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Informativo 970-STF (26/03/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 1 Informativo comentado: Informativo 970-STF Márcio André Lopes Cavalcante Julgamentos que ainda não foram concluídos em virtude de pedidos de vista ou de adiamento. Serão comentados assim que chegarem ao fim: HC 178252/ES; Rcl 32298 AgR/DF. ÍNDICE DIREITO CONSTITUCIONAL AMICUS CURIAE Ilegitimidade do amicus curiae para pleitear medida cautelar CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE Relator não pode, de ofício, na ADPF que trata sobre o Estado de Coisas Inconstitucional dos presídios, determinar medidas para proteger os presos do Covid-19. MINISTÉRIO PÚBLICO O art. 227, VIII, da LC 75/93 autoriza que ato do PGR estipule prazo de duração para o recebimento do auxílio- moradia, estando essa limitação temporal em harmonia com o regime de subsídio, em parcela única, previsto no art. 39, § 4º e no art. 128, § 5º, I, “c”, da CF/88. CNJ Se o Tribunal aplica censura para magistrado que praticou conduta grave, essa decisão enseja revisão disciplinar do CNJ por ser contrária ao texto expresso da lei considerando que o art. 44 da LOMAN afirma que a censura será aplicada se a infração não justificar punição mais grave. DIREITO ADMINISTRATIVO PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR A estabilidade prevista no art. 149 da Lei nº 8.112/90 deve ser no cargo, não sendo suficiente que o membro da comissão goze de estabilidade no serviço público. No PAD, vigora a independência relativa das esferas penal e administrativa, havendo repercussão apenas em se tratando de absolvição no juízo penal por inexistência do fato ou negativa de autoria. DIREITO PROCESSUAL PENAL TRIBUNAL DO JÚRI Não se deve anular a condenação do réu no júri por ausência de defesa no caso em que o advogado fez sustentação oral por apenas 3 minutos, sendo que, antes disso, o Ministério Público já havia pedido a absolvição.

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Márcio André Lopes Cavalcante Julgamentos que ainda não foram concluídos em virtude de pedidos de vista ou de adiamento. Serão comentados assim que chegarem ao fim: HC 178252/ES; Rcl 32298 AgR/DF.

ÍNDICE DIREITO CONSTITUCIONAL

AMICUS CURIAE ▪ Ilegitimidade do amicus curiae para pleitear medida cautelar CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE ▪ Relator não pode, de ofício, na ADPF que trata sobre o Estado de Coisas Inconstitucional dos presídios, determinar

medidas para proteger os presos do Covid-19. MINISTÉRIO PÚBLICO ▪ O art. 227, VIII, da LC 75/93 autoriza que ato do PGR estipule prazo de duração para o recebimento do auxílio-

moradia, estando essa limitação temporal em harmonia com o regime de subsídio, em parcela única, previsto no art. 39, § 4º e no art. 128, § 5º, I, “c”, da CF/88.

CNJ ▪ Se o Tribunal aplica censura para magistrado que praticou conduta grave, essa decisão enseja revisão disciplinar do

CNJ por ser contrária ao texto expresso da lei considerando que o art. 44 da LOMAN afirma que a censura será aplicada se a infração não justificar punição mais grave.

DIREITO ADMINISTRATIVO

PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR ▪ A estabilidade prevista no art. 149 da Lei nº 8.112/90 deve ser no cargo, não sendo suficiente que o membro da

comissão goze de estabilidade no serviço público. ▪ No PAD, vigora a independência relativa das esferas penal e administrativa, havendo repercussão apenas em se

tratando de absolvição no juízo penal por inexistência do fato ou negativa de autoria.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

TRIBUNAL DO JÚRI ▪ Não se deve anular a condenação do réu no júri por ausência de defesa no caso em que o advogado fez sustentação

oral por apenas 3 minutos, sendo que, antes disso, o Ministério Público já havia pedido a absolvição.

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DIREITO CONSTITUCIONAL

AMICUS CURIAE Ilegitimidade do amicus curiae para pleitear medida cautelar

CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

Relator não pode, de ofício, na ADPF que trata sobre o Estado de Coisas Inconstitucional dos presídios, determinar medidas para proteger os presos do Covid-19

Ilegitimidade do amicus curiae para pleitear medida cautelar

O amicus curiae não tem legitimidade para propor ação direta; logo, também não possui legitimidade para pleitear medida cautelar.

Assim, a entidade que foi admitida como amicus curiae em ADPF não tem legitimidade para, no curso do processo, formular pedido para a concessão de medida cautelar.

STF. Plenário. ADPF 347 TPI-Ref/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 18/3/2020 (Info 970).

Relator não pode, de ofício, na ADPF que trata sobre o Estado de Coisas Inconstitucional dos presídios, determinar medidas para proteger os presos do Covid-19

A decisão do Ministro Relator que, de ofício, na ADPF que trata sobre o Estado de Coisas Inconstitucional no sistema prisional, determina medidas para proteger os presos do Covid-19 amplia indevidamente o objeto da ação.

É certo que no controle abstrato de constitucionalidade, a causa de pedir é aberta. No entanto, o pedido é específico.

Nenhum dos pedidos da ADPF 347 está relacionado com as questões inerentes à prevenção do Covid-19 nos presídios.

Não é possível, portanto, a ampliação do pedido cautelar já apreciado anteriormente. A Corte está limitada ao pedido. Aceitar a sua ampliação equivale a agir de ofício, sem observar a legitimidade constitucional para propositura da ação.

Ademais, em que pese a preocupação de todos em relação ao Covid-19 nas penitenciárias, a medida cautelar, ao conclamar os juízes de execução, determina, fora do objeto da ADPF, a realização de megaoperação para analisar detalhadamente, em um único momento, todas essas possibilidades e não caso a caso, como recomenda o Conselho Nacional de Justiça.

O STF entendeu que, neste momento, o Poder Judiciário deve seguir as recomendações sobre a questão emitidas pelo Conselho Nacional de Justiça CNJ e por portaria conjunta dos Ministérios da Saúde e da Justiça.

Para evitar a disseminação do novo coronavírus nas prisões, o CNJ recomendou a análise de situações de risco caso a caso.

A Recomendação 62/2020 do CNJ traz orientações aos Tribunais e aos magistrados quanto à adoção de medidas preventivas contra a propagação do Covid-19 no âmbito dos sistemas de justiça penal e socioeducativo.

STF. Plenário. ADPF 347 TPI-Ref/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 18/3/2020 (Info 970).

ADPF ajuizada em maio de 2015 Em maio de 2015, o PSOL (Partido Socialismo e Liberdade) ajuizou Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) no STF pedindo que se reconheça a violação de direitos fundamentais da

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população carcerária e, diante disso, imponha a adoção de providências para sanar lesões a preceitos fundamentais previstos na Constituição Federal, decorrentes de atos e omissões dos poderes públicos da União, dos Estados e do Distrito Federal no tratamento da questão prisional no País. Na ação, pede-se que o STF reconheça que o sistema carcerário brasileiro vive um “Estado de Coisas Inconstitucional” e que a Corte expeça uma série de ordens para os juízes, Tribunais, CNJ e União a fim de tentar resolver a situação. Decisão cautelar em setembro de 2015 Em setembro de 2015, o STF proferiu decisão liminar na qual reconheceu que o sistema penitenciário brasileiro vive um “Estado de Coisas Inconstitucional”, com uma violação generalizada de direitos fundamentais dos presos. Diante disso, o STF, concedeu parcialmente a medida cautelar determinando que: • juízes e Tribunais de todo o país implementassem, no prazo máximo de 90 dias, a audiência de custódia; • a União liberasse, sem qualquer tipo de limitação, o saldo acumulado do Fundo Penitenciário Nacional para utilização na finalidade para a qual foi criado, proibindo a realização de novos contingenciamentos. STF. Plenário. ADPF 347 MC/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 9/9/2015 (Info 798). Pedido formulado em 16/03/2020 Durante a tramitação desta ADPF, inúmeras entidades foram admitidas na qualidade de amicus curiae. Uma delas foi o “Instituto de Defesa do Direito de Defesa – Márcio Thomaz Bastos – IDDD”, cujo ingresso no processo foi deferido em 9 de março de 2017. Em 16/03/2020, o IDDD, na condição de amicus curiae, peticionou nos autos dessa ADPF 347 argumentando que o país sofre com os efeitos da pandemia do covid-19 e que existe uma vulnerabilidade da população prisional, considerando as péssimas condições em que ficam presos, aliado à falta de mecanismos de contenção da disseminação da enfermidade. Em razão disso, pediu que o STF determine aos juízes e magistrados que adotem uma série de medidas para proteger a população carcerária dessa doença, analisando a possibilidade de concessão de liberdade condicional, regime domiciliar, progressão de pena e outros benefícios aos presos, especialmente para aqueles que estão no grupo de risco. Decisão monocrática do Ministro Relator No dia 18/03/2020, o Ministro Relator Marco Aurélio, monocraticamente, negou seguimento ao pedido formulado pelo IDDD em virtude de ele não ser parte, mas sim terceiro interessado. Nas palavras do Ministro: “Impróprio, juridicamente, requerimento, de terceiro interessado, a ver implementada tutela provisória incidental, cuja iniciativa é exclusiva dos polos da ação.” Por outro lado, o Ministro decidiu, de ofício, “conclamar” os juízes de Execução Penal a adotarem junto à população carcerária procedimentos para evitar o avanço da doença dentro dos presídios. Diante disso, afirmou que os magistrados deverão analisar a possibilidade de: a) liberdade condicional a encarcerados com idade igual ou superior a 60 anos; b) regime domiciliar aos soropositivos para HIV, diabéticos, portadores de tuberculose, câncer, doenças respiratórias, cardíacas, imunodepressoras ou outras suscetíveis de agravamento a partir do contágio pelo Covid-19; c) regime domiciliar às gestantes e lactantes; d) regime domiciliar a presos por crimes cometidos sem violência ou grave ameaça; e) substituição da prisão provisória por medida alternativa em razão de delitos praticados sem violência ou grave ameaça; f) medidas alternativas a presos em flagrante ante o cometimento de crimes sem violência ou grave ameaça; g) progressão de pena a quem, atendido o critério temporal, aguarda exame criminológico; e h) progressão antecipada de pena a submetidos ao regime semiaberto.

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Decisão do Plenário do STF Em 18/03/2020, o Plenário do STF se reuniu e concordou apenas com a primeira parte da decisão monocrática proferida. Veja: Ilegitimidade do amicus curiae para pleitear medida cautelar

O amicus curiae não tem legitimidade para propor ação direta; logo, também não possui legitimidade para pleitear medida cautelar. Assim, a entidade que foi admitida como amicus curiae em ADPF não tem legitimidade para, no curso do processo, formular pedido para a concessão de medida cautelar. STF. Plenário. ADPF 347 TPI-Ref/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 18/3/2020 (Info 970).

Desse modo, o Plenário do STF referendou a medida cautelar neste ponto. Relator não pode, de ofício, na ADPF que trata sobre o Estado de Coisas Inconstitucional dos presídios, determinar medidas para proteger os presos do Covid-19

A decisão do Ministro Relator que, de ofício, na ADPF que trata sobre o Estado de Coisas Inconstitucional no sistema prisional, determina medidas para proteger os presos do Covid-19 amplia indevidamente o objeto da ação. É certo que no controle abstrato de constitucionalidade, a causa de pedir é aberta. No entanto, o pedido é específico. Nenhum dos pedidos da ADPF 347 está relacionado com as questões inerentes à prevenção do Covid-19 nos presídios. Não é possível, portanto, a ampliação do pedido cautelar já apreciado anteriormente. A Corte está limitada ao pedido. Aceitar a sua ampliação equivale a agir de ofício, sem observar a legitimidade constitucional para propositura da ação. Ademais, em que pese a preocupação de todos em relação ao Covid-19 nas penitenciárias, a medida cautelar, ao conclamar os juízes de execução, determina, fora do objeto da ADPF, a realização de megaoperação para analisar detalhadamente, em um único momento, todas essas possibilidades e não caso a caso, como recomenda o Conselho Nacional de Justiça. O STF entendeu que, neste momento, o Poder Judiciário deve seguir as recomendações sobre a questão emitidas pelo Conselho Nacional de Justiça CNJ e por portaria conjunta dos Ministérios da Saúde e da Justiça. Para evitar a disseminação do novo coronavírus nas prisões, o CNJ recomendou a análise de situações de risco caso a caso. A Recomendação 62/2020 do CNJ traz orientações aos Tribunais e aos magistrados quanto à adoção de medidas preventivas contra a propagação do Covid-19 no âmbito dos sistemas de justiça penal e socioeducativo. STF. Plenário. ADPF 347 TPI-Ref/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 18/3/2020 (Info 970).

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MINISTÉRIO PÚBLICO O art. 227, VIII, da LC 75/93 autoriza que ato do PGR estipule prazo de duração para o

recebimento do auxílio-moradia, estando essa limitação temporal em harmonia com o regime de subsídio, em parcela única, previsto no art. 39, § 4º e no art. 128, § 5º, I, “c”, da CF/88

O art. 227, VIII, da LC 75/93 prevê que os membros do MPU terão direito ao pagamento de auxílio-moradia, desde que estejam em uma lotação considerada particularmente difícil ou onerosa.

Esse dispositivo legal autoriza que ato do PGR imponha outras restrições ao recebimento do auxílio-moradia, como é o caso de prazo máximo de duração do benefício.

Desse modo, a estipulação de prazo de duração para o recebimento do auxílio-moradia não ofende o princípio da legalidade e está em harmonia com o regime de subsídio, em parcela única, previsto no art. 39, § 4º e no art. 128, § 5º, I, “c”, da CF/88.

A fixação de restrição temporal para o recebimento do auxílio-moradia está de acordo com o princípio da razoabilidade, pois o auxílio-moradia tem caráter provisório e precário, não devendo se dilatar eternamente no tempo. O recebimento do aludido benefício sem limitação temporal configuraria verdadeira parcela remuneratória.

STF. 2ª Turma. MS 26415/DF, rel. orig. Min. Teori Zavascki, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, julgado em 17/3/2020 (Info 970).

Auxílio-moradia A Lei Orgânica do MPU (LC 75/93) prevê que os membros do Ministério Público da União terão direito ao pagamento de auxílio-moradia, desde que estejam em uma lotação considerada particularmente difícil ou onerosa:

Art. 227. Os membros do Ministério Público da União farão jus, ainda, às seguintes vantagens: (...) VIII - auxílio-moradia, em caso de lotação em local cujas condições de moradia sejam particularmente difíceis ou onerosas, assim definido em ato do Procurador-Geral da República;

Em 1995, o Procurador-Geral da República editou a Portaria nº 465/95* disciplinando o pagamento deste auxílio-moradia. Um ponto que causou controvérsia foi o fato de que esta Portaria afirmou que o membro do Ministério Público somente poderia receber essa vantagem pelo período máximo de 2 anos. A referida Portaria considerava a lotação no Estado do Acre como sendo “particularmente difícil ou onerosa”. Mandado de segurança Um Procurador da República que atuava no Estado do Acre e que estava há mais de 2 anos nesta lotação impetrou mandado de segurança para continuar recebendo o auxílio-moradia. Para o impetrante, o art. 227, VIII, da LC 75/93 “fixou a competência do procurador-geral da República para estabelecer somente os locais para os quais seria devido o auxílio-moradia”, não sendo autorizado que ele fixasse limite temporal para o recebimento do benefício. Logo, a Portaria teria inovado a ordem jurídica e, com isso, violado o princípio da legalidade. O STF concordou com a tese do impetrante? NÃO. A 2ª Turma do STF denegou a ordem (julgou improcedente o pedido do mandado de segurança). Confira o que decidiu a Corte:

O art. 227, VIII, da LC 75/93 dá margem para que o regulamento (ato do PGR) imponha outras restrições ao recebimento do auxílio-moradia.

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Esse dispositivo legal constitui moldura de uma garantia institucional que permite ao PGR, em determinados casos, estabelecer a razoabilidade na situação de fato. Desse modo, a estipulação de prazo de duração para o recebimento do auxílio-moradia não ofende o princípio da legalidade e está em harmonia com o regime de subsídio, em parcela única, previsto no art. 39, § 4º e no art. 128, § 5º, I, “c”, da CF/88. Além disso, essa restrição temporal atende ao princípio da razoabilidade, pois o auxílio-moradia tem caráter provisório e precário, não devendo se dilatar eternamente no tempo. O recebimento do aludido benefício sem limitação temporal configuraria verdadeira parcela remuneratória. STF. 2ª Turma. MS 26415/DF, rel. orig. Min. Teori Zavascki, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, julgado em 17/3/2020 (Info 970).

O pagamento do auxílio-moradia por prazo certo constitui legítima atuação discricionária do PGR, a fim de indenizar a despesa realizada com moradia pelos membros do Parquet que optaram por residir e trabalhar nas localidades alcançadas pela vantagem. É uma forma de indenizar e de incentivar o provimento inicial e imediato de vagas nos locais considerados de difícil acesso. Entretanto, não há justificativa para a dilação indeterminada no recebimento do benefício. * Essa Portaria não está mais em vigor; atualmente, o tema é regido pela Portaria nº 53/2019.

CNJ Se o Tribunal aplica censura para magistrado que praticou conduta grave, essa decisão enseja revisão disciplinar do CNJ por ser contrária ao texto expresso da lei considerando que o art. 44 da LOMAN afirma que a censura será aplicada se a infração não justificar punição mais grave

O Conselho Nacional de Justiça pode proceder à revisão disciplinar de juízes e membros de tribunais desde que observado o requisito temporal: processos disciplinares julgados há menos de 1 ano (art. 103-B, § 4º, V, da CF/88).

Vale ressaltar que, depois de instaurada a revisão, não existe prazo para que o CNJ julgue o procedimento.

A Constituição Federal e o Regimento Interno do CNJ conferem legitimidade universal para propositura da revisão disciplinar, que pode ser instaurada por provocação de terceiros e até mesmo de ofício.

As hipóteses de cabimento da revisão estão elencadas no art. 83 do Regimento Interno do CNJ. O inciso I prevê que cabe a revisão quando a decisão for contrária a texto expresso da lei.

Se o Tribunal aplica a pena de censura para um magistrado que praticou conduta grave, essa decisão enseja revisão disciplinar por ser contrária ao texto expresso da lei. Isso porque, segundo o art. 44 da LC 35/79 (LOMAN) a pena de censura será aplicada “se a infração não justificar punição mais grave”.

STF. 2ª Turma. MS 30364/PA, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 17/3/2020 (Info 970).

Imagine a seguinte situação hipotética: Raquel é juíza estadual. Durante uma operação da Polícia Federal, um dos investigados, cujo telefone estava sendo interceptado, manteve conversas que indicaram que Raquel teria praticado grave infração no exercício de suas funções. O Tribunal de Justiça instaurou processo administrativo disciplinar e, ao final, aplicou a pena de censura contra a magistrada. Essa decisão foi publicada em outubro de 2008.

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Em setembro de 2009, o Ministério Público estadual requereu ao CNJ a revisão disciplinar da decisão do TJ sob o fundamento de que a pena aplicada (censura) foi desproporcional (muito branda) diante da gravidade da infração disciplinar praticada. O CNJ julgou procedente a revisão disciplinar e aplicou a Raquel a pena de disponibilidade com vencimentos proporcionais. Mandado de segurança Inconformada com a decisão, Raquel impetrou, no STF (art. 102, I, “r”, da CF/88), mandado de segurança contra o ato do CNJ. Dentre outros argumentos, a Impetrante alegou que: a) a revisão disciplinar instaurada a pedido do Ministério Público seria intempestiva; b) o MP não teria legitimidade para formular esse pedido; c) os pressupostos da revisão não estariam presentes. O STF concordou com as teses da impetrante? NÃO. Vejamos cada uma delas. Quais são as hipóteses em que será possível essa revisão? O que justifica uma revisão pelo CNJ? O tema foi disciplinado pelo Regimento Interno do CNJ nos seguintes termos:

Art. 83. A revisão dos processos disciplinares será admitida: I - quando a decisão for contrária a texto expresso da lei, à evidência dos autos ou a ato normativo do CNJ; II - quando a decisão se fundar em depoimentos, exames ou documentos comprovadamente falsos; III - quando, após a decisão, surgirem fatos novos ou novas provas ou circunstâncias que determinem ou autorizem modificação da decisão proferida pelo órgão de origem.

No caso concreto, o pedido de revisão formulado pelo MP enquadra-se no inciso I do art. 83 considerando que a conduta praticada pela magistrada possui alto grau de reprovabilidade. Logo, a decisão do TJ de aplicar apenas a censura foi contrária ao texto do art. 44 da LC 35/79 (Lei Orgânica da Magistratura) que prevê o seguinte:

Art. 44. A pena de censura será aplicada reservadamente, por escrito, no caso de reiterada negligência no cumprimento dos deveres do cargo, ou no de procedimento incorreto, se a infração não justificar punição mais grave.

Legitimidade A Constituição Federal e o Regimento Interno do CNJ conferem legitimidade universal para propositura da revisão disciplinar, que pode ser instaurada por provocação de terceiros e até mesmo de ofício. Confira o art. 82 do Regimento Interno:

Art. 82. Poderão ser revistos, de ofício ou mediante provocação de qualquer interessado, os processos disciplinares de juízes e membros de Tribunais julgados há menos de um ano do pedido de revisão.

Vale ressaltar, portanto, que a revisão disciplinar é um instrumento que pode ser utilizado tanto pelo magistrado que não concordou com a decisão como também por qualquer outro interessado, podendo, repito, ser instaurada até mesmo de ofício pelo CNJ.

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O que o CNJ irá fazer neste processo de revisão disciplinar? O CNJ irá examinar o processo disciplinar que foi realizado no âmbito do Tribunal e poderá anular ou reformar a decisão que foi tomada, seja para absolver ou condenar o magistrado processado. O Conselho poderá, ainda, aumentar ou diminuir a pena imposta. Nesse sentido, o Regimento Interno do CNJ prevê:

Art. 88. Julgado procedente o pedido de revisão, o Plenário do CNJ poderá determinar a instauração de processo administrativo disciplinar, alterar a classificação da infração, absolver ou condenar o juiz ou membro de Tribunal, modificar a pena ou anular o processo.

Prazo para instauração Vale ressaltar que o CNJ possui um prazo decadencial de 1 ano para instaurar o processo de revisão disciplinar. Veja o que diz a CF/88:

Art. 103-B (...) § 4º Compete ao Conselho o controle da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário e do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes, cabendo-lhe, além de outras atribuições que lhe forem conferidas pelo Estatuto da Magistratura: (...) V - rever, de ofício ou mediante provocação, os processos disciplinares de juízes e membros de tribunais julgados há menos de um ano;

++ (Juiz TJ/RO 2019 – adaptada) Dentre as competências do CNJ, encontra-se a possibilidade de rever, de ofício ou mediante provocação, os processos disciplinares de juízes e membros de tribunais julgados há menos de 2 anos. (ERRADO) ++ (Delegado PC/PI 2018) Compete ao CNJ rever, de ofício ou mediante provocação, os processos disciplinares de juízes e membros de tribunais julgados há menos de 1 (um) ano. (CERTO) A partir de quando é contado este prazo de 1 ano? O prazo estabelecido no art. 103-B, § 4º, V, da Constituição da República para o CNJ rever processo disciplinar instaurado contra magistrado começa a fluir da publicação da decisão do Tribunal no órgão oficial (STF. 2ª Turma. MS 26.540, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 24/6/2014). Logo, no caso concreto, o pedido de revisão foi manejado dentro do prazo.

Existe um prazo para que o CNJ julgue a revisão? NÃO. A Constituição estabeleceu prazo apenas para o pedido de instauração da revisão, mas não fixou prazo para que o CNJ julgue a revisão.

O Conselho Nacional de Justiça pode proceder à revisão disciplinar de juízes e membros de tribunais desde que observado o requisito temporal: processos disciplinares julgados há menos de 1 ano (art. 103-B, § 4º, V, da CF/88). Vale ressaltar que, depois de instaurada a revisão, não existe prazo para que o CNJ julgue o procedimento. A Constituição Federal e o Regimento Interno do CNJ conferem legitimidade universal para propositura da revisão disciplinar, que pode ser instaurada por provocação de terceiros e até mesmo de ofício. As hipóteses de cabimento da revisão estão elencadas no art. 83 do Regimento Interno do CNJ. O inciso I prevê que cabe a revisão quando a decisão for contrária a texto expresso da lei. Se o Tribunal de origem aplica a pena de censura para um magistrado que praticou conduta grave, essa decisão enseja revisão disciplinar por ser contrária ao texto expresso da lei. Isso porque, segundo o art. 44 da LC 35/79 (LOMAN) a pena de censura será aplicada “se a infração não justificar punição mais grave”. STF. 2ª Turma. MS 30364/PA, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 17/3/2020 (Info 970).

Page 9: Informativo comentado: Informativo 970-STF · 2020. 4. 25. · objeto da ação. É certo que no controle abstrato de constitucionalidade, a causa de pedir é aberta. No entanto,

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DIREITO ADMINISTRATIVO

PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR A estabilidade prevista no art. 149 da Lei nº 8.112/90 deve ser no cargo, não sendo suficiente

que o membro da comissão goze de estabilidade no serviço público

No PAD, vigora a independência relativa das esferas penal e administrativa, havendo repercussão apenas em se tratando de absolvição no juízo penal por inexistência do fato ou

negativa de autoria

A estabilidade prevista no art. 149 da Lei nº 8.112/90 deve ser no cargo, não sendo suficiente que o membro da comissão goze de estabilidade no serviço público

O art. 149 da Lei nº 8.112/90 determina que a comissão condutora do processo administrativo disciplinar seja composta por servidores estáveis e se exige que, no momento da designação, estes já tenham atingido a estabilidade no desempenho do cargo que exercem e que os legitima participar da comissão.

Não haverá, contudo, nulidade do PAD se, no caso concreto, a Administração Pública, ao perceber o vício formal, substituiu o servidor em estágio probatório por outro estável, sem aproveitar qualquer ato decisório do servidor substituído. Isso porque, nesta hipótese, não terá havido qualquer prejuízo concreto à defesa.

STF. 2ª Turma. RMS 32357/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 17/3/2020 (Info 970).

No PAD, vigora a independência relativa das esferas penal e administrativa, havendo repercussão apenas em se tratando de absolvição no juízo penal por inexistência do fato ou negativa de autoria

A sentença proferida no âmbito criminal somente repercute na esfera administrativa quando reconhecida:

a) a inexistência material do fato; ou

b) a negativa de sua autoria.

Assim, se a absolvição ocorreu por ausência de provas, a administração pública não está vinculada à decisão proferida na esfera penal.

STF. 2ª Turma. RMS 32357/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 17/3/2020 (Info 970).

NOÇÕES GERAIS SOBRE PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR

Processo administrativo disciplinar O processo administrativo disciplinar dos servidores públicos federais encontra-se previsto nos arts. 143 a 182 da Lei nº 8.112/90. Veja o que diz o art. 143:

Art. 143. A autoridade que tiver ciência de irregularidade no serviço público é obrigada a promover a sua apuração imediata, mediante sindicância ou processo administrativo disciplinar, assegurada ao acusado ampla defesa.

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Fases do PAD Segundo o art. 151 da Lei nº 8.112/90, o processo disciplinar possui três fases:

FASES DO PAD

1) INSTAURAÇÃO 2) INQUÉRITO ADMINISTRATIVO 3) JULGAMENTO

Ocorre com a publicação de um ato (portaria) indicando os membros da comissão processante.

Nesta etapa ocorrerá: • a instrução (oitiva de testemunhas, perícias etc.); • o indiciamento; • a apresentação de defesa e • a elaboração de um relatório pela comissão processante.

A autoridade julgadora, no prazo de 20 dias após receber o processo (com o relatório), irá proferir a sua decisão.

Obs: na portaria de instauração do processo administrativo disciplinar não precisa constar a exposição detalhada dos fatos a serem apurados.

Obs: relatório é o documento no qual a comissão expõe as suas conclusões sobre as provas produzidas e a defesa apresentada pelo acusado. O relatório deve ser motivado e conclusivo, ou seja, precisa apontar se a comissão recomenda a absolvição do servidor ou a sua condenação, sugerindo a punição aplicável. Esse relatório será encaminhado à autoridade competente para o julgamento, segundo a estrutura hierárquica do órgão.

Obs: o PAD se encerra com o julgamento do feito pela autoridade competente, que poderá absolver ou condenar o servidor. A autoridade poderá acolher ou não as conclusões expostas no relatório da comissão. • Se decidir acolher: não precisará motivar essa decisão, podendo encampar a fundamentação exposta no relatório. • Se decidir não acolher: nesse caso, é indispensável a motivação, demonstrando que o relatório contraria as provas dos autos.

Comissão processante O art. 149 prevê o seguinte:

Art. 149. O processo disciplinar será conduzido por comissão composta de três servidores estáveis designados pela autoridade competente, observado o disposto no § 3º do art. 143, que indicará, dentre eles, o seu presidente, que deverá ser ocupante de cargo efetivo superior ou de mesmo nível, ou ter nível de escolaridade igual ou superior ao do indiciado.

Finalidade da comissão A função precípua da comissão é a apuração dos fatos, concluindo pela inocência ou responsabilidade do servidor (art. 165). Presidente da comissão: qualidade especial Dentre os membros da comissão, a autoridade competente indicará o seu presidente. O presidente da Comissão deverá ser ocupante de cargo efetivo superior ou de mesmo nível, ou ter nível de escolaridade igual ou superior ao do indiciado. Demais membros Os demais membros da Comissão não precisam ocupar cargo efetivo superior e podem ter nível de escolaridade mais baixo que o do indiciado. O único requisito para ser membro (não presidente) da Comissão é ser servidor estável.

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O que acontece se algum membro da comissão não for estável? Haverá a nulidade do processo administrativo disciplinar. Por que os membros da comissão devem ser estáveis? A ratio essendi do art. 149 da Lei nº 8.112/90 é garantir a imparcialidade e isenção dos membros da comissão processante. Entende-se que se o servidor é estável, estará menos sujeito às pressões capazes de alterar o equilíbrio na tomada de decisões. Desse modo, a exigência é uma garantia ao investigado, pois tem por escopo assegurar a independência total dos servidores que ocupam a comissão, sem ingerência da chefia. Imagine agora a seguinte situação hipotética: João era Auditor-Fiscal da Receita Federal do Brasil. Houve notícia de que ele teria praticado grave ilícito administrativo. Diante disso, instaurou-se processo administrativo disciplinar para apurar sua conduta. Ao final do PAD, o Ministro da Fazenda aplicou contra João a pena de demissão. Mandado de segurança João impetrou, então, mandado de segurança pedindo a nulidade do PAD com fundamento em dois argumentos principais: 1) o art. 149 da Lei nº 8.112/90 teria sido violado considerando que um dos membros da comissão processante não seria estável. 2) ele foi absolvido na instância penal pelo mesmo fato, de forma que essa decisão deve repercutir na esfera administrativa. Ao aplicar a pena de demissão, teria havido violação ao princípio da proporcionalidade. O STJ indeferiu a ordem do mandado de segurança e o impetrante interpôs recurso ordinário constitucional para o STF (art. 102, II, “a”, da CF/88); O STF concordou com o impetrante/recorrente? NÃO. ESTABILIDADE DOS MEMBROS DA COMISSÃO PROCESSANTE

Alegação do autor/recorrente: O impetrante argumentou que o PAD foi nulo porque um dos membros da comissão processante estava no cargo de Auditor-Fiscal há menos de um ano e, portanto, não era estável. Logo, teria sido violado o art. 149 da Lei nº 8.112/90. O que decidiu o STJ? O STJ negou o pedido do impetrante afirmando que os membros da comissão devem ser estáveis no serviço público, mesmo que ainda não tenham adquirido a estabilidade no cargo atual que ocupam. Para o STJ, a estabilidade exigida no art. 149 da Lei nº 8.112/90 deve ser aferida no serviço público, não no cargo. Logo, não é nulo o PAD conduzido por servidores que não possuam estabilidade no atual cargo que ocupam, desde que já tenham adquirido a estabilidade no serviço público. No caso concreto acima, realmente um dos membros da comissão processante ainda se encontrava em estágio probatório relativo ao cargo de Auditor Fiscal, mas ele já havia ocupado outro cargo público federal por dez anos (Técnico da Receita Federal). Logo, ele já era estável no serviço público. Diante disso, o STJ considerou que não houve nulidade:

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Informativo 970-STF (26/03/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 12

(...) O caput do art. 149 da Lei n. 8112/90, ao estabelecer que a Comissão de Inquérito deve ser composta de três servidores estáveis, a fim de assegurar maior imparcialidade na instrução, fez referência a servidores que tenham garantido a sua permanência no serviço público após a sua nomeação em virtude de aprovação em concurso público, nos termos do art. 41 da atual Carta Magna, ou seja, que tenham garantido a estabilidade no serviço público, e não no cargo ocupado à época de sua designação para compor a comissão processante. (...) STJ. 1ª Seção. MS 17.583/DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. p/ Acórdão Ministro Mauro Campbell Marques, julgado em 12/09/2012.

O STF concordou com o argumento utilizado pelo STJ? NÃO. A Min. Relatora Cármen Lúcia afirmou que a estabilidade prevista no art. 149 da Lei nº 8.112/90 deve ser no cargo, não sendo suficiente que o membro da comissão goze de estabilidade no serviço público. A regra do art. 149 tem por objetivo conferir maior imparcialidade à atuação dos membros da comissão disciplinar processante, fazendo com que eles fiquem protegidos de quaisquer influências, especialmente das autoridades administrativas de hierarquia superior. Trata-se, portanto, de norma de caráter preventivo. O objetivo desta norma não é alcançado se o membro da comissão é um servidor que ainda não é estável no seu cargo, mesmo que já seja estável no serviço público. O servidor que é estável no serviço público, mas ainda não é estável no cargo que ocupa, ainda terá que passar pelo estágio probatório. Logo, ele ainda está sendo avaliado pelos seus superiores. Se for reprovado, será reconduzido ao cargo anteriormente ocupado (art. 29, I, da Lei nº 8.112/90). Isso significa que esse servidor continuará preocupado em ser aprovado no estágio probatório e se tornar estável naquele cargo específico. Desse modo, ele estando em estágio probatório fica sujeito, em tese, a pressões das autoridades hierarquicamente superiores e que irão lhe avaliar nessa fase. Assim, para o STF:

No caput do art. 149 da Lei nº 8.112/90 exige-se que, no momento da designação para a comissão processante, o servidor já tenha atingido a estabilidade no desempenho do cargo que atualmente exerce, não sendo suficiente que ele seja estável no serviço público. STF. 2ª Turma. RMS 32357/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 17/3/2020 (Info 970).

Isso significa que o STF anulou o PAD? NÃO. O STF manteve a validade do PAD, mas por outro fundamento. No caso concreto, a Administração Pública, ao perceber o vício formal, substituiu o servidor em estágio probatório por outro estável, sem aproveitar qualquer ato decisório do servidor substituído. Desse modo, não ficou demonstrada a existência de qualquer prejuízo concreto, razão pela qual não deve ser declarada a nulidade do PAD. Não é bastante, portanto, a designação de servidor em estágio probatório para invalidar a atuação da comissão processante, fazendo-se necessária, no mínimo, a constatação de ter aquela participação influenciado no ato decisório no processo disciplinar. ALEGAÇÃO DE DESPROPORCIONALIDADE DA PENA DE DEMISSÃO, CONSIDERANDO-SE A ABSOLVIÇÃO NA ESFERA CRIMINAL

O STF também afastou o argumento de desproporcionalidade da pena em decorrência da absolvição na esfera criminal. Isso porque, constatada, no PAD, a prática da infração administrativa, competia ao administrador aplicar a penalidade prescrita na lei. Desse modo, não há que se falar em ausência de razoabilidade ou proporcionalidade.

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Independência das instâncias A sentença proferida no âmbito criminal somente repercute na esfera administrativa quando reconhecida: a) a inexistência material do fato ou b) a negativa de sua autoria. Assim, se a absolvição ocorreu por ausência de provas, a administração pública não está vinculada à decisão proferida na esfera penal. No caso concreto, o servidor foi absolvido na esfera penal em razão da falta de provas, nos termos do art. 386, VII, do CPP:

Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde que reconheça: (...) VII – não existir prova suficiente para a condenação.

Já no processo administrativo, a autoridade competente entendeu que a produção de prova foi suficiente para a formação do convencimento condenatório disciplinar.

A sentença proferida no âmbito criminal somente repercute na esfera administrativa quando reconhecida: a) a inexistência material do fato; ou b) a negativa de sua autoria. Assim, se a absolvição ocorreu por ausência de provas, a administração pública não está vinculada à decisão proferida na esfera penal. STF. 2ª Turma. RMS 32357/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 17/3/2020 (Info 970).

DIREITO PROCESSUAL PENAL

TRIBUNAL DO JÚRI Não se deve anular a condenação do réu no júri por ausência de defesa no caso em que o advogado fez sustentação oral por apenas 3 minutos, sendo que, antes disso, o Ministério

Público já havia pedido a absolvição

Na sessão plenária do Tribunal do Júri, na fase de sustentações orais, o Ministério Público falou durante 1h e 30min e, ao final de sua exposição, pediu a absolvição do réu. Em seguida, o advogado constituído fez sustentação oral apenas concordando com o Ministério Público e pedindo igualmente a absolvição. A manifestação da defesa durou apenas 3 minutos. Mesmo com a manifestação do MP pedindo a absolvição, os jurados decidiram condenar o réu.

O STJ e o STF afirmaram que não houve nulidade por ausência de defesa e mantiveram a condenação.

O réu foi acompanhado pela sua defesa na sessão de julgamento pelo Tribunal do Júri, tendo reiterado o mandato conferido ao seu advogado na interposição da apelação. Assim, o próprio paciente não se insurgiu contra a atuação de seu advogado, tanto assim que com ele permaneceu, inclusive para fins de apelação criminal.

Além disso, no caso, não houve ausência de defesa, de modo que não se pode falar em nulidade absoluta. Se houve nulidade, esta teria sido apenas relativa, a qual depende da demonstração de efetivo prejuízo, o que não ocorreu. Consolidou-se no âmbito dos Tribunais Superiores o entendimento de que apenas a absoluta falta de defesa constitui nulidade absoluta da ação penal. Se a alegação é a de que a defesa foi insuficiente, o julgamento só deverá ser anulado e

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ficar demonstrado o efetivo prejuízo. Isso porque a defesa insuficiente é hipótese de nulidade relativa. Nesse sentido é a Súmula 523 do STF.

Não se pode classificar como insatisfatória a atuação do advogado, que exerceu a defesa de acordo com a estratégia que considerou melhor no caso.

STF. 2ª Turma. HC 164535 AgR/RJ, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 17/3/2020 (Info 970).

O caso concreto foi o seguinte: Na sessão plenária do Tribunal do Júri, na fase de sustentações orais, o Ministério Público falou durante 1h e 30min e, ao final de sua exposição, pediu a absolvição do réu. Em seguida, o advogado constituído fez sustentação oral apenas concordando com o Ministério Público e pedindo igualmente a absolvição. A manifestação da defesa durou apenas 3 minutos. Submetido à votação, veio a surpresa: mesmo com a manifestação do MP pedindo a absolvição, os jurados decidiram condenar o réu. Isso é possível? Sim. Devemos relembrar que o veredicto dos jurados é soberano (art. 5º, XXXVIII, da CF/88). Diante disso, o condenado, assistido pelo mesmo advogado, ingressou com apelação dirigida ao Tribunal de Justiça pedindo a realização de um novo júri sob o argumento de que a decisão dos jurados foi manifestamente contrária à prova dos autos. A apelação, contudo, foi improvida. Habeas corpus O advogado renunciou ao mandato e o réu passou a ser assistido pela Defensoria Pública. O Defensor Público impetrou habeas corpus contra o acórdão do TJ afirmando que houve nulidade absoluta no júri realizado em razão da ausência de defesa técnica efetiva. Alegou que o causídico, constituído à época, não solicitou a leitura de peças dos autos que favorecessem a tese da defesa e não desempenhou fielmente a defesa do paciente em plenário, tendo em vista que a sua sustentação oral durou apenas 3 minutos, tempo esse que se mostra exíguo, irrisório e ineficaz. Para a Defensoria Pública, o juiz deveria ter declarado o réu indefeso no plenário do júri e constituído um novo advogado. Os Tribunais concordaram com a alegação da Defensoria Pública? Houve nulidade no júri? NÃO. Tanto o STJ como o STF afirmaram que não houve nulidade e mantiveram a condenação. Advogado constituído foi mantido pelo réu após o júri O réu foi acompanhado pela sua defesa na sessão de julgamento pelo Tribunal do Júri, tendo reiterado o mandato conferido ao seu advogado na interposição da apelação. Assim, o próprio paciente não se insurgiu contra a atuação de seu advogado, tanto assim que com ele permaneceu, inclusive para fins de apelação criminal. Nulidade absoluta só ocorre em caso de ausência de defesa Além disso, no caso, não houve ausência de defesa, de modo que não se pode falar em nulidade absoluta. Se houve nulidade, esta teria sido apenas relativa, a qual depende da demonstração de efetivo prejuízo, o que não ocorreu. Consolidou-se no âmbito dos Tribunais Superiores o entendimento de que apenas a absoluta falta de defesa constitui nulidade absoluta da ação penal. Se a alegação é a de que a defesa foi insuficiente, o julgamento só deverá ser anulado se ficar demonstrado o efetivo prejuízo. Isso porque a defesa insuficiente é hipótese de nulidade relativa. • Ausência de defesa = nulidade absoluta; • Insuficiência de defesa = nulidade relativa (depende da demonstração de efetivo prejuízo).

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Informativo 970-STF (26/03/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 15

Nesse sentido é a Súmula 523 do STF:

Súmula 523-STF: No processo penal, a falta da defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu.

++ (Promotor MP/RS 2017) No processo penal, a falta da defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu. (CERTO) No presente caso, conforme já explicado, não se trata de ausência de defesa. Vale ressaltar que não se pode dizer nem mesmo que a atuação do advogado tenha sido insatisfatória Não se pode classificar como insatisfatória a atuação do advogado, que exerceu a defesa de acordo com a estratégia que considerou melhor no caso. Considerando a longa e fundamentada manifestação do Parquet pela absolvição do réu, a defesa entendeu por fazer uso de estratégia de não alongar a sustentação oral. Nesse sentido, a sustentação oral mais sucinta pode funcionar em benefício da defesa, especialmente se o Ministério Público acabou de pedir a absolvição do réu. Em suma:

Não se deve anular a condenação do réu no júri por ausência de defesa no caso em que o advogado fez sustentação oral por apenas 3 minutos, sendo que, antes disso, o Ministério Público já havia pedido a absolvição. STF. 2ª Turma. HC 164535 AgR/RJ, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 17/3/2020 (Info 970).

Outros precedentes Na situação acima, havia um dado muito interessante: o MP havia pedido a absolvição do réu. Vale ressaltar, no entanto, que, em outras hipóteses, o MP havia pedido a condenação e a defesa, ainda assim, fez sustentação oral em poucos minutos. Mesmo nesses casos, o STJ afirma que não haverá necessariamente nulidade:

Diante das peculiaridades do Tribunal do Júri, o fato de ter havido sustentação oral em plenário por tempo reduzido não caracteriza, necessariamente, a deficiência de defesa técnica. STJ. 5ª Turma. HC 455.818/RS, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 21/08/2018. STJ. 6ª Turma. HC 365.008-PB, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Rel. Acd. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 17/04/2018 (Info 627).

Assim, prevalece na jurisprudência que não ocorre nulidade pelo simples fato de a sustentação oral ter sido feita em poucos minutos:

(...) embora seja realmente estranho que um advogado, durante a plenária do Tribunal do Júri, faça uso da palavra por apenas onze minutos, isso pode, de acordo com as peculiaridades que sabemos haver no Tribunal do Júri, decorrer de uma percepção ou de uma sinalização de que a providência máxima a ser alcançada independerá de esforço maior. Ainda é possível ser o defensor dotado de um poder de síntese muito grande ou, até mesmo, sinalizar essa postura uma conformidade entre as partes, visto que houve um pedido inicial de homicídio qualificado e o próprio Ministério Público retirou da acusação a qualificadora. (...) STJ. 6ª Turma. HC 288.978/SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Rel. para o acórdão Min. Rogerio Schietti, julgado em 15/3/2018.

(...) 1. Segundo a legislação penal em vigor, é imprescindível quando se trata de alegação de nulidade de ato processual a demonstração do prejuízo sofrido, em consonância com o princípio pas de nullité sans grief, consagrado pelo legislador no art. 563 do CPP.

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2. Conforme informação prestada pelo Tribunal de origem, o recorrente não esteve indefeso durante a sessão de julgamento, apenas porque o defensor foi sucinto, objetivo, pugnando pela absolvição do acusado, pelo argumento da tese de negativa de autoria. Prejuízo para defesa não demonstrado. (...) STJ. 5ª Turma. RHC 480.001/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, DJe 23/6/2017.

Vale ressaltar, no entanto, que o tema não é pacífico e que a existência ou não de nulidade deverá ser analisado com base no caso concreto. Veja um exemplo no qual se reconheceu a nulidade:

(...) 3. É assente a jurisprudência pátria no sentido de que o reconhecimento de nulidades, no curso do processo penal, reclama uma efetiva demonstração do prejuízo à parte, sem a qual prevalecerá o princípio da instrumentalidade das formas positivado pelo art. 563 do CPP (pas de nullité sans grief). 4. A Súmula 523 do Supremo Tribunal Federal estabelece que: "No processo penal, a falta de defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu". 5. Na hipótese, verifica-se a deficiência da defesa do réu durante a Sessão do Júri, tendo em vista que a advogada dativa limitou-se a sustentar a mesma tese da acusação, utilizando-se de exíguos 11 minutos na fase dos debates, e ignorou a tese da excludente da legítima defesa, versão sustentada pelo réu nas oportunidades em que foi inquirido. 6. Patente o prejuízo suportado pelo réu, o que impõe o reconhecimento da nulidade da sessão de julgamento e dos atos processuais a ela subsequentes. (...) STJ. 5ª Turma. HC 427.129/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 27/11/2018.

EXERCÍCIOS Julgue os itens a seguir: 1) O amicus curiae não tem legitimidade para propor ação direta; logo, também não possui legitimidade

para pleitear medida cautelar. ( ) 2) (Juiz TJ/RO 2019 – adaptada) Dentre as competências do CNJ, encontra-se a possibilidade de rever, de

ofício ou mediante provocação, os processos disciplinares de juízes e membros de tribunais julgados há menos de 2 anos. ( )

3) (Delegado PC/PI 2018) Compete ao CNJ rever, de ofício ou mediante provocação, os processos disciplinares de juízes e membros de tribunais julgados há menos de 1 (um) ano. ( )

4) A sentença proferida no âmbito criminal somente repercute na esfera administrativa quando reconhecida a inexistência material do fato ou a insuficiência de provas da autoria. ( )

5) Segundo decidiu o STF, no caput do art. 149 da Lei nº 8.112/90 exige-se que, no momento da designação para a comissão processante, o servidor já tenha atingido a estabilidade no desempenho do cargo que atualmente exerce, não sendo suficiente que ele seja estável no serviço público. ( )

6) (Promotor MP/RS 2017) No processo penal, a falta da defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu. ( )

Gabarito

1. C 2. E 3. C 4. E 5. C 6. C

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OUTRAS INFORMAÇÕES

Sessões Ordinárias Extraordinárias Julgamentos Julgamentos por meio

eletrônico*

Em curso Finalizados

Pleno 18.03.2020 - - 1 61

1ª Turma 17.03.2020 - 2 47 126

2ª Turma 17.03.2020 - - 13 105

* Emenda Regimental 52/2019-STF. Sessão virtual de 13 a 19 de março de 2020.

CLIPPING DAS SESSÕES VIRTUAIS DJE DE 16 A 20 DE MARÇO DE 2020

ADPF 584

RELATOR: MIN. ALEXANDRE DE MORAES

Decisão: O Tribunal, por unanimidade, conheceu da arguição de descumprimento de preceito fundamental e julgou

procedente o pedido para declarar a inconstitucionalidade da Lei nº 3.606/2017 do Município de Itaguaí/ RJ, nos termos

do voto do Relator. Não participou deste julgamento, por motivo de licença médica, o Ministro Celso de Mello. Plenário,

Sessão Virtual de 14.2.2020 a 20.2.2020.

EMENTA: CONSTITUCIONAL. LEI 3.606/2017 DO MUNICÍPIO DE ITAGUAÍ/RJ. SERVIDOR PÚBLICO.

SUSPENSÃO DE VANTAGENS REMUNERATÓRIAS. CONTROLE DA DESPESA COM PESSOAL ATIVO E

INATIVO. ESTABELECIMENTO DE SANÇÕES E CONSEQUÊNCIAS PARA DESCUMPRIMENTO DOS

LIMITES PREVISTOS NA LEGISLAÇÃO DE REGÊNCIA. COMPETÊNCIA LEGISLATIVA DA UNIÃO.

DESRESPEITO ÀS REGRAS DE DISTRIBUIÇÃO DE COMPETÊNCIA (ARTIGOS 30, 30, II; 163, I ao VII, e 169,

CAPUT, TODOS DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL). PROCEDÊNCIA DA ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO

DE PRECEITO FUNDAMENTAL. 1. As regras de distribuição de competências legislativas são alicerces do federalismo

e consagram a fórmula de divisão de centros de poder em um Estado de Direito. Princípio da predominância do interesse.

2. A Constituição Federal de 1988, presumindo de forma absoluta para algumas matérias a presença do princípio da

predominância do interesse, estabeleceu, a priori, diversas competências para cada um dos entes federativos, União,

Estados-Membros, Distrito Federal e Municípios, e, a partir dessas opções, pode ora acentuar maior centralização de

poder, principalmente na própria União (CF, art. 22), ora permitir uma maior descentralização nos Estados-Membros e

nos Municípios (CF, arts. 24 e 30, inciso I). 3. No plano financeiro, a Constituição estabeleceu, em seu art. 169, caput,

que a despesa com pessoal ativo e inativo da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios respeite os limites

estabelecidos em lei complementar de caráter nacional, atualmente, a Lei de Responsabilidade Fiscal (LC 101/2000). 4.

A norma impugnada apartou-se do figurino constitucional e da legislação editada pela União ao vedar medidas que são

expressamente autorizadas pela LRF (art. 22, parágrafo único, I), a qual, flexibilizando a proibição de concessão de

vantagens, autoriza o pagamento decorrente de sentença judicial, determinação legal/contratual ou quando se tratar de

revisão geral anual (CF, art. 37, X), mesmo no cenário de inobservância dos limites de gastos com despesa com pessoal

ativo e inativo. 5. Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental julgada procedente.

AG.REG. NA SL 749

RELATOR: MINISTRO PRESIDENTE

Decisão: O Tribunal, por unanimidade, negou provimento ao agravo regimental, nos termos do voto do Relator, Ministro

Dias Toffoli (Presidente). Não participou deste julgamento, por motivo de licença médica, o Ministro Celso de Mello.

Plenário, Sessão Virtual de 14.2.2020 a 20.2.2020.

EMENTA Agravo regimental na suspensão de liminar. Ação de reintegração de posse. Decisão que determinou a saída

imediata de indígenas de propriedade rural. Área de posse permanente do povo guarani. Risco de lesão à ordem e à

segurança públicas. Agravo regimental não provido. 1. O imediato cumprimento da ordem de reintegração antes do

trânsito em julgado aumentaria exponencialmente o risco de conflitos entre índios e não índios, podendo causar danos

irreversíveis para a ordem e a segurança públicas na região. 2. O reconhecimento da tradicionalidade da ocupação indígena

guarani sobre as terras em litígio, aliado à constatação de elevados riscos à segurança pública, tem força suficiente para

garantir a manutenção da medida de contracautela. 3. Agravo regimental não provido.

AG.REG. NA SL 833

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Informativo 970-STF (26/03/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 18

RELATOR: MINISTRO PRESIDENTE

Decisão: O Tribunal, por unanimidade, negou provimento ao agravo regimental, nos termos do voto do Relator, Ministro

Dias Toffoli (Presidente). Não participou deste julgamento, por motivo de licença médica, o Ministro Celso de Mello.

Plenário, Sessão Virtual de 14.2.2020 a 20.2.2020.

EMENTA Agravo regimental na suspensão de liminar. Ação possessória. Decisão que determinou a retirada dos indígenas

da área em litígio. Incerteza quanto ao domínio das terras. Risco de lesão à ordem e à segurança públicas. Agravo

regimental não provido. 1. O prosseguimento do processo de retirada dos indígenas, de maneira forçada, antes do trânsito

em julgado da decisão cujos efeitos foram sustados e, ainda, sem que haja certeza quanto ao domínio legítimo de tais

terras apenas agravaria situação que já se encontra tensa, podendo provocar efeitos irreparáveis. 2. Por se tratar de área já

reconhecida como região de instabilidade e marcada por conflitos entre índios e não índios, o cumprimento de tal medida

configuraria risco latente de lesão à ordem e à segurança públicas.

ADI 2.807

RELATOR: MIN. GILMAR MENDES

Decisão: O Tribunal, por maioria, conheceu da ação direta e julgou procedente o pedido formulado para declarar a

inconstitucionalidade da Lei nº 11.750/2002 do Estado do Rio Grande do Sul, nos termos do voto do Relator, vencidos

os Ministros Edson Fachin e Dias Toffoli (Presidente). Não participou deste julgamento, por motivo de licença médica,

o Ministro Celso de Mello. Plenário, Sessão Virtual de 21.2.2020 a 2.3.2020.

Ação direta de inconstitucionalidade. 2. Lei 11.750/2002 do Estado do Rio Grande do Sul. Projeto “Escotismo Escola”.

3. Ofendem a competência privativa do Chefe do Executivo para iniciar o processo legislativo normas que criem

atribuições para órgão da administração pública. Precedentes. 4. Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente.

ADI 3.629

RELATOR: MIN. GILMAR MENDES

Decisão: O Tribunal, por maioria, julgou procedente o pedido formulado na ação direta para declarar a

inconstitucionalidade da Lei nº 933/2005 do Estado do Amapá, nos termos do voto do Relator, vencido o Ministro Marco

Aurélio. Não participou deste julgamento, por motivo de licença médica, o Ministro Celso de Mello. Plenário, Sessão

Virtual de 21.2.2020 a 2.3.2020.

Ação direta de inconstitucionalidade. 2. Lei 933/2005, do Estado do Amapá, de origem parlamentar. Concessão de isenção

de taxa judiciária para pessoas com renda de até dez salários-mínimos. 3. Após a EC 45/2004, a iniciativa de lei sobre

custas judiciais foi reservada para os órgãos superiores do Poder Judiciário. Precedentes. 4. Norma que reduz

substancialmente a arrecadação da taxa judiciária atenta contra a autonomia e a independência do Poder Judiciário,

asseguradas pela Constituição Federal, ante sua vinculação ao custeio da função judicante. 5. Ação direta de

inconstitucionalidade julgada procedente.

ADI 3.671

RELATOR: MIN. GILMAR MENDES

Decisão: O Tribunal, por maioria, confirmou a medida liminar e julgou procedente o pedido formulado na ação direta

para declarar a inconstitucionalidade da Lei nº 3.680, de 13 de outubro de 2005, do Distrito Federal, nos termos do voto

do Relator, vencidos os Ministros Edson Fachin e Dias Toffoli (Presidente). Não participou deste julgamento, por motivo

de licença médica, o Ministro Celso de Mello. Plenário, Sessão Virtual de 14.2.2020 a 20.2.2020.

Ação direta de inconstitucionalidade. 2. Lei 3.680/2005 do Distrito Federal. 3. Obrigatoriedade de equipar os ônibus

utilizados no serviço público de transporte coletivo com dispositivos redutores de estresse para motoristas e cobradores.

4. Inconstitucionalidade. Competência privativa da União para legislar sobre trânsito e transporte bem como sobre direito

do trabalho. 5. Medida cautelar concedida pelo Plenário do STF. 6. Precedentes. 7. Ação direta de inconstitucionalidade

julgada procedente.

ADI 4.221

RELATOR: MIN. EDSON FACHIN

Decisão: O Tribunal, por maioria, conheceu parcialmente da ação direta e, nessa parte, julgou parcialmente procedente o

pedido, para fins de declarar a inconstitucionalidade do art. 11, IV, da Lei nº 15.349 do Estado do Paraná e dar

interpretação conforme à Constituição ao art. 11, VII, considerando a vedação da participação do candidato que esteja

respondendo a processo criminal, desde que lhe seja ofertado o exercício do legítimo direito ao contraditório e ampla

defesa, com resposta motivada e passível de controle judicial, nos termos do voto do Relator, vencidos, parcialmente, os

Ministros Gilmar Mendes, Dias Toffoli (Presidente) e Ricardo Lewandowski. Não participou deste julgamento, por

motivo de licença médica, o Ministro Celso de Mello. Plenário, Sessão Virtual de 7.2.2020 a 13.2.2020.

Ementa: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. IMPUGNAÇÃO PARCIAL DA LEI Nº 15.349/2006 DO

ESTADO DO PARANÁ. CRIAÇÃO DO QUADRO ESPECIAL DE OFICIAIS DA POLÍCIA MILITAR DO ESTADO

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Informativo 970-STF (26/03/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 19

DO PARANÁ (QEOPM). INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL. INEXISTÊNCIA. ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO

AOS ARTS. 5º, CAPUT E LVII, 37, CAPUT E II, 41, §3º, E 142, CRFB. PROCEDÊNCIA PARCIAL DA AÇÃO.

INTERPRETAÇÃO CONFORME À CONSTITUIÇÃO. 1. Ação direta de inconstitucionalidade parcialmente conhecida,

ante a deficiência de fundamentação. O conhecimento da ação restringe-se aos arts. 4º, §2º e §3º; 9°; 10; 11, IV e VII, da

Lei nº 15.349/2006. 2. A União possui competência privativa para legislar sobre normas gerais. O Decreto-lei nº 667/1969

atribui aos Estados a competência para legislar sobre o acesso na escala hierárquica, não havendo, portanto, que se falar

em vício formal. 3. Jurisprudência do STF pacificada no sentido de que não há direito adquirido a regime jurídico, sendo

constitucional a norma estadual que impede a promoção dos oficiais que optem por permanecer no quadro em extinção.

Tampouco há violação pelo ato normativo estadual às hipóteses de disponibilidade de servidor público, à hierarquia

militar e à exigência de concurso público. Higidez dos arts. 4º, §2º e §3º; 9° e 10. 4. Viola a isonomia e a moralidade a

exigência de requisito de natureza exclusivamente subjetiva para participação no Curso de Habilitação.

Inconstitucionalidade do art. 11, IV, do diploma impugnado. 5. É constitucional a lei que restringe a participação do

candidato que esteja respondendo a processo criminal, desde que lhe seja ofertado o exercício do legítimo direito ao

contraditório e ampla defesa, com resposta motivada e passível de controle judicial. Necessidade de interpretação

conforme à Constituição da previsão art. 11, VII, da Lei nº 15.349/2006. 6. Ação Direta de Inconstitucionalidade

conhecida parcialmente e, na parte conhecida, julgada parcialmente procedente.

ADI 5.483

RELATOR: MIN. ALEXANDRE DE MORAES

Decisão: O Tribunal, por maioria, conheceu da ação direta e julgou procedente o pedido formulado para a declarar a

inconstitucionalidade formal da Emenda Constitucional estadual 68/2015 e, por arrastamento, da EC estadual 80/2019,

nos termos do voto do Relator, vencidos os Ministros Gilmar Mendes e Rosa Weber, que divergiam para declarar a perda

superveniente de objeto da ação, e o Ministro Dias Toffoli (Presidente), que conhecia da ação e, na sequência, concluía

pela sua improcedência. Não participou deste julgamento, por motivo de licença médica, o Ministro Celso de Mello.

Plenário, Sessão Virtual de 7.2.2020 a 13.2.2020.

EMENTA: CONSTITUCIONAL. AÇÃO DIRETA. EMENDAS 68/2015 E 80/2019 À CONSTITUIÇÃO DO ESTADO

DO MATO GROSSO DO SUL. REDUÇÃO DO QUADRO DE PROCURADORES DO MINISTÉRIO PÚBLICO DE

CONTAS. DESRESPEITO ÀS GARANTIAS INSTITUCIONAIS DO TRIBUNAL DE CONTAS RESPECTIVO (CF,

ARTS. 73, § 3º, E 75). RESERVA DE INICIATIVA. INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL. 1. Os Procuradores do

Ministério Público de Contas constituem carreira funcional com identidade, prerrogativas e garantias próprias, previstas

e asseguradas no próprio texto constitucional (CF, art. 130), em razão do que a Associação Nacional do Ministério Público

de Contas detém legitimidade ativa para a propositura de ações do controle concentrado de constitucionalidade. 2. A

edição de nova Emenda à Constituição estadual, com o mesmo conteúdo, não convalida a norma questionada nem

prejudica o conhecimento da Ação Direta. 3. Cabe exclusivamente ao respectivo Tribunal de Contas a iniciativa de leis

que tratem da composição do quadro de Procuradores do Ministério Público de Contas, em que pese a autonomia funcional

desses em relação aos Conselheiros. Precedentes. 4. Inconstitucionalidade formal, por violação à reserva de iniciativa do

Tribunal de Contas Estadual, de emenda à Constituição estadual que reduziu a composição do quadro de Procuradores do

Ministério Público de Contas e previu a iniciativa de leis para o Procurador-Geral de Contas. 5. Ação Direta julgada

procedente.

ADI 5.965

RELATOR: MIN. GILMAR MENDES

Decisão: O Tribunal, por unanimidade, conheceu da ação direta e julgou procedente o pedido formulado para declarar a

inconstitucionalidade da Lei nº 19.429, de 15 de março de 2018, do Estado do Paraná, nos termos do voto do Relator.

Plenário, Sessão Virtual de 13.12.2019 a 19.12.2019.

Ação direta de inconstitucionalidade. 2. Lei 19.429/2018, do Estado do Paraná. Pagamento de valores mínimos segundo

Tabela de Procedimentos Odontológicos. 3. Norma estadual que trata do conteúdo dos contratos entre operadoras de plano

de saúde e prestadores de serviço de suas redes credenciadas. 4. Ofensa à competência privativa da União para legislar

sobre direito civil e seguros. Precedentes. 5. Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente.

ADI 5.984

RELATOR: MIN. GILMAR MENDES

Decisão: O Tribunal, por unanimidade, conheceu da ação direta e julgou procedente o pedido formulado para declarar a

inconstitucionalidade da Lei nº 19.429, de 15 de março de 2018, do Estado do Paraná, nos termos do voto do Relator.

Plenário, Sessão Virtual de 13.12.2019 a 19.12.2019.

Ação direta de inconstitucionalidade. 2. Lei 19.429/2018, do Estado do Paraná. Pagamento de valores mínimos segundo

Tabela de Procedimentos Odontológicos. 3. Norma estadual que trata do conteúdo dos contratos entre operadoras de plano

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Informativo 970-STF (26/03/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 20

de saúde e prestadores de serviço de suas redes credenciadas. 4. Ofensa à competência privativa da União para legislar

sobre direito civil e seguros. Precedentes. 5. Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente.

ADI 5.986

RELATOR: MIN. GILMAR MENDES

Decisão: O Tribunal, por unanimidade, conheceu da ação direta e julgou procedente o pedido formulado para declarar a

inconstitucionalidade da Lei nº 19.429, de 15 de março de 2018, do Estado do Paraná, nos termos do voto do Relator.

Plenário, Sessão Virtual de 13.12.2019 a 19.12.2019.

Ação direta de inconstitucionalidade. 2. Lei 19.429/2018, do Estado do Paraná. Pagamento de valores mínimos segundo

Tabela de Procedimentos Odontológicos. 3. Norma estadual que trata do conteúdo dos contratos entre operadoras de plano

de saúde e prestadores de serviço de suas redes credenciadas. 4. Ofensa à competência privativa da União para legislar

sobre direito civil e seguros. Precedentes. 5. Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente.

ADI 6.094

RELATOR: MIN. EDSON FACHIN

Decisão: O Tribunal, por maioria, julgou improcedente o pedido formulado na ação direta, nos termos do voto do Relator,

vencido, em parte, o Ministro Gilmar Mendes, que julgava parcialmente procedente o pedido e declarava a

inconstitucionalidade do art. 2º da Lei 8.169/2018 do Estado do Rio de Janeiro. Não participou deste julgamento, por

motivo de licença médica, o Ministro Celso de Mello. Plenário, Sessão Virtual de 14.2.2020 a 20.2.2020.

EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI ESTADUAL 8.169 DO RIO DE JANEIRO.

RELAÇÃO DE CONSUMO. COMPETÊNCIA LEGISLATIVA CONCORRENTE. ARTIGO 24, V E VIII, DA

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. PEDIDO JULGADO IMPROCEDENTE. 1. Nos casos em que a dúvida sobre a

competência legislativa recai sobre norma que abrange mais de um tema, deve o intérprete acolher interpretação que não

tolha a competência que detêm os entes menores para dispor sobre determinada matéria. 2. O federalismo é um

instrumento de descentralização política que visa realizar direitos fundamentais, se a lei federal ou estadual claramente

indicar, de forma necessária, adequada e razoável, que os efeitos de sua aplicação excluem o poder de complementação

que detêm os entes menores (clear statement rule), é possível afastar a presunção de que, no âmbito regional, determinado

tema deve ser disciplinado pelo ente maior. 3. A norma que gera obrigação de fornecer informações ao usuário sobre os

prestadores de serviço insere-se no âmbito do direito do consumidor, nos termos do art. 24, V e VIII, da Constituição da

República 4. A Lei 12.007, de 29 de julho de 2009, ao estabelecer as normas gerais sobre a emissão de declaração de

quitação anual de débitos, introduziu regramento geral, entretanto, não afastou de forma clara (clear statement rule), a

possibilidade de que os Estados, no exercício de sua atribuição concorrente estipulem outras obrigações. 5. A ANATEL,

editou diversas resoluções regulamentadoras da matéria, cada uma para um determinado tipo de serviço, entre eles:

Serviço Móvel Pessoal (SMP), Serviço Móvel Especializado (SME), Serviço Telefônico Fixo Comutado (STFC), Serviço

de Comunicação Multimídia (SCM) e do Serviço de TV por Assinatura. Essas resoluções, por sua vez, também não

afastam, de forma clara, a possibilidade de complementação por lei estadual. 7. A defesa do consumidor é princípio

orientador da ordem econômica (art. 170, V, da CRFB). Aquele que anseia explorar atividade econômica e, portanto,

figurar como agente econômico no mercado de consumo, deve zelar pela proteção do consumidor, que possui como

parcela essencial o direito à informação. 8. Ação direta de inconstitucionalidade julgada improcedente.

AG.REG. NA ADI 6.112

RELATOR: MIN. LUIZ FUX

Decisão: O Tribunal, por maioria, negou provimento ao agravo regimental, nos termos do voto do Relator, vencidos os

Ministros Alexandre de Moraes, Marco Aurélio e Rosa Weber. Não participou deste julgamento, por motivo de licença

médica, o Ministro Celso de Mello. Plenário, Sessão Virtual de 7.2.2020 a 13.2.2020.

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. DECRETO

57.008/2018 DO ESTADO DE ALAGOAS. INSTITUIÇÃO DO PROGRAMA RONDA NO BAIRRO - PRB.

CONTRATAÇÃO DE POLICIAIS MILITARES DA RESERVA REMUNERADA E DE PROFISSIONAIS CIVIS

PARA O DESEMPENHO DE FUNÇÕES DE SEGURANÇA PÚBLICA. SUPOSTA CRIAÇÃO DE ÓRGÃO DE

SEGURANÇA PÚBLICA NÃO CONSTANTE DO ROL TAXATIVO DO ARTIGO 144, CAPUT, DA

CONSTITUIÇÃO FEDERAL. ALEGADA OFENSA AOS ARTIGOS 1º; 5º, II, III E PARÁGRAFO ÚNICO; 22, XXI;

37, II; 84, IV, VI, A E B; E 144, § 5º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. AÇÃO PROPOSTA POR ASSOCIAÇÃO QUE

REPRESENTA MERO SEGMENTO DA CARREIRA DOS MILITARES ESTADUAIS, CONSTITUÍDA NÃO SÓ

PELOS OFICIAIS, MAS TAMBÉM PELOS PRAÇAS MILITARES. REQUERENTE QUE NÃO SE INCLUI NO ROL

TAXATIVO DE LEGITIMADOS À PROPOSITURA DAS AÇÕES DE CONTROLE ABSTRATO DE

CONSTITUCIONALIDADE. ARTIGO 103, IX, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. ILEGITIMIDADE ATIVA AD

CAUSAM. AGRAVO A QUE SE NEGA PROVIMENTO. 1. A Constituição de 1988 ampliou consideravelmente a

legitimidade ativa para provocar o controle normativo abstrato, reforçando a jurisdição constitucional por meio da

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Informativo comentado

Informativo 970-STF (26/03/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 21

democratização das suas vias de acesso. No caso de entidades de classe de âmbito nacional, a legitimidade deve observar

três condicionantes procedimentais: a) homogeneidade entre os membros integrantes da entidade (ADI 108-QI, Rel. Min

Celso de Mello, Plenário, DJ de 5/6/1992; ADI 146, Rel. Min. Maurício Corrêa, Plenário, DJ de 19/12/2002); b)

representatividade da categoria em sua totalidade e comprovação do caráter nacional da entidade, pela presença efetiva

de associados em, pelo menos, nove estados-membros (ADI 386, Rel. Min. Sydney Sanches, Plenário, DJ de 28/6/1991;

e ADI 1.486-MC, Rel. Min. Moreira Alves, Plenário, DJ de 13/12/1996); e c) pertinência temática entre os objetivos

institucionais da entidade postulante e a norma objeto da impugnação (ADI 1.873, Rel. Min. Marco Aurélio, Plenário, DJ

de 19/9/2003). 2. A Federação Nacional das Entidades de Oficiais Militares Estaduais - FENEME representa mero

segmento da categoria funcional dos policiais militares (os oficiais), que também é composta de praças militares (artigo

8º do Decreto-lei 667/1969). Apesar de alegar que passou a ser integrada também pelos praças militares, a FENEME não

comprovou a representação da totalidade da categoria dos policiais militares – oficiais e praças – em, pelo menos, 9 (nove)

Estados da Federação. 3. A Federação Nacional das Entidades de Oficiais Militares Estaduais - FENEME não possui

legitimidade para propor ação de controle concentrado de constitucionalidade. Precedentes: ADI 4.751-AgR, Rel. Min.

Edson Fachin, Plenário, DJe de 20/9/2019; ADI 5.860-AgR, Rel. Min. Luiz Fux, Plenário, DJe de 8/5/2019; ADI 4.750-

AgR, Rel. Min. Luiz Fux, Plenário, DJe de 15/6/2015; ADI 4.967, Rel. Min. Luiz Fux, Plenário, DJe de 10/4/2015; ADI

4.473-AgR, Rel. Min. Dias Toffoli, Plenário, DJe de 1º/8/2012; ADI 4.034, Rel. Min. Gilmar Mendes, Plenário, DJ de

28/3/2008. 4. Agravo a que se NEGA PROVIMENTO.

INOVAÇÕES LEGISLATIVAS 16 A 20 DE MARÇO DE 2020

Medida Provisória nº 925, de 18.3.2020 - Dispõe sobre medidas emergenciais para a aviação civil brasileira em razão da

pandemia da covid-19. Publicado no DOU em 19.03.2020, Seção 1, Edição 54, p. 4.

OUTRAS INFORMAÇÕES

16 A 20 DE MARÇO DE 2020

Decreto nº 10.277, de 16.3.2020 - Institui o Comitê de Crise para Supervisão e Monitoramento dos Impactos da Covid-

19. Publicado no DOU em 16.03.2020, Seção 1-Extra, Edição 51-C, p. 1. Decreto nº 10.279, de 18.3.2020 - Altera o Decreto nº 9.094, de 17 de julho de 2017, que regulamenta dispositivos da

Lei nº 13.460, de 26 de junho de 2017, dispõe sobre a simplificação do atendimento prestado aos usuários dos serviços

públicos, institui o Cadastro de Pessoas Físicas - CPF como instrumento suficiente e substitutivo para a apresentação de

dados do cidadão no exercício de obrigações e direitos e na obtenção de benefícios, ratifica a dispensa do reconhecimento

de firma e da autenticação em documentos produzidos no País e institui a Carta de Serviços ao Usuário. Publicado no

DOU em 19.03.2020, Seção 1, Edição 54, p. 6.

Supremo Tribunal Federal – STF Secretaria de Documentação

Coordenadoria de Divulgação de Jurisprudência [email protected]