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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA BACHARELADO JANE DA SILVA PEREIRA ACESSIBILIDADE DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA FÍSICA OU MOBILIDADE REDUZIDA NA ÁREA CENTRAL DA CIDADE DE CAICÓ - RN CAICÓ RN 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ

DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA – BACHARELADO

JANE DA SILVA PEREIRA

ACESSIBILIDADE DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA FÍSICA OU MOBILIDADE REDUZIDA NA ÁREA

CENTRAL DA CIDADE DE CAICÓ - RN

CAICÓ – RN 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ

DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA – BACHARELADO

JANE DA SILVA PEREIRA

ACESSIBILIDADE DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA FÍSICA OU MOBILIDADE REDUZIDA NA ÁREA

CENTRAL DA CIDADE DE CAICÓ - RN

Monografia apresentada ao Departamento de Geografia do Centro de Ensino Superior da UFRN, como requisito parcial para a obtenção do grau de bacharel em Geografia.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Jeane Medeiros Silva.

CAICÓ – RN 2015

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Catalogação da Publicação na Fonte

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI

Pereira, Jane da Silva.

Acessibilidade da pessoa com deficiência física ou mobilidade

reduzida na área central da cidade de Caicó-RN / Jane da Silva

Pereira. - Caicó: UFRN, 2016.

67f: il.

Orientadora: Jeane Medeiros Silva Dr.

Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Centro de Ensino Superior do Seridó.

Curso de Geografia Bacharelado.

1. Acessibilidade. 2. Mobilidade. 3. Caicó. I. Silva,

Jeane Medeiros. II. Título.

RN/UF/BSE07-Caicó CDU 712.36-056.25

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ

DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA – BACHARELADO

ACESSIBILIDADE DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA FÍSICA OU MOBILIDADE REDUZIDA NA ÁREA CENTRAL DA CIDADE DE CAICÓ - RN

JANE DA SILVA PEREIRA

____________________________________________

Profa. Dra. Jeane Medeiros Silva (Orientadora)

____________________________________________

Prof. Dr. João Manuel de Vasconcelos Filho (Examinador)

____________________________________________

Profa. Dra. Sandra Kelly de Araújo (Examinadora)

Caicó. ____/_______/2015

Resultado: ____________

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Dedico esse trabalho aos meus pais, que

sempre me incentivaram, sem eles não

teria chegado até aqui.

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Tudo pode ser se quiser será, sonho

sempre vem para quem sonhar. Tudo

pode ser só basta acreditar, tudo que tiver

de ser, será (Michael Sullivan).

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AGRADECIMENTOS

Quero agradecer primeiramente a Deus, que em sua infinita bondade me deu saúde,

paciência, sabedoria e disposição para continuar caminhando e seguindo em frente,

mesmo com tantas barreiras pelo caminho, ele me fez ver que a cada novo

obstáculo que surgia eu me tornava mais forte e com vontade de continuar seguindo

o meu caminho para conseguir meus objetivos, que agora depois de muito tempo

estou alcançando, vendo que está tão perto de receber o meu tão sonhado diploma

de formatura, sonhado não apenas por mim, mas por todos os que me amam e

viram a minha luta para chegar até aqui.

À minha orientadora professora Drª Jeane Medeiros Silva, a qual foi responsável por

me fazer acreditar no possível, me mostrando que quando se tem persistência, os

objetivos são sempre alcançados, e ela me fez ver isso, obrigada por toda a

paciência, por me receber na sua casa para as orientações assim como no seu

gabinete na UFRN, e pelos acompanhamentos nas aulas de campo pelo centro da

cidade, as quais enriqueceram o trabalho, e também na formação da minha opinião

e também na influência do modo de perceber os acontecimentos ao meu redor,

tenho outras perspectivas hoje graças aos seus ensinamentos.

Quero agradecer aos meus pais, que nunca, em hipótese alguma, mediram esforços

para que eu conseguisse realizar o meu sonho, que é o deles também, muitos anos

dedicados a mim, seja no tempo da minha mãe, assim como, nos dias de trabalho

suado do meu pai, muitas noites de sono perdidas, tentando pelas estradas desse

Brasil, ganhar o pão de cada dia, para me dar o sustento e me educar da melhor

maneira, tentando, os dois, meu pai e minha mãe me fazer ver que o estudo é a

coisa mais preciosa que temos o direito de conquistar, a eles todo meu amor e a

minha admiração por serem como são e me mostrarem que quando se quer algo, ir

a luta é o caminho mais fácil para que possamos conseguir realizar os nossos

sonhos, e acho que estou vivendo os dias mais felizes da minha vida...

Agradeço também ao meu esposo, por ter me ajudado nesse tempo, e ter entendido

que as minhas ausências às vezes, era em busca desse sonho que estou realizando

agora.

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Aos professores, que me ajudaram na minha formação antes e durante os anos de

graduação na UFRN, sem eles nunca eu teria conseguido que esse sonho pudesse

um dia ser real.

Aos meus amigos, que me ajudaram, incentivaram aos que ficaram felizes com a

minha felicidade, esses sim, são os meus amigos de verdade...

Cada um de seu modo direto ou indireto fizeram parte desses dias os quais eu

guardarei para sempre na minha memória, pois o tempo passa mas as lembranças

ficam, e são delas que tiramos a motivação, persistência para seguir em frente, cada

dia de uma vez, buscando sempre seguir os melhores caminhos, pois por eles é que

iremos trilhar nossa vida, e fazer disso o nosso sustento, se Deus quiser. Esses dias

não quero esquecer jamais, dias vividos com muita intensidade, dias que não

voltam, mas que vão deixar saudades na memória daqueles que os viveram...

Obrigado aos colegas de curso... Sentirei saudades... Meu sonho está se tornando

realidade... Obrigado meu Deus por tudo!!!

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RESUMO

O presente trabalho mostra que a acessibilidade da pessoa com deficiência física ou

com mobilidade reduzida na área central da cidade de Caicó (RN), muito se

distancia dos padrões exigidos pela legislação ou pela lógica de uma gestão urbana

que promova a cidadania, promovendo a inclusão espacial dessas pessoas. Nesta

lógica, objetiva-se garantir os direitos fundamentais básicos, como igualdade perante

a sociedade, acessibilidade em toda e qualquer circunstância e respeito aos direitos

de todos. Este trabalho teve como objetivo principal analisar as condições de acesso

das pessoas com deficiência física (temporária ou reduzida) na área central da

cidade de Caicó, visando compreender a realidade de acesso das pessoas aos

diversos tipos de comércio, lojas e afins, em uma cidade que se caracteriza pela

circulação de pessoas atraídas pelo setor terciário que dispõe. As pesquisas de

campo, assim como bibliográficas, além de entrevistas semi-estruturadas

fundamentaram a análise mais reforçada da área estudada, assim como viabilizar a

formação de sugestões para um melhor uso do espaço, que possa garantir livre

acesso a todo e qualquer indivíduo, sem restrição.

Palavras-chave: Caicó; Acessibilidade; mobilidade; deficiência; centro.

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ABSTRACT

This work shows that the accessibility of persons with disabilities or reduced mobility

in the area central of Caicó (Brazil), much distance the standards required by law or

the logic of urban management that promotes citizenship by promoting the inclusion

Space. In this logic, the objective of this research was to ensure the basic

fundamental rights, such as equality before the society, accessibility in all

circumstances and respect the rights of all. This work aimed to analyze the

conditions of access for people with physical disabilities (temporary or reduced) in

the central area of Caicó, to understand the reality of people's access to various

types of commerce, shops and the like, in a city characterized by the movement of

people attracted by the tertiary sector that has. Research field, as well as literature,

as well as semi-structured interviews based the more enhanced analysis of the study

area, as well as facilitate the formation of suggestions for better use of space, which

can guarantee free access to any and all individuals without restriction.

Keywords: Caicó; Accessibility; mobility; deficiency; center.

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LISTA DE GRÁFICOS

01: Crescimento populacional urbano da cidade de Caicó (1990-2015). 20

02: Quantificação dos estabelecimentos do centro da cidade que possuem

rampa de acesso ou não.

52

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LISTA DE FIGURAS

01: Mapa de localização da cidade de Caicó. 19

02: Tabela de horários das vans que fazem o percurso Caicó-Serra Negra 22

03: Placa de aviso da empresa de transportes Guanabara, mostrando os

atendimentos prioritários e preferenciais.

22

04: Comerciante da cidade de São Bento-PB, na feira livre da cidade de Caicó. 25

05: Vans que fazem o transporte de pessoas das cidades vizinhas para Caicó. 25

06: Transporte coletivo em situação precária da cidade de Caicó. 27

07: Parada dos coletivos, localizada no centro da cidade de Caicó. 27

08: Parada dos coletivos sem nenhum tipo de conforto para os usuários no

centro da cidade de Caicó, com vans estacionadas.

28

09: Pessoas em fila para pagamento em lotérica da área central da cidade de

Caicó, onde as mesmas ficam nas calçadas.

30

10: Calçada com desníveis, que dificultam a passagem e a circulação de

pedestres.

45

11: Mercadorias expostas nas calçadas, dificultando o tráfego de pessoas

pelas mesmas.

45

12: Centro Administrativo de Caicó o qual não tem acesso para deficientes, ou

para pessoas com mobilidade reduzida.

45

13: Veículos estacionados nas calçadas, dificultando o tráfego de pessoas

pelas mesmas.

46

14: Veículos estacionados nas calçadas, dificultando o tráfego de pessoas e

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obrigando as mesmas a saírem das calçadas para poder transitar na área. 47

15: Escada de acesso ao primeiro andar do mercado público e elevador

inativo.

48

16: Loja sem o devido acesso para pessoa com deficiência, assim como

também para pessoas em geral, com passagens estreitas, impedindo o fluxo

de pessoas no interior da loja.

49

17: Vaga de táxi em frente à rampa de acesso para pessoa com deficiência

física ou com mobilidade reduzida.

50

18: Uso do solo e distribuição da acessibilidade nos equipamentos públicos da

área de amostragem.

51

19: Estabelecimento comercial com rampa de acesso para deficientes ou

pessoas com mobilidade reduzida.

55

20: Exemplo de calçada com acessibilidade, hospital Oncológico do Seridó. 55

21: Hospital de oncologia da cidade de Caicó, com acesso para deficientes ou

com mobilidade reduzida.

56

22: Plataforma de acesso para pessoas com deficiência física ou com

mobilidade reduzida à área interior do Banco do Brasil.

57

23: Loja sem rampa de acesso para deficientes ou mobilidade reduzida,

verificada durante pesquisa de campo.

58

24: Loja a qual fez adaptações para um melhor funcionamento, tendo em vista

o atendimento ao público de uma maneira geral, sem discriminação.

59

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 14

CAPÍTULO 1 – CAICÓ E SUA ÁREA CENTRAL: caracterizações e discussões

iniciais 18

CAPÍTULO 2 – MOBILIDADE E ACESSIBILIDADE NO CONTEXTO DA

PRODUÇÃO E ORGANIZAÃO DO ESPAO URBANO 32

1.1 A questão da mobilidade brasileira na atualidade 34

1.1.1 Mobilidade e legislação no Brasil 35

1.2 Urbanização e Mobilidade 38

CAPÍTULO 3 – ACESSIBILIDADE NO CENTRO DA CIDADE DE CAICÓ PARA A

MOBILIDADE DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA FÍSICA OU COM MOBILIDADE

REDUZIDA 44

CONSIDERAÇÕES FINAIS 60

REFERÊNCIAS 62

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INTRODUÇÃO

O processo de urbanização vem se intensificando nas últimas décadas no

contexto brasileiro como um todo e esse processo gera transformações importantes

no espaço urbano, que atingem principalmente a qualidade de vida das pessoas, a

exemplo da mobilidade urbana, que será abordada nesta pesquisa.

A mobilidade urbana é um termo recente e de certa forma diz respeito,

basicamente, ao deslocamento de pessoas e de bens no contexto intra e

interurbano, o que tem sido alvo de estudos na área do planejamento urbano e de

transportes.

A consolidação e o uso desses termos correlatos (mobilidade e

deslocamento), ainda constitui um desafio: inicialmente usado como sinônimo de

transporte, atualmente se tem um consenso de que a busca da mobilidade urbana

de maior qualidade ou mais sustentável deve considerar vários aspectos que

impactam nos deslocamentos nas cidades, necessitando-se de priorização e

valorização dos modos coletivos e não motorizados de transporte. O conceito de

mobilidade é amplo e mostra que os meios de transporte precisam e devem ser

planejados de maneira a garantir uma melhor qualidade de vida para os usuários

com deficiência definitiva, temporária ou com mobilidade reduzida.

No Brasil, há uma discussão explícita sobre a questão, centrada na Política

Nacional de Mobilidade Urbana Sustentável a qual define mobilidade como: “um

atributo associado às pessoas e aos bens; correspondem às diferentes respostas

dadas por indivíduos e agentes econômicos às suas necessidades de

deslocamento, consideradas as dimensões do espaço urbano e a complexidade das

atividades nele desenvolvidas”, ou, mais especificamente: “a mobilidade urbana é

um atributo das cidades e se refere à facilidade de deslocamento de pessoas e bens

no espaço urbano. Tais deslocamentos são feitos através de veículos, vias e toda a

infraestrutura vias, calçadas, etc. É o resultado da interação entre os deslocamentos

de pessoas e bens com a cidade” (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2004, p. 13).

A acessibilidade é definida, na literatura sobre o tema como citam Aguiar

(2010), Cavalcanti (2001), Santos (2002), por condições e possibilidades na

estrutura urbana, que permitem a locomoção, com segurança e independência, nos

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espaços públicos (e privados), de forma independente, dando ao cidadão deficiente

físico ou com mobilidade reduzida, o direito de ir e vir a todos os lugares que

necessitar, seja para o trabalho, estudo ou lazer, o que o ajudará e o levará à sua

inclusão na sociedade. A mobilidade urbana pode ser compreendida como a

facilidade de deslocamento de pessoas na cidade, utilizando diferentes meios, vias e

toda a infraestrutura urbana. Uma cidade com mobilidade urbana é a que

proporciona às pessoas deslocamento confortável e seguro em tempo razoável.

O aumento expressivo de veículos nas cidades, mas não em todas, gera

desordem, o que ajuda na locomoção de pessoas, como é o caso do automóvel, se

estacionado de maneira inadequada, acaba dificultando o deslocamento de

pedestres nas vias públicas. A falta de uma política urbana eficiente causa uma

ausência de medidas de planejamento urbano, o que gera desordem de inúmeras

atividades que comprometem a mobilidade urbana e a acessibilidade.

As pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida se locomovem em

condições precárias e muitos problemas podem ser identificados, basta discutir e

ouvir da parte interessada, as melhorias que poderiam ser feitas, assim como os

problemas existentes para tentar encontrar soluções que melhorassem a vida

dessas pessoas que tanto sofrem com o descaso sofrido.

O país como um todo precisa ainda de muitas mudanças para se tornar

acessível, no estado do Rio Grande do Norte, a capital Natal, ainda se mostra longe

dessa mudança, faltam acessibilidade e respeito, e sobram histórias, por parte dos

usuários que precisam de uma atenção especial para circular na cidade de Natal.

Infelizmente, cenas de pessoas cadeirantes tentando embarcar nos ônibus e não

conseguindo, ainda são comuns, faltam veículos adaptados e dos existentes,

apenas 40% da frota tem os elevadores, com essa limitação muita gente fica sem ter

como ir de um ponto a outro da cidade, como qualquer outro cidadão. Um dos

destinos preferidos do turista brasileiro é a cidade de Natal.

Isso acontece principalmente pelo público de terceira idade, mesmo assim, a

capital potiguar está longe de oferecer aos visitantes condições básicas de

acessibilidade como outras cidades. Os cartões postais: Centro de Turismo,

Fortaleza dos Reis Magos atraem, todos os dias, centenas de visitantes, só que as

pessoas que por lá passeiam, falam da falta de estrutura, e que a visita à cidade do

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sol poderia ser ainda melhor se tivesse uma assistência adequada que amparasse

as pessoas deficientes ou com mobilidade reduzida.

A cidade que é uma das principais opções por parte das pessoas de terceira

idade, não se diferencia muito do habitual encontrado em todo o país, o interesse

dos órgãos públicos para com as pessoas deficientes ou com mobilidade reduzida,

muito se distancia do que realmente seria um modelo a ser seguido, isso gera

indignação por parte desses usuários, assim como, principalmente, dos moradores

da mesma.

Já o cenário encontrado na cidade de Caicó também não é diferente, e

evidencia a má gestão e a ausência de planejamento atual assim como das

anteriores as quais nada fizeram para mudar essa realidade. As barreiras

arquitetônicas estão presentes nas edificações, no espaço urbano, nos transportes,

nas comunicações e informações, no comportamento das pessoas, e na falta de

segurança para a circulação. A mobilidade urbana deve ser vista como uma

condição básica para o convívio humano e para a qualidade de vida urbana, mas o

que é encontrado muito se diferencia do esperado para a melhoria na qualidade de

vida dessas pessoas como, por exemplo: calçadas irregulares, faixas de segurança

mal posicionadas, inexistência de rebaixamento de meio-fio, ausência de rampas,

mobiliário urbano desordenado, falta de sinalizações, informações etc.

Considerando-se a problemática acima colocada, o objetivo principal desse

trabalho foi compreender as condições de acessibilidade das pessoas com

deficiência física (temporária ou reduzida) na área central da cidade de Caicó (RN),

visando compreender a realidade de acesso aos diversos tipos de comércio, lojas, e

afins, especificamente pretende-se:

a) entender as definições e implicações referentes à questão da mobilidade

em relação à produção e organização do espaço urbano.

b) Identificar as condições dispostas para as pessoas com deficiência de

locomoção ou mobilidade reduzida nas paisagens da área central da cidade de

Caicó;

c) analisar uma amostra de equipamentos urbanos na área central

(estabelecimentos, ruas e calçadas) da cidade quanto à acessibilidade.

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Metodologicamente, a pesquisa utilizou trabalho de campo à área de estudo;

documentação da área por meio de fotografias, entrevistas pré-estruturadas e

obtenção informal de dados com pessoas que vivenciam essa realidade dia a dia

para melhor entender a realidade do centro da cidade quanto à mobilidade, assim

como dos usuários em geral. Além disso, a pesquisa fundamentou-se em um

levantamento bibliográfico, que subsidiou as leituras e o embasamento para o

tratamento do tema, que incluem a descrição e análise do centro da cidade, na

tentativa de compreender dialeticamente suas contradições relacionadas à

mobilidade e à acessibilidade.

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19

CAPÍTULO 1

CAICÓ E SUA ÁREA CENTRAL: caracterizações e discussões

iniciais

A cidade de Caicó localiza-se no estado do Rio Grande do Norte, sendo o

segundo munícipio (Cf. Figura 01) em ordem demográfica do interior do Estado,

distando-se a 270 km da capital, Natal. Ocupa uma área de 1.228.583 km² e possui

uma população estimada, para 2015, de 67.259 habitantes (IBGE, 2014).

O perímetro urbano atual de Caicó (RN) sofreu uma evolução nas últimas

décadas, refletindo o aumento da população e, por conseguinte, o aumento das

áreas de uso urbano. Trata-se de uma expansão urbana caracterizada pela rapidez

e densidade de ocupação, se comparada a outras cidades do interior do estado

potiguar.

Observando-se o Gráfico 01, nota-se que, nos últimos 25 anos esse

crescimento foi de cerca de 30%. Para a realidade política, social e econômica do

estado, caracteriza-se como um crescimento acelerado e, como tal, traz diversas

consequências socioespaciais para a organização da cidade tais como segregação

e produção de infraestrutura, equipamentos e serviços públicos que não

acompanham o crescimento.

A expansão urbana de Caicó inicialmente se deu pela instalação de alguns

serviços que foram caracterizando a sua condição de centro regional, desde os anos

de 1930 destacando-se uma rede de telégrafo, Coletoria Federal, Banco Rural de

Caicó, Agência do IBGE e o 29º Batalhão de Caçadores.

Cada novo serviço instalado na cidade, resultava em uma nova edificação,

aumento no agrupamento urbano e isso provocava estímulos para o

desenvolvimento da cidade e para o crescimento do seu perímetro urbano. E foi

através desses serviços que as relações com os municípios circunvizinhos foram

otimizadas.

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FIGURA 01: Mapa de localização da cidade de Caicó. Fonte: IBGE, 2010. ELABORAÇÃO: Jane Pereira; Diego Emanuel, 2015.

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GRÁFICO 01: Crescimento populacional urbano da cidade de Caicó (1990-2015).

FONTE: IBGE (2010).

Com a cotonicultura (beneficiamento do algodão) ou até mesmo “ouro branco”

como era conhecido, muitos anos foram de vultosos retornos econômicos (embora

desiguais, inovações técnicas e um novo dinamismo abrangeu a cidade. A

urbanização foi intensificada, o beneficiamento do algodão gerou entusiasmo, muitos

empregos foram gerados pelas indústrias e esses empregos geraram capital que

passou a circular na cidade em função dos salários dos funcionários.

Com a decadência da cotonicultura nos anos de 1970, Caicó se tornou uma

cidade polo passando a assumir a função de centro de prestação de serviços, mais

nitidamente nos setores de comércio, educação e saúde.

Segundo Santos (1981, p. 12)

O êxodo rural é um fenômeno complexo nos países subdesenvolvidos. Rata-se de um forte contingente migratório que, favorecido pelo desenvolvimento da rede viária, se dirige para as cidades e acaba sendo instrumental, em grande parte, do crescimento urbano.

A crise econômica de certa maneira pode ser percebida como umas das

formas de explicação para o crescimento da cidade, o que mostra a ampliação do

0

10.000

20.000

30.000

40.000

50.000

60.000

70.000

80.000

1990 2000 2010 2015

Crescimento Populacional Urbano da cidade de Caicó (1990-2015)

Cescimento PopulacionalUrbano da cidade de Caicó

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seu entorno urbano através do surgimento de bairros e o crescimentos dos já

existentes.

O êxodo rural e as migrações de pequenas cidades para o centro regional

fizeram com que a periferia da cidade crescesse. Em Caicó, a decorrência disso foi o

surgimento de novos espaços que foram ocupados desordenadamente, aumentando

ainda mais das denominadas necessidades básicas de cada indivíduo: alimentação,

trabalho, vestuário, moradia, saúde e educação e também do aumento da

infraestrutura como: saneamento básico, transportes, segregação para os bairros

mais afastados, aumento da poluição, déficit de escolas e também o insuficiente

mercado de trabalho para absorver essa nova demanda de pessoas sem nenhuma

formação para o trabalho informal.

A cidade de Caicó interage dinamicamente com alguns municípios vizinhos e

mesmo com outros do Estado da Paraíba. Um dos aspectos dessa interação se dá

com o trânsito diário de pessoas que afluem para esta cidade à procura de serviços,

como os de saúde e educação, bem como para realizar compras no comércio local.

É o caso de Jardim de Piranhas, Jucurutu, São Fernando, Parelhas, Timbaúba dos

Batistas, Serra Negra do Norte, Jardim do Seridó, Florânia, Cruzeta, Belém de Brejo

do Cruz, e também as mais distantes como é o caso de São Bento (Paraíba). Esse

movimento, não sendo critério para caracterizar Caicó como cidade polo, é um

demonstrativo de como se configura a circulação diária de pessoas nesse espaço.

Alguns desses fluxos migratórios, feitos em veículos de porte médio e de

regulação ilegal, são bem frequentes, como se observa na Figura 02. Com a grande

demanda de veículos, sem fiscalização por parte da prefeitura ou de outros órgãos

responsáveis, os próprios motoristas organizam esses fluxos e o funcionamento do

transporte intermunicipal.

Condizente ao tema dessa pesquisa, a ilegalidade dos transportes públicos se

evidencia na falta de acessibilidade aos mesmos é a falta de cuidado para com os

usuários com mobilidade reduzida. Algo que pela lei, deve ser observada no

transporte legalizado. Linhas do transporte rodoviário, assim como as vans, devem

ser regularizadas e obedecer às normas como mostra a resolução 3871 da ANTT,

exemplificada com a Figura 03.

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FIGURA 02: Tabela de horários das vans que fazem o percurso Caicó-Serra Negra

FONTE: Arquivo pessoal, 2015.

FIGURA 03: Placa de aviso da empresa de transportes Guanabara, mostrando

os atendimentos prioritários e preferenciais.

FONTE: Arquivo Pessoal.

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A Resolução 3871 de 1º de agosto de 2012 da Agência Nacional de

Transportes Terrestres ANTT:

Estabelece procedimentos a serem observados pelas empresas transportadoras, para assegurar condições de acessibilidade às pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida na utilização dos serviços de transporte rodoviário interestadual e internacional de passageiros e, dá outras providências (ANTT, 2002, p. 46).

O setor de serviços movimentou cerca de R$ 400 milhões em Caicó no ano

de 2010 o que corresponde a 80% de tudo o que é produzido no município. A cidade

polariza os serviços da região do Seridó Potiguar e Paraibano, com serviços

médicos, jurídicos, escolares e bancários, funcionalismo público, a presença das

forças armadas do 1º Batalhão de Engenharia e Construção – Batalhão Seridó; além

do seu intenso e diversificado comércio realizado com as cidades da região. Outro

segmento que cresce a cada ano no município é o turismo, no qual se observa a

cada dia aumentar o fluxo de pessoas na cidade durante o carnaval e a Festa de

Sant’Ana e, com esse aumento, cresce a cada dia o número de restaurantes, hotéis,

pousadas e a consequente especulação mobiliária (IBGE, 2014)

A cidade de Caicó interage também com cidades da Paraíba, como é o caso

da cidade de São Bento, que é conhecida como a capital das redes, tem nela uma

fonte de trabalho, emprego e renda, em que leva vários comerciantes do ramo de

vendas de redes a fazerem compras na cidade, devido ao custo menor do produto

tento em vista a grande produção e uma menor alíquota de imposto, o que diminui

no valor final do produto, mas grande parte dos tecidos para a fabricação das redes

é comprado diretamente do distribuidor localizado na cidade de Caicó, que

impulsiona e favorece o crescimento do ramo têxtil na cidade o qual muitos

empresários do ramo carregam seus carros e viajam Brasil afora, levando um

produto de qualidade, para tentar vender por um valor melhor, e desse produto tirar

o seu sustento e também manter as despesas de suas famílias assim como os

comerciantes da mesma procuram a nossa cidade para comercializar seus produtos,

em busca de uma melhoria na renda como mostra a Figura 04.

A cidade de Serra Negra do Norte é bastante conhecida no ramo de

fabricação de bonés, com produção diária de cerca de 10.000 peças, produzidos

para diversas marcas, além dos promocionais, que têm em suas pinturas e bordados

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propagandas com nomes de lojas, sendo enviados para todo o país, por meio de

intermediários que fazem as vendas e depois são entregues em seus respectivos

endereços. E para toda essa produção, Caicó dispõe da maioria dos materiais para

a fabricação dos mesmos, desde máquinas industriais, até os tecidos, dublagem,

além dos aviamentos necessários, e essa grande demanda intensifica ainda mais a

economia da cidade.

Esse fluxo de idas e vindas das cidades diariamente empregam várias

pessoas, as quais trabalham para levar e trazer essas pessoas todos os dias, sendo

esse transporte feito em vans, além de ônibus e carros particulares, os quais alguns

fazem cadastros na prefeitura e tornam-se aptos para transportar essas pessoas

para suas cidades todos os dias, e há também os que circulam sem cadastro, o que

impossibilita uma maior fiscalização por parte dos órgãos competentes, mas isso

não quer dizer que sejam em condições seguras, muitos ainda estão se adaptando,

tendo em vista o curto tempo de funcionamento do porto Rodoviário Federal, que

impossibilitou muitos dos motoristas que trafegavam pela BR – RN 427 de

continuarem seus trabalhos tendo em vista a precariedade dos veículos, e também

pela falta de equipamentos de segurança. A maioria dos motoristas dessas vans que

fazem os transportes intermunicipais se organiza entre eles, estabelecendo horários

de saída e chegada das paradas, tentando assim manter certa organização e com

isso impedir que novos motoristas se insiram nessas “linhas”, as quais já têm os

horários preenchidos, de acordo com a distância que cada cidade tem de Caicó

(Figura 05).

As idas e vindas não são apenas de uma cidade para outra, mas também de

um bairro a outro na própria cidade. Esse deslocamento é feito basicamente por

transportes coletivos, além dos conhecidos mototáxi, os quais levam e trazem

passageiros de todos os pontos da cidade. O transporte público vem passando por

mudanças nos últimos meses, mas nada que seja refletida em melhorias para o

transporte de todos os tipos de passageiros, como é o caso dos deficientes físicos,

apenas renovação dos veículos, que estavam em uma situação precária (Figura 06),

por veículos um pouco mais novos, mas sem nenhum tipo de adaptação para o

transporte dessas pessoas.

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FIGURA 04: Comerciante da cidade de São Bento-PB, na feira livre da cidade de Caicó.

FONTE: Arquivo Pessoal, 2015.

FIGURA 05: Vans que fazem o transporte de pessoas das cidades vizinhas para Caicó.

FONTE: Arquivo Pessoal, 2015.

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Cada coletivo que circula na cidade, assim como nos outros municípios, tem

em sua lotação uma ou duas vagas para o transporte de pessoas idosas, mas o que

acontece em Caicó, na maioria das vezes, é que os donos dos coletivos se negam a

levar esses passageiros sem pagar a passagem, o que é um direito destes, e os

cobram como qualquer outro passageiro que façam o transporte.

A falta de fiscalização ainda é uma questão a ser debatida, pois os

transportes públicos que fazem os percursos da cidade, nenhum deles possui

adaptação para transporte de pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade

reduzida e isso fica evidenciado quando verificado de perto, a prefeitura não fiscaliza

e com a falta dessa fiscalização os motoristas dos coletivos não fazem as

adaptações necessárias, alegando alto valor por exemplo para trocar o veículo por

outro que tenha adaptação, e quando é preciso fazer o transporte desses usuários,

os mesmos são quem os colocam dentro da van com a ajuda de um familiar que

geralmente auxilia essa pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida, mas

também essa questão é pouco frequente, já que os usuários preferem se locomover

de táxi devido a facilidade que se torna maior em relação às vans, sendo estes

também sem adaptação para o devido transporte sendo que os motoristas dos táxi

também auxiliam os usuários a entrarem no veículo sendo estes, mais baixos, o que

facilita esses usuários a entrarem nos veículos, podendo assim levá-los aos locais

mais comuns os quais frequentam que são clínicas e hospitais.

A cidade de Caicó muito se distancia dos padrões exigidos para os

transportes públicos, assim como, o contexto em geral, ruas, calçadas etc., tendo

em vista a situação das paradas de coletivos, as quais não tem nenhum tipo de

conforto para os usuários, falta bancos, coberturas, os usuários em busca de um

melhor conforto são obrigados, durante o período da manhã a ter que mudar de

calçada em busca de uma simples sombra (Figura 07 e 08).

A área central da cidade inclui várias ruas e avenidas, as quais serão

estudadas e analisadas, dando mais ênfase às áreas de maior fluxo, tanto de

veículos como de pessoas, onde se percebe uma maior dificuldade de transitar, por

parte das pessoas deficientes ou com mobilidade reduzida.

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FIGURA 06: Transporte coletivo em situação precária da cidade de Caicó.

FONTE: Arquivo pessoal, 2015.

FIGURA 07: Parada dos coletivos, localizada no centro da cidade de Caicó.

FONTE: Arquivo pessoal, 2015.

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FIGURA 08: Parada dos coletivos sem nenhum tipo de conforto para os usuários no centro da cidade de Caicó, com vans estacionadas.

FONTE: Arquivo pessoal, 2015.

Percebe-se assim, que a questão da mobilidade se inicia com as deficiências

nos sistemas que fazem o transporte intermunicipal, já, com o transporte público

intraurbano não é diferente.

Os índices sociais de Caicó são considerados melhores em relação a outros

municípios do nordeste, devido à histórica liderança política que foi determinante

para a melhoria da infraestrutura social (IBGE, 2014).

A cidade de Caicó apresenta uma economia diversificada com base principal

na prestação de serviços e com crescimento de cerca de 250% entre os anos de

2000 e 2010. A cidade de Caicó acomoda cerca de 2.700 unidades empresariais,

sendo um centro sub-regional A terceira mais elevada na hierarquia urbana do Brasil

e isso atrai pessoas de cidades próximas a fazerem compras além da procura por

prestação de serviços (IBGE, 2014).

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Caicó teve no setor primário a base de sua economia até o início dos anos

1970. Atualmente, apenas 8,5% da população vive no meio rural. Em 2010, o setor

da agropecuária movimentou cerca de R$ 66,7 milhões, correspondendo a 4,8% do

PIB da cidade no período. O meio rural sobrevive da agricultura familiar e da

produção de leite, carne-de-sol e dos queijos de manteiga e coalho. A cidade possui

um grande rebanho bovino e que o torna um dos maiores produtores de leite do

estado fornecendo matéria prima para a produção mensal de mais de sete toneladas

de queijo coalho e mais de 6.000 litros de manteiga de garrafa em suas unidades de

fabricação que são cerca de 90 (IBGE, 2014).

A produção de cachaças muito se destaca na região nordeste, tendo sua

qualidade atestada pela imprensa especializada. A agricultura comercial destaca-se

com o plantio de feijão, milho, arroz, mas não exerce grande representatividade na

economia municipal (IBGE, 2014).

O setor industrial movimentou no ano de 2010 cerca de R$ 40 milhões o que

corresponde a 7,4% do PIB da cidade. Em 1980 Caicó contava com 100 unidades

industriais o que teve um crescimento considerável nos anos posteriores. A cidade

destaca-se ainda por ser um grande polo na produção de bonés, e pela produção de

bordados artesanais típicos que são valorizados no mercado interno e eterno. A

indústria têxtil também se destaca e vem crescendo principalmente nos ramos de

confecção de camisetas. A cidade ainda possui várias indústrias de beneficiamento

de alimentos como laticínios (leite pasteurizado, queijos e iogurte) café, arroz, milho

(torrefação, moagem e embalamento); sorvetes e panificação. No setor secundário

ainda se destaca pela produção de produtos à base de argila, como tijolos, telhas e

lajotas, e tem uma produção mensal de cerca de 1200 milheiros. (IBGE, 2014).

Na parte de lazer se destaca a Ilha de Sant’Ana por tratar-se de um complexo

turístico rodeado pelo Rio Seridó dispondo de ginásio, praça, anfiteatro, área de

caatinga conservada, ciclovias, espaço para eventos, dentre outros. Atualmente,

está em curso o projeto de transformação das margens do açude do bairro recreio

em unidade de conservação. Ainda no início de 2014 foram iniciados estudos para a

criação de mais três unidades de conservação (UC) no município através da

Secretaria do Meio Ambiente, UFRN e IDEMA. As áreas escolhidas foram a Serra de

São Bernardo, o açude Itans e um sítio privado (IBGE, 2014).

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O movimento da cidade se mostra de certa maneira em crescimento tendo em

vista o aumento da população, e isso tornam mais evidentes a falha das estruturas

de mobilidade na área central, isso ocorre com maior frequência e intensidade.

Como exemplo verificamos na Figura 09, a falta de estrutura física para comportar

pessoas dento de um estabelecimento em uma fila para pagamento de contas em

uma lotérica da área central. Com exceção desses locais, podemos verificar locais

isolados, como exemplo a UFRN, IFRN, UERN, e escolas da rede estadual de

ensino os quais tem grande fluxo de pessoas diariamente, mas em suas estruturas

são encontradas formas adequadas para comportar tamanho volume de pessoas.

FIGURA 09: Pessoas em fila para pagamento em lotérica da área central da cidade de Caicó, onde as mesmas ficam nas calçadas.

FONTE: Arquivo pessoal, 2015.

A diversificação dos equipamentos públicos e privados atrai um considerável

número de pessoas à cidade em busca de usufruir desses produtos, o que permite a

cidade de Caicó uma atuação mais intensa e abrangente no que integra a região do

Seridó, a qual oferece serviços diversificados como: lojas, faculdades,

universidades, clínicas e essa diversificação mostra nitidamente uma maior

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concentração desses serviços na área central, com exceção da UFRN, assim como

das clínicas localizadas em outros bairros da cidade. Essa realidade se intensifica a

cada dia e isso será abordado de forma mais demonstrativa e ilustrada no capitulo

posterior.

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CAPÍTULO 2

MOBILIDADE E ACESSIBILIDADE NO CONTEXTO DA PRODUÇÃO E ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO URBANO

A mobilidade é uma preocupação constante da arquitetura e do urbanismo

(e também do planejamento urbano) nas últimas décadas e estão diretamente

ligadas ao fornecimento de condições às pessoas portadoras de deficiência ou com

mobilidade reduzida, para a utilização com segurança e independência total ou

assistida dos espaços urbanos públicos ou coletivos.

A Lei Orgânica do Município de Caicó no seu art. 1º é clara quando diz que o

município deve ter como base nos princípios fundamentados “a construção de uma

comunidade livre, justa e solidária, fundamentada na autonomia, na cidadania e na

dignidade da pessoa humana, nos valores sociais do trabalho, na livre iniciativa e no

pluralismo econômico”(p.01).

Desse modo, as pessoas com deficiência, crianças, idosos e outros devem

ser guiados por esses princípios. Além disso, o capítulo VIII nos seus artigos 116,

117 e 118 (p. 41), enfatizam que:

Art. 116 – A lei disporá sobre a exigência e adaptação, dos logradouros, dos edifícios de uso público e dos veículos de transporte coletivo, a fim de garantir acesso adequado às pessoas portadoras de deficiências físicas ou sensoriais;

Art. 117 – O município promoverá programas de assistência à criança e ao idoso;

Art. 118 – Aos maiores de sessenta e cinco anos é garantida a gratuidade do transporte público coletivo.

As pessoas precisam ter acesso ao que a cidade oferece como: trabalho,

comércio, lazer, serviços públicos e outros. O uso de meios de locomoção ajuda,

mas para pessoas deficientes, com algum tipo de restrição física ou mobilidade

reduzida, estão limitadas para desenvolver suas capacidades, exercer seus direitos

para ter acesso ás oportunidades.

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Segundo Bruna Mota da Mata (2001) os conceitos dados são definidos

como:

deficientes que são aquelas resultantes de um impedimento, e que venha a restringir a execução de uma ou mais atividades consideradas normais às pessoas; pessoas impedidas são aquelas com alguma alteração psicológica fisiológica ou anatômica (dano ou lesão) sofrida pelo indivíduo e as pessoas incapazes que são aquelas que são impossibilitadas de viver integrado ao seu meio em virtude de uma deficiência, considerando idade, sexo, fatores sociais e culturais.

O direito de ir e vir deve ser garantido a todos: homens, mulheres, crianças,

idosos, pessoas com mobilidade reduzida, gestantes, obesos, sem discriminação, o

que deve ser garantido com autonomia e liberdade pelos indivíduos. De acordo com

a Constituição Federal de 1988 o artigo 5º diz que:

Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.

A acessibilidade de um modo geral é vista de maneira que a infraestrutura

urbana seja produzida considerando toda a diversidade de locomoção populacional

existente e não apenas um modelo padrão de ser humano; não se pode excluir ou

discriminar as pessoas por terem características físicas diferentes do padrão.

O acesso aos lugares públicos e privados deve ser fácil e de um modo que

atenda a todos sem restrição, tanto pessoas com deficiência permanente, ou

temporária, como exemplo uma mulher com carrinho de bebê. Atitudes devem ser

tomadas, as normas precisam ser atendidas, é preciso que se tenha mais acesso

em todos os lugares: rampas de acesso, corrimão, elevadores, seriam adequadas

para muitos usuários que tem dificuldade na sua locomoção.

A realidade das pessoas com deficiência pode ser verificada quando

analisamos o acesso da sociedade com deficiência ao comércio deve ser

compreendido de forma a melhorar e a facilitar a vida dessas pessoas, muitos

setores do centro da cidade assim como dos bairros como um todo podem ser

encontradas dificuldades para o desenvolvimento e inclusão das pessoas deficientes

ou com mobilidade reduzida.

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Em termos gerais, acessibilidade significa “a possibilidade e a condição de

alcance, percepção e entendimento para a utilização com segurança das

edificações, espaços mobiliários” (NBR 9050/2004) de forma independente por todos

os usuários, sejam eles deficientes ou não. Esta definição genérica caberia a

qualquer pessoa, mas, no Brasil, esse conceito se associa mais diretamente às

pessoas com deficiência. Acessibilidade significa, então, a condição do indivíduo se

movimentar, locomover e atingir um destino desejado, “dentro de suas capacidades

individuais”, isto é, realizar qualquer movimentação ou deslocamento por seus

próprios meios, com total autonomia e em condições seguras, mesmo que para isso

precise se utilizar de objetos e aparelhos específicos.

Nesse sentido, a ampliação da acessibilidade é, antes de tudo, uma medida

de inclusão social, definido pelo Ministério das Cidades para a PNDU1:

1.1 A questão da mobilidade brasileira na atualidade

No Brasil, várias pesquisas sobre mobilidade, acessibilidade e temas afins

têm sido desenvolvidas. Além disso, recentemente essas pesquisas se tornaram

uma das preocupações declaradas do Poder Público Federal, o qual tem realizado

algumas ações através do Ministério das Cidades em prol do assunto.

O Plano de Mobilidade Urbana – PLANMOB (BRASIL, 2007) apresenta

esses conceitos de forma articulada onde se tem que:

A mobilidade urbana para a construção de cidades sustentáveis será então produto de políticas que proporcionem o acesso amplo e democrático ao espaço urbano, priorizem os modos coletivos e não motorizados de transporte, eliminem o reduzam a segregação espacial, e contribuam para a

inclusão social favorecendo a sustentabilidade ambiental.

Promover a mobilidade urbana representa uma das condições essenciais

para assegurar qualquer cidadão brasileiro o direito de ir e vir. Neste contexto, o

modo a pé, é também um dos que apresenta mais problemas relativos à qualidade

1 O Ministério das Cidades desenvolve o Programa Brasil Acessível que tem como objetivos estimular

e apoiar os governos municipais e estaduais a desenvolver ações que garantam a acessibilidade para pessoas com deficiência e restrição de mobilidade a sistemas de transportes, equipamentos urbanos e circulação em áreas públicas.

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no deslocamento de pessoas (AGUIAR, 2010). Esses problemas são enfrentados

todos os dias por pessoas deficientes, ou com mobilidade reduzida, e mostram a

falta de investimentos do poder público, o que impossibilita muitas vezes o acesso a

locais públicos e privados, e que mantêm esse público excluído do meio social.

Investimentos são necessários, modificações precisam ser feitas, as pessoas com

deficiência precisam viver de maneira igualitária, ter acesso é um direito de todos.

1.1.1 Mobilidade e a legislação no Brasil

Na leitura do decreto nº 5.296 de dezembro de 2004 (BRASIL, 2004) surge a

expressão “pessoa portadora de deficiência” que conforme se descreve é aquela

pessoa que possui limitação ou incapacidade para o desempenho de atividades, o

que se enquadra nas seguintes categorias: física, auditiva, mental e múltipla.

A expressão “pessoa com mobilidade reduzida” foi colocada como sendo

aquela que não se enquadrava em nenhum conceito de deficiência, mas aquela que

por qualquer motivo apresenta dificuldade temporária de se movimentar, como por

exemplo, uso de muletas, em decorrência de uma fratura na perna, essa pessoa

estará temporariamente impossibilitada de realizar suas atividades de forma

independente, por um curto período de tempo.

Brasil (2004) tem a pessoa como mobilidade reduzida:

[...] aquela que, não se enquadrando no conceito de pessoa portadora de deficiência, tenha, por qualquer motivo, dificuldade de movimentar-se, permanente ou temporariamente, gerando redução efetiva da mobilidade, flexibilidade, coordenação motora e percepção.

.

Os descasos com os meios de transporte, vias públicas são visíveis para

pessoas que não possuem dificuldade ou incapacidade de ter acesso, imagina para

quem tem deficiência ou comprometimento em algum segmento corporal.

A acessibilidade é o acesso fácil, qualidade do que é acessível. A falta de acessibilidade no transporte coletivo está associada ás grandes distâncias e longas viagens. O tempo é o momento ou a ocasião apropriada para que um fato se realize. A pouca acessibilidade no transporte está associada ao tempo excessivo de execução de uma viajem. Trata-se da relação tempo-espaço (SOUZA, 2003, p. 40).

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A lei nº 10.098 de 19 de dezembro de 2003, que estabelece normas gerais e

critérios básicos para a promoção da acessibilidade para pessoas portadoras de

deficiência ou com mobilidade reduzida, explica que:

Normas foram estabelecidas para assegurar a integração social por meios de exercícios dos direitos individuais e sociais, embasadas no respeito à dignidade e na justiça social, no intuito de possibilitar às pessoas com limitação física, acesso à educação, à saúde, ao trabalho, ao lazer, á previdência social (BRASIL, 2002).

Assim, a lei contempla basicamente todas as áreas indispensáveis à

inclusão social das pessoas com limitação. Portanto, visa garantir ações

institucionais voltadas a suprimir discriminações e preconceitos de qualquer espécie.

Segundo a NBR 9050 (ABNT, 2004) e a lei nº 10.098 (BRASIL, 2000) a

acessibilidade é a possibilidade e condição de alcance, percepção e entendimento

para a utilização com segurança e autonomia de edificações, espaço mobiliário2,

equipamentos urbanos3, dos edifícios públicos e privados, dos veículos de transporte

coletivo, do sistema de comunicação e sinalização, por pessoa com deficiência ou

mobilidade reduzida.

Aguiar (2010, apud COHEN, 2006, p. 25) cita que:

Por muito tempo, a ideia de “normalidade” de uma pessoa fez com que, estivesse associada a fatores individuais, ou seja, as pessoas que a possuíam é que tinham que se adaptar ao meio. Atualmente, muitos teóricos defendem um modelo social de deficiência, transferindo muitas das dificuldades vividas por estas pessoas para os atores eternos, dentre os quais, pode-se mencionar o próprio ambiente.

A inclusão social pode ser entendida como todas as condições e

possibilidades de acesso ao entorno social, profissional, médico e educacional.

Participar das atividades diárias, tais como estudar, ir ao trabalho, ter acesso à

cultura, esporte, lazer, ir e vir em condições de igualdade é direito de todos,

independente da existência de deficiência física, visual, auditiva, mental ou múltipla.

Desde 1948, ano de publicação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, no

2 Mobiliário: Todos os objetos, elementos e pequenas construções que integram a paisagem urbana de

natureza utilitária ou decorativa, instalados mediante autorização do poder público. Exemplo: Bebedouro, telefone, caixa de correio, lixeira, mesa para refeição ou trabalho, assento fixo, balcões, etc. Fonte: Cartilha Acessibilidade para uma cidade melhor (2008). 3 Equipamento urbano: Todos os elementos, públicos ou privados, de utilidade pública, destinados à prestação

de serviços necessários para o bom funcionamento da cidade, construídos mediante autorização do poder público. Fonte: Cartilha Acessibilidade para uma cidade melhor (2008).

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3º artigo, já estava declarado que toda pessoa tem direito à vida, liberdade e

segurança pessoal (BRASIL, 1948).

Em entrevista dada a Revista Collecione4 a arquiteta Thêmys Nóbrega

(2015, p. 69) diz que é preciso implantar políticas públicas permanentes e

adaptáveis para que elas se ajustem ao novo contexto social:

A questão de adequação é exigida por lei em edifícios de uso público, como calçadas, escolas, comércios, bancos, igrejas, hospitais, que devem garantir, por lei, a acessibilidade. Além disto, também é exigida essa adaptação às edificações privadas destinadas ao uso público, como, por exemplo, as áreas comuns de um condomínio. Vale salientar que a lei não exclui qualquer imóvel de ser adaptado às pessoas com deficiência.

Mas na prática não é bem o que acontece, pois o descaso com pessoas

deficientes, ou com mobilidade reduzida se torna cada vez mais frequente, limitando,

impedindo o direito de acesso a todos os lugares, gerando constrangimento,

desconforto, um sentimento de revolta desses usuários, que tem os mesmos direitos

que todos. Esse direito à cidade também é direito de beneficiar-se da cidade como

um todo, de consumir de tudo que ela oferece como praças, ruas, áreas de lazer etc.

O direito e o acesso a esses lugares são fundamentais para que não se exclua

ninguém e para que todos tenham os mesmos direitos.

A cidade é em si uma realidade objetiva com suas ruas, construções, monumentos, praças, mas sobre este “real” os homens constroem um sistema de ideias e imagens de representação coletiva. Ou seja, através de discursos e imagens o homem representa a ordem social vivida atual e passada, transcendendo a realidade insatisfatória. (PESAVENTO,1997, p. 26).

A existência dos espaços de convivência é, desde o início, construída para o

melhor uso de forma individual ou coletiva por todos os que frequentam e utilizam

desses espaços. Muitos com o tempo se deterioram e mostram a falta de cuidado

para com esses equipamentos, evidenciando a insatisfação dos que precisam e

utilizam esses equipamentos, seja para lazer, trabalho etc.

4 Revista Collecione: Criada em 2010, é um meio de comunicação elaborado por pessoas da cidade de Caicó

que mostra a cultura os serviços oferecidos assim como leva ao conhecimento não só das pessoas da própria cidade, mas do Seridó em geral.

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1.2 Urbanização e mobilidade

Essa insatisfação por parte dessas pessoas está diretamente ligada à falta de

autonomia em termos de mobilidade, jamais alguém que faça o uso de cadeira de

rodas poderá se locomover sozinho pelo centro da cidade de Caicó, essa realidade

ainda é muito distante não só da própria cidade, mas também, de muitas por todo o

país:

A acessibilidade é também uma questão referente à qualidade e está intimamente relacionada a fatores como conforto e segurança. A mobilidade é um direito humano, e os espaços públicos têm que cumprir requisitos que forneçam acessibilidade a todos os usuários potenciais, sem excluir os de comunicação ou locomoção reduzida. (AGUIAR, 2010, p. 17).

Na percepção de Milton Santos, a atividade econômica e a herança social

distribuem os homens desigualmente no espaço, fazendo com que certas ideias,

como a rede urbana ou do sistema de cidades, não tenham validade para a maioria

das pessoas, pois o acesso das pessoas aos bens e serviços é distribuído de

maneira errada priorizando os que têm mais dinheiro, dependendo do seu lugar na

economia e também na geografia, por exemplo, onde moram (SANTOS, 2002, p.

75).

Quando se fala em simplificar, facilitar, a questão de acessibilidade fica ainda

mais entendida na mente das pessoas, o que no caso de uma maneira contrária, o

que mais se vê são projetos inacabados ou nem começados, promessas a fim de

mudar essa realidade que atinge muitas pessoas, mas infelizmente, ficam só no

papel, à espera de ações que mudem essa triste realidade das pessoas, com

necessidades especiais, ou com mobilidade reduzida:

A cidadania pode começar por definições abstratas, cabíveis em qualquer tempo e lugar, mas para ser válida deve poder ser reclamada. A metamorfose dessa liberdade teórica em direito positivo depende de condições concretas, como a natureza do Estado e do regime, o tipo de sociedade estabelecida e o grau de pugnacidade que vem da consciência possível dentro da sociedade civil em movimento. É por isso que desse ponto de vista a situação dos indivíduos não é imutável, mas está sujeita a retrocessos e avanços. (SANTOS, 2002, p. 8).

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40

Ao analisar a cidade, Milton Santos expressa que é preciso que isso seja feito

sob várias visões, concepções de diferentes aspectos e olhares e essa imagem se

constitui por representações sociais ou de grupos. Nada na cidade é igual, quanto

maior a cidade, maior o seu número de formas, estruturas e diversidade de pessoas

que nela vivem. A cidade se compõe de muitos bairros e ruas que mudam a cada

momento.

A apreensão total da cidade é possível, muito embora essa impossibilidade não nos impeça de formular uma imagem que nos remeta pensar nessa totalidade que chamamos de cidade. Pensar essa totalidade a partir do lugar significa estabelecer ligações entre a cidade e o lugar (SANTOS, 2002, p.19).

É comum serem encontradas nas cidades brasileiras espaços que, pelas suas

condições físicas, são inacessíveis para pessoas que possuam limitações em seus

movimentos. Constituem barreiras, isto é, definidas como “qualquer entrave ou

obstáculo que limite ou impeça o acesso, a liberdade de movimento, a circulação

com segurança e a possibilidade de as pessoas se comunicarem ou terem acesso à

informação” (Decreto nº 5.296/2004, artigo 8º, inciso II). As barreiras podem ser

físicas, no interior das edificações ou nas vias públicas, ou técnicas, neste caso

caracterizadas pela adoção de tecnologias que, pela dificuldade de sua

compreensão, impeçam o acesso de algumas pessoas ou grupos sociais.

Na gestão da mobilidade urbana, a convivência com esse tipo de problema,

no caso a alta de mobilidade e acessibilidade, é cotidiana. As pessoas que se

deslocam de um ponto para outro no espaço urbano utilizam as redes de serviços

públicos: o sistema viário (ruas e calçadas) e os meios de transporte público que, do

modo em que estão hoje, muitas vezes constituem barreiras: a sinalização das ruas,

o desenho e o estado de conservação das calçadas, a ausência de guias

rebaixadas, a concepção e a localização do mobiliário urbano, ou os meios de

transporte coletivo.

De acordo com Pelozi (2003), o processo de urbanização aconteceu de

maneira crescente, e isso corresponde a modificações na qualidade de vida das

pessoas, na escala de atividades urbanas:

Tem-se a necessidade de adaptação dos espaços para funcionamento da cidade, bem como a acessibilidade desses espaços e da infraestrutura que

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a eles serve, formando um conjunto de melhoramentos e equipamentos urbanos que possam suprir as referidas necessidades, dentre as quais, principalmente as vias urbanas de acesso aos locais ocupados pela população, ou mesmo para futuras ocupações conforme o crescimento da cidade (PELOZI, 2003, p. 03).

Segundo Lana Cavalcanti, a necessidade de falar em paisagem urbana

resulta das suas particularidades:

A paisagem de uma maneira geral diferencia-se da paisagem urbana

especialmente pelo sentido atribuído aos fluxos e fixos na cidade, afirma

que a questão está na densidade de pessoas, objetos, relações, símbolos que particularizam a paisagem urbana. (CAVALCANTI, 2001 p. 14).

O componente territorial supõe, de um lado, uma instrumentação do território

capaz de atribuir a todos os habitantes aqueles bens e serviços indispensáveis, não

importa onde esteja a pessoa; e de outro lado, uma adequada gestão do território,

pela qual a distribuição geral dos bens e serviços públicos seja assegurada

(SANTOS, 2003).

Segundo Matta (2001), a maneira de pensar a mobilidade urbana, de um

modo mais eficiente, termos sociais, econômicos e ambientais é sustentabilidade:

Pensar a mobilidade urbana com mais tecnologia e inovação, é um dos mais urgentes desafios deste século. Encontrar soluções que não só resolvam os problemas e tornem a vida mais confortável, mas também sejam sustentáveis, dando atenção aos problemas ambientais e à utilização racional de energia e recursos. O caminho futuro aponta para integrar os sistemas de transporte, permitindo que o transporte individual veicular, o transporte coletivo, a bicicleta e até mesmo a caminhada encontrem-se na malha viária urbana de maneira sutil, sejam agradáveis e eficientes, incluindo um melhor acesso para os idosos e os desabilitados.

Aguiar (2010, apud GIL, 2005, p. 18) menciona que “uma pessoa com

deficiência física e usuária de cadeira de rodas, em geral, não consegue subir

escadas, mas se houver uma rampa apropriada ela vai estar em pé de igualdade

com as outras pessoas”.

De acordo com o Brasil (2007), acessibilidade assume a conotação de:

Um indivíduo se movimentar, locomover e atingir um destino almejado, dentro de suas capacidades individuais’, isto é, realizar qualquer movimentação ou deslocamento por seus próprios meios, com total autonomia e em condições seguras, mesmo que para isso precise de

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aparelhos específicos. Nesse sentido, a acessibilidade é antes de tudo, uma medida de inclusão social.

De acordo com a Norma Brasileira da Associação Brasileira de Normas

Técnicas (ABNT 9050, 1994) visa proporcionar à maior quantidade possível de

pessoas, independentemente de idade, estatura ou limitação de mobilidade ou

percepção, a utilização de maneira autônoma e segura do ambiente, no qual estão

incluídos edificações, mobiliários, equipamentos urbanos e elementos.

As pessoas, enquanto seres políticos apropriam-se de formas variadas, algumas condizentes com as formas previstas e outras não, interferindo nos pressupostos formais das políticas de transporte e trânsito. O exemplo mais claro está no trânsito, em que a ocupação violenta dos espaços pelos motoristas reflete um aspecto de luta de classes. Se no campo do trabalho o conflito principal se dá entre os detentores dos meios de produção e os trabalhadores, no trânsito o conflito básico se dá entre a classe média e os trabalhadores, na forma automóvel versus ônibus/ pedestres (VASCONCELOS, 2001 p. 205).

A ocupação sem controle das vias de acesso seja para deficientes ou para os

usuários em geral, está cada dia mais descontrolado, tendo em vista a forma das

cidades, muitas não comportam o trânsito que exercem o que evidencia a cada dia o

mau uso das vias, onde muitos estacionam em locais proibidos por não ter um

controle ou fiscalização adequados e ainda pela falta de educação o que é mais

frequente, muitos veem e sabem que não podem estacionar, mas ali o fazem, pois

não tem quem o diga o contrário, a impunidade ainda prevalece.

Todos os espaços, mobiliários, equipamentos urbanos que vierem a ser

construídos, projetados, montados ou implantados devem atender ás normas para

serem consideradas acessíveis (ABNT, 2004).

O problema está relacionado ao crescimento das cidades e na dificuldade das

pessoas em participar da reprodução urbana e do planejamento dos transportes, é

preciso que se apresente um projeto, para diminuir esse abismo entre o real, e o que

se quer (RAIA, 1997).

Segundo Cavalcanti (2001, p. 15), a paisagem urbana é o aspecto visível do

espaço, é sua expressão formal e aparente. Enquanto dimensão formal, expressa o

conteúdo, as relações sociais que a forma:

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A cidade é um espaço geográfico, é um conjunto de objetos e de ações, mas entendendo que ela expressa esse espaço, como lugar de existência das pessoas, que não apenas como um arranjo de objetos, tecnicamente orientado.

O conceito de paisagem pode ser entendido como uma definição de

elementos da natureza do espaço onde são encontradas formas de fauna e flora,

além das modificações que o homem cria no espaço geográfico.

Essas mudanças que acontecem no espaço urbano e os modificam, na

maioria das veze, valorizam esses espaços, e isso mostra a dinâmica de

valorização, de acordo com a sua localização. O valor de um imóvel na área central

da maioria das cidades, geralmente vai ser maior do que os localizados nos bairros

periféricos.

Santos (1985, p. 27) conceitua o espaço, fazendo todas as possíveis relações

existentes e afirma que:

O espaço deve ser considerado como um conjunto indissociável, que participa, de um lado, certo arranjo de objetos geográficos, objetos naturais e objetos sociais, e de outro a vida que os preenche e os anima, ou seja, a sociedade em movimento.

A cidade é um conjunto de objetos, usos e modos, formas, funções e ações

humanas que se produzem e se reproduzem de forma ampla, e de certa forma a sua

dinâmica se estrutura segundo uma organização interna:

A paisagem é denotada pela morfologia e conotada pelo conteúdo e processo de captura e representação. A paisagem como representação resulta da apreensão do olhar do indivíduo, que, por sua vez, é condicionada por filtros fisiológicos, psicológicos socioculturais e econômicos, e da esfera da rememoração e da lembrança recorrente. A paisagem só existe a partir do indivíduo que organiza, combina e promove arranjos do conteúdo e forma dos elementos e processo, num jogo de mosaicos [...] Assim a paisagem tem sua existência condicionada pela capacidade do indivíduo reter, reproduzir e distinguir elementos significativos (culturais ou naturais, circunstanciais ou processuais, adventícios ou genuínos, entre outros aspectos) desse mosaico construído. A paisagem evoca significados a partir dos signos e valores atribuídos. Esses signos assumem amplo espectro de propriedades e escalas numa grade semântica própria (GOMES, 2001, p. 56-57).

Assim sendo, podemos dizer que a paisagem é tudo o que a visão alcança,

pode ser limitada ao domínio do visível, daquilo que a nossa visão consegue

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abranger em uma única oportunidade. A paisagem não é formada apenas por

volumes, mas também de movimentos, cores, odores, sons e texturas.

Nessa concepção, os limites da paisagem são dados pela maneira como cada

um vê e pela localização da pessoa em relação a linha do horizonte. A paisagem

assume formas diferentes aos nossos olhos a partir do ponto que nos encontramos,

essa percepção se diferencia dependendo do lugar onde cada um olha para a

mesma paisagem, e essas percepções se revelam de acordo com a capacidade de

cada um em sentir, escutar, tocar e perceber.

No entendimento de Milton Santos (1994, p. 62) no que diz respeito a sua

visão dialética é que a paisagem se refere a “Um processo, seletivo de apreensão

da realidade. Se a realidade é apenas uma, cada pessoa a vê de forma diferenciada,

dessa forma a visão pelo homem das coisas materiais é sempre deformada”.

Milton Santos em sua leitura do espaço, mostra que essa ideia se dá pela

relação homem/natureza e mostra que para adentrar seu significado é necessário

ultrapassar uma forma vista, o seu aspecto visível, sendo necessário ultrapassar a

aparência para conhecer a essência:

A paisagem não se cria de uma só vez, mas por acréscimos e substituições: a lógica pela qual se fez um objeto no passado era a lógica da produção daquele momento. Uma paisagem é uma escrita sobre a outra, é um conjunto de objetos que têm idades diferentes, é uma herança de muitos diferentes momentos (SANTOS 1994, p. 66).

Essa herança percebida atualmente seja nas edificações, construções

antigas, ou até mesmo na dinâmica da cidade, indica a falta de cuidado com que

elas foram construídas, as quais precisam ser reformadas, isso para que possa

servir para um melhor uso por parte da população em geral que a utiliza atualmente,

o que ficará melhor evidenciado e explicado nos capítulos a seguir.

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CAPÍTULO 3

ACESSIBILIDADE NO CENTRO DA CIDADE DE CAICÓ PARA A MOBILIDADE DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA FÍSICA OU COM

MOBILIDADE REDUZIDA

Nos termos de níveis de acessibilidade das vias públicas de pedestres, na

cidade de Caicó-RN muitos espaços possuem barreiras que dificultam ou

impossibilitam a mobilidade de seus usuários. Existem muitos exemplos os quais

podem ser citados: falta de rampas, calçadas mal conservadas, veículos

estacionados nos locais destinados à circulação dos pedestres, despejo de entulhos

e aglomeração de objetos nas vias públicas, construções mal posicionadas,

improvisadas (mas permanentes).

Quando o problema não afeta diretamente toda a população, é mais comum

que não se perceba. No centro da cidade de Caicó, a maioria das lojas não dá o

acesso necessário a todos, é preciso subir degraus altos, muitos produtos são

expostos nas calçadas, as quais, na maioria das ruas, são usadas como vitrines,

expositores são colocados muito próximos uns dos outros, portas estreitas, enfim,

nem todas as lojas estão adaptadas para receber pessoas com deficiência ou

mobilidade reduzida, assim como os órgãos públicos, como exemplo podemos citar

a própria sede da Prefeitura municipal e algumas Secretarias Municipais.

Existem muitas dificuldades para circular nas calçadas, pois a maioria delas

apresenta desníveis, carros são estacionados indevidamente e até mesmo móveis, e

materiais de propaganda, como placas, são colocadas nos espaços de circulação

pública, o que torna ainda mais difícil o trânsito de um deficiente físico ou pessoa

com mobilidade reduzida nessas áreas (Figuras 10, 11, 12 e 13).

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FIGURA 10: Calçada com desníveis, que dificultam a passagem e a circulação de pedestres.

FONTE: Arquivo pessoal, 2015.

FIGURA 11: Mercadorias expostas nas calçadas, dificultando o tráfego de pessoas pelas mesmas. FONTE: Arquivo pessoal, 2015.

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FIGURA 12: Centro Administrativo de Caicó o qual não tem acesso para deficientes, ou para pessoas com mobilidade reduzida. FONTE: Arquivo pessoal, 2015.

FIGURA 13: Veículos estacionados nas calçadas, dificultando o trafego de pessoas pelas mesmas. FONTE: Arquivo Pessoal, 2015.

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A cidade de Caicó enfrenta dificuldades de acessibilidade, assim como em

muitas outras cidades. Porém, percebe-se que na maioria das vezes faltam atitudes

e interesse dos órgãos públicos que priorizem as necessidades das pessoas com

deficiência ou com mobilidade reduzida. Essa questão fica comprovada a partir da

localização dos órgãos públicos da cidade, como exemplo a prefeitura, desde que o

antigo hotel Vila do Príncipe foi transformado no Centro Administrativo, onde abriga

a maioria das secretarias, o gabinete do prefeito ainda está localizado no segundo

andar do prédio, dificultando, ou até mesmo impedindo o acesso de deficientes

físicos, idosos, gestantes, ou outros tipos de pessoas com mobilidade reduzida.

A cidade de Caicó se tornou uma cidade polo devido aos inúmeros serviços

prestados à população tanto da própria cidade quanto das cidades vizinhas, isso

intensifica ainda mais o fluxo de pessoas nas áreas centrais, dificultando o tráfego

das mesmas além de ter que na maioria das vezes dividir espaço com os

automóveis, já que em dias de maior movimento, por exemplo, muitas

irregularidades acontecem, como carros estacionados em calçadas, o que obriga os

pedestres a sair da calçada e andar pela rua, aumentando o risco de acidentes

como mostra as Figuras 13 e 14.

FIGURA 14: Veículos estacionados nas calçadas, dificultando o tráfego de pessoas e obrigando as mesmas a saírem das calçadas para poder transitar na área.

FONTE: Arquivo pessoal, 2015.

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FIGURA 15: Escada de acesso ao primeiro andar do mercado público e elevador inativo.

FONTE: Arquivo pessoal, 2015.

A falta de infraestrutura das lojas e do comércio em geral, para receber esse

tipo de usuário, fica ainda mais evidenciada quando se é verificada de perto,

funcionários dizem que tem o projeto para dar acesso às pessoas com deficiência

física ou mobilidade reduzida, já elaborado pela loja, mas que ainda não está em

fase de adequação porque ala dinheiro por parte dos donos, alguns falam que falta

incentivo do poder público, outros falam que ainda não se adequaram às normas,

porque não tem usuários que necessitem de tal atendimento e, encontra-se também

até quem julgue a estética da loja, alegando que visivelmente, não fica elegante, o

que realmente mostra, em todos os aspectos, a falta de conscientização e respeito

para com as pessoas deficientes físicas ou com mobilidade reduzida. Alguns

funcionários tentam se explicar alegando que não existe a procura de atendimento

por parte desse público e que quando tem dão atenção especial para o deficiente

físico, retirando caixas, prateleiras dos corredores, para facilitar a passagem do

cadeirante no interior da loja. Falta acessibilidade também nos hotéis, onde dos dois

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verificados, muitos deles possui quarto no térreo, ou elevador para a locomoção de

pessoas deficientes físicos, ou com mobilidade reduzida.

FIGURA 16: Loja sem o devido acesso para pessoa com deficiência, assim como também para pessoas em geral, com passagens estreitas, impedindo o fluxo de pessoas no interior da loja.

FONTE: Arquivo pessoal, 2015.

Muitas irregularidades são encontradas nas vias públicas e estabelecimentos

da cidade de Caicó, sendo identificada vaga de táxi em frente à rampa para

deficientes, com falta de uma simples pintura que identifique a área, onde os

próprios taxistas compram e mandam delimitar as vagas de taxi do local como

mostra a Figura 17.

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FIGURA 17: Vaga de táxi em frente à rampa de acesso para pessoa com deficiência física ou com mobilidade reduzida.

FONTE: Arquivo pessoal, 2015.

Com o propósito de analisar mais de perto a questão da mobilidade, fizermos

um recorte com as quadras correspondentes ao entorno de parte das Avenidas

Seridó, Renato Dantas Coronel Martiniano, incluindo a praça Governador Dix Sept

Rosado (Cf. Mapa 2). Neste recorte, foram analisados 98 estabelecimentos dos

quais 48 não possuem rampa de acesso e 50 possuem rampas, embora as que

possuem nem todas se enquadram nos padrões exigidos (ABNT 9050),

necessitando, assim, de adaptações e reformas para uma melhor condição de uso

por parte das pessoas com deficiência física ou com mobilidade reduzida (Gráfico

02).

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FIGURA 18 - Uso do solo e distribuição da acessibilidade nos equipamentos públicos da área de amostragem.

ELABORAÇÃO : Jane Pereira; Diego Emanuel, 2015.

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GRÁFICO 02: Quantificação dos estabelecimentos do centro da cidade que possuem rampa de acesso ou não.

FONTE: Pesquisa e elaboração da autora, 2015.

A cidade de Caicó, portanto, produz-se e organiza-se como muitas

outras cidades brasileiras, instaurando-se um processo de crescimento seja da

população como também do seu espaço geográfico, mas desacompanhado de

equipamentos adequados às necessidades gerais das pessoas.

Esse crescimento também poderia ser acompanhado de mudanças ou

melhorias nessa estrutura que na sua maior parte e antiga. Construções mal

feitas, arquitetura arcaica geram transtornos para os usuários como um todo e

mais ainda para pessoas deficientes físicas.

De acordo com as respostas às entrevistas com algumas pessoas com

deficiência física, o dia-a-dia dessas pessoas se resume a ficar em casa e sair

apenas para a escola ou trabalho, pois encontram uma maior dificuldade em

relação aos demais para transitar pelas vias de acesso público, pois estes na

sua maioria possuem obstáculos que impedem a passagem desses deficientes.

Essa realidade se mostra ainda melhor quando analisada ainda mais de

perto, pois o relato das pessoas deficientes físicas mostra numa perspectiva

Rampas de acesso nos estabelecimentos da área central

Possuem

Não possuem

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diferente a realidade do dia-a-dia dessas pessoas, como foi o caso do José

Mário Dantas, 40 anos, deficiente físico, historiador, com formação na

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, residente no bairro Barra Nova

na cidade de Caicó- RN.

A vida de José Mário pode ser mais bem compreendida quando o

mesmo fala das dificuldades enfrentadas durante sua vida. Ele conta que a

maioria dos deficientes estão escondidos, pois eles têm medo de sair para as

ruas, com medo do povo, da sociedade, medo de ser atropelado, agredido,

seja físico ou verbalmente.

Durante sua vida pela convivência com pessoas desinformadas,

preconceituosas e sem uma adequação da sociedade para conviver com

pessoas deficientes, ou com algum tipo de restrição, sofreu na pele essas

diferenças, ele conta que “o preconceito esta impregnado no DNA da maioria

das pessoas, e estas não estão preparadas para ter uma deficiência e nem

para conviver com pessoas com deficiência” (José Mário Dantas).

Essa é uma triste realidade da nossa sociedade existente, despreparada

e sem estimativa de mudanças consideráveis, o que se verifica hoje ainda é a

falta de independência dessas pessoas que estão presas à suas casas sem

perspectiva de crescimento, pois da calçada para fora de suas casas o que

predomina ainda é o preconceito e a visão de que essas pessoas são

incapazes de alguma tarefa por serem deficientes.

Fatos isolados acontecem sempre, mas na maioria, são desconhecidos

de grande parte da sociedade que no geral, faz de conta que nada está

acontecendo, ou simplesmente ignora esses acontecimentos, o que torna cada

dia mais situações impunes, onde quem sempre sai perdendo são os

deficientes, que em sua maioria, sem ter a quem recorrer, sai de cena, e se

escondem em suas casas, com medo dessa sociedade que teima em

desrespeitar os direitos do próximo. Essa questão se evidencia, quando o

entrevistado conta, que certa vez, ao tentar fazer compras no comércio da

cidade, não conseguiu, isso porque a atendente da loja simplesmente fez de

conta que ele não estava ali, e o ignorou, consequentemente, nada aconteceu

com a atendente da loja, já que o mesmo saiu da referida loja, desistindo de

fazer compras em outras que existem próximas dali.

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Existe ainda muita falta de atitude e atenção ao próximo, falta de

planejamento, muita gente sem o mínimo de educação, o que coloca sempre

em foco as dificuldades enfrentadas por pessoas com algum tipo de deficiência

ou mobilidade reduzida, onde nesses casos todos devemos agir de maneira a

qual possibilite viver em harmonia, seja em casa, no local de trabalho, nas

escolas, enfim, educação em bom censo fazem parte, e a maioria das pessoas

ainda precisa aprender a usar esses conceitos.

Os problemas são muitos, e as soluções são conhecidas, mas o difícil é

colocá-las em prática quando se convive com uma sociedade despreparada e

ignorante, muitos têm consciência de que não podem colocar o carro em um

determinado local, mas mesmo assim o fazem, pois a falta de fiscalização

ainda predomina, e o direito dos cadeirantes acaba onde começam as atitudes

de certas pessoas que ainda desconhecem as leis ou fazem simplesmente por

querer.

O que encontramos na área central da cidade de Caicó, muito se

distancia do esperado para que seja considerada acessível, mas em alguns

locais da área central, em estabelecimentos, são encontrados acessos para

todo tipo de pessoa, seja deficiente físico, ou com mobilidade reduzida como:

idosos, obesos, mamães com carrinhos de bebê, mulheres grávidas, etc.

Alguns donos de lojas quando questionados sobre as mudanças feitas

na estrutura do local, mostram certo interesse em um melhor atendimento para

as pessoas em geral, falam que atender todo e qualquer tipo de pessoa é

prioridade para eles, por isso as reformas nas partes de acesso da loja.

A estrutura física da cidade no geral não é nenhum exemplo de

acessibilidade, mas já existe locais onde essa facilidade de acesso predomina,

sejam nas calçadas, ou no acesso de lojas, clínicas, bancos, etc.

Muitas dos donos de lojas quando questionados, mostram de certa

maneira interesse em fazer algum tipo de reforma, mas, também alegam outras

questões (como projeto, prioridades de investimentos etc.), pelas quais vão

deixando de lado essas mudanças assim como também pela não fiscalização

das mesmas por parte da prefeitura, ficando, assim, sem adaptações, visto

que, quando não se afeta o bolso, são articuladas desculpas para o não

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cumprimento de normas as quais são de necessidade pública para um melhor

funcionamentos dos ambientes, assim como do contexto em sua totalidade.

FIGURA 18: Estabelecimento comercial com rampa de acesso para deficientes ou pessoas com mobilidade reduzida.

FONTE: Arquivo pessoal, 2015.

FIGURA 19: Exemplo de calçada com acessibilidade, hospital Oncológico do Seridó.

FONTE: Arquivo pessoal, 2015.

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FIGURA 20: Hospital de oncologia da cidade de Caicó, com acesso para deficientes ou com mobilidade reduzida.

FONTE: Arquivo pessoal, 2015.

A cidade de Caicó ainda passa por mudanças no que diz respeito à

infraestrutura dos equipamentos públicos, assim como dos privados, e essa

realidade se evidencia quando verificamos in loco as instalações dos bancos

da cidade, os quais estão em fase de adaptação para melhor atender as

necessidades, sejam de pessoas com deficiência, seja por pessoas com

mobilidade reduzida. A exemplo disso, temos a figura a seguir a qual mostra a

realidade da infraestrutura do Banco do Brasil, o qual passa por reformas, com

instalação de plataforma de acesso para melhor atender os seus clientes.

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FIGURA 21: Plataforma de acesso para pessoas com deficiência física ou com mobilidade reduzida à área interior do Banco do Brasil.

FONTE: Arquivo pessoal, 2015.

Dentre essas mudanças, as quais vêm ocorrendo na cidade, mais um

fato importante teve o conhecimento da população da cidade de Caicó, a qual

ocorreu no dia primeiro de dezembro de 2015, a normatização das calçadas

por comércios e horário de funcionamento dos bares, onde a Termo de

Ajustamento de Conduta (TAC), que prevê o uso de apenas 20% das pistas de

rolamento, desde que haja sinalização adequada, outro sim, está também

termo ajustado os horários para funcionamento desses meios (bares) sendo

normatizado em 17:00 h e 24:00 h de segunda a sexta-feira e a partir do meio

dia nos sábados. Já aos domingos e feriados, pode ser o dia todo, no qual o

descumprimento pode gerar multas entre R$ 50,00 e R$ 500,00 para quem

colocar mesas, cadeiras, churrasqueiras, ou qualquer outro tipo de objeto que

obstrua a locomoção de transeuntes (Blog Jair Sampaio), mas que na prática,

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ainda falta muito, para que essa normatização chegue a ser respeitada e

colocada em prática, assim como em muitas outras cidades, falta fiscalização

para que essas normas e leis possam assim vigorar e dar um pouco mais de

igualdade, às pessoas com algum tipo de deficiência ou mobilidade reduzida.

Um fato curioso e que vale a pena ser relatado, foi o caso de uma loja a

qual não possuía rampa durante as primeiras pesquisas de campo, e quando

indagado sobre o assunto, a funcionária da mesma desconversou, e alegou

que poderia sim fazer tais mudanças, mas sendo que esta seria em um outro

momento, sem data prevista para ocorrer.

FIGURA 22: Loja sem rampa de acesso para deficientes ou mobilidade reduzida, verificada durante pesquisa de campo.

FONTE: Arquivo pessoal, 2015.

Menos de um mês depois a loja passou por reformas na parte externa,

sendo que uma das mudanças feitas foi a implantação de rampa de acesso

para pessoas com deficiência física ou com mobilidade reduzida, o que facilitou

o acesso das pessoas à loja, e também para os transeuntes os quais fazem

uso da calçada, sendo que esta também passou por reformas, onde foi

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colocado um novo piso antiderrapante, o que ajuda na locomoção das pessoas

pela mesma como mostra a Figura 24.

FIGURA 23: Loja a qual fez adaptações para um melhor funcionamento, tendo em vista o atendimento ao público de uma maneira geral, sem discriminação.

FONTE: Arquivo pessoal, 2015.

As mudanças ocorreram isso se mostra na figura anterior, a qual mostra

apenas a preocupação com melhorias em função da loja, mas o que vemos

são obstáculos em locais inapropriados, e mais uma vez, nos deparamos com

a falta de consciência do poder púbico, o qual visa apenas o dinheiro que

arrecadam, mas as melhorias nunca saem do papel, ficando assim, cada dia

mais difícil conviver com esses tipos de obstáculos, sendo que esta é a

realidade da nossa cidade, em especial, da área central da cidade de Caicó.

Questões de acessibilidade precisam ser discutidas, as pessoas têm o

direito à mobilidade, sem nenhuma restrição, o espaço público deve ser usado

por todos de maneira igualitária sem restrição.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A inserção social é indispensável para que toda pessoa com deficiência

seja aceita como um integrante participativo na sociedade. Ter livre acesso ao

espaço urbano é de fundamental importância para o portador de deficiência

física ou mobilidade reduzida, disso depende o seu crescimento pessoal,

profissional, social e cultural. A simples constatação de que existem barreiras

arquitetônicas e ambientais já limita por si só o espaço existencial do portador

de deficiência, que fica sem motivação para sair de casa e integrar-se à vida da

sua comunidade. A ansiedade e a frustação causadas por uma barreira seja

arquitetônica ou atitudinal, é de tal magnitude que na prática determina o início

de um processo de incapacitação da pessoa com deficiência ou mobilidade

reduzida, a partir da própria pessoa, pela maneira de olhar do público, pela

discriminação sentida, e pelo sentimento de impotência.

As dificuldades encontradas para a melhoria desses espaços não é tão

complexa de ser entendida e respondida, é preciso apoiar-se na reversão

modal atual, o qual se baseia no deslocamento individual, a prioridade deve ser

a valorização dos modos coletivos e não motorizados de deslocamento. Para

alcançar o resultado esperado e os benefícios vindos de um meio ambiente

inclusivo, será preciso antes, entender os discursos e as práticas no processo

de construção de um espaço urbano inclusivo, identificando as principais

causas e a abrangência de sua interferência nesse processo.

Nisso, podemos entender o papel da produção do espaço e sua

organização, pois as condições de acesso e mobilidade urbanos e os

equipamentos do centro de uma cidade, com o movimento e a dinâmica

exercida como em Caicó, precisam ser analisados de maneira a encontrar

soluções adequadas que facilitem o dia-a-dia das pessoas com necessidades

especiais: o espaço precisa ser pensado, planejado e previsto, havendo neles

funções sociais importantes.

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As condições de acesso das pessoas com deficiência ou com

mobilidade reduzida precisam ser analisada ainda mais a fundo, o centro da

cidade de Caicó, assim como os bairros em geral, não dispensam melhorias

que facilitem o dia-a-dia dessas pessoas. O ir e vir, como direito constituído,

pode ser mais fácil, mais ágil e sem tantas barreiras.

Essas dificuldades físicas podem até não impedir, mas certamente

dificulta o acesso das pessoas com dificuldade de locomoção (pessoas com

deficiência) e as pessoas com mobilidade reduzida (idosos, gestantes, obesos

e pessoa com criança de colo) ao supracitado centro da cidade de Caicó.

Enfatiza-se tanto o acolhimento nas capacitações oferecidas nas

estruturas físicas do centro da cidade e paradoxalmente essas estruturas não

estão em adequação com o que se refere à lei. Não há como se ter um bom

acolhimento e valorizar as diferenças se a arquitetura das lojas, e comércios

em geral, assim como dos prédios públicos não proporcionar a acessibilidade.

É necessário e imprescindível que haja uma mudança de mentalidade

por parte de toda a população, assim como do poder público, para que os

obstáculos arquitetônicos sejam eliminados ou pelo menos amenizados, isto

implica a eliminação de barreiras atitudinais. Porém, essa mudança é um dos

maiores desafios no âmbito da acessibilidade. Todos os indivíduos que

compõem a sociedade devem estar unidos para lutar em prol de uma

sociedade mais igualitária, na qual, cada ser humano deve ter os seus direitos

respeitados.

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