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Elaine Harzheim Macedo
Roberto de Almeida Borges Gomes
Wellington Pacheco Barros
3. edio / 2009
Aes Constitucionais
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2005-2009 IESDE Brasil S.A. proibida a reproduo, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorizao porescrito dos autores e do detentor dos direitos autorais.
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Imagem da capa: IESDE Brasil S.A.
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Todos os direitos reservados.
M141 Macedo, Elaine Harzheim. / Aes Constitucionais. / Elaine
Harzheim Macedo. Roberto de Almeida Borges Gomes.
Wellington Pacheco Barros. 3. ed. Curitiba : IESDE Bra-
sil S.A. , 2009. [Atualizado at abril de 2009]
252 p.
ISBN: 978-85-387-0775-2
1. Ao Constitucional. 2. Direito Civil. I. Ttulo. II. Gomes, Ro-
berto de Almeida Borges. III. Barros, Wellington Pacheco.
CDD 341.4622
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Doutora em Direito pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisi-nos). Mestre em Direito pela Ponticia Universidade Catlica do Rio Grandedo Sul (PUCRS). Proessora do curso de Ps-Graduao da Universidade Lute-
rana do Brasil (Ulbra). Colaboradora dos cursos da Universidade Federal do RioGrande do Sul (UFRGS) de Especializao em Processo Civil, do Instituto deDesenvolvimento Cultural (IDC-RS), da Associao dos Juzes do Rio Grandedo Sul (AJURIS), da Escola Superior do Ministrio Pblico do Rio Grande doSul (ESMP-RS) e do Instituto dos Advogados do Rio Grande do Sul (IARGS).Desembargadora do Tribunal de Justia do Estado do Rio Grande do Sul.
Elaine Harzheim Macedo
Mestrando em Direitos Diusos e Coletivos pela Universidade Metropoli-tana de Santos (Unimes). Especialista em Direitos Diusos e Coletivos pela Pon-ticia Universidade Catlica de So Paulo (PUC-SP). Proessor dos cursos de Gra-duao da Faculdade Ruy Barbosa (FRB), dos cursos de Ps-Graduao do CentroUniversitrio Jorge Amado e da Universidade Salvador (Uniacs-BA). Proessor da
Fundao Escola Superior do Ministrio Pblico (Fesmip), da Faculdade Social daBahia (FSBA), da Academia de Polcia Civil da Bahia (ACADEPOL), do Centro Pre-paratrio para Carreira Jurdica (JusPODIVM) e do Centro de Estudos Jurdicos deSalvador (CEJUS). Membro do Instituto Brasileiro de Direito de Famlia (IBDFAM)e da Associao Nacional do Ministrio Pblico do Consumidor (MPCON). Mem-bro-Diretor da Associao Brasileira de Proessores de Cincias Penais (ABPCP--Diretoria Bahia). Promotor de Justia do Ministrio Pblico do Estado da Bahia.
Roberto de Almeida Borges Gomes
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Mestre em Direito pela Ponticia Universidade Catlica do Rio Grande doSul (PUCRS). Proessor do curso de Ps-Graduao do Centro Universitrio Ritterdos Reis (UniRitter) e da Escola Superior da Magistratura da Associao dos Juzes
do Rio Grande do Sul (AJURIS). Desembargador aposentado do Tribunal de Jus-tia do Estado do Rio Grande do Sul. Advogado.
Wellington Pacheco Barros
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Sumrio
Princpios de hermenuticadas aes constitucionais ......................................................11
Princpios constitucionais............................ ......................... .......................... ........................ 11Princpio da supremacia da Constituio ....................... .......................... ........................ 12
Princpio da presunode constitucionalidade das leis e dos atos do Poder Pblico ........................ ........... 13
Princpio da interpretao conorme Constituio ....................... ......................... ... 13
Princpio da unidade da Constituio .......................... .......................... ......................... ... 15
Princpio da razoabilidade ou proporcionalidade ........................ .......................... ....... 16
Princpio da eetividade ...................... .......................... ......................... .......................... ....... 17
Mandado de segurana individual I ..................................21Consideraes gerais ....................... .......................... ......................... .......................... ........... 21
Garantia constitucional ....................... .......................... ......................... .......................... ....... 21
Situaes de no cabimento de MS ......................... ......................... .......................... ....... 22
Quem pode praticar a ilegalidade ou o abuso de poder? ....................... ................... 25
MS como orma de controle da Administrao Pblica ...................... ........................ 26
MS preventivo........................ .......................... ......................... .......................... ........................ 28
Concluso ........................ ......................... .......................... ......................... .......................... ....... 29
Mandado de segurana individual II .................................31
Consideraes gerais ....................... .......................... ......................... .......................... ........... 31
Regulamentao legal ........................ .......................... ......................... .......................... ....... 31
Quem o autor do MS? ......................... .......................... .......................... ......................... ... 31
Quem pode ser a autoridade pblica coatora? ......................... .......................... ........... 33
Conceito de direito lquido e certo ....................... ......................... .......................... ........... 33
Ponto orte da inicial do MS ....................... ......................... .......................... ........................ 34
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Deciso judicial liminar ....................... .......................... ......................... .......................... ....... 35
Resposta da autoridade coatora ....................... .......................... .......................... ............... 38
Presena obrigatria do MP ....................... ......................... .......................... ........................ 38
Sentena ........................ .......................... .......................... ......................... .......................... ....... 39
Cabimento do reexame necessrio
no caso de concesso de segurana ........................ ......................... .......................... ....... 40Concluso ....................... .......................... .......................... ......................... .......................... ....... 41
Mandado de injuno............................................................. 43
Breve histrico ....................... ......................... .......................... .......................... ........................ 43
Cabimento .......................... ......................... .......................... ......................... .......................... ... 44
Interveno do Ministrio Pblico (MP) ...................... .......................... ......................... ... 45
Legitimao ativa .......................... ......................... .......................... .......................... ............... 45
Competncia versus legitimao passiva ....................... ......................... ........................ 46Sentena no mandado de injuno ......................... .......................... ......................... ....... 48
Posio do STF ....................... .......................... ......................... .......................... ........................ 51
Mandado de injunoe ao de inconstitucionalidade por omisso ....................... .......................... ............... 51
Texto do Projeto de Lei 6.839/2006 ...................... .......................... ......................... ........... 53
Justicao ......................... .......................... ......................... .......................... ......................... ... 54
Habeas data ................................................................................ 59
Origem histrica ....................... .......................... ......................... .......................... .................... 59
Cabimento ......................... ......................... .......................... ......................... .......................... ... 61
Objeto dohabeas data ........................ .......................... ......................... .......................... ....... 63Interveno do Ministrio Pblico (MP) ...................... .......................... ......................... ... 65
Legitimao ativa .......................... ......................... .......................... .......................... ............... 65
Legitimao passiva ......................... .......................... .......................... ......................... ........... 66
Procedimento ........................ .......................... .......................... ......................... ........................ 67
Sentena .......................... .......................... ......................... .......................... ......................... ....... 69
Recurso......................... ......................... .......................... .......................... ......................... ........... 69
(Des)cabimento de liminar ......................... .......................... .......................... ....................... 70
Opo pela via ordinria ...................... .......................... ......................... .......................... ...... 70
Direitos coletivos ...................................................................... 79
Princpios protetivos dos bens diusos e coletivos ...................... .......................... ....... 79
Categorias de interesse ....................... .......................... ......................... .......................... ....... 83
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Direitos diusos, coletivos e individuais homogneos ....................... ......................... 85
Distines necessrias ......................... ......................... .......................... .......................... ....... 88
A tutela coletiva dos interesses transindividuais .......................... .......................... ....... 89
Ao popular ..............................................................................95Conceito......................... .......................... .......................... ......................... .......................... ........ 95
Objeto ......................... .......................... ......................... .......................... .......................... ............ 96
Requisitos ...................... .......................... .......................... ......................... .......................... ........ 97
Finalidade ...................... .......................... .......................... ......................... .......................... ........ 98
Partes .......................... .......................... ......................... .......................... .......................... ............ 98
Competncia .............................................................................................................................100
Processo ......................................................................................................................................101
Ao civil pblica ....................................................................115
Conceito......................................................................................................................................115
Ao civil pblica e ao popular ......................................................................................115
Responsabilidade por danos ...............................................................................................116
Bens tutelados ..........................................................................................................................116
Hiptese de descabimento da ACP ..................................................................................120
Foro competente .....................................................................................................................121
Objeto da ACP ..........................................................................................................................122Tutela preventiva .....................................................................................................................123
Legitimidade ativa ..................................................................................................................126
Execuo da sentena ...........................................................................................................132
Coisa julgada .............................................................................................................................133
Litigncia de m- .................................................................................................................135
nus da sucumbncia ...........................................................................................................135
Inqurito civil ...........................................................................143
Histrico ......................................................................................................................................143
Conceito e natureza jurdica................................................................................................144
Princpios norteadores do inqurito civil .......................................................................145
Procedimento ...........................................................................................................................149
Termo de ajustamento de conduta ..................................................................................154
Arquivamento ...........................................................................................................................156
Confito de atribuio entre membros do MP ..............................................................157
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Do valor probatrio do inqurito civil .............................................................................159
Inqurito civil e seus refexos na ao penal .................................................................160
Mandado de segurana coletivo I ....................................165
Consideraes gerais .............................................................................................................165
Garantia constitucional .........................................................................................................165
Situaes de no cabimento de MS coletivo ................................................................167
Quem pode praticar a ilegalidade ou o abuso de poder ..........................................170
MS coletivo como ormade controle da Administrao Pblica .............................................................................172
MS preventivo...........................................................................................................................173
Concluso ...................................................................................................................................175
Mandado de segurana coletivo II ...................................177
Consideraes gerais .............................................................................................................177
Regulamentao legal ...........................................................................................................177
Quem pode ser o autor no MS coletivo ..........................................................................177
Quem pode ser a autoridade pblica coatora ..............................................................178
Conceito de direito lquido e certo ...................................................................................178
Ponto orte da inicial do MS coletivo ...............................................................................179
Deciso judicial liminar .........................................................................................................182
Resposta da autoridade coatora ........................................................................................185Presena obrigatria do Ministrio Pblico (MP) ........................................................186
Sentena .....................................................................................................................................187
Cabimento do reexame necessriono caso de concesso de segurana ................................................................................188
Concluso ...................................................................................................................................189
Ao de improbidade administrativa .............................191
Princpios constitucionais da Administrao Pblica.................................................191Estudo da Lei 8.429/92 ..........................................................................................................191
Ao direta de inconstitucionalidade .............................213
Consideraes gerais .............................................................................................................213
Em que consiste a inconstitucionalidadede lei ou ato normativo? .......................................................................................................214
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Base constitucional .................................................................................................................214
Incidente de inconstitucionalidade: CF, artigo 97 ......................................................215
Regulamentao legal ...........................................................................................................216
Quem pode propor a ao ...................................................................................................216
Contedo da petio inicial.................................................................................................217
Indeerimento liminar da inicial pelo relator ................................................................218Andamento da ao ...............................................................................................................219
Ao cautelar em ao direta de inconstitucionalidade ...........................................219
Julgamento da ADIn pelo rgo Pleno do STF ............................................................220
Questes importantes da ADIn ..........................................................................................221
Concluso ...................................................................................................................................222
Ao declaratria de constitucionalidade.....................225
Consideraes gerais .............................................................................................................225Quem pode propor a ao? .................................................................................................227
Contedo da petio inicial.................................................................................................228
Indeerimento liminar da inicial pelo relator ......................... .......................... ..............229
Andamento da ao ...............................................................................................................229
Ao cautelar em ao declaratria de constitucionalidade ..................................230
Julgamento da ADC pelo rgo Pleno do STF .............................................................231
Questes importantes da ADC ...........................................................................................231
Concluso ...................................................................................................................................232
Arguio de descumprimentode preceito undamental .....................................................235
Consideraes gerais .............................................................................................................235
Preceito undamental ............................................................................................................235
Base constitucional e legal ...................................................................................................236
Legitimados ...............................................................................................................................238
Requisitos da inicial ................................................................................................................239
Liminar ........................................................................................................................................240
Andamento da ao ...............................................................................................................241Julgamento ................................................................................................................................242
Concluso ...................................................................................................................................243
Reerncias ................................................................................245
Anotaes .................................................................................251
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Roberto de Almeida Borges Gomes
Princpios constitucionais
guisa de introduo, cumpre relembrar a noo conceitual de princpio
constitucional. sabido que a Constituio ormada por um conjunto de
regras e princpios, sendo estes as normas escolhidas pelo legislador consti-
tuinte como undamentos primordiais da ordem jurdica que cria.
Ivo Dantas (apudMAGALHES, 1997), entende que os
[...] princpios so categoria lgica e, tanto quanto possvel, universal, muito embora nopossamos esquecer que, antes de tudo, quando incorporados a um sistema jurdico-cons-titucional-positivo, refetem a prpria estrutura ideolgica do Estado, como tal, represen-tativa dos valores consagrados por uma determinada sociedade.
Manoel Gonalves Ferreira Filho (apudMAGALHES, 1997) percebe que o
vocbulo princpio no unvoco, possuindo trs principais sentidos:
Num primeiro, seriam supernormas, ou seja, normas (gerais ou generalssimas) que expri-mem valores e que por isso, so ponto de reerncia, modelo, para regras que as desdo-bram. No segundo, seriam standards, que se imporiam para o estabelecimento de normasespeccas ou seja, as disposies que preordenem o contedo da regra legal. No ltimo,seriam generalizaes, obtidas por induo a partir das normas vigentes sobre determi-nada ou determinadas matrias. Nos dois primeiros sentidos, pois, o termo tem uma cono-tao prescritiva; no derradeiro, a conotao descritiva: trata-se de uma abstrao porinduo.
Atualmente, aceita-se sem maior estupeao a ideia, h muito procla-
mada, de que os princpios, em especial os princpios constitucionais, noso meras indicaes valorativas, sem poder normativo, mas sim, elementos
normativos dotados de eccia e de aplicabilidade geral em todo o ordena-
mento jurdico.
Sob esse aspecto, encara-se os princpios como condicionantes da inter-
pretao constitucional. Alguns princpios so apontados na doutrina como
Princpios de hermenuticadas aes constitucionais
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Aes Constitucionais
vocacionados interpretao das normas constitucionais; embora no previstos
expressamente na Constituio, representam premissas conceituais, metodol-
gicas ou nalsticas que devem anteceder, no processo intelectual do intrprete,
a soluo concreta da questo posta (BARROSO, 2003).
Cuidando do conceito de interpretao, Celso Ribeiro Bastos (1998) aduz:
Trata-se de um processo no qual entra a vontade humana, onde o intrprete procura deter-minar o contedo exato de palavras e imputar um signicado norma. Nesse sentido, a inter-pretao uma escolha entre mltiplas opes, azendo-se sempre necessria por mais bemormuladas que sejam as prescries legais. A atividade interpretativa busca sobretudo recons-truir o contedo normativo, explicitando a norma em concreto em ace de determinado caso.
Acerca da interpretao jurdica, Jos Aonso da Silva (2003, p. 157) constata
que ela resulta numa compreenso valorativa, num juzo de valor que no se
extrai do nada, mas, ao contrrio, decorre da intuio das tendncias sociocultu-rais da comunidade, e undamenta-se nos cnones axiolgicos que pertencem
ordem jurdica vigente .
Princpio da supremacia
da Constituio
A ideia de que a Constituio norma primeira, suprema e infuenciadorade todo o sistema jurdico pressuposto da interpretao constitucional. Deve
estar assente na conscincia do intrprete a superioridade jurdica da Constitui-
o sobre as demais normas, decorrente da sua posio hierrquica superior ocu-
pando o topo da pirmide da ordem jurdica.
Como bem pontua Lus Roberto Barroso (2003, p. 313), este princpio no tem
um contedo prprio: ele apenas impe a prevalncia da norma constitucional,
qualquer que seja ela.
Visando garantir a supremacia da Constituio que so criados os mecanis-
mos de controle de constitucionalidade, seja pela via incidental, seja pela via da
ao direta. A atuao do Poder Judicirio na deesa da supremacia constitucional
d-se atravs do mecanismo de conteno do poder, no sistema de reios e con-
trapesos.
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Princpios de hermenutica das aes constitucionais
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Princpio da presuno
de constitucionalidade das leis
e dos atos do Poder Pblico
Embora o Poder Judicirio seja o principal intrprete das leis, a interpretao
constitucional tarea realizada pelos trs Poderes, no mbito de suas atribui-
es. Deste modo, apesar de ser o Judicirio o guardio primaz da interpretao
constitucional, os Poderes Legislativo e Executivo tambm realizam a tarea de
interpretar as normas constitucionais, nos limites de sua atuao.
A presuno de constitucionalidade dos atos emanados das atividades admi-
nistrativa e legislativa decorre do ato de que elas subordinam-se Constituio,
e tm o objetivo de eetiv-la. Por essa razo, considerando a necessidade de har-monia entre os trs Poderes, o Judicirio deve, dentro do possvel, preservar a
interpretao levada a eeito pelo Legislativo e Executivo. A declarao judicial
de inconstitucionalidade de lei ou ato do poder pblico deve ser encarada como
medida de carter excepcional, ultima ratio. Nesse sentido,
[...] o princpio da presuno de constitucionalidade [...] unciona como um ator de autodeli-mitao da atuao judicial: um ato normativo somente dever ser declarado inconstitucionalquando a invalidade or patente e no or possvel decidir a lide com base em outro undamento(BARROSO, 2003, p. 313).
Princpio da interpretao
conforme Constituio
O princpio da interpretao conorme Constituio leva em conta as possi-
bilidades interpretativas que podem ser extradas do texto legal. Como ressalta
Amandino Teixeira Nunes Jnior (2002):
A aplicao doprincpio da interpretao conorme Constituio s possvel quando, em acede normas inraconstitucionais polissmicas ou plurissignicativas, existem dierentes alternati-vas de interpretao, umas em desconormidade e outras de acordo com a Constituio, sendoque estas devem ser preeridas quelas. Entretanto, na hiptese de se chegar a uma interpre-tao maniestamente contrria Constituio, impe-se que a norma seja declarada inconsti-tucional.
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Segundo Lus Roberto Barroso (2003, p. 313), a interpretao conorme Cons-
tituio pode ser entendida sob duas aces: como princpio de interpretao e
como tcnica de controle de constitucionalidade.
Sobre esse princpio interpretativo, Celso Ribeiro Bastos (1998) leciona:
A interpretao conorme Constituio mais do que uma tcnica de salvamento da lei ou doato normativo, pois ela consiste em uma tcnica de deciso. Ela no necessariamente unvoca,pois permite vrias interpretaes conormes Constituio, que podem at mesmo contradi-zerem-se entre elas. O princpio da interpretao conorme Constituio, cumpre dizer, temsido interpretado no sentido de avor legis, no plano do direito interno, e de avor conventionis,no plano do direito internacional. Ele tem como seus objetivos precpuos excluir as demais inter-pretaes existentes e suprir possvel lacuna da lei.
Como princpio de hermenutica, a interpretao conorme Constituio
decorre dos princpios da supremacia da Constituio e da presuno de cons-
titucionalidade, impondo que o aplicador da norma inraconstitucional busque,dentre as interpretaes possveis, aquela que mais se compatibilize com a Cons-
tituio.
Alexandre de Moraes (2004, p. 48-49) apresenta trs hipteses de aplicao do
princpio da interpretao conorme a constituio:
interpretao conorme com reduo do texto:
[...] ocorrer quando or possvel, em virtude da redao do texto impugnado, declarar ainconstitucionalidade de determinada expresso, possibilitando, a partir dessa excluso de
texto, uma interpretao compatvel com a Constituio Federal.
interpretao conorme sem reduo do texto, conerindo norma impug-
nada uma determinada interpretao que lhe preserve a constitucionali-
dade:
[...] quando, pela redao do texto no qual se inclui a parte da norma que atacada comoinconstitucional, no possvel suprimir dele qualquer expresso para alcanar essa parte,impe-se a utilizao da tcnica de concesso da liminar[pelo Supremo Tribunal Federal] para a suspenso da efccia parcial do texto impugnado sem a reduo de sua expresso
literal.
interpretao conorme sem reduo do texto, excluindo da norma impug-
nada uma interpretao que lhe acarretaria a inconstitucionalidade:
[...] o Supremo Tribunal Federal excluir da norma impugnada determinada interpretaoincompatvel com a Constituio Federal, ou seja, ser reduzido o alcance valorativo danorma impugnada, adequando-o Carta Magna.
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Enquanto tcnica de controle de constitucionalidade, a interpretao con-
orme a Constituio determina a excluso de certa interpretao de uma norma
que a torne inconstitucional, uncionando como declarao de inconstitucionali-
dade parcial sem reduo de texto.
Jos Levi Mello do Amaral Jnior (1998), colhendo lio do ministro GilmarMendes, ensina que a declarao parcial de inconstitucionalidade sem reduo
de texto
[...] reere-se, normalmente, a casos no mencionados no texto, que, por estar ormulado deorma ampla ou geral, contm, em verdade, um complexo de normas [...] dita parcial poisulminar apenas uma ou algumas hipteses de incidncia do ato normativo. Tal modalidaderedunda na procedncia da arguio de inconstitucionalidade.
A importncia crucial do princpio da interpretao conorme Constituio,
bem como das demais tcnicas atuais de hermenutica constitucional, captada
por Celso Ribeiro Bastos (1998), que assim aduz:
O que se pode depreender acerca da aplicao das modernas ormas de interpretao constitu-cional e precipuamente do princpio da interpretao conorme Constituio a comprovaode que a interpretao da norma constitucional indispensvel para a boa compreenso dasdemais normas que compem o nosso ordenamento jurdico. Tendo em vista que a Constitui-o Federal deve inormar todo o conjunto do ordenamento jurdico, verica-se que a utilizaodessas modernas ormas de interpretao constitucional tem como objetivo evitar a criao delacunas no ordenamento jurdico decorrente da declarao de inconstitucionalidade da lei. Elasvisam sobretudo a manuteno do direito, do interesse social e o combate aos perigos da inse-gurana jurdica gerados pela excluso da norma inconstitucional do nosso sistema jurdico.
Princpio da unidade da Constituio
Em razo da noo sistmica da ordem jurdica esta tem como pressupostos
a unidade e o equilbrio. Todavia, irremedivel a existncia de confitos entre
algumas normas do sistema. Visando solucionar os casos de coliso de normas
inraconstitucionais, aplicam-se os clssicos critrios de hierarquia, norma poste-
rior e norma especial.Contudo, cuidando-se de hiptese de conronto de normas constitucionais
(princpios X princpios, princpios X regras, regras X regras), os critrios tradicio-
nais no so sucientes para garantir uma soluo harmnica, razo pela qual se
utiliza a tcnica da ponderao.
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Amandino Teixeira Nunes Jnior (2002) arma que, segundo o princpio da
unidade da Constituio, [...] as normas constitucionais devem ser consideradas
no como normas isoladas e dispersas, mas sim integradas num sistema interno
unitrio de princpios e regras.
Como acentua J. J. Gomes Canotilho: O princpio da unidade da Constituioobriga o intrprete a considerar a Constituio na sua globalidade e a procurar
harmonizar os espaos de tenso existentes entre as normas constitucionais a
concretizar.
Tendo em mente que a Constituio uma unidade, como o princpio em
comento propaga, no h hierarquia entre suas normas, devendo ser aplicada a
ponderao (harmonizao de dispositivos contrapostos) e a concordncia pr-
tica, como ormas de preservao do princpio citado.1
Princpio da razoabilidade
ou proporcionalidade
Trata-se de princpio constitucional implcito, relacionado ideia de devido
processo legal substantivo e ao ideal de justia. O princpio da razoabilidade visa
propiciar o controle da discricionariedade dos atos do Poder Pblico, atuando
como a orma pela qual uma norma deve ser interpretada para atingir ao mconstitucional por ela visado.2
Amandino Teixeira Nunes Jnior (2002), sobre esse princpio, percebe tratar-se
de norma essencial para a proteo dos direitos undamentais, porque estabe-
lece critrios para a delimitao desses direitos.
Conorme lio de Lus Roberto Barroso (2003, p. 315), por esse princpio o
Judicirio pode invalidar os atos legislativos ou administrativos, quando:
alte
adequao entre o m visado e o instrumento empregado;
1 Nesse ponto, leitura obrigatria de Daniel Sarmento,A Ponderao de Interesses na Constituio Federal, Editora Lumen Juris.
2 Leitura obrigatria sobre o tema: Celso Antonio Bandeira de Mello, Discricionariedade e Controle Jurisdicional, Editora Malhei-ros.
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no haja necessidade para a medida empregada, havendo meio menos gra-
voso para obteno do resultado;
no haja proporcionalidade em sentido estrito (perde-se mais do que se
ganha com a medida).
Ainda esclarecendo esses undamentos do princpio da proporcionalidade,
oportuna a lio de Amandino Teixeira Nunes Jnior (2002):
A adequao signica que o intrprete deve identicar o meio adequado para a consecuodos objetivos pretendidos. A necessidade (ou exigibilidade) signica que o meio escolhido nodeve exceder os limites indispensveis conservao dos ns desejados. A proporcionalidadeemsentido estrito signica que o meio escolhido, no caso especco, deve se mostrar como omais vantajoso para a promoo do conjunto de valores em jogo.
Aplicando-se o princpio da proporcionalidade para se obter a mitigao da
norma, o julgador no permite que esta produza um resultado no desejado pelosistema, realizando, assim, a justia no caso concreto.
Princpio da efetividade
Alm dos planos de existncia, validade, e eccia, analisados para as normas
inraconstitucionais, as normas constitucionais podem ser estudadas num quarto
plano: o da eetividade.
Eetividade signica a realizao, a atuao prtica da norma, ou, como escla-
rece Lus Roberto Barroso (2003, p. 316), a aproximao, to ntima quanto poss-
vel, entre o dever serda norma e o serda realidade social.
A aplicao do princpio da eetividade na interpretao constitucional impe
que o intrprete busque, entre as possveis interpretaes, a que possibilite a
concretizao da vontade constitucional, desviando-se daquelas que implicam
na no autoaplicabilidade da norma ou na ocorrncia de omisso do legislador(BARROSO, 2003, p. 316).
Oprincpio da mxima eetividade signica o abandono da hermenutica tra-
dicional, ao reconhecer a normatividade dos princpios e valores constitucionais,
principalmente em sede de direitos undamentais, consoante observa Amandino
Teixeira Nunes Jnior (2002).
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Aes Constitucionais
Ampliando seus conhecimentos
Jurisprudncias
EMENTA: COMISSO PARLAMENTAR DE INQURITO. QUEBRA DE SIGILO BANCRIO, FISCALE TELEFNICO. AUSNCIA DE INDICAO DE FATOS CONCRETOS. FUNDAMENTAO GEN-RICA. INADMISSIBILIDADE. CONTROLE JURISDICIONAL. POSSIBILIDADE. CONSEQUENTEINVALIDAO DO ATO DE DISCLOSURE. INOCORRNCIA, EM TAL HIPTESE, DE TRANS-GRESSO AO POSTULADO DA SEPARAO DE PODERES. MANDADO DE SEGURANADEFERIDO. A QUEBRA DE SIGILO QUE SE APOIA EM FUNDAMENTOS GENRICOS E QUE NOINDICA FATOS CONCRETOS E PRECISOS REFERENTES PESSOA SOB INVESTIGAO CONS-TITUI ATO EIVADO DE NULIDADE. A quebra do sigilo inerente aos registros bancrios, s-cais e telenicos, por traduzir medida de carter excepcional, revela-se incompatvel como ordenamento constitucional, quando undada em deliberaes emanadas de CPI cujosuporte decisrio apoia-se em ormulaes genricas, destitudas da necessria e espec-ca indicao de causa provvel, que se qualica como pressuposto legitimador da rup-tura, por parte do Estado, da esera de intimidade a todos garantida pela Constituio daRepblica. Precedentes. Doutrina. O CONTROLE JURISDICIONAL DE ABUSOS PRATICADOSPOR COMISSO PARLAMENTAR DE INQURITO NO OFENDE O PRINCPIO DA SEPARAODE PODERES. O Supremo Tribunal Federal, quando intervm para assegurar as ranquiasconstitucionais e para garantir a integridade e a supremacia da Constituio, neutralizando,desse modo, abusos cometidos por Comisso Parlamentar de Inqurito, desempenha, demaneira plenamente legtima, as atribuies que lhe coneriu a prpria Carta da Repblica.O regular exerccio da uno jurisdicional, nesse contexto, porque vocacionado a azerprevalecer a autoridade da Constituio, no transgride o princpio da separao de pode-
res. Doutrina. Precedentes. (STF, MS 25.668/DF, Tribunal Pleno, Rel. Min. Celso de Mello, j.26/03/2006).
EMENTA: I. Ao direta de inconstitucionalidade: L. 959, do Estado do Amap, publicada noDOE de 30/12/2006, que dispe sobre custas judiciais e emolumentos de servios notariaise de registros pblicos, cujo art. 47 impugnado determina que a lei entrar em vigor nodia 1. de janeiro de 2006: procedncia, em parte, para dar interpretao conorme Cons-tituio aos dispositivos questionados e declarar que, apesar de estar em vigor a partir de1. de janeiro de 2006, a eccia dessa norma, em relao aos dispositivos que aumentamou instituem novas custas e emolumentos, se iniciar somente aps 90 dias da sua publi-cao. II. Custas e emolumentos: serventias judiciais e extrajudiciais: natureza jurdica. da
jurisprudncia do Tribunal que as custas e os emolumentos judiciais ou extrajudiciais tmcarter tributrio de taxa. III. Lei tributria: prazo nonagesimal. Uma vez que o caso trata detaxas, devem observar-se as limitaes constitucionais ao poder de tributar, dentre estas,a prevista no art. 150, III, c, com a redao dada pela EC 42/03 prazo nonagesimal paraque a lei tributria se torne ecaz. (STF, ADI 3.694/AP, Tribunal Pleno, Rel. Min. SeplvedaPertence, j. 20/09/2006).
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Princpios de hermenutica das aes constitucionais
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EMENTA:Habeas corpus. 1. Crime previsto no art. 331, 1., do Cdigo Penal (adulteraode sinal identicador de veculo automotor). 2. Alegaes: a) atipicidade da conduta; b) queo paciente no seria o destinatrio da norma penal; e c) violao do princpio da propor-cionalidade ou da razoabilidade. 3. Na espcie, agura-se de todo evidente que a condutaimputada ao paciente substituio de placas particulares de veculo automotor por placasreservadas obtidas junto ao Detran , no se mostra apta a satisazer o tipo do art. 311 doCdigo Penal. 4. No h qualquer dvida de que o rgo de controle Detran sabia epoderia saber sempre que se cuidava de placas reservadas ornecidas Polcia Federal. 5.Ordem concedida para que seja trancada a ao penal contra o paciente, por no resta-rem congurados, nem em longnqua apreciao, os elementos do tipo em tese. (STF HC86.424/SP, 2. Turma, Rel. p/ acrdo Min. Gilmar Mendes, j. 11/10/2005).
EMENTA: AO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ART. 187 DA LEI COMPLEMENTAR75/93. EXIGNCIA DE UM BINIO NA CONDIO DE BACHAREL EM DIREITO COMO REQUI-SITO PARA INSCRIO EM CONCURSO PBLICO PARA INGRESSO NAS CARREIRAS DO MINIS-TRIO PBLICO DA UNIO. ALEGADA OFENSA AOS ARTS. 5., I, XIII E 37, I, DA CF. 1. A exi-
gncia temporal de dois anos de bacharelado em Direito como requisito para inscrio emconcurso pblico para ingresso nas carreiras do Ministrio Pblico da Unio, prevista noart. 187 da Lei Complementar 75/93, no representa oensa ao princpio da razoabilidade,pois, ao contrrio de se aastar dos parmetros da maturidade pessoal e prossional a queobjetivam a norma, adota critrio objetivo que a ambos atende. 2. Ao direta de inconsti-tucionalidade que se julga improcedente. (STF, ADI 1.040/DF, Tribunal Pleno, Rel. p/ acrdoMin. Ellen Gracie, j. 11/11/2004).
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