empreendimentos.

No que se refere a Segunda Revolução Industrial, teve como grande característica a interdependência entre desenvolvimento científico e tecnológico, uma característica que parece óbvio ou até normal para os dias atuais, mas como ensina Freenberg (2010), o que é óbvio e cotidiano passa muitas vezes despercebido da reflexão humana, por isto é substancial averiguar com acuracidade e criticidade até mesmo os elementos mais básicos. O grande desempenho econômico gerado pela primeira permitiu uma rede de incentivos e possibilidades para o progresso cientifico na interpretação de fenômenos ligados ao progresso técnico e para geração de desenvolvimento tecnológico. Houve mudanças das mesmas ordens já descritas na Primeira Revolução Industrial, com alterações de equipamento, energia, matéria-prima e hábito – produção, distribuição, e consumo – mas a troca prosseguiu a mesma e se inseriu uma nova variante, segundo Castells (1999), a comunicação. Com demasiados avanços em áreas existentes e a formação de novas, a união entre Tecnologia, Economia e Ciência (TEC) forma um novo campo de estudo e de colaboração mutua entre progressos de cada área. Como desfecho destes dois períodos de grande avanço industrial e tecnológico a TEC está presente atualmente em todos os setores da vida humana, além de nos apresentar um corolário que só há revolução, se houver inovação.

As evoluções e mudanças das duas Revoluções Industriais, além de não sanar os problemas daquela época, trouxe novos problemas sociais e morais, que só podem ser compreendidos quando se analisa as relações de produção e trabalho, pois as pessoas “são o que produzem e são como produzem” (CHAUÍ, 2004, p.24). Dentro desta centralidade da tecnologia concebe Marx

as relações sociais estão intimamente ligadas às forças produtivas. Adquirindo novas forças produtivas, os homens mudam o seu modo de produção, e mudando o modo de produção, a maneira geral de ganhar a vida, eles mudam todas as suas relações sociais. (MARX, 1966 apud DAGNINO, 2008, p.32).

A complexidade das forças que atingem o campo do trabalho leva a um

criticismo da neutralidade da tecnologia, uma vez que os artefatos tecnológicos são “arranjos físicos com propósitos políticos explícitos ou implícitos” (WINNER, 1986), pois “quem detém o controle da tecnologia pode transforma-la em meio de exploração de um individuo sobre outro, de uma empresa sobre as outras” (Ministério do Trabalho e emprego, 2005, p.78). Em A dominação Britânica na Índia, Marx mostra como que o imperialismo britânico destruiu as ferramentas principais da estrutura social Indiana, o tear à mão e o torno de fiar. A conquista do invasor britânico impôs aspectos culturais, de consumo e de produção, onde “a ciência britânica e a utilização da máquina a vapor pelos ingleses haviam destruído, em todo o território do Hindustão, a ligação entre a agricultura e a indústria artesanal” (MARX, 1973). Com o passar do tempo foram ocorrendo novas invenções das forças produtivas e das relações de produção tornando algumas características das

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máquinas da revolução burguesa e seus efeitos mais evidentes. Podemos chamar essa tecnologia aplicada às dinâmicas capitalista de tecnologia convencional (TC), que segundo Dagnino (2010) tem os seguintes aspectos: segmentada; maximizada produtividade; alienante; possui padrões externos; hierarquizada; monopolizada por grandes empresas. Esses aspectos levam a algumas consequências como: o desemprego tecnológico; o desperdício ambiental; a superprodução; e o aumento do controle. Por essa razão este autor advoga por uma mudança e reestruturação das forças produtivas, das relações de produção e do formato da propriedade das corporações.

Adequação Sócio-Técnica: uma potencial ferramenta popular para a transformação social

Um conjunto de críticas a TC têm sido elaboradas por Novaes e Dias (2010), tais como reforçadora do imperialismo dos países desenvolvidos ao inserir via tecnologia relações sociais e políticas em sociedades culturalmente diferentes, que além de estarem em um distinto estágio produtivo, submete não só os trabalhadores mas toda uma sociedade aos padrões do mercado dos países desenvolvidos. Nas palavras dos autores

é plausível afirmar que a tecnologia capitalista convencional reforça a dualidade capitalista, submetendo trabalhadores a detentores dos meios de produção e países subdesenvolvidos a países desenvolvidos, perpetuando e ampliando as assimetrias de poder dentro das relações sociais e políticas. Nesse sentido, a TC pode ser vista como um elemento que provoca a gradual erosão da democracia (NOVAES e DIAS, 2010,p.144).

Como solução Dagnino (2010), se apoia em correntes de pensamento como o

construtivismo social da tecnologia, ator rede e conceitos de sistema tecnológicos, que possibilitam a construção e redesenho ou rearranjo de artefatos tecnológicos por grupos sociais relevantes, permitindo adequá-los ou elaborá-los inserindo seus valores e interesses políticos. Essa visão se baseia que as tecnologias são, segundo Thomas (2009), “construções sociais da mesma forma que as sociedades são construções tecnológicas”, o que permite a geração de novas forças produtivas para a indução de novas relações sociais, como a Tecnologia Social (TS). A TS nasceu do mesmo enfoque da Tecnologia Apropriada (TA), mas criticando sua ingenuidade. Segundo Dagnino (2010), esta nova forma de abordagem científica se desenvolveu na América Latina para soluções de problemas da população economicamente vulnerável pela ótica dos excluídos.

Se encontrando como organizações interessadas os empreendimentos solidários por serem parte de um movimento questionador da forma de produção convencional são potenciais usuários e geradores da TS. A TS deve ter como características, segundo (DAGNINO, 2010), ser viabilizadora das empresas autogestionárias, inclusiva, adaptada aos micros e macros ambientes e libertadora. Na tabela abaixo é possível ver uma comparação entre TC e TS

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Tabela 1- Comparação entre Tecnologia Convencional e a Tecnologia

Social Tecnologia Convencional Tecnologia Social

Tamanho Adequada ao grande capitalista

Adaptada à pequeno e a grande empresa

Característica Ambiental Insustentável Sustentável

Função Expulsiva/Exclusiva Inclusiva

Mão de Obra Poupadora Adaptável

Controle Hierárquico Autogestionário

Noção do processo de trabalho

Alienante e segmentada Libertadora do potencial físico

Orientação Para os mercados compostos por empresas

de países ricos

Capaz de viabilizar empreendimentos autogestionários

Fonte: Adaptado a partir de Dagnino (2010)

A Adequação Sócio-Técnica (AST) é um conceito que surge para a solução da transformação da TC para a TS “aplicando critérios suplementares aos técnicos-econômicos usuais a processos de produção e circulação de bens e serviços em circuitos não formais” (DAGNINO; BRANDÃO; NOVAES, 2010, p.100-101). Ao se operacionalizar torna-se um método de reprojetamento das características físicas de um determinado artefato tecnológico e de redefinição dos valores, que se alinham ao do grupo social relevante. O processo de AST pressupõe para Novaes (2005) um entendimento além do possuir a tecnologia. A AST, também retrata a complexidade vivida atualmente pelos diferentes empreendimentos populares, desta forma, foi criado modalidades de aprofundamento autogestionário. As modalidades são segundo Dagnino & Brandão & Novaes (2010):

1) Uso: o simples uso da tecnologia (máquinas, equipamentos, formas de organização do processo de trabalho etc.) antes empregada (no caso de cooperativas que sucederam a empresas falidas), ou a adoção de TC, com a condição de que se altere a forma como se reparte o excedente gerado, é percebido como suficiente. 2) Apropriação: concebida como um processo que tem como condição a propriedade coletiva dos meios de produção (máquinas, equipamentos), implica uma ampliação do conhecimento, por parte do trabalhador, dos aspectos produtivos (fases de produção, cadeia produtiva etc.), gerenciais e de concepção dos produtos e processos, sem que exista qualquer modificação no uso concreto que deles se faz. 3) Revitalização ou repotenciamento das máquinas e equipamentos: significa não só o aumento da vida útil das máquinas e equipamentos, mas também ajustes, recondicionamento e revitalização do maquinário. Supõe ainda a fertilização das tecnologias “antigas” com componentes novos. 4) Ajuste do processo de trabalho: implica a adaptação da organização do processo de trabalho à forma de propriedade co letiva dos meios de produção (preexistentes ou convencionais), o questionamento da divisão técnica do trabalho e a adoção progressiva do controle operário (autogestão).

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5) Alternativas tecnológicas: implica a percepção de que as modalidades anteriores, inclusive a do ajuste do processo de trabalho, não são sufi cientes para dar conta das demandas por AST dos empreendimentos autogestionários, sendo necessário o emprego de tecnologias alternativas à convencional. A atividade decorrente dessa modalidade é a busca e a seleção de tecnologias existentes. 6) Incorporação de conhecimento científico-tecnológico existente: resulta do esgotamento do processo sistemático de busca de tecnologias alternativas e na percepção de que é necessária a incorporação à produção de conhecimento científico-tecnológico existente (intangível, não embutido nos meios de produção), ou o desenvolvimento, a partir dele, de novos processos produtivos ou meios de produção, para satisfazer as demandas por AST. Atividades associadas a essa modalidade são processos de inovação Sobre o marco analítico-conceitual da Tecnologia Social de tipo incremental, isolados ou em conjunto com centros de pesquisa e desenvolvimento (P&D) ou universidades. 7) Incorporação de conhecimento científico-tecnológico novo: resulta do esgotamento do processo de inovação incremental em função da inexistência de conhecimento suscetível de ser incorporado a processos ou meios de produção para atender às de mandas por AST. Atividades associadas a essa modalidade são processos de inovação de tipo radical que tendem a demandar o concurso de centros de P&D ou universidades e que implicam a exploração da fronteira do conhecimento. Entende-se que o processo de AST em permanente construção mostra-se indispensável ao “crescimento e radicalização do movimento associativista e da autogestão (cooperativista surgidas de assentamentos, mutirões dos Sem-Teto, fábricas recuperadas, cooperativas populares, etc)” (NOVAES e DIAS, 2010,p.145). Esta concepção têm gerado na esfera estatal algumas modificações e discussões, pois o aprofundamento do movimento autogestionário necessita do “controle global do processo de trabalho pelos produtores associados, e não simplesmente a questão de como subverter os direitos de propriedade estabelecidos” (MESZÁROS, 2002, p.628, apud NOVAES, 2011, p.42).

O fenômeno de Fábricas Recuperadas

Uma característica intrínseca da dinâmica capitalista tem sido a quebra de empresas por conta da competitividade e o fechamento da atividade por outra mais lucrativa. Como resultado há um artifício de recuperação de empresas, um protagonizado pelo o Estado – a recuperação judicial - e outro protagonizado pelos próprios trabalhadores – as Fábricas Recuperadas (FRs) – onde os trabalhadores não convencionalmente organizados têm buscado outras relações sociais, alguma delas em conjunto com as ações estatais para solução dos problemas enfrentados pelas FRs e para sua ampliação como alternativa a quebra e fechamento de empresas.

As Fábricas Recuperadas por seus Trabalhadores (FRs) data o século XIX com experiências na Comuna de Paris, ao entregar fábricas abandonadas pelos empresários aos operários constituídos como cooperativa. Esse processo de falência de empreendimentos econômicos e corte de mão de obra inerente ao sistema

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capitalista de produção vem ocorrendo fortemente em períodos de crise e reestruturação produtiva. A classe proletária tem resistido frente aos efeitos do fechamento de diversas empresas em setores distintos, que tem atacado toda planta produtiva nacional. Essa resistência se dá de maneira organizada e inteligente, uma vez que um dos problemas é o fechamento de empresas, os próprios trabalhadores ocupam e administram as empresas, na tentativa de recuperar sua produção, trabalho e sustento.

É importante aqui destacar o significado entre ocupar e recuperar uma fábrica. O primeiro termo se relaciona ao processo direto de luta, valendo-se do acampamento na busca de alguma reivindicação, as pautas podem fazer frente ao não pagamento de salário, esvaziamento, continuidade da empresa quebrada, entre outros. Por sua vez, a recuperação se caracteriza pelo processo econômico e produtivo, desde a tentativa da continuidade do empreendimento até possuir certa estabilidade conseguida após a reabertura gerida pelos trabalhadores. As fábricas podem permanecer ocupadas, mas serem recuperadas, isto se deve ao fato de ainda não terem atingido sua reivindicação, embora se tenha logrado a recuperação. Esse movimento é imensamente marcado por não ser contestador do Estado e sim por procurar sua proteção, como aponta Rebón & Saavedra (2006) uma predominância de 92% de sua amostra consideraram injusto ocorrer a ocupação em fábricas onde os salários são pagos corretamente, embora não comentada outras causas que possam levar a ocupação, como demissões, fraudes, esvaziamento e outros desrespeito ao contrato trabalhista. Para o entrevistado Luís Caro presidente do Movimento Nacional de Fábricas Recuperadas e escritor da primeira lei de expropriação - para a Cooperativa Unión y Fuerza - na Argentina afirma

“Nós independentemente temos que reclamar, e vamos reclamar pelos direitos, mas não vamos aceitar as demissões ou o fechamento do estabelecimento, quando tem uma intenção ilegal ou fraudulenta, ou às vezes também ocorre, o dono diz que não pode pagar os credores e pede a quebra, então tem que entender que nessas circunstâncias, se nós aceitarmos sair da fábrica estaremos aceitando a fraude, se o empresário quer demitir, primeiro pague as dividas. Nós nunca falamos em toma de fábrica, porque a toma é uma atitude ilegal, contrario a normativa (...) manifestamos a permanência pacifica e do local de trabalho (...) estamos pedindo um direito humano básico o de trabalhar, é o que vamos defender”

Desta forma é possível depreender que a recuperação/ocupação de fábricas por trabalhadores é o principal fenômeno de proteção e ataque da classe trabalhadora. Por nela se insere uma percepção histórica de classe, que ao cruzar os braços, fere diretamente a necessidade incessante de reprodução do capitalismo, que é a transformação D-M-D’ que tem por base a exploração da mais valia. Segundamente é um movimento de questionamento e contestação societária da função que o Estado e a empresa exercem no sistema de produção.

As Fábricas Recuperadas por seus Trabalhadores nasceram como uma inovação radical à forma de produção. O modelo convencional é marcado pela

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hierarquia vertical, submissão autoritária ao chefe, especialização de tarefas, extrema separação entre quem toma decisão e quem executa, entre outras. Este modelo, na recuperação dá lugar a uma organização dos produtores associados que de forma universal mantém uma gestão horizontal, incorporam funções antigas e criam novas funções externas. Estas características permitem o desenvolvimento endógeno e único de cada unidade produtiva, fazendo-a criar sua própria e nova maneira de organizar o processo de produção e gestão da fábrica em comparação a arranjo antigo da empresa.

No meio de produção destas fábricas recuperadas também ocorrem conflitos e transformações. Os conflitos ocorrem em duas vias, a primeira a disputa pela pose do maquinário e do espaço físico, a segunda via é o movimento de luddismo às avessas, apresentado por Novaes (2005) apoiado em Heller (2004), em que os patrões começam a sabotar e retirar máquinas para impedir ou retardar a gestão operária. As transformações são realizadas devidas aos comuns desgastes ou quebra de máquinas, como também a necessidade de reinventar o maquinário de forma mais eficiente ou voltado aos princípios solidários. Estes dois fatores de alto potencial inovativo, a organização de novas fábricas e a reestruturação de máquinas, são essenciais para a discussão sobre o tema. O cenário de FRs é fortemente marcado por visões economicistas e sociológicas, que não focam na atividade fundamental das fábricas, a produtiva. Tendo em vista esta deficiência, é importante introduzir uma abordagem do campo da administração, que além de refletir sobre a constituição da tecnologia, apresenta dinâmicas de alteração tecnológica em contextos de informalidade. Esta última é analisada pela ótica da adequação sócio-técnica em uma FR na Argentina. A Fábrica Ocupada Flaskô

A Flaskô foi fundada em 1977, segundo Verago (2011), dedicou-se a produção de embalagens industriais plásticas de grandes volumes para a indústria alimentícia, petroquímica e farmacêutica, frigoríficos, contou na década de 80 com 600 funcionários. Após a abertura comercial nos anos 90, somada com irregularidades, dívidas e demissões, fizeram a empresa chegar ao ano de 2003 em processo de falência. Os trabalhadores desta fábrica, em conjunto com os trabalhadores localizados em Joinville-SC pertencentes ao mesmo grupo econômico, empreenderam uma greve para pagamento de salário e regularização de direitos devidos, além da resguarda seus empregos.

Desta greve culminou o Movimento de Fábricas Ocupadas, que pleiteia a estatização das fábricas sob controle operário. Com isso a Flaskô ganha fama nacional no ano de 2003, não pelo produto que comercializa, mas pela busca da resistência ao fechamento de empresa e a pela estatização das fábricas. A trajetória desta fábrica recuperada é marcada pelo enfrentamento de entraves judiciais, econômicos, políticos, culturais e tecnológicos, bem como pela constituição de um modelo diferenciado de relações de trabalho e de autogestão.

A empresa que até o ano de 2014 possuía 62 trabalhadores, conseguiu diversas conquistas, segundo Mandl (2012), como: progresso no processo de consciência de classe, menor alienação perante o trabalho, aprendizado de uma

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nova relação de trabalho sob a lógica do bem estar coletivo, diminuição dos acidentes de trabalho, diminuição na jornada de trabalho para 30 horas sem redução salarial. Outros dois grandes avanços que são abordados é o aprofundamento das relações com a comunidade através da criação da Vila Operária e Popular e da Fábrica de Cultura e Esporte, e a reestruturação de aparatos tecnológicos.

Ao que se refere à divisão de trabalho, as funções se dão por domínio técnico adquirido mediante cursos e experiência profissional. Além de não haver divisão de tarefas por gênero, entre os operadores de máquinas há rotatividade de máquinas. A produção também conta com perda zero de matéria prima, ou seja, com cem por cento de aproveitamento da matéria base para a produção. O principal produto fabricado pela Fábrica Ocupada Flaskô, e pelo processo de produção com máquinas recuperadas, são as bombonas plásticas (Figura 1).

As alterações de layout da fábrica deixou mais próximo o setor comercial com o setor da produção, e este último com o setor de estoques. O atual layout otimizou em comparação ao anterior, o processo de transporte das estações de trabalho por diminuir as distancias entre maquinas, além de facilitar o escoamento dos produtos para clientes. Como resultado da aproximação dos setores, houve uma ampliação do contato pessoal e profissional com os funcionários dos diferentes setores, além de aperfeiçoar um controle da produção por demanda puxada (Make-to-order). A fábrica trabalha com redução mínima de estoque o que possibilita a constatar vários problemas de qualidade do produto com alto grau de precisão e por último propicia uma maior atenção ao gerenciamento dos canais de distribuição.

Percepção dos trabalhadores sobre a neutralidade da tecnologia na Flaskô

Com a finalidade de entender a percepção dos trabalhadores perante a neutralidade da tecnologia, e entender a razão pela qual foi feita a reestruturação das máquinas na fábrica foi realizada algumas entrevistas às trabalhadoras e aos trabalhadores da Flaskô. A entrevista de caráter semi-estruturada abrangeu 16% dos trabalhadores, e os questionou sobre: se pensavam ser a tecnologia imune de valores políticos e tecnológicos de quem a constrói; como também se eles acreditavam ser possível alterar o layout da fábrica; e por último quais as mudanças nas máquinas e técnicas que eles haviam feito.

É possível verificar que não existe uma preocupação coletiva sobre a neutralidade do aparato tecnológico. Poucos trabalhadores disseram já ter refletido sobre o assunto, ou, acredita-se ser o maquinário imune de valores. A maior preocupação por parte deles reside na idade do maquinário e em sua obsolescência. Para os que acreditaram que aparatos técnicos podem carregar valores ideológicos, pensam que estes valores são atualmente perturbados por conta da idade de seu maquinário, e por consequência os valores serem de outra geração. As modalidades de Adequação Sócio-Técnica: respectivas mudanças dentro da Flaskô A Flaskô em vista de necessidades produtivas, inserção de mercado, manutenção de maquinário e/ou transformação administrativa tem realizado mudanças na gestão

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e reestruturação de máquinas e produtos. Estas alterações podem ser observadas pela ótica da Adequação Sócio-Técnica, e desta forma, a partir de exemplos concretos apresentar aplicabilidade do uso deste método. Abaixo são exibidas as modalidades de AST e as respectivas mudanças empreendidas na Flaskô: 1) Uso: Após a Ocupação os trabalhadores dividiram o ganho com as vendas do que produziram, voltando a obter renda. 2) Apropriação: a Flaskô a partir de 2003 passou a realizar o controle operário da produção, assim os meios de produção tornaram-se coletivos. Houve também ampliação de conhecimento dos processos da Fábrica aos trabalhadores. 3) Revitalização ou repotenciamento das maquinas e equipamentos: Houve a recuperação de uma Sopradora Voith pelos trabalhadores(Figura 2). Nesse conserto coletivo, foram trocado painel, alguns pistões e por fim a manutenção da parte hidráulica.

Após a queima do painel e dificuldades financeiras, houve a construção de um painel de comando da injetora (Figura 3). Este foi feito com 100% de material de sobrante na fábrica. O painel antes por sinal elétrico se transformou em um painel por posição (força hidráulica). 4) Ajuste do processo de trabalho: Os ajustes advindo do Controle Operário da Produção, foram: a formação do Conselho de Fábrica para o estabelecimento dos rumos da fábrica, tornando as decisões totalmente horizontais. A criação do setor de mobilização que é imprescindível para uma Fábrica Ocupada. 5) Alternativas tecnológicas: O molde para a tampa auto-travante, que foi projetada pelos trabalhadores, ofertando uma modernização do produto ao mercado.

Para o concerto e aperfeiçoamento e da IPE 250 L (Figura 4) foi realizado um estudo técnico para continuar da produção com esta máquina. As modificações empreendidas colocaram um novo sistema de alimentação na máquina, inserindo um robô, onde antes era realizado um abastecimento manual. Foi trocado os dois fusos por um fuso de 120 mm de diâmetro, além da troca do motor hidráulico por um elétrico com inversor de frequência. Também houve mudanças a instalação de um painel digital no que antes era analógico. Como resultado, obteve-se um aumento de 100% de produtividade da máquina.

Tipo de modalidade Seu significado O que ocorreu

1)Uso O simples uso Ocupação

2)Apropriação Não modifica o processo, mas muda a propriedade

Ampliação do conhecimento; e Coletivização dos meios

produtivos.

3)Repotenciamento das maquinas e equipamentos

São ajustes que envolvem a

incorporação de componentes novos

Conserto Sopradora Voith;

Reconstrução dos Painéis

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Tabela 2 – Modalidades da Adequação Sócio Técnica e suas respectivas alterações na Flaskô

Fonte: Elaboração própria Processo de trabalho na Cooperativa de Trabalho CAFLA

A Cooperativa de Trabalho CAFLA é uma indústria do setor de plástico e metalurgia localizada na cidade autônoma de Buenos Aires na Argentina. Nascida em 1971, com a fundação da empresa de Sociedade Limitada CAF, iniciou no setor metalúrgico e em 1986 incluiu a produção de acessórios sanitários. Atualmente produz acessórios para sanitários e cozinha, com cobertura nacional e produção especificadamente para consumo final. A Cooperativa de Trabalho CAFLA conta com doze sócios e cinco empregados, sendo quatro deles contratados por conta da temporada e um fixo, que participou do processo de recuperação, mas não quis tornar-se sócio. Os sócios recebem o mesmo salário, já o restante recebe o indicado para a categoria, ambos com uma carga média de 10 horas por dia.

Devido ao forte contexto de crise econômica iniciado nos anos 90 e chegando ao seu auge em 2001, muitas empresas passaram por dificuldades operacionais, entre elas, CAF. A CAF mantinha vendas antecipadas pagas, fator que em época de preços oscilantes e desvalorização monetária causou dívidas que sem ter como honrá-las fizeram o dono sair do país. A empresa passou a ser gerida por duas pessoas da confiança do dono, que acentuaram os problemas administrativos com gastos privados, causando um descontrole financeiro e por fim a tentativa de arremate de toda a empresa.

Chegado ao ano de 2006, a fábrica entrou em pleno processo de esvaziamento, além de não poder mais honrar com as contas com fornecedores, credores e dívidas fiscais. A situação dos trabalhadores também era crítica, eles estavam cinco meses sem receber salários - Dezembro de 2005 a Abril de 2006 - e seis meses sem receber encargos sociais. Neste momento, se protagoniza a

4)Ajuste do processo de trabalho

Mudança da organização por conta da Apropriação

Conselho de Fábrica; e

Criação do setor de Mobilização

5)Alternativas tecnológicas

Uso de tecnologias existentes

Reconstrução da IPE; e

Tampa auto-travante.

6) Incorporação de conhecimento científico-

tecnológico existente

Novos meios de produção ou técnicas

criadas por conhecimento científico-tecnológico já existente

Inexistente

7) Incorporação de conhecimento científico-

tecnológico novo

Novos meios de produção ou técnicas

criadas por novo conhecimento científico-

tecnológico

Inexistente

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trajetória de luta dos trabalhadores da fábrica frente a busca de uma solução para o fechamento da fábrica. Primeiramente fizeram contato com outras experiências de FRs e concluíram que também era viável fazer a recuperação. Os trabalhadores iniciaram seu primeiro dia de trabalho autogestionado no dia 1 de Junho de 2006, com novo nome de Cooperativa de Trabalho CAFLA4. A solidariedade presente no movimento operário argentino, em outras organizações e nas pessoas foi importante para a manutenção da recuperação. Em um primeiro momento, o movimento de FRs colaborou com alimentação dos trabalhadores, além de sanar via empréstimo de outra cooperativa a dívida de energia elétrica. Embora os trabalhadores estivessem com as máquinas e o galpão da empresa falida, eles se encontravam sem capital de giro para a compra de matéria-prima, caso solucionado por um ex-companheiro colaborou com um empréstimo.

Em pose dos itens mínimos para a produção – matéria-prima, energia elétrica, mão de obra, meios de produção - iniciou a fabricação dos acessórios mais econômicos. Conforme entrou dinheiro no caixa, foi possível trabalhar com outras matérias-primas mais caras, como o bronze e o cobre, possibilitando aumento maior do caixa.

Após um ano de trabalho, julho de 2007, o ex dono voltou para o país, e em um momento de descuido entrou na fábrica, reivindicando a fábrica voltasse para ele. Os trabalhadores organizados responderam ao antigo patrão:

pague tudo que nos deve que nós seguimos trabalhando como sempre. A única coisa que queremos é trabalhar, tivemos que fazer esse artificio de cooperativa para manter nossa fonte de trabalho. Nós não estamos querendo ganhar com algo teu, queremos o que é nosso e nada mais. (Trabalhador entrevistado).

Ele não estava sozinho, levou com ele cinco pessoas armadas e mais uma filmando para tentar adentrar na fábrica. Diante desta situação, os trabalhadores não permitiram a entrada deles, criando um clima de intenso confronto, do qual os “mercenários” fugiram. A solidariedade dos amigos, vizinhos e de movimentos de FRs foi determinante, após a fuga, chegaram cerca de cem pessoas que cercaram o ex dono e começaram a falar dos erros empresariais e éticos que ocorreram, após este acontecimento ele nunca mais reivindicou a propriedade da fábrica.

Com dois anos e meio de luta e intenso trabalho foi possível trocar de galpão e adquirir suas próprias máquinas, momento que conta com a solidariedade de um dos fornecedores que colocou sua casa como garantia para locação. Para manter todos os setores que existia na fábrica antiga, as máquinas foram criadas e compradas de importadores e leilões, algumas destas compradas foram 4 A cooperativa de Trabalho CAFLA faz parte do Movimento Nacional de Fábricas Recuperadas por Trabalhadores (MNFRT), este é o movimento de FRs, mas destacado e com maior número de empresas integrantes atualmente. Para mais informações sobre movimentos de fábricas recuperadas ler “O Atual estágio das relações entre as empresas recuperadas (ERs) argentinas e o movimento operário argentino e latino-americano” de Josiane Lombardi Verago.

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restauradas. Esta incorporação que se deu com recursos próprios e cerca de metade das máquinas sofreram modificações. Ao que se trata dos aspectos operacionais da empresa ela não mantém dívidas, nem com fornecedores e nem dívidas para fins de investimento produtivo. As relações comerciais de compra da cooperativa estão marcadas por 70% dos fornecedores serem empresas monopólicas, 15% grandes empresas, 10% PMEs, e 5% Autogestionadas. Já as relações comerciais de venda são dividias por 20% de grandes empresas, 78% são PMEs e 2% são empresas autogestionadas. Esses números podem indicar um fraco poder de negociação de datas e valores frente a fornecedores e grandes clientes. Ao mesmo tempo as vendas no geral apresentam equilíbrio na negociação com empresas do mesmo porte, já o contato com as empresas solidárias são menores que a média na Argentina, mas isto é por conta da característica do setor. Em relação ao processo de produção, no que tange a produção a capacidade instalada é de 90% do máximo que poderia ser atingida, o 10% está limitado pelas condições energéticas da rede elétrica de Buenos Aires. A produção é feita de acordo com o sistema Make-to-Stock devido ao controle e planejamento das sazonalidades e tendências da demanda. Já o armazenamento da matéria prima e da produção terminada não requerem cuidado especial, ficando em um setor de armazenamento/despacho, o que acelera os dois processos, além de otimizar o espaço. Os atuais produtos fabricados (Figura 5) são produzidos semanalmente nas proporções a seguir

Tabela 3 – Quantidade de itens fabricados

Produto Sifão Parafuso Tubo de Borracha

Flexíveis Canoplas

Quantidade 2500 1000 1000 17000 500

Fonte: Elaborado pelo autor Na relação volume de fabricação e variabilidade o tipo de processo de fabricação na empresa é produção em massa. O tipo de layout do fluxo é funcional, categoria onde as “máquinas são agrupadas por função (tornos, fresas, etc.) e as peças são movimentadas pela fábrica para as várias máquinas” (BLACK, 1998 apud SILVA, 2009). Desta forma, tem se obtido maior utilização das máquinas, maior flexibilidade nas alterações de produtos, demanda ou interrupções de processo. Ao mesmo tempo se verifica aumento das movimentações de materiais e maior lead time. Os espaços entre máquinas são adequados para a matéria prima, operador, produto final, mas não para uma possível manutenção. Também é visto a existência de corredores comuns para passagem de pessoas e de material, este último feito através de carrinhos transportadores. De maneira conclusiva o layout apresenta características que ainda podem o tornar mais eficiente no armazenamento, fluxo e expedição. Na Figura 6 é apresentado o fluxograma geral de produção.

Na Figura 7, Figura 8, Figura 9, Figura 10, são apresentadas as etapas específicas do processo de produção que envolve máquinas modificadas e criadas, ou na linguagem dos operários da Cooperativa, máquinas caseiras. Estas estão com

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o quadrilátero com preenchimento em laranja e podem ser vistas em alguns fluxogramas mais de uma vez no processamento do produto, no caso do Flexível Cobre Cromado, é possível notar a quase totalidade de máquinas modificadas/caseiras no processo. Percepção dos trabalhadores sobre a neutralidade da tecnologia em CAFLA

Foi realizado um conjunto de entrevista para Percepção dos trabalhadores sobre a neutralidade da tecnologia. Esta avaliação foi respondida por 58% dos sócios, cerca de sete cooperados em um universo de doze5. Foram realizadas algumas perguntas introdutórias de forma a servir de eixo do dialogo, permitindo a flexibilidade da conversa. As perguntas feitas foram: Uma maquina ou um aparato tecnológico pode excluir ou discriminar as pessoas; O benefício trazido pelo emprego de uma máquina é para toda uma sociedade ou só para alguns; A tecnologia pode ser usada para ter um fim político ou ideológico; A máquina pode fazer seu operador perder conhecimento ou a visão do processo de produção.

De maneira geral é possível averiguar que para os trabalhadores, os aparatos tecnológicos podem expressar princípios ideológicos ou vontades políticas desde sua criação até na sua incorporação no processo de produção ao alienar o trabalhador da atividade produtiva Estes aparatos também podem ser usados para algum tipo de exclusão, mas cabe ao operador pensar em sua real funcionalidade.

Também é percebido para a minoria de trabalhadores, que suas máquinas não carregam estas características. Para esta menor parcela, máquina é máquina, e não pode discriminar ou expressar a partir dela alguma função política ou ideológica, muito menos tirar a noção do trabalhador da atividade produtiva, ela foi criada para melhorar o processo de trabalho e o uso depende de seu usuário. As modalidades de Adequação Sócio-Técnica: respectivas mudanças dentro de CAFLA Podem-se identificar as alterações no processo produtivo realizado pelos trabalhadores como níveis de complexidade de AST, embora existam alterações não são citadas devido às limitações metodológicas, como: o desenvolvimento de um programa de computador para facilitar cálculos financeiros, a instalação da tubulação de ar para limpeza e para inflar o sifão. Abaixo alguns exemplos de AST na Cooperativa de Trabalho CAFLA: 1) Uso: Após a ocupação, mesmo que por um breve período de tempo, foram utilizadas as instalações e máquinas do ex dono, mas com a incorporação do excedente gerado no trabalho para finalidade dos trabalhadores. 2) Apropriação: Simultaneamente ao Uso, ao iniciar a recuperação pelos trabalhadores, eles começaram a absorver tarefas de setores que saíram. Outro ponto marcado neste nível é a propriedade coletiva dos meios de produção, que pode ser institucionalizada com a formação da cooperativa.

5 O restante dos sócios estava de férias no período do estudo.

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3) Revitalização ou repotenciamento das maquinas e equipamentos: Algumas máquinas foram compradas desgastadas e por isso tiveram que ser revitalizadas ou repotencializadas. As máquinas que foram melhoradas com a instalação de novas peças são a Injetora ½, Injetora ¾, e o Lábio, com a colocada de bronze de alumínio para fazer o lábio na peça, além de uma guia de orientação para posição dos flexíveis na máquina. 4) Ajuste do processo de trabalho: Utilização de assembleias para tomada de decisões gerais, decisão econômicas, administrativas e operacionais. O aprofundamento autogestionário pode ser visualizado através da socialização do poder gerencial, o direito a todos a partir da coletivização dos meios de produção e a ampliação do conhecimento de todo processo produtivo e das finalidades de sua atividade. 5)Alternativas tecnológicas: Para suprir necessidades do produto e aperfeiçoar o processo de produção foi criada uma guilhotina. A guilhotina, Figura 11, serve para cortar a mangueira do flexível trançado, sendo feito agora o corte passado e não mais um corte amassado, que prejudica as próximas etapas de produção, como a outra guilhotina antiga. Outra mudança da guilhotina é a adaptação do corte ao tamanho da polegada do flexível. O movimento de corte também foi alterado, passando a ser pneumático, como também a mesa agora possui uma régua embutida que orienta o tamanho da mangueira. 6) Incorporação de conhecimento científico-tecnológico existente: Este tipo de fase é marcada pela incorporação de novos conhecimentos ou etapas. As modificações feitas pela fábrica neste nível foram no Balancim, Forno e na Desempenadora. O Balancim, Figura 12, é uma máquina que faz o arame de cobre para parafusos. Para este processo é necessário desamassar, medir e cortar a matéria-prima. A modificação realizada, foi embutir alguns mecanismos para um sistema de auto abastecimento da máquina, com isso incorporou um processo de produção a máquina. A nova matriz feita para cortar a matéria prima alimentada, tem maior velocidade e eficiência, precisando só de um golpe para cortar o que antes era feita em três golpes. O Forno, Figura 13, é uma máquina que foi construída devido à sua necessidade para o processo de produção dos flexíveis. O protótipo desta máquina já existe, mas em circulo e o encaixe do flexível é embaixo. No caso da cooperativa antes da recuperação, muitas vezes os trabalhadores tinham que segurar a peça na mão e usar o maçarico para maleá-la. O forno criado foi feito em um formato quadricular e adaptável ao tamanho das instalações ao mesmo tempo respondendo as necessidades produtivas da fábrica. Os materiais usados para sua construção foram quase na totalidade materiais reutilizados de outras máquinas, equipamentos e de um caminhão, demorando entre três a quatro meses para finalizar sua montagem. Neste novo formato, na mesa é possível deixar parte do material armazenado para abastecer a máquina, além de o encaixe ser na parte superior, fazendo com que o flexível fique pendurado. Esta alteração gera melhor rigidez ao processo durante o “banho de fogo”, além de permitir os dois tamanhos de flexíveis usados na fábrica. Outra melhora também inserida por conta da máquina é a velocidade da esteira ser maior e a operação ser mais rígida e uniforme por conta

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do suporte de flexível. Para os trabalhadores a falta de perigo de acidente com maçarico e a chaminé da máquina que suga as cinzas, o cheiro e o calor, indicam melhoras de salubridade no ambiente de trabalho. A Desempenadora, Figura 14, é uma máquina construída para desamassar e endireitar os canos de cobre que irão ser usados para fabricação de flexíveis de ½ e ¾. Antigamente o operador tinha desempenar manualmente o cano até ele ficar apropriado para o trabalho. A nova máquina tem seus mecanismos ligados por uma correia a um motor, que quando acionado desempena o cano colocado entre os mecanismos. A máquina conta com um sistema de segurança de frenagem, caso a mão entra entre os mecanismos. Esta criação melhorou a saúde física e mental ao não mais machucar as mãos com movimentos repetitivos, e causar estresse. Por fim, foi excluída uma tarefa de grande dispêndio e pouca agregação no produto, que passa por um processo mais eficiente.

Tabela 4 – Modalidades da Adequação Sócio Técnica e suas respectivas alterações em CAFLA

Tipo de modalidade Seu significado O que ocorreu

1) Uso O simples uso Ocupação

2) Apropriação Não modifica o processo, mas muda a propriedade

Ampliação do conhecimento; Ampliação de tarefas;

e Coletivização e pose dos meios

produtivos.

3)Repotenciamento das maquinas e equipamentos

São ajustes que envolvem a incorporação de componentes

novos

Injetora ½; Injetora ¾;

e Lábio

4)Ajuste do processo de trabalho

Mudança da organização por conta da Apropriação

Assembleia Geral; e

Gestão operacional

5) Alternativas tecnológicas Uso de tecnologias existentes Guilhotina;

6) Incorporação de conhecimento científico-

tecnológico existente

Novos meios de produção ou técnicas criadas por

conhecimento científico-tecnológico já existente

Balancim; Desempenadora;

e Forno

7) Incorporação de conhecimento científico-

tecnológico novo:

Novos meios de produção ou técnicas criadas por novo conhecimento científico-

tecnológico

Inexistente

Fonte: Elaboração própria

Conclusão

O avanço dos aparatos técnicos e das técnicas se apresenta em uma essencial relação dialética com o processo de desenvolvimento histórico da sociedade. Esta

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centralidade foi obtida a partir da revolução industrial, e vem historicamente adquirindo maior magnitude devida sua variante no desenho e nos impactos das relações sociais. Em consciência do seu papel ativo no processo de transformação do mundo pela sua forma de organização societária e pelos instrumentos de trabalho, os indivíduos começaram a planejar o fim almejado de suas ações. Grupos até então marginalizados economicamente e excluídos politicamente, começaram, fortalecidos pela a abordagem da AST, a tecer um papel relevante na decisão de sua forma de organização e na alteração tecnológica, como nas experiências que envolvem Fábricas Recuperadas.

As Fábricas Recuperadas por seus trabalhadores mantém a cada nova experiência um grande potencial de inovação do processo e do meio de produção. As Fábricas Recuperadas estudadas têm ajustado seu maquinário aos valores da autogestão, do cooperativismo e da Economia Solidária. O grupo de trabalhadores argentinos, diferentemente do caso brasileiro, tem em sua maioria apresentado uma postura consciente sobre a não neutralidade da tecnologia, fato que aponta um avanço analítico em relação ao seu meio de produção. As adequações sócio-técnicas empreendidas têm moldado a tecnologia a valores pretendidos pelos trabalhadores, e a formas mais eficientes de produção, alcançando na experiência argentina alto nível de complexidade sugestiva de inovações incrementais.

Apresentado algumas características sobre as duas experiências, surgi a necessidade de se fazer alguns apontamentos que possam traçar respostas sobre a explicação de uma empresa conseguir atingir um nível de complexidade de AST e a outra empresa não.

A primeira explicação se deve ao fato que a criação e reconstrução de máquinas efetuadas em CAFLA foram desenvolvidas com grande intermediação de um trabalhador especifico. Ele tem um qualificado conhecimento técnico-produtivo e sempre desenvolveu máquinas para a empresa, mesmo antes da recuperação como também para outras indústrias. No caso da Flaskô, embora tenha trabalhadores com grande conhecimento técnico, eles não realizam criação de máquinas, como visto, há manutenção e concertos de máquinas. Outra possível razão seja que a cooperativa CAFLA deseja gerir sua empresa sem nenhuma intermediação do Estado, ou somente ter a oportunidade de trabalhar para assim conseguir conquistar o que for necessário. Por sua vez seja na Flaskô exista uma precondição da estatização da para solução ou aprofundamento socialista vindo do Estado.

Há também possíveis facilitadores, como por exemplo, em CAFLA há ausência de um montante de dívidas, o que possibilita o direcionamento do investimento em máquinas, e no caso da Flaskô ocorre o contrário. Um segundo facilitador é a estabilidade do empreendimento solidário e a existência de um sólido e grande movimento de FRs para apoiar a CAFLA. A Flaskô realiza um movimento de fábricas ocupadas/recuperada praticamente isolada, além de um intenso entrave político-econômico, que pode de alguma forma causar um desgaste para a execução de outras tarefas paralelas como a construção ou reprojetamento de um equipamento.

Por fim, ainda que a Adequação Sócio-Técnica (AST) incita a organização da produção de uma maneira diferente, colaborando com a possibilidade do empoderamento dos trabalhadores em um marco prático e conceitual importante,

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ela não cria uma demarcação definitiva ou a construção real de um modo de produção alternativo. Isto se deve justamente por ela se restringir ao isolamento das unidades produtivas, além de não se inserir em todos os setores da dinâmica capitalista, ou seja, ela prefere alcançar a autogestão em uma unidade produtiva, do que ser hegemônica. Referências Bibliográficas

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Os casos Cipla, Interfibra, Flaskô e Zanon. Sumaré – SP : Edições CEMOP.

WINNER, L. (1986). Do Artifacts have Politics?.

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Figuras

Figura 1. Bombonas Plásticas. Fonte: Elaborado pelo autor

Figura 2. Sopradora Voith e Placa de agradecimento. Fonte: Elaborado pelo autor

Figura 3. Painel de comando (re)construído. Parte frontal e traseira. Fonte:

Elaborado pelo autor

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Figura 4. IPE 250L. Fonte: Elaborado pelo autor

Figura 5 – Produtos produzidos. 1) Flexível ½ e Flexível ¾ . 2) Flexível PVC e

Flexível Trançado. 3) Sifão. 4) Parafuso, Canopla e Abraçadeira. Fonte: elaborado pelo autor

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Figura 6 – Fluxograma geral de produção. Fonte: elaborado pelo autor

Figura 7 – Fluxograma Flexível PVC e Parafusos. Fonte: elaborado pelo autor

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Figura 8 – Fluxograma Flexível Trançado. Fonte: elaborado pelo autor

Figura 9 – Fluxograma Flexível Cobre Cromado. Fonte: elaborado pelo autor

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Figura 10 - Flexível Nylon. Fonte: elaborado pelo autor

Figura 11 – Guilhotina. Fonte: elaborado pelo autor

Figura 12 – Balancim. Fonte: elaborado pelo autor

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Figura 13 - Forno foto frontal e lateral. Fonte: elaborado pelo autor

Figura 14 – Desempenadora. Fonte: elaborado pelo autor