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Acórdão nº STJ_08B3884 de 18-12-2008 - Supremo Tribunal de Justiça - BDJUR Oposição ao Procedimento de Injunção em Transacção Comercial - Pagamento de Quantia Devida e Juros de Mora Acordam no Supremo Tribunal de Justiça I AA Importação e Exportação, Ldª intentou, no dia 2 de Agosto de 2006, contra BB – Sociedade de Transportes, Ldª, procedimento de injunção, pedindo a sua notificação para lhe ser paga a quantia de 11 900 e juros de mora no montante de 3 020, com fundamento em contrato de compra e venda de galeras celebrado no dia 4 de Junho de 2004 e no débito do preço. A requerida deduziu oposição, negando o débito invocado pela autora e, para a hipótese de se considerar o contrário, invocou o prejuízo decorrente de ela lhe ter retido mercadorias, originando-lhe dano derivado de lucro cessante de 15 000 e a respectiva compensação. Realizado o julgamento, produzida a prova sobre os factos da petição e da oposição, no dia 20 de Novembro de 2007, foi proferida sentença em acta por via da qual a ré foi condenada a pagar à autora a quantia de 11 900 e juros de mora vencidos desde 4 de Junho de 2004 e vincendos. Interpôs a ré recurso de apelação, invocando que, por não ter sido apresentada réplica pela autora, deviam ser considerados provados os factos de excepção que afirmou e ser absolvida do pedido, e a Relação, por acórdão proferido no dia 8 de Julho de 2008, negou-lhe provimento ao recurso. Interpôs a apelante recurso de revista, formulando, em síntese, as seguintes conclusões de alegação: - os autos foram remetidos às varas cíveis e passaram a seguir a forma do processo ordinário; - a compensação, como causa de extinção de obrigações, até ao limite do crédito do autor tem a natureza de excepção peremptória; - ao contrário do que referiu a Relação, face ao disposto nos artigos 3º, nº 4, e 502º, nº 1, do Código de Processo Civil, a recorrida dispunha de um articulado de resposta à excepção de compensação invocada pela recorrente; - por força do artigo 490º, nº 2, e 505º do Código de Processo Civil, como a recorrida não impugnou a matéria de facto alegada de novo em sede de compensação pela recorrente, cumpria considerar provados os factos integrantes desta excepção; - os factos não impugnados consideram-se provados mercê do acordo

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Acórdão nº STJ_08B3884 de 18-12-2008 - Supremo Tribunal deJustiça - BDJUR

Oposição ao Procedimento de Injunção em Transacção Comercial - Pagamento deQuantia Devida e Juros de Mora

Acordam no Supremo Tribunal de Justiça

I AA Importação e Exportação, Ldª intentou, no dia 2 de Agosto de 2006, contra BB– Sociedade de Transportes, Ldª, procedimento de injunção, pedindo a sua notificaçãopara lhe ser paga a quantia de € 11 900 e juros de mora no montante de € 3 020, comfundamento em contrato de compra e venda de galeras celebrado no dia 4 de Junhode 2004 e no débito do preço. A requerida deduziu oposição, negando o débito invocado pela autora e, para ahipótese de se considerar o contrário, invocou o prejuízo decorrente de ela lhe terretido mercadorias, originando-lhe dano derivado de lucro cessante de € 15 000 e arespectiva compensação. Realizado o julgamento, produzida a prova sobre os factos da petição e daoposição, no dia 20 de Novembro de 2007, foi proferida sentença em acta por via daqual a ré foi condenada a pagar à autora a quantia de € 11 900 e juros de moravencidos desde 4 de Junho de 2004 e vincendos. Interpôs a ré recurso de apelação, invocando que, por não ter sido apresentadaréplica pela autora, deviam ser considerados provados os factos de excepção queafirmou e ser absolvida do pedido, e a Relação, por acórdão proferido no dia 8 deJulho de 2008, negou-lhe provimento ao recurso. Interpôs a apelante recurso de revista, formulando, em síntese, as seguintesconclusões de alegação:

- os autos foram remetidos às varas cíveis e passaram a seguir a forma doprocesso ordinário; - a compensação, como causa de extinção de obrigações, até ao limite docrédito do autor tem a natureza de excepção peremptória; - ao contrário do que referiu a Relação, face ao disposto nos artigos 3º, nº 4, e502º, nº 1, do Código de Processo Civil, a recorrida dispunha de um articulado deresposta à excepção de compensação invocada pela recorrente; - por força do artigo 490º, nº 2, e 505º do Código de Processo Civil, como arecorrida não impugnou a matéria de facto alegada de novo em sede de compensaçãopela recorrente, cumpria considerar provados os factos integrantes desta excepção; - os factos não impugnados consideram-se provados mercê do acordo

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formado por declarações convergentes - afirmação por uma das partes e confissãotácita de outra; - os factos admitidos por acordo que não constem da matéria de factoprovada pelas instâncias devem ser tidos em consideração pelo Supremo Tribunal deJustiça se relevantes forem para a decisão do pleito; - ao não haver considerado provados os factos alegados nos artigos 11º a 29ºda oposição, e, em face dos mesmos, atentas as normas dos artigos 847º do CódigoCivil, ao não ter julgado procedente a excepção de compensação, absolvendo arecorrente de pagar à recorrida € 15 000, o acórdão violou os artigos 7º, nº 2, doDecreto-Lei nº 32/2003, de 17 de Fevereiro, 461º, 462º, 502º, nº 1, 3º, nº 4, 505º e490º, nº 2, do Código de Processo Civil e 847º e seguintes do Código Civil, pelo quedeve ser revogado; - o Supremo Tribunal de Justiça deve considerar provados os factos alegadosnos artigos 11º a 29º da oposição, e, em face deles, julgar procedente a excepção dacompensação, absolvendo-se a recorrente do pedido.

II É a seguinte a factualidade declarada assente no acórdão recorrido:

1. Em 2004 a requerente negociou e acordou com a requerida a venda a estade duas galeras, marca “SAMRO”, que se encontravam matriculadas em França, pelopreço global de € 23 800, incluindo o imposto sobre o valor acrescentado. 2. A requerente emitiu a factura referida no requerimento inicial pelo preçoglobal de € 20 800, e as referidas galeras foram matriculadas em Portugal, e arequerente pagou por essas matrículas o valor global de € 1 031,71. 4. A requerida emitiu à compradora as facturas n.ºs ........... e .........., ambas de30 de Abril de 2006, no valor de € 11 900, incluindo o imposto sobre o valoracrescentado. 5. A requerida alienou posteriormente à sociedade CC, Lda. as ditas galeras,tendo, em 21 de Julho de 2004, aquela a sociedade entregue o valor de € 11 500, àrequerida e, em 20 de Setembro de 2006, o valor de mais € 11 900. 6. A requerida emitiu a favor da requerente o cheque cuja cópia consta defolhas 21, cujo valor foi pago à requerente, correspondente ao valor de parte do preço,deduzidas as despesas com a matrícula das galeras. 7. A requerida não pagou à requerente o valor de € 11 900.

III A questão essencial decidenda é a de saber se a recorrente deve ou não pagar àrecorrida a quantia de € 11 900 acrescida de juros de mora. A resposta à referida questão pressupõe a análise da seguinte problemática:

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- lei processual aplicável ao recurso; - regime legal relativo ao procedimento de injunção; - regime legal adjectivo e substantivo concernente à compensação decréditos; - verificam-se ou não no caso os requisitos substantivos da compensação decréditos? - devem ou não considerar-se admitidos por acordo os factos relativos àpretensão de compensação deduzida pela recorrente? - deve a recorrente ser absolvida do pedido formulado pela recorrida no seuconfronto?

Vejamos, de per se, cada uma das referidas subquestões.

1. Comecemos com uma breve referência à lei adjectiva aplicável ao recurso. Como o procedimento de injunção em que a acção declarativa de condenação foitransmutada foi instaurado no dia 2 de Agosto de 2006, ao recurso não é aplicável oregime processual decorrente do Decreto-Lei nº 303/2007, de 24 de Agosto. É-lhe, por isso, aplicável o regime processual anterior ao implementado peloreferido Decreto-Lei (artigos 11º e 12º).

2. Continuemos, ora, com uma breve análise do regime legal relativo aoprocedimento de injunção em causa. Estamos perante um procedimento de injunção relativo a transacção comercial,instaurado após a sétima alteração ao Decreto-Lei nº 269/98, de 1 de Setembro, porvia da Lei nº 14/2006, de 26 de Abril, pelo que não relevam as alterações posteriores,tal como não é aplicável a alteração das alçadas decorrente do referido Decreto-Lei nº303/2007, de 24 de Agosto. O valor da alçada da Relação ao tempo da instauração do procedimento deinjunção em análise cifrava-se em € 14 963, 94 (artigos 24º, nº 1, da Lei deOrganização e Funcionamento dos Tribunais Judiciais e 3º do Decreto-Lei nº323/2001, de 14 de Dezembro). O valor processual do referido procedimento de injunção, tal como o da acçãodeclarativa em que for transmutado, é o do pedido, atendendo-se, quanto aos juros,para o efeito, aos vencidos até à data da apresentação do respectivo requerimento(artigo 18º do Anexo ao Decreto-Lei nº 269/98, de 1 de Setembro). Assim, estamos perante um procedimento de injunção de valor superior ao daalçada da Relação, cuja causa de pedir se reporta a transacções comerciais, e em

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relação ao qual a requerida deduziu oposição. Como o objecto deste procedimento de injunção se circunscreve a umatransacção comercial, são-lhe aplicáveis as pertinentes normas do Decreto-Lei nº32/2003, de 17 de Fevereiro, por via do qual foi transposta a Directiva 2000/35/CE doParlamento Europeu e do Conselho, de 29 de Junho, relativa a medidas contra osatrasos de pagamento nas transacções comerciais. A aplicação do regime da injunção a esta matéria implicou alguma especialidadeem relação ao regime geral. Com efeito, independentemente do valor da dívida, o atraso no pagamento detransacções comerciais nos termos do Decreto-Lei nº 32/2003, de 17 de Fevereiro,confere ao credor o direito de recorrer ao procedimento de injunção (artigo 7º, nº 1). Todavia, no caso de o procedimento e injunção ter valor superior ao da alçada daRelação - como é o caso em análise – a dedução de oposição implica a remessa dorespectivo procedimento ao tribunal competente e a sua sujeição, após a mesma, àforma de processo comum, caso em que o juiz pode convidar as partes a aperfeiçoaros articulados (artigo 7º, nºs. 2 e 3). Assim, deduzida oposição em tal procedimento de injunção, a competência para aacção declarativa de condenação com processo comum dele transmutada inscrevia-se nas varas cíveis ou mistas existentes na circunscrição jurisdicional em causa, comoocorreu no caso vertente. Transmutando-se o procedimento de injunção, por virtude da dedução deoposição pela requerida, em acção declarativa de condenação sob a forma deprocesso comum ordinário, era admissível a apresentação do respectivo instrumentode réplica pela requerente em resposta à dedução de alguma excepção pela requeridasusceptível de relevar como tal (artigo 502º, nº 1, do Código de Processo Civil).

3. Prossigamos, agora, com uma breve referência ao regime legal substantivo eadjectivo concernente à compensação de créditos. A propósito da compensação, a lei prescreve, para o caso de duas pessoas seremreciprocamente credor e devedor, qualquer delas se poder livrar da sua obrigação pormeio de compensação com a obrigação do seu credor, se o crédito recíproco forexigível judicialmente e não proceder contra ele excepção, peremptória ou dilatória, dedireito material, e o objecto das obrigações sejam coisas fungíveis da mesma espéciee qualidade (artigos 847º, nº 1, e 851º do Código Civil). Para o efeito, se as duas dívidas não forem de igual montante, a compensaçãopode operar na parte correspondente, e tal não é impedido pela iliquidez da dívida(artigo 847º, nºs 2 e 3, do Código Civil). Trata-se de uma causa de extinção de obrigações diversa do cumprimento ou dediversa forma de realização do fim da obrigação, por virtude da invocação pelo

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devedor do seu direito de crédito no confronto do credor, em resultado da declaraçãodo primeiro ao ultimo, mesmo em acção judicial pendente, sendo que a extinçãoocorre aquando do momento em que se tornarem compensáveis (artigos 848º, nº 1, e854º do Código Civil e 274º, nº 1, alínea b), do Código de Processo Civil). É, pois, a chamada compensação legal, em oposição à compensaçãoconvencionada entre as partes, o que se traduz em sucedâneo do pagamento. No âmbito do direito processual, a compensação como causa de extinção deobrigações, fundada em normas de direito substantivo, consubstancia excepçãoperemptória de tipo extintivo (artigo 487º, nº 2, do Código de Processo Civil). Mas é uma excepção peremptória com alguma particularidade em relação ànormalidade da espécie, porque não envolve a normal conexão com a relação jurídicaobjecto da acção, certo que deriva de diversa relação ou situação jurídica, e, daí, a suaautonomia. A lei estabelece poder o réu, em reconvenção, deduzir pedidos contra o autor,além do mais, quando se proponha obter a compensação (artigo 274º, nºs 1 e 2, alíneab), do Código de Processo Civil). É a chamada compensação judiciária, ou seja, a que deve ser invocada por via dereconvenção. É facultativa, deve ser expressamente identificada e deduzidaseparadamente na contestação pelo reconvinte, a quem cumpre expor osfundamentos, concluir pelo pertinente pedido e indicar o respectivo valor processual(artigo 501º, nºs 1 e 2, do Código de Processo Civil). Tem sido discutido na doutrina, e na jurisprudência, face à autonomia de relaçõesjurídicas acima referida e o disposto no artigo 274º, nºs 1 e 2, alínea b), do Código deProcesso Civil, se a compensação apenas deve ser feita valer em juízo por via dereconvenção ou se o réu também a pode fazer valer por via de excepção. Uns autores têm entendido poder o réu obter a compensação por via de excepçãono caso de o montante a compensar não exceder o do direito de crédito invocado peloautor; mas outros autores têm considerado que ela só pode ser obtida por via dereconvenção. A jurisprudência em geral seguiu inicialmente o último dos referidosentendimentos, mas ultimamente, com considerável uniformidade, tem vindo a decidirde harmonia com o primeiro. A solução a dar a esta questão só se imporia se verificados estivessem osrequisitos substantivos da compensação de créditos, sobre o que nos pronunciaremosde seguida.

4. Vejamos agora a subquestão de saber se no caso-espécie se verificam ou não osrequisitos da compensação invocada pela recorrente no confronto da recorrida. A recorrente afirmou na oposição ao requerimento de injunção formulado pela

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recorrida, para o caso de se considerar dever à segunda o que esta pretendia que lhefosse pago no seu confronto, pretender compensar os lucros cessantes de € 15 000,por virtude da perda do mencionado cliente. Motivou a sua pretensão de compensação condicional na recusa pela recorrida delhe entregar indicadas paletes e perfumes, no valor de € 12 000, deixados por um seucliente num armazém da daquela, situado em França, e que assim incumprira umcontrato relativo à guarda de mercadorias naquele armazém. Assim, a recorrente fundou a sua pretensão compensatória em relação jurídicadiversa daquela com base na qual a recorrida fez valer no procedimento de injunção, e,depois, na acção declarativa de condenação que dele foi transmutada. Acresce que a recorrente, na oposição ao referido requerimento de injunção darecorrida, a título de causa de pedir, invocou uma situação de responsabilidade civilcontratual ou obrigacional derivada da violação de uma obrigação, ou seja, atribuiu àúltima, não uma obrigação de prestar, mas um dever de indemnizar. Ora, conforme já se referiu, o crédito compensatório deve ser exigível no momentoda invocação da compensação, pelo que não pode ser invocado em juízo, a esse título,o direito de crédito indemnizatório decorrente de responsabilidade civil enquanto nãoestiver judicialmente reconhecido (artigo 847º, nº 1, alínea a), do Código Civil). Assim, independentemente de a compensação invocada pela recorrente naoposição ao procedimento de injunção poder ou não ser oposta à recorrida por via deexcepção peremptória, como os factos que articulou não configuram um direito decrédito nessa altura exigível - por carecer de ser judicialmente reconhecido por via daverificação do ilícito contratual culposo, do dano e do nexo de causalidade entre este eaquele – a referida pretensão compensatória não podia relevar. A conclusão é, por isso, no sentido de que, no caso-espécie se não verificam osrequisitos de ordem substantiva base do funcionamento da compensação legal decréditos que a recorrente invocou no instrumento de oposição ao requerimento deinjunção.

5. Atentemos, ora, sobre se devem ou não considerar-se admitidos por acordo osfactos relativos à pretensão de compensação deduzida pela recorrente Conforme acima se referiu, a recorrente não podia invocar a compensação queinvocou no instrumento de oposição ao requerimento de injunção, porque, além domais, se não verificava o requisito substantivo a que se reporta o artigo 847º, nº 1,alínea a), do Código Civil. Em consequência, em relação aos factos em que a recorrente pretendeu fundar acompensação, que articulou na oposição ao requerimento de injunção, a falta deapresentação da réplica por parte da recorrida não implica que, ao abrigo do dispostonos artigos 490º, nº 2, e 505º do Código de Processo Civil, se devam considerar

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admitidos por acordo. A conclusão é, por isso, no sentido de que os referidos facto não devemconsiderar-se admitidos por acordo.

6. Vejamos agora se a recorrente deve ou não ser absolvida do pedido formuladopela recorrida no seu confronto. A Relação considerou não estarem admitidos por acordo os factos invocados pelarecorrente no instrumento de oposição por virtude de a recorrida não dispor dearticulado de réplica. A solução de não admissão dos referidos factos por acordo é correcta, mas porfundamentos legais diversos daqueles que a Relação considerou, ou seja, porque asua invocação é insusceptível de poder funcionar como extinção do direito de créditoda recorrente na medida por esta pretendida. O tribunal da primeira instância enquadrou os factos provados no contrato decompra e venda comercial, cujo objecto mediato foram duas galeras, o que éconforme ao disposto nos artigos 463º, nº 1, do Código Comercial e 874º do CódigoCivil. E como a recorrida entregou à recorrente as referidas galeras e a última nãoprovou ter-lhe pago a totalidade do respectivo preço nem o seu contra-crédito,condenou-a no pagamento desse valor de parte do preço e juros, invocando odisposto nos artigos 342º, nº 2, e 762º, nº 1, do Código Civil. A Relação confirmou a referida decisão, e não há fundamento para que o acórdãorespectivo seja alterado, ou seja, para que a recorrente seja absolvida do pedido.

7. Finalmente, a síntese da solução para o caso decorrente dos factos provados e dalei. É aplicável ao recurso o regime processual anterior ao decorrente do Decreto-Leinº 303/2007, de 24 de Agosto. O procedimento de injunção em causa, porque tinha como causa de pedir umatransacção comercial e o seu valor processual era superior ao da alçada da Relação, elhe foi deduzida oposição, transmutou-se em acção declarativa de condenação sob aforma de processo ordinário, e, consequentemente, tinha a recorrente a faculdade deapresentação de réplica relativa ao articulado de excepção. O direito de crédito indemnizatório invocado pela recorrente no procedimento deinjunção, no confronto da recorrida, pela sua natureza, era insusceptível de deduçãopor via de excepção peremptória de compensação. Em consequência, a falta de réplica da recorrida não podia produzir o efeito deadmissão por acordo dos factos que a recorrente invocou no instrumento de oposição

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ao procedimento de injunção como se de excepção peremptória se tratasse. Não há, por isso, fundamento legal para a alteração do segmento decisórioproferido pela Relação. Improcede, por isso o recurso. Vencida, é a recorrente responsável pelo pagamento das custas respectivas(artigo 446º, nºs 1 e 2, do Código de Processo Civil).

IV

Pelo exposto, nega-se provimento ao recurso e condena-se a recorrente nopagamento das custas respectivas.

Lisboa, 18 de Dezembro de 2008

Salvador da Costa (Relator) Ferreira de Sousa Armindo Luis