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SaúdeTRANSCRIPT
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Ao educativa na Ateno Bsica Sade de
pessoas com diabetes mellitus e hipertenso
arterial: avaliao e qualificao de estratgias com
nfase na educao nutricional.
Ana Maria Bartels Rezende
Tese apresentada ao Programa de Ps-
Graduao em Nutrio em Sade
Pblica para obteno do ttulo de
Doutor em Nutrio em Sade Pblica.
rea de Concentrao: Nutrio em
Sade Pblica.
Orientadora: Profa. Dra. Ana Maria
Cervato-Mancuso
So Paulo
2011
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expressamente proibida a comercializao desse documento, tanto na sua forma
impressa como eletrnica. Sua reproduo total ou parcial permitida
exclusivamente para fins acadmicos e cientficos, desde que na reproduo figure
a identificao do autor, ttulo, instituio e ano da tese.
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Conhecer tarefa de sujeitos, no de objetos. E
como sujeito e somente enquanto sujeito, que o
homem pode realmente conhecer.
Paulo Freire
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Ao marido e companheiro Oscar, pela inesgotvel
pacincia e sabedoria que redimem e orientam a
minha vida,
Dedico esta tese e o meu amor!
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AGRADECIMENTOS
A Deus,
Por me colocar diante de tantas oportunidades, conceder-me sade e a graa da
famlia e dos amigos.
Ana Maria Cervato-Mancuso,
Pela a orientao sensvel, compromissada, dialgica e competente. No haveria
outra, diante de tantas Anas, com tamanha dedicao e persistncia.
Elaine Cristina Viana, Mariuza Arlete Gagno, Angela Camila Ghizi, June
Ferreira Maia, Rosana Vargas de Oliveira e Susete Dresch,
Pela amizade, apoio e convivncia harmoniosa, sem os quais talvez no fosse
possvel concretizar o projeto do doutorado.
minha filha Barbara,
Pela ajuda na transcrio dos discursos e, principalmente, pela compreenso e
colaborao no percurso final do preparo da tese.
Ao professor Marcelo Sipione e s alunas Barbara Monteiro, Christina Helal
e Jislaine Barbosa,
Pela colaborao na coleta de dados dos grupos focais e estmulo para a concluso
do estudo.
Ao Centro Universitrio Vila Velha UVV,
Pela compreenso nos momentos de ausncia das atividades de trabalho.
coordenao, aos profissionais de sade da unidade de Marupe e aos
sujeitos-pacientes participantes da pesquisa,
Pela colaborao fundamental.
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APRESENTAO
Esta tese encontra-se estruturada em trs sees. A primeira inclui os
seguintes elementos: Introduo na qual se contextualiza o objeto de
investigao; apresentam-se as definies, conceitos e bases tericas utilizadas no
desenvolvimento do estudo e como subsidio para anlise dos resultados e
justifica-se a sua realizao. Objetivos gerais e especficos. Mtodos que inclui a
tipologia, a caracterizao do cenrio e da populao do estudo; o delineamento
da coleta de dados com descrio das tcnicas e instrumentos utilizados nas trs
etapas da pesquisa; o mtodo de processamento e anlise dos resultados.
A segunda seo refere-se aos Resultados e Discusso da pesquisa. Os
resultados da primeira e da segunda etapa so apresentados em trs manuscritos,
no formato prvio para submisso publicao. Os resultados da terceira etapa
so apresentados em formato tradicional.
A terceira seo trs as Concluses sobre o conjunto da obra e as
consideraes finais e contribuies do estudo para a rea da Sade Pblica.
As Referncias para as citaes de cada manuscrito so apresentadas ao
final deles e as das demais sees ao final da Obra.
Ao final encontram-se os anexos e a primeira pgina do Currculo Lattes
da autora e sua orientadora.
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RESUMO
Rezende A.M.B. Ao educativa na ateno bsica sade de pessoas com
diabetes mellitus e hipertenso arterial: avaliao e qualificao de estratgias
com nfase na educao nutricional. [Tese de Doutorado]. So Paulo: Faculdade
de Sade Pblica. Universidade de So Paulo, 2011.
Introduo: As aes educativas so prticas inerentes ao projeto assistencial de
sade em todos os nveis de ateno, na perspectiva de empoderamento e
emancipao das pessoas para atuar nos aspectos fundamentais de sua vida, como
a alimentao. O diabetes mellitus e a hipertenso arterial esto entre os fatores de
risco modificveis para as doenas cardiovasculares, cujo controle associado a
mudanas de estilo de vida pode ser estimulado no mbito da Ateno Bsica
Sade, minimizando a morbimortalidade por essas doenas e o seu impacto na
sade pblica. Objetivo: Analisar o processo educativo com nfase na educao
alimentar e nutricional para pessoas com diabetes mellitus e hipertenso arterial
no mbito da Ateno Bsica Sade. Mtodos: Estudo analtico-descritivo de
natureza qualitativa, realizado entre profissionais de sade e pessoas com diabetes
mellitus e/ou hipertenso arterial acompanhadas em Unidade de Estratgia de
Sade da Famlia do municpio de Vitria- ES. Procedeu-se a coleta de
depoimentos por meio de entrevistas semiestruturadas. Aplicou-se a tcnica do
Discurso do Sujeito Coletivo para a anlise das percepes sobre os espaos, os
sujeitos, os resultados e os desafios das aes educativas na promoo de prticas
de vida e alimentares adequadas. As ideias centrais destacadas no material
discursivo foram utilizadas como substrato para a qualificao dessas aes, num
processo compartilhado com os profissionais de sade, em que se empregou a
tcnica dos grupos focais. Resultados: Foram entrevistados 27 profissionais, entre
mdicos, enfermeiros, orientador fsico, auxiliares de enfermagem e agentes
comunitrios de sade, bem como 22 usurios-pacientes. Na percepo dos
profissionais de sade, os grupos constituem o espao mais eficaz para a prtica
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educativa. Porm, a preferncia do usurio pela ao individualizada e
medicocentrada que ocorre nas consultas. A viso mais frequente sobre os
resultados das aes educativas foi que estas contribuem para mudanas apenas
para parte das pessoas assistidas, sendo a rebeldia do paciente e os fatores de
insegurana alimentar e nutricional relacionados ao acesso aos alimentos, baixa
escolaridade e ao envelhecimento dependente da populao, destacados como
dificuldades concretas para mudana das prticas alimentares. Quanto aos
desafios atribudos estrutura e aos resultados do processo educativo, a
percepo foi que este no est suficientemente sedimentado entre os
profissionais de sade, que persistem com prticas normativo-prescritivas em suas
condutas, o que dificulta o seguimento do plano teraputico. No discurso dos
usurios, evidenciaram-se, como maior dificuldade para a adeso ao tratamento e
mudana de hbitos alimentares, as prescries restritivas ou proibitivas. O
processo de qualificao das prticas educativas apontou a necessidade de
fortalecimento das aes educativas na prtica assistencial; instituio de
mecanismos de avaliao dos seus impactos; centralidade do sujeito no
planejamento das aes e na definio do plano teraputico; garantia da
interdisciplinaridade e integralidade das aes; valorizao do planejamento e da
organizao do trabalho educativo; capacitao permanente da equipe de sade.
Concluses: Aes educativas para capacitao das pessoas com diabetes
mellitus e hipertenso arterial, no mbito da Ateno Bsica Sude, esto ainda
estruturadas no modelo assistencial hegemnico, de abordagem
predominantemente higienista, que culpabiliza as pessoas por seus problemas de
sade e que desconsidera a participao da comunidade nos processos educativos
a ela dirigidos. A Estratgia de Sade da Famlia se coloca como campo
potencialmente frtil para a qualificao e reorientao das prticas educativas em
sade, o que se recomenda seja feito luz das diretrizes das Polticas Pblicas de
Ateno Bsica e de Promoo da Sade.
Descritores: Educao em Sade; Educao Alimentar e Nutricional; Ateno
Primria Sade; Diabetes Mellitus; Hipertenso; Pesquisa Qualitativa.
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ABSTRACT
Rezende A.M.B. Educational action in basic health care of people with
diabetes mellitus and hypertension: evaluation and qualification of strategies
emphasizing nutrition education. [Doctoral Thesis] So Paulo: Public Health
School. University of So Paulo, 2011.
Introduction: Educational action is a type of practice that is inherent to all levels
of health care from the perspective of empowering and emancipating people to act
in fundamental aspects of their lives, such as eating. Diabetes mellitus and
hypertension are among the modifiable risk factors of cardiovascular diseases
whose control, associated to lifestyle changes, can be stimulated in the Basic
Health Care sphere, minimizing morbidity and mortality caused by these diseases,
as well as their impact on public health. Objective: Analyze the education
process focusing on eating and nutrition education for people with diabetes
mellitus and hypertension in the Basic Health Care sphere. Methods: It is an
analytical, descriptive, and qualitative study carried out among health care
professionals and people with diabetes mellitus and/or hypertension cared for at a
family health strategy unit in the city of Vitria, ES, Brazil. Their testimony was
collected through semistructured interviews. The Collective Subject Discourse
technique was employed for analyzing their perception of space, subjects, results
and challenges of the educational actions in promoting appropriate life and eating
practices. The central ideas standing out in their discourse were used as substrate
for qualifying these actions in a process shared with health care professionals, in
which the focus group technique was adopted. Results: Twenty-seven (27)
professionals (doctors, nurses, physical activity advisor, auxiliary nurses, and
community health care agents) were interviewed, as well as 22 patient-users. In
these health care professionals perception, the groups represent the most effective
space for educational practice. However, the user prefers the individualized,
doctor-centered practice taking place during consultations. The most frequent
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view about the results of educational actions was that they contribute to changing
just part of the assisted people. Patients resistance to changes and the nutrition
and food insecurity related to access to food; poor educational background; and
populations dependent aging are highlighted as concrete difficulties in changing
eating practices. Regarding the challenges attributed to structure and to the results
of the educational process, the study found that they are not sufficiently spread
among health care professionals, that the normative-prescriptive practices still
guide their conduct, which hinders the subsequent therapies. From the users
discourse, we identified the restrictive and prohibitive prescriptions as the greatest
difficulty in complying with treatment and changing eating habits. The process of
qualification of educational practices pointed out the need of strengthening
educational actions in health care practice; instituting mechanisms to assess its
impact; centralizing action planning and therapy on the subject; ensuring
interdisciplinarity and integrality of actions; valuing planning and organization of
educational work; and permanently qualifying the health care team. Conclusions:
Educational actions for recovering individuals with diabetes mellitus and
hypertension in the Basic Health Care sphere are structured within a hegemonic
health care model, with a predominantly hygienist approach, which blames
individuals for their health problems; which disregards the participation of the
community in the educational processes addressing them. The family health
strategy is shown as a potentially fertile field for qualifying and reorienting
educational health care practices, which should ideally be done in compliance
with the guidelines of basic health care and health promotion public policies.
Keywords: Health Care Education; Eating and Nutrition Education; Primary
Health Care; Diabetes Mellitus, Hypertension; Qualitative Research.
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INDICE
1 INTRODUO ..................................................................................... 15
1.2 EDUCAO EM SADE E EDUCAO NUTRICIONAL:
DEFINIES E PERSPECTIVAS TERICAS .......................... 24
1.1 JUSTIFICATIVA ...................................................................... 30
2 OBJETIVOS ........................................................................................ 32
2.1 GERAL ..................................................................................... 32
2.2 ESPECFICOS .......................................................................... 32
3 MTODOS ........................................................................................... 33
3.1 CARACTERIZAO DA PESQUISA ................................... 33
3.2 O CENRIO DO ESTUDO ..................................................... 33
3.2.1 A Escolha da UBS do Estudo ......................................... 36
3.2.1.1 A USF do territrio de Marupe .................................. 37
3.3 A POPULAO E OS SUJEITOS .......................................... 39
3.3.1 A Escolha dos Sujeitos ................................................... 40
3.4 AS ETAPAS DE CAMPO E A COLETA DOS DEPOIMENTOS
......................................................................................................... 41
3.4.1 Primeira Etapa: Identificao das estratgias de interveno
educativa, implementadas no mbito da ESF, para pessoas com
DM e HA, na percepo dos profissionais de sade.
.................................................................................................. 41
3.4.2 Segunda Etapa: Identificao das estratgias de interveno
educativa, implementadas no mbito da ESF, para pessoas com
DM e HA, na percepo dos usurios. .................................... 42
3.4.3 Terceira Etapa: Qualificao das estratgias de interveno
nutricional educativa. ............................................................... 43
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3.5 A ORGANIZAO DOS DADOS E O PROCESSAMENTO 44
3.5.1 Os Dados das Entrevistas com Profissionais e Usurios 44
3.5.2 Os Depoimentos nos Grupos Focais ............................... 46
3.6 CONSIDERAES TICAS ................................................... 46
4 RESULTADOS E DISCUSSO ......................................................... 48
4.1 MANUSCRITO 1 ..................................................................... 49
Ao educativa para pessoas com diabetes mellitus e hipertenso
arterial: reflexes sobre a educao em sade na Estratgia de
Sade da Famlia.
4.2 MANUSCRITO 2 ................................................................... 95
Dificuldades e desafios da ao educativa com foco na educao
nutricional de pessoas com diabetes mellitus e hipertenso
arterial: a viso dos profissionais da Estratgia de Sade da
Famlia.
4.3 MANUSCRITO 3 ................................................................... 138
Ao educativa na Ateno Bsica Sade para pessoas com
diabetes mellitus e hipertenso arterial: escutando os sujeitos-
pacientes.
4.4 RESULTADOS E DISCUSSO DA TERCEIRA ETAPA ... 172
Caminhos para a qualificao do processo educativo
5 CONCLUSES ................................................................................ 185
6 REFERNCIAS ................................................................................ 190
7 ANEXOS .............................................................................................. 197
Anexo 1 Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ....................... 198
Anexo 2 Discurso do Sujeito Coletivo- Manuscrito 1 ........................ 201
Anexo 3 Discurso do Sujeito Coletivo- Manuscrito 2 ........................ 212
CURRICULO LATTES ........................................................................ 218
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LISTA DE SIGLAS
Agentes comunitrios de sade (ACS)
Ateno Primria Sade (APS)
Centros de Referncia de Assistncia Social (CRAS)
Centros Municipais de Ensino Infantil (CEMEIs),
Comisso Intergestores Tripartite (CIT)
Comisses Intergestores Bipartite (CIBs)
Conhecimento-atitude-prtica (CAP)
Diabetes mellitus (DM)
Direito Humano Alimentao Adequada (DHAA).
Discurso do Sujeito Coletivo (DSC)
Doenas crnicas no transmissveis (DCNT)
Doenas do aparelho circulatrio (DAC)
Escolas Municipais de Ensino Fundamental (EMEFs)
Estratgia de Sade da Famlia (ESF)
Expresses-chave (ECH)
Gerncia de Educao em Sade (GES)
Grupo de Apoio Teraputico ao Tabagismo (GATT)
Health Belief Model (HBM)
Hipertenso arterial (HA)
Ideia central (IC)
ndice de Massa Corpora (IMC)
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE)
Ministrio da Sade (MS)
Ncleo de Apoio Sade da Famlia (NASF)
Organizao Mundial de Sade (OMS)
Poltica Nacional de Alimentao e Nutrio (PNAN)
Poltica Nacional de Ateno Sade (PNAS)
Poltica Nacional de Ateno Bsica (PNAB)
Poltica Nacional de Promoo Sade (PNPS)
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Programa de Agentes Comunitrios de Sade (PACS)
Programa de Sade da Famlia (PSF)
Projetos Caminhando Juntos (CAJUN).
Secretaria de Ateno Sade (SAS)
Secretaria de Vigilncia em Sade (SVS)
Segurana Alimentar e Nutricional (SAN)
Servio de Orientao ao Exerccio (SOE)
Servio Social da Indstria (SESI)
Sistema de Cadastro e Acompanhamento de Hipertensos e Diabticos (Hiperdia/
SISHiperdia)
Sistema de Informao da Ateno Bsica (SIAB)
Sistema de Segurana Alimentar e Nutricional (SISAN)
Sistema nico de Sade (SUS)
Unidade de Sade (US)
Unidade de Sade da Famlia (USF)
Unidades bsicas de sade (UBS)
Universidade Federal do Esprito Santo (UFES)
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1 INTRODUO
Em menos de 40 anos, o Brasil passou de um perfil tpico de mortalidade
de uma populao jovem para um quadro caracterizado por enfermidades
complexas e onerosas, prprias das faixas etrias mais avanadas (GORDILHO et
al., 2000), representadas principalmente pelas Doenas Crnicas no
Transmissveis (DCNT).
Entre as DCNT, as doenas do aparelho circulatrio (DAC), em especial
as coronarianas e o conjunto de morbidades geralmente associadas: dislipidemias,
hipertenso arterial (HA), obesidade e diabetes mellitus (DM), constituem
importante problema de sade pblica em todo o mundo (TURNER, 1980;
ZIMMET et al., 1986; MARTINS et al., 1993; LESSA, 2004) e, nas ltimas
dcadas, segundo registros oficiais, a primeira causa de morte no pas (CHOR et
al., 1995; BRASIL, 2005).
A HA, o DM e as dislipidemias so as principais condies de risco para
essas doenas e encontram-se entre as dez primeiras causas de morte em vrios
pases (YACH et al., 2004). Suas complicaes mais frequentes o infarto agudo
do miocrdio, o acidente vascular cerebral, a insuficincia renal crnica, a
insuficincia cardaca, as amputaes de membros inferiores e a cegueira
definitiva elevam o custo mdico-social e atingem diretamente o Sistema nico
de Sade (SUS), em que so responsveis por mais de um milho de
internaes/ano, com um custo aproximado de 475 milhes de reais, sem
considerar os gastos com procedimentos de alta complexidade (FLACK et al.,
2002; MION et al., 2002; GARANTINI et al., 2004; BRASIL, 2005).
As modificaes no estilo de vida e o controle de fatores de risco
modificveis, ou seja, aqueles sobre os quais podem atuar o paciente e a equipe de
sade, como dislipidemias, obesidade, HA, DM, tabagismo, sedentarismo, entre
outros (Cunningham, apud COLOMBO e AGUILAR, 1997, p. 69), so
considerados a base do tratamento e controle das doenas cardiovasculares
(TURNER, 1980; GOLDMAN e COOK, 1984; ZIMMET et al.,1986;
KRUMMEL, 1998; MINISTRIO DA SADE, 2001) e demandam aes
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multidisciplinares em todos os nveis de ateno sade, prioritariamente na
Ateno Bsica.
Est bastante estabelecido que o comportamento alimentar, um dos
principais elementos do estilo de vida, relaciona-se com alguns dos fatores de
risco modificveis j citados, principalmente com a obesidade determinante
importante da alta incidncia de DAC em nosso meio. Estudos sobre a epidemia
global de obesidade tm-se concentrado na identificao de fatores ambientais que
a determinam (GORTMAKER et al., 1993; HILL e PETERS, 1998; EPSTEIN et
al., 2000), indicando, nas ltimas dcadas, a predominncia de um ambiente
obesognico nos pases ocidentais ou com hbitos de vida ocidentalizados, em
que prticas alimentares inadequadas, resultantes de maior acesso a alimentos de
menor custo, palatveis, prticos, mas de alta concentrao energtica, aliado a
um modo de vida predominantemente sedentrio, caracterstico do estilo de vida
moderno e urbano, favorecem a obesidade crescente (HILL et al., 2003;
OLIVEIRA et al., 2003).
Especialmente em relao ao papel da dieta na preveno e no controle das
doenas, vrios estudos tm enfatizado caractersticas dietticas associadas com a
reduo e com o controle dos fatores de risco para as DAC. Podem ser citados o
estudo de DANSINGER et al. (2005), que comparou os efeitos de quatro dietas
populares na perda de peso e nos fatores de risco cardiovascular, encontrando
resultados medianos, porm positivos; o estudo Dietary Approaches to Stop
Hypertension (DASH), cujos resultados demonstraram que uma dieta rica em
gros integrais, oleaginosas, frutas e hortalias e com baixo teor de lipdios
saturados e totais reduziu significativamente a presso arterial sistlica e a presso
arterial diastlica em hipertensos (APPEL et al., 1997), e o III National Health
and Nutritional Examination Survey (NHANES III), que demonstrou que, nos
Estados Unidos, variaes regionais na presso arterial esto associadas aos
hbitos alimentares da populao (HAJJAR e KOTCHEN, 2003).
Estudos em diferentes pases tm demonstrado a importncia de programas
educativos para promover maior adeso ao tratamento, resultando em melhor
controle da HA e/ou DM (AMBROSIO et al., 1988; GRUESSER et al., 1997;
GONZALES et al., 1997; ARAUZ et al., 2001; CABRERA-PIVARAL et al.,
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2001). Tambm no Brasil, embora em menor nmero de publicaes e estudos
com acompanhamento de curto prazo, tm-se demonstrado resultados favorveis.
Na Costa Rica, na regio de sade de El Guarco, ARAUZ et al. (2001)
empreenderam um programa de interveno educativa comunitria sobre o DM
tipo 2, direcionado para o nvel primrio de ateno. O programa foi elaborado
com base num estudo qualitativo dos conhecimentos e prticas dos pacientes e dos
profissionais de sade quanto preveno e ao tratamento do diabetes e num
levantamento sobre a disponibilidade de alimentos na comunidade. Foram
desenvolvidos dois manuais, um para os profissionais de sade e outro para os
pacientes, alm de estratgias comunitrias para dar sustentabilidade ao processo
educativo. Aps a capacitao dos profissionais de sade, que capacitaram a
comunidade, observou-se que os pacientes apresentaram queda na glicemia, de
189 79mg/dl para 157 48mg/dl (p=0,03), e na hemoglobina glicosilada, de
11,3 2,4% para 9,7 2,3% (p=0,05). Quanto ao perfil lipdico, a alterao foi
significativa para a diminuio de triglicerdeos (p= 0,04) e no houve alterao
significativa do peso corporal. O nvel primrio de ateno sade foi
considerado ideal para a execuo de programas educativos para tratamento,
preveno e deteco precoce de DM (ARAUZ et al., 2001).
MILLER et al. (2002), para avaliarem uma interveno para melhorar o
conhecimento sobre alimentao e as competncias na gesto do DM, realizaram,
na Pensilvnia, um estudo randomizado, controlado, envolvendo 98 idosos com
DM tipo 2 (48 no grupo experimental e 50 no grupo controle) que participaram de
dez sesses semanais em grupos conduzidos por um nutricionista. Concluram que
essa populao se beneficiou da educao nutricional para melhorar os
conhecimentos e as competncias necessrias para a gesto do DM.
Na Esccia, um estudo recentemente realizado com 24 pacientes obesos
avaliou a percepo sobre o tratamento diettico. Os resultados revelaram que
esses pacientes consideraram importante o aconselhamento de um dietista para
apoi-los no controle do peso, pela necessidade de se sentirem responsveis
perante algum e valorizar as informaes prestadas quanto alimentao,
atividade fsica, s estratgias de comportamento e obesidade. O estudo ainda
observou alteraes no estilo de vida e sade nos pacientes que aderiram ao
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tratamento. Eles relataram obstculos s mudanas referentes sensao de
frustrao, sobrecarga em relao s mudanas necessrias, entre outras (JONES
et al., 2007).
Estudo realizado em So Jos do Rio Preto-SP, para avaliar os impactos do
aconselhamento nutricional na mudana do estilo de vida e de indicadores
antropomtricos, bioqumicos e dietticos preditores de DM, entre 104 adultos
com excesso de peso (IMC entre 24 e 35 m/Kg-2
) cadastrados em uma unidade de
sade (US), observou mudanas significativamente positivas no grupo que passou
por trs sesses de aconselhamento nutricional em relao ao grupo-controle,
indicando a viabilidade da interveno nutricional na preveno do diabetes tipo
2, na Ateno Bsica, com realce para a viabilidade econmica dessa interveno
(SARTORELLI et al., 2004).
Em So Paulo-SP, numa Unidade Bsica de Sade de Vila Romana, foi
proposta uma interveno com 191 pacientes por meio da formao de grupos de
hipertensos e de diabticos hipertensos para ao educativa, seguimento regular,
fornecimento de medicao, controles peridicos e atendimento de
intercorrncias. A interveno durou 30 meses: nos trs primeiros, ocorreram
encontros seguidos de consultas peridicas e controle de doenas; nos demais,
dispensao de medicamentos. Aps a interveno, observou-se reduo relativa
de 42% e absoluta de 26% no nmero de pacientes com HA moderada e grave.
Quanto aos diabticos, houve reduo de 22% naqueles com glicemia superior a
200mg/dl e aumento de 33% para aqueles com nveis inferiores a 125mg/dl.
Embora o estudo no tivesse feito o controle de todos os determinantes da adeso
e o controle das doenas, a interveno foi considerada eficiente (SILVA et al.,
2006).
Ainda em So Paulo, ALMEIDA-PITITTO (2009), em estudo de
plausibilidade, avaliou os efeitos de um programa de dois anos de interveno no
estilo de vida sobre o perfil cardiometablico de populao nipo-brasileira de alto
risco. Aderiram ao programa, em 2005, 728 indivduos, dos quais 650 foram
reavaliados em 2006 e 500, em 2007. Os resultados permitiram concluir que a
interveno trouxe benefcios ao perfil cardiometablico deles aps o primeiro e
segundo anos do programa, independentemente do grau de tolerncia a glicose no
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incio do estudo. As mudanas nos fatores de risco cardiovascular foram
proporcionais ao alcance das metas do programa. A maioria dos indivduos sem
DM manteve ou melhorou a tolerncia a glicose aps os dois anos de interveno.
A despeito do reconhecimento cientfico sobre a importncia de adotar
prticas de vida e alimentares adequadas para a preveno e o controle dos fatores
de risco cardiovascular, especialmente do DM, HA e obesidade, para alcanar a
adeso do paciente s orientaes dos profissionais de sade e a fidelidade s
recomendaes, permanece como grande desafio na abordagem pelo Sistema de
Sade a baixa adeso ou continuao ao tratamento de diabticos e/ou hipertensos
relatada em alguns estudos, em que pese diversidade de mtodos e critrios
empregados.
HERNANDEZ-RONQUILLO et al. (2003), num estudo realizado no
Mxico, verificaram um nvel de no adeso s recomendaes dietticas de 62%
entre pacientes diabticos tipo 2, 85% para no adeso atividade fsica, 17%,
medicao oral e 13%, aplicao da insulina.
Relativamente aos fatores citados na literatura mdica que dificultam a
adeso ao tratamento por parte de pacientes diabticos, esto o baixo nvel
socioeconmico, que resulta na menor adeso devido ao custo dos medicamentos
(BOTELHO e DUDRAK, 1992) e dos alimentos (SHERMAN et al., 2000), a
baixa escolaridade (ANDERSON e KIRK, 1982; MOREIRA et al., 2003) e
fatores circunstanciais, como comer fora de casa em restaurantes e a oferta de
alimentos inadequados por outras pessoas (ARY et al.,1986).
LESSA e FONSECA (1997), em estudo sobre raa, aderncia ao
tratamento e/ou consulta e controle da HA, obtiveram, entre outros resultados, um
ndice de adeso ao tratamento de 41,5%, entre 200 pacientes entrevistados. Essa
frequncia foi considerada pelas autoras como mais elevada ou similar s
observadas na literatura. Orientao diettica por escrito foi distribuda entre os
57,5% dos participantes do estudo, dos quais 49,5% eram dos grupos que
aderiram ao tratamento e/ou s consultas.
Em Pelotas-RS, ARAJO et al. (1999), ao estudarem a situao do
cuidado dos pacientes diabticos assistidos em uma unidade de ateno primria,
constataram: apenas 28,4% que relataram fazer uso de dieta hipocalrica (tomada
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no estudo como critrio para seguimento de dieta adequada ao diabtico); 53,7%,
incluindo os que no faziam uso de dieta, relataram o uso sistemtico de
adoantes; somente 20,9% faziam algum tipo de atividade fsica como forma de
tratamento.
Estudo com objetivos similares, abrangendo 378 pacientes diabticos
assistidos na Ateno Primria Sade (APS) de Pelotas-RS, encontrou
resultados que tambm apontam a baixa adeso dieta e atividade fsica: dos
284 (75%) participantes que receberam a prescrio de dieta, 53% relataram t-la
feito nos 15 dias posteriores consulta, 10% no estavam seguindo nenhum tipo
de tratamento e 26% disseram usar apenas medicamentos no tratamento da
doena. Concomitantemente, apenas 6,3% e 10,9% dos pacientes do estudo
apresentaram controle aceitvel do ndice de massa corporal, glicemia e PA
(ASSUNO et al., 2001).
Em Vitria-ES, para avaliar a adeso e o impacto do aconselhamento
nutricional no tratamento da HA, foi realizado estudo longitudinal com 192
indivduos hipertensos, distribudos em um grupo (82 indivduos) que recebeu
orientao nutricional em quatro consultas trimestrais durante 12 meses e um
grupo controle (110 indivduos). Compararam-se medidas antropomtricas e
bioqumicas, o aumento do consumo de alimentos protetores e a diminuio de
consumo de alimentos pouco adequados nos dois grupos, alm da frequncia s
consultas. Observou-se melhora apenas nos parmetros antropomtricos: reduo
da circunferncia da cintura e do IMC em relao ao grupo orientado, porm com
diferenas no significativas. De outra forma, as mudanas nos parmetros
dietticos foram mais positivas: substituio de carnes gordas por magras,
aumento no consumo de hortalias, reduo do consumo de alimentos como carne
salgada, carnes gordas, tempero pronto e vsceras. Todavia, adeso dos pacientes
ao aconselhamento diettico foi considerada baixa (SILVA, 2005).
PAIVA et al. (2006), ao descreverem o perfil de populao diabtica e
hipertensa, acompanhada pelo PSF do municpio de Francisco Morato, SP, e
avaliarem a assistncia prestada a essa populao, verificaram que apenas 32,8%
da populao estudada relatou uma dieta considerada adequada, segundo
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21
parmetros da pesquisa. Em contrapartida, 75% relataram no ter o hbito de
praticar atividade fsica.
O impacto da morbimortalidade cardiovascular na populao brasileira que
tem o DM e a HA como importantes fatores de risco traz um desafio para o
Sistema Pblico de Sade: a garantia do acompanhamento sistemtico dos
indivduos identificados como portadores desses agravos e o desenvolvimento de
aes de promoo da sade e preveno de DCNT. Estudiosos do tema
consideram que o grande desafio do Sistema nico de Sade (SUS) na abordagem
do atual padro de sade e doena no pas est na reorientao de novas prticas
de sade (MONTEIRO, 1995; BOOG, 1997).
Nesse sentido, intervenes com o objetivo de reduzir as cargas das DCNT
so propostas, h alguns anos, pelo Ministrio da Sade (MS). Tradicionalmente
essas aes so coordenadas, no mbito nacional, pelas reas tcnicas assistenciais
da Secretaria de Vigilncia em Sade (SVS) e Secretaria de Ateno Sade
(SAS), de forma que a articulao entre elas aproxime as aes de vigilncia
epidemiolgica s de assistncia e promoo da sade. A promoo constitui o
eixo integrador e articulador das agendas dos servios e a formulao de polticas
pblicas saudveis.
Em 2000, a fim de estabelecer diretrizes e metas para a reorganizao da
assistncia do portador de HA e de DM no SUS, o MS implantou o Plano de
Reorientao da Ateno Hipertenso Arterial e ao Diabetes Mellitus, em
parceria com as Sociedades Brasileiras de Cardiologia, Nefrologia, Hipertenso e
Diabetes, Secretarias Estaduais e Municipais de Sade, Conselhos Nacionais de
Secretrios Estaduais e Municipais de Sade, Federao Nacional de Portadores
de Hipertenso e de Diabetes. Entre os objetivos desse plano, esto: orientar a
implementao, nos estados e municpios, das aes de capacitao dos
profissionais da Ateno Bsica; pactuar normas e metas entre as trs esferas de
gesto da sade; prestar assistncia farmacutica e dispensao de medicamentos
de uso contnuo; promover atividades educativas para minimizar os impactos da
HA e do DM sobre a sade pblica. Criou tambm o Sistema de Cadastro e
Acompanhamento de Hipertensos e Diabticos (Hiperdia, recentemente SIS-
Hiperdia) que possibilita a descrio do perfil epidemiolgico das pessoas com
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HA e DM cadastradas e acompanhadas na rede bsica de sade (BRASIL, 2001;
BOING e BOING, 2007).
A Coordenao Geral das Doenas e Agravos No Transmissveis da
SVS, em 2005, assumiu a coordenao da Poltica Nacional de Promoo Sade
(PNPS), constituindo um grupo de trabalho responsvel por elaborar o documento
preliminar dessa poltica. O objetivo da PNPS contribuir para mudar o modelo
de ateno do Sistema, de maneira a ampliar e qualificar aes de promoo de
sade e construir uma agenda estratgica integrada por meio do envolvimento de
diversas instncias gestoras no SUS e do fortalecimento de suas diretrizes
(BRASIL, 2005).
Seguindo a orientao da Organizao Mundial de Sade (OMS), o Brasil
est engajado no movimento da Estratgia Global para a Alimentao Saudvel e
Atividade Fsica. Entre as prioridades da PNPS, est a implantao do projeto
Pratique Sade, em que a promoo da sade est centrada no compromisso
tico de enfrentar as desigualdades de acesso aos modos de viver e aos ambientes
saudveis por meio da construo de graus crescentes de autonomia dos
indivduos, das famlias e coletividades, no autocuidado, no cuidado com o meio
ambiente e na produo da sade (BRASIL, 2005).
Esse compromisso convergente para uma das mais importantes
circunstncias que envolvem a instituio de prticas alimentares saudveis, mais
especificamente a adeso a condutas dietticas especiais para o controle da HA e
do DM: a (In) Segurana Alimentar e Nutricional (SAN). Diversos fatores de
insegurana alimentar e nutricional, como baixo nvel socioeconmico, excluso
social, dificuldades relacionadas ao acesso e preparo dos alimentos, nvel de
entendimento do paciente sobre a conduta diettica, resistncia mudana de
hbitos alimentares e outros comportamentos pouco saudveis, constituem
obstculos promoo de prticas de vida saudveis. No Brasil, adota-se, como
conceito de SAN,
(...) a garantia do direito de todos ao acesso regular e permanente a
alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o
acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base prticas
alimentares promotoras de sade que respeitem a diversidade cultural e
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23
que sejam ambiental, cultural, econmica e socialmente sustentveis.
(BRASIL, 2006a).
A Poltica Nacional de Alimentao e Nutrio (PNAN) implementada
pela Coordenao Geral da Poltica de Alimentao e Nutrio (CGPAN) da
SAS/MS, ao mesmo tempo que integra a Poltica Nacional de Sade, insere-se no
contexto da SAN, compondo o conjunto de polticas governamentais voltadas a
concretizar o Direito Humano Alimentao Adequada (DHAA).
Implementada em 1999 pelo Ministrio da Sade, a PNAN precede a
PNPS e a Poltica Nacional de Ateno Bsica (PNAB). Sua adoo configura um
marco importante uma vez que a alimentao e a nutrio constituem requisitos
bsicos para a promoo e proteo da sade. J em sua primeira edio, traz o
contexto brasileiro de convivncia com a dupla carga de doenas nutricionais: as
carenciais, ainda com prevalncia significativa, e os altos e crescentes ndices de
obesidade. A PNAN inova ainda ao introduzir no texto de uma poltica pblica a
questo da SAN e sua vinculao com a promoo de prticas alimentares
saudveis, a preveno e controle dos distrbios nutricionais e a necessidade da
abordagem intersetorial nas aes que propiciam o acesso universal alimentao
e nutrio (SECRETARIA..., 2000).
A PNAN tem por uma de suas diretrizes programticas a promoo de
prticas alimentares e estilos de vida saudveis, com nfase na alimentao para
preveno e controle das DCNT e na reviso de mtodos, tcnicas e estratgias
para a educao nutricional:
Dever (...) ser concedida nfase particular orientao quanto
preveno de doenas crnicas no transmissveis, tais como as
cardiovasculares e a diabete melito e a adoo de hbitos alimentares
apropriados (...) como forma de evitar o agravamento destas patologias
(BRASIL, 2008, p. 22).
No entanto, para SANTOS, 2005, O documento que institui a PNAN
carece de uma concepo clara de educao alimentar e nutricional, e da indicao
de diretrizes para a sua prtica.
Nos instrumentos normativos que encaminham diretrizes e aes de cada
uma das polticas pblicas citadas, esto explcitas a necessidade e a importncia
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das prticas de educao em sade e educao nutricional. Principalmente na
Ateno Bsica, a educao em sade, em particular a educao nutricional, tem-
se constitudo como instrumento de transformao das prticas inadequadas de
sade (LIMA et al., 2000).
Ante o fortalecimento dessas polticas, o SUS enfrenta ainda o desafio de
reorientar o modelo de ateno, de forma a garantir populao o acesso
universal, equnime e integral a uma rede de servios resolutivos. Como uma
alternativa de enfrentamento a esse desafio, desde 1994 o Ministrio da Sade
props o Programa de Sade da Famlia (PSF) que, por ser considerado como
estratgia estruturante dos sistemas municipais de sade, passou a ser chamado de
Estratgia de Sade da Famlia (ESF) (ALVES, 2005; SCHERER, 2005;
BARRETO e CARMO, 2007).
1.1 EDUCAO EM SADE E EDUCAO NUTRICIONAL -
DEFINIES E PERSCPECTIVAS TERICAS.
Entendida como um processo a educao em sade visa a capacitar as
pessoas e os grupos sociais para ao consciente em prol da sade e para o
enfrentamento de problemas fundamentais da vida, tais como a nutrio. Campo
de prtica e conhecimento na sade pblica, ela constitui possibilidade para o
desenvolvimento de vnculos entre os servios de sade e a populao e, por isso,
considerada inerente a todas as prticas desenvolvidas no mbito do SUS.
(LIMA, 2000; VASCONCELOS, 2004).
Para STOTZ (2007) a educao em sade, como concebida pelo modelo
tradicional e dominante da sade, uma rea de saber tcnico que organiza
conhecimentos das cincias sociais e da sade com a finalidade de
instrumentalizar os servios para o controle dos pacientes e as pessoas para a
preveno das doenas, num processo em que os educadores profissionais e
tcnicos em sade se apropriam do conhecimento tcnico-cientfico da
biomedicina para repass-los como normas de conduta para as pessoas. Nessa
viso, respaldada nas evidncias da medicina preventivista e adotada como
enfoque educativo predominante nos servios de sade h dcadas, os problemas
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de sade geralmente se reduzem a dimenso biopsicolgica, o que traz a
possibilidade de culpabilizar os indivduos por seu adoecimento, principalmente
para aquelas doenas que tm por causa os denominados comportamentos
individuais de risco: sedentarismo, alimentao inadequada, consumo de lcool e
tabaco, entre outros.
O autor questiona essa concepo do ponto de vista da percepo das
pessoas sobre a doena, o adoecimento e a sade, percepo essa que
influenciada pela posio social e pela cultura do grupo social de referncia dos
indivduos e que precisa ser considerada ao se tentar entender as dificuldades que
as pessoas tm em cuidar da sua prpria vida e de enfrentar o adoecimento
(STOTZ, 2007).
Na ltima dcada, com a perspectiva de reorientao do modelo de ateno
sade no Brasil, a abordagem preventivista deixou de ser exclusiva e a educao
em sade passou a incorporar um novo enfoque: o da escolha informada, que
enfatiza o indivduo, sua privacidade e dignidade em poder decidir sobre sua vida,
auxiliado pela informao tcnica qualificada (LEFVRE e LEFVRE, 2004;
STOTZ, 2007).
Esse enfoque prope o deslocamento do uso do conceito de educao para
o da informao. Educar, do latim educere, significa conduzir e, para LEFVRE e
LEFVRE (2004), isso que vem sendo feito no campo da sade: conduo, de
forma explcita ou disfarada, justificado por uma boa causa, como o combate
doena. Esses autores consideram que a proposta educativa do tipo conducente na
promoo de sade deva ser substituda por proposta informativa, pois as pessoas
no devem, e muitas no querem ser educadas, conduzidas, mas sim conduzir
suas vidas com a ajuda e dialogando com informaes tcnicas devidamente
decodificadas (LEFVRE e LEFVRE, 2004, p. 60).
A proposta est embasada nas ideias de tericos como Fortes, Labonte e
Freire. O primeiro desenvolve a concepo de processamento no normatizador
da informao, expresso que retrata uma condio de difuso de informao no
autoritria, para a qual no seria apropriado para a promoo de sade educar,
mas sim informar e dialogar com vistas tomada de deciso pela sociedade,
grupos ou indivduos (FORTES, 1998).
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26
O segundo, numa dimenso socializadora da promoo de sade,
considera que o empowerment (empoderamento) das populaes implica munici-
las de informaes significativas que sejam vistas, sentidas e utilizadas como
insumos para a tomada autnoma de deciso (LABONTE, 1998).
No terceiro, encontram-se elementos para enfatizar a importncia de uma
pedagogia no normativa e dialogal (FREIRE, 1972). Esta, ao propiciar
oportunidades de encontro e de troca entre o campo sanitrio e o do senso comum
e o fortalecimento deste, fortalece coletividades e indivduos para que possam
responder mais adequadamente aos determinantes do processo sade-doena
(LEFVRE e LEFVRE, 2004).
A perspectiva conceitual do empoderamento est associada proposta de
promoo de sade, pela qual a educao toma uma dimenso socializadora, ou
seja, ao municiar as pessoas com informaes significativas para elas, que possam
ser sentidas, vivenciadas e utilizadas por elas, as decises sero tomadas com mais
autonomia (LABONTE, 1998).
A viso da educao como meio para alcanar a promoo da sade
comum entre autores do campo da sade pblica. ALVES, 2005, por exemplo,
acata o conceito de Costa e Lopes, segundo os quais ela constitui um conjunto de
saberes e prticas orientados para a preveno de doenas e a promoo da sade
(Costa e Lopes, apud ALVES, 2005, p.43), e completa: trata-se de um recurso
por meio do qual o conhecimento cientificamente produzido (...) intermediado
pelos profissionais de sade, atinge a vida das pessoas (...) para adoo de novos
hbitos e condutas de sade (ALVES, 2005, p.43).
WEARE (2002) parte da viso da Organizao Mundial de Sade sobre os
princpios fundamentais da promoo da sade, ou seja, a democracia, a equidade
e a autonomia, para situar a educao em sade como elemento essencial para a
realizao dos mesmos. Como princpios ou valores, eles no so elementos
tcnicos, operacionais, no so alcanveis por si ss; ento, a educao em sade
esse elemento por que os princpios e objetivos da promoo da sade se
realizam.
No entanto, para CANDEIAS (1997), a qualidade das discusses tcnicas
sobre intervenes sociais em sade podem ser afetadas por confuses conceituais
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entre educao e promoo em sade. Ela assume as definies de Green e
Kreuter: educao em sade diz respeito a quaisquer combinaes de experincias
de aprendizagem delineadas com vistas a facilitar aes que conduzem sade;
promoo de sade definida como combinao de apoios educacionais e
ambientais que visam a atingir aes e condies de vida conducentes sade
(Green, Kreuter, apud CANDEIAS, 1997, p. 210). Ao significar alguns elementos
de ambas as definies, Candeias localiza uma maior complexidade e abrangncia
no conceito de promoo de sade e considera que, embora ambas guardem
objetivos comuns para contribuir com melhores nveis de sade, a educao em
sade, na prtica, constitui apenas parte das atividades tcnicas voltadas para a
sade, cabendo a ela especialmente a habilidade de organizar os componentes
educativos dos programas de sade. Nesse sentido, a educao em sade uma
atividade-meio (CANDEIAS, 1997).
Reconhecidas as diferenas conceituais entre os enfoques preventivista e
da escolha informada, cabe observar que ambos baseiam-se na responsabilidade
do indivduo sobre a ao e no entendimento de que a educao ou a informao
qualificada, respectivamente, podem influir decisivamente na deciso individual
ou coletiva sobre a sade. Para STOTZ, 2007, enfoques como estes acabam por
contribuir para inoperncia dos governos em resolver problemas cuja
determinao est na prpria estrutura social, pois a responsabilidade pela soluo
dos problemas de sade transferida para os indivduos.
Uma alternativa s perspectivas anteriores o enfoque radical que
considera como causas dos problemas de sade as condies e a estrutura social e,
portanto, a educao em sade orientada no sentido da transformao destas
condies, numa perspectiva de luta poltica pela sade (STOTZ, 2007). O Estado
chamado a intervir, por meio de medidas legislativas, normativa, fiscalizadora,
nas condies que produzem as doenas. Segundo essa concepo, a ao
interventora do Estado conduziria as pessoas a escolhas mais saudveis, o que do
ponto de vista do princpio orientador da ao educativa, aproxima-se do enfoque
preventivista pela nfase na persuaso (STOTZ, 2007).
Este enfoque, ao desconsiderar as diferenas individuais de percepo da
sade-doena, o sofrimento que uma deciso mesmo que mais saudvel possa
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causar pessoa, limita a autonomia delas sobre sua vida. Ademais, no resolve a
dicotomia indivduo x coletividade, medida que os problemas de sade so de
milhares de indivduos, singulares, e, ao mesmo tempo, coletivas.
Outro enfoque, tratado mais como uma reflexo do que como teoria, o da
educao popular. Trata-se de um movimento social de profissionais, tcnicos e
pesquisadores, engajados no dilogo entre o conhecimento tcnico-cientfico e o
originado das experincias e lutas da populao pela sade. Esta perspectiva
compartilha os princpios da educao popular proposta por Paulo Freire e apoia-
se na diversidade de experincias recolhidas e sistematizadas a partir de
problemas de sade especficos nos servios de sade, locais de moradia ou
trabalho. Como prtica pedaggica parte do saber popular anterior, saber este que
mesmo fragmentado e pouco elaborado a matria prima do processo
educativo; que reduz a passividade tradicional dos processos pedaggicos e a
verticalidade das prticas educativas tradicionais ou mesmo radicais
(VASCONCELOS, 2004).
A educao alimentar e nutricional, entendida como um campo da
educao em sade, comporta em sua concepo os mesmos referenciais da
educao em sade.
O conhecimento em nutrio pode gerar mudanas comportamentais
especficas e positivas nos hbitos alimentares, introduo de melhores prticas
higinicas e uso mais eficiente dos recursos alimentares, constituindo esses
objetivos da educao nutricional (ABREU e MARTINS, 1997).
Para BOOG (2004), a educao nutricional, assim como todos os
processos educativos inerentes ao ser humano, acontece no cotidiano social, ao
longo da existncia das pessoas, no esforo que elas fazem para responder aos
desafios cotidianos. Contudo, pode tambm se dar por intermdio de aes de
instruo e ensino planejadas por pessoas capacitadas para tal fim.
Assim como a educao em sade, a educao nutricional dispem de
inmeras abordagens pedaggicas, historicamente caracterizadas de acordo com o
movimento poltico-social vigente. No Brasil, segundo SANTOS (2005), uma
importante contribuio para a discusso sobre novas perspectivas da educao
alimentar e nutricional se consolidou em meados de 1980, com a educao
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nutricional crtica. Tal concepo determinava haver uma incapacidade da
educao alimentar e nutricional e, de forma isolada, promover alteraes em
prticas alimentares. A educao nutricional crtica baseava-se nos princpios da
pedagogia crtica dos contedos, de orientao marxista, considerando que a
educao nutricional no neutra e no pode seguir uma metodologia prefixada.
Nessa perspectiva, essa vertente da educao nutricional pressupunha assumir o
compromisso poltico de colocar nossa produo tcnica e cientfica a servio do
fortalecimento das classes populares em sua luta contra a explorao, que gera a
fome e a desnutrio problemas muito prevalentes no pas naquela poca.
No final da dcada seguinte, o termo "promoo de prticas alimentares
saudveis" comea a marcar presena nos documentos oficiais brasileiros
(SANTOS, 2005), reconhecendo-se a importncia da alimentao saudvel,
completa e variada para a preveno de doenas crnicas no transmissveis, cuja
prevalncia veio aumentando significativamente (BOOG, 1999). As interfaces
terico-conceituais entre educao em sade-educao nutricional-promoo de
sadepromoo de prticas alimentares saudveis so evidenciadas passam,
ento a ser presenciadas na literatura da rea.
Alm das diferentes abordagens ideolgico-conceituais que orientam as
prticas de sade e, consequentemente, as prticas educativas em sade, inmeras
formulaes tericas sob o aspecto didtico-pedaggico da educao em sade
encontram-se disponveis na literatura especializada. Em relao educao
nutricional, por exemplo, a literatura apresenta modelos relacionados a
conhecimento-atitude-prtica, motivao, aprendizado social, processamento de
informao para o consumidor, planejamento de comunicaes, ao social e
comunitria, difuso de informaes e modelos integrados. Todos apontam a
complexidade da mudana do comportamento alimentar, a interao dinmica
entre as variveis a ele relacionadas e a importncia de um processo planejado
sistematicamente, visando elaborao de intervenes (CERVATO et al. 2004).
O percurso terico realizado neste estudo foi o de tentar perceber o
processo educativo no mbito da Ateno Bsica Sade, relativamente
assistncia sade de pessoas com DM e HA, na perspectiva das diferentes
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abordagens tericas que o orientam, para que a sua reflexo e crtica contribusse
para a qualificao das prticas educativa em sade.
1.2 JUSTIFICATIVA
O atual perfil de morbimortalidade da populao brasileira, caracterizado
pela elevada prevalncia das DCNT, constitui condio que afeta expressivamente
a demanda pelos servios de sade. O impacto dessas doenas na sade pblica
pode ser minimizado com aes que promovam mudanas nos hbitos de vida, o
que, por si s, justifica os estudos que procuram entender e qualificar as aes
educativas promotoras dessas mudanas. Particularmente para o DM e a HA,
modificaes de alguns fatores de risco modificveis, como alimentao
inadequada, sedentarismo, tabagismo e etilismo, podem ser estimuladas no mbito
da Ateno Bsica Sade, minimizando sua progresso e complicao e
reduzindo a morbimortalidade por tais doenas.
No entanto, o que, primeira vista, parece simples constitui um dos
desafios do Sistema de Sade: promover estilos de vida mais saudveis significa
intervir na perspectiva da promoo da sade e, portanto, requer essencialmente a
reorientao do prprio modelo assistencial, que ainda se configura por uma
ateno centrada na doena e na sua cura, no saber e no fazer fragmentado, o
que leva desumanizao e a no integralidade das prticas assistncias de sade.
Na perspectiva da promoo da sade, as aes educativas tm sido uma
prtica inerente ao projeto assistencial em todos os nveis de ateno, sendo
orientada por diferentes possibilidades tericas e metodolgicas para promover a
emancipao e o empoderamento dos sujeitos para responder aos problemas de
sade.
Se a educao nutricional entendida como um dos elementos da
educao em sade, sua prtica tambm est vinculada orientao do modelo
assistencial; portanto, faz-se necessrio qualificar a interveno educativa para
transpor os obstculos do modelo hegemnico, construindo, com os sujeitos
envolvidos em seu pensar e em seu fazer, os elementos motivadores para as
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mudanas de atitudes em relao promoo de prticas alimentares saudveis e
adoo de condutas dietticas adequadas.
Constitui, ento, um desafio para os profissionais de sade a apropriao
de estratgias educacionais que concretamente possam auxiliar as pessoas, para
que, de forma autnoma e consciente, realizem escolhas que as conduzam a uma
vida mais saudvel e plena.
A despeito do reconhecimento do alcance da educao em sade/educao
nutricional como medida coletiva para a promoo de hbitos de vida e
alimentares saudveis, so pouco numerosas as experincias documentadas sobre
os programas e as atividades de educao nutricional no Brasil, principalmente as
desenvolvidas na rede bsica de sade, envolvendo usurios. Configura-se, assim,
o locus da Sade da Famlia como um campo frtil para os estudos dessa natureza.
Questes complexas, ainda ao nvel exploratrio, precisam ser
investigadas e respondidas, para que seja possvel subsidiar programas e polticas
sobre o carter terico-metodolgico e pedaggico das aes educativas. Nesse
contexto, o estudo contribui para a qualificao do processo e das prticas
educativas focalizados nas aes de educao nutricional e empreendidas no
mbito da Ateno Bsica Sade, particularmente na ateno sade de pessoas
com DM e/ou HA.
Como o estudo foi realizado com base na percepo/representao social
dos sujeitos envolvidos no processo de educao em sade: profissionais de sade
e usurios, num processo participativo e dialgico, seus resultados oferecem uma
compreenso das prticas educativas pelo prisma de quem as vivencia, o que
confere um carter de humanizao e de participao ao processo de qualificao
delas.
Qualificar aes de educao em sade na perspectiva da integralidade e
da participao social pode representar maior resolubilidade, eficcia e
legitimao de polticas e programas de promoo da sade em todos os nveis de
ateno, o que torna o estudo relevante para a sade pblica.
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2 OBJETIVOS
2.1 GERAL
Analisar o processo educativo com nfase na educao nutricional para
pessoas com DM e HA no mbito da Ateno Bsica Sade.
2.2 ESPECFICOS
Reconhecer os espaos, os sujeitos e os resultados das aes de educao
em sade, com nfase na educao nutricional, destinadas a pessoas com DM e/ou
HA, no mbito da Ateno Bsica Sade, mediante a representao social dos
profissionais de sade sobre essas aes.
Compreender, pela tica dos profissionais da Ateno Bsica Sade, as
dificuldades e os desafios da ao educativa para a promoo de prticas
alimentares saudveis e adequadas para pessoas com DM e/ou HA.
Caracterizar a percepo dos usurios-pacientes cadastrados e
acompanhados na Ateno Bsica Sade sobre as atividades educativas das
quais participam e sobre as dificuldades que encontram para aderir e dar
seguimento s orientaes que recebem para o controle de sua doena e promoo
de sua sade.
Qualificar as aes educativas para promover a alimentao saudvel e
adequada entre pessoas com DM e/ou HA, em atividade compartilhada com os
profissionais de sade da Ateno Bsica.
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2 MTODOS
3.1 CARACTERIZAO DA PESQUISA
Realizou-se um estudo de orientao analtico-descritiva e natureza
qualitativa, com profissionais de sade e usurios da ESF do municpio de
Vitria-ES.
3.2 O CENRIO DO ESTUDO
O estudo foi desenvolvido em uma das 20 unidades de sade de ESF do
municpio de Vitria-ES, considerada referncia no desenvolvimento de aes de
promoo de sade e na oferta de servios de acompanhamento e controle para
pessoas com DM e HA.
O municpio de Vitria est administrativamente organizado em termos da
Ateno Bsica Sade em seis regies territoriais, onde se distribui um total de
28 unidades bsicas de sade (UBS), dessas, 20 so de ESF com 72 equipes e
quatro de Programa de Agentes Comunitrios de Sade (PACS) com cinco
equipes, para uma populao de 297.489 habitantes (IBGE, 2010). Quanto aos
equipamentos de sade, o municpio conta ainda com 11 mdulos e uma unidade
mvel do Servio de Orientao ao Exerccio (SOE).
Complementam a rede ambulatorial e integram a Ateno Secundria do
municpio um Laboratrio Central (com posto de coletas em algumas unidades),
seis Centros de Referncia: o das Doenas No Transmissveis (DST/AIDS), o de
Sade do Trabalhador (CRST), o de Ateno ao Idoso (CRAI), o de Preveno e
Tratamento de Toxicmanos (CPTT), o de Ateno Psicossocial (CAPS) e o de
Controle de Zoonoses (CCZ); um Centro de Especialidades e uma Policlnica.
A Figura 1 ilustra uma viso espacial do municpio de Vitria, com as
delimitaes das Regies Administrativas de Sade e a Figura 2 a distribuio
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34
geogrfica dos equipamentos de sade do municpio. A UBS escolhida para o
estudo pertence regio de Marupe.
Figura 1 Regies Territoriais de Sade de Vitria-ES.
Extrado de: PMV/SEMUS - Seminrio Macrorregional em Sade da Populao Idosa,
2006.
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35
Figura 2 Equipamentos de Sade por Regio Territorial de Sade, Vitria-ES.
As equipes bsicas de ESF so integradas por um mdico generalista, um
enfermeiro, trs auxiliares de enfermagem e cinco a seis agentes comunitrios de
sade (ACS). Todas as UBS dispem, pelo menos, de um assistente social, um
psiclogo, uma equipe de sade bucal, formada por um cirurgio-dentista, um
auxiliar de cirurgio-dentista por equipe e um tcnico de higiene bucal, alm de
mdicos especialistas, na maioria pediatras e ginecologistas.
A rede da Ateno Bsica conta ainda com cerca de 80 orientadores fsicos
do SOE e atualmente com quatro nutricionistas que atuam diretamente nas aes
da Ateno Bsica Sade. Todavia, o municpio est implantando as equipes
matriciais de ESF para as quais est prevista a lotao de nutricionistas em todas
as Regies de Sade.
O municpio est integrado s diretrizes da Poltica Nacional de Ateno
Sade (PNAS) no que concerne vigilncia, preveno e ao controle das
DANT, e as informaes sobre elas, geradas na Ateno Bsica pelas equipes de
PACS/PSF, alimentam os bancos de dados do SISHiperdia e do Sistema de
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36
Informao da Ateno Bsica (SIAB). Alm disso, ele participa de Estudos
Multicntricos, como o de Vigilncia de Fatores de Risco e Proteo para
Doenas Crnicas por Inqurito Telefnico (VIGITEL) e o Estudo Longitudinal
de Sade do Adulto (ELSA), que tambm geram informaes sobre DCNT no
municpio.
Segundo os dados de setembro de 2007, consolidados pelo municpio e
disponveis no DATASUS/SIAB, naquele ano foram cadastrados, em Vitria,
3.378 diabticos (dos quais 2.622 acompanhados) e 14.333 hipertensos (dos quais
11.284 acompanhados). Deste total mais de 80% eram usurios cadastrados e
assistidos pelas equipes de ESF (MINISTRIO, 2007). Essa data corresponde ao
momento em que o delineamento desta pesquisa foi realizado, por isso foi
mantida como referncia, sem atualizao.
As aes de educao em sade so coordenadas em nvel central pela
Gerncia de Educao em Sade (GES) e desenvolvidas, nas microrregies de
sade, pelas equipes de PACS/PSF principalmente.
3.2.1 A Escolha da UBS do Estudo
A definio da UBS do estudo foi realizada por meio de entrevistas com
informantes-chave da Secretaria Municipal de Sade, a saber: gestores e
coordenadores de equipes de ESF de seis diferentes UBS, bem como as
referncias tcnicas das coordenaes da Ateno Bsica, da Vigilncia das
Doenas e Agravos no Transmissveis, do Controle e Avaliao, do
Desenvolvimento de Recursos Humanos e da Educao Permanente, alm do
secretrio e da vice-secretria de sade do municpio.
Os critrios de seleo foram estes: ser uma UBS de ESF, referncia no
desenvolvimento de aes de promoo de sade e na oferta de servios de
acompanhamento e controle para pessoas com DM e HA, preferencialmente
localizada em territrio com extratos sociais variados, cujo gestor e coordenadores
das equipes de ESF demonstrassem receptividade proposta do estudo.
A UBS elegida para o estudo foi a Unidade de Sade da Famlia (USF) do
territrio de Marupe, localizada na regio administrativa de mesmo nome.
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A regio administrativa de Marupe a segunda mais populosa do
municpio, perdendo apenas para a regio Continental. Compreende um conjunto
de 12 bairros (unidades censitrias ou territrios), numa rea aproximada de
5.671.517m2, e uma populao estimada de 53.312 habitantes. A ocupao
territorial da regio uma das mais antigas da cidade de Vitria. Nela esto o
Hospital Universitrio da Universidade Federal do Esprito Santo (UFES) e o
maior parque-horto do municpio.
Os indicadores sociodemogrficos colocam Marupe entre as trs regies
mais pobres de Vitria, mas com heterogeneidade entre seus territrios. Dos
14.512 domiclios, 99,5%, 94,2% e 99,5% so atendidos por abastecimento de
gua tratada, tratamento de esgoto e coleta de lixo, respectivamente. No entanto,
possui o terceiro menor rendimento mdio entre as regies do municpio (R$
1.202,00, valor corrigido pelo INPC em setembro de 2008), com 44,3% da
populao vivendo com dois salrios mnimos, bem como a terceira menor
escolaridade (mdia de 6,76 anos de estudo).
Em relao aos equipamentos pblicos sade, educao e assistncia
social, a regio de Marupe conta com seis UBS; um mdulo do SOE; duas
academias populares, uma exclusiva para idosos; trs Centros de Referncia de
Assistncia Social (CRAS) e quatro Projetos Caminhando Juntos (CAJUN). A
rede de educao composta de 10 Centros Municipais de Ensino Infantil
(CEMEIs), uma creche de horrio integral; 12 Escolas Municipais de Ensino
Fundamental (EMEFs) e 18 Laboratrios de Informtica.
Os dados demogrficos e socioeconmicos apresentados so do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE) - CENSO 2002, com ajustes
realizados pela Gerncia de Informao Municipal da Secretaria de Gesto
Estratgica da Prefeitura de Vitria em 2003 (PREFEITURA DE VITRIA,
2011).
3.2.1.1 A USF do territrio de Marupe
a maior e mais complexa das seis USF da macrorregio administrativa
de Marupe. Sua rea de abrangncia integra a populao de sete bairros (So
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Cristvo, Marupe, Santa Ceclia, Tabuazeiro, Bairro de Lourdes, Santos Dumont
e Engenharia), com 23 mil habitantes, que corresponde a 35% da populao total
da regio administrativa aproximadamente. Assim como a macrorregio, o
territrio de abrangncia dessa UBS caracteriza-se pela heterogeneidade entre
seus bairros: por exemplo, Tabuazeiro apresenta a maior taxa de analfabetismo
(5,6%) e o menor ndice de qualidade urbana (0,5), enquanto Santa Ceclia o
bairro com menor taxa de analfabetismo (1,5%) e o ndice de qualidade urbana
de 0,75.
Percebe-se um grande nmero de famlias em vulnerabilidade social (600
famlias cadastradas no Programa Bolsa Famlia) e os problemas de sade so
indissociveis desse quadro: idosos em situao de fragilidade social, transtorno
mental, violncia domstica, uso e trfico de drogas.
Entre as doenas e agravos mais relatados e assistidos pela US esto as do
aparelho circulatrio e as endocrinometablicas, com relevncia para a HA e o
DM respectivamente, as do aparelho digestivo (sade bucal/crie dentria) , os
cuidados ps-operatrios de cncer, a violncia influenciada pelo trfico, alm dos
agravos sazonais: dengue e as infeces de vias areas inferiores.
A unidade atende a um total de 4.720 famlias, no horrio de 07:00 s
22:00 horas, com atividades de acolhimento do usurio, preveno com educao
em sade, busca ativa, tratamento e acompanhamento ambulatorial. Atende a
consultas eletivas (pr-agendadas) e demanda espontnea, de acordo com sua
capacidade e segundo avaliao da necessidade do usurio. Oferta diversificados
servios e realiza diferentes atividades de sade pblica: curativos; marcao e
coleta e entrega de exames laboratoriais; verificao de presso arterial;
eletrocardiograma; vacinao; farmcia; agendamento de especialidades;
atendimento odontolgico; consultas mdicas, de enfermagem, psicologia, servio
social e educao fsica; servio de profilaxia da raiva; coleta de material
biolgico para anlise de influenza sazonal (unidade sentinela).
Desenvolve, tambm, atividades dos Programas de Tuberculose,
Hansenase, Grupo de Apoio Teraputico ao Tabagismo (GATT), Projeto Peso
(apoio a atividades fsicas a pessoas acima do peso), Programa Sorria Vitria
(atendimento odontolgico das crianas em idade escolar matriculadas nas
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instituies pblicas do municpio) e realiza vigilncia sade (ambiental,
sanitria e epidemiolgica) e matriciamento em sade mental, sade do idoso e
ginecoobstetrcia. Os principais projetos intersetoriais em que a unidade est
envolvida so o de Ateno Vtimas de Violncia (crianas s adolescente), o
Programa Sade na Escola e o Programa Bolsa Famlia.
No territrio de abrangncia da USF de Marupe localizam-se os seguintes
equipamentos pblicos de interface com a sade pblica: um CRAS; um CAJUN;
um Centro de Vivncia para terceira idade; trs CEMEIs; quatro EMEFs; um
Parque Municipal, o Campus Biomdico da UFES; um Hemocentro; a Delegacia
de Proteo ao Menor em Conflito com a Lei e o Destacamento de Policia Militar.
No seu entorno esto ainda: o Horto de Marupe, academia popular, mdulo do
SOE, Quartel do Comando da Polcia Militar; Bancos, unidade escolar e
recreativa do Servio Social da Indstria (SESI), organizaes sociais e
comunitrias diversas (abrigos, associaes de moradores e igrejas).
So espaos coletivos de discusso a reunio geral da unidade, o
Colegiado Gestor e o Conselho Local de Sade, este ltimo com atribuies
deliberativas e de fiscalizao das aes de sade do territrio.
O planejamento das atividades da ESF realizado por cada uma das sete
equipes composta por: um mdico; um enfermeiro; dois ou trs auxiliares de
enfermagem; cinco a seis agentes comunitrios de sade; um atendente de
consultrio odontolgico e um odontlogo para cada duas equipes.
A fonte de dados sociodemogrficos referente ao territrio da USF do
estudo o IBGE - CENSO 2002, com ajustes realizados pela Gerncia de
Informao Municipal da Secretaria de Gesto Estratgica da Prefeitura de Vitria
em 2003 (PREFEITURA DE VITRIA, 2011) e os dados de servio foram
cedidos pela coordenao da USF do territrio de Marupe.
3.3 A POPULAO E OS SUJEITOS
A populao do estudo foi composta por:
Profissionais de sade universitrios, tcnicos ou auxiliares da UBS
de ESF selecionada para o estudo, que atenderam aos seguintes
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critrios de incluso: ser profissional de sade da UBS de estudo
h, pelo menos, seis meses; participar nas aes de promoo de
sade, preveno e controle do DM e HA realizadas pelas equipes
de ESF; estar sensibilizado para a participao no estudo.
Usurios do Sistema Municipal de Sade, diabticos e/ou
hipertensos de ambos os sexos, cadastrados no SISHiperdia e/ou no
SIAB no municpio de Vitria-ES, e acompanhados pelas equipes
de ESF da US selecionada para o estudo, que atenderam aos
critrios de incluso: ter idade entre 30 e 80 anos; ser portador de
DM e/ou HA, acompanhado h, pelo menos, seis meses,
anteriormente data da entrevista; ser assduo nas aes realizadas
pelas equipes de ESF; no ter complicaes que o impedissem de
participar do estudo, respondendo entrevista; manifestar
consentimento livre e ser esclarecido em participar do estudo.
3.3.1 A escolha dos sujeitos
A escolha dos sujeitos da pesquisa, profissionais de sade ou usurios, foi
do tipo no aleatrio e intencional (FONTANELLA et al., 2008; MINAYO,
1993).
Para os primeiros, em reunio com o gestor da unidade e coordenadores
das equipes de ESF, em que os objetivos e a metodologia do estudo foram
apresentados e discutidos, solicitou-se que cada coordenador das sete equipes de
ESF indicasse o nome de profissionais que atuassem naquela unidade, pelo
menos, a seis meses do incio do estudo em aes especialmente relacionadas ao
acompanhamento de pessoas com DM e HA. Essa indicao resultou em uma lista
de 30 nomes, composta por trs a quatro profissionais de cada equipe e por trs
profissionais da UBS no vinculados estritamente s equipes de ESF, mas com
aes articuladas a elas.
Para a definio dos usurios, solicitou-se aos integrantes de cada uma das
sete equipes de ESF que indicassem de quatro a cinco pessoas acompanhadas por
sua equipe e que atendessem aos critrios de incluso citados anteriormente.
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O carter intencional dessa seleo foi no sentido de garantir que o usurio
selecionado fosse pessoa que frequentasse as atividades educativas promovidas
pela UBS para que, assim, pudesse expressar sua opinio sobre elas.
A participao voluntria de cada participante da pesquisa foi precedida de
convite individual mediante apresentao e esclarecimentos sobre o carter, os
objetivos e procedimentos metodolgicos da pesquisa e sobre a garantia do
anonimato e o sigilo das informaes. A concordncia em participar foi registrada
mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo 1),
conforme estabelecido na Resoluo CONEP 196/96 e suas complementares.
Aceitaram participar do estudo 27 profissionais de sade, dos quais sete
enfermeiros, trs mdicos, um educador fsico, 14 agentes de sade e dois
auxiliares de enfermagem, e 25 usurios.
3.4 AS ETAPAS DE CAMPO E A COLETA DOS DEPOIMENTOS
O estudo foi realizado em trs etapas, a saber:
3.4.1 Primeira etapa: Identificao das estratgias de interveno educativa,
implementadas no mbito da ESF, para pessoas com DM e HA, na
percepo dos profissionais de sade.
Os dados desta etapa foram coletados no perodo de fevereiro a setembro
de 2009, aps o pr-teste da tcnica e do instrumento, por meio de entrevistas
semiestruturadas, abertas (PATTON, 2002; FONTANA e FREY, 2000). Utilizou-
se um roteiro composto de questes que abordavam a percepo dos sujeitos
sobre: 1) aes de carter educativo realizadas na UBS, com o objetivo de
capacitar pessoas com DM e/ou HA para os cuidados com a sua sade e
alimentao; 2) profissionais envolvidos nessas aes; 3) contribuio,
resolutividade, eficcia destas para mudanas relativas s prticas conducentes
sade, principalmente s alimentares; 4) dificuldades percebidas para a realizao
das aes educativas e para a adeso ou continuao dos diabticos e/ou
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hipertensos s orientaes para o controle de sua doena e a promoo de sua
sade, principalmente aquelas relacionadas alimentao e nutrio.
As entrevistas foram previamente agendadas com cada participante e
geralmente realizadas em um consultrio ou no auditrio da US, com durao de
quinze a trinta minutos.
Mediante autorizao do entrevistado, o depoimento foi registrado em
gravador digital para sua transcrio literal posterior.
3.4.2 Segunda etapa: Identificao das estratgias de interveno educativa,
implementadas no mbito da ESF, para pessoas com DM e HA, na
percepo dos usurios.
De forma similar dos profissionais de sade, ou seja, por meio de
entrevistas semiestruturadas abertas, coletaram-se os depoimentos dos usurios.
Para essa coleta, utilizou-se um roteiro composto por questes que tratavam da
percepo desses sujeitos, a saber: 1) como realizado o acompanhamento das
pessoas com diabetes e/ou hipertenso e de quais atividades participam e recebem
orientaes sobre sua sade e alimentao; 2) profissionais que geralmente
realizam esse acompanhamento e as orientaes; 3) mudanas que ocorreram em
suas vidas e em sua alimentao aps a participao no acompanhamento; 4)
dificuldades percebidas para seguir as orientaes para mudanas de hbitos de
vida, especialmente alimentares.
Essa fase ocorreu no perodo de janeiro a agosto de 2010. As entrevistas
foram agendadas pelos ACS e realizadas na residncia do entrevistado ou, quando
mais conveniente para a pessoa, em um consultrio ou no auditrio da UBS,
aproveitando um dia de comparecimento para a consulta mdica.
Os instrumentos e a tcnica da entrevista passaram por pr-teste com
populao similar do estudo, porm em UBS de outro municpio. As entrevistas
foram realizadas individualmente por um nico entrevistador e, quando
autorizadas pelo entrevistado, registradas em gravador digital para posterior
transcrio literal. Variou de 10min a 30min a durao das entrevistas.
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3.4.3 Terceira etapa: Qualificao das estratgias de interveno nutricional
educativa
Nesta etapa, foram realizados debates com os profissionais de sade
participantes do estudo. A eles foram apresentados os resultados da primeira etapa
da pesquisa relativamente s ideias centrais por eles formuladas sobre espaos,
sujeitos, resolubilidade, eficcia e limites das aes educativas, para que, num
novo dilogo, suas concepes fossem reelaboradas e novos elementos surgissem
para o processo de qualificao das prticas educativas.
Os debates foram realizados em trs reunies, no auditrio da UBS de
estudo em dezembro de 2010 e janeiro de 2011.
Os profissionais de sade que participaram da primeira etapa do estudo
foram preliminarmente distribudos em trs grupos de sete a dez integrantes e
convidados a participar das reunies.
Nessas reunies, adotou-se a tcnica de grupo focal como um recurso
metodolgico que permitisse compreender o processo de construo de
percepes, atitudes e representaes sociais de grupos humanos (Veiga e
Gondim, apud GONDIM, 2003, p.151). Trata-se de uma tcnica de pesquisa de
abordagem qualitativa, no diretiva, em que se pretende o controle da discusso
de um grupo de pessoas. Sua aplicao permite a coleta de dados por meio de
interaes grupais ao discutir um tema especial sugerido pelo pesquisador
(TANAKA e MELO, 2001; MORGAN, 1997).
A tcnica foi conduzida por um pesquisador facilitador e trs
pesquisadores auxiliares, e cada reunio teve durao de duas horas.
Para a consecuo do debate, utilizou-se um roteiro com os seguintes
passos: 1) apresentao dos objetivos do grupo, da forma como conduzi-lo, da
durao e do tema central de discusso; 2) apresentao por meio de recurso de
multimdia, de resultados parciais da primeira etapa do estudo (IC processadas
com base nos depoimentos dos profissionais de sade sobre resultados, eficcia,
dificuldades e limites das aes educativas para a capacitao de pessoas com DM
e HA); 3) apresentao da questo foco: como vocs acham que podemos driblar
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as dificuldades e os limites percebidos e tornar as aes educativas mais
resolutivas e eficazes? 4) debate.
Mediante a concordncia dos presentes, o debate foi registrado em dois
gravadores, um eletrnico e outro digital. Aspectos importantes da discusso e
intercorrncias durante a realizao dos grupos foram registrados parte, por
escrito, por um dos pesquisadores auxiliares.
3.5 A ORGANIZAO DOS DADOS E O PROCESSAMENTO DOS
DISCURSOS
3.5.1. Os dados das entrevistas com profissionais e usurios
Para a transcrio e primeira editorao das entrevistas realizadas na
primeira e segunda etapas do estudo, foram tomados alguns cuidados referentes
fidelidade do que foi afirmado e ao anonimato delas, como a manuteno das
palavras repetidas e dos vcios de linguagem e a omisso dos nomes prprios dos
sujeitos. Sempre que possvel, optou-se por fazer o registro ortograficamente
correto das falas, exceto para as situaes que fugiam ao lxico da lngua-padro
ou suprimiam slabas e/ou fonemas iniciais e finais das palavras, conforme
recomendado por ARAUJO (2001) para a transcrio e editorao de entrevistas
em pesquisa de abordagem qualitativa.
Os depoimentos orais resultantes das entrevistas, aps transcrio,
passaram por leitura flutuante, uma das etapas preliminares do processo de anlise
do material emprico na pesquisa qualitativa, quando, num contato mais prximo
com o material de anlise, o pesquisador se permite invadir pelas primeiras
impresses e orientaes (BARDIN, 1977). A leitura flutuante permitiu delimitar
as respostas para cada uma das questes formuladas, independentemente do
momento exato em que os pensamentos e as percepes dos sujeitos foram
expressos durante a entrevista. Isso porque, quando essas so do tipo aberto, do
margem a manifestaes e sentimentos menos organizados, o que requer um
esforo de organizao dos dados discursivos, preliminar ao processamento e
anlise deles.
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Os depoimentos foram, ento, tabulados e organizados segundo a tcnica
de anlise do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC), que consiste em uma sequncia
de operaes metodologicamente definidas: 1) seleo de expresses-chave
(ECH) de cada depoimento ou resposta dada a uma questo; 2) identificao da
ideia central (IC) de cada uma dessas expresses-chave; 3) reunio das ECH,
referente s ideias centrais semelhantes ou complementares, resulta em um
conjunto nuclear do discurso ou discurso-sntese, redigido na primeira pessoa do
discurso, que o prprio DSC (SALES et al., 2007; LEFVRE e LEFVRE,
2003).
A escolha do DSC como recurso metodolgico se deve propriedade
dessa tcnica. Ao reunir fragmentos de discursos individuais em um ou mais
discursos-sntese, proferidos por um grupo social (profissionais de sade ou
usurios), propicia a expresso de pensamentos, percepes ou representaes
sociais sobre o objeto do estudo (aes educativas na Ateno Bsica Sade) de
forma mais densa, complexa e enriquecida. Assim, requer a pesquisa de base
qualitativa, que tem nos depoimentos a matria-prima para a descrio e a
tentativa de compreender fenmenos sociais complexos. Com o DSC, evita-se
reduzir os discursos individuais a uma categoria comum unificadora; ao contrrio,
realam-se as expresses individuais quando o contedo dos depoimentos
reunido em ideias centrais de sentidos semelhantes ou complementares e estas so
usadas para reconstruir o discurso de uma coletividade. Redigido na primeira
pessoa do singular, o DSC produz no leitor o efeito no de um sujeito, mas de
uma coletividade falando, o que acrescenta densidade semntica s
representaes sociais, pois ideia de um depoente so acrescidas e incorporadas
ideias semelhantes ou complementares de outros (LEFVRE et al., 2009;
TEIXEIRA e LEFVRE, 2008; LEFVRE et al., 2003).
Para a anlise e discusso do material discursivo, recorreu-se a leituras
bibliogrficas, norteadas pelas possibilidades de anlise e interpretao de textos
(SEVERINO, 1996), recorrendo-se literatura cientfica de estrutura conceitual
abrangente, como encontrado no campo da sociologia do conhecimento e no das
cincias sociais aplicadas sade coletiva.
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3.5.2 Os depoimentos nos grupos focais
As falas da discusso dos grupos focais foram ouvidas repetidas vezes para
que se procedesse ao registro dos fragmentos de discurso que fossem mais
relevantes e respondessem ao tema central da discusso.
Esses fragmentos de discurso foram ento agrupados segundo as seguintes
categorias de anlise sobre: 1) o fortalecimento das aes educativas no plano
teraputico de pessoas com DM e HA; 2) as prticas prescritivas e as dietas
restritivas; 3) o espao de planejamento das aes educativas; 4) a ausncia de
profissionais especialistas para apoiar as aes e educao alimentar; 5) a falta de
espao fsico para realizao das aes.
Para analisar os resultados, utilizou-se como recurso o destaque de
tendncias e as conexes entre as falas (TANAKA e MELO, 2001) resultantes dos
grupos focais e as falas resultantes das entrevistas semiestruturadas da primeira
etapa da pesquisa.
Neste estudo a proposta de qualificao tem o sentido de indicar e
reelaborar as qualidades do objeto do estudo, ou seja, o processo de educao em
sade com foco na educao nutricional, na perspectiva de que os sujeitos
envolvidos nesse processo podem faz-lo com mais propriedade. Ao pesquisador
cabe, nesse caso, de forma pretensiosa, mas respaldada em referencial terico-
metodolgico das cincias sociais aplicado Sade Pblica, tentar compreender e
significar os pensamentos, sentimentos e representaes desses sujeitos.
3.6 CONSIDERAES TICAS
Este estudo est em consonncia com o estabelecido na Resoluo CONEP
196/96 e suas complementares. A participao na pesquisa foi condicionada
expressa autorizao dos sujeitos no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(Anexo I). A coleta de dados s teve incio aps a aprovao do estudo pelo
Comit de tica na Pesquisa da Universidade de So Paulo-USP.
A pesquisa no ofereceu riscos sade dos participantes. As entrevistas
incluram questes relacionadas a opinies, sentimentos, percepes dos
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profissionais de sade e usurios sobre o objeto do estudo, e, por isso, todas as
medidas foram tomadas para deix-los confortveis na participao, preservando
o princpio da participao voluntria. Todas as informaes foram confidenciais,
sem identificao pessoal, garantindo-se o anonimato e o sigilo das respostas s
entrevistas.
A realizao do estudo foi precedida do contato com a Secretaria de Sade
e com as coordenaes e gerncias envolvidas: Gerncia de Ateno Bsica
Sade; Gerncia de Educao em Sade; Gerncia de Recursos Humanos;
Gerncia da UBS (a selecionada), para apresentao dos objetivos e
procedimentos metodolgicos do estudo.
O pesquisador visitou a UBS selecionada em datas e horrios previamente
agendados e apresentou, em reunies com as equipes de ESF e demais
profissionais de sade envolvidos, todos os esclarecimentos necessrios sobre a
relevncia do estudo, sua finalidade, planejamento, etapas, entre outros. A mesma
exposio de motivo e os esclarecimentos foram prestados inicialmente aos
usurios selecionados para a participao.
As atividades em grupo com profissionais de sade foram realizadas nas
dependncias das unidades de sade, em ambientes, horrios e condies que
ofereceram conforto e segurana. Em nenhuma circunstncia, foi conferido nus
material ou financeiro aos participantes.
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4 RESULTADOS E DISCUSSO
Os resultados e a discusso da primeira e da segunda etapa da pesquisa so
apresentados e discutidos em trs manuscritos, apresentados no formato prvio
para posterior submisso em peridico cientfico.
Manuscrito 1: Ao educativa para pessoas com diabetes mellitus e
hipertenso arterial: reflexes sobre a educao em sade na Estratgia
de Sade da Famlia.
Manuscrito 2: Dificuldades e desafios da ao educativa com foco na
educao nutricional de pessoas com diabetes mellitus e hipertenso
arterial: a viso dos profissionais da Estratgia de Sade da Famlia.
Manuscrito 3: Ao educ