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18 a CÂMARA CÍVEL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA APELAÇÃO CÍVEL N° 0065837-19.2008.8.19.0001 RELATOR: DES. JORGE LUIZ HABIB APELANTE 1: NEY ROBSON ESTEVES RIBEIRO PEREIRA APELANTE 2: BANCO BRADESCO S A APELADOS: OS MESMOS APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. ESPERA DE MAIS DE UMA HORA EM FILA DE BANCO. VIOLAÇÃO À LEI ESTADUAL Nº 4.223/03, QUE DETERMINA 20 MINUTOS DE TEMPO DE ESPERA. FATO QUE EM REGRA ENSEJA MERO ABORRECIMENTO, MAS QUE EM RAZÃO DE TER OCORRIDO PESSOA COM PROBLEMA ORTOPÉDICO COMPROVADO, CAUSA ABALO PSÍQUICO. QUANTIA FIXADA EM OBSERVÂNCIA DOS CRITÉRIOS DA RAZOABILIDADE E DA PROPORCIONALIDADE. PRECEDENTES DESTE TJRJ. Apelação 1 improcedente, na forma do caput do art. 557, CPC. Apelação 2 improcedente, na forma do caput do art. 557, CPC. DECISÃO NEY ROBSON ESTEVES RIBEIRO PEREIRA ajuizou ação de rito sumário em face de BANCO BRADESCO S A, alegando que aguardou na fila de banco por mais de uma hora. Requerendo assim, o pagamento de indenização por danos morais.

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Page 1: AC 0065837-19.2008.8.19.0001 - Ney e Bradesco - Fila de banco. indenização moral

18a CÂMARA CÍVEL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

APELAÇÃO CÍVEL N° 0065837-19.2008.8.19.0001 RELATOR: DES. JORGE LUIZ HABIB APELANTE 1: NEY ROBSON ESTEVES RIBEIRO PEREIRA APELANTE 2: BANCO BRADESCO S A APELADOS: OS MESMOS

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. ESPERA DE MAIS DE UMA HORA EM FILA DE BANCO. VIOLAÇÃO À LEI ESTADUAL Nº 4.223/03, QUE DETERMINA 20 MINUTOS DE TEMPO DE ESPERA. FATO QUE EM REGRA ENSEJA MERO ABORRECIMENTO, MAS QUE EM RAZÃO DE TER OCORRIDO PESSOA COM PROBLEMA ORTOPÉDICO COMPROVADO, CAUSA ABALO PSÍQUICO. QUANTIA FIXADA EM OBSERVÂNCIA DOS CRITÉRIOS DA RAZOABILIDADE E DA PROPORCIONALIDADE.

PRECEDENTES DESTE TJRJ.

Apelação 1 improcedente, na forma do caput do art. 557, CPC. Apelação 2 improcedente, na forma do caput do art. 557, CPC.

DECISÃO

NEY ROBSON ESTEVES RIBEIRO PEREIRA ajuizou ação de rito sumário em face de BANCO BRADESCO S A, alegando que aguardou na fila de banco por mais de uma hora. Requerendo assim, o pagamento de indenização por danos morais.

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Decisão deferindo justiça gratuita às fls. 34. Citado, o réu ofereceu contestação, às fls. 39/50, suscitando,

que o autor compareceu em dia de movimento bancário muito grande e que optou por ficar no estabelecimento bancário, mesmo estando cheio, quando poderia ter se dirigido à outra agência. Aduziu ainda que não houve falha na prestação do serviço, pugnando assim pela improcedência do pedido ou, eventualmente, que seja fixado valor em limite razoável.

Sentença de fls. 138/1145, julgou procedente o pedido

formulado na inicial, para condenar a ré a indenizar a parte autora com a quantia de R$ 3.000,00, pelos danos morais causados, acrescidos de juros 1% ao mês desde o evento danoso e correção monetária a partir da data da publicação da sentença. Condenou ainda o réu ao pagamento das custas e honorários advocatícios fixados em 10% sobre o valor da condenação.

Inconformada apela a parte autora, com razões às fls.

147/154, pleiteando a majoração da indenização por danos morais. Recurso tempestivo. Também inconformado apela a parte ré, com razões às fls.

156/170, sustentando que o autor poderia ter se dirigido a outras instituições bancárias, outras agências do Bradesco, aos caixas eletrônicos ou a fila especial. Alega ainda a inexistência de dano a justificar a reparação de ordem moral e excesso na condenação desta verba e que os juros de mora devem incidir a partir da citação.

Recurso tempestivo e regularmente preparado às fls. 172. Contra-razões da parte autora acostadas às fls. 176/179 e da

ré, às fls. 180/201.

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É o relatório. Decide-se:

As questões já foram por diversas vezes apreciadas por este Tribunal, merecendo ser os presentes recursos decididos monocraticamente, o que ora faço, com fulcro no artigo 557 do CPC.

Desassiste razão ao segundo apelante. No caso em questão, a parte autora é um homem que à

época dos fatos, 10/03/2008, tinha 17 anos, conforme carteira de identidade às fls. 11

No caso em questão, demonstrou o autor por meio da cópia

de senha para atendimento e da transação bancária, às fls. 14 e 15, que teve de esperar por mais de 01(uma) hora para ser atendido na agência bancária, o que não foi impugnado pelo réu.

Nos termos da Lei Estadual nº 4.223/03, em especial ao seu

artigo 1º, o tempo máximo de espera para atendimento bancário é de 20 minutos em dias normais e de 30 minutos em véspera de feriado e prevê algumas sanções para quem descumpre essa determinação em seu art. 4º, conforme se segue:

“Art. 1º - Fica determinado que agências bancárias situadas no âmbito do Estado do Rio de Janeiro deverão colocar à disposição dos seus usuários, pessoal suficiente e necessário, no setor de caixas, para que o atendimento seja efetivado no prazo máximo de 20 (vinte) minutos, em dias normais, e de 30 (trinta) minutos, em véspera e depois de feriados.” (...) Art. 4º - O não cumprimento do disposto nesta Lei sujeitará o infrator às seguintes sanções, não prejudicando outras ações penais: I – advertência; II – multa de 10.000 (dez mil) à 50.000 (cinqüenta mil) UFIR’s;

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III – V E T A D O.” No entanto, o simples descumprimento do tempo de espera

para atendimento bancário não gera a obrigação secundária de reparação de dano moral, mas mero aborrecimento próprio da vida em sociedade. Ainda que se reconheça que houve falha na prestação dos serviços, isso não pode, só por si, gerar o dano extrapatrimonial, que pressupõe lesão a direito personalíssimo.

Nesse sentido, o enunciado da Súmula 75, desta Corte de

Justiça: “O simples descumprimento de dever legal ou contratual, por caracterizar mero aborrecimento, em princípio, não configura dano moral, salvo se da infração advém circunstância que atenta contra a dignidade da parte.” Ocorre que, na presente hipótese, o autor tinha problema

ortopédico, que inclusive no atestado médico datado do mesmo dia dos fatos em tela, às fls. 16, indica que seria ideal seu afastamento ou redução de suas atividades.

Portanto, ainda que, em regra, a espera por atendimento não

cause abalo psíquico, tratando-se de uma pessoa com problemas ortopédicos, certamente teve abalo em sua personalidade ao ser obrigada a permanecer numa fila por tanto tempo.

Desta feita, merece ser mantida a sentença que condenou a

parte ré a arcar com o valor de R$ 3.000,00, que se apresenta dentro dos parâmetros da proporcionalidade e da razoabilidade.

Nesse sentido, a jurisprudência deste E. Tribunal de Justiça:

0008140-21.2010.8.19.0211 - APELACAO

DES. HELENA CANDIDA LISBOA GAEDE - Julgamento: 28/06/2011 - DECIMA OITAVA CAMARA CIVEL

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AGRAVO INTERNO DA DECISÃO MONOCRÁTICA EMENTADA COMO A SEGUIR: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. ESPERA DE MAIS DE 01(UMA) HORA EM FILA DE BANCO. VIOLAÇÃO À LEI ESTADUAL N. 4.223/03, QUE DETERMINA 20 MINUTOS DE TEMPO DE ESPERA. FATO QUE EM REGRA ENSEJA MERO ABORRECIMENTO, MAS QUE EM RAZÃO DE TER OCORRIDO COM UMA SENHORA DE 92 ANOS DE IDADE CAUSA ABALO PSÍQUICO, POIS COM O AVANÇO DA IDADE A FRAGILIDADE EMOCIONAL E FÍSICA É MAIOR. QUANTIA FIXADA EM OBSERVÂNCIA DOS CRITÉRIOS DE RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE.NEGATIVA DE SEGUIMENTO AO RECURSO, NA FORMA DO ART. 557, CAPUT, DO CPC. DESPROVIMENTO DO RECURSO.

0006624-13.2010.8.19.0066 - APELACAO DES. CHERUBIN HELCIAS SCHWARTZ - Julgamento: 24/11/2010 – DECIMA SEGUNDA CAMARA CIVEL APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. ESPERA DE TRÊS HORAS EM FILA DE BANCO. EXTRAPOLAÇÃO DO MERO ABORRECIMENTO. DEVER DE INDENIZAR. QUANTIA FIXADA EM R$ 2.000,00. OBSERVÂNCIA DOS CRITÉRIOS DE RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE. SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA. RATEIO DAS DESPESAS PROCESSUAIS E COMPENSAÇÃO DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. PARCIAL PROVIMENTO DA APELAÇÃO, NA FORMA DO ART. 557§1º-A DO CPC. SENTENÇA MODIFICADA

0123917-73.2008.8.19.0001 - APELACAO DES. CARLOS SANTOS DE OLIVEIRA - Julgamento: 12/01/2010 - NONA CAMARA CIVEL FILA DE BANCO TEMPO DE ESPERA LEI ESTADUAL N. 4223, DE 2003 FALHA NA PRESTACAO DO SERVICO DANO MORAL INDENIZATÓRIA. RELAÇÃO DE CONSUMO. TEMPO DE ESPERA EM FILA DE BANCO SUPERIOR A 40 MINUTOS. LEI 4.223/03. DEFEITO NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. DANO MORAL CONFIGURADO NA HIPÓTESE. REFORMA DA SENTENÇA. Restou suficientemente comprovada a narrativa autoral, quanto à alegação de espera por mais de 40 minutos para ser atendida em agência bancária da ré, não tendo o

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réu se desincumbido do ônus legal previsto no art. 14, §3º, do estatuto consumerista. A violação ao disposto na Lei 4.223/03, quanto ao tempo de espera em fila bancária, denota não só a existência de defeito na prestação do serviço, mas também de danos de ordem imaterial, ensejando compensação. Não se pode compelir o consumidor a suportar a má organização e falta de eficiência da instituição bancária em comento, mormente se tal conduta acarreta ao mesmo transtorno e sensação de impotência e menosprezo, em razão do tempo de espera de quase uma hora para realizar simples operação financeira. Precedentes. Quantum arbitrado conforme os princípios atinentes à matéria. PROVIMENTO DO RECURSO.

Destarte, nego seguimento ao segundo recurso, nos termos do estabelecido no “caput” do art. 557 do CPC.

No que tange ao apelo autoral, deve ser também improvido. A extensão do dano moral sofrido deve ser fixado guardando

proporcionalidade não apenas com o gravame propriamente dito, mas levando-se em consideração também suas conseqüências, em patamares comedidos, ou seja, não exibindo uma forma de enriquecimento para o ofendido, nem, tampouco, constitui um valor ínfimo que nada indenize e que deixe de retratar uma reprovação à atitude imprópria do ofensor, considerada a sua capacidade econômico-financeira.

Como se sabe, por se tratar de algo imaterial, ou ideal, não

se pode exigir que a comprovação do dano moral seja feita pelos mesmos meios utilizados para a demonstração do dano material, pois jamais poderia a vítima comprovar a dor, a tristeza, ou a humilhação através de documentos, perícia ou depoimentos.

Ressalte-se que a reparação desse tipo de dano tem tríplice

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caráter: punitivo, indenizatório e educativo, como forma de desestimular a reiteração do ato danoso.

Assim, tendo a sentença monocrática fixado o “quantum”

indenizatório em R$ 3.000,00 (três mil reais), merece a mesma ser mantida, em homenagem aos princípios da razoabilidade e proporcionalidade.

EX POSITIS, NEGO PROVIMENTO AO PRIMEIRO E SEGUNDO

APELO, nos termos do estabelecido no caput do art. 557 do CPC, mantendo o decisum de primeiro grau.

Rio de Janeiro, 16 de novembro de 2011.

DES. JORGE LUIZ HABIB

Relator

Certificado por DES. JORGE LUIZ HABIBA cópia impressa deste documento poderá ser conferida com o original eletrônico no endereço www.tjrj.jus.br.Data: 17/11/2011 11:03:34 Local: Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro - Processo: 0065837-19.2008.8.19.0001 - Tot. Pag.: 7