acidentes químicos ampliados: um desafio para a saúde pública · a de formular estratégias de...

12
Atualização Current Comments Acidentes químicos ampliados: um desafio para a saúde pública The increase in chemical accidents: a challenge for public health Carlos M. de Freitas, Marcelo F. de S. Porte e Carlos M. Gomez Centro de Estudo da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana. Escola Nacional de Saúde Pública (FIOCRUZ) - Rio de Janeiro, RJ - Brasil Os acidentes envolvendo substâncias perigosas nas atividades de transporte, armazenamento e produção industrial de produtos químicos constituem um sério risco à saúde e ao meio ambiente. Objetiva-se discutir, no âmbito da saúde pública, alguns dos desafios que esses tipos de acidentes colocam, principalmente para os países de economia periférica. Através da combinação de informações quantitativas e qualitativas, foram definidos e caracterizados esses tipos de acidentes e seus diversos riscos. Esses acidentes têm se apresentado com a maior gravidade nos países de economia periférica, embora a maioria deles venha ocorrendo sem o adequado registro de informações básicas para a avaliação e vigilância, como é demonstrado no caso do Rio de Janeiro (Brasil). Além da tarefa de se avaliar as conseqüências de eventos, por vezes extremamente complexos, coloca-se também, a de formular estratégias de controle e prevenção em realidades sociais que configuram um terreno fértil para a ocorrência e agravamento dos mesmos. Acidentes químicos. Acidentes industriais. Saúde do trabalhador. Saúde ambiental. Separatas/Reprints: Carlos M. de Freitas - Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana. Escola Nacional de Saúde Pública (FIOCRUZ). Rua Leopoldo Bulhões, 1480 - Manquinhos - 21041-210 - Rio de Janeiro, RJ - Brasil. Fax: (021) 270- 3219 Recebido em 14.2.1995. Aprovado em 29.8.1995. Introdução No ano de 1994 foram realizados no Brasil alguns eventos que trouxeram para a saúde públi- ca mais um desafio a ser enfrentado, entre tantos outros. A Organização Internacional do Trabalho e o Ministério do Trabalho organizaram o Seminário Nacional de Prevenção de Acidentes Maiores, no mês de maio na Bahia, e o Seminário Latino-Americano Tripartite Sobre Acidentes Industriais Maiores, no mês de agosto em São Paulo. O Programa Internacional de Segurança Química da Organização Mundial de Saúde reali- zou em São Paulo, no mês de junho, o Simpósio IPCS Sobre o Gerenciamento dos Aspectos Ambientais e de Saúde de Acidentes com Substâncias Químicas. O Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz promoveu em dezembro o semi- nário 10 Anos de Bophal - O Acidente Químico Maior em Questão. Essas programações colocam a problemática dos acidentes químicos ampliados, capazes de pro- duzirem múltiplos danos num único evento, pos- suindo também o potencial de provocarem efeitos que se estendem para além dos locais e momentos de sua ocorrência. Por um lado, está a dificuldade de se avaliar as conseqüências de acidentes, por vezes extremamente complexos. Por outro lado, encontra-se o desafio de formular estratégias de controle e prevenção de acidentes com caracterís-

Upload: trinhxuyen

Post on 30-Dec-2018

219 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Acidentes químicos ampliados: um desafio para a saúde pública · a de formular estratégias de controle e prevenção em realidades sociais que configuram um terreno fértil para

Atualização Current Comments

Acidentes químicos ampliados: um desafio para asaúde pública

The increase in chemical accidents: a challenge for public health

Carlos M. de Freitas, Marcelo F. de S. Porte e Carlos M. Gomez

Centro de Estudo da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana. Escola Nacional de SaúdePública (FIOCRUZ) - Rio de Janeiro, RJ - Brasil

Os acidentes envolvendo substâncias perigosas nas atividades de transporte, armazenamento e produçãoindustrial de produtos químicos constituem um sério risco à saúde e ao meio ambiente. Objetiva-se discutir, noâmbito da saúde pública, alguns dos desafios que esses tipos de acidentes colocam, principalmente para os paísesde economia periférica. Através da combinação de informações quantitativas e qualitativas, foram definidos ecaracterizados esses tipos de acidentes e seus diversos riscos. Esses acidentes têm se apresentado com a maiorgravidade nos países de economia periférica, embora a maioria deles venha ocorrendo sem o adequado registrode informações básicas para a avaliação e vigilância, como é demonstrado no caso do Rio de Janeiro (Brasil).Além da tarefa de se avaliar as conseqüências de eventos, por vezes extremamente complexos, coloca-se também,a de formular estratégias de controle e prevenção em realidades sociais que configuram um terreno fértil para aocorrência e agravamento dos mesmos.

Acidentes químicos. Acidentes industriais. Saúde do trabalhador. Saúde ambiental.

Separatas/Reprints: Carlos M. de Freitas - Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana. Escola Nacional deSaúde Pública (FIOCRUZ). Rua Leopoldo Bulhões, 1480 - Manquinhos - 21041-210 - Rio de Janeiro, RJ - Brasil. Fax: (021) 270-3219Recebido em 14.2.1995. Aprovado em 29.8.1995.

Introdução

No ano de 1994 foram realizados no Brasilalguns eventos que trouxeram para a saúde públi-ca mais um desafio a ser enfrentado, entre tantosoutros. A Organização Internacional do Trabalhoe o Ministério do Trabalho organizaram oSeminário Nacional de Prevenção de AcidentesMaiores, no mês de maio na Bahia, e o SeminárioLatino-Americano Tripartite Sobre AcidentesIndustriais Maiores, no mês de agosto em SãoPaulo. O Programa Internacional de SegurançaQuímica da Organização Mundial de Saúde reali-zou em São Paulo, no mês de junho, o SimpósioIPCS Sobre o Gerenciamento dos AspectosAmbientais e de Saúde de Acidentes com

Substâncias Químicas. O Centro de Estudos daSaúde do Trabalhador e Ecologia Humana daEscola Nacional de Saúde Pública da FundaçãoOswaldo Cruz promoveu em dezembro o semi-nário 10 Anos de Bophal - O Acidente QuímicoMaior em Questão.

Essas programações colocam a problemáticados acidentes químicos ampliados, capazes de pro-duzirem múltiplos danos num único evento, pos-suindo também o potencial de provocarem efeitosque se estendem para além dos locais e momentosde sua ocorrência. Por um lado, está a dificuldadede se avaliar as conseqüências de acidentes, porvezes extremamente complexos. Por outro lado,encontra-se o desafio de formular estratégias decontrole e prevenção de acidentes com caracterís-

Page 2: Acidentes químicos ampliados: um desafio para a saúde pública · a de formular estratégias de controle e prevenção em realidades sociais que configuram um terreno fértil para

ticas bastante diversificadas. A discussão dessetipo de acidente no âmbito da saúde pública - obje-tivo central do presente artigo - é, uma exigênciada qual não cabem omissões.

Breve Histórico

A importância dos acidentes químicos estádiretamente relacionada em evolução histórica daprodução e consumo de substâncias químicas emnível internacional e nacional. A partir da IIGuerra Mundial, o aumento da demanda por novosmateriais e produtos químicos, acompanhado pelamudança da base de carvão para o petróleo, con-duziu ao desenvolvimento e expansão do com-plexo químico industrial33. A natureza altamentecompetitiva desse setor industrial, aliada ao cresci-mento da economia em escala mundial e ao rápidoavanço da tecnologia, possibilitaram o aumentodas dimensões das plantas industriais e da com-plexidade dos processos produtivos64,66.

Nos anos 60, uma planta industrial para cra-quear nafta e produzir 50.000 toneladas/ano deetileno era considerada de grande porte. A partirdos anos 80, plantas para a produção de etileno epropileno ultrapassaram a escala de l milhão detoneladas64,70. O transporte e o armazenamentoseguiram o mesmo ritmo. A capacidade dospetroleiros no pós-guerra cresceu de 40.000toneladas para 500.000 toneladas e a de armazena-mento de gás de 10.000 m3 para 120.000/150.000m364. Nesse período verifica-se que a comercia-lização mundial de químicos orgânicos passou de 7milhões de toneladas em 1950 para 63 milhões, em1970, 250 milhões, em 1985, e 300 milhões, em199043.

O crescimento das atividades de produção,armazenamento e transporte de substâncias quími-cas em nível global provocou um aumento nonúmero de seres humanos expostos aos seus riscos- trabalhadores e comunidades66. Paralelamente,observa-se aumento na freqüência e gravidade dos

acidentes químicos nessas atividades. Os acidentescom 5 óbitos ou mais, os quais são consideradosmuito severos*, passaram de 20 (média de 70óbitos por acidente) entre 1945 e 1951, para 66(média de 142 óbitos por acidente) entre 1980 e198629.

Os Acidentes Químicos Ampliados

A própria nomenclatura desses tipos de aci-dentes ainda não se encontra consolidada e varia depaís para país. São freqüentemente denominadosde acidentes maiores, uma tradução literal daexpressão major accidents em inglês ou accidentsmajeurs em francês. Em Portugal, no entanto, sãodefinidos como acidentes industriais graves e naAlemanha como S tör fa l l , cuja tradução literal seriaalgo como acidente de perturbação. Em nossa con-cepção, o termo maior induz a pressupor, de formatécnica e eticamente equivocada, como de menorimportância os outros tipos de acidentes. No pre-sente artigo propõe-se denominar esses acidentescomo acidentes ampliados, ou, mais especifica-mente, acidentes químicos ampliados, uma vez quese restringirá somente aos envolvendo substânciase produtos químicos. Esta terminologia parece sermais apropriada ao sentido dado no presente artigo,expressando a possibilidade de ampliação noespaço e no tempo das conseqüências dos mesmossobre as populações e o meio ambiente expostos.

Segundo a Diretiva de Seveso, de 1982, doConselho das Comunidades Européias23, essestipos de acidentes provêm de "uma ocorrência, talcomo uma emissão, incêndio ou explosão envol-vendo uma ou mais substâncias químicasperigosas, resultando de um desenvolvimentoincontrolável no curso da atividade industrial, con-duzindo a sérios perigos para o homem e o meioambiente, imediatos ou a longo prazo, interna-mente e externamente ao estabelecimento".

Na base de dados internacional "Major HazardIncident Data Service (MHIDAS)", são conside-rados incidentes/acidentes** ampliados não só ossituados no processo de produção industrial, mastambém os de transporte e armazenagem de quími-cos que resultem em potencial de perigo para acomunidade . No campo da saúde, esses acidentestêm sido definidos de forma similar, com ênfase na

*De acordo com Drogaris22, são atualmente propostos seisíndices de gravidade (negligenciável, digno de nota, impor-tante, severo, muito severo e catastrófico) em basicamente trêsgrupos de parâmetros (potencial de perigo em função do tipo equantidade da substância envolvida, conseqüências - saúde,meio ambiente e materiais - e extensão das medidas externasde intervenção e segurança) para os acidentes químicos ampli-ados ocorridos nas Comunidades Européias. Um dos índicesempregados no grupo de parâmetros das conseqüências é onúmero de óbitos, sendo classificados como ''importante"(entre l e 4), "severos" (entre 5 e 19), "muito severos" (entre20 e 49) e "catastróficos" (mais de 50).

** Incidentes são compreendidos neste artigo como eventosinesperados sem sérias conseqüências, embora possam oca-sioná-las. Já os acidentes correspondem a eventos tambéminesperados, porém que causam danos materiais, lesões eóbitos.

Page 3: Acidentes químicos ampliados: um desafio para a saúde pública · a de formular estratégias de controle e prevenção em realidades sociais que configuram um terreno fértil para

gravidade e extensão dos agravos à saúde quepodem provocar, freqüentemente, em um grandenumero de seres humanos34,57.

Considera-se, portanto, acidentes químicosampliados os eventos agudos, tais como explosões,incêndios e emissões, individualmente ou combina-dos, envolvendo uma ou mais substâncias perigosascom potencial de causar simultaneamente múltiplosdanos ao meio ambiente e à saúde dos sereshumanos expostos. O que caracteriza os acidentesquímicos ampliados não é somente sua capacidadede causar grande número de óbitos, embora sejamfreqüentemente conhecidos exatamente por isto. Étambém o potencial da gravidade e extensão dosseus efeitos ultrapassarem os seus limites espaciais- de bairros, cidades e países - e temporais - como ateratogênese, carcinogênese, mutagênese e danos aórgãos alvos específicos6,8,29,34,53,57.

Características dos Acidentes QuímicosAmpliados

Em termos quantitativos, os acidentes químicosampliados nas atividades de produção situam-seentre 40% e 50%8,4,29,64. Para o transporte, os per-centuais variam entre 46%29 e 15%8,64 e no armazena-mento estão situados entre 33%8 e 16%29,64.

Em relação às vítimas fatais em acidentesampliados ocorridos no mundo, entre 1945 e 1986,com mais de 5 óbitos, os situados no transporte(46% do total de acidentes) foram responsáveis por45% das mortes, enquanto as instalações fixas(40% do total de acidentes) por cerca de 47%29.Um estudo realizado em 1990 pela "Agency forToxic Substances and Disease Registry(ATSDR)", em cinco estados dos EUA., mostrouque 91% das vítimas em indústrias onde ocorreramesses acidentes eram os próprios trabalhadores*.No "Major Accidents Report System (MARS)",sistema de informação para as ComunidadesEuropéias sobre esses tipos de eventos, dos 121acidentes registrados entre 1980 e 1991, 49,6%tiveram vítimas22. Do total de 878 vítimas, 44,3%foram trabalhadores das próprias indústrias e52,8% pessoas externas, sendo 2,8% não identifi-cados. Embora os acidentes químicos ampliadossejam conhecidos principalmente pelos seusimpactos nas populações circunvizinhas, a análisedos dados do MARS revela serem os trabalhadores

as principais vítimas fatais, destes acidentes (94%),enquanto que, para as vítimas não-fatais predomi-nou a população externa, com 56,2%.

As explosões são os eventos com maior fre-qüência de grande número de óbitos imediatos(Tabela. l), porém as emissões acidentais e osincêndios, estes últimos envolvendo a combustãode substâncias químicas e formação de nuvenstóxicas, não são menos perigosos. Estes dois últi-mos tipos, os quais segundo os dados do MARSestiveram presentes em 98,4% dos 121 acidentesquímicos ampliados registrados, ao contrário dasexplosões, não têm os seus riscos circunscritos aoespaço e tempo dos acidentes. Podem se ampliartanto em termos espaciais, atingindo outrascidades ou países, como em termos temporais,atingindo as gerações futuras.

A súbita liberação de energia provocada pelasexplosões pode tomar diversas formas. Os efeitosdas explosões físicas tendem a ser locais, porém asexplosões químicas podem ter amplas reper-cussões, uma vez que podem resultar em incêndiose emissões de substâncias tóxicas perigosas. Emambas as formas, há ainda a possibilidade delançamento de fragmentos72. Além dos danos pa-trimoniais que ocorrem na maioria desses eventos,alguns têm resultado na morte imediata de grandenúmero de pessoas (trabalhadores e comunidadespróximas), provocada por queimaduras, trauma-tismos e sufocação pelos gases liberados após asexplosões, bem como lesões para um númeroainda maior37,59,74.

No caso dos incêndios, além da radiação decalor e dos possíveis incêndios e explosões adi-cionais, existem ainda os riscos associados à própriacombustão das substâncias químicas envolvidas,resultando na emissão de múltiplos gases e fumaçastóxicas e atingindo áreas distantes. A combustãode PVC, por exemplo, pode gerar 75 produtos dife-rentes47 e no incêndio do depósito de produtosquímicos da Sandoz em 1986, localizado emSchweizerhalle/Suiça, estimou-se que no mínimo15.000 produtos podem ter sido gerados pela com-bustão basicamente de agrotóxicos organofosfora-dos e compostos de mercúrio orgânico1.

Esta característica dos incêndios químicos temtornado difícil estabelecer inferências causaisentre a possível exposição e os sintomas específi-cos registrados, tal como evidenciam os estudossobre bombeiros5,31,47 e populações expostas a estestipos de eventos1.

As águas residuais contaminadas dos combatesaos incêndios químicos são outra fonte de riscos,tanto para as equipes de emergências que entram

* Comunicação pessoal de G. Jones durante "Simpósio IPCS"sobre Gerenciamento dos Aspectos Ambientais e de Saúde, deAcidentes com Substâncias Químicas, CETESB, 1994.

Page 4: Acidentes químicos ampliados: um desafio para a saúde pública · a de formular estratégias de controle e prevenção em realidades sociais que configuram um terreno fértil para
Page 5: Acidentes químicos ampliados: um desafio para a saúde pública · a de formular estratégias de controle e prevenção em realidades sociais que configuram um terreno fértil para

em contato com estas durante o combate63, comopara as populações que obtêm sua água para con-sumo dos rios atingidos1. No combate ao incêndioda Sandoz, estimou-se que entre 10 e 30 toneladasde contaminantes foram lançadas no rio Renoatravés das águas residuais, resultando na morte degrande número de peixes numa extensão de250km52 e colocando sob risco uma populaçãoestimada em 12 milhões de habitantes distribuídospor cidades e vilas ao longo desse rio na França,Alemanha e Holanda1.

Esses eventos, apesar de não serem respon-sáveis por grande número de óbitos imediatos(Tabela. 1), podem causar muitos danos à saúdedos seres vivos expostos e ao meio ambiente, acurto e longo prazos. As incertezas quanto aospróprios efeitos sobre a saúde e o meio ambientetambém podem provocar sentimentos de medo,insegurança e mesmo pânico e instabilidade socialnas regiões afetadas45, conduzindo em algunscasos ao estresse nas populações expostas8. As ca-racterísticas físico-químicas das emissões aciden-tais são determinantes de sua toxicidade, vias deexposição e extensão das áreas atingidas. A formasólida tem menor capacidade de se estender alémdos limites da zona afetada, sendo mais freqüenteem casos de armazenamento ou disposição inade-quada de resíduos.

As emissões líquidas acidentais, que freqüen-temente ocorrem diretamente por vazamento ouderramamento, têm sua extensão determinada,entre outros fatores, pela existência de cursosd'água e barreiras naturais ou artificiais54. Nacontaminação de corpos d'água para consumo,tal como incêndio da Sandoz, milhares de pes-

.soas podem ser colocadas sob risco1,20,38,71.

As emissões de gases e vapores tóxicos naatmosfera apresentam maiores possibilidades dedispersão, podendo atingir grandes extensões e umnúmero maior de pessoas, constituindo a formapredominante de exposições ambientais e ocupa-cionais46. A gravidade e extensão dessas emissõesdependem das propriedades físico-químicas, toxi-cológicas e ecotoxicológicas das substânciasenvolvidas, bem como das condições atmosféricas,geológicas e geográficas.

Essas emissões, assim como os incêndios,podem provocar efeitos tanto agudos quantocrônicos, como carcinogenicidade, teratogenici-dade, mutagenicidade e danos a órgãos-alvosespecíficos 6,8,57 . Um único evento deste tipo podese constituir em verdadeira catástrofe, tal comoocorrido no maior acidente químico da históriaem Bophal, na índia, em 1984 (Tabela 1).

Seveso: O Protótipo do Acidente QuímicoAmpliado

Conforme observam Bertazzi e col.10, embora oacidente de Seveso possua características que lhesão específicas, pode representar um protótipoexemplar dos perigos à saúde e ao meio ambienteassociados à produção industrial de substânciasquímicas. O acidente ocorreu no dia 10 de julho de1976 na indústria química Icmesa. Uma reação ines-perada em um reator provocou o rompimento dodisco de segurança, resultando na emissão atmos-férica de uma nuvem tóxica contendo triclorofenol,triclorofenato de sódio, etileno glicol, hidróxido desódio e substanciais quantidades de dioxina.

A nuvem contendo dioxina liberada no acidentese estendeu por uma grande área (1.786 hectares),atingindo 37.234 seres humanos, não tendo sidodetectada imediatamente a gravidade do mesmo.Poucos dias após a emissão, foram observadossinais de uma séria contaminação ambiental,incluindo danos à vegetação, aos pássaros e aosanimais domésticos. Especialmente entre as cri-anças ocasionou queimaduras, lesões causticas einflamações nas partes não cobertas do corpo,surgindo logo após a cloracne em 193 pessoas,sendo 170 em menores de 15 anos9,10. A demora nofornecimento de informações, por parte da indús-tria, contribuiu para que as ações de emergênciafossem iniciadas somente quando se evidenciaramos danos ao meio ambiente e à saúde.

Alguns dos ingredientes que compuseramesse acidente se encontram presentes em grandeparte dos acidentes químicos ampliados. Oprimeiro é a localização muito próxima a umaárea habitada de uma indústria química queemprega substâncias extremamente tóxicas. Osegundo é um evento acidental causado por umdescontrole das condições operacionais normaisdurante o processo de síntese industrial, resultan-do na emissão dessas substâncias. O terceiro é anatureza apenas parcialmente conhecida dosefeitos previstos, incluindo, além dos efeitos agu-dos severos, prováveis efeitos crônicos, que seevidenciam até décadas após o acidente10. Porexemplo, a dioxina, suspeita de causar câncer emseres humanos, é objeto de dúvidas e controvér-sias até hoje4,11,17, de modo que a populaçãoatingida ainda é alvo de vigilância epidemiológi-ca e de estudos para melhor identificar os efeitoscrônicos. O quarto ingrediente é a demora em seobter informações precisas sobre as substânciasquímicas envolvidas, seus efeitos e as medidas deemergência a serem tomadas58.

Page 6: Acidentes químicos ampliados: um desafio para a saúde pública · a de formular estratégias de controle e prevenção em realidades sociais que configuram um terreno fértil para

Agravamento dos Acidentes QuímicosAmpliados nos Países de EconomiaPeriférica

Conforme pode-se observar na Tabela 1, até osanos 70 os acidentes químicos ampliados ocor-reram predominantemente nos países que ocu-pavam, ou vinham ocupando, um papel central naeconomia mundial pós II Guerra Mundial e, assim,concentravam grande parte das industriais, como aAlemanha, a França, a Bélgica, a Inglaterra, osEUA e o Japão. A partir dos anos 70, com a ace-leração do processo de industrialização em outrospaíses que viriam a situar-se na periferia da econo-mia mundial, principalmente na América Latina eÁsia, verifica-se um crescimento e agravamentodos acidentes químicos ampliados.

No ano de 1984, Vila Socó (Brasil) e San Juande Ixhuatepec (México), na América Latina, eBophal (índia), na Ásia, foram cenários dos maisgraves acidentes químicos ampliados registradosapós a II Guerra Mundial em termos de óbitosimediatos. Na noite de 24 de fevereiro ocorreuuma explosão em um oleoduto da Petrobrás, loca-lizado em Vila Socó. Seguiu-se, então, um incên-dio de 700 mil litros de gasolina, resultando noregistro de 508 óbitos29,60,73. Em San Juan deIxhuatepec, na madrugada de 19 de novembro, umvazamento de Gás Liqüefeito de Petróleo (GLP),em um dos tanques de estocagem da PetróleosMexicanos (Pemex), ocasionou uma explosão,seguida de uma série de incêndios e explosõessubseqüentes, resultando no registro de 550óbitos62,74.

Desses acidentes, o de Bophal foi o mais gravejá registrado, e tem se constituído no protótipo doacidente químico ampliado nos países de econo-mia periférica13,15,16,69. Em Bophal, no fim da noitede 2 dezembro de 1984, iniciou-se um vazamentoem um tanque de armazenamento da indústriaamericana Union Carbide, contendo cerca de 41toneladas de metil-isocianato. As conseqüênciasdesse acidente sobre a população vizinha a aquelaindústria ainda são objeto de dúvidas e controvér-sias. Embora o número oficial de óbitos imediatosregistrados nesse acidente tenha sido de 2.500, asestimativas extra-oficiais variam entre 1.800 e20.000. O número total de expostos e afetadospela nuvem varia entre 100.000 e 200.000, e onúmero de lesionados com permanentes dis-funções pulmonares é estimado em torno de20.00013,15,16,50,67. Em número não determinadoforam identificados também efeitos oftalmológi-cos50,67, além da suspeita de outros.

Os acidentes de Bophal, San Juan deIxhuatepec e Vila Socó acrescentam novos com-ponentes ao acidente de Seveso, sendo própriosdos países de economia periférica, com caracterís-ticas que agravam os acidentes químicos amplia-dos nesses países. Este agravamento pode serconstatado na Figura, montada a partir de dados daOrganização Mundial de Saúde sobre acidentesquímicos ampliados, considerados catastróficos,ocorridos no mundo. A vulnerabilidade socialexistente nesses países manifestou-se de maneiramais acentuada na Índia, no Brasil e no México, osquais ocupam os três primeiros lugares em termosde óbitos por acidentes químicos ampliados, ocor-ridos no mundo, entre 1945 e 1991, com 5 ou maisóbitos30.

Esses três países tiveram seu desenvolvimentoentre os anos 60 e 80 caracterizado pelo endivida-mento externo, forte intervenção do Estado egrande exclusão social, sendo estas suas formas deinserção na economia mundial7. Nesse período,houve no Brasil, assim como na Índia e noMéxico, uma rápida e desordenada industria-lização e um intenso e incontrolado processo deurbanização, acompanhado de um grande fluxomigratório do campo e das regiões pobres para osgrandes centros urbanos7,35. O modelo econômicoadotado por esses países combina concentração decapital, exploração da mão-de-obra e abandono ouomissão do poder público, permitindo o assenta-mento dessas populações nas áreas periféricas dosgrandes centros urbanos, sem acesso aos bens eserviços básicos de saneamento e saúde, amplian-do suas situações de riscos32,35.

O acidente de Bophal, assim como os de SanJuan de Ixhuatepec e Vila Socó, traduzem a

Page 7: Acidentes químicos ampliados: um desafio para a saúde pública · a de formular estratégias de controle e prevenção em realidades sociais que configuram um terreno fértil para

divisão internacional do trabalho e dos riscos, ca-racterizada por dois processos inter-relacionados.O primeiro é o de exportação dos perigos atravésde transferência de tecnologias, indústrias, produ-tos e rejeitos perigosos dos países de economiacentral para os de economia periférica. O segundoé o duplo padrão, onde indústrias multinacionaisadotam padrões inferiores de segurança industriale proteção ao meio ambiente, à saúde dos traba-lhadores e às comunidades expostas nos países deeconomia periférica15,16,39,44,69. Estes padrões inferi-ores de segurança industrial, proteção ao meioambiente e à saúde são também muitas vezesencontrados nas indústrias nacionais em compara-ção com similares nos países de economia central.

Esses processos, inerentes ao modelo de desen-volvimento econômico vigente, são sustentadospela ausência e fragilidade de restrições legais econtrole social sobre os riscos químicos nos paísesde economia periférica, cuja dinâmica da divisãodo trabalho e dos riscos é, de certo modo, tambémreproduzida em nível interno desses países65. Oresultado da inter-relação entre divisão do trabalhoe modelos de desenvolvimento nacionais e inter-nacionais implicou a transferência de riscos quími-cos para as áreas mais pobres e periféricas aosgrandes centros urbanos, definindo assim as áreassalubres e seguras das áreas insalubres e inse-guras35,35,65.

Os acidentes de Bophal, San Juan deIxhuatepec e Vila Socó ocorreram exatamente nasáreas onde havia a combinação de largo contin-gente populacional pobre e marginalizado de aces-so a bens e serviços, com fontes de riscos de aci-dentes químicos ampliados, resultando numagrande vulnerabilidade social das mesmas e, con-seqüentemente, na morte de centenas ou mesmomilhares de pessoas num único evento. Ascondições sociais e políticas que contribuíram em1984 para tornar esses acidentes, os mais graves járegistrados nos últimos anos, continuam presentes,cabendo às populações mais pobres dos países deeconomia periférica arcar com o ônus de suasvidas e saúde para sustentar um modelo econômi-co iníquo na sua natureza e dinâmica.

Acidentes Químicos Ampliados no ContextoBrasileiro: O Caso do Rio de Janeiro

O Brasil, em termos de óbitos imediatos, já foicenário de alguns acidentes químicos ampliados,além do de Vila Socó em 1984. No ano de 1983,em Pojuca, na Bahia, o descarrilamento de um

comboio ferroviário transportando combustíveisresultou em explosão e incêndio, provocando oóbito de 43 pessoas, além de grande número delesionados e desabrigados29,60.

O Estado do Rio de Janeiro, o qual já foicenário de alguns acidentes químicos ampliadoscom grande número de óbitos imediatos, pode seconstituir num exemplo do contexto brasileiro.Em 1951, um acidente com transporte deinflamáveis causou 54 óbitos. Uma explosão, em1972, na Refinaria Duque de Caxias (Petrobrás),na Baixada Fluminense, resultou no óbito de 38trabalhadores. No ano de 1984, um incêndio naplataforma de produção de petróleo de Enchova(Petrobrás), na Bacia de Campos, teve como con-seqüência 40 óbitos29,60. Nesse mesmo ano, segun-do o Sindicato dos Trabalhadores da IndústriaPetroquímica do Município de Duque de Caxias,uma explosão na indústria Petroflex resultou em17 óbitos entre trabalhadores de empreiteiras.

Atualmente, o Estado do Rio de Janeiro possuiem seu território cerca de 20% das grandes indús-trias químicas em termos de faturamento econômi-co ' . Sua localização geográfica o faz situar entreos pólos industriais químicos de São Paulo, RioGrande do Sul e Bahia, fazendo com que diaria-mente haja uma grande circulação de transportesde cargas perigosas em sua rede viária. Estas ca-racterísticas, aliadas ao signficativo volume deextração e refino de petróleo, e ao fato de a cidadedo Rio de Janeiro possuir um porto de grandeporte, contribuem para que haja um grande fluxode transporte de substâncias químicas no Estado.Além do transporte - principalmente pelas viasrodoviária e marítima e dutos -, há uma consi-derável produção industrial e armazenamento.

Esses fatores têm contribuído para que venhaocorrendo no Estado número significativo de inci-dentes/acidentes químicos registrados peloServiço de Controle de Poluição Acidental daFundação Estadual de Engenharia do MeioAmbiente - SCPA-FEEMA - nas atividades deprodução, transporte e armazenamento, conformepode ser verificado na Tabela 2. Nas atividades deprodução e transporte, que correspondem a 95%do total de incidentes/acidentes no período, cercade 80% têm resultado em emissões diretas ouperda de produtos, tendo alguns envolvido subs-tâncias extremamente perigosas, tais como cloro,amônia, sulfeto de hidrogênio, chumbo tetraetila efosgênio. Emissões acidentais a partir deexplosões e incêndios são também registradas peloSPCA-FEEMA, situando em torno de 10% cadaum destes tipos de eventos28.

Page 8: Acidentes químicos ampliados: um desafio para a saúde pública · a de formular estratégias de controle e prevenção em realidades sociais que configuram um terreno fértil para

Quanto à distribuição geográfica dos inci-dentes/acidentes verifica-se na Tabela 2, quegrande parte (52%) atingiu principalmente aRegião Metropolitana, a de maior densidadedemográfica, tendo alguns ocorridos em áreaspobres e de grande contingente populacional. ARegião do Médio Paraíba foi a segunda maisatingida (29%), sendo o rio Paraíba do Sul e seusafluentes, de onde vem a água fornecida para cercade 80% da população do Estado, alvo freqüente deemissões acidentais.

A ausência de algumas informações básicasque permitam uma avaliação preliminar dosimpactos desses eventos, tais como estimativas dedanos ambientais, número de expostos e evacua-dos, assim como o registro de vítimas, constitui-senum dos limites dos dados do SPCA-FEEMA.

levantou 587 eventos com emissões químicasperigosas em três bases de dados dos EUA, em1986, que resultaram em, no mínimo, 115 óbitos,2.254 lesionados e 111 evacuações.

Assim, embora os dados do SPCA-FEEMAconstituam a principal referência para a investi-gação sobre acidentes químicos ampliados no Riode Janeiro, eles se mostram bastante limitadoscom relação às informações básicas para umaavaliação preliminar dos impactos à saúde quepodem estar sendo causados pelos mesmos, tantopara vítimas fatais, como para lesionados eexpostos. Considerando que os trabalhadorese as comunidades49,72 dos países de economiasperiféricas tendem a apresentar uma maiorsuscetibilidade às emissões de substâncias quími-cas, por conta de fatores tais como má nutrição,

Mesmo eventos com substâncias químicas onde asvítimas imediatas foram evidentes, tais como oincêndio na plataforma de Enchova e a explosãona Petroflex, anteriormente comentados, nãoforam registrados pelo SPCA-FEEMA, não cons-tando também nas estatísticas mundiais utilizadaspara o presente artigo19,29,41,64,73.

A existência de estudos realizados em bases dedados sobre esses tipos de acidentes nos EUA,onde eram registrados expostos e vítimas, mostraser o não-registro de vítimas nos acidentes ocorri-dos no Rio de Janeiro uma conseqüência da ausên-cia de uma política, particularmente no campo dasaúde pública, para esses tipos de eventos. Numestudo sobre acidentes químicos ampliados nasatividades de transporte, entre janeiro de 1982 esetembro de 1983, na Califórnia, EUA, Shaw ecol encontraram uma média de aproximadamente3 pessoas por acidente para 62 eventos onde haviainformações sobre pessoas expostas. Binder

ausência de saneamento básico e prevalência dedoenças infecto-contagiosas, o quadro é bastantepreocupante.

Os resultados e limites apresentados sobre osdados do SPCA-FEEMA, no Estado do Rio deJaneiro, revelam duas questões importantes. Aprimeira refere-se aos riscos que os trabalhadoresenvolvidos nas atividades de produção, transportee armazenamento de substâncias químicas, bemcomo as comunidades expostas a esses tipos deeventos, vem sendo submetidos sem, contudo,haver uma legislação e infra-estrutura específicasnos serviços de saúde e órgãos de meio ambientepara o controle e prevenção dos mesmos. Asegunda refere-se à necessidade da saúde públicaatuar em conjunto com os órgãos ambientais naformulação de propostas para que algumas dasdeficiências, tais como a falta de registros adequa-dos, monitoramento e avaliação das conseqüên-cias, que por vezes chegam a acarretar em vítimas

Page 9: Acidentes químicos ampliados: um desafio para a saúde pública · a de formular estratégias de controle e prevenção em realidades sociais que configuram um terreno fértil para

fatais, seja superada e possibilite a formulação depolíticas de controle e prevenção de acidentesquímicos ampliados adequadas a nossa realidade.

Considerações Finais

Os acidentes químicos ampliados indubitavel-mente constituem problema relevante para a saúdepública, sendo um desafio ainda maior para paísesde economia periférica como o Brasil. Campos doconhecimento técnico-científico como a Epi-demiologia, a Toxicologia, a Engenharia e asCiências Sociais, através das áreas de saúde do tra-balhador, saúde ambiental, planejamento emsaúde, entre outras, podem e devem trabalhar emconjunto para enfrentar a questão dos acidentesquímicos ampliados. Dentre os desafios, pode-secitar a preparação dos serviços de saúde e seusprofissionais para esses tipos de emergên-cias18,21,36,57,68, a avaliação dos efeitos sobre asaúde1,6,8,12,25,38,42 e a formulação de políticas públicaspara o controle e prevenção dos acidentes quími-cos ampliados2,3,24,51, incluindo a elaboração deplanos de contingência em áreas de risco, espe-cialmente nas densamente povoadas. No Brasil, jáexistem experiências locais neste sentido, tal comoa implantação do Sistema de Prevenção de Riscosde Acidentes Maiores (SIPRAM), em Cubatão30,devendo servir de referência para futuras expe-riências.

Cada uma das atividades de produção, trans-porte e armazenamento envolvem estratégias e

medidas particulares para o controle e prevenção,pois cada uma delas possuem características queimpedem generalizações em termos do gerencia-mento de riscos. Especificamente para a produçãoe o armazenamento, colocam-se como necessi-dades urgentes a definição, avaliação de riscos erelicenciamento dos sítios perigosos já existentes;a informação sobre os riscos de acidentes e oplanejamento de emergências envolvendo traba-lhadores e comunidades locais.

Sem a implantação dessas medidas, principal-mente através de uma legislação, tal como asexistentes nos países da Europa e EUA, o poten-cial de grandes tragédias ocasionadas por riscosde acidentes químicos ampliados continuaráespecialmente elevado no Brasil e demais paísesde economia periférica. Nesse sentido, impor-tante perspectiva para o País encontra-se na pro-posta do Convênio da Organização Internacionaldo Trabalho (OIT) sobre a prevenção de aci-dentes industriais maiores (número 174) e asrecomendações complementares (número 181),adotadas na Conferência Internacional doTrabalho em 199356. No seminário Latino-amer-icano promovido pela OIT em 1994, em SãoPaulo, a delegação brasileira reiterou a necessi-dade do País aderir ao convênio e respectivasrecomendações.

Os primeiros passos para o avanço no controlee prevenção de acidentes químicos ampliados nopaís já vem sendo dados. Porém, a trajetória aindaé longa e cheia de desafios onde a saúde públicapode e deve contribuir para enfrentá-los.

Referências Bibliográficas

1. ACKERMANN-LIEBRICH, U. et al. Epidemiologicanalysis of an environmental disaster: theschweizerhalle experience. Environ. Res., 58:1-14, 1992.

2. AIR POLLUTION CONTROL ASSOCIATION(APCA). Avoiding and managing environ-mental damage from major industrial ac-cidents; executive summary of the interna-tional conference. J. Air Pollut. Control Ass.,36:127-38, 1986.

3. AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION,(APHA). The public health implications of theBophal disaster. Am. J. Public. Health, 77:230-6, 1987.

4. AXELSON, O. Seveso: Disentangling the DioxinEnigma? [Editorial]. Epidemiology, 4: 389-92,1993.

5. BANDARANAYAKE, D. et al. Health consequen-ces of a chemical fire. Int.J. Environ. HealthRes., 3:104-14, 1993.

6. BAXTER, PJ. Major chemical disasters: britain'shealth services are poorly prepared. BMJ,302: 61-2, 1991.

7. BECKER, B.K. & EGLER, C.A.G. Brasil: umanova potência regional na economia mundo.São Paulo, Bertrand do Brasil, 1993.

8. BERTAZZI, P.A. Industrial disasters andepidemiology: a review of recent experi-ences. Scand.J. Work Environ. Health, 15:85-100, 1989.

9. BERTAZZI, P.A. Long-term effects of chemicaldisasters: lessons and results from Seveso.Total Environ., 106:5-20, 1991.

10. BERTAZZI, P.A. et al. The seveso accident. In:Elliott, P. et al. Geographical and environ-mental epidemiology: Methods for small areastudies. London, Oxford University Press,1992. p. 342-58.

11. BERTAZZI, P.A. et al. Cancer incidence in apopulation accidentally exposed to 2,3,7,8-Tetrachlorodibenzo-p-dioxin. Epidemiology,4: 398-406, 1993.

Page 10: Acidentes químicos ampliados: um desafio para a saúde pública · a de formular estratégias de controle e prevenção em realidades sociais que configuram um terreno fértil para

12. BINDER, S. Deaths injuries and evacuationsfrom acute hazardous materials releases.Amer.J. Public Health, 79:1042-4, 1989.

13. BOWONDER, B. The Bophal incident: impli-cations for developing countries. Environ-mental, 5:89-103, 1985.

14. CARSON, P.A. & MUNFORD, Reporting andanalysis of industrial incidents: 1981-1986.Industr. Environ., 11: 23-9, 1988.

15. CASTLEMAN, B.I. & PURKAVASTHA, D. TheBophal disaster as a case study in doublestandards. In: Ives, J.H. Transnational corpo-rations and environmental control issues: theexpon of hazard. London, Routledge andKeganPaul. 1985. p. 213-33.

16. CASTLEMAN, B.I. & NAVARRO, V. Internationalmobility of hazardous products, industriesand wastes. Ann. Rev. Public Health, 6:13-21,1987.

17. COLLINS, J.C. et al. The mortality experience ofworkers exposed to 2,3,7,8-Tetrachlorodi-benzeno-p-dioxin in a trichlorophenolprocess accident. Epidemiology, 4: 7-13, 1993.

18. COOKE, M.W. Arrangements for on scene me-dical care at major incidents. Br. Med.J., 305:748. 1992.

19. DAVENPORT, J. A study of vapour cloud inci-dents in industry: a updat. In: Internationalsymposium on loss prevention and safety pro-motion in the process industries, 4th.England, Harrogate. 1993. (The Institution ofChemical Engineers Symposium Series).

20. DEANE, M. et al. Adverse preganancy outo-comes in relation to water contamination,Santa Clara County, California, 1980-1981.Amer.J. Epidemiol, 129:894-904, 1989.

21. DeATLEY, C. Hazardous materials exposuremandates integrated patient care. Occup.Health saf., 60: 40-4, 1991.

22. DROGARIS, G. Major accidents reporting sys-tem: lessons learned from accidents notified.London, Elsevier, 1993.

23. ECONOMIC EUROPEAN COMMUNITIES (EEC).Council Directive of 24 June 1982 on theMajor Hazards of Certain Industrial Activities- 82/501/E.E.C. (Seveso Directive).

24. ELKINS, C.L. & MAKRIS, J.L. Emergency plan-ning and community right-to-know.J . Amer.Pollut. Control Ass., 38:243-7, 1988.

25. FERNÍCOLA, N.G.G. Aspecto toxicológico de lacontaminación ambiental causada por aci-dentes. Bol. Of. Sanit. Panam., 95: 352-60,1983.

26. FIOCRUZ/FEEMA. Centro de estudos da saúdedo trabalhador e ecologia humana da EscolaNacional de Saúde Pública. Inciden-tes/acidentes envolvendo substâncias e pro-dutos químicos perigosos no Estado do Rio deJaneiro - 1984-1993. Rio de Janeiro, CES-TEH/ENSP/FIOCRUZ - SCPA/FEEMA, 1994.

27. FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS. As 500 maioresempresas do Brasil. Conjunt. Econom., 47(8):52-182, 1993.

28. FUNDAÇÃO ESTADUAL DE ENGENHARIA DOMEIO AMBIENTE (FEEMA). Controle e pre-

venção da poluição acidental: curso teóri-co/prático. Rio de Janeiro, 1984.

29- GLICKMAN, T.S. et al. Acts of god and acts ofman: recent trends in natural disasters andmajor industrial accidents. Washington,Resources for the Future, 1992 (DiscussionPaper CRM 92-02).

30. GLICKMAN. T.S. et al. Fatal hazardous materi-als accidents in industry: domestic and for-eign experience from 1945 to 1991.

31. GUIDOTTI, T.L. & CLOUGH, V.M. Occupationalhealth concerns of firefighting. Ann. Rev.Public Health, 13:151-71, 1992.

32. GUILHERME, M.L. Urbanização, saúde e meioambiente: o caso da implantação do póloindustrial de Cubatão e os seus efeitos urbanose regionais nos setores da saúde e poluiçãoambiental. Espaço e Debates, (22):42-53, 1987.

33. HAGUENAUER, L. O complexo químicobrasileiro: organização e dinâmica interna.Rio de Janeiro, UFRJ/Instituto de EconomiaIndustrial, 1986.

34. HAINES, J.A. Classification of chemical incidentsin a global context. São Paulo, 1994.[Apresentado ao Simpósio IPCS sobre oGerenciamento dos Aspectos Ambientais e deSaúde de acidentes com SubstânciasQuímicas. São Paulo, CETESB, 1994].

35. HOGAN, DJ. Migração, ambiente e saúde nascidades brasileiras. In: Hogan, D.J. & Vieira,P.F., orgs. Dilemas socioambientais e desen-volvimento sustentável. São Paulo, EditoraUNICAMP, 1992. p. 149-70.

36. HUNTER, P.R. & MANNION, P.T. Doctors andcontrol of major releases of chemicals. Br.Med.J., 304:1116-7, 1992.

37. ISHIDA, T. et al. The breakdown of an emer-gency system following a gas explosion inOsaka and the subsequent resolution ofproblems.J. Emergency Med., 2:183-9, 1985.

38. JARVIS, S.N. et al. Illness associated with conta-mination of drinking water supplies withphenol. Br. Med.J., 290:1800-2, 1985.

39. JEYARATAN, J. The transfer of hazardous indus-tries.J . Soc. Occup. Med, 40:123-8, 1990.

40. JEYARATAN, J. Occupational health issues indeveloping countries. Environ. Res., 60: 207-12, 1993.

41. KLETZ, T. Learning from accidents in industry.London, Butterworth, 1988.

42. KOPLAN, J.P. et al. Public health lessons fromthe Bophal chemical disaster. J. Am. Med.Ass., 264:2795-6, 1990.

43. KORTE, F. & COULSTON, F. Some considerationof the impact of energy and chemicals on theenvironment. Regulat. Toxicol. andPharmacol, 19:219-27, 1994.

44. LADOU, J. The export of environmental respon-sability. Arch. Environ. Health, 49:6-8, 1994.

45. LAGADEC, P. La civilization du risque: catastro-phes technologiques et responsabilité sociale.Paris: Editions Du Seuil, 1981.

46. LITOVITZ, T. et al. Occupational and environ-mental exposures reported to poison centers.Am.J. Public Health, 83:739-43, 1993.

Page 11: Acidentes químicos ampliados: um desafio para a saúde pública · a de formular estratégias de controle e prevenção em realidades sociais que configuram um terreno fértil para

47. MARKOWITZ, J.S. et al. Acute health effectsamong firefighters exposed to a polyvinylchloride (PVC) fire. Amer. J. Epidemiol.,129:1023-31, 1989.

48. MELHORES e maiores. Exame (ago) 1993.49. MERCIER, M. Chemical safety as a major chal-

lenge for developing countries: role of theinternational program on chemical safety.Biom. Environ. Sci, 3: 211-6, 1990.

50. METHA, P.S. et al. Bophal tragedy's healtheffects: a review of methyl isocyanato toxici-ty. J. Am. Med. Ass., 264: 2781-7, 1990.

51. MORRIS, S.C. et al. Chemical emergencies: eval-uation of guidelines for risk identification,assessment and management. Environ. Int.,13:305-10, 1987.

52. MOSSMAN, D.J. et al. Predicting the effects of apesticide release to the Rhine River. J. WaterPollut. Control, 60:1806-12, 1988.

53. MURTI, C.R.K. Industrialization and emergingenvironmental health issues: lessons from theBophal disaster. Toxicol. Industr. Health,7:153-64. 1991.

54. NOGUEIRA, D.P. O Problema das emergênciascausadas por produtos químicos e a saúde dacomunidade. Rev. Bras. Saúde Ocup.. 51:24-7. 1985.

55. ONG, C.N. et al. Factors influencing the assess-ment and control of occupational hazards indeveloping countries. Environ. Res., 60: 112-23, 1993.

56. ORGANIZACION INTERNACIONAL DEL TRA-BAJO. (OIT) Seminário regional tripartitosobre accidentes industriales mayores. SãoPaulo. 1994.

57. ORGANISATION FOR ECONOMIC CO-OPERA-TION AND DEVELOPMENT (OCDE). Healthaspects of chemical accidents: guidance onchemical accident awareness, preparednessand response for health professionals andemergency responders. Paris. OCDE,(Environment Monograph n. 81).

58. OTWAY, H. & AMENDOLA. A. Major hazardinformation policy in the european com-munity: implications for risk analysis. RiskAnalysis, 9:505-12, 1989.

59. PEARCE, F. After Bhopal, Who rememberedixhuatepec? New Scientist, 107: 23-3. 1985.

60. SEVÁ FILHO, A.O. Crise ambiental, condiçõesde vida e lutas sociais: dilemas da passagemdos séculos XX-XXI. Campinas, AssociaçãoBrasileira de Reforma Agrária 1993.(Cadernosda ABRA, no l, vol. 6 - série debate).

61. SHAW, G.M. et al. Characteristics of hazardousmaterials spills from reporting systems in

California. Am. J. Public Health, 76:540-3,1986.

62. SIPRAM - Sistema de Prevenção de Riscos deAcidentes Maiores. In: Jornada de Trabalho,1a, Cubatão, 1991. Anais?. São Paulo,FIESP/CIESP/SESI/OIT/Prefeitura de Cuba-tão, 1992.

63. TEMPLE, W.A. The ICI Fire, Auckland, NewZeland São Paulo, [Apresentado ao SimpósioIPCS sobre o Gerenciamento dos Aspectosambientais e de Saúde de Acidentes comSubstâncias químicas. São Paulo, 1994].

64. THEYS, J. La Société vulnerable. In: Fabiani, J-L.& Theys, J. ed. La société vulnerable: evalueret maitriser les risques. Paris, Presses deL'École Nórmale Supérieure, 1987. p. 3-35.

65. TORRES, H. A Emergência das industrias "sujas"e intensivas em recursos naturais no cenárioindustrial brasileiro. Brasília: Instituto Socie-dade, População e Natureza. 1993. (Docu-mento de Trabalho).

66. UNITED NATIONS ENVIRONMENT PRO-GRAMME (UNEP). Chemical pollution: aglobal overview. Geneva. 1992.

67. VARMA. D.R. & GUEST. I. The Bophal accidentand methyl isocyanate toxicity. J. Toxicol. En-viron. Health, 40:513-29. 1993.

68. VASCONCELLOS, E.S. O atendimento médico deemergência nos acidentes químicos am-pliados. Rio de Janeiro. 1995. [Dissertação deMestrado - Escola Nacional de Saúde Públicada Fundação Oswaldo Cruz].

69. WEISS, B. & CLARKSON. T.W. Toxic chemicaldisaster and the implications of Bophal fortechnology transfer. Milbank Quart., 64: 217-40, 1986.

70. WEYNE, G.R.S. Lições dos grandes desastres dasindústrias químicas de flixborough, Seveso eBophal. Saúde e Trabalho, 2:3-13, 1988.

71. WORCESTER, Incident revives concern overdrinking water safeguards. Ende Rep. Bull,232: 3-5,1994.

72. WORLD BANK. Techniques for assessing indus-trial hazards: a manual. Washington, WorldBank, 1988 (World Bank Technical PaperNumber 55).

73. WORLD HEALTH ORGANIZATION. WHOComission on Health and Environment. Reponof the panel on industry. Geneva, 1992.

75. ZEBALLOS, J.L. Explosión de gas enGuadalajara, Mexico, Organización Paname-ricana de la Salud/Programa de Preparativospara Situaciones de Emergencia y Coordi-nación del Socorro en Casos de Desastres,1992.

Page 12: Acidentes químicos ampliados: um desafio para a saúde pública · a de formular estratégias de controle e prevenção em realidades sociais que configuram um terreno fértil para

Abstract

Chemical accidents involving explosions, large fires and leakages of hazardous substances occuring during transport,storage and industrial production of chemicals constitute a real challeng to health, environmental and industrial safetyprofessionals. The aim of this article is to discuss the main questions that this kind of accident provokes, in terms ofpublic helth, particularly in developing countries such as Brazil. The paper defines and characterises these accidentsand the various health risk they involve excluding the leakages of hazardous substances during "normal" production inindustry - through the combination of quantitative and qualitative information drawn from the international literature onthe subject. From some examples of chemical accidents such as occurred in Bophal (índia), Vila Socó (Brazil), SãoPaulo (México) and data of the World Health Organization (WHO), the authors seek to show that these events presenta worsening, in terms of immediate deaths and injuries, in developing countries. The statistics of chemical accidentswhich occurred during the last ten years (1984 to 1993) in the State of Rio de Janeiro are used taken as a framereference for the purpose of bringing to light the great number of occurrences made with no registration of basicinformation regarding assessment or surveillance. The complexity of causes and consequences, together with thestructural problems of developing countries, present public health professionals and institutions, with some importanttasks especially those os health risk assessment and the formulation of strategies to prevent and control future majorchemical accidents.

Chemical accidents. Accidents, occupational. Worker's health. Environmental health.