acidentes de trabalho um velho desafio

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REA: GESTO DE PESSOAS Acidentes de Trabalho: Um Velho Desafio AUTORES DAYANNE MARCIANE GONALVES Universidade Estadual do Centro - Oeste Unicentro [email protected] SILVIO ROBERTO STEFANO Universidade Estadual do Centro-Oeste do Paran - Unicentro [email protected] ANA CRISTINA LIMONGI FRANA Universidade de So Paulo [email protected] Resumo Sob o lema Minha vida, meu trabalho, meu trabalho seguro, a Organizao Internacional do Trabalho (OIT) lanou sua campanha para marcar o 28 de abril de 2008, em torno do tema geral A gesto do risco no ambiente de trabalho. O acidente de trabalho impacta negativamente diversos segmentos da sociedade contempornea inclusive a sociedade brasileira. Este estudo tem como objetivo principal apresentar uma anlise quantitativa dos registros oficiais de acidentes de trabalho no Brasil. A partir dos dados histricos, de fonte secundria, pode-se conhecer com melhor clareza conseqncias dos acidentes de trabalho. Os domnios de anlise foram a legislao vigente no Brasil relacionadas s aes de preveno, controle e eliminao dos acidentes de trabalho. Dentre os achados observa-se que na dcada de 90 houve reduo nos ndices de acidentes. Porm a partir do ano 2000, acidentes de trabalho voltaram a aumentar a ocorrncia, ratificando a necessidade de fortalecer polticas e prticas de gesto por parte das organizaes e rgos fiscalizadores. Entre as necessidades de fortalecimento da gesto destacam-se medidas preventivas organizacionais de melhorias ergonmicas, qualificao em todos os nveis de ao: operao, mdia gerncia, especialistas e alta direo, reforadas pela correta aplicao dos mecanismos legais de fiscalizao e controle governamentais. Palavras-Chave: Acidente de Trabalho, conseqncias, medidas preventivas. Abstratc Under the motto My life, my work, my safe place of work, the International Labor Organization (ILO) launched its campaign in order to mark that 28 of April of 2008, around the general subject The risk management in the environment of labor. The labor accident has impacted negatively several segments of the contemporary society including the Brazilian society. This study intends to present a quantitative analysis of the official registers of labor accident in Brazil. From the historical data, of secondary source, it is possible to know with better clarity consequences of the labor accident. The scope of analysis has been the legislation in force in Brazil related to the actions of prevention, control and elimination of the labor accident. Among the finds it is noticed that in the 90s there have been reduction in the rates of accidents. However from the 2000 year on, labor accidents increased again, ratifying the needs of strengthening politics and practices of management for part of the organizational and supervisory organs. Between the needs of strengthening of the organizational management of improvements are outstanding: preventive ergonomics measures, qualification in all the levels of action: operation, middle management, specialists and top direction,

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reinforced by the correct application of the legal government mechanisms of inspection and control. Key-words: labor accident, consequences, writs of prevention. 1 INTRODUO Segundo dados publicados no Portal da Fundacentro (www.fundacentro.org.br) o Brasil perde, por ano, o equivalente a 4% do PIB por causa dos acidentes de trabalho. Segundo dados do Anurio Estatstico de Acidentes de Trabalho, publicado em janeiro de 2008, foram registrados em 2006, em todo o Pas, 503.890 acidentes de trabalho. A incidncia de acidentes aumentou em relao a 2005 e 2004 e muito expressiva, devido s condies precrias de trabalho, do uso de mquinas obsoletas e processos inadequados, entre outros fatores. As organizaes so constitudas de pessoas e dependem delas para atingir seus objetivos, razo pela qual busca-se proteger a integridade fsica e mental de seus colaboradores. Sendo assim, a rea de Recursos Humanos visando prevenir (reduzir e eliminar) a ocorrncia de acidentes apresenta um tpico especfico que diz respeito Higiene, Segurana e Medicina do trabalho. Assim, a atividade de Higiene e Segurana no Trabalho, luz da gesto de Recursos Humanos, refere-se a uma srie de normas e procedimentos visando, essencialmente, proteger a sade fsica e mental do empregado, buscando resguard-lo dos riscos de sade relacionados com o exerccio de suas funes e com o ambiente fsico onde o trabalho executado (CARVALHO; NASCIMENTO, 2002). De acordo com esses autores, o acidente de trabalho pode ser definido como leso corporal, perturbao ou doena profissional, determinantes de incapacidade, gerados pelo exerccio do trabalho. Esses podem ser classificados como: tpicos, atpicos, e de trajeto. Eles so originrios de problemas referentes ao sistema de higiene e segurana do trabalho, uma vez que gerados por condies inseguras ou at mesmo por um ato inseguro do prprio empregado ao exercer sua atividade de trabalho. Os indicadores de acidentes do trabalho so utilizados para mensurar a exposio dos trabalhadores aos nveis de risco inerentes atividade econmica, permitindo o acompanhamento das flutuaes e tendncias histricas dos acidentes e seus impactos nas empresas e na vida dos trabalhadores. Alm disso, fornecem subsdios para o aprofundamento de estudos sobre o tema e permitem o planejamento de aes nas reas de segurana e sade do trabalhador (ANURIO ESTATSTICO DE ACIDENTES DE TRABALHO, 2006)". Alm de causarem danos, algumas vezes irreparveis, os acidentes no ambiente de trabalho podem gerar prejuzo material e moral para as empresas, uma vez que afetam a produtividade, geram custos e denigrem a sua imagem perante os consumidores. Assim, realizou-se a anlise dos registros oficiais de acidentes de trabalho nos ltimos anos no Brasil, traando um paralelo entre a teoria e a realidade, demonstrando a importncia do assunto abordado pelo estudo diante dos dados levantados no decorrer da pesquisa, com foco na preveno. 2 PROBLEMA DE PESQUISA E OBJETIVO Este estudo tem como objetivo principal apresentar uma anlise quantitativa dos registros oficiais de acidentes de trabalho no Brasil, a partir dos dados histricos, de fontes secundrias, podendo-se conhecer com clareza as conseqncias dos acidentes de trabalho. Observa-se que o problema do presente estudo se baseia nas seguintes questes: i) Qual a situao dos acidentes de trabalho nos ltimos 36 anos no Brasil? ii) Eles esto reduzindo ou aumentando? iii) Qual Regio do Brasil apresenta o maior ndice de acidentes de trabalho? iv) Quais as partes do corpo mais atingidas?

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3 REVISO BIBLIOGRFICA Desde os anos setenta, quando comearam os registros sobre acidentes do trabalho, sabe-se que as estatsticas oficiais brasileiras so limitadas, pois no incluem os trabalhadores informais, mesmo assim os dados so graves. A jornalista Maisa Naercio (Fundacentro, 2008), relata que :[...] cerca de 30% dos acidentes atingem mos, dedos e punhos, e poderiam ser evitados com investimentos em mquinas mais modernas, com dispositivos de segurana, capacitao dos trabalhadores e processos de produo mais adequados.e os acidentes de trabalho so responsveis uma perda econmica anual da ordem de 2,3% do PIB brasileiro. A Organizao Internacional do Trabalho (OIT) estima que, no mundo, 6.000 trabalhadores morrem a cada dia devido a acidentes e doenas relacionadas com o trabalho, cifra que est aumentando. Alm disso, a cada ano ocorrem 270 milhes de acidentes de trabalho no fatais (que resultam em um mnimo de trs dias de falta ao trabalho ) e 160 milhes de casos novos de doenas profissionais. A OIT estima que o custo total destes acidentes a doenas equivale a 4 por cento do PIB global.

Segundo Zocchio (2001) prevenir acidentes de trabalho dever de todos, uma vez que todos tm obrigaes a cumprir com relao preveno de acidentes como: as autoridades de todos os escales; os empresrios e dirigentes de empresa de todos os tamanhos e ramos de atividade; as entidades patronais e de trabalhadores; os profissionais de todas as categorias e artes; e, todos como simples cidados. Com relao ao tema h diversas reas que abordam o assunto sob diversos enfoques, como: Higiene e Segurana do Trabalho (enfoque em ARH); Acidentes de trabalho (definio jurdica); Conseqncias dos acidentes de trabalho; preveno de acidentes e doenas ocupacionais, que so apresentados a seguir. 3.1 Higiene e Segurana do Trabalho O subsistema da rea de Recursos Humanos denominado manuteno envolve uma srie de cuidados visando manter o empregado na organizao. Entre os cuidados especiais despendidos em favor do empregado sobressaem os planos de compensao monetria, de benefcios sociais, higiene e segurana do trabalho e relaes sindicais. Sendo que esses processos influem de maneira preponderante na permanncia das pessoas na organizao, e sua motivao para o trabalho e para o alcance dos objetivos organizacionais (MARTOS; STEFANO; GOMES FILHO, 2004). Em contrapartida, Marras (2000) entende que a Higiene e Segurana no Trabalho no faz parte do subsistema de manuteno de Recursos Humanos, mas um subsistema especifico que compe a rea de Recursos Humanos devido sua relevncia para as organizaes. Para Marras (2000) o subsistema de higiene e segurana do trabalho a rea responsvel pela segurana industrial, pela higiene e medicina do trabalho relativamente aos empregados da empresa, atuando tanto na rea de preveno quanto na de correo, em estudos e aes constantes que envolvam acidentes no trabalho e a sade do trabalhador. O autor estabelece ainda as trs linhas mais importantes desse subsistema que so: segurana do trabalho, higiene do trabalho e medicina do trabalho. Seguindo o carter preventivo Marras (2000) enfatiza que a segurana do trabalho envolve: a preveno de acidentes no trabalho e a eliminao das causas de acidentes no trabalho. Tanto que afirma ser a preveno de acidentes no Trabalho um programa de longo prazo com o objetivo de conscientizar o trabalhador a proteger a sua prpria vida e a de seus companheiros. A higiene no trabalho, segundo Carvalho e Nascimento (2002) trata das condies fsicas de trabalho as quais influenciam o comportamento humano. Os autores classificam

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como condies bsicas de Higiene do Trabalho: a temperatura, a iluminao e os rudos no local de trabalho. A preocupao com a temperatura fruto de estudos fsicos e biolgicos os quais demonstraram que, exposto por muito tempo a temperaturas elevadas, o ser humano pode sofrer danos graves sua sade. Os recursos naturais utilizados pelo homem com vistas a aumentar a circulao perifrica para melhor dissipar o calor interno do organismo, obriga o sistema cardiovascular a um trabalho forado, o que pode vir a causar cardiopatias srias. Alm disso, sob altas temperaturas o corpo humano tente a perder gua e sal por meio do suor, ocorrendo por conseqncia um desequilbrio orgnico (CARVALHO; NASCIMENTO, 2002). Quanto iluminao do ambiente de trabalho, o artigo 175 da CLT obriga a empresa a manter condies mnimas de iluminao nos locais de trabalho apropriada natureza da atividade. A iluminao dever ser uniformemente distribuda, geral e difusa, a fim de evitar ofuscamento, reflexos incmodos, sombras e contrastes excessivos. A ABNT (Associao Brasileira de Normas e Tcnicas) determina os nveis de iluminao dos locais de trabalho, em funo de cada tipo de atividade. Ou seja, depende do desempenho visual e do conforto visual (CARVALHO; NASCIMENTO, 2002). Tambm existe uma preocupao com a intensidade dos rudos que so suportados pelos trabalhadores e que podem causar deficincia auditiva com o decorrer do tempo. No que tange a higiene e medicina do trabalho, Marras (2000) entende que esta pode se relacionar direta e indiretamente com a proteo sade do trabalhador no que diz respeito aquisio de patologias tipicamente relacionadas ao trabalho ou a agentes resultantes dele. Segundo o autor trata-se de questes ligadas sade ocupacional do trabalhador podendo-se citar como exemplos: ergonomia, insalubridade, toxicologia e controles clnicos. A ergonomia refere-se a um conjunto de regras e estudos que visa organizao saudvel e produtiva do trabalho. Ela responsvel pelas relaes entre a mquina e o homem dentro de determinado ambiente de trabalho, visando o bem- estar, a sade e o bom rendimento do trabalhador (MICHAEL, 2000). Segundo Marras (2000) a ergonomia se prope a estudar a relao entre o homem e o ambiente que o rodeia no trabalho sob o ponto de vista da medicina, da psicologia e da engenharia. Em seus estudos o autor faz referncia a sigla DORT (Doenas Osteomusculares Esquelticas Relativas ao Trabalho), sob a qual encontra-se um grupo de doenas que se adquire no trabalho, em funo do seu exerccio. Sendo que o conjunto dessas doenas estudado pela ergonomia. Dentro do conjunto de patologias provenientes da DORT esto as leses por esforos repetitivos (LER) causadas por posturas, mtodos ou condies inadequadas de trabalho. Por isso, a Consolidao das Leis do Trabalho, artigo 199, prescreve como obrigatria colocao de assentos que garantam a postura correta ao trabalhador na execuo de seu trabalho. Com relao ao assento, o gestor da organizao deve considerar a necessidade de se prever um banco ou cadeira para o empregado que permita-lhe: uma postura adequada e estvel durante a execuo de seu trabalho; conforto por meio do relaxamento de msculos no exigidos para a execuo das tarefas; e, aliviar o peso dos ps do operador. Alm disso, a Medicina do Trabalho reconhece os riscos de aparecimento de varizes, aumento acentuado da fadiga, e a queda na produtividade queles funcionrios que permanecem em p, praticamente imvel, muitas horas seguidas (CARVALHO; NASCIMENTO, 2002). Ressaltam os autores que h outros aspectos das instalaes referentes ao espao de trabalho que devem merecer ateno e os cuidados do gestor, tais como: as bancadas, mesas, superfcies de trabalho horizontais e verticais e a localizao e o arranjo fsico de controles, instrumentos e materiais.

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Quanto toxicologia Carvalho e Nascimento (2002) a classificam como distrbio referente sade mental na empresa, a qual se refere a relao entre a sade mental e o trabalho. Assim, o alcoolismo, o consumo de drogas, o surgimento de fobias e doenas psicossomticas so alguns dos distrbios que podem se manifestar em funo de desajustes mentais do indivduo em seu ambiente de trabalho. Os autores citam entre as causas destes distrbios: a dificuldade de relacionamento entre os vrios nveis hierrquicos da empresa; posies ambguas dos funcionrios- poder sobre os subordinados e submisso aos superiores; e, limitao da criatividade no trabalho. Marras (2000) relata sobre o Programa de Controle Mdico- Ocupacional, pelo qual a empresa obrigada por Lei a avaliar periodicamente os seus trabalhadores por meio de exames clnicos que se classificam em exames: admissionais, demissionais, de retorno ao trabalho, peridicos, complementares, e de mudana de cargo. Observa-se que a segurana do trabalho envolve uma engenharia, um conhecimento de legislao especfica, cujo sucesso funo direta da habilidade de vender o programa gerncia e aos trabalhadores (MICHAEL, 2000). Logo, o subsistema de Higiene e Segurana do trabalho visa proteger a higidez Hgido: [Do gr. hyg(is), 'so', 'saudvel', + -ido1.] Adj. 1. Respeitante sade. 2. Que tem higidez; sadio, so. (FERREIRA, 1999). fsica e mental dos empregados de acordo com as legislaes e normas vigentes que estabelecem regras e procedimentos relacionadas sade do trabalhador. 3.2 Acidentes de Trabalho Zocchio (2001) conceitua o acidente de trabalho como ocorrncias anormais e indesejveis no exerccio do trabalho que interrompem a atividade onde ocorrem; interferem negativamente tambm em outras atividades; agridem os trabalhadores com pequenas leses, ou at grandes mutilaes e, s vezes, com a morte; causam diversos e considerveis prejuzos s empresas; e, contribuem para o desequilbrio socioeconmico do pas. Ayres e Corra (2001) consideram acidente do trabalho como infortnio decorrente do trabalho, que se enquadre na definio legal, tendo em vista que para os autores o fato que no se enquadrar nas disposies legais, no ser considerado como acidente de trabalho. No mbito jurdico Diniz (2007) define o acidente de trabalho como sendo um evento danoso, resultado do exerccio do trabalho, que provoca no empregado, direta ou indiretamente, leso corporal, perturbao funcional ou doena que determine morte, perda total ou parcial, permanente ou temporria, da capacidade para o trabalho. A Lei n8.213 de 24 de abril de 1991 visa consolidar a legislao que dispe sobre os Planos de Benefcios e Custeio da Previdncia Social e sobre a organizao da Seguridade Social. A referida Lei define o acidente de trabalho sob o ponto de vista meramente social, conforme verifica-se em seu artigo 19 o qual assim dispe:Art. 19. Acidente do trabalho o que ocorre pelo exerccio do trabalho a servio da empresa ou pelo exerccio do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do art. 11 desta Lei, provocando leso corporal ou perturbao funcional que cause a morte ou a perda ou reduo, permanente ou temporria, da capacidade para o trabalho.

Alm da definio tpica prevista no artigo 20 da referida Lei, ainda considera-se acidente de trabalho: i) doena profissional, ou seja, aquela produzida ou desencadeada pelo exerccio do trabalho peculiar a determinada atividade e constante de relao elaborada pelo MPAS; ii) doena do trabalho, ou seja, aquela adquirida ou desencadeada em funo de condies especiais em que o trabalho realizado e com ele se relaciona diretamente, constante de relao do Ministrio da Previdncia e Assistncia Social (VILA; CASTRO; MAYRINK, 2002).

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A doena profissional pode ocorrer com pessoas que realizam determinado tipo de trabalho, e a doena do trabalho resulta das condies do exerccio da funo e do meio ambiente do trabalho, podendo atingir todos que trabalhem nas mesmas condies adversas sade (AYRES; CORRA, 2001). Diniz (2007) classifica o acidente de trabalho em tpico e atpico. O primeiro se refere aos acidentes de trabalho que advm de um acontecimento sbito, violento e involuntrio na prtica do trabalho, que atinge a integridade fsica ou psquica do empregado. A segunda classificao considera atpico o acidente de trabalho oriundo de doena profissional, peculiar a certo ramo de atividade, ou seja, a molstia uma deficincia sofrida pelo operrio, em razo de sua profisso, que o obriga a estar em contato com substncias que debilitam seu organismo ou ao exercer sua tarefa, que envolve fato insalubre. Com relao aos acidentes atpicos tem-se o art. 21 da Lei 8.213 o qual equipara acidente de trabalho queles que contribuem para agravar o estado de sade do empregado e que ocorrem de forma paulatina. Quando a Lei se refere ao acidente sofrido no percurso da residncia para o local de trabalho ou vice-versa, tem-se caracterizado o acidente in itinere - Dispe o 2 do art. 58 da CLT que in itinere se refere ao tempo despendido pelo empregado at o local de trabalho e para seu retorno (MARTINS, 2004). E, ainda, traz as hipteses de acidente que ocorre no trajeto, ou seja, que se referem ao sofrido fora do local e horrio de trabalho, mas no exerccio do trabalho. 3.3 Conseqncias dos Acidentes do Trabalho Para Zocchio (2002) o acidente de trabalho e as doenas ocupacionais acarretam conseqncias nem sempre percebidas pelos empresrios e responsveis legais das empresas. Assim, o referido autor enumera como conseqncias para a empresa e para os empregados as seguintes: i) agresses que impingem aos trabalhadores; ii) danos materiais que causam ao patrimnio; iii) montante de custo que acrescentam ao custo operacional. Para o trabalhador os efeitos que decorrem de um acidente de trabalho so mais traumticos, pelo fato de causar leses que acarretam a perda total ou parcial, temporria ou permanente, de sua capacidade, podendo inclusive gerar a morte. Assim, as conseqncias para o trabalhador, segundo Marras (2000) so: i) sofrimento fsico; ii) incapacidade para o trabalho; e, iii) desamparo famlia. Nesse mesmo sentido, entendem Gomes e Gottschalk (2004, p. 275) ao enumerarem as conseqncias que os acidentes do trabalho produzem para trabalhador afetado, que so: a) morte; b) incapacidade total e permanente; c) incapacidade parcial e permanente; d) incapacidade temporria. Segundo os autores a morte pode ser imediata, ou sobrevir aps um perodo de incapacidade. A incapacidade permanente se caracteriza pela inabilitao total do trabalhador para toda espcie de servio, tornando-o invlido. Exemplo de incapacidade permanente total cegueira total, a alienao mental ou a paralisia dos membros superiores ou inferiores. O acidente pode, ainda, gerar a incapacidade permanente parcial, configurando-se quando h reduo da capacidade de trabalho, por toda a vida do trabalhador. E, a incapacidade temporria ocorre quando o empregado perde totalmente a capacidade de trabalhar por um perodo limitado de tempo (GOMES; GOTTSCHALK, 2004). Entre as conseqncias que a empresa pode sofrer, segundo Marras (2000) esto: dificuldades burocrticas com as entidades oficiais e desgaste da imagem da empresa perante o mercado; gastos com primeiros socorros e transporte do acidentado at o local de atendimento; perda de tempo produtivo de outros empregados ao socorrerem o acidentado ou paradas de produo para comentar o assunto; danos ou perdas de material, ferramentas, equipamentos ou mquinas.

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Quando o acidente agride o trabalhador causando-lhe ferimento leve, caso em que o acidentado faz o curativo e retorna ao trabalho, afeta a empresa, pois: perde tempo; tem gastos com curativos; o trabalho do acidentado interrompido; ao retornar ao trabalho pode produzir menos devido ao incmodo do curativo; o curativo pode vir a ser um risco adicional para o empregado; se for mudado temporariamente de funo pode ter sua produtividade comprometida. Quando o acidente causa leso mutilante ou morte do trabalhador, alm das conseqncias enumeradas, pode causar efeitos emocionais negativos em colegas da vtima, e a notcia pode se espalhar pela comunidade em verso distorcida e contra a imagem da empresa (ZOCCHIO, 2002). Verifica-se que entre as conseqncias do acidente de trabalho para o empregador est o prejuzo gerado pelo infortnio - Infortuna: [De in-2 + fortuna.] S. f. 1. V. infortnio. 2.Apario de um astro a que se atribua desgraa. Desgraa, desdita, infortnio (FERREIRA, 2005). Tanto que Marras (2000) estima que o problema gera comunidade industrial mais de 5,8 bilhes em prejuzo anuais que, se somados a mais 1,4 bilho custo estimado da Previdncia nesses mesmos acidentes -, proporciona um acmulo de mais de sete bilhes de prejuzo no perodo de um ano de trabalho. Segundo Michael (2000) existe uma frmula para o clculo dos custos dos acidentes de trabalho que se apresenta da seguinte maneira: CT (custo total) = CD (custo direto) + CI (custo indireto) O custo direto determinado pelo custo do seguro de acidentes do trabalho que o empregador deve pagar ao Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) ou para o trabalhador, e o custo indireto inerente prpria atividade da empresa e no representam uma retirada de caixa imediata. Como exemplo de custo indireto para a empresa tem-se: as despesas decorrentes da substituio de pea danificada ou manuteno e reparos de mquinas e prejuzo decorrentes de danos causados ao produto em processo entre outros (MICHAEL,2000). Assim, cabe aos empregadores (visando reduzir os prejuzos) fazer um levantamento dos riscos inerentes ao exerccio do trabalho, a fim de elimin-los ou minimiz-los por meio da adoo de medidas preventivas. Uma maneira de prevenir acidentes de trabalho reunir um conjunto de estatsticas confiveis, as quais permitam calcular e acompanhar a evoluo dos riscos de acidentes e doenas no local de trabalho, traando, assim, polticas de preveno mais eficientes (VILA; CASTRO; MAYRINK, 2002). De acordo com os mesmos autores, os empregadores podem se utilizar de meios estatsticos para analisar as causas dos acidentes de trabalho. Entre os indicadores de acidentes de trabalho e suas conseqncias esto: ndice de gravidade e o ndice de freqncia de acidentes. Esses indicadores permitem verificar, respectivamente, a intensidade de cada acidente ocorrido, a partir da durao do afastamento do trabalho, obtendo uma indicao da perda laborativa devido incapacidade, e medir o nmero de acidentes que geraram algum benefcio, ocorridos para cada 1.000.000 (um milho) de horas-homem trabalhadas. Portanto, os clculos destes ndices podem indicar as conseqncias que os acidentes podem trazer para o empregador em termos de custos e produtividade, servindo como base de conscientizao das empresas de que vale a pena prevenir os acidentes ao invs de arcar com os custos deles provenientes. 3.4 Preveno de Acidentes e Doenas Ocupacionais Michael (2000) apresenta a teoria de Heinrich segundo a qual os acidentes e consequentemente leses so causados por alguma coisa anterior, alguma coisa onde se encontra o homem, defendendo que todo acidente causado, ou seja, ele no acontece. Esta teoria entende que o acidente causado porque o homem no se encontra devidamente preparado e comete atos inseguros, ou ento existem condies inseguras que comprometem a

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segurana do trabalhador. Assim, os atos inseguros e as condies inseguras constituem o fator principal na causa de acidentes. O autor explica que Heinrich idealizou, partindo da personalidade, demonstrar a ocorrncia de acidentes e leses com o auxlio de cinco pedras de domins: a primeira representando a personalidade; a segunda as falhas humanas, no exerccio do trabalho; a terceira as causas de acidentes (atos e condies inseguras); a quarta, o acidente e a quinta, as leses. Desde que no se consiga eliminar os traos negativos da personalidade, surgiro em conseqncia, falhas no comportamento do homem no trabalho, de que podem resultar atos inseguros e condies inseguras, as quais podero levar ao acidente e s leses; quando isso ocorrer, tombando a pedra personalidade ela ocasionar a queda em sucesso de todas as demais, concretizando o efeito domin ou cascata. Entre as principais causas de acidentes de trabalho no pas so: a falta de conscientizao dos empresrios e trabalhadores para a importncia da preveno dos infortnios do trabalho; formao profissional inadequada; jornadas de trabalho prolongadas; longos perodos de transporte incmodo e fatigante (nas grandes cidades); alimentao do trabalhador imprpria e insuficiente; prestao de servio insalubre em jornadas de trabalho destinadas s atividades normais; grande quantidade de trabalhadores sem o devido registro como empregados; alta rotatividade da mo-de-obra e abuso na terceirizao de servios (AYRES; CORRA, 2001). Michael (2000) entende que a melhor forma de preveno de acidentes eliminando os atos e condies inseguras no ambiente de trabalho. Entre as medidas preventivas sugeridas por Michael (2000) esto: eliminar os atos inseguros por meio de seleo profissional, exames mdicos adequados, treinamento, comunicao interna e reforo positivo; e eliminar as condies inseguras por meio do mapeamento de reas de risco, anlise profunda dos acidentes e apoio irrestrito da alta administrao. Tambm a legislao relaciona diversos programas relativos preveno de acidentes, dentre eles: PPRA (Programa de Preveno de Riscos Ambientais) NR-9, segundo a qual o empregador deve controlar a ocorrncia de riscos ambientais existentes ou que possam surgir no ambiente de trabalho; De acordo com a NR-09 da Portaria 3.214/78, fica estabelecida a obrigatoriedade da elaborao e implementao por parte de todos os empregados e instituies que admitam trabalhadores como empregados, do PPRA, visando a preservao da sade e da integridade dos trabalhadores, por meio da antecipao, reconhecimento, avaliao, conseqente e controle da ocorrncia de riscos ambientais existentes ou que possam vir a existir no ambiente de trabalho, tendo em considerao a proteo do meio ambiente e dos recursos naturais. De acordo com a NR-05 da Portaria 3.214/78, dever ser efetuado o levantamento de riscos ambientais (fsicos, qumicos, biolgicos, ergonmicos e de acidentes), sendo estes representados em planta baixa. PCMSO (Programa de Controle Mdico de Sade Ocupacional) A Norma Regulamentadora 7 estabelece o objetivo do PCMO (Programa de controle mdicoocupacional) como sendo a promoo e preservao da sade do conjunto dos seus trabalhadores. PPP (Perfil Profissiogrfico Previdencirio) que contm todo o histrico funcional, a descrio das atividades desenvolvidas, os riscos envolvidos, os equipamentos de proteo oferecidos pela empresa, etc. Seu preenchimento e entrega so obrigatrios, no momento do desligamento do colaborador da empresa. PCMAT Programa de Controle do Meio Ambiente de Trabalho. A NR 18, Condies e Meio Ambiente de Trabalho na Indstria da Construo, traz em seu item 18.3 a necessidade do PCMAT em obras de construo, fato que todos os profissionais

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intervenientes em um processo de construo deveriam dominar e dele ter pleno conhecimento. PPR Programas de Proteo Respiratria. Implantao e manuteno obrigatria de acordo com a Instruo Normativa 01/94 do Mte. PCA Programas de Conservao Auditiva. De acordo com a NR-01 da Portaria 3.214/78, cabe ao empregador adotar medidas para eliminar ou neutralizar a insalubridade e as condies inseguras de trabalho, a partir de nveis de ao de acordo com a NR-09, nveis de exposio de acordo com o Anexo I da NR-15 e parmetros de avaliao de acordo com o Anexo I da NR-07 PCP - Programas de Preveno e Controle de Perdas. Portanto, observa-se que a legislao apresenta programas que visam a preveno de acidentes de trabalho, bem como estabelecendo normas e tcnicas, relacionadas higiene e segurana no trabalho, que devem ser aplicadas com a finalidade precpua de proteger a vida. 3.5 Responsabilidade Civil e Penal Primeiramente, preciso verificar as caractersticas jurdicas da relao de emprego. Entre os elementos que caracterizam esta relao so: pessoalidade, onerosidade, permanncia ou no-eventualidade, subordinao (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2004). Estas caractersticas do contrato de trabalho so importantes para determinar a responsabilidade civil decorrente de acidente de trabalho, a qual se restringir ao trabalho subordinado. Segundo Gagliano e Pamplona Filho (2004) existem trs tipos de responsabilizao que podem decorrer do acidente do trabalho, que so: responsabilizao contratual, com eventual suspenso do contrato e o reconhecimento da estabilidade acidentria prevista no art. 118 da Lei n 8.213/91; o benefcio previdencirio do seguro de acidente de trabalho, financiado pelo empregador, mas adimplido pelo Estado; e, a responsabilidade subjetiva, de natureza puramente civil, de reparao de danos, prevista no artigo 7, XXVIII da Constituio Federal que assim dispe: XXVIII- seguro contra acidentes de trabalho a cargo do empregador, sem excluir a indenizao a que este est obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa. Segundo DINIZ (p.41, 2007) O dolo a vontade consciente de violar o direito, dirigido consecuo do fim ilcito e a culpa abrange a impercia, a negligncia e a imprudncia. H crticas ao sistema de responsabilidade civil do empregador em relao ao trabalhador, tanto que os Tribunais tm aplicado a responsabilidade pelo risco da atividade ou ainda pela culpa presumida, conforme a situao apresentada, o que libera a vtima de provar a culpa do causador do dano. Assim, diversos julgados vm aplicando a responsabilidade objetiva do empregador com o fim de salvaguardar o hipossuficiente, no caso o trabalhador. Alm da responsabilidade civil que determina a indenizao em casos de dano moral e material, existe, ainda, a responsabilidade penal que impe sanes ao empregador que praticar algumas das condutas tpicas previstas no Cdigo Penal e na legislao. Assim, o empregador que no adotar as medidas de segurana e higiene do trabalho, visando proteger seus empregados contra riscos de acidentes do trabalho e/ou doenas profissionais e do trabalho, seja por meio de medidas de proteo coletiva e/ou de Equipamentos de Proteo Individual (EPIs), alm das sanes legais por no cumprir as Normas Regulamentadoras da Portaria n 3.214/78, do Ministrio do Trabalho e Emprego, responder por crimes de homicdio, leses corporais, ou crimes de perigo comum, previstos nos arts. 129, 132, 135 e 203 do Cdigo Penal, alm das cominadas nos arts. 250 a 259 do mesmo Cdigo (AYRES; CORRA, p. 28, 2001). 4 METODOLOGIA

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Esse artigo caracteriza-se como pesquisa descritiva que proporciona informaes resumidas dos dados contidos em amostras estudadas e apresentadas atravs de grficos, tabelas e dados obtidos mediante levantamento de campo, e o exploratrio que visa prover o pesquisador de maior conhecimento sobre o tema ou problema de pesquisa em perspectiva Mattar (2001, p. 18). Ainda, segundo Mattar (2001), o mtodo de pesquisa exploratria compreende o levantamento em fontes secundrias que foram utilizadas nesse artigo, ou seja, levantamentos bibliogrficos, documentais, estatsticos e de pesquisas realizadas, e levantamentos de experincias, uma vez que (...) grande parte das experincias e dos conhecimentos no est escrita. Muitas pessoas, em funo da posio profissional privilegiada que ocupam, acumulam experincias e conhecimentos sobre um tema ou problema em estudo (MATTAR, 2001, p.21). Os dados referentes aos ndices levantados no Brasil foram coletados do Anurio Brasileiro de Proteo (2006) e Anurio Estatstico da Previdncia Social (2005, 2006), efetuando-se uma anlise com relao ao aumento e reduo de acidentes conforme o contexto histrico e econmico vivido no pas. As informaes utilizadas na pesquisa foram obtidas por meio de revistas e trabalhos acadmicos realizados sobre o mesmo assunto em anos anteriores. Assim, a pesquisa realizada baseou-se numa perspectiva quantitativa, evolutiva e comparativa no perodo de 1970 a 2006 (Brasil), portanto, uma abordagem longitudinal dos dados de acidentes (tpicos, trajeto e doenas) do trabalho e bitos. 5 ANLISE DOS RESULTADOS Os resultados analisados dizem respeito aos ndices de acidentes ocorridos no Brasil mediante uma anlise comparativa. 5.1 Indicadores de acidentes de trabalho no Brasil A tabela 1 apresenta os ndices de acidentes ocorridos nos ltimos 36 anos compreendendo as dcadas de 70, 80, 90 at o ano de 2006.TABELA 1: ACIDENTES DE TRABALHO OCORRIDOS NO BRASIL NOS LTIMOS 36 ANOS Acidentes de Trabalho Ano Trabalhadores bitos Tpico Trajeto Doenas Total Mdia anos 70 12.428.828 1.535.843 36.497 3.227 1.575.566 3.604 Mdia anos 80 21.077.804 1.053.909 59.937 4.220 1.118.071 4.672 Mdia anos 90 23.648.341 414.886 35.618 19.706 470.210 3.925 2000 26.228.629 304.963 39.300 19.605 363.868 3.094 2001 27.189.614 282.965 38.799 18.487 340.251 2.753 2002 28.683.913 323.879 46.881 22.311 393.071 2.968 2003 29.544.927 325.577 49.642 23.858 399.077 2.674 2004 31.407.576 375.171 60.335 30.194 465.700 2.801 2005 Sem dados 398.613 67.071 33.096 499.680 2.708 2006 Sem dados 403.264 73.981 26.645 503.890 2.717 Mdia 25.026.204 556.790 48.274 19.105 624.169 3.192 FONTE: Anurio Estatstico da Previdncia Social (2006)

Os acidentes de trabalho representam um dos maiores agravos sade dos trabalhadores brasileiros. Os registros de acidentes de trabalho no Brasil aparecem desde a dcada de 70, desse perodo at agora foram registrados mais de 30 milhes de acidentes e 100 mil mortes provocadas por acidentes de trabalho e doenas ocupacionais.

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A dcada de 1970 apresenta o maior nmero total de acidentes de trabalho ocorridos no Brasil. Os registros de acidentes de trabalho aparecem desde a dcada de 70, observandose que desse perodo at agora foram registrados mais de 30 milhes de acidentes e 100 mil mortes provocadas por acidentes de trabalho e doenas ocupacionais. Na dcada de 1980 pode-se observar que houve reduo de 29% nos ndices de acidentes registrados no Brasil. Verifica-se que esse perodo foi marcado por uma intensa evoluo poltica, que culminou na criao do Estado democrtico de Direito com a Constituio Federal de 1988, a qual trouxe os Direitos Sociais em seus artigos 6 e 7. A nova ordem constitucional altera, em alguns aspectos, o universo jurdico das relaes trabalhistas (JORGE NETO; CAVALCANTI, 2004, p. 34). H autores como Lucca e Mendes (1993) que defendem a reduo do nmero de acidentes de trabalho na dcada de 90 sonegao da notificao por parte das empresas, decorrente de vrios fatores, entre os quais as freqentes mudanas de legislao da poca, como sendo o principal argumento sustentado para explanar tal fato. Na dcada de 1990 houve uma reduo significativa de 42,05% em relao dcada de 80. Historicamente, foi na dcada de 90 que o Brasil abriu seu mercado sob a presidncia de Fernando Mello Collor, com a influncia da Globalizao. As empresas brasileiras, no entanto, no estavam aptas para enfrentar um mercado altamente qualificado e competitivo. Com isso, muitas empresas vieram a falir, e fecharam suas portas. Diante disso, foi preciso adaptar-se a uma nova realidade, surgindo ento a terceirizao (JORGE NETO; CAVALCANTI, 2004). A terceirizao incongruente com o Direito do Trabalho, uma vez que os trabalhadores, devido a intermediao e o contrato por prazo determinado, esto perdendo a vinculao jurdica com as empresas tomadoras de servio e, por conseqncia, os direitos mnimos previstos em lei e mais benefcios. Em razo disso estabeleceu-se a responsabilidade subsidiria da empresa tomadora de servios em relao aos empregados terceirizados. Assim, cabe s empresas fiscalizar o cumprimento das obrigaes trabalhistas da empresa prestadora de servio (JORGE NETO; CAVALCANTI, 2004). Observa-se que no ano de 2004, houve aumento significativo dos acidentes e das mortes do que em relao ao ano anterior. Os segmentos com maiores ndices de acidentes registrados foram, respectivamente, produtos alimentares e bebidas, agricultura, outras indstrias de transformao, sade e servios sociais, construo e comrcio varejista. Sobre as partes do corpo mais afetadas conforme a Classificao Internacional de Doenas (CID) chama ateno os casos de sinovites e tenosinovites, dorsalgias e leses no ombro que juntos representam quase a metade do nmero total das doenas do trabalho. 5.2 Indicadores de acidentes de trabalho por Regies do Brasil Com relao ao nmero de acidentes de trabalho por regio do Brasil, verifica-se que o maior nmero de acidentes ocorridos em 2004 encontra-se registrado na regio Sudeste. Nesta regio destaca-se, negativamente, So Paulo pelo nmero de acidentes, uma vez que s na Indstria de transformao apresentou 2.065.850 acidentes em 2004, no registrados oficialmente. Esse total representa mais que o qudruplo em relao ao nmero de acidentes ocorridos nos outros Estados da regio, referente atividade econmica da Indstria de Transformao. Por exemplo, em Minas Gerais a Indstria de transformao apresentou 590.209 acidentes de trabalho no registrados, no Rio de Janeiro este nmero cai para 303.458 casos, e no Esprito Santo a ocorrncia de acidentes na Indstria de Transformao foi de 83.149 casos (ANURIO BRASILEIRO DE PROTEO, 2006).GRFICO 1: ACIDENTES DE TRABALHO REGISTRADOS NAS REGIES - 2006

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6,50%

10,40% SUDESTE NORTE SUL CENTRO- OESTE NORDESTE

22,00% 4,00%

57,10%

FONTE: Anurio Estatstico da Previdncia Social (2006)

De acordo com o grfico 1, os registros oficiais apontam que a Regio Sudeste apresentou o maior nmero de Acidentes de Trabalho, no ano de 2006, ou seja, mais da metade do total de acidentes do pas, com 57,10%. O menor nmero de ocorrncia de acidentes foi na regio Norte do pas. O Estado do Acre teve 100 casos de acidentes de trabalho registrados na Indstria de transformao e 86 casos no Comrcio e Veculos, em 2004. No Amap este nmero reduz em 51% na Indstria de transformao e em 34,88% no Comrcio e Veculos em 2004. O Brasil registrou 2.717 casos de mortes decorrentes de acidentes de trabalho no ano de 2006. Maior que em 2003, quando foram registradas 2.647 mortes. Em 2005 foram 2.708 acidentes fatais (AEAT, 2006). O maior nmero de mortes ocorreu em So Paulo, com 670 ocorrncias, seguido por Minas Gerais com 351 e Paran com 206 em 2005. Dados da AEAT (2005) apontam que foram registrados 491.711 casos de acidentes de trabalho pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) por meio da Comunicao de Acidentes de Trabalho (CAT). Destes, a maioria foi ferimento do punho e da mo, com 68.034 casos, seguido por fratura do nvel do punho e da mo, com 33.865 e traumatismo superficial do punho e da mo, com 27.252 ocorrncias. No ano de 2005, cerca de 492 mil acidentes do trabalho foram registrados no INSS. Comparado com o ano anterior, o nmero de acidentes de trabalho registrados aumentou 5,6%. Os acidentes tpicos representaram 80,1% do total de acidentes, os de trajeto 13,7% e as doenas do trabalho 6,2%. As mulheres participaram com 23% no total de acidentes registrados, 19,5% nos tpicos, 31,7% nos de trajeto e 48,4% nas doenas do trabalho. A faixa etria decenal com maior incidncia de acidentes era a constituda por pessoas de 20 a 29 anos, com 38,3% do total de acidentes. As pessoas entre 20 e 39 anos de idade participaram com 67,8% do total de acidentes: 68,3% dos tpicos, 68,9% dos de trajeto e 57,9% das doenas do trabalho (AEAT, 2005). Em 2005, o setor agrcola participou com 7,3% do total de acidentes registrados, o setor industrial com 47,3% e o setor de servios com 45,4%, excludos os dados de atividade ignorada. Nos acidentes tpicos, os sub-setores com maior participao nos acidentes foram agricultura com 8,4% e produtos alimentares e bebidas, com 10% do total. Nos acidentes de trajeto, os sub-setores com maior participao foram os servios prestados principalmente a empresas e o comrcio varejista, com 12,4% e 11,9%, respectivamente. Nas doenas de trabalho, os sub-setores mais representativos foram intermedirios financeiros, com 10,8% e comrcio varejista, com 8,4% . No ano de 2005, os cdigos de CID mais incidentes foram ferimento do punho e da mo (S61), fratura ao nvel do punho ou da mo (S62) e traumatismo superficial do punho e da mo (S60) com, respectivamente, 13,8%, 6,9% e 5,5% do total. Nas doenas do trabalho os

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CIDs mais incidentes foram sinovite e tenossinovite (M65), leses no ombro (M75) e Dorsalgia (M54), com 24,3%, 13,7% e 7,5%, do total. No motivo tpico, as partes do corpo com maior incidncia de acidentes foram os dedos, mo (exceto punho ou dedos) e p (exceto artelhos) com, respectivamente, 29,3%, 9,5% e 7,3% do total. No motivo acidentes de trajeto, as partes do corpo foram o p (exceto artelhos), joelho e perna, com 8,6%, 8,2% e 6,3%, respectivamente. Nas doenas do trabalho, as partes do corpo mais incidentes foram o ombro, dorso (inclusive msculos dorsais, coluna e medula espinhal) e o ouvido (externo, mdio, interno, audio e equilbrio), com 14,4%, 12% e 11,9%, respectivamente. Em 2006, os casos de doena ocupacionais cresceram de forma expressiva. A rea de servios assumiu a primeira posio e os registros mais comuns so relacionados doenas de leso por esforo repetitivo (LER) e distrbios steomusculares relacionados ao trabalho (DORT). O segundo colocado no ranking de acidentes de trabalho a indstria de alimentos. 6. CONSIDERAES FINAIS O acidente de trabalho deve ser visto como um inimigo que vem preocupando diversos segmentos da nossa sociedade desde que seus malefcios passaram a ser identificados e avaliados no Brasil e no mundo, de tal forma que esses malefcios so suficientes para entender que os acidentes do trabalho devem ser combatidos eficazmente (ZOCCHIO, 2001). A ocorrncia de um acidente de trabalho envolve mais prejuzos do que aqueles que podem ser revertidos em custos para a empresa. Isto porque os acidentes envolvem pessoas que esto comprometidas com o alcance dos objetivos propostos pela empresa, e que se desrespeitadas pode afetar o seu comprometimento e a sua produtividade. Em razo disso, pode-se afirmar que os acidentes de trabalho vo contra os objetivos da empresa. Ayres e Corra (2001) observaram em suas diligencias periciais que as deficincias das medidas de proteo ao trabalhador contra os riscos existentes no ambiente de trabalho ocorriam mais por desconhecimento e falta de acesso a normas, legislao, tcnicas e tipos de equipamentos de proteo, que por dolosa inteno de fraude. Em razo disso, este artigo trouxe a anlise da legislao vigente no pas abordando o sistema de higiene e segurana no trabalho, demonstrando quais as medidas legais que devem ser tomadas e respeitadas para evitar acidentes no ambiente de trabalho. Seguindo essa linha de raciocnio, apresentou-se a definio de acidente de trabalho sob o enfoque jurdico determinando as responsabilidades civil e penal do empregador em relao aos danos causados ao empregado, trazendo as conseqncias que os sinistros podem gerar tanto para o empregado quanto para o empregador. Um dos objetivos principais deste artigo foi analisar os registros oficiais de acidentes de trabalho nos ltimos anos no Brasil. Assim, verificou-se que os resultados apontaram a reduo dos acidentes na dcada de 1990, seguida de um aumento significativo dos ndices de acidentes a partir de 2000. Com relao ao nmero de acidentes de trabalho por regio do Brasil, verifica-se que o maior nmero de acidentes ocorridos em 2004 encontra-se registrado na regio Sudeste, representando mais da metade de acidentes ocorridos no pas, com 57,10%. As partes do corpo mais atingidas esto diretamente relacionadas ao tipo de acidente de trabalho: tpico, trajeto ou doenas. De qualquer maneira, pode-se afirmar de forma geral que as partes mais atingidas so os membros superiores, incluindo as mos, dedos, punhos e ps. Em mbito mundial, quanto aos acidentes totais, vrios pases do chamado Primeiro Mundo apresentam nmeros maiores que o Brasil. Ou seja, em primeiro lugar figuram os E.U.A., seguidos pela Alemanha, onde mesmo o acidente em trabalhador procura de emprego registrado. Em relao taxa de incidncia, a Alemanha ocupa a primeira posio e a Espanha, a segunda. Pases como Inglaterra, E.U.A. e Mxico situam-se antes do Brasil (MACHADO; GOMEZ, 1994).

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So necessrias medidas preventivas que envolvem a higiene do ambiente de trabalho, como os cuidados com a iluminao adequada, a temperatura, os rudos e a ergonomia que interferem direta e indiretamente na sade mental e fsica do trabalhador e, por conseqncia, na sua produtividade. Em razo dos dados levantados por meio desta pesquisa, observa-se que os empregadores devem, como medida principal de preveno aos acidentes, investir na educao de seus empregados visando estabelecer melhor comunicao e conscientizao destes em relao a sua prpria segurana no ambiente de trabalho. Carvalho e Nascimento (2002) enumeram os objetivos, os quais devem ser praticados, da Higiene do Trabalho de carter preventivo, que so: eliminao das causas das doenas profissionais; reduo dos efeitos prejudiciais provocados pelo trabalho em pessoas doentes ou portadores de defeitos fsicos; preveno do agravamento de doenas e de leses; e, manuteno da sade dos trabalhadores e aumento da produtividade por meio de controle do ambiente de trabalho. Tais objetivos podem ser alcanados por meio: da educao dos operrios, capatazes, gerentes etc., indicando os perigos existentes e ensinando como evitlos; mantendo constante estado de alerta contra riscos existentes na fbrica; e pelos estudos e observaes dos novos processos ou materiais a serem utilizados. Acidentes de trabalho so fatos graves, diante da exuberncia da exploso tecnolgica, educacional e econmica no planeta Terra. H dados sobre a gravidade e urgncia deste tema. Ratificando os dados publicados no portal da Fundacentro que transcrevemos:Sob o lema Minha vida, meu trabalho, meu trabalho seguro, a Organizao Internacional do Trabalho (OIT) lanou sua campanha em torno do tema geral A gesto do risco no ambiente de trabalho. Na Sucia, a Confederao de Sindicatos LO Sweden planeja realizar a partir de 11 de abril uma srie de conferncias sobre sade e segurana em torno do tema da anlise de risco no trabalho solitrio, para marcar a data de homenagens. As conferncias tm como objetivo ampliar o conhecimento dos profissionais da rea de segurana no trabalho sobre as anlises de risco do trabalho solitrio. Na Dinamarca, os sindicatos escolheram, para marcar a data em 2008, o slogan Safe & Healthy Work for All" (Trabalho Seguro e Saudvel para todos) (in Fundacentro, 2008).

As polticas nacionais e internacionais promovidas por rgos tradicionais e de grande impacto na sociedade brasileira e sociedade global clamam por maior conscincia social e poltica nas aes de reduo e eliminao de acidentes do trabalho. E, por fim, considerandose a restrio do tema abordado na pesquisa, verificou-se no decorrer do estudo diversas possibilidades de futuras pesquisas nessa rea, tais como: acidentes de trabalho no comunicados oficialmente; acidentes de trabalho na economia informal: a ausncia de comunicao de acidente de trabalho (CAT); a caracterizao do vnculo empregatcio; ausncia do pagamento de seguro ao INSS; e Programas destinados preveno de acidentes de trabalho: sua aplicao ao estudo de caso. Este um longo e contnuo caminho a percorrer, desenvolvimento humano, social e econmico s se concretiza com conscientizao, dados e aes em todos os segmentos da sociedade. REFERNCIAS ANURIO BRASILEIRO DE PROTEO 2006. Revista Proteo. MPF Publicaes Ltda. Novo Hamburgo/RS, 2006. AEAT Anurio Estatstico de Acidentes do Trabalho (2005). Ministrio da Previdncia Social. Disponvel em: . Acesso em: 14 maio 2007.

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