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Acordos firmados em negociação coletiva devem ter força de lei Robson Braga de Andrade Especial para o UOL 02/04/2016 06h00 m n H { Ouvir texto J Imprimir F Comunicar erro Tempos difíceis, como o que enfrentamos no Brasil, nos estimulam a encontrar meios de aumentar nossa competitividade tanto no mercado internacional como no doméstico. Desse modo, tentamos construir um cenário mais positivo, que permita o estabelecimento de condições favoráveis à retomada dos investimentos produtivos e à geração de empregos. Isso contribui para a volta do crescimento econômico, com equilíbrio social e sustentabilidade ambiental. Os baixos índices de criação de postos de trabalho preocupam e indicam que, cada dia mais, o embate capital versus trabalho está ultrapassado. Na verdade, o que está em pauta é a questão da inclusão em contraposição à exclusão. Em suma, trata-se de obter o efetivo alinhamento entre os interesses sociais e os econômicos. Para compatibilizar esses dois fatores, nada mais indicado do que negociar, ajustar, adequar. Relações de trabalho condizentes com a realidade e com as necessidades das pessoas e das empresas são cruciais. Para alcançar esse estágio, empregados e empregadores têm, na negociação coletiva, um poderoso instrumento de diálogo e de entendimento. Pela negociação, eles superam conflitos e chegam a termos que equilibram os interesses levados à mesa. Especialmente em momentos de crise, é conversando que se criam condições para que uma empresa atravesse a tormenta, atendendo aos anseios comuns e mantendo o negócio em atividade. Daí a importância do debate, pautado no Congresso Nacional e em propostas recentes do Executivo, que o negociado prevalece sobre o legislado, valorizando o diálogo e o ajuste comum como saída prioritária. Essa medida ratifica e dá força ao que já está previsto na Constituição Federal de 1988. Por isso, conta com o apoio da indústria brasileira e de todo o setor produtivo. Acordos firmados legitimamente, pactuados em livre negociação coletiva, devem ter força de lei. Nesse cenário de crise econômica, com perda crescente de postos de trabalho, é preciso prestigiar soluções de consenso e se apoiar sobre os pilares da competitividade, produtividade e geração de empregos. Hoje, a inexistência de um ambiente que favoreça a negociação entre empregados e empregadores resulta num sistema burocrático. Ele fomenta conflitos e se mostra incapaz de atender as novas formas e necessidades do trabalho e da produção, além de ser insuficiente para lidar, de maneira adequada, com os interesses dos próprios trabalhadores. A consequência direta desse quadro é a constante insegurança jurídica nas negociações existentes. Em 2014, foram realizadas, nos mais diversos setores, quase 7 mil convenções coletivas, firmadas entre sindicatos de trabalhadores e de empresas. Além disso, foram pactuados mais de 36 mil acordos coletivos com empresas específicas. Anulações de instrumentos coletivos na Justiça do Trabalho são recorrentes, o que contribui ainda mais para o excesso de judicialização. Conforme dados divulgados pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em 2014, a Justiça do Trabalho tinha 8,3 milhões de processos trabalhistas. Desses, 3,9 milhões eram casos novos (47,6%) e 4,4 milhões, pendências de anos anteriores (52,4%). No ano passado, 4 milhões de casos foram julgados. Página 1 de 4 Acordos firmados em negociação coletiva devem ter força de lei - Notícias - UOL ... 06/04/2016 http://noticias.uol.com.br/opiniao/coluna/2016/04/02/acordos-firmados-em-negociaca...

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Acordos firmados em negociação coletiva devem ter força de lei

Robson Braga de Andrade Especial para o UOL

02/04/2016 06h00

m n H {Ouvir texto J Imprimir F Comunicar erro

Tempos difíceis, como o que enfrentamos no Brasil, nos estimulam a encontrar

meios de aumentar nossa competitividade tanto no mercado internacional como no

doméstico. Desse modo, tentamos construir um cenário mais positivo, que permita o

estabelecimento de condições favoráveis à retomada dos investimentos produtivos

e à geração de empregos. Isso contribui para a volta do crescimento econômico,

com equilíbrio social e sustentabilidade ambiental.

Os baixos índices de criação de postos de trabalho preocupam e indicam que, cada

dia mais, o embate capital versus trabalho está ultrapassado. Na verdade, o que

está em pauta é a questão da inclusão em contraposição à exclusão. Em suma,

trata-se de obter o efetivo alinhamento entre os interesses sociais e os econômicos.

Para compatibilizar esses dois fatores, nada mais indicado do que negociar, ajustar,

adequar. Relações de trabalho condizentes com a realidade e com as necessidades

das pessoas e das empresas são cruciais. Para alcançar esse estágio, empregados

e empregadores têm, na negociação coletiva, um poderoso instrumento de diálogo

e de entendimento.

Pela negociação, eles superam conflitos e chegam a termos que equilibram os

interesses levados à mesa. Especialmente em momentos de crise, é conversando

que se criam condições para que uma empresa atravesse a tormenta, atendendo

aos anseios comuns e mantendo o negócio em atividade.

Daí a importância do debate, pautado no Congresso Nacional e em propostas

recentes do Executivo, que o negociado prevalece sobre o legislado, valorizando o

diálogo e o ajuste comum como saída prioritária. Essa medida ratifica e dá força ao

que já está previsto na Constituição Federal de 1988. Por isso, conta com o apoio

da indústria brasileira e de todo o setor produtivo.

Acordos firmados legitimamente, pactuados em livre negociação coletiva, devem ter

força de lei. Nesse cenário de crise econômica, com perda crescente de postos de

trabalho, é preciso prestigiar soluções de consenso e se apoiar sobre os pilares da

competitividade, produtividade e geração de empregos. 

Hoje, a inexistência de um ambiente que favoreça a negociação entre empregados

e empregadores resulta num sistema burocrático. Ele fomenta conflitos e se mostra

incapaz de atender as novas formas e necessidades do trabalho e da produção,

além de ser insuficiente para lidar, de maneira adequada, com os interesses dos

próprios trabalhadores.

A consequência direta desse quadro é a constante insegurança jurídica nas

negociações existentes. Em 2014, foram realizadas, nos mais diversos setores,

quase 7 mil convenções coletivas, firmadas entre sindicatos de trabalhadores e de

empresas. Além disso, foram pactuados mais de 36 mil acordos coletivos com

empresas específicas.

Anulações de instrumentos coletivos na Justiça do Trabalho são recorrentes, o que

contribui ainda mais para o excesso de judicialização. Conforme dados divulgados

pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em 2014, a Justiça do Trabalho tinha 8,3

milhões  de processos trabalhistas. Desses, 3,9 milhões eram casos novos (47,6%)

e 4,4 milhões, pendências de anos anteriores (52,4%). No ano passado, 4 milhões

de casos foram julgados.

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Diante desses números, o diálogo permanente é imprescindível. A negociação

coletiva constitui a ferramenta ideal para dar uma nova leitura às relações do

trabalho no Brasil. O tema faz parte da agenda prioritária da CNI (Confederação

Nacional da Indústria), que defende a urgência de se adotarem medidas de

estímulo, fomento e valorização da negociação coletiva, além do efetivo

reconhecimento dos instrumentos firmados.

Entre os avanços necessários no Brasil, o estímulo à valorização e ao

reconhecimento das negociações coletivas é fundamental para a modernização e o

fortalecimento das relações do trabalho. Tal progresso é fator determinante da

melhoria do ambiente de negócios e do aumento da competitividade da nossa

economia.

Não há mais espaço para a perpetuação da burocracia, da rigidez e da insegurança

jurídica nessa e em outras áreas. Precisamos fazer os devidos ajustes nas relações

de trabalho, o que, certamente, beneficiará a todos, trazendo prosperidade e

estimulando o crescimento econômico.

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ROBSON BRAGA DE ANDRADE

66 anos, é empresário e presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria) ()

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06 DE ABRIL

Políticas de desarmamento não reduziram homicídios no Brasil(http://click.uol.com.br/?

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05 DE ABRIL

Custear planos de saúde é cada vez mais inviável para empresas(http://click.uol.com.br/?

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04 DE ABRIL

Mensageiro do nordestino, caiu no gosto popular. Cordel é tudo, até poesia(http://click.uol.com.br/?rf=opiniao_noticias_&u=http://noticias.uol.com.br/opiniao/coluna/2016/04/04/mensageiro-do-nordestino-caiu-no-gosto-popular-cordel-e-tudo-ate-poesia.htm)

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03 DE ABRIL

80 depois de 'Raízes do Brasil', onde está o brasileiro cordial?(http://click.uol.com.br/?

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Com paraísos fiscais perto do fim, regularizar bens é a melhor opção(http://click.uol.com.br/?

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01 DE ABRIL

Consultório médico não é lugar para conflitos políticos(http://click.uol.com.br/?

rf=opiniao_noticias_&u=http://noticias.uol.com.br/opiniao/coluna/2016/04/01/consultorio-medico-nao-e-lugar-para-conflitos-politicos.htm)

52 anos após o golpe, país não aceita o valor universal da democracia(http://click.uol.com.br/?

rf=opiniao_noticias_&u=http://noticias.uol.com.br/opiniao/coluna/2016/04/01/52-anos-apos-o-golpe-pais-nao-aceita-valor-universal-da-democracia.htm)

31 DE MARÇO

ONU menospreza terrorismo e prefere focar críticas em Israel(http://click.uol.com.br/?

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30 DE MARÇO

'Pedaladas' de Dilma não seriam rejeitadas sob normalidade política(http://click.uol.com.br/?

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29 DE MARÇO

Corrupção de campanhas milionárias desestabiliza a democracia(http://click.uol.com.br/?

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28 DE MARÇO

É possível manter-se motivado em um cenário de crise(http://click.uol.com.br/?

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27 DE MARÇO

Pagar impostos não isenta cidadãos de ajudar na limpeza urbana(http://click.uol.com.br/?

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26 DE MARÇO

Aumentar tributação do cigarro favorece contrabando e crime(http://click.uol.com.br/?

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25 DE MARÇO

Empresas põem sobrevivência em risco ao negligenciar mudanças(http://click.uol.com.br/?

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