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1 Zoneamento Ecológico-econômico – entre ordem visual e mercado-mundo * Henri Acselrad IPPUR/UFRJ A partir da segunda metade dos anos oitenta, o debate sobre o planejamento territorial na Amazônia passou a incorporar elementos do discurso ambiental, fazendo com que ganhasse força a remissão a uma racionalidade ecológica, apresentada como necessária ao ordenamento territorial da região. O Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE) é o instrumento que esteve desde então fortemente associado à materialização territorial desta racionalidade. A idéia de que os projetos do desenvolvimentismo autoritário, com o apoio financeiro dos organismos multilaterais, resultaram em uma “desordem ecológica e social” afirmou-se de tal forma que o próprio Banco Mundial procurou incorporar “preocupações ambientais” voltadas para a correção dos impactos emblematicamente desastrosos de projetos de execução recente como o POLONOROESTE. A partir de 1986, um projeto de novo tipo, o PLANAFLORO, foi pensado como forma de tornar compatíveis o desenvolvimento econômico e a preservação ambiental nas zonas florestadas do estado de Rondônia. O Zoneamento econômico-ecológico foi ali tratado como peça-chave através da qual o projeto propiciaria o conhecimento do terreno, a identificação das potencialidades do território e a classificação de áreas segundo diferentes padrões desejáveis de uso. Criado em 1990, o Programa de Zoneamento Ecológico-Econômico do governo federal, que inicialmente compreendia apenas a Amazônia Legal, teve, em 1992, sua abrangência ampliada para todo o território nacional. O prestígio do Zoneamento como instrumento promissor de um ordenamento territorial ecologizado difundiu-se desde então com força através dos distintos momentos em que programas, instrumentos legais, hierarquias, pacotes financeiros e redesenhos institucionais foram sendo propostos para o planejamento na Amazônia por governos sucessivos. O Programa Nossa Natureza, em 1989, a Comissão Coordenadora do ZEE da Amazônia criada em 1990 e o Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais financiado pelo G7, com início em 1991, são alguns marcos deste processo. Ao longo das diferentes conjunturas, o ZEE foi assumindo diferentes conteúdos, mais ou menos restritos ao domínio interno das burocracias públicas, de agências de desenvolvimento, consultorias técnicas, e com maior ou menor existência concreta efetiva - ainda que reconhecidamente limitada, à exceção do estado de Rondônia - na realidade sócio-política do território amazônico. Nestas conjunturas, em que condições de financiamento internacional, pactações políticas regionais e nacionais, bem como pressões de movimentos sociais internacionais e locais, variaram em sua configuração e peso relativo, a idéia do ZEE foi sendo demarcada por distintas ênfases, motivações e estratégias argumentativas. Um grande espectro de posições o qualificaram, desde a condição de “conhecimento estrategicamente importante para defender a Amazônia sem canhões”, segundo o * A pesqusa documental que serviu de base para o presente trabalho contou com a colaboração de Cecília Mello e Maria Nilda Bizzo.

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Zoneamento Ecológico-econômico – entre ordem visual e mercado-mundo* Henri Acselrad IPPUR/UFRJ A partir da segunda metade dos anos oitenta, o debate sobre o planejamento territorial na Amazônia passou a incorporar elementos do discurso ambiental, fazendo com que ganhasse força a remissão a uma racionalidade ecológica, apresentada como necessária ao ordenamento territorial da região. O Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE) é o instrumento que esteve desde então fortemente associado à materialização territorial desta racionalidade. A idéia de que os projetos do desenvolvimentismo autoritário, com o apoio financeiro dos organismos multilaterais, resultaram em uma “desordem ecológica e social” afirmou-se de tal forma que o próprio Banco Mundial procurou incorporar “preocupações ambientais” voltadas para a correção dos impactos emblematicamente desastrosos de projetos de execução recente como o POLONOROESTE. A partir de 1986, um projeto de novo tipo, o PLANAFLORO, foi pensado como forma de tornar compatíveis o desenvolvimento econômico e a preservação ambiental nas zonas florestadas do estado de Rondônia. O Zoneamento econômico-ecológico foi ali tratado como peça-chave através da qual o projeto propiciaria o conhecimento do terreno, a identificação das potencialidades do território e a classificação de áreas segundo diferentes padrões desejáveis de uso. Criado em 1990, o Programa de Zoneamento Ecológico-Econômico do governo federal, que inicialmente compreendia apenas a Amazônia Legal, teve, em 1992, sua abrangência ampliada para todo o território nacional. O prestígio do Zoneamento como instrumento promissor de um ordenamento territorial ecologizado difundiu-se desde então com força através dos distintos momentos em que programas, instrumentos legais, hierarquias, pacotes financeiros e redesenhos institucionais foram sendo propostos para o planejamento na Amazônia por governos sucessivos. O Programa Nossa Natureza, em 1989, a Comissão Coordenadora do ZEE da Amazônia criada em 1990 e o Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais financiado pelo G7, com início em 1991, são alguns marcos deste processo. Ao longo das diferentes conjunturas, o ZEE foi assumindo diferentes conteúdos, mais ou menos restritos ao domínio interno das burocracias públicas, de agências de desenvolvimento, consultorias técnicas, e com maior ou menor existência concreta efetiva - ainda que reconhecidamente limitada, à exceção do estado de Rondônia - na realidade sócio-política do território amazônico. Nestas conjunturas, em que condições de financiamento internacional, pactações políticas regionais e nacionais, bem como pressões de movimentos sociais internacionais e locais, variaram em sua configuração e peso relativo, a idéia do ZEE foi sendo demarcada por distintas ênfases, motivações e estratégias argumentativas. Um grande espectro de posições o qualificaram, desde a condição de “conhecimento estrategicamente importante para defender a Amazônia sem canhões”, segundo o

* A pesqusa documental que serviu de base para o presente trabalho contou com a colaboração de Cecília Mello e Maria Nilda Bizzo.

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Brigadeiro Marcos Antonio Oliveira, coordenador do projeto SIVAM – Sistema de Vigilância da Amazônia1, à de um instrumento ecológica e socialmente contraproducente, sustentado por “uma aliança eco-tecnocrata que une o velho autoritarismo ao novo ecologismo”, segundo o economista Manfred Nitsch2, consultor internacional do Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais Brasileiras, financiado pelo G7. Controvérsias jurídico-políticas questionaram a falta de transparência nas condições de execução e financiamento do ZEE, culminando com a realização da série de Audiências Públicas da Proposta de Fiscalização e Controle no Congresso Nacional em 1995. Sua pertinência política foi então defendida sob o argumento da necessidade do ZEE fundamentar cientificamente a concessão de incentivos fiscais na Amazônia segundo o estabelecido no Decreto Lei n.153 de 1991, cuja aplicação esbarrava, porém, segundo os termos de seu coordenador técnico, “na dificuldade do zoneamento não estar concluido”3. A diversidade de posições e de controvérsias que cercam o ZEE evoca a presença do que Certeau chamou de “um enorme resto”, feito de sistemas culturais múltiplos e fluidos, situados entre as maneiras de utilizar o espaço e o planejamento4. O que procuraremos mostrar aqui é que os passos em direção ao “ordenamento ecológico” do território amazônico - em condições de fragilidade constitutiva da esfera pública regional - têm sugerido que estes “restos” se fazem presentes no interior da própria ação planejadora. Ou seja, que a “racionalidade ecológica” aplicada ao planejamento territorial vem sendo objeto de construções discursivas distintas, que ganham pertinência analítica enquanto manifestações de dinâmicas sociais que, elas mesmas, constituem-se como o que ainda Certeau designa por “fluxo e refluxo de murmúrios nas regiões avançadas da planificação”5. 1. Conjunturas e discursos O Governo Sarney criou, em outubro de 1988, o Programa de Defesa do Complexo de Ecossistemas da Amazônia Legal, denominado Programa Nossa Natureza6. Elaborado em resposta às pressões nacionais e internacionais que o governo vinha sofrendo no sentido de reduzir os índices de desmatamento da floresta amazônica, o programa pretendia “disciplinar a ocupação e a exploração racionais da Amazônia Legal, fundamentando-as no ordenamento territorial”7. Um grupo de trabalho interministerial foi então criado tendo em vista o estudo e a elaboração das medidas referentes ao

1 Cf. Brigadeiro M. A. de Oliveira, Depoimento na Audiência Pública da Proposta de Fiscalização e Controle n. 11/95 sobre ZEE da Amazônia Legal, Brasília 14/12/1995, p.34. 2 cf. M. Nitsch, Riscos do Planejamento Regional na Amazônia Brasileira: observações relativas à lógica complexa do zoneamento, in M.A. d’Incao – I. M. da Silveira (orgs.) A Amazônia e a Crise da Modernização, Museu Goeldi, Belém, 1994, pp.508. 3 cf. H.Schubart, Audiência Pública, Proposta de Fiscalização e Controle, 21/11/1995, Brasília, pp.41 e 71. 4 cf. Michel de Certeau, A Cultura no Plural, Papirus, SP, 1995, p.234. 5 op.cit. 6 Decreto nº 96.944 de 12/10/88. 7 Cf. A.L.Cruz, O Zoneamento Ecológico-Econômico da Amazônia Legal. In: Projeto de Políticas Públicas. Brasília, IEA (Instituto de Estudos Amazônicos e Ambientais), Brasília, 1993.

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segmento “Proteção do Meio Ambiente, das Comunidades Indígenas e das Populações Envolvidas no Processo Extrativista”, inspirado na metodologia do PMACI – Projeto de Proteção do Meio Ambiente e das Comunidades Indígenas, lançado em 1985 com a preocupação básica de orientar a ocupação e minorar impactos decorrentes do asfaltamento da BR-364, no estado do Acre. No período que precedeu a Conferência da Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED-1992), um novo grupo de trabalho interministerial foi instituído8 com a atribuição de analisar os trabalhos de zoneamento ecológico-econômico em andamento e propor medidas que agilizassem sua execução na Amazônia Legal, considerada então assunto prioritário pela União9, dando lugar, através do Decreto n. 99540 de 21/09/1990, ao Programa de Zoneamento Ecológico-Econômico e à sua Comissão Coordenadora presidida pela Secretaria de Assuntos Estratégicos. O ZEE surgiu assim como instância alternativa de planejamento territorial na Amazônia a partir da esfera federal, em substituição à ação precedente da SUDAM, enfraquecida pelos resultados considerados indesejáveis de sua política de incentivos fiscais e creditícios, esvaziada técnica e politicamente para discutir opções de desenvolvimento regional ou cenários estratégicos, e desprovida de recursos financeiros e técnicos para coordenar políticas públicas na região. O ZEE foi a solução tida como apropriada para que se apresentassem respostas políticas à pressão persistente pela volta dos incentivos, que seriam vinculados, desta feita, às normas legitimadas pelo ZEE 10. O Zoneamento veio constituir-se assim como uma dimensão territorial do que tem sido chamado de “modernização ecológica” – conjunto de políticas de minimização do risco ambiental pela caracterização de “vulnerabilidades”, criação de arranjos institucionais e práticas regulatórias tendentes a imprimir temporalidade julgada apropriada - a desejada “sustentabilidade” - às formas de apropriação dos recursos territorializados.11

8 Decreto nº 99.193 de 27/03/90, modificado pelo Decreto nº 99.246, de 10/05/90. 9 Cf. SAE/PR, Programa de Zoneamento Ecológico-econômico com Prioridade para a Amazônia Legal, Relatório do GT/90, Brasília, 1990, p.9. 10 Amigos da Terra/Programa Amazônia, A Harmonização das Políticas Públicas com os Objetivos do Programa Piloto para as Florestas Tropicais Brasileiras, SP, 1994, 79pp., aqui: p.19-20. O Decreto n. 153 de 25/06/1991 vedou a concessão de incentivos fiscais para empreendimentos que impliquem em desmatamento de áreas de floresta primária e destruição de ecossistemas. Os projetos a serem incentivados deveriam a partir de então ser orientados conforme o ZEE, ouvida a SAE, o IBAMA, o INCRA e a FUNAI. A perda de poder decisório sobre os incentivos levou a SUDAM a elaborar em 1994 documento “Ação Governamental na Amazônia” referindo-se a um ecodesenvolvimento voltado para a “bio-indústria , o turismo ecológico e a engenharia genética” como meta e ao ZEE como eixo estratégico.

11 A noção de “modernização ecológica” designa o processo pelo qual as instituições políticas internalizam preocupações ecológicas no propósito de conciliar o crescimento econômico com a resolução dos problemas ambientais, dando-se ênfase à adaptação tecnológica, à celebração da economia de mercado, à crença na colaboração e no consenso cf. A. Blowers, “Environmental Policy: Ecological Modernization or the Risk Society”, in Urban Studies, vol. 34, n.5-6, p.845-871, 1997 – p.853-34. Segundo Moll, a teoria da modernização ecológica “tenta delinear o processo de reestruturação ecológica que começa a emergir nos países industrializados, focalizando no tipo de atores que nele desempenham papel dominante, nos sistemas de crenças ou ideologias, regras e recursos utilizados e transformados por esses atores, a nova configuração do Estado e do mercado para a reforma ecológica, e as trajetórias tecnológicas inovadores na prevenção e controle da poluição” cf. A. P.J. Moll, Globalization and Changing Patterns of Industrial Pollution and Control, International Seminar on the Quality of Llife and Environmental Risks,UFF, RJ, mimeo. 1996, p.3.

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As contradições de um tal empreendimento não tardaram, porém, a se fazer sentir. Em junho de 1994 o Diagnóstico Ambiental da Amazônia Legal já encontrava-se em fase de conclusão e o IBGE já havia apresentado à Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE-PR) a segunda fase do programa que lhe cabia executar, referente à elaboração de alternativas para as ações governamentais, quando realizou-se uma audiência pública na Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias, para discutir o projeto de Zoneamento Ecológico-Econômico da Amazônia Legal. O objetivo da reunião era tornar públicas as informações referentes ao diagnóstico ambiental da Amazônia que o IBGE repassara à SAE e identificar a ocorrência de disputas intragovernamentais em relação ao ZEE. Na reunião, os representantes da sociedade civil reivindicaram uma maior participação na Comissão de Zoneamento Ecológico-Econômico e criticaram a falta de articulação intergovernamental, questionando “a falta de uma efetiva coordenação dos ZEEs estaduais, a falta de articulação governamental para o encaminhamento das ações do ZEE e a falta de transparência em relação às informações acumuladas pela SAE”12. A realização do Diagnóstico Ambiental, que ficara ao encargo do IBGE, fora, por sua vez, marcada por problemas de ordem administrativa13 e por divergências conceituais com a SAE. Alegando visar a superação desses problemas e a necessidade de finalizar este Diagnóstico Ambiental, a SAE assinou Convênio com a Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS) e a Fundação de Ciência, Aplicações e Tecnologias Espaciais (FUNCATE), sem licitação prévia e sem definição dos valores que seriam repassados pelos cofres públicos a essas duas entidades privadas. Tendo em vista a intransparência e as ambigüidades do convênio SAE/FBDS/FUNCATE, uma Proposta de Fiscalização e Controle foi solicitada à Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias da Câmara dos Deputados, para que se explicitassem os procedimentos administrativos da SAE no que se refere ao Programa de Zoneamento Ecológico-Econômico da Amazônia Legal. As preocupações dos parlamentares incidiam sobre a suspeita de irregularidade na assinatura do referido convênio; a exclusão da sociedade civil organizada tanto do acesso às informações quanto do processo de elaboração do Zoneamento; o suposto dano ao interesse público, uma vez que estaria havendo uma transferência das funções estatais para empresas privadas; o risco de que a busca de incentivos fiscais e financiamentos gerasse a produção de estudos apressados, tendo em vista apenas a aprovações dos recursos; e, por fim, a falta de clareza do método pelo qual as “vocações ambientais” do território seriam definidas pelos condutores do Zoneamento. Tais contradições e incertezas, que culminaram na realização da Proposta de Fiscalização e Controle de 1995, pontuaram a vigência de distintas sequências discursivas que, ao longo dos quinze anos que se seguiram aos primeiros exercícios do

12 cf. M.A. Vianna, O Zoneamento Ecológico-econômico e a Sociedade Civil, in Anais do Encontro Internaciomal de Trabalho “Diversidade Ecossocial e Estratégias de Cooperação entre ONGs na Amazônia”, Belém, 13-16/06/1994, FASE/FAOR, mimeo, p.63. 13 Segundo o então Presidente do IBGE, a realização do Diagnóstico foi prejudicada pela redução do orçamento do IBGE a um terço do normal, acompanhada de redução salarial, deflagração de greves, escassez de recursos tecnológicos e humanos, entraves burocráticos para a liberação de verbas e aquisição de equipamentos na velocidade necessária, perda da autonomia para gestão financeira e pessoal, tudo isso num contexto de crise inflacionária. CF. S. Schartzman, Audiência Pública 26/10/95, p.36.

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ZEE na Amazônia, combinaram-se e alternaram-se em sua força relativa na atribuição conjuntural de diferentes sentidos ao Zoneamento. A primeira delas apresenta o ZEE como uma prática de conhecimento, de classificação de áreas e produção de normas. A segunda acentua no ZEE sua dimensão de projeto, financiamento, execução de obras e aquisição de equipamentos. Uma terceira sequência destaca no zoneamento sua função de ordenamento, incentivo a atividades e vigilância, e uma quarta destaca neste instrumento de política territorial a dimensão da participação, controle social e negociação de projetos de desenvolvimento. A primeira sequência centra-se no ZEE como instrumento do saber, nele privilegiando as atividades de produção de conhecimento, de modos de classificação do espaço e de formulação de normas. Em torno dele, profissionais do planejamento, assessorias técnicas e jurídicas discutem escalas de observação do território, técnicas de representação cartográfica, registro e digitalização das bases de dados. As classificações adotadas dependerão de conceituações básicas como as de “sistemas ambientais”, “vulnerabilidade ambiental”, “sustentabilidade” e de preceitos metodológicos como os de “holismo”, “sistemismo”, “análise dinâmica”. Instituições de pesquisa ver-se-ão envolvidas na instalação de laboratórios e de centros de geoprocessamento. Por vezes, apontar-se-ão dificuldades de ordem cognitiva como o recurso a dados excessivamente defasados no tempo para dar fundamento a políticas específicas, assim como a incompatibilidade entre a escala das informações econômicas e a desagregação necessária para dar conta dos processos ecológicos14. A segunda sequência vê no ZEE a possibilidade da satisfação de interesses, seja por empresas e instituições voltadas para as atividades de projeto, execução de obras e compra de equipamentos, seja por instâncias passíveis de serem beneficiadas pelas próprios resultados do zoneamento. Alguns autores ressaltam, por exemplo, o “absoluto cinismo” com que o governador de Rondônia, que vencera o pleito de 1994 combatendo o ZEE durante a campanha eleitoral, iniciou a segunda aproximação do zoneamento do estado apenas para satisfazer o contrato com o Banco Mundial 15. Por outro lado, em 1996, o Tribunal de Contas da União ordenou a citação de um ex-governador e dois de seus secretários por não terem repassado aos órgãos federais executores do PLANAFLORO recursos recebidos do Banco Mundial para este fim 16. “Um dos possíveis fatores de ‘convencimento’ dos deputados que aprovaram massiçamente o zoneamento como lei estadual foi o argumento do governo do estado de que sem o zoneamento não haveria PLANAFLORO e seus recursos para o desenvolvimento” - afirma a Avaliação de Meio Termo do PLANAFLORO realizada por consultores do PNUD 17. Também no âmbito da captação de recursos, o Diretor-Superintendente da FBDS, embora reconhecendo que “o IBGE e a FUNCATE realizaram o trabalho”, justificou a retenção, para a Fundação, de 30% dos recursos repassados pela CISCEA –

14 cf. Amigos da Terra, A Harmonização das Políticas Públicas com os Objetivos do Programa Piloto para as Florestas Tropicais Brasileiras, São Paulo, 1994, p.21. 15 H. M. de Carvalho, Resgate Histórico e Analítico do Forum de ONGs e Movimentos Sociais que Atuam em Rondônia, OXFAM, Porto Velho, 1996, mimeo, p.49 e B. Millikan, Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável em Rondônia: Situação atual e abordagem para um planejamento participativo de estratégias para o Estado, PNUD/SEPLAN-RO, 1997, p.28. 16 cf. B. Millikan, Participação Popular em Projetos Financiados pelo Banco Mundial: o caso do Plano Agropecuário e Florestal de Rondônia (Planafloro), OXFAM,Porto Velho, 1996, versão preliminar, p.44 17 cf. PNUD, Avaliação de Meio Termo, Brasília, mimeo, 1996, p.25.

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Comissão de Implantação do Sistema de Controle do Espaço Aéreo - para a execução do ZEE, proclamando: “nossa atuação foi maravilhosa, foi fantástica, porque nós somos o que de melhor existe no País” 18. A própria seleção de áreas prioritárias para o zoneamento pode fazer-se à luz de interesses pré-estabelecidos. Segundo depoimento do deputado Salomão Cruz em Audiência Pública na Câmara de Deputados, o governo de Roraima teria, por exemplo, escolhido a área Raposa/Serra do Sol por seu interesse na construção local de uma hidrelétrica 19.

A terceira sequência discursiva vê no zoneamento um instrumento de poder aplicado ao ordenamento, ao incentivo e à vigilância de atividades. Diferentes instâncias estatais sobrepõem-se nas atividades relativas ao ordenamento territorial ecologizado - o Ministério do Meio Ambiente no Gerenciamento Costeiro, a EMBRAPA no Zoneamento agro-ecológico e a própria SAE no ZEE. Mas conflitos entre órgão federais e estaduais também se manifestam como, por exemplo, o que opôs as políticas fundiárias federais aos propósitos de ordenamento do ZEE estadual em Rondônia. O ZEE surge, por outro lado, como instrumento restritivo à disseminação indiscriminada de projetos incentivados, que a partir do Decreto n.153 de 1991, passaram a ser avaliados segundo sua compatibilidade com o zoneamento por órgãos federais como a SAE, o MME, o INCRA e a FUNAI. A perda de poder decisório sobre os incentivos levou, desde logo, a SUDAM a elaborar em 1994 um documento referindo-se ao ecodesenvolvimento voltado para a bio-indústria, o turismo ecológico e a engenharia genética como meta, e ao ZEE como eixo estratégico. Considerando a forte presença de órgãos federais como o INCRA e o IBAMA em certos estados da Amazônia, barganhas fisiológicas tendem, por outro lado, a incluir a designação de nomes para as direções locais dos órgãos federais, tornando complexo o cenário político que condiciona a execução das políticas territoriais.

Uma quarta sequência, por fim, destaca no ZEE a necessidade de nele se fazer respeitar a alteridade, atribuindo a este instrumento de política territorial caráter participativo e de negociação de alternativas de desenvolvimento. Representantes de ONGs, de movimentos sociais e parlamentares reivindicam a socialização do debate sobre o ZEE, a democratização do acesso a suas informações e o respeito à diversidade sociocultural nas distintas etapas de sua elaboração. “A elaboração da primeira aproximação do Zoneamento entre 1986 e 1988”- afirma Millikan – “foi tratada pelo governo de Rondônia e o Banco Mundial como um exercício essencialmente técnico, e não como um processo participativo que suporia negociações entre várias esferas do Poder Público e os diversos segmentos da sociedade civil” 20. A criação de instituições colegiadas tem, por outro lado, refletido preocupações dos governos responderem a pressões externas e manterem sua legitimidade política. As representações da sociedade civil em tais instituições reconhecem via de regra não posuírem “poder de fogo” para se fazerem ouvir e influir decisivamente nas políticas governamentais. ONGs registram que os órgãos colegiados reúnem-se com pouca frequência, relutam em discutir aprofundadamente questões estratégicas e têm suas reuniões frequentemente tumultuadas por discursos inflamados de políticos ligados a oligarquias locais. Observa-

18 cf. E. Salati e W. Schindler, Audiência Pública, 25/10/1995, p.49 e p.52. 19 cf. Audiência Pública, 7/11/1995, p.40. 20 cf. B. Millikan, Participação Popular em Projetos Financiados pelo Banco Mundial: o caso do Plano Agropecuário e Florestal de Rondônia (Planafloro), OXFAM,Porto Velho, 1996, versão preliminar, pp. 45-46.

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se também a relutância crescente de entidades em denunciar irregularidades na atuação de órgãos governamentais, por medo de represálias como cortes de recursos financeiros e não atendimento a outras reivindicações21.

Conjunturas diferentes explicarão alternativamente a presença mais visível de sequências discursivas diferentes. O período pré-Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED), por exemplo, foi marcado pela visão do interesse na expectativa de obtenção de recursos externos. No período pós-UNCED prevaleceu a lógica do poder, na busca da ocupação do espaço aberto pela temática ecológica, configurando-se uma reciclagem ecológica do discurso da segurança nacional e uma ambientalização das estratégias de segmentos do empresariado, por exemplo. A tendência que se vem observando na segunda metade dos anos noventa aponta para uma acomodação entre os diferentes discursos no sentido da constituição do que se vem designando por “sustentabilidade política dos programas ecológicos”. O Banco Mundial parece, nesse sentido, tender a tornar-se menos preservacionista – a Agenda Úmidas que sucede ao PLANAFLORO em Rondônia, por exemplo, é tida por mais desenvolvimentista que o projeto precedente. As menções à participação das ONGs nos projetos ambientais, por outro lado, tendem a insistir gradativamente mais na competência técnica e no caráter cooperativo de suas atividades de prestação de serviços. As inflexões conjunturais dos discursos sobre o ZEE – classificação do território que constrói seus fundamentos recorrendo a uma autoridade científica que legitime o caráter relativamente arbitrário da divisão - apenas reforçam a percepção de que este instrumento de planejamento pode encerrar distintos olhares sobre o território, determinando diferentes objetos a conhecer, diferentes perspectivas e ordens a partir das quais procurar conhecê-los e buscar representá-los. 2. O ZEE como representação ordenada do território “A linguagem se espacializa para que o espaço, tornado linguagem, seja falado e escrito” afirma Genette22. Nas representações cartográficas, em particular, destaca-se uma eloquência que não emerge do discurso geográfico em que estão mergulhados23. Carregados de imagens retóricas, os mapas em geral não só contêm um conjunto de signos, mas também os imperativos territoriais dos sistemas políticos. Haveria, portanto, que saber fazê-los dizer aquilo que eles apenas sugerem, ou, por vezes, encobrem. Ora, no caso do ZEE, ao contrário, tratam-se de “mapas falantes” por si mesmos, que não pretendem-se apenas reflexos passivos do mundo dos objetos, mas intérpretes do que se quer seja “a verdade ecológica deste mundo”. Explicitamente, os mapas do ZEE

21 Cf. B. Millikan, Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável em Rondônia: Situação atual e abordagem para um planejamento participativo de estratégias para o Estado, PNUD/SEPLAN-RO, 1997, p.30 e 42 e Participação Popular em Projetos Financiados pelo Banco Mundial: o caso do Plano Agropecuário e Florestal de Rondônia (Planafloro), OXFAM,Porto Velho, 1996, versão preliminar, pp. 40 e 46. 22 cf. G. Genette, Figures II, p. 48 apud Pierre Jourde, Géographies Imaginaires - de quelques inventeurs de mondes au XX Siècle,José Corti ed., 1991, Paris, p. 322. 23 cf.J. B. Harley, Cartes, Savoir et Pouvoir, in P. Gould - A. Bailly (orgs.), Le Pouvoir des Cartes – Brian Harley et la Cartographie, Anthropos, Paris,1995, p.20.

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“ordenam e dão ordens”; seus referentes não estão antes, mas depois de sua elaboração. Seus enunciados são mais performáticos do que constatativos24. Pois a cartografia no ZEE contém uma dupla temporalidade - a da história demarcada espacialmente através de signos selecionados e a do futuro imaginado, representando as coisas como tensão através da qual o lugar é, ao mesmo tempo, horizonte. Mas se, ao contrário dos mapas correntes que se pretendem reflexos neutros do real, a cartografia no ZEE é explicitamente “performática” e “falante”, caberá analisar os diferentes conteúdos e tensões embutidos nestas “falas”, tanto em sua dimensão “representacional” como “prescritiva”.

Enquanto ato de comunicação persuasiva, a cartografia do ZEE produz imagens retóricas que constróem realidades socioespaciais novas. O território plural e polissêmico, aberto ao aleatório e não controlável é transformado em extensão quantificada, limitada, controlada pelo gesto cartográfico que serve de suporte à ação planejadora25. Os signos cartográficos reordenam paisagens, submetendo-as a projetos que se pretendem subordinados a determinismos ecológicos, criando efeitos de verdade suficientemente fortes para calar dúvidas e interrogações, e, sobretudo, obscurecer, por detrás de um espaço abstrato e instrumental, a presença dos poderes da representação cartográfica e da prescrição zoneadora.

Um duplo mecanismo de poder liga-se, no entanto, à produção do ZEE. Um poder que se exerce sobre as práticas do zoneamento através das exigências externas das hierarquias políticas, e um poder que se exerce pelo saber cartográfico e classificatório, pelo modo como os zoneadores criam uma concepção do espaço, ou seja, um poder incorporado à própria retórica do ZEE. Em certos momentos, entretanto, estes poderes podem se chocar, exprimindo a ocorrência de ruídos nas correias de transmissão entre hierarquias políticas e instâncias técnicas. Este foi, por exemplo, o caso do desencontro de expectativas entre a SAE e o IBGE com relação ao Diagnóstico Ambiental da Amazônia encomendado a este último. Enquanto a SAE pretendia obter uma caracterização das potencialidades econômicas contidas nos recursos naturais amazônicos, os técnicos do IBGE dispunham-se a registrar os vetores políticos da ocupação da região, neles pretendendo incluir os conflitos e as marcas dos grandes projetos governamentais 26.

Mas o poder incorporado à ciência do ZEE exprime-se notadamente nas práticas classificatórias do território. No caso brasileiro, os critérios classificatórios foram fortemente influenciados pela ecogeografia de Tricart27. Seu conceito de “unidades ecodinâmicas” propõe-se a captar as interrelações entre as atividades humanas e os

24 cf. J. Loup Rivière, La Carte et la Décision, in Cartes et Figures de la Terre, CCI/Centre Georges Pompidou, Paris, 1980, p. 379, apud Pierre Jourde op.cit., p.103--104. 25 Cf. M. Lussault, La Ville Clarifiée. Essai d’analyse de quelques usages carto- et icnongraphiques en oeuvre dans le projet urbain, in L.Cambrézy – R. de Maximy (eds.) La Cartographie en Débat – Répresenter ou Convaincre, Karthala-ORSTOM,1995, p.170. 26 cf. Antônia M.M. Ferreira, Contribuição ao debate sobre metodologia aplicada a estudos de Zoneamento Ecológico-Econômico: Projeto Amazônia Legal. In: Seminário Diversidade eco-social e estratégias de coopreação entre Ongs da Amazônia. Belém, FAOR - FASE, junho de 1994. 27 Tricart enfoca a dinâmica e os fluxos de energia/matéria no meio ambiente visando “determinar a taxa aceitávei de extração de redursos naturais, sem degradação do ecossistema”, cf. J. Tricart, Ecodinâmica, IBGE, 1977,RJ, p.32.

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ecossistemas, categoria que, entretanto, para críticos como Chantal Blanc-Pamard, caracteriza-se por “não ter dimensão nem espacial nem histórica”28. Para Blandin e Bergandi igualmente, a análise ecossistêmica em termos de fluxos e estoques energéticos implica “uma redução do ecossistema às leis da física”, revelando uma abordagem reducionista por detrás de suas pretensões holísticas29. Ante tais incertezas conceituais - sugere Manfred Nitsch - nenhum ecossistema poderia fundamentar o que se deve ou não fazer em um lugar geográfico, pois “a sociedade e a economia não fazem parte dos ecossistemas, mas são regidos por leis bem próprias”. Nitsch aponta, consequentemente, nas metodologias correntes do ZEE a presença de um “falso holismo”, que interpreta homem e natureza “como um conjunto ‘total’, hermético, organicista, no qual a natureza, em última instância determina o que se deve ou não fazer”, através de determinações consideravelmente arbitrárias dos níveis de “vulnerabilidade” e de “capacidade de suporte”30.

Compreende-se assim as razões das repetidas menções de técnicos do zoneamento à sua impotência metodológica de satisfazer a necessidade de ser holístico sem o apoio de uma “concepção teórica que respalde a aplicação da técnica definida” 31 Esta angústia da superação do cartesianismo e do reducionismo por um holismo difuso, expresso ora na acepção de zoneamento supra-setorial, ora na de um zoneamento integrado ao conjunto de políticas públicas territorializadas, ora na desejabilidade de uma abordagem simultânea do ambiente natural e construído, tende a se resolver na construção de uma unidade ecossistêmica que a tudo engloba, inclusive o mundo social, unidade construída sob um modelo epistêmico único, que termina por não reconhecer a singularidade irredutível da cultura humana. O imaginário cartográfico e as representações do território para fins de zoneamento encerram, com efeito, a necessidade de fragmentar o real para melhor definí-lo, descrevê-lo e, em definitivo, possuí-lo32. No caso do ZEE, a fragmentação do espaço

28 cf. C. Blanc-Pamard, “Premiers Élements pour un Débat”, in Herodote, 26,pp. 120-124, apud P. Blandin, “De l’Écosystème à l’’Ecocomplexe”, in M. Jollivet (ed.), Sciences de la Nature, Sciences de la Société- les passeurs de frontières, CNRS, 1992, Paris, p.267 – 280. 29 cf. C. e R. Larrère, Du Bon Usage de la Nature, Alto Aubier, Paris, 197, p.138 e P.Blandin – D. Bergandi, “Entre la Tentations de Réductionnisme et le Risque d’’évanescence dans l’interdisci0linarité: l’écologie à la Recherche d’un nouveau paradigme”, in C.e R. Larrère (eds.), La Crise environnementale, INRA, 1994,p. 113-130 p.117. 30 cf,. M.Nitsch, Riscos do planejamento regional na Amazônia brasileira: observações relativas à lógica complexa do zoneamento. In: D’Incao, Maria Angela & Silveira, Isolda Maciel. Amazônia e a crise da modernização. Museu Paraense Emilio Goeldi, Belém, 1994, pp. 507-508 e M. Nitsch, Social and Economic implications of recent strategies for Amazonia: a critical assessment. June 1996, revised paper for the international workshop “Interdisciplinary Research on the Consevation ans Sustainable Use of the Amazonian Rain Forest and Its Information Requirements”. Brasília, 20-22 novembro, 1995, p.14.

31 cf. A.M.M. Ferreira, Contribuição ao debate sobre metodologia aplicada a estudos de Zoneamento Ecológico-Econômico: Projeto Amazônia Legal. In: Seminário Diversidade eco-social e estratégias de coopreação entre ongs da Amazônia. Belém, FAOR - FASE, junho de 1994, p.76. “Embora acredite-se que os métodos e técnicas existentes hoje na ciência dão conta perfeitamente do universo a ser trabalhado, falta, na verdade, repensar esses instrumentos à luz do paradigma holístico” cf. IBGE/SAE, Metodologia para Zoneamento Ecológico-Econômico na Região Amazônica: contribuição para um debate. IBGE (Diretoria de Geociências). Rio de Janeiro, 1993, p.22. 32 cf. F. Lestringant, Insulaire, in Cartes et Figures de la Terre, p. 470, aupd Pierre Jourde, op. cit. , p.122.

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resulta da vontade de ajustar cada uma de suas porções a um projeto utilitário de integração mercantil ou de subordinação política. Este ajuste será, porém, entendido, via de regra, como um encontro com a “verdade do lugar”33, verdade disseminada e encontrável no mundo das coisas. A representação cartográfica do ZEE é vista então como portadora de um conjunto de crenças que redescrevem o mundo, traduzindo um regime específico de verdade onde “o crer se localiza no ver”34. Mas por trás desta pretensa verdade ecológica do território estar-se-á tomando o espaço por mera imagem de si próprio, “cópia idêntica de algo cujo original jamais existiu”, pseudo-evento , espetáculo imagético digitalizado, parte do que Guy Débord chamou de “cultura do simulacro”, - em que a imagem torna-se forma final da reificação35. Consequentemente, a busca da “verdade ecológica” das coisas não evitará que a ilusão da ordem almejada seja desfeita antes mesmo de se realizar - os dados serão considerados via de regra inatuais, as zonas idealizadas se mostrarão incompatíveis com as realidades sociais do terreno, as políticas fundiárias federais desautorizarão as destinações de área feitas por órgãos estaduais. A dinâmica social negará assim, repetidamente, a ordem utópica das coisas, expressa em estados estáveis e definitivos de representações, das quais se tende, via de regra, a subtrair a História. 3. O ZEE como totalidade e o fim da fronteira (ou como conhecer as coisas para o mercado) Os textos estratégicos e metodológicos sobre o ZEE associam a racionalidade econômico-ecológica à pretensão a uma “apropriação completa do território”, à “plena utilização do espaço” e à “plena integração da região ao espaço nacional”, assim como o alcance de “qualidade total no uso do espaço”, o recurso a “abordagem holística que permita considerar a totalidade das oportunidades de uso do espaço e dos recursos naturais”, “retratando a realidade com tudo que nela houver”36 e nela instaurando “uma vigilância total”37. Trata-se de instaurar uma unidade holística e totalizante à qual a diversidade social territorializada estaria subsumida. Na metodologia do ZEE, adotada pela Secretaria de Assuntos Estratégicos a partir de 1997, é perceptível a analogia entre o espaço a planejar e a idéia de empresa: caberia procurar atingir a plena capacidade produtiva do território, “otimizando o uso do espaço” e atribuindo-lhe “eficiência técnica compatível com a competição internacional”38. Esta pretensão à totalização ora técnico-material, ora mercantil do espaço amazônico não é, porém, sem consequências sobre o caráter específicamente diversificado do tecido social da região, caracterizado pela presença da fronteira de expansão do mercado

33 Para a coordenadora do ZEE do estado do Maranhão, a identificação das unidades ambientais e da ecodinâmica levaria à caracterização da “verdade terrestre”; cf. J. B. Bitencourt, Audiência Pública, Proposta de Fiscalização e Controle, Brasília, 18/10/1995, p.13. 34 cf. G. Balandier, Images, Images, Images, in Cahiers Internationaux de Sociologie, vol. LXXXIII, juin 1987, PUF.

35 Cf. F. Jameson, Pós-Modernismo – A lógica cultural do capitalismo tardio, Ed. Ática, 1996, p.4. 36 cf. cf. Secretaria de Assuntos Estratégicos, Detalhamento da Metodologia do ZEE, Brasília,1997 e Entrevista com técnico do ZEE. 37 “Com o SIVAM, cada quilômetro da Amazônia será controlado, conforme informação do Brigadeiro Marco Antonio de Oliveira, presidente da Comissão de Coordenação do SIVAM”, cf. C. Brigagão, O Caso SIVAM, Inteligência e Marketing. Ed. Record, 1996, Rio de Janeiro, p.48. 38 cf. Secretaria de Assuntos Estratégicos, Detalhamento da Metodologia do ZEE, Brasília, 1997, p.12.

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e do capital, fronteira que constituiria simultaneamente o lugar da alteridade e a expressão da contemporaneidade de tempos históricos que configura a unidade do diverso39. A busca de uma totalização técnico-material do território amazônico seria assim expressão da própria negação da fronteira, a redução da diversidade social à “diferença geográfica”, a submissão da alteridade à unidade temporal do mercado/mundo, esta totalidade não dialética que tende a configurar práticas de negação do conflito e anulação simbólica do outro. Esta negação pode se dar tanto pela redução do outro à condição de pura Natureza - expressa no chamado “molde” pelo qual a terminologia técnica do ZEE propõe-se a considerar certas comunidades como conformes à Natureza40 - como pela “promoção” de certos territórios e atores sociais ao estatuto de portadores de “potência competitiva”. Esta totalidade discursiva sobrepõe-se, consequentemente, tanto à fronteira demográfica da “civilização” e do mercado baseado ainda em relações de dominação pessoal, como à fronteira econômica que converte a terra em capital. Essa totalidade discursiva vem destruir, portanto, simbolicamente, aquela diversidade de situações e tempos históricos que o próprio capital costuma juntar sem destruir. A força simbólica desta totalização é modulada, porém, pela pretensão de se fazer ver o ZEE como um instrumento ao mesmo tempo técnico e político41. Os diferentes discursos sobre as metodologias do ZEE se verão atravessados por ambiguidades internas expressivas da pretensa duplicidade de caráter deste instrumento de planejamento territorial. O ZEE poderá ser significado, ao mesmo tempo, como um meio de identificação técnica de “fatos ambientais”, vistos separadamente das chamadas “características antrópicas” da ocupação, ou, alternativamente, como “um diagnóstico de situações ecossociais em transformação”. Poderá ser entendido ora como instrumento da identificação das “vocações naturais das células espaciais por suas vantagens competitivas no mercado mundial” ora como meio “de caracterização de zonas equiproblemáticas para processos de negociação e regulação jurídico-política”. Os princípios metodológicos presentes nos diferentes documentos técnicos sobre o ZEE da Amazônia apresentam assim as ambiguidades internas relativas à pretensão de se produzir, por um lado, um conhecimento objetivo sobre “as realidades físicas e sociais do território”, onde “potencialidades e vulnerabilidades” são determinadas sem nenhuma remissão aos sujeitos da avaliação, e, por outro lado, de se reconhecer que o ZEE consiste em um diagnóstico de processos históricos territorializados, expresso na caracterização de zonas “equiproblemáticas”, a partir de pontos de vista cuja legitimidade deve, portanto, ser construída.

39 cf. J. de S. Martins, O Tempo de Fronteira - retorno à controvérsia sobre o tempo histórico da frente de expnsão e da frente pioneira, in Tempo Social, 8(1), maio de 1996, p.25-70. 40 O “molde” é o termo utilizado por Aziz Ab’Saber para designar “o somatório dos espaços a serem legal e permanentemente defendidos (reservas indígenas, parques nacionais, reservas florestais, reservas biológicas, estações ecológicas)” cf. Aziz Ab’Saber, Zoneamento econômico-ecológico, in Estudos Avançados, v. 3, nº 5, jan/abr, 1989, p.10. 41 cf. H. Schubart, O Zoneamento Ecológico-Econômico e o Ordenamento Territorial: Aspectos jurídicos, administrativos e institucional. Trabalho apresentado no Workshop “Zoneamento Ecológico-Econômico: Instrumento para o Desenvolvimento Sustentável dos Recursos da Amazônia”, Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia, em Manaus, abril de 1994.

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É difícil, no entanto, não perceber que a chamada “componente técnica” do ZEE encerra já claramente os elementos de um projeto político: o do “encontro técnico” do país consigo mesmo, a realização do que seria a “potência” do território, projeto implícito na busca de uma ocupação territorial que se quer dotada de “eficiência técnica compatível com a competição internacional”. Absorvidos/conciliados os conflitos, o território apresenta-se como pura base material para a “inserção competitiva”. E os “atores regionais” do desenvolvimento - agora “sustentável”- serão os puros empreendedores das “vocações” ditadas pelo mercado mundial e interpretadas pelos planejadores. Uma “componente política” explícita do ZEE viria reunir, por sua vez, os mecanismos capazes de conduzir aos desejáveis “padrões de ocupação do espaço e utilização dos recursos naturais” via “investimentos, tributos, tarifas públicas, políticas ambientais, planejamento de obras e infraestrutura etc.42 A assim chamada “componente política” encerraria os meios de implementação da componente dita “técnica”, expressão de um projeto de inserção competitiva tido como inelutável, fruto da identificação da potência vocacional de um território que se supõe objetivo, que apenas se dá a conhecer. Conhecer o território será, assim, para o ZEE conhecer as “coisas para o mercado”. Suas vocações serão aquelas evidenciadas pelas demandas supostas do mercado/mundo, à exclusão de todas as outras demandas e projetos, cuja expressão - frequentemente conflitual – tende a ser ignorada. Se, em outras conjunturas amazônicas, lembra-nos Alfredo Wagner de Almeida, “o desconhecimento sobre os processos sociais funcionou [implicitamente , H.A.]como forma de controle social”43, agora, espera-se com o ZEE que o conhecimento da “potência técnica” das coisas venha legitimar explicitamente a “absorção dos conflitos” entre diferentes projetos territoriais, ou antes, veicular, ainda uma vez, sob outras formas, a sua desconsideração metodológica pelo planejamento. 4. Controle geopolítico do território e “ordem ambiental” (ou como conhecer as coisas para o controle) As políticas territoriais ecologizadas como o ZEE estabelecem uma "divisão ecológica do trabalho", promovendo um enquadramento espacial das incertezas e dos modelos possíveis de organização das atividades econômicas no espaço. As práticas sociais são, por sua vez, nele reduzidas a suas dimensões técnico-produtivas. Ao propor uma normalização técnica do território, o ZEE constitui um discurso sobre o governo das coisas que pretende justificar o governo dos homens e das práticas sociais no espaço. No caso da Amazônia, em particular, a busca de um poder sobre as coisas veio, nos últimos anos, substituir o discurso da soberania sobre o território como eixo articulador de políticas de controle da ocupação social do espaço. O governo de homens e coisas no território veio assim sobrepor-se à preocupação geopolítica tradicional com a preservação da soberania. O projeto de criação da Rodovia Transfronteira, discutido no Congresso em 1991, propunha a construção de agrovilas como “colônias de povoamento” justificadas a partir de uma concepção militar de vigilância, fiscalização e defesa de recursos naturais estratégicos bem como da necessidade de “coibir atividades clandestinas”44. Nos termos 42 op. cit. 43 cf. A. W. de Almeida, Carajás: A Guerra dos Mapas, SDDH, S.Luis, 1993, Introdução, pp. 17-37. 44 cf. Dep. V. Fialho, Relatório do Projeto de Lei, apud Alfredo Wagner de Almeida, A Continentalização dos Conflitos e Transformações na Geopolítica das Fronteiras mimeo, setembro 1991, p. 2.

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do relatório do Deputado Vicente Fialho, a colônia de povoamento funcionaria como suporte de ações policiais e manobras militares que visariam “eliminar e coibir o tráfico de drogas, as queimadas, o contrabando, a exploração mineral e vegetal ilegal, a ingerência nas terras indígenas e possíveis movimentos guerrilheiros”45. Ainda em 1991, responsáveis pelo projeto Calha Norte reclamavam a implantação de “núcleos habitacionais civis” considerados fundamentais para o êxito das operações militares na perspectiva do que chamavam de “vivificação da fronteira”. Mas mais que isso, pleiteava-se ampliar o Calha Norte para toda a Amazônia, criando condições “que possibilitassem a ocupação de tão extensa área de forma ordenada, com a correta utilização de suas terras agriculturáveis, a preservação de áreas onde fosse mais conveniente o extrativismo e a exploração organizada de suas imensas riquezas minerais e hídricas em benefício de toda a sociedade”46. A pretensão de “consolidar o poder nacional na faixa de fronteira e suas vias de acesso implicava identificar solos férteis, riquezas do subsolo e a utilização predatória dos recursos naturais”47. Assim, o pensamento militar passou progressivamente da proteção das fronteiras externas - objetivo explícito de projetos como a Rodovia Transfronteira e o Calha Norte - ao “ordenamento da ocupação do território interno”, arguindo que em áreas pouco povoadas, o envolvimento dos militares em assuntos cuja responsabilidade não lhes cabe, explicar-se-ía “por serem este invariavelmente os únicos presentes”48. A subordinação do PMACI - Programa de Proteção ao Meio Ambiente e Comunidades Indígenas - a partir de março de 1988, à Secretaria de Assessoramento da Defesa Nacional da Presidência da República - SADEN (órgão que então sucedia à Secretaria-Geral do Conselho de Segurança Nacional) confirmava a tendência a uma militarização das questões ambientais e indígenas na Amazônia. Foi também a SADEN que encabeçou a Exposição de Motivos Interministerial do Programa Nossa Natureza, em outubro de 1988. A consolidação de fronteiras justificava assim a proposição de ações de ordenamento do território no que concernia tanto à “racionalidade e correção” das práticas de exploração dos recursos naturais, como à legalidade das atividades desenvolvidas no território amazônico. A partir da Declaração da Amazônia em 1989, no contexto do Tratado de Cooperação Amazônica, começam a destacar-se “os aspectos tecnológicos e ecossistêmicos que embasam a segurança ecológica”. Em 1993, o Conselho de Defesa Nacional aprova o Sistema de Proteção da Amazônia - SIPAM, como expressão de “um novo pensamento estratégico” que “redefine as concepções convencionais e limitadas de segurança”. “Através de mecanismos de segurança ampliada, esse instrumental estratégico”- afirmavam os documentos da SAE, “deve cuidar da coerção e de medidas preventivas contra iniciativas que venham gerar devastações e deformidades ecossistêmicas”49. O Sistema de Vigilância da Amazônia - SIVAM - projeto de 1.4 bilhão de dólares, quase a metade dos quais destinados à aquisição de dados, viria subsidiar o SIPAM com o monitoramento ambiental através de sensores, radares, imagens de satélite, sistema integrado de telecomunicações, ferramentas de inteligência artificial e localização de

45 op. cit. 46 cf. C.Tinoco, Exposição do Ministro de Estado do Exército, in Diário do Congresso Nacional, 5/4/1991,apud Alfredo Wagner, op.cit, p.5. 47 cf. C. Brigagão, SIVAM, Inteligância e Marketing, Ed. Record,Rio de Janeiro,1996, p. 21-22. 48 cf. C.Tinoco, op. cit. apud Alfredo Wagner,op.cit, p.2 49 cf. Governo do Brasil, SIPAM, SAE/SIPAM, folheto informativo, s.d., apud Clovis Brigagão, SIVAM, inteligência e Marketing, Ed. Record, Rio de Janeiro, p.42.

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atividades irregulares. A adesão militar a projetos desta natureza deu-se no contexto do que um ex-Secretário de Assuntos Estratégicos chamou de “sufoco existencial” das Forças Armadas, configurado na percepção de que os militares haviam “deixado de ser atores importantes na modernização do país, passando a buscar consequentemente maior espaço no núcleo do poder de Estado”50. A adesão a projetos de atualização “técnico-ecológica” da doutrina de segurança nacional aplicada à Amazônia não se deu, porém, sem obstáculos. Setores militares alegaram as dificuldades dos órgão de governo operarem eficazmente no terreno para arguir que tornar-se-íam inócuas as informações abundantes e sofisticadas fornecidas pelas tecnologias de televigilância51. Agentes de interesse financeiros, por sua vez, usaram a ocasião do “imbroglio” formado na concorrência para fornecimento de equipamentos ao SIVAM para exigir do poder público pesados subsídios a bancos em dificuldade. Ante as relutâncias de seus aliados no Governo em liberarem os recursos requeridos pelos bancos em crise, o senador Antonio Carlos Magalhães chegou a decretar com argúcia em 1995 – “o SIVAM está morto”. Alegou-se igualmente o insuficiente conhecimento que os gerenciadores dos sistemas de televigilância dispunham sobre os eventos que o SIVAM pretende monitorar - alguns engenheiros, por exemplo, teriam sugerido de forma caricaturalmente errônea, durante um encontro científico, pretenderem “identificar laboratórios clandestinos de droga a partir de indicadores de poluição por mercúrio”52. Resistindo a todos estes atropelos, as justificativas do SIVAM resultam, no fundo, de uma apropriação da noção emergente de “segurança ecológica” ajustada para as condições de legitimação da presença militar na Amazônia. No âmbito internacional, a noção de “segurança ecológica” tem sido evocada para justificar propostas de controle populacional em países menos industrializados sob a suposição, de corte neomalthusiano, de que a pressão populacional sobre recursos escassos é causa de conflitos”53. Uma “militarização da sustentabilidade” vem ocorrendo paralelamente à montagem do que podemos chamar de um complexo ambiental-militar”54, que faz o meio ambiente entrar na era da informação, legitimando investimentos vultosos em tecnologias e aparelhos de controle territorial.55 No caso brasileiro, o SIPAM é apresentado como matriz para o desenvolvimento sustentável do grande ecossistema amazônico, enquanto

50 cf. M.C. Flores, “Rumos para Defesa”, in Jornal do Brasil, 1/4/1995. 51 “Em que estradas o SIVAM vai usar seus radares móveis?”, perguntava o ex-chefe do Estado Maior do Comando Militar da Amazônia, Gal. T. Sotero Vaz, cf. Folha de S. Paulo, 5/5/1995,p.12. 52 cf. R. Bonalume Neto, “País não teria como operar dados do SIVAM”, in Folha de S. Paulo, 27/11/1995, p.1-6. 53 cf. T. Homer-Dixon, “Environmental Scarcities and Violent Conflict”, in K. Conca,M.Alberty, G. Dabelko (eds.), Green Planet Blues, Boulder, Westview, 1995, p. 245-255, apud Ben Wisner, The Limitations os “Carrying Capacity” in Political Environments, n. 5, fall 1997, p. 6. 54 cf. Ronald J.Deibert, “From Deep Black to Green? Demystifying the Military Monitoring of the Enviironment”, Wilson Center, Environmental Change and Security Project Report, Spring 1996, p.280-32, apud B. Hartmann Population, Environment and Security - a new trinity, in Political Environements n.5, fall 1997, p.8. 55 Ante os avanços de grandes grupos transnacionais nos negócios com as tecnologias de produção de organismos geneticamente modificados, Berlan e Lewontin apontaram a emergência de um complexo genético-industrial que vem estendendo suas ramificações até o coração da pesquisa científica pública, levando, analogamente, a agricultura para a era da informação - neste caso, a informação genética.cf. J.P.Berlan, R. Lewontin, in Le Monde Diplomatique, dec. 1998.

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o SIVAM é enunciado de forma dúplice, ao mesmo tempo como projeto militar de defesa do espaço aéreo e de monitoramento de informações sobre recursos minerais, florestais e hídricos, sobre circulação e assentamentos humanos. Este modelo interpretativo dos conflitos internos como induzidos por questões ambientais, entendidos como tendentes a fragmentar ou tornar mais autoritários os Estados Nacionais e aptos a causar rupturas na segurança internacional, foi desenvolvido por Thomas Homer-Dixon em 1994, popularizando-se em seguida no campo da política internacional, e no Departamento de Estado dos EUA em particular, como aplicável aos casos do Haiti, Rwanda e Chiapas no México. A difusão de um tal modelo explicar-se-ía, por certo, pela busca de legitimação para elevados gastos militares, ao mesmo tempo em que grandes empresas dos setores aeroespacial e de telecomunicações tentam enfrentar as perdas dos fartos contratos dos tempos da Guerra Fria. Estas duas forças concorrem fortemente para dar fundamento ao encontro discursivo eficiente entre o meio ambiente e a segurança nacional. A crise de países africanos tem servido para que certas vozes expliquem conflitos políticos internos como resultantes do excesso de população em luta por recursos escassos: “Há todo um conjunto de problemas biológicos de segurança nacional – sustentam alguns portavozes deste neohobbesianismo ambiental: destruição ambiental, crescimento populacional explosivo, rápida disseminação de doenças, surgimento de doenças completamente novas”. “Sabe-se que estas coisas atingem a África, mas ainda não se percebe que elas podem também atingir a América” ; “o caos é a melhor incubadora da doença e a doença é uma incubadora do caos”56 – completam eles . Estratégias argumentativas desta ordem têm formado o pano de fundo para mudanças nas políticas norteamericanas de defesa. À luz de representações segundo as quais “a competição por recursos escassos é um antigo fator de conflito humano, causando violência ruinosa e tensão entre países”, a secretária de Estado dos EUA consagrou, em pronunciamento no Dia da Terra de 1997, a “segurança ecológica” como retórica capaz de subsumir problemas sociais e políticos ao envólucro ambiental57. Desde 1991, o documento anual sobre Estratégia de Segurança Nacional dos EUA passara a incluir questões ambientais em suas temáticas, enquanto o uso de satélites militares para a vigilância ambiental tornou-se a mais importante forma de materialização da nova perspectiva de segurança nacional voltada para o meio ambiente. Com base nas informações georeferenciadas, análises quantitativas da relação população/recursos/conflitos passaram a orientar alguns passos das novas políticas de defesa. Citam-se por exemplo diagnósticos da Defense Inteligence Agency dos EUA identificando a degradação ecológica do Lago Victoria como “causa da potencial instabilidade na África Oriental”58, assim como a presença de militares dos EUA

56 cf. J. Goldberg, “Our Africa Problem”, New York Times Magazine, March 2, 1997, p. 35, apud B. Hartmann, “Population, Environment and Security - a new trinity”, in Political Environments, n.5, fall 997pp.12. 57 cf. K. Conca, “The Environment-Security Trap”, in Dissent, summer 1998, p.42. 58 cf. J. Brian Atwood, “Towards the Definition of National Security”, Remarks to the Conference on New Directions in U.S. Foreign Policy, University of Maryland, College Park, November 2 Excerpted in Wilson Center, Environmental Change and Security Project Report, spring 1996, pp. 85-88, apud Betsy Hartmann, op. cit., p.15.

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promovendo o desenvolvimento sustentável na África, através de auxílio à gestão pesqueira e de recursos hídricos59. No caso brasileiro, o advento das tecnologias de sensoriamento remoto e de teledetecção de eventos veio promover, a despeito dos percalços políticos que marcaram a trajetória do SIVAM, uma atualização do debate estratégico sobre o ordenamento da ocupação territorial em regiões com fronteiras políticas, articulando propósitos de proteção do meio ambiente e de combate de ilícitos. Por um lado, a produção de informações ambientais passou a ser vista como um instrumento de defesa da soberania territorial e de resistência contra as ameaças supostas de intervenção internacional na Amazônia60. Por outro lado, projetos como o ZEE e o SIVAM seriam pensados articuladamente como modos de teledetecção simultânea de processos ecológicos e práticas ilícitas. A informação ambiental georeferenciada é assim considerada parte integrante da base de dados a partir da qual caracterizar-se-ía o ilícito. A célula de vigilância ambiental do SIVAM é consequentemente prevista como um instrumento de fornecimento de informações para a célula de vigilância de ilícitos. A televigilância pressupõe portanto uma dupla ordem de referência - ambiental e legal. Para os fins da teledetecção, esta ordem corresponderá a uma disposição pré-determinada de homens e coisas no espaço - aquela estabelecida na base de dados georeferenciada:

“O banco de informações georeferenciadas é fundamental. Se não conhecermos onde estão localizadas as províncias minerais, os principais aldeamentos indígenas, as áreas de conflito, as principais áreas de antropismo no que se refere à retirada de madeiras nobres, o SIVAM não tem como começar a trabalhar nas suas células de vigilância” (cf. Major Brigadeiro Marco Antonio de Oliveira, depoimento à Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias. CÂMARA DOS DEPUTADOS. Proposta de fiscalização e controle no 11, Notas Taquigráficas - Audiência Pública,. Brasília, 14 de dezembro de 1995).

A licitude será vista assim como a expressão da correspondência de homens e coisas a seus respectivos lugares. A ilicitude e a desordem ambiental refletirão, por sua vez, a não correspondência entre homens, coisas e seus lugares61:

“Se tivermos uma determinada aeronave que voa em determinada direção, para um determinado ponto, na primeira vez pode ser apenas casual, um vôo normal; na segunda, já devemos ter um pouco mais de atenção; na terceira vez este tráfego é suspeito. Mas para isso, é importante que tenhamos as informações para cada uma das células”.(cf. Major Brigadeiro Marco Antonio de Oliveira, depoimento à Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias. CÂMARA DOS DEPUTADOS. Proposta de fiscalização e controle no 11, Notas Taquigráficas - Audiência Pública,. Brasília, 14 de dezembro de 1995).

59 cf. K. Butts, “National Security, the Environment and DOD”, in Wilson Center, Environmental Change and Security Project Report, Spring 1996, apud B. Hartmann, op. cit, p.15. 60 cf. Major Brigadeiro M. A de Oliveira, Depoimento à Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias. Câmara dos Deputados. Proposta de fiscalização e controle no 11, Notas Taquigráficas - Audiência Pública, Brasília, 14 de dezembro de 1995, p.42. 61 “Esses relatórios todos poderão ser associados aos relatórios de ilícitos que vão servir para uma outra célula. Se existe alguma coisa de errado ocorrendo nesta região, vamos identificar o que existe nesta região. É muito mais fácil sabermos o que tem na região para podermos associar alguma coisa de ilícito”, cf. Major Brigadeiro Marco Antonio de Oliveira, depoimento à Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias. CÂMARA DOS DEPUTADOS. Proposta de fiscalização e controle no 11, Notas Taquigráficas - Audiência Pública, Brasília, 14 de dezembro de 1995.

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E a legitimidade desta ordem pressuposta será considerada tão mais indiscutível quanto creditar-se-á ao próprio sistema de vigilância a capacidade de identificar as ilicitudes:

“Se é suspeito, quem vai dizer ou classificar se é ou não, não é o controlador; a fusão das informações das quais dispomos é que vai dizer se há garimpo ou algum outro tipo de exploração que não regular. O próprio sistema vai assumir a posição das primeiras deduções lógicas”.(cf. Major Brigadeiro Marco Antonio de Oliveira, depoimento à Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias. CÂMARA DOS DEPUTADOS. Proposta de fiscalização e controle no 11, Notas Taquigráficas - Audiência Pública,. Brasília, 14 de dezembro de 1995).

As informações seriam assim em si detentoras “quase-naturais” das condições - objetivadas no sistema digitalizado - da ordem territorial - ambiental e legal. Esta pretensão a uma quase-naturalização da ordem socioterritorial é, porém, tão mais cheia de consequências quanto percebemos que com as tecnologias híbridas de manipulação de “mapas vivos”, a diferença entre vigilância e simulação torna-se cada vez mais tênue. A vigilância por teledetecção caracteriza-se, de fato, pelo recurso a tecnologias que tendem a reduzir ao zero o tempo de transmissão da informação62. Os sinais/imagens eletrônicos dos objetos e eventos podem ser tomados assim por sua contrapartida real, considerando-se o “imaginário” e o “real” como coincidentes, fazendo-se com que a distância entre controle virtual e controle real tenda a desaparecer. Este olhar racionalizante que ordena o mundo das coisas e dos homens não deixa de nos remeter ao utilitarismo de Bentham que, no século XVIII visava produzir uma hidráulica dos prazeres, barrando e canalizando a psicologia humana em direção à produtividade dos corpos63. Na ecologização da economia territorializada, por seu turno, um olhar ecológico visará barrar, canalizar e produzir um ajuste sistêmico dos fluxos econômicos no território, promover uma canalização produtiva dos fluxos da economia da Natureza. À antiga preocupação com o desperdício das energias psíquicas dos primórdios da modernidade, soma-se agora a preocupação com o desperdício dos elementos do mundo material. Enquanto no olhar panóptico de Bentham, um biopoder buscava não desperdiçar as subjetividades produtivas, o olhar ecológico do ecopoder procurará não desperdiçar as territorialidades produtivas. Enquanto o primeiro perguntou-se sobre o que fazer no território, disciplinando os homens, seus corpos, superfícies e olhares a partir de uma anatomia política voltada para a sujeição, o segundo pergunta-se sobre o que fazer com o território, definindo práticas legítimas e ilegítimas, distribuindo racionalmente processos técnicos e econômicos. Se por um lado, o olhar panóptico procurava nunca ser visto pelos vigiados, sendo apenas pressuposto, o olhar ecológico posta-se sempre de um ponto de vista superior aos atores localizados, a partir de uma ótica planetária, global competitiva ou intergeracional. A ecologização das práticas de teledetecção exprimirá assim um momento da apropriação do território por estratégias de poder, projetos estatais de investimento

62 cf. W Bogard, The Simulation of Surveillance: hypercontrol in telematic societies, Cambridge Univ. Press, Vcambridge, 1996, p.9, apud S. Graham, Spaces of Surveillant Simulation: new technologies, digital representation and material geographies, in Environment and Planning D , Society and Space , 1998, vol. 16, p. 497. 63 Cf. M. Foucault, Vigiar e Punir, Ed. Vozes, Petrópolis.

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simbólico que promovem tanto uma "sociodicéia" - anulação do conteúdo social do espaço, pela definição de uma “Natureza natural” – como uma significação privilegiada do espaço pelo sentido econômico de uma “Natureza ordinária”. Será, portanto, necessário que se descubra, na prática, o peso das especificidades, contingências e sutilezas do terreno social concreto para se perceber no controle socioterritorial telemático o promotor de ordens incertas, “cosmologias abertas de um panoptismo imperfeito”64. Nas condições sociopolíticas da Amazônia, poderíamos acrescentar, um projeto de tal ordem, que pretende somar uma arquitetura de posições, aplicada a indivíduos e localizações, a uma engenharia de disposições, aplicada a fluxos e processos, dificilmente deixaria de integrar as ambições do que poderíamos chamar de um “panoptismo mais que imperfeito”65. 5. Outras ordens

O ZEE integra o imaginário geopolítico contido no discurso do desenvolvimento. Assim como os mapas de penetração espacializaram o colonialismo e os mapas administrativos espacializam o Estado-Nação, os mapas de zoneamento de recursos espacializam o desenvolvimento. Um zoneamento baseado nas ciências agrícolas foi assim disseminado pela FAO e pela UNESCO nos anos 60 e 70, promovendo a confecção de mapas de solo de vastas regiões do mundo, na perspectiva de que a definição de aptidões de solo permitisse identificar os usos econômicos tidos como apropriados, aumentando a oferta de alimentos sem degradar os solos66. Nos anos 80 e 90, o Banco Mundial, o PNUD e a FAO dirigiram sua atenção à configuração de uma “crise das florestas tropicais”, orientando seus programas para a racionalização do uso dos recursos via projetos florestais como o TFAP – Tropical Forest Action Plan, iniciado em 1985. Uma visão globalizante dos recursos naturais ganhou corpo a partir do Relatório Brundtland de 1987, através da articulação entre a proteção das florestas, o equilíbrio climático e a questão da biodiversidade. A globalização do olhar sobre os recursos naturais foi então associada à produção discursiva de espaços de desenvolvimento a proteger – via de regra lugares tidos como “sem cultura e sem tempo” tais como parques, reservas de biosfera e corredores ecológicos67. A Ecologia da Conservação deu base para a definição dos usos legítimos, fazendo com que as 64 Cf. S. Graham, Spaces of Surveillant Simulation: new technologies, digital representation and material geographies, in Environment and Planning D , Society and Space , 1998, vol. 16, p.486. 65 “O padrão de imagem” – dizem-nos os documentos técnicos da SAE - “é o resultado de combinações de respostas espectrais das variáveis físicas e bióticas e das ações resultantes das atividades econômicas” A “homogeneidade gráfica do padrão de imagem – prossegue o documento - define a espacialização e permite a identificação preliminar da “unidade ambiental” cf. SAE-PR, As Fases e as Etapas do Zoneamento Ecológico-econômico do Território Nacional, Brasília, 1995, p.8. B. Guillot, por sua vez, alertará para o caráter aproximativo dos resultados do sensoreamento remoto aplicados a meio ambiente e meteorologia, com seus graus de precisão fortemente dependentes da capacidade incerta de restituição de parâmetros físicos a partir dos raios refletidos pelos objetos cf. B. Guillot, Imagerie satellitaire et estimation des precipitations, in L. Cambrézy – R. de Maximy (eds.), La Cartographie en Débat, Karthala – ORSTOM, 1995, Paris, p.50.

66 cf. B. Deutsch-Linch, Marking Territory and Mappiyng Development, protected area designation in the Dominican Republic, mimeo, LASA, 1996, p.8. 67 cf. C.Zenner, 1993, p. 19, apud B. Deutsch Lynch, op.cit., p.9.

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populações locais e suas culturas tradicionais fossem frequentemente consideradas estranhas à vocação cientificamente determinada do território. Isto porque, por um lado, o território tende a ser mais ambíguo e variado do que as categorias abstratas formuladas por planejadores de uso da terra ou proponentes da preservação ambiental.68 Por outro, a racionalização do olhar pelo ZEE é o vetor de uma geometrização do meio ambiente, nele instaurando uma “ordem visual”, que configura um espaço ordenado a partir do olhar. O ZEE evoca assim uma modalidade de geometria sociopolítica, expressa na distribuição espacial de formas sociais e fundada na solidariedade entre um discurso científico – da Ecologia - e a representação utópica e harmônica de uma geometria social. A ordem ecológica desejada resultaria desta solidarização estrutural entre a forma material e a forma ideal, fruto de uma assimilação entre degradação social e desordem na natureza, procedimento corrente já a partir do séc. XVIII, quando considerava-se que os espaços de natureza tidos como malsãos e repulsivos seriam aqueles ocupados por uma sociedade desordenada e marginalizada. A assimilação do natural ao social e ao político condensou-se no ideário revolucionário de então pela expressão emblemática de Bernard de Saint Pierre: “a árvore é uma república”69. Rousseau e Montesquieu também formularam o problema da ordem social nos termos de uma geometria sociopolítica: a sociedade seria o espaço estruturado pelas relações entre extensão e volume, expansão e contração, supondo-se um isomorfismo entre as geometrias do espaço material e da ordem sociopolítica70.

Entretanto, a construção de uma tal “ordem visual” em regiões de fronteira deverá implicar necessariamente o trato contraditório da relação entre identidade e alteridade, entre centro nacional e formas sociais periféricas. Pois a fronteira relacional, não substancialista, define-se como jogo entre zonas estruturadas e não-estruturadas, entre a ordem e a desordem, o velho e o novo, onde a ocupação de novos territórios se confunde com a construção da nação. Na fronteira, o espaço é instituído como uma zona desconhecida, vazia, sem história, um “não-lugar”, objeto de iniciativas gerais de constituição de reserva ambiental e defesa nacional. Nela o ZEE exercerá uma geografia voluntária, que fabrica regiões ao mesmo tempo em que reduz a história a “indicadores de intensidade de pressão antrópica”, calculados em espaços homogêneos e intercambiáveis, descritos pela qualidade do solo e dos recursos que ele sustenta.71

Por intermédio do ZEE, as “presenças aceitáveis” e as “práticas condenáveis” são definidas em termos de fronteiras, quando na verdade as presenças e práticas são interligadas por processos interativos e complexos. Procedimentos de inclusão e

68 cf. P.Vandergeest e E. Melanie du Puis, Introduction in E. Melanie du Puis – P. Vandergeest (eds.) Creating the Countryside – the politics of rural and environmental discourse , Temple Univ. Press., 1996, p.2.

69 cf. Yves Luginbuhl, Nature, Paysage, Environnement, obscurs objets du désir de totalité, in M.c.Robic (ed.), Du Milieu à l’Environnement, Pratiques et representations du rapport Homme Nature depuis la Renaissance. Ed. Economica, Paris, 1992, pp.20-22).

70 cf. T.S.Fernandes, Modernidade e Geometrias – a representação da ordem na obra de Emile Durkheim, in Cadernos de Ciências Sociais, n. 12/131, janeiro 1993, p.112.

71 cf. G. Schavoni, Las Regiones sin Historia: Apuntes para una sociologia de la frontera, in Revista Paraguaya de Sociologia, Ano 34, n. 100, Septiembre-Diciembre 1997, p. 269.

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exclusão podem decorrer assim de recortes e separações indevidas entre as diferentes porções do território, próprios de procedimentos que tendem a caracterizar os grupos e suas atividades em categorias duais, tais como indígenas e não indígenas, áreas de parques ou de atividade agrícola, propriedade pública ou propriedade privada. 72 Este pequeno conjunto de significados pode, consequentemente, resultar na marginalização de populações que não se adequam a tais categorias, e que serão consideradas ineficientes no uso dos recursos ou destruidoras da natureza73. Pois os mapas do ZEE tendem a congelar o regime dos direitos de acesso e uso dos recursos, que é frequentemente flexível e mutável. Estratégias agroflorestais de rotação de terras no longo prazo não são, por exemplo, facilmente acomodadas na cartografia dos recursos. A distribuição espacial dos direitos não é compatível com a linguagem cartogáfica dos planejadores nacionais do uso dos recursos naturais. O problema analítico das fronteiras espaciais não se resolve, assim, por referência a marcas na terra ou a formas arquiteturais, remetendo porém a campos espaciais móveis de atores sociais situados. Por outro lado, mais nós avançamos no tempo, mais nós devemos lidar com uma realidade geográfica complexa e cada vez mais incapturável em termos de superfícies, de zonas e, portanto, de limites e fronteiras 74. Segundo técnicos do Banco Mundial, por exemplo, o zoneamento da Amazônia deve ser associado a “esforços de redução das taxas de migração através da disseminação de informações em outras partes do Brasil, particularmente naqueles estados dos quais a maioria dos migrantes se originam”75. Ou seja, percebe-se que o respeito aos objetivos delimitados nas zonas não pode ser alcançado por ações localizadas nestas mesmas zonas: a configuração sociotécnica da ocupação de cada zona depende de um conjunto de processos interligados e distanciados no espaço. Este conjunto de contradições expresso nas ilusões racionalizantes do ZEE não poderia deixar de registrar suas marcas nos próprios resultados esperados da aplicação deste instrumento. Pelos dados do INPE, apesar da vigência do ZSEE (zoneamento socio-econômico-ecológico) do Planafloro, a partir de 1991, Rondônia esteve entre os estados com maior crescimento relativo do desmatamento, tendo triplicado a taxa média de desmatamento anual entre os períodos 1989-91 e 1992-95, período em que houve grande aporte financeiro ao zoneamento, à implantação de unidades de conservação, fiscalização ambiental, etc 76. No que se refere à distribuição espacial do desmatamento,

72 cf. N. D. Munn, Excluded Spaces: The Figure in the Australian Aboriginal Landscape, in critical Inquiry, spring 1996, n. 22, p. 465. Algumas formas de apropriação social dos recursos não são passíveis de um recorte territorial. Os Dayak da Indonesia, por exemplo, adotam um regime de acesso a frutos maduros e resinas que aloca cada árvore a um grupo diferentes de pessoas cf. N. L. Peluso, Whose Woods are These? Counter-mapping Forest Territories in Kalimantan, Indonesia, in Antipoide 27:4, 1995, pp.402.

73 cf. P.Vandergeest e E. Melanie du Puis, op.cit., p.4.

74 cf. L.Cambrézy, De L’Information Géographique à la Répresentation Cartographique, in L. Cambézy – r. de Maximy (eds.) La Cartographie en Débat, Karthala/ORSTOM, Paris, 1995, p.132. 75 cf. Banco Mundial, Relatório da Equipe de Avaliação do Projeto de Manejo dos Recursos Naturais de Rondônia, Washington, 1992, p.29 76 cf. B. Millikan, Comentários Preliminares dobre a “Agenda Úmidas: Diretrizes Estratégicas para o Desenvolvimento Sustentável de Rondônia 20200”, set. 1998, mimeo 20p, p. 9

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uma característica relevante foi o avanço de derrubadas e queimadas em diversas áreas de uso restrito definidas na primeira aproximação do ZSEE assim como no interior de várias unidades estaduais de conservação77. O avanço do desmatamento teria refletido a ocorrência do que alguns chamam de um “zoneamento de fato”. A ausência de pactos políticos capazes de sustentar o projeto do ZEE explicaria a emergência desta espécie de “contrazoneamento de mercado”, exemplificado na corrida pela terra que comprometeu a integridade das zonas estabelecidas na primeira aproximação do ZSEE de Rondônia e que criou a expectativa de que a segunda aproximação, iniciada em 1996, resultasse na redução da superfície das zonas de preservação ambiental78. Os decretos assinados pelo governo estadual em 1990 e 1994 já haviam atendido às pressões de pecuaristas e madeireiros no sentido de relaxar as restrições ao desmatamento e uma “agenda não oficial” foi cumprida sob a alegação oficial da necessidade de se atender aos anseios de pequenos agricultores indevidamente incluídos das zonas protegidas79. Consultores do PNUD foram levados a reconhecer que, caso não se conseguisse resistir às pressões pela alteração do zoneamento, “haveria o risco permanente de que a dispendiosa segunda aproximação viesse a ser modificada sem critério, por demandas e interesses diversos através da Assembléia Legislativa”80. Uma questão particularmente crítica, observada na implementação do zoneamento sócio-econômico-ecológico de Rondônia, foi a precariedade do que se chamou de sua “sustentabilidade política” junto aos diversos grupos da sociedade local. A pretensão do ZSEE administrar o uso social do espaço, segundo Millikan, esbarrou na insuficiente existência de espaços democráticos e transparentes de diálogo entre o poder público e a sociedade civil, de modo a impedir a privatização das políticas públicas pelas elites políticas e econômicas da Amazônia assim como a reprodução dos vícios do planejamento autoritário do espaço já experimentado na Amazônia 81. Para este autor, “a elaboração da primeira aproximação do Zoneamento entre 1986 e 1988, fora tratada pelo governo de Rondônia e o Banco Mundial como um exercício essencialmente técnico, e não como um processo participativo, envolvendo negociações entre várias esferas do Poder Público e os diversos segmentos da sociedade civil”82, o que tornou bastante comuns os discursos de políticos locais contra o zoneamento, caracterizando-o como uma "camisa de força" imposta pelo Banco Mundial e organizações não-governamentais para impedir o desenvolvimento econômico do Estado83.

77 cf. B. Millikan, Zoneamento Sócio-Econômico-Ecológico no Estado de Rondônia - Análise de um Instrumento de Ordenamento Territorial na Fronteira Amazônica; PNUD/PLANAFLORO, Brasília, 1998. P.15. 78 cf.M.Pedlowski, O Papel do Banco Mundial na Formulação de Políticas Territoriais na Amazônia – o caso de Rondônia, in Cadernos IPPUR, vol. XII n.2, Ag.dez. 1998, p. 157- 180. 79 Cf. Brent Millikan, Participação Popular em Projetos Financiados pelo Banco Mundial: o caso do Plano Agropecuário e Florestal de Rondônia (Planafloro), OXFAM, Porto Velho, 1996, versão preliminar, p.48. 80 cf. PNUD, Avaliação de Meio Termo, 1996, p.25 81 cf. Brent Millikan, Participação Popular em Projetos Financiados pelo Banco Mundial: o caso do Plano Agropecuário e Florestal de Rondônia (Planafloro), OXFAM, Porto Velho, 1996, versão preliminar, p.44-45. 82 Cf. B. Millikan, op.cit., p.45-46. 83 cf. B. Millikan, Zoneamento Socio-Econômico-Ecológico no Estado de Rondônia – Análise de um Instrumento de Ordenamento Territorial na Fronteira Amazônia; PNUD/PLANAFLORO, Brasília, 1998.

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As contradições evidenciadas pela experiência do ZEE na Amazônia nos mostra, portanto, que se considerarmos os três momentos de sua realização - de pré-compreensão do mundo da ação, de configuração do ordenamento proposto, e de mediação social – o campo de intervenção política não se limita ao momento da decisão final, mas perpassa todo o processo84 . Quando o mapeamento começa, um novo locus de negociação e conflito potencial em torno do acesso aos recursos torna-se o centro da cena. O processo de zoneamento desencadeia assim uma reinterpretação dos direitos aos recursos 85 que termina por se chocar com o consenso que se quer fundado na “verdade ecológica do território”, desvelada pela força da prática e da imagética classificatória86. Ora, os discursos sobre os sistemas vivos e sobre a ordem política estão em comunicação estreita desde a Antiguidade, alimentando a linguagem com metáforas biológicas numerosas a propósito do político. Na Ecologia, o ecossistema “natural” – não perturbado por catástrofes ou pela exploração humana - traduziria uma “ordem” da natureza, estável e permanente, conservável como semelhante a si própria por longos períodos. A carga semântica desta ordem seria suficiente para neutralizar as divergências potenciais entre distintos modos de inteligibilidade. Hoje, no entanto, lembram-nos Stengers e Bailly, a noção de ordem, em torno da qual convergiriam estas diferentes interpretações, é vista progressivamente como parcial, como tradução de um ideal pressuposto, que nem a potência da natureza nem a da evolução seletiva poderiam garantir. As idéias de interdependência das populações no seio de um mesmo sistema e da estabilidade deixaram assim de apresentar relações unívocas87. Pois quando as relações humanas são reconhecidas como constituídas em torno da palavra e da troca simbólica, estas definem-se pelo fato de escapar a qualquer ordem natural. Esta ordem não pode pois se explicitar como redução do arbitrário – própria à descrição de fenômenos naturais sob um fundo de neutralidade – mas sim como suspensão de uma indeterminação das relações que implicam, explícita ou implicitamente, uma qualificação e, pois, uma ética. Haveria portanto uma multiplicidade de modos de estabilização ecológica das práticas88. As dificuldades da construção dos pactos políticos de sustentação do ZEE refletem, consequentemente, a peculiaridade da gestão do meio ambiente como “interesse difuso”. O que estas dificuldades nos sugerem é que o planejamento territorial ecologizado não tem como objeto, ao contrário do que se sustenta com frequência, a construção de um consenso em torno a critérios superiores que transcendem à 84 Cf. M. Lussault, La Ville Clarifiée, in L. Cambézy – R. de Maximy (eds.) La Cartographie en Débat, Karthala/ORSTOM, Paris, 1995, p. 172.

85 Cf. N.L. Peluso, Whose Woods are These? Counter-mapping Forest Territories in Kalimantan, Indonesia, in Antipoide 27:4, 1995, p. 388.

86 “A praxis [planejadora], apoiada na imagética, não se está lançando numa sofística onde o conteúdo do propósito importaria menos que a perfeição de seu registro – fenômeno que a difusão rápida das novas tecnologias, em uma comunidade seduzida pelos instrumentos técnicos, só fez acentuar?” , cf. Michel Lussault , La Ville Clarifiée, in L. Cambézy – R. de Maximy (eds.) La Cartographie en Débat, Karthala/ORSTOM, Paris, 1995, p. 192. 87 Cf. I. Stengers – F. Bailly, Ordre, in Isabelle Stengers (ed.) D’une Science à L’autre – des concepts nomades, Seuil, 1987, pp. 228-229. 88 Cf. I.Stengers – F. Bailly, op. cit. p.229.

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diversidade das práticas, mas sim um “acordo simbiótico” em que cada protagonista afigurar-se-ía interessado em um determinado tipo de “sucesso” do outro, definido, entretanto, segundo suas próprias razões 89. Um acordo de tal ordem não resultaria, pois, de uma harmonização dos interesses particulares na submissão a um bem superior, mas de um processo imanente do que Stengers chama de “entre-captura”, onde atores que se “co-inventam” integram, cada um por sua própria conta, uma referência ao outro. Cada um dos atores co-inventados nesta relação teria, portanto, para se manter, interesse em que o outro, dada a inevitabilidade da interação de suas práticas, também mantivesse sua existência. E para que este tipo de relação comportasse alguma forma de estabilidade, caberia reconhecer, consequentemente, que ele não se refere a um interesse único, superior a seus termos, mas a uma multiplicidade de projetos de co-invenção conflitual do território e dos atores de sua construção. BIBLIOGRAFIA

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89 cf. Isabelle Stengers, Cosmopolitiques, tome 1, La Guerre des Sciences, La Découverte/ Les Empecheurs de penser en rond, Paris 1996, cap.3, Écologies p. 64-66.

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