acessando o hemisfÉrio direito do cÉrebro - lidia peychaux.pdf

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  • 1Lidia Peychaux

    Acessando o HemisfrioDireito do Crebro

    A Arte Como Ferramenta Para Desenvolver a Criatividade

    Rio de Janeiro

    2003

    www.carlosdamascenodesenhos.com.br

  • 2Copyright 2003 por Lidia PeychauxTtulo Original: Acessando o Hemisfrio Direito do Crebro - A ArteComo Ferramenta Para Desenvolver a Criatividade

    Editor-ChefeTomaz Adour

    Editorao EletrnicaLuciana Figueiredo

    CopidesqueKarine Fajardo

    DesenhosLuna Belo

    PAPEL VIRTUAL EDITORAAvenida das Amricas, 3.120 sala 201 - Bloco 5Barra da Tijuca - Rio de Janeiro - RJ - CEP: 22.640-102Telefone: (21) 3329-2886E-mail: [email protected] Eletrnico: www.papelvirtual.com.br

  • 3Sumrio

    Agradecimentos ..................................................................................... 5

    Introduo ............................................................................................. 7

    Captulo 1 Como se tornar mais criativo, sensvel e intuitivo?................ 9

    Captulo 2 Como discernir o uso de cada hemisfrio cerebral em umaatividade especfica? ............................................................................. 43

    Captulo 3 Em busca da unidade e do equilbrio .................................. 59

    Captulo 4 A proporo atravs das relaes espaciais ........................... 79

    Captulo 5 O desenho de rostos de perfil ............................................. 97

    Captulo 6 O rosto de frente: conhecendo seus mistrios ................... 109

    Captulo 7 O rosto de meio perfil ...................................................... 123

    Captulo 8 A percepo da luz e a sombra .......................................... 131

    Captulo 9 Percebendo a cor .............................................................. 141

    Captulo 10 Como incentivar a criatividade ....................................... 157

    Captulo 11 A mandala ...................................................................... 171

    Captulo 12 A observao das emoes usando o Eneagrama ............. 183

    Captulo 13 A dupla linguagem do ser humano ................................. 217

    Captulo 14 A terceira idade .............................................................. 237

    Concluso .......................................................................................... 257

    Bibliografia ........................................................................................ 259

  • 4

  • 5Agradecimentos

    A meu mestre khristian Paterhan, filsofo e escritor, Diretor do IDHI Instituto para o Desenvolvimento Humano Integral do qual sou mem-bro h doze anos. Sem a sua orientao, esse trabalho no existiria. Aosmembros do instituto, meus irmos, que sempre me apoiaram em todos osmeus projetos. Um reconhecimento especial ao Dr. Roger Sperry e sua equipepelo aporte fundamental de sua descoberta cientfica, assim como, a Dra.Betty Edwards pela sua valiosa aplicao. Dra. Laura Mello Machado,psicloga-clnica, com mestrado em envelhecimento, Vice-diretora e coor-denadora do Instituto de Gerontologia da Universidade Candido Mendes(Ipanema, Rio de Janeiro) e terapeuta ocupacional e especializada emGerontologia Paula Travassos coordenadora do mesmo Instituto, por teremapoiado e contribudo para o nosso trabalho; Dra. Eleanor Luzes, medi-capsiquiatra e analista junguiana com mestrado em psicologia, por tersempre impulsionado e prestigiado nosso eventos e nossa atividade. A meusassistentes: a jovem e talentosa Lucia Belo e professora Eci Estanciola. ACarlos Peychaux, meu companheiro de todas as horas, pela sua dedicaoincondicional; a meus filhos, Guy e Ivana, pelo seu apoio e carinho. Ameus pais, que tm feito todos os esforos possveis para me tornarem umapessoa altura de suas expectativas. E, finalmente, agradeo a todos os quede uma maneira ou de outra tornaram por meio da realizao de pales-tras, conferncias, workshops e exposies possvel o desenvolvimento destetrabalho; e a todos os alunos que, ao longo de todo esse tempo, tenho tidoo privilgio de conhecer e aprender tanto quanto pude ensinar.

    Ldia Peychaux

  • 6

  • 7Introduo

    O mtodo apresentado neste livro, pela facilidade de aplicao, tem permi-tido a um grande nmero de pessoas ingressar num estado de maior confiana,constatando um notvel aumento de seu potencial criativo. H casos, em quealgumas delas chegaram a se destacar como desenhistas ou artistas premiados.

    A aplicao dos exerccios oferece possibilidade a um vasto pblico,que abrange desde crianas da faixa etria dos nove ou dez anos at indiv-duos da terceira idade mais avanada.

    Se voc gosta de desenhar e pensa que no sabe ou acha seu dese-nho de nvel primrio, esta sua oportunidade de provar a si mesmo quetem capacidade para desenvolver habilidades que esto relacionadas aosprocessos visual e perceptivo.

    Agora, se voc um profissional do desenho, a utilizao dessa metodologialhe propiciar a chance de aumentar ainda mais a sua confiana e criatividade,baseada na adequao das tcnicas e nos descobrimentos que a cincia temrealizado sobre as funes diferenciadas dos hemisfrios cerebrais. Essas tcni-cas foram desenvolvidas com base no mtodo Desenhando com o lado direito docrebro, de autoria da Dra. Betty Edwards; mtodo este aplicado por ns aolongo de 10 anos e que nos capacitou a transmitir nossa experincia.

    Vale salientar que a habilidade de desenhar requer apenas quatro re-quisitos bsicos:

    1) Percepo dos contornos da forma (linha)2) Percepo dos espaos vazios (superfcie)3) Percepo das relaes entre partes (proporo)4) Percepo das luzes e da sombra (volume)

    Outras questes no menos importantes como a cor, tambm mere-cem destaque neste livro. O captulo 11 contm uma bela sntese do pintor

  • 8Kandynski, extrada de sua obra Do espiritual na arte. E, aproveitando ameno do tema cor, farei aqui uma importante ressalva: muitas pessoaschegam a nossa oficina manifestando sua inteno de querer apenas pintar,sem querer passar pela experincia do desenho. Sobre isso, me vejo obriga-da a fazer duas ponderaes da maior importncia: 1) o exemplo nos reme-te a uma analogia, a de que seria normal aprender a ler e escrever semconhecer as letras e 2) a ordenao das cores se orienta em funo dos cla-ros-escuros ou nuanas que so percebidas, entre os extremos que vo dopreto ao branco. O iniciante que prescinde desta experincia essencial ques acontece durante a exercitao do desenho, no chega a sentir a cor nasua verdadeira experincia, tornando o aprendizado da pintura mais difcile incompleto por carecer do ensinamento bsico.

    Os temas: Mandalas e Eneagrama tem merecido um destaque espe-cial por sua importncia como ferramentas para o desenvolvimento huma-no, motivo pelo qual so aprofundados nos captulos 11 e 12.

    Damos tambm um destaque experincia realizada com pessoas daterceira idade. A aplicao do mtodo tem contribudo para a ativao dasade cerebral, com melhorias comprovadas em termos de memria e con-centrao. Atravs dos resultados obtidos com a prtica de exerccios, perce-bemos timos resultados, inclusive em indivduos que foram acometidospor acidentes vasculares cerebrais, como apresentado no capitulo catorze.

    E, para finalizar, fao minha a reflexo da Dra. Betty Edwards, quan-do ela chama a ateno para o fato de que o crebro participa ativamente napercepo visual dos objetos mediante a observao do entorno. No entan-to, essa informao deformada pelo ponto de vista do observador, emrazo das experincias por ele vivenciadas. Ao que tudo indica, parece haveruma tendncia a ver o que se quer ver, isto , o prprio crebro altera essainformao sem uma participao consciente do observador. Por isso, apren-der a ver ou perceber mediante o desenho muda esse processo e permiteuma viso mais direta e objetiva. Pode-se dizer que, durante o tempo queuma pessoa dedica a desenhar, seu crebro permanece suspenso, em termosde julgamento, permitindo ao observador ver de um modo mais integral ecompleto, o que leva algumas pessoas a expressarem esse sentimento pormeio de frases do tipo: Estou vendo o que antes no via!.

    Aprender a desenhar para experimentar essa sensao, at o momentoindita, apenas uma das razes para justificar o porqu deste velho e ances-tral hbito de desenhar ter sido sempre, um ato de magia.

  • 9Captulo 1

    Como se tornar mais criativo, sensvel e intuitivo?

    E sta pergunta, formulada por pesquisadores de quase todos os pasesdo mundo, motivo de incansveis estudos. E todos eles foram un-nimes ao concluir que essas qualidades criatividade, sensibilidadee intuio existem potencialmente em cada um de ns, seres humanos.Em razo dessa constatao, nos fazemos a seguinte pergunta: como pode-mos aceder esses recursos criativos e fazer de ns mesmos seres inventivos,indagadores, ousados e expressivos? Uma certeza temos: a de que enfrentaro quotidiano, acompanhados de velhos padres mentais, no nos parece sera forma mais adequada de viver a vida, uma vez que, voc e eu vivemos emum mundo, exigente, rpido e... cheio de problemas!

    Portanto, qual nossa atitude diante de tal desafio?

    Estou certa de que, s vezes, voc j deve ter experimentado a mesma sensa-o que eu, a sensao de dispor de um arsenal mental precrio, lento e ultrapassado.

    Por qu?

    Porque ns, seres humanos, no utilizamos todas as armas de quedispomos! Isto , todas as nossas capacidades e potencialidades mentais.

    Dito de uma outra forma: no colocamos o crebro humano, em suantegra, para funcionar!

    E por que isso acontece? Para responder a essa pergunta, necessrioconhecer um pouco mais a natureza humana.

    Cada ser humano tem o que chamamos de personalidade. A persona-lidade humana pode ser dividida em quatro centros. Cada um desses centrosdispe de inteligncia prpria, tambm conhecida como eu. So eles:

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    Centro Intelectual Centro Emocional Centro Fsico Centro Energtico

    Os diferentes centros que formam o eu inferior esto conectados nossa mquina mais importante: o crebro. Conhecer e identificar os diferenteseus permite observ-los com o objetivo de atingir harmonia, e controle sobresi mesmo. Porm, conhecer-se integralmente no uma tarefa fcil e a dificul-dade existe porque, desde crianas, nos ensinado a usar e respeitar um progra-ma mental de costumes e influncias adquirido e dirigido pelo centro intelectual.Este programa despreza a participao consciente dos outros centros como, porexemplo, o centro emocional, que tem grande importncia para nossa vida, comoser visto mais adiante. A inteligncia proveniente apenas do centro intelectualem detrimento do conhecimento inteligente dos outros centros traz como resul-tado um comportamento parcial e inadequado para enfrentar as necessidadesdirias do ser humano. Para ser inteligente, no sentido mais completo da palavra,no suficiente apenas pensar, voc deve aprender a sentir e no a pensar quesente. Aprender a sentir nos permite olhar o mundo de uma forma diferente! Eessa mudana necessria para romper com velhos hbitos, deixando-os de lado,e incorporar novos direcionamentos para a vida. Assim, o ser humano pode setornar capaz de atingir metas insuspeitas escondidas em seu interior, as quais, sedependessem do intelecto, nunca poderiam ser conquistadas.

    Sobre esse assunto parece haver tambm um consenso generalizadoque garante que, para o ser humano se tornar mais criativo, sensvel intui-tivo e ampliar-se mentalmente, necessrio transpor as barreiras que o blo-queiam e, para isso, precisa conhecer suas reais potencialidades. O acesso atais capacidades permite ao ser humano se autoconhecer em todos os senti-dos, oferecendo, assim, a possibilidade de exercer pleno controle sobre a suaprpria vida, o que, normalmente no ocorre com a maioria das pessoas.

    Desenvolver a criatividade para evoluir e crescer no acontece apenasporque se usa o raciocnio ou se pratica a leitura. Isso no basta! A realidadedeve ser sentida, isto compreendida e no apenas entendida intelectual-mente. Compreenso exige emoo, corao, em definitivo; enxergar a vidasob uma tica diferente.

    Acredita-se que os artistas, por exemplo, desenvolvem mais esses poten-ciais, pois tais pessoas trabalham com a linguagem da imagem, linguagem esta

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    que est ligada ao mundo da emoo. Por esse motivo, eles so capazes de gerarum ponto de vista diferente, um ponto de vista criativo, fora dos padreslineares e repetitivos comandados pelo velho programa mecnico e racional.

    Gerando um ponto de vista diferente

    A imagem serve para ilustrar um exemplo do que significa ter umponto de vista diferente.

    Observe atentamente. O que voc v? Provavelmente, ver a imagemde uma jovem com chapu vestindo um elegante agasalho de pele. Mas, sevoc continuar a observar, mais longa e atentamente, perceber que, almda imagem da jovem existe tambm, oculta, a imagem de uma velha senho-ra desdentada. Voc a viu? Isso o que chamamos de olhar com base numponto de vista diferente.

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    Olhar de um ponto de vista diferente significa fazer emergir umaviso que est oculta simples maneira de olhar, tal qual estamos acostuma-dos a fazer. Para ser capaz de visualizar elementos que se encontram ocultosem uma imagem, basta aprender a ver de outra forma. Isso nos ensina-do a partir dos treinamentos que visam estimular o desenvolvimento plenodas potencialidades cerebrais. Ao longo deste livro, voc ter outros exem-plos interessantes que ilustram esse apaixonante assunto. Por meio deles,procure ir alm do que v. Um mundo novo poder se abrir para sua maisplena realizao.

    Desenvolver essas potencialidades nos oferece a possibilidade deconhecer conscientemente a parte do crebro que menos utilizamos.Parte esta que conhecida pelo nome de hemisfrio direito do cre-bro. ela que detm a chave que nos conduz para desvendar grandesmistrios. Entre os meios mais eficientes destinados a estimular o de-senvolvimento do lado direito pode ser mencionada a prtica do de-senho, uma vez que para desenhar bem, necessrio, antes de tudo,que a pessoa seja capaz de ver de um ponto de vista diferente. Emresumo, o que tem de mudar nas pessoas nada mais do que a ma-neira como elas vem as coisas.

    Para isso, preciso ter a mesma atitude e desenvolver a mesmapercepo que os artistas utilizam ao olhar o mundo que os rodeia. Se aspessoas aprenderem essa nova maneira de ver, certamente poderoatingir os potenciais e capacidades que ainda se encontram ocultos aseus olhos.

    Para conhecer um pouco mais o nosso crebro, esse grande e enigm-tico computador humano, fundamental saber como ele se compe e quaisso as suas funes.

  • 13

    O nosso crebro

    O crebro humano formado por duas metades s quais chamamosde hemisfrios esquerdo e direito, respectivamente. O sistema nervoso hu-mano est em comunicao com o crebro mediante uma conexo cruzada:o hemisfrio esquerdo controla o lado direito do corpo; enquanto o hemis-frio direito, o lado esquerdo. Dessa forma, fcil compreender que asmos respondem ao uso invertido dos comandos cerebrais, ou seja, a moesquerda est conectada ao hemisfrio direito e a mo direita, ao hemisfrioesquerdo. Vale salientar que, nos animais, os hemisfrios cerebrais so sim-tricos no que diz respeito s suas funes; mas nos seres humanos o funcio-namento dos hemisfrios cerebrais assimtrico e o seu desenvolvimentoest relacionado exercitao da funo de cada um.

  • 14

    Como possvel verificar essa assimetria? A forma mais simples observar a predominncia do uso da mo direita na maioria das pessoas. Ospesquisadores so unnimes ao declarar que a maioria das culturas incenti-va s pessoas a usar exclusivamente a mo direita para realizar atividadesque exigem alguma habilidade manual.

    A bilateralidade cerebral

    A imagem da pgina anterior nos mostra a conformao de nosso cre-bro, que, como j foi dito, composto por dois hemisfrios, estes unidos pelocorpo caloso. Esses dois hemisfrios regem nosso corpo de maneira invertida,o que nos permite concluir que, se ativarmos o lado esquerdo do corpo (moesquerda), estaremos exercitando o lado direito de nosso crebro.

    A predominncia do uso da mo direita na maioria das sociedadespe em evidncia que o hemisfrio mais desenvolvido pelos seres humanos o esquerdo, em detrimento do direito. Este, por sua vez, no se exercita osuficiente, tornando desconhecidas as suas capacidades derivadas.

    A DESCOBERTA CIENTFICA DAS MODALIDADES DIFEREN-CIADAS DOS HEMISFRIOS CEREBRAIS

    Por meio da observao de pacientes com leses cerebrais, a cincia,aos poucos, descobriu que uma leso ocorrida no hemisfrio esquerdo, de-pendendo da sua intensidade, pode provocar a perda da fala. Isso ocorreporque, ao que tudo indica, a capacidade de falar e o domnio da lingua-gem oral esto relacionados ao hemisfrio esquerdo e este, por sua vez, com-preende a capacidade de raciocnio, pensamento e desempenho das ativida-des intelectuais.

  • 15

    Por considerar essas atividades superiores, os cientistas do sculo pas-sado batizaram o hemisfrio esquerdo de dominante ou primrio. Ao passoque o hemisfrio direito, cujas funes eram desconhecidas, foi chamadode hemisfrio secundrio. Os hemisfrios cerebrais esto unidos por umfeixe composto de milhes de fibras. Essa conexo tecnicamente conhecidacomo corpo caloso. Nos anos 1950, uma pesquisa realizada com animais peloInstituto Tecnolgico da Califrnia, dirigida pelo Dr. Roger Sperry e seusdiscpulos, mostrou que essa conexo tem como principal funo comunicaros hemisfrios cerebrais, permitindo, assim, a transmisso dos conhecimen-tos. Sua investigao baseia-se na observao de pacientes nos quais se prati-cou o corte do corpo caloso. Esta operao foi chamada de comisurotomia(nome dado operao que consiste no corte do corpo caloso separando oshemisfrios cerebrais), em outras palavras, crebro dividido. Ficou compro-vado, ainda, que ao praticar esta diviso, os hemisfrios seriam ainda assim,capazes de funcionar independentemente, com uma aparente falta de efeitodo corte sobre a conduta do paciente. A partir dessa descoberta, os cientistasse viram obrigados a revisar os conceitos ligados aos hemisfrios cerebrais, jque ambos os lados intervm nos processos do conhecimento humano, po-rm cada uma das metades do crebro especializada numa modalidade dife-renciada. Na dcada de 1960, estudos semelhantes realizados pelo Dr. Sperrye sua equipe proporcionaram valiosas informaes sobre este assunto. Pacien-tes que foram submetidos a vrios testes permitiram constatar que cada he-misfrio percebe a realidade sua maneira. A metade esquerda do crebroapresenta-se dominante a maior parte do tempo, seja em pessoas de crebrobipartido ou em pessoas de crebro normal. Ainda comprovou-se que ohemisfrio direito, que no verbal, experimenta sensaes e reaes emoci-onais, processando a informao por sua prpria conta; como se atuassemduas pessoas numa s. E o que isso tudo tem a ver com o mundo da imagem?A resposta muito simples. O lado direito se especializa na percepo daimagem da forma global e sua funo consiste, principalmente, em sintetizara informao que recebe atravs da modalidade visual. Voc deve estar seperguntando onde est a relao entre isso tudo e o desenho especificamente?Pois bem, como foi dito no incio deste captulo, para desenhar preciso quepassemos a ver a realidade de uma outra maneira, totalmente diferente damaneira convencional. Essa nova maneira a maneira como o hemisfriodireito percebe a informao visual, fazendo uma observao longa e profun-da semelhante a que feita quando se desenha. Compreende agora a ligao?

  • 16

    As pessoas em geral, para resolver assuntos relativos s suas vidas,usam, fundamentalmente, a inteligncia racional, lgica, fria e seqencial.Mas existem pessoas que agem de forma diferente e que, junto com a inte-ligncia racional usam a inteligncia emocional, ou seja, recorrem tambms capacidades do lado direito de seu crebro.

    Vale a pena ressaltar que as pessoas se esquecem ou nem mesmo tmconscincia de como utilizar essa parte do crebro. Se elas percebessem anecessidade do uso consciente das potencialidades do hemisfrio direito,grande parte dos problemas de suas vidas seria mais facilmente resolvida e,com isso, elas teriam acesso a uma vida mais feliz.

    O sexo e as funes diferenciadas de nosso crebro

    Um recente estudo realizado pela equipe de neurologistas e psiquia-tras do Instituto Nacional de Sade Mental dos Estados Unidos analisou ocrebro de dez homens e dez mulheres e verificou a diferena de comporta-mento entre os sexos feminino e masculino quando o assunto tristeza.

    Aps pedir-lhes que, diante de fotografias de rostos entristecidos,rememorassem tragdias pessoais, comprovou-se que tanto o homem quantoa mulher sentem tristeza. No entanto, nas mulheres esse sentimento maisprofundo. Nas imagens computadorizadas, o que se v so clares ilumi-nando a rea cinzenta do crebro. Os pesquisadores notaram que, no mo-mento de tristeza mxima, as mulheres ativaram uma poro cerebral oitovezes maior do que os homens. Isso lhes permitiu afirmar, sem sombra dedvidas, que as mulheres sofrem mais do que os homens. Entretanto, omais interessante veio depois. A equipe de estudiosos ainda constatou que,nas mulheres, hiperatividade caracterstica do sofrimento seguia-seum perodo de baixa geral nas funes cerebrais. como, se no momentomximo de tristeza, as mulheres tivessem ligado uma lmpada de 110 voltsnuma tomada de 220 volts: depois do claro, pane. Nos homens, que usa-vam reas menores do crebro para processar a tristeza, esse curto-circuito,foi mais raro. Essa talvez seja a explicao para o fato de as mulheres seremmais susceptveis a sofrer de depresso. De cada trs casos diagnosticados,dois envolvem pacientes do sexo feminino; e quanto mais tristeza, maischoro.

  • 17

    E mais: ainda demonstraram que, at para chorar, o crebro das mulhe-res age de maneira diferente. Um hormnio abundante no organismo femini-no, a prolactina, responsvel pela produo do leite, tambm age sobre os cen-tros nervosos que comandam a ao de chorar. Nos homens, essa substncia encontrada em menor quantidade. No perodo ps-parto, esse hormnio mais intenso, sendo comum ocorrer, paralelamente, o estado de depresso, oque revela a relao existente entre a prolactina e a exteriorizao das emoes.

    Algumas diferenas notrias entre os crebros masculino e feminino.

    Crebro masculino

    Nos homens, a funo do lado esquerdo do crebro superior ematividades como:

    Raciocnio matemtico; Tarefas que envolvem dimenses espaciais; Atingir alvos com maior preciso; Melhor percepo de padres complexos e Melhor compreenso dos objetos, em termos de causalidade fsica.

    Crebro feminino

    As mulheres usam mais os dois lados do crebro do que os homens,isto , de forma simultnea, combinam mais razo e emoo. O crebrofeminino superior para:

    Julgar o comportamento das pessoas, so mais empticas; Decifrar significados sutis de linguagem; Combinar elementos diversos; Gerar idias, especialmente por meio da palavra; Identificar a falta de algum elemento visual que faa parte de uma

    amostra; Fazer clculos matemticos com maior facilidade e Executar trabalhos manuais delicados que requerem maior habili-

    dade.

  • 18

    Essas diferenas percebidas entre os crebros dos dois sexos tambmpodem ser notadas se considerarmos diferentes culturas, como a japonesa epovos orientais em geral. Os comentrios a respeito do assunto podem serencontrados ainda neste captulo sob o ttulo A necessidade do equilbrioentre a razo e a emoo).

    Portanto, estando a par dessas diferenas entre os representantesdos sexos feminino e masculino, no adianta se desesperar quando seuparceiro ou parceira revelarem no pensar da mesma forma que voc.No perca tempo invocando os progressos do mundo moderno e nemmesmo a pseudo-igualdade sexual. A cincia est contribuindo para des-vendar certos mistrios que, certamente, vo ser bastante teis para nossoautoconhecimento. Dessa forma, estaremos aptos a viver mais adequa-damente de acordo com nossas reais capacidades e daremos um grandepasso em prol do desenvolvimento evolutivo da raa humana. Vale apena lembrar que essas diferenas existem e que, uma vez que elas di-zem respeito a ns mesmos, elas se tornam um assunto de extremo inte-resse para o ser humano, pois no h maior preocupao do que desco-brir os mistrios que fazem parte da nossa existncia, isto , conhecer anatureza humana em sua totalidade e estar apto para explorar todas assuas potencialidades.

    As sutis diferenas entre as capacidades feminina e masculina nosdemonstram a necessidade da interao equilibrada entre: o homem e amulher possibilitando, na unio, o crescimento evolutivo da espcie hu-mana.

  • 19

    Dualidade cerebral ou duas formas de conhecimento?

    De acordo com a presena da dualidade cerebral, direita e esquerda,os msticos, filsofos e cientistas de todas as pocas tm postulado o concei-to de polaridade ou dualidade do pensamento humano. Com base nesseprincpio, haveria duas formas paralelas de conhecimento.

    De fato, muitas vezes diante de uma mesma situao, agimos de for-ma contraditria. O raciocnio nos sugere uma idia que o outro lado docrebro, o lado intuitivo, no aceita. Essa a prova mais contundente deque ambos os lados do crebro esto processando uma mesma informaode maneira diferente.

  • 20

    Cada um dos hemisfrios recolhe a mesma informao sensorial, noentanto, o fazem de maneira diferente. Na verdade, como se cada umdeles tivesse um estilo, uma forma especfica de posse das informaes. Ohemisfrio esquerdo analisa, abstrai, conta, planifica os procedimentos pas-so a passo, verbaliza e faz o raciocnio seguindo a lgica. Ao passo que ohemisfrio direito nos apresenta uma modalidade diferente. Com ele, ve-mos coisas imaginrias, as visualizamos, somos capazes de entender met-foras, vemos como as coisas existem no espao, sonhamos, usamos a intui-o e, por meio dela, compreendemos a realidade; temos idias criativas e,aparentemente, do nada, produzimos o conhecido insight.

    Mas, como vimos, existe um porm: no sabemos colocar essa partede nosso crebro em ao consciente. No sabemos porque s conhecemosum lado desse nosso grande computador e o programa que nos ensinaram,na maioria das vezes nos limita, deixando-nos frustrados. Devemos, pois,criar um novo programa capaz de suprir nossas reais capacidades mentais eatingir nossos objetivos de vida; um programa que nos permita usar total-mente o nosso crebro, a fim de trazer tona ferramentas ocultas que nosajudem a ter uma viso diferente que nos permita viver mais plenamente.

    Outro enfoque da dualidade: Yin Yang

    Nosso crebro tambm apresentado pelos orientais atravs dos sm-bolos do yin e do yang. O yin-yang o todo, o cu e a terra, o cosmo, todosos seres e todas as coisas.

    Os dois pares yin-yang so o vazio e o cheio respectivamente e apre-sentam nexos to estreitos que, em muitos casos, quase se confundem. Tan-to assim que, no I Ching, a idia do cheio pode ser sugerida pela linhacheia, signo do yang; ao passo que a idia do vazio pode ser representadapela linha quebrada, o signo do yin.

    Essa linha quebrada bastante significativa por si s, pois a simbologiade duas unidades superadas por um espao que, na verdade, um vazio,sugere a possvel idia de transformao.

    Sendo assim, est correto dizer que: uma pessoa criativa aquelaque usando os dois hemisfrios cerebrais em forma equilibrada ca-paz de perceber de modo novo as informaes para busca de diferen-tes solues.

  • 21

    Hemisfrio Direito Hemisfrio Esquerdoyin yangfeminino masculinogeral especficoinconsciente conscientecaos ordemcompreenso entendimentoservio trabalhotudo est correto bom e ruimno admite imposio obrigatrioartstico culturalfuno normasemoo razomatria esprito

    A necessidade do equilbrio entre a razo e a emoo

    Lembre-se de que se voc usa mais o lado da razo, sentir a falta devivenciar a emoo, se refletindo numa vida montona, repetitiva e carentede significados. Da mesma forma, se voc usa mais o lado emocional, elapoder ser como um barco sem timo. Sob qualquer uma das formas que vocescolher viver, seja guiado somente pela razo ou apenas pela emoo, alateralizao sempre trar desequilbrio. necessrio haver, pois, um equilbrioentre ambas as capacidades, entre a razo e a emoo. O nosso centro emocio-nal uma poderosa fora inconsciente que carece de corpo material, por issoquando se defronta perante um perigo iminente convoca rapidamente o corpodepositando nele a sua energia e trazendo tona as doenas que to bem conhe-cemos. A medicina psicossmatica tem mostrado que cada parte de nosso cor-po tem a sua contrapartida emocional. Veja a seguir que partes do nosso corpoesto intimamente relacionadas s emoes que sentimos:

    Orgos versus SentimentosCorao AlegriaPulmo TristezaBao PreocupaoFgado RaivaRim Medo

  • 22

    Conhecer nossas emoes, observ-las, process-las conscientemen-te saber exatamente como vigiar a nossa sade fsica, a fim de preservar anossa energia vital. Mas conhecer nossa emoo , no entanto, um trabalhorduo que requer pacincia e muita fora de vontade por sua natureza sutil,de rpida expresso e muito diferente da percepo que temos de nossocentro fsico. Sua localizao no crebro pode ser distinta, de acordo com ospovos, culturas e linguagens, como nos revela o resultado de uma pesquisacientfica realizada em Tkio, no Japo que afirma existir diferenas defuncionamento emocional entre os crebros de ocidentais e orientais.

    Basicamente, as diferenas apontadas entre os crebros dos ociden-tais e orientais referem-se ao fato de que a emoo est distribuda por todoo crebro, estando tambm presente no lado racional do crebro japons eda cultura asitica em geral. J no crebro ocidental, toda a emoo ficaarmazenada no lado direito, vulgarmente conhecido como inconsciente.Aprofundando o tema ainda deve-se considerar que a emoo responsvelpela conduta ou comportamento dos homens, que os pesquisadores tmclassificado como introvertidos e extrovertidos. Cada um desses tipos decomportamento, e medida que as geraes vo aprofundando seus traos,trazem como conseqncias, o exagero, alvo de nosso desequilbrio, geran-_____________________________________________

    Pesquisa cientifica realizada por Tadanobu Tsunoda do Instituto de Pesquisas mdicas daFaculdade de Medicina de Tquio.

  • 23

    do personalidades doentias que irradiam desordem e mal-estar. Isso semfalar nos casos mais extremos que, infelizmente, tm-se tornado comunscomo, por exemplo, a violncia, a guerra e outros tipos de deturpaes. Osfundamentos expostos explicam a urgncia de ativar outros programas emnossas mentes para que as despertem de forma consciente necessidade derestabelecer o equilbrio. O novo programa que visa desenvolver o ladodireito consiste num trabalho emocional adequado para poder desdobraros sentimentos negativos que carregamos, a fim de evitar que seus efeitosreflitam em nosso corpo fsico e social. Esse trabalho, por suas caractersticasespeciais, tem como conseqncia o aumento simultneo de nossa capacida-de de observao, ateno e concentrao, o que certamente ter como resul-tado uma maior capacidade de memorizao, mais autoconfiana e presen-a cada vez mais notria do famoso sexto sentido, isto , da intuio.

    Intuio

    Falar sobre intuio falar sobre algo que no pode ser totalmenteesclarecido, uma vez que o que se vivencia dificilmente pode ser expressoem palavras. Talvez a definio mais prxima de intuio seja aquela quediz que a intuio capacidade de ouvir a voz do corao.

    A intuio a antecmara da criatividade, pois ela que nos d asensao de que uma idia nunca antes experimentada pode funcionar,mesmo que parea uma loucura. s vezes, sem fundamentos lgicos, algonos diz que: devemos ir em frente, que o caminho a seguir esse. A intui-o que desvenda as possibilidades ocultas, favorecendo a inspirao. Pes-quisadores da rea tm mostrado que ante um evento comportamental, oser humano tem, no mnimo, dois meios de dar uma resposta; uma delasprovm da voz do eu (ego) e que vem de fora, a chamada extuio; e aoutra reconhecida como a voz interior, a que chamamos de intuio (ouvoz da sabedoria). Para ouvir essa voz interior, preciso silenciar a voz do ego. ela que nos permite antever um problema ou mesmo ter uma sensao emrelao a um projeto ou processo e confiar em nossas sensaes mais profun-das. Sobre a intuio, comum dizer-se ainda: a soma total das experinciasou a sabedoria de vida no se apresentam como uma lista organizada de fatosimportantes, mas sim como sentimentos instantneos,verdadeiros ecos deuma voz interna.

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    A intuio se manifesta como uma impresso sentida como fruto dapercepo emocional. Ela se apresenta de forma instantnea e quase global,sem detalhes e quase obscura, revelando-se com fora total e capaz de acio-nar o alarme sobre um fato, criando a certeza da escolha. Uma certeza deum fato ainda futuro, que ajuda o indivduo a se proteger contra conseq-ncias negativas. Essa escolha permite a tomada de decises mais esclarecidasfrente a um nmero determinado de possibilidades; e a colaborao doraciocnio, nesse momento, vem a ser de muita valia para fortalecer as basesda escolha feita a partir da intuio, operando ambas em forma de equil-brio. Alm dessas conseqncias imediatas do fator intuio, outras consi-deraes so percebidas, fundamentalmente, no nvel da influncia que elaexerce em relao aos outros. A intuio atua como uma grande conselheirae nos convida a nos importar com o prximo, fazendo valer na prtica umsentimento de imenso valor interpessoal, como a empatia, nome dado aesse sentimento que implica um solidarizar-se com o outro.

    Como podemos melhorar o nosso poder de intuio?

    Para melhorar o seu poder de intuio, procure ter alguns momentosde silncio. Normalmente durante esses momentos que voc promove oencontro com seu artista interior, isto , quando voc se destina a ativida-des como escrever seu dirio ou desenhar, criam-se as ocasies ideais paraouvir a voz interior. Lembre-se que intuio (intui), into, significa indopara dentro. Nada podemos ouvir, se no nos propusermos a ouvir. Umadas condies favorveis para isso o silncio. s por meio dele que pode-mos ouvir a mensagem que ainda est oculta, escondida nos labirintos danossa vida inconsciente.

    Procure conscientemente desligar seu hemisfrio esquerdo, utilizan-do as tcnicas do nosso mtodo que so ideais para produzir esse efeito. Epor que isso necessrio? Porque o lado esquerdo atua como um censor,agente bloqueador por excelncia, e dono da voz do julgamento. Exercedomnio quase total sobre nossa vida e, ainda, tem a capacidade de anularos insights provenientes do contato com a intuio.

    Respeitar e procurar conhecer a linguagem da intuio de grandevalor para a interpretao da linguagem no verbal, j que desvenda senti-mentos ocultos por meio de gestos, posturas e expresses facilmente

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    detectveis aos olhos de um observador experiente. Essa tarefa difcil deser realizada para aqueles que depositam toda a sua capacidade de compre-enso, levando em conta apenas as palavras.

    Diante de eventos interpessoais, devemos nos deixar orientar pelofluxo intuitivo que consiste em formular perguntas claras, a fim de expan-dir o nvel de empatia, elucidando, assim, a dvida e a ambivalncia. Afora da intuio um auxlio eficaz para o nosso crebro que, mecanica-mente, tende a fazer escolhas negativas. Para evitar a prevalncia dessa in-fluncia, a formulao de perguntas claras e o exerccio da atitude da prti-ca da solidariedade gerados pela empatia tornam-se aliados de extrema im-portncia.

    Assim como perguntas claras evitam as conseqncias negativas daambivalncia, estabelecer correlaes emocionais mais claras acarretam omesmo efeito, ou seja, um comportamento transparente.

    Aprofunde sua experincia. Para atingir o estado de profundidade, indispensvel estar atento e concentrado. Mergulhe fundo, naturalmente, esem o emprego da fora; ultrapasse seus limites de forma natural, expan-dindo suas possibilidades e rompendo a fronteira do medo. A capacidadede ousar existe em todos ns, porm esquecida pela sociedade que, pormeio de diferentes formas de manipulao, cria limites inexistentes no ter-reno do potencial humano, resultando no surgimento de crenas negativasque impedem as pessoas de fazer novas descobertas e conhecer novas di-menses existentes. As crenas negativas atuam como um agente corrosivo,destruindo as infinitas possibilidades que ainda nos so oferecidas. Umadessas crenas se baseia no fato de que a criatividade deve ser aplicada paraa vida pessoal ou familiar, mas o mesmo principio no se aplica ao trabalho,e por isso que algumas pessoas tm se revelado criativas na manipulaodo oramento familiar, porm, quando esto nos seus locais de trabalho,fazem uso exclusivo do racionalismo em detrimento da sua capacidade in-tuitiva e criativa. O que se verifica, com isso, um menor rendimento tanto individual quanto geral dos resultados, isto , entre os que so espe-rados e os que foram obtidos.

    recomendvel, ento, projetar a capacidade intuitiva tambm notrabalho, pois o fluxo intuitivo est presente em todas as reas de nossavida. Observe como a sua intuio se comunica com voc por meio dediferentes sinais; da audio, da imagem e do corpo. Para fazer essa ob-

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    servao, imprescindvel estar atento sua voz interior, uma vez queum dos inimigos mais poderosos e persistentes o medo. Esse senti-mento, valendo-se do recurso da imaginao ou de sua capacidade deprojetar imagens com fora semelhante realidade, leva a pessoa a seconfundir e, acreditar numa aparente verdade. O discernimento , nes-se caso, um recurso extremamente til, pois s ele capaz de distinguirquando a voz interior que est se pronunciando e quando a voz dapersonalidade que, por meio da imaginao, nos traz informaes enga-nosas.

    O que no sabemos sobre o uso da mo esquerda

    Desde a mais remota Antigidade, as Escolas Iniciticas (nome dados Escolas em que os discpulos se iniciavam no Conhecimento dos Gran-des Mistrios ou Cincias Ocultas) tm se preocupado com a evoluo in-tegral do ser humano, instaurando, para esse fim, prticas psicofsicas edentre elas, nos interessa destacar o chamado Ncleo da Mo Esquerda.Essas prticas destinam-se especificamente ativao do hemisfrio direitodo crebro, buscando atingir o desenvolvimento integral do ser humano,de forma harmnica e equilibrada. Essa prtica baseia-se na funcionalidade

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    1. DA VINCI, Leonardo. Pensamento Vivo. So Paulo: Editora Martin Claret, 1995.

    do crebro que, como j foi explicado, cruzada a parte direita do corpo regida pelo hemisfrio esquerdo; e a parte esquerda, pelo hemisfrio direi-to. Por isso, treinar conscientemente uma atividade psicomotora (como odesenho, por exemplo) especialmente com a mo esquerda contribui para odesenvolvimento do hemisfrio cerebral direito. Essa teoria explica porquegrandes nomes da Histria como Leonardo da Vinci, por exemplo, foramconscientemente ambidestros, destacando-se este como um dos casos maisnotveis, tendo em vista a sua capacidade, criatividade, viso holstica, ima-ginao e senso prtico.

    Durante toda a sua vida, Leonardo da Vinci usara com igual maestria,tanto a mo direita como a esquerda, e necessitava de ambas para o seutrabalho: com a mo esquerda desenhava; com a direita pintava. Nessaunio de duas foras opostas consistia, segundo afirmava ele prprio, asua superioridade sobre os outros artistas.1

    Da Vinci tambm escrevia normalmente com ambas as mos. Ele ain-da era capaz de redigir ao inverso, isto , da direita para esquerda. E foi assimque Da Vinci escreveu 13 volumes de sua obra, com caligrafia boa e clara, ques podiam ser lidos com a ajuda de um espelho. Exemplos como esse nosmostram, na prtica, os benefcios obtidos com essa experimentao.

    A prtica do desenho com a mo esquerda, realizada de forma consci-ente, modifica o estado de conscincia de quem o executa, pois o indivduose sente transladado, ou seja, transportado para outra dimenso, fora de seutempo. Essa a maneira por meio da qual as pessoas so capazes de expressarestados alterados de conscincia. Mesmo aquelas que jamais estudaram oupraticaram desenho conseguem chegar a um estado agradvel de profundapaz e relaxamento. Aprendendo a controlar conscientemente o crebro, estamosaptos a abrir uma porta dimensional que nos propiciar experincias inditaspara o desenvolvimento real do ser humano.

    Um dilogo entre as mos esquerda e direita

    A necessidade de utilizao da mo esquerda tem outras conotaes.Trata-se de descobrir o poder que se encontra na outra mo. Terapeutas

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    que trabalham o autoconhecimento tm feito descobertas muito valiosassobre o poder que se encontra na mo esquerda, ou seja, na outra mo.Por isso, a utilizao das duas mos em exerccios de escrita por meio dedilogos tem revelado segredos ocultos do mundo inconsciente.

    O s exerccios esto fundamentados nos conceitos da anlisetransacional: o pai interior, a criana interior e o adulto.

    O pai interno ou pai crtico representa o agente bloqueador da auto-estima, um grande sabotador da criana interior, que representada portoda nossa capacidade emocional criativa e intuitiva, reprimida na maioriadas pessoas adultas. Para vivenciar o pai interior, por meio de exerccios,devemos usar a mo direita cujo comando pertence ao lado esquerdo docrebro, tradicionalmente conhecido por ser frio e racional.Aprofundamentos tericos sobre esses assuntos no so objeto da exposiodeste livro, por isso nos limitaremos a mostrar apenas os exerccios para queeles possam ser experimentados.

    Os exerccios so desenvolvidos na forma de dilogo. A mo direitarepresentando o hemisfrio esquerdo por meio da voz do pai interior; e amo esquerda expressando, por meio dos sentimentos, a capacidade criati-va da criana interior, dando direo parte adulta para que esta possavoltar a ter iniciativa, fazer planos e tomar novas decises. Esse um exerc-cio de recuperao e reintegrao entre uma parte vtima atratora de todasas culpas a criana e seu vilo autoritrio e controlador.

    A parte que atua como vtima a parte ntima do mundo psquicoque, geralmente, fica soterrada por anos e anos, gerando um vazio existen-cial responsvel pela angstia que muitas pessoas sofrem normalmente nameia-idade. Informar mo direita o que faz a esquerda e vice-versa cura,traz claridade e faz sentir uma agradvel sensao de bem-estar.

    Promover esses treinamentos, sob a forma de dilogos, proporcionaao ser humano uma injeo de energia criativa. Isso faz com que a prticadesses exerccios se transforme numa poderosa ferramenta no combate crtica e dvida, tornando-se um mtodo infalvel na hora de enfrentarqualquer classe de conflitos.

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    Dilogo entre a Mo Esquerda e a Mo Direita

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    OBSERVAES:

    Para realizar esse exerccio com sucesso, importante, antes de tudo,escolher um lugar sem rudos, distraes ou exigncias provenientes do ex-terior. Esse trabalho requer concentrao mxima e uma atmosfera que fa-vorea a auto-reflexo. Ainda se faz necessrio dispor de tempo suficientepara execut-lo, sem pressa nem presso. O ideal dispor de, pelo menos,trinta minutos. A tarefa confidencial e no deve ser revelada a ningum;muito menos a pessoas que tenham olhos crticos e mentes incompreensivas.

    Materiais empregados:

    Papel liso tamanho A4.

    2 lpis ou 2 duas canetas tipo hidrocor (de cores diferentes).

    Concluso:

    Por meio da conversa promovida entre as duas mos, podemos co-nhecer a criana que somos, antes mesmo de aprender a manifestar atitudesnegativas. Somos capazes, ainda, de entrar em contato com essa criana aqualquer momento, uma vez que ela uma verdadeira fortaleza, prontapara nos atender sempre que precisarmos de ajuda.

    Muitos aspectos de nossa criana reprimida podem se manifestar pormeio das atividades desempenhadas por nossa outra mo. A criana assus-tada e vulnervel, a brincalhona, a extravagante dama de vermelho, a so-nhadora interior, a mulher sbia e, at mesmo, os arqutipos aos quais faziareferncia o renomado psiclogo suo Jung: a grande me, a anci mulhersbia, a mulher selvagem, a deusa. Por meio desses contatos, podemos as-cender ao nosso Ser interno; fonte de amor, paz e sabedoria.

    OUTROS EXERCCIOS

    Utilizando ambas as mos no desenho, estamos aptos a realizar umaexperincia inusitada e quase sempre reveladora. Repare no desenho a con-tinuao, e utilizando as duas mos tente reproduzi-lo.

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    O mistrio do canhoto

    Na maioria das culturas, 90% da populao utiliza a mo direita pararealizar atividades que exijam algum tipo de habilidade. Essas evidnciasso conhecidas desde os tempos pr-histricos.

    Dados descobertos pelos pesquisadores americanos Sally P. Springere George Deutsch (Crebro Esquerdo, Crebro Direito, Summus Editorial:So Paulo, 1993) revelam que um estudo feito com 1.180 trabalhos de arteabrangendo um perodo de 5.000 anos que vai do ano 3000 a.C. a 1950, mostra que a utilizao das mos direita e esquerda na pintura no sofreunenhuma mudana ou tendncia significativa no decorrer de todo esse tem-po. Os dados da pesquisa revelam que a mdia da utilizao da mo esquer-da nos desenhos fica em torno de 7% a 8%.

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    Os canhotos so freqentemente chamados de sinistros, o que setraduz como sinnimo de falta de habilidade. Em quase todas as lnguas, ostermos esquerdo ou canhoto possuem significados depreciativos, queacabam por gerar uma srie de outros nomes que carregam em si essaconotao negativa como, por exemplo, desajeitado, inapto, pernicioso,etc. Mas um ponto est claro: a associao do lado esquerdo com o que considerado mau j vem de longa data.

    E onde estaria a origem desse preconceito? Ainda no possvel daruma resposta definitiva para essa questo. Somente especulaes e teoriassurgem na tentativa de explicar o mistrio que envolve os assuntos relacio-nados predominncia da habilidade manual direita.

    A seguir, apresentam-se trs teorias que fundamentam a predomi-nncia manual direita.

    a) Teoria Biolgica: existe uma crena de que o uso de uma ou deoutra mo gentico, podendo ser explicado com base nas leis daherana. No entanto, vrios estudos realizados com gmeos colo-cam em dvida os preceitos dessa teoria.

    b) Teoria da Distribuio Visceral: essa teoria, em voga no sculo XIX,fundamentava que os rgos internos do corpo humano estavamdistribudos de forma assimtrica. Dessa forma, os mais pesadoscomo, por exemplo, o fgado, descansariam sobre o lado direito. Afim de atingir o equilbrio, o corpo preferiria descansar sobre o ladoesquerdo, liberando, assim, a mo direita para realizar todas asatividades que requerem habilidade. Com base nesse raciocnio, oscanhotos seriam pessoas com o fgado localizado no lado oposto,ou seja, com a posio invertida.

    c) Teoria de Broca: batizada com o nome de seu autor, essa teoria acreditaque uma pessoa destra porque utiliza o lado esquerdo do crebro. Essateoria se baseia na investigao das funes dos hemisfrios cerebrais.O fato de o hemisfrio direito se ocupar da metade esquerda do corposeria a razo para que os canhotos escrevam com a mo esquerda. Omesmo vale se considerarmos o hemisfrio esquerdo do crebro.

    Diversas teorias ainda defendem que a predominncia cerebral obe-deceria teoria da espada e do escudo. Essa teoria explicada da seguinte

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    forma: o escudo estaria presente no lado esquerdo a fim de proteger o cora-o, ficando a cargo da mo direita empunhar a espada. Essa teoria desco-nhecia as mulheres destras e os deficientes auditivos, uma vez que estes noparticipam de combates.

    Para combater a teoria de que somos destros porque usamos o hemisfrioesquerdo, surgiram outras pesquisas baseadas no estudo do comportamento dediferentes povos, fundamentando que havia se formalizado um juzo moral emfavor da mo direita. Para eles, a disseminao de sua utilizao, provocou odesenvolvimento do hemisfrio esquerdo do crebro. Esta teoria parece ser amais generalizada, pois os especialistas das cincias sociais acreditam que emtodo o mundo existem os mesmos juzos morais e valores referentes s mosesquerda e direita, refletindo-se nos costumes e nas lnguas.

    notvel que, entre culturas separadas no s pela distncia, mastambm pelo tempo, parece existir um ponto comum: direito bom,esquerdo ruim. Essa constatao revela claramente a existncia de umaconspirao contra a mo esquerda, com raras excees de algumas tribosamericanas e da cultura oriental, especialmente a chinesa.

    Essa conspirao ou perseguio tem trazido muito sofrimento aoscanhotos cujos pais, desesperados em corrigir o uso da mo preferencial,no hesitaram em recorrer aos castigos corporais numa tentativa de pro-mover a correo da mo equivocada.

    Na crena popular, a mo esquerda definitivamente tem uma mreputao. At mesmo quando nos referimos palavra esquerda, estamosatribuindo a ela uma conotao negativa. Vale a pena salientar que, emcertas culturas, o lado esquerdo est associado ao princpio feminino. Nastradies orientais, por exemplo, o lado esquerdo do corpo ou o femini-no, como tambm chamado, o lado receptivo. Essa capacidade estligada ao lado direito do crebro, ponto que nos interessa considerar nes-te livro. O importante resgatar aqui que uma grande parte de nossapotencialidade, cuja porta de acesso se d atravs do lado direito do cre-bro, fica sem se desenvolver por conta do uso predominante da mo di-reita. Teria, ento, o uso da mo esquerda segredos que a maior parte dahumanidade desconhece, salvo raras excees de algumas culturas? Ousimplesmente, trata-se de um processo de descoberta, j que hoje nin-gum pode deixar de conhecer a importncia de certas capacidades comoa intuio, a sensibilidade e outras faculdades?

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    Reflexes parte, seja qual for a razo desse interesse, no podemosdeixar de considerar, conscientemente, a importncia da existncia damo esquerda como o primeiro passo para obter sucesso num posterior eeficaz contato com o crebro direito, isto , o crebro da emoo. Prati-cando alguns exerccios fsicos tambm podemos ajudar a desenvolveresse potencial. Podemos, por exemplo, comear com bolas macias, aper-tando-as com a mo esquerda vrias vezes por dia durante alguns minu-tos. Quando voc j estiver bem treinado nesses exerccios mais simples,tente executar tarefas mais complexas durante um perodo de tempo mai-or, alternando entre uma complexa e uma simples. Um bom exerccio copiar uma pequena poesia ou fazer um desenho, fruto de sua imagina-o, sempre usando a mo esquerda.

    Nossa experincia com o desenho tem apresentado alguns casos in-teressantes. Quando algumas pessoas desenham normalmente, usandoa mo direita, os bloqueios emocionais interferem, inibindo a expressonatural do desenho. Quando isso acontece, elas so convidadas a usar amo esquerda. Como resultado, percebe-se, claramente, uma desinibioevidente, maior harmonia na composio, detalhes em tamanhos maio-res, o que vem revelar senso de unidade.

    mo esquerda

    No desenho feito com a mo esquerda, vemos uma paisagem mon-tanhosa. interessante observar como as formas esto desenhadas demaneira ingnua. O trao trmulo reflete a falta da habilidade mecni-ca, uma conseqncia da no utilizao constante da mo esquerda paraeste fim.

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    As formas primrias de representao como o sol e outros elementosque compem a cena confirmam o surgimento da criana interior, at en-to, abafada pelo domnio da outra mo.

    Ao utilizar a mo esquerda, revela-se nosso potencial emocional no spor meio do desenho e das pinturas, como tambm por meio de outras pr-ticas igualmente criativas como, por exemplo, a poesia ou a prosa. Pessoasque nunca experimentaram deixar fluir a expresso literria a partir da moesquerda fazem descobertas maravilhosas sobre suas potencialidades ocultas.

    Poesia escrita com a mo esquerda

    Durante conferncias e palestras, sempre surgem perguntas variadassobre esse assunto apaixonante. Entre elas, podemos destacar algumas como:os canhotos tm o lado cerebral direito mais desenvolvido? As respostaspara esta pergunta so ambguas, uma vez que o tema apresenta controvr-sias. Alguns pesquisadores afirmam que os canhotos podem ser divididosem dois tipos:

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    1) canhoto por herana. Nesse caso, a lateralidade cerebral estariainvertida, herdando essa condio atravs de geraes da sua famlia. Sendoassim, no haveria nenhuma diferena em relao ao destro, apenas a ocor-rncia da inverso.

    2) h ainda um outro tipo de canhoto, que teria um fator diferencial.Trata-se do canhoto que nasce sob essa condio isoladamente. Acredita-seque este tipo de canhoto estaria em melhores condies de desempenho desuas capacidades sensveis e intuitivas, no entanto, essa condio nada acres-centaria ao seu nvel de conscincia, ao seu crescimento como ser humano,se tais capacidades no fossem colocadas em prtica de forma consciente,visando uma real transformao.

    Vantagens do uso da mo esquerda

    Quando as pessoas experimentam usar a mo esquerda nos exercci-os de desenho, comprovadamente melhoram sua capacidade de fixar a aten-o, observao, concentrao.

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    A concentrao se manifesta tanto em relao viso quanto aosdetalhes. O detalhe um elemento que est ligado ao lado esquerdo. Noentanto, compreende um paradoxo, pois quando o detalhe participa numcerto contexto motivo de alta concentrao a pessoa levada a expe-rimentar uma sensao de desapego ampliando, assim, a sua percepo eprovocando estados alterados de conscincia que algumas pessoas tmclassificado como sendo equivalentes a uma grande sensao de felicida-de. Alta concentrao o comeo, o meio e o fim desse processo.

    E o que concentrao?

    A concentrao uma faculdade indispensvel para o desenvolvi-mento das potencialidades humanas. Assim o define Christiam Paterham,filsofo, escritor e fundador do Instituto para o Desenvolvimento HumanoIntegral, que aborda esse tema mais profundamente em seu livro Despertare Autoconhecimento: O despertar interior atravs do Quarto Caminho.2

    Quando a ateno, dirigida de forma consciente, naturalmente seexpressa como concentrao. Para que voc compreenda melhor esse con-ceito, pense numa mesma palavra subdivida em trs outras, a saber: con-centrao com-centro-ao, isto , atuar com um s centro, um s obje-tivo, alcanado por minha correta ateno.

    claro que, para que as pessoas estejam concentradas, precisoum estado de ateno. Durante as aulas, percebo que os alunos, s ve-zes, interpretam ateno como um estado de tenso. Sendo que se trataexatamente do contrrio. Consultando a raiz da palavra, observamosque ela se divide em duas:

    a) a = prefixo negativo (sem).

    b) Tenso.

    Portanto, ateno significa sem tenso, ou seja, relaxado; estado quefavorece o surgimento das ondas alfas do crebro propiciando momentosde solues criativas, insights, etc.

    A ateno permite a observao mais aguada, o que conduz o indi-vduo a uma concentrao mais profunda, a um estado de presena e paz;

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    2. PATERHAM, Cristiam. Despertar e Autoconhecimento: O despertar interior atravs doQuarto Caminho. Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil, 1993.

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    vivenciando um estado de harmonia interior. E, claro, que essas sensaesexperimentadas durante os exerccios nada traro, em termos de benefciosduradouros, se os esforos no se fazem, alm da curiosidade inicial.

    bom salientar que esse processo tambm pode ser atingido por meioda transio mental de modalidade do lado esquerdo do crebro para a mo-dalidade do hemisfrio direito, utilizando a mo direita. Porm, existem al-gumas diferenas.

    Ao utilizar a mo esquerda, as pessoas conseguem mudanas mais profun-das, em menos tempo, no entanto tm de estar dispostas a uma entrega total. necessria uma grande dose de desapego, pois a pessoa tem que assumir o traofeio, produto de uma mo no treinada convenientemente. Os diferentes tiposde personalidades constituem um grande empecilho para realizar profundamenteessa experincia, uma vez que a vaidade, o orgulho, o perfeccionismo, entre ou-tros, no deixam a pessoa livre para tentar esse aprofundamento e, com isso, elaacaba desistindo de desenhar com a mo esquerda; no por no conseguir atingiro objetivo, mas por no suportar o atrito. Por essa razo, nos cursos so usadasambas as mos e, no incio, os profissionais do preferncia momentnea ao usoda mo direita, mas deixando bem evidente a necessidade da transio cerebralpara que o objetivo seja atingido. O apego aos resultados um outro obstculosrio no desenvolvimento cerebral direito. O praticante inicia o processo com afinalidade de aperfeioar seu desenvolvimento cerebral, porm quando comea aver os resultados positivos desse trabalho, desvia o foco do objetivo principal ecomea a exigir de cada exerccio o resultado de um quadro para ser exibido numagaleria de arte, confundindo treino e aprendizado com exerccio profissional, notolerando erros e trazendo ao processo todos os vcios do trabalho desenvolvidoem forma competitiva que pertencem outra rea do crebro.

    Necessidade do uso da mo esquerda

    Alguns tipos de personalidade tm muita dificuldade para relaxar.Geralmente, os tipos mais extrovertidos so inquietos. Para estas pessoas,recomenda-se o uso da mo esquerda no comeo da exercitao, uma vezque por esta estar menos treinada h uma maior lentido. Dessa forma, possvel alcanar estados de maior quietude fsica e, como conseqncia,consegue-se prestar mais ateno, o que favorece a concentrao e produzum timo resultado, externo visual e interno-emocional.

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    Exerccio feito com a mo esquerda

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    Desenhos com a Mo Esquerda

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    Captulo 2

    Como discernir o uso de cada hemisfrio cerebral em umaatividade especfica?

    muito simples. Uma das formas de discernir o uso de cada hemisfrio cerebral se d por meio da percepo da velocidade, isto , precisamos nos conscientizar sobre qual o hemisfrio que chega maisrpido para realizar uma tarefa e capaz de execut-la bem? A outra per-gunta : qual o interesse demonstrado em desempenhar uma determinadatarefa? Ou seja, qual o hemisfrio que mais se atrai pela tarefa, a ponto dedemonstrar interesse em execut-la? Quando falamos de velocidade, estamosnos referindo a tempo; ao passo que quando nos referimos a interesse, estamostratando de emoo, de espao; e essas so, justamente, as duas dimensesque pertencem ao homem neste nvel de conscincia. De forma sintetizada:

    Tempo = hemisfrio esquerdo

    Espao = hemisfrio direito

    No entanto, essa separao no muito confivel, no sentido de de-tectar as tendncias dos hemisfrios. Isso porque o lado esquerdo, alm deestar mais desenvolvido, possui o recurso da linguagem e, com sua rapidez,se impe para realizar qualquer tarefa, inclusive aquela que, por tendncianatural, ele no est apto para desempenhar. Por exemplo, uma atividadelenta como o desenho no pode, obviamente, ser praticada por essa partedo crebro que , por excelncia, rpida.

    Determinar a competncia natural de cada hemisfrio em relao tarefaadequada exige observao. Sobre esse assunto, quero falar mais, mais

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    detalhadamente, mais adiante, pois existem muitos tipos de observao e, nessecaso especfico, estou me referindo a uma observao muito especial.

    Prosseguindo com nossa anlise, possvel notar que o lado esquerdode nosso crebro rejeita todo tipo de tarefa que requer muito tempo parasua execuo. Isso acontece porque a atividade detalhada ou lenta, ou,simplesmente, pelo fato de ele no poder realiz-la. Esta a chave de todoo processo: para desenvolver o lado direito do crebro, precisamos detarefas que o lado esquerdo do crebro rejeite. Um bom exemplo aatividade artstica em suas diferentes formas de manifestao, seja o dese-nho, a msica, a meditao e toda e qualquer atividade que exija lentidoe uma viso global da realidade. Esse o principal aspecto a se considerare, de acordo com a minha experincia, ao longo de todos esses anos, oque mais confunde as pessoas, pois comum ouvir comentrios do tipo:Ah! No me interessa desenhar! E a minha resposta : No se trata deaprender a desenhar para se tornar um artista ou algo parecido. Trata-sede experimentar um estado de relaxamento mental, num processo de des-ligamento do lado esquerdo. Logo, no importa qual seja a atividade a serrealizada, desde que sejam levados em considerao os requisitos necess-rios para estar apto a acessar o lado direito do crebro. Quem procuradesenvolver as faculdades do lado direito do crebro, utiliza as ferramen-tas anteriormente descritas como testemunhas, verificando, na prtica, asmudanas que ocorrem em seu crebro.

    Ciente da importncia deste trabalho, procurarei mostrar a voc, esti-mado leitor, como aplicar esse mtodo para acessar as potencialidades dolado direito do crebro. O primeiro ponto para o desenvolvimento do hemis-frio direito (ou lado direito) consiste em gerar um ponto de vista diferente.Mas diferente de qu? Da nossa maneira habitual de enxergar a realidade.

    Com base nesse conceito, para executarmos a primeira lio prtica,sugiro tambm colocarmos em funcionamento uma idia diferente, umavez que precisamos entreter o hemisfrio esquerdo, ou seja, afast-lo dessaatividade. E como as coisas podem ficar diferentes? Vamos tentar, por exem-plo, mud-las de posio. Como? Simplesmente, invertendo-as.

    Por exemplo, se voc ler um texto na forma invertida, primeiramentesero percebidas as formas das letras, o seu desenho, e s depois percebidoo contedo do texto. Comprove voc mesmo, observando a ilustrao apre-sentada a seguir:

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    Ao contrrio, estaria correto?

    A questo da inverso das imagens tem sido tratada ao longo do tem-po por diferentes autores que usaram este recurso para enxergar a formacom mais objetividade. Na obra de George Flaganan Como entender aarte moderna impresso em Buenos Aires em 14 de outubro de 1958, oautor analisa uma pintura e um desenho, ambos uma pequena seo dapintura da Capela Sixtina de Roma pintada por Miguel Angel(ver imagema continuao); e recomenda olhar a obra por dois minutos, primeiro apintura em geral, e logo os detalhes. Feito isto aconselha colocar o livrosobre uma cadeira e recuar um metro e meio, e depois olhar de longe outrominuto pelo menos. Finalmente inverte-se a figura cabea para baixo e olha-se o quadro invertido outros dois minutos. O mesmo procedimento deveser feito com o desenho.

    Ele insiste em que voc gaste seis minutos de seu tempo para ver algode muito significativo, nesta seo da genial pintura. E aconselha : acompa-nhe com seu olhar as figuras abaixo e observe que o quadro parece estarsolidamente encaixado, construdo com uma espcie de arquitetura pr-pria. As fortes linhas principais e as bordas so como as vigas mestras destaarquitetura. Todo o quadro firme e estvel dentro de seus limites, Ele temum movimento prprio. O olho levado de um ponto a outro, percorre ascurvas. Parece haver nele um movimento circular, como parte da estruturado quadro.Quando se volta o quadro virado cabea para baixo muitomais fcil ver a estrutura do desenho interior, porque o olho se preocupamenos com o tema ou a narrativa de quadro. Se voc olhar o desenho vira-do ver que ele mostra uma forma mais ou menos abstrata completamentediferente do tema original

    Este parece ser o assunto que mais atrai ao lado direito do crebro, acaracterstica abstrata como conseqncia da inverso entra em sintoniacom a caracterstica tambm abstrata deste hemisfrio, e este conhecimen-

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    to parece ser como j a experincia o tem demonstrado um grande aliadopara acessar esta parte do crebro.

    A questo da inverso das imagens tem sido tratada tambm pelaDra Betty Edwards no seu conhecido mtodo de ensino.

    Confirmando o exemplo anterior, o da escrita ao contrrio, vamosutilizar a imagem fotogrfica de um personagem famoso. Tente descobrirquem o senhor que aparece na fotografia exibida a seguir. Provavelmente,voc sentiu uma certa dificuldade em identific-lo, correto? Isso se d porqueo nosso lado esquerdo no capaz de entender nada que lhe apresentadoao contrrio. Dessa forma, ele se desliga e nos libera as imagens por meio desua forma e no, por meio de nomes, como a maneira habitual.

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    Vire o livro. No momento em que voc virar este livro e colocar aimagem no sentido correto, o personagem surgir imediatamente em suamente e voc ser capaz de reconhec-lo.

    A imagem do clebre ........

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    ... pintor Pablo Picasso, um artista consagrado da Arte Moderna e um dosiniciadores do inquietante Movimento Cubista. No momento em que sed o reconhecimento da pessoa, novamente fazemos a conexo por meio donome, ou seja, por meio do lado esquerdo do nosso crebro. Percebeu adiferena?

    Com base nos exemplos utilizados, no difcil concluir que, paraque os adultos desenhem corretamente, devemos recorrer a alguns truquescomo inverter o desenho, por exemplo, pois dessa maneira nos esquecemosdo nome daquilo que nos est sendo apresentado no momento. Como foidito anteriormente, o nome est vinculado linguagem oral, ou seja, aolado esquerdo do crebro, que incompetente para realizar tarefas emocio-nais como o desenho.

    A seguir, apresentam-se as duas formas do desenho: nas posiesinvertida e normal.

    Modelo do desenho invertido Modelo do desenho normal

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    Exerccio prtico realizado com os hemisfrios esquerdo e direito

    Tendo como base a explicao anterior, devemos estar atentos pararealizar uma outra experincia. O material a ser utilizado consiste em umlpis macio do tipo 6B, uma borracha mole e uma folha de papel ofcio.Faremos dois exerccios para que a vivncia com ambos os lados do crebrose torne mais clara.

    1) Desenhe uma pessoa do sexo masculino ou feminino, livremente,de corpo inteiro, vestida ou nua, de preferncia ocupando o centro da folhade papel. No se preocupe se o resultado final vai ser aquele bonequinhoque voc desenhava nos tempos de colgio. isso mesmo. Siga em frente!

    Posso adivinhar qual foi o resultado! Talvez o seu desenho seja pare-cido com nosso modelo. E por que o resultado previsvel? Porque, paradesenhar, voc usou o lado no criativo, o lado racional do crebro, cujaatuao se d mecanicamente. Por essa razo, o desenho apenas simbli-co, uma representao que est ligada a uma idia, neste caso idia demenino/menina. Usando o lado racional de nosso crebro no consegui-mos fazer um desenho real, isto , um desenho que possui trs dimenses,semelhante representao das coisas que formam parte de nossa realidade.

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    Outro dos motivos de o resultado ser to bvio baseia-se na lingua-gem simblica armazenada no lado esquerdo do crebro durante o perodode desenvolvimento da personalidade. Uma vez que ela no muda, se utili-zamos o lado cerebral esquerdo, nada de novo teremos, ou seja, portantono veremos nada de uma maneira diferente.

    A respeito das caractersticas inerentes ao lado esquerdo do crebro,ainda podemos mencionar o fato de ele no gostar de realizar tarefas lentas.Por isso, se desejamos desenhar corretamente (o que , na verdade, umatarefa lenta), devemos driblar a interveno do lado esquerdo para deixar ocampo livre para o lado direito, j que este tem prazer em desempenhartarefas lentas. Essa a primeira condio para acessar o lado direito docrebro. Porm, nesse processo, devemos ficar atentos, pois o lado esquerdodo crebro muito perspicaz e como ele exerce controle sobre a fala, tentanos convencer com sua tagarelice mental a desistir de executar tal tarefa,antes mesmo de inici-la.

    O outro lado do crebro, o lado direito, atrelado aos sentimentos, maislento para reagir; logo, acaba sendo abafado em suas pretenses. Dessa maneira,o poder do lado esquerdo se alicera a cada dia que passa. Ele responsvel pormanter uma programao mecnica de hbitos, na qual se misturam a imagi-nao (geralmente negativa), os preconceitos, os medos, as limitaes. Enfim, ohemisfrio esquerdo responsvel por manter uma rede, desenvolvida pela pr-pria mente, to densa que a verdadeira realidade se mostra oculta e inacessvel.E, assim, medida que o ser humano vai limitando o seu campo de ao aoshbitos corriqueiros do dia-a-dia, vai enquadrando sua vida a extremos, condu-zindo-o insensibilidade e falta de criatividade. Da o fato de que truques emudanas de rotina mantero mais ativo o crebro, aproximando-nos assim doto desejado equilbrio humano.

    Assim, se explica como tarefas prprias de serem executadas pelo ladoemocional, como desenhar, por exemplo, so tambm atrofiadas pela incom-petncia do hemisfrio esquerdo, que invade o territrio pertencente ao hemis-frio direito, causando nas pessoas frustrao e gerando a culpa por uma inabi-lidade aparente. Com isso, comum observar pessoas expressarem com desa-grado a suposta condio de no ter dom para desenhar.

    Ao se estudar o funcionamento dos hemisfrios direito e esquerdo docrebro, o que se percebe que no se trata de dom, e sim de utilizar o crebrode forma adequada para realizar com sucesso as tarefas que lhe so afins.

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    Passaremos segunda parte do exerccio.

    Aps essa breve explicao, passaremos segunda parte do nosso exer-ccio. Para realiz-lo, vamos dispor do material mencionado anteriormente(lpis, borracha e folha de papel) e devemos, antes de tudo, prestar ateno atudo que nos foi explicado anteriormente. No entanto, necessrio que este-jamos calmos e relaxados fisicamente. Depois, procure ver as coisas de ma-neira diferente. Para isso, a primeira coisa que voc tem a fazer posicionaro desenho de cabea para baixo. Esquea o nome do desenho e siga as linhas.Veja as relaes entre as linhas, comunique-se com os espaos, perca-se nasformas e no d ouvidos s queixas que o lado esquerdo de seu crebro, certa-mente, lhe far. Coisas do tipo: Pare com isso, est cansativo. Isso vai tecausar uma dor de cabea! mais do que natural que isso ocorra, pois ele,como j foi explicado, est acostumado a ser o rei e no est disposto a perderesse poder de comandar para o lado direito do crebro. No entanto, se vocpersistir na deciso de desenhar, explorando as potencialidades do lado direi-to de seu crebro, esta luta no vai perdurar por muito tempo e o hemisf-rio esquerdo acabar cedendo o espao natural ao outro lado do crebro.

    Desenhe sem pensar. O convite para a sua criana interior, quebaixinho lhe diz:

    Vs este desenho ao lado? Comea agora a desenhar, ciente da observaoanterior. Pega o teu lpis alado e vamos viajar pelas linhas amigas, como um novelopara desenrolar, no queiras descobrir seu mistrio, abandona-te no teu trao e fluicom ele. E na sagrada descoberta de criar o teu espao, libertar tua emoo, teusentido e tua direo... Percebe! No existe trao igual! Porque embora as gotas dooceano sejam iguais, cada gota uma, e todas so uma s. Assim tuas linhas sosemelhantes, mas no so iguais, as tuas tm a tua emoo, tua sensao, tua expres-so, teu ser, e desenha devagar porque... To fora de tempo chega aquele que vaidepressa demais como aquele que se atrasa, lembra William Shakespeare.

    Ao fim do exerccio, faa a avaliao:

    Talvez, alguns erros de percepo espacial se revelem, o que muitonatural ocorrer e que so rapidamente superveis com a prtica dos exerc-cios. No entanto, inegvel que, apesar das imperfeies aparentes nodesenho, os resultados geralmente so muito bons. Isso comprova a capa-cidade natural do hemisfrio direito na realizao do desenho. Lembre-sede que as observaes esto sendo feitas por partes, como se fosse um

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    quebra-cabea, e que esta atividade exige coordenao de tticas e um trei-namento diferente, isto , um esforo novo; e, como toda prtica desconhe-cida, ela traz um momento de instabilidade, at que se instale um mecanis-mo reconhecido pelo crebro. Assim sendo, seus caminhos neuroniais terocriado novas trilhas e seu crebro as receber como ordens j conhecidas,ordens relativamente novas, mas que oferecem grandes vantagens em razodos benefcios que voc obter por meio do treinamento.

    A seguir, apresento o resultado do trabalho de uma aluna que, comovoc, nunca havia desenhado antes. Se voc, caro leitor, seguir as instruesaqui sugeridas, certamente obter os mesmos resultados ou, quem sabe, re-sultados ainda melhores.

    Desenho de um palhao feito com o lado direito do crebro.

    O desenho um dom ou uma habilidade a ser desenvolvida?

    Durante as nossas aulas, verificamos que, para a maioria das pessoas,o desenho no um dom. Digamos que uma capacidade a ser desenvolvi-da. Indiscutivelmente, existem pessoas que se revelam desde muito peque-nas como possuidoras de um dom ou talento especial, mas no so elas o

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    centro de nosso interesse; e sim aquelas pessoas que acreditam, erronea-mente, no poder desenvolver o desenho como qualquer outra habilidadesemelhante a cantar, danar ou representar. Ousar ver diferente para ul-trapassar a barreira de nossos preconceitos parece ainda ser o nosso maiordesafio. Nos exerccios anteriores, treinamos opes diferentes para mudaro ngulo de viso no desenho, porm existem diversas outras formas depraticar uma nova maneira de enxergar as coisas.

    Aprofundando a questo: como podemos aprender outras maneirasde ver as coisas de forma diferente? Tomando como base o exerccio anteri-or, um desenho em posio invertida uma das chaves perceberemos queenxergamos linhas, formas no espao e, dessa maneira, nos libertamos dodomnio verbal e simblico que o lado esquerdo exerce sobre ns, tornandoa atividade livre da escravido mental do homem e transformando-a numaexpresso emocional que, como todo ato genuno, proporciona um grandeprazer. Dessa maneira, o ato de desenhar nos induz a um estado de satisfa-o, que se perdurar, capaz de nos levar a estados modificados de consci-ncia, tal como os experimentados por muitos seres privilegiados pelas suasescolhas como artistas, cientistas, msicos, etc.re

    Ver de forma diferente ver sem foco, enxergar os espaos na suaplenitude, configurados por linhas que, ao estarem vazias, nos oferecem apossibilidade de criar inmeras outras formas. este processo de abstra-o que nos pe em contato com a criatividade e a liberdade, contrarian-do as qualificaes que atribumos mecanicamente a uma determinadacoisa ou objeto observado. Para compreender melhor esse assunto, pro-ponho que faamos o seguinte exerccio: observe os atributos de um obje-to, faa algumas afirmaes de qualificaes indiscutveis e, em seguida,tente contrari-las.

    Por exemplo: uma lmpada transparente, luminosa, frgil e pe-quena.

    Agora reflita: em relao a esse objeto, a lmpada, possvel fazerqualificaes diferentes ou opostas? Por exemplo: nem sempre as lmpadasso transparentes, existem lmpadas pintadas ou de material fosco; nemsempre so luminosas, quando esto apagadas, por exemplo, no so. Exis-tem tambm lmpadas grandes, no so todas pequenas como a nossa fixa-o mental nos indica. Dessa forma, voc poderia continuar propondo qua-lificaes para, em seguida, contrari-las.

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    O exerccio de ver diferente pode ser praticado tambm por meioda observao de uma obra de arte. Se voc olhar um quadro de arte figura-tiva, uma pintura de Manet, por exemplo, voc poder ver claramente osdetalhes; sua viso percorre at os ltimos vestgios da imagem. Nesse caso,dizemos que vemos com foco. Mas, se voc observar um quadro abstrato, possvel encontrar vrias imagens que podem ser analisadas independen-temente umas das outras, e a multiplicao delas depende mais da capaci-dade imaginativa do observador do que da obra em si. E essa capacidadeimaginativa do observador que nos interessa, quando nos referimos a umaforma de ver diferente.

    Obra abstrataObra figurativa

    Nesse ponto, necessrio fazer um esclarecimento. Quando estamosnos referindo a estilos, estamos falando especificamente de um resultado.No entanto, nosso mtodo de trabalho no procura apenas resultados, esim, preocupa-se mais com os processos, uma vez que por meio deles quepodemos exercitar a liberdade que emana dos vazios, experimentando nopapel o que podemos realizar dentro de ns; pois embora uma parte donosso crebro no deseje a mudana, o outro lado nos incita liberdade,

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    expanso. Se trabalharmos o hemisfrio direito de nosso crebro, podere-mos conciliar esse aparente paradoxo, crescer, fazer mudanas que nos tra-gam bem-estar e felicidade. Mas no devemos nos esquecer de que funda-mental nos desligarmos dos nomes dos objetos e coisas, exercitando a nossacapacidade de abstrao, porque assim teremos possibilidade de descobriraquilo que est escondido em ns, aquilo que nos essencial. A essa nossaporo oculta chamaremos artista interior (ou grande observador).

    Antes de concluir essa parte, farei, ainda, algumas recomendaespara melhorar nossas prticas. Diariamente, aconselhvel destinar pelomenos cinco minutos para mentalizar a presena do grande observador(nosso artista interior), bem como o seu poder e sua fora, pois quando estamosdesenhando o nosso artista interior que invocamos, acreditando que tudodar certo. Como fazer isso? fcil, pois ele quem desenha. Ns apenasdevemos permitir que ele o faa atravs de ns. Dessa maneira, aprendemos ano criar resistncias e a acreditar nessa fora interior. Portanto, antes de rea-lizar um exerccio, fundamental refletir e observar nosso estado interno,nossas emoes e nos questionarmos fazendo-nos perguntas do tipo:

    Qual meu estado de nimo hoje?

    O que sinto? Medo? A folha em branco me apavora?

    Por onde devo comear? Estou perdido? De que e de quem?

    hora de revisar as convices internas, erradicando posturas limita-das do tipo no posso, no devo.

    A mentalidade positiva presente o tempo todo o grande, porm,simples segredo.

    Exercitao prtica: aprendendo as linhas

    Trs princpios devem guiar voc durante todos os exerccios. So eles:

    a) Focalizar o desenho (modelo), fitando-o como se o acariciasse comos olhos e com as mos. Penetre-o at que ele seja capaz de enxergar voc. dessa forma que o seu artista interior entrar em ao. Voc poder sentire constatar a sua presena.

    b) Durante o exerccio, procure ter um nvel de alta vibrao para obtero melhor desempenho possvel. A partir desse ponto de vista, pode surgir um

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    novo conceito de beleza, que no se importa somente com os resultados, e simcom o fato de se fazer bem-feito, assim como a natureza faz.

    c) Refletir sobre o porqu da escolha de determinado desenho. Voc devese perguntar por que se manifestou o desejo de desenhar tal coisa. Agindo as-sim, voc descobrir que o seu desenho no se trata de mais uma cpia mecni-ca. A partir do momento que voc consegue identificar o porqu de seu interes-se em reproduzir uma determinada coisa, h uma inteno presente, conscien-te. Uma sabedoria comea a nascer nesse momento. E uma ltima recomenda-o: quando voc for fazer um exerccio como esse, ideal ter ao lado uma folhaem branco para que voc possa descrever o que est sentindo, em termos emo-cionais, no momento. Assim, voc poder refletir sobre essa experincia, o que,certamente, vai lhe permitir fazer com que ela se transforme num ensinamentoem outras reas de sua vida tambm.

    Para finalizar, faamos outro exerccio:

    Usaremos o mesmo material, respeitando as recomendaes sugeridasanteriormente. Dessa vez, use a mo esquerda e, com o desenho virado decabea para baixo, repita o modelo abaixo. Prepare-se para fazer, voc mes-mo, a sua avaliao.

    A seguir mostramos um exerccio realizado por um dos alunos danossa oficina.

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    Captulo 3

    Em busca da unidade e do equilbrio

    A COMPOSIO: Como contornar os elementos da imagem.

    Q uando tentamos desenhar com o lado esquerdo do crebro, o re-sultado dos trabalhos, geralmente, mostra um certo desequilbrio,fruto de uma focalizao parcial da ateno dedicada ao desenhara composio de objetos ou pessoas. Desequilbrio este que se manifestapelo descaso em relao aos espaos negativos que exigem o mesmo grau deateno que requerem as formas positivas. E por que isso assim? Vejamos.O lado esquerdo do nosso crebro considera os espaos vazios como sefossem apenas o fundo do desenho. Por essa razo as pessoas, quando dese-nham, o recheiam ou simplesmente o esquecem, como se este no tivessenenhuma participao no desenho que est surgindo naquele momento.No entanto, devemos nos lembrar de que todas as formas cheias e vaziaspertencem a um mesmo espao, como se fossem peas de um quebra-cabe-as. No existe uma que seja mais importante do que as outras; todas tm amesma importncia e por isso mesmo devem ser respeitadas, uma vez quecolaboram para a existncia da unidade, assim como o todo est em cadauma de suas minsculas partes. Por exemplo, uma pequena partcula dematria contm todas as leis que regem o cosmo; da mesma maneira, cadaparte, individualmente, colabora para formar o todo; assim como uma gotadgua do oceano apenas uma minscula partcula diante do imenso oce-ano formado por infinitas e incontveis milhares de outras gotas.

    Para compreender melhor esses conceitos, vamos recorrer aos pri-meiros exerccios. Veja a imagem da arara apresentada a seguir e observecomo a unidade est formada por formas cheias e vazias. As formas cheias,

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    tambm chamadas de positivas ou concretas, so mais facilmenteidentificadas pelo hemisfrio esquerdo, pois, por meio dele, voc as codifi-ca dando a elas um nome, por exemplo: arara. Os nomes dados s coisas,portanto, esto ligados linguagem oral. As formas vazias ou abstratas,tambm chamadas de negativas, no possuem nomes, conseqentemente,o lado esquerdo as rejeita, porque ele interpreta essas formas como se fos-sem nada. O lado direito tem, assim, a chance de se manifestar, j que esselado abstrato e considera o vazio como o todo a partir do qual tudo secria.A partir da imagem seguinte podemos observar a sntese: a unidade oresultado da unio de cheios e vazios.

    Diante do exposto, conclumos que os cheios e os vazios so umacoisa s, pois na unio das duas formas existe sempre uma aresta que comum aos dois lados. Se continuarmos a analisar a questo, possvel,ainda, verificar que, ao falar das formas cheias e vazias, estamos qualifican-do a natureza da forma que s se diferencia uma da outra porque as formasatradas pelo hemisfrio esquerdo possuem nome enquanto as outras soconsideradas abstratas, portanto, sem nome. Embora isso j tenha sidomencionado, recomendvel insistir na repetio por se tratar de um con-ceito relativamente novo e, por isso, mais difcil de ser lembrado. Por estarazo ainda voltaremos a falar do assunto com diferentes abordagens.

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    Aspectos psicofilosficos: do conceito cheios e vazios

    O cientista americano Ken Wilber analisa profundamente esse as-sunto, que sintetizo a seguir. Existem diferentes maneiras de perceber arealidade e cada percepo ou modo de percepo corresponde um nvelde conscincia. Assim, quando percebemos no nosso nvel, a relao sujei-to-objeto, estabelecemos uma dualidade. Esta dualidade se d em um inter-valo de tempo entre o sujeito que percebe e o objeto que percebido. Esseintervalo no espao fica atrelado tambm ao conceito do tempo que trans-corre ao acompanhar a distancia entre sujeito e objeto. A mente cria estaseparao fictcia, nos afastando do momento presente e nos levando sem-pre ao passado ou ao futuro, de modo que nossa percepo vai se estreitan-do e empobrecendo cada vez mais. Observemos, por exemplo, a seguinterepresentao:

    Se perguntarmos sobre o que, voc, leitor, observa ao olhar a imagemacima, a resposta mais bvia ser: um circulo. Porm, essa afirmao no totalmente correta, uma vez que a resposta certa seria: um crculo numa folhabranca. A unidade crculo-folha branca fica reprimida, pois a focalizao rpidado hemisfrio esquerdo, por estar intimamente ligada linguagem oral, se apre-sa em classificar, afunilando, estreitando a realidade e sacrificando a poro daexistncia no percebida. Se analisarmos nossa percepo diria em torno denossa realidade, veremos que ela exprime quase sempre uma dualidade no real,

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    uma separao fictcia que nos leva a maior parte das vezes a concluir errada-mente a respeito da existncia, pois a percepo da separao ilusria.

    Quando a unidade no reprimida, tudo simultneo, existe nomomento presente, e o momento presente porque carece de passado e defuturo. Carece de passado porque ao falarmos dele, s existe nas lembranas.E carece do futuro porque quando falamos de futuro, ele existe apenas nasexpectativas. Definitivamente, s h o aqui e o agora; viver o presente viverem unidade, ser um com a unidade, portanto, passado e futuro so iluses ea nica realidade a realidade presente, que como sugere o significado daprpria palavra trata-se de uma ddiva.

    A vida o momento. O agora representa a vida que convive com amorte de outras possibilidades que no esto sendo realizadas. nesse sentidoque se fala que a vida a eterna dana da existncia, vida e morte, construo edestruio simultneas. Esta observao completa e holstica no pode ser feitapor nossa mente limitada canalizada pelo hemisfrio esquerdo. preciso geraruma nova fora que deve surgir do interior, capaz de observar a realidade talqual ela ; um observador , que objetivamente perceba a unidade no todo. Eele, o verdadeiro eu que, como diz Ken Wilber, no conhece universo adistancia, conhece o universo por ser universo, sem o menor vestgio do espa-o interveniente e o que sem espao tem que ser o infinito Este o espritoque deve guiar quem procura realizar esses exerccios. O ideal que cada umdesses exerccios seja um passinho adiante para tentar despertar dentro de nsesse eu que detm as chaves de nossa realizao. Quando? Agora.

    No difcil deduzir, ento, a importncia de desenvolver em nossomundo interior a existncia do grande observador, pois s ele, com suaimensa abstrao, num eterno presente simultneo, est apto a observar asformas vazias sem nome e sem alterao emocional alguma.

    Procurarei, agora, a maneira mais acertada para transferir a voc, caroleitor, na prtica os conceitos aos quais nos referimos anteriormente. E claro que a maneira mais eficiente para conseguir xito na tarefa a que meproponho a realizar se dar por meio do desenho. Durante um dos encon-tros realizados no Instituto para o Desenvolvimento Humano Integral(os quais recebem o nome de trabalhos de ptio, por serem, em sua maiorparte, vivncias realizadas ao ar livre), tenho realizado atividades prpriasdo chamado Ncleo da Mo Esquerda, parte de um conhecimento en-sinado pelas antigas Escolas Iniciticas do Meio Oriente, conforme j foi

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    relatado. Durante os exerccios, fomos orientados a desenhar o que observ-vamos a partir das formas vazias, at chegarmos s formas cheias. Essametodologia de observao nos induzia a perceber o conjunto, a unidade detoda a forma e, inclusive, as sombras, uma vez que estas tambm so formas.

    Quando conheci o mtodo da Dra. Betty Edwards, j mencionado,veio a confirmao sobre a percepo do desenho e seu funcionamento. E, medida que fui aumentando a minha capacidade de compreenso e ad-quirindo mais experincia, fiz a minha prpria sntese, que ser apresenta-da a seguir por meio de um exerccio prtico.

    Os espaos os espaos cheios e vazios

    Uma viso holstica da forma

    Convido, novamente, voc, leitor, para desenhar. Sugiro que algu-mas instrues sejam seguidas. So elas:

    1) Numa folha de papel sulfite desenhe um enquadramento igual ao domodelo abaixo

    Percorra com os olhos o contorno da forma positiva desse modeloque aqui estamos apresentando.

    A seguir, com um lpis preto ou uma caneta hidrocor, percorra lenta-mente o mesmo contorno da arara, lembrando-se sempre do nome dado a

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    essa forma. Use o modelo abaixo, tal como est sendo apresentado. Feitoisso, escurea os espaos vazios a fim de refor-los como forma, logo fitecom os olhos cada uma dessas formas, uma de cada vez at perceb-las.

    Voc pode, ainda, subdividir os espaos vazios como desejar, paravisualiz-los melhor. Observe como fazer isso na imagem acima. Depois deter feito o exerccio de percepo e de observao dos espaos vazios, conti-nue a desenhar.

    1) Numa folha de papel sulfite reproduza o mesmo enquadramentodo modelo .

    2) Depois de percebidas as formas vazias que contornam a arara, co-pie-as na sua folha, uma a uma, at que tenha completado todas. O seudesenho com certeza se aproximar muito do modelo porque ao desenhar aforma dos espaos vazios, o objeto (neste caso, a arara) tambm desenha-do inadvertidamente, s que com mais facilidade.

    3) Desenhe agora os detalhes internos da ARARA ver como modeloa 1ra figura.

    REFLEXO: Dessa maneira, atribumos igual importncia a todasas formas, como se todas fossem peas de um mesmo quebra-cabeas; todosos espaos e formas so unificados. E por que o desenho se torna mais fcil

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    de executar quando desenhamos por meio das formas dos espaos vazios?Porque o hemisfrio esquerdo no reconhece nenhum nome ou codificaopara o espao a que chamamos de vazio e, quando isso acontece, ele sedesliga automaticamente, dando oportunidade ao hemisfrio direi