a desertificação do semiárido nordestino: o caso da região do seridó norte-riograndense

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE – UERN PROGRAMA REGIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE – PRODEMA CURSO DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE A DESERTIFICAÇÃO DO SEMI-ÁRIDO NORDESTINO: O CASO DA REGIÃO DO SERIDÓ NORTE-RIOGRANDENSE Getson Luís Dantas de Medeiros Mossoró – Rio Grande do Norte 2004

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A Desertificação do Semiárido Nordestino: O Caso da Região do Seridó Norte-Riograndense

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE – UERN PROGRAMA REGIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO

AMBIENTE – PRODEMA CURSO DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE

A DESERTIFICAÇÃO DO SEMI-ÁRIDO NORDESTINO: O CASO DA REGIÃO DO SERIDÓ

NORTE-RIOGRANDENSE

Getson Luís Dantas de Medeiros

Mossoró – Rio Grande do Norte 2004

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE – UERN PROGRAMA REGIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO

AMBIENTE – PRODEMA CURSO DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE

A DESERTIFICAÇÃO DO SEMI-ÁRIDO NORDESTINO: O CASO DA REGIÃO DO SERIDÓ

NORTE-RIOGRANDENSE

Getson Luís Dantas de Medeiros

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente, vinculado ao Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre. ORIENTADOR: Dr. Benedito Vasconcelos Mendes; CO-ORIENTADOR: Ms. Francisco Carlos Carvalho de Melo.

Banca Examinadora:

Dr. Benedito Vasconcelos Mendes (ORIENTADOR) Universidade do Estado do Rio Grande do Norte Dr. Milciades Gadelha de Lima (MEMBRO) Universidade Federal do Piauí Drª Taniamá Vieira da Silva Barreto (MEMBRO) Universidade do Estado do Rio Grande do Norte Dr. Antônio Jorge Soares (MEMBRO SUPLENTE) Universidade do Estado do Rio Grande do Norte

Mossoró – Rio Grande do Norte 2004

iii

Dedico este trabalho aos meus sonhos que um

dia transformei em projeto de vida e hoje

começo a realizar, em especial à Minha Mãe,

Meu Pai, Meu Irmão e à minha esposa Ana

Cristina, que nos muitos momentos de

dificuldade e de alegria estiveram sempre ao

meu lado.

iv

AGRADECIMENTOS Este trabalho é o resultado da reunião de esforços de várias pessoas que

contribuíram de forma direta e/ou indireta para a sua concretização.

Devido a isto, sou forçado a citar nomes, que a memória não me traia neste

momento e que não pareça ingrato àqueles que por ventura venha a esquecer de citar.

Gostaria de iniciar os meus agradecimentos pela pessoa do conterrâneo e amigo

Professor José Pires Dantas, através de quem consegui ingressar neste maravilhoso

curso de Pós-Graduação. Obrigado por ter plantado esta semente que acredito ter

germinado, crescido, amadurecido e frutificado.

Ao Professor Alain Marrie pela paciência, pelo seu compromisso e

profissionalismo e por ter me orientado na primeira etapa deste trabalho, sem o qual

não teria sido possível a realização deste.

Ao Professor Benedito Vasconcelos Mendes, que me acompanhou desde a

graduação estando sempre ao meu lado, sendo muitas vezes mais que orientador. Pela

sua valiosa contribuição durante todo este trabalho, mas principalmente na reta final

quando estivemos mais próximos e produzimos juntos este trabalho.

Ao Professor Francisco Carlos Carvalho de Melo pelas valiosas correções a que

se dispôs sem as quais este trabalho não teria atingindo tal consistência.

Às Professoras Takako Watanabe e Cristina Crispim pelo apoio nos momentos

de dificuldade emocional e financeira na cidade de João Pessoa, onde se passou a

primeira etapa desta epopéia.

Ao amigo Bartolomeu por ter me dado acesso à sua biblioteca e a textos que

foram de fundamental importância para subsidiar a discussão dessa dissertação.

v

Aos amigos da turma 2001.1 do PRODEMA – UFPB (Cacau-Luiz-Teovézio-Olga-

Aline-Marco-Wilma-Marcos-Celena), com um agradecimento especial a amiga Olga que

me hospedou em sua residência em um momento de dificuldade e a todos os demais.

Aos amigos do PRODEMA – UERN, em especial ao mais que amigo em todas

as horas Antônio Queiroz.

Aos alunos do Curso de Geografia da UFRN em Caicó, qual sou professor

substituto, que trabalharam comigo na coleta de dados. O apoio destes foi fundamental

para o sucesso desta dissertação.

A D. Terezinha, minha mãe e Sr. Geraldo, meu pai, pelo apoio constante, nunca

me deixando desistir nem baixar a cabeça, pelas palavras de força nos muitos

momentos difíceis e pela ajuda durante todo o decorrer desta aventura. Ao meu pai em

especial que muitas mesas teve que servir para bancar os meus estudos.

A Ana Cristina, minha esposa, pelo apoio constante e pela paciência nos

momentos de ausência e pelo companheirismo que demonstrou durante todo o

processo de construção deste trabalho. Pelas palavras de força e por ter me

convencido a não desistir desta jornada.

A Verônica, minha tia e D. Vicência, minha avó, pelo apoio sempre presente e

pela credibilidade em mim depositada e pelas orações de força.

Todos os meus mestres, amigos e colegas que compartilharam comigo vários

momentos do processo de construção deste estudo e da minha vida.

vi

“A festa da natureza”, de Patativa do Assaré

Chegando o tempo do inverno,

Tudo é amoroso e terno,

Sentindo o Pai Eterno

Sua bondade sem fim.

O nosso sertão amado,

Estrumicado e pelado,

Fica logo transformado

No mais bonito jardim.

Neste quadro de beleza

A gente vê com certeza

Que a musga da natureza tem riqueza de incantá.

Do campo até na floresta

As ave se manifesta

Compondo a sagrada orquesta

Desta festa natura.

Tudo é paz, tudo é carinho,

Na construção de seus ninho,

Canta alegre os passarinho

As mais sonora canção.

E o camponês prazentêro

Vai prantá fejão ligêro,

Pois é o que vinga premêro

Nas terras do meu sertão.

vii

SUMÁRIO

LISTA DE MAPAS...........................................................................................................ix

LISTA DE TABELAS........................................................................................................x

LISTA DE QUADROS E GRÁFICOS..............................................................................xi

LISTA DE FIGURAS.......................................................................................................xii

LISTA DE SIGLAS E SÍMBOLOS..................................................................................xiv

RESUMO.........................................................................................................................xv

ABSTRACT....................................................................................................................xvi

1 INTRODUÇÃO...........................................................................................................16

2 MATERIAL E MÉTODOS..........................................................................................21

3 O PROCESSO DE DESERTIFICAÇÃO, HISTÓRIA E CONCEITOS: UMA

DISCUSSÃO NECESSÁRIA.....................................................................................22

4 AS SECAS E ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE AS QUESTÕES

CLIMÁTICAS.............................................................................................................35

4.1 Clima Semi-Árido.................................................................................................40

4.2 El Niño.................................................................................................................41

5 CARACTERIZAÇÃO DA REGIÃO DO SERIDÓ.......................................................45

6 DESERTIFICAÇÃO E A DEGRADAÇÃO AMBIENTAL : O CASO DO SERIDÓ

NORTE-RIO-GRANDENSE.......................................................................................59

7 INDICADORES DA DESERTIFICAÇÃO NO SERIDÓ.............................................64

viii

8 AGENTES DE DEGRADAÇÃO AMBIENTAL DO SERIDÓ.....................................69

8.1 Atividade Agropecuária.......................................................................................69

8.2 Atividade Ceramista............................................................................................74

8.3 Atividade Panificadora.........................................................................................81

8.4 Atividade Mineradora...........................................................................................84

8.5 Desmatamento....................................................................................................93

9 DESAFIOS PARA A RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS....................101

9.1 Técnicas de reflorestamento.............................................................................104

9.2 Técnica do inóculo.............................................................................................105

9.3 O Reflorestamento com Algaroba (Prosopis juliflora) no Seridó.......................109

10 CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................112

11 GLOSSÁRIO............................................................................................................118

12 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................119

13 ANEXOS..................................................................................................................129

14 APÊNDICES............................................................................................................136

ix

LISTA DE MAPAS

1 – Mapa do Rio Grande do Norte x Limite do Polígono das Secas...............................19

2 – Mapa do Polígono das Secas....................................................................................20

3 – Mapa de Localização da Região do Seridó...............................................................46

4 – Mapa de Precipitação Média.....................................................................................49

5 – Mapa das temperaturas médias e máximas anuais..................................................50

6 – Mapa da taxa de evapotranspiração média..............................................................51

7 – Mapa da umidade relativa anual média....................................................................52

8 – Mapa dos Municípios do Seridó e Microrregiões......................................................54

9 – Mapa Hidrográfico da Bacia do Rio Piranhas Açu....................................................58

10 – Mapa do destino da produção ceramista do Seridó................................................77

11 – Mapa da distribuição das padarias no Seridó.........................................................83

12 – Mapa de localização das atividades degradadoras do Seridó..............................117

x

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – População x Área dos Municípios Atingidos pela Desertificação..................60

Tabela 2 – Perda da capacidade de armazenamento dos açudes do Seridó.................66

Tabela 3 – Distribuição das Cerâmicas e Olarias no Seridó...........................................78

Tabela 4 – Situação das Cerâmicas no ano de 2000......................................................79

xi

LISTA DE QUADROS E GRÁFICOS

Quadro 1 – Secas Totais e Parciais................................................................................37

Quadro 2 – Outros Indicadores dos processos de desertificação de acordo com a

natureza da variável de acordo com Accioly...................................................................65

Gráfico 1 – Dados da Produção de Scheelita da Mina Brejuí dos anos de 1944 a

1996.................................................................................................................................87

xii

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Áreas atingidas pelo El Niño no Mundo.........................................................43

Figura 2 – Condição de El Niño no Período....................................................................43

Figura 3 – Relação das Chuvas no Rio Grande do Norte com a ocorrência de El

Niño.................................................................................................................................44

Figura 4 – Área degradada no município de Caicó,2002...............................................61

Figura 5 – Esquema do aumento do Albêdo na caatinga em decorrência do

espaçamento entre a vegetação, ocasionado pelo desmatamento................................62

Figura 6 – Classificação dos agentes antrópicos............................................................68

Figura 7 – O vaqueiro......................................................................................................70

Figura 8 – Cerâmica Totoró no Município de Currais Novos..........................................76

Figura 9 – Área degradada com avançado processo de erosão laminar e em sulcos, na

qual é possível ver o horizonte R do solo.......................................................................79

Figura 10 – Rejeitos de telhas amontoados às margens da estrada RN 086 próximo de

Parelhas/RN....................................................................................................................80

Figura 11 – Mina Brejuí...................................................................................................90

Figura 12 – Garimpo no Município de Currais Novos.....................................................91

Figura 13 – Duna de rejeitos da Mina Brejuí em Currais Novos,2002............................92

Figura 14 – Forno de Cal no município de Caicó............................................................93

Figura 15 – Área em processo de Desertificação no município de São José do

Seridó..............................................................................................................................95

Figura 16 – Homem desmatando a caatinga e pondo fogo numa coivara......................96

Figura 17 – Trincheira de forno para fazer carvão, lenha empilhada ao fundo...............97

Figura 18 – Chaminé do forno bacurau ou trincheira......................................................98

Figura 19 – Figura representativa da Técnica do Inóculo de MENDES,2002...............108

Figura 20 – Família de emigrantes da zona rural em direção a Caicó..........................116

xiii

LISTA DE SIGLAS E SÍMBOLOS

ATSM – Anomalia Térmica da Superfície Marinha

CCD – Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação

EMATER/RN – Empresa de Assistência Técnica Rural do Rio Grande do Norte

EMPARN – Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte

FISET – Fundo de Investimento Setorial

GEDS – Grupo de Estudo Sobre Desertificação no Seridó

IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

IBDF – Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDEMA – Instituto de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente do Rio Grande do

Norte

LANDSAT – Tipo de Imagem de Satélite

MMA – Ministério do Meio Ambiente

PACD – Plano de Ação de Controle à Desertificação

PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente

SRH – Secretaria de Recursos Hídricos

SUDENE – Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste

Workshop – Tipo de Reunião, geralmente de executivos ou pesquisadores

LISTA DE SÍMBOLOS

Km2 – Quilômetro Quadrado

CO2 – Dióxido de Carbono

mm/ano – milímetro por ano

BSh – Tipo Climático de acordo com a classificação climática de W. Köppen

ºC – Grau Celsius

mg/l – miligrama por litro

L600 – Refere-se ao comprimento da lamçante ou comprimento de rampa

t – Tonelada

xiv

RESUMO

Este trabalho apresenta uma caracterização da região do Seridó norte-riograndense,

encravada em pleno semi-árido nordestino, com ênfase em suas características

edafoclimáticas e a utilização humana dos seus recursos naturais, para assim

apresentar a situação em que se encontra tal região e o seu avançado processo de

desertificação. O trabalho visa discutir os aspectos conceituais e metodológicos acerca

do processo de Desertificação, bem como mostrar a relação entre este e os agentes de

degradação, (atividades econômicas). Buscou-se mapear e analisar os agentes de

degradação ambiental do Seridó, que corroboram de forma direta ou indireta para o

processo de degradação e/ou desertificação da região. Foram utilizados procedimentos

metodológicos tais como entrevistas diretas, pesquisa bibliográfica, visitas de campo,

bem como outros recursos técnicos. Os dados coletados foram tratados e analisados

estatisticamente, o que possibilitou a confecção de mapas de distribuição dos agentes

de degradação ambiental da região. As atividades econômicas atuantes na região,

usuárias de recursos naturais, principalmente florestais, foram amplamente analisadas

o que permitiu o conhecimento de seu potencial de degradação. O trabalho sugere a

recuperação de áreas degradadas através da viabilidade da Técnica do Inóculo para o

Seridó e aponta os principais erros cometidos pelos programas mal sucedidos de

reflorestamento já implementados na região. Chama a atenção sobre as medidas

assistenciais que visam à utilização dos recursos naturais da região de forma não

predatória, minimizando assim os danos causados pelo processo de desertificação por

que passa essa região.

Palavras-chave: Seridó, Desertificação e Técnicas de Reflorestamento.

xv

ABSTRACT This work presents a characterization of the region of the Seridó in the stat of Rio

Grande do Norte, stuck in full half-barren northeastern, with emphasis in its

edafoclimáticas characteristics and the human being use of its natural resources, thus to

present the situation where if it finds such e region the advanced process of

desertification. The work aims at to argue the conceptual and metodolgics aspects

concerning the process of Desertification, as well as proving the relation between this

and the agents of degradation, therefore economic activities. One searched to maping

and to analyze the agents of ambient degradation of the Seridó that corroborate of direct

or indirect form for the process of degradation and/or desertification of the region. It had

been used metodologics procedures as direct interviews, bibliographical research and of

field, as well as other technician resources. The collected data had been treated and

tabulated through estatistic, what it made possible the confection of maps of distribution

of the agents of ambient degradation of the region. The operating economic activities in

the region using of natural resources, mainly forest, widely had been analyzed which it

allowed the knowledge of its potential of degradation. The work points with respect to

the projects of recovery of areas degraded through the viability of the technique of

Inóculo de Mendes (2002) for the Seridó and it points the main mistakes committed in

implemented programs badly succeeded of reforestation already in the region, as well

as the watching measures that they aimed at or they aim at to the use of the natural

resources of the region of conscientious and not predatory form, thus minimizing the

actual damages for the desertification process which it passes this region.

Word-key: Seridó, Desertification and Técnicas de Reflorestamento.

16

1. INTRODUÇÃO O processo de desertificação é um fenômeno que atinge diversas regiões áridas,

semi-áridas e sub-úmidas secas do mundo. Mais de cem países sofrem com esse

fenômeno, que é considerado pelas Nações Unidas um problema global.

As regiões semi-áridas representam cerca de 1/3 da superfície emersa do

planeta, abrigando mais de 1 bilhão de pessoas. São áreas importantes pela extensão

de terras, pelo contingente populacional e potencial econômico envolvidos, assim como

pelos desequilíbrios a que podem estar sujeitas quando mal manejadas, podendo vir a

acarretar reflexos no clima e na biodiversidade globais (ARAÚJO, et al., 2002).

Apesar de todas essas restrições, as terras áridas e semi-áridas são

responsáveis por mais de 22% de toda produção mundial de alimentos e, no passado,

foram o berço das grandes civilizações da história, como o Egito, a Pérsia, a China e a

Índia, além de comportarem grandes contingentes populacionais como é o caso do

Nordeste brasileiro que é a região semi-árida do mundo mais povoada.

Historicamente, a preocupação com a desertificação no mundo, como um

problema de ordem global, só teve início na década de 1930, em decorrência de uma

fortíssima seca associada à degradação de áreas agrícolas que atingiram vários

estados do meio-oeste americano, causando intenso processo de desertificação. Este

fenômeno ficou conhecido como Dust Bowl. Na década de 1970, devido a uma grande

seca ocorrida na região do Sahel africano, que foi responsável pela morte de milhares

de pessoas e animais, novamente o fenômeno toma dimensões globais. No Brasil esse

fenômeno foi descrito de forma simplificada há mais de um século (MATALLO JR.,

1999).

Como trata-se da Desertificação no Seridó norte-riograndense, uma região onde

ocorrem fenômenos naturais como secas periódicas, é importante entender a distinção

entre o fenômeno Seca e Desertificação, apesar de estarem estreitamente

relacionados. Entendemos por seca o período de tempo onde a escassez de chuva

17

produz um desequilíbrio hidrológico com impactos ambientais, sociais e econômicos, e

por desertificação, entendemos como o processo de diminuição ou destruição

progressiva da vida, animal ou vegetal, em conseqüência da alteração do clima e dos

solos de uma determinada área que tende a atingir as condições de deserto.

(MENDES,1998, p.19). O semi-árido brasileiro apresenta uma área que ultrapassa 900

mil quilômetros quadrados, onde vivem cerca de 18 milhões de pessoas, 42% da

população nordestina e 11% da população do Brasil (ARAÚJO, et al., 2002). É uma

extensa região, onde a seca e os riscos de desertificação desafiam a capacidade de

tornar sustentáveis as atividades produtivas aí desenvolvidas.

No Brasil, a desertificação atinge, de forma devastadora, as regiões semi-áridas,

tidas como edafoclimaticamente muito frágeis, o que faz com que sejam naturalmente

susceptíveis a este fenômeno. O Nordeste sofre uma pressão muito forte das ações

antrópicas, em virtude de suas atividades econômicas, que são as grandes

responsáveis pela degradação ambiental em curso na região.

O Estado do Rio Grande do Norte possui mais de 2/3 (Mapa 1) de sua superfície

territorial inseridos na região denominada de polígono das secas1, que engloba quase

toda a área do Nordeste, como pode-se ver no (Mapa 2). De acordo com FARIA (1986,

p.26), é uma região que devido as suas características naturais apresenta-se

susceptível à degradação, ou seja, alto risco de desertificação.

Existe grande número de metodologias para o estudo da desertificação. Algumas

primam pelos aspectos edafoclimáticos, outras dão prioridades aos aspectos

antrópicos, sendo que poucas são aquelas que utilizam tanto aspectos antrópicos

quanto edafoclimáticos. Este trabalho pretende analisar os agentes causadores da

1 O Polígono das Secas, instituído pela Lei nº 175 de 07.01.1936, Teve seus limites alterados pelo Decreto-Lei nº 9.857 de 13.09.1946; Lei nº 1.348 de 10.02.1951, e 4.763 de 30.08.1965, ocupando, atualmente, uma extenção de 936.993 km2 (CONTI, 1995; 85).

18

degradação ambiental na região do Seridó2, reconhecidos aqui como atividades

econômicas e conseqüentemente antrópicas.

MATALLO JR. (2001, p.25) acredita que são cinco os problemas quando se

refere às metodologias utilizadas no estudo da Desertificação. O primeiro é o fato de

não haver:

(...)pesquisas suficiente para os caminhos a serem seguidos na formulação de uma metodologia [grifo nosso] unificada de trabalho e seus correspondentes indicadores sobre a desertificação, e não parece, à primeira vista, que isso possa ser alcançado a curto prazo.

O segundo, a inexistência de métodos de estudo que sejam universalmente

aceitos; o terceiro, a ausência de métodos confiáveis para a identificação de processos

de desertificação; o quarto, a falta de “clareza empírica” das diferenças entre

desertificação e seca e o quinto, a falta de uma metodologia de avaliação econômica,

para que se possa mensurar e quantificar economicamente os custos com a

recuperação das áreas já desertificadas.

2 O Seridó está dividido em duas microrregiões geográficas, sendo a Microrregião do Seridó Oriental abrange 07 municípios: Caicó, Ipueira, Jardim de Piranhas, São Fernando, São João do Sabugi, Serra Negra do Norte e Timbaúba dos Batistas. Microrregião do Seridó Ocidental corresponde a 10 municípios: Acari, Carnaúba dos Dantas, Cruzeta, Currais Novos, Equador, Jardim do Seridó, Ouro Branco, Parelhas, Santana do Seridó e São José do Seridó.

19

20

2. MATERIAL E MÉTODOS

Foi feito um levantamento da área em estudo, da distribuição geográfica e área

de influência das atividades antrópicas desenvolvidas na região, bem como os impactos

que estas causam no meio ambiente seridoense.

Procurou-se observar por meio da coleta de dados, através de pesquisa

quantitativa; da utilização de questionários diretos, de entrevistas, de visitas e

observação de campo, as conseqüências dos danos causados em decorrência da ação

das atividades antrópicas, bem como analisar algumas metodologias de recuperação

das áreas degradadas, em substituição à técnica tradicional de reflorestamento com

mudas já tão difundida e aplicada para o reflorestamento de áreas degradadas em todo

o mundo inclusive na região em estudo.

Esta tem como princípio a utilização da serapilheira do solo, retirada de áreas

próximas às áreas degradadas para repor o banco de sementes destas. Esta técnica

por não utilizar mudas diminui o custo com confecção, transporte, plantio e

manutenção. Por fazer uso do banco de sementes de áreas próximas, mantém a

biodiversidade da área e não apresenta o problema com a falta d’água, pois, caso

essas sementes não venham a germinar no primeiro ano, elas podem germinar nos

anos seguintes, uma vez que se trata de espécies nativas da caatinga adaptadas aos

períodos de seca.

22

22

3. O PROCESSO DE DESERTIFICAÇÃO, HISTÓRIA E CONCEITOS: UMA

DISCUSSÃO NECESSÁRIA.

Os primeiros registros com repercussão global da desertificação tiveram início na

década de 1930, quando intensos processos de degradação ocorreram em alguns

estados do Oeste americano, devastando uma área de mais de 300.000 km2 em

decorrência do uso de técnicas agrícolas inadequadas, da pecuária e seca. Mas o

problema só se tornou mundial quando, na década de 1970, a região localizada abaixo

do deserto do Saara, denominada de Sahel Africano, foi atingida por uma fortíssima

seca que, associada ao uso predatório dos solos, acabou por matar mais de 500.000

pessoas de fome e milhares de animais. (CCD, 1999).

Devido a todos estes acontecimentos, no ano de 1977, o Programa das Nações

Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) realizou na cidade de Nairóbi, no Quênia, a 1ª

Conferência das Nações Unidas sobre Desertificação, na tentativa de desenvolver uma

ação conjunta dos diversos países atingidos pelo fenômeno para combater a sua

expansão. Desta primeira conferência resultou o Plano de Ação de Controle à

Desertificação – PACD, que visava desenvolver ações em âmbito mundial com adesão

voluntária dos países participantes.

Apesar de só ter tido repercussão global na década de 1930, as preocupações

com a degradação dos solos e das florestas no Brasil datam do século XVIII, no ano de

1796, quando o governo colonial criou o cargo de juiz conservador de matas, com o

objetivo de coibir “a indiscreta e desordenada ambição dos habitantes, que tem

assolado a ferro e fogo preciosas matas que tanto abundavam e já naquela época

começavam a ficar a distâncias cada vez maior” (VILLA, 2000, p.65). Em 1823, José

Bonifácio, em um discurso à Assembléia Geral Constituinte e Legislativa do Império do

Brasil, expressava a sua preocupação com a rápida degradação dos solos e das matas

brasileiras, como se observa a seguir.

23

23

(...) nossas preciosas matas vão desapparecendo, victimas do fogo e do machado destruidor da ignorância e do egoísmo; nossos montes e encostas vão-se escalvando diariamente, e com o andar do tempo faltarão as chuvas fecundantes, que favorêção a vegetação, e alimentam nossas fontes e rios, sem o que o nosso bello Brasil em menos de dois séculos ficará reduzido aos paramos e desertos áridos da Libya (BRITO, 1987, p.57).

É atribuído a AUBRÉVILLE (1949) o pioneirismo no uso do termo Desertificação

para designar a regressão da selva equatorial africana frente às atividades

agropastoris, expondo os solos aos processos de erosão hídrica e eólica e o posterior

avanço de condições semelhantes aos desertos. Apesar deste pioneirismo, neste

período ainda não existiam parâmetros ou uma metodologia adequada ao estudo da

desertificação.

José Bonifácio foi um dos pioneiros a chamar a atenção para o problema da

degradação ambiental que se iniciava, chegando várias vezes a advertir os colegas

legisladores sobre a urgente necessidade de se criar políticas agrícolas adequadas

para se evitar uma tragédia futura, que, em sua linguagem, seria a transformação dos

solos e florestas brasileiros em “desertos comparados aos da Líbia”. Mesmo após suas

advertências nada foi feito, ainda hoje não existindo uma legislação específica que trate

do problema da desertificação.

VASCONCELOS SOBRINHO (1982) apesar de não utilizar o termo

desertificação, descreve o fenômeno da degradação de forma mais sucinta, já fazendo

uma correlação entre a degradação e as mudanças climáticas, preocupando-se com a

degradação da vegetação das áreas semi-áridas que poderia vir a ser responsável por

períodos de secas.

Outro grande defensor dos ideais conservacionistas foi Lourenço Baeta Neves,

que em 1910, publicou o trabalho intitulado “Sêccas e Florestas”, no qual aborda a

24

24

necessidade urgente da preservação das florestas e matas, bem como a necessidade

de se criar leis que possam proteger as riquezas naturais existentes em terras públicas,

como também em terras particulares. Apesar das preocupações de Lourenço Baeta no

que diz respeito à Legislação Ambiental, esta evoluiu muito lentamente (BRITO, 1987).

De acordo com SALES (1999), os primeiros trabalhos brasileiros nos quais

aparece o conceito de desertificação, como a degradação das terras produtivas no

semi-árido, foram conduzidos na região Nordeste, pelo Professor José Vasconcelos

Sobrinho que, no decorrer da década de 1970, publicou diversos trabalhos de

reconhecida importância para o entendimento do processo de desertificação no

Nordeste brasileiro, destacando-se entre eles a obra “O Deserto Brasileiro”.

Na década seguinte, outros trabalhos se mostraram também de fundamental

importância para o estudo da desertificação. A importância maior da produção do

Professor Vasconcelos Sobrinho, de acordo com SALES (1999), deu-se devido ao

mesmo ter se dedicado principalmente ao desenvolvimento de uma metodologia [grifo

nosso] dos indicadores de desertificação, seguindo a orientação geral da Conferência

das Nações Unidas sobre Desertificação (1977) e discutindo o que considerava ser

uma vocação pré-desértica do Polígono das Secas. Estas condições pré-desérticas

estariam associadas principalmente às condições edafofitoclimáticas naturais da região.

STERNBERDG (1982) no ano de 1958 ao falar do problema das secas, já

comparava áreas do Nordeste brasileiro com as áreas já desertificadas no sudeste dos

Estados Unidos. Esse tipo de comparação era muito comum por parte daqueles que

não detinham muitos conhecimentos acerca das secas e das características naturais do

semi-árido brasileiro.

Em 1974, o trabalho “O Deserto Brasileiro” de Vasconcelos Sobrinho, que

descrevia o PROJETO DO TRÓPICO ÁRIDO, era um estudo no qual indicava várias

25

25

áreas do Nordeste comprometidas pela desertificação, as quais foram denominadas de

Núcleos de Desertificação. Inserindo-se aí o núcleo de desertificação do Seridó como

um dos quatro núcleos de desertificação do Brasil até então.

AB’ SABER (1977) publicou um importante trabalho intitulado Problemática da

desertificação e da savanização no Brasil intertropical, no qual define que todos os

processos “pontuais ou aureolares, são suficientemente radicais para criar degradações

irreversíveis da paisagem e dos tecidos ecológicos naturais”. Eles podem ser

considerados como processos de desertificação quando ocorrerem em regiões semi-

áridas ou sub-úmidas secas no caso do Brasil.

LOMBARDO E CARVALHO (1979) publicaram importante trabalho intitulado

“Análise Preliminar das Potencialidades das Imagens LANDSAT para Estudo de

Desertificação”, quando foram analisadas as imagens obtidas em dois anos diferentes

(1973 e 1976) e em duas épocas diferentes (seca e úmida) de um mesmo ano (1976),

permitindo a identificação dos aspectos de morfologia e cobertura vegetal. A partir da

análise integrada desses elementos e de geologia e solos, foi possível a identificação

de 11 unidades ecológicas. Estas unidades foram classificadas de acordo com o seu

grau de risco de Desertificação. Este tipo de estudo fazendo uso de imagens LANDSAT

tornou-se muito comum nos últimos anos, mas muitos se detêm apenas ao estudo das

imagens não se preocupando com os fatores antrópicos que permeiam a discussão.

DUQUE (1980) denomina de “saarização” o processo de desequilíbrio ambiental

no semi-árido nordestino, fazendo referência a estudos africanos. Este processo se

inicia através da erosão dos solos, que provocam posterior empobrecimento biológico.

O limite da decadência biológica foi determinado como sendo a migração da população

humana em decorrência da falta de condições de sobrevivência. O simples

expansionismo das lavouras sem uma política conservacionista significa intensificar a

destruição e aumentar o “deserto”. Essas considerações davam-se justamente em um

período onde várias áreas do Nordeste encontravam-se degradadas em decorrência de

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26

monoculturas como a do algodão. No caso do Seridó, muitas destas áreas encontram-

se parcialmente recuperadas devido a decadência da cultura na região.

NIMER (1985) publicou o documento intitulado “Subsidio ao Plano de Ação

Mundial para Combater a Desertificação do Programa das Nações Unidas para o Meio

Ambiente (PNUMA)”, no qual faz a distinção entre os conceitos de desertização e

desertificação, diferenciando-os através de suas características climáticas, biológicas e

ecológicas, lembrando ao público que o deserto é um bioma terrestre, enquanto que a

desertificação é provocada pela irregularidade pluviométrica e pela ação antrópica. É

comum em regiões parcialmente desertificadas ouvir as pessoas difundirem a idéia de

que estas se transformarão em desertos. Nimer publicou três anos depois (1988) o

texto “Desertificação: Realidade ou Mito?”, em que apresenta as bases teóricas para os

estudos de desertificação e propõe uma metodologia de estudo baseada nos aspectos

climatológicos, geomorfológicos e pedológicos. Estes aspectos são fundamentais para

o estudo do processo de desertificação, porém devem ser levados em consideração

vários outros parâmetros antrópicos.

NERI (1982) apresenta monografia na qual analisa dados pluviométricos de São

José do Seridó – RN, no período de 1981, onde registra a direção dos ventos no

campo, fazendo uma tentativa de identificação de núcleos de desertificação em áreas

de clima BSh (KÖPPEN), com base no critério da densidade da biomassa, obedecendo

a uma metodologia de estudo regional (CONTI, 1995, p.21). Este é um estudo local no

qual são analisados alguns aspectos da área que este trabalho propõe fazer algumas

considerações, porém novamente foram analisados apenas aspectos físicos ou

naturais, sem a inclinação aos aspectos antrópicos.

FARIA (1986) publicou, no Seminário sobre Desertificação no Nordeste, o

trabalho intitulado “Identificação de Núcleos de Desertificação na Região Seridoense do

Estado do Rio Grande do Norte”, no qual faz um diagnóstico de identificação de áreas

em processo de desertificação na região do Seridó. Estas áreas ainda não foram alvo

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de nenhum trabalho sistemático que objetive o acompanhamento da evolução da

degradação que as afeta.

AUOAD (1986) descreve a desertificação como sendo a perda da capacidade do

solo em estocar águas pluviais, terminando por tornar-se estéril. Seu trabalho apresenta

uma proposta de mapeamento das áreas vulneráveis à desertificação na Bahia, mas

baseado no conceito climático de deserto. Usando índices de aridez, mapeia o estado

em diferentes regiões.

ALHO (1987) utiliza um questionário elaborado pelo PNUMA em 1982 para fazer

um levantamento prévio da situação da desertificação no Nordeste. Tem como objetivo

analisar o progresso da implementação do Plano de Ação de Combate a Desertificação.

BOA VENTURA (1986) diz que desertificação é o fenômeno que conduz

determinadas áreas a transformarem-se em desertos, ou a eles se assemelharem,

sendo originárias da pressão intensa das atividades humanas sobre ecossistemas

frágeis com fraca capacidade de regeneração. Lembramos que apesar do que Boa

Ventura coloca, nem todas as áreas em processo de desertificação necessariamente

evoluirão para a condição de deserto. Como já dito por NIMER (1980), existe uma

distinção entre os fenômenos da desertização e da desertificação.

CHAVES (1986) conceitua desertificação como sendo um processo de

degradação ambiental resultante do desequilíbrio causado normalmente pelo homem

nas relações clima-solo-vegetação.

MENDES (1987) chama a atenção para a perda progressiva do patrimônio

genético das regiões afetadas pela desertificação. Em outro trabalho (MENDES, 1997)

considera o desmatamento como o principal responsável pela perda da biodiversidade

das regiões semi-áridas.

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SILVA (1993) apresenta um trabalho monográfico no qual apresenta a

problemática da Desertificação no Nordeste do Brasil, enfocando o município de São

João do Cariri, Paraíba. Cita as causas desse fenômeno e identifica as formas variadas

em que se manifesta nos núcleos de desertificação. Relaciona causas naturais e

antrópicas no processo da desertificação. Apresenta 10 espécies vegetais invasoras,

indicadoras de desertificação.

FERREIRA et al. (1994) fazem um diagnóstico da desertificação no Nordeste,

indicando suas causas, e conseqüências, custos e áreas de ocorrência por estado,

classificando-as em áreas moderadas, graves e muito graves e apresentam um mapa

das áreas susceptíveis à desertificação.

TORRICO (1994) utiliza conceitos de uso atual do solo, uso potencial, uso

potencial sustentável e a relação uso atual/uso potencial. Com esta metodologia gera

três coeficientes: Uso, Excesso e Saturação. Partindo desta metodologia, o autor

classificou as micro-regiões do Nordeste e por Estados.

CONTI (1995) discute a desertificação enquanto fator geográfico, tanto na

condição de fenômeno natural quanto de produto das relações entre sociedade e

natureza. Propõe a utilização da metodologia das séries temporais de forma espacial

para se detectar mudanças climáticas. Mostrou em seu trabalho que alguns municípios

pesquisados vêm sofrendo decréscimo pluvial.

QUEIROZ (1997) levanta alguns complicadores para o combate à desertificação

e propõe alternativas. Neste trabalho o autor apresenta ainda o GEDS (Grupo de

Estudo sobre Desertificação no Seridó). Segundo o autor, o GEDS foi “fruto de um

processo de reflexão em torno das questões da seca, das alternativas de convivência

com a mesma, das viabilidades econômicas e do combate direto aos processos

desencadeadores da desertificação”.

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MATALLO JR. (1999) publica importante trabalho sobre a desertificação no

mundo e no Brasil, no qual descreve os núcleos de desertificação em nosso país

abordando os níveis de degradação por tipos de solo e descrevendo as áreas afetadas

em cada estado. Publica ainda uma proposta de um Sistema Básico de Indicadores

para identificação e monitoramento dos processos de desertificação na América Latina

e Caribe. Matallo baseou-se no que ele denomina de indicadores de situação (clima,

condições sociais, situação econômica e outros) e indicadores de desertificação

(biológicos, físicos, agrícolas e outros).

VASCONCELOS e MATALLO JR. (1999) abordam as perdas econômicas

provocadas pelo processo de desertificação na Região Semi-Árida do Nordeste,

estimando assim o custo da desertificação.

AMPARO E FERRAZ (1999) trabalham, de forma muito importante, a questão da

saúde em áreas susceptíveis à desertificação no Brasil. Levantaram os indicadores

sócio-econômicos das regiões afetadas, como: saneamento, renda e saúde em 129

municípios do semi-árido nordestino enquadrados como áreas sujeitas a processos

muito graves e como núcleos de desertificação.

CAVALCANTI E MORGADO (1999) abordam a questão de gênero e

desertificação, enfocando o importante papel da mulher em seu combate. Esse é um

dos trabalhos mais interessantes que tratam da temática e um dos primeiros a abordar

a questão de gênero e sua importância para o combate do fenômeno, apesar de não

tratar dos aspectos físico-climáticos.

SILVA (1999) apresenta monografia de final de Curso de Graduação, na qual faz

uma abordagem acerca do processo de desertificação nos municípios de Parelhas e

Equador - RN. Neste trabalho discutem-se os aspectos conceituais do processo de

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desertificação identificando-se algumas áreas em processo de desertificação nesses

municípios.

SOUZA (1999) em sua dissertação de mestrado analisa o fenômeno da

Desertificação na Bacia do Rio Taperoá (PB) a partir da discussão de variáveis ligadas

ao clima, vegetação, solos e alguns aspectos sócio-econômicos. Utiliza o método das

séries temporais para traçar o mapa de tendência pluvial e tentar correlacionar a

evolução climática ao processo de desertificação.

O Plano de Desenvolvimento Sustentável do Seridó, lançado pelo Estado do Rio

Grande do Norte em 2000, traz uma importante contribuição para a discussão acerca

do fenômeno de desertificação. No primeiro volume é feito um diagnóstico síntese do

problema na região e no segundo volume são sugeridas medidas de combate à

desertificação, como recuperação de áreas degradadas, criação de núcleos de

monitoramento ambiental nos municípios afetados, dentre outras. Apesar da grande

contribuição teórica, pouco foi feito desde seu lançamento para se minimizar os efeitos

da desertificação.

NEVES (2000) publica um importante informe nacional acerca do que foi

discutido sobre o processo de desertificação no Brasil em workshop no Recife-PE, em 7

de maio de 2000.

O MMA-SRH (2001) através do CONTRATO Nº BRA 1088/01 (UDSMA-

SG/OEA), lançou as diretrizes para o Projeto Piloto de Combate à Desertificação na

Região do Seridó, em que, na PARTE A do projeto, é feito uma minuciosa descrição da

região e, na PARTE B, é proposta uma infinidade de ações que, infelizmente, em sua

maioria não vieram a se concretizar, tendo sido realizadas algumas poucas ações.

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COSTA et al. (2002) faz, talvez, o mais importante Mapeamento da Fitomassa da

Caatinga Seridoense, estudo este que vem contribuir, de forma substancial, para o

estudo da desertificação, apesar de não ser o objetivo direto do referido trabalho. De

acordo com o autor, a “fitomassa, principalmente arbórea, é informação necessária em

atividades econômicas e ambientais, como políticas de uso do recurso madeireiro,

manejo florestal, estudos de ciclagem de nutrientes, absorção de CO2 , entre outros.”

Este estudo teve como finalidade a verificação de um método empírico para o

mapeamento da caatinga seridoense mediante o uso de imagens Landsat TM do

Seridó.

MMA et al. (2002) publica, juntamente com outras entidades de pesquisa, o

trabalho Avaliação e Ações Prioritárias para a Conservação da Biodiversidade da

Caatinga, no qual é feito um mapeamento da caatinga. O estudo identificou as áreas de

maior importância biológica e foram propostas estratégias de desenvolvimento e uso

sustentável.

ARAÚJO et al. (2002) lança o documento síntese da oficina de trabalho sobre

ciência e tecnologia para a sustentabilidade do semi-árido do Nordeste do Brasil,

realizado em Recife, no período de 16 a 17 de novembro de 2002. O conclave visou

enfatizar o caráter transdisciplinar necessário às pesquisas em torno das questões da

seca, da desertificação e das alternativas de uso sustentável dos recursos naturais no

semi-árido nordestino e buscar, através do efeito sinérgico, a compreensão e a

interlocução social quanto à problemática da Seca e da Desertificação.

OLIVEIRA-GALVÃO (2003) em sua tese de doutorado, analisou a integração de

variáveis geoambientais e criou indicadores ambientais que se associam ao

desenvolvimento da desertificação. Para isso, tomou como base a aplicação de

procedimentos de modelagem espacial de dados relativos à porção semi-árida

nordestina. Dentre as variáveis que utilizou, destacam-se: os aspectos geológicos,

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formas de relevo, tipos de solo dominante, dados de vegetação e formas de uso do

solo.

De acordo com a alínea “a” do Artigo Primeiro do documento Convenção das

Nações Unidas de Combate à Desertificação, esta é entendida como: “a degradação da

terra nas zonas áridas, semi-áridas e sub-úmidas secas, resultantes de vários fatores,

incluindo as variações climáticas e as atividades humanas” (CCD, 1999, p.9).

Antes do conceito dado pelas Nações Unidas, alguns pesquisadores deram sua

própria definição ao fenômeno, como é o caso de MENDES (1987, p.19), que definiu a

desertificação como sendo “o processo de diminuição ou destruição progressiva da

vida, animal ou vegetal, de uma determinada área que tende a atingir as condições de

deserto”. Sendo esta resultante da ação humana, das condições climáticas e de solo. E

ainda de acordo com este: a desertificação é um processo que tende a diminuir

progressivamente o potencial biológico das regiões áridas, semi-áridas e sub-úmidas

secas. Entende-se que seja o conceito que melhor caracteriza a realidade ambiental da

região do Seridó. Observa-se, ainda que toda desertificação provoca a diminuição da

biodiversidade, mas nem toda diminuição da biodiversidade é devida à desertificação

(MENDES, 1997, p.73).

RODRIGUES (Apud SILVA, 1993) considera que “dentro de um enfoque

sistêmico a desertificação está definida como um conjunto de causas que provocam a

perda parcial ou total do solo no ambiente físico, da biomassa no ambiente biológico e

da qualidade de vida no ambiente humano”.

DREGNE (Apud SILVA, 1993) afirma que a desertificação corresponde ao

“empobrecimento dos ecossistemas áridos, semi-áridos e sub-úmidos sob os efeitos

combinados das atividades humanas e da sêca [sic]”. Sendo que as mudanças nestes

ecossistemas acarretariam a baixa na produtividade dos solos, alterações na biomassa

e na diminuição da diversidade das espécies animais e vegetais, podendo acarretar

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ainda aumento da degradação e da diminuição da quantidade de vida das populações

humanas que habitam tais regiões.

De acordo com NIMER (1988) em muitos idiomas a palavra “deserto” tem

significados reveladores de condições ecológicas. Um exemplo citado por este é que,

nos seis idiomas oficiais das Nações Unidas, seus significados são muito semelhantes.

Em russo e em árabe as palavras “deserto" e "vazio" têm a mesma origem. Os

ideogramas chineses revelam pouca água e coisa estranha. Em espanhol, francês e

inglês, a raiz é a palavra "deserto", do idioma português. Mesmo considerando que a

palavra "deserto" tem significados múltiplos em certos idiomas, há em todos uma idéia

comum – os desertos são lugares estranhos, sem vida, desabitados, vazios.

Porém, de acordo com o padrão estabelecido pelos cientistas, entende-se como

deserto os grandes espaços terrestres com menos de 250 mm de média anual de

chuva (segundo classificação bioclimática de W. KÖPPEN), podendo alguns ter um

pouco mais ou menos. O que não é o caso do Seridó, uma vez que todos os postos

pluviométricos desta região apresentam médias pluviométricas superiores a 250

mm/ano.

É necessário para o bom entendimento deste ponto, que se distinga os dois

processos existentes, o de desertificação e o de desertização. O processo de

desertização é o processo natural de formação de deserto, logo, não está condicionado

aos fatores antrópicos, estando principalmente condicionado aos fatores climáticos e

naturais, ao contrário da desertificação que está mais ligada aos fatores antrópicos que

propriamente aos fatores climáticos. Nesse sentido NIMER (1988, p.10) contribui

dizendo que:

Deserto e desertificação, embora tenham a mesma etimologia e, de certa forma, fundamentos semelhantes, designam coisas distintas. Deserto é um fenômeno de certa forma acabado e resultante da evolução de processos que alcançaram uma certa estabilidade final, e que pode ser definido como um clímax ecológico, isto é, por uma espécie de equilíbrio homeostático natural. Desertificação, ao contrário, como a substantivação da palavra deserto indica, é um fenômeno em transformação dinâmica

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cuja evolução ambiental está apontada para a direção do deserto. Trata-se, pois, de um fenômeno espacial em desequilíbrio natural onde a retroalimentação negativa do (s) ecossistemas (s) não é totalmente recompensada pela retroalimentação positiva. Isto não significa, necessariamente, que o ecossistema em estagio de desertificação atingirá, naturalmente, o clímax de deserto.

A esse respeito LE HOUÉROU (Apud CONTI, 1995) afirma ser usual o termo

Desertização, entendido como extensão das paisagens e formas tipicamente

desérticas, excluindo desta definição os mesmos processos que ocorrem em regiões de

mais alta precipitação.

Logo, entende-se que os dois processos são distintos entre si, pois não

necessariamente uma área em processo de desertificação, como é o caso da região do

Seridó e de outros núcleos de desertificação, irão se transformar (ou evoluir) para a

condição de deserto. Para que estas regiões venham efetivamente a se transformar em

áreas de desertos é necessário acontecer mudanças climáticas constatadas ao longo

do tempo, levando o clima semi-árido da região a um clima árido, desértico, e com uma

regressão considerável no índice pluviométrico, além de mudanças nos aspectos

geomorfológicos e ambientais de forma geral.

O que acontece até o presente momento não é a evolução das condições

edafoclimáticas da região para a condição de deserto, mas sim a evolução da

degradação ambiental e da desertificação pela ação das atividades antrópicas.

O fenômeno da Desertificação pode ser visto como um círculo vicioso de

degradação crescente, onde a erosão causa a diminuição da capacidade de retenção

crescente de água pelos solos, que leva à redução de biomassa com menores aportes

de matéria orgânica ao solo; este se torna cada vez menos capaz de reter água, a

cobertura vegetal raleia e empobrece, a radiação solar intensa desseca ainda mais o

solo com o aumento do albedo e a erosão se acelera, promovendo a aridez. Trata-se

de um processo de simplificação ecológica onde a ação do homem tem tido um papel

fundamental acelerando seu desenvolvimento e agravando as conseqüências através

de práticas inadequadas de uso dos recursos naturais.

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35

4. AS SECAS E ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE AS QUESTÕES

CLIMÁTICAS

O termo "seca" se aplica a um período de tempo onde a escassez de chuva

produz um desequilíbrio hidrológico com impactos sociais, econômicos e ambientais,

sendo o seu significado muito variável, podendo assumir características locais de

acordo com a região. Uma extensa área do Nordeste brasileiro, denominada de

Polígono das Secas é atingido pelo fenômeno. Esta coincide com os limites do Bioma

Caatinga (Mapa 2).

Durante toda a história, seca sempre foi um tema que gerou inúmeros conceitos,

polêmicas e superstições, sendo, porém do nosso entendimento a definição de

(SOBRINHO, 1982, p.19) a mais condizente, este que foi um dos maiores

colaboradores para o estudo do fenômeno:

As sêcas, [sic] como ordinariamente entendemos, são fenômenos físico-sociais. Oferecem uma face física e outra humana que se entrosam mais ou menos intimamente, produzindo efeitos de ordem social, cuja morfologia é função de algumas variáveis independentes; destas, as mais importantes são a densidade demográfica da região assolada e o nível cultural das populações atingidas.

SOBRINHO destaca ainda que, ao ocorrer uma grande estiagem em

determinada região deserta, evidentemente esta não ocasiona repercussão social; o

fenômeno é simplesmente de ordem física ou geográfica. Mas se esta ocorrer em uma

região densamente povoada, como é o caso do semi-árido nordestino e

especificamente da região do Seridó, as conseqüências serão drásticas, variando de

acordo com o nível cultural de cada comunidade. Logo, aquelas comunidades que

tiverem um nível cultural e técnico mais desenvolvido sofrerão menos com os efeitos

das secas. O que nos leva a pensar que talvez uma das alternativas para esta

problemática seja o desenvolvimento técnico da região juntamente, com o

desenvolvimento cultural e principalmente, educacional das comunidades sujeitas ao

fenômeno, ao contrário do que historicamente tem sido feito pelos vários órgãos que

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atuam no “combate” a este fenômeno, que sempre investiram em políticas paliativas.

Nos últimos tempos os órgãos governamentais mudaram a forma de encarar o

fenômeno, deixando de utilizar o termo “Combater a Seca” para “Convivência com a

Seca”. Isto se dá pelo fato de que se trata de um fenômeno natural que não depende

das ações humanas para ocorrer.

A seca constitui um problema muito antigo, pois relatos históricos informam que

os indígenas lutaram muito contra este fenômeno, migrando para o litoral em busca de

alimentos nos períodos de grandes estiagens. Graças a estas andanças, os indígenas

contribuíram para a disseminação de espécies que antes existiam somente no litoral e

agora também existem no interior, como é o caso do cajueiro (Anacardium occidentale)

que hoje existe nas serras centrais (SANTOS, 1994).

De acordo com ALVES (1982), os primeiros colonizadores lusos testemunharam

a luta dos Tabajaras, adventícios litorâneos, e dos Kariris, estes últimos indígenas

sertanejos, que acossados pelos efeitos das secas, famintos, errantes, viviam em

contínuos entrechoques com tribos do Jaguaribe, do Apodi e do Açu, justificando, de

acordo com este autor, o porquê das tribos darem preferência ao litoral e às margens

dos principais rios, o que gerava sangrentas disputas.

Os relatos das secas só começam a ser registrados depois da entrada dos

colonos nas terras de criação, antes ocupadas pelos indígenas (ALVES, 1982), o que

os torna raros e pontuais neste período. Daí em diante a literatura nacional sobre as

secas no Nordeste brasileiro tornou-se muito vasta, contando inclusive com trabalhos

de vários pesquisadores estrangeiros, que, aliás, estão entre os primeiros a

despertarem interesse por este fenômeno, ainda quando da colonização.

De acordo com a bibliografia consultada acerca desta temática, pôde-se chegar

a um total de 174 secas registradas entre pontuais e gerais, (Quadro 1) sem contar com

as de 1990 a 1993 e a 1997 a 1999 que foram descritas recentemente. De acordo com

o DNOCS Apud (BOTELHO, 2002) ocorreram 42 secas neste mesmo período. Os

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dados levantados ultrapassam, em muito, os dados oficiais, sendo tal fato atribuído à

existência de muitas secas pontuais que não foram levadas em conta pela maioria dos

pesquisadores.

Quadro 1 - Secas Totais e Parciais

Século XVI 8 Secas

Século XVII 19 Secas

Século XVIII 47 Secas

Século XIX 57 Secas

Século XX 43 Secas

Total 174 Secas

Fonte: MEDEIROS, 2002.

Olyntho José Meira, então Presidente da Província do Rio Grande do Norte, de

1863 a 1866, demonstrou grande preocupação com o problema da seca no Nordeste,

que desde aquela época já trazia sérias conseqüências para o povo que vivia no

Sertão. Em seu trabalho, Olyntho aborda temas como chuvas, secas, clima, importância

da construção de açudes, preservação das matas, animais e os estudos

meteorológicos. Apesar de não ser um estudo científico, é um importante relato que tem

servido de base para inúmeros estudos na área.

Um dos mais importantes trabalhos sobre as secas é o de Thomaz Pompeu

SOBRINHO (1982), que lançou o livro História das Secas (Século XX). Neste livro o

autor descreve o fenômeno das secas contando a história dos órgãos e suas ações na

tentativa de “combater” este fenômeno.

ROSA (1982), em um artigo resultante de uma palestra no XXI Congresso

Brasileiro de Química, sugeriu várias alternativas, para tentar resolver o problema das

secas no Nordeste. Destacando-se a de pulverizar as nuvens que vêem do litoral com

cloreto de sódio (sal de cozinha) para promover a precipitação no interior do Nordeste.

Experimento que não deu muito certo devido a pouca quantidade de água nas nuvens

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em determinados períodos, sem falar no risco de promover a salinização de algumas

áreas.

Felipe Guerra, em vários artigos publicados no Jornal A República no ano de

1932, descreveu o flagelo das Secas no Nordeste e, principalmente, no Estado do Rio

Grande do Norte. Este escritor relatou o sofrimento, as injustiças e a agonia do povo

que clamava por ajuda dos Governos de então, em seu importante livro “Seccas contra

as Seccas”, editado no começo do século passado e em muitos outros artigos.

ARANHA (1989) coordenou um interessante trabalho sobre a Problemática da

Seca no Rio Grande do Norte, que fez parte de um programa de estudos da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, ao qual vários estudiosos deram sua

contribuição para melhor entender e encontrar soluções para o problema das secas no

Estado.

De acordo com MENDES (1985) no semi-árido nordestino existem dois tipos de

seca: a estacional, que ocorre todos os anos, no segundo semestre e que faz parte do

regime hidrológico e climático da região e as secas periódicas, que ocorrem de tempos

em tempos e que impedem a produção agrícola e prejudica a pecuária. O intervalo de

tempo entre as secas periódicas varia muito, bem como a sua duração. De acordo com

a sua distribuição e intensidade elas podem se apresentar de três formas: seca total,

parcial (seca verde) e seca hidrológica. Entende-se que a seca não é somente um

fenômeno atmosférico que atinge há milhares de anos o Nordeste brasileiro, mas, que

nesta região do globo especificamente, imprime uma conotação social de grande

importância, haja vista atingir, de forma direta, uma enorme população humana e

animal.

Muitas foram as ações implementadas no Nordeste brasileiro, na tentativa de se

combater as secas e seus efeitos. Desde o Império, quando Dom Pedro II mandou

construir o açude do Cedro, em Quixadá-CE, na tentativa de minimizar os efeitos

devastadores das secas na região, que o Governo Central tenta resolver a

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problemática. Desde então, muitas ações foram implementadas, que vão das chuvas

artificiais até o plano de emergência, criado para ocupar a mão-de-obra faminta na

construção de estradas e açudes por todo o Nordeste. Segundo ANDRADE (1982), os

programas de emergência são a prova do subdesenvolvimento brasileiro, pois, ao invés

dos Governos investirem em políticas que visem resolver o problema, investem em

ações mitigatórias ou paliativas. A grande maioria das políticas e projetos

implementados no semi-árido brasileiro visava o “Combate” ao fenômeno da seca e não

a convivência ou a melhoria da qualidade de vida das populações que habitam a região.

A história das secas no Nordeste brasileiro está marcada pelo assistencialismo

dos governos e o clientelismo regional que dificultaram a solução da problemática e

criaram o que muitos estudiosos denominaram de “Política da Seca”. Pode-se citar o

exemplo da ação governamental em algumas secas, com o número de trabalhadores

rurais nas frentes de trabalho (emergência) criadas pelo Governo Federal durante os

anos de seca, como ocorreram nas de: 1958 (550.000 alistados nas frentes de

emergência), 1970 (500.000 alistados nas frentes de emergência), 1979-1983

(3.000.000 alistados nas frentes de emergência) e 1993 (2.000.000 alistados nas

frentes de emergência). A seca de 1958, atingiu cerca de 6 milhões de pessoas, a de

1970 foram 5,5 milhões, em 1979-83 foram 16 milhões e em 1993 cerca de 12 milhões,

demonstrando que o número de pessoas atingidas pelo fenômeno vem sendo cada vez

maior devido ao aumento populacional e sempre maior que o número de pessoas

assistidas pelos programas assistencialistas (PROJETO ARIDAS, 1995).

40

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4.1. Clima Semi-Árido

O clima3, de acordo com CONTI (1995, p.40), é o resultado de um processo

complexo envolvendo atmosfera, oceano, superfícies sólidas (vegetadas ou não), neve

e gelo, apresentando enorme variabilidade no espaço e no tempo.

Durante o Período Quaternário ocorreram diversas mudanças climáticas de caráter

cíclico, que afetaram de forma diferente todo o globo, sendo mais conhecidas as formas

frias, denominadas glaciares, intercaladas por fases mais quentes, as interglaciares

(CONTI, 1995, p.42). Desde então, o clima tem sofrido inúmeras modificações até

chegar no caso da semi-aridez do Nordeste do Brasil. Esta região apresenta vários

tipos climáticos, cujo principal fator de diferenciação é a precipitação (quantidade e

intensidade). Estes podem variar do Aw4 (quente e úmido com estação chuvosa no

verão e estiagem no inverno) ao BSh (semi-árido quente). O clima do Seridó norte-rio-

grandense é classificado como BShw’, de acordo com o mapa climático do Nordeste

(GUERRA, 1982).

No Seridó Norte-Rio-Grandense as máximas de chuvas ocorrem nos meses de

março e abril. Nestes meses mais chuvosos as precipitações vêm da Massa Equatorial,

ME, que sopra de Oeste para Leste e de norte para Sul. Em junho, são chuvas que vêm

de Leste para Oeste. Estas são de pouca profundidade no território do Rio Grande do

Norte (FRANCO, 1985).

3 A Organização Meteorológica Mundial (OMM), desde 1959, definiu o clima como sendo “o conjunto flutuante das condições atmosféricas, caracterizadas pelos estados e evolução do tempo no curso de um período suficientemente longo para um domínio espacial determinado” (OMM, 1959) 4 Segundo Classificação de Köppen

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4.2. El Niño

O El Niño é um fenômeno oceânico e atmosférico que ocorre devido ao aumento

anormal da temperatura na superfície do mar na costa Oeste da América do Sul

durante o verão, chegando a atingir todo o hemisfério sul. Provoca alterações climáticas

de diversas magnitudes em todo o mundo, inclusive no Nordeste brasileiro, onde pode

vir a causar o prolongamento das secas (figura 1). Em outras regiões ele ocasiona

temporais e inundações. Esta denominação era utilizada, a princípio, para descrever a

corrente quente que se dirige para o sul da costa peruana.

Esta ocorrência de águas quentes foi identificada séculos atrás por pescadores

peruanos, que deram o nome de El Niño (menino, em espanhol) ao observarem anos

em que ocorria uma enorme diminuição na quantidade de peixes, sempre próxima ao

Natal (fazendo referência ao nascimento do menino Jesus). Porém, data de 1891 o

artigo do Dr. Luis Carranza, Presidente da Sociedade Geográfica de Lima, chamando a

atenção para o fato de que “os marinheiros do Porto de Paita, que freqüentemente

navegam ao longo da costa da América do Sul em pequenas naus, deparavam-se com

uma contracorrente ao longo da costa peruana que estava associada a fortes chuvas

que transformavam o deserto local em ”esplendorosos jardins”, possibilitando assim a

prática da agricultura, então chamados de ”anos de abundância“.

O conquistador espanhol Frâncisco Pizarro, por volta de 1525, já tinha relatado

fenômenos semelhantes e Gilbert Walder tentou associar aquele fenômeno oceânico

local a outros parâmetros atmosféricos de escala global.

Normalmente o fenômeno ocorre em intervalos de dois a sete anos,

apresentando uma anormalidade quanto à temperatura na superfície durante um

período de doze a dezoito meses. Ocorre que os ventos alísios sopram em direção à

Ásia (de leste para oeste), ocasionando nesta área do Oceano Pacífico o "empilhando"

das águas mais aquecidas no setor Oeste do mesmo. Quando isto ocorre, o nível do

oceano na Indonésia fica cerca de meio metro acima do nível da costa oeste da

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América do Sul, onde na primeira, a temperatura é cerca de 8ºC acima da região da

Indonésia. Já na costa Oeste da América do Sul, as temperaturas das águas ficam mais

frias devido às correntes frias que ascendem do fundo do oceano como ilustrado na

Figura 2. Estas correntes são ricas em nutrientes, o que faz com que normalmente seja

uma região de rica fauna aquática.

De acordo com BOTELHO (2002, p.117), além do aumento das águas do

Oceano Pacífico, o El Niño provoca também um abaixamento do “jet-stream”, é uma

corrente de ventos que normalmente sopra de oeste / leste e se situa a 10 km de

altitude com velocidade de 200 km/h. Esta, por sua vez, pode impedir que as frentes

frias provenientes do Pólo Sul atinjam as baixas latitudes, e se movam além da linha do

Trópico de Capricórnio, geralmente ocasionando fortes inundações nas regiões Sul e

Sudeste do Brasil e a falta de chuvas no semi-árido nordestino. BOTELHO (2002,

p.123), acredita que o El Niño seja, na verdade, um fator condicionante do clima

nordestino e não determinante, uma vez que no ano de 1981, período em que o El Niño

esteve presente ocorreram boas chuvas. Desde o ano de 1505 até o momento, 47

(quarenta e sete) ocorrências do El Niño não propiciaram seca, como nos anos de 1924

(considerada a maior estação chuvosa), 1926, 1940, 1976 etc., quando foram

registradas grandes precipitações pluviais mesmo com a presença do fenômeno...”.

O EL NIÑO ocorrido em 1982-83 foi o mais forte do século passado e deixou um

saldo de mais de 30 mil desabrigados, 2.000 mortos pela fome, e um prejuízo

econômico que ultrapassou os US$ 8 bilhões (BOTELHO, 2002).

De acordo com VALIENTE (Apud SOUZA,1999), embora o fenômeno El Niño

não seja o único fator explicativo das secas no Nordeste, é essencial para explicar tal

ocorrência, pois quando este é muito forte sempre vem acompanhado de secas na

mesma proporção, embora quando moderado só se produza seca em um terço das

ocasiões.

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Figura 1 – Áreas atingidas pelo El Niño no Mundo

Fonte: Colégio Rainha da Paz, 2003.

Figura 2 Condição de El Niño no Pacífico

Fonte: INPE/CPTEC, 2003.

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No Rio Grande do Norte, existe uma tendência a ocorrência de secas nos anos

que não ocorrem El Niño, ou seja, nos anos em que não ocorrem anomalias térmicas

da superfície marinha (ATSM) do oceano pacífico, como pode ser visto na Figura 03.

Porém, sempre que ocorre o aumento das temperaturas do Oceano Pacífico,

decorrentes da diminuição dos ventos alísios, ocorrendo El Niño, as precipitações

pluviométricas no Nordeste e principalmente no Rio Grande do Norte tem sido mais

elevadas.

Figura 3 – Relação das Chuvas no Rio Grande do Norte com a ocorrência de El Niño

Fonte: BRISTOT, 2003.

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5. CARACTERIZAÇÃO DA REGIÃO DO SERIDÓ

O Seridó norte-rio-grandense está localizado na unidade de paisagem

denominada de Depressão Sertaneja e compreende aproximadamente 6.970,60 km2,

geograficamente situada ao Sul do estado, cercada ao Norte pela Serra de Santana, a

Leste pelas encostas da Chapada da Borborema, a Oeste pela Serra de João do Vale e

ao sul com o estado da Paraíba (Mapa 3).

O relevo é bastante acidentado, com predominância de afloramentos cristalinos,

inselbergs de rochas graníticas e gnaisses, denominados de “serras” e “serrotes”, em

meio a terrenos rebaixados com pequenas e esparsas manchas de solos aluvionais.

Quanto à caracterização geomorfológica, SILVA (1999, p.29) descreve como

sendo:

A região do Seridó, do ponto de vista geomorfológico, se apresenta inserida na classificação de geótopo, definido por Ab’Saber (1977) como lajedos, mares de pedra e campos de inselbergs. Este é caracterizado por combinar a aridez rochosa com a degradação imposta pelo homem, dando a esta região um aspecto semi-desértico.

Segundo DUQUE (1980, p.37) a região do Seridó:

(...) caracteriza-se por possuir uma vegetação baixa, muito espaçada, com capim de permeio, em solo de gnaisse, granito e micaxisto muito erodido, arenoso e seco; as espécies dominantes são: faveleiro, umbuzeiro, maniçoba, pinhão-bravo, pereiro, céreus e pilocéreus, gramíneas silicosas, mimosas e caesalpináceas, representando as leguminosas; os seixos rolados existem por toda à parte e as massas de granito redondo sobressaem aqui e ali, demonstrando como a erosão lenta, através de séculos, deixa vestígios ciclópticos.

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A região do Seridó teve seu povoamento iniciado no fim do século XVII, quando

da guerra dos bárbaros, ou, como os cronistas mais românticos preferem,

“confederação dos cariris”, que durou de 1685 a 1712 (SANTOS, 1994, p.68). Depois

de exterminados os índios que habitavam as ribeiras do Seridó, por volta do ano de

1676, são doadas as primeiras datas de sesmarias na região e começam também a

chegar os primeiros desbravadores civilizados, vindos de Pernambuco (Goiana e

Igaraçu) e da Paraíba (MEDEIROS, 1980, p.16). Estes desbravadores iniciaram o

povoamento através da criação extensiva do gado bovino. O clima seco na maior parte

do ano proporcionava um ambiente salutar aos rebanhos, a isto se juntavam às

pastagens naturais abundantes e a existência de boa quantidade de aguadas nos

cursos d’água da região. Dá-se, então, início a um longo ciclo denominado de “ciclo do

gado”. É importante frisar que se seguem a este os ciclos do Algodão (o chamado ouro

branco) e da Mineração, que deram suporte ao desenvolvimento econômico, social e

político da região. Apesar da redução brusca na produção e estagnação no crescimento

desses ciclos, a criação de gado e a mineração, juntamente com outras atividades,

ainda formam a base da economia da região.

É uma região de clima semi-árido quente e seco (Bsh – Segundo Köppen), com

precipitação média em torno dos 497mm anuais no posto pluviométrico de Cruzeta,

com variações que vão de 127mm a 916mm por ano (Mapa 4), com curta estação

chuvosa concentrada no período de janeiro a maio. Deve-se ressaltar que as chuvas

não são distribuídas regularmente na região, podendo ocorrer enxurrada de mais de

100mm em um único dia, em um determinado local e a menos de 5km não chegar a

chover uma única gota d’água. De acordo com DUQUE (1980, p.47):

esta terra recebe quase 3.000 horas de luz solar por ano, castigada por ventos que variam de 2 a 20km por hora e sujeita a um deflúvio médio de 73.000 metros cúbicos d’água por quilômetro quadrado de captação, o que nos revela a força do intemperismo.

Os solos secos no verão se aquecem até 60ºC. A temperatura média das

máximas é de 33ºC e a das mínimas é de 22ºC (Mapa 5). O índice de aridez é elevado,

correspondendo a 3,3 conseqüentemente, possui uma alta taxa de evapotranspiração

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que pode variar dos 1400 aos 1800mm/ano (Mapa 6). (DUQUE, 1980, p.47). A umidade

relativa do ar situa-se entre os 69% (Mapa 7), podendo chegar a atingir valores mínimos

de até 27% .

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Dependendo da época do ano, estas variações climáticas causam, além de

problemas relacionados ao meio ambiente natural, problemas relacionados ao conforto

humano e a saúde das populações. Estas características edafoclimatológicas fazem

com que o Seridó seja uma região frágil, sujeita mais do que outras, aos processos de

degradação e conseqüentemente de desertificação.

O Seridó está localizado na zona cristalina, onde o armazenamento de água

subterrânea somente se torna possível quando a geologia local apresenta fraturas ou

falhas e uma cobertura de solos residuais significativa, o que não ocorre de forma

homogênea em toda a região. Os poços perfurados apresentam uma vazão média

muito baixa, em torno de 3,05 m3/h e uma profundidade de até 60m, com águas

comumente apresentando alto teor salino, de 480 a 1.400mg/l com restrições para

consumo humano e uso agrícola. Para compensar o teor de salinidade da água foram

instalados alguns dessalinizadores em várias comunidades rurais, o que se tornou um

problema para algumas delas, pois os resíduos decorrentes do processo de hidrólise

são depositados de forma aleatória e usados até para irrigação, o que tem ocasionado

a salinização de algumas áreas de vazante. Sem falar que a falta de manutenção dos

equipamentos tem deixado muitas comunidades sem este benefício. A região conta

também com zonas de aqüífero de Aluvião, que se apresenta disperso, sendo

constituído pelos sedimentos depositados nos leitos e terraços dos rios e riachos de

maior porte (RIO GRANDE DO NORTE, 1999).

A região do Seridó está dividida administrativamente em duas microrregiões

geográficas delimitadas pelo IBGE, valendo a pena salientar que esta configuração foi

sendo moldada no decorrer dos séculos pelo processo de ocupação da região, sendo

elas o Seridó Ocidental e o Seridó Oriental abrangendo uma superfície de 6.970,60km2,

com 17 municípios (SEPLAN, 2000; v.1, p.30), conforme especificado a seguir e no

(Mapa 8).

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Conforme citado no Plano de Desenvolvimento Sustentável do Seridó, a região

do Seridó apresenta aspectos físico-climáticos bastante específicos, como por exemplo,

do ponto de vista hidrográfico, por dispor de uma rede fluvial constituída por rios

intermitentes. Devido a esta peculiaridade e à grande quantidade de açudes

construídos na região, hoje se enfrentam problemas mais de gestão do que de falta

d’água propriamente dita (Mapa 9). Esta é talvez a região semi-árida do mundo com a

maior quantidade de açudes.

É uma região pertencente ao embasamento geológico cristalino, o que impede o

acúmulo da água em lençóis freáticos, salvo nas condições já citadas. Os solos são

rasos, predominando os Bruno Não-Cálcicos ou Luvissolos (SILVA, 2000, p.79),

caracterizados pela escassa capacidade de retenção de água e alta suscetibilidade a

erosão. São solos ricos em sais minerais, porém pobres em matéria orgânica o que faz

com que sua aptidão agrícola seja limitada e dependente do regime hídrico. São solos

considerados, em sua grande maioria, inaptos para o cultivo agrícola de culturas de

ciclo longo, sendo possível na maioria das vezes apenas culturas de ciclo curto, embora

estas dependam do regime hidrográfico das chuvas, que, como já citado, são bastante

irregulares.

De acordo com o Consórcio Tecnosolo & CEP (Apud SEPLAN, 2000, p.32) “o

tipo de agricultura e as práticas culturais primitivas, não adaptadas ao manejo

adequado do solo, vêm diminuindo progressivamente a capacidade produtiva dos

solos...”. Isto demonstra a necessidade da criação de políticas que incentivem as

culturas adaptadas às condições edafoclimáticas da região e a urgente ação de

recuperação das áreas já degradadas.

Ainda segundo o Plano de Desenvolvimento Sustentável do Seridó, a população

do Seridó cresceu extraordinariamente desde a consolidação do Município de Vila do

Príncipe (atual Caicó). De um total de 3.630 habitantes, em 1782, passou para 6.276

(em 1824), 15.921 (em 1855), 31.281 (em 1872), 40.514 (em 1890), 41.800 (em 1900),

85.840 (em 1920), 127,027 (em 1940) e 140.459 (em 1950), (Medeiros, 1952, p.9-10).

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Respeitando os aumentos resultantes da ampliação do número de municípios, a

população do Seridó elevou-se para os 289.767 habitantes, ali residentes em 1996.

A região caracteriza-se pela vegetação de caatinga hiperxerófila, composta por

cactos espinhentos, arbustos espaçados com capim de permeio e manchas desnudas,

em terra do Arqueano, muito erodida e áspera.

De acordo com FAIRBRIDGE Apud (CONTI, 1995, p.48) a vegetação de

caatinga durante o último período glacial (Würm / Wisconsin) Teria ocupado uma

extensão maior que a atual ocorrendo nos Planaltos do Brasil Central, sendo hoje essas

áreas ocupadas por vegetação de Cerrado.

Os seixos rolados existem por toda a parte e as massas de granito redondo

sobressaem, aqui e ali DUQUE, (1964, p.61). Os ecossistemas seridoenses são partes

integrantes dos Ecossistemas das Caatingas e Florestas Deciduais do Nordeste,

diferenciando-se destas devido à fragilidade e ao grau de degradação. A maior parte

desta degradação dá-se devido à pressão exercida pelo uso da vegetação como

recurso energético.

A fauna é variada, abrangendo grupos de áreas abertas, desde mamíferos até

insetos, sendo este grupo dominante, incluindo ordens aquáticas, por conta da extensa

rede de açudes. Porém, esta fauna encontra-se bastante degradada, tendo em vista

que as baixas condições sociais em que vive grande parte das populações locais,

principalmente as rurais, fazem com que se utilizem deste recurso para suprir suas

carências alimentares e, conseqüentemente, sobreviver às intempéries locais. Nos anos

de seca principalmente, a caça torna-se muitas vezes a única opção. Junta-se a isso o

comércio ilegal de carnes de animais silvestres por bares especializados da região e até

da capital do Estado (VARELA-FREIRE, 2002, p.9).

As plantas arbustivas e arbóreas da caatinga apresentam alta resistência à seca

em virtude de possuírem diferentes mecanismos anátomo-fisiológicos que minimizam

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os efeitos da falta de chuvas por ocasião das secas estacionais e periódicas. A

adaptação das plantas à semi-áridez da região é proporcionada pela presença de

xilopódios, raízes pivotantes, raízes tuberosas e superficiais, troncos suberificados,

caules suculentos clorofilados, folhas modificadas em espinhos, folhas cerificadas,

cutículas folheares espessas, folhas pequenas e caducas, mecanismos especiais de

abertura e fechamento dos estômatos, processo fotossintético do CO2 durante a noite,

ciclo vital curto, sementes que apresentam estado de dormência elevado e por outras

modificações anatômicas e fisiológicas (MENDES, 1997, p.37).

De acordo com o Plano de Manejo Florestal para a Região do Seridó (Projeto

PNUD/FAO/IBAMA/BRA/87/007), a vegetação do Seridó está dividida em quatro tipos

vegetais, sendo: Tipo 1: Áreas de agricultura, pastagem ou pousio; Tipo 2: Áreas de

vegetação natural rala; Tipo 3: Áreas de vegetação natural semi-densa; e Tipo 4: Áreas

de vegetação natural densa. Sendo a predominante a de Tipo 1, com cerca de (76,4%)

da área. Sendo este primeiro o que possui as maiores áreas já degradadas, porém os

tipos 3 e 4 são os que mais têm sofrido com o desmatamento, por se tratarem estes de

áreas que possuem maior quantidade de lenha, apesar do difícil acesso de algumas

áreas de onde ela é retirada. Mas como constatou o devido Plano de Manejo Florestal,

muitas áreas que deveriam ser preservadas por se tratarem de áreas de proteção

permanente, por serem áreas de encostas, pelo menos de acordo com a Legislação.

Estas estão sendo desmatadas para fornecer lenha para as indústrias locais e para o

consumo humano, o que tem contribuído dentre outras coisas para aumentar

significativamente o escoamento superficial decorrente da falta de vegetação e,

conseqüentemente, os processos de erosão dos solos (BRASIL, 1992).

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6. DESERTIFICAÇÃO E A DEGRADAÇÃO AMBIENTAL: O CASO DO SERIDÓ NORTE-RIO-GRANDENSE

Desde a década de 70, a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste –

SUDENE, desenvolve estudos na região do Seridó, além de outras áreas do Nordeste,

no intuito de tentar diagnosticar as áreas mais susceptíveis ao processo de

Desertificação, uma vez que dentro dos núcleos existem áreas em vários estágios de

desertificação.

Os primeiros estudos na região surgiram na tentativa de identificar e diagnosticar

as principais áreas em processo de desertificação na região do Seridó. Podemos citar

(FARIAS, 1986) que, em um estudo realizado entre 1978/79, caracterizou-se a área da

região do Seridó e apresentou uma proposta de trabalho para região.

GALVÃO (1991) propôs uma metodologia de estudo da região do Seridó-RN e

de Gilbués-PI, através da utilização de imagens LANDSAT.

Outro importante estudo é de NERI, (1982), no qual analisou os dados

pluviométricos e a velocidade do vento em campo no município de São José do Seridó

e identificou núcleos de desertificação pelo critério da densidade da biomassa, fazendo

uma tentativa de identificação de núcleos de desertificação em áreas de clima BSh

(KÖPPEN).

Para o desenvolvimento deste estudo foi acrescentada à área delimitada pelo

Ministério do Meio Ambiente como sendo o núcleo de Desertificação do Seridó o

município de Cruzeta, devido identificar que este apresenta um quadro de degradação

bastante avançado, possuindo várias atividades econômicas que, como nos outros

municípios, corroboram para atenuar o processo na região. Com isso, a área delimitada

como núcleo de desertificação do Seridó passa a abranger uma área de 4.271,9 km2 e

suporta uma população de 152.452 habitantes, o que dá uma densidade populacional

de 28 hab/km2, ou seja, uma média superior a de toda a região do Seridó que é de

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24,05 hab/km2. (Tabela Nº 1). Destacam-se como estando em processo acelerado de

desertificação os municípios de Equador, Parelhas, Carnaúba dos Dantas, Caicó, São

José do Seridó, Cruzeta, Acari e Currais Novos.

Porém, outros municípios da região apresentam áreas pontuais bastante

degradas em decorrência de atividades antrópicas, embora estes ainda não disponham

de estudos mais específicos, ficando fora desta classificação.

Tabela Nº 1– População x Área dos Municípios

Atingidos pela Desertificação

Municípios População Área (km²)

Habitantes por km²

Acari 11.189,0 610,3 18,3 Caicó 57.002,0 1.215,1 46,9 Carnaúba dos Dantas 6.572,0 245,2 26,8 Cruzeta 8.138,0 288,4 28,2 Currais Novos 40.791,0 883,3 46,2 Equador 5.664,0 312,0 18,2 Parelhas 19.319,0 523,5 36,9 São José do Seridó 3.777,0 194,1 19,5 Total 152.452,0 4.271,9 241,0

Fonte: IBGE - Dados Censo 2000.

Em decorrência do alarmante processo de desmatamento da caatinga na região

Seridó, o espaçamento natural entre a vegetação tem aumentado significativamente,

expondo ao sol grandes manchas de solo, o que tem contribuído para o aumento do

albedo5. Graças a isso, o fluxo de calor que penetra no solo é maior, ocasionando o

superaquecimento da camada superior do solo, que pode atingir temperaturas próximas

dos 60ºC nos períodos mais quentes do ano, acarretando assim a perda de matéria

orgânica presente nesta camada. Estas manchas que surgem em decorrência do

desmatamento da caatinga aumentando o albedo são as características fundamentais

5 Albedo: O Albedo é uma medida do poder de reflexão de uma superfície, ou seja, a fração de radiação solar incidente que é refletida pela superfície.

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que revelam os núcleos de desertificação do Seridó, pois é justamente nestas áreas

onde os solos estão mais degradados e onde os processos de erosão são mais fortes.

Figura 4 – Área Degradada no município de Caicó, 2002. Fonte: Acervo do Autor

Existem, de acordo com TRICART, (1959); TAVARES DE MELHO, (1983) Apud

SILVA, (1993), três tipos predominantes de intemperismo físico ou mecânico (esfoliação

peculiar) no semi-árido que são responsáveis pela desagregação granular das rochas,

dando origens às frações médias, grosseiras e finas.

O material mais fino é levado pelas águas do escoamento superficial, que tem nas regiões semi-áridas um papel importante na morfogênese, para as partes mais baixas e espalham-se seletivamente. Estes processos areolares são responsáveis pelos extensos pediplanos ligeiramente inclinados de topos esbatidos e recobertos por seixos, alem disso, o escoamento superficial é responsável por processos de erosão tais como, sulcos e ravinamentos e pela erosão em lençol que decapa [sic] os horizontes superficiais do solo. Esses processos que normalmente caracterizam a morfogênese semi-árida vêm-se acelerados pelo homem através de suas ações diretas e indiretas (TRICART, (1959); TAVARES DE MELO, (1983) e SILVA, (1993).

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Os solos da região do Seridó variam entre os Planossolo Sológico, Bertissolo e

Bruno não Cálcico (MEUNIER, 2000, p.04), sendo o último predominante. Os solos

Bruno não Cálcico caracterizam-se por serem solos rasos, não hidromórficos, com

argila de atividade alta, sendo Eutróficos, com horizonte A de consistência muito dura

quando secos, estrutura maciça ou em blocos fracamente desenvolvidos, seguidos por

um horizonte B pouco espesso. São solos que de acordo com (SILVA, 2000, p.79),

apresentam uma tendência natural muito forte a erosão, apresentado um escoamento

superficial médio (L600 = 37 mm), podendo variar quando erodido para (L600 = 60mm ou

superior) (Figura 5).

Figura 5 – Esquema do aumento do albedo na Caatinga em decorrência do espaçamento entre a vegetação, ocasionado pelo desmatamento.

Fonte: Elaborado pelo Autor

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Durante o ano de 2000, só a atividade ceramista consumiu cerca de 106.500 m3

de lenha por mês e cerca de 174.000t de argila. Todo esse consumo tem causado

sérios danos, tanto à vegetação quanto aos solos das regiões em processo de

desertificação. Corroborando principalmente para o aumento do espaçamento entre a

vegetação o que acreditamos que venha a contribuir futuramente para o aumento das

temperaturas médias que, já são bastante elevadas.

Para se ter uma idéia do quanto são altas as temperaturas, nos meses mais

quentes em algumas cidades como Caicó, chega-se a marcar 42ºC à sombra e mais de

50ºC a superfície do solo desnudo. (Dados da estação pluviométrica da UFRN/CERES

de Caicó, 2003).

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7. INDICADORES DA DESERTIFICAÇÃO NO SERIDÓ

De acordo com CONTI (1995), é necessário que sejam estabelecidos

indicadores para se entender a problemática da desertificação, pois só através destes

será possível a sistematização dos seus estudos. Isso, claro, é uma opinião de todos os

pesquisadores e Instituições que corroboram com as pesquisas acerca do processo de

Desertificação.

MATALLO JR. (1999) estabeleceu indicadores agrícolas de situação e de

desertificação na tentativa de uniformizar os procedimentos de identificação e

monitoramento dos processos de desertificação na América Latina, sendo:

Indicadores de Situação:

→ Clima (Precipitação; Insolação e Evapotranspiração).

→ Sociais (Estrutura de idades; Taxa de Mortalidade Infantil; Nível Educacional).

→ Econômico (Renda Per Capta).

→ Outro (Uso do Solo).

Indicadores de Desertificação:

→ Biológicos (Cobertura Vegetal; Estratificação da Vegetação; Composição

Específica; Espécies Indicadoras).

→ Físicos (Índice de Erosão; Redução da Disponibilidade Hídrica).

→ Indicadores Agrícolas

→ Uso do Solo Agrícola

→ Rendimento dos Cultivos

→ Rendimento da Pecuária

→ Outro (Densidade Demográfica).

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Esta divisão adotada por Matallo Jr. é uma das mais interessantes, uma vez que

leva em consideração uma boa quantidade de indicadores, sendo porém necessário

bastante tempo para sua aplicação e o trabalho de uma equipe multidisciplinar.

REINING Apud (ACCIOLY, 2003) também estabeleceu um quadro dos

indicadores de desertificação, sendo este talvez mais completo que a anterior (Quadro

2).

Quadro 2 - Outros Indicadores dos processos de desertificação de acordo com a natureza da variável

Natureza da Variável Variável Indicadores

Solo Profundidade efetiva; Matéria orgânica; Presença de crostas; ocorrência de tempestades de areia; salinidade e alcalinidade

Água Profundidade e qualidade da água subterrânea; Extensão e persistência das águas superficiais; Condições de drenagem (descarga e tubidez)

Física

Superfície do terreno Reflectância (albedo)

Vegetação Cobertura; Biomassa aérea; Produtividade; Distribuição e freqüência de espécies relevantes

Biológica ou Ligadas à agricultura Animais Espécies relevantes; População de animais domésticos;

Composição do rebanho; Produção

Uso da Terra e da água

Irrigação; Agricultura dependente de chuvas; Pastoreio; Mineração; Exploração de lenha e madeira; Uso da água; Turismo

Modelo de ocupação

Ocupação recente; Ocupação em expansão; Sedentarização; Ocupação diversificada; Área em processo de abandono

Parâmetros biológicos humanos

Índices de estrutura e demografia da população; Índices de saúde pública; Condições nutricionais da população

Social

Parâmetros de processos sociais

Conflitos; Migração; Modelo de distribuição das terras; Agricultura de mercado versus agricultura de subsistência

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Quanto a outros indicadores, esbarram na falta de pesquisas específicas que

possam comprovar a sua atuação na região. Apesar de alguns parâmetros climáticos

como precipitação, umidade relativa e temperatura serem sensíveis, ainda não se

verificou alterações significativas, talvez por falta de pesquisas científicas com tal

finalidade ou por não terem ocorrido ainda.

Alguns dos indicadores citadas por MATALLO JR. (1999), CONTI (1995) e

ACCIOLY (2003) são identificadas na região do Seridó, como é o caso do escoamento

superficial. Onde de acordo com dados do Consórcio Tecnosolo & CEP, 1999, alguns

açudes da região do Seridó apresentam tendência crescente de assoreamento, como

pode ser observado na Tabela nº 2.

TABELA Nº 2

PERDA DA CAPACIDADE DE ARMAZENAMENTO EM % AÇUDE 2000 2010 2020

Boqueirão 7,06 12,64 18,82

Caldeirão de Parelhas 32,35 42,16 51,96

Cruzeta 62,89 71,74 80,60

Dourado 43,60 67,85 92,05

Gargalheiras 45,99 57,21 68,42

Passagens das Traíras 35,90 41,45 46,95

Itans 21,47 24,77 28,07

Sabugi 11,25 14,47 17,62

Rio da Pedra 10,30 16,73 23,17

Fonte: Plano de Desenvolvimento Sustentável do Seridó. Volume 1, diagnóstico. Caicó-RN, 30 de setembro de 2000, p.66.

Lembramos que os açudes foram introduzidos na região ainda quando da sua

colonização e trouxeram uma sensação de estabilidade hídrica para as populações o

que foi um grande engano. Estes, até o século XIX eram construídos com recursos

próprios. Apenas a partir das primeiras décadas do século passado, as autoridades

federais, munidas da idéia de que a solução para região semi-árida nordestina era

construir açudes, passaram a investir pesadamente na construção de açudes através

de subsídios e prêmios dados aos proprietários dispostos a construí-los.

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Essa disseminação desmedida e sem planejamento de açudes criou a idéia de

que cada córrego da região deveria ser represado sem haver a preocupação por parte

dos proprietários ou do governo com o tamanho ou a profundidade dos mesmos, o que

ocasionou o adensamento de reservatórios que mesmo transbordando durante o

período das chuvas, não conseguiam suprir a demanda no período de estiagem e, por

conseguinte ocasionaram a morte dos grandes reservatórios, uma vez, que devido a

grande quantidade de pequenos açudes a jusante faz com que menos água consiga

chegar até os reservatórios.

Hoje um dos maiores problemas da região constitui-se na grande quantidade de

açudes espalhados pelos cursos d’água da região, algo em torno de duas unidades por

km2 de superfície MEDEIROS (2003, p.05), o que, se calculado o volume de todos os

reservatórios, serviria para suprir toda a demanda para abastecimento humano, porém

isso não ocorre devido à falta de ligação entre os mesmos e também devido estarem

em sua maioria localizados longe das zonas urbanas.

Outros indicadores como; aumento do albedo, sobrepastoreio, mineração,

cerâmicas, olarias, carvoarias, desmatamento, agricultura com técnicas rudimentares,

bem como perda progressiva da biodiversidade, também podem ser facilmente

identificados na região do Seridó.

Acreditamos que as causas da desertificação no Seridó estão ligadas a

indicadores ou agentes naturais como: clima, solo, relevo, dentre outros e a fatores ou

indicadores antrópicos, como a utilização dos recursos naturais da região. Destaca-se

entre os fatores naturais:

1. Baixo índice pluviométrico, que varia dos 127mm aos 916mm por ano,

com média de 497 mm/ano.6

6 Dado fornecido pela estação INEMET em Cruzeta – RN.

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2. Distribuição irregular das chuvas no tempo e no espaço, sendo comum na

região, como já citado, chover em um local e em uma distância de menos

de 10km não haver nenhuma precipitação.

3. Temperatura elevada do ar.

4. Temperatura do solo muito alta, podendo atingir máxima de 60ºC, o que

inviabiliza qualquer chance de sobrevivência vegetal que dependa

diretamente do horizonte A do solo.

5. Ventos quentes, secos e com elevadas velocidades médias (15 a 25

km/hora).

6. Alta evapotranspiração, em torno de 1400 a 1800 mm/ano. (Mapa 6)

No caso do Seridó, os agentes antrópicos são os que mais corroboram para o

processo de Desertificação na região. Estão atrelados principalmente a questões

econômicas o que torna a sua regulação mais difícil, não sendo possível pregar o fim

destes, uma vez que são atividades que empregam uma grande quantidade de

pessoas. Os agentes antrópicos do Seridó podem ser classificados da seguinte forma

(Figura 6):

Figura 6 - Classificação dos Agentes Antrópicos de Degradação

Fonte: Elaborado pelo Autor

Agentes Antrópicos

Agricultura e Criação

Cerâmicas e Olarias

Fábricas e Indústrias

Mineração e Garimpos

Pedreiras e Caieiras

Padarias

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8. AGENTES DE DEGRADAÇÃO AMBIENTAL

Ao cabo de mais de 300 anos de exploração predatória dos recursos naturais no

Seridó, de uma violenta exploração física e do baixo padrão de vida de boa parte da

população seridoense, a região demonstra sinais claros de desgaste e degradação.

A Região apresenta um quadro natural ecologicamente muito frágil e

conseqüentemente favorável à Desertificação, como já citado, e está sendo degradada

de forma muito rápida, especialmente pelas atividades econômicas ai desenvolvidas.

Na abordagem dos agentes antrópicos procurou-se caracterizar e entender o

papel de cada um, individualmente, bem como a sua distribuição geográfica, para que,

em um segundo momento, se pudesse entender o papel de todos.

8.1 Atividade Agropecuária

A pecuária foi o fator responsável pela ocupação de todo o sertão nordestino. No

seridó como não podia ser diferente, esta foi a responsável pelo povoamento da região,

onde os sesmeiros foram atraídos pelas terras propícias à criação e fixaram-se após

terem vencido a indiada desenvolvendo a criação de gado para corte. Teve seu apogeu

durante os séculos XVII e XIX, deixando de ser a principal atividade econômica do

Estado quando da seca de 1877 a 1879, considerada pelos cronistas como a maior

seca da história do Brasil (SANTOS, 1994, p.68). Esta vitimou não só os rebanhos,

como também a população dos sertões, que, refugiaram-se nas capitais nordestinas.

Estima-se em no mínimo 500mil mortos em decorrência desta calamidade.

A pecuária e o desenvolvimento de outras atividades ligadas a essa, como o

beneficiamento do leite, fabrico de queijos, plantação de capim, desmatamento para

criar pastagens, dentre outras, vem sendo desenvolvidas desde a época das capitanias

hereditárias até hoje e apresentam-se até os dias atuais como sustentáculos da

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economia desta região. A região do Seridó norte-rio-grandense forneceu gado para as

Capitanias de Pernambuco, Itamaracá e da Paraíba. As atividades pastoris juntamente

com a atividade algodoeira foram de fundamental importância para assegurar o

assentamento das famílias que se instalaram no Seridó durante o seu povoamento.

(SEPLAN, 2000: v.1, p.33).

A figura do vaqueiro (Figura 7) tem um papel fundamental na formação da

personalidade forte do homem seridoense, que foi moldado pelas adversidades

impostas pelas condições naturais da região. Muitas foram as formas de adaptação

criadas pelo homem seridoense, indo desde a casa de taipa, construída com os

materiais disponíveis no lugar, a forma de organização social, as vestimentas e festas

de apartação, bem como a religiosidade. No início da colonização, predominava o gado

de corte, que era criado visando abastecer de carne e de couro, os mercados

consumidores do litoral, principalmente Recife, surgindo mais tarde o gado leiteiro e

conseqüentemente seus derivados.

Figura 7 – O Vaqueiro - Adaptado do GALANTE, Scriptorin Candinha Bezerra/Fundação Hélio

Galvão, 2000.

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O gado, teve outro papel fundamental para região do Seridó, que foi o comércio

de víveres e de seus derivados. Eram transportados pelos tropeiros sendo estes os

responsáveis pela abertura das primeiras trilhas e estradas que cortaram o Sertão, daí

surgiram muitos locais de pousio para os vaqueiros que vieram a se tornar cidades.

O domínio do gado durou mais de cem anos, tendo sido o ciclo econômico mais

marcante na cultura do povo seridoense, tanto na culinária, nas festas, vestimenta,

cultura e jeito de ser. Capistrano de Abreu descreveu muito bem este ciclo interpretado

pelo poeta popular Moisés Sesiom (LAMARTINE, 1980, p.161):

Dá sapato e dá gibão,

Toda obra o couro dá.

Dá manta, bota e silhão,

Dá chapéu, dá bandoleira,

Dá corona e dá perneira,

Dá sapato e dá gibão.

Pra se fazer matulão

O couro é como não há,

Serve até pra caçuá.

Dá peia, dá rabichola,

Se prendendo a couro ou sola

Toda obra o couro dá.

A poesia popular dá conta de mostrar como tornou-se importante o gado na vida

do povo seridoense. Tudo que o homem precisava naquela época o gado ou o

ambiente fornecia, desde a vestimenta ao alimento. Apesar de ter havido sucessão de

outros ciclos econômicos e novas atividades econômicas terem despontado, a pecuária

ainda tem um papel fundamental na manutenção do homem no campo, sendo a base

principalmente da agricultura familiar e da pequena propriedade, apesar de não ser

executada mais nos moldes de antigamente. O surgimento do cooperativismo deu uma

conotação industrial a uma atividade antes completamente rural, o gado de corte deu

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lugar ao gado leiteiro, tornando a região uma das mais importantes bacias leiteiras do

Estado. Onde, as cooperativas compram o leite produzido pelos pequenos produtores e

industrializam e distribuem.

A pecuária e a cotonicultura (cultura do algodão) foram as primeiras atividades

econômicas implementadas na região a contribuírem de forma pontual para o processo

de desertificação. O consórcio gado-algodão foi muito prejudicial para a vegetação

nativa, bem como para os solos, uma vez que eram expostos e pisoteados pelo gado,

juntava-se a derrubada da matas para o plantio de algodão. Mas, foi um consórcio bem

sucedido do ponto de vista do criador, uma vez que aproveitavam a “torta”, feita com o

caroço do algodão e das folhagens para complementar alimentação do gado.

A cultura do algodão começa a ter expressividade a partir de 1865, quando a

produção e a exportação superaram a lavoura da cana-de-açúcar, onde muitos

senhores de engenho trocaram a lavoura da cana pelo plantio de algodão nos sertões.

(SANTOS, 1994, p.94). A cotonicultura foi impulsionada mais ainda com a Guerra da

Secessão nos Estados Unidos da América (1862 a 1965), quando este impossibilitado

de exportar para a Inglaterra deu lugar às exportações do Rio Grande do Norte o que

fez com que a produção crescesse.

O plantio do algodão foi tão intenso no Seridó que um de seus municípios

recebeu o nome de Ouro Branco em homenagem a tão importante cultura, que era

conhecida na época de seu apogeu com “o ouro branco do Seridó”. Ficou conhecida

também pela qualidade da fibra do algodão mocó produzido, superior a de espécies

existentes no mundo inteiro. Esse apresentava uma ótima fibra que propiciava a

confecção de tecidos de qualidade superior aos demais. Durante o seu apogeu o

algodão “venceu o gado” (MEDEIROS, 1980, p.28), a que substituiu, como elemento de

vida econômica fundamental na manutenção das populações seridoenses, que se

entregaram ao seu cultivo, sendo fundamental para a fixação do homem ao campo,

tendo em vista ser acessível ao pequeno agricultor. Este plantava, colhia e vendia a

produção para as indústrias de descaroçar algodão que estavam espalhadas por quase

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todas as cidades da região. Hoje estas resumem-se a prédios abandonados e mal

conservados.

A cultura algodoeira inicia o seu declínio depois do fim da guerra da Secessão,

quando perde o lugar de destaque na pauta de exportação do estado e

conseqüentemente na receita, caindo de 269.192$429 em 1865-1966 para

186:888$755 no ano seguinte (SANTOS, 1994, p.95). Associa-se ao declínio outros

fatores, como, a concorrência com outras áreas produtoras no país e no mundo, a

introdução e o cruzamento de outras espécies de algodão, o que teria causado a queda

da produtividade e principalmente a praga do bicudo, atingindo de forma maciça todo o

Nordeste.

Na região predomina uma combinação de grandes e pequenas propriedades e é

a região semi-árida do mundo com maior número de açudes. A elevada população

humana para as condições físicas locais contribui para que o homem rapidamente

esgote as riquezas naturais aí existentes. É comum a prática da venda de áreas de

solos férteis para a atividade ceramista pelos pequenos proprietários. Vendem-se

justamente os melhores solos existentes onde, no período de chuvas, normalmente

pratica-se a agricultura de subsistência. De acordo com o Senhor João Barbosa Filho,

53 anos, agricultor no município de Currais Novos de onde também é natural, este é o

ultimo recurso que lhes resta antes de deixar as suas terras e migrar para a cidade mais

próxima em busca de emprego para tentar sobreviver. O homem do campo tem

consciência e percebe a degradação que causa vendendo os solos férteis de suas

pequenas propriedades, como podemos ver nas suas palavras:

Sabemos que se vendermos a terra boa, no ano que chover nós não poderemos plantar, pois não vai ter terra e as terras que restam são tabuleiros onde só nasce xique-xique, mas não tem outra saída, ou fazemos isto ou abandonamos tudo e vamos morar na cidade. Os mais moço já foram tudo embora estudar e não querem mais voltar para trabalhar na terra não!

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A fronteira agrícola da região do Seridó aumenta a uma proporção de 5% a cada

18 anos MMA, (1992, p.2.14) o que mostra que, apesar de ser uma região de

dimensões não tão grandes e de fragilidades ambientais conhecidas e comprovadas, o

desmatamento e a conseqüente degradação crescem a cada ano em decorrência de

atividades econômicas e/ou ligadas à agricultura e à pecuária.

8.2 Atividade Ceramista

De acordo com ZANDONADI Apud NESI e CARVALHO (1999), a cerâmica

vermelha, também denominada cerâmica estrutural, engloba todos os produtos

derivados da queima de argila e que apresentam cor vermelha após a queima a 950ºC.

A atividade Ceramista é considerada pela maioria dos estudiosos como a

atividade que mais corrobora para degradar a região do Seridó norte-rio-grandense.

Esta afirmativa justifica-se no fato de que a mesma degrada em duas frentes: na

utilização da lenha nativa como matriz energética e na utilização dos solos aluviais para

a confecção de artefatos cerâmicos.

Entendemos assim como solos aluviais:

As argilas com alto teor de impurezas, cuja composição mineralógica é uma mistura argilo-mineral de caulinita, ilita, esmectita, matéria orgânica e minerais acessórios, como quartzo, mica, carbonatos e outros, e uma apreciável quantidade de compostos de ferro, sendo estes os responsáveis pela cor vermelha característica dos produtos, que resulta da oxidação destes compostos presentes ou liberados pela argila durante a queima (NESI e CARVALHO, 1999, p.39).

O Seridó apresenta pequenos depósitos aluviais situados às margens dos rios e

riachos, principalmente nos municípios de Currais Novos, Carnaúba dos Dantas, Acari e

Parelhas. Já estão sendo utilizadas por algumas cerâmicas da região as argilas

provenientes dos açudes, destacando o açude público de Cruzeta e a Barragem

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Marechal Dutra na cidade de Acari, que são atualmente responsáveis pelo

abastecimento de grande parte das cerâmicas da região.

A viabilidade do uso da argila de açude se dá principalmente devido ao alto

potencial de assoreamento apresentado por alguns reservatórios da região, como visto

na Tabela nº 2. De acordo com os dados expostos nesta Tabela, alguns açudes

apresentam um potencial de assoreamento bem superior à média da região, o que

demonstra ser uma tendência crescente.

Acredita-se que isto se dê em virtude da velocidade com que a água escoa das

encostas da Serra de Santana, na porção norte da Sub-bacia do Rio Seridó, que

encontra logo à sua frente o barramento do açude Dourado, em Currais Novos, em

seguida o Gargalheiras, em Acari, e depois o Cruzeta, na Cidade de mesmo nome. Não

só a velocidade do deflúvio seria a responsável por estes altos índices de

assoreamento, mas também o desmatamento da mata ciliar e de circunvizinhas são

responsáveis pelo aumento de sedimentos nos leitos dos rios e riachos da região.

Logo, do ponto de vista do setor ceramista, a utilização de argila de açude nada

mais é do que o aproveitamento de um recurso originário de um processo de

degradação das matas ciliares, que precisa, em médio prazo, ser contido. E uma das

soluções seria o uso desta matéria prima pelo setor.

A utilização deste recurso tem causado, a degradação e gerado conflitos nas

áreas de vazante dos reservatórios que servem para o plantio de hortifrutigranjeiros e

de capim para o gado quando o volume dos reservatórios encontra-se baixo. Essas

áreas são de fundamental importância para a manutenção dos pequenos agricultores

que vivem as margens dos reservatórios.

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Figura 8 - Cerâmica Totoró no Município de Currais Novos, 2003.

Fonte: Acervo do Autor

A atividade ceramista (Figura 8) emprega atualmente mais de 2.500 pessoas de

forma direta sendo que a maior parte da produção é exportada para outros estados. A

produção do município de Carnaúba dos Dantas, por exemplo, segue para as cidades

de: João Pessoa – PB, 29% da produção; Campina Grande 7%; Recife 14%; Maceió

22%; Arapiraca 4%; Aracaju 14% e Salvador 5%. (Silva, 1999: 87) (Mapa 9)

Existem na região do Seridó cerca de 106 “núcleos” ceramistas MEDEIROS

(2003, p.07) distribuídos por quase todos os municípios da região, como demonstra a

Tabela nº 3, sendo que destes, 81 são Cerâmicas e 25 são Olarias.

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Tabela 3 – Distribuição das Cerâmicas e Olarias no Seridó

Cidades Cerâmicas Olarias

Acari 4 - Caicó 5 - Carnaúba dos Dantas 17 - Cruzeta 7 2 Currais Novos 4 3 Equador 2 - Ipueira 1 - Jardim de Piranhas 2 - Jardim do Seridó 13 7 Ouro Branco 2 - Parelhas 21 1 São Fernando - - Santana do Seridó 2 2 São João do Sabugi - 6 São José do Seridó 1 4 Total 81 25 Fonte: MEDEIROS, 2003.

No ano de 2000 existiam, de acordo com pesquisa do Sebrae-RN, cerca de 1597

cerâmicas em funcionamento no Estado do Rio Grande do Norte (Tabela 4), sendo que

destas, 77 estavam localizadas na Região do Seridó. Esse dado se encontra bastante

desatualizado, como demonstram os dados da (Tabela 2). Como pode ser visto, esse é

bem superior, principalmente se levado em consideração que a atividade ceramista

engloba a indústria cerâmica e a olaria.

7 Esse número de 159 pode variar para 160 de acordo com dados apresentados pelo Sindicerâmica-RN no mesmo ano. A verdade é que não existe um cadastro detalhado e atualizado de todos os núcleos ceramistas do Estado do Rio Grande do Norte.

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Tabela 4 – Situação das Cerâmicas no ano de 2000

SITUAÇÃO ATUAL EM 2000 EMPRESAS

Cerâmicas em Atividade 159

Cerâmicas em implantação/reimplantação 12

Cerâmicas paradas 14

Cerâmicas desativadas 21

Total 206

Fonte: MEDEIROS, 2003.

Além de ser responsável pelo desmatamento em grande escala que acomete a

região do Seridó e pela extração de argilas férteis causando crateras no solo e,

conseqüente, processos de erosão (Figura 9), a atividade ceramista tem ocasionado

outro grande problema decorrente da pouca tecnificação da produção, o que gera

grande quantidade de perda no processo produtivo. Esta é decorrente da mão-de-obra

desqualificada e de falhas no processo produtivo. Os regeitos da atividade ceramista

têm sido jogados às margens das estradas, desrespeitando completamente as leis

ambientais, como pode ser visto na Figura 10.

Figura 9 Área degrada com avançado processo de erosão laminar e em

sulcos, na qual é possível ver o horizonte R do solo, 2003. Fonte: Acervo do Autor

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Alguns municípios não possuem cerâmicas instaladas, como é o caso de São

José do Seridó, porém os efeitos desta atividade podem ser sentidos nesta cidade, já

que foi fornecedora de lenha para as cerâmicas de Parelhas, Carnaúba dos Dantas,

Acari e Cruzeta durante muito tempo, sendo visíveis os efeitos da devastação. Hoje

apenas as cerâmicas de Cruzeta consomem lenha vinda desse município. Ouro Branco

é outra cidade que está tendo a sua cobertura vegetal degradada pela atividade

ceramista, pois ceramistas de Jardim do Seridó compram lenha de fazendeiros desse

município e até de Santa Luzia na Paraíba.

Figura 10 Rejeitos de telhas amontoados às margens da estrada RN 086 próximo de Parelhas/ RN

Fonte: Acervo do Autor

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8.3 A Atividade Panificadora

A atividade panificadora caracteriza-se pela produção de produtos derivados do

trigo, como pães, bolos, bolachas etc. Esta se fixou na região do Seridó a partir da

primeira metade do século XX. O pão é o principal alimento de grande parte da

humanidade. Hoje o pão faz parte da dieta alimentícia da maioria das famílias

seridoenses. Este, muitas vezes, tem substituído itens que historicamente sempre

fizeram parte da dieta alimentar do povo seridoense, como o cuzcuz de milho, a tapioca

de goma de mandioca (Manihot esculenta) e muitos outros que foram herdados da

cultura indígena e que eram feitos a partir do milho e da mandioca cultivados na própria

região, diferentemente do pão, que é feito a partir do trigo importado de outras regiões

do Brasil ou de outros países.

Esta atividade econômica existe em quase todos os municípios da região e

aqueles que não possuem padarias adquirem o pão, bolachas, biscoitos e outros

subprodutos de municípios vizinhos, as distâncias percorridas para viabilizar a produção

podem ultrapassar os 100km.

Atualmente existem cerca de 50 panificadoras8 no Seridó, (Mapa 11) formando

uma grande rede de distribuição de seus produtos por toda a região e até fora dela.

O consumo de lenha por parte das cerâmicas e panificadoras está destruindo

rapidamente, não só os solos de aluviões, que são os solos mais férteis da Região e

onde os pequenos agricultores plantam suas lavouras. Está ocorrendo também à

extinção, de espécies vegetais, e de espécies animais, que dependem da vegetação

para sobreviver, como é o caso da abelha jandaíra (Melipona subnitida) dentre outras,

que faz seu ninho no tronco das árvores que são cortadas e queimadas aleatoriamente

8 O processo industrial de elaboração do pão compreende três operações principais: a formação da massa, a fermentação e o cozimento ao forno. A farinha de trigo é misturada à água ou leite, e à massa assim obtida adiciona-se sal e manteiga ou óleo vegetal e em seguida o fermento. A mistura é feita por meios mecânicos que garantem a preparação de uma massa uniforme, cuja temperatura e grau de umidade são atentamente controlados.

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todos os dias. Tem-se que levar em consideração que grande parte das abelhas da

caatinga são endêmicas e está intrinsecamente associada a vegetação, o que torna a

situação mais difícil de ser equacionada.

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8.4 Atividade Mineradora

O Seridó possui mais de meio século de história mineral, onde essa atividade já

faz parte do cotidiano de muitos seridoenses. Em quase toda família existe uma pessoa

que trabalhou ou trabalha na atividade mineradora. As marcas dessa atividade podem

ser vistas, tanto no cotidiano das pessoas, como na arquitetura de algumas cidades que

se prepararam para recebê-la. Isto se deve ao fato de ser o Seridó uma Região

riquíssima em recursos minerais, que são, relativamente, ainda pouco explorados.

A atividade mineradora na região teve início com a exploração de minerais

industriais como: o tungstênio, o berilo, o tântalo, o ouro, o nióbio, dentre outros. A

sociedade e a economia do Seridó devem boa parte do seu progresso a indústria

extrativa mineral, principalmente à mineração de tungstênio. Outros minerais também

impulsionaram a Região do Seridó, como o nióbio e tântalo9, estanho, bismuto, lítio,

ouro e berilo.

Apesar do grande potencial mineral da Região do Seridó, esta só veio a se tornar

uma atividade regular no início da década de 30, quando compradores da Alemanha

começaram a adquirir na região, os chamados minerais estratégicos, extraídos de

pegmatitos, representados principalmente pelo berilo, columbita, tantalita, cristal de

rocha e mica (DANTAS Apud SEPLAN, 2000. v.1, p.79-80).

Por conta das demandas durante a II Guerra Mundial os recursos minerais que já

eram explorados tiveram aumento de exploração. Neste período ocorre também a

descoberta da scheelita, mineral de tungstênio, que passou a ser o produto mais

importante para a economia mineira do Seridó. A mineração apresentava-se como uma

atividade com baixo nível de industrialização, caracterizada principalmente pela

garimpagem de minerais de pegmatitos e de tungstênio. Sua importância pode ser

9 O mineral de tântalo, é hoje um dos principais minerais extraídos na Região do Seridó, sendo responsável pela grande difusão dos garimpos. Muito tem contribuído para assegurar a permanência do garimpeiro na Região evitando o processo de migração. O tântalo é um mineral muito duro utilizado na fabricação de ligas especiais.

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aquilatada pelo número de empregos então gerados, calculados como abrangendo um

contingente de mais de 10.000 trabalhadores (DANTAS Apud SEPLAN, 2000. v.1,

p.80).

No Seridó, a atividade mineradora esteve concentrada em Currais Novos e aos

poucos ganhou níveis modernos de industrialização e de agregação tecnológica.

Embora, no início da década de 60, a atividade demonstrasse certa decadência, o

quadro tornou-se mais uma vez favorável em virtude das políticas de desenvolvimento

regional adotadas pela SUDENE, que estabeleceu prioridade para apoiar

financeiramente a exploração de minerações locais em várias sub-regiões do Nordeste,

já que a mineração é uma importante atividade econômica.

A década de 1970 começou com uma alta significativa nos preços da scheelita

no mercado externo, ativando as atividades desse sub-setor da mineração seridoense.

Nesta década ocorreu também a ampliação do mercado interno nacional como

resultado do processo de industrialização impulsionada pela política governamental de

substituição de importações em curso na Região Sudeste do País. A economia mineira

baseada na scheelita consolidou-se nesse que foi o seu melhor período de

desenvolvimento. A Mina Brejuí, em Currais Novos, chegou a exportar no ano de 1944,

957.466 toneladas de sheelita, tendo sido este o pico máximo de toda a sua história

produtiva. (Gráfico 1).

O declínio iniciou-se na década de 1980. O valor da produção caiu drasticamente

e continuamente, atingindo em 1995 o seu pico máximo com cerca de 89,9%, quando

comparado com os anos anteriores. As causas destas variações negativas foram

provocadas pela queda dos preços no mercado internacional da scheelita, wolframita,

tantalita e berílio, que influenciaram fortemente o mercado brasileiro, afetando a

produção interna. A scheelita, considerada como o carro chefe da mineração do Estado

do Rio Grande do Norte, foi bastante afetada, ocorrendo daí o fechamento das

principais minas de scheelita de Currais Novos, devido à baixa demanda por parte do

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setor metalúrgico nacional e da excessiva oferta de tungstênio no mercado

internacional proveniente da China.

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Com a queda brusca da atividade mineradora no Seridó, a cidade de Currais

Novos perdeu a sua maior fonte geradora de emprego e renda. Muitas famílias ficaram

desempregadas e o fluxo migratório, que antes existia no sentido de outras cidades da

Região para Currais Novos, passa a ser inverso, ou seja, as pessoas passam a migrar

de Currais Novos para outros municípios, principalmente para Natal. A população de

Currais Novos tinha um crescimento anual maior que 2% e hoje possui um crescimento

de 0,12%. Isso demonstra o quanto à cidade perdeu com o fim desta importante

atividade. Outros municípios da região também já apresentam decréscimos

populacionais, decorrentes do declínio da mineração.

Atualmente, as cidades que antes viviam da atividade mineradora vivem do

comércio, da cerâmica vermelha e da prestação de serviços. Isto se dá pela ótima infra-

estrutura deixada pelas minerações, como bancos, hospitais, saneamento, comércio,

calçamento, dentre outros benefícios.

A região do Seridó possui uma das mais ricas jazidas minerais do Brasil, com a

vantagem de ser muito diversificada, não sendo a scheelita o único mineral de

importância para a economia da Região. A indústria extrativa mineral do Rio Grande do

Norte como um todo continua dependente da exploração da scheelita e da tantalita.

Para o caso particular do Seridó, as possibilidades estão relacionadas à exploração de:

→ Matérias primas para cerâmicas vermelhas, concentradas no chamado pólo de

Parelhas; 10

→ Matérias-primas para cimento, cal e agricultura; 11

→ Matérias-primas para vidros (feldspato, quartzo e quartzito, dentre outros);

→ Matérias-primas para cargas minerais (caulim, feldspato e mica, além de outros);

10 A exploração das matérias-primas para a cerâmica vermelha está naturalmente submetida a fortes restrições ambientais. Trata-se de uma questão que envolve decisões políticas específicas, pois a extração dessa matéria prima constitui uma fonte de renda e de emprego, para a qual ainda não foram encontrados substitutos. As razões para a extração da argila por parte dos proprietários rurais têm sido explicadas como resultado da falta absoluta de alternativas econômicas. Os pequenos agricultores vendem a parte mais fértil de suas terras por preços baixíssimos, tornando-as verdadeiros desertos. 11 O Seridó possui uma das maiores jazidas de calcário dolomítico do estado, com mais de 80km de extensão, entre os municípios de Currais Novos, Acari, Cruzeta, Jucurutú e Florânia.

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→ Matérias-primas para a indústria química (espodumênio e rutilo/ilmenita);

→ Matérias-primas para a construção civil (areia quartzosa, argila, granitos e

granitóides, mármore e quartzito/metaconglomerado)

→ Gemas (como a água-marinha, esmeralda, ametista e turmalina, dentre as mais

importantes);

→ Pegmatitos diversos (com destaque para a caulinita, tantalita-columbita, berílio,

cassiterita, granada, espodumênio, bismuto nativo, sericita, mângano-tantalita e

fluorita, dentre os principais). (MORAIS, 1999, p.30-37.)

Um exemplo de desenvolvimento é a cidade de Currais Novos, que através da

Mina Brejuí e Barra Verde principalmente (Figura 11), foi uma das cidades do Seridó a

enfrentar um grande crescimento econômico em poucos anos devido à atividade

mineradora, o que pode ser demonstrado inclusive em sua arquitetura. Houve uma

grande mudança nos estilos arquitetônicos existentes antes da mineração, que utilizava

o estilo colonial, e que, após as atividades mineradoras, passou a ter traços mais

modernos. No setor cultural as pessoas mudaram inclusive os seus hábitos e costumes.

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Figura 11 Mina Brejuí, 2003 – Acervo do Autor

Atualmente, a mineração de tungstênio está sendo realizada na forma de

garimpos por toda a Região do Seridó, sem controle algum ou fiscalização. Os próprios

órgãos responsáveis pela legalização das atividades mineradoras no estado dizem não

ter conhecimento da atividade do garimpo no Seridó.

Por estarem associados às mesmas formações geológicas, o tungstênio e a

tantalita são os dois minerais atualmente mais explorados na região pelos garimpeiros.

Em 2002 o preço do kg (quilograma) da tantalita chegou a custar à cifra de R$ 500,00

(quinhentos reais), vindo logo em seguida a se estabilizar ao preço de R$ 80,00 (oitenta

reais). O grande problema da atividade garimpeira são os danos ambientais

ocasionados pela baixa tecnificação da atividade e as condições insalubres em que

trabalham os garimpeiros (Figura 12).

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As grandes minerações encontram-se em grande parte com suas atividades

minerais temporariamente paradas. Apesar das limitações indicadas a este respeito,

refere-se ao aproveitamento dos rejeitos da mineração, hoje considerados um sério

problema ambiental. Em lugar de constituir problema, aqueles rejeitos – que estão fora

do subsolo – representam, hoje, “a maior mina de tungstênio do Brasil” (Figura 13). Seu

aproveitamento requer a elaboração de um projeto de caracterização tecnológica

adequadamente estudado. Todo o processo de concentração ali utilizado era

gravimétrico. O rendimento da extração do tungstato variava de 80 a 85% desse

minério. Assim, de 15 a 20% do produto final a ser beneficiado encontra-se hoje na

superfície do solo em torno das minas.

Figura 12 Garimpo no município de Currais Novos, 2002.

Fonte: Acervo do Autor

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Figura 13 Duna de rejeito da Mina Brejuí em Currais Novos, 2002.

Fonte: Acervo do Autor

Em outros municípios do Seridó, onde a atividade da grande mineração

não foi implementada de forma tão intensa, outras atividades minerais tem atuado de

forma mais pontual, como é o caso da atividade caieira, pedreiras e garimpos. (Figura

14) Esta, também é consumidora de lenha e materiais minerais e utiliza técnicas

rudimentares de produção, concorrendo assim para implementar o processo de

desertificação.

É, porém uma atividade que apesar de ser potencialmente degradadora, como

as demais, apresenta-se como importante fonte de renda, principalmente para o setor

informal e de mão-de-obra pouco qualificada.

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Seus efeitos, não incidem somente no meio ambiente natural, mas também no

meio ambiente humano, principalmente corroborando para prejudicar a saúde daqueles

que trabalham sobre as altas temperaturas dos fornos, sujeitos a acidentes de trabalho

e a diversas doenças causadas pelo pó do calcário e pela fumaça gerada através da

queima. São utilizados diversos materiais para a queima da cal, quando a madeira está

escassa faz-se uso de pneus velhos e outros materiais.

Figura 14 – Forno de cal no município de caicó, 2003.

Fonte: Acervo do Autor

8.5 O Desmatamento

O desmatamento constitui o maior problema da região do Seridó, em decorrência

de ser o ato responsável pelo fornecimento da matriz energética de grande parte das

atividades industriais da região. A lenha, que é retirada de forma indiscriminada e com o

mínimo de fiscalização por parte do IBAMA, devido ao reduzido número de agentes e à

falta de estrutura. Existem exemplos na cidade de Parelhas onde alguns ceramistas já

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estão tendo dificuldades em conseguir lenha para manter suas indústrias funcionando.

Estes estão recorrendo a madeiras como avelós (Euphorbia tirucalli L.) que possui um

baixo teor calorífico e não proporciona uma queima homogênea da cerâmica, fazendo

com que a qualidade dos artefatos produzidos seja inferior.

Os solos são pobres em matéria orgânica, pedregosos a excessivamente

arenosos o que juntamente com a falta d’água, condicionaram o aparecimento de uma

cobertura vegetal raquítica, espinhenta e seca denominada caatinga (MENDES, 2000).

As áreas afetadas pelos processos de desertificação na região do Seridó

apresentam vegetação reduzida, tanto com relação ao porte quanto em número de

plantas, sendo comum o nanismo de algumas espécies, como o pereiro (Aspidosperma

pyrifollium). A pobreza e o rebaixamento da cobertura vegetal diminui o atrito, de

maneira que a movimentação do ar junto à superfície do solo é mais livre e

conseqüentemente os processos de erosão laminar são mais severos nestas áreas

(CONTI, 1995, p.30).

Nota-se também o aumento do espaçamento natural entre as plantas, como

pode ser observado (Figura 15). O desmatamento tem corroborado para o aumento do

albedo e principalmente do escoamento superficial e conseqüente processo de erosão

laminar e em sulcos, não sendo este segundo o mais comum tendo em vista a pouca

profundidade dos solos da região o que não propiciam a formação de sulcos e/ou

grandes crateras como é comum em regiões de solos sedimentares, porém o processo

de erosão laminar é o mais comum e também o mais prejudicial a região do Seridó,

tendo em vista que este atua diretamente na camada superficial do solo, fazendo com

que os não só sedimentos sejam carreados, mas também a camada mais fértil do solo.

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Figura 15 Área em processo de desertificação no município de São José do Seridó, 2003.

Fonte: Acervo do Autor

Com relação à composição florística do semi-árido nordestino, são poucas as

espécies florísticas de grande significação econômica como produtora de madeira de

lei, embora a caatinga seja abundante em plantas forrageiras e produtoras de lenha,

carvão e estacas para cerca (MENDES, 1983).

O Desmatamento é uma prática comum na região, tanto para fazer pasto para o

gado, como para retirada de lenha para servir de fonte energética das várias atividades

econômicas, bem como para o consumo humano. É fácil ver o homem do campo

fazendo “coivaras” para limpar a terra para fazer pasto para o gado quando chover o

que é uma prática muito prejudicial tanto aos solos quanto a manutenção da

biodiversidade (Figura 16). No Seridó quase toda casa na zona rural tem um fogão de

lenha que é usado com mais freqüência do que o a gás, que quando existe é apenas

para cozinhar coisas rápidas ou quando chega visita, no dia a dia é utilizado o velho

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fogão a lenha. Isto se dá principalmente em decorrência da facilidade em se conseguir

a lenha e do alto custo para manutenção do fogão a gás GLP12.

Figura 16 Homem desmatando a caatinga e pondo fogo numa coivara.

Além desse tipo de desmatamento, o pequeno agricultor e muitas pessoas que

residem nas cidades da região utilizam a lenha ou carvão como combustível sendo fácil

ver as margens das estradas homens cortando lenha destas áreas, e usando fornos

para o fabrico de carvão vegetal. Os fornos são cavados no chão (Figura 17) e

preenchidos com lenha, preferencialmente jurema devido à boa qualidade do carvão e

do teor calorífico desta espécie, estes são cobertos com a terra que foi retirada da cova

deixando-se apenas uma chaminé (Figura 18) por onde sairá a fumaça, para que a

lenha queime de forma lenta transformando-se em carvão.

12 GLP – Gás Liquefeito de Petróleo

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Essa técnica secular do fabrico de carvão, ultimamente vem utilizando madeira

de diâmetro muito fino e de má qualidade, o que não proporciona uma queima

homogênea da lenha, fazendo com que o carvão resultante não seja de tão boa

qualidade, sendo grande a quantidade de cinzas geradas, conseqüentemente gerando

um baixo rendimento. Mas apesar de tudo isso, é uma atividade que cresce bastante

nos períodos de estiagem quando falta serviço no campo.

Figura 17 Trincheira de forno para fazer carvão, lenha empilhada ao fundo.

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Foto 18 Chaminé do forno bacurau ou trincheira.

Estes fornos são chamados de bacurau ou trincheira e tem uma capacidade

média de produção de 50 quilos de carvão (equivalente a dois sacos e meio). Esta

prática é muito danosa ao meio ambiente local e está diretamente ligada as condições

de miséria em que vive parte da população seridoense, uma vez que o cidadão não

tendo condições de comprar o gás de cozinha (GLP) para cozinhar, utiliza-se desta

alternativa para preparar seus alimentos, É difícil precisar a quantidade de pessoas que

fazem uso desta prática. (PNF/MMA/BNB, 2002, p.06)

De acordo com o Plano de Manejo Florestal para a Região do Seridó MMA

(1992), a caatinga da região do Seridó é classificada como hiperxerófila, apresentando

predisposição natural para a desertificação. Com a ação das atividades humanas, a

desertificação é acelerada.

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Raros são hoje os remanescentes da Caatinga Hiperxerófila primitiva existente

no Seridó, tendo em vista que a mesma encontra-se quase que totalmente degradada,

restando pequenas áreas em algumas serras e morros isolados. As matas ciliares

foram substituídas em sua grande parte por espécies arbustivas e pela algaroba

(Prosopis Juliflora) que invadiu as margens dos principais rios da região.

BOTELHO (2002, p.77) ressalta a semelhança existente entre a região do Seridó

norte-riograndense:

(...)área cristalina, bastante erodida, com expressivo afloramento rochoso, muito seco... e as estepes sahelianas, que, do ponto de vista florístico, é a ultima forma biofísica antes do aparecimento do deserto, e a caatinga é a sua penúltima forma.

No Seridó toda a caatinga hiperxerófila encontra-se comprometida pelos

processos de degradação que se acentuam a cada período de estiagem e no decorrer

dos anos secos. Quando se iniciam as chuvas, que são caracterizadas por um regime

torrencial, estas encontram uma vegetação desfolhada que não oferece proteção ao

solo, sendo este efeito pior nas áreas já degradadas ou em processo de desertificação.

MEUNIER (2000, p.14) cita algumas das espécies arbóreas que podem ser

encontradas na região do Seridó e que são alvo do corte do machado do homem:

Ameixa – (Ximenia americana Linn.)

Angico – (Piptadenia macrocarpa Benth.)

Aroeira – (Astromium urundeuva Engl.)

Bugi – (Combretum laxum jacq.)

Camará – (Lantana camara Linn.)

Canafistula – (Cássia excelsa Schrad)

Catingueira – (Caesalpinia pyramidalis Tul.)

Cumaru – (Coumarouna odorata Aubl)

Faveleira – (Cnidoscullus phyllacanthus Pax)

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Imburana – (Bursera leptophloesos Engl.)

Juazeiro – (Zizyphs Joazeiro Mat.)

Jurema branca – (Pithecolobium dumosum Benth.)

Jucá – (Caesalpinia férrea Mart. Ex Tul.)

Jurema preta – (Mimosa acutistipula Benth.)

Maniçoba – (Manihot Glaziovii Muell.Arg.)

Marmeleiro – (Cróton hemiargyreus Muell. Arg.)

Mofumbo – (Combretum lanceolatum Pohl)

Mororó – (Bauhinia forficata Link.)

Pereiro – (Aspidosperma pirifolium Mart.)

Pinhão – (Jatropha Curcas Linn.)

Rompe gibão (Erythroxylon microphyllum St.Hil.)

Velame – (Cróton floribundus Spreng.)

Muitas destas espécies já não são encontradas com tanta facilidade, devido a

grande procura por madeira na região, para ser utilizada tanto como matriz energética

como para outros usos (pranchas, tábuas, ripas, mourões, etc).

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9. DESAFIOS PARA A RECUPERAÇÃO DAS ÁREAS DESERTIFICADAS

A recuperação de áreas degradadas é um desafio muito grande, principalmente

quando se refere a áreas edafoclimaticamente muito frágeis e já em processo avançado

de desertificação, considerado extremamente grave, o que eleva os custos de

recuperação.

O Semi-Árido nordestino, além de vocação ecológica para a desertificação que

possui devido a ocorrência de secas e às características de clima e solo, tem, na ação

do homem favorecida pela pressão demográfica, a responsável pelo alarmante

processo de desertificação que a região está sofrendo (MENDES, 1986a).

De acordo com MATALLO JR. (1999, p.28), os custos da recuperação de áreas

degradadas por desertificação podem atingir as cifras de US$ 50,00/ha/ano para a

recuperação de pastos nativos, US$ 250,00/ha/ano para áreas de agricultura de

sequeiro e cerca de US$ 2.000,000/ha/ano para áreas salinizadas. Estes custos,

porém, não representam a realidade da região do Seridó, pois não fica claro a

metodologia utilizada para calculá-los, uma vez que foram criados para a realidade

africana, além de outras limitações. É necessário criar uma metodologia de custos de

recuperação de área desertificada adequada à realidade do semi-árido brasileiro,

respeitando as suas limitações.

As dificuldades com a recuperação de áreas degradadas por desertificação vão

desde a organização das estratégias de atuação, mobilização das comunidades,

parcerias, recursos, pessoal capacitado, dentre vários outros.

No caso do Seridó do Rio Grande do Norte registra-se apenas um projeto de

reflorestamento. Trata-se de um projeto de reflorestamento com algaroba (Prosopis

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juliflora) que foi idealizado pelo IBDF13 com recursos oriundos do Fundo de

Investimento Setorial (FISET). Estes a fundo perdidos e com muitas vantagens para os

fazendeiros e para as firmas reflorestadoras.

Porém, ao invés deste contribuir para minimizar a degradação em curso na

região, contribuiu de forma gravíssima para a sua degradação, pois, para estas

realizações, antes do plantio era preciso limpar a área a ser plantada, ou seja, eliminar

a vegetação nativa para plantar as mudas de algaroba, o que em muitos casos

contribuiu para degradar a caatinga.

CASTRO apud DUARTE (2000), a respeito do reflorestamento, define-o de

acordo com o Código Florestal, lei nº. 4771, de 15/09/1965, cuja filosofia “é garantir a

utilização racional, a proteção e a conservação dos recursos naturais renováveis e o

desenvolvimento florestal do país”. No seu artigo 18, o Código determina: “Nas terras

de propriedade privada, onde seja necessário o florestamento ou reflorestamento, o

Poder Público Federal poderá fazê-lo sem desapropriá-las, se não o fizer o

proprietário”. Outros benefícios aparecem, no artigo 38: “As florestas plantadas ou

naturais ficam isentas de qualquer tributação”; No item I do mesmo artigo, “se exime de

tributação a renda da produção florestal”; e no II, “as importâncias empregadas em

florestamento e reflorestamento serão deduzidas integralmente do imposto de renda”.

De acordo com este, completa-se o arcabouço legal em 1974, com a formação do

Fundo de Investimento Setorial (FISET), onde até 50% dos recursos provenientes deste

foram destinados à atuação da SUDENE. Encerra-se com os decretos nº 88.207, de

30/08/1983, e a Portaria-Normativa nº. 195IBDF/DR de 09/06/83, são os últimos

regulamentos da política de reflorestamento. No caso do Rio Grande do Norte, o

objetivo principal foi o reflorestamento através de coqueiros (no litoral) cajueiro (no

litoral e serras) e algaroba (no sertão).

13 IBDF era o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal que através da fusão com mais três órgãos (SEMA, SUDHEVEA e SUDEPE) deram origem ao IBAMA em 22 de fevereiro de 1989.

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Na região do Seridó, os plantios foram basicamente de algaroba no Sertão e

cajueiro nas serras, sendo, porém, difícil precisar quantos hectares foram realmente

plantados. Sabe-se que no Rio Grande do Norte, até o ano de 1982, constam como

plantados aproximadamente 5.500 hectares de algarobeira, sendo 3.300 ha no período

de 1979/1981, com recursos advindos do IBDF e execução de Empresas de

Reflorestamento; 700ha no período de 1979/1981 com recursos do Conselho Nacional

do Petróleo, supervisionado pelo IBDF e executado pela EMATER/RN; 1.200ha no

período de 1980/1982 com recursos da SUDENE/Secretaria de Agricultura e executado

pela Secretaria da Agricultura; e 300ha em 1982, em consórcio com palma forrageira

com recursos da SUDENE/Secretaria de Agricultura e executado pela EMATER/RN

(NOBRE, 1982). Mas os laudos finais do Projeto Algaroba do IBDF declararam que

quase 100% dos plantios com algaroba (Prosopis juliflora) na região do Seridó e do

estado como um todo eram inviáveis, a grande maioria não foi nem plantada, apesar de

os recursos terem sido sacados pelas empresas reflorestadoras e de alguns laudos de

vistoria confirmarem a sua execução.

Os projetos de reflorestamento eram a fundo perdidos, ou seja, não precisariam

ser pagos, o que foi um incentivo muito grande para os produtores que passavam por

um momento de dificuldade com a decadência da cultura do algodão. Entretanto, nota-

se que apenas os grandes proprietários da região usufruíram deste projeto.

Existiam algumas regras colocadas para aprovação do empreendimento de

reflorestamento junto ao IBDF. Eram:

1°) Constituição de uma empresa de reflorestamento que deverá ser registrada

perante o IBDF;

2°) Apresentação de um projeto-tipo, preparado por escritórios especializados,

acompanhado de comprovantes e de uma carta-consulta a ser protocolada na

delegacia regional do órgão;

3°) O IBDF realizará vistorias necessárias para verificar a consistência dos projetos

e nas áreas em que os mesmos deverão ser implantados;

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4°) A carta-consulta será examinada por comissão designada pelo Presidente do

IBDF;

5°) Para receber o financiamento, a empresa deverá concluir a primeira fase de

implantação, que consiste no trabalho de desmatamento da mata nativa e

limpeza do terreno. A segunda fase de implantação inclui o plantio das mudas.

Ao concluir as duas fases de implantação, a empresa receberá

aproximadamente 2/3 da subvenção total, e o restante na fase das

manutenções.

Cabia ao IBDF a responsabilidade de administrar de forma correta a aplicação

dos recursos. Os recursos eram repassados através do Banco do Brasil e a empresa

reflorestadora era quem os aplicava plantando florestas. Era papel do IBDF também a

fiscalização das empresas reflorestadoras e de seus projetos, devendo aprovar a

liberação das verbas apenas para aqueles projetos que apresentassem garantias

concretas de realização, o que, com a análise dos relatórios de vistorias do IBAMA, se

pode constatar não ter ocorrido.

Já às empresas reflorestadoras cabia a função de fazer o reflorestamento e de

fazer a manutenção do plantio.

Um dos grandes problemas dos projetos de reflorestamento, de acordo com

DUARTE (2000), foi o fato destes não se propuserem a alterar a estrutura fundiária

concentradora que é a realidade de todo o Nordeste.

9.1 Técnicas de Reflorestamento

A técnica de reflorestamento tradicional, universalmente utilizada, que é

praticada principalmente em regiões úmidas, se constitui na preparação de mudas em

viveiros e replantio nas áreas degradadas. Esta técnica possui um alto custo e

demanda grande mão-de-obra.

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Normalmente, neste método tradicional, as espécies vegetais são escolhidas

levando em consideração as melhores sementes de plantas sadias, as quais são

plantadas em sacos plásticos, onde germinam e quando atingem a idade adequada são

levadas e transplantadas no local definitivo, ou seja, área a ser recuperada.

De acordo com MENDES (2002), o preparo das mudas, o transporte para levá-

las do viveiro ao local do pomar e o transplantio são operações de custo alto e que se

tornam ainda mais onerosas pelo baixíssimo índice de pega14 das plantas.

Devido a todas estas dificuldades é que foi desenvolvido por MENDES, (2002) a

Técnica do Inóculo, com o objetivo de recuperar uma área de mais de 100 hectares de

terras degradadas pela exploração de petróleo na Chapada do Apodi, no Estado do Rio

Grande do Norte a técnica do Inoculo, descrita abaixo.

9.2 Técnica do Inóculo idealizada por MENDES (2002)

A Técnica do Inóculo foi desenvolvida em 1999 com o objetivo de recuperar

áreas degradadas pela atividade da extração de petróleo na Chapada do Apodi, sendo

uma técnica inovadora e adaptada às regiões semi-áridas.

Este método além de ser eficiente e simples, apresenta-se muito econômico,

tendo em vista que dispensa o uso de mudas e conseqüentemente dispensa gastos

com a construção de viveiros, compra de sacos plásticos, transporte das mudas dentre

outras despesas.

A Técnica do Inóculo consiste na raspagem da serapilheira do solo de caatinga

pouco antropizada, contendo sementes e propágulos vegetativos de ervas, arbustos e

14 Índice de Pega é a relação entre a quantidade de mudas plantadas e a quantidade que realmente pega ou se desenvolve normalmente, dando origem a um planta adulta.

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árvores, além de bactérias, fungos, algas, protozoários, vermes, insetos, ácaros e de

outras espécies que vivem no solo (MENDES, 2002) e a posterior reinoculação na área

degradada que foi previamente preparada, como pode ser visto (Figura 4). Onde a área

B é a área de caatinga pouco antropizada próxima ao local a ser recuperado e a área A

corresponde a área degradada que irá receber a serapilheira.

De acordo com MENDES (2002), esta técnica proporciona a melhoria das

condições físicas e químicas do solo, proporcionando a recuperação da vida microbiana

e da cobertura vegetal. Caso seja necessário, a recuperação das condições químicas

da área pode ser feita através do uso de esterco de curral e adição de serapilheira, o

que vai contribuir para aumentar a capacidade de armazenamento de água e

proporcionar a melhoria da estrutura e da textura do solo.

A diferença da Técnica do Inóculo para a Técnica Tradicional é o fato desta não

utilizar mudas, mas sim levar o banco de sementes que irá germinar naturalmente,

nascendo àquelas espécies mais adaptadas às condições locais. Logo, diferentemente

da Técnica Tradicional, onde o homem é quem escolhe as espécies a serem plantadas,

na Técnica do Inóculo, a natureza é quem diz quem irá nascer. O sucesso desta técnica

está no banco de sementes que irá garantir a germinação durante vários anos e na

biodiversidade gerada espontaneamente.

Como as sementes das plantas das caatingas não germinam em um só tempo e sim escalonam a germinação ao longo dos anos, as sementes das plantas que foram levadas com a serapilheira ou no esterco vão germinar durante vários anos seguidos, por ocasião do período chuvoso anual (dezembro a junho), de modo que a cada ano, novas plantas vão aparecer na área. (MENDES, 2002, p.11).

Até o momento, esta técnica não foi testada na região do Seridó, porém espera-

se que o seu uso venha a ser mais eficaz do que a técnica tradicional de muda, que

enfrenta grande dificuldade devido às irregularidades pluviométricas. Logo, quando a

muda é plantada, geralmente no período chuvoso, ela tem um crescimento normal,

porém, passado esse período chuvoso, as mudas apresentam grande índice de

mortandade, o que não ocorre na técnica do inoculo.

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A silvicultura no semi-árido nordestino exige técnicas próprias, diferentes

daquelas utilizadas nas regiões úmidas. Os fatores sociais, econômicos, culturais e

ecológicos reclamam por uma silvicultura integrada com as regiões agropastoris

apropriadas ao pequeno produtor e às condições edafoclimáticas do Polígono das

Secas (MENDES, 1986b).

Para a recuperação das áreas degradadas do Nordeste seco, MENDES, (1992)

sugere a elaboração de um plano de desenvolvimento integrado, que contemple ações

agroflorestais, que possam contribuir também com o desenvolvimento socioeconômico

regional.

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Figura 19 – Figura representativa da Técnica do Inoculo de MENDES, 2002. (Elaborado pelo Autor)

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9.3 O Reflorestamento com Algaroba no Seridó (Prosopis juliflora)

A algaroba (Prosopis juliflora) tem desde a sua introdução no Nordeste brasileiro,

causado muita polêmica entre os pesquisadores. Existem aqueles que defendem a

espécie como a salvação para o semi-árido e aqueles que acreditam que esta espécie

exótica seja responsável por parte da degradação nas zonas semi-áridas.

Esta foi introduzida no Nordeste brasileiro, de acordo com MENDES (1985),

inicialmente em Pernambuco, no ano de 1942, no município de Serra Talhada. Já no

Rio Grande do Norte, chegou no ano de 1947, na Fazenda São Miguel, no município de

Angicos.

AZEVEDO (1987) considerava a algaroba como uma das plantas que poderiam

contribuir:

decisivamente para a solução dos problemas de reflorestamento e alimentação dos rebanhos no nordeste seco do Brasil”, não se caracterizando assim como uma espécie invasora e adaptada a todos os tipos de solos, desde os “aluviais aos tabuleiros pedregosos.

Porém, não se mostra exatamente desta forma. Na estação da EMPARN, em

Cruzeta-RN, existem alguns exemplares que foram plantados em um experimento

localizado em áreas de encosta de solo raso e pedregoso (Bruno Não-Cálcicos e

Litólicos), apresentam crescimento muito inferior ao das áreas de aluvião, apresentando

média em torno dos 3,30m de altura. Este experimento realizado por ANDRADE et al.

(1984), comprovou que as áreas reflorestadas com algaroba apresentam escoamento

superficial e perda de nutrientes e solo superior às áreas com vegetação natural.

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Já DUARTE (2000) trata a algaroba como uma espécie:

invasora e predadora. A algaroba retira a umidade do solo num raio de cinqüenta metros de seu tronco. Isto significa dizer que no período seco, cerca de 2/3 do ano nestas regiões, o solo perde toda a umidade na área em torno do tronco da algarobeira, logicamente dificultando qualquer vida vegetal naquele raio, exceto a própria.

É atribuída a algarobeira a fama de secar cacimbas, poços e cisternas que

estejam a seu alcance, pois suas raízes são invencíveis. Mas como lembra este, a

culpa não é da planta, mas sim da irracionalidade e lógica do enriquecimento a todo

custo, que levaram a um perigoso desequilíbrio ambiental na área mais susceptível à

desertificação, o Semi-Árido.

MENDES (1985) lembra as propriedades forrageiras desta espécie, que deveria

ser utilizada de forma mais racional através do aproveitamento de suas potencialidades.

A algaroba pode ter vários usos, dentre eles destacam-se o uso para

alimentação humana, fabricação de álcool, extração de madeira para vários fins, como:

estacas, esquadrias, assoalhos, tábuas e se estuda fazer o compensado desta, pois a

algaroba não é atacada por cupins.

Foi a EMATER/RN15 a responsável por difundir no Seridó a algaroba como fonte

alternativa para alimentação humana através de cursos em que eram ensinadas várias

receitas que utilizavam as vagens.

A EMATER/RN, porém, hoje se encontra bastante sucateada em decorrência

das políticas agrícolas adotadas nos últimos governos. Para se ter uma idéia, a

EMATER possui hoje 78 funcionários trabalhando na região do Seridó. Desses, 37 são

técnicos que trabalham diretamente no campo, enquanto os demais são extensionistas

15 A EMATER é a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural, que era responsável pela elaboração e execução de vários projetos destinados ao homem do campo. Hoje se encontra bastante sucateada.

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sociais, administrativos, motoristas, copeiras, ASGs, dentre outros. Existem inclusive

muitos municípios que não têm nenhum técnico, como é o caso dos municípios de

Serra Negra do Norte, Ouro Branco, Timbaúba dos Batistas, Ipueira e Equador, o que

representa um déficit muito grande na assistência ao homem do campo.

As grandes dificuldades enfrentadas pelos extensionistas da EMATER/RN em

inserir os produtos feitos com as vagens da algaroba na alimentação do seridoense

podem ser atribuídas ao fato desta ser uma espécie que foi trazida para ser “comida de

gado e não de gente”, diferentemente do que ocorre no Deserto de Piúra, de onde esta

é natural, e de outras regiões do mundo, pois nesses locais ela serve, antes de tudo,

para a alimentação humana (MENDES, 1985).

No Seridó os plantios de algaroba se deram em grande parte em áreas de solos

aluviais, próximo aos rios e cursos d’água. Esta foi rapidamente disseminada por toda a

região através do gado e da força das águas, estando hoje às margens dos principais

rios e açudes da região invadidas por esta espécie.

A forma de plantio varia muito com as condições da área, podendo ter

espaçamento de 5m x 5m considerado médio até 10m x 10m considerado um bom

espaçamento. Este podia ser feito em consórcio com outras culturas forrageiras como

as palmas e o capim buffel (NOBRE,1982).

A grande maioria dos plantios de Algaroba (Prosopis juliflora) na Região do

Seridó foi considerada inviável pelo IBAMA, no relatório final do projeto que só foi feito

em 1998, sendo atribuído à falta de cuidados e ao grande índice de mortandade. A

grande verdade é que os projetos de reflorestamento com algaroba tiveram em sua

grande maioria os recursos desviados.

Os maiores plantios de algaroba no Seridó estão nos municípios de Acari e

Carnaúba dos Dantas, mas projetos foram aprovados em quase todos os municípios do

Seridó, como Serra Negra do Norte, Florânia, Currais Novos, Parelhas, dentre outros.

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10. CONSIDERAÇÕES FINAIS Como visto no decorrer deste trabalho, o processo de Desertificação no Seridó é

algo que remonta ao seu passado físico/natural, histórico e as atividades sócio-

econômicas que têm os seus reflexos sentidos em toda a forma de organização social

atuante na região. Está inserido em um contexto sócio-ambiental que merece atenção

redobrada, principalmente por se tratar de uma região edafoclimaticamente muito frágil

e com muitas peculiaridades culturais, sociais, ambientais e históricas inerentes apenas

a ela, principalmente, por tratar-ser de uma região com uma população humana e

animal tão grande, que na maioria das vezes excede a sua capacidade de suporte

natural, sendo considerada por muitos como a região semi-árida mais povoada do

planeta.

A história do Seridó está marcada por períodos nos quais atividades econômicas

revezaram-se de forma cíclica à frente da economia e do desenvolvimento,

conseqüentemente à frente da degradação. As primeiras atividades surgiram com a

criação do gado leiteiro, pois, a produção de queijo e carne de sol foi à primeira

atividade econômica a constituir um dos ciclos econômicos, que até hoje resiste ao

tempo, e apesar de apresentar certa modernização é um dos setores mais resistentes

às inovações tecnológicas. Segue-se, o ciclo do algodão que se associa ao gado,

criando o binômio gado-algodão que deu sustentação à economia seridoense durante

os séculos XVIII, XIX e maior parte do século XX. Segue-se a este, o apogeu do ciclo

da mineração, quando o Seridó cresce não só economicamente, mas também

tecnologicamente e socialmente, devido às minerações que possibilitavam o contato

com novas tecnologias e costumes trazidos pelos que vinham de fora, inclusive de

outros países. Porém como os ciclos anteriores, teve um apogeu e um declínio,

marcado pela falência do mais importante setor econômico até então.

Com o início da decadência da atividade mineradora, na década de 1980, outras

atividades econômicas despontaram como alternativas para empregar parte da mão-de-

obra das minerações, que se encontrava em franca migração para os grandes centros

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mineradores em busca de emprego. São elas: a atividade ceramista que é hoje

considerada a que mais degrada o meio ambiente seridoense, por utilizar uma matriz

energética “suja”, ou seja, a lenha, que é retirada indiscriminadamente e por utilizar

solos férteis como matéria prima, mas que apesar de todos os males que causa ao

meio ambiente, é a atividade industrial que mais gera emprego na região, sendo de

fundamental importância para a sobrevivência de milhares de famílias que sobrevivem

dela; desponta, também, a atividade panificadora, como considerável consumidora de

lenha; a atividade do garimpo que surge com o desemprego dos garimpeiros que antes

trabalhavam nas minerações e hoje se organizam em grupos e exploram de forma

desordenada e na grande maioria das vezes, clandestina. Onde, apesar de não

utilizarem lenha, são responsáveis diretos pela degradação dos solos e processos de

erosão; segue-se, ainda, atividades como a da extração do calcário, fabrico da cal,

extração de ornamentais, pedreiras, carvoaria, dentre outras.

Atualmente a região passa por vários problemas de ordem sócio-econômica e

ambiental, uma vez que a falta de emprego, força o surgimento de atividades não

regulamentadas e irregulares que empregam de forma precária, parte do exército de

desempregados.

Enfrenta também problemas no que diz respeito às condições de vida das

pessoas, sendo muitas vezes forçadas a migrarem para cidades maiores em busca de

empregos, o que quase sempre resulta na marginalização, gerando mais exclusão

social. Não sendo incorreto afirmar que a Desertificação antrópica está em relação

direta com o grau de desenvolvimento econômico (CONTI, 1995, p.176).

Como outras áreas em processo de desertificação no Brasil, no Seridó não são

apenas os fatores climáticos que corroboram para a degradação, mas principalmente as

atividades antrópicas. O baixo regime pluviométrico, as secas constantes, as condições

de solo, temperatura, juntam-se a fatores sociais, econômicos e políticos, fazendo com

que esta seja uma região que necessita de muita atenção. No momento, os núcleos de

desertificação são aqueles que merecem mais atenção das autoridades

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governamentais para diminuir os efeitos sócio-ambientais e econômicos das

populações locais.

Porém, das regiões sujeitas ao processo de desertificação no Nordeste

brasileiro, o Seridó é aquela que possui maior nível de organização social, com grande

número de associações comunitárias, rurais, sindicatos patronais, e cooperativas

atuantes, sendo assim um fator positivo e facilitador para se investir em políticas de

combate ao processo de desertificação.

No Seridó norte-riograndense as técnicas industriais e principalmente

agropecuárias são muito rudimentares, podendo ser encontrado ainda práticas

agrícolas herdadas da época do povoamento e costumes indígenas, como as

queimadas. Como conseqüências, das atividades econômicas nesta região de

condições edafoclimáticas precárias surgem várias áreas onde torna-se visível a perda

da biodiversidade, onde a vegetação já quase não existe, onde os solos encontram-se

muito erodidos, compondo paisagens que se assemelham a verdadeiros desertos.

Assim vários são os desafios para tentar pelo menos minimizar os efeitos e

conseqüências da desertificação, sendo necessário em primeiro lugar a adoção de

políticas que visem o desenvolvimento econômico sustentável, acompanhadas de

políticas educacionais inclinadas a conhecer e a conservar as riquezas ambientais

locais, através da formação de agentes multiplicadores e capacitação de pessoal

especializado para desenvolver trabalhos de conservação ambiental junto às

comunidades afetadas. Deve, ainda, aumentar o efetivo de fiscais dos órgãos

ambientais que atuam na região, incentivar a criação de organizações não

governamentais que atuem na área ambiental e social. Incentivar aos setores

produtivos a promoverem atividades pautadas no desenvolvimento sustentável, para

que possam atuar não só hoje, mas sim durante muito tempo na região. O investimento

em uma política agropecuária adequada a realidade edafoclimática da região é

premente, precisando urgentemente de investimento em pesquisas para se redirecionar

a agropecuária local, com a utilização de plantas xerófilas e animais rústicos.

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Outro grande desafio é quanto à recuperação das áreas já desertificadas e/ou

degradadas, tendo em vista que as técnicas tradicionais de plantio de mudas não se

mostraram satisfatórias para a realidade edafoclimática do Seridó. Sendo assim

acreditamos que a Técnica do Inoculo idealizada por MENDES (2002) seja uma

alternativa para a recuperação de áreas degradadas no Seridó, tendo em vista que esta

tem como princípio utilizar a serapilheira e conseqüentemente o banco de sementes

existente na região para promover a recuperação da forma mais natural possível, sem

alterar a composição florística local, com a introdução de espécies exóticas, como tem

sido feito tradicionalmente. Além disso, os resultados como custo/benefício e índice de

pega são bem superiores ao da Técnica de reflorestamento Tradicional.

O processo da Desertificação na região do Seridó tem como principais

conseqüências:

• Queda da produção e produtividade agrícola;

• Perda da biodiversidade (fauna e flora);

• Agravamento dos problemas sociais;

• Migração das populações para centros urbanos;

• Perda de solos decorrente dos processos de erosão; Assoreamento de

rios e reservatórios;

• Aumento das secas edáficas em decorrência da diminuição da retenção

de água no solo.

• Dentre outras conseqüências que podem advir.

O processo de Desertificação na região do Seridó tem uma grande influência

sobre as populações locais que se reflete nos grandes centros urbanos, podendo as

suas conseqüências variarem de acordo com as condições naturais locais, bem como a

intensidade das atividades antrópicas implementadas, gerando principalmente a

migração campo-cidade, como pode ser visto na Figura 20, onde uma família migra

inteira da zona rural de São João do Sabugi em direção a cidade de Caicó. Alguns

municípios encontram-se em estágios mais avançados de degradação do que outros

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(quadro 3), sendo, porém consenso dos pesquisadores o fato de que quase todo

município apresenta alguma área degrada ou sofrendo processo de degradação.

Figura 20 – Família de emigrantes da zona rural em direção a Caicó.

Como visto, vários são os agentes antrópicos que causam degradação ambiental

e a desertificação no Seridó. Estes agentes estão distribuídos por toda a região (Mapa

11), localizados principalmente, próximos a riachos, açudes, zonas urbanas e estradas.

Alguns municípios não sofrem os impactos diretos da atividade ceramista, porém têm

outras atividades que se encarregam da degradação.

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GLOSSÁRIO Afloramentos – roda e qualquer exposição de rocha na superfície da Terra.

Aluvionais – referente aos detritos ou sedimentos clásticos, carregados e depositados.

pelos rios.

Antrópicos – termo que designa a influência do homem.

Biodiversidade – complexo resultante das variações das espécies e dos ecossistemas

existentes em determinada região

Bioclimática – condições de vida condicionadas ao clima.

Biomassa – toda a matéria orgânica, de origem animal ou vegetal.

Degradação – destruição parcial ou completa de um ambiente ou condição ambiental.

Desertificação – fenômeno de perda progressiva da biodiversidade de regiões áridas,

semi-áridas e sub-úmidas secas.

Desertização – fenômeno natural de formação de desertos.

Ecossistemas – A biocenose e seu biótopo constituem dois elementos inseparáveis

que reagem um sobre o outro, para produzir um sistema mais ou menos estável que

recebem o nome de ecossitema.

Edafoclimático – referente as condições de solo e clima.

Etimologia – estudo da origem e formação das palavras.

Geoambientais – referente às condições ou fatores geográficos e ambientais.

Geomorfológicos – referente aos fatores geomorfológicos.

Granitos – rocha eruptiva composta de três minerais essenciais: quartzo, feldspato

alcalino e micas.

Gnaisses – rocha cristalofiliana com os mesmos elementos do granito.

Inselbergs – elevações residuais de pediplanação existente nas regiões semi-áridas.

Pedológicos – referente a origem e o desenvolvimento dos solos.

Retroalimentação – O retorno de uma parte de matéria, energia ou informação da

saída de um processo para a sua entrada.

Saarização – termo utilizado para fazer referência as condições semelhantes as do

deserto do Saara na África.

Savanização – termo empregado por Ab’Saber para designar áreas semi-áridas do

Nordeste parecidas com as savanas africanas.

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TORRICO, Eduardo Mendoza. Uso atual e perspectiva do uso potencial Sustentável dos recursos naturais renováveis do Nordeste. Brasília,DF: IPEA, 1994. 223 p.(Coleção: “Projeto Áridas”). VALIENTE, Marcos Oscar. El fenômeno El Niño y las sequías del Nordeste de Brasil: coincidencia histórica de dos alteraciones climáticas. Ateliers de caravelle. Barcelona, 1996.p.36-46. VARELA-FREIRE, Adalberto Antônio. A caatinga hiperxerófila Seridó, a sua caracterização e estratégias para a sua conservação. Publi. ACIESP / U.S. FISH & WILDLIFE SERVICE. n 110. São Paulo, 2002. VASCONCELOS SOBRINHO, J. As regiões naturais do Nordeste do Brasil: sua gênese e sua contenção. SEMA/SUDENE. Recife, 1982. VASCONCELOS, Ronaldo Ramos e MATALLO JR., Heitor. Estimativa de perdas econômicas provocadas pelo processo de desertificação na região do semi-árido do Nordeste. “Desertificação”. Org. Celso Salatino Schenkel e Heitor Matallo Junior. Brasília: UNESCO, 1999. VILLA, Marco Antonio. Vida e morte no sertão: história das secas no Nordeste nos séculos XIX e XX. 1 ed. Ática, 2000.

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2 – MATERIAL CARTOGRÁFICO Malha Municipal Digital do Brasil - 1997 -IBGE/DGC/DECAR. Escala 1:250.000 MAPA PEDOLÓGICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE. Secretaria de Recursos Hídricos/RN. Natal, 2003. PROBIO. Avaliação e Ações Prioritárias para a Conservação da Biodiversidade do Bioma Caatinga. Petrolina – PE: 1 mapa: color.; 70 x 100. Escala 1:2.500.000 EMPARN. Mapa de Precipitação (mm) – Ano. Natal: 1 mapa: color.; (on line), sem Escala. EMPARN. Mapa de Temperatura Média do Ar (ºC) – Ano. Natal: 1 mapa: color.; (on line), sem Escala. EMPARN. Mapa de Evapotranspiração (mm) – Ano. Natal: 1 mapa: color.; (on line), sem Escala. EMPARN. Mapa de Umidade Relativa (%) – Ano. Natal: 1 mapa: color.; (on line), sem Escala. SERHID. Mapa da Bacia Hidrográfica Piranhas/Açu. Natal: 1 mapa: color.; (on line), Escala 1:20.000

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ANEXOS

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Anexo 1

Ficha de Entrevista 1

Atividade: Ceramista ( ) Mineração ( ) Outra ( ) _____________________________

Razão Social: __________________________________________________________

Proprietário: ____________________________________________________________

Localização: Lat: ____________ Long: ____________ Alt: _______________________

Município:______________________________________________________________

Ponto de Referência: _____________________________________________________

Número de Funcionários: ____________ Produção: ____________________________

Destino da Produção: ____________________________________________________

Matriz Energética: ______________________ Origem: __________________________

Matéria Prima: _________________________ Origem: _________________________

Obs: _________________________________________________________________

______________________________________________________________________

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Anexo 2

Anomalia de temperatura da superfície do mar em dezembro de 1998 mostrada na figura acima. Os tons avermelhados indicam regiões com valores acima da média e os tons azulados as regiões com valores abaixo da média climatológica. Pode-se notar a região no Pacífico Central e Oriental com valores positivos, indicando a presença do El Niño.

Fonte: INPE/CPTEC, 2003.

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Anexo 3

Área degradada pelo desmatamento no município de Currais Novos – Agosto de 2003. Fonte: Acervo do Autor

Área degradada pelo desmatamento e sobrepastoreio no município de Jardim do Seridó Junho de 2003. Fonte: Maira Góis

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Anexo 4

Homem Trabalhando no Forno de uma caieira no município de Jardim do Seridó – RN Junho de 2003. Fonte: Maíra Gois

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Anexo 5

Pátio de uma cerâmica no município de Jardim do Seridó – RN Junho de 2003. Fonte: Maíra Góis.

Fábrica de Óleos Medeiros S/A em Jardim do Seridó – Pátio com grande estoque de lenha. Junho de 2003. Fonte: Acervo do Autor

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Anexo 6

Pilha de lenha retirada para fazer carvão no município de Jardim do Seridó – RN. Junho de 2003. Fonte: Acervo do Autor

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APÊNDICES

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Apêndice 1 Ficha de Entrevista 2 Nome: João Barbosa Filho Idade: 53 anos Estado Civil: Casado Número de Filhos: 5 Endereço: Sitio Acauã. Currais Novos/RN Entrevista em 12/10/2002 Profissão: Agricultor Obs: O entrevistado identifica-se como agricultor, porém a agricultura é a atividade menos praticada pelo mesmo. Este faz renda no momento com a venda de solo e de lenha para as cerâmicas da região. Perguntas: O que o senhor entende por degradação? “destruição das matas, acho...”. O senhor já houviu falar em desertificação? “o pessoal do IBAMA já teve por aqui falando disso a um tempo atrás”. O que o senhor entende por desertificação? “é que o povo ta destruindo tudo ai, isso aqui vai virar tudo deserto..é o deserto.”. O que o senhor acha que causa a desertificação aqui? “é a falta de chuva principalmente, faz dois anos que o inverno é ruim...e também a culpa é do povo que ta desmatando tudo, botando fogo em tudo”. O senhor acha que é certo vender as terras de vazante para as cerâmicas? “Sabemos que se vendermos a terra boa, no ano que chover nós não poderemos plantar, pois não vai ter terra e as terras que restam são tabuleiros onde só nasce xique-xique, mas não tem outra saída, ou fazemos isto ou abandonamos tudo e vamos morar na cidade...”. O que o senhor acha que seria a solução para esse problema? “sei não, mas acho que tinha que o governo ajudar a nós... tinha que dar condições dagente criar uns bichinhos e tinha que chover, porque chovendo tudo melhora”.