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ACOMPANHAMENTO PLENUS MAGISTRATURA ESTADUAL -------------------------------------------------------------- DIREITO CONSTITUCIONAL SEMANA 24 SINOPSE DE ESTUDO #SouPlenus #MagistraturaMeEspera #TôDentro

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ACOMPANHAMENTO PLENUS

MAGISTRATURAESTADUAL

--------------------------------------------------------------DIREITO CONSTITUCIONAL

SEMANA 24

SINOPSE DE ESTUDO

#SouPlenus#MagistraturaMeEspera

#TôDentro

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SUMÁRIO

Capítulo 1 – CONTROLE CONCENTRADO-ABSTRATO DE CONSTITUCIONALIDADE ....................... 31.1 AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE GENÉRICA (ADI) ................................................. 3 1.1.1 PROCEDIMENTO DA ADI ......................................................................................................... 91.2 AÇÃO DECLARATÓRIA DE CONSTITUCIONALIDADE (ADC) ...................................................... 181.3 AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO (ADO) ....................................... 231.4 ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL (ADPF) ............................. 281.5 AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE INTERVENTIVA (REPRESENTAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE INTERVENTIVA) .................................................................................. 341.6 CONTROLE CONCENTRADO DE CONSTITUCIONALIDADE NO ÂMBITO DOS ESTADOS-MEMBROS ....................................................................................................................................... 37

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Capítulo 1 – CONTROLE CONCENTRADO-ABSTRATO DE CONSTITUCIONALIDADE

Conforma já explicado na aula passada, o controle abstrato de constitucionalidade é aquele que busca examinar a constitucionalidade de uma lei em tese. Não há um caso concreto em análise; é a lei, em abstrato, que tem sua constitucionalidade aferida pelo Poder Judiciário. No controle abstrato, a constitucionalidade da lei ou ato normativo é arguida na via principal, por meio de ação direta.

No Brasil, o controle abstrato é realizado pelo Supremo Tribunal Federal (tendo como parâmetro a Constituição Federal) ou pelos Tribunais de Justiça (tendo como parâmetro as res-pectivas Constituições Estaduais). Em razão disso, diz-se que o controle abstrato é efetuado de modo concentrado.

ATENÇÃO!

O controle concentrado, em quase todos os casos, é realizado de modo abstra-to. No entanto, existe um caso excepcional de controle concentrado-concreto, que é aquele efetuado por meio de representação interventiva (ADI-interventi-va).

Assim, embora ocorra na maior parte dos casos, não existe uma relação obriga-tória entre controle concentrado e controle abstrato.

Esse controle é composto, basicamente, pelas seguintes ações:

a) Ação direta de inconstitucionalidade genérica (ADI);

b) Ação declaratória de constitucionalidade (ADC);

c) Ação direta de inconstitucionalidade por omissão (ADO);

d) Arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF).

1.1 AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE GENÉRICA (ADI)

O que se busca com a ADI genérica é o controle de constitucionalidade de lei ou de ato normativo, sendo esse controle realizado em tese, em abstrato, marcado pela generalidade, impessoalidade e abstração. O que se busca saber, portanto, é se a lei (lato sensu) é inconstitu-cional ou não, manifestando-se o Judiciário de forma específica sobre o aludido objeto.

• Competência

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Por se tratar de controle concentrado, a competência para o julgamento dessas ações é do STF, no âmbito federal, e do TJ, no âmbito estadual (mas vamos estudar o controle de cons-titucionalidade nos estados depois).

• Legitimidade

A legitimidade da ADI, assim como das outras ações do controle concentrado, está prevista no art. 103 da CRFB/88:

Art. 103. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade: I - o Presidente da República;II - a Mesa do Senado Federal;III - a Mesa da Câmara dos Deputados;IV a Mesa de Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal;V - o Governador de Estado ou do Distrito Federal;VI - o Procurador-Geral da República;VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;VIII - partido político com representação no Congresso Nacional;IX - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.

Antes da CF/88, a legitimidade era restrita ao PGR. Depois dessa, essa legitimidade ativa foi ampliada. Segundo a jurisprudência do STF, existem legitimados ativos que são uni-versais, enquanto outros são apenas legitimados ativos especiais. O que os diferencia é a exis-tência de pertinência temática, que é exigida em relação aos legitimados especiais. Há assim:

a) Legitimados ativos universais: não precisam demonstrar pertinência temática. São eles: Presidente da República, Mesa do Senado Federal, Mesa da Câmara dos Deputados, partido político com representação no Congresso Nacional, Procurador-Geral da República e Conselho Federal da OAB.

b) Legitimados ativos especiais: precisam demonstrar pertinência entre a matéria do ato impugnado e as funções exercidas pelo legitimado. Em outras palavras, só poderão propor ADI quando houver pertinência temática. São eles: o Governador de Estado e do DF, Mesa de Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do DF e confederação sindical e entidade de classe de âmbito nacional.

Vamos agora tecer algumas observações acerca da legitimidade ativa:

a) O Vice presidente e o Vice Governador têm legitimidade? Sendo omissa a legisla-

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ção, interpreta-se de forma restritiva o dispositivo do art. 103. Ou seja, eles não podem ajuizar a ação. Embora eles não tenham legitimidade em regra, terão se estiverem na titularidade do car-go. Detalhe: Se o vice propõe a ação e, antes de seu julgamento, a titularidade do cargo volta ao Presidente/governador, que retorna, a ação não será extinta, continuando o vice no polo ativo.

b) Mesa do Congresso Nacional tem legitimidade? A Mesa do Congresso NÃO tem legitimidade para a propositura de ação de constitucionalidade em controle concreto abstrato, porque a interpretação é restritiva. Portanto, conforme ditame constitucional, somente as Me-sas da Câmara dos Deputados e do Senado possuem tal legitimidade.

c) Para propor a ADI, o partido político deve ter representação no Congresso Nacional, ou seja, deve ter pelo menos um representante (Deputado Federal ou Senador) no Congresso.

ATENÇÃO!

Segundo o STF, a aferição da legitimidade do partido político para propor a ADI deve ser feita no momento da propositura da ação. Nesse sentido, caso haja perda superveniente de representação do partido no Congresso Nacional, isso não irá prejudicar a ADI.

Importante salientar, ainda, que a ADI deve ser ajuizada pelo diretório nacional do partido, nunca pelo diretório local.

d) Não é qualquer confederação sindical ou entidade de classe que pode propor ADI perante o STF. Para fazê-lo, elas precisam ser de âmbito nacional (uma entidade estadual ou municipal não poderá fazê-lo). Segundo o Supremo, não constituem entidade de classe:

1)“aquelas instituições integradas por membros vinculados a extratos sociais, profis-sionais ou econômicos diversificados, cujos objetivos, individualmente considerados, revelam--se contrastantes” (ADI 108/DF).

2) Outros segmentos da sociedade civil, por exemplo, a UNE.

3) Associação que reúne, como associados, órgãos públicos, sem personalidade jurí-dica e categorias diferenciadas de servidores (ADI – 67/DF).

e) As associações devem ser compostas por pessoa física ou podem ser por pessoa jurídica? Desde 2004, o STF entende que as associações de associações (associações compostas por pessoas jurídicas) possuem legitimidade, assim como as associações de pessoas físicas.

f) Dentre todos os legitimados do art. 103, CF/88, apenas dois necessitam de advo-

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gado para a propositura da ação: i) partido político com representação no Congresso Nacional e ii) confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional. Apesar disso, no curso do processo, eles poderão praticar todos os atos, sem necessidade de advogado.

Os outros legitimados (incisos I a VII) podem propor ADI independentemente de ad-vogado, uma vez que possuem capacidade postulatória.

• Parâmetro de controle

Conforme já dito na aula passada, no caso do Brasil, todas as normas constantes do texto constitucional servem como parâmetro de controle. Não interessa qual é o conteúdo da norma; basta que ela seja formalmente constitucional para que sirva como parâmetro de con-trole.

Além disso, os tratados internacionais de direitos humanos aprovados por 3/5 em dois turnos de votação, em cada casa do Congresso Nacional, também servem como parâme-tro. Isso porque esse tratado terá equivalência de emenda e integrará o chamado “bloco de constitucionalidade”.

Não podem ser parâmetro para o controle de constitucionalidade por meio de ADI:

a) O preâmbulo, uma vez que não tem força normativa.

b) Normas do ADCT com eficácia exaurida, uma vez que estas já não mais produzem seus efeitos.

c) Normas das Constituições pretéritas. Apenas as normas constitucionais em vigor podem ser parâmetro para o controle de constitucionalidade.

• Objeto

Podem ser objeto de ADI leis ou atos normativos primários federais ou estaduais. Veja:

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guar-da da Constituição, cabendo-lhe:I - processar e julgar, originariamente:a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual e a ação declaratória de constitucionalidade de lei ou ato normativo federal;

A partir dessa afirmação, já se pode concluir que as leis e atos normativos municipais

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não podem ser objeto de ADI perante o STF.

E as leis e atos normativos do Distrito Federal? Será que elas podem ser objeto de ADI perante o STF? Depende. Conforme já sabemos, o Distrito Federal acumula as competências dos Estados e dos Municípios. Caso uma lei distrital tenha sido editada no exercício de compe-tência estadual, ela poderá ser objeto de ADI perante o STF; por outro lado, caso a lei distrital tenha sido editada no exercício de competência municipal, ela não poderá ter sua constitucio-nalidade examinada por meio de ADI.

Vamos sistematizar a jurisprudência do STF. Cabe ADI contra:

a) As espécies normativas do art. 59, da CRFB/88, quais sejam: emendas constitucio-nais, leis complementares, leis ordinárias, leis delegadas, medidas provisórias, decretos legis-lativos e resoluções.

Aqui, vale uma observação. Tradicionalmente, o STF entendia que, se a espécie nor-mativa primária fosse de efeito concreto, não caberia ADI por falta de generalidade e abstração. Todavia, o referido tribunal mudou de entendimento, passando a admitir o ajuizamento de ADI contra lei ou ato normativo concreto.

Com esse entendimento, a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), a Lei Orçamentária Anual (LOA) e as medidas provisórias que abrem créditos extraordinários podem ser objeto de controle de constitucionalidade por meio de ADI.

b) Resoluções ou deliberações administrativas de Tribunais (ADI 3202).

c) Regimento interno dos Tribunais.

d) Regimento Interno das Casas do Poder Legislativo (ADIs 1.635 e 3.208).

e) Atos estatais de conteúdo derrogatório (resoluções normativas que incidem sobre atos de caráter normativo) (ADI 3.206).

f) Decretos autônomos, na forma do art. 84, VI, da CRFB/88.

g) Resoluções do TSE (Informativo nº 398 do STF).

h) Tratados internacionais, versando sobre direitos humanos ou não.

i) Lei distrital que tenha sido editada no exercício de competência estadual, confor-me já dito anteriormente.

j) Resoluções do Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Nacional do Ministério

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Público.

Não cabe ADI contra:

a) Normas constitucionais originárias, uma vez que o Brasil não adota a teoria que admite a existência de normas constitucionais originárias inconstitucionais.

b) Leis ou atos normativos anteriores à Constituição de 1988. Caberá, no entanto, ADPF, como se verá.

c) Lei ou ato normativo já revogado. Atente que, se durante o procedimento da ADI a lei é revogada, em regra, haverá perda do objeto. Todavia, há exceções a essa regra, senão vejamos:

1) O STF, no julgamento das ADIs 3.232, 3.990 e 3.983, deixou assente que uma lei objeto de ADI que foi revogada por outra lei não faz com que a ADI reste prejudicada por perda do objeto. O fundamento é a tentativa de se evitar fraudes processuais (evitar o julgamento). As-sim, configurada a fraude processual, o curso do procedimento e o julgamento final não ficam prejudicados.

2) Também não haverá perda do objeto caso fique demonstrado que o conteúdo do ato impugnado foi repetido, em sua essência, em outro diploma normativo (ADI 2.418).

3) Por fim, caso o STF já tenha julgado o mérito da ação, mas não tenha sido comu-nicado previamente da revogação da norma atacada, também não poderá ser reconhecida a prejudicialidade da ADI (ADI 951).

d) Decretos regulamentares do art. 84, IV. Para o STF, haveria ilegalidade e não in-constitucionalidade.

e) Respostas às consultas feitas ao TSE, em razão da ausência de normatividade do ato.

f) Lei municipal, conforme já adiantado anteriormente. Mesmo que a lei municipal contrarie norma de reprodução obrigatória da CRFB/88, não caberá ADI ao STF, mas sim ADI estadual, sendo que caberá recurso extraordinário para o STF.

g) Lei distrital no exercício da competência municipal do DF.

h) Matérias interna corporis do Poder Legislativo. Exemplo: atos que envolvam a inte-pretação do regimento interno das Casas Legislativas.

i) Súmulas, inclusive Súmulas Vinculantes, uma vez que estas possuem procedimen-

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to próprio para edição, revisão ou supressão.

j) Leis e atos normativos cuja eficácia tenha se exaurido.

k) Projeto de lei e lei aprovada, mas ainda não promulgada – Essa questão já caiu em vários concursos. O controle abstrato pressupõe a existência formal da lei ou do ato normati-vo após a conclusão definitiva do processo legislativo. Assim, o projeto de lei não pode sofrer controle abstrato de constitucionalidade. Pela via judicial, os PLs somente podem ser objeto de controle de constitucionalidade mediante MS impetrado por parlamentar (controle difuso).

Observe, no entanto, que não se exige que a lei esteja em vigor. Basta a publicação, ou seja, pode estar em vacatio legis.

Mas atenção: no julgamento da ADI 3.367, o Tribunal afastou o vício processual susci-tado pela AGU, que demandava a extinção do processo pelo fato de a norma impugnada (EC nº 45) ter sido publicada após a propositura da ADI. Entendeu-se que a publicação superveniente da mesma corrigiu a carência original da ação.

l) Divergência entre a ementa da lei e o seu conteúdo – O STF entendeu não caracte-rizar situação de controle de constitucionalidade (ADI 1.096-4).

1.1.1 PROCEDIMENTO DA ADI

A Lei nº 9.868/99 é que dispõe sobre o processo e o julgamento da Ação Direta de In-constitucionalidade (ADI). Iremos, nesse tópico, tratar justamente disso, comentando sobre os aspectos mais relevantes trazidos pela Lei nº 9.868/99.

• Petição inicial

Por óbvio, o Supremo Tribunal Federal (STF) não poderá, de ofício, dar início ao exer-cício da jurisdição constitucional. A ação deverá ser proposta por um dos legitimados do art. 103.

A petição inicial deverá indicar:

a) o dispositivo da lei ou do ato normativo impugnado e os fundamentos jurídicos do pedido em relação a cada uma das impugnações (art. 3º, I, Lei 9.868/99).

É importante registrar que, embora adstrito ao pedido, não fica o STF adstrito aos fundamentos do autor. É dominante no âmbito do Tribunal que na ADI (e na ADC) prevalece o princípio da causa petendi aberta (ADI 2.728/AM).

Cabe destacar que, em algumas oportunidades, o STF tem aplicado a técnica da “de-

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claração de inconstitucionalidade por arrastamento”, já explicado na aula passada, que é uma exceção ao princípio do pedido.

b) o pedido, com suas especificações (art. 3º, II, Lei 9.868/99).

A Lei 9.868 prevê, ainda, que a inicial deverá ser apresentada em duas vias, com có-pias da lei ou ato normativo que contenham os dispositivos sobre os quais versa a ação pro-posta. Também é requerido instrumento de procuração, o qual, segundo decisão do STF, deve conter poderes específicos quanto à impugnação da norma. Vejamos os dispositivos da lei:

Art. 3º A petição indicará:I - o dispositivo da lei ou do ato normativo impugnado e os fundamentos jurídicos do pedido em relação a cada uma das impugnações;II - o pedido, com suas especificações.Parágrafo único. A petição inicial, acompanhada de instrumento de pro-curação, quando subscrita por advogado, será apresentada em duas vias, devendo conter cópias da lei ou do ato normativo impugnado e dos documentos necessários para comprovar a impugnação.

O relator poderá indeferir petições ineptas, não fundamentadas ou manifestamente improcedentes. Dessa decisão, caberá agravo.

Proposta a ADI, o autor da ação não poderá dela desistir; trata-se de uma ação indis-ponível. Isso porque o controle abstrato é processo objetivo, que tem como fim a defesa do or-denamento jurídico. Uma vez proposta a ação, dado o interesse público, o legitimado não pode impedir seu curso. Isso também vale para a medida cautelar em sede de ADI.

Não sendo o caso de indeferimento liminar, o relator pedirá informações aos órgãos ou às autoridades das quais emanou a lei ou o ato normativo impugnado. Se a lei cuja constitu-cionalidade é arguida for uma lei federal, serão solicitadas informações ao Congresso Nacional. Se for uma lei estadual, o relator solicitará informações à Assembleia Legislativa do Estado do qual ela provém. Essas informações serão prestadas no prazo de 30 (trinta dias) contados do recebimento do pedido.

ATENÇÃO!

Por ser um processo objetivo e que tem como objeto a defesa da ordem jurídi-ca, não há prazo prescricional ou decadencial para a propositura da ADI.

• Intervenção de terceiros e “amicus curiae”

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Por ser um processo objetivo, inexistindo partes e direitos subjetivos envolvidos, não se admite intervenção de terceiros na ADI.

No entanto, a Lei nº 9.868/99 admite a manifestação de outros órgãos e entidades na condição de “amicus curiae” (“amigo da corte”).

Esta figura existe no direito brasileiro desde a década de 1970, em legislações bastan-te específicas (Lei 6.385/76, que trata da CVM; Lei 8.884/94 que trata do CADE). Com o advento da Lei 9.868/99 (art. 7º, § 2º), a figura ficou bastante conhecida.

A Lei da ADPF não faz qualquer menção quanto ao “amicus curiae”. Também não há previsão para a ADC. Apesar disso, o STF aplica, por analogia legis, o art. 7º, §2º à ADC e à ADPF, excepcionalmente.

Prosseguindo. Vejamos o que dispõe a Lei 9.868/99:

Art. 7º Não se admitirá intervenção de terceiros no processo de ação di-reta de inconstitucionalidade.§ 1º (VETADO)§ 2º O relator, considerando a relevância da matéria e a representati-vidade dos postulantes, poderá, por despacho irrecorrível, admitir, ob-servado o prazo fixado no parágrafo anterior, a manifestação de outros órgãos ou entidades.

O objetivo de se permitir a participação de “amicus curiae” no processo de uma ADI é pluralizar o debate constitucional e, ao mesmo tempo, dar maior legitimidade democrática às decisões do STF.

A decisão quanto à admissibilidade ou não de “amicus curiae” cabe ao relator, que avalia 3 (três) requisitos:

a) Relevância da matéria (requisito objetivo);

b) Representatividade do postulante (requisito subjetivo);

c) Pertinência temática (congruência entre a matéria objeto de discussão e os objeti-vos da entidade que pleiteia o ingresso como “amicus curiae”).

O “amicus curiae” somente pode demandar a sua intervenção até a data em que o relator liberar o processo para pauta de julgamento (ADI 4071).

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ATENÇÃO!

Segundo o STF, colaboradores admitidos em processos objetivos e causas com repercussão geral na condição de amicus curiae não detêm legitimidade para recorrer de decisões de mérito, ainda que tenham participado do julgamento mediante a oferta de elementos de informação.

No entanto, há quem entenda que o amicus curiae pode interpor recurso de agravo para impugnar a decisão de não admissibilidade de sua intervenção.

Por fim, é importante registrar que o amicus curiae também poderá fazer sustentação oral. Em 30.03.2004, foi editada Emenda Regimental que assegurou-lhe o direito de sustentação oral pelo tempo máximo de 15 minutos ou no prazo em dobro, se houver litisconsortes não re-presentados pelo mesmo advogado.

• Atuação do PGR e do AGU

Após a ADI ser encaminhada à autoridade que produziu o ato, ela deverá ser encaminhada ao Advogado-Geral da União (AGU) para se manifestar no prazo de 15 dias. Con-forme dicção do art. 103, § 3º, da CRFB/88, o AGU será o curador especial da presunção de cons-titucionalidade das leis. Ou seja, o AGU, em regra, terá que defender a lei ou ato normativo federal ou estadual atacado. Veja:

Art. 103. § 3º Quando o Supremo Tribunal Federal apreciar a inconstitu-cionalidade, em tese, de norma legal ou ato normativo, citará, previa-mente, o Advogado-Geral da União, que defenderá o ato ou texto impug-nado.

No entanto, a jurisprudência do STF se firmou no sentido de que o AGU não é obriga-do a defender a constitucionalidade da norma impugnada. São essas as exceções:

a) O AGU não está obrigado a defender a constitucionalidade da lei ou do ato norma-tivo se já existir decisão do STF declarando a inconstitucionalidade da norma.

b) O AGU poderá não defender a lei se o interesse do autor da ação estiver em conso-nância com o interesse da União (ADI 3.916).

Após a manifestação do AGU, a ADI é encaminhado ao Procurador-Geral da República (PGR) para se manifestar, no prazo de 15 dias, quanto a constitucionalidade ou inconstituciona-lidade da lei.

O Procurador Geral da República tem atuação prevista no art. 103, §1º, da CRFB/88.

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Vejamos:

Art. 103. § 1º O Procurador-Geral da República deverá ser previamente ouvido nas ações de inconstitucionalidade e em todos os processos de competência do Supremo Tribunal Federal.

Caso proponha a ADI como legitimado, o PGR não poderá desistir, já que, como vi-mos, não cabe desistência nas ações de controle concentrado-abstrato. Mas atente: não há óbi-ce a que o PGR venha a emitir parecer em sentido contrário ao que ele mesmo (ou outro PGR) aduziu na inicial.

Vejamos os dispositivos da Lei 9.868/99 que tratam da atuação do AGU e do PGR:

Art. 8º Decorrido o prazo das informações, serão ouvidos, sucessivamen-te, o Advogado-Geral da União e o Procurador-Geral da República, que deverão manifestar-se, cada qual, no prazo de quinze dias.

Posteriormente ao PGR, o relator lançará o relatório, com cópia a todos os Ministros, e pedirá dia para julgamento.

Em caso de necessidade de esclarecimento de matéria ou circunstância de fato ou de notória insuficiência das informações existentes nos autos, poderá o relator requisitar informa-ções adicionais, designar perito ou comissão de peritos para que emita parecer sobre a questão, ou fixar data para, em audiência pública, ouvir depoimentos de pessoas com experiência e au-toridade na matéria.

O relator poderá, ainda, solicitar informações aos Tribunais Superiores, aos Tribu-nais federais e aos Tribunais estaduais acerca da aplicação da norma impugnada no âmbito de sua jurisdição.

• Medida cautelar

É possível que, no âmbito de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI), seja efetuado o pedido de uma medida cautelar a fim de se evitar que a demora na prestação jurisdicional traga danos aos interessados. Assim, uma vez presentes os requisitos “fumus boni juris” (razoabilidade, relevância e plausibilidade do pedido) e “periculum in mora” (perigo de haver danos causados pela demora da tramitação e do julgamento do processo), o STF poderá conceder uma medida cautelar em ADI.

Para a concessão de medida cautelar, é necessário que sejam ouvidos, previamente, os órgãos ou autoridades dos quais emanou a lei ou ato normativo impugnado. Todavia, em caso de excepcional urgência, o STF poderá deferir a cautelar independentemente da audiência

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desses órgãos/autoridades.

A medida cautelar é concedida por decisão da maioria absoluta dos membros do STF (seis votos), devendo estar presentes na sessão, pelo menos, oito Ministros (quórum de presença). No período de recesso, a medida cautelar poderá ser concedida pelo Presidente do Tribunal, sujeita a referendo posterior do Tribunal Pleno.

A medida cautelar serve para suspensão da vigência da norma impugnada. A decisão da medida cautelar se torna obrigatória com a publicação da ata da sessão de julgamento (par-te dispositiva da decisão) no DOU/DJU no prazo de 10 dias, a contar do julgamento. Ou seja, os efeitos da medida cautelar são ERGA OMNES, EX NUNC e VINCULANTES.

ATENÇÃO!

Por ter efeito vinculante, a concessão de medida cautelar irá, automaticamen-te, suspender o julgamento de todos os processos que envolvam a aplicação da lei ou ato normativo objeto da ação.

Em regra, a eficácia da medida cautelar é ex nunc, salvo se o Tribunal entender que deva conceder-lhe eficácia retroativa (em modulação temporal dos efeitos da decisão, igual faz em relação à decisão de mérito, atendendo ao requisito de quórum de aprovação de 2/3).

Um detalhe interessante é que, tendo em vista a relevância da matéria e seu signifi-cado especial para a ordem social e a segurança jurídica, o relator poderá propor ao Plenário que converta o julgamento da medida cautelar em julgamento definitivo de mérito.

Outro efeito da concessão da medida cautelar é a questão do efeito repristinatório. Isso significa que, enquanto a norma impugnada ficar suspensa, a legislação anterior, acaso existente, torna-se aplicável.

Cabe destacar, porém, que o STF poderá afastar o efeito repristinatório (art. 11, § 2º, da Lei 9.868/99).

ATENÇÃO!

Por não ser uma decisão de mérito, o indeferimento da medida cautelar não significa que foi reconhecida a constitucionalidade da lei ou ato normativo impugnado. Perce-be-se, dessa maneira, que o indeferimento de uma medida cautelar não produz efei-to vinculante. Dessa forma, outros Tribunais do Poder Judiciário terão ampla liber-dade para decidir pela inconstitucionalidade da norma que foi impugnada no STF.

Por fim, vejamos os dispositivos da Lei 9.868/99 que tratam da medida cautelar:

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Art. 10. Salvo no período de recesso, a medida cautelar na ação direta será concedida por decisão da maioria absoluta dos membros do Tri-bunal, observado o disposto no art. 22, após a audiência dos órgãos ou autoridades dos quais emanou a lei ou ato normativo impugnado, que deverão pronunciar-se no prazo de cinco dias.§ 1º O relator, julgando indispensável, ouvirá o Advogado-Geral da União e o Procurador-Geral da República, no prazo de três dias.§ 2º No julgamento do pedido de medida cautelar, será facultada susten-tação oral aos representantes judiciais do requerente e das autoridades ou órgãos responsáveis pela expedição do ato, na forma estabelecida no Regimento do Tribunal.§ 3º Em caso de excepcional urgência, o Tribunal poderá deferir a me-dida cautelar sem a audiência dos órgãos ou das autoridades das quais emanou a lei ou o ato normativo impugnado.

Art. 11. Concedida a medida cautelar, o Supremo Tribunal Federal fará publicar em seção especial do Diário Oficial da União e do Diário da Jus-tiça da União a parte dispositiva da decisão, no prazo de dez dias, deven-do solicitar as informações à autoridade da qual tiver emanado o ato, observando-se, no que couber, o procedimento estabelecido na Seção I deste Capítulo.§ 1º A medida cautelar, dotada de eficácia contra todos, será concedida com efeito ex nunc, salvo se o Tribunal entender que deva conceder-lhe eficácia retroativa.§ 2º A concessão da medida cautelar torna aplicável a legislação anterior acaso existente, salvo expressa manifestação em sentido contrário.

Art. 12. Havendo pedido de medida cautelar, o relator, em face da rele-vância da matéria e de seu especial significado para a ordem social e a segurança jurídica, poderá, após a prestação das informações, no prazo de dez dias, e a manifestação do Advogado-Geral da União e do Procura-dor-Geral da República, sucessivamente, no prazo de cinco dias, subme-ter o processo diretamente ao Tribunal, que terá a faculdade de julgar definitivamente a ação.

• Decisão de mérito na ADI

Inicialmente, devemos fazer a observação de que a ADI, assim como a ADC, possui natureza dúplice, ou seja, a decisão de mérito produz eficácia quando o pedido é concedido ou quando é negado. Em outras palavras, se o STF julgar procedente o pedido, significa que a lei ou o ato normativo questionado é inconstitucional; por outro lado, se o STF julgar improcedente a ADI, significa que a lei ou o ato normativo impugnado é constitucional.

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A decisão, na ação direta de inconstitucionalidade, somente será efetuada se presen-te na sessão pelo menos 8 ministros, devendo-se proclamar a constitucionalidade ou a incons-titucionalidade da lei ou do ato normativo questionado se num ou noutro sentido se tiverem manifestado pelo menos 6 ministros.

Caso não se alcance o número de 6 votos, estando ausentes Ministros em número suficiente para influir no julgamento, esse será suspenso para aguardar o comparecimento dos Ministros ausentes, até que se atinja o número necessário para a decisão num ou noutro senti-do.

Para consolidar esses pontos, vejamos os dispositivos legais:

Art. 22. A decisão sobre a constitucionalidade ou a inconstitucionalida-de da lei ou do ato normativo somente será tomada se presentes na ses-são pelo menos oito Ministros.

Art. 23. Efetuado o julgamento, proclamar-se-á a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade da disposição ou da norma impugnada se num ou noutro sentido se tiverem manifestado pelo menos seis Ministros, quer se trate de ação direta de inconstitucionalidade ou de ação decla-ratória de constitucionalidade.Parágrafo único. Se não for alcançada a maioria necessária à declaração de constitucionalidade ou de inconstitucionalidade, estando ausentes Ministros em número que possa influir no julgamento, este será sus-penso a fim de aguardar-se o comparecimento dos Ministros ausentes, até que se atinja o número necessário para prolação da decisão num ou noutro sentido.

Segundo o art. 26 da Lei, a decisão de mérito, na ADI, assim como na ADC, é irrecor-rível e não-rescindível, ressalvada a hipótese de interposição de embargos de declaração, em homenagem à segurança jurídica e economia processual.

No tocante aos efeitos da decisão de mérito na ADI, está terá efeitos, em regra, erga omnes, ex tunc, vinculante e repristinatório. Vejamos cada um deles:

a) Efeito “ex tunc” (retroativos): A declaração de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo terá, em regra, efeitos retroativos (“ex tunc”). Aplica-se, aqui, a teoria da nulidade, segundo a qual considera-se que a lei já “nasceu morta”. Em razão disso, os efeitos por ela pro-duzidos são todos considerados inválidos e, consequentemente, a sentença que reconhece a inconstitucionalidade da norma, em sede de ADI, é meramente declaratória.

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Ocorre que, conforme já explicado na aula passada, há a possibilidade do STF modu-lar os efeitos temporais, por decisão de 2/3 seus membros. Assim, excepcionalmente a decisão em sede de ADI poderá ter efeitos “ex nunc” ou mesmo poderá ter eficácia a partir de um outro momento fixado pela Corte.

ATENÇÃO!

Segundo a jurisprudência do STF, é possível o ajuizamento de embargos de de-claração para fins de modulação dos efeitos de decisão proferida em sede de ADI, ficando seu acolhimento condicionado, entretanto, à exigência de pedido formulado nesse sentido na petição inicial.

Ocorre que, algumas vezes (excepcionalmente), o STF já acolheu embargos de declaração para modular efeitos da decisão proferida em ADI sem que houves-se pedido de modulação na petição inicial.

b) Eficácia “erga omnes”: a decisão em sede de ADI terá eficácia contra todos, ou seja, alcança indistintamente a todos. Isso se deve ao fato de que a ADI é um processo de caráter ob-jetivo, no qual inexistem partes.

Vale ressaltar que, assim como já explicado no item anterior, o STF também poderá

modular os efeitos em relação aos atingidos, por decisão de 2/3 (dois terços) dos seus membros.

c) Efeito vinculante: a decisão definitiva de mérito proferida pelo STF em ADI terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à Administração Pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal.

Todavia, vale ressaltar que a decisão de mérito não vincula o próprio STF, nem mes-mo o Poder Legislativo. Assim, é perfeitamente possível que o referido Tribunal mude a orienta-ção firmada em julgados pretéritos, bem como é possível o legislador editar uma lei de conteú-do idêntico à lei que o STF acabou de declarar inconstitucional.

É certo que o Poder Legislativo não está vinculado à decisão do STF, sob pena de “fossilização do legislativo”, uma vez que estaria atingindo sua função típica (Informativo nº 386 do STF).

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IMPORTANTE!

Há duas teorias a respeito do efeito vinculante das decisões no âmbito do con-trole abstrato: a) a teoria restritiva e; b) a teoria extensiva (ou “teoria da trans-cendência dos motivos determinantes”).

De acordo com a teoria restritiva, apenas a parte dispositiva da sentença é que terá efeito vinculante. Por outro lado, para a teoria extensiva, além da parte dis-positiva, uma parte da fundamentação também terá efeito vinculante.

Antigamente, o STF vinha atribuindo efeito vinculante não somente ao dispo-sitivo da sentença, mas, também, aos fundamentos determinantes da decisão. Ocorre que, atualmente, o referido Tribunal não mais adota essa teoria. Dessa forma, apenas a parte dispositiva terá efeito vinculante (teoria restritiva).

Trata-se de verdadeira jurisprudência defensiva, no sentido de se evitar o nú-mero crescente de reclamações.

d) Efeito repristinatório: em razão do efeito anulatório “ex tunc”, decorre o efeito re-pristinatório. Como a norma inconstitucional é nula (nunca chegou a ter eficácia), não gerou o efeito de revogar as normas anteriores a ela. Assim, com a declaração de inconstitucionalidade, a norma anterior é restabelecida, caso existente.

É importante registrar que, o STF poderá declarar a inconstitucionalidade da norma impugnada (objeto da ação) e também das normas por ela revogadas, evitando o efeito repristinatório da decisão de mérito. Entretanto, para que isso ocorra, é necessário que o autor impugne tanto a norma revogadora quanto os atos por ela revogados.

1.2 AÇÃO DECLARATÓRIA DE CONSTITUCIONALIDADE (ADC)

A Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC) é importante instrumento do con-trole abstrato de constitucionalidade. Surgiu no ordenamento jurídico com a promulgação da EC nº 03/1993. Posteriormente, ela foi objeto da EC nº 45/2004, que equiparou o rol de legitima-dos da ADC e da ADI.

É espécie de controle concentrado no STF que visa declarar a constitucionalidade (primeiro ponto diferenciado em relação à ADI) de leis ou atos normativos federais que estejam em consonância com a Constituição.

Assim, a finalidade da ADC é transformar a presunção de constitucionalidade relativa em presunção de constitucionalidade absoluta das leis ou atos normativos federais, acabando com o estado de incerteza e insegurança jurídica do ordenamento.

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Há uma enorme semelhança com a ADI. Por conta disso, focaremos, principalmente, nos pontos que as diferenciam.

• Competência

Por se tratar de controle concentrado, a competência para o julgamento dessas ações é do STF.

• Legitimidade

O rol de legitimados é o mesmo da ADI (art. 103, CRFB/88):

Art. 103. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade: I - o Presidente da República;II - a Mesa do Senado Federal;III - a Mesa da Câmara dos Deputados;IV a Mesa de Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal;V - o Governador de Estado ou do Distrito Federal;VI - o Procurador-Geral da República;VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;VIII - partido político com representação no Congresso Nacional;IX - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.

As observações que fizemos na ADI também valem para a ADC.

• Objeto

Aqui, encontramos o segundo ponto diferenciador em relação à ADI. Conforme já dito anteriormente, a ADC visa declarar a constitucionalidade de leis ou atos normativos fede-rais. Por outro lado, a ADI cabe contra lei ou ato normativo federal ou estadual.

Vale ressaltar, no entanto, que a ADC não pode ser ajuizada de forma temerária, sob pena de transformar o STF em órgão de consulta. Em razão disso, há um requisito de admissibi-lidade: existência de CONTROVÉRSIA JUDICIAL RELEVANTE. Vejamos:

Art. 14. A petição inicial indicará:I - o dispositivo da lei ou do ato normativo questionado e os fundamen-tos jurídicos do pedido;II - o pedido, com suas especificações;

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III - a existência de controvérsia judicial relevante sobre a aplicação da disposição objeto da ação declaratória.Parágrafo único. A petição inicial, acompanhada de instrumento de pro-curação, quando subscrita por advogado, será apresentada em duas vias, devendo conter cópias do ato normativo questionado e dos docu-mentos necessários para comprovar a procedência do pedido de decla-ração de constitucionalidade. (grifo nosso)

Nesse sentido, o STF considera que a ADC “não é o meio adequado para dirimir qual-quer dúvida em torno da constitucionalidade de lei ou ato normativo federal, mas somente para corrigir uma situação particularmente grave de incerteza, suscetível de desencadear conflitos e de afetar, pelas suas proporções, a tranquilidade geral” (STF, Pleno, ADC 1-1/DF, 05.11.1993).

Assim, é necessário demonstrar que está havendo um verdadeiro estado de incerteza e insegurança no controle difuso, devendo ainda indicar a existência de ações em andamento em juízos ou tribunais em que a constitucionalidade da lei esteja sendo impugnada.

ATENÇÃO!

Vale ressaltar que a mera controvérsia doutrinária não é suficiente para gerar estado de incerteza apto a legitimar a propositura da ADC. A controvérsia deve ser “judicial”.

Em um mesmo processo de controle concentrado submetido ao STF, é possível que haja cumulação de pedidos típicos de ADI e ADC (ADI 5.316). Por exemplo, pode ser ajuizada ADC no STF com um pedido de declaração de constitucionalidade do art. XX e, ao mesmo tem-po, pleiteando a declaração de inconstitucionalidade do art. YY.

Por fim, vale salientar que serão objeto de ADC somente as leis ou atos normativos federais que foram produzidos após o surgimento da ADC, ou seja, a partir de 17/03/1993 (EC nº 03).

• Procedimento

O procedimento da ADC é quase idêntico ao da ADI, com as seguintes modificações:

a) Se admitida a ADC, ela não irá para a autoridade que fez a lei ou o ato normativo federal e nem mesmo irá para o Advogado-Geral da União. Entende o STF que, uma vez que o autor busca a preservação da constitucionalidade do ato, não é necessário que o AGU exerça papel de defensor da mesma, já que a norma não está sendo “atacada”, mas “defendida” por meio da ação.

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Ressalta-se que a manifestação do Procurador-Geral da República continua sendo obrigatória.

b) É possível deferimento de medida cautelar para que os juízes suspendam o julga-mento dos processos que envolvam a aplicação da lei ou do ato normativo objeto da ação até seu julgamento definitivo (prazo máximo de 180 dias da publicação da decisão no DOU). Essa liminar também terá efeitos vinculantes e erga omnes. Vamos explicar melhor no próximo tó-pico.

• Medica cautelar

As leis se presumem constitucionais até que alguém declare sua inconstitucionalida-de.

Apesar disso, é possível a medida cautelar em ADC. Seu efeito será específico: sus-pender o julgamento dos processos nos quais a constitucionalidade da lei ou ato normativo está sendo questionada.

Como a ADC pressupõe a existência de controvérsia judicial relevante, existem vários processos nos quais a medida cautelar estará sendo discutida. Eles deverão ser todos suspen-sos pelo prazo de 180 dias, findo o qual voltam a tramitar normalmente e podem ser julgados. Vejamos os dispositivos legais:

Art. 21. O Supremo Tribunal Federal, por decisão da maioria absoluta de seus membros, poderá deferir pedido de medida cautelar na ação de-claratória de constitucionalidade, consistente na determinação de que os juízes e os Tribunais suspendam o julgamento dos processos que en-volvam a aplicação da lei ou do ato normativo objeto da ação até seu julgamento definitivo.

Parágrafo único. Concedida a medida cautelar, o Supremo Tribunal Fe-deral fará publicar em seção especial do Diário Oficial da União a parte dispositiva da decisão, no prazo de dez dias, devendo o Tribunal proce-der ao julgamento da ação no prazo de cento e oitenta dias, sob pena de perda de sua eficácia.

Apesar da disposição legal, o STF não tem aplicado essa regra na prática. O referido Tribunal tem reconhecido a eficácia da cautelar concedida em sede de ADC mesmo após o es-gotamento desse prazo.

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ATENÇÃO!

Nas ações de controle abstrato (todas, e não só a ADC), em regra, as medidas cautelares são concedidas pela maioria absoluta dos membros do STF. Só ex-cepcionalmente o relator pode conceder medida cautelar.

Destaca-se que, da mesma forma que a cautelar em ADI, tem eficácia “erga omnes” e efeitos vinculante e “ex nunc”. Todavia, é importante ressaltar que o STF já reconheceu em seus julgados a possibilidade da medida cautelar ter efeitos “ex tunc” (ADC nº 9 e ADC nº 12).

• Efeitos da decisão de mérito

Assim como a ADI, a ADC é uma ação de natureza dúplice (ou ambivalente). Se ela for julgada procedente, será declarada a constitucionalidade da norma; por outro lado, se for julgada improcedente, a norma será declarada inconstitucional.

As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo STF, nas ações declaratórias de constitucionalidade, produzirão efeitos “ex tunc”, eficácia contra todos (“erga omnes”) e efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública di-reta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal.

Quanto ao efeito “ex tunc”, a posição majoritária (e adotada pelo STF) afirma que, quando houver a declaração de inconstitucionalidade da norma (ADC julgada improcedente), é possível a modulação dos efeitos temporais da sentença.

Por fim, assim como na ADI, a decisão que declara a constitucionalidade ou a incons-titucionalidade da lei ou do ato normativo em ADC é irrecorrível, ressalvada a interposição de embargos declaratórios. Além disso, a decisão em ADC não pode ser objeto de ação rescisória.

Sistematizando:

AÇÃO DECLARATÓRIA DE CONSTITUCIONALIDADEPedido ConstitucionalidadeObjeto Leis e atos normativos federais

Legitimados Art. 103, I a IX, CF

Efeitos da decisão Em regra, erga omnes, vinculante, e ex tunc.

Julgamento procedente da ação A norma é considerada constitucionalModulação dos efeitos temporais da

decisão Sim

Desistência da ação ou ação rescisória Não

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“Amicus curiae” Sim

VotaçãoPresença de no mínimo 8 Ministros,

decisão tomada pela votação unifor-me de pelo menos 6 Ministros

Prazo prescricional ou decadencial Não

1.3 AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO (ADO)

A Constituição é uma norma jurídica e, por isso, possui uma força normativa própria. Desta forma, ela manda/obriga/determina, segundo lições de Hesse

Trata- se de uma norma jurídica superimperativa, possuindo imperatividade reforça-da, em decorrência do princípio da supremacia da Constituição.

As nossas Constituições pretéritas não eram aplicadas, em razão da inação, falta de ação do legislador constituído. Algumas normas constitucionais precisam de regulamentação, devida pelo legislador, que descumpria frequentemente os comandos constitucionais.

A síndrome de inefetividade é justamente a desobediência da Constituição, em razão da falta de regulamentação. Trata-se de patologia constitucional ao lado do fenômeno da cons-titucionalização simbólica, que reclama a identificação de mecanismos para sua concretização e, nisso, o Poder Judiciário tem assumido a importante missão de implementar a efetividade das normas constitucionais, o que tem feito por meio das técnicas de mandado de injunção e ação direta de inconstitucionalidade por omissão.

A ADO (ou ADI por omissão) é uma inovação da CFRB/88, inspirada na Constituição portuguesa. Busca-se com a ADO combater a “síndrome da inafetividade das normas constitu-cionais”.

Em outras palavras, a ADO é ação de controle concentrado que busca tornar efetiva norma constitucional destituída de efetividade, ou seja, somente é aplicável para as normas constitucionais de eficácia limitada. Cabe destacar que a ADO não se restringe à omissão legis-lativa; ela alcança, também, a omissão da Administração Pública em editar atos administrativos necessários à concretização de dispositivos constitucionais.

Na Constituição Federal, a ADO encontra previsão no art. 103, § 2º, o qual foi regula-mentado também pela Lei 9.868/99.

Art. 103. § 2º Declarada a inconstitucionalidade por omissão de medi-da para tornar efetiva norma constitucional, será dada ciência ao Poder competente para a adoção das providências necessárias e, em se tratan-do de órgão administrativo, para fazê-lo em trinta dias.

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Em regra, tudo o que estudamos quando vimos à ADI é aplicável à ADO. Nos tópicos seguintes, ressaltaremos aqueles pontos em que as ações se distinguem.

• Competência

Por se tratar de controle concentrado, a competência para o julgamento dessas ações é originariamente do STF.

• Legitimidade

O rol de legitimados ativos é o mesmo da ADI e ADC (art. 103, CRFB/88):

Art. 103. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade: I - o Presidente da República;II - a Mesa do Senado Federal;III - a Mesa da Câmara dos Deputados;IV a Mesa de Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal;V - o Governador de Estado ou do Distrito Federal;VI - o Procurador-Geral da República;VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;VIII - partido político com representação no Congresso Nacional;IX - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.

As observações que fizemos na ADI também valem para a ADO.

Precisamos apenas fazer uma observação quanto à legitimidade passiva. Responde-rá pela ADO a autoridade ou órgão responsável pela medida para tornar efetiva a norma cons-titucional.

Assim, deve-se observar, no caso concreto, a quem cabia a iniciativa de lei. Caso o Poder Legislativo não disponha de iniciativa sobre determinada matéria, não poderá ser impu-tada a ele a omissão. Dessa forma, num caso em que a lei é de iniciativa privativa do Presidente da República e ele não apresenta o projeto de lei ao Legislativo, o requerido será o Chefe do Executivo.

• Objeto

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Só cabe ADO em relação a um tipo de norma constitucional: norma de eficácia limi-tada de caráter mandatório, cuja aplicabilidade requer uma ação do Poder Público.

A ADO tem por finalidade, portanto, promover a integridade do ordenamento jurídi-co, fazendo cessar a ofensa à Constituição pela inércia dos poderes constituídos. Está relacio-nada à omissão “em tese”, sem qualquer relação a um caso concreto.

Segundo o STF, não cabe ADO se a omissão for de ato concreto. Assim sendo, só cabe ADO em relação a ato normativo, seja ele ato normativo primário ou secundário.

ATENÇÃO!

- Segundo o STF, pendente julgamento da ADO, se a norma que não tinha sido regulamentada é revogada, a referida ação deverá ser extinta por perda do ob-jeto.

- Ademais, o STF também entendia que haveria perda de objeto na hipótese de encaminhamento de projeto de lei sobre a matéria ao Congresso Nacional (ADI 130-2/DF). Contudo, esse entendimento foi repensado no julgamento da ADO 3.682. Entendeu-se que a inércia na deliberação também poderia configurar omissão passível de vir a ser reputada inconstitucional, no caso de os órgãos legislativos não deliberarem dentro de um prazo razoável sobre o projeto de lei em tramitação.

A omissão impugnada por meio de ADO pode ser total ou parcial. A ADI por omissão total ocorre quando há falta de lei ou ato normativo para viabilizar direitos previstos na Consti-tuição. Por sua vez, a ADI por omissão parcial ocorre quando existe lei, mas a lei é insuficiente para viabilizar direitos previstos na Constituição.

Por sua vez, a omissão parcial pode ser dividida em duas espécies: omissão parcial relativa, que ocorre quando a lei exclui do seu âmbito de incidência determinada categoria que nele deveria estar abrigada, privando-a de um benefício; e a omissão parcial propriamente dita, que ocorre quando o legislador atua sem afetar o princípio da isonomia, mas de modo insufi-ciente ou deficiente relativamente à obrigação que lhe era imposta.

• Procedimento

Podemos sintetizar o procedimento da ADO, que é semelhante ao da ADI, da seguinte forma:

Petição inicial (deve indicar: a falta de lei – omissão total – ou a insuficiência da lei – omissão parcial; os fundamentos jurídicos; e o pedido) → juízo de admissibilidade pelo relator → admitida, prestação de informações pela autoridade em 30 dias → possibilidade de participação

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do AGU em 15 dias (não é obrigatório) → PGR, nas ações em que não for o autor, terá vista pelo prazo de 15 dias → informações adicionais (possibilidade) → relator: lança relatório e solicita dia para julgamento → decisão.

Vale ressaltar que o julgamento da ADO segue a mesma lógica da ADI. Assim, o quórum para julgamento será de 8 ministros e o quórum para decisão será de 6 ministros.

• Medida cautelar

A lei 12.063/2009, que modificou a lei 9.868/99, alterou bastante a medida cautelar e a decisão de mérito.

A jurisprudência do STF, antes da alteração feita em 2009, era pacífica no sentido de que não cabia medida cautelar em ADO total (quando não existisse nenhum ato). O argumento do STF era de que, sendo o efeito da decisão de mérito apenas dar ciência ao poder competen-te de sua omissão (o STF não supre a omissão, apenas comunicando a omissão), não haveria sentido em dar uma medida cautelar, pois ela apenas daria ciência antecipada, sem resolver o problema da pessoa. A lei de 2009 alterou a lei 9.868/99 para admitir a medida cautelar:

Art. 12-F. Em caso de excepcional urgência e relevância da matéria, o Tri-bunal, por decisão da maioria absoluta de seus membros, observado o disposto no art. 22, poderá conceder medida cautelar, após a audiência dos órgãos ou autoridades responsáveis pela omissão inconstitucional, que deverão pronunciar-se no prazo de 5 (cinco) dias.§ 1º A medida cautelar poderá consistir na suspensão da aplicação da lei ou do ato normativo questionado, no caso de omissão parcial, bem como na suspensão de processos judiciais ou de procedimentos admi-nistrativos, ou ainda em outra providência a ser fixada pelo Tribunal. § 2º O relator, julgando indispensável, ouvirá o Procurador-Geral da Re-pública, no prazo de 3 (três) dias.§ 3º No julgamento do pedido de medida cautelar, será facultada susten-tação oral aos representantes judiciais do requerente e das autoridades ou órgãos responsáveis pela omissão inconstitucional, na forma estabe-lecida no Regimento do Tribunal.

Art.12-G. Concedida a medida cautelar, o Supremo Tribunal Federal fará publicar, em seção especial do Diário Oficial da União e do Diário da Jus-tiça da União, a parte dispositiva da decisão no prazo de 10 (dez) dias, devendo solicitar as informações à autoridade ou ao órgão responsável pela omissão inconstitucional, observando-se, no que couber, o proce-dimento estabelecido na Seção I do Capítulo II desta Lei.

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Observe, portanto, que, no caso de inconstitucionalidade por omissão parcial, a me-dida cautelar consistirá em suspensão da aplicação da lei ou do ato normativo questionado. Por outro lado, no caso de inconstitucionalidade por omissão total, a medida cautelar pode-rá consistir em suspensão de processos judiciais ou processos administrativos, ou ainda outra providência fixada pelo Tribunal.

• Efeitos da decisão de mérito

Declarada a inconstitucionalidade, surge a dúvida quanto à possibilidade do STF ela-borar a lei, para suprir a omissão. Em respeito à tripartição dos Poderes, não é permitido ao Judiciário editar a norma regulamentadora.

Na ADO, o STF adota, tradicionalmente, a teoria não concretista. Dessa forma, o Su-premo apenas reconhece a mora e dá ciência ao poder competente recomendando que supra a omissão. Ocorre que, no caso de omissão imputável a órgão administrativo: o STF notificará o órgão para que adote as providências necessárias em 30 (trinta) dias a partir da ciência da deci-são ou em outro prazo razoável a ser estipulado pelo Tribunal, tendo em vista as circunstâncias específicas do caso e o interesse público envolvido.

Vejamos:

Art. 12-H. Declarada a inconstitucionalidade por omissão, com obser-vância do disposto no art. 22, será dada ciência ao Poder competente para a adoção das providências necessárias.§ 1º Em caso de omissão imputável a órgão administrativo, as providên-cias deverão ser adotadas no prazo de 30 (trinta) dias, ou em prazo ra-zoável a ser estipulado excepcionalmente pelo Tribunal, tendo em vista as circunstâncias específicas do caso e o interesse público envolvido.

ATENÇÃO!

Na ADI nº 3.682, o STF estipulou o prazo de 18 (dezoito) meses para que o Congresso Nacional conferisse disciplina legislativa ao tema, contemplando as situações veri-ficadas em virtude da omissão legislativa. Salienta-se, porém, que a própria Corte fez a ressalva de que não se tratava “de impor um prazo para a atuação legislativa do Congresso Nacional, mas apenas da fixação de um parâmetro temporal razoável”. Essa solução foi uma inovação do Supremo, ao estabelecer prazo para superação do estado de inconstitucionalidade decorrente da omissão.

1.4 ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL (ADPF)

A ADPF é espécie do controle concentrado de constitucionalidade no STF, que visa evitar ou reparar lesão a preceito fundamental da Constituição em virtude de ato do Poder Pú-

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blico ou controvérsia constitucional em relação à lei ou ato normativo federal, estadual ou mu-nicipal, inclusive os anteriores à Constituição.

A CRFB/88 trata da ADPF no seguinte dispositivo:

Art. 102. § 1º A arguição de descumprimento de preceito fundamental, decorrente desta Constituição, será apreciada pelo Supremo Tribunal Federal, na forma da lei.

Observa-se que a norma instituída pela CRFB/88 para tratar da ADPF é de eficácia limitada. Assim, era necessária uma lei regulamentadora para tratar dessa ação constitucional. Exatamente com essa finalidade é que foi editada a Lei nº 9.882/99. A partir dela, passou a ser possível a utilização da ADPF.

Afinal, o que é descumprimento de preceito fundamental?

A palavra “descumprimento” possui significado mais amplo que o de “inconstitu-cionalidade”, uma vez que aquela abrange todos os comportamentos ofensivos à Constituição (atos normativos e atos não-normativos).

E o que seriam os preceitos fundamentais? Inicialmente, devemos apresentar as cor-rentes sobre o tema:

a) 1ª corrente: para ela, toda a Constituição é um preceito fundamental por excelên-cia (corrente minoritária).

b) 2ª corrente: para ela, apesar de a Constituição ser uma norma fundamental, ou seja, ser fundamento de validade para as outras normas do ordenamento jurídico, existem pre-ceitos fundamentais na mesma que se diferenciam de outras normas constitucionais, que não devem ser entendida como preceitos fundamentais (corrente majoritária, inclusive é a adotada pelo STF).

Pois bem, os preceitos fundamentais são aqueles que merecem maior proteção da Constituição, por serem normas consideradas essenciais, imprescindíveis ao ordenamento ju-rídico. A expressão “preceito” é mais genérica que “princípio”, uma vez que engloba não apenas os últimos, mas também todas as regras qualificadas como fundamentais. Engloba, também, as normas constitucionais implícitas fundamentais, juntamente com as expressas.

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ATENÇÃO!

O parâmetro de controle na ADI e na ADC é toda a Constituição Federal (com as exceções já tratadas anteriormente). Por sua vez, o parâmetro de controle na ADPF é somente o preceito fundamental.

É importante destacar que o entendimento jurisprudencial é o de que cabe ao STF identificar quais normas devem ser consideradas preceitos fundamentais. Vejamos algumas delas:

1) Princípios Fundamentais (Título I da CRFB – fundamentos, objetivos, princípios internacionais etc.);

2) Direitos fundamentais (Título II da CRFB);

3) Direitos fundamentais fora do título II – ex.: saúde e meio ambiente;

4) Princípios constitucionais sensíveis (art. 34, VII, da CRFB/88);

5)Cláusulas pétreas.

• Competência

Por se tratar de controle concentrado, a competência para o julgamento dessas ações é originariamente do STF.

• Legitimidade ativa

O rol de legitimados ativos é o mesmo da ADI, ADC e ADO (art. 103, CRFB/88):

Art. 103. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade: I - o Presidente da República;II - a Mesa do Senado Federal;III - a Mesa da Câmara dos Deputados;IV a Mesa de Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal;V - o Governador de Estado ou do Distrito Federal;VI - o Procurador-Geral da República;VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;VIII - partido político com representação no Congresso Nacional;IX - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.

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As observações que fizemos na ADI também valem para a ADPF.

• Espécies de ADPF

É Reconhecida a existência de duas espécies de ADPF. Nesses termos temos:

a) Arguição autônoma: visa evitar ou reparar lesão a preceito fundamental da Consti-tuição resultante de ato do Poder Público. Dessa forma, poderão ser objeto de ADPF autônoma atos administrativos, atos normativos (primários ou secundários) e até mesmo atos judiciais.

Observe, portanto, que a ADPF autônoma poderá ser preventiva (busca evitar lesão a preceito fundamental) ou repressiva (objetiva reparar lesão a preceito fundamental).

b) Arguição incidental: visa evitar ou reparar lesão a preceito fundamental da Cons-tituição em virtude de controvérsia constitucional em relação apenas a ato normativo primário ou secundário (federal, estadual ou municipal, inclusive os anteriores à Constituição).

Esse nome se justifica porque ela nasce de incidente no controle difuso-concreto de constitucionalidade.

Ademais, é importante registrar que, não obstante a ADPF incidental se originar de um processo de cunho subjetivo, a doutrina majoritária (e o STF) a considera um processo de cunho objetivo, uma vez que busca objetivamente preservar a ordem constitucional contra usurpações.

• Objeto

Incialmente, é importante destacar que a ADPF possui caráter subsidiário, ou seja, só é cabível quando não existir outro meio EFICAZ para sanar a lesividade. Trata-se, portanto, de ação de caráter residual: não sendo possível o ajuizamento das demais modalidades de contro-le abstrato, admite-se o uso da ADPF.

ATENÇÃO!

Na ADPF 33, o STF decidiu que a possibilidade de manejar processos ordinários e recursos extraordinários “não deve excluir, a priori, a utilização da arguição de descumprimento de preceito fundamental, em virtude da feição marcadamen-te objetiva dessa ação”.

Todavia, conforme jurisprudência do STF, é possível que haja fungibilidade entre ADPF e ADI. Mas o que isso quer dizer? Significa que uma pode ser substituída pela outra. Assim,

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uma ADPF ajuizada perante o STF poderá ser conhecida como ADI. Da mesma forma, uma ADI poderá ser conhecida como ADPF.

Ocorre que, para que isso aconteça, alguns parâmetros precisam ser observados. São eles:

a) dúvida razoável sobre o caráter autônomo de atos infralegais. Exemplo: o autor propõe ADPF acreditando que o ato não tem caráter autônomo. Porém, trata-se de “caso po-lêmico”, em que há uma “dúvida razoável”. Entendendo o STF que se trata de ato normativo autônomo, a ADPF será recebida como ADI.

Cuidado: Para o STF, se houver um “erro grosseiro” na escolha do instrumento pro-cessual, não haverá fungibilidade.

b) alteração superveniente de norma constitucional utilizada como parâmetro de controle.

Pois bem, a ADPF é cabível diante de que? Ou seja, qual seu objeto? Vejamos:

a) Direito pré-constitucional: na ADI e na ADC, afirmamos que as referidas ações só poderiam ser utilizadas para examinar a constitucionalidade de leis ou atos normativos pós--constitucionais. Na ADPF, por outro lado, isso não acontece. O controle abstrato de leis ou atos normativos anteriores à Constituição deve ser feito mediante ADPF.

b) Direito municipal em relação à Constituição Federal: as leis e atos normativos mu-nicipais não podem ser objeto de ADI face à Constituição Federal, tampouco de ADC, conforme já estudamos. Assim, apenas por meio de ADPF poderá se examinar em abstrato o direito muni-cipal em face da Constituição Federal.

c) Interpretações judiciais violadoras de preceitos fundamentais: um exemplo disso foi a ADPF nº 101, na qual o STF julgou inconstitucionais as interpretações judiciais que permiti-ram a importação de pneus usados, as quais violaram o direito ao meio ambiente.

d) Direito pós-constitucional já revogado ou de efeitos exauridos (ADPF 81).

Por outro lado, não caberá ADPF contra:

a) Atos políticos: já que estes não são passíveis de impugnação judicial quando prati-cados dentro das hipóteses definidas pela Constituição.

b) Enunciados de súmulas (vinculantes ou não).

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c) Proposta de emenda à Constituição: a possibilidade trazida pela Lei 9.882/99 foi vetada pelo então Presidente Fernando Henrique.

d) Decisão judicial transitada em julgado: uma vez que um instituto de controle con-centrado de constitucionalidade não tem como função desconstituir a coisa julgada.

• Medida cautelar

Os fundamentos para concessão da cautelar em ADPF são: fumus boni iuris e pericu-lum in mora.

Determina a Lei 9.882/99 que o STF, por decisão da maioria absoluta de seus mem-bros, poderá deferir pedido de medida liminar na arguição de descumprimento de preceito fundamental. Em caso de extrema urgência ou perigo de lesão grave, ou ainda, em período de recesso, poderá o relator conceder a liminar. Todavia, posteriormente, a medida cautelar deve ser referendada pelo Pleno.

Em ADPF incidental, a liminar poderá consistir na determinação de que juízes e tribu-nais suspendam o andamento de processo ou os efeitos de decisões judiciais, ou de qualquer outra medida que apresente relação com a matéria objeto da ADPF. Vale ressaltar, no entanto, que, se houver coisa julgada, não há suspensão da decisão judicial.

Já em ADPF autônoma, a liminar suspende o ato do Poder Público que fere o preceito fundamental.

• Procedimento

Vamos sintetizar o procedimento da ADPF, fazendo as observações devidas:

a) O legitimado ativo ajuíza a ADPF. A petição deve cumprir os requisitos do art. 3º, da Lei 9.882/99. Vejamos:

Art. 3º A petição inicial deverá conter:I - a indicação do preceito fundamental que se considera violado;II - a indicação do ato questionado;III - a prova da violação do preceito fundamental;IV - o pedido, com suas especificações;V - se for o caso, a comprovação da existência de controvérsia judicial relevante sobre a aplicação do preceito fundamental que se considera violado.Parágrafo único. A petição inicial, acompanhada de instrumento de mandato, se for o caso, será apresentada em duas vias, devendo conter

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cópias do ato questionado e dos documentos necessários para compro-var a impugnação.

O requisito do inciso V diz respeito apenas à ADPF incidental.

b) ADPF encaminhada ao relator, o qual fará juízo de admissibilidade. Não sendo admitida a ação, cabe agravo no prazo de 5 dias.

c) Sendo admitida a ADPF, haverá a análise da cautelar (se houver). É mister salientar que o STF poderá conceder a cautelar inaudita altera partes. No entanto, se o relator entender necessário, poderá determinar oitiva da autoridade que emanou a lei ou praticou o ato, bem como o PGR e AGU, no prazo comum de 5 dias (art. 5º, § 2º, Lei 9.882/99).

d) Concedida ou não a cautelar, haverá a prestação de informações pela autoridade que praticou o ato ou que produziu a lei ou ato normativo, no prazo de 10 dias.

e) Posteriormente, o PGR terá vista dos autos, pelo prazo de 5 dias, tão somente nas ADPFs não ajuizadas por ele (art. 7º, parágrafo único, Lei 9.882/99).

f) Existe a possibilidade do relator solicitar informações adicionais, por meio de pe-ritos, especialistas, audiências públicas etc. O art. 6º, § 1º, inclusive, afirma que o relator, se entender necessário, poderá ouvir as partes nos processos que ensejaram a arguição.

Essa hipótese envolverá, por óbvio, a ADPF incidental, pois é ela que nasce do con-trole difuso-concreto.

Além disso, vale ressaltar que, não obstante a Lei 9.882/99 não fale expressamente do “amicus curiae”, o STF tem aplicado por analogia, nas ADPF, o § 2º, do art. 7º, da Lei 9.868/99, para admitir sua participação no procedimento.

g) O quórum para julgamento será de 8 ministros e o quórum para a decisão será de 6 ministros.

• Decisão de mérito

A lei determina que a decisão proferida em ADPF terá eficácia contra todos (“erga omnes”) e efeitos “ex tunc” e vinculante relativamente aos demais órgãos do Poder Público. A decisão em sede de ADPF é irrecorrível e não está sujeita a ação rescisória.

Quanto ao efeito temporal (ex tunc), também se admite a MODULAÇÃO TEMPORAL dos efeitos da decisão. Para essa modulação ser feita, exige-se os mesmos requisitos da ADI/

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ADC (quórum qualificado de 2/3 dos ministros + razões de segurança jurídica ou excepcional interesse social).

Vale ressaltar que essa modulação é não só quanto ao aspecto temporal, mas tam-bém quanto à possibilidade de restrição dos efeitos de abrangência daquela decisão (às situa-ções que serão atingidas por ela). O STF pode excluir determinadas hipóteses/situações do âm-bito de incidência da decisão na ADPF.

Caso a ADPF tenha por objeto direito pré-constitucional, a decisão do STF reconhece-rá a recepção ou a revogação da lei ou do ato normativo impugnado, tendo como fundamento a compatibilidade, ou não, com a CF/88.

Por fim, ao contrário das decisões proferidas em ADI e ADC, que só produzem efeitos a partir da publicação da ata de julgamento no Diário da Justiça, a decisão de mérito em ADPF produz efeitos imediatos, independentemente da publicação do acórdão. Assim, dispõe a lei que “o presidente do Tribunal determinará o imediato cumprimento da decisão, lavrando-se o acórdão posteriormente”.

1.5 AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE INTERVENTIVA (REPRESENTAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE INTERVENTIVA)

É uma espécie de controle concentrado no STF que visa declarar a inconstitucionalidade de uma conduta de Estado-membro, do DF ou do Município que descumprir princípio sensível da Constituição Federal.

Observe, portanto, que o parâmetro de controle não é toda a Constituição, mas so-mente o art. 34, VII, que diz respeito aos princípios sensíveis.

A Lei 12.562/2011 regula a ADI interventiva.

• Finalidades

A ADI interventiva possui duas finalidades: uma política e outra jurídica. Esta diz res-peito à declaração pelo STF da inconstitucionalidade da conduta do Estado, do Distrito Federal ou do Município. Já a finalidade política é a ADI interventiva ser proposta para a decretação de intervenção pelo Presidente da República (intervenção federal) ou pelo Governador (interven-ção estadual).

• Legitimidade ativa

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No caso da ADI interventiva federal, esta só poderá ser proposta pelo Procurador--Geral da República perante o STF. Por sua vez, a ADI interventiva estadual somente poderá ser proposta pelo Procurador-Geral de Justiça perante o Tribunal de Justiça (TJ).

Vale registra que o PGR e o PGJ não estão obrigados a ajuizar a ADI interventiva caso tomem conhecimento do descumprimento de princípio sensível, ou seja, possuem discriciona-riedade.

• Objeto

O objeto da ADI interventiva poderá ser conduta normativa ou mesmo conduta con-creta (comissiva ou omissiva).

Por fim, vejamos o que dispõe a CFRB/88:

Art. 36. A decretação da intervenção dependerá:III - de provimento, pelo Supremo Tribunal Federal, de representação do Procurador-Geral da República, na hipótese do art. 34, VII, e no caso de recusa à execução de lei federal.

Art. 34. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exce-to para: VII - assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais:a) forma republicana, sistema representativo e regime democrático;b) direitos da pessoa humana;c) autonomia municipal;d) prestação de contas da administração pública, direta e indireta.e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos esta-duais, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde.

• Procedimento

I – Petição Inicial

Como sobredito, cabe ao PGR ajuizar a representação interventiva perante o STF.

Com efeito, a petição inicial deverá conter, conforme previsto no art. 3º da Lei 12.562/2011:

a) A indicação do princípio constitucional violado ou, no caso de recusa à aplicação de lei federal, a indicação das disposições questionadas;

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b) A indicação do ato normativo, administrativo ou concreto, ou da omissão, impug-nados;

c) A prova da violação do princípio ou da recusa de execução de lei federal - Observe--se, neste ponto, a necessidade de prova pré-constituída. A petição inicial deverá conter, se for o caso, cópia do ato questionado e dos documentos necessários à prova da impugnação;

d) O pedido, com suas especificações.

Uma vez ajuizada a representação, será possível o indeferimento liminar da inicial pelo relator, nos seguintes casos: não se tratar de hipótese de representação; ausência algum dos requisitos legais; inépcia (art. 4º).

Havendo indeferimento liminar, caberá agravo, no prazo de 5 dias (art. 4º, parágrafo único).

II – Liminar

O STF poderá, por decisão da maioria absoluta de seus membros, deferir medida liminar na representação interventiva (art. 5º).

Conforme previsto no art. 5º, §1º, da Lei 12.562/2011, no caso de requerimento de medida liminar, “o relator poderá ouvir os órgãos ou autoridades responsáveis pelo ato ques-tionado, bem como o Advogado-Geral da União ou o Procurador-Geral da República, no prazo comum de 5 dias”.

A liminar poderá consistir em (art. 5º, §2º):

a) Determinação de que se suspenda o andamento de processo ou efeitos de deci-sões judiciais ou administrativas;

b) Qualquer outra medida que apresente relação com a matéria objeto da represen-tação interventiva.

III – Requisição de informações

Conforme previsto no art. 6º da Lei, “Apreciado o pedido de liminar ou, logo após recebida a petição inicial, se não houver pedido de liminar, o relator solicitará as informações às autoridades responsáveis pela prática do ato questionado, que as prestarão no prazo de até 10 dias”.

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Em seguida, serão ouvidos o AGU e o PGR, que se manifestarão também em 10 dias.

IV – Instrução e amicus curiae

Nos termos do art. 7º, “se entender necessário, poderá o relator requisitar informa-ções adicionais, designar perito ou comissão de peritos para que elabore laudo sobre a questão ou, ainda, fixar data para declarações, em audiência pública, de pessoas com experiência e au-toridade na matéria”.

Demais disso, dispõe o seu parágrafo único que “Poderão ser autorizadas, a critério do relator, a manifestação e a juntada de documentos por parte de interessados no processo”.

Observe-se, pois, que é possível a manifestação, em audiência pública, de pessoas com experiência e autoridade na matéria, o que confirma a possibilidade de amicus curiae nas representações interventivas.

V - Decisão

Ao final, o STF decidirá, presentes na sessão pelo menos 8 ministros, como em qual-quer outra ação de controle concentrado. A decisão será pela procedência ou improcedência se, em um ou outro sentido, se manifestarem pelo menos 6 ministros.

Por fim, julgada a ação, far-se-á a comunicação às autoridades ou aos órgãos respon-sáveis pela prática dos atos questionados, e, se a decisão final for pela procedência, o Presi-dente do STF, publicado o acórdão, o levará ao conhecimento do Presidente da República, para que, no prazo improrrogável de 15 dias, dê cumprimento aos §§1º e 3º do art. 36 da CRFB/88 (ou seja, decrete a intervenção).

O Presidente, por meio de decreto, limitar-se-á a suspender a execução do ato im-pugnado. Caso essa medida não seja suficiente para o restabelecimento da normalidade, aí sim o Presidente decretará a intervenção federal.

A decisão final é irrecorrível e insuscetível de ação rescisória (art. 12).

1.6 CONTROLE CONCENTRADO DE CONSTITUCIONALIDADE NO ÂMBITO DOS ESTADOS-MEMBROS

A CF/88 possui força normativa (Konrad Hesse). Ela é uma norma jurídica dotada de imperatividade reforçada.

De acordo com a teoria da construção escalonada de Hans Kelsen, a CF se coloca no ápice da pirâmide normativa. Assim, é ela o fundamento de validade último das Constituições

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Estaduais.

Regras do controle abstrato de constitucionalidade prevista na CF:

1) Somente leis ou atos normativos estaduais ou municipais poderão ser objeto de controle

2) Apesar de não fixar os legitimados, a CF vedou a atribuição de legitimidade apenas um único órgão.

3) O órgão competente para o julgamento da ação pela via principal é apenas o Tri-bunal de Justiça.

• Objeto

O controle abstrato de constitucionalidade estadual somente tem por objeto leis es-taduais ou municipais, face à Constituição Estadual. O TJ local, portanto, não tem competência para julgar, em controle abstrato e concentrado, lei federal, uma vez que é competência do STF.

• Competência

Conforme já dito anteriormente, o controle será exercido exclusivamente pelo Tribu-nal de Justiça do respectivo Estado-membro.

• Legitimados

Também já mencionamos anteriormente. A Constituição não previu, expressamente, os legitimados ao controle abstrato estadual; apenas proibiu que essa atribuição fosse dada a um único órgão. Assim, cabe às Constituições Estaduais determinarem quais são os legitima-dos.

• Parâmetro de controle

O controle abstrato e concentrado realizado pelo Tribunal de Justiça terá como parâ-metro a Constituição Estadual ou, no caso do Distrito Federal, a Lei Orgânica do DF.

Vale destacar que todas as normas da Constituição Estadual poderão servir como parâmetro de controle.

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ATENÇÃO!

No julgamento do RE 650.898/RS, o STF decidiu que, excepcionalmente, o TJ poderá realizar controle abstrato de constitucionalidade tendo como parâme-tro a Constituição Federal. Isso será possível quando a norma da Constituição Federal que servirá como parâmetro for de reprodução obrigatória pelas Cons-tituições Estaduais.

• Duplo controle

Diz-se que há duplo controle de constitucionalidade quando uma lei é alvo de con-trole de constitucionalidade no Tribunal de Justiça (TJ) e no Supremo Tribunal Federal (STF). Isso poderá ocorrer quando uma lei estadual é questionada:

a) No Tribunal de Justiça, face à Constituição Estadual.

b) No Supremo Tribunal Federal, face à Constituição da República. No caso de ajui-zamento das ações ao mesmo tempo, deverá ocorrer a suspensão do processo na justiça esta-dual, até a deliberação do Supremo.

Assim, duas situações podem ocorrer:

1) O STF poderá considerar a norma estadual inconstitucional, o que fará com que a outra ADI, interposta na justiça estadual, perca seu objeto.

2) O STF poderá decidir pela constitucionalidade da norma estadual. Nesse caso, o Tribunal de Justiça, havendo fundamento diverso que justifique a possível inconstitucionalida-de da norma perante a Constituição do Estado, poderá continuar o julgamento da ADI estadual.

Ocorre que há a possiblidade do julgamento não acontecer simultaneamente. Nesse caso:

1) Se a lei for declarada inconstitucional pelo Tribunal de Justiça, será expurgada do ordenamento jurídico, não havendo que se falar em controle perante o STF.

2) Se a lei tiver sua constitucionalidade declarada pelo Tribunal de Justiça, poderá ser ajuizada ADI perante o STF. Nesse caso, a Corte poderá vir a considerá-la inconstitucional, tendo sua decisão prevalência sobre a coisa julgada estadual.

Por último, é importante registrar que, em regra, a decisão do TJ é irrecorrível. No entanto, existe a possibilidade de recurso extraordinário para o STF, caso o parâmetro constitu-cional for norma de reprodução obrigatória pelos Estados-membros.

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A decisão do STF nesse recurso extraordinário terá os mesmos efeitos de uma ADI genérica: eficácia “erga omnes” e efeitos “ex tunc” e vinculante. Também será possível a modu-lação temporal dos efeitos da decisão.