acidentes e doenças profissionais(1)

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ACIDENTES E DOENÇAS PROFISSIONAIS: CARACTERIZAÇÃO E LEGISLAÇÃO (*) Apesar da grande quantidade de legislação que trata da questão do trabalho no Brasil, ainda são muito reduzidos o interesse e o conhecimento do cidadão comum acerca da temática (BARBOSA FILHO, 2001). O que observamos, em realidade, é que o tratamento dado ao acidente do trabalho fica centrado no ponto de vista meramente social. A Lei n°8213, que trata dos benefícios da Previdência Social, estabelece em seu artigo 19: “Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do art.11 desta Lei, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho.” O art. 20 amplia o conceito previdenciário de acidente do trabalho: “Consideram-se acidentes do trabalho, nos termos do artigo anterior, as seguintes entidades mórbidas: I doença profissional, assim entendida a produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho e constante da respectiva relação elaborada pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social; II doença do trabalho, assim entendida a adquirida ou desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente, constante da relação mencionada no inciso I. § 1º Não são consideradas como doença do trabalho: a) a doença degenerativa; b) a inerente a grupo etário; c) a que não produza incapacidade laborativa; d) a doença endêmica adquirida por segurado habitante de região em que ela se desenvolva,salvo comprovação de que é resultante de exposição ou contato direto determinado pela natureza do trabalho. § 2º Em caso excepcional, constatando-se que a doença não incluída nos incisos I e II deste artigo resultou das condições especiais em que o trabalho é executado e como ele se relaciona diretamente, a Previdência Social deve considerá-la acidente do trabalho.” Por sua vez, o art. 21 também amplia o conceito previdenciário de acidente do trabalho, considerando como tal: I- o acidente ligado ao trabalho que,embora não tenha sido a causa única,haja contribuído diretamente para a morte do segurado,para redução ou perda da sua capacidade para o trabalho,ou produzido lesão que exija atenção médica para a sua recuperação(grifo nosso); II- o acidente sofrido pelo segurado no local e no horário de trabalho,em conseqüência de:

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Engenharia seg. trab.

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Page 1: Acidentes e Doenças Profissionais(1)

ACIDENTES E DOENÇAS PROFISSIONAIS: CARACTERIZAÇÃO E LEGISLAÇÃO (*)

Apesar da grande quantidade de legislação que trata da questão do trabalho no Brasil, ainda são muito reduzidos o interesse e o conhecimento do cidadão comum acerca da temática (BARBOSA FILHO, 2001). O que observamos, em realidade, é que o tratamento dado ao acidente do trabalho fica centrado no ponto de vista meramente social. A Lei n°8213, que trata dos benefícios da Previdência Social, estabelece em seu artigo 19: “Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do art.11 desta Lei, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho.” O art. 20 amplia o conceito previdenciário de acidente do trabalho: “Consideram-se acidentes do trabalho, nos termos do artigo anterior, as seguintes entidades mórbidas: I – doença profissional, assim entendida a produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho e constante da respectiva relação elaborada pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social; II – doença do trabalho, assim entendida a adquirida ou desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente, constante da relação mencionada no inciso I. § 1º Não são consideradas como doença do trabalho:

a) a doença degenerativa; b) a inerente a grupo etário; c) a que não produza incapacidade laborativa; d) a doença endêmica adquirida por segurado habitante de região em

que ela se desenvolva,salvo comprovação de que é resultante de exposição ou contato direto determinado pela natureza do trabalho.

§ 2º Em caso excepcional, constatando-se que a doença não incluída nos incisos I e II deste artigo resultou das condições especiais em que o trabalho é executado e como ele se relaciona diretamente, a Previdência Social deve considerá-la acidente do trabalho.” Por sua vez, o art. 21 também amplia o conceito previdenciário de acidente do trabalho, considerando como tal: “I- o acidente ligado ao trabalho que,embora não tenha sido a causa única,haja contribuído diretamente para a morte do segurado,para redução ou perda da sua capacidade para o trabalho,ou produzido lesão que exija atenção médica para a sua recuperação(grifo nosso); II- o acidente sofrido pelo segurado no local e no horário de trabalho,em conseqüência de:

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a) ato de agressão,sabotagem ou terrorismo praticado por terceiro ou companheiro de trabalho;

b) ofensa física intencional,inclusive de terceiro,por motivo de disputa relacionada ao trabalho;

c) ato de imprudência, de negligência ou imperícia de terceiro ou de companheiro de trabalho;

d) ato de pessoa privada do uso da razão; e) desabamento,inundação, incêndio e outros casos fortuitos ou

decorrentes de força maior; III- a doença proveniente de contaminação acidental do empregado no exercício de sua atividade; IV- o acidente de trabalho sofrido pelo segurado,ainda que fora do local e horário de trabalho: a)na execução de ordem ou na realização de serviço sob a autoridade da empresa; b) na prestação espontânea de qualquer serviço à empresa para lhe evitar prejuízo ou proporcionar proveito; c) em viagem a serviço da empresa, inclusive para estudo quando financiada por esta dentro de seus planos para melhor capacitação de mão-de-obra, independentemente do meio de locomoção utilizado, inclusive veículo de propriedade do segurado; d) do percurso da residência para o local de trabalho ou deste para aquela,qualquer que seja o meio de locomoção utilizado,inclusive veículo de propriedade do segurado; § 1º Nos períodos destinados à refeição ou descanso,ou por ocasião da satisfação de outras necessidades fisiológicas,no local de trabalho ou durante este,o empregado é considerado no exercício do trabalho; § 2º Não é considerada agravação ou complicação do acidente do trabalho a lesão que, resultante de outra origem, se associe ou se superponha às conseqüências do anterior.” O acidente do trabalho, ao menos em princípio,pode ser considerado um infortúnio.Assim,partindo-se dessa premissa,sua conceituação legal assenta-se em três requisitos, a saber: 1. casualidade- o acidente do trabalho é um evento inesperado,não

provocado,cujo acontecimento se dá ao acaso,não havendo,desta forma,dolo;

2. prejudicialidade- a sua ocorrência causa,minimamente,lesões menores ou a redução temporária da capacidade para o trabalho e, em extremo,a morte do acidentado;

3. nexo etiológico ou causal – é o nexo que caracteriza a relação de causa e efeito entre a atividade realizada e o acidente típico ( ou a doença a este equiparada).

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A análise dos fatores relacionados às condições nas quais o trabalho é realizado – em sentido amplo,os sintomas apresentados pelo indivíduo e o reconhecimento da doença propriamente dita - , ao lado de fatores relacionados `sensibilidade pessoal, aos antecedentes ocupacionais – tempo de trabalho e período de exposição,entre outros meios de investigação -, servem de elementos para que se caracterize com segurança se há ou não o nexo causal e, portanto, a procedência da pretensão apresentada em Juízo. Todavia, considerando-se a infortunística que rege o acidente do trabalho, cada caso deve ser apreciado á luz de suas particularidades. Como nem sempre há relação direta e exclusiva entre o dano resultante e seu agente causador,ou seja, a configuração plena do nexo causal,é comumente aceita a concausalidade. Para Pedrotti(1998:40) “concausa é o elemento que concorre com outro,formando o nexo entre a ação e o resultado,entre o acidente e/ou doença profissional ou do trabalho e o trabalho exercido pelo empregado.”A própria Lei nº8213/91,em seu art.21,inciso I, conforme sublinhamos no início desta discussão,oferece sua conceituação. Em termos legais, podemos exemplificar, citando a contaminação acidental de pessoal da área médica. Embora a manifestação final do dano possa ser expressa em forma diversa daquela que poderia ser típica para a função,o acidente deve ser entendido como o evento que gerou a oportunidade de dano e não o dano propriamente dito. Por fim, resta-nos fazer algumas considerações adicionais sobre o que diferencia o acidente da doença: 1. o acidente tem como resultado uma resposta abrupta,a curto prazo,e

geralmente,associa danos pessoais e perdas materiais.Sua ocorrência torna-se dessa forma,mais aparente;

2. a doença,por sua vez,apresenta na maioria dos casos uma resposta lenta.A médio e longo prazos, manifesta-se,por assim dizer,de forma insidiosa,sorrateiramente.Pode,portanto,resultar,pela ausência de sintomas aparentes em seus primeiros estágios, em sua detecção tardia.Daí a necessidade da guarda e conservação dos registros sobre a saúde dos empregados por prazos tão amplos.

E qual deles terá maior impacto sobre a empresa?Ambos são extremamente danosos.O acidente traz prejuízos imediatos.a doença trará prejuízos futuros.E em qual deles não incorrer?Em nenhum,é claro.Então,nada mais há a fazer do que prevenir! Investir em condição de trabalho hoje significa,em poucas e claras palavras,minimizar as possibilidades de vir a organização a perder,hoje ou amanhã. Sugestões de leitura ANFIP.Legislação previdenciária-Leis nº8212( custeio) e nº8213 ( benefícios) de 24 de julho de 1991.Brasília, 1997. ANFIP.Regulamentos dos benefícios da Previdência Social-Decreto nº2172 de 5 de março de 1997.Brasília, 1997.

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BRASIL.Constituição da República Federativa do Brasil (CF/88).São Paulo: Revista dos Tribunais,1996. OLIVEIRA,Juarez.Consolidação das Leis do Trabalho.21ed.São Paulo:Saraiva,1996. PEDROTTI,Irineu Antonio.Doenças Profissionais ou do trabalho.2ed.São Paulo:Leud,1998. SALIBA, Tuffi Messias et al. Insalubridade e Periculosidade.3 ed. São Paulo: LTr, 1997. (*) FONTE: BARBOSA FILHO, Antonio Nunes. Segurança do trabalho e gestão ambiental. São Paulo: Ed. Atlas. 2001.