acórdão do tribunal da relação de lisboa · lisboa, sita na rua das portas de santo antão,...

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01/02/2018 Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa http://www.dgsi.pt/jtrl.nsf/33182fc732316039802565fa00497eec/03851159d1bcadaa80257c690059f603?OpenDocument&Highlight=0,arbitral,eq… 1/29 Acórdãos TRL Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa Processo: 659/13.9YRLSB-2 Relator: ONDINA CARMO ALVES Descritores: TRIBUNAL ARBITRAL INADMISSIBILIDADE DE RECURSO CONVENÇÃO DE ARBITRAGEM INTERPRETAÇÃO RECLAMAÇÃO Nº do Documento: RL Data do Acordão: 17-12-2013 Votação: DECISÃO INDIVIDUAL Texto Integral: S Meio Processual: RECLAMAÇÃO Decisão: DEFERIMENTO Sumário: 1. É consensual o entendimento que a convenção de arbitragem está sujeita às regras gerais de interpretação do negócio jurídico, nos termos conjugados dos artigos 236.º e 238.º do Código Civil 2. A dúvida sobre o sentido da convenção de arbitragem pode surgir, quer a respeito de aspectos de regime: - a vontade das partes sobre a composição do tribunal ou sobre as regras de processo a aplicar na arbitragem - quer, relativamente à própria existência, validade ou eficácia da convenção de arbitragem. 3. Designam-se como “cláusulas patológicas”, as cláusulas ambíguas ou de elementos errados, mas que não afectam a validade da estipulação de submeter certa matéria a árbitros. Nas situações de incorrecção, ambiguidade ou contradição de uma convenção de arbitragem procurar-se-á salvar a validade da mesma, através de interpretação da declaração negocial, fazendo prevalecer uma cláusula sobre outra, ou atribuindo a duas cláusulas aparentemente contraditórias campos de aplicação distintos, conforme os litígios previstos, sendo a convenção nula, sempre que não for possível desfazer a contradição nela verificada. 4. A defesa doprincípio da definitividade da sentença arbitral assenta na concepção de que quem prefere a arbitragem à jurisdição judicial sabe com o que conta, por isso lhe é dada a faculdade de escolher os árbitros, definir as regras do processo e obter as vantagens próprias da arbitragem, remetendo-se para a acção de anulação a impugnação da sentença arbitral nos casos de violação dos princípios fundamentais do procedimento arbitral e da ordem pública. 5. Estamos perante uma cláusula compromissória contraditória quando as partes acordam submeter os eventuais litígios futuros a um tribunal arbitral institucionalizado (Centro de Arbitragem da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa), adoptando o regulamento em vigor nesse tribunal, no qual, de harmonia com o nº 2 do seu artigo 40º, a submissão do litígio ao referido Centro de Arbitragem envolve a renúncia aos recursos e, simultaneamente, acordam que da decisão final que venha a ser proferida por tal tribunal arbitral caberia recurso. 6. A teoria da impressão do destinatário impõe ao declaratário a apreensão do sentido objectivo que resulta da declaração, independentemente do conhecimento da verdadeira intenção do

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Acórdãos TRL Acórdão do Tribunal da Relação de LisboaProcesso: 659/13.9YRLSB-2Relator: ONDINA CARMO ALVESDescritores: TRIBUNAL ARBITRAL

INADMISSIBILIDADE DE RECURSO CONVENÇÃO DE ARBITRAGEM

INTERPRETAÇÃO RECLAMAÇÃO

Nº do Documento: RLData do Acordão: 17-12-2013Votação: DECISÃO INDIVIDUALTexto Integral: SMeio Processual: RECLAMAÇÃODecisão: DEFERIMENTOSumário: 1. É consensual o entendimento que a convenção de arbitragem

está sujeita às regras gerais de interpretação do negócio jurídico,nos termos conjugados dos artigos 236.º e 238.º do Código Civil

2. A dúvida sobre o sentido da convenção de arbitragem podesurgir, quer a respeito de aspectos de regime: - a vontade das partessobre a composição do tribunal ou sobre as regras de processo aaplicar na arbitragem - quer, relativamente à própria existência,validade ou eficácia da convenção de arbitragem.

3. Designam-se como “cláusulas patológicas”, as cláusulasambíguas ou de elementos errados, mas que não afectam a validadeda estipulação de submeter certa matéria a árbitros. Nas situaçõesde incorrecção, ambiguidade ou contradição de uma convenção dearbitragem procurar-se-á salvar a validade da mesma, através deinterpretação da declaração negocial, fazendo prevalecer umacláusula sobre outra, ou atribuindo a duas cláusulas aparentementecontraditórias campos de aplicação distintos, conforme os litígiosprevistos, sendo a convenção nula, sempre que não for possíveldesfazer a contradição nela verificada.

4. A defesa doprincípio da definitividade da sentença arbitralassenta na concepção de que quem prefere a arbitragem àjurisdição judicial sabe com o que conta, por isso lhe é dada afaculdade de escolher os árbitros, definir as regras do processo eobter as vantagens próprias da arbitragem, remetendo-se para aacção de anulação a impugnação da sentença arbitral nos casos deviolação dos princípios fundamentais do procedimento arbitral eda ordem pública.

5. Estamos perante uma cláusula compromissória contraditóriaquando as partes acordam submeter os eventuais litígios futuros aum tribunal arbitral institucionalizado (Centro de Arbitragem daCâmara de Comércio e Indústria Portuguesa), adoptando oregulamento em vigor nesse tribunal, no qual, de harmonia com onº 2 do seu artigo 40º, a submissão do litígio ao referido Centro deArbitragem envolve a renúncia aos recursos e, simultaneamente,acordam que da decisão final que venha a ser proferida por taltribunal arbitral caberia recurso.

6. A teoria da impressão do destinatário impõe ao declaratário aapreensão do sentido objectivo que resulta da declaração,independentemente do conhecimento da verdadeira intenção do

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declarante. E, em resultado do sentido literal das declaraçõesexaradas na aludida cláusula compromissória, resulta que as partespretendiam não só submeter o litígio a uma específica arbitrageminstitucionalizada – a do Centro de Arbitragem da Câmara deComércio e Indústria Portuguesa – como também afastar a normado Regulamento que consagra a irrecorribilidade da decisãoarbitral (artigo 40º), não se tendo o tribunal arbitral pronunciadosobre tal pretensão das partes, como poderia, nos termos donº2 doartigo 26º do Regulamento, razão pela qual se terá de admitir orecurso interposto.

(Sumário da Relatora)Decisão Texto Parcial:Decisão Texto Integral: I. RELATÓRIO

“A”, residente na Rua …, nº 1, 5º Dtº., ..., ... e “B”, residente naRua ..., nº 42, ..., ..., intentaram, em 22.06.2010, contra:

1) “C”, residente na Rua ..., N.º 69, no ...; 2) “D”, residente na Rua ..., nº 55, 2º F, ...; 3) “E”. SGPS, S. A., com sede na Calçada ..., nº 3, 3º, Sé, no ...;

4) “F” - COMÉRCIO DE AUTOMÓVEIS, S.A., com sede no ..., ...,...;

5) “G” — SOCIEDADE DE AUTOMOVEIS, S. A., com sede naRua ..., nº 52, em ..., no ...;

6) “H”, residente na Avª ..., 4º Esqº, em ...; 7) “I”, LDA., com sede no Apartado ..., no ...,

acção no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara deComércio e Industria Portuguesa, através da qual peticionam acondenação dos demandados nos seguintes pedidos (fls. 858-897):

a) Serem os Demandados condenados a adquirirem as acções deque os 1° e 2º Demandantes são detentores e titulares no capitalsocial da sociedade “J” (respectivamente, 37.312 e 48.087 acções),pelo preto correspondente ao quadruplo do seu valor nominal, ouseja, pelo preço total de €341.596,00 sendo as 37.312 acções do 1°Demandante, pelo preço de €149.248,00 e as 48.087 acções do 2ºDemandante, pelo preço de €192.348,001;

b) Serem os Demandados condenados a outorgar e a assinar deimediato o respectivo e competente contrato de compra e venda dasacções referidas na alínea anterior, nos termos aí mencionados,pagando o respectivo preço de €341.596,00 aos Demandantes(pagando €149.248,00 ao 1º Demandante, €192.348,00 ao 2ºDemandante);

c) Serem os Demandados condenados a ressarcirem osDemandantes de todos os prejuízos que estes sofreram no seupatrimónio pelo facto de não terem recebido atempadamente omontante supra descrito e de não o terem podido rentabilizar,devendo ser condenados a pagar aos Demandantes, juros de moravencidos e vincendos à taxa legal de 4 % sobre a referida quantiade €341.596,00, desde Maio de 2009 até efectivo e integralpagamento, sendo que os actualmente vencidos ascendem a

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€14.786,90.

Invocaram, para tanto, que o objecto do litígio era o cumprimentopelos Demandados do Acordo entre eles celebrado, em 25 deOutubro de 2007, bem como da Adenda ao mesmo de 25 deFevereiro de 2009.

Alegaram também que, entre Demandantes e Demandados, foicelebrada convenção de arbitragem nos seguintes termosconstantes da cláusula 13° do Acordo de 25.10.2007:

1. Qualquer litígio decorrente da interpretação e execução dopresente acordo será resolvido por arbitragem, devendo todas aspartes intervir na sua formação e funcionamento segundo os ditamesda boa-fé.

2. O tribunal arbitral será constituído por três árbitros, sendo dois departe e um terceiro escolhido por estes, que presidirá.

3. O tribunal arbitral funcionará em Lisboa sob a égide do Centro deArbitragem Comercial, nos termos do Regulamento do TribunalArbitral do Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércioe Indústria Portuguesa/Associação Comercial de Lisboa e daAssociação Comercial do Porto / Câmara do Comércio e Indústria doPorto.

4. O tribunal arbitral deverá constituir-se no prazo máximo de ummês após a notificação da parte que pretenda recorrer a arbitragem àparte em conflito, devendo a decisão final ser proferida no prazomáximo de seis meses após a apresentação do último articulado noprocesso, caso contrário é livre o recurso ao tribunal comum.

5. A parte que pretenda recorrer a arbitragem dará conhecimentodisso à outra parte, por carta registada com aviso de recepção, daqual deverá constar com precisão o objecto da questão ou questõesdecorrentes do presente Acordo em conflito.

6. O tribunal arbitral julgará de direito, de acordo com a leiportuguesa, cabendo recurso das decisões finais que venham a serproferidas pelo tribunal arbitral.

A arbitragem realizou-se na sede da Associação Comercial deLisboa, sita na Rua das Portas de Santo Antão, nº. 89, em Lisboa.

Em 01.04.2011, teve lugar a composição do Tribunal Arbitral,tendo sido proferido o seguinte Despacho (fls. 930):

1. Nos termos do artigo 26º do Regulamento de Arbitragem,compete ao Presidente do Centro definir a composição do TribunalArbitral, que pode incluir a nomeação de Árbitros. Prevê o n.º 2 domesmo artigo do Regulamento as situações em que o Presidentepode sobrestar à definição da composição do Tribunal Arbitral.

Não foram suscitadas pelas Partes quaisquer questões préviasquanto à composição do Tribunal Arbitral que devam serconhecidas pelo Presidente do Centro.

2. Sendo o Tribunal Arbitral composto por três árbitros, osÁrbitros nomeados pelas partes (…)

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O Tribunal Arbitral considera-se definitivamente constituído coma aceitação formal do encargo por parte do terceiro Árbitro (artigo26º, nº 3 do Regulamento), que ocorreu em 1 de Abril de 2011.

Os Demandados contestaram a acção, concluindo pelaimprocedência da acção e formularam pedido reconvencional nosentido de ser modificado o Acordo celebrado entre Demandantes eDemandados, em 25 de Outubro de 2007 e respectiva Adenda; e,consequentemente, ser derrogada a Cláusula Sexta do Acordo,extinguindo-se a obrigação de os Demandados adquirirem asacções detidas pelos Demandantes na “J”, ou alterado, quer o valorda aquisição das referidas acções, quer o prazo em que estaaquisição deva ter lugar, segundo critérios de razoabilidade eproporcionalidade num e noutro caso.

Os Demandantes responderam à contestação-reconvencão erequereram a ampliação do pedido formulado na petição inicial.

O pedido reconvencional foi admitido, por despacho de 30 de Maiode 2011, e indeferida a ampliação do pedido.

Foi levada a efeito a audiência de discussão e julgamento eproferida decisão, em 06.07.2012 (fls. 3-53), constando doDispositivo da Sentença, o seguinte:

Atento o supra exposto, e sem necessidade de mais considerações:

A) Julga-se a presente acção parcialmente procedente e provada eem consequência condenam-se os Demandados “C”, “D”, “E”,SGPS, S.A., “F” Comércio de Automóveis, S.A., “G” - Sociedade deAluguer de Automóveis, Lda., “H” e “I”, Lda. a:

1. Adquirirem as acções de que os Demandantes “A” e “B” sãodetentores e titulares no capital social da sociedade “J”(respectivamente, 7.312 e 48.087 acções), pelo preço correspondenteao quadruplo do seu valor nominal, ou seja, pelo preço total de€341.596,00 (sendo 37.312 acções do Demandante “A” pelo preçode €149.248,00; e 48.087 acções do Demandante “B”, pelo preço de€192.348,00);

2. A outorgarem e a assinarem de imediato o respectivo ecompetente contrato de compra e venda das acções referidas noponto anterior, nos termos aí mencionados, pagando o respectivopreço de €341.596,00 aos Demandantes (sendo €149.248,00 aoDemandante “A”, e €192.348,00 ao Demandante “B”);

3. A pagar a cada um dos Demandantes juros de mora vencidos evincendos à taxa legal de 4% ao ano sobre as referidas quantias de€149.248,00 e €192.348,00 desde 31 de Outubro de 2009 até efectivoe integral pagamento;

B) Absolvem-se os Demandantes “A” e “B” do pedidoreconvencional;

C) Condenam-se os Demandados “C”, “D”, “E”, SGPS, S,A., ":”F”- Comércio de Automóveis, S A., “G” - Sociedade de Aluguer de

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Automóveis, Lda., “H” e “I”, Lda. nas custas da acção e dareconvenção, sendo que quanto àquelas (custas da acção) apenas naproporção de 99%, sendo da responsabilidade dos Demandantesquanto às custas da acção de 1%, por terem decaído em partequanto ao pedido dos juros.

A sentença foi notificada às partes em 09.07.2012 (fls. 937).

Inconformados, os demandados, “H”, “E”. SGPS, S. A., “G” —SOCIEDADE DE AUTOMOVEIS, S. A., E “I”, LDA.,interpuseram recurso de apelação, em 07.09.2012, incidente sobre aaludida sentença, para o Tribunal da Relação de Lisboa, invocandoo disposto no artigo 4 ° n ° 3 da Lei n ° 63/2011 de 14 de Dezembro,o artigo 29° n ° 1 da Lei n ° 31/86, de 29 de Agosto e os artigos 678º,684°-B e 685.°, todos do Código de Processo Civil. Apresentaram asrespectivas alegações e juntaram dezoito documentos (fls. 54-99).

Igualmente inconformados, os demandados “D”, “H” E “C”,interpuseram também recurso de apelação, em 27.09.2012,incidente sobre a aludida sentença, para o Tribunal da Relação deLisboa. Invocaram o disposto na cláusula 13ª, nº 6, artigo 29º daLAV e artigo 684º-B do CPC e defenderam a admissibilidade dorecurso, por entenderem que compromisso arbitral se deveriasobrepor ao artigo 40º do Regulamento de Arbitragem do Centrode Arbitragem Comercial. Apresentaram as respectivas alegações(fls. 210-217).

Notificados da interposição de recurso de apelação de “H”, “E”.SGPS, S. A., “G” — SOCIEDADE DE AUTOMOVEIS, S. A., E“I”, LDA., os demandantes, “A” E “B”, apresentaramrequerimento, em 01.10.2012, referindo, em suma (fls. 218-224):

§ Contrariamente ao que os Recorrentes alegam, o compromissoarbitral celebrado entre Demandantes e Demandados não podesobrepor-se à limitação prevista no artº 40º do Regulamento deArbitragem do Centro de Arbitragem Comercial.

§ Em 25 de Outubro de 2007, os Demandantes e os Demandadosnos presentes autos, celebraram um contrato escrito quedenominaram Acordo, tendo convencionado na cláusula 13ª domesmo, que a resolução de qualquer litígio decorrente daquele,estará sujeita às regras do Tribunal de Arbitragem Comercial doCentro de Arbitragem da Câmara de Comércio e IndústriaPortuguesa/Associação Comercial de Lisboa.

§ O Regulamento de Arbitragem da Câmara de Comércio eIndústria Portuguesa (Centro de Arbitragem Comercial) a que osDemandantes e os Demandados se submeteram, e que se aplica incasu (visto que a acção foi instaurada no referido Tribunal deArbitragem em 22/06/2010), é o que foi aprovado nas reuniões doConselho do Centro de Arbitragem da Câmara de Comércio eIndústria Portuguesa de 18 de Junho e 29 de Julho de 2008, o qualprevê nos nºs 1 e 2 do seu artigo 40º, o seguinte:

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“1- A decisão final do tribunal arbitral não é susceptível derecurso.

2- A submissão do litígio ao Centro de Arbitragem Comercialenvolve a renúncia aos recursos”.

§ Esta disposição é imperativa e não pode ser derrogada pelaspartes.

§ O artº 16º do Regulamento de Arbitragem da Câmara deComércio e Indústria Portuguesa (Centro de ArbitragemComercial) prevê nos seus nºs 1 e 3, que “As partes podem, naconvenção de arbitragem ou ulteriormente, estabelecer regrasprocessuais que não contendam com as disposições inderrogáveisdo presente Regulamento” e que “O Tribunal arbitral pode semprefixar regras processuais a observar, desde que respeitem as regrasinderrogáveis do presente regulamento” (cit. artº 40º doRegulamento).

§ A disposição prevista no artº 40º do Regulamento éindiscutivelmente uma regra inderrogável, conforme, de resto, éentendimento pacífico no Centro de Arbitragem da Câmara deComércio e Indústria Portuguesa (Centro de ArbitragemComercial), bem como na nossa doutrina e jurisprudência.

§ Os Demandados e Demandantes, nunca podiam cumulativamentesubmeter o litígio ao Regulamento e, simultaneamente, prever apossibilidade de recurso sobre as decisões finais a proferir pelotribunal arbitral.

§ As partes escolheram e elegeram o Centro de ArbitragemComercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa,também designado por Centro de Arbitragem Comercial, comobediência às regras do seu respectivo Regulamento, em cujo nº 1,do artº 40º, vem estabelecida – sendo uma disposição irrevogável –a renúncia ao recurso das decisões finais proferidas pelo TribunalArbitral.

§ Decorre do disposto das disposições conjugadas dos artºs 16º e 40ºdo Regulamento e do artº 15º da Lei 31/86 de 29/8 - LAV - arenúncia aos recursos, tal como se encontra prevista no nº 5 dacláusula 13ª do compromisso arbitral aludido, é ilícita e nula, oucaso assim não se entenda, anulável, ou então, inválida.

§ Face às disposições conjugadas dos artºs 1º e 29º, nº1º da LAV, edo artº 40º do Regulamento que, para além das decisões finais dotribunal arbitral não serem passíveis de recurso, as partes -Demandantes e Demandados – ao submeterem efectivamente olitígio ao tribunal arbitral e ao este ter sido constituído,renunciaram ao recurso sobre a sentença arbitral.

§ Na contestação apresentada pelos Demandados – incluindo os oraRecorrentes – os mesmos não se opuseram ao requerimento dosDemandantes para constituição do tribunal arbitral, apresentandoo seu árbitro e, aceitando que todo o processo ficasse sob a alçada eregras do Regulamento do Centro de Arbitragem Comercial.

§ Os próprios Demandados que, na sua contestação, peticionam aotribunal arbitral do Centro de Arbitragem Comercial, que julgue

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segundo a equidadeequidade, o que é sintomático da sua aceitação darenúncia a recursos sobre decisões finais a proferir pelo tribunalarbitral …

§ As partes nunca podiam ter convencionado a possibilidade derecurso sobre a decisão final a proferir pelo tribunal arbitral, portal colidir com o acordado sobre a submissão do litígio aoRegulamento do Centro de Arbitragem da Câmara de Comércio eIndústria Portuguesa e do disposto nos artºs 16º e 40º doRegulamento desta última.

§ Tem de se entender que tal previsão é nula, ou anulável, ouinválida, por violar o disposto nos artºs 1º e 29º da LAV e artºs 16º e40º do Regulamento, estando vedado às partes recorrer sobre asentença proferida pelo tribunal arbitral, não podendo oVenerando Tribunal da Relação pronunciar-se sobre o mérito dadecisão daquele.

§ E, mesmo que não se considere que a segunda parte do citado nº5 da aludida cláusula 13ª é nula, ou anulável, ou inválida, a mesmadeixou de vigorar e deixou de produzir os seus efeitos a partir domomento em que Demandantes e Demandados aceitaram que opresente litígio e consequente arbitragem, ficassem sujeitos àsregras do Regulamento (e evidentemente às regras inderrogáveisdeste Regulamento) e aceitaram a constituição do tribunal arbitraldo Centro de Arbitragem da Câmara de Comércio, com todas asregras e disposições impostas pelo mesmo.

§ A segunda parte do nº 5 da citada cláusula deixou de vigorar apartir do momento em que o tribunal arbitral foi constituído, coma aceitação de todas as regras e disposições do Regulamento, o queocorreu em 01/04/2011, conforme despacho de composição dotribunal arbitral de 04/04/2011), renunciando as partes nestemomento ao recurso sobre a decisão final.

§ O recurso é processualmente inadmissível porque os Demandados– incluindo os ora Recorrentes – e os Demandantes, oraRecorridos, aceitaram, a submissão do litígio ao Centro deArbitragem Comercial e, consequentemente, a inderrogável regrada renúncia aos recursos sobre as decisões finais, prevista no artº40º do Regulamento de Arbitragem.

§ A sentença do tribunal arbitral objecto do presente recurso, éuma decisão final não passível de recurso, pelo que não deve opresente recurso ser admitido, devendo ser liminarmenteindeferido, não se conhecendo do seu objecto.

Referiram ainda os demandantes que, mesmo que se entendesseque era permitido às partes renunciarem ao direito de recorrersobre a sentença arbitral, o que só se concedia por mera hipótesede raciocínio, sempre o recurso seria extemporâneo, pois nostermos do disposto no nº 1 do artº 44º do Regulamento, o presenteprocesso corre em férias judiciais, e a sentença arbitral foinotificada às partes, em 09/07/2012, através de correio electrónico(artº 43º do Regulamento), e uma vez que a contagem do prazo de30 dias para interposição do recurso de apelação (artº 685º do

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CPC) se inicia no dia útil seguinte àquele em que se considererecebida a notificação (cit. artº 44º, nº 2 do Regulamento), o prazopara interposição do recurso findou no dia 08 de Agosto de 2012, sópodendo o recurso ser liminarmente indeferido, por manifestaextemporaneidade, não se conhecendo do seu objecto.

Mais invocaram os demandantes que, se por mera hipótese deraciocínio, que colocam, mas não admitem, se considerar que asentença arbitral é passível de recurso, este apenas poderá terefeito devolutivo, por não se preencherem nenhuma das situaçõesprevistas no nº 3 do artº 692º do CPC.

Apresentaram, de igual modo, os demandantes/recorridos, as suascontra-alegações de recurso (fls. 224-304), tendo formulado asrespectivas CONCLUSÕES.

Os demandados/recorrentes, “H”, “E”. SGPS, S. A., “G” —SOCIEDADE DE AUTOMOVEIS, S. A., E “I”, LDA.,apresentaram requerimento, em 11.10.2012, ao abrigo do artigo 3ºdo CPC, respondendo à irrecorribilidade da sentença arbitral e àtempestividade do recurso, invocadas pelosdemandados/recorridos, propugnando pela admissibilidade dorecurso interposto, nos termos conjugados do disposto nos artigos29.°, n.° 2, da LAV, do n.° 3, do artigo 4.º, da nova lei da arbitragemvoluntaria, aprovada pela Lei n.° 63/2011, de 14 de Dezembro, epela cláusula 13.ª da convenção de arbitragem, bem como pelatempestividade do recurso, em cumprimento do disposto nosartigos 143.°, n.° 1, 144.°, n.° 1, ambos do CPC, e artigo 12.º da Leide Organização e Funcionamento dos Tribunais Judiciais ou, emalternativa, serem os recorrentes notificados para pagamento demulta processual que se entender devida, ao abrigo do disposto noartigo 145.°, n.° 6, do CPC.

E, notificados do recurso de apelação interposto por “D”, “H” E“C”, os demandantes, “A” E “B”, apresentaram requerimento, em17.10.2012, no qual invocam a nulidade da segunda parte do nº 5da cláusula 13ª da convenção arbitral celebrada entre demandantese demandados, e a intempestividade do recurso, com argumentaçãosemelhante à aduzida no anterior recurso deduzido pelos demaisdemandados e apresentaram contra-alegações (fls. 340-368).

Pelos árbitros do Tribunal Arbitral foi proferido, em 15.03.2013, oseguinte Despacho (fls. 373-376):

Os Demandados “H”, “E” SGPS, S.A., “G” - Sociedade deAutomóveis, S.A. e “I”, Lda. interpuseram recurso da sentençaproferida nos presentes autos nos termos do requerimento de fls.sem indicarem para que Tribunal pretendem interpor recurso;

No entanto as doutas alegações que acompanham tal requerimentosão dirigidas aos Venerandos Desembargadores do Tribunal daRelação de Lisboa, pelo que entendem os Árbitros que o recurso

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dos referidos Demandados foi interposto para tal VenerandoTribunal.

Por seu turno os Demandantes “D” e “C” no seu requerimento deinterposição de recurso indicam como Tribunal ad quem oVenerando Tribunal da Relação de Lisboa.

Nos seus doutos requerimentos de interposição dos referidosrecursos defendem os Demandados a admissibilidade de taisrecursos face ao disposto no nº 6 da Cláusula 13 do Acordo de 25de Outubro de 2007 –doc. nº 1 junto com a petição inicial que, noseu douto entendimento, se mantém em vigor em detrimento dodisposto no artº 40º do Regulamento de Arbitragem.

A convenção de arbitragem constante da cláusula 13 e do"Acordo" de 25 de Outubro de 2007 determina no seu número 3que o "tribunal arbitral funcionará em Lisboa sob a égide doCentro de Arbitragem Comercial nos termos do Regulamento doTribunal Arbitral do Centro de Arbitragem Comercial da Câmarade Comércio e Indústria Portuguesa / Associação Comercial deLisboa e da Associação Comercial do Porto / Câmara de Comércioe Indústria do Porto"

Sendo que o número 6 da mesma cláusula 13 determina que éadmitido recurso da decisão final.

Salvo o devido respeito que é muito, e se faz questão de aqui referir,verifica-se um antagonismo entre as disposições dos citadosnúmero 3 por um lado e número 6 por outro.

Efectivamente o Regulamento de Arbitragem referido no número 3que deve ser entendido, como o que se encontra em vigor desde2008 e aprovado nas reuniões do Conselho de Arbitragem daCâmara de Comércio e Indústria Portuguesa de 18 de Junho e 29de Julho de 2008 determina que a submissão dos litígios ao Centrode Arbitragem Comercial obriga a aceitação do Regulamento comoparte integrante da convenção de arbitragem (artº. 2º), convençãoesta que determina que a decisão do tribunal arbitral não admiterecurso (art°. 40º), o que contraria claramente o disposto no citadonúmero 6 da Cláusula 13 do "Acordo".

Dado que a submissão do presente litígio ao Regulamento deArbitragem obriga à sua aceitação (artº 2º cit.), não pode,necessariamente, ser tido em consideração o disposto no citadonúmero 6 da cláusula 13º do referido "Acordo".

De facto a submissão sem reservas por Demandantes eDemandados do presente litígio ao Regulamento do TribunalArbitral do Centro de Arbitragem Comercial da Câmara deComércio e Indústria Portuguesa, desde logo por posterior à citadaconvenção de arbitragem, tem de ser entendida como de aceitaçãoda renúncia a recurso nos termos previstos em tal Regulamento,por ser esse o sentido que necessariamente se deduz de talsubmissão (C. Civil, art°. 236º, nº 1).

Verifica-se pois que os presentes autos de arbitragem voluntária seregem pelo Regulamento de Arbitragem do Centro de Arbitragemda Câmara de Comércio e Indústria aprovado nas reuniões do

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Conselho de Arbitragem da Câmara de Comércio e IndústriaPortuguesa de 18 de Junho e 29 de Julho de 2008.

Atento ao supra exposto, e sem necessidade de mais considerações,face ao disposto no artº. 40º do citado Regulamento de Arbitragem,decide-se não admitir os recursos interpostos pelos Demandados“H”, “E” SGPS, S.A., “G” - Sociedade de Automóveis, S.A., “I”,Lda., “D” e “C” da sentença de fls. dos autos por a mesma não sersusceptível de recurso.

Notifique.

É dessa decisão de não admissão do recurso que osdemandados/recorrentes, “D” E “C” apresentaramRECLAMAÇÃO, em 09.04.2013, ao abrigo do disposto no artigo59°. n.° 1 al. g) da LAV e artigo 688° n.° 1 do Código Processo Civil(fls. 377-379).

Invocam os reclamantes que:

i. O Digníssimo Tribunal Arbitral não admitiu o recurso interpostopelos Reclamantes, fundamentando-se apenas no Artigo 40° doRegulamento de Arbitragem do Centro de Arbitragem Comercial daCâmara de Comércio e Indústria Portuguesa.

ii. A convenção de arbitragem que deu origem aos autos de processoarbitral acima identificados, celebrada entre os aqui Reclamantes eos Demandantes naqueles autos, prevê na sua Cláusula 13ª n.° 6 quedas decisões finais proferidas pelo tribunal arbitral cabe recurso.

iii. Não obstante o Artigo 40° do Regulamento de Arbitragem,entendem os ora Reclamantes que a convenção de arbitragem, porreflectir a vontade das partes, não pode ser entendida comoderrogada.

iv. Com efeito, o direito de recurso das decisões do Tribunal Arbitralestá contemplado na convenção de arbitragem que, ela própria, prevêigualmente que o processo arbitral devia seguir sob a égide do Centrode Arbitragem Comercial.

v. Ora, não tendo havido acordo expresso ou aceitação das Partesou, mesmo, decisão do Tribunal Arbitral que expressamenteafastasse o compromisso de sujeitar a recurso as decisões tomadasno processo, não se compreende, nem se aceita, que o acordo nesteâmbito ficasse no vazio ou se considerasse derrogado nessa parte.

vi. Por essa razão, o recurso da decisão do Tribunal Arbitral deve seradmitido e julgado por esta Veneranda Relação de Lisboa.

Defendem, por isso, os reclamantes, que o recurso seja admitido e,em consequência, o processo principal requisitado ao Centro deArbitragem Comercial, para ser julgado até final.

Notificados da reclamação apresentada, os

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demandantes/recorridos, “A” E “B”, apresentaram resposta, comos seguintes fundamentos (fls. 380 a 386):

I - Questão prévia: i. A Reclamação apresentada pelos ora Reclamantes é ilegal e

processualmente inadmissível.

ii. Com efeito, a sentença arbitral proferida nos presentes autos édefinitiva e não pode ser objecto de recurso, tendo inclusivamente játransitado em julgado.

iii. De acordo com o Regulamento de Arbitragem da Câmara deComércio e Indústria Portuguesa (Centro de Arbitragem Comercial)– doravante designado por Regulamento - a que os Demandantes e osDemandados nestes autos se submeteram, nos termos da convençãode arbitragem que celebraram (cláusula 13ª do “Acordo” (junto aospresentes autos como Doc. n.º 1 da petição inicial), a submissão dequalquer litígio a este Centro de Arbitragem Comercial envolve arenúncia aos recursos e, a sentença arbitral não é passível de recurso(artº 40º do Regulamento).

iv. Esta regra do Centro de Arbitragem Comercial é imperativa (artºs16º e 40º do Regulamento) não sendo possível ser afastada ouderrogada pelas partes.

v. Como tal, o nº 6 da cláusula 13ª do “Acordo” celebrado entre aspartes - convenção de arbitragem - colide com o disposto no nº 3 damesma cláusula, não podendo o previsto no nº 6 ser aplicado, porviolar o Regulamento que deve sobrepor-se a qualquer regra.

vi. Por outro lado, também, a partir do momento em que as partesnestes autos submeteram o presente litígio ao Centro de ArbitragemComercial, e a partir do momento em que o mesmo ficou constituído(o que ocorreu em 04/04/2011, conforme despacho de composição dotribunal arbitral), renunciaram ao recurso sobre a decisão final dotribunal arbitral.

vii. Não podem, pois, as partes, ora Reclamantes ignorar oRegulamento que aceitaram e que foi seguido no decurso da lide.

viii. Por ter sido aceite o regime arbitral previsto no Regulamentopara dirimir o litígio que foi discutido nestes autos, está vedado orecurso da sentença arbitral. Consequentemente, está também vedadaa possibilidade de reclamação sobre o despacho que indeferiu aadmissão do recurso.

ix. Aliás, a interpretação dos artºs 16º e 40º do Regulamento, nosentido de que a disposição prevista no mesmo artº 40º pode serafastada ou derrogada pelas partes - e de que a mesma não é umaregra imperativa (ao abrigo do disposto no artº 16º do Regulamento) -é inconstitucional por violar os artºs 20º, nº 1 e 202º, nºs 1 e 4 daConstituição da República Portuguesa, inconstitucionalidade esta

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que expressamente se invoca.

x. Assim, a presente reclamação deve ser liminarmente indeferida.

xi. Caso assim, não se entenda, o que só se concede por mera hipótesede raciocínio, passamos a apresentar a resposta à reclamaçãoapresentada pelos ora Reclamantes.

II – Resposta xii. Contrariamente ao que os Reclamantes afirmam, o Digníssimo

Tribunal Arbitral não admitiu o recurso interposto pelos mesmos,“fundamentando-se apenas no artigo 40º do Regulamento deArbitragem do Centro de Arbitragem Comercial da Câmara deComércio e Indústria Portuguesa” (cit. artº 1º da reclamação dosRecorrentes).

xiii. E, ainda que assim não fosse, o que só se coloca por merahipótese de raciocínio, tal norma seria bastante para a não admissãodo recurso.

xiv. Não obstante, há que dizer que o despacho do Tribunal Arbitralque não admitiu o recurso, não se fundamentou unicamente nanorma referida pelos Reclamantes.

xv. Veja-se para o efeito, a demais fundamentação que consta nodespacho objecto de reclamação, bem como a interpretação feita peloTribunal Arbitral e o referido a propósito do artº 2º do Regulamentode Arbitragem da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa e dodisposto no artº 236º, nº 1 do C.Civil.

xvi. Mas, vejamos melhor, a razão pela qual não assiste razão aosReclamantes, bem como o facto do despacho objecto de reclamaçãoestar incólume de qualquer vício.

xvii. Contrariamente ao que os Reclamantes alegam, o compromissoarbitral celebrado entre os Demandantes e os Demandados nestesautos não pode sobrepor-se à limitação prevista no artº 40º doRegulamento de Arbitragem do Centro de Arbitragem Comercial daCâmara de Comércio e Indústria Portuguesa.

xviii. Com efeito, nos termos da convenção de arbitragem acordadaentre as partes, em 25/10/2007, vertida na cláusula 13ª do “Acordo”(junto aos presentes autos como Doc. n.º 1 da petição inicial), ficouconvencionado que a resolução de qualquer litígio decorrentedaquele, estará sujeita ao “Centro de Arbitragem Comercial, nostermos do Regulamento do Tribunal Arbitral do Centro deArbitragem Comercial da Câmara de Comércio e IndústriaPortuguesa/Associação Comercial de Lisboa e da AssociaçãoComercial do Porto / Câmara do Comércio e Indústria do Porto” (cit.nº 3 da cláusula 13º do “Acordo”), tendo ambas as partes acordadoficarem vinculadas ao Regulamento deste último e às regras neleprevistas.

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xix. Relembra-se que na citada cláusula 13ª do “Acordo”, consta oseguinte:

“1. Qualquer litígio decorrente da interpretação e execução dopresente acordo será resolvido por arbitragem, devendo todas aspartes intervir na sua formação e funcionamento segundo os ditamesda boa-fé.

2. O tribunal arbitral será constituído por três árbitros, sendo dois departe e um terceiro escolhido por estes, que presidirá.

3. O tribunal arbitral funcionará em Lisboa sob a égide do Centro deArbitragem Comercial, nos termos do Regulamento do tribunalArbitral do Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércioe Indústria Portuguesa/Associação Comercial de Lisboa e daAssociação Comercial do Porto / Câmara do Comércio e Indústria doPorto.

4. O tribunal arbitral deverá constituir-se no prazo máximo de ummês após a notificação da parte que pretenda recorrer a arbitragem àparte em conflito, devendo a decisão final ser proferida no prazomáximo de seis meses após a apresentação do último articulado noprocesso, caso contrário é livre o recurso ao tribunal comum.

5. A parte que pretenda recorrer a arbitragem dará conhecimentodisso à outra parte, por carta registada com aviso de recepção, daqual deverá constar com precisão o objecto da questão ou questõesdecorrentes do presente Acordo em conflito.

6. O tribunal arbitral julgará de direito, de acordo com a leiportuguesa, cabendo recurso das decisões finais que venham a serproferidas pelo tribunal arbitral.

(…)” (cit. “Acordo” junto na p.i. sob Doc. 1.)

xx. O Regulamento de Arbitragem da Câmara de Comércio eIndústria Portuguesa (Centro de Arbitragem Comercial) - doravantedesignado por Regulamento – que se aplica in casu é o que foiaprovado nas reuniões do Conselho do Centro de Arbitragem daCâmara de Comércio e Indústria Portuguesa de 18/06/2008 e29/07/2008.

xxi. Este Regulamento prevê nos nºs 1 e 3 do artº 16º, a existência dedisposições e regras que não podem ser derrogadas quer pelas partes,quer pelo próprio tribunal arbitral, dispondo que: “As partes podem,na convenção de arbitragem ou ulteriormente, estabelecer regrasprocessuais que não contendam com as disposições inderrogáveis dopresente Regulamento” e que “O Tribunal arbitral pode sempre fixarregras processuais a observar, desde que respeitem as regrasinderrogáveis do presente regulamento” (cit. artº 16º doRegulamento. O sublinhado é nosso).

xxii. O disposto no artº 40º do Regulamento, que prevê,respectivamente, nos seus nºs 1 e 2 que “a decisão final do tribunalarbitral não é susceptível recurso” e que “a submissão do litígio aoCentro de Arbitragem Comercial envolve a renúncia aos recursos”, é

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precisamente, uma disposição imperativa que não é passível de serderrogada pelas partes.

xxiii. Assim, e como decorre das disposições conjugadas dos artºs 16ºe 40º do Regulamento e do artº 15º da Lei 31/86 de 29/8 - LAV - arenúncia aos recursos, tal como se encontra prevista no nº 5 dacláusula 13ª do compromisso arbitral aludido, contende com o nº 3desta mesma cláusula, bem como com o Regulamento do Centro deArbitragem Comercial.

xxiv. Como é óbvio, os Demandados e os Demandantes, nuncapodiam prever a possibilidade de recurso sobre as decisões finais aproferir pelo tribunal arbitral, porquanto submeteram o litígio àsregras do Regulamento.

xxv. Contrariamente ao que alegam os Reclamantes, a vontade daspartes não pode derrogar regras imperativas.

xxvi. In casu, verificou-se uma clara convergência de vontades daspartes para dirimirem o litígio que as separava, através da arbitragemvoluntária, com a aceitação única da regulamentação do Centro deArbitragem e do tribunal arbitral que escolheram.

xxvii. As partes escolheram e elegeram o Centro de ArbitragemComercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, tambémdesignado por Centro de Arbitragem Comercial, com obediência àsregras do seu respectivo Regulamento, em cujo nº 1, do artº 40º, vemestabelecida a renúncia ao recurso das decisões finais proferidas peloTribunal Arbitral, sendo tal disposição, irrevogável.

xxviii. Por conseguinte, o previsto no nº 6 da cláusula 13ª do“Acordo” contende com o nº 3 desta cláusula e com o disposto nosartºs 16º e 40º do Regulamento, não podendo, obviamente, seraplicado.

xxix. Também, contrariamente ao que os Reclamantes defendem,verifica-se que a partir do momento em que as partes nestes autossubmeteram efectivamente o presente litígio ao Centro de Arbitragemda Câmara de Comércio, e a partir do momento em que o mesmoficou constituído (o que ocorreu em 04/04/2011, conforme despachode composição do tribunal arbitral), renunciaram ao recurso sobre adecisão final do tribunal arbitral.

xxx. Veja-se que, na contestação apresentada pelos Demandados, osmesmos não se opuseram ao requerimento dos Demandantes paraa constituição do tribunal arbitral, apresentando o seu árbitro e,aceitando que todo o processo ficasse sob a alçada e regras doRegulamento do Centro de Arbitragem Comercial.

xxxi. Tendo nesta medida de se entender que a partir do momento emque as partes submeterem efectivamente o litígio ao tribunal arbitrale a partir do momento em que este foi constituído, renunciaram ao

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recurso sobre a sentença arbitral (artº 40º do Regulamento).

xxxii. Tal resulta da única interpretação que pode ser feita dasdisposições conjugadas dos artºs 1º e 29º, nº1º da LAV e dos artºs 16ºe 40º do Regulamento.

xxxiii. Como bem ficou decidido no despacho objecto de reclamação,“verifica-se um antagonismo entre as disposições dos citados número3” (da cláusula 13ª do “Acordo”) “por um lado e no nº 6 por outro.

(…) O Regulamento de Arbitragem referido no número 3 (…) determina

que a submissão dos litígios do Centro de Arbitragem Comercialobriga a aceitação do regulamento como parte integrante daconvenção de arbitragem (artº 2º), convenção esta que determina quea decisão arbitral não admite recurso (artº 40), o que contrariaclaramente o disposto no citado número 6 da Cláusula 13ª do“Acordo”.

Dado que a submissão do presente litígio ao regulamento deArbitragem obriga à sua aceitação (artº 2º cit.), não pode,necessariamente, ser tido em consideração o disposto no citadonúmero 6 da cláusula 13ª do referido “Acordo”.

De facto a submissão sem reservas por Demandantes eDemandados do presente litígio ao Regulamento do TribunalArbitral do Centro de Arbitragem Comercial da Câmara deComércio e Indústria Portuguesa, desde logo por posterior à citadaconvenção de arbitragem, tem de ser entendida como de aceitaçãoda renúncia a recurso nos termos previstos em tal Regulamento, porser esse o sentido que necessariamente se deduz de tal submissão(C.Civil, artº 236º, nº 1) (cit. despacho objecto de reclamação).

xxxiv. Face ao exposto, verifica-se que a segunda parte do nº 6 dacláusula 13ª da convenção arbitral celebrada entre Demandantes eDemandados - que prevê “cabendo recurso das decisões finais quevenham a ser proferidas pelo tribunal arbitral” - é ineficaz ouinválida/nula, por contender com o nº 3 desta mesma cláusula e comdisposição inderrogável do artº 40º do Regulamento, que prevê airrecorribilidade da decisão final do tribunal arbitral.

xxxv. Por outro lado, verifica-se que a partir do momento em que aspartes submeteram efectivamente o presente litígio ao Centro deArbitragem da Câmara de Comércio, e a partir do momento em que omesmo ficou constituído, houve uma aceitação inequívoca dasmesmas, de renunciarem ao recurso sobre a decisão final.

xxxvi. Pelo que os recursos interpostos nestes autos sobre a sentençaarbitral são processualmente inadmissíveis porque os Demandados eos Demandantes dos autos, aceitaram a submissão do litígio aoCentro de Arbitragem Comercial e, consequentemente, ainderrogável regra da renúncia aos recursos sobre as decisões finais,prevista no artº 40º do Regulamento de Arbitragem.

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xxxvii. Assim, a sentença do tribunal arbitral é uma decisão final nãopassível de recurso.

xxxviii. Por mera cautela, reitera-se o que supra se alegou acercado facto da interpretação dos artºs 16º e 40º do Regulamento, nosentido de que a disposição prevista no mesmo artº 40º pode serafastada ou derrogada pelas partes - e de que a mesma não é umaregra imperativa (ao abrigo do disposto no artº 16º do Regulamento)- é inconstitucional por violar os artºs 20º, nº 1 e 202º, nºs 1 e 4 daConstituição da República Portuguesa, inconstitucionalidade estaque expressamente se invoca.

xxxix. Nestes termos, o despacho recorrido apenas podia ter decidido,como decidiu, ou seja, não admitir os recursos interpostos pelosDemandados, por a sentença dos autos não ser susceptível de recurso.

xl. Assim, a presente reclamação deve ser julgada improcedente.

Propugnam, por isso, os reclamados, pelo indeferimento liminar daReclamação, ou caso assim não se entenda, o que só se concede pormera hipótese de raciocínio, ser julgada improcedente, mantendo-se o despacho do Digníssimo Tribunal Arbitral, que não admitiu osrecursos por a sentença proferida pelo Tribunal Arbitral não sersusceptível de recurso.

**

II . QUESTÕES A DECIDIR

Está em causa saber se o despacho de não admissibilidade do recursode apelação tem apoio legal.

Como é sabido, na presente reclamação não se pode sindicar aargumentação jurídica efectuado na sentença proferida pelos juízesdo Tribunal Arbitral, apenas estando aqui em apreciação a decisãode indeferimento do requerimento de interposição do recursoapresentado pelos demandados, por considerarem que nãoobstante o que resulta do artigo 40º do Regulamento do Centro deArbitragem da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, aconvenção de arbitragem, por reflectir a vontade das partes eprever na sua cláusula 13ª, nº 6 que das decisões finais proferidaspelo tribunal arbitral cabe recurso, não pode ser entendida comoderrogada.

O objecto da reclamação é, assim, delimitado por via dasconclusões da alegação formuladas pelos reclamantes, o quepressupõe a ponderação sobre as seguintes questões:

i. DA ADMISSIBILIDADE DO RECURSO, TENDO EMCONSIDERAÇÃO A CONVENÇÃO DE ARBITRAGEMCELEBRADA ENTRE AS PARTES OU, AO INVÉS, DA SUA

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INADMISSIBILIDADE POR VIOLAÇÃO DO DISPOSTO NOSARTIGOS 16º E 40º DO REGULAMENTO DE ARBITRAGEM DACÂMARA DE COMÉRCIO E INDÚSTRIA PORTUGUESA(CENTRO DE ARBITRAGEM COMERCIAL);

E, caso se entenda pela validade do recurso apresentado, apreciar,

ii. DA TEMPESTIVIDADE DA INTERPOSIÇÃO DO RECURSO.

**

III . FUNDAMENTAÇÃO

A. FUNDAMENTAÇÃO DE FACTO

Com relevância para a decisão a proferir, importa ter emconsideração a alegação factual referida no relatório supra, cujoteor aqui se dá por reproduzido.

**

B. FUNDAMENTAÇÃO DE DIREITO

A arbitragem, que pode ser definida como um meio de resoluçãoalternativa de litígios em que a decisão, com base na vontade daspartes, é confiada a terceiros, tem o seu quadro legal actualmenteprevisto, quanto à arbitragem voluntária, na Lei nº 63/2011, de 14de Dezembro (LAV), que revogou a Lei nº 31/86, de 29 de Agosto.

A actual Lei da Arbitragem Voluntária entrou em vigor em 14 deMarço de 2012, conforme decorre do artigo 6º. E, segundo o artigo4º, nº 1 “ficam sujeitos ao novo regime da Lei da ArbitragemVoluntária os processos arbitrais que, nos termos do artigo 33º dareferida Lei, se iniciem após a sua entrada em vigor.

No caso em apreciação, a petição foi apresentada no TribunalArbitral em 22.06.2010 (fls. 858), datando a decisão recorrida de06.07.2012, pelo que não tem aplicação o preceituado no nº 2 doartigo 4º da Lei nº 63/2011, antes terá aqui aplicação supletiva aanterior LAV, aprovada pela Lei nº 31/86, de 29 de Agosto que, atéser revogada, sofreu uma única alteração com o Decreto-Lei nº38/2003, de 8 de Março.

Trata-se de uma lei que se limita a definir alguns princípiosdelimitadores e um conjunto de regras, na sua maioria susceptíveisde serem afastadas pelas partes, sem qualquer preocupação deprever um regime exaustivo regulador das arbitragens.

O tribunal arbitral (voluntário) assenta na autonomia da vontade,na iniciativa das partes, que acordam em submeter a resolução deum litígio a uma estrutura de natureza privada a que a lei

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reconhece poderes jurisdicionais.

A Constituição da República Portuguesa prescreve, a propósito dafunção jurisdicional, que a lei poderá institucionalizarinstrumentos e formas de composição não jurisdicional de conflitos(artigo 202º, nº 4), e faz expressa referência, no artigo 209º, n.º2,aos tribunais arbitrais e aos julgados de paz.

Qualquer litígio que não respeite a direitos indisponíveis pode sercometido pelas partes, mediante convenção de arbitragem, àdecisão de árbitros por si designados.

Os tribunais arbitrais estão previstos como uma categoriaautónoma de tribunais e encontram-se submetidos a um estatutofuncional similar ao dos tribunais judiciais, e as suas decisões têmnatureza jurisdicional, mas não são órgãos estaduais,correspondendo a sua actividade a um verdadeiro exercícioprivado da função jurisdicional (v. Acórdão do TribunalConstitucional n.º 230/86, de 08.07.1986, acessível na Internet, nosítio www.tribunalconstitucional.pt).

Corrobora-se, por conseguinte, a síntese formulada porFRANCISCO CORTEZ, A arbitragem voluntária em Portugal: dosricos homens aos tribunais privados, O Direito, ano 124.º, 1992, IV,535, quando refere que: “a arbitragem voluntária é contratual nasua origem, privada na sua natureza, jurisdicional na sua função epública no seu resultado”.

Como esclarece RAUL VENTURA, Convenção de arbitragem,ROA, ano 46, vol. 2, 1986, 301, 379 e 380, a convenção dearbitragem produz um efeito positivo e um efeito negativo. O efeitopositivo consiste em facultar a qualquer das partes a constituiçãode um tribunal arbitral competente para o julgamento de litígiosprevistos em convenção de arbitragem, faculdade essa que constituium direito potestativo a que corresponde a inerente sujeição daoutra parte à atribuição do julgamento do litígio ao tribunalarbitral.

O efeito negativo consiste na exclusão dos tribunais do Estado doconhecimento desse litígio. Daí que, a violação de convenção dearbitragem, com a consequente preterição de tribunal arbitralvoluntário, constitui excepção dilatória que, todavia, não é deconhecimento oficioso, determinando a absolvição da instância.

O respeito pela vontade exteriorizada na convenção de arbitragem,sendo um factor de certeza e de segurança jurídicas, representatambém a efectivação das consequências intencionadas peloexercício da liberdade de acção dos sujeitos, de que o negóciojurídico é instrumento na esfera das relações jurídicas.

No nosso ordenamento jurídico, consoante se reporte a litígios

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futuros ou a litígios já existentes, a convenção de arbitragem édesignada por cláusula compromissória ou por compromissoarbitral.

Distingue, com efeito, o artigo 1º, nº 2 da LAV, o compromisso, dacláusula compromissória, em consonância com as fontesinternacionais, mormente, o artigo II.1 da Convenção de NovaYork, de 10 de Junho 1958, (Convenção sobre o Reconhecimento ea Execução de Sentenças Arbitrais Estrangeiras, que acolheu anoção de convenção de arbitragem que aparecia no Protocolo deGenebra de 24.09.1923) ou o artigo 7º, nº 2 da Lei Modelo de 1985(Lei Modelo elaborado pela Comissão das Nações Unidas sobre oDireito do Comércio Internacional, de 21 de Junho de 1985), aoreferir que: “desde que por lei especial não esteja submetidoexclusivamente a tribunal judicial ou a arbitragem necessária,qualquer litígio que não respeite a direitos indisponíveis pode sercometido pelas partes, mediante convenção de arbitragem, à decisãode árbitros”, podendo a convenção de arbitragem ter por objecto umlitígio actual, ainda que se encontre afecto a tribunal judicial(compromisso arbitral), ou litígios eventuais emergentes de umadeterminada relação jurídica contratual ou extracontratual (cláusulacompromissória).

A cláusula compromissória é mais frequente do que o compromissoarbitral e revela-se, em regra, como uma cláusula inserta numcontrato de direito material, o qual é vulgarmente designado porcontrato principal, pois a cláusula tem a função acessória deestabelecer o meio de resolução de eventuais litígios futuros deleemergentes, mas não tem, todavia, de constar do documento emque o contrato principal está exteriorizado – cfr. MANUELPEREIRA BARROCAS, Manual de Arbitragem, Almedina 2010,158.

A convenção de arbitragem, qualquer que seja a sua modalidade,deve ser reduzida a escrito, embora o legislador seja bastanteflexível na forma de tal acordo (artigo 2º), podendo uma meratroca de correspondência ser aceite como consubstanciando umválido compromisso arbitral.

Quanto ao conteúdo da convenção de arbitragem, decorre do nº 3do artigo 2º da LAV que o compromisso arbitral deve determinarcom precisão o objecto do litígio, ao passo que a cláusulacompromissória deve especificar a relação jurídica a que os litígiosrespeitam.

Tendo a convenção de arbitragem a natureza de um acordo ounegócio jurídico processual tem como elementos essenciais:

a) A indicação das partes outorgantes; b) A determinação do litígio ou litígios abrangidos pela convenção;

c) A vontade de se submeter à arbitragem.

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Como esclarece MANUEL PEREIRA BARROCAS, ob. cit., 156 ess, a convenção de arbitragem é composta por elementosnecessários e por elementos facultativos, sendo os primeiros aquelessem os quais um acordo das partes relativo à resolução de litígios nãotem a natureza de convenção de arbitragem, ou seja, não vincula aspartes a submeter os litígios existentes ou futuros e um tribunalarbitral, nem fundamenta a sua constituição.

São elementos necessários, sem os quais a convenção não podeexistir:

a) a expressão da vontade das partes de que os litígios sejamresolvidos por arbitragem;

b) A indicação dos litígios entre as partes que serão resolvidos porarbitragem.

Mas, para além destes elementos necessários, a convenção podeconter outros elementos, cuja falta não prejudica a vinculação daspartes à submissão do litígio a um tribunal arbitral, nem aconstituição deste, mas permitem modelar a futura arbitragem.São, nomeadamente, elementos facultativos, a opção porarbitragem ad hoc ou institucionalizada; a atribuição aos árbitrosda faculdade de julgarem segundo a equidadeequidade; a determinação dasede da arbitragem; a fixação do número de árbitros; adeterminação das regras de processo; a renúncia ao recurso paraos tribunais judiciais.

No Direito da Arbitragem é pacífico o entendimento de que aconvenção de arbitragem, na modalidade de cláusulacompromissória, quando contida num contrato, mantémautonomia em relação a este, não acarretando a invalidade docontrato necessariamente a invalidade da convenção dearbitragem.

Acresce que a convenção de arbitragem atribui ao tribunalarbitral, constituído nos seus termos, o poder de resolver o litígio. Epara isso, o árbitro tem o poder de interpretar a convenção dearbitragem para determinar a sua extensão e limites, concluindo,quer pela sua competência, quer pela sua incompetência.

A este propósito estabelece o nº 1 do artigo 21.º da LAV o princípiode Kompetenz-Kompetenz e, no n.º 2, acolhe-se a noção deseparabilidade ou de autonomia ao dispor que: “A nulidade docontrato em que se insira uma convenção de arbitragem não acarretaa nulidade desta, salvo quando se mostre que ele não teria sidoconcluído sem a referida convenção”, adoptando-se o critério legalconstante do artigo 292.º do Código Civil, em matéria de redução.E, prevê-se no nº 3 do citado normativo que a incompetência dotribunal arbitral, nomeadamente por nulidade da convenção dearbitragem, “só pode ser arguida até à apresentação de defesa

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quanto ao fundo da causa, ou juntamente com esta.”.

Salienta RAÚL VENTURA, ob. cit., 369 que: “A autonomia daconvenção de arbitragem aparece normalmente ligada à Kompetenz-Kompetenz, tomando-se esta como uma consequência secundáriadaquela. Tecnicamente, porém, trata-se de questões distintas, pois éconcebível que o reconhecimento da autonomia não implique aatribuição ao tribunal arbitral da competência para decidir sobre asua própria competência; quando fosse arguida a nulidade daconvenção de arbitragem (por motivos específicos ou por motivos docontrato principal, extensivos à convenção de arbitragem) poderia arespectiva decisão caber ao tribunal estadual (…)”.

É consensual o entendimento que a convenção de arbitragem estásujeita às regras gerais de interpretação do negócio jurídico, nostermos conjugados dos artigos 236.º e 238.º do Código Civil – cfr.RAUL VENTURA, ob. cit., 365 e MANUEL PEREIRABARROCAS, ob. cit., 171.

A dúvida sobre o sentido da convenção de arbitragem pode surgir,quer a respeito de aspectos de regime: - a vontade das partes sobre acomposição do tribunal ou sobre as regras de processo a aplicar naarbitragem - quer, relativamente à própria existência, validade oueficácia da convenção de arbitragem.

Sucede que, por vezes, as convenções de arbitragem são irregularesou defeituosas.

Fala-se a este propósito de “cláusulas patológicas”, expressãoatribuída a F. EISEMAMM, Les Clauses Compromissoirespathologique, in Arbitrage Commercial: Essais in MemoriamEugenio Minoli, U.T.E.T., 1974, 120, para designar aquelascláusulas ambíguas ou de elementos errados mas que não afectam avalidade da estipulação de submeter certa matéria a árbitros.

Há, contudo, cláusulas em que a incorrecção, a ambiguidade ou acontradição é de tal modo grave que não podem deixar de seremconsideradas nulas. É o caso, por exemplo, de uma cláusula em quese submete o mesmo litígio a arbitragem e a um certo tribunalestadual, visto não se poder averiguar a vontade das partes.

Ao invés, existem outras situações em que a incorrecção,ambiguidade ou contradição não é tão grave, pelo que se procurarásalvar a validade da convenção, através de interpretação dadeclaração negocial, fazendo prevalecer, por motivos gerais, umacláusula sobre outra, ou atribuindo às duas cláusulasaparentemente contraditórias campos de aplicação distintos,conforme os litígios previstos. Mas, quando não for possíveldesfazer a contradição, a cláusula de arbitragem é equívoca e nula– cfr. a propósito destas convenções ambíguas e contraditórias, osexemplos concretos apontados por RAUL VENTURA, ob. cit. 367.

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Porém, sendo a cláusula compromissória nula, a extensão dessanulidade será regulado pelo artigo 292º do Código Civil, operandoo princípio da redução consagrado em tal normativo tambémdentro da própria cláusula compromissória.

Se apenas uma parte da cláusula compromissória é contrária à leinão se segue forçosamente a sua nulidade total. Como defendeRAÚL VENTURA, ob. cit., 371, a regra e a excepção do artigo 292ºdo C.C. aplicam-se ao caso, sendo, no entanto, indispensávelverificar se a parte válida da cláusula – porventura acompanhadapelos preceitos legais supletivos aplicáveis - ainda preenche osrequisitos essenciais de uma cláusula compromissória.

Iniciada a arbitragem, a tramitação deverá respeitar os seguintesprincípios fundamentais, previstos no artigo 16º da LAV, cujaofensa poderá inquinar a validade da decisão arbitral:

a) As partes serão tratadas com absoluta igualdade; b) O demandado será citado para se defender;

c) Em todas as fases do processo será garantida a estreitaobservância do princípio do contraditório;

d) Ambas as partes devem ser ouvidas, oralmente ou por escrito,antes de ser proferida a decisão final.

Quanto ao formalismo do processo, optou o legislador, no artigo 15ºda LAV, por permitir que as partes procedam à sua definição – comrespeito pelos princípios fundamentais antes apontados e enumeradosno artigo 16º - sendo habitual proceder-se à elaboração deregulamentos de arbitragem, mais ou menos detalhados.

De resto, o próprio nº 2 do citado normativo prescreve que oacordo das partes sobre tal matéria pode resultar da escolha de umregulamento emanado de uma das entidades autorizadas paraproceder a arbitragem institucionalizada.

Como refere MANUEL PEREIRA BARROCAS, ob. cit., 494, Oprincípio da definitividade da sentença arbitral tem sido acolhido pormuitos países que confiam na importância da arbitragem como modoautónomo de resolução de litígios.

A defesa de tal princípio assenta na concepção de que quem preferea arbitragem à jurisdição judicial sabe com o que conta, por issolhe é dada a faculdade de escolher os árbitros, definir as regras doprocesso e obter as vantagens próprias da arbitragem, remetendo-se para a acção de anulação a impugnação da sentença arbitral noscasos de violação dos princípios fundamentais do procedimentoarbitral e da ordem pública, preservando-se desta forma oobjectivo em que se funda a arbitragem, ou seja, a autonomia davontade das partes, a maior celeridade do processo, e a autonomiaprópria da arbitragem.

Não era este o entendimento expresso na LAV aqui aplicável. Com

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efeito, nos artigos 27.º e 29.º da LAV prevê-se a admissibilidade, emdeterminadas circunstâncias, da decisão arbitral poder ser anuladapelo Tribunal da Relação, e por via de recurso, caso as partes a elenão tiverem renunciado, e nos mesmos termos que caberiam deuma sentença proferida em Tribunal de Comarca.

Na verdade, o artigo 29º, nº 1 da LAV, admite expressamenterecurso da decisão arbitral, se as partes não tiverem renunciadoaos recursos. Daí o supra citado autor (MANUEL PEREIRABARROCAS) defender de jure condendo que não deveria a leipermitir o recurso da própria sentença arbitral final, salvo acordodas partes em contrário. E foi o que veio a suceder, já que o nº 4 doartigo 39º da Nova LAV (aprovada pela Lei nº 63/2011, de 14 deDezembro) estabelece que a sentença que se pronuncie sobre ofundo da causa (…) só é susceptível de recurso para o tribunalestadual competente no caso de as partes terem expressamenteprevisto tal possibilidade na convenção de arbitragem (…).

Com base no regime jurídico antes exposto, vejamos o que sucedeno caso em apreciação.

As partes, num contrato entre elas celebrado, em 25 de Outubro de2007, atinente à compra e venda de acções, estabeleceram aseguinte cláusula:

“1. Qualquer litígio decorrente da interpretação e execução dopresente acordo será resolvido por arbitragem, devendo todas aspartes intervir na sua formação e funcionamento segundo os ditamesda boa-fé.

2. O tribunal arbitral será constituído por três árbitros, sendo dois departe e um terceiro escolhido por estes, que presidirá.

3. O tribunal arbitral funcionará em Lisboa sob a égide do Centro deArbitragem Comercial, nos termos do Regulamento do tribunalArbitral do Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércioe Indústria Portuguesa/Associação Comercial de Lisboa e daAssociação Comercial do Porto / Câmara do Comércio e Indústria doPorto.

4. O tribunal arbitral deverá constituir-se no prazo máximo de ummês após a notificação da parte que pretenda recorrer a arbitragem àparte em conflito, devendo a decisão final ser proferida no prazomáximo de seis meses após a apresentação do último articulado noprocesso, caso contrário é livre o recurso ao tribunal comum.

5. A parte que pretenda recorrer a arbitragem dará conhecimentodisso à outra parte, por carta registada com aviso de recepção, daqual deverá constar com precisão o objecto da questão ou questõesdecorrentes do presente Acordo em conflito.

6. O tribunal arbitral julgará de direito, de acordo com a leiportuguesa, cabendo recurso das decisões finais que venham a serproferidas pelo tribunal arbitral.

Trata-se, como é bom de ver, de uma convenção de arbitragem, na

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modalidade de cláusula compromissória, integrada num contratode direito material, tendo a função acessória de estabelecer o meiode resolução de eventuais litígios futuros dele emergentes, atravésda manifestação de vontade de os submeter a uma estrutura denatureza privada – arbitragem – especificando, no seu nº 1, arelação jurídica a que os litígios respeitam e a determinaçãodaqueles que são abrangidos pela convenção - Qualquer litígiodecorrente da interpretação e execução do presente acordo.

Para além destes elementos essenciais, acordaram as partes eminscrever na mencionada cláusula compromissória, a sua opção porsubmeter os litígios a uma arbitragem institucionalizada,identificando-a, determinando onde a mesma funcionaria - Centrode Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e IndústriaPortuguesa/Associação Comercial de Lisboa – e acordando aindasobre as regras de processo, ou seja, nos termos do Regulamento doaludido Centro.

E, o Regulamento de Arbitragem que, no Centro de Arbitragem daCâmara de Comércio e Indústria Portuguesa, estava em vigor nomomento da apresentação do requerimento de arbitragem noSecretariado do Centro – 22.06.2010 - era aquele que foi aprovadonas reuniões do Conselho do referido Centro, de 18 de Junho e 19de Julho de 2008, muito embora na data da outorga do contrato noqual está inserto a cláusula compromissória se encontrasse emvigor o Regulamento que havia sido aprovado em 1 de Outubro de1987, com as alterações aprovadas em 31.01.1992 e em 13.12.2005mas que, no essencial e no que aqui releva, pouco diferem, peseembora a sua diferente redacção.

Para a apreciação da questão aqui em apreciação importa, assim,ter em consideração os seguintes normativos do aludidoRegulamento.

Estabelece o artigo 2º que: 1 – Para além das normais legais aplicáveis, a submissão do litígio ao

Centro de Arbitragem Comercial envolve a aceitação do seuregulamento, parte integrante da convenção de arbitragem.

2 – O regulamento aplicável ao procedimento arbitral será o queestiver em vigor à data da instauração do processo arbitral, salvo seas partes tiverem acordado aplicar o regulamento em vigor à data daconvenção de arbitragem.

Preceitua o artigo 16º que: 1 – As partes podem, na convenção de arbitragem ou ulteriormente,

estabelecer regras processuais que não contendam com as disposiçõesinderrogáveis do presente regulamento.

2 – A eficácia da convenção sobre regras processuais que sejaposterior ao início do processo arbitral depende, conforme o caso, daconcordância do Presidente do Centro, até à constituição do tribunalarbitral, ou deste, depois de se encontrar constituído.

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3 – O tribunal arbitral pode sempre fixar regras processuais aobservar, desde que respeitem as regras inderrogáveis do presenteregulamento.

Na cláusula compromissória em apreço, as partes estabeleceramexpressamente regras processuais, quer quanto ao número deárbitros, quer quanto aos prazos para constituir o tribunal arbitrale para a prolação de decisão final, o que é admitido pelos artigos 7º,nº 3 e 32º, nº 1 do identificado Regulamento.

Estatui, por seu turno, o artigo 26.º que: 1 – Apresentadas as peças previstas nos números anteriores, o

Presidente do Centro definirá a composição do tribunal arbitral,designando o árbitro ou árbitros que lhe caiba nomear, nos termos daconvenção de arbitragem e do presente regulamento, sem prejuízo dodisposto no número seguinte.

2 – O Presidente sobrestará à definição da composição do tribunalarbitral nos seguintes casos:

a) Inexistência ou manifesta nulidade da convenção de arbitragem; b) Incompatibilidade manifesta entre a convenção de arbitragem e

disposições inderrogáveis do presente Regulamente, designadamentea previsão, na convenção de arbitragem, de recurso da decisão finaldo tribunal arbitral;

(…) 3 – O tribunal arbitral considera-se constituído com a aceitação do

encargo por todos os árbitros que o compõem.

Consagra-se no artigo 40.º que: 1 – A decisão final do tribunal arbitral não é susceptível de recurso.

2 – A submissão do litígio ao Centro de Arbitragem Comercialenvolve a renúncia aos recursos.

Ora, na cláusula compromissória aqui em causa, as partesacordaram submeter os eventuais litígios futuros a um tribunalarbitral institucionalizado (Centro de Arbitragem da Câmara deComércio e Indústria Portuguesa), adoptando o regulamento emvigor nesse tribunal, no qual, de harmonia com o nº 2 do artigo 40º,a submissão do litígio ao referido Centro de Arbitragem envolve arenúncia aos recursos e, simultaneamente, acordaram que dasdecisões finais que venham a ser proferidas por tal tribunalarbitral caberia recurso.

Estamos, portanto, perante uma cláusula arbitral contraditória,pelo que nos termos do nº 2 alínea b) do artigo 26º do Regulamento,e dada a manifesta incompatibilidade expressamente ali prevista, aconstituição do Tribunal Arbitral pelo Presidente do Centro deArbitragem da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa,deveria ter sido antecedida pela interpretação da aludida cláusula,decidindo-se sobre essa incompatibilidade, actuação que, aliás,sempre se compaginaria com o princípio de Kompetenz-kompetenz aque acima se aludiu.

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Mas, não se tendo assim procedido, e tratando-se, como se trata, deuma cláusula compromissória “patológica”, porque contraditóriosos seus números 3 e 6, há que verificar se é possível salvar avalidade da convenção arbitral através da interpretação dadeclaração negocial, por forma a apurar se as partes pretendiamuma arbitragem institucionalizada determinada ou se, ao invés, arespectiva vontade era a de pretenderem uma arbitragem ad hocregulada pelo Regulamento do Centro de Arbitragem Comercial.

A interpretação da declaração exarada na convenção dearbitragem terá de ser efectuada de acordo com as normasconstantes dos artigos 236º e 238º do Código Civil, segundo as quaisas declarações devem valer com o sentido que um declaratárionormal, colocado na posição do real declaratário, possa deduzir docomportamento do declarante.

É que, na interpretação da declaração negocial, consagra a nossalei a chamada teoria da impressão do destinatário.

Nos termos do nº 1 do artigo 236º do Código Civil, "a declaraçãonegocial vale com o sentido que um declaratário normal, colocado naposição do real declaratário, possa deduzir do comportamento dodeclarante, salvo se este não puder razoavelmente contar com ele ".E, o nº 2 acrescenta: "Sempre que o declaratário conheça a vontadereal do declarante, é de acordo com ela que vale a declaraçãoemitida".

Como esclarecem PIRES DE LIMA E A. VARELA, Código CivilAnotado, vol. I, 3ª ed., 222, a regra estabelecida no nº 1, para oproblema básico da interpretação das declarações de vontade é esta: osentido decisivo da declaração negocial é aquele que seria apreendidopor um declaratário normal, ou seja, medianamente instruído ediligente, colocado na posição do declaratário real, em face docomportamento do declarante.

Exceptuam-se apenas dois casos: - de não poder ser imputado aodeclarante, razoavelmente, aquele sentido ou de o declaratárioconhecer a vontade real do declarante.

Quando às circunstâncias atendíveis para a interpretação, refereMOTA PINTO, Teoria Geral do Direito Civil, 421 que serãoatendíveis todos os coeficientes ou elementos que um declaratáriomedianamente instruído, diligente e sagaz, na posição dedeclaratário efectivo, teria tomado em conta.

Para HEINRICH EWALD HORSTER, A Parte Geral do CódigoCivil Português - Teoria Geral do Direito Civil – 510, a normalidadedo declaratário, que a lei toma como padrão, exprime-se não só nacapacidade de entender o texto ou o conteúdo da declaração, mastambém na diligência para recolher todos os elementos que,coadjuvando a declaração, auxiliem a descoberta da vontade realdo declarante.

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A teoria da impressão do destinatário impõe, por conseguinte, aodeclaratário, a apreensão do sentido objectivo que resulta dadeclaração, independentemente do conhecimento da verdadeiraintenção do declarante.

Estando em causa uma declaração reduzida a escrito, para ainterpretação da mesma deverá recorrer-se à referida doutrinaobjectivista da teoria da impressão do destinatário, atendendo-se atodas as circunstâncias que rodearam a celebração do contrato,prevalecendo o sentido coincidente com a vontade real doscontratantes, desde que tenha um mínimo de correspondência norespectivo texto contratual, como decorre do disposto no artigo238º do Código Civil.

Em resultado do sentido literal das declarações exaradas nacláusula compromissória, considera-se que as partes pretendiam,efectivamente, submeter o litígio a uma específica arbitrageminstitucionalizada – a do Centro de Arbitragem da Câmara deComércio e Indústria Portuguesa.

Ora, não seja crível que as partes desconhecessem o conteúdo doRegulamento do Tribunal Arbitral ao qual submeteram o litígio e,não tendo sido invocado qualquer vício da vontade, não podedeixar de se entender, tendo em consideração a aludida doutrinaobjectivista da teoria da impressão do destinatário, que as partesdeclararam pretender afastar a norma do Regulamento queconsagra a irrecorribilidade da decisão arbitral (artigo 40º), nãotendo o tribunal arbitral se pronunciado – como poderia nostermos do nº 2 do artigo 26º do Regulamento – sobre tal pretensãodas partes.

E, não se diga, como parece defender a decisão reclamada, que aspartes ao submeterem o litígio ao Regulamento do TribunalArbitral do Centro de Arbitragem Comercial da Câmara deComércio e Indústria Portuguesa, por ser posterior à convenção deArbitragem, se há-de entender como aceitação de renúncia aorecurso, nos termos previstos no Regulamento.

É que, não teriam as partes de se pronunciar, de novo, a propósitoda sua pretensão de submeterem a recurso a decisão arbitral, umavez que previamente o haviam acordado, e de forma expressa, naconvenção de arbitragem, convenção essa que o Tribunal Arbitralnão questionou no momento próprio, gerando nas partes aconfiança de que a decisão final seria susceptível de recurso como,efectivamente, estas haviam acordado na cláusula compromissória.Tal princípio da confiança, concomitantemente com a assumidavontade das partes, não pode deixar de sobrelevar face às normasdo Regulamento do Tribunal Arbitral do Centro de ArbitragemComercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa,maxime, o seu artigo 40º.

Refira-se, por último, que o entendimento aqui sufragado não

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acarreta qualquer violação ao disposto nos artigos 20º, nº 1 e 202º,nºs 1 e 4 da Constituição da República Portuguesa, como invocamos reclamados na sua contra alegação de recurso.

Na verdade, e como recorda o Acórdão do Tribunal Constitucionalnº 230/2013, de 24.04.2013, acessível no supra mencionado sítio daInternet, “A possibilidade de institucionalizar formas de composiçãonão jurisdicional de conflitos, nos termos do n.º 4 desse mesmo artigo202º, e de submissão de litígios a uma jurisdição arbitral, como prevêo n.º 2 do artigo 209º, não significa que o recurso a um tribunalestadual não seja ainda a principal via de acesso ao direito e que nãopossam ser estabelecidos, com base nessa reserva de jurisdição, certoslimites à constituição de tribunais arbitrais.

E deverá ter-se presente que o direito de acesso aos tribunais, comodireito fundamental correlacionado com a reserva da funçãojurisdicional, é também ele um “corolário lógico da tendencialresolução dos conflitos através de tribunais estaduais”. A estepropósito PEDRO GONÇALVES observa que a garantia do artigo20º, n.º 1, da Constituição, é a do «direito de acesso a tribunaisestaduais, não tendo sentido dizer-se que ali se garante o acesso atribunais a constituir por iniciativa dos interessados. O que ainstituição de tribunais arbitrais voluntários representa, ou poderepresentar, é a voluntária renúncia ao direito de acesso aos tribunaisdo Estado» (Entidades Privadas com Poderes Públicos, Coimbra,2005, 565, nota 450).

Nestes termos, e uma vez que as partes afastaram a mencionadaregra (artigo 40º do Regulamento do Centro de Arbitragem daCâmara de Comércio e Indústria Portuguesa), há que aplicar onormativo constante do artigo 29º da Lei nº 31/86, de 29 de Agosto,cabendo recurso da decisão arbitral para o tribunal da relação.

* Face à admissibilidade de recurso incidente sobre a sentença

proferida pelo tribunal arbitral, sempre terá aplicabilidade opreceituado nos artigos 685º, nº 1, 143º e 144º, e não o disposto noartigo 44º do Regulamento do Centro de Arbitragem da Câmara deComércio e Indústria Portuguesa que nada dispõe, relativamente àinterposição de recurso, sendo certo que tão pouco ali se definequando se considera recebida a notificação.

Será portanto, aplicável o artigo 254º, nºs 1 e 2 do Código doProcesso Civil conjugado com o artigo 21º-A, nº 5 da Portaria nº114/2008, de 6/2 (caso a notificação às partes haja sido efectuadaelectronicamente), aí se consagrando duas presunções – anotificação por transmissão electrónica de dados presume-se feitana data da expedição e a expedição presume-se feita no terceiro diaposterior ao da elaboração da notificação (v. Ac. STJ de 19.01.2012,C.J. 2012, 1, 48).

Assim, tendo a decisão arbitral sido notificada às partes em

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09.07.2012, forçoso é concluir que o recurso interposto pelosreclamantes, em 27.09.2012, se mostra tempestivamenteapresentado, ainda que no último dia do prazo.

Destarte, julga-se procedente a reclamação.

* Admite-se, consequentemente, o recurso interposto pelos

reclamantes, o qual é de apelação, a subir imediatamente, nosautos, com efeito meramente devolutivo.

***

IV. DECISÃO

Pelo exposto, defere-se a reclamação apresentada, revogando-se odespacho reclamado, substituindo-se por outro no qual se admite orecurso de apelação interposto pelos reclamantes, “D” E “C”, asubir imediatamente, nos autos, com efeito devolutivo.

Requisite-se ao tribunal recorrido o respectivo processo.

Custas pelos reclamados.

Notifique.

Lisboa, 17 de Dezembro de 2013

Ondina Carmo Alves