acanthita – ag 2 s · sulcos nem filmes superficiais, o que é quase impossível de conseguir....

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ACANTHITA – Ag2S A acanthita é um sulfeto mais raro, mas é o mais importante minério de prata depois de galena argentífera. Acanthita é típica de veios hidrotermais. Acanthita e argentita são polimorfos. Sulfeto de prata pode se formar a mais de 177ºC (literatura diverge: 173ºC, 179ºC, 180ºC) com estrutura cúbica ou abaixo desta temperatura com estrutura monoclínica. O mineral com estrutura cúbica chama-se argentita, não tem seu nome aprovado pela IMA e não existe a temperatura ambiente. O mineral com estrutura monoclínica é a acanthita. Se o mineral formou-se a altas temperaturas, exibe formas cúbicas (cubos e octaedros com até 8 cm de tamanho), distorcidas devido à transformação do retículo de cúbico para monoclínico, mas possui estrutura monoclínica e é um pseudomorfo. Se o mineral formou-se a baixas temperaturas (T<177ºC), exibe cristais monoclínicos prismáticos longos, com até 2,5 cm de comprimento. Pode ser confundida, macroscopicamente, com muitos minerais pretos de brilho metálico a submetálico, especialmente quando maciça ou em grãos pequenos intercrescidos com outros minerais. 1. Características: Sistema Cristalino Cor Hábitos Clivagem Monoclínico prismático, Cinza escuro a quase preto. Cristais pseudo-cúbicos ou pseudo-octaédricos, paramorfos de argentita. Dendrites e placas. {100} distinta {110} distinta Tenacidade Flexível, séctil. Maclas Fratura Dureza Mohs Partição Polisintéticas em {111}. De contato em {101} Sub-conchoidal. 2 – 2,5. não Traço Brilho Diafaneidade Densidade (g/cm 3 ) Preto e brilhante Metálico Opaco. 7,2 – 7,4. 2. Geologia e depósitos: Acanthita é um mineral de veios hidrotermais de moderadamente baixa temperatura, contendo sulfetos, em ambientes epitermais. Também ocorre em ambientes de enriquecimento secundário, nas zonas de oxidação e de cimentação. É um mineral comum em minérios de prata. 3. Associações Minerais: Associa-se a minerais de ganga comuns, como quartzo, calcedônia, calcita, rhodocrosita, barita e fluorita. A alguns sulfetos comuns como pirita, calcopirita, galena, esfalerita e tetraedrita-tennantita. A outros minerais de Ag como prata nativa, stephanita, argyrodita, proustita, pyrargirita, polybasita e aguilarita. Também ocorre com minérios de Co-Ni, bornita, calcocita, covellita, electrum, ouro nativo, alabandita, minerais de U e de Bi e muitos outros minerais. 4. MICROSCOPIA DE LUZ TRANSMITIDA: não se aplica, pois a acanthita é completamente opaca.

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Page 1: ACANTHITA – Ag 2 S · sulcos nem filmes superficiais, o que é quase impossível de conseguir. Pode simular isotropia. Seções com muitos sulcos são inúteis devido às despolarizações

ACANTHITA – Ag2S A acanthita é um sulfeto mais raro, mas é o mais importante minério de prata depois de galena argentífera. Acanthita é típica de veios hidrotermais.

Acanthita e argentita são polimorfos. Sulfeto de prata pode se formar a mais de 177ºC (literatura diverge: 173ºC, 179ºC, 180ºC) com estrutura cúbica ou abaixo desta temperatura com estrutura monoclínica. O mineral com estrutura cúbica chama-se argentita, não tem seu nome aprovado pela IMA e não existe a temperatura ambiente. O mineral com estrutura monoclínica é a acanthita. Se o mineral formou-se a altas temperaturas, exibe formas cúbicas (cubos e octaedros com até 8 cm de tamanho), distorcidas devido à transformação do retículo de cúbico para monoclínico, mas possui estrutura monoclínica e é um pseudomorfo. Se o mineral formou-se a baixas temperaturas (T<177ºC), exibe cristais monoclínicos prismáticos longos, com até 2,5 cm de comprimento.

Pode ser confundida, macroscopicamente, com muitos minerais pretos de brilho metálico a submetálico, especialmente quando maciça ou em grãos pequenos intercrescidos com outros minerais.

1. Características: Sistema Cristalino Cor Hábitos Clivagem

Monoclínico prismático,

Cinza escuro a quase preto.

Cristais pseudo-cúbicos ou pseudo-octaédricos, paramorfos de argentita.

Dendrites e placas.

{100} distinta {110} distinta

Tenacidade

Flexível, séctil.

Maclas Fratura Dureza Mohs Partição Polisintéticas em

{111}. De contato em {101}

Sub-conchoidal. 2 – 2,5. não

Traço Brilho Diafaneidade Densidade (g/cm3)

Preto e brilhante Metálico Opaco. 7,2 – 7,4.

2. Geologia e depósitos:

Acanthita é um mineral de veios hidrotermais de moderadamente baixa temperatura, contendo sulfetos, em ambientes epitermais.

Também ocorre em ambientes de enriquecimento secundário, nas zonas de oxidação e de cimentação. É um mineral comum em minérios de prata.

3. Associações Minerais:

Associa-se a minerais de ganga comuns, como quartzo, calcedônia, calcita, rhodocrosita, barita e fluorita.

A alguns sulfetos comuns como pirita, calcopirita, galena, esfalerita e tetraedrita-tennantita.

A outros minerais de Ag como prata nativa, stephanita, argyrodita, proustita, pyrargirita, polybasita e aguilarita.

Também ocorre com minérios de Co-Ni, bornita, calcocita, covellita, electrum, ouro nativo, alabandita, minerais de U e de Bi e muitos outros minerais.

4. MICROSCOPIA DE LUZ TRANSMITIDA: não se aplica, pois a acanthita é completamente opaca.

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5. MICROSCOPIA DE LUZ REFLETIDA:

Preparação da amostra: a dureza de polimento da acanthita é uma das mais baixas que se conhece; por isso é de polimento muito difícil. A dureza é mais baixa que as durezas de galena e de prata nativa. Sua dureza é aproximadamente a mesma da jalpaita. Quando acompanhada apenas de minerais de dureza mais baixa, como calcita, um polimento cuidadoso produz superficiais polidas de boa qualidade. Quando acompanhada de minerais de dureza mais elevada é quase impossível produzir uma seção polida de boa qualidade. Essa dificuldade de polimento é um aspecto muito diagnóstico; apenas jalpaita é tão mole. Polimento vigoroso pode produzir na acanthita filmes superficiais que cobrem e mascaram todas as estruturas do mineral.

ND Cor de reflexão: Cinza claro ou branco acinzentado.

Ao lado de minerais brancos um tom esverdeado pode estar bem definido.

Ao lado de galena e prata nativa pode mostrar uma tonalidade azulada.

Comparada com a cor da galena, a cor da acanthita é muito mais escura e de cor cinza esverdeada.

Comparada com a cor de certas seções de polybasita, a cor da acanthita é quase igual.

Comparada com a cor da prata nativa, a cor da acanthita é distintamente verde, pode haver tons azulados.

Pleocroísmo: Seu pleocroísmo apenas é visível com imersão em óleo, em seções favoráveis, apenas no contraste em limites intergranulares e lamelas de macla, mas fica mais nítido em seções que repousaram alguns dias, devido à incipiente corrosão ao ar.

Refletividade: 29,59%. Birreflectância: Não.

NC Isotropia / Anisotropia: Fraca anisotropia, apenas visível em seções com bom polimento, sem sulcos nem filmes superficiais, o que é quase impossível de conseguir.

Pode simular isotropia.

Seções com muitos sulcos são inúteis devido às despolarizações ao longo dos sulcos. Pode mostrar a estrutura lamelar da acanthita-beta, bem como grande número de sulcos de polimento que não são visíveis a ND.

Reflexões internas: Não.

Pode ser confundida com: Jalpaita é muito semelhante em grãos pequenos, mas é mais dura e tem tons rosados.

Stromeyerita não é atacada pela luz.

Polybasita possui reflexões internas.

Forma dos grãos: a acanthtita ocorre como cristais idiomórficos ou como agregados de grãos poligonais ou intercrescidos (“toothed”). Os cristais isolados mostram as faces do cubo ou do octaedro. O tamanho de grão varia de cristais centimétricos até grãos submicroscópicos (criptocristalinos) de algumas massas chamadas de “Silberschwärze” (= preto de prata). Pode formar coberturas de grãos muito pequenos ou massas friáveis esponjosas.

Sulcos de polimento, em função da baixa dureza, são quase inevitáveis, muito difíceis de eliminar.

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Relevo negativo é muito frequente, apenas não ocorre se a acanthita ocorre com outros minerais muito macios.

Corrosão ao ar devido ao aquecimento da lâmpada do microscópio é tão rápida que perturba a análise, mas pode ressaltar estruturas que de outra forma não são visíveis. Além disso, a corrosão ao ar serve como característica muito diagnóstica, pois ocorre com apenas poucos minerais.

Clivagem pode ser observada às vezes em cristais especialmente grandes, mas geralmente é pouco perceptível devido à maleabilidade do mineral.

Maclas polisintéticas são comuns, formando lamelas de textura grosseira (“acanthita lamelar”). Essas lamelas são lamelas de transformação de argentita para acanthita, mostrando que sua formação ocorreu acima de 177ºC. Grãos sem maclas ocorrem, mostrando que sua formação abaixo dessa temperatura é possível. Devido à dificuldade de produzir um ataque químico na acanthita e devido à fraca anisotropia as maclas podem ser de visualização difícil.

Zonação pode ocorrer, sendo visível em graus distintos de nitidez devido ao ataque por luz (“corrosão ao ar”).

Deformações por translação são frequentes devido à maleabilidade da acanthita.

Desmisturas são muito raras na acanthita, mas acanthita ocorre como desmistura na galena.

Inclusões de acanthita em pirita, esfalerita, galena e tetraedrita podem ocorrer.

Pseudomorfos de acanthita sobre argentita são comuns, apenas não estarão presentes nas acanthitas formadas a baixas (< 177ºC) temperaturas.

Substituições 1: a acanthita pode substituir galena, esfalerita, pirita, calcopirita, covellita, uraninita e muitos minerais de Ag; restos destes minerais podem ser encontrados dentro da acanthita. Frequentes e economicamente importantes foram as substituições das zonas de oxidação e da zona de cimentação, onde a acanthita se forma a partir de minérios de teores mais baixos de prata, depositando-se sobre os restos desses. Deposições rítmicas foram observadas em minérios da zona de oxidação e da zona de cimentação, como massas concêntricas de cerussita e outros minerais de chumbo de zonas de oxidação.

Substituições 2: a acanthita pode ser substituída, iniciando por veios, por calcopirita, covellita, digenita, electrum e ouro.

Intercrescimentos, mirmequíticos ou não, são frequentes e podem ocorrer com covellita, bismuthinita, galena e calcopirita, bem como com minerais de Ag-Sb ou Ag-As como proustita, pyrargirita, freibergita e polybasita. Em alguns casos os intercrescimentos de acanthita e pirargirita lembram as lamelas do tipo folha-de-oleandro (espirradeira) da dyscrasita.

Desintegração de acanthita ocorre com temperaturas mais elevadas e baixa pressão de enxofre, produzindo cachinhos ou ganchos de prata nativa, que frequentemente se sobressaem de um resto de acanthita ainda não desintegrado.

Page 4: ACANTHITA – Ag 2 S · sulcos nem filmes superficiais, o que é quase impossível de conseguir. Pode simular isotropia. Seções com muitos sulcos são inúteis devido às despolarizações

Versão de novembro de 2020

Acanthtita (cinza claro) com relevo baixo e alguns sulcos de polimento a ND. À direita em cima, mineral da ganga, cinza escuro, mais duro e portanto de relevo alto. À esquerda, a resina da seção polida.

Acanthtita (cinza) com estrutura lamelar da Acanthita-beta a NC. À direita em cima, mineral da ganga com reflexões internas em amarelo. À esquerda, a resina da seção polida de cor laranja.

Acanthita a NC+2º, evidenciando detalhes da estrutura lamelar e a grande quantidade de sulcos de polimento que sempre acompanham a acanthita, constituindo uma feição diagnóstica. Na imagem da direita, minerais da ganga com reflexões amarelas.

Película colorida de acanthita cobrindo uma seção polida de prata nativa. Esse embaçamento é muito característico de prata nativa e as cores podem tornar a seção semelhante a cobre nativo. Imagem a ND. Ganga em cinza escuro.