revista de medicina veterinária vol. 5 - no 2 - jan./jun ... · de vacas leiteiras da raça jersey...

129
Presidente Delmar Stahnke Vice-Presidente Emir Schneider Reitor Ruben Eugen Becker Vice-Reitor Leandro Eugênio Becker Capelão Geral Gerhard Grasel Ouvidor Geral Eurilda Dias Roman VETERINÁRIA EM FOCO Disponível eletronicamente no site www.ulbra.br/veterinaria/rfoco.htm Indexadores AGROBASE - Base de Dados da Pesquisa Agropecuária (BDPA), CAB Abstracts, LATINDEX Comissão Editorial Prof. Ms. Carlos Santos Gottschall Profa. Dra. Norma Centeno Rodrigues Prof. Dr. Sérgio José de Oliveira Pró-Reitor de Administração Pedro Menegat Pró-Reitor de Graduação da Unidade Canoas Nestor Luiz João Beck Pró-Reitor de Graduação das Unidades Externas Osmar Rufatto Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação Edmundo Kanan Marques Pró-Reitor de Desenvolvimento Institucional e Comunitário Jairo Jorge da Silva Pró-Reitora de Ensino a Distância Sirlei Dias Gomes - Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP Setor de Processamento Técnico da Biblioteca Martinho Lutero Conselho Editorial Prof. Dr. Adil K. Vaz (Univ. Estadual de Lages) Prof. Dr. Angelo Berchieri Jr. (UNSSP- Jaboticabal) Prof. Dr. Antonio Bento Mancio (UFMG) Prof. Dr. Carlos Tadeu Pippi Salle (UFRGS) Prof. Dr. Emerson Contesini (UFRGS) Prof. Dr. Francisco Gil Cano (Univ. Murcia/ Espanha) Prof. Dr. Franklin Riet-Correa (UFPEL) Prof. Dr. Joaquim José Ceron (Univ. Murcia/Espanha) Prof. Dr. Julio Otávio Jardim Barcellos (UFRGS) Prof. Dr. Luiz Alberto Oliveira Ribeiro (UFRGS) Prof. Dr. Luiz Cesar Fallavena (ULBRA) Profa. MSC Maria Helena Amaral (CRMV/RS) Prof. Paulo Ricardo Centeno Rodrigues (ULBRA) Dra. Sandra Borowski (FEPAGRO) Prof. Dr. Victor Cubillo (Univ. Austral do Chile) Prof. Dr. Waldyr Stumpf Junior (EMBRAPA) Secretaria do Curso de Medicina Veterinária ULBRA - Av. Farroupilha, 8001 - Canoas - Prédio 14 - Sala 125 CEP: 92425-900 - Fone/fax: 3477.9284 E-mail: [email protected] Carlos Gottschall: [email protected] Sergio Oliveira: [email protected] Editora da ULBRA Diretor - Valter Kuchenbecker Coordenador de periódicos - Roger Kessler Gomes Capa - Everaldo Manica Ficanha Editoração - Roseli Menzen Endereço para permuta Universidade Luterana do Brasil Biblioteca Central - Setor Aquisição Av. Farroupilha, 8001 - Prédio 05 CEP: 92425-900 - Canoas/RS, Brasil E-mail: [email protected] Solicita-se permuta We request exchange On demande l'échange Wir erbitten Austausch Matérias assinadas são de responsabilidade dos autores. Direitos autorais reservados. Citação parcial permitida com referência à fonte. V586 Veterinária em foco / Universidade Luterana do Brasil. Vol. 1, n. 1 (maio/out. 2003)- . Canoas : Ed. ULBRA, 2003- . v. ; 27 cm. Semestral. ISSN 1679-5237 1. Medicina veterinária – periódicos. I. Universidade Luterana do Brasil. CDU 619(05) VETERINÁRIA EM FOCO Revista de Medicina Veterinária o Vol. 5 - N 2 - Jan./Jun. 2008 ISSN 1679-5237

Upload: vuthuy

Post on 21-Jan-2019

237 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

PresidenteDelmar Stahnke

Vice-PresidenteEmir Schneider

ReitorRuben Eugen Becker

Vice-ReitorLeandro Eugênio Becker

Capelão GeralGerhard Grasel

Ouvidor GeralEurilda Dias Roman

VETERINÁRIA EM FOCODisponível eletronicamente no site www.ulbra.br/veterinaria/rfoco.htm

IndexadoresAGROBASE - Base de Dados da Pesquisa Agropecuária (BDPA),

CAB Abstracts, LATINDEX

Comissão EditorialProf. Ms. Carlos Santos Gottschall

Profa. Dra. Norma Centeno Rodrigues Prof. Dr. Sérgio José de Oliveira

Pró-Reitor de AdministraçãoPedro Menegat

Pró-Reitor de Graduação da Unidade CanoasNestor Luiz João Beck

Pró-Reitor de Graduação das Unidades ExternasOsmar Rufatto

Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-GraduaçãoEdmundo Kanan Marques

Pró-Reitor de Desenvolvimento Institucional e ComunitárioJairo Jorge da Silva

Pró-Reitora de Ensino a DistânciaSirlei Dias Gomes

-

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP

Setor de Processamento Técnico da Biblioteca Martinho Lutero

Conselho EditorialProf. Dr. Adil K. Vaz (Univ. Estadual de Lages)Prof. Dr. Angelo Berchieri Jr. (UNSSP- Jaboticabal)Prof. Dr. Antonio Bento Mancio (UFMG)Prof. Dr. Carlos Tadeu Pippi Salle (UFRGS)Prof. Dr. Emerson Contesini (UFRGS)Prof. Dr. Francisco Gil Cano (Univ. Murcia/ Espanha)Prof. Dr. Franklin Riet-Correa (UFPEL)Prof. Dr. Joaquim José Ceron (Univ. Murcia/Espanha)Prof. Dr. Julio Otávio Jardim Barcellos (UFRGS)Prof. Dr. Luiz Alberto Oliveira Ribeiro (UFRGS)Prof. Dr. Luiz Cesar Fallavena (ULBRA)Profa. MSC Maria Helena Amaral (CRMV/RS)Prof. Paulo Ricardo Centeno Rodrigues (ULBRA)Dra. Sandra Borowski (FEPAGRO)Prof. Dr. Victor Cubillo (Univ. Austral do Chile)Prof. Dr. Waldyr Stumpf Junior (EMBRAPA)

Secretaria do Curso de Medicina VeterináriaULBRA - Av. Farroupilha, 8001 - Canoas - Prédio 14 - Sala 125CEP: 92425-900 - Fone/fax: 3477.9284E-mail: [email protected] Carlos Gottschall: [email protected] Sergio Oliveira: [email protected]

Editora da ULBRADiretor - Valter KuchenbeckerCoordenador de periódicos - Roger Kessler GomesCapa - Everaldo Manica FicanhaEditoração - Roseli Menzen

Endereço para permutaUniversidade Luterana do BrasilBiblioteca Central - Setor AquisiçãoAv. Farroupilha, 8001 - Prédio 05CEP: 92425-900 - Canoas/RS, BrasilE-mail: [email protected]

Solicita-se permutaWe request exchangeOn demande l'échangeWir erbitten Austausch

Matérias assinadas são de responsabilidade dos autores.Direitos autorais reservados. Citação parcial permitidacom referência à fonte.

V586 Veterinária em foco / Universidade Luterana do Brasil. – Vol. 1, n. 1(maio/out. 2003)- . – Canoas : Ed. ULBRA, 2003- . v. ; 27 cm.

Semestral.

ISSN 1679-5237

1. Medicina veterinária – periódicos. I. Universidade Luterana do Brasil.

CDU 619(05)

VETERINÁRIA EM FOCORevista de Medicina Veterinária

oVol. 5 - N 2 - Jan./Jun. 2008ISSN 1679-5237

Page 2: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

81Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008

Sumário83 Editorial

Artigos científicos84 Diversidade genética de doadoras de embriões das raças Nelore e Aberdeen Angus

Paulo Ricardo Loss Aguiar, Juliano Coelho Silveira, Werner Giehl Glanzner,José Carlos Ferrugem Moraes, Tania de Azevedo Weimer

93 Análise econômica da terminação de novilhos aos 24 ou 36 meses em pastagemde azevém (Lolium multiflorum) com ou sem suplementação alimentarCarlos Santos Gottschall, Pedro Rocha Marques, Leonardo Canali Canellas,Hélio Radke Bittencourt

102 Análise do sistema de comercialização e do abate de bovinos no estado do RioGrande do Sul: um estudo de casoLuciana F. Christofari, Yara B. P. Suñé, Júlio O. J. Barcellos, Ênio R. Prates,Ricardo P. Oiagen

121 Avaliação de parâmetros do perfil metabólico e do leite em diferentes categoriasde vacas leiteiras da raça Jersey em rebanhos do Sul do Rio Grande do SulTalita B. Roos, Lúcio Vendramin, Elizabeth Schwengler, Maikel Alan Goulart,Pedro S. Quevedo, Viviane M. Silva, Paola M. Lima Verde, Francisco AugustoB. Del Pino, Cláudio D. Timm, Carlos Gil-Turnes, Marcio N. Corrêa

131 Urolitíase em novilho nelore não-castradoPaulo César Amaral Ribeiro, Cícero Araújo Pitombo, Luiz Fernando OliveiraCaetano, André Gomes Lima, Vagner Sarmento Arêas, Lhilton Vargas Júnior

137 Urolitíase em eqüinoRenato S. Pulz, Camila Silva, Luis A. Scott, Cíntia Simões, Heloísa Santini,Flávia Facin

143 Pneumonia por Rhodococcus equiTamarini Rodrigues Arlas, Marília Corrêa Borba, Cláudia Sant’Anna, PauloRicardo Loss Aguiar, Eduardo Malschizky, Rodrigo Costa Mattos

154 Fármacos injetáveis para a anestesia total intravenosa em cães – revisão deliteraturaAnelise Bonilla Trindade, Luciana Dambrósio Guimarães, Emerson AntonioContesini, Cristiano Gomes, Paula Cristina Basso

Page 3: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 200882

173 Opióides de curta ação em infusão contínua no transoperatório de cães e gatos:revisão bibliográficaGiordano Cabral Gianotti, Wanessa Krüger Beheregaray, Emerson AntonioContesini

191 Ceratoconjuntivite seca em cães – revisão de literaturaJoão Antonio Tadeu Pigatto, Fabiana Quartiero Pereira, Ana Carolina daVeiga Rodarte de Almeida, Raquel Redaelli, Luciane de Albuquerque

201 Tempo de sobrevida de cães com imagem radiográfica compatível com neoplasiaóssea no esqueleto apendicular, sem o uso de quimioterapiaCristiano Gomes, Ruben Lundgren Cavalcanti, Lisiane Foerstnow, CamilaSpagnol, Vanessa Bergel Lipp, Kelly Cristine Ferreira, Luciana Oliveira deOliveira, Raquel Machnacz Kroetz, Emerson Antonio Contesini, RosemariTeresinha Oliveira

207 Normas editoriais

Page 4: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

83Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008

EditorialA partir do volume anterior (volume 5, n0 1), os leitores constataram mudanças na

formatação da revista Veterinária em Foco, estando mais condensada na dimensão de16 por 23 cm e com maior aproveitamento dos espaços internos, bem como da capa econtracapa. Esta apresentação em tamanho menor não significou diminuição no volumenem no número de artigos, pois está sendo mantida a média de números anteriores,bem como o padrão de impressão. Em nosso entender, a forma e o tamanho dos volumesatuais da revista, ao contrário de influir na qualidade, torna seu manuseio mais prático.

Quanto aos artigos, a revista tem um fluxo contínuo de recebimento de trabalhoscientíficos e dissertações, que estão sendo analisados em boa proporção garantindo aqualidade de edições posteriores. Professores pesquisadores de diferentesUniversidades, incluindo-se os do curso de Medicina Veterinária da ULBRA, vêmdivulgando temas científicos diversificados e importantes assegurando o processo deevolução da qualidade científica da Veterinária em Foco.

Observa-se que atualmente há um “saudável” excesso de artigos para cada númeroa ser editado, resultado da contribuição crescente de pesquisadores brasileiros, queconsideram adequado o patamar até o momento atingido pela revista, facilitando ofuncionamento das engrenagens que impulsionam cada vez mais rapidamente nossoórgão de divulgação para níveis ainda mais elevados.

Comissão Editorial

Page 5: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 200884

Paulo Ricardo Loss Aguiar – Med. Vet. Msc Professor Adjunto do Curso de Medicina Veterinária ULBRA/RS.Juliano Coelho Silveira – Biólogo, Msc Pesquisador.Werner Giehl Glanzner é Bolsista de Iniciação Científica - Laboratório de Biotecnologia do Hospital Veteriná-rio da ULBRA Canoas.José Carlos Ferrugem Moraes – Doutor, Pesquisador da EMBRAPA Pecuária Sul, Bagé/RS.Tania de Azevedo Weimer – Profa. Doutora do Curso de Medicina Veterinária ULBRA, Canoas/RS.

Endereço para correspondência: Laboratórios de Fisiopatologia da Reprodução dos Animais Domésticos ede Biotecnologia, do curso de Veterinária da ULBRA Canoas. E-mail: [email protected]

Diversidade genética de doadoras deembriões das raças Nelore e Aberdeen Angus

Paulo Ricardo Loss AguiarJuliano Coelho SilveiraWerner Giehl Glanzner

José Carlos Ferrugem MoraesTania de Azevedo Weimer

RESUMOFoi analisada a diversidade genética, em doadoras de embrião puras de origem das raças

Nelore e Aberdeen Angus, através de marcadores moleculares (6 repetições curtas em tandem e3 polimorfismos de um nucleotídeo) ligados à reprodução. A variação observada do número dealelos detectados nas raças Nelore e Angus foi de 2 a 8 e 1 a 10, respectivamente. As duas raçasnão apresentaram freqüências alélicas semelhantes em nenhum dos sistemas estudados e algunsalelos foram observados somente em uma das raças, como para A. Angus BMS3004 129, HEL5161, e, para Nelore BMS3004 132, 138, HEL5 149 e AFZ 111. Os valores de heterozigoseesperada, nos diversos sistemas, em A. Angus variou de 0 a 87%, enquanto que, em Nelore,oscilou entre 0,03 e 0,75, sendo as médias de 56 e 50%, respectivamente. Conclui-se que aspráticas seletivas aplicadas a estes rebanhos não afetaram grandemente a variabilidade genéticados mesmos. A diversidade entre rebanhos foi bastante alta, refletindo-se em baixa probabilida-de (6x10-9) de encontrar dois indivíduos geneticamente identicos, um de cada rebanho.

Palavras-chave: Doadoras de embrião. Diversidade genética. Marcadores moleculares.

Genetic diversity of embryos donors of Nellore and Aberdeen Angusbreeds

ABSTRACTThis paper analyzed the genetic diversity of embryos donors from Nellore and Aberdeen

Angus pure of origin breeds, through molecular markers (6 short tandem repeats and 3 singlenucleotide polymorphisms) linked to reproduction. The variation observed in the number ofalleles in Nellore and A. Angus breeds was 2 to 8 and 1 to 10, respectively. No similarity inallele frequencies was observed in both breeds in all investigated systems, and some alleles wereexclusive of one of the herds, such as BMS3004 129, HEL5 161, in A. Angus, and BMS3004

n.2v.5Veterinária em Foco jan./jun. 2008p .85 -92Canoas

Page 6: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

85Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008

132, 138, HEL5 149 e AFZ 111, in Nellore. The expected heterozygosis varied from 0 to 87%in A. Angus, and from 0.03 to 0.75 in Nellore, the average values being of 56 e 50%, respectively.Therefore the selective practices applied to the breeds seem have not affected their geneticvariability. The diversity between breeds were very high and resulted in a very low probability(6x10-9) to find two identical animals, one from each breed.

Keywords: Embryos donors. Genetic diversity. Molecular markers.

INTRODUÇÃOOs principais tipos de bovinos criados em todo o mundo são os zebuínos (Bos

primigenius indicus) e os taurinos (Bos primigenius taurus; INTERNATIONALCOMMISSION ON ZOOLOGICAL NOMENCLATURE, 2003), os primeiros de origemindiana e os outros procedentes da Europa, e, devido a sua completa interfertilidade,devem ser considerados como variações geográficas de uma mesma espécie (EPSTEIN,1971; EPSTEIN; MASON, 1984; PAYNE, 1991; LOFTUS et al., 1994). Segundo aAssociação Nacional de Criadores de Zebuínos, a raça Nelore apresenta o maior númerode criadores e animais registrados nesta entidade, enquanto que a Associação Nacionalde Criadores – Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como a líder emregistros, nas de origem Européia.

Análises de polimorfismos curtos em tandem e de seqüências do DNA mitocondrialrevelaram que os ancestrais dos zebuínos e taurinos divergiram algumas centenas demilhares de anos atrás e, que resultaram de eventos independentes de domesticação(LOFTUS et al., 1994; MACHUGH et al., 1997).

Taurinos e zebuínos possuem diferenças morfológicas e fisiológicas que refletemnão só as mudanças ambientais onde estes animais se adaptaram, como diferentesseleções genéticas aplicadas ao longo do tempo. Os animais foram submetidos,historicamente, à seleção para a produção de leite e/ou carne, e em seguida, paraausência de aspas, e cor de pelagem, resistência a doenças, docilidade e fertilidade.

Na pecuária brasileira, várias técnicas têm sido introduzidas visando aumentar aeficiência da produção de animais puros, na tentativa de atender à grande demanda deseus descendentes, e, principalmente, permitir uma expansão do mercado consumidor,ávido por um produto de melhor qualidade a um menor custo. Entre estas técnicas,destaca-se a transferência de embriões (TE), que tem mostrado não somente ser uminstrumento capaz de melhorar a performance produtiva, mas também possuir grandeimportância no campo de investigação científica. De acordo com Land e Hill (1975) oemprego da Múltipla Ovulação e Transferência de Embriões (MOET) aumenta emquase duas vezes a taxa de ganho genético obtida em comparação com as estratégiasde programas de reprodução tradicionais.

Abordagens mais específicas que permitam o conhecimento de parâmetrosgenéticos relativos a características da variabilidade das respostas das vacas doadorasde embriões aos programas de superovulação são uma necessidade inerente àaplicabilidade desta biotécnica. Com o aumento do conhecimento sobre o genoma

Page 7: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 200886

animal e, conseqüentemente, da posição e efeito de locos principais para característicasquantitativas, tornou-se possível, utilizando-se marcadores moleculares, modificar-seas técnicas tradicionais de seleção, baseadas exclusivamente no aspecto fenotípico(DENTINE, 1999). Para Weimer et al. (2003) e Garcia e Porto-Neto (2006) os marcadoresmoleculares, além de serem empregados para caracterizarem geneticamente populações,raças, espécies, para estudos de genealogias e controle de paternidade, podem ajudara eliminar os inconvenientes da seleção baseada em análises exclusivas de fenótipo.As primeiras aplicações de marcadores moleculares na produção animal envolveram aidentificação de características condicionadas por um loco principal. Estas, devido aopadrão de herança mais simples, são mais fáceis de detectar, e por isso, já existemmuitos exemplos de marcadores empregados para identificar, corretamente, animaisportadores de características monogênicas. Davis e DeNise (1998) comentam que osmarcadores moleculares podem auxiliar técnicas reprodutivas avançadas comoovulações múltiplas, transferência de embriões, cultura de células primordiais,maturação e fertilização in vitro, pois permitem a identificação de genes específicosintroduzidos no rebanho ou raças de interesse.

A primeira estratégia para a aplicação de marcadores moleculares na seleção animalé, no entanto, o conhecimento da variabilidade genética dos rebanhos-alvo. Assim, estetrabalho avaliou a diversidade genética, em nove marcadores moleculares (seispolimorfismos curtos em tandem, STRs e três polimorfismos de um único nucleotídeo,SNPs), em dois rebanhos bovinos selecionados para a transferência de embriões.

MATERIAL E MÉTODOSForam analisadas 59 doadoras de embrião da raça Aberdeen Angus e 60 da raça

Nelore, sendo todos os animais puros de origem e registrados nas suas respectivasassociações. Os animais da raça Nelore foram obtidos de uma única central detransferência de embriões, localizada no Estado do Mato Grosso do Sul, incluindovacas de diferentes origens, enquanto que as amostras de Aberdeen Angus foramoriundas de 5 diferentes propriedades localizadas no Estado do Rio Grande do Sul.

Os DNAs foram preparados a partir de células sangüíneas, de amostras recolhidasem tubos contendo anticoagulante à base do sal de sódio ácido Etileno Diamino TetraAcético (EDTA), congeladas e remetidas ao Laboratório de Biotecnologia da Faculdadede Medicina Veterinária da ULBRA, localizada no município de Canoas/RS, regiãometropolitana de Porto Alegre. Ao chegar ao laboratório, foram processadas asextrações dos DNAs, utilizando-se a técnica descrita por Miller et al. (1988).

Os STRs foram investigados através da amplificação do DNA por PCR, comtécnica padrão e “primers” e temperaturas de anelamento específicas (Tabela 1), comum volume final de 25ml e contendo 50ng de DNA.

Page 8: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

87Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008

Os produtos da amplificação da PCR foram analisados em gel vertical depoliacrilamida não desnaturante (LAHIRI et al., 1997). Os fragmentos foram analisados,após a coloração com nitrato de prata, usando para comparação, o marcador de pesomolecular de 25 pb (Promega).

Para a análise dos SNPs LepSau3A1 e FSHR, os produtos de amplificação foramclivados com as endonucleases Sau3A1 (Promega) e Alu I (New England),respectivamente, conforme o protocolo dos fabricantes. Os produtos de clivagemforam analisados em gel vertical de poliacrilamida (SAMBROOK; RUSSELL, 2001).

As freqüências alélicas e genotípicas foram computadas por contagem direta. Aheterozigosidade esperada (H) e a probabilidade de identidade foram estimadas deacordo com Nei (1978) e Van Zeveren et al., 1990.

RESULTADOS E DISCUSSÃOAs freqüências alélicas dos STRs e SNPs analisados em doadoras de embrião

das raças Nelore e Aberdeen Angus, estão apresentadas na Tabela 2. A variaçãoobservada, no número de alelos detectados nas raças Nelore e Angus foi de 2 a 10 e 1a 10, respectivamente. As duas raças não apresentaram freqüências alélicas semelhantesem nenhum dos sistemas estudados e alguns alelos foram observados somente em

TABELA 1 – Marcadores analisados, seqüências dos primers, tamanhos esperados dos produtos deamplificação em pares de bases (pb), temperatura de anelamento (TA) e referências.

Marcadores Seqüência do Primers Produtos (pb) TA Referências

BM4325 F- 5’AGA GTC AGA CAG GAC TGA GCG 3’

R- 5’CTG TAA CTT GCA AAT GCA AAT GTC TCG 3’ 97-117 64-54ºCa

KAPPES et al., 1997

STONE et al., 1997

ILSTS002 F- 5’TCT ATA CAC ATG TGC TGT GC 3’

R- 5’CTT AGG GGT GAA GTG ACA CG 3’ 123-137 54ºC KEMP et al., 1992

BMS3004 F- 5’GGA CAG AGG AGC CTG GTT G 3’

R- 5’AGT TGC GTT GTT CAT CAT TCC 3’ 129-138 56ºC

STONE et al., 1996

KAPPES et al., 1997

LepSau3A1 F- 5’GTC ACC AGG ATC AAT GAC AT 3’

R- 5’AGC CCA GGA ATG AAG TCC AA 3’

A/B :400

1/2: 690 54ºC

POMP et al., 1997

WILKINS e DAVEY., 1997

IDVGA51 F- 5’ATG GCA ATA TTT TGT TCT TTT TC 3’

R- 5’ATT CCT TGA TGG TCT AAT GGT TA 3’ 175-183 50ºC KAPPES et al., 1997

HEL5 F- 5’GCA GGA TCA CTT GTT AGG GA 3’

R- 5’AGA CGT TAG TGT ACA TTA AC 3’ 147-169 58ºC BISHOP et al., 1994

AFZ1 F- 5’TTG GAC GAC AAA ACT CAC GG 3’

R- 5’GTG GCT GGA CTG GTC TGG TT 3’ 151-129 50ºC JORGENSEN et al., 1996

FSHR F- 5’ CTGCCTCCCTCAAGGTGCCCCTC 3’

R- 5’ AGTTCTTGGCTAAATGTCTTAGGGGG 3’ 306 58°C HOUDE et al., 1994

a PCR com “touchdown”.

Page 9: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 200888

uma das raças, como BMS3004 129, HEL5 161, em A. Angus e BMS3004 132, 138,HEL5 149 e AFZ 111, em Nelore.

Na Tabela 2 verifica-se, também, que animais da raça A. Angus, quandocomparados com os Nelores, apresentaram uma maior freqüência dos alelos 103 e 105para o STR BM4325, enquanto, na raça Nelore, houve maior freqüência do alelo 101.Estes foram também os alelos mais prevalentes em rebanhos das raças AberdeenAngus e Gado Geral, previamente analisados (SILVEIRA, 2007).

Para o sistema BMS3004, a amostra de Aberdeen Angus mostrou-se monomórfica,para um alelo distinto dos observados em Nelore, sendo que nesta raça, o alelo 132 foio mais freqüente. O monomorfismo observado em BM3004, na raça A Angus, haviasido descrito por Silveira (2007), trabalhando com animais puros de origem, da mesmaraça, mas de rebanho distinto deste, podendo-se supor uma origem taurina para omesmo. Esta hipótese pode ser confirmada ao não ser observado este alelo nos 60animais da raça Nelore estudados, nos quais foram constatados, apenas os alelosBMS3004 132 e 138. Adicionalmente, Steigleder et al. (2004), Silveira (2007) e Weimeret al. (2007) encontraram, em rebanhos de origem taurina, freqüências de 0,59, 0,66 e0,64 respectivamente, para este alelo, sendo este último valor similar ao que seriaesperado em animais com um componente 5/8 Aberdeen Angus (Brangus-Ibagé)admitindo-se que a população A. Angus que originou a raça fosse também monomórficapara tal alelo.

No marcador molecular ILSTS002 foi observado que os alelos 133 e 135foram os mais incidentes para a raça Aberdeen Angus, enquanto, para a raça Neloreas maiores freqüências ficaram com os alelos 137 e 135. As freqüências maisobservadas nas vacas Brangus-Ibagé e Gado Geral foram para os alelos 133, 135e 135, 137, respectivamente, (WEIMER et al., 2007; SILVEIRA, 2007) e na raça A.Angus, para o alelo 135 (SILVEIRA, 2007). Os valores dos alelos 133, 135 e 137observados por Weimer et al. (2007), para o rebanho Brangus-Ibagé, manteve aproporcionalidade referente à participação de cada subespécie na formação daraça híbrida.

As freqüências alélicas do sistema IDVGA51 indicam que, para a raça AberdeenAngus, o alelo 175 foi altamente incidente seguido pelo 183; já em Nelore, este marcadorcomportou-se de forma adversa, sendo constatado que o alelo 177 foi o mais freqüente,seguido de 175 e 181. Em pesquisas anteriores o alelo 175 tem sido observado comoo mais freqüente, na maioria das populações (ALMEIDA et al., 2003, 2007; STEIGLEDERet al., 2004, SILVEIRA; 2007).

Problemas na amplificação de algumas amostras da raça Nelore, para omarcador HEL5, provocaram uma variação no número de indivíduos analisadosneste sistema, sendo o total estudado foi de 52 doadoras. A Tabela 2 mostra, naraça Aberdeen Angus, uma freqüência maior para os alelos 165, 153 e 167 e, naNelore, houve uma alta freqüência do alelo 151 seguido do 153. Silveira (2007)descreve os alelos 151 e 165 como os mais freqüentes, em A. Angus, enquanto

Page 10: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

89Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008

Oliveira et al (2005) verificaram valores mais altos para 163 e 165, em um rebanhoBrangus-Ibagé.

Os valores observados para as freqüências alélicas no marcador AFZ-1, nasvacas Aberdeen Angus, foram maiores para o alelo 123, seguido de 117 e 125. Na raçaNelore, o destaque deu-se para o alelo 121, sendo que os alelos 113 e 123 tambémforam freqüentes, embora com um menor percentual. Estes alelos também apresentaramaltas freqüências em outros rebanhos bovinos previamente investigados (OLIVEIRAet al. 2005; SILVEIRA, 2007).

No marcador FSHR, para a raça Aberdeen Angus ocorreu uma homogeneidadepara os alelos C e G, enquanto na raça Nelore, o alelo G foi superior em freqüência emrelação ao alelo C. Freqüências mais elevadas do alelo G foram também relatadas porMarson et al. (2004) em animais híbridos taurinos/zebuínos.

Nos sistemas LEPSau3A1(A/B) e LEPSau3A1(1/2), os alelos A e 1 foram osmais freqüentes, em ambas as raças, similar ao previamente observado em animaisdas raças Aberdeen Angus, Brangus-Ibagé e Gado Geral (ALMEIDA et al. 2003,2007; SILVEIRA, 2007).

Variações nas freqüências alélicas entre raças e, principalmente, entre rebanhosde uma mesma raça refletem, provavelmente, diferenças nas estruturas de cruzamentosutilizadas, no manejo aplicado aos vários plantéis e/ou nas práticas seletivas, que emgeral visam objetivos distintos. Este último fator, pode, muitas vezes resultar em perdada variabilidade genética do rebanho.

A Tabela 2 apresenta, também, os valores de heterozigose esperada (H), nosdiversos sistemas; em A. Angus, H varia de 0 a 87%, sendo a media entre sistemas, de0,56, enquanto em Nelore tal parâmetro oscilou entre 0,03 e 0,75, com média de 0,50.Esses resultados de valores razoavelmente altos de diversidade genética são similaresao previamente descrito em outros rebanhos bovinos e sugerem que as práticasseletivas aplicadas a estes rebanhos não interferiram, grandemente, na variabilidadegenética dos mesmos.

A diversidade entre os rebanhos foi bastante alta, refletindo-se em baixos valoresde probabilidade de identidade entre as raças estudadas (PI), que oscilou entre zero e6 % nos STRs e de 35 a 64%, nos SNPs (Tabela 2). Nestes últimos marcadores osvalores são em geral mais altos, por se tratarem de sistemas dialélicos. O uso simultâneodos nove sistemas investigados indica a grande variabilidade inter-populacional, jáque a chance de dois indivíduos, um de cada rebanho, apresentarem o mesmo genótipo,é de 6x10-9, ou praticamente nula, principalmente considerando os tamanhospopulacionais.

Page 11: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 200890

CONCLUSÕESA análise da diversidade genética de fêmeas doadoras de embriões, realizada

através de nove marcadores moleculares, em duas raças bovinas (Nelore e AberdeenAngus) indicou considerável variabilidade intra-populacional, sugerindo que aspráticas seletivas aplicadas aos rebanhos não interferiram em seus níveis de diversidade.A variabilidade inter-populacional foi bastante elevada, de modo que a probabilidadede encontrar dois indivíduos, geneticamente idênticos, retirados aleatoriamente cadaum de um rebanho é próximo de zero.

Marcadores Amostras

ALELOS H PI

STRs

BM4325 97 99 101 103 105 107

Nelore 0,08 0,16 0,45 0,20 0,10 0,01 0,72

A. Angus 0,01 0,04 0,12 0,33 0,41 0,09 0,71 0,05

BMS3004 129 132 138

Nelore 0,76 0,24 0,36

A. Angus 1,0 0,00 0,00

ILSTS002 127 129 131 133 135 137 139 141

Nelore 0,03 0,05 0,10 0,17 0,19 0,41 0,04 0,01 0,75

A. Angus 0,11 0,01 0,07 0,30 0,30 0,13 0,06 0,02 0,79 0,05

IDVGA51 173 175 177 179 181 183

Nelore 0,01 0,20 0,49 0,10 0,15 0,05 0,69

A. Angus 0,01 0,58 0,11 0,04 0,07 0,17 0,62 0,06

HEL5 149 151 153 155 157 159 161 163 165 167 169

Nelore 0,02 0,50 0,20 0,15 0,07 0,01 0,01 0,01 0,02 0,01 0,69

A. Angus 0,05 0,19 0,10 0,06 0,02 0,04 0,12 0,20 0,15 0,07 0,87 0,01

AFZ1 111 113 115 117 119 121 123 125

Nelore 0,04 0,21 0,02 0,01 0,06 0,43 0,22 0,01 0,72

A. Angus 0,10 0,03 0,15 0,07 0,10 0,40 0,15 0,78 0,04

FSHR C G

Nelore 0,25 0,75 0,39

A. Angus 0,50 0,50 0,50 0,35

TABELA 2 – Freqüências alélicas dos marcadores moleculares nas diferentes amostras de Nelore e A. Angus.

H: heterozigose esperada; PI: probabilidade de identidade entre rebanhos

Page 12: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

91Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008

REFERÊNCIASALMEIDA, S. E. M. et al. A. Association betwen molecular markers linked to the Leptingene and weigth gain in postpartum beef cows. Ciência Rural, v. 37, p. 206-211, 2007.ALMEIDA, S. E. M. et al. Molecular markers in the LEP gene and reproductiveperformance of beef cattle. J. Anim. Breed. Genet. v.120, p.106-113, 2003.BISHOP, M. D. et al. A genetic-linkage map for cattle. Genetics, v.136, n.2, p.619-639,1994.DAVIS, G. P.; DENISE, S. K. The impact of genetic markers on selection. Journal AnimalScience, v.76, p.2331- 2339, 1998.DENTINE, M. R. Market assisted selection. In: The Genetics of Cattle, R. Fries & A.Ruvinsky (eds.), CABI, Oxon, 1999.EPSTEIN, H. The Origin of the Domestic Animals of Africa. Africana PublishingCooperation, New York, v.1, p.185–555, 1971.EPSTEIN, H.; MASON, I. L. Cattle. In: Evolution of Domesticated Animals (Mason, I. L.,ed.). Longman, New York, p.6-27, 1984.GARCIA, J. F.; PORTO-NETO, L. P. Uso de marcadores moleculares em programas detransferência de embriões. Acta Scientiae Veterinariae, v.34 (Supl 1), p.197-203, 2006.HOUDE, A. A. et al. Structure of the bovine follicle-stimulating hormone receptorcomplementary DNA and expression in bovine tissues. Mol. Reprod. Dev. 39:127, 1994.JORGENSEN, C. B.; KONFORTOV, B. A.; MILLER, J. R. A polymorphic microsatellitelócus (AFZ1) derived from a bovine brain cortex cDNA library. Animal Genetics, v.27,p.220, 1996.KAPPES, S. M. et al. A second-generation linkage map of the bovine genome. GenomeResearch, v.7, p.235-249, 1997.KEMP, S. J.; BREZINSKY, L.; TEALE, A. J. ILSTS002: a polymorphic bovine microsatellite.Animal Genetics, v.23, p.184, 1992.LAHIRI, D. K.; ZANG, A.; NURNBERGER, J. I. High-resolution detection of PCR productsfrom STRs markers using a nonradioisotopic technique. Biotechnol. Mol. Med. v.60,p.70-75, 1997.LAND, R. B.; HILL, W. G. The possible use of superovulation and embryo transfer incattle to increase response to selection. Anim. Prod. v.21, p.1-12, 1975.LOFTUS, R. et al. Evidence for two independent domestications of cattle. Proc. Nat.Sci., USA, v.91, p.2757-2761, 1994.MACHUGH, D. E. et al. Microsatellite DNA variation and the evolution, domesticationand phylogeography of taurine and zebu cattle (Bos taurus and Bos indicus). Genetics,v.146, p.1071-1086, 1997.MARSON, E. P. et al. Efeito dos polimorfismos dos genes do LHR e do FSHR sobre aprecocidade sexual em novilhas de corte de diferentes composições raciais. V Simpósioda Sociedade Brasileira de Melhoramento Animal. 2004 Acesso no sitewww.sbma.org.br em 15/01/2008.MILLER, S. A.; DYKES, D. D.; POLESKY, H. F. A simple salting out procedure forextracting DNA from human nucleated cells. Nucleic Acids Research, v.16, p.1215, 1988.NEI, M. Estimation of average heterozygosity and genetic distance in a small number of

Page 13: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 200892

individual. Genetics, v.89, p.583-590, 1978.OLIVEIRA, J. F. C. et al. Association between reproductive traits and four microsatellitesin Brangus-ibagé cattle. Genetics and Molecular Biology, v.28, p.54-59, 2005.PAYNE, W. J. A. Domestication: A step forward in civilization. In: Cattle GeneticResources. (eds. Hickman). World Animal Series, Publ. Elsevier, v. B7, p.51-72, 1991.POMP, D. et al. Mapping of leptin to bovine chromosome 4 by linkage analysis of a pcr-based polymorphism. Journal Series, Nebraska Agricultural Research Division, Papernumber 11574, 1997.SAMBROOK, J.; RUSSEL, D. W. Molecular Cloning. A laboratory Manual, Third Edition.V.1, Cold Spring Harbor, New York, 2001.SILVEIRA, J. C. Marcadores moleculares e associação com características reprodutivasem dois rebanhos bovinos do Rio Grande do Sul. 2007, 78f. Dissertação de Mestrado,ULBRA Canoas, 2007.STEIGLEDER, C. S.; ALMEIDA, E. A.; WEIMER, T. A. Genetic diversity of braziliancreole cattle base don fourteen microsatellite loci. Arch. Zoote. v. 53, p. 3-11, 2004.STONE, R. T.; KAPPES, S. M.; BEATTIE, C. W. Five polymorphic trinucleotide (CCA)bovine microsatellites. Animal Genetics, v.27, p.216, 1996.STONE, R. T. et al. Characterization of 109 bovine microsatellites. Animal Genetics,v.28, p.62-66, 1997.VAN ZEVEREN, A. et al. A genetic blood marker study on 4 pig breeds. II Estimation andcomparasion of within-breed variation. Journal of Animal Breeding and Genetics,v.107, p.104-112, 1990.WEIMER, T. A. Diagnóstico genético-molecular aplicado à produção animal. In:MARKES, E.K. (org).Diagnóstico Genético-Molecular. p.203-218. ULBRA Canoas, 2003.WEIMER, T. A. et al. Identification of molecular markers on bovine chromosome 18associated to calving interval in a Brangus-Ibagé cattle herd. Ciência Rural, v.37, 5, 2007.WILKINS, R. J.; DAVEY, H. W. A polymorphic microsatellite in the bovine leptin gene.Animal Genetics, v.27, p.376, 1997.

Recebido em: mar. 2008 Aceito em: maio 2008

Page 14: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

93Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008

Carlos Santos Gottschall é Médico Veterinário. Mestre em Zootecnia. Faculdade de Medicina Veterinária daULBRA.Pedro Rocha Marques é Acadêmico em Medicina Veterinária da ULBRA.Leonardo Canali Canellas é Acadêmico em Medicina Veterinária da ULBRA e Bolsista de Iniciação Científica– PROICT/ULBRA.Hélio Radke Bittencourt é Estatístico, Mestre em Sensoriamento Remoto e Professor Assistente do Depar-tamento de Estatística da PUCRS.

Endereço para correspondência: Av. Farroupilha, 8001, Bairro São Luís – CEP 92420-280. Canoas RS. E-mail: [email protected]

Análise econômica da terminação de novilhosaos 24 ou 36 meses em pastagem de azevém

(Lolium multiflorum) com ou semsuplementação alimentar

Carlos Santos GottschallPedro Rocha Marques

Leonardo Canali CanellasHélio Radke Bittencourt

RESUMOO objetivo do presente trabalho foi avaliar o desempenho econômico de novilhos de corte

submetidos a dois sistemas de terminação intensiva para abate aos 24 ou 36 meses. Foramutilizados 68 novilhos de corte com base racial britânica, sendo 37 novilhos terminados empastagem de azevém (Lolium multiflorum) recebendo concentrado na base de 0,8% do pesovivo, abatidos em média aos 24 meses (grupo 2A) e 31 novilhos terminados exclusivamente empastagem de azevém, abatidos em média aos 36 meses (grupo 3A). O peso médio inicial (PMI),o ganho médio diário de peso (GMD), o tempo médio de permanência (TMP) e o peso médiode abate (PMA) foram, respectivamente, de 283,49 kg, 0,967 kg/dia, 100,8 dias e 380,65 kgpara o grupo (2A); e 322,10 kg, 1,024 kg/dia, 84,3 dias e 407,07 kg para o grupo (3A). A partirdestas informações, associadas aos custos de alimentação e compra dos animais, procedeu-seuma análise econômica considerando os seguintes custos variáveis de produção: custo de com-pra/kg; custo de compra/animal; custo de alimentação/animal; custo total/animal; receita bruta/kg; margem bruta/animal; lucratividade no período; lucratividade/mês; custo de produção/kgproduzido; e custo de produção/kg comercializado. O custo de compra/kg foi de R$ 1,60 paratodos os animais, enquanto a receita bruta/kg foi de R$ 2,18 e R$ 2,09, respectivamente para 2Ae 3A. Animais mais jovens e com menor peso inicial (grupo 2A) necessitaram de maior ganho depeso para atingir o grau de acabamento desejado, permanecendo mais tempo em terminação. Autilização do suplemento e o maior TMP geraram maior custo de alimentação/animal para ogrupo 2A. A receita bruta/kg obtida pelo grupo 2A proporcionou margem bruta/animal elucratividade no período semelhantes ao grupo 3A. A elevada diferença de preço compra/vendafoi o principal fator responsável pelo retorno econômico positivo das duas idades à terminação.

Palavras-chave: Novilhos de corte. Desempenho econômico. Custos de produção.

n.2v.5Veterinária em Foco jan./jun. 2008p.93-101Canoas

Page 15: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 200894

Economic performance of finish beef steers slaughtered at 24 or 36months old grazing Lolium multiflorum pasture with or without

supplementary feed

ABSTRACTThe main objective of this research was to evaluate the economic performance of finish

beef steers, from two production systems, slaughtered at 24 or 36 months old. Sixty eightBritish beef steers were divided in two groups: 37 steers finished in Loliuum multiflorumpasture supplemented with 0.8 % of live weight in concentrate, slaughtered with 24 months old(24 group) and 31 steers finished in Loliuum multiflorum without supplementary feed,slaughtered with 36 months old (36 group). Beginning weight (BW), average daily gain (ADG),days on feed (DF), slaughter weight (SW) were, respectively, 283.49 kg, 0.967 kg/day, 100.8days and 380.65 kg for 24 group; and 322.10 kg, 1.024 kg/day, 84.3 days and 407.07 kg for 36group. Using those biological data, associated with feed and purchase costs, were analyzedpurchase cost/kg; purchase cost/steer; feed cost/steer; total cost/steer; sell value/kg; grossmargin/steer; profit on the period; profit/month; production cost/kg produced; and productioncost/sold kg. Purchase cost/kg was R$ 1.60 for both groups. Sell value/kg was R$ 2.18 and R$2.09, respectively for 24 and 36 groups. Younger and lighter steers (24 group) needed higherweight gain and more days on feed than 36 group to reach the fat level. Supplementary feed andDF results in higher feed cost/animal for 24 group. Purchase value/kg allowed similar grossmargin/steer and profit on the period for both groups. The high difference between purchaseand sale value was the main variable that affected the economic performance in both groups.

Keywords: Beef steers. Economic performance. Production costs.

INTRODUÇÃOA competitividade da bovinocultura de corte frente a outras explorações

agropecuárias depende da máxima eficiência de produção, planejamento adequado eredução de custos, visando à obtenção de maiores lucros (SAMPAIO et al., 2001). Nosúltimos anos a atividade pecuária de corte vem apresentando sucessivas quedas derentabilidade, principalmente devido ao aumento desproporcional dos custos deprodução em relação ao preço do produto final (HECK et al., 2006). Nesse contexto, odesafio da pecuária de corte no Brasil tem sido de estabelecer sistemas de produçãoque sejam capazes de produzir, a baixo custo, animais jovens e que apresentem carcaçascom características adequadas às exigências do mercado (EUCLIDES et al., 2001).

Segundo Beretta et al. (2001), através da redução da idade de abate é possívelaumentar a produção de peso vivo/hectare e a taxa de desfrute do rebanho,proporcionando a obtenção de maior rentabilidade ao sistema de produção. Autilização de recursos alimentares como concentrados e pastagens cultivadas auxiliano processo de redução da idade de abate através do incremento na taxa de ganhode peso (ANUALPEC, 2003). Além disso, a suplementação energética em pastagemcultivada de estação fria é uma alternativa para propiciar aumento de lotação, jáque o suplemento energético tende a substituir parte do consumo de pastagem(PASCOAL et al., 1999).

Page 16: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

95Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008

A introdução de novas tecnologias ao sistema de produção, em um primeiromomento, gera aumento dos custos diretos da empresa rural (ROCHA et al., 2003).Somado a isso, a produtividade e a rentabilidade freqüentemente não cobrem essescustos, devido a falhas ou falta de informações completas e adequadas para a utilizaçãoeficiente da técnica proposta (GOTTSCHALL, 1999a). Portanto, é fundamental que aopção pelo uso da suplementação tenha como base uma análise de rentabilidade, eessa, por sua vez, será dependente das restrições econômicas do sistema de produção(ROCHA, 1999). O objetivo do presente experimento foi analisar a eficiência econômicade dois sistemas de terminação de novilhos aos 24 ou 36 meses submetidos a diferentessistemas de terminação em pastagem de inverno com ou sem suplementação alimentar.

MATERIAIS E MÉTODOSO trabalho foi realizado entre 09/06 e 16/10/2006 em uma propriedade particular

situada no município de Glorinha, Rio Grande do Sul. Foram coletados dados de 68novilhos cruzas Angus, Devon e Nelore, divididos em dois grupos: o grupo 2A,composto por 37 novilhos, com peso médio inicial (PMI) de 283,49 kg, foi submetido àterminação em pastagem de azevém (Lolium multiflorum) recebendo suplementaçãocom concentrado até serem abatidos em média aos 24 meses de idade. O grupo 3A eracomposto por 31 novilhos com PMI de 322,10 kg, e foram terminados exclusivamenteem pastagem de azevém até serem abatidos em média aos 36 meses de idade.

Os novilhos, identificados individualmente, foram pesados no início doexperimento, posteriormente a cada 20 dias para ajustes na dieta e por ocasião dasvendas. Foram calculadas as variáveis peso médio inicial (PMI), tempo médio depermanência (TMP), ganho de peso médio diário (GMD), peso médio de abate (PMA),ganho médio de peso (GP) e porcentagem de ganho de peso (%GP). As pesagensrealizadas sempre pela manhã, e com jejum total prévio de 12 a 14 horas. Os abatesforam realizados de forma escalonada, utilizando como critério para a venda dos animaiso grau de acabamento, expresso pela visualização de gordura subcutânea. O peso decarcaça foi obtido através da pesagem da carcaça fria.

O suplemento, fornecido ao nível de 0,8% do peso vivo (PV) para os animais doGrupo 2A, era composto por milho, farelo de arroz e calcário calcítico. A proporção decada ingrediente utilizado na composição do suplemento era variável, buscandoassegurar níveis médios estimados de 12% de proteína bruta (PB) e 81% de nutrientesdigestíveis totais (NDT). A carga animal na pastagem de azevém foi de 550 kg de PV/hapara o grupo 2A e de 400 kg de PV/ha para o grupo 3A. A carga animal foi calculadacom base na oferta visual de forragem para os dois grupos. No caso do grupo 2A, foiconsiderado o efeito substitutivo do suplemento sobre o consumo da pastagem.

Na análise econômica somente foram computados os custos variáveis. Os custoscomputados para os 2A foram: adubo de cobertura sobre pastagem de azevém, custo

Page 17: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 200896

de compra/animal e custo do suplemento. Para os 3A foram contabilizados os custosreferentes ao adubo de cobertura sobre pastagem de ressemeadura de azevém, e custode compra/animal. A pastagem utilizada era proveniente de ressemeadura natural emlavoura de soja, não havendo custo de implantação. O custo da pastagem/animal foicalculado com base na carga animal utilizada e no tempo de permanência de cadanovilho em processo de terminação. As variáveis utilizadas para a análise econômicaforam: receita bruta/kg, custo de alimentação/animal, custo de compra/animal, custototal/animal, custo de produção/kg produzido, custo total/kg comercializado, margembruta/animal, diferença de preço compra/venda e lucratividade no período,lucratividade/mês.

Para comparação das variáveis (todas quantitativas) entre as duas idades foiutilizado o teste paramétrico t de Student e o coeficiente de correlação de Pearson.Também foi utilizado um modelo linear (ANOVA) onde o peso inicial foi consideradocomo co-variável e a idade ao abate como fator. O objetivo deste modelo é eliminar oefeito do peso inicial sobre as demais variáveis. Os dados foram organizados emplanilha do Microsoft Excel e analisados no pacote estatístico SPSS versão 11.5.

RESULTADOS E DISCUSSÃONa Tabela 1, podem ser visualizados dados referentes ao desempenho biológico

dos animais submetidos aos dois sistemas de terminação (grupos 2A e 3A).

TABELA 1 – Peso médio inicial (PMI) em kg, tempo médio de permanência (TMP) em dias, peso médio deabate (PMA) em kg, ganho de peso médio diário (GMD) em kg/dia, ganho de peso (GP) em kg, porcentagem

de ganho de peso (%GP), peso médio de carcaça (PC) e rendimento médio de carcaça (RC) dos animaissubmetidos aos diferentes sistemas de terminação (Grupos 2A e 3A).

Variável 2A 3A

PMI (kg) 283,49a 322,10b

TMP (dias) 100,76a 84,29b

PMA (kg) 380,65a 407,07b

GMD (kg) 0,967a 1,024ª

GP (kg) 97,16A 84,98B

GP (%) 34,50A 26,80B

PC (kg) 206,92ª 212,03ª

RC (kg) 54,34ª 52,08ª

Na Tabela 2 podem ser visualizados dados referentes à análise econômica doprocesso de terminação, baseada nos custos variáveis de produção bem como nasreceitas obtidas com a venda dos animais.

a,b na linha, diferem significativamente entre si (p<0,01).A, B na linha, diferem significativamente entre si (p<0,05).

Page 18: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

97Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008

TABELA 2 – Custo de compra/kg, custo de compra/animal, custo de alimentação/animal, custo total/animal,custo de produção/kg produzido, custo total/kg comercializado, receita bruta/kg, receita bruta/animal,

margem bruta na engorda, margem bruta na compra/venda, diferença de preço compra/venda, lucratividadeno período, lucratividade/mês.

Variável 2ª 3ª Custo de compra/kg (R$) 1,60ª 1,60ª Custo de compra/animal (R$) 453,58ª 515,36b Custo de alimentação/animal (R$) 118,89ª 70,80b Custo total/animal (R$) 572,47ª 586,16ª Custo de produção/kg produzido (R$) 1,26ª 0,85b Custo total/kg comercializado (R$) 1,51ª 1,44b Receita bruta/kg (R$) 2,18ª 2,09b Receita bruta/animal (R$) 852,37ª 831,57a Margem bruta/animal (R$) 259,10ª 266,21ª Diferença de preço compra/venda (R$) 26,57a 23,44b Lucratividade no período (%) 45,19ª 45,41ª Lucratividade/mês (%) 13,70a 16,88b

O custo de compra/kg foi o mesmo para os dois grupos, no entanto, o custo decompra/animal foi superior (p<0,01) para 3A em relação à 2A (R$ 515,35 vs R$ 453,58),em função do maior PMI dos animais do grupo 3A no momento da compra. O custo decompra/animal representou, em relação ao custo total, 79,23% e 87,9% respectivamentepara 2A e 3A, indicando que a aquisição dos animais foi a fração mais onerosa dentreos custos de produção considerados. Peres et. al. (2004) relatam que o custo de compra/animal está entre os custos de maior impacto sobre a viabilidade econômica em processosde terminação intensiva. Lopes e Magalhães (2005) ressaltam a importância de umaboa compra, afirmando que uma pequena economia na aquisição dos animais geraredução considerável do custo total.

O custo de alimentação/animal foi superior (p<0,01) para os 2A em relação aos 3A(R$ 118,89 vs R$ 70,80), e representou, respectivamente, 20% e 12% do custo total daterminação. O custo de alimentação/animal está relacionado ao tempo de permanênciae ao sistema de terminação ao qual os animais foram submetidos. Ou seja, o maiorcusto de alimentação verificado para o grupo 2A em relação ao grupo 3A pode seratribuído ao maior (p<0,01) TMP (100,75 vs 84,29 dias) desses animais em pastagem eà adição de concentrado à dieta dos mesmos. Esses resultados demonstram que, nascondições em que o trabalho foi realizado, o fornecimento de concentrado contribuiupara o aumento do custo de produção do grupo 2A, mesmo considerando que ainclusão do concentrado à dieta do grupo 2A permitiu a utilização de uma carga animalem pastagem superior para esses animais em relação aos 3A (550 vs 400 kg PV/ha).

Caso o custo da pastagem fosse maior, possivelmente o efeito substitutivoprovocado pelo concentrado proporcionaria uma maior diluição do custo da pastagem,através do aumento da carga animal. Portanto, na medida em que aumenta o custo dapastagem, mais vantajosa tende a ser a utilização de suplementação alimentar, devendo

a,b na linha, diferem significativamente entre si (p<0,01).

Page 19: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 200898

sempre considerar se o aumento da carga animal compensa o custo do suplemento aser utilizado. Gottschall et al. (2006), utilizando suplementação com concentrado empastagem de inverno para terminação de novilhos (as) abatidos aos 18 meses, nãoencontraram diferença significativa para custo de alimentação (R$ 142,50 vs R$ 138,66)em função destes animais apresentarem TMP (132 vs 122 dias) semelhantes. Dessemodo fica clara a relação entre o custo de alimentação e o tempo de permanência.

O menor custo de alimentação apresentado pelos animais do grupo 3A, explica omenor (p<0,01) custo de produção/kg produzido em relação aos 2A (R$ 0,84 vs R$ 1,25,respectivamente). Mesmo o grupo 2A apresentando GP cerca de 12 kg superior (p<0,01),o custo de alimentação fez com que o custo de produção/kg produzido fosse maiorpara animais em relação aos 3A. Analisando o desempenho em terminação de novilhospara abate aos 15 ou 27 meses de idade, Canellas et al. (2008) verificaram maior custode produção/kg produzido para os novilhos de 15 meses, relacionando esse resultadoao maior custo de alimentação apresentado por esses animais, visto que o GP foisemelhante entre as duas categorias utilizadas no experimento. Gottschall (1999b)relata custos de produção/kg produzido inferiores ao presente experimento em duaspropriedades particulares, utilizando novilhos submetidos à suplementação alimentarpara abate aos 17 meses (R$ 0,96/kg produzido) e aos 24 meses (R$ 0,55/kg produzido).

O custo total/kg comercializado foi superior (p<0,01) para 2A em relação a 3A (R$1,51 vs R$ 1,44). Esse resultado ocorreu devido ao menor peso com o qual essesanimais foram vendidos, ocorrendo, desse modo, uma menor diluição do custo totalem relação ao número de kg comercializados. Segundo Sant’ana e Santos (2006), ocusto de alimentação é muito variável e depende do tipo e da quantidade de insumosque serão utilizados. Desse modo, a comparação dos custos de alimentação e doscustos de produção entre diferentes experimentos pode ser prejudicada.

A receita bruta/kg foi superior (p<0,01) para os 2A em relação aos 3A (R$ 2,18 vsR$ 2,09) e indica uma característica de mercado, com melhor remuneração para novilhosmais jovens em relação aos mais velhos. Além disso, estes animais foram vendidos emépocas do ano diferentes e com isso acabaram sendo remunerados de forma distinta.Dados relatados por Couto (1997) indicavam que o período de preços altos compreendiaos meses de maio a novembro, alcançando o pico no mês de outubro. Essa sazonalidadevem diminuindo com o passar dos anos, mas ainda pode ser observada eventualmente,aliada a fatores como clima e conjunturais (SUÑE, 2005). Por outro lado, o grupo 3Aapresentou maior (p<0,01) receita bruta/animal em relação aos 2A (R$ 852,37 vs R$831,57). Esta superioridade deve-se ao maior (p<0,01) PMA obtido pelos novilhos dogrupo 3A em relação aos demais (407,07 vs 380,65 kg). Contudo, diversos são osfatores que influenciam no preço do boi gordo, entre eles a oferta de animais dereposição, o consumo interno de carne bovina, o destino da carne (mercado externo/interno), a rastreabilidade, a classificação das carcaças entre outros (TORRES Jr., 2003).

A margem bruta/animal e a lucratividade no período não apresentaramdiferença significativa entre os grupos analisados (p>0,05). Esses resultadosdemonstram que apesar de terem apresentado maiores custos de produção, os

Page 20: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

99Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008

novilhos do grupo 2A obtiveram um retorno econômico similar aos 3A no período,o que ressalta a influência que o mercado exerce sobre o retorno econômico doprocesso de terminação de novilhos precoces, através da remuneração obtida nomomento da venda (receita bruta/kg), gerando maior diferença entre preço decompra/venda (26,57% vs 23,44%, respectivamente para 2A e 3A). A diferença depreço compra/venda é a variável que mede o retorno obtido com a alteração nopreço do kg gordo em relação ao kg magro e exerceu influência direta sobre oresultado econômico para os dois grupos, pois além do valor recebido pelo númerode quilogramas de ganho de peso durante a terminação, existe um valor agregadoao kg de peso inicial (magro) em relação ao kg vendido. Gottschall et al. (2006) eCanellas et al. (2008) ressaltam que em processos de terminação intensiva debovinos de corte é fundamental uma relação de troca favorável entre o preço decompra e de venda dos animais, caso contrário o lucro fica restrito ao ganho coma engorda dos animais, aumentando o risco do processo.

Ao analisarmos a lucratividade/mês, verifica-se que o grupo 3A foi superiorem relação ao 2A. Esse resultado está relacionado ao TMP, inferior para os animaismais velhos, o que indica uma vantagem em termos de retorno e giro de capital emrelação aos novilhos mais jovens. Animais mais velhos tendem a apresentar maiorpeso ao início do processo de terminação, o que inicialmente representa maiordesembolso para o produtor. Entretanto, em termos de retorno rápido doinvestimento a terminação de animais mais maduros torna-se interessante, pois oganho de peso para atingir o peso de terminação desses animais é menor em relaçãoa animais precoces. Pacheco et al. (2006) também observaram um aumento dalucratividade mensal com a redução do período de terminação de novilhos aos 22meses. Arboitte et al. (2004) e Restle et al. (2003) também relatam que períodoscurtos de alimentação são importantes para o aumento da lucratividade daterminação de novilhos de corte.

CONCLUSÕESAnimais mais jovens e com menor peso inicial (grupo 2A) necessitaram de maior

ganho de peso para atingir o grau de acabamento desejado, permanecendo mais tempoem terminação. A utilização do suplemento e o maior TMP geraram maior custo dealimentação/animal para o grupo 2A. A receita bruta/kg obtida pelo grupo 2Aproporcionou margem bruta/animal e lucratividade no período semelhantes ao grupo3A. A elevada diferença de preço compra/venda foi o principal fator responsável peloretorno econômico positivo das duas idades à terminação.

REFERÊNCIASANUALPEC 2003. Tendências da suplementação a pasto no Brasil. FNP Consultoria,São Paulo, p.63-64. 2003.

Page 21: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008100

ARBOITTE, M. Z. et al. Desempenho em confinamento de novilhos 5/8 Nelore – 3/8Charolês,abatidos em diferentes estádios de desenvolvimento. Revista Brasileira deZootecnia, v.33, n.4, p.947-958, 2004.BERETTA, V.; LOBATO, J. F. P.; MIELITZ NETTO, C. G. Produtividade e eficiênciabiológica de sistemas pecuários criadores diferindo na idade das novilhas ao primeiroparto e na taxa de natalidade do rebanho de cria no Rio Grande de Sul. Revista Brasilei-ra de Zootecnia, v.30, n.4, p.1278-1288, 2001.CANELLAS, L. C. et al. Avaliação do desempenho em confinamento de novilhos abati-dos aos 15 ou 27 meses de idade (no prelo), 2008.COSTA L. B.; CERETTA P. S.; GONÇALVES, M. B. F. Viabilidade econômica: análise dabovinocultura de corte. Informações Econômicas, SP, v.36, n.8, ago. 2006.COUTO, M. T. Previsão de preços para a pecuária de corte. Preços agrícolas, Piracicaba,v.124, fev. 1997, p.24-27.EUCLIDES, V. P. B. et al. Desempenho de Novilhos F1s Angus-Nelore em Pastagens deBrachiaria decumbens Submetidos a Diferentes Regimes Alimentares Revista Brasi-leira de Zootecnia., 30 (2):470-481, 2001.GOTTSCHALL, C. S.; CANELLAS, L. C.; FERREIRA, E. T. Confinamento de Bovinosde corte: alternativas para o aumento da eficiência econômica. In: GOTTSCHALL, C. S.;SILVA, J. L. S (Eds.). Anais do XI Ciclo de palestras em produção e manejo de bovinos.(Canoas, Brasil). pp.7-34, 2006.GOTTSCHALL, C. S. Suplementação animal em pastagens: manejo, produtividade ecustos de produção. In: GOTTSCHALL, C. S.; SILVA, J. L. S (Eds.). Anais do XI Ciclode palestras em produção e manejo de bovinos. (Canoas, Brasil). pp.57-91, 1999b.GOTTSCHALL, C. S. Impacto nutricional na produção de carne – curva de crescimento.In: LOBATO J. F. P.; BARCELLOS J. O. J.; KESSLER, A.M. (Eds.). Produção de bovinosde corte. Porto Alegre: PUCRS, pp.169-192, 1999a.HECK I. et al. Suplementação com diferentes níveis de silagem de milho para vacas dedescarte de diferentes grupos genéticos submetidas ao pastejo. Ciência Rural. 36: 203-208, 2006.LANNA, D. P.; FOX, D. G.; TEDESCHI, L. O. Exigências nutricionais de gado de corte:o sistema NRC. In: Anais do Simpósio sobre produção intensiva de gado de corte(Campinas, Brasil). pp.138-167,1998.LOPES, M. A.; MAGALHÃES, G. P. Rentabilidade na terminação de bovinos de corteem confinamento: Um estudo de caso em 2003, na região oeste de Minas Gerais. Ciênc.agrotec. 29: 1039-1044, 2005.PACHECO, P. S. et al. Avaliação econômica da terminação em confinamento de novilhosjovens e superjovens de diferentes grupos genéticos. Revista Brasileira de Zootecnia.35: 309-320, 2006.PASCOAL, L. L.; RESTLE J.; ROSO C. Desempenho e economicidade da suplementaçãoem pastagem. In: Restle J. (Ed.) Confinamento, pastagens e suplementação para pro-dução de bovinos de corte. Santa Maria: UFSM. p.62-84., 1999.PERES, A. A. C. et al. Análise econômica de sistemas de produção a pasto para bovinosno município de Campos dos Goytacazes-RJ. Revista Brasileira de Zootecnia, Viçosa-MG, v.33, n.6, nov./dez. 2004.

Page 22: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

101Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008

RESTLE, J. et al. Substituição do grão de sorgo por casca de soja na dieta de novilhosterminados em confinamento. Revista Brasileira de Zootecnia, Viçosa-MG, V.33, p.1009-1015, 2004.RESTLE, J.; VAZ, F. N. Eficiência e qualidade na produção de carne bovina. In: REU-NIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRADE ZOOTECNIA, 40., 2003, Santa Ma-ria. Anais... Santa Maria: Sociedade Brasileira de Zootecnia, 2003. 34p.ROCHA, M. G. Suplementação a campo de bovinos de corte. In: LOBATO, J. F. P.;BARCELLOS, J. O. J.; KESSLER, A. M. (Eds.). Produção de bovinos de corte. PortoAlegre: PUCRS. pp.77-96., 1999.ROCHA, M. G.; RESTLE, J.; PILAU, A.; SANTOS, D. T. Produção animal e retornoeconômico da suplementação em pastagem de aveia e azevém. Ciência Rural. 33: 573-578, 2003.SAMPAIO, A. A. M. et al. Comparação de sistemas de avaliação de dietas para bovinosno modelo de produção intensiva de carne. Suplementação do pasto para vacas naestação seca. Revista Brasileira de Zootecnia, v.30, n.4, p.1287-1292, 2001.SANT’ANA, D. M.; SANTOS, R. J. Tecnologias e competitividade dos sistemas de pro-dução: existem oportunidades? In: GOTTSCHALL, C. S.; SILVA, J. L. S. (Eds.). Anais doXI Ciclo de palestras em produção e manejo de bovinos. (Canoas, Brasil). pp.5-49, 2006.SILVA, A. C. F. et al. Recria de terneiros de corte em pastagem de estação fria sob níveisde biomassa de folhas verdes: economicidade e eficiência alimentar. Ciência Rural,v.34, n.6, p.1903-1907, Nov./Dec. 2004.SUÑE, Y. B. P. Uma análise da comercialização de bovinos para abate no Estado doRio Grande do Sul. Porto Alegre: UFRGS, 2005. 123f. Dissertação (Mestrado) – Univer-sidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2005.TORRES Jr. A. Formação e composição do preço da carne bovina. In: PATIÑO, H. O.;MEDEIROS, F.S. (Eds.). 1º Simpósio da carne bovina: Da produção ao mercado con-sumidor. Porto Alegre: Ed. UFRGS, 2003, p.209-226.

Recebido em: dez. 2007 Aceito em: abr. 2008

Page 23: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008102

Luciana F. Christofari é Médica Veterinária, DSc., Bolsista de Pós-Doutorado CNPq, Núcleo de Estudos emSistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (NESPRO), UFRGS.Yara B. P. Suñé é Engª Agrônoma, MSc., Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Cortee Cadeia Produtiva (NESPRO), UFRGS.Júlio O. J. Barcellos é Médico Veterinário, DSc., Prof. Adjunto – Dep. de Zootecnia, Núcleo de Estudos emSistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (NESPRO), UFRGS.Bolsista CNPq.Ênio R. Prates é Engº Agrônomo, DSc., Prof. – Dep. de Zootecnia, Núcleo de Estudos em Sistemas deProdução de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (NESPRO), UFRGS.Ricardo P. Oiagen é Médico Veterinário, MSc., Doutorando PPG-Zootecnia, Núcleo de Estudos em Sistemasde Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (NESPRO), UFRGS.

Endereço para correspondência: Faculdade de Agronomia, Departamento de Zootecnia – UniversidadeFederal do Rio Grande do Sul. Av. Bento Gonçalves, 7712, Bairro Agronomia, Porto Alegre, RS.

Análise do sistema de comercializaçãoe do abate de bovinos no estado do Rio

Grande do Sul: um estudo de caso

Luciana F. ChristofariYara B. P. Suñé

Júlio O. J. BarcellosÊnio R. Prates

Ricardo P. Oiagen

RESUMOO objetivo do trabalho foi analisar o comportamento do abate de bovinos a partir de

348.739 animais abatidos no frigorífico Mercosul, Bagé – RS, no período de setembro de 2003a agosto de 2004. Ao comparar os dados em estudo com os dados de abate do IBGE e doMAPA, estes representam 62,5% e 28,4% do total abatido, respectivamente. Os resultadosdemonstram que os fenômenos de safra e entressafra não são mais observados, inclusive comuma alta concentração de abates nos meses de inverno, identificando claramente a introdução demelhorias nos sistemas de engorda. Aumento no número de fêmeas abatidas e maiores pesos decarcaça também são resultados relacionados com mudanças tecnológicas nas criações. Comrelação ao sistema de compra pelo frigorífico é observado que a maior parte dos animais sãocomprados a rendimento, o que reflete uma compra em busca de melhor qualidade. No períodoanalisado foi observado o baixo preço do boi recebido pelo produtor, sendo considerado um dosprincipais limitantes para à manutenção e evolução tecnológica da bovinocultura de corte.

Palavras-chave: Cadeia produtiva da carne bovina. Sistemas de produção. Abate de bovinos.

System commercialization and beef cattle for slaughter analysisin the state of Rio Grande do Sul: a case study

ABSTRACTThis work aimed to analyze the behavior of slaughters of 378,739 beef cattle realized in

the Mercosul – Bagé, of state Rio Grande do Sul in the period from September 2003 to August

n.2v.5Veterinária em Foco jan./jun. 2008p .102-120Canoas

Page 24: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

103Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008

2004. When comparing the data in study with the data of IBGE and of the MAP, theserepresent 62.5% and 28.4% of the abated total, respectively. The results show that the formerseasonal slaughter does not occur anymore, with slaughters being even more frequent during thewinter months, which indicates improvements in rearing. The increase in female slaughters andgreater carcass weights can also be related to technological changes in the production systems.The acquirement criteria by the slaughterhouses favor yield and quality. Beef prices were downduring the period concerned limiting technology improvements and maintenance of this sector.

Keywords: Productive chain of the bovine meat. Production systems. Slaughters ofbeef cattle.

INTRODUÇÃOO agronegócio atualmente é responsável por 29% do PIB nacional e,

aproximadamente 12,5% deste total corresponde à cadeia produtiva da carne bovina(CEPEA, 2004). Isto é devido ao fato do Brasil apresentar o maior rebanho comercial domundo, sendo constituído de 167 milhões de cabeça. O Brasil consolidou-se em 2003como o maior exportador mundial de carnes. Foram produzidas 7,629 milhões detoneladas de equivalente carcaça, sendo exportados 15,8% da produção, gerandorenda de aproximadamente 1,5 bilhões de dólares. O restante, representando 84,2% daprodução, foi absorvido pelo mercado interno, demonstrando a grande importânciadeste segmento para a pecuária brasileira (ANUALPEC, 2004).

A pecuária de corte brasileira, numa análise retrospectiva, era caracterizada peloatraso, resistência às inovações tecnológicas e gestão arcaica, o que marcounegativamente a atividade ao longo de várias décadas. Contudo, a bovinocultura decorte contrapõe-se fortemente a essa situação e passa a utilizar importantes inovaçõesna gestão e no uso de tecnologias (BARCELLOS et al., 2004). A convivência com aestagnação da pecuária deve-se ao fato do efetivo bovino ter servido de reserva decapital durante a época de inflação, além de ter sido o principal instrumento deconsolidação das fronteiras agrícolas do país, baseado no modelo de exploraçãoextensiva e alicerçada no grande fluxo do fator terra.

Por outro lado, a quebra de paradigmas pelos produtores resultou no aumentosignificativo na taxa de desfrute da pecuária brasileira, saindo de um patamar de 16%na década de 1980 para de 24% no início dos anos 2000. Estes aumentos são devidosao incremento dos índices de produtividade, no entanto, ainda são inferiores aos dospaíses de pecuária mais desenvolvida que se situam acima dos 32%. No Rio Grande doSul, conforme Barcellos et al. (2003) o aumento nos índices de produtividade sãorepresentados pela diminuição na idade ao primeiro acasalamento, na idade de abate epelo aumento na taxa de natalidade. Considerações realizadas por Fürstenau (2004)também evidenciam a modernização da pecuária brasileira nos últimos anos emcontraposição aos baixos índices zootécnicos das estatísticas oficiais.

Esses aumentos nos índices produtivos resultaram da aplicação de tecnologias deprocessos. Na cria, muitos trabalhos foram conduzidos a fim de diminuir a idade deacasalamento e aumentar as taxas de prenhez. Técnicas de manejo nutricional pré e pós-

Page 25: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008104

parto, ajuste de carga, adequação da temporada de monta, desmame antecipado e desmameprecoce foram amplamente difundidos para aumentar a eficiência na cria e recria.

Na recria e terminação no Rio Grande do Sul, problemas relacionados com aestacionalidade da produção de forragem acabavam por ocasionar grandes perdas depeso durante o período hibernal, quando as pastagens nativas não expressam seupotencial produtivo. Como forma de amenizar estes períodos, muitos trabalhos têmmostrado a diminuição desta estacionalidade de produção com a introdução de práticasde manejo. Dentre as tecnologias mais usadas se destacam: o ajuste de carga, introduçãode pastagens cultivadas, suplementação a campo e confinamento. A implementaçãodestas tecnologias teve como resultado a obtenção de uma matéria prima de melhorqualidade à indústria frigorífica, além da redução da capacidade ociosa das plantas,através de uma oferta mais constante ao longo do ano.

Diante disso, o presente artigo tem como objetivo fazer uma análise dos dadosdos bovinos abatidos no maior frigorífico do Estado do Rio Grande do Sul, e obtercaracterísticas dos animais ofertados, de modo que, com estes resultados possa seidentificar melhor o mercado da carne bovina.

MATERIAL E MÉTODOSO trabalho foi realizado a partir da avaliação do banco de dados do Frigorífico

Mercosul Ltda.1 que é uma empresa de capital fechado, com o início das suas atividadesem 1972 em Mato Leitão – RS. A partir de setembro de 1998, começou o projeto deexpansão, sendo que atualmente a empresa conta com plantas industriais localizadasnos municípios de Bagé, Alegrete, Capão do Leão, Mato Leitão e Pelotas. Possui umquadro de 2.610 colaboradores e é o maior frigorífico do Rio Grande do Sul em volumede abates de bovinos.

Os dados analisados são referentes ao abate nas quatro plantas frigoríficas:Capão do Leão, Mato Leitão, Bagé e Alegrete no período de setembro de 2003 a agostode 2004 e compreendem 348.739 bovinos abatidos a rendimento e a peso vivo queequivale a 32.307 lotes (estes valores representam 62,5% e 28,4% do total de animaisabatidos segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE e Ministérioda Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA). Cada lote representa uma operaçãode compra de animais pelo frigorífico. Os dados foram disponibilizados em um arquivoeletrônico contendo as informações referentes à data de compra (a partir da data deentrada dos animais), sistema de compra2 (peso vivo ou rendimento), número de animais

1 Rua Anselmo Garrastazu, S/Nº, Vila Industrial. CEP: 96400-570 – Bagé/RS. Fone: (53) 240.5700 / Fax: (53)240-5721. E-mail: [email protected] Tradicionalmente, a compra de bovinos realizada no Rio Grande do Sul se dá através de dois sistemas depagamento. A peso vivo, quando o pecuarista recebe pelo total de quilogramas que seus animais obtiveram nomomento do embarque para o frigorífico e a rendimento de carcaça, onde o produtor recebe pelo total dequilogramas obtido após o abate dos animais. Neste sistema, os animais de melhor qualidade e melhoresrendimentos são mais bem remunerados.

Page 26: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

105Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008

(número de animais por praça de compra), peso (expresso em quilogramas), preço(expresso em dólar3 ) e sexo (machos ou fêmeas).

Foi usada a análise estatística descritiva dos dados, devido ao grande número deanimais, sendo utilizada a média como principal medida de tendência central. Os dadosbrutos foram organizados em tabelas e distribuídos por freqüências. Obtidas estasfreqüências foram construídos gráficos para melhor visualização dos resultados.

RESULTADOS E DISCUSSÕESOs dados de abate do Frigorífico Mercosul (348.739 cabeças) quando comparados

com os dados de abate do IBGE (1.748.000 animais) e do MAPA (795.000 animais) parao Estado do Rio Grande do Sul, são representativos da população em análise. O rebanhogaúcho é formado por aproximadamente 14.731.138 cabeças (IBGE, 2004), entretanto,deve ser salientado que deste efetivo ao redor de 75% constituem as criações comaptidão para carne (bovinos de corte) e 25% do rebanho é especializado para leite(bovinos de leite). Portanto, qualquer análise sobre a bovinocultura de corte deve serrealizada a partir de um efetivo de aproximadamente 11.000.000 de cabeças. Destemodo, o desfrute de 25,4% (ANUALPEC, 2004) refere-se unicamente a fração dosanimais de corte, o que reflete um total de 2.794.000 bovinos abatidos anualmente.Assim, os dados de abate do IBGE e do MAPA representam 62,5% e 28,4% do totalabatido pelo frigorífico, respectivamente. Evidentemente, que sobre o total de bovinosabatidos a representatividade é menor, mas ainda reflete o perfil do rebanho gaúchoenvolvido na produção de carne. Um levantamento realizado por Pascoal (2004),avaliando a compatibilidade das informações de várias fontes estatísticas, referentesao rebanho do Rio Grande do Sul, encontrou uma discrepância significativa entre elas,sendo clara a ocorrência de problemas no registro de informações como: abateclandestino, falta de controle das inspetorias veterinárias, mortalidade, consumo nasfazendas, entre outros, que fazem com que não se tenha estatística confiável paramelhores comparações com a população objeto de estudo.

Distribuição mensal dos abatesAo comparar o número de animais abatidos pelos dados do IBGE e MAPA para o

período de setembro de 2003 a agosto de 2004, no Estado, se observa a mesma distribuiçãomensal para o Frigorífico Mercosul, demonstrando que a população estudada érepresentativa da população bovina abatida no Rio Grande do Sul (Figura 1).

Analisando a distribuição ao longo do período estudado, observa-se um abatemelhor distribuído, com picos em março e agosto (Figura 1) verificando que a

3 Valores em reais convertidos para dólar na data de compra, conforme cotação mensal do Banco Central doBrasil.

Page 27: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008106

estacionalidade de produção que historicamente ocorria no Estado, caracterizada pelasépocas de safra (abril e maio) e entressafra (julho, agosto) está sendo diminuída e outrospicos de produção, diferentes dos tradicionais, estão sendo observados. O sistema deprodução do Rio Grande do Sul tem como base alimentar o campo nativo que é composto,principalmente, por espécies subtropicais de ciclo estival, podendo na primavera-verãoproduzir ganhos nos animais de até 1,0 kg por dia (CAGGIANO FILHO et al., 1987;NABINGER, 2002). Entretanto, no período de outono e inverno, ocorre um déficit naprodução de forragem, determinando perdas de peso vivo que comprometem todo odesenvolvimento do animal (DEL DUCA; SALOMONI, 1987; MARASCHIN, 1998;MARASCHIN, 1999). Esta estacionalidade de produção determinava a maior oferta deanimais nas épocas subseqüentes dos picos de produção de campo nativo (março amaio) chamados de safra, assim como, na época de menor produção forrageira (junho,julho, agosto), havia a escassez de oferta de animais para abate, a entressafra. A introduçãode pastagens melhoradas de clima temperado surgiu como alternativa para suprir asdeficiências no período de carência alimentar (inverno), reduzindo a sazonalidade deprodução de forragem, com os efeitos conhecidos na produção animal (REID; JUNG,1981; QUADROS; MARASCHIN, 1987; RESTLE et al., 1999) Somente produtores comalguma tecnologia destinada aos sistemas de engorda abatiam animais nesta época(entressafra) e obtinham um melhor preço (ANUALPEC, 2004).

As pequenas flutuações nos abates ao longo do período estudado (Figura 1)podem vir resultando do aumento na adoção de novas tecnologias de alimentação,direcionadas aos animais em terminação (RESTLE; VAZ, 1997). Assim é observado ocrescimento da participação de animais produzidos em sistemas de engorda maisintensivo, como semi-confinamento e pastagens de inverno. Animais produzidos nestessistemas começam a ser abatidos a partir de agosto, explicando o pico de abate de11,7% (PÖTTER et al., 1998; BERETTA et al., 2001), sendo que a integração lavoura-pecuária, decorrente da implantação de pastagens cultivadas nas restevas de lavourade arroz e mais recente pela expansão da soja em grande parte do território gaúcho

FIGURA 1 – Distribuição mensal (%) dos animais abatidos no período de setembro de 2003 a agosto de2004 com base no Frigorífico Mercosul, IBGE e MAPA. Fonte dos dados brutos: MAPA, (2004); IBGE,

(2004); SUÑÉ, (2005).

Page 28: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

107Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008

(IBGE, 2004), fazem com que esses processos tecnológicos sejam utilizados com maisfreqüência. No caso específico da cultura da soja ocorre uma implantação de pastagensmais cedo (início do outono), logo após a “colheita”, fazendo com que os animaispassem a utilizar estes recursos alimentares no final de outono, e assim aptos para oabate em agosto, portanto antecipando 2 a 3 meses o período de comercialização.

O pico de abate referente a março, se deve a animais oriundos do campo nativo,pois no período de primavera-verão podem ser obtidos ganhos totais de peso emtorno de 100-120 kg (CACHAPUZ, 1985), pois 70% da produção de matéria seca ocorreneste período (MARASCHIN, 1999). Assim, é factível afirmar que este pico de abate érepresentado pelos sistemas menos intensivos de produção. Neste período tambéminicia um aumento na oferta de fêmeas descartadas dos rebanhos. Para os produtoresesta informação pode ser útil nos seus sistemas de produção, uma vez que não sepossui mais safra e entressafra definida, é possível fazer uma programação das vendasao longo do ano.

Distribuição mensal do abate nas últimas décadasQuando se compara as décadas de 1980, 1990 e início dos anos 2000 torna-se

evidente a diferença entre os anos, sendo que as inflexões das curvas diminuem décadaa década como pode ser observado na Figura 2. A década de 1980 apresenta umcomportamento histórico, isto é, grande oferta em abril e maio (safra) e escassez emjunho, julho e agosto (entressafra). No final da década de 1990 e início dos anos 2000ocorre uma grande redução nos picos de safra e entressafra, explicada pela adoção denovas tecnologias de produção (PÖTTER et al., 1998; BERETTA et al., 2001; EUCLIDESFILHO, 2000; BARCELLOS et al., 2004).

Esta inovação tecnológica na pecuária teve como base inicial a implementaçãodo plano real em 1994. A consolidação da economia, devido à eliminação da inflação,fez com que a adoção de tecnologias e, conseqüentemente, os aumentos nos índicesprodutivos fossem fundamentais à atividade, pois com a estabilização da moeda nãofoi mais possível o ganho através dos mercados especulativos e de ativos financeirose os sistemas de produção foram conduzidos para uma melhora da eficiência e parauma estabilidade física da produção no tempo (ORTEGA, 1998; CORRÊA, 2000;BARCELLOS, 2002).

Com uma oferta contínua durante o ano foi possível uma melhor gestão doscustos e da margem de lucro da atividade, tanto para os produtores e, principalmente,para os frigoríficos, que se habilitaram a fechar contratos maiores e mais seguros paraatender os mercados internacionais, aumentando o volume de carne exportada noâmbito nacional (EUCLIDES FILHO, 2000; NEVES et al., 2001; NEHMI FILHO, 2004).Deste modo, os dados deste trabalho (referentes aos dados do frigorífico Mercosul)refletem claramente o perfil de produção e oferta de animais para o abate de um modoplanejado, ainda que ocorram pequenas flutuações, em geral atribuídas a fatoresclimáticos ou conjunturais do setor.

Page 29: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008108

Peso de carcaça e mês de abate nas últimas décadasA Figura 3 mostra as médias mensais de peso das carcaças4 de animais nas

décadas de 1980, 1990 e 2000 do MAPA e de setembro de 2003 a agosto de 2004 doFrigorífico Mercosul.

FIGURA 2 – Distribuição mensal (%) do abate anual de bovinos nas décadas de 1980, 1990 e 2000 (valoresmédios de cada década), segundo dados do IBGE e MAPA e de setembro de 2003 a agosto de 2004 no

Frigorífico Mercosul. Fonte dos dados brutos: MAPA, 2004; IBGE, 2004; SUÑÉ, 2005.

170

180

190

200

210

220

230

240

Mês

kg

Década 80 201 213 215 210 205 212 214 217 212 202 196 202

Década 90 216 222 221 221 220 220 229 229 232 219 216 218

Década 00 222 222 224 225 222 219 222 225 222 221 218 220

Mercosul 219 220 219 215 220 222 219 221 217 220 222 226

Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago

FIGURA 3 – Médias de peso de carcaça nas décadas de 1980, 1990, 2000 (valores médios de cadadécada) segundo o MAPA e de setembro de 2003 a agosto de 2004 no Frigorífico Mercosul. Fonte dos

dados brutos: MAPA, (2004); SUÑÉ, (2005).

4 Carcaça: animal abatido, desprovido de couro, patas, cabeça, chifres, vísceras torácicas e abdominais econteúdo do trato digestório. Em geral, para um bovino de 500 kg de peso vivo na fazenda, a sua carcaça teriaum peso de aproximadamente 250 kg.

0,0

5,0

10,0

15,0

Mês

%

Década 80 5,0 6,1 7,6 8,9 8,6 6,8 10,2 12,4 13,9 10,1 5,7 4,8

Década 90 7,7 9,2 9,4 9,4 8,0 7,2 9,2 9,4 9,5 7,9 6,4 6,8

Década 00 7,5 9,5 8,4 8,3 8,0 7,5 8,8 8,8 8,3 7,9 8,2 8,7

Mercosul 7,1 7,9 6,8 7,2 7,0 7,3 10,0 8,7 7,7 9,2 9,4 11,7

Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago

Page 30: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

109Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008

Ao analisar a média de peso das carcaças nas 3 últimas décadas, se observa umaumento significativo nos pesos médios de abate na década de 1990 (222 kg) comparadoa década de 1980 (208 kg). Na década de 2000 se observa um peso médio de abatepraticamente constante, com média anual de 222 kg, sendo que nos dados obtidosneste trabalho é observado o mesmo comportamento, tendo uma média anual de 220kg. Isto comprova que há um peso de abate praticamente constante ao longo do ano,evidenciando que além de não ocorrer mais uma safra e entressafra característica,existe um padrão de peso dos animais abatidos no estado, decorrente da introdução desistemas alimentares mais adequados e evoluídos.

Como a condição para o animal ser abatido é uma combinação de peso eacabamento (quantidade de gordura), os novos sistemas de engorda mantiveramestes parâmetros dentro de certos limites determinados pelo mercado, porém comuma alteração no período de tempo para alcançá-lo (BYERS; SCHELLING, 1988; DIMARCO, 1993; LUCHIARI FILHO, 2000; ARBOITTE et al., 2004). Na década de 1980era comum os animais serem abatidos com até 60 meses, fato que na década de 2000já não ocorre mais, devido a adoção de novas tecnologias, sendo a média de abateaos 24-36 meses.

Outro fator de suma importância é a mudança ocorrida no padrão genéticodos animais abatidos no estado. Os cruzamentos e o surgimento das raças sintéticastiveram seus trabalhos iniciados nas décadas de 1950 e 1960 e seus principaisresultados foram observados nas décadas de 1970 e 1980. Porém, foi na década de1990 com a difusão da tecnologia de inseminação artificial e a boa aceitação destapelos produtores, que os resultados foram mais expressivos. Deste modo, o perfildas criações foi modificado pela grande participação de animais zebuínos pelosmétodos de cruzamentos. Isto resultou na boa adaptabilidade às condições, nemsempre favoráveis do ambiente, e no aumento no peso de carcaça dos animaisabatidos na década de 1990 (LOBATO et al.,1999; LOBATO, 2003; LEAL, 2003;BARCELLOS et al., 2004).

Sistema de compra praticado pelo frigorífico segundo o mês deabateOs sistemas de compra, feitos pelos frigoríficos, podem ser a rendimento5 ou a

peso vivo. Os frigoríficos tendem a comprar a rendimento, alegando que pagam o querealmente interessa, a carne, enquanto os produtores tendem a vender a peso vivo,pois ainda há discussões a respeito das porcentagens de rendimento apresentadaspelos frigoríficos (ABIEC, 2004) .

5 A rendimento: o produtor recebe o valor relativo aos quilogramas de carcaça quente produzidos pelos seusanimais abatidos.

Page 31: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008110

Atualmente, o Frigorífico Mercosul possui o sistema de compra qualificada, divididoem classes6 conforme parâmetros de conformação pré-estabelecidos, evitando a compra apeso vivo. No total dos animais abatidos no Frigorífico Mercosul, 82,3% são comprados arendimento e 17,7% a peso vivo. Esta compra qualificada foi implantada a partir de agostode 2003, e os reflexos da diminuição da compra a peso vivo já são observados de outubroem diante (Figura 4), tendo períodos de grande pico da compra a rendimento (janeiro,fevereiro, março, abril de 2004). No entanto em maio, junho e julho ocorre um discretoaumento na compra a peso vivo, embora, significativamente abaixo da compra a rendimento.

Provavelmente este novo aumento na compra a peso vivo pode ser decorrenteda pequena redução da oferta percebida em maio. É observado que à medida que aoferta novamente tem um pico em agosto, a compra a rendimento passa a ser o sistemapredominante. Este comportamento era muito comum nas épocas de safra e entressafra,pois é sabido que na época de safra, devido ao maior volume de animais ofertados, osfrigoríficos determinavam o sistema de compra, já no período de entressafra, compouca matéria-prima disponível o produtor escolhia a forma que iria vender. Não foramobservadas diferenças nos sistemas de compra ao longo do ano para machos e fêmeas,tendo a mesma tendência para ambos os sexos.

0,0

5,0

10,0

15,0

Mês

%

% R 3,7 5,9 4,8 5,1 6,2 6,8 9,4 8,0 6,1 7,5 8,1 10,7

% PV 3,4 2,0 2,0 2,1 0,8 0,5 0,6 0,7 1,6 1,7 1,3 1,0

%Total 7,1 7,9 6,8 7,2 7,0 7,3 10,0 8,7 7,7 9,2 9,4 11,7

Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago

FIGURA 4 – Percentual de abate anual a peso vivo (PV) ou a rendimento (R) no Frigorífico Mercosul. Fontedos dados brutos: SUÑÉ, (2005).

6 A classificação comercial do Frigorífico Mercosul remunera os animais comprados a rendimento de acordo coma classe na qual a carcaça enquadra-se, sendo que na Classe Exportação é exigida para machos de 0 – 4 dentesum peso mínimo de 220 kg e de 6 –8 dentes acima de 240 kg, para fêmeas de 0 – 8 dentes, 220 kg no mínimo;para ambos sexos a conformação deve ser C (convexa), Sc(subconvexa), Re (retilínea) ou S (subcôncava) eacabamento entre 3 (3 a 6 mm de espessura de gordura subcutânea) e 4 (6 a 10 mm). A Classe Premium reúneas carcaças oriundas de animais com maturidade entre 0 – 4 dentes e abaixo de 220kg para machos e fêmeas,além de acabamento entre 3 e 4 e conformação C, Sc, Re e S. A classe 1 é composta de carcaças de animaiscom acabamento entre 3 e 4 , conformação C, Sc, Re e S, peso abaixo de 240 kg para machos e 220 kg parafêmeas com maturidade entre 6 –8 dentes, para animais mais jovens, de 0 – 8 dentes, com o mesmo peso, oacabamento pode ser 2 (pouca gordura). Para a Classe 2, as carcaças devem prover de animais com acabamen-to 2, conformação C, Sc, Re e S, peso abaixo de 240 kg e 220 kg para machos e fêmeas respectivamente, commaturidade entre 0 a 8 dentes. Na Classe 3 entram carcaças com acabamento 1 (sem gordura) e conformaçãoCo (côncava). A remuneração acontece em grau decrescente na forma que foram listadas entre as categorias.

Page 32: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

111Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008

A venda a peso vivo não relaciona as características de carcaça, sendo ummétodo não preciso da composição da carcaça, tanto para criadores, como para aindústria frigorífica (TAROUCO, 1991; FELÍCIO, 2000). Apesar de nos dados dofrigorífico Mercosul 82,3% dos animais serem abatidos a rendimento, existe umatendência do produtor (os que abastecem o Frigorífico Mercosul) de vender a pesovivo, isto porque dependendo do tipo de animal abatido, o peso vivo pode remunerarmelhor o produtor e além disto, na venda a peso vivo, no momento do embarque dosanimais já são conhecidos os valores a serem recebidos. Isto não ocorre na venda arendimento, quando os valores somente são conhecidos após o abate os animais.

Nos dados coletados, quando comparados os preços médios pagos por kg decarcaça (US$ 1,20) e por kg vivo (US$ 0,60), para que os valores nominais pagos pelosanimais sejam semelhantes, independente do sistema de compra, é necessário ter umrendimento médio de carcaça de 50% por animal, logo, animais com percentuais abaixodeste valor receberão uma remuneração menor se comparada à venda a peso vivo.

Como muitos produtores não obtêm em seus animais estes rendimentos, acabamoptando pela venda a peso vivo. Entretanto, somente atingir o rendimento igual ousuperior a 50% não assegura uma melhor remuneração do que a venda a peso vivo,pois, animais vendidos a rendimento são dependentes do sistema de tipificação feitopelo frigorífico, que conforme a classe comercial destinada haverá uma remuneraçãocorrespondente. Dentre os parâmetros avaliados somente peso vivo, peso de carcaçae sexo são objetivos, enquanto acabamento e conformação da carcaça são medidassubjetivas, que serão dependentes da experiência dos avaliadores na obtenção dasinformações no momento do abate. Assim, frequentemente são identificados conflitosnesse sistema de comercialização (FELÍCIO, 1999a; FELÍCIO, 1999b). Para que houvesseuma maior segurança nas relações entre produtores e frigoríficos seria ideal o uso demedidas mais objetivas nas avaliações das carcaças (TAROUCO, 1991).

Fêmeas abatidas conforme o mês do anoOs dados referentes ao abate de fêmeas no Frigorífico Mercosul são similares

aos do abate no estado, segundo dados do IBGE e do MAPA. Comparando ospercentuais de abate ao longo dos anos, se observa o grande aumento no número defêmeas abatidas, principalmente de fevereiro em diante, tendo o pico em maio pelosdados do Frigorífico Mercosul 03/04 (45% de fêmeas abatidas) e em abril e junho pelosdados do IBGE 03/04 (45% de fêmeas abatidas) de acordo com a Figura 5. Desde acriação do banco de dados do IBGE, que disponibiliza informações a partir de 1997,não haviam sido constatados percentuais tão altos, sendo um recorde histórico noabate de fêmeas. Nos dados do IBGE 01/02, 02/03 e 03/04 e do Frigorífico Mercosul 03/04, as médias anuais para o abate de fêmeas foram, 29%, 35%, 41% e 38%,respectivamente. Estes dados confirmam que a porcentagem de fêmeas abatidas emrelação ao total de gado comercializado teve o começo da sua escalada de alta em 2003,avançando gradativamente, mantendo uma média anual ao redor de 38% (IBGE, 2004).

Page 33: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008112

O aumento no abate de fêmeas pode ser explicado pela adoção de novastecnologias, aumentos nos índices produtivos ou necessidade de maior renda nosistema. É sabido que a idade ao primeiro acasalamento diminuiu no Rio Grande do Sul,sendo que 70% das fêmeas têm seu primeiro parto aos 3 anos (BARCELLOS et al.,2003; BARCELLOS et al., 2004). Este é um parâmetro importante, pois a maiorprodutividade por fêmea é obtida quanto mais cedo esta for acasalada (BOEWDEN,1977; PRICE; WILTBANK, 1978; PÖTTER et al., 1998; BERETTA; LOBATO, 1998,BERETTA, 1999). Quando a parição ocorre aos 48 meses, o índice de desfrute7 dorebanho fica ao redor de 10%, na medida que a parição ocorre aos 36 meses este índiceduplicará e atingirá 30% com o primeiro parto aos dois anos e o abate dos machos aos12 e 13 meses (BERETTA et al., 2001).

Outro índice zootécnico que aumentou nos últimos anos foi a taxa de natalidadedo rebanho, a qual teve um incremento de 50 para 62%. Muitas tecnologias referentesao aumento nas taxas de prenhez e, conseqüentemente, nas taxas de natalidade, foramdifundidas e utilizadas nos sistemas de produção (LOBATO; BARCELLOS, 1992;SIMEONE; LOBATO, 1996; SIMEONE; LOBATO, 1998; PÖTTER et al., 1998). A taxade reposição de um rebanho considerado estável é de 20%. Com o aumento no númerode terneiros produzidos, haverá um excedente de animais para a venda, inclusive defêmeas, além de ser feita uma pressão de seleção mais rigorosa (BARCELLOS et al.,2003; BARCELLOS et al., 2004).

O grande avanço nas áreas de agricultura pode ter contribuído para esseaumento no número de fêmeas abatidas. O bom desempenho do soja criou condiçõesfavoráveis ao início da integração agricultura-pecuária, levando o produtor a reduziro plantel de fêmeas para gerar capital necessário à sua entrada na agricultura oupara diminuir o rebanho e ampliar suas áreas de lavoura a fim de obter melhoresretornos financeiros. Produtores descapitalizados arrendaram as áreas que até

0

10

20

30

40

50

Mês

%

IBGE 01/02 27 26 28 26 28 30 27 28 30 35 32 29

IBGE 02/03 30 32 35 33 34 36 35 34 35 40 40 34

IBGE 03/04 36 37 36 36 39 43 42 45 44 45 41 43

Mercosul 03/04 32 31 30 34 38 43 43 42 45 41 37 40

Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago

7 Desfrute: é a relação entre o número de animais vendidos anualmente (%) e o rebanho total da propriedade rural.

FIGURA 5 – Abate de fêmeas (%) nos períodos 2001/02, 2002/03, 2003/04 conforme o IBGE e 2003/04 noFrigorífico Mercosul. Fonte dos dados brutos: IBGE, 2004; SUÑÉ, 2005.

Page 34: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

113Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008

então eram destinadas à pecuária, para lavoura, pois a rentabilidade da atividadepecuária, em especial a cria, com margens de lucro muito pequenas, tornou muitodifícil o negócio, forçando a saída de muitos criadores da atividade. Porém, outrosprodutores viram na vaca de descarte uma oportunidade de negócio, por seu altopotencial de acumular peso a baixo custo e em pouco tempo, proporcionando umgiro rápido de capital (BARCELLOS et al., 2003; BARCELLOS et al., 2004; NEHMIFILHO, 2004). Assim, um contingente considerável desta categoria animal, queantes tinha uma maior permanência no sistema, agora sofreu uma engorda rápida eteve o destino do abate.

Com o aumento da produtividade, a tendência é que também se aumente o númerode vacas para a venda. No entanto, quando estes índices de abate de fêmeas sãocomparados nos últimos três anos, se observa que a taxa de desfrute do rebanho semanteve em torno dos 24-25%, podendo haver, no futuro, falta de matrizes. Este elevadoabate de fêmeas também pode estar ocorrendo, porque em épocas de custos crescentese de preços deprimidos, o produtor não possui o número de machos suficientes paraatender suas demandas financeiras, e, acaba comercializando matrizes para atender ofluxo de caixa e os custos de produção. Apesar dos elevados números de abate emrelação aos números históricos, principalmente quando comparados com as décadasde 1980 e 1990, estes números são compatíveis em rebanhos que possuem índices deprodutividade mais elevados (RADOSTITS et al., 1994; BARCELLOS et al., 2003;BARCELLOS et al., 2004; TORRES; ROSA, 2003).

O excesso de oferta das fêmeas repercutiu negativamente nos preços comoobservado na Figura 6.

1,00

1,10

1,20

1,30

1,40

1,50

Mês

U$/

kg d

e ca

rcaç

a

MACHOS 1,21 1,21 1,19 1,26 1,26 1,20 1,18 1,14 1,13 1,17 1,21 1,20

FÊMEAS 1,13 1,14 1,13 1,21 1,19 1,10 1,08 1,04 1,02 1,05 1,10 1,09

Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago

11 %

3,8%

FIGURA 6 – Preços pagos pelo kg de carcaça para vacas e bois e diferença (%) mínima e máxima noperíodo de 2003/04 no Frigorífico Mercosul. Fonte dos dados brutos: SUÑÉ, (2005).

Page 35: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008114

A evolução comparativa das cotações do kg de carcaça do boi (US$ 1,20) e davaca gorda (US$ 1,11), segundo dados do Frigorífico Mercosul, demonstra que a partirde maio a diferença entre as duas categorias chegou a 11 %, sendo considerada dentroda média histórica (10%). O mês de maio é caracterizado historicamente por ser o mêsde maior abate de fêmeas, sendo a época de descarte das mesmas. A partir do diagnósticode gestação, as vacas são separadas em prenhes ou vazias, as vazias são destinadasao abate, tendo sua engorda inicial ainda em campo nativo durante o outono – inverno.Este tipo de produto tem como destino o abastecimento do mercado interno, queaumentou sua demanda devido aos melhores índices da economia brasileira,promovendo um ligeiro aquecimento das vendas de carne no atacado. Além disso, ospequenos frigoríficos preferem o abate de fêmeas por proporcionarem uma margem delucro maior (TORRES; ROSA, 2003).

No mês de dezembro se observa a menor variação ao longo do período estudado3,8%, sendo também inferior quando comparada a outros anos onde a média foi de 8%.Isto ocorre, porque nos meses de dezembro e janeiro há uma demanda maior de fêmeasno Rio Grande do Sul, devido ao hábito de consumo da população regional. Alémdisso, as fêmeas abatidas em dezembro, oriundas de pastagens cultivadas, sãoteoricamente de melhor qualidade do que aquelas abatidas a partir de março,provenientes de campo nativo sem o mesmo padrão de acabamento (MULLER; PRIMO,1986; LUCHIARI FILHO, 2001). Deste modo, nos meses de dezembro e janeiro, aqualidade das vacas aproxima-se da qualidade do boi, refletindo-se em menoresdiferenças nos preços pagos pelos frigoríficos entre as duas categorias (BARCELLOSet al., 2003; BARCELLOS et al., 2004).

Mês de abate e preço pago ao produtorOs resultados obtidos comprovam o processo de reformulação que a pecuária

vem sofrendo nos últimos anos. A redução na sazonalidade de produção, pesos decarcaça mais constantes ao longo do ano, aumento na venda a rendimento para osfrigoríficos, entre outros demonstram que os ganhos de produtividade são notórios etêm sido fundamentais para atender ao crescimento da demanda no mercado externo einterno (CORRÊA, 2000; ORTEGA 1998; NEHMI FILHO, 2004).

No entanto, analisando a Figura 7, se observa que ao mesmo tempo em que apecuária vem se modernizando, os preços pagos ao produtor estão decrescendo,evidenciando o difícil momento que vive a pecuária gaúcha. Comparando as médias depreço do kg do boi, fornecidos pelo IBGE para os períodos de 1995/96, 2000/01, 2003/04 e pelo Frigorífico Mercosul (2003/04) nota-se valores de US$ 0, 84, US$ 0,62, US$0,58 e US$ 0,60, respectivamente. Deve ser salientado que o preço histórico nas últimasdécadas tem sido US$ 0,72 por kg de peso vivo de boi.

Page 36: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

115Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008

Dados do Brasil Central demonstram que o preço de venda da arroba entre 1997e 2003 decresceu em 32,5% enquanto os custos de produção tiveram um significativoaumento. Barcellos et al. (2004) analisando os custos de tecnologias no Rio Grande doSul, para intensificar a produção na bovinocultura de corte, observou um aumentoconsiderável nos custos de produção. Ao comparar os períodos de 1997-2000 e 2001-2004, para a adoção de desmame precoce, redução da idade ao acasalamento de 24 para14 meses, redução do abate de 36 para 24 meses e de 24 meses para 18 meses, obteveum aumento nos custos de 39%, 25%, 40% e 47%, respectivamente. Pesquisa maisrecente, feita pela CNA (2005), indica que em todas as regiões produtoras de carne noBrasil, apresentaram grande acréscimo também nos custos de produção, a mão de obrae suplementação mineral, que participam com 36% dos custos totais, aumentaram 8,3%e 13,3%, respectivamente. De outra parte, cercas e máquinas agrícolas subiram mais de20%. Portanto, todos os itens de produção estratégicos à pecuária de corte tiveramuma majoração de preços acima do valor do quilograma do boi.

Em tese, os ganhos por produtividade deveriam ser suficientes para compensara perda da rentabilidade da atividade, provocada por custos crescentes e pelaincapacidade dos pecuaristas transferirem os aumentos de custos aos preços finais,acarretando perdas nas relações de troca da carne bovina com os principais insumosutilizados na pecuária.

Problemas relacionados com “status” sanitário do Estado, centralização do abateem poucas plantas processadoras, concentração do varejo, concentração do setor deinsumos e a falta de coordenação da cadeia produtiva, podem ser as possíveis causasdos baixos preços recebidos (BARCELLOS et al., 2004). Apesar do aumento dasexportações, o volume de carne exportada ainda é pequeno e o Rio Grande do Sul nãoatingiu ainda os mercados que remuneram melhor. Para que o mercado interno pague

0,40

0,60

0,80

1,00

1,20

Mês

US$

MERCOSUL 03/04 0,61 0,61 0,61 0,64 0,64 0,60 0,57 0,56 0,56 0,58 0,61 0,62

IBGE 03/04 0,61 0,60 0,59 0,64 0,64 0,59 0,55 0,52 0,52 0,55 0,58 0,57

IBGE 95/96 0,82 0,95 0,96 1,06 0,67 0,75 0,84 0,75 0,73 0,82 0,90 0,83

IBGE 00/01 0,73 0,69 0,64 0,64 0,69 0,65 0,62 0,59 0,54 0,53 0,56 0,57

Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago

FIGURA 7 – Preço do kg vivo do boi segundo o IBGE e no Frigorífico Mercosul. Fonte dos dados brutos:IBGE, (2004); SUÑÉ, (2005).

Page 37: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008116

melhores preços, será necessária uma melhor qualidade da carne produzida, assimcomo, estratégias de “marketing” e de produtos certificados que agreguem valor aoproduto conquistando os consumidores de maior poder aquisitivo e dispostos a pagarpela diferença (LAZZARINI et al., 1996; FAVARET Fº; PAULA, 1997). É importante queo setor se articule para reverter este quadro, de forma a reduzir custos e promover umcrescimento mais equilibrado entre os elos da cadeia produtiva. Iniciativas de algumasredes de varejo e de frigoríficos demonstraram a percepção para esta realidade eaproveitaram a oportunidade ampliando suas margens de lucro. Porém o setor sópoderá manter a força propulsora do crescimento por meio de uma distribuição maiseqüitativa dos ganhos aos agentes da cadeia produtiva (NEVES et al., 2001;BARCELLOS, 2002; FERREIRA; BARCELLOS, 2001).

A combinação dos custos de produção em alta e preços em baixa provoca perdade margens ao segmento de produção, gerando desestímulos à manutenção dosinvestimentos dos pecuaristas na atividade. Embora, o objetivo deste trabalho nãoseja abordar as questões relativas à formação dos preços ao longo da cadeia, é possívelafirmar a partir dos dados da literatura, que está ocorrendo uma queda nas margens delucro no segmento dentro da porteira. Caso não haja uma recuperação na renda dosprodutores, poderá haver uma queda na produção de animais para os próximos anos,comprometendo o desempenho das exportações e elevando os preços aosconsumidores finais no mercado interno. Desta forma, todo o avanço conquistado nosúltimos anos poderá ser perdido (MUSTEFAGA, 2004).

CONCLUSÕESCom os resultados deste trabalho é possível verificar a evolução da pecuária

gaúcha nos últimos anos, pois a diminuição na sazonalidade de oferta, o aumento doabate de novilhos jovens e a obtenção de pesos de carcaças mais altos, somentepodem ser obtidos com a adoção de tecnologias de insumos e de processos em todasas etapas de produção cria, recria e terminação.

O sistema de comercialização vem mudando rapidamente, predominando a comprade animais a rendimento pelo frigorífico, como forma de valorizar animais de melhorqualidade. Neste cenário, os produtores foram aderindo ao sistema na substituição datradicional venda a peso vivo.

Com o avanço tecnológico, ocorreu um aumento na taxa de nascimentos, o quetem permitido aos produtores comercializarem um maior efetivo de fêmeas. Contudo,isto também pode estar associado à queda de preços recebidos pelos produtores oque exige um maior desfrute do rebanho.

No período analisado é demonstrada claramente a queda do preço recebido peloprodutor comparado com os anos 1990. Por outro lado, identifica-se uma flutuaçãomínima ao longo do ano, o que possibilita um melhor planejamento dos investimentosem melhorias tecnológicas.

Page 38: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

117Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008

REFERÊNCIASANUALPEC. Anuário da pecuária brasileira. São Paulo: Argos, 2004. 400p.ARBOITTE, M. Z. et al. Características da carcaça de novilhos 5/8 nelore-3/8 charolêsabatidos em diferentes estádios de desenvolvimento. Revista da Sociedade Brasileirade Zootecnia, Viçosa, v.33, n.4, p.969-977, 2004.ABIEC – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS IMPORTADORES E EXPORTADORES DECARNE. Estatísticas. Disponível em: <www.abiec.com.br/abiec>. Acesso em: 11 out. 2004.BARCELLOS, J. O. J. et al. Crescimento de fêmeas bovinas de corte aplicado aossistemas de cria. [S.l. : s.n.], 2003. (Publicação Ocasional, 1).BARCELLOS, J. O. J. et al. Bovinocultura de Corte frente a Agriculturização no Sul doBrasil. In: XI CICLO DE ATUALIZAÇÃO EM MEDICINA VETERINÁRIA, 11., Lages,2004. Anais... Lages: Centro Agroveterinário de Lages, 2004.BARCELLOS, M. D. Processo decisório de compra de carne bovina na cidade dePorto Alegre. 2002. 169f. Dissertação (Mestrado – Agronegócios) – Programa de Pós-Graduação em Agronegócios, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Ale-gre, 2002.BERETTA, V.; LOBATO J. F. P. Sistema “um ano” de produção de carne: avaliação deestratégias alternativas de alimentação de novilhas de reposição. Revista da Socieda-de Brasileira de Zootecnia, Viçosa, v.27, n.1, p.157-163, 1998.BERETTA, V. Avaliação bioeconômica de sistemas de produção de gado de corte noRio Grande do Sul. 1999. 208f. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-Graduação emZootecnia, Faculdade de Agronomia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, PortoAlegre, 1999.BERETTA, V.; LOBATO, J. F. P.; MIELITZ NETTO, C. G. A. Produtividade e eficiênciabiológica de sistemas pecuários de cria diferindo na idade das novilhas ao primeiroparto e na taxa de natalidade do rebanho no Rio Grande do Sul. Revista da SociedadeBrasileira de Zootecnia, Viçosa, v.3, n.4, p.1278-1286, 2001.BOWDEN, D. M. Growth, reproductive performance and fees utilization of F1 crossbredheifers calving as 2-years-olds. Journal of Animal Science, Champaign, v.44, n.5, p.872-882, 1977.BYERS, F. M.; SCHELLING, G. T. Nutrition in growth. In: CHURCH, D. C. (ed.) Theruminant animal digestive physiology and nutrition. New Jersey: RESTON BOOK,1988. p. 437-447.CACHAPUZ, J. M. Alternativas para aumentar a produção de terneiros. Porto Ale-gre: Emater-RS, 1985. 11p.CAGGIANO FILHO, P. et al. Métodos de utilização de pastagem cultivada de invernona suplementação do campo natural. Coletânea de Pesquisas de Gado de Corte, Bagé,v. 2, p. 11-19, 1987.CEPEA – CENTRO DE PESQUISAS ECONOMICAS AVANÇADO. Escola Superior deAgricultura Luiz de Queiroz da USP. Notícias. Disponível em <www.cepea.esalq.usp.br>.Acesso em: 11 out. 2004.CNA – CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA AGRICULTURA. Relações de troca – SP.Disponível em <www.cna.org.br/cna/publicaçao/noticia>. Acesso em: 26 jan. 2005.

Page 39: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008118

CORRÊA, A. N. S. C. Análise retrospectiva e tendências da pecuária de corte no Brasil.In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 37., Viçosa,2000. Anais... Viçosa: SBZ, 2000. CD trabalho 0008.DEL DUCA, L. O. A.; SALOMONI, E. Alternativas para diminuir a idade de abate denovilhos. Coletânea de pesquisas de gado de corte, Bagé, v. 2, p.217-219, 1987.DI MARCO, O. N. Crecimiento y repuesta animal. Mar del Plata: Asociación Argentinade Producción Animal, 1993.129p.EUCLIDES FILHO, K. Produção de bovinos de corte e o trinômio genótipo-ambiente-mercado. Campo Grande: EMBRAPA-CNPGC, 2000. 61p.FAVARET F°, P.; PAULA, S. R. Cadeia da carne bovina: o novo ambiente competitivo.Rio de Janeiro: BNDES, 1997.FELÍCIO, P. E. Perspectivas para a Tipificação de Carcaça Bovina. In: SIMPÓSIO IN-TERNACIONAL SOBRE TENDÊNCIAS E PERSPECTIVAS DA CADEIA PRODUTIVADA CARNE BOVINA, 1999, São Paulo. Anais... São Paulo: SIMPOCARNE, 1999a.FELÍCIO, P. E.; Uma análise crítica, porém otimista da carne bovina do Brasil centralpecuário. In: ENCONTRO NACIONAL DO BOI VERDE, 1. 1999, Uberlândia. Anais...Uberlândia, 1999b.FELÍCIO, P. E.; Qualidade da carne nelore e o mercado mundial. In: SEMINÁRIO PMGRN,9, 2000, Ribeirão Preto: GEMAC. Anais... Ribeirão Preto: USP, 2000.FERREIRA, G. C.; BARCELLOS, M. D. Desenvolvimento de marca em carne bovina: umcaminho para diferenciação. In: INTERNATIONAL CONFERENCE ON AGRI-FOODCHAIN.NETWORKS ECONOMICS AND MANAGEMENT, 3., 2001, Ribeirão Preto.Proceedings… Ribeirão Preto: PENSA, 2001. p. 91-105.FURSTENAU, V. Pecuária de corte: baixos índices zootécnicos e eficiência no setorexportador. Indicadores Econômicos FEE, Porto Alegre, v.32, n.1, p.265-292, 09/2004.IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA. CensoAgropecuário de 1995. Disponível em <www.ibge.gov.br>. Acesso em: 11 out. 2004.LAZZARINI, S. N.; LAZZARINI S. G.; PIEMEL, F. S. Pecuária de corte: a nova reali-dade e perspectivas no agribusiness. São Paulo: SDF Editores, 1996. p.56. (RelatórioLazzarini & Associados).LEAL, J. B. Raças, características e exigências ecológicas. In: MORAES, J. C. F.; ALVES,S. R. S. Sistemas de criação para terminação de bovinos de corte na região sudoestedo Rio Grande do Sul. Bagé: EMBRAPA CPPSUL, 2003. p.15-16.LOBATO, J. F. P.; BARCELLOS, J. O. J. Efeitos da utilização de pastagem melhorada no pós-parto e do desmame aos 100 ou 180 dias de idade no desempenho reprodutivo de vacas decorte. Revista da Sociedade Brasileira de Zootecnia, Viçosa, v.21, n.3, p.385-395, 1992.LOBATO, J. F. P. et al. Desempenho reprodutivo de vacas primíparas de corte submeti-das à desmama precoce. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DEZOOTECNIA, 36., 1999, Porto Alegre. Anais... Porto Alegre, SBZ, 1999. 4p.LOBATO, J. F. P. A “vaca ideal” e seu manejo em sistemas de produção de ciclo curto.In: SIMPÓSIO DA CARNE BOVINA: DA PRODUÇÃO AO MERCADO CONSUMI-DOR, 2., 2003, São Borja. Anais... São Borja: UFRGS, 2003. p. 9-46.LUCHIARI FILHO, A. A importância da classificação das carcaças bovinas. In: SECITAP,25., 2000, Jaboticabal. Anais... Jaboticabal, 2000.

Page 40: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

119Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008

LUCHIARI FILHO, A. Qualidade da carne bovina. O que realmente importa? In: EN-CONTRO NACIONAL DO BOI VERDE, 6., 2001, Uberlândia. Anais... Uberlândia, 2001.MAPA – MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO. Esta-tísticas. Disponível em <www.agricultura.gov.br>. Acesso em: 15 dez.2004.MARASCHIN, G. E. Utilização, manejo e produtividade de pastagens nativas da regiãoSul do Brasil. In: CICLO DE PALESTRAS EM PRODUÇÃO E MANEJO DE BOVINOSDE CORTE, 3., 1998, Canoas. Anais... Canoas: ULBRA, 1998. p.29-39.MARASCHIN, G. E. Novas perspectivas da avaliação de pastagens. In: REUNIÃOANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 36., 1999, Porto Alegre.Anais... Porto Alegre: SBZ, 1999. p.321-331.MÜLLER, L.; PRIMO, A. T. Influência do regime alimentar no crescimento e terminaçãode bovinos e na qualidade da carcaça. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília,v.21, n.4, p.445-452, 1986.MUSTEFAGA, P. S. Pecuária: Brasil mantém liderança no mercado mundial de car-ne. 2004. Disponível em <www.cna.org.br/cna/publicaçao>. Acesso em: 26 jan. 2005.NABINGER, C. Sistemas de pastoreio e alternativas de manejo de pastagens. In: CICLODE PALESTRAS EM PRODUÇÃO E MANEJO DE BOVINOS DE CORTE, 7., 2002,Canoas. Anais... Canoas, RS: ULBRA, 2002. p.7-60.NEHMI FILHO, V. A. O lucro do boi pode superar a soja. In: ANUALPEC 2004. SãoPaulo: Argos, 2004. p. 14 – 20.NEVES M. F. et al. Cadeia Produtiva de carne bovina e o Mato Grosso do Sul. 2001.Disponível em <www.pensa.com.br>. Acesso em: 24 mar. 2004.ORTEGA, A. C. Corporatismo e novas formas de representação de interesses na agri-cultura: Uma abordagem teórica. Revista de Economia e Sociologia Rural, v.36, n.4,1998. out./dez.PASCOAL, L. L. Fontes de dados estatísticos de pecuária de corte. Porto Alegre:Centro de Pesquisas em Agronegócio (CEPAN): Departamento de Zootecnia da UFRGS,2004. Seminário apresentado na disciplina de Cadeias Produtivas da Carne – ANP –00301.PÖTTER, L.; LOBATO F. J. P.; MIELITZ NETTO, G. Produtividade de um modelo deprodução para novilhas de corte primíparas aos dois, três e quatro anos de idade.Revista da Sociedade Brasileira de Zootecnia, Viçosa, v.27, n.3, p.613-619, 1998.PRICE, T. D.; WILTBANK, J. N. Predicting dystocia in heifers. Theriogenology, NewYork, v.9, n.3, p.221-249, 1978.QUADROS, F. L. F.; MARASCHIN, G. E. Desempenho animal em misturas de espéciesforrageiras de estação fria. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.22, n.5, p.535-541, 1987.RADOSTITS, O. M.; LESLIE, K. E.; FETROW, J. Herd health: Food animal productionmedicine. 2.ed. Philadelphia: W. B. Sauders, 1994. 631p.REID, R. L.; JUNG, G. A. Problems of animal production from temperate pastures. In:NUTRITIONAL LIMITS TO ANIMAL PRODUCTION FROM PASTURES, 1981, St.Lucia, Queensland. Proceedings… Queensland: CSIRO, 1981. p.21-43.RESTLE, J.; VAZ, F. N. Confinamento como meio de intensificar o sistema de produção

Page 41: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008120

em bovinos de corte. Revista Argentina de Producción Animal, Balcarce, v.17, n.3p.307-314, 1997.RESTLE, J.; et al. Estudo da carcaça de machos Braford desmamados aos 72 ou 210 dias,abatidos aos catorze meses. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.34, n.11,p.2137-2144, 1999.SIMEONE, A.; LOBATO, J. F. P. Efeitos da lotação animal em campo nativo e do contro-le da amamentação no comportamento reprodutivo de vacas de corte primíparas. Revis-ta da Sociedade Brasileira de Zootecnia, Viçosa, v.25, n.6, p.1217-1227, 1996.SIMEONE, A.; LOBATO, J. F. P. Efeitos da carga animal em campo nativo e do controleda amamentação no desenvolvimento de bezerros mestiços até um ano de idade. Revis-ta da Sociedade Brasileira de Zootecnia, Viçosa, v.27, n.1, p.179-185, 1998.SUÑÉ, Y. B. P. Uma análise da comercialização de bovinos para abate no Estado doRio Grande do Sul. Porto Alegre: UFRGS, 2005 139f. Dissertação (Mestrado – Produ-ção Animal) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.TAROUCO, J. U. Detalhamento dos cortes da carcaça e do corte do serrote em novi-lhos Hereford. Pelotas: UFPel, 1991. 132f. Dissertação (Mestrado- Produção Animal) –Universidade Federal de Pelotas.TORRES, A. M.; ROSA, F. R. T. Mercado e perspectivas para a pecuária de corte. In:ENCONTRO GESTÃO COMPETITIVA PARA PECUÁRIA, 1., 2003, Jaboticabal. Anais...Jaboticabal: Santa Terezinha, 2003. p.70 – 82.

Recebido em: jan. 2008 Aceito em: abr. 2008

Page 42: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

121Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008

Talita B. Roos é Méd. Vet. MSc. Doutoranda em Veterinária, UFPel – RS.Lúcio Vendramin é Acadêmico em Medicina Veterinária, UFPel – RS.Elizabeth Schwengler e Maikel Alan Goulart são Méds. Vets. Mestrandos em Veterinária, UFPel – RS.Pedro S. Quevedo é Acadêmico em Medicina Veterinária, UFPel – RS.Viviane M. Silva é Química, Mestranda em Química, UFPel – RS.Paola M. Lima Verde é Médica Veterinária.Francisco Augusto B. Del Pino é Farmacêutico e Bioquímico, Dr. Prof. Adjunto Dep. de Bioquímica doInstituto de Química e Geociências da UFPel.Cláudio D. Timm é Méd. Vet. Dr. Prof. Adjunto da Faculdade de Medicina Veterinária, UFPel – RS.Carlos Gil-Turnes é Méd. Vet. Dr. Prof. Adjunto da Faculdade de Medicina Veterinária, UFPel – RS.Marcio N. Corrêa é Méd. Vet. Dr. Prof. Adjunto da Faculdade de Medicina Veterinária, UFPel – RS.

Endereço para correspondência: Núcleo de Pesquisa, Ensino e Extensão em Pecuária – NUPEEC(www.ufpel.edu.br/nupeec), Departamento de Clínica Veterinária, Faculdade de Veterinária, UFPel. CampusUniversitário s/nº – 96010-900 – Pelotas/RS Brasil. Talita B. Roos: [email protected]; [email protected]

Avaliação de parâmetros do perfilmetabólico e do leite em diferentes

categorias de vacas leiteiras da raça Jerseyem rebanhos do Sul do Rio Grande do Sul

Talita B. RoosLúcio Vendramin

Elizabeth SchwenglerMaikel Alan Goulart

Pedro S. QuevedoViviane M. Silva

Paola M. Lima VerdeFrancisco Augusto B. Del Pino

Cláudio D. TimmCarlos Gil-TurnesMarcio N. Corrêa

RESUMODesequilíbrios entre os nutrientes que ingressam no organismo animal, sua

biotransformação e a eliminação das substâncias resultantes podem ocasionar alterações nometabolismo animal. A conseqüência direta dessa condição é a ocorrência das doenças metabó-licas, também conhecidas como doenças da produção. Muitos desses desequilíbrios podemprovocar doenças subclínicas que são de difícil percepção, limitando a produção de um modopersistente, provocando uma diminuição da produção, ocasionando perdas na rentabilidade doprodutor e ainda possíveis alterações na composição e qualidade do leite. Os transtornosmetabólicos podem ser detectados pelo estudo dos perfis bioquímicos no sangue. O objetivodeste estudo foi avaliar parâmetros do perfil metabólico e do leite em diferentes categorias devacas leiteiras da raça Jersey em rebanhos do sul do Rio Grande do Sul. Foram utilizadas 59

n.2v.5Veterinária em Foco jan./jun. 2008p .121-130Canoas

Page 43: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008122

vacas da raça Jersey de diferentes propriedades da região sul do Rio Grande do Sul, as fêmeasforam divididas em três grupos: o primeiro de vacas (L1) 7 a 80 dias de lactação, o segundo (L2)com vacas de 81 a 270 dias de lactação e o terceiro (vacas secas) com vacas de 45 a 10 dias pré-parto. Amostras de sangue e leite foram coletadas e encaminhadas aos laboratórios da Univer-sidade Federal de Pelotas/Brasil, onde foram mensurados os seguintes parâmetros: no sangue,glicose, uréia, albumina e aspartato transaminase (AST) e no leite, proteína verdadeira, lactosee gordura. Os resultados demonstraram diferenças nos parâmetros metabólicos na glicose, uréiae gama glutamil transferase (GGT), entre os grupos L1 e vacas secas, enquanto para os compo-nentes do leite a diferença foi observada entre a gordura e a proteína verdadeira, sendo mais altano grupo L2. Nenhum dos animais apresentou alterações que confirmassem doença metabólica,mesmo que subclínica, porém foram observadas as diferenças entre os diferentes períodosprodutivos, vindo a confirmar as diferentes necessidades nutricionais e metabólicas para cadaestágio produtivo dos animais.

Palavras-chave: Metabolismo. Bovinos. Leite.

Evaluation of metabolic profile and milk standards in differentcategories of dairy herds in the Jersey breed in teh Southern of Rio

Grande do Sul

ABSTRACTInstability between the nutrients in animal organism, their biotransformation and final

substances elimination can cause changes in the animal metabolism. The consequence of thiscondition are metabolical diseases, known also as production diseases. Several of these imbalancescan cause subclinical diseases, that are difficult to perception, limiting the production of apersistent manner, causing a decline in production, which causes losses in the profitability ofthe producer and possible changes in the composition and quality of milk. The metabolicdisorders can be detected by the study of biochemical profiles in the blood. The objective ofthis study was evaluating parameters of metabolic profile and milk in different categories ofdairy herds in the Jersey breed in the southern of Rio Grande do Sul. Fifty nine Jersey cowswere used from different properties of the southern region of Rio Grande do Sul, the femaleswere divided into three groups: the first of cows (L1) with 7 to 80 days of lactation, the second(L2) with cows of 81 to 270 days of lactation and the third (dry cow) with cows from 45 to 10days prepartum. Samples of blood and milk were collected and forwarded to the laboratory ofthe Federal University of Pelotas / Brazil, where the following parameters were measured:blood, glucose, urea, albumin and aspartate transaminase (AST) and in the milk true protein,lactose and fat. The results showed differences in metabolic parameters in glucose, urea andgama glutamil transferase (GGT), between groups L1 and dry cows, while the components ofmilk for the difference was observed between fat and the true protein, being highest in the groupL2. None of the animals showed amendments that confirmed metabolic disease, even subclinical,but the differences were observed between the different productive periods, coming to confirmthe various metabolic and nutritional needs for each productive stage of the animals.

Keywords: Metabolism. Bovine. Milk.

INTRODUÇÃOA busca pelo aumento da produtividade na exploração leiteira determina que a

vaca passe por alterações fisiológicas que poderão provocar prejuízos em seu

Page 44: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

123Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008

desempenho produtivo. Para minimizar os efeitos destas alterações devem-se utilizarmanejos apropriados para a maior produtividade, especialmente no que se refere aoequilíbrio nutricional adequado, atendendo às demandas metabólicas com alimentosde qualidade, principalmente nos períodos de maiores requerimentos quecorrespondem ao início da lactação. É nesse período que o animal chega ao máximode sua produção e seu consumo alimentar está diminuído, assim mobilizando suasreservas corporais, para satisfazer os elevados requerimentos metabólicos (VERNON,2005; INGVARTSEN, 2006).

Eventuais desequilíbrios entre os nutrientes que ingressam no organismo animal,sua biotransformação e a eliminação das substâncias resultantes podem ocasionaralterações no metabolismo animal. Quando esses desequilíbrios são de curta duraçãoe não são muito severos, o metabolismo pode compensar utilizando as reservascorporais. Se for mais grave, o animal pode esgotar suas reservas corporais, nãohavendo compensação metabólica. A conseqüência direta dessa condição é aocorrência das doenças metabólicas, também conhecidas como doenças da produção(WITTWER, 2000).

Muitos desses desequilíbrios podem provocar doenças subclínicas que são dedifícil percepção, limitando a produção de um modo persistente, provocando umadiminuição da produção, ocasionando perdas na rentabilidade ao produtor e aindapossíveis alterações na composição e qualidade do leite (INGVARTSEN, 2006). Namaior parte os transtornos metabólicos podem ser detectados pelo estudo dos perfisbioquímicos no sangue; para isso deve-se levar em conta características gerais dorebanho, localização geográfica e o estado fisiológico dos animais (PAYNE; PAYNE,1987; GRANDE; SANTOS, 2006).

Além das questões ligadas a produção de leite, observa-se também durante operíodo reprodutivo o aumento das demandas metabólicas, podendo levar à diminuiçãoda fertilidade desses animais e dificultando a obtenção de um parto ao ano. Entre asprincipais causas de diminuição de fertilidade citam-se o deficiente fornecimentonutricional e o desequilíbrio de minerais, principalmente cálcio e fósforo (GALIMBERTIet al., 1997; DUFFIELD et al., 1999).

Por se tratarem de alterações sem sinais aparentes, normalmente animaisacometidos por transtornos metabólicos subclínicos não são detectados pelosprodutores e mesmo por técnicos, mas muito provavelmente provocarão prejuízoseconômicos (NOORDHUIZEN, 2006). Tais alterações só poderão ser detectadas casoo técnico responsável pelo sistema opte por realizar um diagnóstico específico atravésda realização de testes diagnósticos, nos quais podemos incluir o perfil metabólico(OSTERGAARD; SORENSEN, 1998). Porém, geralmente é restrito o número deinformações de cada região e mesmo de cada propriedade.

O objetivo deste estudo foi avaliar parâmetros do perfil metabólico e do leite emdiferentes categorias de vacas leiteiras da raça Jersey em rebanhos do sul do RioGrande do Sul.

Page 45: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008124

MATERIAL E METÓDOSO experimento foi realizado em 6 propriedades leiteiras da região sul do Rio

Grande do Sul, Brasil, no período da primavera. Animais de todas as ordens de lactaçãoforam coletados, sendo 20% de cada categoria por propriedade, totalizando 59 vacas.Os animais foram mantidos na rotina da propriedade de origem, entendendo assim apossível existência de diferenças de manejo entre as localidades, principalmentepodendo diferir em algum grau o manejo nutricional. Ambas as coletas, sangue e leiteforam realizadas após a ordenha. Antes da coleta de leite foi realizado o teste doCalifórnia Mastitis Test (CMT) para exclusão de animais com possível infecção naglândula mamária. Os animais estudados foram divididos em três grupos de acordocom o período produtivo (Tabela 1).

TABELA 1 – Categorização dos animais utilizados no experimento, de acordo com o período produtivo.

Grupos Período N° de animais Lactação 1 7 a 80 dias de lactação 20 Lactação 2 81 a 270 dias de lactação 27 Vacas secas 45 a 10 dias pré-parto 12

Total 59

As amostras de sangue foram colhidas através de punção da veia jugular, sendodividas em tubos de ensaio conforme a necessidade de cada análise realizada, comomostra a Tabela 2.

Após coleta as amostras foram centrifugadas a 3500 rpm durante 10 minutos edistribuídas em dois eppendorff, posteriormente refrigeradas (±4ºC) ou congeladas (-18ºC) conforme a necessidade.

TABELA 2 – Coleta, processamento e armazenamento do sangue para cada análise realizada.

Perfil Análise Metodologia Material Armazenamento Energético Glucose Método da glicose oxidada Plasma com EDTA 10% e KF

12% ±4ºC

Protéico Albumina Técnica do verde de bromocresol

Soro ±4ºC

Uréia Técnica da urease Plasma com EDTA 10% e KF 12%

±4ºC

Enzimático AST Técnica de Reitiman e Frankel Plasma com EDTA 10% ±4ºC GGT Técnica Szasz modificado Plasma com EDTA 10% -18°C

O perfil energético foi determinado a partir das concentrações plasmáticas deglucose (método da glicose oxidase), foram utilizadas amostras refrigeradas de plasmacontendo fluoreto (KF), sendo este um inibidor da glicólise. Para determinação do

Page 46: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

125Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008

perfil protéico foram aferidas as concentrações de albumina (técnica do verde debromocresol) e uréia (técnica da urease) em soro e plasma refrigerado contendo inibidor,respectivamente. A enzima aspartato transaminase (AST) (técnica de Reitiman e Frankel)foi determinada em plasma refrigerado, enquanto a gama glutamil transferase (GGT)(técnica Szasz modificado) foi quantificada nas amostras de plasma congelado. Todosos metabólitos e enzimas foram dosados usando kits reagentes específicos (LABTEST®)com a utilização de espectrofotômetro de luz visível FEMTO 435® (Pharmacia BiotechUltrospec 2000®).

Foram colhidas amostras de leite a partir da ordenha total, armazenadas em frascoestéril, mantidas em refrigeração e imediatamente enviadas ao laboratório, onde forammensuradas as concentrações dos constituintes do leite, proteína verdadeira, lactosee gordura e sólidos totais, através de leitura por absorção infravermelha, utilizando-seo equipamento Bentley 2000®.

Foram geradas análises estatísticas, utilizando o software Statistix 8.0 forWindows. Para comparação das médias foi utilizado o Teste-t.

RESULTADOS E DISCUSSÃOA tabela 3 descreve os resultados obtidos dos metabólitos e enzimas dos três

grupos de animais estudados no experimento.

TABELA 3 – Médias das concentrações de glicose, albumina e uréia sanguínea, AST e GGT, observadas noexperimento para cada grupo experimental.

Grupo Glicose (mmol/l)

Albumina (g/l)

Uréia (mmol/l)

AST (UI/ml)

GGT (mg/dl)

Lactação 1 2,67a 27,1 3,96a 44,20 29,24a

Lactação 2 2,75ab 27,9 4,16ab 44,38 26,74ab

Vacas Secas 2,93b 27,1 3,41b 43,06 19,71b

As concentrações de glicose nos animais desse experimento encontram-se todasde acordo com os limites citados por Kaneko et al. (1997). Observou-se que as vacasdo grupo Lactação 1 apresentaram níveis de glicose sanguínea inferiores (p<0,05)quando comparadas às vacas secas. A concentração de glicose sanguínea apresentapouca variação, devido aos mecanismos homeostáticos do organismo; em funçãodisto a dieta não apresenta grande influência sobre a glicose, exceto em condições dedesnutrição exacerbada. O fato dos animais do grupo Lactação 1 apresentarem níveisinferiores de glicose sanguínea provavelmente é devido à importância da glicose nometabolismo energético da vaca leiteira, em função da síntese da lactose pela glândulamamária, sendo maior a demanda no período inicial do pós-parto até ultrapassar o picode lactação (PAYNE; PAYNE, 1987). Os resultados observados nos animais estudados

Valores seguidos de letras distintas na mesma coluna, diferem por pelo menos P<0,05.

Page 47: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008126

provavelmente devem-se, ao fato da dieta não suprir as necessidades fisiológicas emetabólicas dos animais do grupo Lactação 1, com isso a glicose sanguínea é desviadapara a síntese de lactose na glândula mamária, conseqüentemente diminuindo os níveisde glicose sanguínea. Enquanto que a diferença, mesmo que apenas numérica dogrupo Lactação 2, pode ser explicada pelo fato destes animais não estarem mais com anecessidade da mudança de metabolismo para produção de leite, e sim já adaptados aesta condição de lactação.

As concentrações de albumina nos animais do experimento encontram-se todasabaixo dos limites citados por Kaneko et al. (1997), não sendo observadas diferençasentre os grupos estudados. No pós-parto, considera-se a albumina como um indicadorda função hepática, pois fisiologicamente existe uma queda desta proteína no períododo parto e a recuperação destes níveis depende da atividade do fígado em sintetizá-la. Quanto maior a capacidade de recuperação dos níveis de albumina no sangue,maiores são as chances do animal apresentar um bom desempenho reprodutivo eprodutivo. O limite crítico de albumina sanguínea é de 30 g/L; abaixo disso a vacaestaria com seu metabolismo comprometido, podendo influenciar negativamente odesempenho produtivo e reprodutivo (GONZÁLEZ, 1997). Os baixos valores dealbumina obtidos nesse estudo, provavelmente, são conseqüências da deficiênciaprotéica na dieta, já que a albumina é uma medida mais em longo prazo dos níveis deproteína. Porém, não se descarta uma falha na função hepática, já que as duassituações são comuns em gado de leite, principalmente no início da lactação, períodoem que a dieta geralmente apresenta-se em quantidades inadequadas de proteína e aglândula mamária prioriza os aminoácidos disponíveis para a síntese de caseína(PAYNE; PAYNE, 1987).

Foram observadas concentrações de uréia similares às preconizadas por outrosautores (WITTWER et al., 1987; ROSSATO, 2000). Porém as vacas do grupo Lactação1 apresentaram níveis superiores (p< 0,05) quando comparadas às vacas secas. Osníveis de uréia sanguínea costumam oscilar rapidamente em função de alterações nadieta, constituindo-se em um sensível indicador da ingesta protéica. Altas concentraçõesde uréia podem refletir um consumo excessivo de fontes protéicas, por outro ladobaixos níveis de uréia podem ser resultados de uma deficiência energética na dieta(BAKER et al., 1995). Assim, é possível que as vacas secas utilizadas neste estudoestivessem sendo submetidas a um manejo alimentar deficiente ou inadequado, noque se refere aos níveis protéicos.

Não foram observadas diferenças (p>0,5) na concentração sanguínea da enzimaaspartato-aminotranferase (AST) entre os grupos estudados. A AST pode indicar omau funcionamento do fígado aumentando seu nível na corrente circulatória em casosde desordens hepáticas, como, por exemplo, em hipoglicemias (GONZÁLEZ; SILVA,2006), ou ainda, em qualquer outro caso de anormalidades infecciosas ou tóxicas queafetem as funções desse órgão (GREGORY et al., 1999) Com isso observamos que osanimais em estudo não apresentavam alterações hepáticas que viessem a ocasionaralterações nesse metabólito.

Page 48: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

127Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008

A enzima gama-glutamil tranferase (GGT) apresentou diferença (p<0,05) entre osgrupos Lactação 1 e as vacas secas, observando-se uma concentração inferior nasvacas secas em relação aos animais do grupo Lactação 1. Esta enzima também é utilizadacomo indicador de lesão subclínica hepática (MELAKU et al., 2004; STELLA et al.,2007). Estas enzimas aumentam sua atividade quando há necessidade de formação decetoácidos a fim de manter as concentrações plasmáticas de compostos energéticos,por excesso de aminoácidos, ou quando houver lesão celular principalmente hepática(STELLA et al., 2007). Os animais do grupo Lactação 1 provavelmente apresentaramuma concentração mais elevada, quando comparados com as vacas secas, por estaremrecebendo uma maior quantidade de proteínas na dieta, porém, este aumento nãoesteve relacionado à disfunção hepática, pois em nenhum dos casos a GGT apresentou-se em concentrações acima do considerado normal.

Na tabela 4 serão descritos os resultados obtidos para os componentes do leitedos dois grupos de animais estudados no experimento.

TABELA 4 – Médias da concentração de gordura, lactose e proteína verdadeira (PV) analisados noexperimento para os dois grupos lactantes estudados.

Grupo Gordura (%) Lactose (%) PV Lactação 1 3,7a 4,4 3,4a

Lactação 2 4,4b 4,3 3,2b

Valores seguidos de letras distintas na mesma coluna, diferem por pelo menos P<0,05.

Os teores de gordura das amostras de leite estão acima do limite mínimo permitidopelo Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal –RIISPOA, do Ministério da Agricultura (BRASIL, 1996), sendo inferior (p<0,05) nosanimais do grupo Lactação 1, quando comparado com o grupo L2. A gordura é ocomponente do leite sujeito a maior variação, podendo ser influenciado por fatoresgenéticos, raça, estação do ano. Porém, as principais causas geralmente são de origemnutricional. Provavelmente os animais do grupo Lactação 1 tenham recebido uma maiorproporção de concentrado na dieta em relação aos demais animais, assim alterando afermentação ruminal, que passou a produzir mais ácido propiônico e uma menor produçãode acido acético que é o principal precursor da gordura do leite, conseqüentementediminuindo o teor de gordura do leite (MAEKAWA et al. 2002; COSTA et al. 2005).

O teor de lactose observado nos animais estudados estava de acordo com oslimites estipulados na legislação e conforme o esperado não apresentou diferenças(p< 0,05) entre os grupos estudados. A concentração de lactose no leite não pode seralterada por fatores nutricionais, indicando que seus níveis estão ligados diretamentecom a função osmótica e a produção de leite da glândula mamária, ou seja, os teores dalactose tendem a aumentar conforme vão se aproximando do pico de lactação e,conseqüentemente, irão diminuir ao final da lactação, mas geralmente de forma nãosignificativa (PERES, 2001; WATTIAUX; ARMENTANO, 2007).

Page 49: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008128

O teor de proteína verdadeira apresentou diferença entre os grupos estudados,sendo inferior (p<0,05) no grupo de animais Lactação 1. O teor de proteína do leite émenos variável, pois fatores que tendem a aumentar a proteína do leite também estimulama sua síntese. O valor de proteína pode ser influenciado por vários fatores, entre eles,raça do animal, estágio da lactação, características genéticas e ainda as alterações deorigem nutricional (PONCE et al., 1990). Um aumento da proporção de concentrados nadieta desses animais pode ter ocasionado uma alteração na fermentação ruminal,levando a uma maior produção de ácido propiônico. Autores sugerem que bactériasque sintetizam ácido propiônico possuam um perfil de aminoácidos mais adequados àsíntese de proteínas do leite (CARVALHO, 2000; KNORR, 2007).

CONCLUSÃONenhum dos animais apresentou alterações que confirmassem doença metabólica,

mesmo que subclínica, porém foram observadas diferenças entre os períodosprodutivos, vindo a confirmar as diferentes necessidades nutricionais e metabólicaspara cada estágio produtivo dos animais. As diferenças observadas tanto nosparâmetros metabólicos utilizados quanto na composição do leite, ocorreramprovavelmente devido a alterações nutricionais, realizadas conforme o períodoprodutivo que o animal se encontrava.

REFERÊNCIASBAKER, L. D.; FERGUSON., J. D.; CHALUPA, W. Reponses in urea and true protein ofmilk to different protein feeding schemes for dairy cows. Journal of Dairy Science, v.78,p.2424-2434, 1995.BRASIL. 1996. Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de OrigemAnimal, aprovado pelo Decreto nº 30.691, de 29/03/52, alterado pelo Decreto nº 1.255, de25/06/62, alterado pelo decreto nº 1.812, de 08/02/96. Diário Oficial da União, Brasília,09/02/96, seção I, p. 2241-2243.CARVALHO, M. P. Manipulando a composição do leite: proteína – parte 1. Capítulo 6.1º Curso Online Sobre Qualidade do Leite. Milk Point. Instituto Fernando Costa. 2000.COSTA, M. G. et al. Desempenho produtivo de vacas leiteiras alimentadas com diferen-tes proporções de cana-de-acúcar e concentrado ou silagem de milho na dieta. RevistaBrasileira de Zootecnia, v.34, n.6 (suplemento), p.2437-2445, 2005.DUFFIELD, T. F. et al. Effect of prepartum administration of monensinin a controlled-release capsule on milk productionand milk components in early lactation. Journal ofDairy Science, v.82, p.1254-1263, 1999.GALIMBERTI; BERTONI, G.; CAPPA, V. La determinazione del profilo metabolico quallemezzo per evidenziare lê cause alimentari di l’ipofertilitá bovina. Zootecnia e NutrizioneAnimale v.3, p.237-245, 1997.GONZÁLEZ, F. H. D. O perfil metabólico de doenças da produção em vacas leiteiras.Arquivo Faculdade Veterinária UFRGS. v.25, n.2, p.13-33, 1997.

Page 50: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

129Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008

GONZÁLEZ, F. H. D.; SILVA, S. C. Introdução à bioquímica clínica veterinária. 2.ed.,Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2006. 358p.GRANDE, P. A.; SANTOS, G. T. O uso do perfil metabólico na nutrição de vacasleiteiras. Disponível em: <http://www.nupel.uem.br/perfilmetabolico-vacas.pdf >. Acessoem 27 de setembro de 2006.GREGORY, L. et al. Valores de referência da atividade enzimática da aspartato-aminotransferase e da gama-glutamiltransferase em bovinos da raça Jersey. Influênciados fatores etários, sexuais e da infecção pelo vírus da leucose dos bovinos. ArquivoBrasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia. v.51 n.6, 1999. Disponível online:<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-09351999000600001>.Acesso em 26 de outubro de 2007.INGVARTSEN, K. L. Feeding – and management-related diseases in the transition cowphysiological adaptations around calving and strategies to reduce feeding-relateddiseases. Animal Feed Science and Technology. v.126, p.175-213, 2006.KANEKO, J. J.; HARVEY, J. W.; BRUSS, M. L. Clinical Biochemistry of DomesticAnimals 5.ed. San Diego: Academic Press, 932p, 1997.KNORR, M. O leite como indicador nutricional em vacas. Disponível em: <http://www6.ufrgs.br/bioquimica/posgrad/BTA/leite_indicador.pdf>. Acesso em: 19 maio 2007.MAEKAWA. M.; BEAUCHEMIN, K. A.; CHRISTENSEN, D. A. Effect of concentratelevel and feeding management on chewing activities, saliva production, and ruminal pHof lactating dairy cows. Journal of Dairy Science. v.485, n.5, p.1165-1175, 2002.MELAKU, S.; PETERS, K. J.; TEGEGNE, A. Feed intake, live weight gain andreproductive performance of Menz ewes supplemented with Lablab purpureus, fradedlevels of Leucaena pallida 14203 and Sesbania sesban 1198. Livestock ProductionScience. v.87, p.131-142, 2004.NOORDHUIZEN, J. P. Assessing Dairy Cattle Health Worldwide. In: World BuiatricsCongress 2006 – Nice, France, 2006.OSTERGAARD, S.; SORENSEN, J. T. A review of the feeding health production complexin a dairy herd. Preventive Veterinary Medicine. v.36, p.109-129, 1998.PAYNE, J. M.; PAYNE, S. The Metabolic Profile Test. Oxford University Press. NewYork, 1987.PERES, J. R. O Leite como ferramenta nutricional. In: Uso do leite para monitorar anutrição e o metabolismo de vacas leiteiras. Universidade Federal do Rio Grande doSul, Brasil, 2001.PONCE, P. C.; RIVERO, R.; CALDEVILA, J. Influência de vários sistemas dealimentacion sobre la composicion láctea. Sistema a base caña como forrage. Acad.Ciências de Cuba, 1990.ROSSATO, W. L. Condição no pós-parto em vacas leiteiras de um rebanho do RioGrande do Sul. Porto Alegre: UFRGS, Dissertação de Mestrado, 150 p.2000.STATISTIX for windows version 8 Analitical Software. Microsoft corporation build06/05/2004.STELLA, A. V.; PARATTE, R.; VALNEGRI, L.; CIGALINO, G.; SONCINI, G.; CHEVAUX,E.; DELL’ORTO, V.; SAVOINI, G. Effect of administration os live Saccharomyces

Page 51: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008130

cerevisiae on milk production, milk composition, blood metabolites, and faecal flora inearly lactation dairy goats. Small Ruminant Research. v.67, p.7-13, 2007.VERNON, R. G. Lipid metabolism during lactation: a review of adipose tissue-liverinteractions and the development of fatty liver. Journal of Dairy Research. v.72, p.1-10, 2005.WATTIAUX, M. A.; ARMENTANO, L. E. O metabolismo de carboidratos em bovinos deleite. Essenciais em gado de leite. Instituto Babcock para Pesquisa e Desenvolvimento daPecuária Leiteira Internacional. University of Wisconsin-Madison. Disponível em: <http://babcock.cals.wisc.edu/downloads/de/03.pt.pdf>. Acesso em: 12 maio 2007.WITTWER, F. Diagnóstico dos desequilíbrios metabólicos de energia em rebanhosbovinos. In: GONZÁLEZ, F. H. D. et al. Perfil metabólico em ruminantes: seu uso emnutrição e doenças nutricionais. Porto Alegre, Brasil, Ed. Gráfica da UniversidadeFederal do Rio Grande do Sul, 2000.WITTWER, F. Et al. Análisis de los resultados de perfiles metabólicos en rebañoslecheros en Chile. Arch. Med. Vet. v.19, n.2, p.35-45, 1987.

Recebido em: jan. 2008 Aceito em: abr. 2008

Page 52: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

131Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008

Paulo César Amaral Ribeiro da Silva é Médico Veterinário, Dr., Professor Adjunto II do Departamento deMedicina Veterinária da Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Agrárias – CCAUFES.Cícero Araújo Pitombo é Médico Veterinário, Dr., Professor Adjunto II da Universidade Federal Fluminense – UFF.Luiz Fernando Oliveira Caetano é Médico Veterinário Autônomo.André Gomes Lima é Médico Veterinário, Residente em Clínica, Cirurgia e Reprodução em Animais deProdução da Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Agrárias – CCAUFES.Vagner Sarmento Arêas é Acadêmico de Medicina Veterinária da Universidade Federal do Espírito Santo,Centro de Ciências Agrárias – CCAUFES.Lhilton Vargas Júnior é Acadêmico de Medicina Veterinária da Universidade Federal do Espírito Santo,Centro de Ciências Agrárias – CCAUFES.

Endereço para correspondência: Professor Paulo César Amaral Ribeiro da Silva – Universidade Federal doEspírito Santo, Centro de Ciências Agrárias – CCAUFES, departamento de Medicina Veterinária. Alto Univer-sitário s/ número, caixa postal no 16, Alegre, Espírito Santo.

Urolitíase em novilho nelore não-castrado

Paulo César Amaral Ribeiro da SilvaCícero Araújo Pitombo

Luiz Fernando Oliveira CaetanoAndré Gomes Lima

Vagner Sarmento ArêasLhilton Vargas Júnior

RESUMONeste trabalho relata-se um caso de urolitíase obstrutiva ocorrida em um bovino da raça

nelore, de 1 ano e 3 meses de idade, do sexo masculino, não castrado, criado em sistema intensivo,em uma fazenda no município de São Gonçalo – RJ, Brasil. O animal apresentou sintomas agudos,foi submetido ao exame clínico e ultrassonográfico. Através da necropsia foram observadas alte-rações macroscópicas que mostravam a agressividade da patologia. O exame histopatológico foiutilizado para observar e relatar alterações microscópicas dos órgãos afetados. O referido casotrata-se de um animal não castrado, não havendo relatos como este na literatura, sendo necessáriosmaior atenção e estudos, visto que a doença leva a sérios prejuízos econômicos.

Palavras-chave: Bovino. Urolitíase. Obstrutiva.

Urolithiasis in steer nelore uncastrated

ABSTRACTThis article reports an obstructive urolithiasis in a bovine of 1 year and 3 months of age,

male, Nelore, uncastrated, which was maintained in confinement in a farm in the city of SãoGonçalo, RJ, Brazil. The animal presented acute symptoms and was submitted to clinical andultrassonographic examinations. Necropsy showed macrocospic alterations that suggest theaggressiveness of the pathology. Histopathologic examination was done to report microscopicalterations of the affected organs. This case is about an uncastrated animal, with no reports likethis described in the literature, requiring further attention and study, because the disease leadsto serious economic losses.

Keywords: Bovine. Urolithiasis. Obstructive.

n.2v.5Veterinária em Foco jan./jun. 2008p .131-136Canoas

Page 53: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008132

INTRODUÇÃOA urolitíase define-se como formação de cálculos em conseqüência da precipitação

de minerais ou substâncias orgânicas no trato urinário. Quando há obstrução da passagemde urina, a alteração denomina-se urolitíase obstrutiva, ocorrendo acúmulo de urina nabexiga e acarretando processo inflamatório, hidronefrose e uremia pós-renal. A nutriçãoe o manejo são os principais fatores predisponentes para o aparecimento da urolitíase(RIET-CORREA, 2001; RADOSTITS, 2002; REBHUN, 2000). A doença é comum entre osruminantes criados em sistema de manejo em que a ração é composta principalmente degrãos (RADOSTITS, 2002), ou quando os animais consomem pastos que contêm grandequantidade de sílica ou oxalatos. (REBHUN, 2000).

As dietas ricas em concentrado aumentam as mucoproteínas urinárias e levam auma solidificação dos solutos urinários. As dietas ricas em fósforo (P), ou desequilíbriode cálcio (Ca) e P na ração (REBHUN, 2000), especialmente o trigo que contém alto teorde fósforo (GONZÁLES, et al. 2000), a deficiência de vitamina A, o excesso de estrógenos,a hipervitaminose D, a redução do consumo hídrico (REBHUN, 2000) e o pH da urina(RADOSTITS, 2002), são fatores predisponentes a urolitíase. Segundo o NationalReserch Council (1985), citado por Del Claro, et al. (2006), o uso de 0,5% de sulfato deamônia ou cloreto de amônia na ração total diminui a urolitíase em ovinos.

A afecção ocorre com maior freqüência em bovinos machos castrados criadosem sistema intensivo (RIET-CORREA, 2001; RADOSTITS, 2002; REBHUN, 2000). Aurolitíase ocorre em todas as espécies de ruminantes, porém a maior importânciaeconômica é em novilhos e carneiros castrados para engorda (RADOSTITS, 2002),pois o diâmetro da uretra fica significativamente menor comparativamente ao dostouros (SMITH, 1993). Os cálculos desenvolvem-se em machos e fêmeas similarmente,mas a urolitíase obstrutiva ocorre principalmente em machos devido às diferençasanatômicas e hormonais (FRASE, 1991). A obstrução em bovinos machos ocorre maiscomumente na região sigmóide distal uretral. Também são possíveis cálculos renais,ureterais e vesicais, mas a obstrução uretral constitui a situação clínica mais comum(REBHUN, 2000).

Em ruminantes, os tipos predominantes de cálculos são os compostos de estruvita(fosfato de magnésio e amônia), silicatos, carbonatos, oxalatos e a formação de tais cálculosdepende da super saturação da urina com cristalóides calculogênicos (SMITH, 1993).

Em agosto de 1999, foi diagnosticada a enfermidade na região sul em um rebanhode bovinos de corte confinados. De um total de 1.100 novilhos castrados, cinco foramafetados. Os novilhos recebiam alimentação rica em grãos e pobre em forragem. Aanálise química revelou que os cálculos urinários eram formados por fosfato e amônio.Um desequilíbrio na relação cálcio-fósforo (0,4: 0,6) foi constatado através da análiseda ração utilizada, acreditando-se que esse seria o motivo da formação dos cristais(LORETTI, 2003).

No Rio Grande do Sul, um surto de urolitíase foi diagnosticado em bovinosmachos castrados, confinados e alimentados com ração concentrada e com pouca

Page 54: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

133Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008

disponibilidade de água. Os cálculos continham fosfato de amônia. Alguns surtos deurolitíase em bovinos castrados em pastoreio ocorrem no Mato Grosso do Sul e MinasGerais. As causas destes surtos e a constituição dos urólitos não têm sidodiagnosticadas (RIET-CORREA, 2001).

Há sinais clínicos de dor abdominal aguda de aparecimento súbito, observa-seanorexia, inquietação, dificuldade para andar e marcha rígida (RIET-CORREA, 2001,), oprolapso retal podendo ser seqüela do esforço (FRASE, 1991). No exame retal, a uretrae bexiga são palpadas distendidas, e a uretra mostra-se dolorida e pulsa quandomanipulada (RADOSTITS, 2002). Ruptura da bexiga é a seqüela mais séria da obstruçãouretral (SMITH, 1993). Quando há ruptura, o animal apresenta melhora aparente peloalívio da dor. Posteriormente observa-se depressão marcada e aumento de volume doabdômen, que está preenchido com urina. A morte por uremia ocorre 2-3 dias após aruptura. O curso clínico pode ser de 5 –7 dias (RIET-CORREA, 2001).

Microscopicamente, há evidencias de alterações inflamatórias crônicas e dehemorragia no trato urinário inferior. Usualmente a mucosa está ulcerada, mas podehaver áreas de hiperplasia das células epiteliais transicionais, com numerosas célulascaliciformes. Ocorrem degeneração e necrose da musculatura lisa, nos casos severos(THOMSON, 1990). O tecido renal sofre atrofia progressiva com aumento de tecidoconjuntivo intersticial, desaparecimento de túbulos renais, obstrução de glomérulos eoutras alterações (SANTOS, 1986).

A mortalidade é alta nos casos de obstrução uretral, e o tratamento éprincipalmente cirúrgico. Como resultado, a prevenção é importante para diminuir asperdas por urolitíase (RADOSTITS, 2002).

O perfil metabólico revela hiperfosfatemia e hipermagnesemia, com ou semhipocalcemia. O tratamento consiste na adição de carbonato de Ca no alimento parainibir a absorção de P no intestino (GONZÁLEZ, et al. 2000).

RELATO DE CASONo município de São Gonçalo, Rio de Janeiro, um bovino da raça nelore, macho, não

castrado, com um ano e três meses de idade, apresentou-se em decúbito, apático e comsinais de dor, tendo sido criado em sistema intensivo, alimentado com capim de espéciesvariadas, feno, concentrado e água de boa qualidade à vontade. O animal havia demonstradoos sinais repentinamente, não se observando eliminação de urina ou defecação.

Ao exame clínico, apresentava temperatura corporal 38.5°C, 64 batimentos cardíacospor minuto, 52 movimentos respiratórios por minuto, intensa sialorréia, batia os membrosposteriores no chão e balançava a cauda simultaneamente, sinais característicos de dor.Através da palpação retal notou-se um aumento da vesícula urinária. O exameultrassonográfico revelou pequenos pontos hiperecóicos, espessamento da parede emuita celularidade, sugerindo a presença de cálculos. Foi realizada então uma punção dabexiga através do reto com agulha 40x16 conectada a um equipo. A urina obtida

Page 55: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008134

apresentava-se com coloração avermelhada. Devido à gravidade do quadro clinico decidiu-se intervir cirurgicamente e durante o procedimento optou-se pela eutanásia do animal.No exame “post mortem” os rins apresentavam-se aumentados, com a cápsula espessadae áreas de coloração avermelhada. A bexiga apresentava-se muito distendida sendo que,em sua parte externa apresentava uma coloração vermelho escuro com áreas enegrecidas(Figura 1). Quando de sua abertura, a mucosa apresentava-se cinza escura, a urina eraavermelhada e continha cálculos arenosos. A uretra apresentava-se dilatada com presençade cálculos do mesmo aspecto dos existentes na bexiga.

FIGURA 1 – Foto macrografia da vesícula urinária distendida com áreas avermelhadas e enegrecidas.

Através do exame histopatológico foi evidenciada nefrite intersticial (Figura 2).Observou-se extensa área de hemorragia intersticial, necrose tubular, presença detrombos e degeneração glomerular. A bexiga apresentou uma cistite ulcerativa associadaà hemorragia. Foi observada destruição da mucosa e hemorragia profusa da parede doórgão (Figura 3), infiltrado inflamatório, congestão da submucosa e afastamento dasfibras musculares.

FIGURA 2 – Foto micrografia do rim bovino apresentando nefrite intersticial. HE-200x.

Page 56: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

135Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008

RESULTADOS E DISCUSSÃORadostits et al. (2002) relatam que a urolitíase ocorre em todas as espécies de

ruminantes, porém a maior importância econômica é em novilhos castrados para engorda,assim como Loretti (2003) e Riet-Correa et al. (2001) relataram surtos na região sul, emanimais castrados e confinados. No presente relato, o novilho não era castrado.

O novilho em questão era criado em sistema intensivo com alta oferta deconcentrado e, de acordo com Rebhun (2000), as dietas ricas em concentrado aumentamas mucoproteínas urinárias e levam a uma solidificação dos solutos urinários.

Riet-Correa et al. (2001) relataram que, após a obstrução, há espasmo,inflamação e diminuição ou supressão do fluxo de urina, o que causa dor e cólicas.Ocorre retenção de urina na bexiga e hidronefrose, conforme também foi observadono presente caso.

Radostits et al. (2002) afirmam que, no exame retal, a uretra e a bexiga são palpadasdistendidas, e a uretra mostra-se dolorida e pulsa quando manipulada. No caso orarelatado observou-se apenas distensão da bexiga.

Thomson (1990) afirma que os animais que morrem de obstrução urináriaapresentam a bexiga enormemente distendida, com parede delgada e freqüentementedifusamente hemorrágica, características evidenciadas na necropsia do novilho emicroscopicamente há evidências de alterações inflamatórias, hemorragia no tratourinário inferior e usualmente mucosas ulceradas. O exame histopatológico do casorelatado evidenciou essas alterações.

CONCLUSÕESO presente trabalho permitiu comparar os achados clínicos do caso descrito com

os relatos de literatura.

FIGURA 3 – Foto micrografia da vesícula urinária com cistite, destruição da mucosa e hemorragia profundada parede do órgão. HE – 40x.

Page 57: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008136

O sistema intensivo de criação com a utilização de concentrado pode ser um fatorpredisponente para ocorrência da urolitíase.

Igualmente como verificado na literatura, o exame físico através da palpação retalassociado ao histórico e os dados epidemiológicos foram suficientes para determinaro diagnóstico.

Segundo dados existentes na literatura e o acompanhamento deste caso, o apoioultrassonográfico mostrou-se importante para elucidação do caso clínico.

De acordo com a literatura e o relato deste caso, o prognóstico desta doença égrave devendo-se optar por medidas profiláticas.

O referido caso trata-se de um animal não castrado, não havendo relatos comoeste descrito na literatura, sendo necessários maior atenção e estudos, visto que adoença leva a sérios prejuízos econômicos.

REFERÊNCIASDEL CLARO, G. R; ZAETTI, M. A; et al. Balanço cátion-aniônico da dieta no metabolis-mo de cálcio em ovinos. Ciência Rural, Santa Maria, v.36, n.1, jan./fev., 2006.FRASE, C.M. Manual Merck de Veterinária. 6.ed. São Paulo: Roca, 1991. GONZÁLEZ, F. H. D.;BARCELLOS, J.; PATIÑO, H. O.; RIBEIRO, L. A. Perfil metabólico em ruminantes: seuuso em nutrição e doenças nutricionais, Porto Alegre: Gráfica UFRGS, 2000.LORETTI, A. P. et al. Estudo clínico e anatomopatológico de um surto de urolitíaseobstrutiva em bovinos confinados na Região Sul do Brasil. Pesq. Vet. Bras., Rio deJaneiro, v.23, n.2, 2003.NATIONAL RESERCH COUNCIL. Nutrient requirement of sheep. Washington, D.C.:National Academy of Sciences, 1985. 99p.RADOSTITS, O. M. et al. Clínica Veterinária – um tratado de doenças dos Bovinos,Ovinos, Suínos, Caprinos e Eqüinos. 9.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002.REBHUN, W. C. Doenças do Gado Leiteiro. São Paulo: Roca, 2000. RIET-CORREA, F.Urolitíase. In: RIET-CORREA, F. et al. Doenças de Ruminantes e Eqüinos. 2.ed. SãoPaulo: Varela, 2001.SANTOS, J. A. Patologia especial dos animais domésticos. 2.ed. Rio de Janeiro:Guanabara, 1986.SMITH, B. P. Tratado de Medicina Veterinária Interna de Grandes Animais. SãoPaulo: Malone, 1993.THOMSON, R. G. Patologia veterinária especial. Rio de Janeiro: Malone, 1990.

Recebido em: dez. 2007 Aceito em: maio 2008

Page 58: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

137Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008

Renato S. Pulz é Médico Veterinário, Dr. Professor da Disciplina de Cirurgia da ULBRA.Camila Silva é Médica Veterinária – 1ª Tem. do 30 Regimento de Cavalaria de Guarda.Luis A. Scott é Médico Veterinário.Cíntia Simões é Médica Veterinária Residente do HV – ULBRA.Heloísa Santini é Acadêmica do Curso de Medicina Veterinária da ULBRA.Flávia Facin é Acadêmica do Curso de Medicina Veterinária da ULBRA.

Endereço para correspondência: Faculdade de Medicina Veterinária – ULBRA. Av. Inconfidência, 101,Prédio 25. Canoas/RS. CEP: 92420-280. E-mail: [email protected]

Urolitíase em eqüino

Renato S. PulzCamila SilvaLuis A. Scott

Cíntia SimõesHeloísa Santini

Flávia Facin

RESUMOOs eqüinos podem ser acometidos por urolitíases, e o cálculo vesical é o mais comum. O

mecanismo de formação dos urólitos é desconhecido e vários fatores podem estar envolvidos naformação da doença. O presente trabalho teve por finalidade descrever a ocorrência de umcálculo cístico em um eqüino. O animal com sinais clínicos de obstrução das vias urinárias ediagnóstico ultra-sonográfico de cálculo na bexiga foi submetido a cirurgia. A cistotomia revelouum cálculo arenoso de aproximadamente 3 quilos composto basicamente por carbonato decálcio. No pós-operatório o paciente apresentou atonia vesical. Não foi possível concluir qualfoi a etiologia da doença, porém foram considerados como fatores predisponentes a elevadadureza da água consumida e uma possível atonia vesical prévia.

Palavras-chave: Urólito. Cálculo vesical. Eqüino. Bexiga.

Urolithiasis in equine

ABSTRACTThe equines can have urolthiasis and the vesical calculi is most common. The mechanism

of formation of the urolith in unknow and some factors can be involved in the formation ofdisease. The aim of this paper is to describe the occurrence of a cystic calculi in a horse. Theanimal with clinical signs of blockage of the urinary tract and diagnostic ultrasound of a stonein the bladder was submitted to surgery. The cystotomy basically disclosed three kilosapproximately and is composed of an arenaceous stone of calcium carbonate. In the postoperativeperiod the patient it presented vesical atony. It was not possible to conclude which was theetiology of the illness, however it can be consider as predisponent factors the raised hardnessof the water and a previous vesical atony.

Keywords: Urolith. Vesical calculi. Equine. Bladder.

n.2v.5Veterinária em Foco jan./jun. 2008p .137-142Canoas

Page 59: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008138

INTRODUÇÃOA espécie eqüina é raramente afetada por doenças do trato urinário (KELLER,

1990). Segundo o autor uma das enfermidades que podem ocorrer é a formação decálculos. Os precipitados em forma de pedra em qualquer local das vias urinárias sãochamados de urolitíases. A pedra é chamada de urólito ou cálculo urinário e sãoencontrados com maior freqüência na bexiga e nestes casos são denominados decálculos císticos (JONES, 2000). Knottembelt e Pascoe (1998) comentam que os cálculosvesicais constituem a forma clínica mais comum de urolitíase no cavalo e Bayly (2000)observou uma prevalência estimada em 0,11% e 7,8% dos cavalos examinados pordoenças do trato urinário.

Segundo Divers (1993), a ocorrência da doença é maior em machos do que nasfêmeas e esta menor predisposição da fêmea deve-se a uma uretra mais curta, larga edistensível, o que permite a passagem do cálculo.

Frasier (2001) afirmou que o mecanismo de formação dos urólitos nos eqüinos édesconhecido, porém ressaltou que o pH e o alto teor mineral urinário possam favorecera formação de cristais. A urina normal de cavalos contém grande quantidade demucoproteínas, que podem servir como substância cimentante para aderir os cristais.Além disto, é altamente alcalina, o que facilita a cristalização da maioria dos componentesde um urólito, em especial o carbonato de cálcio. O mesmo autor salientou ainda que oconsumo de água e alimentos ricos em teor mineral pode aumentar a concentraçãourinária de solutos e com isto promover a cristalização e precipitação.

Segundo Scott II (2000) os fatores que contribuem para a precipitação de cristaisurinários incluem a hipersaturação urinária e a retenção prolongada de urina, além detendências genéticas para excretar grandes quantidades de cálcio, ácido úrico ouoxalatos. Conforme este autor, nos casos de paralisia de bexiga, a estase do fluxourinário possibilita o contato entre o material cristalóide e uroepitélio favorecendo anucleação. Bayly (2000) corrobora a afirmação de que a atonia da bexiga pode serresponsável pelo acúmulo de sedimentos e obstrução. Knottenbelt e Pascoe (1998)também citaram a ocorrência de paralisia de bexiga em eqüinos como fator predisponenteda enfermidade. A perda do controle da função vesical é um problema relativamenteraro em eqüinos, as disfunções da micção em eqüinos podem estar associadas amieloencefalopatias de causas traumáticas, neoplásicas ou infecciosas. Nestes casos,podem estar presentes ainda sinais como: a perda do tônus do esfíncter anal, paralisiada cauda, hipoalgesia sobre o períneo, atrofia dos músculos do quadril e do membroposterior e fraqueza nos posteriores (BAYLY, 2000; DÜSTERDIEK, 2003).

Segundo Brown e Bertone (2005), o esvaziamento vesical incompleto causaacúmulo de grandes quantidades de sedimento urinário sabuloso ou mucóide na bexiga,que consiste basicamente em cristais de carbonato de cálcio (urolitíase sabulosa). Opeso e o volume desse material provoca uma distensão progressiva da bexiga, com aperda da função do músculo detrusor e paralisia progressiva (bexiga miogênica), quevai interferir na micção normal.

Page 60: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

139Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008

De acordo com Divers (1993) o exame clínico deve incluir a observação do cavalodurante a micção, palpação retal da bexiga, evacuação manual da bexiga durante oexame retal e avaliação do tônus do esfíncter anal. Uma história completa, inclusive oexame neurológico, deveram ser obtidos em todos cavalos com incontinência urináriainexplicada.

Os sintomas da presença do cálculo vesical variam muito e dependem do tamanhoe da composição da “pedra”. Comumente causam cistite, e o animal pode apresentarevidente desconforto abdominal, encurvamento da coluna lombar (cifose), dificuldadelocomotora posterior e relutância para trotar e galopar. O cavalo apresenta tenesmo edor à micção, e a urina pode apresentar coloração vermelha (hematúria), devido à lesãovascular na parede da bexiga, ou apenas manchada de sangue no final da micção.Perda de peso crônica pode ocorrer, pois pode estar associada a quadros de desconfortoabdominal de graus leves e esporádicos (THOMASSIAN, 1996). Knottenbelt e Pascoe(1998) observaram que no macho, o sinal mais evidente é a incontinência urinária, emque ocorre gotejamento intermitente ou contínuo de pequenos volumes de urina normal,resultando em assadura dos membros pélvicos. Frasier (2001) cita que os eqüinosafetados freqüentemente se esticam para urinar e podem manter essa postura porperíodos variáveis antes e depois da micção.

Os sinais adicionais podem incluir queimadura com urina no períneo das fêmeasou na face medial dos membros traseiros dos machos. Os machos podem protrair opênis flacidamente por períodos prolongados, enquanto gotejam urina de modointermitente. Os eqüinos afetados podem exibir ocasionalmente episódios recorrentesde cólica ou andadura de membro posterior alterada. Entre os sinais clínicos, é comumuma má condição corporal (DIVERS, 1993; PIRIE, 2003). Segundo Divers (1993), o sinalclínico mais comum exibido por cavalos com cálculo vesical é a hematúria após oexercício. Polaciúria, estrangúria, ou disúria podem também ser observadas, assimcomo também se pode encontrar um fino sedimento (areia) na bexiga de alguns cavalosexibindo disúria.

RELATO DO CASOO animal foi atendido por apresentar dificuldade para urinar há mais de uma

semana e por não adquirir a posição normal de micção, além de caminhar com dificuldadee perder peso. Também foi relatado que a urina apresentava-se esbranquiçada, comaspecto arenoso e que escorria aos poucos pelo prepúcio sujando os pêlos dosmembros. O eqüino se alimentava com ração comercial de baixa qualidade e elevadoteor de farelos. Ao exame físico geral foram observadas: má condição corporal, dismetria,incontinência urinária e os pêlos dos membros esbranquiçados. A palpação retal reveloua bexiga repleta e um tônus do esfíncter anal reduzido, a urina apresentou um sedimentodenso de aspecto esbranquiçado e arenoso (Figura 1). Na urinálise foram observadoscristais de carbonato de cálcio em excesso. O exame ultrassonográfico confirmou odiagnóstico de cálculo vesical.

Page 61: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008140

O eqüino foi submetido ao tratamento cirúrgico para remoção do cálculo. Sobanestesia geral inalatória foi realizada uma cistotomia (Figura 2). Na cirurgia observou-se a presença de um cálculo com aproximadamente 3 kg, amarelo-esverdeado, de aspectoarenoso, friável ao toque e que se despedaçava com facilidade (Figura 3). No tratamentopós-operatório foi realizada a administração de antiinflamatório e antibiótico. A análisedo cálculo revelou uma composição de carbonato de cálcio.

FIGURA 1 – Sedimento arenoso (esquerda) e urina densa (direita).

FIGURA 2 – Bexiga.

FIGURA 3 – Cálculo arenoso de 2,9 kg.

Page 62: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

141Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008

O eqüino permaneceu com incontinência urinária e com dificuldade do completoesvaziamento da bexiga, quadro que permaneceu até o último exame realizado 6 mesesapós a cirurgia.

DISCUSSÃOAs urolitíases são raras nos eqüinos (BAYLY, 2000). Os cálculos das vias urinárias

em eqüinos são mais comuns na bexiga e principalmente em machos (JONES, 2000), oque foi verificado neste caso. O cavalo em questão se encontrava em uma criação commais 200 cavalos e não houve registro de caso semelhante nos últimos 10 anos,corroborando com a incidência registrada na literatura.

O diagnóstico foi baseado nos sinais clínicos evidentes de obstrução urinária,além de exames complementares. O paciente apresentava todos os sinais clínicoscitados por Knottembelt e Pascoe (1998) e Frasier (2001), exceto os acessos recorrentesde cólica. A caquexia apresentada pelo paciente provavelmente decorreu da presençada dor abdominal crônica causada pela distensão da bexiga (THOMASSIAN, 1996).Os exames laboratoriais revelaram azotemia e a presença elevada de cristais na urinálisee a confirmação através da ultra-sonografia via retal foi fundamental para decisão pelotratamento cirúrgico.

Conforme afirmou Frasier (2001), o mecanismo de formação dos urólitos noseqüinos é desconhecido e os casos naturais ocorrem mais provavelmente comoresultado da interação de vários fatores. Segundo o mesmo autor, a ingestão de dietarica em farelos e a água com elevada dureza podem ter contribuído para formação docálculo. Porém ao considerarmos a rara ocorrência da doença no plantel mantido sob omesmo manejo alimentar, competem como fatores predisponentes mais aceitos osaspectos individuais: como a idade avançada e uma possível atonia vesical prévia(BAYLY, 2000; BROWN e BERTONE, 2005). Não foi possível estabelecer uma possívelcausa para a disfunção da bexiga, mas várias etiologias foram sugeridas (BAYLY,2000). A fraqueza muscular dos membros posteriores e um reduzido tônus anal sugeriamuma disfunção neurológica.

O acúmulo de uma grande massa de sedimento urinário de aspecto arenoso naface ventral da bexiga de eqüinos foi denominado por Brown (2002) como urolitíasessabulosa. O autor comentou ainda que nos eqüinos com paresia vesical, a sedimentaçãodos cristais da urina normal pode levar a formação do urólito sabuloso. A análise docálculo revelou uma composição básica de carbonato de cálcio, correspondendo coma afirmativa de Frasier (2001).

A cistotomia é o tratamento de eleição e foi considerado satisfatório, porém opaciente continuou com a incontinência urinária. Este fenômeno poderia ser consideradouma seqüela da cirurgia, mas acreditamos que a atonia vesical era prévia ao tratamentocirúrgico, sendo provável que esta disfunção tenha sido um fator predisponente paraa formação do cálculo arenoso, conforme sugeriu Brown (2002).

Page 63: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008142

CONCLUSÃOO cálculo arenoso vesical em eqüinos pode ser causado por um sedimento a

base de carbonato de cálcio e ocupar praticamente toda a bexiga causando umaobstrução das vias urinárias com sinais clínicos evidentes. Existem inúmeros fatoresconcorrentes no desenvolvimento da doença e as causas podem não ser completamenteestabelecidas, porém o tratamento deverá ser cirúrgico e com um prognóstico favorável.

REFERÊNCIASBAYLY, W.M. Incontinência Urinária e Disfunção Vesical. In: REED, S. M.; BAYLY, W.M. Medicina interna eqüina. Rio de Janeiro: Guanabara Koogann, 2000, p.778-780.BROWN, C. M.; BERTONE, J. J. Consulta Veterinária em 5 min. Espécie eqüina. SãoPaulo: Manole, 2005.DIVERS, T. J. Sistema Renal Eqüino. In: SMITH, B. P. Tratado de Medicina Interna deGrandes Animais. V.1. São Paulo: Manole, 1993, p.873-888.DÜSTERDIEK, K. F. Obstructive disease of the urinary tract. In: ROBINSON, N. E.Current Therapy in Equine Medicine – 5. Philadelphia: W. B. Saunders, p.832-834,2003.FRASIER, C. M. Manual Merck de Veterinária. 8.ed. São Paulo: Roca, 2001.KELLER, H. Doenças do sistema urinário. In: WINTZER, H. Doenças dos eqüinos. SãoPaulo: Manole, 1990, p.146-158.KELLER, H. Doenças do Sistema Urinário. In: WINTZER, H. J. Doença dos Eqüinos.São Paulo: Manole, 1990, p.167-181.KNOTTEMBELT, D. C.; PASCOE, R. R. Afecções e Distúrbios do Cavalo. São Paulo:Manole, 1998.PIRIE, R. S. Bladder, retal, anal, and tail paralysis; perineal hypalgesia; and other signsof cauda eqüina syndrome. In: ROBINSON, N. E. Current Therapy in Equine Medicine– 5. Philadelphia: W. B. Saunders, p.755-760, 2003.SCHOTT II H. C. Doença Obstrutiva do Trato Urinário. In: REED, S. M.; BAYLY, W. M.Medicina interna eqüina. Rio de Janeiro: Guanabara Koogann, 2000, p.755 – 763.SCHOTT II, H. C. Fisiologia Renal. In: REED, S. M.; BAYLY, W. M. Medicina internaeqüína. Rio de Janeiro: Guanabara Koogann, 2000, p. 701- 711.SCHOTT, H. C. Sistema Urinário. In: SAVAGE, C. J. Segredos em Medicina de Eqüinos.Porto Alegre: Artmed, 2001, p.171-202.THOMASSIAN, A. Enfermidades dos Eqüinos. 3.ed. São Paulo: Varela, 1996.

Recebido em: mar. 2008 Aceito em: maio 2008

Page 64: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

143Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008

Tamarini Rodrigues Arlas é Méd. Vet. Mestranda PPG em Ciências Veterinárias UFRGS.Marília Corrêa Borba é Méd. Vet. Autônoma.Cláudia Sant’Anna é Méd. Vet. Autônoma.Paulo Ricardo Loss Aguiar é Méd. Vet., Mestre, Professor Adjunto do Curso de Medicina Veterinária ULBRA/RS.Eduardo Malschizky é Méd. Vet. Doutor, Professor Adjunto do Curso de Medicina Veterinária ULBRA/RS.Rodrigo Costa Mattos é Méd. Vet., Doutor, Professor Adjunto, Departamento de Medicina Animal, UFRGS.

Endereço para correspondência: Av. Farroupilha, 8001, Canoas/RS, CEP:92425-900. E-mail:[email protected]

Pneumonia por Rhodococcus equi

Tamarini Rodrigues ArlasMarília Corrêa Borba

Cláudia Sant’AnnaPaulo Ricardo Loss Aguiar

Eduardo MalschizkyRodrigo Costa Mattos

RESUMOA pneumonia causada por Rhodococcus equi é uma enfermidade que acomete potros com

menos de 6 meses de vida. O agente é um microorganismo Gram-positivo, que é transmitidoatravés da poeira, sendo encontrado em grande quantidade em locais onde há um manejo cons-tante de éguas e potros.

Além da pneumonia, esta infecção pode também resultar em diarréia, artrite séptica,abscedação intra-abdominal e abscessos multifocais em toda parte do corpo. Devido à altamortalidade, aos altos custos e longos períodos de tratamento, é uma doença importante doponto de vista econômico, sendo a prevenção a melhor forma de controle.

Esta revisão tem como objetivo esclarecer e orientar quanto a aspectos importantes destaenfermidade.

Palavras-chave: Rhodococcus equi. Potro. Pneumonia.

Rhodococcus equi pneumonia

ABSTRACTRhodococcus equi pneumonia is a disease that occurs in foals with less than 6 months

old. It is a Gram-positive microorganism, which is transmitted through the dust in places whereit has a constant handling of mares and foals.

This infection can also result in diarrhea, articular sepsis, intra-abdominal and multifocalabscesses in all part of the body. Due to the high mortality, costs and length of treatment, it isan important disease from the economic point of view and prevention is the best way ofcontrolling. Important aspects of the disease are discussed in this review.

Keywords: Rhodococcus equi. Foal. Pneumonia.

n.2v.5Veterinária em Foco jan./jun. 2008p .143-153Canoas

Page 65: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008144

INTRODUÇÃOUma das principais causas de doença e mortalidade em potros entre o segundo

e o sexto mês de vida é a pneumonia, sendo um dos principais agentes causadores oRhodococcus equi (THOMASSIAN, 2005). Os rodococos são bactérias Gram-positivas,que apresentam desde a forma cocóide até bastonetes. É um microrganismo aeróbio,cuja temperatura ótima para o crescimento é de 30°C, não se multiplicando atemperaturas abaixo de 10°C. O R. equi é disseminado pelas fezes dos eqüinos saudáveis,contaminando assim o ambiente. A multiplicação do microrganismo começa logo queas fezes chegam ao ambiente, recebendo umidade, nutrientes e temperatura apropriados.O isolamento do microrganismo pode ser feito a partir do solo, onde é capaz desobreviver por períodos prolongados, especialmente em ambientes repletos de matériaorgânica. Como resultado, o solo, especialmente na superfície, atua como a principalfonte de microrganismos para potros suscetíveis, especialmente em fazendas onde asinfecções são diagnosticadas rotineiramente. Ao contrário de outros microrganismos,o solo ácido não parece inibir o R. equi, e o microrganismo é capaz de sobreviver emsolos secos e úmidos. Solos arenosos podem ser particularmente adequados parasobrevivência das bactérias e transmissão da doença (BERTONE, 2000).

A faixa etária em que os potros são acometidos compreende de dois e cinco meses devida, o que possivelmente se deva à queda natural dos níveis plasmáticos de anticorpos,que ocorre sempre entre a 4ª e 8ª semana de vida (WILSON, 1997, TIZARD, 1998).

A infecção tem sido relatada nos cinco continentes, independentemente da raça,sexo ou sistema de criação (DEPRÁ et al., 2001). Apesar de o R. equi estar presente namaioria das fazendas de criação de eqüinos, casos clínicos podem não ocorrer, ouserem apenas esporádicos em alguns locais, enquanto outros são enzoóticos. A doençaapresenta efeitos devastadores, com níveis de morbidade podendo exceder 40% emáreas endêmicas (SLOVIS, 2005). Esta variação na morbidade é dependente da presença,ou não, da proteína de virulência VapA. De acordo com Carlton & Mcgavin (1998), aevolução do curso clínico, uma broncopneumonia crônica, é de 30 a 40 dias, commortalidade média de 64%. As perdas de potros numa determinada fazenda podemtotalizar de 10-15%. O agente é capaz de sobreviver no interior das células fagocíticase esta capacidade do R. equi de se multiplicar nos macrófagos alveolares e destruí-losé básica para a sua patogenicidade. Histologicamente, as lesões de pneumoniacaracterizam-se por numerosos leucócitos polimorfonucleares e macrófagos (BERTONE,2000; WARNER, 1996).

Fatores ambientais que podem predispor os potros ao desenvolvimento depneumonia são altas temperaturas e alta umidade relativa do ar, especialmente seassociadas a períodos secos e com vento, condições que favorecem a inalação depoeira pelos animais. Em condições de calor, seca e manejo inadequado das baias omicroorganismo pode se multiplicar até 10000 vezes em 2 semanas (DEPRÁ et al.,2001). Por outro lado, a necessidade de dissipar calor em climas quentes sobrecarregao trato respiratório dos potros, que são menos eficientes em eliminar calor através dasudorese, se comparados a eqüinos adultos (WILSON, 1997).

Page 66: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

145Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008

APRESENTAÇÃO CLÍNICAOs potros podem parecer saudáveis até que a infecção comprometa a maior parte

dos pulmões, após o que desenvolvem desconforto respiratório e sinais clínicos depneumonia severa, morrendo dentro de alguns dias. No entanto, após um período deincubação de 10 a 21 dias, ou mais, o quadro mais comum é uma broncopneumoniasupurativa crônica, com abscedação pulmonar, febre, aumento das freqüênciasrespiratória e cardíaca e uma descarga nasal purulenta ocasional. Sem uma terapiaadequada, os potros apresentam uma aparência emaciada e morrem depois de algumassemanas ou meses. No caso de sobrevivência, ocorrem fibrose pulmonar extensapermanente e diminuição da capacidade respiratória. Ocorrem pneumoniagranulomatosa crônica e abscessos pulmonares e dos linfonodos. Também podemocorrer enterocolite ulcerativa e linfadenite associada, artrite séptica, osteomielite,uveíte ou panoftalmite. Até 30% dos potros com pneumonia pelo R. equi apresentamuma sinovite não séptica causada pela deposição de complexo antígeno-anticorpo(uma reação de hipersensibilidade tipo III) ativa e crônica, caracterizada por umadistenção articular com uma claudicação mínima ou inexistente (LEWIS, 2000). Ospotros podem apresentar tosse branda e profunda, não tendo características de crise.Com a cronificação da doença, podem ser observados falha no desenvolvimento,depressão, letargia e alguns potros apresentam desconforto abdominal e extremaintolerância a qualquer tipo de exercício (THOMASSIAN, 2005; WILKINS, 2005).

DIAGNÓSTICOO diagnóstico baseia-se nas características epidêmiológicas ou endêmicas da

doença no criatório, nos sinais clínicos e anatomopatológicos. A auscultação pulmonarpode relevar estertores, chiados, estalos e áreas de silêncio ou apenas ruídosrespiratórios com redução do murmúrio vesicular. É comum a auscultação pulmonarnão apresentar resultados compatíveis com o grau de severidade das lesões que sedesenvolvem nos pulmões, particularmente na fase inicial de abscedação.

Exames laboratoriais revelam que os potros, demonstram leucocitose (acima de13.000 células/mm3), com neutrofilia e monocitose, além de níveis elevados defibrinogênio plasmático (>400 mg/dl) (COHEN, 2002). Foram observados valoressignificativamente menores de hematócrito em potros que adoeceram, quandocomparados aos valores observados em potros sadios (DEPRÁ et al., 2001). Estesautores compararam dados hematológicos de potros sadios e que adoeceram, de ummesmo criatório, submetidos a controle semanal rotineiro e observaram que na leiturados leucogramas dos doentes havia uma variação muito grande, especialmente devidoa ocorrência alternada de leucopenia e leucocitose com neutrofilia, confundindo aleitura das médias No entanto, consideram que o leucograma tem um excelente valordiagnóstico quando avaliado individualmente.

A citologia e a cultura bacteriológica do aspirado transtraqueal é considerado omeio mais importante para o diagnóstico definitivo de infeccções por R. equi. O lavado

Page 67: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008146

traqueobronqueal pode revelar a presença de formações pleomórficas intracelularesGram-positivas em cerca de 61% dos casos (THOMASSIAN, 2005). No entanto, nemsempre é prático ou desejável executar uma lavagem transtraqueal em potros compneumonia devido ao estresse gerado pela contenção necessária para a coleta domaterial (WILSON, 1997). Guiguére (2001) acrescenta que por vezes, esse procedimentopode resultar em óbito do paciente.

O exame radiológico do tórax é um método capaz de detectar precocemente potrosapresentando pneumonia por R. equi, podendo ser realizada a campo em animais atéos 6 meses de vida. Os achados do exame radiográfico podem revelar desde discretoaumento difuso da densidade pulmonar, até nodulações ou lesões cavitárias deabscedação e linfadenopatia traqueobronquial, podendo-se evidenciar tanto lesõescentrais quanto periféricas (COHEN, 2002). Este mesmo autor, no entanto, cita comodesvantagens para a sua utilização na doença pulmonar, a exposição de todas aspessoas à radiação, custos associados ao procedimento, o tempo necessário para aavaliação dos resultados e o fato de que as lesões podem não ser características, comoocorre em casos avançados de pneumonia por R. equi.

A ultrassonografia do tórax, por outro lado, permite a visualização de áreas deconsolidação, pleuropneumonia, abscessos, granulomas, tumores e hérniasdiafragmáticas (REEF, 1998) e seu uso rotineiro é recomendado como método auxiliarno diagnóstico precoce de pneumonia por R. .equi, especialmente em locais comsituação de endemia para a doença (SLOVIS, 2005). Os abscessos são identificadosatravés de sua aparência cavitária, sendo graduadas, conforme a severidade eprofundidade da maior lesão encontrada, numa escala de 0 (sem alterações) a 10 (todaa superfície pulmonar afetada). Na Tabela 1, estão apresentadas as diferentes graduaçõescom a medida observada na lesão.

TABELA 1 – Graduação das lesões observadas ao exame ultrassonográfico em potros apresentandopneumonia por R. equi.

Grau Medida (cm) Grau Medida (cm) 1 até 1,0 6 5,1-6,0 2 1,0-2,0 7 6,1-7,0 3 2,1-3,0 8 7,1-8,0 4 3,1-4,0 9 8,1-9,0 5 4,1-5,0 10 inteiramente afetado

TRATAMENTOO tratamento deve não só destruir os organismos causais com terapia

antimicrobiana específica, mas também melhorar a função respiratória, minimizar oestresse e maximizar o conforto do paciente. Melhora da qualidade ambiental e a restriçãodo exercício são medidas importantes em casos severos, com redução da demanda

Adaptado de Slovis (2005).

Page 68: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

147Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008

respiratória. Em casos moderados e nos que estão melhorando com o tratamento, umexercício limitado pode ser útil promovendo expectoração. Baias e piquetes frescos,limpos, sem poeira, sem odor forte (normalmente causados por aumento de amônia,que também causam desconforto e inflamação da mucosa respiratória superior e reduzema capacidade fagocítica dos macrófagos alveolares) e bem ventilados são indicadospara minimizar a atividade e a exposição dos animais ao agente. Pode ser usada airrigação de piquetes e estradas para controlar a poeira e áreas como os corredoresdevem ser limpas e molhadas. O confinamento em baias com ar-condicionado pode serutilizado para potros apresentando angústia respiratória (WILSON, 1997).

A manutenção adequada da hidratação é importante para a recuperação do animal.A nebulização pode ser útil em potros com secreções espessas ou uma tosse nãoprodutiva, mas é contra-indicado em potros com secreções úmidas e volumosas, e oprocedimento pode levar ao “stress” (WILSON, 1997).

Medidas auxiliares, como aplicação de broncodilatadores, mucolíticos eantiinflamatórios não hormonais, aliviam consideravelmente o quadro de insuficiênciarespiratória (THOMASSIAN, 2005).

ANTIBIOTICOTERAPIAOs mecanismos de evasão do sistema imune do R.equi que permitem a sua

viabilidade intracelular, inclusive no interior de fagócitos, condicionam a efetividadeda terapia na rodococose à antimicrobianos lipofílicos, que possuem capacidade depenetração em neutrófilos, macrófagos e no foco piogranulomatoso (RIBEIRO, 1999).O tratamento de eleição consiste basicamente na utilização da associação de eritromicinae rifampicina. A eritromicina na dose de 25 a 30 mg/kg de peso 4 vezes ao dia e arifampicina na dose de 5 a 10 mg/kg de peso 2 vezes ao dia, ambos por via oral,possuem boa lipossolubilidade e difusão nos tecidos e; por sinergismo, apresentamgrande poder em combater o R. equi (THOMASSIAN, 2005).

Ribeiro (1999) estudou a suscetibilidade a antimicrobianos de amostras de R.equi, isoladas de afecções pulmonares em potros, frente a 11 antimicrobianos (Tabela2). Dentre os antimicrobianos comumente utilizados em medicina veterinária contrainfecções por R.equi em potros, a rifampicina e a eritromicina têm sido relatadas comoas drogas de maior efetividade in vitro. Apesar do emprego da rifampicina e eritromicinana maioria dos casos de rodococose em potros, outros antimicrobianos têm sidoinvestigados como alternativos, devido a fatores limitantes na instituição e manutencãoda terapia da doença, baseada apenas na associação dessas duas drogas. Nessesfatores incluem-se a resistência in vivo e in vitro (natural ou adquirida ao longo daterapia) de amostras de R.equi, o alto custo dos antimicrobianos, ou a ocorrência dereações orgânicas indesejáveis em animais tratados por longo período (MOORE, 1999).A eritromicina eventualmente pode desencadear diarréia no potro, além de estarassociada com hipertermia potencialmente fatal em alguns casos em potros que seencontram em ambientes quentes (THOMASSIAN, 2005).

Page 69: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008148

A azitromicina vem sendo utilizada em substituição a eritromicina. Esse macrolídeoatinge uma concentração intracelular nos macrófagos 33 vezes mais alta que a eritromicina.Uma vez que o R. equi é um parasita intracelular, isso representa uma grande vantagemna eficácia do tratamento antibiótico (WILSON, 2001). A azitromicina apresenta umameia-vida de eliminação longa, requerendo uma administração menos freqüente que aeritromicina. Após administrações orais repetidas, a concentração deste antibiótico nascélulas bronco-alveolares pode ser de 6 a 130 vezes maior do que a observada no sanguee, devido a sua alta concentração intracelular nos macrófagos, dose recomendada é de10mg/kg por via oral 1 vez ao dia durante 5 a 10 dias (JACKS et al., 2001).

TABELA 2 – Suscetibilidade a 11 antimicrobianos, de 31 amostras de R. equi isoladas de afecçõespulmonares em potros, na prova de difusão em discos.

Sensibilidade da amostra sensível Intermediária resistente Antimicrobianos

N % N % n % Ampicilina 4 13 4 13 23 74,0

Enrofloxacina 11 35,5 14 45,2 6 19,3 Eritromicina 31 100 0 -- 0 --

Estreptomicina 17 54,8 7 22,6 7 22,6 Gentamicina 28 90,4 2 6,4 1 3,2

Metronidazole 0 -- 0 -- 31 100 Neomicina 29 93,6 0 -- 2 6,4

Penincilina G 1 3,2 0 -- 30 96,8 Rifampicina 30 96,8 0 -- 1 3,2

Sulfa/Trimetoprim 0 -- 5 16,2 26 83,8 Tetraciclina 2 6,4 18 58,1 11 35,5

PREVENÇÃO E CONTROLENa prevenção e controle de infecção por R. equi, a redução do desafio infeccioso

pode ser crítica. Isso inclui o isolamento dos potros doentes e eliminação de suasfezes, diminuição da formação de poeira, rotação de pastagens e irrigação de áreaspoeirentas (BECÚ, 1999).

Por outro lado, como não há método totalmente eficaz, é fundamental que seinclua nas medidas de controle métodos de diagnóstico precoce para a doença.

O controle térmico de todos os potros é um bom meio para detectar a doença emestágios iniciais (BECÚ, 1999). Normalmente, a febre varia de 38,8°C a 40°C, mas emalguns momentos pode exceder a 45°C. O aumento da temperatura retal é freqüente empotros com infecção respiratória (WILSON, 1997). Em um estudo realizado por Martenset al. (1989), a temperatura retal dos potros era aferida uma vez ao dia entre 8:00 horase 10:00 horas da manhã. Temperaturas acima de 39,4°C eram consideradas elevadas,servindo como forma de triagem para exames mais aprofundados.

Adaptado de Ribeiro (1999).

Page 70: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

149Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008

Deprá et al. (2001) estudaram dados de controle semanal de hematologia esorologia de 302 potros puro sangue de corrida de um criatório com situação endêmicapara R. equi. Os potros eram avaliados individualmente, através de observação decomportamento, freqüência e padrões respiratórios, duas vezes ao dia, e se observouque, apesar da diferença observada em valores de hematócrito, proteína total,fibrinogênio plasmático e nível de anticorpos específicos para R. equi entre potrossadios e aqueles que adoeceram, a maioria das alterações observadas nos exameslaboratoriais ficaram evidentes somente após já terem sido detectadas alteraçõescomportamentais, levando à conclusão de que o acompanhamento clínico freqüente,constante e individualizado pode ser considerado o meio mais importante para odiagnóstico da doença.

A monitoração regular, através da ultra-sonografia de tórax é recomendada porSlovis (2005), devendo ser iniciada a partir da terceira semana de vida do potro erepetida em todos os animais a cada 14 dias, até a idade de 6 meses. Uma vez observadaqualquer alteração durante este exame, deve ser instituída a terapia com antibióticos eo paciente deve ser isolado e colocado em ambiente favorável à recuperação. NaTabela 3, está apresentada a duração do tratamento em função do grau de lesãoobservado ao exame ultra-sonográfico no dia em que a terapia com antimicrobianos foiiniciada.

TABELA 3 – Relação entre o grau de lesão pulmonar ao exame ultra-sonográfico no dia do início e a duraçãodo tratamento com antimicrobianos, em uma fazenda endêmica para Rhodococcus equi.

Grau Potros (n) Duração do tratamento (dias) 1 28 17,7 2 22 31,7 4 12 53,7

Adaptado de Slovis (2005).

Conforme se observa na Tabela 3, o diagnóstico precoce das lesões, apenaspossibilitado pelo uso da monitoração freqüente de todos os indivíduos, reduzsignificativamente o tempo de tratamento dos animais afetados.

A vacinação e a administração endovenosa de plasma hiper-imune obtido demães vacinadas, são opções que podem ser efetivas na redução da incidência deinfecção e morte provocada por R. equi em potros (GUIGUÉRE; PRESCOTT, 1997).

Na Argentina e em outros países sul-americanos, a vacinação das éguas antesdo parto, e em alguns casos com a administração de plasma hiper-imune para os recém-nascidos vem sendo usada no controle da enfermidade (BECÚ, 1999). As éguas devemser vacinadas aos 30 e 45 dias antes do parto, por via subcutânea. Esta vacina promoveráimunidade passiva específica por via colostral, aos potros recém-nascidos. A vidamédia destes anticorpos é de mais ou menos 30 dias. Com 60 a 75 dias de vida podeainda ser detectado um certo título. No entanto, entre 20% a 30% das éguas não

Page 71: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008150

respondem satisfatoriamente à vacina. Considerados também os casos de falha detransferência de imunidade passiva, devido à qualidade de colostro, o total de potrosteoricamente protegidos somente com a vacinação ficaria em torno de 50% (BECÚ,1996). Em modelo experimental de infecção em estudo realizado por Guiguére & Prescott(1997), a vacinação das éguas não garantiu proteção para prevenir contra a pneumoniapor R. equi, apesar de um aumento significativo de anticorpos no colostro comtransferência passiva parcial para os potros.

Por outro lado, em um trabalho realizado com 115 potros, Madigan et al (1991)obteve uma redução significativa nos casos de pneumonia com a administração deplasma hiper-imune, em comparação ao número de casos em potros cujas mães foramapenas vacinadas. A incidência de pneumonia em potros de éguas vacinadas foi de43% em comparação a somente 2,9% com a administração do plasma hiper-imune emfazenda endêmica da América do Norte.

A transfusão de plasma hiper-imune é indicada em potros jovens com pneumoniae fracasso parcial ou completo de transferência passiva de anticorpos colostrais(WILSON, 1997). A aplicação do plasma hiper-imune, obtido de doadoras que receberamvacina contra R. equi, é capaz de proporcionar considerável proteção, reduzindo onúmero de casos em propriedades que apresentam a infecção em forma endêmica,embora ainda constitua medida controvertida quanto a ser de fundamental importânciapara o paciente (THOMASSIAN, 2005).

O plasma deve ser administrado via endovenosa, pela veia jugular em um períodode 10 a 20 minutos, com a 1a administração nos potros com idade de 4 dias de vida ,sendo a 2a administração após 25 dias (BECÚ et al., 1997). Guiguére & Prescott (1997),alertam que o tempo e a compra do equipamento para administrar o plasma hiper-imuneé alto, devendo-se medir o custo-benefício para prevenir a doença em fazendas comalta incidência de pneumonia por R. equi.

Alterações no manejo, no entanto, parecem ser a melhor forma de reduzir aincidência da doença em áreas endêmicas. Reduzir a intensidade do manejo, promovera ocorrência de partos mais cedo durante a temporada reprodutiva manter a estabilidadedos lotes de éguas com potro ao pé, formar lotes com poucos indivíduos e reduzir ouso da cocheira foram considerados os fatores determinantes para a redução daincidência de pneumonia por R. equi em uma fazenda com situação endêmica (DEPRÁet al., 2001).

Comparando diferentes formas de manejo para o controle das infecções por R.equi em outro estabelecimento com situação endêmica para a doença no sul do Brasil,Malschitzky et al (2005) observaram que não utilização da cocheira, desde o dia donascimento resultou em uma significativa redução da morbidade (Tabela 2) quandocomparado a manejos em que os animais eram mantidos estabulados por períodossuperiores a 5 horas diárias.

Page 72: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

151Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008

TABELA 2 – Incidência de infecção por R. equi, na região da grande Porto Alegre em um estabelecimentocom situação endêmica para R. equi

Doentes Manejo n

n % Cocheira 108 32 29,6a

Cocheira + Plasma Hiper-imune (2 e 35 dias) 236 41 17,3b, c

Manutenção a campo + plasma hiper-imune 2 d 196 7 3,6d

Os dados enfatizam a necessidade de alterar o manejo geral do haras, em especialcom a redução, ou abolição do uso da cocheira para potros entre o nascimento e odesmame quando se pretende reduzir a incidência das infecções por Rhodococcus equi.

CONCLUSÃOAlterações de manejo como a redução, ou abolição do uso da cocheira para

éguas com produto ao pé, a adoção da alimentação a campo, redução do número deindivíduos nos grupos de éguas, a manutenção da estabilidade dos componentes dolote a redução da lotação e a promoção de partos mais cedo na temporada reprodutivaparecem ser a melhor forma de prevenir ou reduzir a incidência de infecções porRhodococcus equi. Associado a práticas que favoreçam o diagnóstico precoce dadoença, como a observação individual diária do comportamento e a avaliação rotineiraatravés de ultra-sonografia do tórax pode garantir uma redução significativa damorbidade e da mortalidade em áreas endêmicas.

REFERÊNCIASBECÚ, T. Resumen de medidás tendientes a controlar la neumonía de los potrillos porRhodococcus equi. Buenos Aires: Clínica equina SRL, 1996.BECÚ, T. Shinji Takai estuda o Rhodococcus na Agentina. Saúde Eqüina. Ano II, n .13;São Paulo: Segmento, p.16, 1999.BECÚ, T.; POLLEDO, G.; GASKIN, J. M. Immunoprophylaxis of Rhodococcus equipneumonia in foals. Veterinary Microbiology, v.56, p.193-204, 1997.BERTONE, J. J. Pneumonia e outros distúrbios associados ao Rhodococcus equi. In:REED, S. M.; BAYLY, W. M. Medicina Interna Eqüina. Rio de Janeiro: GuanabaraKoogan, 2000.CARLTON, W. W.; McGIVEN, M. D. Patología Veterinaria Especial de Thomson.2.ed. Porto Alegre: Artmed, 1998.COHEN, N. D.; CHAFFIN, M. K.; MARTENS, R. J How to Prevent and Control Pneumo-nia Caused by Rhodococcus equi at Affected Farms Proceedings of the 49th AnnualConvention of the American Association of Equine Pracitioners, 2002. Anais, AAEP,2002, p.295-299.

Letras diferentes (a, b) indicam diferença significativa (λ2=6,66; p=0,009)Letras diferentes (c, d) indicam diferença significativa (λ2=20,6; p=0,00001)

Page 73: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008152

COLLATOS, C. Blood and blood component therapy. In: ROBINSON, N. E. CurrentTherapy in Equine Medicine. Philadelphia: W. B Saunders, 1997.DEPRÁ, N. M. et al. Monitoramento da infecção por Rhodococcus equi em potros purosangue de corrida. Arquivos da Faculdade de Veterinária UFRGS, v.29, n.1, p.25-35, 2001.GIGUÉRE, S. Rhodococcus equi Pneumonia, Proceedings of the 47th Annual Conventionof the American Association of Equine Pracitioners, 2001. Anais, AAEP, 2001, p.456-467.GUIGUERE, S. Rhodococcus equi infection in recent advances in equine neonatal careIn: WILKINS, P. A; PALMER, J. E. Disponível em: <https://www.ivis.org>. Acesso em04 jun. 2004.GUIGUÈRE, S. Rhodococcus equi infections. In: WILKINS, P. A.; PALMER, J. E. RecentAdvances in Equine Neonatal Care. Disponível em <http//www.ivis.org >, 2000. Aces-so em 04 jun. 2004.GUIGUERE, S. Rhodococcus equi pneumonia in the foal can be deadly, but goodmanagement can save the day. Disponível em: <https://www.aaep.org>. Acesso em 04jun. 2004.GUIGUÉRE, S.; PRESCOTT, J. F. Clinical manifestations, diagnosis, treatment, andprevention of Rhodococcus equi infections in foals. Veterinary Microbiology, v.56,p.313-334, 1997.JACKS, S. et al. Pharmacokinetics of Azithromycin in Foals, Proceedings of the 47th

Annual Convention of the American Association of Equine Practitioners, 2001. Anais,AAEP, 2001, p.378-379.LEWIS, L. D. Alimentação e Cuidados do Cavalo. São Paulo: Roca, 2000.MADIGAN, J. F.; HIETALA, S.; MULLER, N. Protection against naturally acquiredRhodococcus equi pneumonia in foals by administration of hyperimmune plasma. J.Reprod. Fertil, Suppl. V.44, p.571-578, 1991.MALSCHITZKY, E. et al. Reduzir o uso da cocheira reduz a incidência de infecções porRhodococcus equi em potros A Hora Veterinária, v.24, n.143, p.27-30, 2005.MARTENS, R. J.; MARTNS, J. G.; FISKET, R. A.; Rhodococcus equi foal pneumonia.Protective effects of immune plasma in experimentally infected foals. Equine Vet. J.,v.21, n.4, p.249-255, 1989.MOORE, R. M. Antimicrobial Therapy in Horses. In: COLAHAN, P.T. Equine Medicineand Surgery 5.ed. St. Louis, Mosby Inc., 1999, v.1.REEF, V. B. Thoracic Ultrassonography: Noncardiac imaging. In: REEF, V.B. Equinediagnostic Ultrasound. Philadelphia, W.B. Saunders, 1998.RIBEIRO, M. G. Afecções Pulmonares em Potros. In: Saúde Eqüina. Ano II, n.13; SãoPaulo: Segmento, 1999, p.18.SLOVIS, N. M.; McCRACKEN, J. L.; MUNDY, G. How to use thoracic ultrasound toscreen foal for Rhodococcus equi at affected farms. Proceedings of the 51st AnnualConvention of the American Association of Equine Pracitioners, 2005. Anais, Seattle,AAEP, 2005, p.274.THOMASSIAN, A . Enfermidades dos Cavalos. São Paulo: Varela, 2005.TIZARD, I. R. Imunologia Veterinária: uma introdução. 5.ed. São Paulo, Roca, 1998.WARNER, A. E. Disorders of the organ systems. In: SMITH, B. P. Large Animal InternalMedicine: Diseases of Horses, Cattle, Sheep and Goats. St. Luois, Mosby Inc., 1996, p.240.

Page 74: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

153Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008

WILKINS, P. A. Rhodococcus equi. In: BROWN, C. M.; BERTONE, J. J. ConsultaVeterinária em cinco minutos: Espécie Eqüina. São Paulo, Manole, 2005.WILSON, W. D. Foal Pneumonia. In: ROBINSON, N. E. Current Therapy in EquineMedicine 4. Philadelphia: W.B. Saunders, 1997, p.612-619.

Recebido em: jan. 2008 Aceito em: maio 2008

Page 75: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008154

Anelise Bonilla Trindade e Cristiano Gomes são Médicos Veterinários, Mestrandos, Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).Luciana Dambrósio Guimarães é Médica Veterinária, Doutora, Professora de Anestesiologia na UniversidadeFederal do Mato Grosso (UFMT).Emerson Antonio Contesini é Médico Veterinário, Doutor, Professor de Técnica Cirúrgica na UniversidadeFederal do Rio Grande do Sul (UFRGS).Paula Cristina Basso é Médica Veterinária, Mestranda, Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária,Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).

Endereço para correspondência: [email protected]

Fármacos injetáveis para a anestesia totalintravenosa em cães – revisão de literatura

Anelise Bonilla TrindadeLuciana Dambrósio Guimarães

Emerson Antonio ContesiniCristiano Gomes

Paula Cristina Basso

RESUMOA anestesia total intravenosa (TIVA) é uma técnica que utiliza somente agentes intravenosos

para a indução e a manutenção anestésica. Para conseguir uma adequada TIVA, pode ser combi-nado um hipnótico, um analgésico e um bloqueador neuromuscular. Dentre os agentes injetáveis,destacam-se atualmente na anestesia veterinária o propofol, derivados esteróides (alfaxalona/alfadolona), derivados imidazólicos (metomidato/etomidato) e anestésicos dissociativos(cetamina e tiletamina). É importante conhecer as formas de absorção, as rotas metabólicas e aspropriedades anestésicas dos agentes injetáveis, já que suas bases farmacocinéticas são essen-ciais para seu uso seguro. Sendo assim, a TIVA fornece a possibilidade de utilizar diversosfármacos, no entanto são mais apropriados aqueles que apresentam uma meia vida curta, combaixos volumes de distribuição, com um rápido início de ação, não produzindo metabólitostóxicos ou ativos.

Palavras-chave: Infusão contínua. Agente anestésico. Propofol. Etomidato. Cetamina.

Injectable drugs for intravenous total anesthesia in dogs: Review

ABSTRACTThe total intravenous anesthesia (TIVA) is a technique that only uses intravenous drugs

for the induction and the anesthetical maintenance. To obtain adequate TIVA it is necessary tocombine a hipnosis, an analgesic and a choke must be combined to neuromuscular blockers.Inside of the injectable agents, the barbiturates are currently distinguished in the anesthesiaveterinary medicine (thiopental and penthobarbital), propofol, steroids derivatives (alfaxalona/alfadolona), imidazólicos derivatives (metomidato/etomidato) and dissociativos anaesthetics(ketamine and tiletamine). It is important to know the metabolic forms of absorption, routesand the anesthetical properties of the injectable agents, since its farmacocinetics basis are

n.2v.5Veterinária em Foco jan./jun. 2008p .154-172Canoas

Page 76: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

155Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008

essential for its safe use. Therefore, the TIVA supplies the possibility to use different drugs,however the most appropriates those that present a half short life, with low volumes ofdistribution, with a fast beginning of action, not producing toxic or active metabolic.

Keywords: Continuous infusion. Anaesthetic agent. Propofol. Etomidate. Ketamine.

INTRODUÇÃOA anestesia total intravenosa (TIVA) é uma técnica que utiliza somente fármacos

intravenosos (IV) para a indução e a manutenção anestésica, evitando qualquer tipode anestésico inalatório. A aplicação da TIVA tem sido especialmente possível nosúltimos anos, graças ao desenvolvimento de anestésicos utilizados por via IV, de açãorápida e curta duração (CELORIO, 2007).

Dentro da classe dos agentes injetáveis, destacam-se atualmente na anestesiaveterinária os barbitúricos (tiopental e pentobarbital), propofol, derivados esteróides(alfaxalona/alfadolona), derivados imidazólicos (metomidato/etomidato) e anestésicosdissociativos (cetamina e tiletamina) (http: //minnie. uab. es/~veteri/21271/ANESTESIA%20INYECTABLE.doc). Porém, os barbitúricos são utilizados somenteem procedimentos curtos e em geral não é recomendada a infusão contínua já quepode ocorrer acúmulo, com metabolismo hepático lento, aumentando o período derecuperação anestésica (OTERO, 2005). Devido a estas razões, os barbitúricos nãoserão abordados neste trabalho.

O uso da TIVA não é algo recente, pois desde o descobrimento dos barbitúricostem sido uma técnica anestésica viável, seguida dos benzodiazepínicos e narcóticos emais recentemente, a cetamina. No entanto, existem dois anestésicos relativamentenovos em nosso meio que são chamados revolucionários no campo da anestesiaintravenosa, que são o propofol (hipnótico) e o alfentanil (narcótico) (SAAVEDRA etal., 1996). A anestesia injetável a base de propofol, vem ganhando popularidade namedicina veterinária, devido as características de indução e manutenção da mesma(BETHS et al., 2001).

Atualmente vem aumentando o interesse em técnicas de anestesia intravenosana neuro-anestesia (RAISIS et al., 2007), isto porque agentes voláteis comumenteutilizados na manutenção anestésica, interferem no fluxo sangüíneo cerebral, podendolevar a um aumento na pressão intracraniana (PIC) (STREBEL et al., 1995), diminuindoa perfusão cerebral e predispondo a lesão neuronal (CHONG; GELB, 1994). O isofluranopromove pequeno aumento na PIC quando comparado ao halotano (GROSSLIGHT etal., 1985), porém, aumento significativo na PIC tem sido observado em pacientes queapresentam tumores intracranianos, mesmo quando baixas doses são administradas(WALTERS, 1990).

Portanto, a manutenção da anestesia geral por via intravenosa mostra-se comouma alternativa à anestesia inalatória graças ao uso de fármacos com pouco podercumulativo e rápida recuperação (LAREDO; CANTALAPIEDRA, 2001), além dafacilidade na administração, ausência de irritação das vias respiratórias e não poluindo

Page 77: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008156

o meio ambiente nem a área anestésico-cirúrgica. No entanto, a TIVA apresenta comoprincipais desvantagens o fato de que os fármacos uma vez administrados não podemser removidos da circulação e a maioria, não possui antagonista (http://minnie.uab.es/~veteri/21271/ANESTESIA%20 INYECTABLE.doc).

Sendo assim, este trabalho visa fornecer aos estudantes e profissionais médicosveterinários subsídios para a escolha da anestesia geral intravenosa mais adequada deacordo com o procedimento e o estado clínico do paciente. É importante conhecer asformas de absorção, as rotas metabólicas e as propriedades anestésicas dos agentesinjetáveis, já que suas bases farmacocinéticas são essenciais para seu uso seguro(LAREDO; CANTALAPIEDRA, 2001).

ANESTESIA TOTAL INTRAVENOSAA TIVA é uma técnica anestésica de grande importância atual, oferecendo grandes

benefícios tanto para o paciente como para o anestesista e demais participantes daequipe cirúrgica. Atualmente busca-se uma anestesia que seja segura para o paciente,que produza mínimas alterações hemodinâmicas, que promova muito boa analgesia,que não produza efeitos colaterais, que seja eliminada rapidamente, com volumes dedistribuição baixos e taxa metabólica rápida sem produzir metabólitos ativos; que tenhaum despertar agradável e rápido; que não aumente secreções e que não produzaefeitos tóxicos crônicos na equipe cirúrgica. Este tipo de anestesia com todas essascaracterísticas ainda é utopia, no entanto, a TIVA, cumpre muito desses critérios(SAAVEDRA et al., 1996; VARILLAS et al., 2007).

Doses ideais são utilizadas para obterem-se efeitos desejáveis. Deve-se levar emconsideração que a administração de uma droga em forma de bolus intermitentes,produz oscilações na concentração plasmática do agente em questão, o que podelevar as variações na profundidade anestésica e aparecimento de efeitos colateraisindesejáveis. A utilização de um fármaco em infusão intravenosa contínua diminui aincidência de flutuações em sua concentração plasmática e minimiza sua sobre ousubdose (VARILLAS et al., 2007).

Portanto, para conseguir uma adequada TIVA devem-se combinar um hipnótico,um analgésico e um bloqueador neuromuscular. Este tipo de anestesia é umprocedimento caro devido ao custo elevado dos fármacos utilizados, além danecessidade de três bombas de infusão para realizar um controle exato dos agentes,porém, na maioria das vezes, utiliza-se apenas uma bomba de infusão sendo aadministração de outros fármacos em bolus (LAREDO; CANTALAPIEDRA, 2001).

Além disso, devido ao fato dos bloqueadores neuromusculares atuaremparalisando a musculatura envolvida no processo de ventilação, torna-se indispensávelo suporte ventilatório artificial. Por essas razões, o uso de bloqueadoresneuromusculares na TIVA é limitado, não sendo uma prática comum em MedicinaVeterinária (FILHO; NASCIMENTO, 2002).

Page 78: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

157Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008

Ainda, os barbitúricos são utilizados somente em procedimentos curtos e emgeral não é recomendada a infusão contínua já que pode ocorrer acúmulo, commetabolismo hepático lento, aumentando o período de recuperação anestésica (OTERO,2005). Devido a estas razões, tanto os bloqueadore sneuromusculares quanto osbarbitúricos não serão abordados neste trabalho.

Vários são os agentes utilizados na TIVA, dentre eles, destacam-se o propofol, acetamina e o etomidato, além de combinações destes com analgésicos opióides ebenzodiazepínicos (SAAVEDRA et al., 1996).

PROPOFOLO propofol (2,6 – diisopropilfenol) é um agente hipnótico intravenoso, disponível

como emulsão de óleo em água, contendo óleo de soja, lecitina, ovo e glicerol e nãocontém preservativos. Tem pH neutro, é isotônico e sua formulação apenas é efetivaquando administrado através da via intravenosa (CORTOPASSI et al., 2000). Écaracterizado por apresentar metabolismo rápido e curta duração de ação, podendo seradministrado por infusão contínua ou em doses repetidas sem efeito cumulativo (Tabela2) (FANTONI et al., 1999).

Esse fármaco não apresenta tendência a causar movimento involuntário e supressãocórtico-supra-renal como observada com o etomidato. Mostra-se particularmente útil naprática crescente da cirurgia ambulatorial (Tabela 1) (RANG et al., 2001).

Atualmente seu uso tem sido estendido a todas as especialidades cirúrgicas, jáque também tem demonstrado seu valor em procedimentos terapêuticos, estudosespeciais e cuidados intensivos, sendo utilizado para sedação, indução, hipnose emanutenção da anestesia (Tabela 1). Apresenta efeitos anticonvulsivantes e reduçãoda taxa metabólica cerebral, com concomitante diminuição da PIC (MUÑOZ-CUEVASet al., 2005).

Quimicamente, o propofol é o único agente anestésico que pode ser usado tantona indução em forma de bolus como na manutenção anestésica (BRANSON; GROSS,1994), na forma de bolus intermitente (BOTELHO et al., 1996) e infusão contínua (RANGet al., 2001). Isso se deve às suas características farmacocinéticas que o isenta deefeito cumulativo, diferentemente do tiopental sódico (DUKE, 1995). Estudos préviosindicaram que a TIVA utilizando somente o propofol como agente anestésico não foisatisfatória devido à ausência de propriedade analgésica, portanto deve ser associadoa um opióide (OHTA et al., 2004).

O propofol não bloqueia as respostas nervosas autonômicas e por isto tem sidoutilizado em altas doses para produzir anestesia geral (SHORT; BUFALARI, 1999).Com esse fármaco, o mecanismo de controle parassimpático do coração pode sersuperior à resposta simpática mediada pelos barorreceptores, dando lugar a umadiminuição da atividade sinusal que provoca decréscimo da pressão arterial e freqüênciacardíaca (OHTA et al., 2004).

Page 79: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008158

Igualmente a maioria dos fármacos anestésicos, altera o padrão respiratório normaldo paciente modificando a resposta de seus mecanismos de controle respiratório,quimiorreceptores centrais sensíveis aos níveis de CO2, quimiorreceptores periféricossensíveis aos níveis de O2 e receptores pulmonares. Portanto, na indução com propofol,podem aparecer períodos de apnéia de 4 a 7 minutos tanto no homem quanto no cão(LAREDO; CANTALAPIEDRA, 2001).

CETAMINAÉ quimicamente designada como 2-(O-clorofenil)-2-(metil-amino)-ciclo-hexanona.

É hidrossolúvel e uma solução aquosa a 10% tendo pH de 3,5. Devido a esta acidez,possui propriedades irritantes quando administrada pela via intramuscular. Sualipossolubilidade é de aproximadamente 10 vezes ao barbitúrico tiopental sendorapidamente absorvida após sua administração (FANTONI et al., 1999). Pode seradministrada por todas as vias, alcançando rapidamente o efeito desejado (LAREDO;CANTALAPIEDRA, 2001).

Assemelha-se estreitamente, tanto do ponto de vista químico quantofarmacológico, a fenciclidina, uma “droga de rua” com efeito pronunciado sobre apercepção sensorial. Quando administrada pela via intravenosa possui efeito maislento (1 a 2 minutos) do que o tiopental (RANG et al., 2001), com duração de 10 a 20minutos, já que se redistribui de forma rápida aos tecidos nervosos (LAREDO;CANTALAPIEDRA, 2001) e produz um efeito diferente, conhecido como “anestesiadissociativa”, em que ocorrem acentuada perda sensorial e analgesia, bem como amnésiae paralisia dos movimentos, sem verdadeira perda da consciência (RANG et al., 2001).

A cetamina é um agente dissociativo que atua deprimindo a córtex cerebral (sistematálamo-cortical) e estimula o sistema límbico e reticular antes de causar depressãomedular. Potencializa o sistema dependente do GABA e interfere com o transporteneural de serotonina, dopamina e noradrenalina. Produz um estado de catalepsia aoinvés de hipnose, acompanhado de profunda analgesia somática e amnésia. Permanecemtodos os reflexos, corneal, palpebral, podal e de deglutição, além de apresentaremfenômenos de rigidez muscular e tremores, facilitando o aparecimento de convulsõesgeneralizadas (FANTONI, 2002). Esse fármaco há muito é utilizado na anestesia depequenos e grandes animais, seja associado a outros fármacos, como agente de induçãoà anestesia inalatória, para contenção química de indivíduos, seja para procedimentoscirúrgicos de curta duração (Tabela 1) (SOUZA et al., 2002).

Sua metabolização é hepática produzindo metabólito ativo, a norcetamina. Suaeliminação é prolongada, sendo a recuperação de acordo com a dose administrada,principalmente quando se faz uso da via intramuscular (LAREDO; CANTALAPIEDRA,2001).

A principal desvantagem da cetamina, apesar da segurança associada a umainatividade depressora global, é que as alucinações em humanos e, às vezes, o

Page 80: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

159Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008

delírio e o comportamento irracional são comuns durante a recuperação. Esses efeitoslimitam sua utilização em humanos (RANG et al., 2001). Ainda, a qualidade da anestesiapor ser do tipo dissociativa é difícil de avaliar já que não induz hipnose ouinconsciência e os reflexos não são abolidos. Os olhos permanecem abertos, hátensão muscular e pode haver movimentos espontâneos, além de respostas a cirurgiacom movimentos bruscos. Proporciona melhor anestesia somática sendo importanteem queimaduras, cirurgias traumatológicas ou cutâneas (Tabela 1) do que visceral(LAREDO; CATALAPIEDRA, 2001).

As doses clínicas demonstram estimulação cardiovascular por apresentarempropriedades simpaticomiméticas as quais produzem taquicardia aumentando doconsumo de O2 pelo miocárdio, aumentando a pressão arterial e pressão venosa central.Por esta razão, a cetamina é considerada um agente anestésico bastante seguro. Sobreo sistema respiratório, produz um padrão ventilatório apnêustico e irregular,caracterizado por uma grande pausa após a inspiração, e em doses elevadas, a respiraçãopode ser rápida e pouco efetiva sendo mal interpretada como anestesia superficial(LAREDO; CANTALAPIEDRA, 2001).

Lançada há poucos anos, a cetamina S, isômero (+) da cetamina, tem sidoutilizada na anestesia humana pela capacidade de determinar menores estímulossimpáticos e, conseqüentemente, evitar alterações cardiovasculares indesejáveis(SOUZA et al., 2002).

Portanto, a cetamina é um agente anestésico dissociativo o qual produzconsiderável analgesia e estabilidade hemodionâmica. Este fármaco é utilizadona TIVA devido à rápida metabolização corporal (WATERMAN et al., 1987).Apresenta características farmacocinéticas que a fazem excelente paraadministração contínua, sendo utilizada na TIVA principalmente em pacientes emchoque hemorrágico (Tabela 1). Entre suas principais características encontra-se seu poder analgésico o qual, segundo alguns relatos, é alcançado em baixasdoses (SAAVEDRA et al., 1996).

Em caninos e felinos, a cetamina na dose de 0,5 a 1mg/kg, IM é uma opção paramanejo de pacientes com dor somática, nos quais não se deseja provocar inconsciência.Na dose de 1 a 2 mg/kg, IV (Tabela 2) ou 2 a 4mg/kg, IM, produz somente 30 minutos deanalgesia. Estes compostos mostram-se ineficientes na hora de tratar a dor de origemvisceral. É particularmente útil para diminuir a dor durante a limpeza de feridas ou nomanejo de pacientes com queimaduras, podendo também ser utilizada na dose de 5 a10mg/kg para o manejo de pacientes agressivos e em doses maiores para procedimentosmenores (OTERO, 2005).

Em cães e gatos com instabilidade cardiovascular, a indução e manutenção comcetamina pode ser considerada uma alternativa desde que combinada combenzodiazepínicos para melhorar o grau de relaxamento muscular e evitar convulsões;e fentanil para melhorar a analgesia (Tabela 1) (LAREDO; CANTALAPIEDRA, 2001;SOUZA et al., 2002; BRONDANI et al., 2003).

Page 81: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008160

TILETAMINAA tiletamina corresponde ao 2-etilamino 2-(2-tienil) ciclo-hexanona, sua potência

e duração de ação são intermediárias entre a fenciclidina, a mais potente, e a cetamina,a menos potente dos agentes dissociativos (MASSONE, 2002).

É comercializada associada em partes iguais com zolazepam, formulado como umpó branco na concentração de 10%. Uma das desvantagens deste produto é que, umavez reconstituído, vai perdendo sua ação com o passar dos dias e, para conservar apotência por mais tempo, deve ser mantido refrigerado (OTERO, 2005).

A tiletamina apresenta período de latência de 2 a 3 minutos após a injeçãointramuscular, com duração de efeito aproximadamente de 60 minutos, sendo esteefeito dose-dependente. Embora não tenha sido caracterizada sua atividade pró-convulsivante em doses terapêuticas, em doses elevadas ela induz tremores,movimentos espásticos e convulsões (CORTOPASSI; FANTONI, 2002).

A associação tiletamina-zolazepam tem sido utilizada para medicação pré-anestésica, sedação, imobilização, indução e manutenção anestésica, principalmenteem procedimentos menos invasivos em cães, gatos, ruminantes, suínos e silvestres(Tabela 1) (PABLO; BAILEY, 1999).

No sistema respiratório, a tiletamina promove diminuição na freqüência respiratória,com um padrão apneustico inicial que rapidamente é corrigido pelo zolazepam. Éexcretada pelos rins e por isso não é indicado seu uso em pacientes com insuficiênciarenal (CORTOPASSI; FANTONI, 2002; OTERO, 2005). Além disso, tem a propriedadede cruzar a barreira placentária deprimindo os fetos, não sendo recomendada tambémpara cesarianas (OTERO, 2005).

Existem algumas particularidades relacionadas à farmacocinética da tiletamina-zolazepam em cães; por exemplo, possui meia-vida plasmática de uma hora do zolazepamcontra 1,2 horas da tiletamina, prevalecendo os efeitos da tiletamina. Em gatos, observa-se o oposto, sendo a meia-vida plasmática da tiletamina e do zolazepam 2,5 e 4,4 horasrespectivamente, ocorrendo maior tranquilização residual como resultado da maiorvida plasmática do zolazepam, tornando o período de recuperação mais prolongadonesses animais (CORTOPASSI;& FANTONI, 2002).

O uso desta associação como agentes isolados na indução e manutenção daanestesia não leva a uma adequada anestesia cirúrgica e analgesia visceral tanto emcães quanto em gatos, levando a repetição da dose constantemente, prejudicando arecuperação do paciente (LIN, 1996), portanto, faz-se necessário a combinação comoutros anestésicos como medetomidina ou fentanil (LIN, 1996; CORTOPASSI;FANTONI, 2002; AYDILEK, 2007).

Savvas et al. (2005) avaliaram os efeitos da associação tiletamina-zolazepam emdiferentes doses e vias (5mg/kg,IV e 10mg/kg, IM) combinado com atropina (20μg/kg,IV) em cães observando dor em todos os animais do grupo que recebeu a associação

Page 82: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

161Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008

tiletamina-zolazepam via IM e transitória acidose respiratória não clinicamente relevanteem animais de ambos os grupos.

Já Valadão e Pacchini (2001), verificando efeitos cardiorrespiratórios da associaçãotiletamina-zolazepam em pacientes hipovolêmicos, verificou leve depressão respiratóriaimediatamente após sua aplicação, porém as pressões arteriais, sistólica, diastólica emédia, além da freqüência e débito cardíaco, mantiveram-se estáveis, sendo, portanto,eficientes para anestesia em cães hipovolêmicos (Tabela 1).

Portanto, a associação tiletamina-zolazepam está indicada para coleta de sangue,de tecidos ou outro material, tratamento de feridas (OTERO, 2005), transporte de animais,cirurgias de pequeno porte, cirurgias abdominais e ortopédicas (Tabela 1) (DINIZ, 1999).

ETOMIDATOO etomidato é potente agente hipnótico, sem propriedades analgésicas.

Apresenta-se sob a forma de etil (1 feniletil) – H-imidazol-5-carboxilato (FANTONI etal., 1999). É um anestésico intravenoso, não barbitúrico, de curta ação, utilizado tantoem humanos quanto em animais, com elevada margem de segurança, mas carece depropriedades analgésicas (LAREDO; CANTALAPIEDRA, 2001; RANG et al., 2001).Não produz tolerância depois de repetidas administrações e não provoca liberação dehistamina (LAREDO; CANTALAPIEDRA, 2001), além de apresentar mínima depressãorespiratória, proteção cerebral e rápida recuperação (RANG et al., 2001).

O principal efeito do etomidato sobre o sistema nervoso central (SNC) é a hipnosepor depressão do córtex cerebral atuando como protetor cerebral ao reduzir o consumometabólico de oxigênio a nível cerebral e ao reduzir a PIC, mantendo a perfusão cerebralmelhor do que o tiopental e o propofol (LAREDO; CANTALAPIEDRA, 2001). Estascaracterísticas o fazem um excelente fármaco a ser usado em pacientes que apresentamalterações hemodinâmicas (Tabela1) (JANSSEN et al., 1975; DE PAEPE et al., 1999).

O etomidato assemelha-se muito ao tiopental, embora haja maior probabilidadede que cause movimentos involuntários durante a indução, bem como náusea e vômitospós-operatórios (RANG et al., 2001). Seus dois efeitos adversos mais comuns são dordurante a aplicação intravenosa e tromboflebite (NEBAUER et al., 1992). A baixasolubilidade em água do etomidato requer uma formulação de propileno glicol a 35% eeste veículo é o responsável pela dor, tromboflebite e hemólise (NEBAUER et al., 1992;MOON, 1994).

Alcança rapidamente o cérebro devido sua alta fração plasmática livre (25%), sualipossolubilidade e ao fato de não estar ionizado em pH fisiológico. A distribuição inicialno compartimento central, que inclui o cérebro, seguida por uma primeira redistribuiçãorápida até o resto dos tecidos orgânicos, o que explica seu efeito breve e permite adaptarsua posologia dependendo do sistema de administração (bolus ou infusão) (Tabela 2)(LAREDO; CANTALAPIEDRA, 2001). Sua distribuição inicial e meia vida têm a duraçãode três minutos e redistribuição ocorre em 29 minutos (FROST, 2004).

Page 83: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008162

É metabolizado principalmente em nível hepático (FROST, 2004), por hidrólisecom formação de ácido carboxílico, que é inativo. Tanto o ácido carboxílico quanto apequena porção de etomidato não modificado são excretados principalmente pelaurina, existindo certa excreção também através da bile e fezes (LAREDO;CANTALAPIEDRA, 2001). Passou a ser preferido ao tiopental em virtude de sua maiorvantagem entre a dose anestésica e a dose necessária para produzir depressãorespiratória e cardiovascular (RANG et al., 2001).

Portanto, o etomidato pode ser usado como agente anestésico na indução oumanutenção da anestesia em pequenos animais, principalmente em pacientescardiopatas e hipovolêmicos (Tabela 1), sendo contra-indicado em casos de insuficiênciaadrenal e renal, pois o acúmulo de pigmentos associado a hemólise compromete acapacidade de filtração renal (LAREDO; CANTALAPIEDRA, 2001).

FENTANIL E ANÁLOGOS PARA ANALGESIA NATIVAO fentanil é opióide sintético, primariamente agonista do receptor μ, com

propriedade analgésica de 80 a 100 vezes superior à da morfina; porém apresentaduração ultracurta. A principal vantagem deste opióide é que, quando administradopor via IV, apresenta efeito quase imediato (GÓRNIAK , 1999), com latência muito curtaem conseqüência da alta lipossolubilidade, características estas que o tornam analgésicode eleição para o período trans-operatório em infusão contínua ou em repetidas dosesem bolus, complementando a anestesia volátil ou em conjunto com hipnóticos, comoo propofol, uma vez que são potentes analgésicos, mas não causam perda da consciência(CORTOPASSI; FANTONI, 2002).

Doses elevadas de fentanil produzem intensa rigidez muscular, possivelmentecomo resultado dos efeitos dos opióides sobre a transmissão dopaminérgica no corpoestriado, fato que pode comprometer a ventilação no paciente em respiração espontânea(GOODMAN et al., 1987). Analgesia, sedação e depressão respiratória ocorrem apósquatro minutos de administração IV com um pico de ação dentro de 10 a 15 minutos etempo efetivo dentro de 30 minutos (SOMA; SHIELDS, 1964). Outros efeitos do fentanilsão agressividade pós-operatória, apnéia, salivação, bradicardia e relaxamento doesfíncter anal com ocasional defecação (SOMA; SHIELDS, 1964)

Análogos do fentanil têm sido desenvolvidos, observando-se variação importanteno tempo de ação: de ultracurto (alfentanil), curto (sufentanil) para intermediário/longo(lofentanil) (CORTOPASSI; FANTONI, 2002). As vantagens do alfentanil sobre o fentanile sufentanil são rápido início de ação e menor efeito cumulativo (FANTONI, 2002).

Em um estudo o qual foi comparado o efeito do fentanil e seu análogo sufentanilpara infusão contínua trans-operatória, os autores utilizaram a dose respectivamente4μg/kg/h e 0,5μg/kg/h, diluídos em solução salina, sendo esta infundida na dose de0,2mL/kg/h. A qualidade da analgesia foi considerada melhor em cães que receberamsufentanil quando comparados ao grupo que recebeu fentanil (BUFALARI et al., 2007).

Page 84: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

163Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008

Foi introduzido o uso transdérmico do fentanil em pequenos animais, sendo queeste sistema contém um reservatório com o fentanil em um adesivo, sendo este fármacoabsorvido através da pele em uma taxa constante aproximadamente de 100μg/h, que éequivalente a administração IM de 60mg de morfina, com duração de 72 horas. Esteadesivo está disponível para liberação do fentanil nas taxas de 25, 50, 75 e 100 4μg/h(GÓRNIAK, 1999).

O remifentanil, outro derivado do fentanil, possui rápido início de ação e curtameia-vida, independente do tempo de infusão, características estas que o tornamanalgésico interessante para uso na anestesia geral balanceada, TIVA ou sedação,permitindo o uso deste agente em ampla variedade de procedimentos anestésicos quevariam desde sedação, cirurgia cardíaca e neurocirurgia (AULER Jr, 2008).

Em humanos, o remifentanil tem sido utilizado em praticamente todas asespecialidades cirúrgicas e em grupos especiais de pacientes como neonatos, idosos,obesos mórbidos e portadores de insuficiência renal ou hepática (AULER Jr, 2008).Ainda em humanos, um estudo comparando os efeitos da anestesia inalatória comisoflurano e fentanil e anestesia total intravenosa com propofol e remifentanil pararinoscopia e cirurgia nasal, os autores verificaram que a hipotensão é equivalente emambos os grupos, porém, somente TIVA foi efetiva na redução da hemorragia desteprocedimento (TIRELLI et al., 2004).

O fato do remifentanil não apresentar efeito clinicamente relevante na pressãointra-ocular ou intra-craniana, bem como no fluxo sangüíneo cerebral e na reatividadecerebrovascular, torna-o uma opção interessante na cirurgia oftálmica e neurocirúrgica(BALAKRISHNAN et al., 2000).

ASSOCIAÇÕES ANESTÉSICASO propofol utilizado como agente único na manutenção anestésica pode levar a

excessiva profundidade da anestesia e tempo de recuperação prolongado. Estes efeitospodem ser evitados através da administração simultânea de analgésicos, dentre eles, ofentanil (GEEL, 1991).

Os opióides são utilizados como co-adjuvantes ao reduzir as doses do agenteindutor, suprimir a resposta á laringoscopia, intubação orotraqueal e manutençãoanestésica. Assim, o fentanil reduz a dose de indução do propofol (HAN, 2000),melhorando o componente hipnótico na TIVA (MUÑOZ-CUEVAS et al., 2005).

A TIVA com propofol e opióides apresenta efetividade na resposta adrenérgicaao estresse cirúrgico com concomitante redução da concentração plasmática decatecolaminas (SCHUWAL et al., 2000) o que está de acordo com Kurita et al. (2003),que relataram que a TIVA com propofol e fentanil, é efetivo à resposta adrenérgica aoestresse cirúrgico, reduzindo a concentração de catecolaminas plasmáticas.

Page 85: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008164

Pires et al. (2000), utilizando cloridrato de acepromazina e fentanil na medicaçãopré-anestésica (MPA) em cães submetidos a TIVA com infusão contínua de propofol,obtiveram redução de 47% na dose necessária do agente indutor à anestesia, porém, adose de manutenção do propofol foi mantida em 0,4mg/kg/min.

Já, Saavedra et al. (1996) observaram que a associação do propofol ao alfentanilproporciona redução significativa nas doses de manutenção do mesmo, comparandocom o uso isolado do propofol ou associado à cetamina em cães.

A cetamina, por produzir hipertonia muscular, recuperação disfórica e convulsões,tem sido utilizada em associação com sedativos ou tranqüilizantes que eliminam ouminimizam esses efeitos excitatórios (HELLYER et al., 1991).

Existem relatos citando que a associação de propofol e cetamina promovem umaboa manutenção anestésica, porém notável depressão cardiorrespitória em sereshumanos (HIU et al., 1995). Otha et al. (2004) basearam-se nesses fatores, realizandoum protocolo anestésico com cetamina e propofol, na ortopedia eqüina, obtendoresultados satisfatórios, visto que a indução anestésica somente com propofol não érecomendada nesta espécie, pois pode promover excitação.

Os benzodiazepínicos como o diazepam e o midazolam são utilizadosassociados à cetamina (LAREDO; CANTALAPIEDRA, 2001; RANG et al., 2001;SOUZA et al., 2002; BRONDANI et al., 2003.). Atuam potencializando os efeitosinibitórios do GABA, tanto no cérebro quanto na medula, limitando a atividadeconvulsiva e elevando o limiar para convulsão, bloqueando a excitação causadapela cetamina, além de deprimirem centralmente os reflexos espinhais (ANDRADE-NETO, 1999).

O midazolam é hidrossolúvel e, consequentemente, compatível com a cetaminaem solução (JACOBSON; HARTSFIELD, 1993), sendo três vezes mais potente que odiazepam (HELLYER et al., 1991). Benzodiazepínicos lipossolúveis como o diazepampodem causar precipitação das soluções quando misturados com cetamina (BROWNet al., 1993).

A combinação de cetamina com benzodiazepínicos produz relaxamento muscular,sendo considerada uma associação com pequeno poder analgésico para casoscirúrgicos; seu uso combinado com á-2 agonistas (como xilazina e medetomidina)levam a um excelente relaxamento muscular e melhora o grau de analgesia visceral.Outras combinações incluem o uso de opiáceos junto a á-2 agonistas para aprofundarmais a analgesia (LAREDO; CANTALAPIEDRA, 2001).

Brondani et al. (2003) relataram que a anestesia injetável com a associação decetamina (10mg/kg indução e 5mg/kg manutenção) e midazolam (0,5mg/kg indução e0,25mg/kg manutenção), em intervalos regulares de 10 minutos, via intravenosa, nãodeprimiu a função cardiovascular, não causou hipotermia, promoveu indução tranqüilae recuperação satisfatória, além de adequado grau de analgesia e relaxamento muscularpara realização cirurgias esofágicas em cães.

Page 86: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

165Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008

Quando se usa o etomidato como agente anestésico na indução ou manutençãoda anestesia, recomenda-se associar à medicação pré-anestésica um tranqüilizantepara minimizar os efeitos secundários (movimentos espasmódicos, mioclonias, náuseae vômito), observados durante a indução e/ou recuperação da anestesia. Os fármacosrecomendados para a medicação pré-anestésica (MPA) são os que apresentam mínimosefeitos cardiorrespiratórios como a combinação de um benzodiazepínicos e um opióide(LAREDO; CANTALAPIEDRA, 2001).

ALTERAÇÕES HEMODINÂMICASA administração intravenosa da maioria dos agentes anestésicos pode causar

hipotensão arterial através da variação de mecanismos, incluindo vasodilatação(GROUNDS et al., 1985; ROUBY et al., 1991), ação inotrópica negativa (GELISSEN etal., 1996) e depressão do sistema nervoso simpático (EBERT et al., 1992; FROST, 2004).A indução anestésica com etomidato acarreta em mínimos efeitos depressivos dosistema nervoso simpático, podendo estimulá-lo em baixas doses (AONO et al., 2001).Além disso, em doses clínicas caracteriza-se por apresentar mínimos efeitos sobre afreqüência cardíaca, contratilidade do miocárdio, pressão sangüínea e consumo deoxigênio pelo miocárdio.

O etomidato produz poucas alterações respiratórias, sendo a hipoventilaçãotransitória o efeito respiratório mais comum. Foram descritos períodos de apnéia decurta duração em 12% dos pacientes induzidos por este fármaco. Quando é administradoem cães sadios, na dose de 1,5mg/kg o etomidato provoca um aumento no ritmorespiratório e um decréscimo do volume tidal que mantém o volume minuto inalterado(LAREDO; CANTALAPIEDRA, 2001).

Ferro et al. (2005) pesquisaram alterações nos principais parâmetrosfisiológicos determinados pela infusão contínua de propofol com diferentes dosesem cães, sendo elas 0,2mg/kg/min; 0,4mg/kg/min e 0,8mg/kg/min, revelando emtodas as doses uma redução na freqüência cardíaca, porém menos pronunciadanos animais que receberam propofol por infusão contínua na dose de 0,2mg/kg/min. A justificativa dada pelos autores associa este fato a uma menor redução napressão arterial media (PAM), não havendo a necessidade de aumento dafreqüência cardíaca para estabilizar o débito cardíaco e conseqüentemente paramanter a pressão arterial. Ainda sobre o sistema cardiovascular, o emprego dopropofol está associado à discreta diminuição na pressão arterial (SHORT;BUFALARI, 1999). Essa ação depressora do fármaco está relacionada a efeitosdepressores direto sobre o miocárdio e a vasodilatação arterial e venosa, sendo a

Page 87: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008166

redução da pressão arterial proporcional ao aumento da concentração plasmáticado agente anestésico (FANTONI, 2002). Nishimori et al. (2005) utilizaram propofolna indução (10mg/kg ± 0,5mg/kg) e manutenção anestésica (0,5mg/kg/min) paracolheita de líquido cérebro espinhal e para mielografia em cães e observaramaumento da freqüência cardíaca e nenhuma alteração nos parâmetros de débitocardíaco e volume sistólico. O propofol não promoveu alterações hemodinâmicasque comprometessem a técnica de mielografia, sendo indicado como procedimentoanestésico adequado para esse fim (Tabela1).

A cetamina é caracterizada por apresentar estimulação cardiovascular indireta.Este fármaco aumenta o débito cardíaco, a pressão aórtica média, a pressão arterialpulmonar, a pressão venosa central e a freqüência cardíaca, exercendo efeito variávelsobre a resistência vascular periférica (BOOTH, 1992). A freqüência cardíaca e a pressãoarterial aumentam como resultado da estimulação direta do sistema nervoso central,que leva ao aumento do influxo simpático (LIN, 1996).

Haskins e Patz (1990) observaram aumento na freqüência cardíaca e na PAMapós a administração de cetamina (10mg/kg), via intravenosa, entretanto, Duque etal. (2005), não observaram estes efeitos durante a infusão contínua deste mesmofármaco em cães apresentando choque hipovolêmico induzido. Normalmente acetamina aumenta a pressão arterial e freqüência cardíaca em cães e humanosnormovolêmicos e por isto este anestésico é recomendado para uso em pacientesque apresentam alto risco anestésico, susceptíveis a depressão cardiovascular ouhipotensão.

Já, Valadão e Pacchini (2001), verificando efeitos cardiorrespiratórios da associaçãotiletamina-zolazepam em pacientes hipovolêmicos, verificou leve depressão respiratóriaimediatamente após sua aplicação, porém as pressões arteriais, sistólica, diastólica emédia, além da freqüência e débito cardíaco, mantiveram-se estáveis, sendo, portanto,eficiente para anestesia em cães hipovolêmicos (Tabela 1).

Apesar da associação tiletamina-zolazepam promover taquicardia sinusaltransitória, não produz alterações significativas no perfil hemodinâmico de pacientescom baixo risco anestésico (ASA I e II). No sistema respiratório obsrrva-se diminuiçãoda freqüência respiratória, com um padrão apneustico inicial que rapidamente é corrigidopela ação do zolazepam (OTERO, 2005).

Ao avaliarem comparativamente a manifestação de possíveis alteraçõeseletrocardiográficas em cães anestesiados com cetamina e sua versão S, Souza et al.(2002) encontraram efeitos similares, não indicando superioridade na cetamina S naeletrofisiologia cardíaca e na função cardiopulmonar.TABELA 2 – Doses e intervalos posológicos dos diferentes fármacos utilizados na TIVA na espécie canina.

Page 88: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

167Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008

Na Indução sem MPA

Na Indução com MPA

Manutenção em bomba de infusa

Manutenção em bolus

Propofol 10mg/kg 2 a 4mg/ kg 0,2 a 0,8mg/kg/min

0,5mg/kg a cada 3 a 5 min.

Fentanil - - 0,3 a 1 µg/kg/min.

Ou

2 a 10 µg/kg/hora

2 a 5 µg/kg a cada 20 a 30 min.

Remifentanil - - 0,25 a 0,1 µg/kg/min. -

Sufentanil - - 1µg/kg/ hora 0,72 a 2 µg/kg a cada 10 a 15 min.

Cetamina 8 a 10mg/kg 1 a 2mg/kg 0,05 a 0,9 mg/kg/min.

1 a 5mg/kg a cada 10 a 25min.

Etomidato - 0,5 a 3mg/kg 50 a 150 µg/kg/min. 0,5 a 1,5mg/kg a cada 10 a 20 min.

Diazepam 0,15 0,25mg/kg 0,15 0,25mg/kg 1 a 16 µg/kg/min. (0,2mg/kg/h)

0,15 0,25mg/kg a cada 2 min.

Midazolam 0,2mg/kg 0,2 mg/kg 0,25mg/kg a cada 10 a 25 min.

Atracúrio - 0,25 a 0,5mg/kg 4 a 9 µg/kg/min. 0,15 a 0,25mg/kg a cada 20 a 30min.

Tiletamina-zolazepam - 3 mg/kg diluído em 2ml de solução salina

- 1mg/kg a cada 20 a 30 min.

Propofol e Fentanil

Propofol Cetamina e diazepam ou midazolam

Etomidato e diazepam ou midazolam

Tiletamina-zolazepam

- Cirurgias ambulatoriais; - Remoção de tumores intra-cranianos.

- Coleta de líquor da cisterna; - Mielografias; - Cuidados intensivos; - Método de contenção.

- Pacientes cardiopatas; - Pacientes hipovolêmicos ou em choque hemorrágicos; - Neurocirurgia; - Método de contenção.

- Pacientes cardiopatas; - Hipovolêmicos

- Pacientes hipovolêmicos; - Coleta de sangue; - Coleta de tecidos; - Tratamento de feridas; - Transporte;

- Cirurgias de pequeno porte.

TABELA 1 – Principais indicações dos diferentes agentes anestésicos e suas associações medicamentosasutilizadas na TIVA em cães.

SAAVEDRA et al., 1996; DINIZ, 1999; LAREDO; CANTALAPIEDRA, 2001; RANG et al., 2001; VALADÃO;PACCHINI, 2001; SOUZA et al., 2002; BRONDANI et al., 2003; MUÑOZ-CUEVAS et al., 2005.

Adaptado por TRINDADE et al. (2008).

TABELA 2 – Doses e intervalos posológicos dos diferentes fármacos utilizados na TIVA na espécie canina.

LAREDO; CANTALAPIEDRA, 2001; MACINTIRE, 2004.; FERRO, 2005; NISHIMORI, 2005; OTERO, 2005.Adapatado por TRINDADE et al. (2008).

Page 89: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008168

CONCLUSÃOA anestesia total intravenosa fornece a possibilidade de utilizar diversos fármacos,

no entanto são mais apropriados aqueles que apresentam uma meia vida curta, combaixos volumes de distribuição, com um rápido início de ação, não produzindometabólitos tóxicos ou ativos.

O sucesso do procedimento anestésico advém da escolha dos fármacos segundoo estado clínico do paciente, enfermidades concomitantes e tipo de procedimentocirúrgico. Para isto, o conhecimento das formas de absorção de cada anestésico, bemcomo as rotas metabólicas e as propriedades anestésicas dos agentes injetáveis, tornamo anestesista mais seguro diante da escolha do protocolo anestésico.

REFERÊNCIASANDRADE-NETO, J. P. Anticonvulsivantes. In: SPINOSA, H.S.; GÓRNIAK, S.L.; et al.Farmacologia aplicada à medicina veterinária. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,1999. Cap. 13, p.131-139.ANESTÉSIA geral: Agentes Inyectables. Capturado 30 maio. 2007. Online. Disponívelna Internet: <http://minnie.uab.es/~veteri/21271/ANESTESIA%20INYECTABLE.doc>.AONO, H.; HIRAKAUA, M. et al. Anesthetic inducion agents, sympathetic nerveactivity and baro-reflex sensivity: a study in rabbits comparing thiopental, propofol andetomidate. Acta Medica Okayama, v.55, p.197-203, 2001.AULER JR. Remifentanil: Highlights. Capturado 29 mar. 2008. Online. Disponível na Internet:<http://www.praticahospitalar.com.br/pratica%2044/pgs/materia%2013-44.html>.AYDILEK, N. Comparison between xylazine-tiletamine-zolazepam and fentanyl-tiletamine-zolazepam anaesthetic combinations on plasma oxidative status in sheep. ActaVeterinaria Brunensis, v.76, p.573-578, 2007.BALAKRISHNAN, G.; RAUDZENS, P. et al. A comparasion of remifentanil and fentanylin patients undergoing surgery for intracranial mass lesions. Anesthesia and Analgesia,v.91, p.163-169, 2000.BETHS, T.; GLEN, J. B. et al. Evaluation and optimization of a target-controlled infusionsystem for administering propofol to dogs as part of a total intravenous anaesthetictechnique during dental surgery. Veterinary Record, v.148, p.198-203. 2001.BOOTH, N. H. Anestésicos intravenosos e outros parenterais. In: BOOTH, N.,MCDONALD, L. E. Farmacologia e terapêutica em veterinária. 6 ed. Rio de Janeiro:Guanabara Koogan, 1992. Cap. 13, p.168-218.BOTELHO, R. P.; NASCIMENTO et al. Propofol: avaliação clínica e laboratorial emcães. Revista Brasileira Ciências Veterinárias, v.3, n.3, p.81-87, 1996.BRANSON, K. R.; GROSS, M. E. Propofol in veterinary medicine. Journal of the AmericanVeterinary Medical Association, v.204, n.12, p.1888-1890, 1994.

Page 90: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

169Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008

BRONDANI, J. T.; NATALINI, C. C. et al. Anestesia com cetamina, midazolam e óxidonitroso em case submetidos à esofagoplastia cervical. Ciência Rural, Santa Maria,v.33, n.6, p.1075-1080, 2003.BROWN, S. A.; JACOBSON, J. D. et al. Pharmacokinetics of midazolam administeredconcurrently with ketamine after intravenous bolus or infusion in dogs. Journal ofVeterinary Pharmacology and Therapeutics, v.16, n.4, p.419-425, 1993.BUFALARI, A.; DI MEO, A. et al. Fentanyl or sufentanyl continuous infusion duringisoflurane anaesthesia in dogs: clinical experiences. Veterinary ResearchCommuinications, v.31, p.277-280, 2007.CELORIO, L.A. Anestesia intravenosa. Capturado 30 maio. 2007. Online. Disponível naInternet: <http://www.anestesiavirtual.com/basico1.htm>.CHONG, K. Y.; GELB, A. W. Cerebrovascular and cerebral metabolic effects of commonlyused anaesthetics. Annals of the Academy of Medicine, Singapore, v.23 (Supll), p.145-149, 1994.CORTOPASSI, S. G.; HOLZCHUH, P. et al. Anestesia geral com propofol em cães pré-tratados com acepromazina e alfentanil. Ciência Rural, v.30, n.4 Santa Maria, 2000.CORTOPASSI, S. R. G.; FANTONI, D. T. Terapêutica do Sistema Nervoso. In: ANDRADE,S.F. Manual de Terapêutica Veterinária. São Paulo: Roca, 2002. Cap.17, p.347-401.DE PAEPE.; VAN HOEY, G. et al. Relatinship betwen etomidate plasma concentrationand EEG efect in the rat. Pharmaceutical Research, v.16, p.924-929, 1999.DINIZ, I. S. M. Imobilização química em animais silvestres. In: SPINOSA, H.S.; DUKE, T.A.A new intravenous agent: propofol. Canine Veterinary Journal, v.36, p.181-183, 1995.DUQUE, M. J. C.; SOUZA, A. P. et al. Continuous infusion of ketamine in hipovolemicdogs anesthetized with desflurane. Journal of Veterinary Emergency and critical care,v.15, n.2, p.92-99, 2005.EBERT, T. J.; MUZI, M. et al. Sympathetic responses to induction of anesthesia inhumans with propofol or etomidate. Anesthesiology, v.76, p.725-736, 1992.FANTONI, D. T. Recuperação pós-anestésica. In: FANTONI, D. T.; CORTOPASSI, S. R.G. Anestesia em cães e gatos. São Paulo: Roca, 2002. Cap. 30, p.294-320.FANTONI, D. T.; CORTOPASSI, S. R. G. et al. Anestésicos intravenosos e outrosparenterais. In: SPINOSA, H. S.; GÓRNIAK, S. L. et al. Farmacologia aplicada àmedicina veterinária. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1999. Cap.11, p.114-124.FERRO, P. C.; NUNES, N. et al. Variáveis fisiológicas em cães submetidos à infusão contínuade diferentes doses de propofol. Ciência Rural, Santa Maria, v.35, n.5, p.1103-1108, 2005.FILHO, F. M.; NASCIMENTO, P. R. L. Bloqueadores Neuromusculares. In: FANTONI,D. T; CORTOPASSI, S. R. G. Anestesia em case e gatos. São Paulo: Roca, 2002. Cap. 17,p.184-192.FROST, E. A. M. Etomidate as an induction agent in trauma anesthesia. The InternationalTrauma Anesthesia and Critical Care Society, New York, p.118-120, 2004.

Page 91: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008170

GEEL, J. K. The effect of premedication on the induction dose of propofol in dogs andcats. Journal of the South African Veterinary Association, v.62, p.118-123, 1991.GELISSEN, H. P.; EPEMA, A. H. et al. Inotropic effects of propofol, thiopental, midazolam,etomidate and ketamine on isolated human atrial muscle. Anesthesiology, v. 84, p.397-403, 1996.GOODMAN, R. M.; GILMAN, A. G. et al. As bases farmacológicas da terapêutica. Riode Janeiro: Guanabara, 1987. p.517.GÓRNIAK, S. L. Hipnoanalgésicos. In: SPINOSA, H. S.; GÓRNIAK, S. L. et al. Farma-cologia aplicada à medicina veterinária. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1999.Cap.15, p.151-157.GROSSLIGHT, K.; FOSTER, R. et al. Isoflurane for neuroanesthesia: risk factors forincreases in intracranial pressure. Anesthesiology, v.63, p.533-536, 1985.GROUNDS, R. M.; TWIGLEY, A. J. et al. The haemodynamic effects of intravenousinduction. Anaesthesia, v.40, p.735-740, 1985.HAN, T. The effects of plasma fentanyl concentration with propofol requirementsemergence from anesthesia and postoperative analgesia in propofol-N2O anesthesia.Anesthesia & Analgesia, v. 90, p.1365-1371, 2000.HASKINS, S. C.; PATZ, J. D. Ketamine in hipovolemic dogs. Critical Care Medicine,v.18, p.625-629, 1990.HELLYER, P. W.; FREEMAN, L. C. et al. Induction of anesthesia with diazepam-ketamineand midazolam-ketamine in greyhounds. Veterinary Surgery, v.20, n.2, p.143-147, 1991.HIU, T. W.; SHORT, T. G. et al. Anesthesiology, v.82, p.641-648, 1995.JACOBSON, J. D.; HARTSFIELD, S. M. Cardiovascular effects of intravenous bolusadministration and infusion of ketamine-midazolam in dogs. American Journal ofVeterinary Research, v.54, n.10, p.1710-1714, 1993.JANSSEN, P. A. J.; NIEMEGEERS, C. J. E. et al. Etomidate, a potent non-barbituratehypnotic. Intravenous etomidate in mice, rats, guinea-pigs, rabbits and dogs. ArchivesInternacionales Pharmacodin Therapei, v.214, p.92-132, 1975.KURITA, T.; MORITA, K. et al. Comparison of isoflurane and propofol-fentanyl anaesthesiain a swine modelo f asphyxia. British Journal of Anaesthesia, v. 91, n.6, p.871-877, 2003.LAREDO, F.; CANTALAPIEDRA, A. G. Técnicas de anestesia general inyectable –TIVA. Consulta de difusão veterinária, v.9, n.77, p.51-61, 2001.LIN, H. C. Dissociative anesthetics. In: THURMON, J. C., TRANQUILLI, W. J. et al. Lumb& Jones Veterinary Anesthesia. 3.ed. Baltimore: Lea & Febiger Book, 1996. p.241-296.MACINTIRE, D. K. Constant-Rate Infusions: Practical Use. NAVC Clinician’s brief,v.25, p.24-28, 2004.MASSONE, F. Anestésicos Injetáveis. In: FANTONI; CORTOPASSI. Anestesia em cãese gatos. São Paulo: Roca, 2002. Cap. 14, p.159-173.MOON, P. F. Acute toxicosis in two dogs associated with etomidate-propylene glycolinfusion. Laboratory Animal Science, v.44, p.590-594, 1994.

Page 92: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

171Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008

MUÑOZ-CUEVAS, H. J.; CRUZ-PAZ, M. A. et al. Propofol ayer y hoy. Revista Mexica-na de Anestesiologia, México, v.28, n.3, p.148-158, 2005.NEBAUER, A. E.; DOENICKE, A. et al. Does etomidate cause haemolysis? BritishJournal of Anaesthesia, v.69, p.56-60, 1992.NISHIMORI, C. T.; NUNES, N. et al. Propofol ou sevofluorano sobre variáveishemodinâmica em cães submetidos à administração subaracnóidea de iohexol. CiênciaRural, Santa Maria, v.35, n.6, p.1345-1350, 2005.OHTA, M.; OKU, K. et al. Propofol-ketamine anesthesia for internal fixation of fracturesin racehorses. The Journal of Veterinary Medical Science, Japão, v.66, n.11, p.1433-1436, 2004.OTERO, P. Manejo da dor aguda de origem traumática e cirúrgica. In: OTERO P. Dor:Avaliação e Tratamento em Pequenos Animais. São Caetano do Sul, SP: Interbook,2005. Cap. 10, p.122-141.PABLO, L. S.; BALEY, J. E. Etomidate and Telazol. The Veterinary clinics of NorthAmerica. Small animal practice. Pensilvania, v.29, p.779-792.PIRES, J. S.; CAMPELLO, R. A. V. et al. Anestesia por infusão continua de propofol emcase pré-medicados com acepromazina e fentanil. Ciência Rural, Santa Maria, v.30, n.5,p.829-834, 2000.RAISIS, A.; LEECE, E. A. et al. Evaluation of an anaesthetic technique used in dogsundergoing craniectomy for tumor resection. Veterinary Anaesthesia and Analgesia,Australia, v.34, p.171-180, 2007.RANG, H. P.; DALE, M. M. et al. Agentes anestésicos gerais. In: ______. Farmacolo-gia. 4.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001. Cap.32, p.431-441.ROUBY, J. J.; ANDREEV, A. et al. Peripheral vascular effects of thiopental and propofolin humans with artificial hearts. Anesthesiology, v.75, p.32-42, 1991.SAAVEDRA, A. V.; ESLAVA, S. et al. Anestesia total intravenosa: Comparación de trêstécnicas. Revista Colombiana de Anestesia, Bogotá, v.24, p.283-292, 1996.SAVVAS, I.; PLEVRAKI, K. et al. Blood gas and acid-base status during tiletamine/zolazepamanaesthesia in dogs. Veterinary Anaesthesia and Analgesia, v.32, p.94-100, 2005.SCHUWAL, B.; JAKOB, W. et al. Less adrenergic activation during cataract surgery with totalintravenous than with local anesthesia. Acta Anaesthesiol Scand, v.44, p.343-347, 2000.SHORT, C. E.; BUFALARI, A. Propofol anesthesia. Veterinary Clinics of North America:Small Animal Practice, Tenessee, v.29, n.3, p.747-778, 1999.SOMA, L. R.; SHIELDS, D. R. Neuroleptoanalgesia produced by fentanyl and droperidol.Journal of American Veterinary Medicine Association, v.145, n.9, p.897-902, 1964.SOUZA, A. P.; CARARETO, R. et al. Eletrocardiografia em cães anestesiados comcetamina-S ou cetamina. Ciência Rural, Santa Maria, v.32, n.5, p.787-791, 2002.STREBEL, S.; LAM, A. et al. Dynamic and static autoregulation during isoflurane,desflurane and propofol anesthesia. Anesthesiology, v.83, p.66-76, 1995.

Page 93: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008172

TIRELLI, G.; BIGARINI, M. et al. Total intravenous anaesthesia in endoscopic sinus-nasal surgery. Acta Otorhinolaryngology Italian, v.24, p.137-144, 2004.VALADÃO, C. A. A.; PICCHINI, C. E. Efeitos cardiorrespiratórios da tiletamina-zolazepamem cães hipovolêmicos. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia,v.53, p.44-51, 2001.VARILLAS, G.; DAVID, H. et al. Anestesia endovenosa total com propofol y ketaminaem pacientes sometidos a colecistectomia laparoscópica em el hospital nacionalArsobispo Loayza. Tesis digitales UNMSM, 2007.WALTERS, F.J.M. Neuro anaesthesia – a review of the basic principles and currentpractices. Central African Journal of Medicine, África do Sul, v.83, p.348-353, 1990.WATERMAN, A. E.; ROBERTSON, S. A. et al. Anaesthesia. Research in VeterinaryScience, v.42, p.162-166, 1987.

Recebido em: dez. 2007 Aceito em: abr. 2008

Page 94: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

173Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008

Opióides de curta ação em infusão contínuano transoperatório de cães e gatos: revisão

bibliográficaGiordano Cabral Gianotti

Wanessa Krüger BeheregarayEmerson Antonio Contesini

RESUMOExiste consenso entre os médicos veterinários a respeito de os animais, assim como

os seres humanos, serem suscetíveis aos processos dolorosos e suas decorrências. Como advento de novos fármacos anestésicos e novas técnicas de administração de drogas,tornou-se possível anestesiar um paciente de forma mais precisa e segura, com altaeficácia e menos efeitos adversos. Nessas condições, realizar uma anestesia balanceadavem se tornando uma prática comum que traz inúmeros benefícios para o paciente. O usode opióides de curta ação por infusão contínua no transoperatório de pacientesanestesiados é um bom exemplo. Este trabalho, resultado de pesquisa bibliográfica, abor-da novos conceitos sobre a administração de opióides no transoperatório de cães e gatos,a partir dos quais se pode melhor prevenir processos dolorosos, além de se obter outrasvantagens para o procedimento cirúrgico, bem como visando à otimização das condiçõesde recuperação do paciente.

Palavras-chave: Analgesia. Opióides. Fentanil. Anestesia balanceada. Cães e gatos.

Short-action opioids by continuous infusion in the transoperativeof dogs and cats: Bibliography review

ABSTRACTNowadays there is already a consense among veterinary doctors that animals, just

as human beings, are highly susceptible to pain. With the incoming of new anestheticdrugs and new drugs administration techniques, it’s possible to anesthetize a patient ina more precise and safety way, with high efficacy and less side effects. Under theseconditions, to make a balanced anesthesia is becoming a common practice that bringsmany benefits to the patient. The use of short action opioids by continuous infusion in

Giordano Cabral Gianotti é Médico Veterinário com Residência Médico-Veterinária em Anestesiologia noHospital de Clínicas Veterinárias (HCV) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em 2008. ÉMestrando do PPGCV da UFRGS – Av. Bento Gonçalves, 9090, Bairro Agronomia, Porto Alegre, RS, Brasil.CEP 91540-000. E-mail: [email protected] Krüger Beheregaray é Médica Veterinária Especialista em Acupuntura pelo CBES em 2008. ÉResidente em Cirurgia do HCV da UFRGS – Av. Bento Gonçalves, 9090, Bairro Agronomia, Porto Alegre, RS,Brasil. CEP 91540-000. E-mail: [email protected] Antonio Contesini é Médico Veterinário Doutor pela Universidade Federal de Santa Maria, RS em2003. É Professor Adjunto em Cirurgia Veterinária na UFRGS – Av. Bento Gonçalves, 9090, Bairro Agronomia,Porto Alegre, RS, Brasil. CEP 91540-000. E-mail: [email protected]

n.2v.5Veterinária em Foco jan./jun. 2008p .173-190Canoas

Page 95: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008174

the transoperative of anesthetized patients is an example of this. This paper, abibliography review, brings news concepts about the opioids administration in thetransoperative of dogs and cats, and from them we can better prevent painful process,beyond getting others advantages for surgical procedures and aiming an optimization ofthe patient recovering.

Keywords: Analgesia. Opióides. Fentanyl. Balanced anesthesia. Dogs and cats.

INTRODUÇÃOSegundo a Associação Internacional para o Estudo da Dor, dor é definida como

“uma experiência sensorial e/ou emocional desagradável, associada ou não ao danopotencial dos tecidos” (OTERO, 2005). Essa definição, embora estabelecida parapacientes humanos, hoje em dia é uniformemente aplicada também a animais submetidosa estímulos nociceptivos ou dolorosos (HELLEBREKERS, 2002).

Já se sabe que quanto mais cedo se iniciar o tratamento do “sinal” dor e maisseletiva for a terapia ministrada, maior será a eficiência e menores serão os efeitosadversos que se instalarão como conseqüência dela. É possível afirmar ainda quepacientes não-tratados adequadamente com analgésico, apresentam recuperaçãoretardada (FANTONI; MASTROCINQUE, 2004; OTERO, 2005).

Analgesia significa a diminuição ou abolição do estímulo doloroso nospacientes. Diversas drogas podem se utilizadas no controle da dor, porém umgrupo que se destaca nesse controle são os opiódes, empregados cada vez maisem medicina veterinária (HALL; CLARKE, 1991). A escolha do método de analgesiamais indicado para um animal considera as características do paciente, do fármacoe, não menos importante, do próprio processo doloroso (FANTONI;MASTROCINQUE, 2002).

A anestesia balanceada nada mais é que a administração simultânea de drogaspara reduzir a toxicidade das mesmas, com a combinação de efeitos, gerando nopaciente estados de analgesia, inconsciência, relaxamento muscular e diminuiçãoda atividade reflexógena (LUNA; TEIXEIRA, 2004). A analgesia nos procedimentosanestésicos é obtida muitas vezes com o emprego de opióides (MORAES;OLESKOVICZ, 2005). Com eles, pode-se manter o paciente estávelhemodinamicamente e minimizar o uso de anestésicos inalatórios (THOMASY etal., 2006). Para isso é interessante iniciar o tratamento analgésico antes do estímulodoloroso (HELLEBREKERS, 2002).

O uso da infusão contínua é pouco usado na medicina veterinária por falta deinformação sobre a técnica, somado ao excesso de cálculos necessários e à complexidadee pouco conhecimento dos mecanismos de ação dos fármacos (MACCINTIRE;TEIEND, 2004). Sua grande vantagem é a manutenção da droga em níveis plasmáticosdesejáveis e constantes, dentro da “janela terapêutica” sem causar as variações que

Page 96: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

175Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008

levam às subdoses ou sobredoses, desencadeadoras dos efeitos tóxicos e indesejáveisda droga (OTERO, 2005).

Esta revisão bibliográfica tem como objetivo descrever e aplicar o uso de opióidesde curta ação por infusão contínua em cães e gatos. Procura-se salientar e descrevertópicos considerados importantes em tal procedimento, como o mecanismo doprocesso doloroso e as técnicas de anestesia balanceada e analgesia. Por fim, sãorelatadas as características dos opióides desde as suas vantagens até seus efeitoscolaterais.

FISIOPATOLOGIA DA DOREstudos demonstram que a dor pode acarretar danos para a saúde do animal.

Quando aguda, contribui para o aparecimento de complicações pós-cirúrgicas, comodistúrbios de comportamento e alterações cardiovasculares (SHAFFORD et al., 2001).Animais com dor tendem a ficar estressados; sua recuperação se torna agitada, havendoum aumento da morbidade e retardo na cicatrização (CRUZ; LUNA, 2000). A dor excedea parte emocional. Implica efeitos como distúrbios hidroeletrolíticos, alterações nasfunções cardiovasculares e respiratórias, alteração de estado metabólico, retardo nacicatrização e comportamento anormal (SHAFFORD et al., 2001).

O controle e a prevenção da dor é o fundamento da prática anestésica. Éessencial que o anestesista tenha um entendimento do processo fisiológico queleva à percepção de como o paciente responde ao processo doloroso (THURMONet al., 1996).

A nocicepção está relacionado com o reconhecimento de sinais, no sistemanervoso (SN), que se originam em receptores sensoriais, nociceptores, e que forneceminformações relacionadas ao dano tissular (HELLEBREKERS, 2002). São receptoresespecializados de alto limiar, que se despolarizam, ativando-se na presença de umestímulo nocivo e resultando na geração de impulsos através das fibras nervosasaferentes A-delta (A-δ) e C. Essas fibras aferentes primárias nociceptivas suprem apele, os tecidos subcutâneos, o periósteo, as articulações, os músculos e as vísceras(THURMON et al., 1996).

Os impulsos gerados pelos nociceptores são levados ao sistema nervosocentral pelas fibras A-δ e C, que formam o nervo aferente, cujo corpo celular seencontra no gânglio da raiz dorsal da medula espinhal. Ele penetra na medulaespinhal através da raiz do nervo dorsal e termina nas células da substância cinzentado corno dorsal (THURMON et al., 1996). A sensibilização central é desencadeadapor impulsos provenientes das fibras C, que produzem potenciais lentos pós-sinápticos, liberando substâncias – como glutamato, neuroquinina A e substância

Page 97: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008176

P – na fenda sináptica, as quais se ligam aos receptores NK, AMPA e NMDA emnível de medula espinhal, causando despolarização e ativando a via (FANTONI;MASTROCINQUE, 2005).

As fibras aferentes nociceptivas predominantemente terminam no corno dorsalda medula, comumente dividida em seis lâminas diferentes. A partir daí, as informaçõessão transmitidas por cinco vias principais até centros supra-espinhais. Assim, ocorrea chegada da informação no SNC, para percepção e processamento, nas regiões dotálamo, mesencéfalo, sistema límbico e formação reticular (PISERA, 2005).

Ainda existem as vias descendentes que modulam o processamento medular dainformação nociceptiva, permitindo que o animal continue a perceber outros estímulosde forma independente (PISERA, 2005). Controlar o estado de hipersensibilidade dosneurônios do corno dorsal da medula pela administração de analgésicos antes que oestímulo doloroso se inicie é uma das formas mais importantes de se controlar a dor(FANTONI; MASTROCINQUE, 2004). A freqüência e a intensidade da ação potencializaa propagação ao longo da fibra ascendente, incrementando bastante o sinal ao SNC(JONES, 2001). A analgesia pode ser conseguida pela interrupção do processonociceptivo em um ou mais pontos no caminho entre o nociceptor periférico e o córtexcerebral (THURMON et al., 1996).

A nocicepção envolve quatro processos fisiológicos sujeitos a um controlefarmacológico. A transdução é a tradução da energia física, o estímulo nocivo, ematividade elétrica no interior do nociceptor periférico. A transmissão, por sua vez, é apropagação do impulso nervoso através do sistema nervoso (THURMON et al., 1996).Então, a dor é apresentada em áreas corticais, córtex sensitivo, frontal e subcorticais,proporcionando a interpretação completa do fenômeno doloroso e a ampla gama derespostas envolvidas neste processo, resultando na percepção. A seguir, ocorre amodulação da dor, porque o sistema nociceptivo passa a ter sua atividade moduladapelo sistema supressor da dor. Este sistema é composto por elementos neuronais damedula espinal, tronco encefálico, tálamo, estruturas subcorticais, córtex cerebral esistema nervoso periférico (BRASIL, 2001).

ANESTESIA BALANCEADA E ANALGESIA PREEMPTIVAAnestesia balanceada é a administração concomitante de múltiplas drogas

anestésicas sem fazer com que uma única droga atinja dosagem suficiente para produzirtoxicidade (THOMASY et al., 2006). Com o surgimento de drogas de melhor perfilfarmacocinético e dinâmico, a prática da anestesia moderna pôde restabelecer obalanceamento com o uso de drogas venosas combinadas para produzir hipnose,amnésia e analgesia evitando ao mesmo tempo uma depressão cardiorespiratória e umdespertar rápido da anestesia (GAN; GLASS, 2001).

Page 98: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

177Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008

Dentre as várias vantagens de se utilizar uma anestesia balanceada se destaca osinergismo entre fármacos como opióides, bloqueadores musculares, agentes hipnóticose tranqüilizantes. Ocorre uma potencialização dos efeitos farmacológicos, e uma melhoratuação nos indivíduos sob anestesia, diminuindo o requerimento das drogas durantea anestesia e reduzindo os efeitos indesejáveis nos pacientes (YOUNGS; SHAFER,2001). Segundo Otero (2005), o uso de anestesias balanceadas, que priorizem a analgesia,permite que se diminua a administração de anestésicos gerais, a principal fonte deacidentes intra-operatórios.

De acordo com Ilkiw (1999), na prática veterinária, a anestesia geral, além dasrazões humanitárias, é necessária para facilitar a intervenção cirúrgica e proteger ocirurgião. Apresenta uma melhora da estabilidade do paciente durante o ato operatório,assim como o acesso ao campo cirúrgico, redundando ao bem-estar do paciente(PADDLEFORD, 1988). Tendo em vista isso, muitos anestesistas preferem o uso deagentes venosos em razão dos seus efeitos específicos que não podem ser obtidoscom agentes voláteis, como, por exemplo, a analgesia e a supressão do estresse obtidascom o uso de opióides (YOUNGS; SHAFER, 2001).

A incorporação de compostos com comprovados efeitos analgésicos ao protocoloanestésico, desde a pré-medicação, é uma prática recomendada, pois beneficia otratamento da dor no pós-operatório (OTERO, 2005). O estímulo nocivo produzidopela cirurgia induz uma variedade de respostas reflexas. A dor é a percepção conscientedesse estímulo nocivo. Se os pacientes receberem doses adequadas de opióides, paraa antinocicepção, e hipnóticos, para manter a inconsciência, é improvável que ocorraoportunidade para a percepção do estímulo nocivo (CAMU et al., 2001). O primeirofator a ser decidido é o grau de depressão do SNC que se ocasionará, devendo-secontemplar isoladamente cada caso. Quanto menor a depressão central maior deveráser a eficácia analgésica, levando-se em conta sempre a intensidade do estímulo realizado(OTERO, 2005).

A possibilidade de se fornecer uma analgesia preventiva em pacientes cirúrgicosé uma alternativa que deve ser explorada (OTERO, 2005). A analgesia preemptivaconstitui-se no tratamento precoce da dor, antes que ocorra a lesão tecidual, comobjetivo de diminuir o consumo de analgésico pelo paciente e reduzir a dor pós-operatória que produz efeitos sistêmicos indesejáveis e retarda a recuperação dopaciente (FANTONI; MASTROCINQUE, 2004). É importante destacar que a analgesiapreemptiva incorpora todas as fases do período perioperatório para fornecer confortoao paciente (SHAFFORD et al., 2001) e visa controlar a hipersensibilidade dos neurôniosdo corno dorsal da medula espinhal, por estímulos nocivos prolongados (sensibilizaçãocentral), por meio da administração de analgésicos antes que o estímulo chegue esensibilize o SNC (FANTONI; MASTROCINQUE, 2004).

Page 99: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008178

INFUSÃO CONTÍNUAA técnica de infusão contínua vem se destacando na anestesiologia.

Consiste em infundir uma droga no paciente sem que ocorram muitas variaçõesdela nos níveis plasmáticos, podendo-se constatar um menor número de efeitosadversos e melhor recuperação. Basicamente, se fundamenta na dinâmica e cinéticados fármacos, administrando uma dose bolus da droga para se obter aconcentração plasmática inicial ideal, para depois se iniciar uma infusão contínuada droga, com doses bem mais baixas, mantendo-a dentro do limiar terapêutico(ILKIW, 1999). A técnica de infusão contínua é usada para simplificar e incrementara precisão de administrar drogas por via intravenosa durante a anestesia geral(HOYMORK, 2003).

Apesar dos avanços tecnológicos na maneira de administração de fluidos, comuso de bombas de infusão, a técnica é evitada por médicos veterinários, porquenecessita muitos cálculos, aparelhagem específica e fármacos relativamente novos(MACCINTIRE; TEIEND, 2004).

Drogas de ação rápida e meia-vida curta são ideais para serem usadas nessatécnica que permite um estado de concentração da droga estável no organismo doanimal. Para manter constante a concentração da droga no plasma é importante levarem conta as variáveis farmacocinéticas como a distribuição e a eliminação da droga noorganismo. Máquinas mais precisas e modernas desenvolvidas para a administraçãode fármacos permitem cada vez mais uma mínima flutuação nas concentraçõesplasmáticas da droga, resultando em maior efetividade desses fármacos, com menosefeitos adversos (SCHRAAG, 2001).

Quando uma droga é administrada, gera uma concentração em certo intervalo detempo, determinando um efeito final. No caso de administração em bolus, ela gerainicialmente uma dose acima da adequada em rápido intervalo de tempo; segue-se umperíodo em que ela decai rapidamente, momento no qual ela se mantém em concentraçõesplasmáticas adequadas para, logo em seguida, declinar até alcançar concentraçõesplasmáticas subclínicas. Quando a droga é administrada em infusão contínua, obtém-se uma concentração plasmática constante, pois à medida que a droga está sedistribuindo no organismo e sendo metabolizada, nova oferta está sendo realizada,mantendo-se, desta forma, a concentração plasmática estável, dentro de parâmetrosclínicos (NORA, 2002).

Bombas de infusão são equipamentos eletromédicos capazes de controlar ofluxo de fluídos através de dispositivos, garantindo a infusão do volume desejadono intervalo de tempo programado. São capazes de gerar, monitorar e controlar ofluxo de um fluido a pressões superiores à sanguínea, sob pressão positiva geradapela bomba, ou seja, não depende da pressão gravitacional. Assim, trata-se de éum equipamento confiável para assegurar maior precisão nos volumes infundidos(CANELAS et al., 2003).

Page 100: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

179Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008

Para se usar analgésicos no esquema de infusão contínua sempre éinteressante conhecer o perfil farmacocinético (o que o organismo faz com adroga – eliminação, meia-vida, distribuição) e o perfil fármacodinâmico (o que adroga faz no organismo - todo o seu efeito e níveis no organismo). Para se iniciarum esquema de infusão deve-se esperar o efeito máximo obtido após a dosebolus, mantendo, assim, constante a concentração do fármaco no sítio efetor(YOUNGS; SHAFER, 2001).

As bases farmacocinéticas da infusão contínua é que se titule a concentraçãoplasmática do opióide acima da concentração efetiva analgésica mínima, mas abaixo daconcentração tóxica mínima, no chamado “corredor analgésico”. Embora esse seja umconceito útil para explicar a infusão contínua, é importante lembrar que a curva dose-resposta dos opióides não é linear e sim sigmoidal. Isso significa que uma vez o limiaranalgésico seja alcançado, pequenos aumentos na concentração plasmática resultarãoem analgesia eficaz. Aumentos adicionais levarão a efeitos adversos, em vez de melhorara analgesia. Pequenas diminuições podem levar rapidamente a doses subanalgésicas(BRAUM; BRAUM, 2004).

Com as drogas de ação curta, ministradas em infusões venosas fixas, o controlemais rígido dos efeitos clínicos pode ser mantido com maior grau de precisão, segurançae previsibilidade, mas demora-se para atingir a concentração plasmática em nível idealcerca de 4 ou 5 meias-vidas do fármaco. Para compensar essa dificuldade se instituiu adose bolus, para se atingir a concentração plasmática ideal, para em seguida se instituiro esquema de infusão fixo, para a manutenção dos níveis (CAMU et al., 2001). Fixar adose de opióide administrada em uma concentração analgésica no sítio efetor parecelógico, mas a intensidade do estímulo nociceptivo-cirúrgico varia com o tempo. Porisso torna-se interessante durante o procedimento cirúrgico ajustar as doses deopióides infundidas conforme a necessidade do animal, até para que se evite sobredoses(YOUNGS; SHAFER, 2001).

OPIÓIDESOs opióides são fármacos com um alto potencial sedativo e analgésico atuando

no controle da dor aguda. Ligam-se reversivelmente a receptores específicos do SNCe medula espinhal, tanto pré como pós-sinápticos, alterando a nocicepção e percepçãoda dor (PADDLEFORD, 1988; FANTONI; MASTROCINQUE, 2002). Os opióidesmostram claras evidências de seu poder analgésico e promovem a prevenção dasensibilização central e quando usados preventivamente diminuem as necessidadesde analgesia no pós-operatório (SANDKÜHLER; RUSCHEWEYH, 2005; ALLWEILERet al., 2007).

Page 101: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008180

São os fármacos mais empregados como parte de uma técnica de anestesiabalanceada. A sua utilização transoperatória previne as respostas autonômicas aoestímulo doloroso, suprimindo a dor, resultando então em melhor estabilidadehemodinâmica, reduzindo a necessidade de outros fármacos e aumentando o confortopós-operatório (GREMIÃO, 2003; LARSON et al., 2007).

São substâncias que produzem efeitos de hipnoanalgesia, ou seja, suprimema dor e causam sedação. Aliviam a dor somática e visceral bloqueando os impulsosnociceptivos sem interferir com a função sensorial e motora ou deprimindo o SNC.Podem ser utilizados para controle da dor em diferentes situações (GÓRNIAK,2002). Mimetizam a ação de peptídeos endógenos responsáveis pela modulaçãode nociceptores ou reconhecimento sensação dolorosa (FANTONI;MASTROCINQUE, 2002).

No organismo há pelo menos quatro tipos de receptores opióides com seussubgrupos que produzem respostas distintas. Estes receptores são mu (μ), kapa (κ),delta (δ) e sigma (σ), sendo os dois primeiros com maiores repercussões clínicas noscães (THURMON et al., 1996). Existem dois locais anatomicamente distintos para aanalgesia mediada pelos receptores opióides: supra-espinhal e espinhal. Quando adroga é administrada sistemicamente a analgesia é obtida pela ação do fármaco nosdois locais (BRASIL, 2001).

Os opióides podem ser divididos em quatro grupos: agonistas totais,agonistas parciais, agonistas-antagonistas e antagonistas. Os agonistas aindasão os mais indicados para dores moderadas a severas (GÓRNIAK, 2002). Os seusefeitos adversos incluem depressão respiratória, náuseas e sedação, assimanestesiologistas tentam restringir seu uso no transoperatório (BUTKOVIC et al.,2007; LARSON et al., 2007).

OPIÓIDES DE CURTA AÇÃO NA ANESTESIANa prática anestésica os opióides de curta ação incluem o fentanil e seus análogos.

Pertencem à família das fenilpiperidinas, dominam como opióides de escolha para aanestesia venosa, assim como para a maioria dos outros tipos de técnicas anestésicasbalanceadas (BAILEY; EGAN, 2001).

Os efeitos adversos, como a sedação, a depressão respiratória e os vômitos nopós-operatório permanecem sendo limitações significativas para o seu uso clínico(BAILEY; EGAN, 2001; BUTKOVIC et al., 2007).

Em geral, os opióides são administrados antes da indução da anestesiabalanceada, conduta que pode ser particularmente desejável em pacientes quenecessitarão de laringoscopia e entubação traqueal, atenuando os efeitos adversos da

Page 102: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

181Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008

natureza estimuladora desses procedimentos (BAILEY; EGAN, 2001; ABOU-ARAB etal., 2007).

Nas técnicas de anestesia balanceada em que agentes inalatórios potentestambém são empregados, concentrações relativamente baixas de componentes opióidespodem reduzir significativamente a concentração alveolar mínima (CAM) dessesagentes hipnóticos (BAILEY; EGAN, 2001; THOMASY et al., 2006).

A compreensão do funcionamento das drogas de curta ação, seus perfisfarmacocinéticos e farmacodinâmicos tem facilitado o manejo de procedimentosanestésicos com estímulo doloroso. A infusão de opióides no transoperatório émuito usado em técnicas de anestesia balanceada, tendo como vantagens aredução do uso de anestésicos gerais, redução da dor no pós-operatório quandoassociado à analgesia preemptiva e redução da resposta ao estresse (ALLWEILERet al., 2007).

FentanilOs pulmões exercem significativo efeito de primeira passagem e uma captação de

75% de uma dose injetada de fentanil. Mais de 98% da dose injetada são eliminados doplasma após uma hora. Os níveis cerebrais de fentanil correspondem aos níveisplasmáticos após aproximadamente cinco minutos. Grandes variabilidades nasconcentrações plasmáticas ocorrem devido às ondas de fluxo sangüíneo muscular,contribuindo para o aparecimento de picos secundários. Possui uma meia-vida de trêsa cinco horas (STOELTING, 1999; BAILEY; EGAN, 2001). Seu metabolismo éfundamentalmente hepático (OTERO, 2005).

A via para o fentanil deve ser a intravenosa. Seu curto período de latência e deação, somados à sua potência, tornam-no um agente de escolha para contribuir naanalgesia transoperatória, na anestesia balanceada (OTERO, 2005; BUTKOVIC etal., 2007).

Em altas doses ou em sinergia com outros fármacos, transforma-se em um potentedepressor (STOELTING, 1999; OTERO, 2005). Fentanil é mais lipofílico que a morfina,sendo então associado com menor sedação e depressão respiratória, apesar de possuirpotência analgésica, cerca de 75-125 vezes maior (ROUSSIER et al.,2006; BUTKOVICet al., 2007). Tem sua utilização no período transoperatório, pois reduz significativamentea CAM dos anestésicos inalatórios (FANTONI; MASTROCINQUE, 2002; THOMASYet al., 2006).

Possui latência de três minutos e ação de vinte a trinta minutos. Sua bradicardiaatinge cerca de 80% do valor basal. Não libera histamina, nem causa hipotensão(FANTONI; MASTROCINQUE, 2002). Otero (2005) afirma que a pressão arterial média

Page 103: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008182

(PAM) mantém-se, proporcionando uma ótima perfusão tecidual. Com pequeno efeitohipnótico, aumenta a pressão intra-ocular, causa rigidez muscular, depressão respiratória,bradicardia e convulsões mioclônicas (STOELTING, 1999; SCHÖNELL et al., 2005).

A utilização de fentanil em pequenos bolus de 1 a 5 microgramas por quilograma(mcg/kg) a cada 15 ou 20 minutos (min), ou uma dose bolus dentro desses parâmetros,seguida de uma dose de infusão de 0,4 a 0,7mcg/kg/min, tanto para cães como paragatos é uma alternativa (FANTONI; MASTROCINQUE, 2002).

Já Otero (2005) recomenda uma dose de 2 a 10mcg/kg, com 20 a 30 minutos deação quando em dose única, e infusão de 2 a 10mcg/kg/h. Doses maiores que 15mcg/kg produzem apnéia, e acima de 25mcg/kg depressão cardiovascular, apnéia e rigideztorácica. Em gatos, a dose de ataque é de 1 a 5mcg/kg, com dose de manutenção de 1-4mcg/kg/h, as doses de ataque sempre são diluídas (OTERO, 2005). Também, paragatos se recomenda usar uma dose bolus de 5mcg/kg e manter os níveis plasmáticoscom uma dose de 0,4mcg/kg/min (ILKIW, 1999). A associação de propofol com umadose de 0,1mcg/kg/min de fentanil foi capaz de suprimir o estímulo nociceptivo emfelinos de maneira eficaz (MENDES; SELMI, 2003).

Em cães, uma dose inicial de fentanil de 2 a 5 mcg, seguido de uma infusão de 5a 10mcg/kg/h reduz a CAM dos anestésicos inalatórios em 20 a 30%, como foi descritopor Otero (2005). Em outra situação, ocorreu uma redução da CAM de isoflurano em42% com a administração de 30mcg/kg de fentanil por 20 minutos e uma taxa de infusão,após esse período de 0,2mcg/kg/min, mostrando que esse protocolo é bem eficaz(GREMIÃO, 2003).

Deve-se sempre realizar a monitoração intensa do paciente no pós-operatórioimediato quando administrado por longos períodos, pois pode apresentar um efeitoresidual e com isso depressão respiratória (STOELTING, 1999; FANTONI;MASTROCINQUE, 2002). Já a analgesia residual produzidas pelas dosesprecedentes de fentanil pode ser adequada. Dependendo, no entanto, daintensidade do estímulo cirúrgico e do grau de dor no pós-operatório imediato(BAILEY; EGAN, 2001).

Outro ponto importante a se ressaltar é que em procedimentos prolongados, osrequerimentos dessas substâncias diminuem conforme o tempo, resultando em acúmulodo fármaco caso não se ajuste a dose. Em procedimentos ao redor de 40 a 90 minutos,geralmente não se observa acúmulo (OTERO, 2005).

AlfentanilTem importante retenção pulmonar, mas pequeno volume de distribuição e de

acúmulo tecidual. É lipossolúvel, mas não tanto quanto o fentanil. Com acúmulo baixo

Page 104: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

183Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008

no tecido cerebral, tem a ação rápida e curta. No pH fisiológico está quase 90% naforma não-ionizada, explicando a penetração nos tecidos cerebrais. Cerca de 90% seligam às proteínas plasmáticas. Depende muito do metabolismo hepático (STOELTING,1999; BAILEY; EGAN, 2001).

O alfentanil é um agonista μ puro que possui ¼ da potência do fentanil e umperíodo de ação 2/3 mais curto (dez a quinze minutos). Na anestesia balanceada permitediminuir de forma considerável a dose dos anestésicos gerais. Normalmente, essefármaco encontra-se pouco ionizado no plasma e tem período de latência e de açãocurtos, tornando-o ideal para se utilizar em infusão contínua para se manter o efeitoterapêutico de forma prolongada (OTERO, 2005). Possui rápida penetração cerebral,mas sem estocagem nos sítios ativos, resultando em imediato início de ação, porémcom pouca duração da atividade no SNC. A recuperação é acelerada (20 a 30 minutos)após interrupção da administração (SCHÖNELL et al., 2005).

Principalmente metabolizado no fígado, sua meia-vida de metabolização varia de0,4 a 2 horas dependendo da espécie. Diferentemente do fentanil, essa droga possuiescassa redistribuição podendo ser infundido com mais segurança durante longosintervalos de tempo sem que se observe acumulação. É considerado um composto deeleição para protocolo em pacientes descompensados ou com evidentecomprometimento do estado geral, no que diz respeito à estabilidade hemodinâmica.Sempre se deve titular o alfentanil conforme o efeito desejado (OTERO, 2005).

É mais empregado em infusão contínua durante o transoperatória na anestesiageral, ou como indutor em procedimentos de curta duração. Como analgésico, deforma isolada, ainda é muito pouco usado na medicina veterinária. Tem a capacidadede provocar bradicardia acentuada, mesmo quando aplicado lentamente, na ordem de43%, um minuto após sua administração, bem como hipotensão (FANTONI;MASTROCINQUE, 2002). O pico de ação do alfentanil ocorre dentro de 1 a 2 minutosapós a administração. Como o alfentanil penetra no cérebro rapidamente, o equilíbrioda droga entre o plasma e o SNC ocorre rapidamente, tendo que se instalar infusões demanutenção rapidamente, caso contrário os níveis plasmáticos serão subterapêuticos(STOELTING, 1999; BAILEY; EGAN, 2001).

A dose de ataque recomendada para utilização em cães fica entre 15 a 30mcg/kg(nessa dose a droga age por 15 minutos) e a manutenção da infusão em uma dose de 3a 8mcg/kg/min (OTERO, 2005).

A indução anestésica com alfentanil e propofol pode produzir anestesia completa,seguida por infusões dos mesmos. O término da infusão de alfentanil de10 a 30 minutosdo final da cirurgia permite que haja tempo suficiente para os níveis plasmáticosdecrescerem 50% (BAILEY; EGAN, 2001).

Page 105: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008184

SufentanilApós uma injeção de sufentanil, apenas 20% ficam na forma não-ionizada. Os

pulmões exercem importância significativa no efeito de primeira passagem. É duasvezes mais lipossolúvel que o fentanil e se liga em 93% a proteínas plasmáticas.Tem alto quociente de extração hepática; portanto, mudanças no fluxo sanguíneohepático podem alterar significativamente sua eliminação. Existe extensa reabsorçãotubular, logo, pouca eliminação pela urina. Possui maior afinidade por receptores ìse comparado ao fentanil, mas, em contrapartida, o seu alto grau de ligação àsproteínas plasmáticas e volume de distribuição mais baixo explicam o seu rápidoefeito e eliminação quando comparados. Após longas infusões de sufentanil, seusefeitos podem se dissipar tão rapidamente quanto infusões de alfentanil(STOELTING, 1999; BAILEY; EGAN, 2001).

O sufentanil é outro agonista μ puro, dez vezes mais potente que o fentanil, coma metade do tempo de ação do fentanil. Como nos outros agentes, sua via é aintravenosa, em bolus ou em infusão contínua. Apresenta também ações similares nosaparelhos cardiovascular e respiratório (STOELTING, 1999; OTERO, 2005).

O sufentanil tem duração de ação inferior àquela apresentada pelo fentanil,entretanto sua potência é cerca de 100 vezes maior que a da morfina. Assim, comoo fentanil e o alfentanil, o sufentanil promove bradicardia que, porém, não éacompanhada de hipotensão. Apresenta acentuado efeito hipnótico com rápidoinício de ação, tendo duração de ação menor que o fentanil e alfentanil.Apresentando elevada depuração hepática, possui efeitos colaterais semelhantesaos causados pelo fentanil no pós-operatório, como sonolência e prurido(SCHÖNELL et al., 2005). A sua bradicardia basal gira em torno de 37%. O sufentanilproduz mínimas alterações hemodinâmicas, mas é um potente depressor respiratórioe reduz significativamente a CAM do isoflurano em cerca de 0,5 a 1,0% em cãesanestesiados (GAN; GLASS, 2001; POLIS, 2004).

A recomendação de sufentanil é 0,75 a 2 mcg/kg bolus ou dose de ataque (açãoem 10 a 15 minutos) com manutenção analgésica em infusão contínua de 1mcg/kg/h emcães. Em gatos a dose bolus é 0,5 a 1mcg/kg/min, com ação de 10 a 15 minutos, e umadose de infusão de 0,25 a 0,75 mcg/kg/h (OTERO, 2005).

A associação propofol e sufentanil, na dose de 0,01mcg/kg/min, se mostroubastante eficaz para suprimir o estímulo nociceptivo na anestesia geral de gatos(MENDES; SELMI, 2003). A utilização da droga na razão de 0,5 a 1,0 mcg/kg/h com ainfusão iniciada 15 minutos antes da indução e entubação. Com esse protocolo, obtém-se uma diminuição da CAM de 3,5 para 2% com o Sevoflurano e de 1,7 para 1,1% como isoflurano. Deve-se recomendar nesses casos, com a baixa necessidade de anestésicos

Page 106: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

185Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008

gerais, a incorporação de relaxantes musculares para melhorar o acesso ao campooperatório (OTERO, 2005).

A dose de ataque deve ser administrada 3 a 4 minutos antes do estímulo dolorosoou entubação traqueal (SCHÖNELL et al., 2005). Na maioria dos procedimentos com 1a 2 horas de duração, 10 a 30 minutos é usualmente necessário para as concentraçõesplasmáticas do sufentanil cair a níveis que permitam a ventilação adequada e o despertarda anestesia. Assim como no fentanil, existe algum poder de analgesia residual (BAILEY;EGAN, 2001).

RemifentanilPossui, dentre esses fármacos, perfil fármaco cinético único. É um fármaco

submetido à hidrólise extra-hepática por colinesterases no sangue e nos tecidos(ALLWEILER et al., 2007). Possui um clearance extremamente alto, portantoresponsável pelo término do efeito da droga em curto espaço de tempo. Possuiredistribuição extravascular, semelhante à do alfentanil (STOELTING, 1999; BAILEY;EGAN, 2001).

É um agente de ação ultracurta e tempo de meia-vida contexto-sensitiva deaproximadamente 3 minutos. Após a administração em bolus, ocorre uma completarecuperação do paciente em 5 a 10 minutos, pois não depende de metabolização renalou hepática. Não acumula no organismo, sem retardar assim o tempo de recuperação.Sua ação é dose dependente. Causa depressão respiratória, sendo necessária aventilação mecânica. Diminui a freqüência cardíaca e a pressão arterial quando usadocom outros agentes anestésicos (ALLWEILER et al., 2007).

Mais recentemente, o remifentanil vem trazendo novas perspectivas para odesenvolvimento de infusões contínuas e anestesia total endovenosa, pelo rápidoinício de ação e término de ação (FANTONI; MASTROCINQUE, 2002). É o mais novodos agonistas μ seletivos. A escassa redistribuição do fármaco a tecidos periféricos,bem como sua rápida depuração, permitem manter a infusão por longos períodos semacumulação (OTERO, 2005). É metabolizado nas hemácias, formando metabólitos comatividade muito fraca com eliminação renal, sendo ideal para infusão contínua(SCHÖNELL et al., 2005).

Os pulmões não têm importância na depuração ou seqüestro da droga. Bradicardia,sedação, depressão respiratória e vômito são descritos (SCHÖNELL et al., 2005). Nosseres humanos causa apnéia e rigidez muscular se administrado rapidamente por viaendovenosa (FANTONI; MASTROCINQUE, 2002).

Vale ressaltar que uma vez finalizada a infusão acaba o efeito da substância,com a rápida recuperação do paciente e sem analgesia. Deve-se então, dependendo

Page 107: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008186

do procedimento, garantir um tratamento analgésico de suporte antes do despertar(OTERO, 2005).

A recomendação é que se utilize uma dose bolus de 0,5mcg/kg, logo após aindução anestésica, seguida por uma infusão de 0,25mcg/kg/min para a manutençãoanestésica em cães (OTERO, 2005). Outra alternativa é infundir o fármaco na dose deinfusão é 0,05 a 2mcg/kg/min, com doses adicionais de 1mcg/kg, quando necessáriosuplementação, sem diferenciar doses entre cães e gatos (FANTONI;MASTROCINQUE, 2002).

A analgesia de resgate 20 minutos antes de finalizar o procedimento cirúrgicoutilizando opióides e/ou antiinflamatórios não esteróides é importante (OTERO, 2005).

EFEITOS COLATERAIS E SEUS TRATAMENTOSA depressão respiratória excessiva, rigidez muscular, bradiarritmias e vômitos

são os efeitos colaterais mais comuns. Como a depressão respiratória é corriqueira,o paciente já deve ter a via aérea estabelecida e a ventilação controlada (BAILEY;EGAN, 2001). A oximetria de pulso é um ótimo método para medir a oxigenação(GAN; GLASS, 2001).

No caso de rigidez muscular, podem-se administrar fármacos comobenzodiazepínicos e bloqueadores neuromusculares não-despolarizantes. No caso dabradiarritmia e dos vômitos desencadeados pelos fármacos, torna-se interessante ouso de drogas com atividade anticolinérgicas, preemptivamente, como a atropina (GAN;GLASS, 2001). Otero (2005) recomenda doses preventivas para bradicardias de 0,01 a0,044 miligramas (mg) por quilograma. Não há recomendação para sua utilização eminfusão contínua.

Por fim, pode-se utilizar o antagonista opióide ou um antagonista-agonista parareversão dos efeitos, no caso naloxona e nalbufina, respectivamente (GAN; GLASS,2001). Essas drogas se fixam competitivamente em alguns ou em todos receptoresopióides, tomando o lugar do agonista puro (LASCELLES, 2002).

Ocorre a reversão da depressão respiratória desencadeada por fármacos como ofentanil, assim como emese e rigidez muscular. Deve-se tomar cuidado com a dor dospacientes nesse tipo de recuperação, pois ela pode desencadear efeitos sistêmicosindesejáveis como aumento da PAM e da freqüência cardíaca e demanda de oxigênio,pela rápida respiração (CAMU et al., 2001).

A nalbufina é considerada antagonista μ, agonista δ e antagonista parcial deκ, tendo, portanto, atividade mista (LASCELLES, 2002). É recomendada suautilização em processos dolorosos de origem visceral, caso em que se pode

Page 108: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

187Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008

administrar por via subcutânea, para evitar competição com opióides endógenos.É um fármaco que causa muita dor ao ser injetado (OTERO, 2005). A nalbufinatorna-se interessante porque o paciente não perde completamente a analgesia aque está submetido (LASCELLES, 2002). As doses recomendadas para cães de 0,5a 1mg/kg, com efeito de 4 a 6 horas, e para gatos de 0,5 a 3mg/kg, com efeitos de 2a 4 horas (OTERO, 2005).

Naloxona é o antagonista puro, que atua em todos os receptores opióides. Podecausar estimulação simpática e efeitos adversos, como taquicardia, hipertensão, edemapulmonar e diferentes arritmias cardíacas, podendo desencadear também vômitos enáuseas (OTERO, 2005).

A naloxona tem ação rápida, cerca de um a 2 minutos, e duração de efeito de30 a 60 minutos (CAMU et al., 2001). Pode ser administrada pela via subcutânea,intramuscular ou intravenosa, se lenta, nas doses de 0,04 a 1mg/kg, segundo ossinais clínicos, para cães e gatos, até estar assegurada a não-renarcotização(OTERO, 2005).

Não se pode precisar a duração dos opióides no organismo de cada indivíduo,mas existe uma boa idéia de quanto tempo seu efeito irá durar. Após o término doprocedimento é fundamental a constante monitoração dos pacientes, principalmenteno que se diz respeito ao efeito residual desses fármacos, que podem produzir intensadepressão respiratória. No caso do remifentanil, esse tipo de efeito é pouco comum,mas deve-se levar em conta que seus efeitos analgésicos são rapidamente perdidos, eque, logo após o término da anestesia, se deve imediatamente instituir uma terapiaanalgésica para o pós-operatório evitando, desse modo, um despertar desagradávelno paciente (CAMU et al., 2001).

CONCLUSÃOÉ cada vez maior a preocupação da sociedade com o que diz respeito ao bem-

estar animal. Conseqüentemente, o profissional da área médica veterinária passa a terum papel significativo nesse contexto. A anestesiologia é indiscutivelmente uma dasáreas que tem se desenvolvido e se destacado dentro da medicina veterinária. Issoocorre porque há uma demanda cada vez maior de profissionais capacitados para trataranimais mediante procedimentos cirúrgicos, prática que no passado não eram sequercogitados. Isso acontece não somente devido ao desenvolvimento da medicinaveterinária, da tecnociência e dos procedimentos modernos dos criadores profissionais,mas também porque hoje os animais de estimação fazem parte de quase todos os lares,e seus proprietários são bons cuidadores. E este é um campo de atuação médicaveterinária que se expandiu.

Page 109: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008188

Nessas condições, cabe ao médico veterinário anestesiologista fazer uso dasmelhores técnicas e dos fármacos mais adequados a cada situação. Com o expostosupra, procurou-se mostrar que administrar fármacos usando técnicas de infusãocontínua traz inúmeros benefícios ao paciente, bem como permite a manipulação dessasdrogas de maneira mais fácil e precisa. Registro especial deve ser feito à importância dese oferecer analgesia para pacientes nos momentos certos e em dosagens adequadas,pois isso trará qualidade ao trabalho anestésico, garantido o sucesso do procedimentoe trazendo bem-estar ao animal.

O uso de opióides de curta-ação tem inúmeras vantagens, quando associadosa uma técnica de infusão, por trazer uma melhor precisão com relação aos níveisplasmáticos da droga, oferecer a possibilidade de suspender a medicação quandofor necessário e menos efeitos adversos que os opióides de uso corriqueiro naclínica.

Assim, pretendeu-se demonstrar que essa técnica relativamente nova apresentainúmeras vantagens e pode surgir como uma boa alternativa para o crescimento damedicina veterinária bem como para os profissionais da área.

REFERÊNCIASABOU-ARAB, M. H. et al. Dose of alfentanil needed to obtain optimal intubationconditions during rapid-sequence induction of anaesthesia with thiopentone androcuronium. British Journal of Anaesthesia. v.98, n.5, p.604-10, 2007.ALLWEILER, S. et al. The isoflurane-sparing and clinical effects of a constant rate infusionof remifentanil in dogs. Veterinary Anaesthesia and Analgesia (Online Early Articles),2007 disponível em: <http://www.blackwell-synergy.com/doi/full/10.1111/j.1467-2995.2006.00308.x?prevSearch=allfield%3A%28remifentanil+dog%29>. Acesso: 7 set. 2007.BAILEY, P.; EGAN T. Fentanil e Congêneres. In: WHITE, P. F. Tratado de AnestesiaVenosa. Porto Alegre: Artmed, 2001. p.215-248.BRASIL. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer. Cuidados paliativosoncológicos: controle da dor. Rio de Janeiro: INCA, 2001. 124p.BRAUM, J. L.; BRAUM, L. Dor Aguda. Dor: diagnóstico & tratamento. v.1, n.2, p.3-14,2004.BUTKOVIC, D. et al. Postoperative analgesia with intravenous fentanyl PCA vs. epiduralblock after thoracoscopic pectus excavatum repair in children. British Journal ofAnaesthesia. v.98, n.5, p.677–81, 2007.CAMU, F. et al. Anestesia Venosa Total. In: WHITE, P. F. Tratado de Anestesia Venosa.Porto Alegre: Artmed, 2001. p.370-386.CANELAS, D. O. et al. Metodologia para Avaliação de Desempenho Essencial de Bom-bas de Infusão. Sociedade Brasileira de Metrologia. Recife, p.1-5, 2003.

Page 110: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

189Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008

CRUZ, M. L.; LUNA, S. P. Efeitos Flunexim Meglumine, Ketopropfeno, Carprofeno,Buprenorfina e placebo para o analgesia pós-operatória em cães submetidos a osteossíntesede fêmur. A hora veterinária. Porto Alegre, v.19, n.114, p.19-26, mar./abr. 2000.FANTONI, D. T.; MASTROCINQUE, S. Analgesia Preemptiva. In: OTERO, P. E. Dor:Avaliação e tratamento em pequenos animais. São Caetano do Sul: Interbook, 2005.p.76-83.FANTONI, D. T.; MASTROCINQUE, S. Analgesia Preemptiva: mito ou fato?. ClínicaVeterinária, São Paulo, n.49, p.24-32, mar./abr. 2004.FANTONI, D. T.; MASTROCINQUE, S. Fisiopatologia e Controle da Dor. In: FANTONI,D. T.; CORTOPASSI, S. R. G. Anestesia de Cães e Gatos. São Paulo: Roca, 2002. p.323-336.GAN, T. J.; GLASS, P. S. Anestesia Balanceada. In: WHITE, P. F. Tratado de AnestesiaVenosa. Porto Alegre: Artmed, 2001. p.343-369.GÓRNIAK, S. L. Hipnoanalgésicos. In: SPINOSA, H. S.; GORNIAK, S. L.; BERNARDI,M. M. Farmacologia Aplicada a Medicina Veterinária. 3.ed. Rio de Janeiro: Guanabara,2002. 545p.GREMIÃO, I. F. et al. Redução da concentração alveolar mínima em cães anestesiadoscom isoflurano associado a fentanila. Acta Scientiae Veterinariae, v.31, n.1, p.13-19, 2003.HALL, L. W.; CLARKE, K. W. Veterinary Anaesthesia. 9.ed. Londres: Baillière Tindall,1991. 500p.HELLEBREKERS, L. J. Fisiopatologia da dor em animais e sua conseqüência para aterapia analgésica. In: HELLEBREKERS, L. J. Dor em Animais. São Paulo: Manole, 2002.p.69-80.HOYMORK, S. C. et al. Bispectral Index, Serum drug concentrations and emergence associatedwith individually adjusted target-controlled infusions of remifentanil and propofol forlaparoscopic surgery. British Journal of Anaesthesia, v.91, n.6, p.773-780, 2003.ILKIW, J. E. Balanced Anesthesic Techniques. Clinical Techniques in Small AnimalPractice, v.14, n.1, p.27-37, 1999.JONES, J. B. Pathophysiology of acute pain: Implications for clinical management.Emergency Medicine, n.13, p.288-292, 2001.LARSON, M. D. et al. Autonomic effects of epidural and intravenous fentanyl. BritishJournal of Anaesthesia v.98, n.2, p.263–9, 2007.LASCELLES, B. D. Farmacologia clínica de agentes analgésicos. In: HELLEBREKERS,L. J. Dor em Animais. São Paulo: Manole, 2002. p.81-108.LUNA, S. P.; TEIXEIRA, F. J. Apostila das aulas da disciplina de anestesiologiaveterinária da UNESP. Botucatu, 2004. 183p.MACCINTIRE , D. K.; TEIEND, M. Constant-Rate Infusions: Practical Use. NAVCClinician’s brief. p.25-28, 2004.MENDES, G. M.; SELMI, A. L. Use of a combination of propofol and fentanyl, alfentanil,or sufentanil for total intravenous anesthesia in cats. Journal of American VeteterinaryMedical Association. v.223, n.11, p.1608-13, 2003.

Page 111: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008190

MORAES, A. N.; OLESKOVICZ, N. Apostila das aulas da disciplina de anestesiologiado curso de veterinária da UDESC. Lages, 2005. 45p.NORA, F. S. Bombas de Infusão Alvo Controladas: TCI. In: SARGS. Educação Conti-nuada em anestesiologia, 2002. Disponível em: <http://www.sargs.org.br >. Acessoem: 24 nov. 2005.OTERO, P. E. Drogas Analgésicas. In: OTERO, P. E. Dor: avaliação e tratamento empequenos animais. São Caetano do Sul: Interbook, 2005. p.96-111.PADDLEFORD, R. R. Manual of Small Animals Anaesthesia. 2.ed. new York: Saunders,1988. 372p.PISERA, D. Fisiologia da Dor. In: OTERO, P. E. Dor: avaliação e tratamento em peque-nos animais. São Caetano do Sul: Interbook, 2005. p.30-75.POLIS, I. et al. Anti-nociceptive and sedative Effects of Sufentanil Long Acting duringand after Sevoflurane Anaesthesia in dogs. Veterinary Anaesthesia and Analgesia.v.51, n.5, p.242-248, 2004.ROUSSIER, M. et al. Patient-controlled cervical epidural fentanyl compared with patient-controlled i.v. fentanyl for pain after pharyngolaryngeal surgery. British Journal ofAnaesthesia. v.96, n.4, p.492-6, 2006.SANDKÜHLER, J.; RUSCHEWEYH, R. Opioids and central sensitization: Pré-emptiveanalgesia. European Journal of Pain, n.9, p.145-148, 2005.SCHÖNELL, L. B. et al. Fármacos em Anestesia. Livro Eletrônico de Anestesiologia.Porto Alegre: Imprensa Eletrônica da Faculdade de Medicina, Disponível em <http://www.famed.ufrgs.br/disciplinas/med03377/anes/livro_anes/farmacoc.htm> 2003. Aces-so em: 24 nov. 2005.SCHRAAG, S. Theoretical basis of target controlled anaesthesia: history, concept andclinical perspectives. Best Practice & Research Clinical Anaesthesiology. v.15, n.1,p.1-17, 2001.SHAFFORD, H.I. et al. Preemptive analgesia: Managing pain before it begins. VeterinaryMedicine, v.96, n.6, p.478-492, 2001.STOELTING, R. K. Pharmacology & Physiology in Anesthesic Practice 3.ed.Philadelphia: Lippincott – Raven, 1999. 814p.THOMASY, S. M. E. et al. The effects of i.v. fentanyl administration on the minimumalveolar concentration of isoflurane in horses. British Journal of Anaesthesia v.97, n.2,p.232–7, 2006.THURMON, J. C. et al. Lumb and Jones’ Veterinary Anesthesia. 3.ed. Baltimore: LippincottWilliams & Wilkins, 1996. 928p.YOUNGS, E. J.; SHAFER, S. L. Princípios Farmacocinéticos e Farmacodinâmicos Bási-cos. In: WHITE, P. F. Tratado de Anestesia Venosa. Porto Alegre: Artmed, 2001. p.27-41.

Recebido em: nov. 2007 Aceito em: abr. 2008

Page 112: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

191Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008

João Antonio Tadeu Pigatto é Médico Veterinário, Doutor, Professor Adjunto, Departamento de MedicinaAnimal, Faculdade de Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS.Fabiana Quartiero Pereira é Médica Veterinária, Mestranda em Oftalmologia Veterinária, Universidade Fede-ral do Rio Grande do Sul – UFRGS.Ana Carolina da Veiga Rodarte de Almeida é Médica Veterinária, Mestranda em Oftalmologia Veterinária,Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS.Raquel Redaelli é Acadêmica de Medicina Veterinária, Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS.Luciane de Albuquerque é Acadêmica de Medicina Veterinária, Universidade Federal do Rio Grande do Sul– UFRGS.

Endereço para correspondência: Prof. João A. T. Pigatto – Av. Bento Gonçalves, 9090. Bairro Agronomia.Porto Alegre, RS. 91540-000. E-mail: [email protected]

Ceratoconjuntivite seca em cães – revisãode literatura

João Antonio Tadeu PigattoFabiana Quartiero Pereira

Ana Carolina da Veiga Rodarte de AlmeidaRaquel Redaelli

Luciane de Albuquerque

RESUMOA ceratoconjuntivite seca (CCS) é uma enfermidade comum em pequenos animais, prin-

cipalmente em cães. Resulta da deficiência na produção da porção aquosa da lágrima. Há muitasetiologias, incluindo doença imunomediada, doenças sistêmicas, terapia sistêmica com sulfas,uso prolongado de colírio de atropina, remoção da glândula da terceira pálpebra, entre outras.Freqüentemente se observa ressecamento da córnea, hiperemia conjuntival, desconforto ocular,secreção ocular mucóide ou mucopurulenta e ceratite com neovascularização. Pigmentação dacórnea e perda da visão também pode ocorrer. O diagnóstico da CCS baseia-se principalmentenos sinais clínicos e na realização do teste da lágrima de Schirmer. O tratamento da CCSnormalmente é medicamentoso e baseado na administração de substitutos da lágrima, antibióti-cos, agentes mucolíticos e lacrimogênicos. Este trabalho é uma revisão de literatura sobre CCS,incluindo etiologia, sinais clínicos, diagnóstico, tratamento e prognóstico desta afecção.

Palavras-chave: Ceratoconjuntivite seca. Cães. Gatos.

ABSTRACTKeratoconjunctivitis sicca (KCS) is a disease frequently diagnosed in dogs and is caused

by inadequate production of the aqueous portion of the tears. KCS has a number of reportedcauses. These include immune-mediated diseases, systemic illness, secondary to systemictherapy with sulfas or topical atropine, removal of the third eyelid gland. Clinical signs of KCSare variable, and can include dry cornea, conjunctival hyperemia, blepharospasm, mucoid tomucopurulent ocular discharge and keratitis with neovascularization. Loss of sight due toprogressive corneal pigmentation is also possible. Diagnosis of KCS is based on the clinicalsigns and results of the Schirmer tear test. KCS is most often treated medically. Usually tearreplacement, topical antibiotic, mucolytic preparations and tear stimulators are used. This

n.2v.5Veterinária em Foco jan./jun. 2008p .191-200Canoas

Page 113: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008192

paper is a study about KCS, based in literature review, including etiology, pathogenesis,diagnostic techniques, options of treatment and prognosis of this affection.

Keywords: Keratoconjunctivitis sicca. Dogs. Cats.

INTRODUÇÃOA ceratoconjuntivite seca (CCS) ou síndrome do olho seco é uma afecção oftálmica

caracterizada pelo ressecamento da superfície ocular, dor, enfermidade corneal econjuntival progressiva associada com perda da visão. Diversas espécies animais sãoacometidas, principalmente os cães. A incidência de CCS em cães tem sido estimada em5% (BARROS, 1997; GELATT, 2003).

O diagnóstico é baseado nos sinais clínicos e na avaliação da produção lacrimal(STRUBBE; GELATT, 1999). O tratamento da CCS normalmente é medicamentoso ebaseado na administração de substitutos da lágrima, antibióticos, agentes mucolíticose lacrimogênicos. Em casos refratários ao tratamento medicamentoso a terapia cirúrgicapode ser considerada (MOORE, 1999; GELATT, 2003).

As manifestações clínicas iniciais da CCS são freqüentemente semelhantes às deuma conjuntivite, por isso muitas vezes ocorre demora na confirmação do diagnósticodificultando o tratamento. O objetivo deste trabalho é auxiliar a correta abordagem daCCS permitindo identificação precoce, diagnóstico preciso e tratamento eficaz, poissomente com o maior conhecimento da CCS obtém-se um prognóstico favorável compreservação da visão e da qualidade de vida dos pacientes.

FISIOPATOGENIAO filme lacrimal é um fluido trilaminar complexo composto por três camadas: a

lipídica, a aquosa e a mucóide. A camada externa lipídica, secretada pelas glândulastarsais, possui as funções de retardar a evaporação da lágrima e manter a estabilidadelacrimal A camada intermediária aquosa é produzida pela glândula lacrimal principal epela glândula lacrimal da terceira pálpebra, constitui 90% do filme lacrimal e contéminúmeros eletrólitos, glicose, uréia, polímeros de superfície ativos, glicoproteínas eproteínas lacrimais (globulinas, albumina, lizosima). A camada interna mucóide origina-se das células caliciformes da conjuntiva e confere adesão da lágrima à córnea, atuandona manutenção da integridade da superfície ocular (MOORE, 1999; GELATT, 2003;DAVIDSON; KUONEM, 2004)

Inúmeras são as funções do filme lacrimal, incluindo, principalmente, a nutriçãoe a proteção da córnea e da conjuntiva contra corpos estranhos e infecções. Alémdisso, a lágrima fornece uma superfície corneana homogênea para uma ótima eficiênciaóptica (MOORE, 1999; SLATTER, 2005). A produção normal de lágrimas é importantepara a manutenção da visão e da integridade da superfície ocular (Figura 1).

Page 114: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

193Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008

A CCS caracteriza-se pela diminuição da porção aquosa da lágrima resultando emressecamento e inflamação crônica da córnea e da conjuntiva, desconforto ocular evisão reduzida, com potencial risco de cegueira. A deficiência da produção lacrimalpode ser congênita ou adquirida, sendo a maioria dos casos considerados idiopáticosou associados à doença imunomediada (MOORE, 1999).

Qualquer raça de cães pode ser acometida, contudo a incidência é maior nasraças Shih Tzu, Lhasa Apso, Pequinês, Buldogue Inglês, Yorkshire Terrier, Pug, CockerSpaniel Americano, West Highland White Terrrier e Schnauzer, o que sugere umapredisposição genética (CHRISTMAS, 1992; MOORE, 1999; GELATT, 2003). Em gatos,entre as raças mais freqüentemente acometidas por CCS encontram-se Burmês,Abissínio, Himalaia e Persa (WITHELY, 1991).

A CCS pode ser induzida pela administração sistêmica prolongada de sulfas outópica de colírio de sulfato de atropina (BARROS, 1997) Fármacos pré-anestésicoscomo atropina, buprenorfina e medetomidina, entre outros, também induzem adiminuição transitória da produção lacrimal em cães (MARGADANT et al., 2003). Aceratoconjuntivite seca também pode estar relacionada a endocrinopatias comohipotireodismo, hipoadrenocorticismo, hiperadrenocorticismo, diabetes mellitus ehipoestrogenismo (GELATT, 2003; CULLEN et al., 2005; BARNETT, 2006; WILLIAMS;PIECE, 2007). Doenças sistêmicas como a cinomose e o herpes vírus podem causarCCS em cães e gatos respectivamente (BRITO et al., 2007).

A remoção cirúrgica da glândula da terceira pálpebra tem sido relatada comocausa importante de CCS em cães (ALMEIDA et al., 2004; SAITO et al., 2001). Traumaorbital ou supraorbital também pode causar CCS por lesão direta das glândulas lacrimaisou de sua inervação. Além dessas condições, tem sido observado que o envelhecimentotambém contribui para a diminuição da produção de lágrima (HARTLEY et al., 2006).Animais que apresentam idade próxima de cinco ou seis anos são mais acometidos porCCS (BARROS, 1997).

A incidência de CCS é variável em cães e gatos nos diferentes países sendo de

FIGURA 1 – Superfície ocular normal. (A) olho de cão e (B) olho de gato. Observa-se córnea transparente econjuntiva com ausência de sinais de inflamação (A) (B).

Fonte: PIGATTO, J. A. T. Serviço de Oftalmologia Veterinária UFRGS.

A B

Page 115: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008194

3,3% nos Estados Unidos, 3,4% no Reino Unido e 5,5% no Brasil. (BARROS, 1997).Apesar dos inúmeros artigos científicos sobre CCS poucos são os estudospopulacionais discutindo a incidência desta condição em animais.

SINAIS CLÍNICOSOs sinais clínicos podem ser uni ou bilaterais e variam consideravelmente de

acordo com o tempo decorrido do início da CCS. Nos estágios mais precocesfreqüentemente observa-se desconforto ocular, secreção mucóide, hiperemiaconjuntival intensa, fotofobia e neovascularização da córnea (Figura 2). A córneapoderá apresentar-se edemaciada, irregular e muitas vezes ulcerada. Ressecamentoocular severo não tratado pode resultar em perfuração corneana e perda visual(KASWAN et al, 1995; MOORE, 1999; HERRERA et al, 2007). Normalmente o mucoacumulado é parte integrante do filme lacrimal que não é drenado pelo sistema lacrimal.

Nos estágios mais avançados ocorre maior ressecamento da superfície ocular,neovascularização e pigmentação da córnea (Figura 3) e muitas vezes resultando emperda da visão.

FIGURA 2 – Olhos de cães acometidos por CCS. A – Observa-se secreção mucóide sobre a córnea.B – Observa-se Intensa hiperemia conjuntival e neovascularização da córnea.

Fonte: PIGATTO, J. A.T. Serviço de Oftalmologia Veterinária UFRGS.

A B

FIGURA 3 – Olhos de cães acometidos por CCS. A – Observa-se ressecamento da superfície ocular.B – Observa-se neovascularização e pigmentação da córnea. Fonte: PIGATTO, J. A. T. Serviço de

Oftalmologia Veterinária UFRGS.

A B

Page 116: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

195Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008

DIAGNÓSTICOO diagnóstico da CCS é estabelecido com base na combinação das informações

da anamnese e do exame oftalmológico (GELATT, 2003; KOCH; SYKES, 2005). Odiagnóstico deve ser precoce e preciso para prevenir e tratar a tempo as complicaçõesda CCS. É fundamental obter a história clínica completa do paciente, especialmente emrelação à presença de doenças sistêmicas, ao uso de medicamentos que possam terdesencadeado a CCS e a uma possível remoção cirúrgica da glândula da terceira pálpebra(ALMEIDA et al., 2004).

Ambos os olhos deverão ser examinados, tendo em vista que grande parte doscasos de CCS é bilateral. Durante o exame oftálmico deve ser realizada biomicroscopiacom lâmpada de fenda, a quantificação da produção lacrimal e o uso de corantes vitais.A biomicroscopia com lâmpada de fenda proporciona magnificação e estereopsia,permitindo avaliação detalhada da superfície ocular, particularmente das úlceras corneais.A quantificação da porção aquosa da lágrima tem fundamental importância no quetange à confirmação do diagnóstico de CCS. Pode ser realizada valendo-se dos testesdo fenol vermelho ou do teste da lágrima de Schirmer (TLS). O teste do fenol vermelhoapresenta inúmeras vantagens em relação ao teste da lágrima de Schirmer, mas é dedifícil aquisição, sendo, por isso, ainda pouco utilizado, tanto em pacientes humanosquanto em animais (MOORE, 1999; STRUBBE; GELATT, 1999).

Rotineiramente utiliza-se o TLS para quantificar a produção lacrimal em cães egatos. É importante que este teste seja realizado antes dos demais, pois a instilaçãoprévia de colírios pode provocar alterações no resultado. O TLS pode ser realizadosem anestesia tópica ou com anestesia tópica, denominando-se TLS1 ou TLS2,respectivamente (GELATT, 2003). O TLS2, que mede a produção lacrimal basal apósanestesia da conjuntiva e da córnea, tem aplicação clínica limitada, sendo o TLS1 maisutilizado na rotina. Este teste consiste na colocação de tiras padronizadas de papelabsorvente estéril no terço médio do saco conjuntival inferior (Figura 4A). Algumastiras de papel milimetrado são impregnadas com corante azul para facilitar a leitura doresultado (Figura 4B).

FIGURA 4 – Tiras de papel milimetrado colocadas no saco conjuntival inferior de um cão (A) e de um gato(B) para quantificar a produção de lágrima. PIGATTO, J. A. T. Serviço de Oftalmologia Veterinária UFRGS.

A B

Page 117: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008196

Após 1 minuto, a tira de papel filtro é retirada do saco conjuntival e a quantificaçãoda produção de lágrima é feita pela medida da extensão do papel filtro que ficou úmida.O TLS1, que não inclui o uso de anestésico tópico, mede o lacrimejamento basal ereflexo. O valor considerado normal para cães é 21 ± 4 mm/minuto e para gatos 16 ± 3.8mm/minuto (STRUBBE; GELATT, 1999).

Os corantes vitais mais empregados são o rosa bengala e a fluoresceína. Ocorante de rosa bengala detecta células desvitalizadas, defeitos epiteliais agudose filamentos de muco. O corante de fluoresceína detecta defeitos epiteliaiscorneanos e determina o tempo de ruptura do filme lacrimal (BASTTISTELLA;KARA-JOSÉ,1999).

O diagnóstico diferencial é de extrema importância para a diferenciação da CCSdas demais doenças que acometem a superfície ocular, principalmente da conjuntivite(MOORE, 1999; DAVIDSON; KUONEN 2004; KOCH; SYKES, 2005).

TRATAMENTO

O tratamento medicamentoso é instituído inicialmente, e tem como metas repor alágrima, estimular a produção da lágrima e manter a integridade da superfície ocular(WITHELY, 1991; MOORE, 1999; GELATT, 2003; KOCH; SYKES, 2005).

Para a reposição lacrimal foram desenvolvidos colírios com composiçãosemelhante aos componentes da lágrima. As lágrimas artificiais são indicadas paraumedecer a superfície ocular e aliviar o desconforto ocular. As lágrimas artificiaisdevem ser instiladas 6 a 8 vezes ao dia e geralmente associadas com outros agentesterapêuticos até que a produção lacrimal retorne aos níveis fisiológicos (MOORE,1999).

As substâncias mucolíticas podem ser utilizadas para facilitar a remoção domuco. Normalmente utiliza-se, para este fim, colírio de acetilcisteína a 5% aplicado 3 a4 vezes ao dia durante 30 a 60 dias (KOCH; SYKES, 2005). Em casos de contaminaçãobacteriana secundária à CCS, colírios contendo antibióticos devem ser administrados.Inicialmente, o tratamento é prescrito três a quatro vezes ao dia, depois reduzido paraduas vezes, conforme a secreção mucopurulenta diminui e, eventualmente,descontinuado quando os sinais de infecção desaparecerem. Além disso, osproprietários devem ser instruídos para manter a superfície ocular limpa, minimizandoo acúmulo de muco e o risco de contaminação bacteriana.

Agentes colinérgicos têm sido utilizados para estimular a produção lacrimal porcausa da inervação parassimpática da glândula lacrimal. O agonista muscarínico

Page 118: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

197Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008

cloridrato de pilocarpina é um potente estimulante da secreção das glândulas exócrinas,e sua atividade como sialogogo é conhecida há mais de um século. Os efeitos colateraissistêmicos incluem náuseas, diarréia, transpiração, sialorréia e até casos de espasmobrônquico e bradicardia (KOCH; SYKES, 2005). Tendo em vista os efeitos colateraissistêmicos e a eficácia duvidosa do tratamento tópico, a pilocarpina está sendo cadavez menos utilizada.

A partir das evidências da etiologia autoimune da CCS a ciclosporina A(CsA) tópica tem sido utilizada para estimular a produção lacrimal (MORGAN;ABRAMS, 1991; GILGER; ALLEN, 1998; TANG-LIU; ACHEPONG, 2005). A CsAfoi introduzida no início da década de 80 como imunossupressor para uso pós-operatório em pacientes humanos submetidos a transplantes de órgãos(FUKUSHIMA et al., 2006).

Os linfócitos T infiltram a glândula lacrimal na CCS, destruindo os ácinos dascélulas produtoras da camada aquosa da lágrima. A CsA é um imunomoduladorespecífico que inibe os linfócitos T, particularmente as células T helper, revertendoo ciclo inflamatório e diminuindo a secreção de mediadores inflamatórios. O tecidoglandular lacrimal que ainda se encontra viável, recupera-se e reinicia a produçãolacrimal (TANG-LIU; ACHEPONG, 2005; FUKUSHIMA et al., 2006). Para estimular aprodução lacrimal, a CsA é utilizada na forma de colírio ou pomada em intervalosregulares de 8 ou 12 horas, dependendo da severidade do caso. A CsA não é eficazpara todos os casos (GILGER; ALLEN, 1998; GELATT, 2003). Várias semanas detratamento contínuo são necessárias para que o aumento na produção lacrimal sejaobservado. Normalmente a CsA é utilizada de modo contínuo (GELATT,2003; KOCH;SYKES, 2005).

Nos casos não responsivos ao tratamento medicamentoso pode ser realizadotratamento cirúrgico. Este procedimento consiste na transposição do ductoparotídeo da cavidade oral ao saco conjuntival inferior permitindo a substituiçãoda lágrima por saliva. Complicações tanto trans quanto pós-operatórias podemocorrer. Torção, laceração, ou trauma no ducto parotídeo pode ocorrer durante oprocedimento cirúrgico. Devido à maior concentração de minerais na saliva emcomparação com a lágrima, depósitos de minerais podem ocorrer na córnea (MOORE,1999; SLATTER, 2005).

PROGNÓSTICO

O reconhecimento precoce da CCS e o tratamento adequado são fundamentaispara o prognóstico favorável. Os valores do TLS1 fornecem informações a respeito da

Page 119: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008198

possível resposta à terapia com CsA. Os cães com valores de TLS1 pré-tratamentoentre 0 e 1 mm/min têm aproximadamente 50% de chances de responderem à CsAtópica com aumento da produção lacrimal. Cães com valores pré-tratamento de 2 mm/min ou mais têm 80% de chance de melhorarem a produção lacrimal(MOORE,1999;GELATT, 2003).

Em cães, somente poucos pacientes se recuperam completamente, sendonecessários exames de seguimento. O prognóstico para CCS é freqüentemente maisfavorável em gatos do que em cães (STADES et al, 1999).

CONCLUSÕES

A CCS é uma importante afecção ocular que acomete cães e gatos levando aocomprometimento da superfície ocular e à diminuição da visão. Tem sido demonstradoque o diagnóstico precoce e a adesão do proprietário ao tratamento adequadopermitem um prognóstico favorável. Com este trabalho procurou-se auxiliar a corretaabordagem da CCS permitindo detecção precoce, diagnóstico preciso e tratamentoeficaz, pois somente assim poderemos preservar a visão e melhorar a qualidade devida dos pacientes.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, D. E. et al. Iatrogenic keratoconjunctivitis sicca in a dog. Ciência Rural,v.34, n.3, p.921-924, 2004.

BARNETT, K. C. Congenital keratoconjunctivitis sicca and ichthyosiform dermatosisin the Cavalier King Charles Spaniel. Journal of Small Animal Practice, v.47, p.524-528,2006.

BARROS, P. S. M. Córnea em medicina veterinária. In: BELFORT, R.; KARA-JOSÉ, N.Córnea Clínica-Cirúrgica. Roca; 1997, p.603-607.

BASTTISTELLA, R; KARA-JOSÉ, N. Corantes e quelantes em oftalmologia. In: VITASOBRINHO, J. B. Farmacologia & Terapêutica Ocular. Cultura Médica; 1999, p.122.

BRITO, F. L. C. Et al. Microalterations in the third eyelid gland of dogs withkeratoconjunctivits sicca secondary to distemper. Arquivo Brasileiro de MedicinaVeterinária e Zootecnia, v.59, n.2, p.340-344, 2007.

CHRISTMAS, R. E. Common ocular problems of Shih Tzu dogs. The CanadianVeterinary Journal, v.33, n.6, p.390-393, 1992.

Page 120: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

199Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008

CULLEN, C. L. et al. Keratoconjunctival effects of diabetes mellitus in dogs. VeterinaryOphthalmology, v.8, n.4, p.215-224, 2005.

DAVIDSON, H. J; KUONEN, V. J. The tear film and ocular mucins. VeterinaryOphthalmology, v.7, n.2, p.71-77, 2004.

FUKUSHIMA, A. et al. Cyclosporin A inhibits eosinophilic infiltration into theconjunctiva mediated by type IV allergic reactions. Clinical & ExperimentalOphthalmology, v.34, n.1, p.347-53, 2006.

GELATT, K. N. Doenças e cirurgia dos sistemas lacrimal e nasolacrimal do cão. In:______. Manual de Oftalmologia Veterinária. Barueri: Manole, 2003. cap.4, p.73-94.

GILGER, B. C; ALLEN, J. B. Cyclosporine A in veterinary ophthalmology. VeterinaryOphthalmology, v.1, p.181-187, 1998.

HARTLEY, C; WILLIAMS, D. L; ADAMS, V. Effect of age, gender, weight, and timeof day on tear production in normal dogs. Veterinary Ophthalmology, v.9, n.1, p.53-57, 2006.

HERRERA, H. D. et al. Severe, unilateral, unresponsive keratoconjunctivitis sicca in 16juvenile Yorkshire Terriers. Veterinary Ophthalmology, v.10, n.5, p.285-288, 2007.

KASWAN, R. L.; BOUNOUS, D.; HIRSH, S. G. Diagnosis and management ofkeratoconjunctivitis sicca. Veterinary Medicine , v.90, p.539-560, 1995.

KOCH, S. A.; SYKES, J. Ceratoconjuntivite seca. In: RIIS, R. C. Segredos em Oftalmolo-gia de Pequenos Animais. Porto Alegre: Artmed, 2005, p.80-83.

MARGADANT, D. L. et al. Effect of topical tropicamide on tear production as measuredby Schirmer’s tear test in normal dogs and cats. Veterinary Ophthalmology, v.6, n.4,p.315-320, 2003.

MOORE, C. P. Diseases and surgery of the lacrimal secretory system. In: GELATT, K.N. Veterinary Ophthalmology. 3.ed., Philadelphia: Lippincott Williams; Wilkins, 1999,p.583-618.

MORGAN, R. V.; ABRAMS, K. L. Topical administration of cyclosporine for treatmentof keratoconjunctivitis sicca in dogs. Journal of American Veterinay MedicalAssociation, v.199, n.8, p.1043-1046, 1991.

SAITO, A. et al. The effect of third eyelid gland removal on the ocular surface of dogs.Veterinary Ophthalmology, v.4, p.13-18, 2001.

SLATTER, D. Sistema lacrimal. In: ______. Fundamentos de Oftalmologia Veteriná-ria. 3.ed. São Paulo: Roca, 2005. 277p.

Page 121: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008200

STADES, F. C. et al. Aparelho lacrimal. In: ______. Fundamentos de OftalmologiaVeterinária. São Paulo: Manole, 1999. 58p.

STRUBBE, D.; GELATT, K. N. Ophthalmic examination and diagnostic procedures. In:GELATT, K. N. Veterinary Ophthalmology. 3.ed., Philadelphia: Lippincott Williams;Wilkins, 1999, p.427-466.

TANG-LIU, D.; ACHEAPONG, A. Ocular pharmacokinetics and safety of ciclosporin, anovel topical treatment for dry eye. Clinical Pharmacokinetics. v.44, p.247-261, 2005.

WILLIAMS, D. L.; PIECE, V. Reduced tear production in three canine endocrinopathies.Journal of Small Animal Practice. v.48, p.252-256, 2007.

WITHELY, D. The treatment of keratoconjunctivitis sicca. Veterinary Medicine. v.3,p.1076-1093, 1991.

Recebido em: fev. 2008 Aceito em: abr. 2008

Page 122: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

201Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008

Tempo de sobrevida de cães com imagemradiográfica compatível com neoplasia óssea

no esqueleto apendicular, sem o usode quimioterapia

Cristiano GomesCamila Spagnol

Lisiane FoerstnowVanessa Bergel Lipp

Kelly Cristine FerreiraLuciana Oliveira de Oliveira

Raquel Machnacz KroetzRuben Lundgren CavalcantiEmerson Antonio Contesini

Rosemari Teresinha Oliveira

RESUMOO osteossarcoma é a neoplasia maligna óssea primária mais diagnosticada no cão,

correspondendo a mais de 85% dos tumores ósseos. O tratamento preconizado é a cirurgiaradical de amputação do membro acometido, associada à quimioterapia. No Hospital de Clíni-cas Veterinárias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (HCV-UFRGS) foram analisa-dos 23 cães que apresentavam imagem radiográfica compatível com neoplasia óssea no esque-leto apendicular. Avaliou-se a evolução destes animais, cujos proprietários optaram por nãorealizar quimioterapia. Destes, 16 optaram por não realizar a amputação, utilizando somenteanalgésicos, 5 optaram pela cirurgia e 2 por eutanásia no momento do diagnóstico. A sobrevidamédia foi de 3,8 meses, sendo 3,4 meses para os cães tratados apenas com analgésicos e 4,9meses para os cães tratados apenas com a amputação.

Palavras-chave: Neoplasia óssea. Cão. Quimioterapia. Imagem radiográfica.

Cristiano Gomes é Médico Veterinário, Mestre, Professor Substituto da Universidade Federal do Rio Grandedo Sul – Serviço de Oncologia Veterinária. Av. Bento Gonçalves, 9090. Porto Alegre/RS. E-mail:[email protected] Lundgren e Camila Spagnol são Médicos Veterinários Autônomos.Lisiane Foerstnow Cavalcanti e Vanessa Bergel Lipp são Graduandas da Faculdade de Veterinária daUniversidade Federal do Rio Grande do Sul.Kelly Cristine Ferreira, Luciana Oliveira de Oliveira e Raquel Machnacz Kroetz são Médicas Veterinárias– Serviço de Oncologia Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.Emerson Antonio Contesini e Rosemari Teresinha Oliveira são Professores Adjuntos – UniversidadeFederal do Rio Grande do Sul.

n.2v.5Veterinária em Foco jan./jun. 2008p .201-206Canoas

Page 123: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008202

Survival times of dogs with compatible image of bone neoplasmsfrom appendicular skeleton by the radiographic examination

ABSTRACTOsteosarcoma is the most common primary bone tumor in dogs accounting for up to

85% of malignancies originating in the skeleton. The main treatment is amputation associatedwith chemotherapy. At Veterinary Hospital of Federal University of Rio Grande do Sulwere analyzed 23 dogs with compatible image of bone neoplasms by the radiographicexamination from appendicular skeleton. Through telephone contacts it was possible toevaluate these animals evolution, whose owners chose not to use the chemotherapy. Sixteenowners opted to treat just with analgesics, five opted for the surgery and two dogs wereeuthanized at the moment of the diagnostic. The mean survival times was 3,8 months,being 3,4 months of the dogs without surgery and 4,9 months of the dogs treated withsurgery alone.

Keywords: Bone neoplasm. Dog. Chemotherapy. Radiograph image.

INTRODUÇÃOAs neoplasias ósseas representam aproximadamente 5% de todos os tumores de

cães e gatos. Estes tumores são geralmente malignos, sendo o osteossarcoma o maisfreqüente, representando mais de 85% destas afecções (MORRIS; DOBSON, 2001;DERNELL, 2003). Entretanto, podem-se encontrar outros tipos histológicos (MORRIS;DOBSON, 2001). As neoplasias ósseas ocorrem principalmente em cães de porte grandea gigante (STRAW, 1996; MORRIS e DOBSON, 2001). Esta enfermidade ocorreprincipalmente em cães de meia idade a idosos e os machos parecem ser maispredispostos que as fêmeas (MORRIS; DOBSON, 2001).

As características radiográficas deste tumor são lesões líticas e proliferativasna região metafisária dos ossos longos, aumento de volume dos tecidos moles,com calcificação se estendendo a estes tecidos, formando espículas periostais(aspecto de explosão solar), a presença do “Triângulo de Codman” que secaracteriza por uma reação óssea entre o periósteo e o córtex, além desta neoplasiararamente atravessar a cápsula articular (CHUN; LORIMIER, 2003; DERNELL, 2003;LIPTAK et al., 2004; OGILVIE, 2004). Estas características são indicativas deneoplasia óssea, entretanto o diagnóstico definitivo e a diferenciação do seu tipohistológico são obtidos através da histopatologia (WATERS, 1998; MORRIS;DOBSON, 2001).

O tratamento de escolha é a amputação associada à quimioterapia com cisplatina,carboplatina, doxorrubicina ou uma combinação destes (CHUN; LORIMIER, 2003). Aquimioterapia adjuvante constitui uma tentativa de prevenir ou atrasar o início dadoença metastática (MORRIS; DOBSON, 2001). O tratamento utilizando somente aamputação tem função paliativa, atuando somente no alívio da dor, sem aumentar

Page 124: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

203Veterinária em Foco, v.5, n.2, jan./jun. 2008

significativamente o tempo de sobrevida do paciente (LIPTAK et al., 2004). Animaissubmetidos à amputação e quimioterapia adjuvante com cisplatina, carboplatina oudoxorrubicina apresentam sobrevida média de 278 a 325 dias (BERG et al., 1992; BERGet al., 1995; BERGMAN et al., 1996). Enquanto que animais submetidos apenas àamputação, apresentam período de sobrevida mais curto, com média de 3 a 4 meses(MORRIS; DOBSON, 2001).

O objetivo deste trabalho foi avaliar a evolução clínica dos cães com imagemradiográfica compatível com neoplasia óssea no esqueleto apendicular atendidosno Hospital de Clínicas Veterinárias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul(HCV-UFRGS), cujos proprietários optaram por não realizar terapia adjuvante comquimioterapia.

MATERIAL E MÉTODOSForam avaliados 23 cães atendidos no HCV-UFRGS que, ao exame radiográfico,

apresentaram imagens compatíveis com neoplasias ósseas em ossos longos, no períodode março de 2003 a março de 2005.

Para serem caracterizadas como neoplasias ósseas, as imagens apresentavamlise cortical, podendo ou não apresentar descontinuidade do córtex e neoformaçãoóssea. Microfraturas, interrupção do periósteo e a presença do “Triângulo de Codman”também podiam ser observadas. Os dados foram analisados quanto à raça, idade, sexoe localização do tumor destes animais, sendo excluídos do trabalho animais com dadosclínicos incompletos.

Os proprietários foram questionados através de contatos telefônicos e revisõesclínicas quanto ao tempo de evolução do tumor, opção de tratamento, evidência demetástases e o tempo de sobrevida após o diagnóstico.

RESULTADOS E DISCUSSÃOA raça mais acometida foi a Rottweiller, com 15 casos (65%), seguida de cães sem

raça definida com 4 casos (17%), Pastor Alemão com 2 casos (9%) e Fila Brasileiro eDálmata com um caso cada (4%). Não houve predisposição quanto ao sexo: dos 23cães, 12 eram fêmeas (52%) e 11 machos (48%). A idade média foi de 7 anos e meio. Em13 animais (56%) a lesão estava localizada no membro anterior e em 10 (44%) nomembro posterior.

Os dados referentes à idade média dos cães acometidos e das raças maispredispostas foram de acordo com o que a literatura descreve, que acometeprincipalmente cães com idade média de 7 anos e de raças de porte grande a gigante

Page 125: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

(MORRIS; DOBSON, 2001; KIRPENSTEIJN et al., 2002; CHUN; LORIMIER, 2003;DERNELL, 2003; ENDICOTT, 2003; LIPTAK et al., 2004). A maior incidência na raçaRotweiller pode estar relacionada com uma predisposição genética, além de, se tratandode uma raça de grande porte, o rápido crescimento ósseo durante o início dodesenvolvimento e o estresse em razão do peso suportado, possivelmente resultandoem microfraturas na região diafisária, podem favorecer um maior número de animaisacometidos dessa raça (MORRIS; DOBSON, 2001).

A literatura cita que esta enfermidade acomete principalmente machos e que osmembros anteriores são duas vezes mais freqüentes, porém estes dados não foramevidenciados no presente estudo (MORRIS; DOBSON, 2001; DERNELL, 2003;ENDICOTT, 2003). Isto pode ter ocorrido devido ao tamanho da amostra de animaiscontida neste estudo. Além disso, analisou-se a ocorrência de tumores com imagemradiográfica de neoplasia óssea, sem a confirmação histopatológica de osteossarcomacomo descrevem os autores, onde este tipo tumoral representa cerca de 85% dostumores ósseos (MORRIS; DOBSON, 2001; DERNELL, 2003).

Em todos os casos, os proprietários relataram rápida evolução das lesões. Otratamento apenas com analgésicos foi optado por 16 proprietários (70%), o tratamentocom amputação do membro foi adotado por 5 proprietários (22%) e em dois casos (8%)a eutanásia foi realizada no momento do diagnóstico. A média de sobrevida destespacientes foi de 3,8 meses, variando entre 3 dias a 10 meses. Em 14 casos (61% dototal), os proprietários optaram pela eutanásia dos cães após o aparecimento de sinaisclínicos como apatia, anorexia, perda de peso e dispnéia, onde os examescomplementares revelaram imagens compatíveis com metástases. Sete cães vieram aóbito. Dentre os 16 cães que receberam somente o tratamento para a dor, a sobrevidamédia foi de 3,4 meses e dentre os 5 cães em que foi realizada a amputação a sobrevidamédia foi de 4,9 meses (Tabela 1).

TABELA 1 – Sobrevida média dos cães com imagem compatível com neoplasia óssea através do exameradiográfico em ossos longos atendidos no HCV-UFRGS durante o período de março de 2003 a março de

2005, sem o uso de quimioterapia.

Tipo de tratamento Número de animais Média de sobrevida (meses) Analgésicos 16 3,4 Amputação 5 4,9

Eutanásia no momento do diagnóstico

2 -

Total 23 3,8

Page 126: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

O tempo de sobrevida dos pacientes foi bastante curto, o que já era esperado,pois, na maioria dos casos, já existem micrometástases no momento da apresentação/diagnóstico do tumor primário. Em função disso, muitos proprietários requisitameutanásia quando ocorre recidiva local do tumor ou as metástases pulmonares causamsinais clínicos de depressão, anorexia e/ou desconforto respiratório (MORRIS;DOBSON, 2001; JOHNSON; HULSE, 2003).

A evolução clínica foi muito rápida, apresentando uma sobrevida médiasemelhante à descrita na literatura, não havendo diferença significativa entre cãesamputados e não amputados. Assim, a amputação auxiliou na eliminação do desconfortoe da dor local, sem aumento da sobrevida destes animais. Nenhum cão deste estudoteve sobrevida maior que um ano após o diagnóstico (MORRIS; DOBSON, 2001;KIRPENSTEIJN et al, 2002; CHUN; LORIMIER, 2003; DERNELL, 2003; ENDICOTT,2003; LIPTAK et al, 2004).

CONCLUSÃOEstes dados confirmam a necessidade de terapia adjuvante com

quimioterapia em cães com tumores ósseos, onde a amputação utilizadaisoladamente é um método paliativo de tratamento, auxiliando somente em umamelhor qualidade de vida do paciente com o alívio da dor, sem aumentarsignificativamente a sua sobrevida.

REFERÊNCIASBERG, J. et al. Treatment of dogs with osteosarcoma by administration of cisplatin afteramputation of limb sparing surgery. J Am Vet Med Assoc. v.200, p.2005-2008, 1992.BERG, J. et al. Results of surgery and doxorubicin chemotherapy in dogs withosteosarcoma. J Am Vet Med Assoc. v.206, p.1555-1559, 1995.BERGMAN, P. J. et al. Amputation and carboplatin for treatment of dogs withosteosarcoma: 48 cases (1991-1993). J Vet Intern Med. v.10, p.76-81, 1996.CHUN, R.; LORIMIER, L. P. Uptade on the biology and management of canineosteosarcoma. Vet Clin North Am Small Anim Pract. v.33, p.491-516, 2003.DERNELL, W. S. Tumours of the skeletal system. In: DOBSON, J. M.; LASCELLES, B.D. X (Eds). BSAVA Manual of Canine and Feline Oncology. 2nd edn. Gloucester:BSAVA, 2003, p.180-191.ENDICOTT, M. Principles of treatment for osteosarcoma. Clin Tech Small Anim Pract..v.18, p.110-114, 2003.JOHNSON, A. L.; HULSE, D. A. Outras osteopatias e artropatias. In: FOSSUM, T. W.Cirurgia de Pequenos Animais. 2.ed. São Paulo: Roca, 2005, p.1160-1258.KIRPENSTEIJN, J. et al. Prognostic Significance of a New Histologic Grading Systemfor Canine Osteosarcoma. Vet Pathol. v.39, p.240-246, 2002.LIPTAK, J. M. et al. Canine Apendicular Osteosarcoma: Diagnosis and PalliativeTreatment. Compend Contin Educ Pract Vet. v.1, p.172-182, 2004.

Page 127: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

MORRIS, J.; DOBSON, J. Skeletal system. In: ______. Small Animal Oncology. Oxford:Blackwell Science, 2001, p.78-93.OGILVIE, G. K. Tumores Ósseos. In: ROSENTHAL, R. A. (Ed.). Segredos em OncologiaVeterinária. Porto Alegre: Artmed, 2004, p.183-189.STRAW, R. C. Tumors of the skeletal system. In: MACEWEN, E. G.; WITHROW, S. J.(Eds.). Small Animal Clinical Oncology. 2nd edn. Philadelphia: WB Saunders, 1996,p.287-315.WATERS, D. J. Sistema Músculo-esquelético. In: SLATTER, D. (Ed.). Manual de Ci-rurgia de Pequenos Animais. 2.ed. São Paulo: Manole, 1998, p.2607-2623.

Recebido em: out. 2007 Aceito em: mar. 2008

Page 128: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

Normas editoriais

POLÍTICAS E REGRAS GERAISA revista VETERINÁRIA EM FOCO, publicação científica da Universidade

Luterana do Brasil (ULBRA), com periodicidade semestral, publica artigos científicos,revisões bibliográficas, relatos de casos e notas técnicas referentes à área de CiênciasVeterinárias, que a ela deverão ser destinados com exclusividade. É editada sobresponsabilidade do Curso de Medicina Veterinária da Ulbra.

Os artigos científicos, revisões bibliográficas, relatos de casos e notas devemser enviados em tres cópias redigidas em computador, em word, fonte 12, Times NewRoman, espaço duplo entre linhas, folha tamanho A4 (21,0 x 30,0 cm), margem direita2,5cm e esquerda 3cm. As páginas devem ser numeradas e rubricadas pelos autores.Os trabalhos devem ser acompanhados de ofício assinado pelos autores.

Os artigos serão submetidos a exame por 3 pesquisadores com atividade na linhade pesquisa do tema a ser publicado, tendo a Revista o cuidado de manter sob sigilo aidentidade dos autores e dos consultores. Disquetes serão solicitados após a submissãodos trabalhos e aprovação pelos consultores.

1- O artigo científico deverá conter os seguintes tópicos: Título (em portuguêse inglês); RESUMO; Palavras-chave; ABSTRACT; Key words; INTRODUÇÃO (comrevisão da literatura); MATERIAL E MÉTODOS; RESULTADOS E DISCUSSÃO;CONCLUSÃO; AGRADECIMENTOS; REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.

2- A revisão bibliográfica deverá conter: Título (em português e inglês); RESUMO;Palavras-chave; ABSTRACT; Key words; INTRODUÇÃO; DESENVOLVIMENTO;CONCLUSÃO; REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.

3- A nota deverá conter: Título (em português e inglês); RESUMO; Palavras-chave; ABSTRACT; Key words; seguido do texto, sem sub-divisão, abrangendointrodução, metodologia, resultados, discussão e conclusão, com REFERÊNCIASBIBLIOGRÁFICAS.

4- O relato de caso deverá conter: Título (em português e inglês); RESUMO;Palavras-chave; ABSTRACT; Key words; INTRODUÇÃO (com revisão de literatura);RELATO DO CASO; RESULTADOS E DISCUSSÃO; CONCLUSÃO; REFERÊNCIASBIBLIOGRÁFICAS.

ORGANIZAÇÃO DO TEXTOTítulo

Deve ser claro e conciso, em caixa alta e negrito, sem ponto final, em portuguêse inglês.

Page 129: Revista de Medicina Veterinária Vol. 5 - No 2 - Jan./Jun ... · de vacas leiteiras da raça Jersey em ... Herd Book Collares- indica a raça Aberdeen Angus como ... genéticos relativos

Autores

Deve constar o nome por extenso de cada autor, abaixo do título, seguido deinformação sobre atividade profissional, maior titulação e lugar/ano de obtenção,Instituição em que trabalha, endereço completo e E-mail.

Resumo e Abstract

O resumo deve ser suficientemente completo para fornecer um panoramaadequado do que trata o artigo, sem, porém, ultrapassar 350 palavras. Logo após,indicar as palavras-chave / key words (mínimo de três) para indexação.

Citações e Referências Bibliográficas

Citações bibliográficas no texto deverão constar na INTRODUÇÃO, MATERIALE MÉTODOS E DISCUSSÃO no artigo científico, conforme exemplo: um único autor(SILVA, 1993); dois autores (SOARES & SILVA, 1994); mais de dois autores (SOARESet al., 1996). Quando são citados mais de um trabalho, separa-se por ponto e vírguladentro do parênteses (SOARES, 1993; SOARES & SILVA, 1994; SILVA et al., 1998).

Referências devem ser redigidas em página separada e ordenadas alfabeticamentepelos sobrenomes dos autores, elaboradas conforme a ABNT (NBR-6023).

Tabelas e Figuras

As Tabelas e Figuras devem ser numeradas de forma independente, com númerosarábicos. As Tabelas devem ter o título acima das mesmas, escrito em letra igual à dotexto, mas em tamanho menor.

As Figuras devem ter o título abaixo das mesmas.

Tabelas e Figuras podem ser inseridas no texto.

Endereço para correspondência

Revista VETERINÁRIA EM FOCO

Av. Farroupilha, 8001 - Prédio 60 - Sala 01

São José / RS - Brasil

CEP: 92425-900

E-mail: [email protected]

Disponível eletronicamente

www.editoradaulbra.com.br

www.ulbra.br/veterinaria/rfoco.htm