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41 Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, São Paulo, 29 (110): 41-55, 2004 A Cadeirologia e o Mito da Postura Correta Ada Ávila Assunção 1 O artigo contesta a abordagem tradicional sobre as posturas adotadas pelos trabalhadores durante a realização de suas tarefas, a qual procura identificar e prescrever a postura correta sem considerar a ação humana durante o cumprimento dos objetivos da produção. Descrevendo os resultados de um estudo ergonômico realizado no setor de caixas de um hipermercado, apontam-se os limites da análise que desconsidera a dinâmica do arranjo das partes do corpo em situação real de trabalho. Ao final, são apresentadas as vantagens e as desvantagens das posturas sentada e em pé. Palavras-chave: saúde do trabalhador, ergonomia, postura, em pé, sentado. This study confronts the traditional approach to postures adopted by workers during the performance of their tasks, which attempts to identify and prescribe the correct posture without considering human action during the fulfillment of production aims. Describing the results of an ergonomic study of supermarket cashiers, the author illustrates the limitations of an analysis that ignores the dynamics of the arrangement of the parts of the body in real work situations. In the end, the advantages and disadvantages of seated and standing postures are given. Keywords: worker health, ergonomics, posture, standing, seated. 1 Professora do Departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Medicina da Universi- dade Federal de Minas Gerais. Mestre e Doutora em Ergonomia pelo Laboratório de Ergonomia Fisiológica e Cognitiva da École Pratique des Hautes Études (Paris – França) The Mith of Correct Posture

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Page 1: Ada Ávila Assunção The Mith of Correct Posture - scielo.br · Mestre e Doutora em Ergonomia pelo Laboratório de Ergonomia Fisiológica e Cognitiva da École Pratique des Hautes

41Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, São Paulo, 29 (110): 41-55, 2004

A Cadeirologia e o Mito daPostura Correta

Ada Ávila Assunção1

O artigo contesta a abordagem tradicional sobre as posturas adotadas pelos trabalhadoresdurante a realização de suas tarefas, a qual procura identificar e prescrever a posturacorreta sem considerar a ação humana durante o cumprimento dos objetivos da produção.Descrevendo os resultados de um estudo ergonômico realizado no setor de caixas de umhipermercado, apontam-se os limites da análise que desconsidera a dinâmica do arranjo daspartes do corpo em situação real de trabalho. Ao final, são apresentadas as vantagens e asdesvantagens das posturas sentada e em pé.

Palavras-chave: saúde do trabalhador, ergonomia, postura, em pé, sentado.

This study confronts the traditional approach to postures adopted by workers during theperformance of their tasks, which attempts to identify and prescribe the correct posturewithout considering human action during the fulfillment of production aims. Describing theresults of an ergonomic study of supermarket cashiers, the author illustrates the limitationsof an analysis that ignores the dynamics of the arrangement of the parts of the body in realwork situations. In the end, the advantages and disadvantages of seated and standingpostures are given.

Keywords: worker health, ergonomics, posture, standing, seated.

1Professora do Departamento de

Medicina Preventiva e Social daFaculdade de Medicina da Universi-dade Federal de Minas Gerais.Mestre e Doutora em Ergonomia peloLaboratório de Ergonomia Fisiológicae Cognitiva da École Pratique desHautes Études (Paris – França)

The Mith of Correct Posture

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IntroduçãoFreqüentemente, os estudos dos postos de

trabalho recomendam uma cadeira e umaestratégia de formação que visam conscien-tizar o trabalhador a respeito da postura maiscorreta a ser adotada. Os achados de litera-tura e as situações analisadas nos estudoscitados ao longo deste artigo permitem criti-car o referido modelo de intervenção, queprescreve cadeiras e posturas corretas comoúnica alternativa de solução para os proble-mas identificados.

Será apresentado um modelo de análiseque tenta compreender as razões que levamos trabalhadores a adotar posturas estereoti-padas mesmo conhecendo as necessidadesde seu corpo ou conscientes dos efeitos docomportamento postural adotado.

A abordagem da cadeira, aqui denomina-da cadeirologia, reduz o conceito de postu-ra ao desconsiderar a dinâmica do aparelhomúsculo-esquelético e ao desprezar as ou-tras funções do organismo implicadas na fi-siologia postural, como a função visual, amecânica circulatória, a posição dos órgãosinternos, o sistema neurológico.

Sustentando-se em um modelo reducionistade ser humano, ou seja, o homem-máquina,a cadeirologia elabora recomendações paraconcepção do mobiliário incompatíveis comas possibilidades do corpo humano. A incom-patibilidade gera conflitos entre os aparatosoferecidos pelo mobiliário e a utilização realque o trabalhador faz deles. Não é incomumverificar os funcionários de um banco, porexemplo, dispensarem a oferta de confortode um certo aparato do posto de trabalho,finamente detalhado, mas que não possuiqualquer serventia prática. É emblemático ocaso de um bancário que não utiliza o en-costo para o dorso para evitar o distan-ciamento do guichê e, assim, manter a vigi-lância ao seu entorno e à gaveta que com-porta o numerário. Afinal, o risco de assaltoé um dos principais problemas vivenciadosnas agências bancárias.

Sob a mesma lógica, o funcionário de umagrande cadeia de hipermercado não conse-gue utilizar o assento em seu exíguo espaçode trabalho. A gerência opta por retirar osassentos e a trabalhadora não discorda, poisnão poderia assentar-se e, ao mesmo tempo,manipular o teclado colocado em uma su-perfície acima do plano de trabalho princi-

pal por onde as mercadorias são traslada-das, como se verá mais adiante.

Para tratar uma demanda, o trabalhadormobiliza as informações sobre as caracterís-ticas do serviço solicitado que estão estoca-das em sua memória, avalia o humor do cli-ente, prepara uma estratégia para abordá-lo, adota uma certa postura, ou seja, arran-ja os seus segmentos corporais no contextode um dado ambiente térmico, sonoro e lu-minoso. Uma abordagem reduzida da situa-ção do trabalho contentar-se-ia em avaliaras dimensões antropométricas, desconsi-derando o uso que o funcionário faz do seumobiliário.

Laville (1968) mostrou que na indústriamicroeletrônica a rigidez das posturas aumen-ta com as dificuldades surgidas ao longo dodesenvolvimento da atividade, bem como sãoassociadas à velocidade imposta pela estei-ra. Na situação estudada pelo autor, a ne-cessidade de tratar sinais durante a realiza-ção das tarefas conduz à seguinte postura: otronco aproxima-se da bancada para permi-tir uma boa distância olho-objeto, cujo focovisual depende da imobilização cervical, ex-plicando, assim, a hipercontração dos mús-culos da região. São exemplos que ilustrama importância em se considerar o conjuntodas exigências da tarefa e não apenas a con-tração muscular, como se ela fosse um resul-tado direto do comportamento estressado dotrabalhador, independentemente da flutuaçãodos fatores de produção em um ambienteorganizacional rígido.

O estudo de Assunção & Lima (2000) emuma fábrica de jóias ilustra o caráter multi-fatorial da determinação da postura. Alémde repetitivas, as tarefas realizadas solicitamhabilidade e destreza manual, movimentosfirmes e precisos. Para além da repetição, aprecisão dos movimentos realizados na re-gião distal dos membros superiores impõeuma carga estática à musculatura da regiãoproximal e solicita, assim, o conjunto do apa-relho músculo-esquelético dos membros su-periores. Nota-se a exigência de responsabi-lidade e atenção no desenrolar das ativida-des de trabalho, o que conduz a um aumen-to da contração muscular estática, a qual,por sua vez, pode contribuir para a sobre-carga muscular global. Ou seja, os resulta-dos obtidos mostram que o trabalho, apesarde repetitivo, não é essencialmente manual.Ele também exige concentração, atenção e

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responsabilidade, e todas essas exigênciasestão certamente determinando as posturas,principalmente as estáticas.

Além disso, as tarefas são realizadas sobpressão temporal e os erros são temidos, poisacarretam desperdícios de matéria-prima. Apressão temporal e o medo de errar podemaumentar a atividade muscular (Bongers etal., 2002).

Os resultados acima e a análise da situa-ção do caixa de hipermercado, que será apre-sentada neste artigo, reforçam os pressupos-tos da Ergonomia sobre a multideterminaçãoda postura adotada e o caráter global dosgestos humanos. Os dois pressupostos sãoapresentados a seguir.

Qual modelo de ser hu-mano orienta as análisesda Ergonomia?

Quando se pretende estudar os aspectoshumanos e técnicos ligados à realização dotrabalho, a Ergonomia propõe-se a avaliaras competências para realizar a tarefa e asua variabilidade. As pesquisas mostram que,conhecendo as exigências do trabalho, ostraços da atividade do operador poderão serestudados e certos elementos da situaçãopoderão ser rearranjados para se obter oconforto para um trabalhador em particular.

A atividade visual, por exemplo, varia emfunção da claridade e da curva de adapta-ção do olho ao escuro. Tais característicasnão são absolutamente idênticas em todos osindivíduos. As diferenças podem ter origensdiversas: constitucionais, culturais, de forma-ção etc. Entretanto, os indivíduos contornamas dificuldades. Os daltônicos, por exemplo,às vezes, descobrem tarde que portam defi-ciência, pois orientam-se menos pelas coresdo que pelos traços das luzes, ou seja, elesmobilizam as outras habilidades que atenuamos efeitos das deficiências.

A Ergonomia leva em conta a ação do in-divíduo mobilizada pela inteligência e pelaexperiência, descartando o modelo mecâni-co do ser humano em situação de trabalho.Para a Ergonomia, o funcionamento do ho-mem em situação de trabalho não pode sercomparado a um modelo mecânico do tipotransformação de energia ou a um modeloinformatizado de tratamento de dados.

A voz do ser humano não é um microfone,os seus ouvidos não são amplificadores, osseus olhos não são holofotes, as suas articu-lações não são polias, (Laville, 1977). O tra-balhador muda de postura para solicitar amusculatura que estava em repouso, selecio-na as imagens que são importantes para de-cidir, privilegia os ruídos indicadores do fun-cionamento da máquina... O ser humano nãopode ser comparado a uma máquina. Amáquina não tem uma idéia do mundo que arodeia. O ser humano tem uma idéia e modi-fica esta idéia à medida que o mundo se trans-forma pela sua ação. Não seria esta carac-terística a força do processo civilizatório hu-mano?

Os conhecimentos sobre as característicaspsicofisiológicas do ser humano em situaçãoreal de trabalho permitem afirmar que existeuma importante variabilidade inter e intra-individual e que em toda atividade profissio-nal existe uma atividade mental. Além disso,a regulação individual e coletiva exerce umpapel importante na realização da produção.

No setor da alimentação coletiva, uma dis-tribuição informal dos trabalhadores nospostos do restaurante visa estabelecer um“compromisso” entre os objetivos da produ-ção, as exigências das tarefas com fortecomponente físico e as deficiências mús-culo-esqueléticas de um grupo de cozinhei-ras. A margem de liberdade existente permi-te que os objetivos da produção sejam atingi-dos e que os indivíduos que estejam sofrendode dores e da diminuição da força muscularpossam continuar trabalhando (Assunção,1998; 2003).

As regras e as normas de produção coe-rentes com os objetivos de rentabilidade eco-nômica assentam-se numa noção artificial deum trabalhador jovem, do sexo masculino,em boa saúde, com os receptores sensoriaisintactos e resistentes aos riscos presentes,imutáveis ao longo do tempo e opacos àsagressões presentes nos ambientes nocivos(Wisner & Marcelin, 1971). Nem sempre asnormas de produção consideram o saber-fazer construído ao longo do tempo em queo trabalhador depara-se com as situaçõesreais de trabalho. Desconsiderando a varia-bilidade humana, tais normas são incoeren-tes e desumanizam o trabalho (Lima, 2001).

Quando os projetistas das situações de tra-balho tentam reduzir o papel do trabalha-

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dor, considerando-o análogo aos sistemas téc-nicos, quando eles uniformizam as exigênciasde trabalho, normatizam os procedimentos,estabelecem regras rígidas de tempo, nãopodem prever o conflito provável, explícito ounão, entre as características dos trabalhado-res e o sistema de produção (Abrahão, 2000).

No plano cognitivo, a Psicologia traz co-nhecimentos sobre certos mecanismos de fun-cionamento do indivíduo; por exemplo, comoele leva em conta as novas informações paramodificar as suas representações mentais,quais são as propriedades dessas represen-tações, como elas se constituem (Wisner,1987). Em relação ao conteúdo cognitivoda tarefa, o principal aspecto a ser conside-rado é a tomada de decisões. No entanto, éconveniente abordar as dificuldades em per-ceber os sinais quando o trabalhador estácansado ou em situações de desconforto lu-minoso ou térmico que perturbam a identifi-cação e o reconhecimento da informação.

O sofrimento de fadiga psíquica pode es-tar presente nos casos em que, por exemplo,a falta de sono provocada pelos horáriosextremos do trabalho gera uma sobrecargae pode explicar as alterações de humor oudeixar o indivíduo mais susceptível (estandomais cansado) aos riscos biomecânicos exis-tentes no ambiente de trabalho.

Assim, de que adiantaria a implantaçãode uma cadeira de dimensões adequadas sea tensão provocada pelos desajustes daorganização do ambiente de trabalho pro-voca hipercontração da musculatura dorsale cervical?

A Biomecânica é a disciplina que estuda asforças estáticas e dinâmicas que agem sobreo corpo e que pode contribuir fortemente paraa concepção dos espaços de trabalho. Noentanto, articular à avaliação biomecânica aanálise das outras dimensões humanas já ci-tadas pode contribuir para evitar uma abor-dagem reduzida do trabalhador, a qual expli-ca, em muitos casos, entre outros fatores, oinsucesso do mobiliário implantado.

Qual Biomecânica? A di-nâmica do corpo e o mitoda postura correta

O aumento de Lesões por EsforçosRepetitivos no mundo todo (EASHW, 2000)

conduz à hipótese de que as exigênciasbiomecânicas provocam reações severas noorganismo e, assim, de maneira geral, elassão superiores às capacidades funcionais in-dividuais.

As pressões exercidas sobre os tecidos mo-les podem provocar reações dos tecidos en-volvidos. Geralmente, e de maneira bem re-sumida, as reações são: a) mecânicas e fisio-lógicas – variações do comprimento, do vo-lume, rupturas; b) fisiopatológicas – mudan-ça na concentração iônica das células dosmúsculos, evolução das características dopotencial de ação do músculo, insuficiênciacrônica do líquido sinovial, rupturas das fi-bras de colágeno do tecido do tendão, hiper-trofia do epineuro, perturbando o potencialde ação nas fibras nervosas, com conseqüen-tes alterações motoras e sensitivas (Assunção,s/d).

Os conhecimentos da disciplina citada sãoúteis e indispensáveis para abordar as postu-ras no trabalho e orientar a concepção dospostos, mas são insuficientes. Algumas análi-ses focalizadas na Biomecânica desconsideramo caráter dinâmico do corpo e deixam mar-gens para construir o mito da postura correta.

O esqueleto humano pode ser comparadoa um conjunto de três peças empilhadas umassobre as outras: a cabeça, o tórax e a bacia.As formas e as dimensões das peças são di-ferentes entre si. Mesmo assim, elas conse-guem se manter empilhadas na posição verti-cal graças a um minucioso e intenso trabalhodo conjunto do corpo.

Para se obter um arranjo estável das trêspeças, é necessário colocar o centro de gra-vidade de uma peça sobre o centro de gravi-dade de sua vizinha de baixo, o que solicitaum perfeito alinhamento vertical dos centrosde gravidade para evitar uma tensão sobre oinvólucro do conjunto, que é formado pelostecidos moles que compõem o aparelho mús-culo-esquelético.

O alinhamento é obtido por meio de meca-nismos finos, pois, como lembra Bienfait(1993), “cada gesto é feito de um conjuntode ações que se complementam para atingiro objetivo final”. Uma tensão inicial provocauma sucessão de tensões isoladas. Todos osgestos humanos são globais e recrutam, nosdizeres do autor, o conjunto do sistemalocomotor.

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De maneira bastante didática, Bienfaitexplicita as duas grandes funções do sistemalocomotor: a deambulação e a preensão. Aprimeira é uma função ascendente que parteda cintura pélvica e dos membros inferiores;a segunda é uma função descendente queparte da cintura escapular e dos membrossuperiores. Os conhecimentos da fisioterapiasão ainda mais elucidativos e podem contri-buir para o entendimento do ser humano emsituação de trabalho quando afirmam que,em cada função, os movimentos das duas cin-turas são ligados por dois sistemas cruzados.Ou seja, na deambulação, a cintura esca-pular equilibra a cintura pélvica, que projetao membro inferior. Na preensão, ocorre oinverso, pois a cintura pélvica serve de pontode apoio para os movimentos do tronco e dacintura escapular, que dirigem o membrosuperior.

A noção de dois sistemas cruzados que seequilibram entre si esclarece sobre o caráterdinâmico do gestual humano, que, por suavez, fragiliza os argumentos que sustentam aprescrição de uma postura ideal supostamentefixa no tempo e no espaço. Ora, mórbidoseria o corpo congelado. Então, como pres-crever a postura correta?

Qual é a melhor postura?

Postura é o arranjo relativo das partes docorpo. A postura é o principal elemento daatividade do ser humano, ou seja, não se tra-ta apenas de manter-se em pé ou sentado,mas de “agir” dando um suporte à tomadade informações e à ação motora no meio detrabalho. Vista dessa forma, a postura é ummeio para localizar as informações exterio-res e preparar os segmentos corporais e osmúsculos a fim de agir no ambiente. Trata-se, assim, de organizar o espaço em referên-cia ao seu corpo para localizar-se, deslocar-se e agir numa perspectiva dinâmica.

A postura é um meio de expressão e comu-nicação, é um sinal da condição socioculturaldo indivíduo e, assim, meio de expressão dacondição no grupo. Se não, como explicaros braços cerrados e presos para trás dostrabalhadores humildes que, por vezes, abai-xam as suas cabeças para ouvir a sua hie-rarquia? Por fim, e não menos importante,uma das funções da postura é proteger asestruturas de suporte do corpo contra lesão

ou deformidade progressiva, independente-mente da atitude (ereta, deitada, agachada,encurvada) nas quais essas estruturas estãotrabalhando ou repousando (Kendall, 1995).

A postura saudável seria o estado de equi-líbrio muscular e esquelético no qual os mús-culos funcionam mais eficientemente e posi-ções ideais são proporcionadas para aco-modar os órgãos torácicos e abdominais.

A postura estereotipada é uma relaçãodefeituosa entre as várias partes do corpo.Por exemplo, os punhos hiperfletidos ouhiperextendidos podem levar à compres-são dos nervos periféricos aí localizados(Claudon, 1995). Das definições propostas,denota-se que, certamente, determinadasposturas devem ser evitadas pelo risco queelas podem trazer para o equilíbrio do corpo.

Porém, os conhecimentos mencionados nãoautorizam a culpar o trabalhador que, emtese, assumiria a postura estereotipada pornão ter consciência da postura saudável.

Os efeitos são estudados pelos estudosepidemiológicos que nos últimos vinte anosbuscaram identificar os fatores de riscos parao adoecimento músculo-esquelético em po-pulações de trabalhadores. Alguns resulta-dos são elucidativos.

Em estudo de laboratório, Hagberg (1981)provocou tendinite aguda em mulheres querealizavam elevações repetidas dos ombrosdurante uma hora de observação. Outrosautores sugerem que as associações entretendinite e trabalho com os braços elevadospodem ser relacionadas com a repetitividadedas extremidades dos membros superioresenquanto os ombros e os braços permane-cem sob força muscular estática a fim degarantir a estabilidade dos membros supe-riores suspensos e sem apoio (Winkel &Westgaard, 1992).

Entre trabalhadores de uma linha de mon-tagem expostos a elevações repetitivas dosbraços e obrigados a sustentá-los durantelongos períodos da jornada de trabalho, foicomum a descoberta de dor à palpação domúsculo trapézio entre aqueles que se quei-xavam de dores nos ombros. Em outro estu-do transversal, as mulheres que executavamflexões repetitivas dos ombros apresentaramdor e sensibilidade temporária à palpaçãodo ombro. Nesse estudo, a exposição con-sistia em flexões repetitivas dos ombros numângulo que variava de 0 a 90 graus e a

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uma cadência de 15 flexões por minuto (Bjelle,1981).

Os resultados de uma pesquisa evidenciamque os estudantes avaliados contraíram umatendinite temporária quando submetidos aflexões repetidas dos ombros. Pode-se lem-brar também da exposição dos fatores dehipersolicitação das estruturas músculo-es-queléticas em casos de atividades esportivas.Os nadadores de competição que executammovimentos repetitivos dos braços acima dacabeça apresentam a síndrome dolorosa doombro. Dez por cento dos lançadores já apre-sentaram um episódio de tendinite. Numa pes-quisa que entrevistou 2496 nadadores, 15%declarou apresentar uma incapacidade im-portante do ombro como conseqüência deuma síndrome dolorosa.

Enfim, a postura é responsável pela manu-tenção dos segmentos corporais no espaço,fundamental para se lutar contra a gravida-de e depende das características biome-cânicas do corpo humano, das informaçõesinternas e extereoceptivas (musculares, arti-culares, labirínticas, visuais, auditivas), dasestruturas nervosas de integração e de co-mando dos músculos antigravidade e das ati-vidades desses músculos.

A análise da postura adotada no trabalhoimplica identificar os seus determinantes,como afirma Lima (2000): “a postura assu-mida por um trabalhador nunca é somente oresultado de idiossincrasias pessoais, mas édeterminada pela inter-relação complexa dosmúltiplos fatores constituintes da situação detrabalho”. Para tal, recomenda-se avaliar oespaço onde o corpo está agindo, os equipa-mentos, os instrumentos e os objetos manipu-lados, a variabilidade do estado do trabalha-dor: ele está cansado, mais velho, é novato,ela está grávida? Esses aspectos não são abor-dados pela cadeirologia.

Métodos e procedimentos

A partir da demanda inicial que colocou oproblema da melhor postura de trabalho —em pé ou sentado —, os resultados das aná-lises realizadas serviram de base para escla-recer e propor as medidas de melhoria dospostos de caixa em um hipermercado. Algunsaspectos foram aprofundados com o objetivode melhor compreender o contexto em que seinsere o trabalho, ou seja, a tecnologia e aorganização.

Realizaram-se entrevistas abertas, registrosdas verbalizações espontâneas dos trabalhado-res durante as observações, levantamento dasopiniões dos usuários, estudo do volume daprodução, observações abertas e observa-ções sistemáticas com a ajuda de cronôme-tro e câmera de vídeo. Durante as observa-ções diretas, foram realizadas entrevistassimultâneas, tendo como objetivo esclarecerpontos específicos.

As observações do trabalho tiveram o ob-jetivo de analisar as diferentes zonas de tra-balho das recepcionistas, tais como: leitoraótica, teclado, impressora de cheques e detickets de cartão de crédito, caixa anti-rou-bo, gaveta para o numerário, retira-metais,armazenamento de sacos para embalagemetc. Estudou-se a utilização do espaço de tra-balho disponível. Procedeu-se a uma análisedos gestos efetuados e das posturas adotadas,contextualizando-os. Avaliaram-se as habili-dades mobilizadas durante o relacionamen-to com o público e, finalmente, as estratégiaspara cumprimento dos objetivos globais dotrabalho.

Foram escolhidos dias diferentes para asfilmagens, respeitando-se, ao máximo possí-vel, as variações de fluxo de clientes nohipermercado. Dessa forma, foram filmadasvárias situações. Importante é lembrar a re-cusa, aceita de pronto pelos pesquisadores,de algumas recepcionistas em serem filma-das sob a alegação de um certo nervosismoem tais situações.

Neste artigo, serão apresentados os resul-tados de 45 minutos de observação regis-trados pela filmadora, entre 19h e 19h45,num dia considerado de grande movimento(sexta-feira), e os resultados das observaçõesrealizadas durante o atendimento de doisclientes por uma segunda recepcionista, numhorário de menor movimento (12h30 a13h30 de um sábado).

As entrevistas foram realizadas nos mo-mentos de ausência de clientes, principalmenteno início da manhã. No entanto, durante asobservações diretas, foram realizadas entre-vistas simultâneas para esclarecimento depontos específicos levantados durante as ob-servações.

Foram criadas as seguintes variáveis paraa observação direta: escanear, escanear emultiplicar, digitar o código da etiqueta, acio-nar e limpar a esteira, preparar o saco plás-tico e entregá-lo ao cliente, ensacar. As va-

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riáveis correspondem às operações da fasede tratamento do artigo. Na outra fase dotrabalho da recepcionista no atendimento acada cliente, fase comercial, as variáveisobservadas foram: verificar documentos docliente, imprimir cheque e recibo, entregaros documentos ao cliente.

O programa Kronos ajudou no tratamentodos dados. Assim, as operações foram deco-dificadas em um protocolo de observação queobjetivou também identificar os períodos deposturas em pé e sentada em relação com asoperações realizadas. O programa Kronos,que foi alimentado com dados extraídos dacrônica da atividade após a escolha das va-riáveis citadas de acordo com as hipóteseselaboradas durante as observações abertas,possibilitou reconstituir a organização tem-poral da atividade e apresentá-la em formade gráficos. Esse tratamento de dados permi-te, igualmente, colocar em evidência a se-qüência das operações, bem como a suavariabilidade.

Por meio da análise das filmagens, foi rea-lizado um estudo detalhado dos gestos emovimentos adotados pelos trabalhadores,relacionando-os com as operações anterior-mente avaliadas.

Resultados: o caso dacaixa de hipermercado

A análise das operações e dos movimentosque as acompanham colocam em evidênciao caráter repetitivo da tarefa, pois a traba-lhadora executa a mesma operação, adotan-do a mesma postura. Porém, ela varia 25%no caso da recepcionista 1 e 3% para a re-cepcionista 2, de acordo com a quantidadede produtos semelhantes a serem digitados,com o volume e o peso, e com o desenrolarda jornada de trabalho.

A amplitude dos movimentos da recepcio-nista varia de acordo com o tamanho, o pesoe a posição do produto sobre a esteira: pegao artigo com a mão esquerda, transfere oartigo de mão, passa o artigo com a mãodireita na leitora, com a mão esquerda vaipegar outro artigo, enquanto a mão direitadeposita o artigo registrado na esteira dois.

De acordo com o sentido ou a direção doesforço — empurrar ou puxar a mercado-ria, por exemplo — e com a sua freqüência,a exigência física varia muito. Uma carga

muito intensa leva o trabalhador a adotar umapostura mais adaptada ao esforço que éprioritário na ação e, assim, o confortopostural previsto pode ser alterado para seatingir os objetivos da ação. As torções e asflexões do corpo são influenciadas pela in-compatibilidade entre as dimensões dos ele-mentos do trabalho e as dimensões do traba-lhador.

Observou-se, por exemplo, uma recepcio-nista registrar as mercadorias na posiçãosentada, mas apoiando os quadris sobre osbordos da cadeira, sem poder apoiar o dor-so, já que teria de alcançar o teclado.

No entanto, em algumas situações em queo ciclo fundamental se modifica, a postura oacompanha. São momentos caracterizadospelo tipo de mercadoria a ser registrado ouentão pelo momento da evolução da esteira.

Desta forma, na maioria das situações, apostura é o resultado das exigências visuaise cognitivas, bem como do mobiliário. Porexemplo: se o plano de trabalho é mais largodo que o comprimento do tronco, como é ocaso da esteira por onde os produtos sãoregistrados, e se o trabalhador procura, deacordo com os objetivos preestabelecidos,vigiar o carrinho de compras do cliente, elese colocará nas pontas dos pés, curvando otronco sobre a esteira para garantir avisualização do conteúdo do carrinho.

As mercadorias registradas têm forma epeso diferentes. Manipulá-las implica solici-tar diferentes grupos musculares. Observou-se, por exemplo, que a recepcionista semprese levanta, se estiver sentada, quando ela vairegistrar uma mercadoria pesada. De ma-neira geral, os artigos registrados serão de-positados na segunda esteira, aguardando oensacamento. Observam-se estratégias paraensacar em seguida ao registro, nos casosde artigos pesados — caixa de cervejas emlata, pacote de cinco quilos de arroz —, jáque o produto é erguido para ser passadosobre a leitora, aproveitando-se para ganhartempo ensacando-o imediatamente.

Alguns artigos como roupas, revistas, CDs,ovos, por exemplo, também são ensacadosimediatamente após o registro. Na maioriadas vezes, a recepcionista preocupa-se emfazer uma triagem dos produtos a seremensacados. Outra estratégia é ajuntar arti-gos gelados ou congelados para acelerar egarantir as boas condições de transporte.

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A recepcionista controla o número de sa-cos de embalagem fornecidos, retirando efornecendo paulatinamente ao cliente. A dis-tribuição dos sacos plásticos é custosa doponto de vista postural, obrigando a flexãoanterior do tronco. Nem sempre os sacos sãofacilmente manipuláveis: acontece de nãoestarem perfeitamente perfurados ou de es-tarem colocados um no outro.

O ensacamento do produto multiplica onúmero de fontes de informações a seremconsideradas pela recepcionista. Assim, eladeverá olhar o carrinho que está sendo es-vaziado e os pacotes que estão sendo depo-sitados sobre a esteira e, ainda, a evacuaçãodos produtos registrados para evitar aglome-ração.

Nota-se que é freqüente a manipulação doteclado, pois nem sempre existem as etique-tas, ou pode acontecer de estarem ilegíveis.A localização do teclado obriga o trabalhodo membro superior direito em extensão semapoio possível do cotovelo.

As recepcionistas adotam a estratégia deler atentamente o valor que aparece na telado scanner. Elas dizem, a este propósito, queo erro tem que ser controlado e que o sinalsonoro, emitido a cada vez que o artigo é

lido, não é suficiente para a certeza de que oproduto foi registrado. É imperativo contro-lar se aparece, a quantidade de vezes emque aparece e se não há erro entre o valorimpresso e o valor real. Pode-se afirmar queo trabalho de caixa de hipermercado não éum trabalho manual. Ao contrário, existe umaforte solicitação das funções mentais.

O teclado é situado acima do scanner, lo-calização que implica a adoção de uma pos-tura de flexão do tronco para frente parapermitir o seu alcance. Nem sempre a dis-tância de 53 cm fica na zona de alcance darecepcionista, dificultando ou mesmo impos-sibilitando a adoção da postura sentada, de-pendendo das dimensões dos segmentos cor-porais superiores da recepcionista. As Figu-ras 1 e 2 mostram que a recepcionista as-senta-se na fase de relação comercial (verifi-ca documento, imprime recibo, entrega do-cumento), quando não está escaneando, poisnesse momento não precisa ver o visor nemtocar o teclado ou solicitar a musculatura dodorso para ajudar no levantamento do peso.Contudo, ocorre de a recepcionista não seassentar nem na fase comercial, como ilus-tra a Figura 3. Que outros fatores estariamdeterminando a postura em pé ou sentada?

Figura 1 Seqüência das operações realizadas e a postura adotada (sentada ou em pé)pela recepcionista 1, observada durante 45 minutos.

Período considerado de muito movimento.

sentado

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Figura 2 Seqüência das operações realizadas e a postura adotada (sentada ou em pé)pela recepcionista 2 no atendimento ao cliente 1.

Período considerado de pouco movimento.

Figura 3 Seqüência das operações realizadas e postura adotada (sentada ou em pé)pela recepcionista 2 no atendimento ao cliente 2.

Período considerado de pouco movimento.

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A recepcionista é obrigada a contar as uni-dades para, em seguida, registrar (digitandoou escaneando, se o produto permitir) e, naseqüência, digitar a cifra correspondente aonúmero de produtos desejados pelo cliente.

O modo operatório depende da qualidadeda etiqueta, já que alguns produtos acondi-cionados em caixa de papelão não são lidosimediatamente, talvez pela qualidade do pa-pel. O mesmo acontece com revistas ou ca-dernos. Nesses casos, a recepcionista gira oproduto várias vezes, tentando fazer a boaapresentação da etiqueta para a leitora. Osprodutos frios apresentam, muitas vezes,umidificação das etiquetas, o que impossibi-lita a leitura ótica, obrigando a recepcionistaa digitar o código.

A dimensão da esteira pode induzir as ati-tudes do cliente, levando este a entregar oproduto diretamente à recepcionista ou en-tão a empilhar vários produtos na tentativade esvaziar o seu carrinho com a esperança determinar logo. Isso pode trazer perturbações,como o fato de o produto cair ou então de arecepcionista ser obrigada a ser mais atentapara evitar que um produto seja dissimuladoentre os outros.

A terceira esteira, situada no plano inferioràs outras duas, nem sempre é utilizada. Ocor-re freqüentemente uma aglomeração de pro-dutos, levando a recepcionista a interrompero registro para ajudar ou esperar o cliente aesvaziar a segunda esteira. Essas atitudes sãoacompanhadas de uma extrema atençãopara seguir o fluxo do cliente que deposita edo acompanhante que ensaca. No caso de ocliente não estar acompanhado, a recepcio-nista observa o estado da segunda esteira epode ser levada a interromper o registro paraproceder ao ensacamento.

Em momentos de menor fluxo de clientes,as recepcionistas, quase de maneira sistemá-tica, embalam os produtos, cumprindo, as-sim, a meta de bem servir o cliente. Entretan-to, em períodos mais acelerados, esta con-duta é limitada.

As recepcionistas possuem estratégias deajuntar produtos semelhantes, sendo quenestes casos passa apenas o primeiro sobrea leitora, registra o número de vezes para, aseguir, comandar a operação de multiplicar.

A atividade real do trabalho das recepcio-nistas sofre influências da política comercial,das características dos clientes, do ambiente,

dos materiais e do espaço de trabalho. Al-guns desses fatores interagem entre si, deter-minando imprevistos que serão reguladospelos funcionários. Os esforços físicos a se-rem exercidos compreendem tanto os esfor-ços que contribuem para a transformaçãodo produto — ação sobre os instrumentos,sobre os artigos, sobre os elementos a seremsustentados pelo corpo — quanto os esfor-ços decorrentes das posturas adotadas.

Há conflitos: cliente que duvida da soma,cliente que reclama do produto que passou eque ele diz não ter colocado no carrinho,cliente que não aceita o engano cometidopelos outros setores ao etiquetar ou pesar oproduto, cliente que não aceita a negativado cartão do crédito... Essas são situaçõesque geram um clima tenso e as recepcionis-tas, na medida do possível, tentam admi-nistrá-lo ou então chamam o coordenadorde caixa.

Pode ocorrer de o coordenador levar amercadoria até as prateleiras para verificaro verdadeiro preço, pois acontece de as etique-tas terem um valor diferente do apontado pelaleitora ótica e visualizado no monitor pelo clien-te.

A operadora movimenta constantemente acabeça, dirigindo o olhar para diversos pon-tos, tentando selecionar as informações im-portantes que vão orientar a sua ação. As-sim, para ela, é importante avaliar a situa-ção do carrinho, verificar se ainda há espa-ço na esteira, estar atenta às semelhanças eàs diferenças entre os produtos aparentemen-te idênticos, observar em detalhes as proprie-dades das mercadorias e o comportamentodo cliente.

Desse modo, percebe-se que o trabalho dasrecepcionistas, apesar da existência de pe-quenos ciclos que se repetem, no caso do re-gistro de artigos pelas características descri-tas, requer uma intensa atividade mental (As-sunção & Souza, 1999; Assunção, 2002).

Discussão

Os conhecimentos sobre a postura senta-do-em pé são extraídos da fisiologia e dabiomecânica. Estar de pé significa que todoo peso do corpo é suportado pelo pé e queas pessoas vão trabalhar contra a lei da gra-vidade. Vários músculos do dorso e das per-nas são solicitados para manter a postura

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em pé. O sistema cardiovascular trabalhaigualmente contra a gravidade para fazer osangue retornar dos membros inferiores emdireção ao coração e, assim, favorecer a trocade nutrientes entre os tecidos. Se houver,como no caso das recepcionistas do caixa dehipermercado, uma postura estática, estaprovocará uma diminuição das trocas nutri-cionais dos discos intervertebrais responsá-vel pelos distúrbios osteomusculares que mo-tivaram a demanda do estudo.

Em pé, sentado ou sen-tado-em pé?

Os resultados de uma revisão da literaturarealizada por Messing (1998) e citada porVézina & Lajoie (1996) mostram que váriosestudos epidemiológicos sugerem que os anosde trabalho passados em postura em pé imó-vel poderiam causar problemas de circula-ção e problemas no aparelho músculo-esquelético. Ryan (1989) realizou um estudonuma população de 513 trabalhadores desete supermercados. Os resultados mostra-ram que os caixas permanecem 89,8% dotempo em pé, enquanto que os trabalhado-res do depósito permaneciam 44,9% nestamesma posição, e que há uma relação entreo tempo passado em pé e o número de pro-blemas nas pernas e nas costas.

Diniz & Ferreira Jr. (1993-1994) mostra-ram elevada prevalência de sintomas múscu-lo-esqueléticos em 79 operadores de checkoutem mercados de São Paulo que responde-ram a questionários anônimos: 77% delesreferiram-se à dor em pelo menos uma re-gião corporal durante a última semana detrabalho.

De acordo com Vézina & Lajoie (1998),as conseqüências do trabalho estático em pésão as seguintes: aparecimento de varizesdevido à pressão hidrostática nas veias daspernas, desenvolvimento de edema nos mem-bros inferiores devido à diminuição da circu-lação linfática, sintomas de dor nos membrosinferiores e na região lombar, sendo que oquadro doloroso nesta região é relacionadocom o maior risco de ferimentos durante amanutenção de cargas.

Uma fadiga generalizada é possivelmenterelacionada à carga cardiovascular e tam-bém ao trabalho muscular mais importantena postura em pé do que no caso da posturasentada.

No caso das recepcionistas do checkout,deve-se sublinhar que a solicitação muscularé importante, pois, em se tratando de um tra-balho manual, rápido e de precisão, comomostram os resultados apresentados, há di-minuição dos pontos de apoio necessáriospara manter a estabilidade do corpo. Acadeirologia negaria os fatores mencionadosao concentrar-se exclusivamente na procurade uma cadeira perfeita e na prescrição deuma postura ideal.

Em pé

A partir da posição ereta, o movimentovoluntário da coluna em qualquer direção éiniciado pela contração concêntrica dos mús-culos responsáveis por essa ação.

Existe uma contração muscular isométricaquando o músculo não muda de comprimentodurante a contração muscular: por exemplo,quando ele se mantém em uma postura ou quan-do a carga a ser deslocada é mais elevadaque a força de tensão que o indivíduo desen-volve. Uma contração é isotônica quando atensão que ela provoca é constante e o mús-culo encurta. O organismo humano acomo-da-se mal à contração muscular isométricaprolongada, resultando em fadiga muscular.Se as situações de trabalho exigem uma rigi-dez máxima, os problemas acentuam-se.

Além da solicitação muscular, a posturaortostática solicita a ação dos discos interver-tebrais. As pressões no disco intervertebralsão mais elevadas nessa posição do que naposição deitada, mas usualmente menores doque na sentada. Quando em pé, as pessoasdevem realizar esforços para compensar aforça da gravidade. Isso é possível pela pres-são dos discos intervertebrais, que mantêmos corpos separados, retesando os ligamen-tos longos e evitando o achatamento da co-luna. No entanto, como apresentado anteri-ormente, pressões contínuas sobre o discopodem provocar degeneração do mesmo.

A posição em pé com o peso do corpo sen-do suportado principalmente por uma daspernas, estando a outra relaxada, aumentaa atividade eletromiográfica ao nível da quintavértebra lombar no lado da perna que su-porta o peso (Dolan et al. 1988).

A posição em pé ideal não é usualmentemantida por longos períodos, pois as pessoas

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recorrem ao uso assimétrico das extremida-des inferiores, usando alternadamente a per-na direita e a esquerda como o principalapoio. Quando o peso do corpo apóia-se emum só membro inferior, a pelve eleva-se dolado oposto e uma concavidade lateral lom-bar surge nesse mesmo lado. A fim de com-pensar a referida inclinação lombar, a re-gião toráxica forma uma concavidade do ladooposto e a cervical, por sua vez, fica cônca-va no mesmo lado do apoio.

É importante lembrar que o indivíduo, parase manter de pé, tem de se movimentar sobrea sua base de sustentação. As curvaturas nãoestão corretamente alinhadas devido à pos-tura adotada — no caixa do hipermercado,por exemplo, a flexão anterior da coluna paramelhor visualizar as informações registradaspela leitora ótica. Nesse caso, uma atividadebem maior sobre as áreas musculares é en-tão requerida para manter a postura ereta.Nota-se, assim, uma contradição entre osobjetivos do conforto postural e as exigênciasdas tarefas.

Na posição em pé, a cintura pélvica é in-clinada para a frente devido à tensão nosmúsculos anteriores da coxa. Essa inclinação,juntamente com a compressão exercida pelopeso do corpo sobre a coluna lombar, acen-tua a lordose nesse nível, que pode ser aindamais acentuada por fatores como gravidez,obesidade e uso de sapatos de salto alto.

Sentado

É verdade que a postura sentada pode tra-zer vários prejuízos para a saúde se o postode trabalho não for bem concebido. A pos-tura sentada e imóvel, de acordo com a qua-lidade do apoio, pode provocar fadiga mus-cular lombar e compressão da massa mus-cular das coxas, que gera dores nos mem-bros inferiores. O organismo adapta-se malàs perturbações provocadas pela posiçãosentada.

Da mesma forma que na postura em pé,há diferentes maneiras de estar sentado. Deacordo com os estudos disponíveis, os efeitosnão desejados podem ser evitados se o ar-ranjo físico considera as necessidades reaispara a operação realizada durante a posi-ção sentada (Abrahão & Assunção, 2002).

O ajuste da altura da cadeira pode influen-ciar o retorno venoso se houver compressão

sobre a parte posterior das coxas. A pressãointradiscal é aumentada se comparada coma postura em pé, mas se o trabalhador pu-der variar a postura serão garantidas as tro-cas nutricionais necessárias aos discos.

De qualquer maneira, em relação à posi-ção de pé, o trabalho cardiovascular é me-nos importante na situação de trabalho sen-tado. Nesta situação, a freqüência cardíacae a pressão sangüínea são menos elevadas,o equilíbrio e a estabilidade são mais fáceis ea solicitação músculo-esquelética é menosimportante.

A posição sentada confortável para a maio-ria das pessoas é aquela que mantém as ar-ticulações intervertebrais em algum ponto daamplitude média, permitindo liberdade demovimento e tendo os músculos anteriores eposteriores balanceados. Nesta posição, atensão entre as superfícies das articulaçõesapofisárias é menor do que na posição empé e fica concentrada nas porções medianae superior das articulações (Dunlop et al.1984). Contudo, da mesma forma que paraa posição de pé, mesmo uma posição senta-da confortável não pode ser mantida porperíodos prolongados por razões explicitadasmais adiante, sendo importante, assim, queo design do assento possibilite as mudançasna postura.

Desvios da amplitude média por períodosprolongados conduzem à sobrecarga nasarticulações e nas estruturas ligamentares.Numa coluna normal, a posição sentada comuma postura encurvada pode levar aohiperestiramento dos ligamentos interver-tebrais e das fibras anulares posteriores, au-mentando consideravelmente a pressãointradiscal, provocando, mais tarde, degene-ração dos componentes do disco.

Como dito anteriormente, a pressão intra-discal é geralmente mais elevada na posiçãosentada sem apoio do que na posição em pé,o que ocorre, em grande parte, devido aomúsculo psoas maior, que possui uma açãovigorosa como estabilizador da coluna lom-bar nessa posição ao mesmo tempo em queexerce um considerável efeito compressivosobre a coluna. As alterações na lordose lom-bar são acompanhadas de aumento ou dimi-nuição na pressão intradiscal, a depender dainclinação do assento ou do encosto e da al-tura do suporte lombar, da cadeira e da mesa.Em uma cadeira bem projetada, a pressãointradiscal pode ser inferior àquela observa-

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da na posição em pé (Oliver & Middleditch,1998). No entanto, as vantagens de um bomprojeto de cadeira não autorizam uma análi-se que desconsidere todos os outros determi-nantes da postura. O ser humano, em situa-ção de trabalho, coloca todo o seu corpo e asua inteligência no projeto de sua ação paraalcançar os objetivos pretendidos. A cadei-rologia nega a inteligência da postura.

A postura sentada nem sempre é nociva.Os estudos cinematográficos mostram que senão há pressão temporal e se as exigênciasgestuais, posturais e visuais não são fortes, aimobilidade total desaparece, pois é possívelao indivíduo melhorar a circulação sangüí-nea, solicitar diferentes músculos e outrosórgãos de maneira alternativa.

Os resultados da análise ergonômica colo-cam em evidência que a postura adotada pelotrabalhador é multideterminada e não frutode uma casualidade ou de idiossincrasiaspessoais, nos termos utilizados por Lima(2000). Ou seja, ela é a maneira inteligentede a recepcionista organizar os seus segmen-tos corporais para controlar a mercadoria,evitar o erro, ser cortês com o cliente e acele-rar o atendimento.

Diferentes posições implicam diferentes res-postas musculares que são desejadas pelotrabalhador ao executar a sua tarefa. A dis-tribuição das tensões na coluna depende daposição da carga transportada. Por exem-plo, se uma carga é transportada no alto dodorso (trabalhadores que transportam sacode cimento sobre os ombros), o tronco com-pensa inclinando-se para a frente, de modoque o músculo eretor da coluna seja maissolicitado do que seria no caso da posiçãoem pé sem transporte de carga. Se a carga étransportada abaixo do nível dos ombros,será o músculo psoas maior que vai sofrermaior contração, indicando que a carga estácausando uma extensão da coluna vertebral(Oliver & Middleditch, 1998).

Quando o centro de gravidade é desloca-do para os lados, como é o caso quando semantém um peso em uma das mãos, o eretorda coluna contralateral contrai-se para evi-tar inclinação lateral indesejada.

Essa dinâmica corporal é reproduzida pe-las recepcionistas durante a realização de suas

tarefas. O corpo, conhecendo as respostasmusculares a diferentes posições nas quaisuma carga pode ser transportada, elabora,em nível subconsciente, estratégias para re-pousar (e depois solicitar) grupos muscula-res quando eles começam a sofrer fadiga.Por isso é impossível manter uma mesma pos-tura prolongadamente, mesmo que seja aque-la considerada correta pela cadeirologia.

A manutenção de uma atitude determina-da durante um período prolongado podeprovocar diferentes tipos de problemas. Oque permite a adoção de uma postura espe-cífica é a atividade muscular dinâmica defi-nindo os movimentos que permitem passarde uma postura a outra. Uma posição este-reotipada é também a manifestação de umamá adaptação do trabalho ao indivíduo: or-ganização da tarefa, dimensionamento doposto de trabalho, iluminação, cadência.

Uma postura pode ser, ao mesmo tempo,um problema particular e um sintoma de umadesordem mais profunda da organização dotrabalho. Ou seja, a postura adotada não éproduto do inteiro arbítrio do indivíduo, elaé determinada pelas características do con-texto de trabalho, aí incluídas as dimensõesdo mobiliário e dos equipamentos, pressãotemporal, estado de saúde do trabalhador.

A organização da postura participa na rea-lização da tarefa e permite facilitar a suaexecução e ganhar tempo. As tarefas solici-tam a mobilização das capacidades múscu-lo-esqueléticas, sensoriais, cognitivas e afe-tivas. As diversas dimensões do corpo huma-no são envolvidas durante a atividade de tra-balho. Os resultados da análise ergonômicado trabalho permitem compreender aquiloque uma análise superficial nomeia de pos-tura incorreta, que seria produto da escolhaindividual e, assim, passível de mudança pormeio de treinamento. Ou seja, a abordagem dasposturas adotadas no trabalho pode se be-neficiar da análise ergonômica da atividade.

Agradecimentos

A autora agradece a leitura atenta e oscomentários valiosos feitos por Dr. CarlosAlberto Diniz.

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