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ACTINOMICOSE EM BOVINO DA RAÇA ANGUS NA MESORREGIÃO SUDOESTE RIO-GRANDENSE: RELATO DE CASO. DAMBORIARENA, Pedro 1 ; BECKER, Marcelo 1 ; RUPOLO, Cleiton 1 ; TAVARES, Nicolas Conter 1 ; PINTO, Diego Moscarelli 2 1 Universidade Federal do Pampa: Curso de Medicina Veterinária; 2 Universidade Federal do Pampa, Laboratório de Doenças Parasitárias e Parasitologia animal. [email protected]. 1 INTRODUÇÃO A Actinomicose é causada por Actinomyces bovis, bactéria filamentosa, Gram-positiva, que ocorre como um comensal da cavidade bucal e, ocasionalmente em consequência de lesões da mucosa oral, penetra nos tecidos, causando osteomelite localizada preferentemente na mandíbula e maxilar (RODOSTITS et al., 2000). No Rio Grande do Sul os casos de actinomicose ocorrem de forma esporádica, afetando bovinos de diversas idades. No entanto, em algumas ocasiões, tem ocorrido na forma de surto. Outras espécies, incluindo ovinos, suínos e equinos também podem ser afetadas (RIET-CORREA et al., 2007). A. bovis pode se localizar em todo o maxilar, provocando a formação de um tecido granulomatoso com um a dois milímetros de diâmetro. Estas áreas necróticas transformam-se em abscessos que fistulam e eliminam um pus de aspecto viscoso e de coloração amarelada. A doença provocada pelo A. bovis só é reconhecida quando começam a aparecer alterações morfológicas. O osso maxilar torna-se espessado, o que prejudica a mastigação. Os gânglios linfáticos submaxilares apresentam-se endurecidos e aumentados de volume (RADOSTITS et al., 2000) Clinicamente começa com uma tumefação óssea e indolor na mandíbula ou osso maxilar acometendo, comumente, os dentes molares. O aumento de volume pode ser difuso ou discreto, e, no caso da mandíbula, pode surgir apenas como um espessamento da borda inferior do osso (RADOSTITS et al., 2002). As alterações macroscópicas são características de uma osteomelite proliferativa com presença de focos purulentos. Histologicamente observa-se osteomelite piogranulomatosa com proliferação de tecido fibroso e no centro dos piogranulomas presença de rosetas caracterizadas por uma área central onde se encontra a bactéria e uma área periférica formada por estruturas similares e clavas (RIET-CORREA et al., 2007). As probabilidades de cura da actinomicose dos animais são duvidosas ou, inclusive, desfavoráveis. A operação cirúrgica combinada com uma medicação iodada local e com a aplicação intravenosa de grandes doses de penicilina e estreptomicina somente é justificada na actinomicose maxilar, sempre que se proceda ao tratamento precocemente e nos animais de alto valor zootécnico. Dificilmente é possível desenvolver uma profilaxia adequada na actinomicose (BEER, 1988). O presente trabalho teve como objetivo relatar um caso de Actinomicose por Actinomyces bovis em um bovino da raça angus, na mesorregião sudoeste Rio- grandense. . 2 METODOLOGIA (MATERIAL E MÉTODOS)

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ACTINOMICOSE EM BOVINO DA RAÇA ANGUS NA MESORREGIÃO

SUDOESTE RIO-GRANDENSE: RELATO DE CASO.

DAMBORIARENA, Pedro1; BECKER, Marcelo1; RUPOLO, Cleiton1; TAVARES, Nicolas Conter1; PINTO, Diego Moscarelli2

1Universidade Federal do Pampa: Curso de Medicina Veterinária;

2Universidade Federal do Pampa,

Laboratório de Doenças Parasitárias e Parasitologia animal. [email protected].

1 INTRODUÇÃO

A Actinomicose é causada por Actinomyces bovis, bactéria filamentosa,

Gram-positiva, que ocorre como um comensal da cavidade bucal e, ocasionalmente em consequência de lesões da mucosa oral, penetra nos tecidos, causando osteomelite localizada preferentemente na mandíbula e maxilar (RODOSTITS et al., 2000). No Rio Grande do Sul os casos de actinomicose ocorrem de forma esporádica, afetando bovinos de diversas idades. No entanto, em algumas ocasiões, tem ocorrido na forma de surto. Outras espécies, incluindo ovinos, suínos e equinos também podem ser afetadas (RIET-CORREA et al., 2007).

A. bovis pode se localizar em todo o maxilar, provocando a formação de um tecido granulomatoso com um a dois milímetros de diâmetro. Estas áreas necróticas transformam-se em abscessos que fistulam e eliminam um pus de aspecto viscoso e de coloração amarelada. A doença provocada pelo A. bovis só é reconhecida quando começam a aparecer alterações morfológicas. O osso maxilar torna-se espessado, o que prejudica a mastigação. Os gânglios linfáticos submaxilares apresentam-se endurecidos e aumentados de volume (RADOSTITS et al., 2000)

Clinicamente começa com uma tumefação óssea e indolor na mandíbula ou osso maxilar acometendo, comumente, os dentes molares. O aumento de volume pode ser difuso ou discreto, e, no caso da mandíbula, pode surgir apenas como um espessamento da borda inferior do osso (RADOSTITS et al., 2002).

As alterações macroscópicas são características de uma osteomelite proliferativa com presença de focos purulentos. Histologicamente observa-se osteomelite piogranulomatosa com proliferação de tecido fibroso e no centro dos piogranulomas presença de rosetas caracterizadas por uma área central onde se encontra a bactéria e uma área periférica formada por estruturas similares e clavas (RIET-CORREA et al., 2007).

As probabilidades de cura da actinomicose dos animais são duvidosas ou, inclusive, desfavoráveis. A operação cirúrgica combinada com uma medicação iodada local e com a aplicação intravenosa de grandes doses de penicilina e estreptomicina somente é justificada na actinomicose maxilar, sempre que se proceda ao tratamento precocemente e nos animais de alto valor zootécnico. Dificilmente é possível desenvolver uma profilaxia adequada na actinomicose (BEER, 1988).

O presente trabalho teve como objetivo relatar um caso de Actinomicose por Actinomyces bovis em um bovino da raça angus, na mesorregião sudoeste Rio-grandense.

. 2 METODOLOGIA (MATERIAL E MÉTODOS)

Em uma propriedade rural no município de Santana do Livramento, onde é

praticado o manejo de cria e recria dos animais, um bovino macho da raça angus de cinco anos de idade, apresentou sinais clínicos na região da mandíbula, caracterizados pelo aparecimento de uma tumefação muito dura por um período de aproximadamente dois anos, apresentando perda de peso e dificuldade em se alimentar, em seguida veio a óbito dentro da propriedade. Para o diagnóstico foi realizada uma punção com auxílio de uma seringa estéril para coleta do material interno da lesão, e posteriormente feito um raspado superficial da secreção encontrada na parte externa. Após, o material coletado, bem como a cabeça do animal, foram encaminhados para o laboratório de patologia (LPV/UNIPAMPA), onde foi feito esfregaço em lâmina e lamínula e observado em microscópio óptico. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

O bovino estudado era um animal adulto de cinco anos, onde foi o único a

apresentar sinais clínicos característicos da enfermidade em um rebanho em regime de cria extensiva, os outros animais não foram diagnosticados, pois não apresentaram nenhum sinal clinico, podendo conter ou não a enfermidade. No exame clínico, verificou-se a presença de uma massa sólida, imóvel e sensível à palpação. Ao realizar uma incisão na porção ventral da lesão, verificou-se a presença de secreção purulenta (Fig. 1). No material coletado do local da lesão observou-se presença de rosetas com clavas observadas ao microscópio em esfregaços direto do pus, o que caracteriza a presença do agente (Fig. 2).

(Figura 1 – Lesão com incisão horizontal, presença de secreção purulenta internamente).

(Figura 2 – Esfregaço do pus em lamina e lamínula, presença de rosetas com clavas).

A enfermidade pode ser confundida com actinobacilose, entretanto, nesta ultima não ocorre envolvimento ósseo e os abscessos, que atingem os linfonodos da cabeça, não são tão duros. A actinomicose não causa diretamente a morte dos bovinos, porém causam importantes perdas na eficiência produtiva animal por comprometerem a ingestão adequada de alimentos e consequentemente emagrecimento progressivo (RADOSTITS et al., 2002)

Em um estabelecimento no Rio Grande do Sul a enfermidade afetou, em um período de três meses, 7 (1,1%) de um total de 650 vacas e novilhas de diversas idades, dos sete animais afetados morreram ou foram abatidos cinco, dois se recuperaram após tratamento com penicilina e iodeto de potássio (RIET-CORREA et al., 2007). Segundo Lucena et al. (2010), em um estudo onde foi determinada a frequência e características epidemiológicas de doenças de bovinos na região sul do Brasil em um estudo retrospectivo dos diagnósticos realizados pelo Laboratório de Patologia Veterinária (LPV) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) entre os anos de 1964-2008, a actinomicose foi diagnosticada em 228 casos num total de 2296 animais, ou seja, 10%. 4 CONCLUSÃO

A actinomicose é uma enfermidade que ocorre de forma esporádica e que normalmente não leva o animal a óbito, entretanto em alguns casos as complicações decorrentes da enfermidade podem provocar morte, levando a perda econômica irreversível.

Devido ao local e as condições onde esse bovino foi encontrado, a enfermidade nesta propriedade não pode ser considerada um surto, pois foi o único animal a apresentar os sinais clínicos característicos da enfermidade no rebanho.

A falta de conhecimento sobre a ocorrência da enfermidade na região, alerta para a necessidade de estudos mais aprofundados, visando obter um diagnóstico precoce que auxilie na diminuição das perdas econômicas. 5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BEER, J. Doenças Infecciosas em Animais Domésticos. 1º ed. São Paulo: Roca,

1988. 380 p. LUCENA, R. B. et al. Doenças de bovinos no Sul do Brasil: 6.706 casos. Pesquisa Vetererinaria Brasileira v.30, n.5, p 428-434, mai. 2010.

RADOSTITS, E. M. et al. Clínica Veterinária: Um Tratado de Doenças dos Bovinos, Ovinos, Caprinos e Eqüinos. 9º ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002. 841 p. RADOSTITS, E. M. et al. Veterinary Medicine. 9º ed. London: W.B. Saunders,

2000. 1881 p. RIET-CORREA, F. et al. Doenças de Ruminantes e Equinos: volume 1. 3º ed. Santa Maria: Pallotti, 2007. 722 p.