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RELATÓRIO DA AVALIAÇÃO DO PROGRAMA DE ALFABETIZAÇÃO E ACELERAÇÃO ESCOLAR – PAAE – NA PROVÍNCIA DE KWANZA SUL JANEIRO 2011

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RELATÓRIO  DA    

AVALIAÇÃO  DO  PROGRAMA  DE  ALFABETIZAÇÃO  E  

ACELERAÇÃO  ESCOLAR  –  PAAE  –  NA  PROVÍNCIA  

DE  KWANZA  SUL  

JANEIRO  2011  

 

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EQUIPA  DA  AVALIAÇÃO    

Marion  Baumgart  dos  Santos   Consultora  internacional  

Natália  Ernesto  Sousa  Tati     Coordenadora  adjunta  do  PAAE  

Dinis  Soma   DPE  –  Formador  Provincial  

Franklin  Kavonga  G.  Quessongo   DPE  –  Formador  Provincial  

Graciano  Ventura   DPE  –  Formador  Provincial    

Maria  Manuela  Gonçalves   SCiA  –  Formadora  Provincial  

Lino  António  Oliveira   DPE  –  Formador  Provincial  

 

 

 

 

 

 

AGRADECIMENTOS  

Estamos  gratos  a  todos  que  contribuíram  de  uma  ou  outra  forma  para  a  concepção,  realização  e  avaliação  desta   pesquisa.   Gostaria   de   agradecer   especialmente   aos   formadores   da   DPE   Sumbe   que   me  acompanharam  durante  a  viagem,  me  introduziram  nos  municípios  e  que  nunca  cansaram  de  responder  às   minhas   perguntas.   Estou   igualmente   obrigada   aos   professores,   directores   e   alunos   que  compartilharam   as   suas   experiências   connosco   e   aos   chefes   das   repartições  municipais   de   educação   e  administradores  municipais  pela  a  recepção  gentil  e  para  permiti-­‐nos  acesso  às  escolas.  

Não   podemos   deixar   de   mencionar   os   participantes   da   apresentação   dos   resultados   preliminares   em  Sumbe,   a   qualidade   dos   relatório   final   beneficiou-­‐se   muito   das   discussões   e   comentários   dos  participantes.  Obrigada  por  ter  feito  a  viagem,  que  por  alguns  foi  bastante  morosa  e  cansativa,  e  por  ter  participado  tão  activamente.    

E,  como  ultimo  mas  não  menos  importante,  gostaria  de  agradecer  às  equipas  da  IBIS  em  Sumbe  e  Kibala  que  abriram  as  suas  casas  de  passagem  para  mim.  A  recepção  calorosa  quebrou  a  monotonia  das  pensões  e  hotéis  e  me  fez  sentir  de  novo  em  casa  em  Angola.  

 

 

 

 

 

Nota  

Para   o   leitor   apressado,   coloquei   os   resultados   e   conclusões   mais   importantes   em   caixas   de   texto  maçadas  com   ➜.

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Índice  

I.   LISTA  DAS  ABREVIAÇÕES......................................................................................................4  II.   RESUMO  EXECUTIVO..............................................................................................................5  III.   INFORMAÇÕES  GERAIS..........................................................................................................8  

ALFABETIZAÇÃO,  EDUCAÇÃO  E  CONFLITO  EM  ANGOLA ........................................................................................8  O  PROGRAMA  DE  ALFABETIZAÇÃO  E  ACELERAÇÃO  ESCOLAR,  PAAE,  A  RESPOSTA  DO  GOVERNO................9  OBJECTIVO  DA  AVALIAÇÃO .......................................................................................................................................11  METODOLOGIA  UTILIZADA .......................................................................................................................................12  OS  MUNICÍPIOS  VISITADOS.......................................................................................................................................13  

IV.   RESULTADOS ......................................................................................................................... 15  RELEVÂNCIA  E  IMPACTO  PARA  OS  JOVENS ............................................................................................................15  Acesso  à  escola ........................................................................................................................................................15  Motivos  de  desistência .........................................................................................................................................16  Proveniência  dos  alunos .....................................................................................................................................17  Anos  de  permanência  na  escola.......................................................................................................................18  

RELEVÂNCIA  E  IMPACTO  PARA  OS  PROFESSORES ................................................................................................19  Composição  do  quadro  docente.......................................................................................................................19  Interacção  com  os  alunos...................................................................................................................................19  Estrutura  e  organização  das  aulas ................................................................................................................20  

EFECTIVIDADE  DA  ESTRUTURA  INSTITUCIONAL...................................................................................................23  Analise  do  sistema  de  implementação..........................................................................................................23  Analise  do  sistema  de  formação  do  PAAE ...................................................................................................24  

EFECTIVIDADE  DE  MATERIAL  E  METODOLOGIA ..................................................................................................25  EFECTIVIDADE  DAS  PARCERIAS ...............................................................................................................................26  Parceiros  que  prestam  apoio  técnico,  financeiro  e  logístico ..............................................................27  Parceiros  com  metodologia  própria..............................................................................................................28  Coordenação  e  cooperação  entre  os  vários  actores ...............................................................................29  

V.   RECOMENDAÇÕES................................................................................................................ 30  ESTRATÉGIA  NACIONAL  DO  PAAE..........................................................................................................................30  Recomendações  operacionais...........................................................................................................................30  Recomendações  institucionais .........................................................................................................................30  

O  UNICEF  NAS  CINCO  PROVÍNCIAS  DE  IMPACTO.................................................................................................31  SUSTENTABILIDADE  DEPOIS  DA  SAÍDA  DO  UNICEF............................................................................................31  

VI.   ANEXOS.................................................................................................................................... 32  I.  ESQUEMA  DE  AVALIAÇÃO  DAS  AULAS  COM  AS  MÉDIAS  OBTIDAS  II.  LISTA  DAS  PESSOAS  ENTREVISTADAS  III.  LISTA  DAS  ESCOLAS  VISITADAS  IV.  VERSÃO  FINAL  DA  APRESENTAÇÃO  DOS  RESULTADOS  EM  SUMBE,  APROVADA  POR  TODOS  PARTICIPANTES  

 

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I. LISTA  DAS  ABREVIAÇÕES    

AAEA   Associação  Angolana  de  Educação  de  Adultos  

ADPP   Ajuda  de  Desenvolvimento  de  Povo  para  Povo  

CNR   Conselho  Norueguês  para  Refugiados  

CPEE   Comissões  de  Pães  e  Encarregados  de  Educação  

DPE   Direcção  Provincial  de  Educação  

IBIS   ONG  dinamarquesa  com  enfoque  na  Educação  e  Governação  

JMPLA   Jovem  Movimento  Popular  de  Libertação  de  Angola  

MED   Ministério  de  Educação  

MPLA    Movimento  de  luta  pela  independência  de  Angola  que  se  transformou  num  partido  político  após  a  Independência.  

OMA   Organização  da  Mulher  Angolana  

ONG   Organização  Não  Governamental  

PAAE   Programa  de  Alfabetização  e  Aceleração  Escolar  

RME   Repartição  Municipal  de  Educação  

SCiA   Save  the  Children  in  Angola  

TEP   Teacher  Emergency  Programme  

UNICEF   Fundo  das  Nações  Unidas  para  a  Infância  

UNITA   Ex-­‐movimento  de  guerrilha  que  se  transformou  num  partido  político  da  oposição  após  o  fim  da  guerra.  

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II. RESUMO  EXECUTIVO  O  Programa  de  Alfabetização  e  Aceleração  Escolar,  PAAE,  é  um  programa  concebido  e  coordenado  pelo  Ministério  de  Educação,  MED,  com  o  objectivo  de  “proporcionar  a  conclusão  do  ensino  primário  e  outras  oportunidades   de   educação   aos   jovens   e   adultos   que   por   diversas   razões   não   tiveram   o   acesso   e   a  oportunidade  de  escolarização  na  idade  adequada.”    

A  sua  implementação  leva  em  conta  as  necessidades  e  realidades  diferentes  de  jovens  entre  12  e  18  anos  e  de  adultos,  adaptando  vários  aspectos  como  local  de  ensino,  carga  horária  às  particularidades  de  cada  grupo   alvo.   Enquanto   o   PAAE   para   adultos   está   a   ser   implementado   em   quase   todas   as   províncias,   o  PAAE  para  jovens  está  a  ser  implementado  entre  2008  e  2010    na  Província  Kwanza  Sul  como  projecto  piloto.  A   implementação  está  a  ser   liderada  pela  Direcção  Provincial  de  Educação,  DPE,  e  apoiado  pelas  duas  ONGs  IBIS  e  Save  the  Children.  O  UNICEF  está  a  estender  excepcionalmente  as  suas  actividades  para  a  Província  Kwanza  Sul  para  prestar  apoio  técnico  e  financeiro  a  esta  iniciativa.    

Como  o  a  fase  de  programa  piloto  está  a  terminar,  realizou-­‐se  entre  Setembro  e  Outubro  2010  a  avaliação  desta  para  obter   informações  a   respeito  de:  Relevância  para  o  grupo  alvo,   efectividade  e  eficiência  das  parcerias,   dos   materiais   utilizados   e   do   sistema   de   implementação,   impacto   desejado   e   indesejado.  Baseado  nessas  informações  elaborou-­‐se  recomendações  e  sugestões  para  a  estratégia  nacional  do  PAAE,  o  apoio  do  UNICEF  ao  programa  nas  cinco  Províncias  de   impacto  e  sustentabilidade  depois  da  saída  do  UNICEF  da  Província.  

A  pesquisa  foi  realizada  em  6  dos  12  municípios  de  Kwanza  Sul  que  foram  seleccionados  para  reflectir  as  diferencias   sociais,   económicas,   históricas   e   culturais   existentes   nessa   Província.  No   total   visitamos  25  escolas   onde   realizamos   entrevistas   em   grupos   com   alunos,   entrevistas   semi-­‐estruturadas   com  professores  e  directores,  observamos  a  interacção  entre  professores  e  alunos  durante  as  aulas  seguindo  critérios   pré-­‐estabelecidos   e   medimos   quanto   tempo   professores   e   alunos   dedicam   a   que   tipo   de  actividade.   No   fim   da   nossa   estadia   em   cada   município,   discutimos   os   resultados   com   o   grupo   de  supervisores.   Alem   disso,   realizamos   entrevistas   com   directores   da   DPE,   funcionários   do   MED   e   com  representantes  dos  parceiros  sociais  e  outras  instituições  evolvidos  na  alfabetização  de  jovens  e  adultos.    

Os  resultados  preliminares  foram  apresentados  no  fim  da  pesquisa  de  campo  a  representantes:  da  DPE-­‐Sumbe,   das   RME   de   todos   municípios   da   Província   e   das   instituições   parceiras.   Estes   discutiram   as  constatações,   os   aprovaram  ou   corrigiram  onde   foi   necessário   e   enriqueceram  os   resultados   com  mais  informações.  A  versão   final  dessa  apresentação  encontra-­‐se  no  anexo  4.  Em  consequência  dessa  ampla  participação,  gostaria  que  não  se  entendesse  os  resultados  aqui  apresentados  como  o  fruto  do  trabalho  e  ou  a  reflexão  da  perspectiva  de  uma  pessoa  só,  mais    como  produto  colaborativo  de  todos  envolvidos  no  PAAE  para   jovens   no  Kwanza   Sul.   As   sugestões   e   recomendações   baseadas   nos   resultados,   porém,   são  única  e  exclusivamente  da  autoria  da  consultora  internacional.    

Os   resultados   principais   são   alistados   em   baixo;   para   mais   detalhes   confira   na   apresentação   dos  resultados  no  anexo  4.  

Como  Sucessos  principais  foram  identificados:  

• O  número  de  meninos  e  meninas  matriculados  no  PAAE  é  quase  igual.  • O  compromisso  do  professor  com  os  alunos  e  o  seu  enraizamento  na  comunidade  está  relacionado  

estreitamente  à  baixa  taxa  de  desistência.    • A  maioria  dos  professores  do  PAAE  destaca-­‐se  por  uma    interacção  gentil  e  não-­‐discriminatória  com  

os  alunos  e  tentam  apoiar  o  processo  de  aprendizagem.    • A  maioria  dos  professores  está  muito  bem  informada  sobre  os  vários  aspectos  didácticos  e  considera  

o  uso  de  metodologias  interactivas  relevante  para  o  sucesso  escolar  dos  alunos.  • A   regularidade   das   visitas   de   supervisão   tem   um   impacto   muito   positivo   no   desempenho   dos  

professores  e  directores.  • A  criação  de  uma  equipa  dentro  da  DPE  que  trabalha  exclusivamente  para  o  PAAE  em  conjunto  com  o  

apoio  técnico,  financeiro  e  logístico  pelas  ONG  são  elementos  chaves  para  o  sucesso  do  programa.  • O  fortalecimento  das  capacidades  da  DPE  de  gerir  o  programa  é  essencial  para  o  sucesso  do  PAAE.  O  

apoio  técnico  especializado  nos  vários  aspectos  pedagógicos  contribui  significativamente  para  a  sua  qualificação.  

• Materiais   e   abordagens   do   PAAE   e   do   Dom   Bosco   se   complementam,   as   fraquezas   de   um   são  compensados  pelas  forças  do  outro.  

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Os  Desafios  principais  são:    

• Até  agora  o  PAAE  não  conseguiu  atingir  de  maneira  significativa  o  seu  grupo  alvo  principal,  os  jovens  fora   do   sistema   educativo.   Parece,   porém,   uma   boa   alternativa   para   jovens   com   desfazagem   de  idade/classe.  

• A  entrada  tardia  não  é  o  motivo  maior  para  a  defazagem  idade/classe  de  muitos  alunos  do  PAAE,  mas  o  número  alto  de  reprovações.    

• Enquanto  há  igual  acesso  nas  escolas  e  praticas  não  discriminatórias  por  parte  dos  professores  com  os  alunos,  ainda  há  um  grande  desequilíbrio  nos  supervisores  e  escalões  mais  elevados  das  RMS  e  da  DPE.  

• Com  a   forma  actual  de  ensino,  os  professores  conseguem  transmitir  os  conhecimentos  necessários  para  a  maioria  dos  alunos  passar  de  ano.  Porém,  por  enquanto  não  atingem  o  objectivo  do  PAAE  de  formar  alunos  críticos,  empoderados  a  problematizar  a  realidade.  

• Tanto  a   interacção  dos  professores  com  os  alunos,  quanto  a  dos  supervisores  e  formadores  com  os  professores   está   caracterizada   por   uma   abordagem   de   cima   para   baixo   e   a   falta   de   um   dialogo  controverso  e  construtivo.  

• Espera-­‐se   que   os   professores   apliquem   os   seus   conhecimentos   sobre   metodologias   participativas   e  centradas   nas   crianças   num   ambiente   profissional   que   é   caracterizado   por   normas   de   interacção  contrarias.  

• O  facto  de  o  PAAE  ser  implementado  por  dois  departamentos  do  MED  levou  a  muitos  mal-­‐entendidos  administrativos   e   pedagógicos.   Um   guião   curto,   numa   linguagem   de   fácil   compreensão,   não   está  divulgada.  

• Embora   funcionando   da   forma   prevista,   o   sistema   de   formação   e   supervisão  mostra   os   seguintes  fragilidades:   O   impacto   da   perca   de   quadros   treinados   e   experientes,   a   falta   de   uma   memoria  institucional  e  a  possível  distorção  do  conteúdo  da  formação  com  cada  degrau  que  passa.    

• Em   circunstâncias   sociais   e   culturais   parecidos   com   os   dessa   pesquisa,   os   3  meses   previstos   para  concluir  o  modulo  1  não  são  suficientes.  

• A  efectividade  do  material   e   da  metodologia   não   são   constantes  mas  dependem   tanto  do   contexto  social  e  cultural  onde  é  aplicado  quanto  da  capacidade  do  professor  de  acelerar  o  ensino.  

• Os  mecanismos  de  coordenação  e  troca  de  informações  entre  os  vários  níveis  do  MED  como  dentro  da  Província  não  estão  bem  estabelecidos.    

Na  base  dos  resultados  elaborou-­‐se  as  seguintes  recomendações  para  o  MED  e  o  UNICEF:  

Estratégia  nacional  do  PAAE    

Recomendações  operacionais  

• Afinar  os  critérios  para  a  selecção  de  alunos  de  PAAE.  • Estabelecer  um  sistema  de  quotas  para  garantir  o  ingresso  de  alunos  fora  do  sistema  educativo.  • Realizar  um  estudo  para  descobrir  outros  motivos  de  tantas  reprovações  além  das  bem  conhecidas,  

ligadas   ao   ensino   tradicional   e   para   poder   determinar   quantos   destes   alunos   têm   necessidades  educativas   especiais   e   de   que   maneira   podem   ser   suportados   e   educados   para   aproveitarem   da  melhor  forma  possível  da  escola.    

• Contratar   preferencialmente   professores   com   um   ou  mais   das   seguintes   critérios:   Experiência   do  TEP,  professoras,  e  professores  e  professoras  que  vivem  na  comunidade  onde  ensinam.    

• Incluir  indicadores  de  processo  nos  critérios  de  supervisão.  

Recomendações  estruturais  

• Diferenciar  claramente  entre  o  PAAE  para  jovens  e  o  PAAE  para  adultos.    • Criar  ou  manter  uma  equipa  dentro  da  DPE  cuja  tarefa  é  a  coordenação  e  documentação  do  PAAE.  • Estudar  a  possibilidade  de  estabelecer  uma  equipa  nas  DPE  para  supervisão  e  coordenação  etc.  e  de  

incumbir  uma  instituição  de  formação  para  professores  com  a  formação  dos  professores  do  PAAE.    • Intensificar  a  colaboração  com  parceiros  com  metodologias  próprias.    • Revisar  o  material  didáctico.  

O  UNICEF  nas  cinco  Províncias  de  impacto  

• Promover  e  estabelecer  mecanismos  de  coordenação  entre  o  nível  nacional  e  provincial.  

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• Apoiar  o  MED  no  estabelecimento  de  um  sistema  para  gestão  de  conhecimentos.    • Providenciar  apoio  técnico  na  área  de  educação  às  DPE.    • Aumentar  o  tempo  de  apoio.    • Estudar  o  impacto  a  longo  prazo  da  aceleração  escolar.    • Sustentabilidade  depois  da  saída  do  UNICEF  

Sustentabilidade  depois  da  saída  do  UNICEF  

• Apoiar  financeira-­‐  e  tecnicamente  a  estratégia  de  saída,  elaborada  pela  IBIS  e  a  DPE,  que  focaliza  no  fortalecimento  das  capacidades  da  DPE  de  gerir  o  programa.    

• Financiar  para  um  tempo  determinado  o  salário  e  a  viatura  de  um  técnico  de  educação  experiente  com  o  PAAE  para  trabalhar  dento  da  DPE    

 

 

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III.  INFORMAÇÕES  GERAIS  

Alfabetização,  Educação  e  Conflito  em  Angola  

Angola  viveu  mais  de  40  anos  de  conflito  armado,  primeiro  a  guerra  da  Independência  de  Angola  de  1961  –  1974,  e  depois  da  independência  a  guerra  civil  de  1975  –  2002.    A  herança  do  colonialismo  e  as  guerras  causaram  grandes  danos  às  instituições  politicas  e  sociais  do  país,  inclusive  ao  sistema  escolar.  

Durante  o  tempo  colonial,  os  Portugueses  não  suportaram  o  desenvolvimento  de  um  sistema  educativo  para   os   Angolanos   mas   o   deixaram   quase   inteiramente   para   instituições   religiosas.   Em   consequência  disso,  logo  depois  da  independência  a  taxa  de  analfabetismo  era  muito  elevada,  uma  estatística  elaborada  pela  Direcção  Nacional  de  Ensino  Geral  DNEG  e  Comissão  Nacional  para  a  UNESCO,  CNU,  estima  que  em  1975  a  taxa  bruta  de  analfabetismo  no  Pais  era  de  cerca  de  85%  da  população  economicamente  activa.  1  

Para  fazer  face  a  este  desafio,  uma  serie  de  acções  foram  promovidas  com  o  objectivo  de  proporcionar  à  população  o  acesso  à  educação.  Consequentemente,  nos  primeiros  anos  da  independência,  o  número  de  alunos  de  toda  idade  cresceu  e  o  índice  de  analfabetismo  diminuiu.    

Com  a  re-­‐eclosão  da  guerra  civil  no  anos  80,  porém,  os  sucessos  iniciais  foram  quase  aniquilados.  Muitas  escolas   foram   destruídas,   as   que   ficaram   razoavelmente   intactos,   não   puderam   ser  mantidas,   seja   por  falta   de  material   de   construção   ou  por   acesso   difícil   ou   impossível.   Além  das   destruição   das   escolas,   a  deslocação   frequente   das   pessoas   não   permitia   um   ensino   regular   e   previsível.   Afectadas   ficaram  maioritariamente   as   zonas   rurais   onde   em   certas   áreas   a   população   ficou   cerca   de   15   anos   sem   a  possibilidade  de  educar  os  filhos.  

Hoje   em   dias,   8   anos   depois   do   fim   a   guerra   civil,   a   demanda   por   educação   é  muito  maior   do   que   as  antigas  escolas  podem  absorver.  Assim,  muitas  operam  paralelamente  em  anexos  provisórios,  capelas  e  até  em  velhas  padarias  abandonadas,  como  pudemos  observar  na  Kibala.  Crianças  e  jovens  devem  trazer  as  próprias  cadeiras  e  blocos,  jantes  velhas  e  qualquer  tipo  de  caixa  servem  como  assento.    

Além  da   infra-­‐estrutura  destruída,  a   falta  de  professores  qualificados  é  outro  obstáculo  para  um  ensino  de  qualidade  para   todos.  Enquanto  o  número  de  professores  nos  centros  urbanos    ainda  é   razoável,   as  áreas   rurais   mais   necessitadas   são   as   que   mais   sofrem   da   escassez.   Muitos   professores   não   aceitam  mudar   para   as   comunas   por   falta   de   condições   básicas   como   água,   saneamento,   transporte   a  possibilidade  de  continuar  os  próprios  estudos.    

Para   lidar   com   a   explosão   da   demanda  nos   anos   pós-­‐guerra,   o   Governo   contratou   só   em  2002   –   2003  cerca   de   30,000   novos   professores.   A   maioria   destes,   porém,   era   pouco   qualificado,   tanto  pedagogicamente   quanto   academicamente   com   apenas   a   educação   básica   completa.2   Para   qualifica-­‐los  melhor   o   Governo   lançou   o   plano   PLANCAD,   um   plano   de   formação   em   300   horas,   absolvidas   em  seminários  e  estudo  a  distancia.    

As   consequências,   talvez   mais   sérias,   da   guerra   civil   foram   mais   culturais   do   que   estruturais.   Com   a  ausência  de  um  sistema  educativo  estável  e  estabelecido,  não  havia  muita  possibilidade  de  se  desenvolver  uma   cultura   e   ética   profissional   dos   professores,   com   certas   normas   de   comportamento   e   praticas  enraizadas  nas  pessoas.  Faltas  por  motivos  pessoais,  atrasos  ou  ministrar  aula  com  pouca  preparação  são  comportamentos  ainda  frequentemente  encontrados  entre  os  professores.    

Falta  de  escolas  ou  escolas  superlotadas,  professores  pouco  qualificados  e/ou  pouco  comprometidos  com  os  alunos  e  inadequação  do  modelo  de  ensino3  traziam  e  trazem  até  hoje  as  seguintes  consequências  para  os  alunos  e  a  população  em  geral:  

• Reprovações  são   frequentes  o  que  resulta  paulatinamente  numa  defazagem  idade-­‐classe,  onde,  por  exemplo,  alunos  com  15  anos  estão  a  estudar  ainda  na  3.  ou  4.  classe  junto  com  meninos  de  8  ou  9  anos.  

• Com  as   escolas   superlotadas,   uma  grande  quantidade  de   alunos   têm  que  esperar   vários   anos  para  poder   entrar   na   escola.  Quando   ganharam  uma   vaga,   já   têm   idade   avançada  para   o   ensino   básico.  

                                                                                                               1  Directrizes  Pedagógicas  Programa  de  Alfabetização  e  Aceleração  Escolar,  Ministério  de  Educação,  Direcção  para  Ensino  Geral  2  UNESCO/BREDA  (2005)  Mission  Report:  Republic  of  Angola  and  Portugal  In  the  Framework  of  The  UNESCO  Teacher  Training  Initiative  in  Sub-­‐Saharan  Africa,  UNESCO,  Paris  3  Governa  da  Republica  de  Angola,  Ministério  de  Educação,  Programa  de  Alfabetização  e  Aceleração  Escolar,  Resumo  

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Outros   não   conseguem   entrar   na   idade   prevista   por   falta   de   escolas   por   perto   ou   numa   distancia  acessível.  O  IBEP,  Inquérito  Integrado  Sobre  o  Bem  Estar  da  População,  2008-­‐09  indica  que  51,3  %  de  crianças  frequentam  a  1.  classe  aos  6  anos,  destes  61,3%  são  urbanos  e  42,2%  moram  nas  zonas  rurais.  O  número  com  atraso  escolar  é  maior,  58,5%  crianças  com  12  –  17  anos  frequentam  o  ensino  primário,  destes  58,5  moram  nas  cidades  e  66,7%  nas  áreas  rurais.  4  

 Figura  1:  Atraso  escolar  no  ensino  primário.  Fonte:  IBEP  2008  -­  09  

• Muitas   crianças,   adolescentes  e   jovem  adultos,  maioritariamente  das  áreas   remotas  e  das   camadas  mais  pobres,  ainda  não  tem  nenhum  acesso  ao  ensino  e  por  isso  estão  completamente  iletrados.  

O  Programa  de  Alfabetização  e  Aceleração  Escolar,  PAAE,  a  resposta  do  Governo  

Considerando   que   um   enorme   contingente   de   jovens   ficou   a   margem   do   sistema   escolar   devido   à  instabilidade  político-­militar   que  o  País   viveu   e   as   dificuldades   económico-­financeiras   e   tendo  em  vista   a  alta   taxa   de   analfabetismo   no   Pais   e   que   a   educação   é   a   condição   fundamental   e   indispensável   para   a  dignificação  plena  do  cidadão5,  o  Governo  Angolano  lançou  no  28  de  Fevereiro  de  2007  a  “Estratégia  de  Relançamento  da  Alfabetização  e  a  Recuperação  do  Atraso  Escolar”.    

O  PAAE,  é  a  materialização  dessa  estratégia.  O   seu  objectivo  é  o  de  proporcionar  a   conclusão  do  ensino  primário  e  outras  oportunidades  de  educação  aos   jovens  e  adultos  que  por  diversas   razões  não   tiveram  o  acesso  e  a  oportunidade  de  escolarização  na  idade  adequada.6  

Levando   em   conta   a   diversidade   cultural,   social   e   económica   do   público   que   atende   as   salas   de  alfabetização  e  as  suas  necessidades  e  interesses  diferentes,  o  MED  autoriza  e  incentiva  explicitamente  a  diversificação   dos   métodos   de   alfabetização   e   das   abordagens   pedagógicas   utilizadas.   Na   pratica,  seleccionados  parceiros  da  sociedade  civil  são  encorajados  a  utilizar  o  seu  próprio  material  pedagógico.  Para  apoia-­‐los,  o  MED  responsabiliza-­‐se  de  subsidiar  até  16.000  alfabetizadores  por  ano,  seja  do  quadro  próprio,  seja  dessas  instituições  parceiras.    

Para   os   seus   próprios   quadros   e   para   aqueles   parceiros   que   não   possuem   uma   metodologia   própria,  como   por   exemplo   a   OMA   ou   a   JMPLA,   o   MED,   em   colaboração   com   uma   empresa   de   consultoria  brasileira  (Aldeia  Global),  desenvolveu  um  método  com  livros  escolares  correspondentes.  Com  este  visa  desenvolver  aprendizagens  significativas,  competências  básicas  e  o  fortalecimento  da  auto-­estima  em  tempo  pedagógico  mais  curto.7  “Gostar  de  ler  e  escrever”,  como  se  chama  o  material  didáctico,  é  dividido  em  três  módulos.  A  duração  prevista  para  o  primeiro  módulo,  que  corresponderia  à  primeira  e  segunda  classe,  é  de   três   meses.   O   segundo   e   terceiro,   que   corresponderiam   à   3.   e   4.   classe   e   5.   e   6.   respectivamente  levariam  um  ano  lectivo   inteiro.  Assim,  o  aluno  conseguiria  terminar  o  ensino  básico  em  menos  do  que  três  anos.    

                                                                                                               4  Ministério  Do  Planeamento,  Instituto  Nacional  De  Estatística,  Inquérito  Integrado  Sobre  o  Bem  Estar  da  População  (IBEP)  2008-­09,  Principais  Resultados  Definitivos  Versão  Resumida  5  Diário  da  República,  28  de  Fevereiro  de  2007  6  Governa  da  Republica  de  Angola,  Ministério  de  Educação,  Programa  de  Alfabetização  e  Aceleração  Escolar,  Resumo  7  Ibidem  

Fecundidade e Mortalidade

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Em  algumas  Províncias,   os  módulos   estão  ministrados   em  duas   formas  diferentes:   um  eixo   é  dedicado  prioritariamente   aos   jovens   e   outro  mais   para   adultos.   Na   tabela   em   baixo   comparamos   as   diferenças  entre  os  dois  ramos  do  PAAE:    

Características   PAAE  para  Jovens   PAAE  para  Adultos  Público  alvo   • Jovens   que   estão   dentro   do   sistema  

escolar  com  idade  entre  12  e  18  e  que  tenham   ultra-­‐passados   em   dois   anos  ou  mais  a   idade   regular  para  a   classe  em  que  estão  matriculados.  

• Jovens   da   mesma   faixa   etária   mas  vindo  de  fora  do  sistema  escolar,  seja  por   que   pararam   de   estudar   ou  porque  nunca  entraram  na  escola.  

Todos   jovens   e   adultos   que   nunca  entraram   na   escola   ou   que   tem   atraso  escolar.  

Local  de  ensino   Salas   das   escolas   do   ensino   primário  geral,   muitas   vezes,   porém   em   anexos  capelas   ou   outras   instalações   menos  agradáveis  do  que  a  própria  escola.  

Escolas   privadas,   públicas,   individuais,  mercados,  ONGs,  igrejas  etc.  

Carga   horária   e  calendário  escolar  

Tanto   as   férias,   quantos   os   horários  coincidem  com  os  do  ensino  vigente  com  turmas  matutinas  e  vespertinas.    

Estima-­‐se   uma   carga   diária   de   duas  horas,  mas   tanto   os   horários,   quanto   as  férias   são   variáveis   e   podem   ser  negociados   de   acordo   com   as  necessidades  dos  alunos.  

Corpo  docente   Professores   do   ensino   geral   com  formação  especifica.  

Não   são   necessariamente   professores  qualificados,   mas   alfabetizadores   com  uma  formação  para  o  PAAE  

Material  Pedagógico  

Os  módulos  “Gostar  de  ler  e  escrever.”   Os  módulos  “Gostar  de  ler  e  escrever.”  

Integração  institucional  

È   programa  do  MED,   implementado  nas  Províncias  exclusivamente  pelos  quadros  do  MED.  

È   implementado   por   parceiros   sociais  como   OMA   ou   JMPLA   e   supervisionado  pela  DPE.    

Tabela  1:  Diferenças  e  similaridades  entre  o  PAAE  para  jovens  e  para  adultos  

Como  o  público  alvo  do  UNICEF  são  crianças  e  jovens  até  os  18  anos,  este  apoia  somente  a  implementação  do   PAAE   para   Jovens   na   Província   do   Kwanza   Sul.   Num   lado   presta   apoio   técnico   e   financeiro  directamente  ao  MED,  num  outro  lado  financia  duas  ONGs  que  por  sua  parte  prestam  apoio  pedagógico,  logístico  e  financeiro  à  DPE  e  outros  parceiros  da  sociedade  civil.  As  duas  ONGs  são:    

• IBIS,  uma  Organização  Não  Governamental  Dinamarquesa  que  trabalha  a  nível  global  nos  programas  de  educação  para  o  desenvolvimento;    

• Save  the  Children  in  Angola,  uma  organização  internacional  que  preocupa-­‐se  com  a  saúde,  educação  e  protecção  das  crianças  e  a  redução  da  pobreza.  

Para  melhor  coordenação  do  apoio  logístico,  foi  decidido  que  a  IBIS  apoiasse  4  municípios,  a  SCIA  cinco  e  a  DPE  três.  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Figura  2:  Esquema  de  implementação  e  interacção  das  instituições  envolvidas  

 Legenda  

  Apoio  técnico  financeiro  e  logístico     Treina  e  supervisiona     Coordena,  emprega,  supervisiona  e  dirige     Ensinam     Coordena,  forma  e  financia     Financia     Interagem      

Objectivo  da  avaliação  

Era  previsto  que  o  UNICEF  apoiasse  a    implementação  do  PAAE  em  Kwanza  Sul  para  três  anos,  de  2008  até  2010.  Durante  este  período  iria  recolher  experiencias  e  documentar  boas  práticas  e  lições  aprendidas  que  serviriam  como  base  para  a  decisão  de  como  vai  estender  o  seu  apoio  ao  MED  para  a  replicação  do  PAAE   no   Pais   inteiro,   com   enfoque   especial   nas   suas   principais   províncias   de   impacto.   Como   o   prazo  previsto   esta   a   terminar,   achou-­‐se   importante   avaliar   o   programa   e   obter   informações   a   respeito   dos  seguintes  aspectos:  

• Relevância  para  o  grupo  alvo,  os  adolescentes  fora  do  sistema  escolar  e  os  seu  pais  e  familiares;  

• Efectividade  das  parcerias,  dos  materiais  utilizados,  do  sistema  de  implementação;  

• Eficiência  na  utilização  e  aplicação  dos  recursos  utilizados;  

UNICEF MED Aldeia GlobalConsultoriaApoio técnico e financeiro

Save the Children Angola

DPE

SupervisoresMunicipais

Professores

Estudantes

Pais e família

ComunidadeAmigos e colegas

da turma

Nível nacional

Nível provincial

Nível municipal/comunal

SCiA provincial

IBIS

Formadores Nacionais

Formadores Provinciais

Supervisionam

RME

Parceiros Sociais (Igrejas, ONGs etc.)

Alfabetizadores

Responsável pela concepção, implementação e

realização do programa

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• Impacto   positivo   e   negative   para   os   estudantes,   suas   famílias,   as   comunidades,   professores   e  supervisores;  

Baseado  nessas  informações  elaborou-­‐se  recomendações  e  sugestões  para:    

• A  estratégia  nacional  do  PAAE.  O  que  pode-­‐se  aprender  da  implementação  em  Kwanza  Sul?  O  que  deveria  continuar,  o  que  deveria  mudar?  Como  pode-­‐se  replicar  sucessos?  Quais  foram  as  estratégias  de  superar  desafios?  O  que  não  funcionou  e  o  que  pode-­‐se  aprender  disso?  

• Apoio   do  UNICEF   ao   programa   nas   cinco   Províncias   de   impacto.   De   que   forma   poderia  melhor  apoiar  o  MED  e  seus  parceiros?    

• A  Sustentabilidade  do  programa  depois  da  saído  do  UNICEF  

Geralmente,  o  impacto  esperado  de  um  programa  e  os  indicadores  correspondentes  estão  registados  ou  na  proposta  do  programa  ou  no  contrato  de  cooperação.  O  PAAE  para  jovens,  porém,  não  é  um  programa  isolado  mas  uma  constituinte  da  Estratégia  de  Alfabetização  e  Recuperação  do  Atraso  Escolar.  Da  mesma  forma,  o  apoio  à  aceleração  escolar  é  uma  componente  do   “Plano  da  Cooperação  entre  o  Ministério  da  Educação  de  Angola  e  o  Fundo  das  Nações  Unidas  para  a  Infância”.  Em  consequência  disso,  não  há  algo  como  uma  proposta  do  programa  específica  com  quadro  lógico,  objectivos  e  indicadores  detalhados  nas  quais  essa  avaliação  poderia  basear-­‐se  ou  aos  quais  poderia  recorrer.    

Os  únicos  indicadores  para  medir  o  sucesso  do  PAAE  encontram-­‐se  no  contracto  de  parceria  entre  a  DPE,  a  IBIS  e  a  SCiA.  O  alcance  dos  resultados  esperados  no  âmbito  deste  contrato  é  medido  com  indicadores  quantitativos  como  o  número  de  adolescentes  e  jovens  fora  do  sistema  de  ensino  integradas  nas  turmas  de  aceleração  escolar  ou  a  percentagem  de  alunos  que  concluem  com  sucesso  o  ano  lectivo  e  transitam  para  o  módulo  seguinte.  

Embora  haja  indicadores  qualitativos  como  a  utilização  de  “práticas  pedagógicas  de  aprendizagem  activa”  nas   turmas   do   PAAE.   estes   não   são   apropriados   para   obter   informações   sobre   os   múltiplos   aspectos  qualitativos  do  programa,  p.e.  satisfação,  aceitação,  impacto,  relevância  e  sustentabilidade.    

Disperso   por   vários   documentos   como,   por   exemplo,   nas   directrizes   pedagógica   e   administrativa,  encontram-­‐se  claras  indicações  sobre  os  impactos  desejados  e  resultados  esperados.  Recorreu-­‐se  a  estes  para  avaliar  se  o  programa  está  a  alcançar  os  objectivos  desejados.  Na  presentação  dos  resultados,  cada  capítulo  será  introduzido  por  uma  cotação  a  respeitos  do  que  se  esperava  de  alcançar.    

Metodologia  utilizada  

A  introdução  do  PAAE  na  Província  de  Kwanza  Sul  significava  para  os  funcionários  da  DPE,  inclusive  os  formadores   provinciais,   os   quadros   das   RME   e   supervisores   municipais   e,   antes   de   tudo,   para   os  professores   envolvidos   a   necessidade   de   familiarizar-­‐se   com   uma   nova   abordagem   pedagógica   e,   ao  mesmo  tempo,  com  novas  directrizes  administrativas.  A  aplicação  correcta  de  ambas  requer  do  professor  e  dos  outros  envolvidos  uma  mudança  de  comportamento.  Buscar  as  experiências  dos  alunos  e  desenvolver  as   aulas   em   volta   deles   em   vez   de   leccionar   ou   mandar   copiar   do   quadro;   valorizar   e   incentivar   a  compreensão   e   o   pensamento   critico   e   autónomo   em   vez   de   focalizar   na   memorização   e   repetição  mecânica,  são  valores  e  comportamentos  novos  para  todos  os  envolvidos.    

De   acordo   com   a   abordagem   CAP,   cada   mudança   de   comportamento   acontece   em   três   passos:   Uma  mudança   de  Conhecimento   pode   levar   a   uma  Atitude   diferente.   Em   condições   favoráveis   (aceitação   e  suporte  pelos  colegas  e  o  ambiente  social,  experiências  positivas  com  a  nova  atitude),  a  nova  atitude  pode  resultar   numa  Prática   alterada.   Para   obter   informações   sobre   a   compreensão   e   internalização  da  nova  abordagem   pedagógica   e   as   directrizes   administrativas   pelos   formadores   provinciais,   supervisores   e  professores   aplicamos   entrevistas   semi-­‐estruturadas.   A   capacidade   dos   professores   de   transmitir   o  conteúdo  dos  manuais  1,  2  e  3  de  forma  adequada  avaliamos  com  observações  de  aulas  e  entrevistas  em  grupos  com  os  alunos,  aplicando  várias  metodologias  participativas  (ranking,  peça  de  teatro  etc.).    Em  baixo   segue   o   esquema  de  monitoria   utilizado   para   avaliar  mudanças   de   conhecimentos,   atitude   e  comportamento  com  professores,  supervisores,  formadores,  directores  e  os  outros  técnicos  provinciais  e  municipais  envolvidos  no  PAAE.    

 

 

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Questão  de  monitoria   Metodologia  utilizada  

Conhecimento:  Os  professores,  supervisores,  formadores,  directores  e  outros  envolvidos  conhecem  bem  a  nova  metodologia  pedagógica?  Conhecem  a  estrutura  administrativa  do  PAAE?  

• Teste  de  múltipla  escolha  no  início  das  entrevistas  individuais;  

• Perguntas  investigantes  durante  as  entrevistas.  

Atitude:  Eles  consideram  o  novo  método  de  ensino  relevante  para  os  alunos?  E  para  alunas?  Há  diferença?  Por  que?  Por  que  não?  O  que  deveria  mudar?  O  que  deveria  continuar?  Perguntas  similares  a  respeito  das  directrizes  administrativas.  

• Análise  FOFA  (Forças,  Oportunidades,  Fraquezas,  Ameaças)  com  os  formadores  provinciais  e  supervisores  municipais;  

• Entrevistas  particulares  com  os  supervisores  e  directores  das  escolas;  

• Entrevistas  semi-­‐estruturadas  com  todos  envolvidos  

Prática:  Eles  aplicam  a  nova  metodologia  de  maneira  adequada  e  prevista?  Eles  aplicam  as  directrizes  administrativas?    

• Observações  de  aulas,  focalizando  na    conduta  do  professor,  conteúdo  e  decorrer  da  aula.  

• Entrevistas  com  directores  e  comunidades  sobre  aspectos  como  matricula  dos  alunos,  conteúdo  das  visitas  etc.  

Tabela  2:  Esquema  de  monitora  CAP  

Durante   o   nosso   trabalho   nos  municípios,   visitamos   25   escolas.   Em   cada   escola   observamos   um   aula,  entrevistamos  o  professor  e  o  director,  realizamos  uma  discussão  em  grupos  com  uns  alunos  e  assistimos  o   processo   de   supervisão.   Em   algumas   escolas   tivemos   também   a   oportunidade   de   falar   com  representantes  da  CPEE.  Nas  discussões  com  os  alunos   levantamos  dados  estatísticos  sobre  idade,  anos  de  permanência  no  ensino  geral  e  no  PAAE,  motivos  de  interrupção  e  experiências  com  o  ensino  novo.  No  total  falávamos  com  72  alunos  

O  conjunto  do  material  colhido  nos  municípios  permite-­‐nos  tirar  conclusões  sobre:  a  aceitação  do  PAAE;  a  eficiência  e  efectividade  do  material  desenvolvido  e  do  esquema  de  formação;  a  relevância  do  programa  tanto   para   o   grupo   alvo,   quanto   para   os   professores   e   outros   envolvidos   e,   afinal   de   contas,   sobre  impactos  esperados  e  inesperados.    

Para   obter   informações   sobre   a   efectividade   das   parcerias,   a   qualidade   e   eficiência   da   cooperação   e  coordenação   entre   os   parceiros   e   a   percepção   das   diferentes   pares   envolvidas   a   respeito   dos   pontos  fortes   e   fracos   do   programa   realizaram-­‐se   entrevistas   semi-­‐estruturadas   com   representantes   de   todas  organizações  envolvidas.  Uma  lista  das  pessoas  entrevistadas  encontra-­‐se  nos  anexos.    

O   conjunto   dessas   informações   e   conclusões   nos   permite   tirar   conclusões   sobre   a   sustentabilidade   do  programa,  identificar  boas  praticas  e  elaborar  recomendações  para  a  replicação  em  outras  Províncias.    

Antes  de  começar  o  trabalho  em  campo,  um  esboço  da  metodologia  foi  submetido  para  o  MED.  Durante  o  levantamento  de  dados,   a   consultora   foi   acompanhada  por   uma  equipa  de  dois   formadores  províncias.  Estes   aproveitaram   da   viagem   num   lado   para   aumentar   os   seus   conhecimentos   a   respeito   de  metodologias  de  monitoria  e  avaliação,  no  outro  para  observar  as  aulas  e  realizar  a  sua  supervisão.  Desta  maneira  tinha  a  possibilidade  de  observar  também  a  a  maneira  de  supervisionar  os  professores.  

Antes  de  começar  com  a  recolha  das  informações,  nós  nos  apresentamos  nas  administrações  municipais  e  aos   chefes   das   RME   para   nos   introduzir   e   explicar   o   motivo   da   nossa   estadia.   Nos   municípios   fomos  acompanhados  por  um  supervisor  local  que  nos  introduziu  nas  escolas.  

Durante  todo  tempo  da  pesquisa  de  campo  consultei   literatura  de  várias  origens.  Além  dos  relatórios  e  documentos   citados   nas   notas   de   rodapé,   consultei   uma   grande   variedade   de  material   disponibilizada  pela   DPE,   IBIS,   Aldeia   Global   e   UNICEF.   Isso   inclui   relatórios   de   formações,   de   visitas   e   avaliações,  documentos  estratégicos,  material  didáctico  adicional  e  muito  mais.  Resultados  de  avaliações  e  pesquisas  realizadas  no  mesmo  tempo  desse  estudo  e  cujo  relatório  não  estava  disponível  antes  do  fim  da  pesquisa  do  campo,  não  podia  ser  considerado.    

Os  Municípios  visitados  

Durante  a  pesquisa,  visitamos  6  municípios  na  Província  de  Kwanza  Sul:  Sumbe,  Amboim,  Seles,  Conda,  Kibala  e  Mussende.  Dessa  forma,  visitamos  dois  municípios  apoiados  pela  DPE  (Sumbe,  Seles),  dois  pela  IBIS  (Quibala,  Mussende)  e  dois  pela  SCiA  (Amboim,  Conda).  

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A  capital  administrativa  do  Kwanza  Sul  é  Sumbe,  o  seu  centro  económico,  portanto,  é  Porto  Amboím  com  o  maior  porto  da  Província.  A   sua  população  vive  maioritariamente  da  agricultura,  o   sector  das  pescas  vem   a   seguir   em   termos   de   importância   económica   da   região.  No   início   da   década   de   1970,   a  Gabela,  capital  do  município  Amboím,  era  uma  das  mais  prósperas  terras  angolanas.  Foi  conhecida  pela  produção  de  café,  merecendo  até  uma  linha  de  comboio  para  o  levar  até  à  costa.  Com  o  tempo,  porém,  as  plantações  de   café   em   toda   a   Província   foram   abandonadas   ou   substituídas   por   hortas   de   subsistência.   Hoje   há  tentativas  de  revitalizar  a  produção  de  café,  algo  difícil  com  a  queda  dos  preços  no  mercado  internacional  e  a  perca  de  experiência  técnica  na  população.  

Como  em  todo  litoral  Angolano,  nos  municípios  costeiras  e  perto  da  costa  como  Sumbe,  Seles,  Conda  e  Amboím,  não  há  muitas  marcas  visíveis  da  guerra.  Estas  localidades  sofreram  mais  com  o  abandono  do  que  com  as  consequências  de  operações  militares  frequentes.  A  maioria  dos  edifícios,  inclusive  as  escolas,  são  das  décadas  1950  –  1960  e   todos   apresentam  sinais  de   idade.  Por   serem  muito   seguros  durante   a  guerra,  Sumbe,  Porto  Amboím  e  Gabela  atraíram  muitas  pessoas  internamente  deslocadas.  Hoje  em  dias,  são  os  lugares  as  com  maior  actividade  económica  e  por  isso  atraíram  muitos  migrantes  do  interior.  Em  consequência   disso,   numerosos   bairros   dessas   cidades   são   construídas   precariamente   e   sem   infra-­‐estrutura  adequada.    

Os   municípios   do   interior,   porém,   foram   entre  os   mais   atingidos   de   Angola.   Além   de   ganhar  uma  notoriedade  indesejada  pelo  seu  campo  de  concentração  nos  tempos  da  república  popular,  na   Kibala   quase   todos   os   edifícios   do   centro  estão   semi-­‐destruídos.   Muito   provavelmente,  Mussende   foi   ainda   mais   atingido.   Durante  alguns  anos  sofreu  quase  diariamente  batalhas,  a   vila   foi   tomada   várias   vezes   pela   UNITA   e  MPLA   ,   ambos   exércitos   roubaram   comida,  violaram   as  mulheres   e   sequestraram   jovens   e  crianças   para   incorpora-­‐los   nos   seus   milícias.  De   acordo   com   um   estudo   do   Ministério   de  

Saúde,  em  2001  24%  da  população  desta  região  estavam   severamente   e   33   %   geralmente  malnutrida.8   Levando   em   contas   que   geralmente   a   maioria   dos   desnutridos   são   crianças,   é   muito  provável   um   grande   número   de   alunos   actuais   sofreu   severa  malnutrição   durante   os   últimos   anos   da  guerra  e/ou  outros  eventos  traumáticos.   Infelizmente,  em  Angola  não  há  dados  sobre  o   impacto  desses  eventos  no  desenvolvimento  físico  e  emocional  das  crianças  tanto  quanto  no  seu  desempenho  escolar,    

                                                                                                               

8  Oxfam  Briefing  Paper:  Angola’s  Wealth:  Stories  of  War  and  Neglect,  September  2001  

Fotografia  1:  Prédio  na  Kibala  

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  15    

IV. RESULTADOS  

Relevância  e  Impacto  para  os  Jovens  

Crianças  e  jovens  são  o  principal  público  alvo  do  PAAE  para  jovens.  Esperava-­‐se  que  o  programa  tenha  os  seguintes  vantagens  para  os  adolescentes:    

• Acelerar  a  escolarização  dos  jovens  para  corrigir  as  distorções  idade  e  classe;  

• Inserir  no  sistema  formal  de  ensino  os  adolescentes  e  jovens  que  estejam  fora  do  sistema  educacional.  

Além  de  acelerar  a  aprendizagem  dos   jovens,  é   indispensável  para  a   futura  vida  profissional  ou  escolar  dos   jovens   que   os   alunos   que   concluem   o   ensino   acelerado   tenham   os   mesmos   conhecimentos   e  habilidades  como  os  seus  colegas  do  ensino  geral.  Duas  outras  pesquisas9  já  abordaram  a  mesma  questão,  comparando  os  conhecimentos  de  alunos  do  módulo  3  com  os  da  6.  classe  do  ensino  geral.  Como  ambos  chegaram  à  conclusão  que  não  há  diferenças  significativas  entro  os  dois  grupos  decidimos  de  não  repetir  o  mesmo  exercício.    

No  trabalho  com  os  alunos  nos  concentramos  nas  seguintes  questões:  Quem  são  os  alunos  do  PAAE  em  relação  a  idade,  sexo  e  carreira  escolar?  Quem  são  estes  que  desistem  do  PAAE  e  porque?  Eles  percebem  uma  diferencia  entre  o  PAAE  e  o  ensino  geral?  Caso  sim,  o  que  consideram  mudança  positiva  ou  negativa?  

Em   cada   sala   de   aula   visitada,   pedimos   um   grupo   de   alunos   para   trabalharem   connosco;   no   total  falávamos  com  72  alunos,  a  composição  da  nossa  amostra,  desagregada  por  idade  e  sexo,  encontra-­‐se  no  gráfico  em  baixo.  

   Gráfico  1:  Idade  dos  alunos  entrevistados  

Acesso  à  escola  Actualmente   em   Angola,   o   número   de   mulheres   iletradas   é   maior   do   que   o   dos   homens   por   que  tradicionalmente   deu-­‐se   preferência   ao   ensino   dos   rapazes.   Para   nivelar   este   desequilíbrio,   o   MED   e  várias   organizações   parceiras   sensibilizaram   os   pais   e   as   comunidades   para   garantir   igual   acesso   ao  ensino.  Nas  salas  visitadas,   levantamos  os  números  de  meninas  e  meninos  presentes.  Consideramos  um  sucesso  que  a   relação  era  geralmente  equilibrada  com  um  numero   igual  de  alunos  de  ambos  os  sexos.  (Veja  gráfico  1  em  baixo.)  

                                                                                                               9  Dr.  Ruth  Naylor,  Rewrite  the  Future  Global  Evaluation,  Angola  Midterm  Country  Report,  January  2009  Estudo  da  DPE  e  IBIS  em  Mussende.  

Idade Meninas Meninos Sexo do aluno Idade Menina Menino

11

12

13

14

15

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17

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19

20

20+

4 f 11

2 3 f 11

4 4 f 11

3 7 f 11

10 5 f 12

3 4 f 12

2 1 m 12

3 2 m 12

1 1 m 12

1 m 13

7 1 f 13

f1 13

f 13

f 13

m 13

m 13

m 13

m 14

m 14

m 14

f 14

m 14

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m 14

m 14

m 14

f 15

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f 15

f 15

f 15

f 15

f 15

f 15

f 15

f 15

m 15

m 15

m 15

m 15

m 15

f 16

m 16

m 16

f 16

m 16

f 16

m 16

f 17

f 17

m 17

f 18

f 18

f 18

m 18

m 18

f 19

m 19

m 20

f 21

m 21

f 23

f 23

f 25

f 27

f 32

f 40

0

2

4

6

8

10

11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 20+

mero

de a

lun

os

Idade

Meninas Meninos

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 Gráfico  2:  Relação  entre  meninos  e  meninas  nas  salas  de  aula  

Única  excepção  é  Kibala  onda  há  notavelmente  mais  alunos  do  que  alunas.  Duas  explicações  foram  dadas  para  este  fenómeno:    

• Kibala  é  um  município  muito  tradicional  e  vai  durar  muito  até  a  igualdade  entre  homens  e  mulheres  seja  realidade;  

• No  município   existem  mais   três  outras  possibilidades  de  alfabetização  que   tem  muitas  mulheres   e  meninas,   matriculadas:   o   Dom   Bosco,   o   Aplica   e   o   Alfalite.   O   horário   das   aulas   nestes   grupos   é  variável  e  é  muito  provável  que  esta  flexibilidade  é  mais  oportuna  para  as  jovens.    

 

➜  

Motivos  de  desistência  O  ensino   geral   é   caracterizado  por   um  número   alto   de   desistências.   Embora  não  haja   dados   concretos  sobre  a  percentagem  actual  do  abandono  escolar,  relatórios10  dão  a  entender  que  as  que  desertaram  às  escolas   são   maioritariamente   meninas.   Explica-­‐se   o   fenómeno   que   muitas   famílias   pressionam   o  abandono  das  filhas  por  que  acham  que  o  lugar  da  filhas  é  a  lavra  para  ajudar  a  mãe  ou  em  casa  a  fazer  a  vez  da  mesma  nas  suas  ausências  ou  por  que  as  meninas  estão  grávidas  ou  prestes  de  se  casar.  

Tentávamos   falar   directamente   com   alunos   que   desistiram   do   PAAE   para   investigar   mais   sobre   este  assunto,   mas   infelizmente   não   havia   maneira   de   localiza-­‐los.   Obtivemos   dados   relacionados   através  daqueles  professores  que  se  deram  ao   trabalho  de   investigar  sobre  o  paradeiro  dos  alunos  ausentes.  O  resultado  está  visualizado  no  gráfico  em  baixo:  

 Gráfico  3:  Motivo  de  desistências  

Parece  que  em  Kwanza  Sul,  o  maior  motivo  de  abandonar  a  escola  não  é  a  gravidez  precoce  ou  o  facto  de  ser  menina  mas  a  incompatibilidade  do  calendário  escolar  com  o  trabalho  na  lavra.  Nos  municípios  do  interior,  a  época  chuvosa  começa  em  Outubro,  nos  costeiros  em  Novembro.  Como  o  trabalho  é  muito  

                                                                                                               10  Aldeia  Global,  Documento  aditivo  ao  relatório  sobre  a  Disparidade  De  Género  Nas  Escolas  do  ensino  primário  e  1o  ciclo  do  ensino  secundário  em  Angola  (2008),  Diagnóstico  Quantitativo,  Luanda,  Julho  de  2009  

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12 1345 3671 5138 4237 3938 44

0

15

30

45

60

Gabela Conda Kibala Mussende Seles Sumbe

Relação entre meninas e meninos nas salas de aula

Núm

ero

de a

luno

s

Município

Meninos Meninas

Desistências Lavra Gravidez ou bebe pequeno

Desconhecido Viagem Motivos familiares

Doença Outros

8 86 1 1 14 44 1 1 26 3 1 33 1 1 12 2 Distancia4 1 1 1 1 Falta de interesse1 13 1 28 6 25 1 28 83 1 2

10 105 5

80 22 12 14 9 6 5 8

11%

7%

8%

12%

18%

16%

29%

Motivos de desistência

LavraGravidez ou bebe pequenoDesconhecidoViagemMotivos familiaresDoençaOutros

O  número  de  meninos  e  meninas  matriculados  no  PAAE  é  quase  igual.  

 

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intenso  e  a  mão  de  obra  de  um  adolescente  é  valiosa,  muitos  –  homens  tanto  quanto  mulheres  –  não  têm  a  possibilidade   de   ficar  metade   do   dia   na   escola  mas   têm   que   trabalhar   o   dia   inteiro   na   lavra.   Por   isso,  abandonam   a   escola   pouco   antes   das   provas   finais.   Nos   municípios   onde   há   outras   organizações   que  oferecem   alfabetização   ou   o   ensino   básico,   como   por   exemplo   as   igrejas   católicas,   aqueles   jovens   que  conseguem   conciliar   duas   horas   de   estudo   com   o   trabalho   na   lavra,   vão   para   as   aulas   dos   parceiros  sociais.    

 

➜    

Segundo  motivo  mais   importante   para   desistir   da   escola   é   a  gravidez   ou   um  bebê   pequeno.   As  mães  muito  novas  ou  solteiras  sentem  vergonha  de  voltar  para  a  escola  com  bebê,  outras  estão  inseguras  como  combinar  escola  e  obrigações  maternas  No  outro  lado,  porém,  encontramos  muitas  mães  jovens  nas  salas  de  aula  com  o  bebê  nas  costas.  Essas  foram  apoiadas  pelas  outras  meninas  na  sala  em  situações  quando  o  bebê  chorava  ou  quando  a  mãe  escrevia  no  quadro  negro.  Essas  nos  relataram  que  se  sentem  aceitas  nas  salas,  tanto  pelos  outros  alunos,  quanto  pelos  professores.  

Outros  motivos  de  desistência  são  a  mudança  do  aluno  e  a   instabilidade  familiar.  Ambos  afectam  os  dois   sexos   igualmente.   È   muito   comum   que   a   mãe   solteira,   por   exemplo,   encontra   novo   parceiro   ou  enfrenta   dificuldades   financeiros   e  manda   o   filho  morar   com   um   parente   numa   outra   vila.   Em   outros  casos,   o   encarregado   de   educação   falece   e   a   menina   tem   que   morar   com   algum   parente   que   mora  distante.  Pode  também  acontecer  que  um  familiar  na  cidade  pede  para  mandar  um  parente  jovem  da  zona  rural  para  ajudar  em  casa  e  a   família  decide  que   lá  há  condições  melhores  para  estudar  e  progredir  na  vida.    

Nas  aulas  visitadas,  o  número  de  alunos  desistentes  varia  muito.  Em  alguns  casos  raros  são  50%  dos  matriculados,  mas  encontramos  também  salas  onde  ninguém  abandonou  o  ensino.  Geralmente  são  entre  3   e   5   por   turma   nas   salas   observadas.   Falando   com   os   professores   descobrimos   que   há   uma   relação  estreita  entre  o  compromisso  do  professor  com  os  alunos  e  a  taxa  de  desistência.  Naquelas  salas,  onde  o  professor  é  comprometido  com  os  seus  alunos,  onde  ele  pede  para  o  grupo  aúlico  visitar  o  aluno  ausente  e  procurar  saber  o  por  que  da  sua  falta,  ou  onde  ele  mesmo  investiga  o  que  aconteceu  com  o  aluno  e,  se  for  preciso,  dialoga   com  a   família,     encoraja  os  pais  ou  o   aluno  para  voltar  para   a   escola,   o  número  de  desistências  é  muito  menor.    

E,  nas  salas  onde  o  professor  não  sabia  o  motivo  das  desistências  dos  seus  alunos,  a  taxa  de  abandono  era  muito  alta.  Especialmente  nos  lugares  onde  o  professor  provem  da  comunidade  onde  ensina  ou  vive  nela  há  muitos  anos  e  está  bem  enraizado,  ele   se   sente  mais   responsável  para  o   sucesso  dos   seus  alunos.  A  maioria   dos   professores   que   permutam   diariamente   da   vila   para   a   comuna,   não   sabe   o   que   está  acontecendo  com  os  seus  alunos  e  muitas  vezes  não  está  muito  interessado  neste  assunto.  

 

   ➜  

Proveniência  dos  alunos    Segundo  os  nossos  dados,  cerca  de  90%  dos  alunos  entrevistados  vêm  do  ensino  geral.  Encontrávamos  apenas  alguns  alunos  do  módulo  1  que  nunca  frequentaram  a  escola  ou  que  resolveram  regressar  depois  de  terem  parados  alguns  anos.  As  administrações  tomaram  deliberadamente  a  decisão  de  dar,  durante  os  primeiros   anos   de   implementação,   preferência   aos   alunos   com  desfazagem  de   idade/classe   para   obter  paulatinamente   turmas  de   idade  mais  homogéneos.  Segundo  eles  havia  muitos  adolescentes  entre  12  e  17  anos  ainda  no  ensino  primário  invés  do  secundário,  seja  porque  entraram  tarde,  chumbaram  muito  ou  desistiram  e  voltaram  depois  de  um  tempo.  Esperou-­‐se  que  tivesse  mais  lugares  para  novos  alunos  jovens  depois   de   encaminhar   os   mais   velhos   para   o   PAAE.   Em   consequência   dessa   decisão,   o   PAAE   foi  apresentado  na  maioria  das   comunidades  e  para  os  CPEE  como  programa  para  diminuir   a  desfazagem  idade/classe  e  não  tentou-­‐se  recrutar  mais  adolescentes  fora  do  sistema.    

   ➜  

 

A  falta  de  sincronização  entre  o  calendário  escolar  e  o  calendário  agrícola  tem  um  impacto  claro  e  directo  nas  desistências  dos  alunos.  

O  compromisso  do  professor  com  os  alunos  e  o  seu  enraizamento  na  comunidade  está  relacionado  estreitamente  à  baixa  taxa  de  desistência.  

 

Até  agora  o  PAAE  não  conseguiu  atingir  de  maneira  significativa  o  seu  grupo  alvo  principal,  os  jovens  fora  do  sistema  educativo.  Parece,  porém,  uma  boa  alternativa  

para  jovens  com  desfazagem  de  idade/classe.  

 

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  18    

Tendo  em  vista  que  ainda  há  muitos  alunos  que  entram  tarde  nas  escolas,  que  a   taxa  de  reprovações  é  alta  e  que  por  vários  motivos  há  poucas  turmas  do  PAAE,  é  muito  provável  que  nos  próximos  anos  haverá  ainda  uma  percentagem  alta   de   alunos  provenientes  do   ensino  básico   regular,   se   a   escolha  dos   alunos  segue  o  mesmo  padrão.    

Anos  de  permanência  na  escola  Na  nossa  opinião,  um  resultado  muito  interessante  é  a  permanência  prolongada  e  contínua  de  muitos  alunos   do   PAAE   no   sistema   educativo;   não   era   raro   de   encontrar   alunos   com   4   ou   5   reprovações.   O  gráfico  em  baixo  mostra  os  anos  de  permanência  contínua  na  escola  por  módulo.    

     Gráfico  4:  Anos  de  permanência  contínua  na  escola  

Levando  em  conta  que  os  alunos  do  módulo  1  podem  provir   fora  do  sistema  ou  da  1.,  2.  ou  3.  classe,  o  tempo  médio  de  permanência  na  escola  deveria  ser  entre  0  e  3  anos.  Dos  13  alunos  entrevistados  deste  módulo,   apenas  7   estão  dentro  do  padrão  enquanto  4   já   estão  há  5,   6  ou   até  10  anos  na   escola   e  uma  entrou  e  saiu  várias  vezes.  O  tempo  médio  do  alunos  do  módulo  2  deveria  ser  entre  3  e  5  anos  na  escola.  Falávamos  com  26  jovens  e  destes  apenas  7  estão  dentro  da  média,  4  já  frequentam  a  escola  há  6  anos,  1  há  7  anos,  5  há  8  anos,  igualmente  5  há  9  anos  e  duas  há  10.  Dois  alunos  entraram  e  saíram  várias  vezes.  No  módulo  3,  a  situação  não  é  muito  diferente.  O  tempo  de  permanência  deveria  ser  entre  3  anos  para  aqueles  que  vêm  do  módulo  2  e  7  anos  para  os  do  ensino  vigente  e  que  reprovaram  uma  ou  duas  vezes.  Isso  é  o  caso  com  apenas  8  dos  27  alunos  entrevistados,  3  ficaram  8  anos  na  escola,  2  ficaram  9  anos,  5  já  estão  há  10  anos  na  escola  e  9  entraram  e  saíram  várias  vezes.    

➜  

Geralmente   atribui-­‐se   a   taxa   alta   de   reprovações   ás   fraquezas   conhecidas   do   ensino   geral:   Salas  superlotadas,   professores   pouco   qualificados,   material   didáctico   antiquado   etc.   Mas   será   que   pode-­‐se  responsabilizar   a   qualidade   do   ensino   para   que   um   dos   entrevistados   reprovou   4   vezes   na   primeira  classe  e  agora  está  a  estudar  no  módulo  1?  Ou  para  os  problemas  dos  meninos  que   já  estão  a  repetir  o  módulo  2  pela  terceira  vez  e  ainda  não  sabem  ler  e  escrever  razoavelmente?    

Durante   das   observações   de   aula   pude   notar   que   o   tempo   de   concentração   de   alguns   alunos  aparentemente   era   muito   curto.   Outros   eram   extremamente   recolhidos,   não   participaram   de  maneira  nenhuma   no   trabalho   de   grupo   e   haviam   dificuldades   de   interagir   com   os   seus   colegas.   Na   hora   da  entrevista  em  grupo,  alguns  dos  alunos  pareciam  extremamente  agitados,  incapazes  de  ficarem  sentados  por  mais  do  que  alguns  minutos.  Todas  estas  maneiras  de  comportamento  não  são  necessariamente,  mas  podem   ser   um   indicativo   de   uma   certa   imaturidade   intelectual   ou   de   um   comportamento   social  problemático.  Os  dados  estatísticos,  em  conjunto  com  as  observações  da  conduta  nas  aula  e  entrevistas  e  o   facto   de   alguns  deles   possivelmente   sofrerem  algum   tipo  de  malnutrição   ou   outro   trauma  durante   a  guerra,   sugerem  que   uma   certa   quantia   destes   adolescentes   são   jovens   com  necessidades   especiais   de  ensino.11  Por  falta  de  meios  diagnósticos  adequados  pararam  no  PAAE.  

Outro  motivo  para  a  permanência  prolongada  de  alguns  jovens  nas  escolas  é  que  “ser  estudante”  aumenta  a  auto-­‐estima  e  o  reconhecimento  social.    Para  um  jovem,  por  exemplo,  é  sociavelmente  muito  mais  aceito  de   poder   responder   à   pergunta   “O   que   faz?”   “Eu   estudo”   do   que   admitir   que   não   faz   nada,   está                                                                                                                  11  Gostaria  de  relembrar  que  nos  últimos  anos  da  guerra,  quando  os  alunos  de  hoje  eram  crianças,  33%  da  população  era  severamente  malnutrida,  algo  que  pode  haver  sérias  consequências  para  o  desempenho  escolar.    

Anos na Escola

Meninas Meninos Meninas Meninos Meninas Meninos

2

3

4

5

6

7

8

9

10

outro

1 2 1

3 1 1 1

1 1 1 1 2

2 3 1 1

1 1 3 1

1 1

2 3 3

2 3 2

1 2 3 2

1 1 1 6 3

Comuna Meninas Meninos modulo Idade que começou a

estudar

Anos na escola Motivo pelo atraso

Mussende, Augusto Kangula

Shell

Lowe, Mussende

Comandante Valodia, Mussende

Kambale, Mussende

f 11 1 2

f 11 1 8 3 1

f 12 1 7 3 1

f 11 1 8 3 3

f 15 1 5 10 Repetir a 3 classe

f 15 1 5 x 2 reprova;'oes, depois parou de estudar

f 13 2 11 2 2

f 13 2 10 3 2

f 12 2 8 4 2

f1 13 2 8 5 3

f 25 2 20 5 1

f 13 2 7 5 1

f 16 2 10 6 2

f 15 2 8 7 3

f 14 2 6 8 1 reprov, 2 anos fora2 classe

f 15 2 7 8 3

f 14 2 5 9 4

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f 15 2 5 10 4

f 15 2 5 10 3

f 19 2 11 x 1 reprova;'ao, 1 ano, ela mesnmo decidiu,

f 18 3 15 3

f 14 3 10 4 1

f 16 3 11 5 estudava até 3.

f 15 3 8 7 1

f 16 3 8 8 ficou fora um ano por cause de doença

f 15 3 7 8 3

f 18 3 8 8 ficou 2 anos fora da escola

f 18 3 8 10 1

f 17 3 7 10 6

f 15 3 5 10 4

f 17 3 6 11 reprovção e parada

f 23 3 7 16 5

f 32 3 7 x 20 anos sem estudar pensou teve que estudar

f 40 3 12 x 20 anos paradoaumentr o conhecimentos

f 23 3 7 x Muitas entradas e saídas

f 21 3 10 x Muitas saídas e entradas

f 27 3 5 x 5 anos de pausa

Idade Modulo Idade que começou a

estudar

Anos naescola

m 14 1 10 4 3

m 15 1 8 5 3 reprovações, parou um tempo, estava na lavra

m 13 1 10 3 2 reprovações, agora veio de for a

m 13 1 7 5 2

m 15 1 14 1 0

m 12 1 6 6 2

m 12 1 10 2 0

m 14 2 8 6 4

m 17 2 8 9 2

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m 15 2 6 9 4

m 13 2 5 8 3

m 12 2 6 6 3

m 15 2 7 8 3

m 15 2 6 9 4

m 20 2 9 x Ficou fora uns anos

m 16 2 8 8 Reprovação tambem no PAAE

m 14 2 10 4 Reprovação tambem no PAAE

m 16 3 7 x 3 reprovações, parou um tempo, estava na lavra

m 19 3 10 x 2 reprovações, 1 aon fora, o irmão mobilisou

m 21 3 14 x 1, ficou 1 ano fora, o Pãe

m 18 3 9 9 1 vez, nunca fora da escola

m 18 3 8 10 nunca reprovou, 1 ano fora, recomeçõ ano passado

m 16 3 5 11 4

m 14 3 9 5 1

m 13 3 6 6 1

m 14 3 10 4

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m 16 3 7 9 2

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2 3 4 5 6 7 8 9 10 outro

Módulo 1

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Anos na escolaMeninas Meninos

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1 2 3 2

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Comuna Meninas Meninos modulo Idade que começou a

estudar

Anos na escola Motivo pelo atraso

Mussende, Augusto Kangula

Shell

Lowe, Mussende

Comandante Valodia, Mussende

Kambale, Mussende

f 11 1 2

f 11 1 8 3 1

f 12 1 7 3 1

f 11 1 8 3 3

f 15 1 5 10 Repetir a 3 classe

f 15 1 5 x 2 reprova;'oes, depois parou de estudar

f 13 2 11 2 2

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f 14 2 6 8 1 reprov, 2 anos fora2 classe

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f 19 2 11 x 1 reprova;'ao, 1 ano, ela mesnmo decidiu,

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f 16 3 11 5 estudava até 3.

f 15 3 8 7 1

f 16 3 8 8 ficou fora um ano por cause de doença

f 15 3 7 8 3

f 18 3 8 8 ficou 2 anos fora da escola

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f 17 3 6 11 reprovção e parada

f 23 3 7 16 5

f 32 3 7 x 20 anos sem estudar pensou teve que estudar

f 40 3 12 x 20 anos paradoaumentr o conhecimentos

f 23 3 7 x Muitas entradas e saídas

f 21 3 10 x Muitas saídas e entradas

f 27 3 5 x 5 anos de pausa

Idade Modulo Idade que começou a

estudar

Anos naescola

m 14 1 10 4 3

m 15 1 8 5 3 reprovações, parou um tempo, estava na lavra

m 13 1 10 3 2 reprovações, agora veio de for a

m 13 1 7 5 2

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m 12 1 6 6 2

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m 15 2 7 8 3

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m 20 2 9 x Ficou fora uns anos

m 16 2 8 8 Reprovação tambem no PAAE

m 14 2 10 4 Reprovação tambem no PAAE

m 16 3 7 x 3 reprovações, parou um tempo, estava na lavra

m 19 3 10 x 2 reprovações, 1 aon fora, o irmão mobilisou

m 21 3 14 x 1, ficou 1 ano fora, o Pãe

m 18 3 9 9 1 vez, nunca fora da escola

m 18 3 8 10 nunca reprovou, 1 ano fora, recomeçõ ano passado

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Comuna Meninas Meninos modulo Idade que começou a

estudar

Anos na escola Motivo pelo atraso

Mussende, Augusto Kangula

Shell

Lowe, Mussende

Comandante Valodia, Mussende

Kambale, Mussende

f 11 1 2

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f 15 1 5 10 Repetir a 3 classe

f 15 1 5 x 2 reprova;'oes, depois parou de estudar

f 13 2 11 2 2

f 13 2 10 3 2

f 12 2 8 4 2

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f 25 2 20 5 1

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f 14 2 6 8 1 reprov, 2 anos fora2 classe

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f 19 2 11 x 1 reprova;'ao, 1 ano, ela mesnmo decidiu,

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f 16 3 11 5 estudava até 3.

f 15 3 8 7 1

f 16 3 8 8 ficou fora um ano por cause de doença

f 15 3 7 8 3

f 18 3 8 8 ficou 2 anos fora da escola

f 18 3 8 10 1

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f 17 3 6 11 reprovção e parada

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f 32 3 7 x 20 anos sem estudar pensou teve que estudar

f 40 3 12 x 20 anos paradoaumentr o conhecimentos

f 23 3 7 x Muitas entradas e saídas

f 21 3 10 x Muitas saídas e entradas

f 27 3 5 x 5 anos de pausa

Idade Modulo Idade que começou a

estudar

Anos naescola

m 14 1 10 4 3

m 15 1 8 5 3 reprovações, parou um tempo, estava na lavra

m 13 1 10 3 2 reprovações, agora veio de for a

m 13 1 7 5 2

m 15 1 14 1 0

m 12 1 6 6 2

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m 13 2 5 8 3

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m 15 2 7 8 3

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m 20 2 9 x Ficou fora uns anos

m 16 2 8 8 Reprovação tambem no PAAE

m 14 2 10 4 Reprovação tambem no PAAE

m 16 3 7 x 3 reprovações, parou um tempo, estava na lavra

m 19 3 10 x 2 reprovações, 1 aon fora, o irmão mobilisou

m 21 3 14 x 1, ficou 1 ano fora, o Pãe

m 18 3 9 9 1 vez, nunca fora da escola

m 18 3 8 10 nunca reprovou, 1 ano fora, recomeçõ ano passado

m 16 3 5 11 4

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Anos na escolaMeninas Meninos

A  entrada  tardia  não  é  o  motivo  maior  para  a  defasagem  idade/classe  de  muitos  alunos  do  PAAE,  mas  o  número  alto  de  reprovações.    

 

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  19    

desempregado  ou  que  fica  em  casa  etc.  Se  realmente  estuda  na  escola  ou  não,  se  no  fim  do  ano  é  re-­‐  ou  aprovado  não  faz  muita  diferença  .    

Relevância  e  Impacto  para  os  Professores  

De  acordo  com  as  directrizes  pedagógicas  do  PAAE,  o  aluno  deveria  ser  percebido  e  tratado  como  sujeito  construtor  reflexivo,  expressivo  e  transformador.12  Para  ajudar  ao  aluno  a  revelar  este  seu  lado,  precisa  de  um   professor   que   exercerá   novos   papeis   e   competências   como   mediador   e   promotor   de   aprendizagens  significativas,   comprometido   com   o   sucesso   de   todos   e   de   cada   um,   sendo   denominado   facilitador   das  aprendizagens.13   Entre   outros   aspectos,   ele   deveria   ter   internalizado   que   escrever   não   é   copiar!14   e  deveria  organizar  as  aulas  de  uma  forma  que  o  aluno  participa  activamente  da  dinâmica  da  aula.15  

Composição  do  quadro  docente  Já   em   1996,   o   MED   em   colaboração   com   UNICEF,   o   CNR   e   IBIS   lançou   o   programa   TEP   (Teacher  Emergency  Package)  que  permite  crianças  afectadas  pela  guerra  ingressar  no  ensino  básico  e  de  conclui-­‐lo  o  em  tempo  mais  curto.  O  TEP,  tanto  quanto  o  PAAE,  utilizava  metodologias  interactivas,  centradas  nas  crianças.   Os   professores   receberam   uma   formação   de   três   semanas   para   familiariza-­‐los   com   as  metodologias  novas.  Mesmo  com  o  grande  sucesso  do  TEP,  a  sua  metodologia  não  foi  integrada  no  PAAE.  Na  hora  de  escolher  professores  para  o  PAAE,  porém,  o  MED  decidiu  recorrer  àqueles  que  já  receberam  formação  e  ganharam  experiências  com  o  TEP.  Em  consequência  disso,  dos  25  professores  entrevistados,  apenas  2  não  tiveram  experiências  anteriores  com  o  TEP.  Entre  os  supervisores  municipais  e  formadores  provinciais,  porém,  a  situação  era  diferente,  apenas  50  -­‐  75%  de  cada  equipa  tem  conhecimentos  práticos  bem  enraizados  de  metodologias  participativas,  interactivas  e  centradas  nas  crianças.    

Em  Abril  2008  formaram-­‐se  os  primeiros  formadores  provinciais,  no  início  de  Maio  2008  estes  treinaram  o  primeiros  professores.  Em  Setembro  do  mesmo  ano,  treinou-­‐se  os  supervisores  municipais.  Depois  da  formação  inicial,  os  professores  recebem  em  cada  pausa  pedagógica  uma  reciclagem  de  alguns  dias.  Desta  forma,  a  maioria  já  recebeu  cerca  de  8  reciclagens.    

Contrário   do   que   observamos   entre   os   alunos,   onde   a   relação   entre   os   sexos   era   balanceada,  encontrávamos   um   leve   desequilíbrio   entre   os   professores,   onde   15   eram   homens   e   10  mulheres.   De  acordo  com  os  papeis  tradicionais  de  género,  quase  todas  senhoras  ensinaram  nas  sedes  dos  municípios  enquanto   os   seus   colegas   masculinos   viajaram   para   as   comunas   e   áreas   mais   distantes.   Trabalhando  dentro   da   sede   do   município   permite   às   mulheres   de   conciliar   vida   profissional   com   as   tarefas  domesticas.  Alem  disso,   trabalhar  distante  poderia   causar   suspeitas   sobre   a   fidelidade  da  mulher,   algo  que  não  é  um  assunto  para  professores  casados.  Outro  motivo  é  que  muitas  áreas  rurais  são  acessíveis  apenas   via   mota   ou   longas   caminhadas.   Ainda   não   é   muito   comum   ver   senhoras   andando   de   mota;  caminhar  por  vias  desertas  não  é  muitos  seguro,  nem  fácil  com  bebê  nas  costas.    

Enquanto  existe  um  certa  disparidade  de  género  entre  os  professores,  há  um  grande  desequilíbrio  entre  os   supervisores   e   formadores   onde   encontrávamos   algumas   equipas   inteiramente   masculinas.   Essa  disparidade   nos   níveis   mais   elevados   das   RME   e   da   DPE   ficou   muito   visível   na   apresentação   dos  resultados  desta  pesquisa  em  Sumbe,  onde  havia  apenas  6  participantes  femininos  de  um  total  de  44;  três  das   seis   representaram   os   parceiros   sociais.   Em   consequência   disso,   nas   áreas   rurais   há   poucas  directoras,  supervisoras  e  outras  senhoras  num  escalão  mais  elevado  que  poderia  servir  como  modelo  e  incentivo  para  as  alunas.    

➜ Interacção  com  os  alunos  Durante   as   observações   das   aulas   utilizamos,   entre   outros   métodos,   uma   lista   com   itens   pré-­‐estabelecidos   para   poder   avaliar   e   registar   a   interacção   do   professor   com  os   alunos.   (A   lista   completa  

                                                                                                               12  Directrizes  Pedagógicas  13  Ibidem  14  Ibidem  15  Ibidem  

Enquanto  há  igual  acesso  nas  escolas  e  praticas  não  discriminatórias  por  parte  dos  professores  com  os  alunos,  ainda  há  um  grande  desequilíbrio  nos  supervisores  e  

escalões  mais  elevados  das  RMS  e  da  DPE.  

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  20    

com  as  médias  obtidas  encontra-­‐se  em  anexo  1.)  Aplicamos  uma  escala  de  1  –  4,  onde  1  =  sempre,  2  =  muitas  vezes,  3  =  raras  vezes,  4  =  nunca  e  x  =  não  aplica-­‐se.    

Um  resultado  muito  positivo  é  que  a  grande  maioria  dos  professores  trata  os  seus  alunos  com  respeito.  Eles  ouvem,  por  exemplo,  atenciosamente  o  que  o  aluno  diz,  não  o  interrompem  e  sorriem  e  falam  de  uma  maneira  gentil.  21  dos  25  professores  chamavam  os  alunos  pelos  seus  nomes,  os  outros  4  não  se  dirigiam  a  um  aluno  directamente  mas  sempre  ao  grupo  áulico  em  geral.  Quase  todos  estabelecem  frequentemente  contacto  com  os  olhos  dos  seus  alunos.    

Não  presenciamos  nenhuma  ocasião  de  mal  conduta  do  professor,  ninguém  falava  de  voz  alta  ou  gritava  com   os   seus   alunos,   nem   sequer   ameaçava   de   bater   ou   aplicar   outro   tipo   de   castigo.   As   nossas  observações  foram  afirmados  durante  as  entrevistas  com  os  alunos  que  confirmaram  que  nenhum  caso  semelhante  tenha  acontecido  nas  salas  de  aula.  Pelo  contrario,  eles  elogiam  o  comportamento  exemplar  dos  professores  do  PAAE  e  mencionaram  a  paciência  e  gentileza  deles  como  uma  diferença  entre  o  PAAE  e  o  ensino  geral.  

Curiosamente,   há   diferencias   notáveis   entre   os  municípios.   Enquanto   os   professores   de   Mussende  receberam  uma  pontuação  muito   acima  da  média,   os  de  Conda  e   situam-­‐se  no  nível   inferior  da   escala.  Uma  explicação  possível  é  que  os  professores  de  Mussende  maioritariamente  são  nativos  da  área  e  por  isso   têm   um   compromisso   especial   com   os   “filhos   da   mesma   terra”.   Alem   disso,   recebem   visitas  frequentes  dos  seus  supervisores  e  parceiros  sociais.  Não  gostaria,  porém,  de  concluir  que  a  posição  de  Conda  é  resultado  das  poucas  visitas  que  recebeu  até  há  pouco  tempo  dos  seus  supervisores  provinciais.    

➜  

Estrutura  e  organização  das  aulas  O   sucesso   do   PAAE   depende   em   grandes   partes   da   maneira   em   que   os   professores   compreendem   as  diferencias   entre   o   PAAE   e   o   ensino   básico   tradicional,   que   consideram   o   novo  método   pedagógico   tanto  quanto  o  esquema  de   implementação  relevante  e  vantajoso  em  comparação  com  o  ensino   tradicional  e  que   aplicam   as   novas  metodologias   de  maneira   correcta.   Mas,   para   que   estes   possam   aplicar   as   nova  metodologia   correctamente   é   indispensável   que   seja   compreendida   e   correctamente   transmitida   pelos  formadores   provinciais   aos   supervisores  municipais,   destes   aos   professores   e   finalmente   aplicado  por  estes  nas  salas  de  aula  com  os  adolescentes.  

Para   aumentar   o   interesse   dos   alunos   nas   aulas   e   incentivar   a   aprendizagem   acelerada,   o   professor  deveria  utilizar  uma  variedade  de  metodologias   interactivas   como  por  exemplo:   Incentivar  os  alunos  a  compartilhar   as   suas   experiencias   nas   salas   de   aula   e   utiliza-­‐las   como   base   de   aprendizagem,   fazer  perguntas   de   compreensão   em   vez   de   memorização,   dialogar   com   eles,   desafia-­‐los   com   ideias   e  experiencias  novas  etc.    

O   professor   tem   uma   grande   variedade   de   recursos   pedagógicos   a   disposição   que   possam   ajuda-­‐lo   a  cumprir  com  a  sua  tarefa:  A  exposição  do  ambiente  alfabetizador  ou  pedagógico  e  de  outros  recursos  na  sala  tem  o  objectivo  de  estimular  a  autoconfiança  dos  alunos  e  de  expô-­‐los  a  várias  possibilidades  de  lidar  com  a  escrita.  O   trabalho  em  grupos  áulicos  deveria   incentivar,   entre  outros,   a   inter-­‐aprendizagem  e  o  dialogo  entre  os  alunos,  etc.    

Nas  nossas  observações  podemos  notar  que  a  grande  maioria  dos  professores  aplicava  estes  recursos  de  maneira   correcta.   Seja   que   os   alunos   trabalhavam   sentados   em   grupos   áulicos   ou   que   o   ambiente  alfabetizador  ou  pedagógico  estava  colado  nas  paredes.  Nas  salas  do  módulo  1  havia  sempre  o  varal  de  letras   dependurado   na   frente,   a   escada   psicogenética   era   bem   visível   etc.   A   maioria   dos   professores  conhece  outras  metodologias  além  das  utilizadas  naquela  aula.    

➜  

 

Devido   aos   conhecimentos   e   a   experiência   que   têm,   espera-­‐se   que   os   professores   pratiquem   uma  variedade  de  métodos  interactivos  nas  salas  de  aula.  Excepto  da  arrumação  das  mesas  e  da  “decoração”  da  sala,  porém,  não  mudou  muito;  a  maneira  de  transferir  o  conteúdo  das  aulas  parece  muito  semelhante  com  o  ensino  tradicional.  

A  maioria  dos  professores  do  PAAE  destaca-­se  por  uma    interacção  gentil  e  não-­discriminatória  com  os  alunos  e  tentam  apoiar  o  processo  de  aprendizagem.  

A  maioria  dos  professores  está  muito  bem  informada  sobre  os  vários  aspectos  didácticos  e  considera  o  uso  de  metodologias  interactivas  relevante  para  o  sucesso  

escolar  dos  alunos.  

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Em  baixo  segue  uma  tabela  com  a  estrutura  típica  de  uma  aula.    

Hora   Actividade  do  professor   Actividade  principal  dos  alunos  

8.25  –  8.35   Entra  e  distribui  tarefas  entre  os  alunos   Entram  e  arrumam  a  sala  8.35  –  8.40   Escreve  nome  da  escola,  turma,  data,  

assunto  do  dia  e  número  do  módulo  no  quadro.  

Inactivos,  silenciosos,  alguns  começam  copiar.  Assim  que  ele  terminar,  todos  copiam.  

8.40  –  8.45   Ouve   Leitura  em  conjunto  do  que  está  escrito  no  quadro.  

8.45  –  8.50   Fala  sobre  a  malária,  o  mosquito,  e  explica  como  é  transmitido.  

Ouvem  

8.50  –  9.00   Lê  sobre  malária  do  módulo,  repete  o  que  falou  antes.  

Ouvem  

9.00  –  9.05   Escreve  3  perguntas  ao  quadro  negro   Copiam  9.05  –  9.20   Vai  de  mesa  em  mesa  para  observar  e  fechar  

os  livros.  Recolhe  as  respostas  escritas.  Trabalham  em  grupos,  alguns  discutem,  outros  só  olham.    

9.20  –  9.25   Ouve   Um  representante  de  cada  grupo  lê  as  respostas,  o  resto  ouve.  Muitos  apenas  copiaram  as  respostas  do  livro  sem  entender  bem  o  contexto.  

9.25  –  9.35   Escreve  as  respostas  certa  no  quadro   Copiam  como  deveria  ser  feito;  não  há  discussão.  

Intervalo  Tabela  3:  Estrutura  típica  de  uma  aula  

Neste  exemplo  trata-­‐se  de  uma  aula  do  módulo  2.  Embora  as  aulas  de  todos  os  professores  variaram  um  pouco  de  acordo  com  a  pessoalidade  deste,  pode-­‐se  observar  um  padrão  comum  em  todos  os  municípios  e  escolas:  

• Os   alunos   passam  muito   tempo   copiando   do   quadro   ou   lendo   repentinamente   o  mesmo   texto   até  ninguém  saber  se  esta  a  ler  ou  se  já  memorizou  o  texto.  

• Os   professores   pedem   para   os   alunos   trabalharem   em   grupos,   mas   raramente   observam   as  dinâmicas  dentro  destes.  Geralmente  há  uns  que  são  mais  avançados  ou  extrovertidos  que  dominam  a   grupo,   os   outros   ficam   passivos.   Apenas   em   dois   ou   três   grupos   observamos   que   o   grupo   todo  dialogava  e  esforçava-­‐se  a  buscar  a  solução  do  problema.    

• Geralmente  não  limitam  o  tempo  para  uma  certa  tarefa.  No  início  do  trabalho  em  grupo,  por  exemplo,  todos  participantes  passam  uns  minutos  sem  fazer  nada.  Desta   forma,  perdem  muito  tempo  para  a  solução  de  uma  tarefa,  algo  que  é  contra-­‐produtivo  num  programa  de  aceleração.    

• Alem   da   resolução   de   tarefas   em   grupo,   não   podemos   observar   nenhuma   outra   actividade  participativa   como   por   exemplo   dramatização,   mímica,   estòria   pictural,   estudo   de   caso   etc.   Tão  pouco   assistimos   um   diálogo   entre   o   professor   e   os   alunos,   tentando,   por   exemplo   relacionar   o  conteúdo  da  aula  ao  dia-­‐a-­‐dia  dos  jovens  ou  discutindo  um  assunto  de  vários  ângulos.  

Surge  então  a  pergunta  qual  é  o  impacto  da  pouca  utilização  de  metodologias  participativas  e  interactivas,  já  que  o  PAAE  obviamente  alcança  um  dos  seus  resultados  de  cerca  de  70%  de  aprovações  no  fim  do  ano?  

As  directrizes  pedagógicas  realçam  que  o  objectivo  do  PAAE  não  é  somente  de  ensinar  a   ler,  escrever  e  fazer  cálculos  mas  que  está  comprometido  com  “a  inserção  critica  na  realidade  e  de  problematização,  ...  a  democratização   social   e   cultural   ...   e   a   educação   para   a   plena   participação   social.”16   Para   alcançar   este  objectivo   o   MED   desenvolveu   um   currículo   que   “tem   por   base   uma   acção   dialógica,   que   por   sua   vez  implica  um  processo  dialéctico  de  reflexão-­‐acção-­‐reflexão.”  Apoiar  os  alunos  a  desenvolver  alternativas  à  situação  actual  e  encoraja-­‐los  a  articular  os  próprios  pensamentos  seria  um  primeiro  passo  a  atingir  estes  objectivos.   Duas   observações   nos   permitiu   deduzir   que   os   alunos   ainda   não   estão   bem   capacitados   a  reflectir  criticamente  o  sobre  o  seu  ambiente  ou  de  articular  os  seus  pontos  de  vista:      

                                                                                                               16  MED,  Directrizes  pedagógicas,  Programa  de  Alfabetização  e  Aceleração  Escolar,  p.  9  

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1. Durante   as   entrevistas   com   os   alunos,   a   recolha   de   dados   estatísticos   não   causava   nenhum  constrangimento.   Todos   sentiam-­‐se   a   vontade   de   responder   perguntas   a   respeito   de   nome,   idade,  número  de  reprovações  e  muito  mais.  Quando,  porém,  começamos  interrogar  a  respeito  de  opiniões  e  preferências  era  muito  mais  difícil  obter  respostas,  independente  de  município,  sexo,  idade,  módulo  ou  entrevistador.  As   respostas   ficaram  vagas  e  parecia  que   tentavam  adivinhar  que  nos  queríamos  ouvir  para  não  dizer  algo  errado.    

2. Uma  das  metodologias  planeadas  para  o  trabalho  com  os  jovens  era  a  dramatização  que  geralmente  permite  ás  pessoas  que  não   têm  muita   facilidade  de   se  articular  verbalmente  de  expressar  os   seus  sentimentos   e   impressões   de   uma   outra   forma.   Era   planeado   de   pedir   três   grupos   por   sala   de  apresentar  curtas  peças  de  teatro  com  os  seguintes  temas:  “Uma  aula  no  ensino  geral”,  “Uma  aula  no  PAAE”  e  “Uma  aula  na  escola  dos  sonhos”.  Esperávamos  de  poder  avaliar  assim  as  diferenças  que  os  alunos  notam  entre   o   ensino   vigente   e   o   PAAE   e   em  que   aspectos   o   PAAE   se   diferencia   do   ensino  ideal.  Como  uma  das  metodologias  propostas  no  “Gostar  de   ler  e  escrever”  e  o  desenvolvimento  de  peças  curtas,  estávamos  confiantes  que  os  alunos  não   teriam  problemas  de  criar   rapidamente  uma  dramatização,   baseada   nos   conhecimentos,   experiências   e   sonhos   deles.   Ficávamos,   porém,   muito  surpresos  que  nas  primeiras  duas  salas  de  aula,  as  três  peças  eram  praticamente  idênticas.  A  maneira  de   dar   aulas   era   centrada   no   professor,   sem   grupos   áulicos,   não   havia   dialogo   entre   alunos   e  professores  e  este  falava  com  tom  autoritário.  Em  mais  dois  municípios,  com  facilitadores  diferentes,  o  resultado  era  o  mesmo,  as  três  pecas  eram  idênticas.  Decidimos,  então,  de  não  prosseguir  com  este  método  de  avaliação.    

A   insegurança  e   timidez  na  hora  de  articular  a  própria  opinião  em  conjunto  com  a  pouco  desenvolvida  capacidade   de   sonhar   ou   de   apresentar   os   sonhos   permitem   a   conclusão   que   durante   as   aulas  capacidades   como   reflectir   criticamente   a   realidade   ou   sonhar   com   um   futuro   melhor   e   procurar  maneiras  de  o  alcançar  não  foram  aprendidas  ou  incentivadas  nas  salas  de  aula.      

       ➜    

Surge,  então,  a  pergunta  se  apenas  os  professores  utilizam  uma  abordagem  de  cima  para  baixo  na  hora  de  ensinar,   treinar   ou   corrigir   ou   se   outros   funcionários   do   MED,   especialmente   os   supervisores   e  formadores  mostram  um  comportamento  parecido?  Infelizmente  não  pudemos  participar  num  formação,  as   conclusões   baseiam-­‐se   nas   observações   da   interacção   dos   supervisores   municipais   e   formadores  províncias  e  nacionais  com  os  professores.  Depois  de  assistirmos  uma  aula,  pedimos  eles  de  aproveitar  da  oportunidade  e  dar  “feed-­‐back”  aos  professores.  Desta  maneira,  pudemos  também  estabelecer  um  padrão  de  interacção  entre  supervisor  e  professor:  

• Geralmente,   não   havia   dialogo   entre   os   dois   sobre   os  motivos   do   professor   de   agir   de   uma   certa  forma.   Em  vez  disso   o   supervisor   falava   e   criticava   enquanto   o   professor   ouvia   calado;   raramente  elogia.  Havia,  porém,  diferencias  muito  claras  entre  supervisores  que  foram  treinados  no  TEP  e  os  que  vinham  directamente  do  ensino  geral   e   receberam  apenas  algumas   formações  do  PAAE.  Não   podemos   estabelecer   a  mesma   correlação   com   os   professores   porque   95%  dos   entrevistados  tiveram  experiências  anteriores  com  o  TEP.  

• Os   supervisores   limitavam   as   suas   intervenções   à   observação   dos   indicadores   de   qualidade   do  ensino.   Consequentemente,   não   repararam  no   comportamento  dos  professores   ou  na   estrutura  da  aula.    

Essas  observações  estão  conforme  com  os  relatos  dos  professores  sobre  interacção  e  conteúdo  da  última  supervisão.    

➜  

A  questão  seguinte  é  porque  os  professores,  apesar  dos  seus  conhecimentos  vastos  e  uma  atitude  positiva  a  respeito  de  métodos  interactivos,  não  os  aplicam  mas  recaem  nos  antigos  padrões  de  comportamento  na  hora  de  ensinar?  

Tanto  a  interacção  dos  professores  com  os  alunos  quanto  a  dos  supervisores  e  formadores  com  os  professores  está  caracterizada  por  uma  abordagem  de  cima  para  

baixo  e  a  falta  de  um  dialogo  controverso  e  construtivo.  

 

Com  a  forma  actual  de  ensino,  os  professores  conseguem  transmitir  os  conhecimentos  necessários  para  os  alunos  passarem  de  ano.  Por  enquanto,  porém,  não  atingem  o  

objectivo  do  PAAE  de  formar  alunos  críticos,  empoderados  a  problematizar  a  realidade.  

 

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Um  aspecto  que  certamente  contribui  para  este  fenómeno  é  a  escolha  de  indicadores  de  qualidade  do  ensino   do   PAAE   para   jovens.   Talvez   por   serem   mais   fáceis   de   verificar,   escolheu-­‐se   indicadores   de  resultado  que  limitam-­‐se  à  observação  de  factos  externos  como  presença  do  ambiente  pedagógico  na  sala,  arrumação   das   mesas   para   trabalhar   em   grupos,   dados   estatísticos.   Não   focalizam   nos   processos   e   na  interacção  entre  os  envolvidos.  Dessa  maneira  cria-­‐se  a  impressão  que  nos  escalões  mais  altos  não  se  dá  muita  importância   ao   uso   de   certas   metodologias.   Consequentemente,   professores   e   supervisores   não   se  sentem  encorajados  a  utiliza-­‐los  ou  reparar  neles  .  

Outro  facto  que  sem  dúvida  contribui  para  o  professor  não  aplicar  todos  os  seus  conhecimentos  é  que  ele,  tanto  quanto  os   supervisores  e   formadores,  pertencem  a  uma   instituição,   cuja   cultura  organizacional   é  caracterizada  por  uma  abordagem  de  cima  para  baixo  alto  grau  de  hierarquia  e  centralismo.    

No  ensino  geral,  por  exemplo,  até  pouco  tempo  atrás  a  palmatória  estava  dependurada  nas  paredes  das  salas,  bem  ao  alcance  dos  professores.  Ainda  é  muito  raro  de  os  subordinados  nas  repartições  municipais  e  provinciais  questionarem  as  decisões  dos   seu   superiores  e   estes   geralmente  não  procuram  a  opinião  destes  na  hora  de  tomar  decisões,  ambos  qualidades  que  o  professor  deveria  mostrar  nas  aulas  do  PAAE.  Ele  então  encontra-­‐se  numa  situação  difícil  onde  é  exigido  dele  de  interagir  de  maneira  participativa  com  os   alunos,   enquanto   no   seu   ambiente   profissional   este   mesmo   comportamento   é   correntemente  considerado  inadequado.  A  situação  é  ainda  mais  difícil  naquelas  escolas  grandes  no  centros  urbanos  ou  peri-­‐urbanos  onde  há  só  4  ou  5  professores  do  PAAE  no  meio  de  várias  dúzias  de  professores  do  ensino  geral  e  mais  do  que  um  director.    

➜  

Efectividade  da  estrutura  institucional    

Analise  do  sistema  de  implementação  Põe  ser  a  reforma  do  subsistema  de  educação  de  adultos,  o  PAAE  está  ligado  ao  Departamento  do  Ensino  de  Adultos.  O  professor  do  PAAE  para   jovens,  porém,  pertence  ao  Departamento  do  Ensino  Primário  e  tem  como  superiores  directos  os  directores  das  escolas.  São  estes  que  têm  a  capacidade  e  a  função  de  lhes  dar  instruções  ou  ordens  e  que  formam  as  turmas,  seja  os  do  PAAE,  seja  os  do  ensino  regular.  Ao  mesmo  tempo,  o  professor  tem  que  prestar  contas  aos  seu  supervisor  da  área  do  PAAE,  participar  das  formações  do  PAAE  etc.    

O  facto  de  o  PAAE  ser  implementado  por  dois  departamentos  ao  mesmo  tempo  levou  a  muitos  mal-­‐entendidos  a  respeito  de  formação  das  turmas,  carga  horária  e  muito  mais.  

No   início   do   programa,   todos   envolvidos   pertencendo   ao   sistema   de   educação   de   adultos   foram  capacitados   para   implementarem   as   novas   directrizes   administrativas   e   pedagógicas   e   para   poderem  ministrar  as  aulas  com  o  novo  material  didáctico.  Os  directores  das  escolas,  porém,  que  são  responsáveis  pela   formação  das   turmas  e   supervisão  directa  dos  professores,   não   foram   incluídos.  Em  consequência  disso,  havia  inicialmente  muitos  mal-­‐entendidos  a  respeito  do  programa  que  foram  agravados  pelo  facto  de  ter  começado  com  o  módulo  dois.    

Uns  assumiram  que  o  programa  iniciava  com  o  módulo  dois  e  assim  colocaram  alunos  iletrados  de  todas  as   classes  nessa   turma,   outros   escolheram  os   alunos  melhores   com   idade   avançada  para   as   turmas  do  PAAE,   outros   não   avaliaram   os   conhecimentos   dos   alunos   antes   de   lhes   atribuírem   a   uma   turma  mas  simplesmente   colocaram,   por   exemplo,   os   alunos   da   3.   e   4.   classe   com   idade   avançada   nas   turmas   do  módulo  2.    

Alguns   directores   apreciavam   as   tentativas   dos   professores   de   apoia-­‐los   no   processo   da   escolha   dos  alunos  enquanto  outros  não  aceitaram  sugestões  dos  seus  subornos.  Em  algumas  áreas,  os  supervisores,  formadores  e  parceiros  sociais  explicaram  as  novas  modalidades  aos  directores.  Em  consequência  disso,  hoje  um  número  considerável  de  turmas  está  sendo  formado  de  acordo  com  as  directrizes.      

Espera-­se  que  os  professores  apliquem  os  seus  conhecimentos  sobre  metodologias  participativas  e  centradas  nas  crianças  num  ambiente  profissional  que  é  caracterizado  

por  normas  de  interacção  contrarias.  

 

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➜  

Outro  aspecto  pouco  claro  era  a  questão  de  que  carga  horária  deveria  seguir.  Em  Sumbe,  por  exemplo,  as  turmas   do   PAAE   para   jovens   tinham   a  mesma   carga   horária   do   PAAE   para   adultos,   isto   é   duas   horas.  Explicação   dada   por   directores   e   supervisores   era   que   o   PAAE   pertence   ao   subsistema   do   ensino   de  adultos  e  deveria  seguir  estes  horários.    

Parte   da   nossa   entrevista   com   os   directores   era   a   avaliação   dos   conhecimentos   de   vários   aspectos  administrativas   e   pedagógicas   do   PAAE   através   de   curtos   testes   de   múltipla   escolha.   Os   resultados  comprovam  que  muitos  ainda  não  estão  bem  informados  e  familiarizados  com  o  novo  programa.  

Constatamos  também  que  há  diferencias  de  internalização  e  compreensão  das  directrizes  entre  os  vários  municípios.  Certamente  pode-­‐se  atribuir  ao  trabalho  dos  parceiros  sociais  que  os  directores  de  Mussende  eram  os  mais  bem  informados,  enquanto  os  de  Sumbe  e  Seles,  que  não  estão  a  ser  apoiados  por  uma  ONG,  não  eram  muito  seguros  e  alegaram  que  necessitariam  de  maiores  esclarecimentos.    

Outro  facto  que  dificulta  certamente  a  compreensão  das  novas  directrizes  administrativas  e  pedagógicas  pelos  directores  é  que  estes  estão  escritas  numa  linguagem  muito  académica  o  que  dificulta  a  assimilação,  sobretudo  daqueles  que  actualmente  estão  a  concluir  o  ensino  secundário.  O  panfleto  informativo  sobre  o  PAAE  em  textos  simples,  que  está  em  circulação  na  Província,  sem  dúvida  ajuda  a  sensibilizar  e  informar  a   população.   Não   pode   ser   considerado,   porém,   uma   ferramenta   adequada   para   esclarecer   dúvidas  administrativas  do  director.    

➜  

Analise  do  sistema  de  formação  do  PAAE  Na   conceptualização  das   formações  dos  professores,   supervisores   e   formadores  do  PAAE  optou-­‐se  por  um  sistema  de   formação  em  cascada.  O  material  didáctico  é  desenvolvido  pelo  MED  em  colaboração  com  uma  empresa  de  consultoria,  a  Aldeia  Global.  Estes  formam  um  grupo  de  formadores  nacionais,  que  por  sua  vez  deveria  treinar  formadores  provinciais.  Até  agora,  os  formadores  provinciais  foram  treinados  também   pela   Aldeia   Global.   Os   formadores   provinciais   treinam   os   supervisores   municipais   e   os  professores.   Estes,   então,   deveriam   aplicar   os   seus   conhecimentos   nas   salas   de   aula.   O   sistema   de  supervisão  funciona  da  mesma  maneira  com  o  MED  ou  a  Aldeia  Global  no  topo  e  os  professores  sendo  os  últimos  recipientes.    

As  formações  e  refrescamentos  geralmente  têm  uma  duração  de  entre  2  até  7  dias.  Nestes,  os  formandos  têm  possibilidades  de  trocar  ideias  e  experiências  e  familiarizam-­‐se  com  novos  aspectos  da  metodologia.  A  parte  teórica  da  aprendizagem  acontece  através  de  leitura  de  textos  e  curtas  palestras,  a  parte  prática  através   da   exposição   dos   formandos   às   novas   metodologias.     Os   participantes,   por   exemplo,   têm   que  produzir  um  varal  de   letras  ou   trabalhar  em  grupos  e  espera-­‐se  que  assim  possam  replicar  o  exercício  com   as   turmas   que   vão   treinar.   Alem   disso,   as   vezes   há   simulações   de   aulas.   Não   há,   porém,  possibilidades  de  testar  a  aptidão  para    manusear  as  novas  habilidades  numa  sala  de  aula  com  alunos.    

Este  sistema  de  capacitação  e  implementação  é  muito  vulnerável  pelos  seguintes  razões:    

• A  cascada  de  formação  tem  teoricamente  5  degraus,  em  Kwanza  Sul  essa  hierarquia  foi  reduzida  a  4  degraus.   Cada   participante   de   uma   formação   entende   o   seu   conteúdo   de   maneira   subjectiva   e   a  transmite  para  o  próximo  da  maneira  como  ele  o  entendeu,  o  que  nem  necessariamente  coincide  com  a  intenção  do  emissor  da  mensagem.  Assim,  o  impacto  do  efeito  ‘telefone  sem  fio’  aumenta  em  cada  degrau.   Isso  pode  ser  agravado  pelo   facto  que  há  um  número  crescente  de   formadores  nacionais  e  provinciais   que   não   têm   experiência   pratica   com   metodologias   interactivas,   participativas   e  centradas  na  criança.    

• Os  funcionários  da  DPE  e  das  RMEs  são  transferidos  continuadamente.  Pouco  antes  da  nossa  chegada,  por  exemplo,  5  supervisores  do  PAAE  de  um  município  foram  promovidos  de  vez  para  a  administração  municipal.  Essa  descontinuidade  há  os  seguintes  consequências:  

o Perca   de   experiência   pratica.   Realçamos   anteriormente   que   a   experiência   anterior   com  metodologias   participativas   e   de   aceleração   adquiridos   no   TEP   tem   um   impacto   positivo   nos  conhecimentos   e   na   atitude   dos   professores   e   formadores.   Na   medida   que   estes   estão   sendo  transferidos  estão  repostos  por  pessoas  com  conhecimentos  teóricos  dessas  novas  metodologias  

O  facto  de  o  PAAE  ser  implementado  por  dois  departamentos  do  MED  causou  muitos  mal-­entendidos  administrativos  e  pedagógicos.  Um  guião  curto,  numa  linguagem  de  

fácil  compreensão,  não  está  divulgado.  

 

 

A  regularidade  das  visitas  de  supervisão  tem  um  impacto  muito  positivo  no  desempenho  dos  professores  e  directores.  

.    

 

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e   cuja   pratica   limita-­‐se   a   umas   simulações   nas   formações.   Isso   pode   levar   a   situações  desequilibradas   onde   formadores   com   pouca   experiencia   pratica   treinam   ou   corrigem  professores   que   adquiriram   vastos   conhecimentos   durante   os   seus   ano   no   TEP.   Mais   critico,  porèm,    pode  ser  a  constelação  de  um  formador  com  pouca  pratica  treinar  um  outro  formador  ou  professor  novo  no  PAAE.  Nesse   caso   corre-­‐se   o   risco  de   repetir  mecanicamente   o   conteúdo  da  formação,   sem   ter   experimentados   na   própria   pele   quais   podem   ser   as   vantagens   e   as  dificuldades  de  trabalhar  com  essa  nova  metodologia.  17  

o Dificuldades  de  estabelecer  uma  memoria  institucional.  Muitos  relatórios  elaborados  no  nível  municipal   e   provincial   são   manuscritos,   o   arquivamento   destes   é   pouco   sistematizado.   O   seu  conteúdo   focaliza  quase  exclusivamente  em  aspectos  estatísticos  ou  na  descrição  do  desenrolar  de  um  evento  e  menos  no  conteúdo  ou  nos  resultados.  Com  pouca  memória  institucional  escrita  e  sistematizada,   as   pessoas   tornam-­‐se   a   mais   valiosa   fonte   de   informações.   Com   a   saída   destes,  perdem-­‐se   os   seus   conhecimentos   e   experiências   e   corre-­‐se   o   risco   que   boas   praticas   e   lições  aprendidas  não  sejam  aproveitadas  e  erros  se  repitam.    

Efectividade  de  Material  e  Metodologia Quando   concebeu-­‐se  o  material  didáctico  para  o  PAAE,   esperava-­‐se  de   conceptualizar  um  método   com  livros   escolares   que   ajudasse   a   desenvolver   aprendizagens   significativas,   competências   básicas   e   o  fortalecimento  da  auto-­estima  em  tempo  pedagógico  mais  curto  -­  três  meses  para  módulo  1,  um  ano  lectivo  para  módulo  2  e  3  cada.18  

Durante   essa   avaliação,   encontrávamos   poucas   turmas   estudando   com   o   módulo   1   por   que   a   sua  implementação  começou  apenas  neste  ano.  Nos  anos  anteriores  havia  discussões  sobre  a  sua  abordagem,  viabilidade  e  praticabilidade.    

Durante  o  tempo  de  avaliação,  os  professore  estavam  ministrando  as  aulas  do  módulo  1  já  há  cerca  de  9  meses,  tempo  muito  maior  do  que  os  três  meses  inicialmente  previstos.  Mesmo  assim,  encontrávamos  até  50%  dos  alunos  dessas  salas  que  aparentemente  não  sabiam  diferenciar  as  letras  do  varal  muito  menos  ler  ou  escrever.  Os  que   se   saíram  melhores  eram  aqueles  que   já  vieram  de  ensino  geral.  Os  que  nunca  antes  entraram  nas  escolas  enfrentaram  grandes  dificuldades,  especialmente  os  das  áreas  mais  remotas.    

➜  

Possíveis  razoes  são:  

• Tanto  alunos,  quanto  professores  faltam  muito.  Quando  há  óbitos,  a  comunidade  toda  deve  participar  no   funeral.   Malária,   paludismo   e   outras   doenças   são   frequentes   e   causam  muitas   ausências.     Alem  disso,  não  há  bancos  em  todos  os  municípios,  para  receber  o  seu  salário  o  professor   tem  que  viajar  para   um   dos  municípios   vizinhos.   Levando   em   conta   as   ausências   frequentes   professores   e   alunos,  dentro   de   um   prazo   de   três  meses,   passam   algo   entre   6   e   8   semanas   em   conjunto   na  mesma   sala,  período  curto  demais  para  transferir  os  conhecimento  de  2  anos  escolares  para  uma  pessoa  que  nunca  frequentou  a  escola.  Em  Sumbe,  onde  há  uma  carga  horária  de  apenas  duas  horas,  o   tempo  é  ainda  mais  curto.    

                                                                                                               17  Durante  a  apresentação  em  Sumbe  a  maioria  dos  participantes  concordou  que  uma  boa  analogia  seria  o  seguinte  caso:  Um  motorista  de  camião  convida  um  seu  colega  com  carta  de  condução  a  sair  com  ele  para  explicar  como  dirige-­‐se  o  camião.  Este  colega  só  observa  o  que  o  motorista  faz  mas  não  senta  no  volante.  Depois  explica  a  um  outro  amigo  o  que  observou  e  espera  que  este  esteja  capaz  de  conduzir  um  carro  pesado  numa  estrada  difícil.    18    

Em  circunstâncias  sociais  e  culturais  parecidos  com  os  dessa  pesquisa,  os  3  meses  previstos  para  concluir  o  modulo  1  não  são  suficientes.  

Embora  funcionando  da  forma  prevista,  o  sistema  de  formação  e  supervisão  mostra  os  seguintes  fragilidades:  a  perca  de  quadros  treinados  e  experientes,  a  falta  de  uma  memoria  institucional  e  a  possível  distorção  do  conteúdo  da  formação  com  cada  

degrau  que  passa.    

 

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• Nas  zonas  rurais,  os  alunos  têm  pouco  contacto  com  a  escrita  como  por  exemplo  através  de  cartazes  nas  ruas,  embalagens  de  produtos  (nos  mercados  vende-­‐se  a  maioria  do  produto  a  retalho),   jornais,  revistas  ou  livros  de  pais  ou  colegas.    

• No  interior,  os  alunos  com  atraso  escolar,  geralmente  não  tem  muita  experiência  no  manuseamento  de  lápis   e   caneta.   Desde   cedo,   estão   acostumados   a   trabalhar   na   lavra   e   em   consequência   disso   a   sua  coordenação  motora  fina  é  pouco  desenvolvida.    

O  módulo  2  é  apreciado  pelos  professores  e  alunos  por  ser  muito  rico  de  informações.  Em  alguns  casos,  contudo,  esta  riqueza  traz  certas  dificuldades:  

• Quase   no   fim   do   ano   lectivo,   cerca   a   metade   dos   professores   ainda   estava  no   fim   do   projecto   2.  Perguntados  como  iriam  lidar  com  este  atraso  diziam  que   iriam  reduzir  e  comprimir  o  conteúdo  do  resto  do  módulo.  A   razão  deste   atraso   era   em  muitos   casos   a  maneira  de   ensinar,   perdendo   tempo  valioso  copiando  do  quadro  ou  não  controlando  o  tempo  do  trabalho  em  grupos.  Havia  também  dois  professores   que   estavam   no   fim   do   primeiro   projecto   e   era   previsível   que   não   iriam   conseguir   de  recuperar  o  atraso.    

• Muitos  professores  reclamaram  que  culturalmente  não  podem  abordar  o  conteúdo  do  quarto  projecto  que   fala  muito   explicitamente   sobre   sexualidade.   Especialmente   nos  municípios   não   é   considerado  adequado   um   professor   na   idade   reprodutiva,   independente   se   é   masculino   ou   feminino,   falar  abertamente  sobre  assuntos  reprodutivo  na  frente  de  um  público  misto.  Como  trata-­‐se  deste  assunto  no  fim  do  livro,  simplesmente  omitem  esta  parte  da  matéria.    

• Partes  do  conteúdo  e  vocabulário  são  muito  difíceis  para  o  nível  escolar  de  alguns  professores.  Aqui  refere-­‐se  especialmente  a  expressões  técnicas  como  nomes  de  doenças,  animais  etc.    

Por   falta   de   livros,   o  módulo   3   não   foi   ministrado   em   nenhum   município   da   maneira   prevista.   Os  professores   lidaram  com  este  problema  ou  copiando  grandes  partes  do   conteúdo  ao  quadro  e  pedindo  aos   alunos   de   copia-­‐lo   ou   utilizando   os   livros   do   ensino   geral   depois   da   reforma.   Geralmente   os  professores  planearam  em  conjunto  como  transmitir  o  conteúdo  da  próxima  etapa  do  módulo.  

Os   professores   de   todos   módulos   relataram   que   têm   problemas   com   a   interdisciplinaridade,   o  planeamento   das   aulas   e   dificuldades   de   encontrar   material   adicional   para   pesquisar   mais  profundamente  um  assunto  que  eles  mesmo  não  dominam  muito  bem  mas  sobre  o  qual    deveriam  falar  nas  suas  aulas.    

➜  

Efectividade  das  parcerias  

Já   em   2001,   durante   o   lançamento   da   “Estratégia   para   Melhoria   do   Sistema   Educativo”,   o   Ministério  previa   que   essa   seria   implementada   com   o   apoio   de   parceiros.   Esperava-­‐se   a   celebração   de   protocolos  vinculativos  de  modo  descentralizado  e  desconcentrado  com  as  organizações  representativas  da  sociedade  civil,  por  forma  a  estabelecer  processos  de  cooperação,  parceria  e  co-­responsabilização  na  diversificação  da  oferta  educativa  e  acesso  equitativo  à  alfabetização  e  pós-­alfabetização.19  No  relançamento  da  Estratégia  em  2007  tinha-­‐se  em  vista  que  o  Estado  e  a  sociedade  civil  actuem  intensamente  de  forma  complementar,  coordenada  e  cooperativa.20  

Alem  de  incentivar  a  cooperação  com  parceiros  da  sociedade  civil,  o  MED  prevê  e  autoriza  a  diversificação  das  metodologias  para  que  cada  vez  mais  se  adeqúem  às  diferentes  acções  ao  público-­alvo21.  Para  regularizar  e   controlar   o   uso   das   diferentes  metodologias,   os   parceiros   sociais   potenciais   devem   apresentar   o   seu  material   ao  MED  para  este  verificar  a   sua  qualidade  e  pertinência.  Uma  vez  aprovados,   estes  parceiros  com  metodologia  própria  recebem  uma  parte  dos  subsídios  para  os  seus  alfabetizadores  do  MED.    

                                                                                                               19  República  de  Angola,  Conselho  de  Ministros:  Estratégia  Integrada  Para  a  Melhoria  do  Sistema  de  Educação  2001-­‐2015  20  Diário  da  República,  28  de  Fevereiro  de  2007  21  Ibidem  

A  efectividade  do  material  e  da  metodologia  não  são  constantes  mas  dependem  tanto  do  contexto  social  e  cultural  onde  é  aplicado  quanto  da  capacidade  do  professor  de  

acelerar  o  ensino.  

 

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Em   alguns   municípios   do   Kwanza   Sul,   o   PAAE   colabora   com   diferentes   parceiros   com   metodologia  própria,  como  por  exemplo  a  AAEA,  o  Alfalite  e  diferentes  congregações  da  igreja  católica.  Estes  últimos  são  os  únicos  que  têm  como  público  alvo  específico  os  jovens  e  adolescentes  fora  do  sistema  educativo,  a  sua  metodologia  chama-­‐se  “Dom  Bosco”.  Por  terem  o  mesmo  público  alvo  do  PAAE,  foram  incluídos  nessa  avaliação   enquanto   entrevistamos   os   outros   parceiros   e   observamos   algumas   das   suas   aulas,   mas  desistimos  de  incluir  uma  descrição  mais  detalhada  dos  resultados  nesse  relatório.  

Aqueles   parceiros   que   gostariam   de   trabalhar   com   alfabetização   mas   não   têm   metodologias   próprias  podem  decidir  se  preferem  trabalhar  com  o  material  didáctico  desenvolvido  pelo  MED  ou  se  optam  para  o  método  de  um  dos  parceiros  acreditados.  Parceiros   sem  metodologia  própria   típicos   são  a   JMPLA  ou  OMA.  Como  eles  implementam  o  PAAE  para  adultos,  não  foram  incluídos  nessa  avaliação.  

Esperava-­‐se  também  que  houvesse   financiadores  para  os  diferentes  projectos  de  alfabetização,  mas  em  nenhum   documento   menciona-­‐se   a   possibilidade   de   existirem   parceiros   para   darem   apoio   técnico   às  instituições  governamentais  como  a  IBIS  ou  SCiA.  Em  consequência,  não  há  metas  estabelecidas  para  essa  colaboração  ou  um  regulamento  como  interagir  com  estes.  Para  a  implementação  do  PAAE  para  jovens,  o  MED   conta   com   o   apoio   dos   seguintes   parceiros   que   prestam   apoio   técnico,   financeiro   e   logístico:  UNICEF,  IBIS  e  SCiA.    

Parceiros  que  prestam  apoio  técnico,  financeiro  e  logístico  As   áreas   de   colaboração     entre   o  MED  e   o  UNICEF,   os   objectivos   a   serem  alcançados   juntos   durante   a  parceria,   os   indicadores   correspondentes   e   pessoas   responsáveis   estão   estabelecidos   no   plano   de  cooperação   entre   o   Ministério   de   Educação   de   Angola   e   o   Fundo   das   Nações   Unidas   para   a   Infância.  Através  de  um  oficial  de  programa  o  UNICEF  presta  apoio  técnico  ao  Ministério.  O  apoio  financeiro  para  a  implementação   na   Província   é   encaminhado   através   dos   parceiros   sócias.   Estes   por   sua   vez   financiam  actividades  da  DPE,  um  arranjo  que  nem  sempre  é  isento  de  problemas.    

Todas   partes   envolvidas   avaliam   a   colaboração   com   o  UNICEF  muito   positiva,   é   percebido   como   um  doador   que   está   focalizado   na   resolução   de   problemas   e   não   só   na   prestação   de   contas.   Único   ponto  critico  mencionado  foi  a,  as  vezes  muito  morosa,  burocracia  que  causou  grandes  demoras  no  desembolso  de  fundos.    

A   implementação  do  programa   e   a   coordenação  dos   parceiros   em  Kwanza   Sul   é  claramente   liderada  pela  DPE.  Estabeleceu-­‐se  um  “Grupo  de  Coordenação  do  PAAE”  dentro  da  DPE,  a  maioria  dos  formadores  provinciais  e  os  nacionais  presentes  nessa  Província  estão  vinculado  à  este  grupo.  Outros  formadores  são  funcionários   da   OMA,   da   JMPLA   ou   de   outros   parceiros   sociais.   Além   de   coordenar   as   actividades   na  Província,  este  grupo  é  responsável,  entre  outros,  para:  a  comunicação  com  o  MED,  tanto  para  prestação  de  contas  ou  envio  de  relatórios,  quanto  para  transmitir  instruções  de  Luanda;  a  supervisão  e  formação  dos   supervisores  municipais;   o   desenvolvimento   de  material   pedagógico   de   suporte   e   a   elaboração   do  conteúdo  das  reciclagens  dos  professores.  O  papel  dos  parceiros  é  o  de  assessorar  a  DPE  nesta  tarefa.      

Todos   parceiros   envolvidos   na   implementação   na   Província   assinaram   um   acordo   onde   metas   e  responsabilidades  de  cada  um  estão  claramente  determinadas.  A  IBIS  tanto  quanto  a  SCiA  apoiam  a  DPE  das  seguintes  maneiras:    

• Apoio   logístico   nas   supervisões   e   formações.   Os   parceiros   assumem   a   maior   parte   dos   custos  relacionados  às  formações  e  supervisões  e  disponibilizam  meios  de  transporte.  Este  apoio  assegura  que  as  supervisões  e  formações  decorrem  da  forma  regular  e  prevista.  Já  realçamos  que  a  supervisão  constante  há  um  impacto  muito  positivo  no  desempenho  dos  directores  e  professores.  

• Apoio   pedagógico   e   aconselhamento   na   elaboração   de   material   pedagógico   adicional.   Já   se  mencionou   em   cima   que   os   formadores   provinciais,   em   conjunto   com   os   técnicos   das   ONG,  elaboraram   materiais   adicionais   sobre   possíveis   marchas   das   aulas,   ideias   para   transmitir   o  conteúdo  das  aulas  de  forma  adequada  para  as  comunidades  locais  etc.  

Todos   envolvidos   valorizam   muito   as   contribuições   as   ONG   e   elogiam   as   capacidades   técnicas   dos  quadros.  Além  disso  realçavam  que  são  Angolanos,  algo  que  não  é  o  caso  em  outras  Províncias.  

 

➜  

A  criação  de  uma  equipa  dentro  da  DPE  que  trabalha  exclusivamente  para  o  PAAE  em  conjunto  com  o  apoio  técnico,  financeiro  e  logístico  pelas  ONG  são  elementos  chaves  

para  o  sucesso  do  programa.  

 

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Existem,   porém,   algumas   diferencias   importantes   entre   as   duas   ONG.   A   SCiA   é   uma   organização  internacional  que  preocupa-­‐se   com  vários   aspectos  do  bem-­‐estar   infantil   como  por   exemplo:     acesso   à  escolas  e  melhoramentos  na  qualidade  da  educação,  direitos  da  criança,  saúde  infantil  e  desenvolvimento  comunitário.  Embora  colabore  nas  discussões  pedagógicas,  a  sua  contribuição  é  mais  focalizada  no  apoio  logístico.  

A  IBIS,  por  sua  vez,  especializou-­‐se  internacionalmente  nos  vários  aspectos  de  educação  como:  apoio  às  instituições   governamentais   e   não   governamentais   de   ensino,   fortalecimento   das   capacidades   dos  professores,   formação   de   CPEEs   e   muito   mais.   Em   consequência   da   sua   especialização,   consegue  transferir  experiências  de  outros  programas  para  o  PAAE  e  incentivar  discussões  a  respeito  de  abordagens  pedagógicas.  O   seu  objectivo   é   de   alcançar   sustentabilidade   do   programa   através   do   fortalecimento   das  competências  dos  formadores  no  desenvolvimento  e  na  gestão  do  projecto.  

Os  seus  técnicos  têm  contacto  permanente  com  os  formadores  da  DPE.  Estes  avaliam  o  input  deles  e  os  materiais   elaborados   em   conjunto   como   um   dos   maiores   sucessos   do   PAAE.   Estes   materiais   têm   a  vantagem  que  são  adaptados  às  realidades  locais.  Exemplos  são:  Guião  das  actividades  alternativas  para  o  modulo   1,   elaboração   de   conteúdos   para   o   modulo   3,   elaboração   de   termos   de   referencia   para   os  supervisores.    

➜  

Parceiros  com  metodologia  própria  Os   únicos   parceiros   com   metodologia   própria,   que   direccionam-­‐se   especialmente   aos   jovens   e   que  implementam  os  seus  projectos  em  Kwanza  Sul  são  as  congregações  da  igreja  católica:  os  Salesianos  em  Mussende  e  a  Congregação  das  Filhas  da  Caridade  de  São  Vicente  de  Paulo  em  colaboração  com  o  Ordem  dos   Freis   Menores   na   Kibala.   Todos   estes   utilizam   a   metodologia   Dom   Bosco.   Essa   metodologia   foi  desenvolvida   nos   anos   60   no   Brasil   e   começou   a   ser   aplicada   em  Angola   a   partir   do   ano   1994.   Desde  então,   foi   adaptada   a   realidade  Angolana.   As   aulas   são   sempre  ministradas   por   dois   alfabetizadores,   a  carga  horária  é  normalmente  duas  horas  diárias.  Embora  o  método  seja  concebido  para  a  conclusão  do  ensino   básico,   em   Kwanza   Sul   ensinam   apenas   até   o   termino   do   equivalente   da   2.   classe.   Depois  incentivam  e  facilitam  o  ingresso  dos  alunos  no  ensino  acelerado.  Tanto  quanto  a  IBIS,  as  congregações  de  Kibala   incentivam   a   discussão   sobre   alfabetização   e   educação   de   adultos   no   meio   de   organizações   e  instituições,   inclusive   a   DPE,   dentro   da   Província   e   organizam   workshops   para   coordenação   de  actividades  e  compartilhar  experiências.    

Em  baixo  segue  uma  tabela  comparando  as  abordagens  do  PAAE  com  as  do  Dom  Bosco:  

PAAE   Dom  Bosco  

Oferece  ensino  básico  completo   Em  Kwanza  Sul,  ensina  até  o  equivalente  da  2.  Classe.  O  método  permite  a  conclusão  do  ensino  básico.  

Módulo  1  tem  pouco  sucesso  com  alfabetização  de  pessoas  iletrados  das  zonas  rurais  e  peri-­‐urbanas.  

Tem  muito  sucesso  com  pessoas  iletradas  que  nunca  frequentaram  a  escola.  Muitos  destes  passam  com  sucesso  para  a  aceleração  escolar.  

Poucas  turmas  do  PAAE  nas  áreas  remotas.   Enfoque  no  trabalho  com  as  comunidades  remotas.  

Professores  não  vêm  necessariamente  da  comuna  onde  ensinam.    

Alfabetizadores  são  recrutados  nas  comunas  com  apoio  dos  soba  e  outros  dignitários  da  comuna.    

Salário  dos  professores  é  garantido,  por  isso  há  maiores  possibilidades  de  garantir  um  certo  número  de  turmas.  

Subsídio  de  muitos  alfabetizadores  depende  de  doadores,  por  isso  a  número  de  turmas  pode  varias  de  ano  em  ano.  

Carga  horária  e  calendário  fixos.   Carga  horária  e  calendário  flexíveis.  Custos  do  material  didáctico  relativamente  alto.  Salário  depende  da  formação  e  anos  de  serviço  do  professor.  

Custo  do  material  didáctico  relativamente  barato.  Subsídio  igual  para  todos  alfabetizadores.    

 

O  fortalecimento  das  capacidades  da  DPE  de  gerir  o  programa  é  essencial  para  a  sustentabilidade    do  PAAE.  O  apoio  técnico  especializado  nos  vários  aspectos  

pedagógicos  contribui  significativamente  para  este  objectivo.  

 

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➜  Coordenação  e  cooperação  entre  os  vários  actores  Além   de   cada   um   dos   parceiros   cumprir   com   o   seu   papel   estabelecido   nos   contratos   e   convénios,   é  indispensável  que  haja  mecanismos  e  encontros  para  planeamento,  coordenação  e  troca  de  informações  e  experiências.   Estes   encontros   são   extremamente   necessários   para   garantir   a   participação   e   de   todos  actores  do  nível  nacional  e  provincial  no  desenvolvimento  de  estratégias  e  a  não-­‐exclusão  de  ninguém  do  fluxo  de  informação,  ambos  indispensáveis  para  a  apropriação  do  PAAE  por  todo  envolvidos  (ownership).    

Enquanto   o   fluxo   de   informações   entre   os   actores   em   Luanda   (UNICEF,   MED   e   Aldeia   Global)   é  considerado  satisfatório,  a  comunicação  e   interacção  entre  o  MED  e  a  DPE  são  percebidos  como  rua  de  sentido   único.   Informações,   instruções   e   directrizes   são   desenvolvidos   no   MED   e   de   lá   espalham-­‐se  através  de  vários  multiplicadores  até  as  periferias.  Embora  haja  teoricamente  a  possibilidade  de  um  fluxo  na  direcção  oposta,  de  acordo  com  as  informações  obtidas,  na  pratica  isso  não  acontece.  As  equipas  locais,  por   exemplo,   elaboraram   material   adicional,   sugerindo   possíveis   marchas   das   lições   ou   actividades  alternativas.  O  mandaram  para  Luanda  pedindo  feed-­‐back  e  meses  depois  ainda  não  receberam  nenhuma  notícia   se   e   como   este   material   vai   ser   sistematizado   ou   aproveitado.   Alem   disso,   nos   relataram   que  sugestões  a  respeito  da  melhoria  do  material  ou  da  maneira  de  implementação  raramente  são  discutidas  ou   levados   em   conta.   Isso   contradiz   as   directrizes   pedagógicas   do   PAAE   que   determina   que   a   sua  implementação  deve  ser  intensiva,  dinâmica,  bastante  participativa.  

Da  mesma   forma,   não   há   encontros   regulares   entre   a  DPE   e   todos   os   parceiros   que   actuam  dentro   da  Província.  A  ausência  destes  reuniões  regulares  contribuiu  para  o  desenvolvimento  dum  sentimento  de  exclusão  e  resignação  de  uns  envolvidos.  

➜  

 

Materiais  e  abordagens  do  PAAE  e  do  Dom  Bosco  se  complementam,  as  fraquezas  de  um  são  compensados  pelas  forças  do  outro.  

 

Os  mecanismos  de  coordenação  e  troca  de  informações  entre  os  vários  níveis  do  MED  como  dentro  da  Província  não  estão  bem  estabelecidos.    

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V. RECOMENDAÇÕES  

Estratégia  nacional  do  PAAE    

Recomendações  operacionais  • Afinar   os   critérios   para   a   selecção   de   alunos   de   PAAE   para   garantir   que   aqueles   que   são  

encaminhados   para   o   PAAE   são   estes   que   necessitam   de   acelerar   a   aprendizagem   e   podem  aproveitar  satisfatoriamente  da  nova  metodologia  e  para  reduzir  o  número  daqueles  que  por  varias  razoes  não  conseguem  assimilar  as  aprendizagens  requeridas.  

• Estabelecer  um  sistema  de  quotas  para  garantir  o  ingresso  de  alunos  fora  do  sistema  educativo.  

• Realizar   um   estudo   para:   descobrir   outros   motivos   de   tantas   reprovações   além   das   bem  conhecidas,   ligadas   ao   ensino   tradicional;   poder   determinar   quantos   destes   alunos   têm  necessidades   educativas   especiais   e   de   que   maneira   podem   ser   suportados   e   educados   para  aproveitarem   da  melhor   forma   possível   da   escola.   Como   esse   inquérito   não   beneficiaria   apenas   o  PAAE,  mas  também  o  ensino  geral,  sugeriria  que  se  desse  prioridade  a  sua  realização.  

• Contratar  preferencialmente  professores   com  um  ou  mais   das   seguintes   critérios:   Experiência  do  TEP  por  causa  da  familiaridade  com  métodos  interactivos,  professoras  que  possam  servir  como  modelo  para  as  meninas,  professores  e  professoras  que  vivem  na  comunidade  onde  ensinam  por  causa  do  alto  compromisso  e  a  aceitação  nas  comunidades.  Caso  não  haja  pessoas   suficientemente  qualificados   das   duas   últimas   categorias,   dever-­‐se-­‐ia   procurar  medidas   para   incentivar   o   engesso  destes  no  corpo  docente.  

• Incluir   indicadores   de   processo   nos   critérios   de   supervisão   para   estimular   os   professores   e  supervisores  a  aplicar  todas  as  metodologias  participativas,  interactivas  e  centradas  nas  crianças  que  conhecem.  

• Revisar   o   material   didáctico   com   o   objectivo   de:   simplificar   a   linguagem,   revisar   o   conteúdo  explicitamente  sexual  e  conciliar  o  número  de  projectos  com  a  divisão  do  calendário  escolar  em  três  semestres.    

Recomendações  institucionais  • Diferenciar   claramente   entro   o   PAAE   para   jovens   e   o   PAAE   para   adultos.   O   facto   de   o   PAAE  

pertencer   ao  mesmo   tempo  ao  Departamento  do  Ensino  Primário   e   ao  Departamento  do  Ensino  de  Adultos   causou   muita   incerteza   e   mal-­‐entendidos   entre   todos   envolvidos.   Poder-­‐se-­‐ia   ou   separar  completamento  o  PAAE  para  jovens  do  PAAE  para  adultos  ou  estabelecer  uma  divisão  clara  entre  os   dois   eixos   com   esclarecimentos   sobre   diferentes   objectivos,   maneiras   de   implementação,  competências,   estruturas   institucionais,   parceiros   sociais   etc.   Essas   regras   deveriam   ser   publicados  numa  língua  clara,  simples  e  de  fácil  compreensão.  

• Criar  ou  manter  uma  equipa  dentro  da  DPE  cuja  tarefa  é  a  coordenação  e  documentação  do  PAAE.  

• Estudar  a  possibilidade  de  estabelecer  uma  equipa  nas  DPE  para  supervisão  e  coordenação  etc.  e  de  incumbir  uma  instituição  de  formação  para  professores  com  a  formação  dos  professores  do  PAAE.  Parceiros  possíveis  para  isso  seriam  as  Escolas  de  Formação  de  Professores  (EFPs)  e  as  Escolas  do  Futuro  da  ADPP.  Essa  separação  teria  as  seguintes  vantagens:  

o Cascada  de  formação  de  dois  degraus,  da  escola  para  o  professor,  em  vez  de  quatro  ou  cinco.    o Mais   flexibilidade   e   facilidade   para   adaptar   o   conteúdo   das   aulas   às   realidades   locais   e   de  

incorporar  e  publicar  material  local.    o Uma   instituição   de   ensino   estabelecida   geralmente   tem  mecanismos   elaborados   para   lidar   com  

transferências  do  seu  quadro  docente.    o Menos  dependência  dos  parceiros  para  os  custos  das  formações.    o Equipas  das  DPE  teriam  mais  tempo  para  coordenação  de  documentação  das  boas  praticas  e  lições  

aprendidas.    • Intensificar  a  colaboração  com  parceiros  com  metodologias  próprias.  Embora  o  MED  incentivasse  

explicitamente  a  diversidade  das  metodologias  para   fazer   face  ás  diferentes  necessidades  do  seu  público   alvo,   o   PAAE   para   jovens   é   implementado   unicamente   nas   escolas   com   a  metodologia   do  “Gostar   de   Ler   e   Escrever”   e   com   o   apoio   de   duas   ONG.   O   sucesso   do  material   didáctico   depende  

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muito   do   contexto   social   e   cultural   onde   é   aplicado;   especialmente   o   módulo   1   não   produz   os  resultados   esperados   quando   é   administrado   da   forma   prevista.   Em   vez   de   tentar   desenvolver  material  didáctico  que  desse  certo  em  todos  contextos  culturais  e  sociais,  recomendaria  de  colaborar  com   aqueles   parceiros   sociais   que   têm   uma  metodologia   aprovada   para   o   ensino   de   jovens.   Para  melhor  coordenação  e  replicação  em  todas  as  Províncias  seria  conveniente  de  procurar  um  parceiro  que  opera  ao  nível  nacional  com  enfoque  nas  áreas  rurais  e  remotas  como  os  ordens  católicos  que  trabalham  com  o  método  Dom  Bosco.    

O  UNICEF  nas  cinco  províncias  de  impacto  

• Providenciar  apoio   técnico  na  área  de  educação  às  DPE.  O   fortalecimento  das   capacidades  das  DPE   de   gerir   o   programa   é   um   dos   elementos   chaves   para   o   sucesso   do   PAAE.   Em   Kwanza   Sul  mostrou-­‐se   que   apoio   logístico   é   valioso   porque   ajuda   a   realizar   formações   e   supervisões.   Mais  importante   do   que   isso,   porém,   mostrou-­‐se   o   fortalecimento   das   capacidades   da   DPE   nos   vários  aspectos   pedagógicos   e   de   gerir   o   programa.   Um   parceiro   ideal   para   capacitar   as   DPE   seria   uma  instituição   especializada   em   educação   que   opera   em   todas   as   Províncias.   Através   de   comunicação  interna,   aquelas   Províncias   que   não   têm   o   apoio   do  UNICEF,   teriam   a   possibilidade   de   replicar   as  boas   praticas   desenvolvidas   e   aprender   com   os   dificuldades   superadas.   Outras   opções   seria  instituições  locais  ou  técnicos  de  educação  que  trabalham  por  um  tempo  limitado  dentro  das  DPE  

• Promover  e  estabelecer  mecanismos  de  coordenação  entre  o  nível  nacional  e  provincial.  Por  não  ser  envolvido  directamente  na  implementação  do  programa,  o  UNICEF  poderia  convidar  os  seus  parceiros   do   nível   nacional   e   provincial   para   encontros   regulares   de   planeamento   e   troca   de  experiência   e   informações.   Recomendaria   de   incluir   também   representantes   das   Províncias   não-­‐parceiras  para  que  eles  aproveitassem  dessas  experiências  e  vice-­‐versa.    

• Apoiar  o  MED  no  estabelecimento  de  um  sistema  para  gestão  de  conhecimentos.  Por  enquanto,  apenas  os  dados  estatísticos  são  recolhidos  e  processados  de  uma   forma  regular,  as  experiências  e  boas   práticas,   tanto   quanto   o   material   desenvolvido   nas   escolas   ou   províncias   ou   estratégias   de  comunicação  e  divulgação  nas   comunidades  perdem-­‐se   com  a   saída  das  pessoas.  Um  sistema  para  gestão  de  conhecimentos  poderia  diminuir  a  evaporação  de  conhecimentos  e  experiências.  

• Aumentar  o  tempo  de  apoio.  A  introdução  de  uma  nova  metodologia  de  ensino  envolve  mudanças  de  comportamento  de  muitos  envolvidos  que  acontecem  de  uma  maneira  gradual  e  nem  sempre  de  forma  linear.  Em  consequência,  pode   levar  muito  tempo,  quando  envolve   instituições   inteiras  pode  até   demorar   décadas.   Além   disso,   o   decurso   da   implementação   nem   sempre   corre   da   maneira  prevista.  Sugerir-­‐se-­‐ia  que  o  UNICEF  e  outros  parceiros  sociais  apoiassem  este  processo  futuramente  por  mais  tempo  do  que  3  anos  para  garantir  a  sustentabilidade  do  impacto  alcançado.    

• Estudar  o   impacto  a   longo  prazo  da  aceleração  escolar.  Actualmente,  programas  de  aceleração  escolar  estão  a  ser  implementados  em  muitos  países.  Tendo  em  vista  a  sua  propagação,  sugeriria  de  pesquisar,  reflectir  e  discutir  em  Angola  e  internacionalmente  algumas  questões  fundamentais  como:  Até  que  ponto  a  aceleração  ajuda  os  países  em  desenvolvimento  a  aumentar  a  qualidade  do  ensino  e  os  conhecimentos  dos  alunos  formados  e  a  diminuir  a  diferença  entre  os  países  do  Norte  e  os  do  Sul?  Ou   será   tem   involuntariamente   o   impacto   contrário,   o   de   contribuir   para   o   declino   do   ensino,  aceitando  a  redução  de  conteúdos?  

Sustentabilidade  depois  da  saída  do  UNICEF  

A  pesquisa  de  campo  para  essa  avaliação  realizou-­‐se  em  Setembro  e  Outubro  2010  e  era  previsto  que  o  UNICEF  se  retirasse  no  fim  daquele  ano.  De  facto,  um  dos  parceiros  sociais,  a  SCiA,  planeava  fechar  o  seu  escritório  no  fim  deste  ano.  Começar  elaborar  uma  estratégia  de  saída  pouco  antes  de  fechar  o  programa  seria  tarde  demais  e  não  fazia  parte  das  ToR  dessa  consultoria.  Mesmo  assim  gostaria  de  recomendar  o  seguinte  para  a  saída  do  UNICEF:  

• Desde  os  meados  do  ano  2010,  a  IBIS  e  a  DPE  estão  a  elaborar  uma  estratégia  de  saída  que  focaliza  no   fortalecimento  das  capacidades  da  DPE  de  gerir  o  programa.  Sugerimos  que  o  UNICEF  apoiasse  essa  iniciativa  financeira-­‐  e  tecnicamente.    

• A   fim   de   proporcionar   uma   transição   suave   depois   da   saída   da   IBIS   recomendaria   que   o   UNICEF  financiasse  para  um  tempo  determinado  o  salário  e  a  viatura  de  um  técnico  de  educação  experiente  com  o  PAAE  para  trabalhar  dentro  da  DPE.