abordagem da prostituição masculina no campo da saúde. · científico existente no brasil acerca...
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Universidade Federal de Mato Grosso
Instituto de Saúde Coletiva
Curso de Graduação em Saúde Coletiva
Abordagem da
Prostituição
Masculina no Campo
da Saúde.
Mauricio Matheus de Melo Rosa
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao
Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal
de Mato Grosso como requisito parcial à obtenção
do título de Bacharel em Saúde Coletiva.
Orientadora: Profª.Msc.Neuza Cristina Gomes da
Costa.
Cuiabá - MT
2015
Abordagem da Prostituição Masculina no Campo da Saúde.
Mauricio Matheus de Melo Rosa
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao
Curso de Graduação em Saúde Coletiva da
Universidade Federal de Mato Grosso como
requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em
Saúde Coletiva.
Orientadora: Profª. Msc. Neuza Cristina Gomes da
Costa.
Cuiabá – MT
2015
AGRADECIMENTOS
Gostaria de agradecer primeiramente a minha orientadora, professora N. Cristina
Gomes da Costa, por ter me acompanhado durante minha jornada na Graduação em Saúde
Coletiva na Universidade, pela paciência, pelas oportunidades que me proporcionou de
participar dos projetos de pesquisa e extensão em que coordenou e, principalmente, por ter
aceitado me orientar neste trabalho.
Também agradeço a professora Alane Andréa Souza Costa, por ter me orientado
durante projeto de pesquisa, bem como as oportunidades e aprendizado que me proporcionou
durante a faculdade.
A toda equipe do Núcleo de Desenvolvimento em Saúde do Instituto de Saúde
Coletiva da UFMT, pelo imenso aprendizado que me proporcionaram. Sobretudo a todos que
fizeram parte da equipe do Boletim Saúde e Cidadania, pela descontração e bom
relacionamento, o que fez com que os dias de reuniões fossem dias prazerosos.
A todos os profissionais do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal de
Mato Grosso, envolvidos no desenvolvimento deste curso e que estavam sempre dispostos a
ajudar nos momentos precisos, sobretudo a Simone Arruda pela atenção, dedicação e
paciência. Não posso deixar de agradecer às minhas amigas Marielly Almeida, Marianne
Cardoso, Michelly Moura e Raquel Oliveira pela atenção sempre que precisei, pela parceria
em trabalhos e nos projetos de extensão em que fomos bolsistas juntos, bem como pelos
momentos de descontração, e até mesmo pelos de agonia e angústia compartilhados. A minha
amiga Rosângela Vindoura por todo apoio e força, e por sempre me fazer acreditar que tudo
daria certo.
Aos professores, colegas, amigos do curso, enfim a todos que colaboraram direta e
indiretamente para a conclusão desta fase de minha vida.
“(...) a vitória de um homem as vezes se esconde
num gesto forte que só ele pode ver (...)”.
Marcelo Yuka e Falcão
RESUMO
ROSA, MMM. Abordagem da Prostituição Masculina no Campo da Saúde, Cuiabá, 2015.
65 p. Trabalho de Conclusão de Curso (Curso de Graduação em Saúde Coletiva) – Instituto de
Saúde Coletiva, Universidade Federal de Mato Grosso, Campus Cuiabá.
Este estudo trata-se de uma revisão bibliográfica que analisa a abordagem da prostituição
masculina nas pesquisas de saúde. Buscou-se também caracterizar a produção científica
acerca da temática, descrever sobre prostituição e masculinidade e conhecer a abordagem dos
serviços de saúde em relação a atividade da prostituição masculina. Com a seleção de dez
publicações, os resultados foram divididos em três categorias, a primeira refere-se à
caracterização dos estudos encontrados, a segunda contempla as considerações teóricas sobre
a prostituição masculina e a terceira aborda a investigação principal do estudo, prostituição
masculina e saúde. Percebe-se que falar de prostituição masculina implica em abordar
questões acerca da sexualidade, homossexualidade e nos denominados “homens que fazem
sexo com outros homens”; doenças sexualmente transmissíveis; discriminação e rejeição.
Chama atenção o estigma e a violência a que estes sujeitos estão expostos. Percebe-se a
necessidade de estudos que abordem não apenas os comportamentos “promíscuos” ou “de
riscos” relacionados à sua atividade, mas também estudos quanto ao estilo destes, a fim de
colaborar com as ações no campo e que visem a diminuição do estigma e discriminação de
profissionais do sexo, bem como ações que facilitem o acesso desses indivíduos aos serviços
de saúde e promovam a melhora da qualidade de vida destes.
Palavras-chave: Prostituição Masculina; Saúde; Masculinidade; Saúde Pública.
ABSTRACT
ROSA, MMM. Men's approach to prostitution in the health field, Cuiabá, 2015. 65 p. Work
Completion of course (Course in Public Health) - Institute of Public Health, Federal University
of Mato Grosso, Cuiabá Campus.
This study it is a literature review that examines the approach of male prostitution in health
research. Also sought to characterize the scientific production on the theme, describing on
prostitution and masculinity and meet the approach of health services in relation to the male
prostitution activity. By selecting ten publications, the results were divided into three categories,
the first relates to the characterization of the studies found, the second covers the theoretical
considerations on male prostitution and the third deals with the study's principal research, male
prostitution and health . It is noticed that talking about male prostitution implies addressing
issues of sexuality, homosexuality and called us "men who have sex with men"; sexually
transmitted diseases; discrimination and rejection. Draws attention stigma and violence to which
these individuals are exposed. We see the need for studies that address not only the behavior
"promiscuous" or "risk" related to its activity, but also studies on the style of these in order to
collaborate with the actions in the field and aimed at reducing the stigma and discrimination
against sex workers, as well as actions to facilitate access of these individuals to health services
and promote improved quality of life of these.
Keywords: Male Prostitution; Cheers; Masculinity; Public health.
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Caracterização dos estudos conforme banco de dados, Brasil, 2004-
2014. ........................................................................................................................................ 21
Tabela 2 – Caracterização dos estudos conforme ano de publicação, Brasil, 2004-
2014. ........................................................................................................................................ 25
Tabela 3 – Caracterização dos estudos conforme indexação da publicação, Brasil, 2004-
2014. ........................................................................................................................................ 26
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Artigos selecionados para caracterização dos estudos, Brasil, 2015 ................. 23
Quadro 2 – Caracterização dos estudos conforme tipo e abordagem de estudo, Brasil,
2015. ......................................................................................................................................... 26
Quadro 3 – Descrição dos objetivos das publicações, local, ano de estudo e amostra, Brasil,
2015 .......................................................................................................................................... 28
SUMÁRIO
1 APRESENTAÇÃO ............................................................................................................... 9
2 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 10
3 OBJETIVOS ....................................................................................................................... 12
3.1 Objetivo Geral .................................................................................................................... 12
3.2 Objetivos Específicos ......................................................................................................... 12
4 REVISÃO DE LITERATURA.......................................................................................... 13
4.1 Gênero e Masculinidades ................................................................................................... 13
4.2 Prostituição ......................................................................................................................... 15
4.2.1 Prostituição Masculina ............................................................................................. 17
4.2.2 Prostituição no Brasil ............................................................................................... 18
4.3 Política de Atenção Integral à Saúde do Homem ............................................................... 19
5 METODOLOGIA ............................................................................................................... 21
5.1 Tipo de Estudo .................................................................................................................... 21
5.2 Fontes de Informações ........................................................................................................ 21
5.2.1 Coleta de fontes bibliográficas ................................................................................ 23
5.2.2 Categorização e Análise das informações ................................................................ 24
5.3 Aspectos Éticos .................................................................................................................. 24
6 RESULTADOS ................................................................................................................... 25
6.1 Caracterização dos estudos ................................................................................................. 25
6.2 Considerações teóricas sobre a prostituição masculina ..................................................... 30
6.3 Prostituição Masculina e Saúde ........................................................................................ 37
7 ANÁLISE ............................................................................................................................ 51
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 61
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 62
APÊNDICE ............................................................................................................................ 65
9
1 APRESENTAÇÃO
Desde o início do Curso de Graduação em Saúde Coletiva (CGSC) deparei-me com
estudos e pesquisas relacionadas ao gênero. No segundo semestre da Graduação tive a
oportunidade de participar do projeto de pesquisa “Masculinidade em questão? O homem
como estratégia de saúde da família”, sob a coordenação da professora Neuza Cristina Gomes
da Costa. No mesmo projeto, fui bolsista pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação
Científica (PIBIC-CNPQ) por um ano, com a professora Alane Andréa Souza Costa.
Para realização da pesquisa foi necessário aprofundamento nos estudos referentes ao
gênero, masculinidades e saúde, o que fez com que aumentasse meu interesse sobre a temática
“Saúde do Homem”. Em meio a este tema, houve bibliografia acerca dos profissionais do
sexo serem invisíveis aos serviços de saúde. Diante disso, indaguei-me sobre a visibilidade
que os homens em atividade de prostituição possuem para os serviços de saúde. A fim de
satisfazer uma curiosidade pessoal e também científica, propus primeiramente um trabalho de
campo, mas, diante do cronograma de desenvolvimento de uma pesquisa na graduação,
percebi que o tempo programado seria curto para a realização da coleta e análise de dados,
pois encontrar os sujeitos de estudos poderia demandar mais tempo que o previsto. Assim, a
mudança do tipo de estudo, que possibilitou o conhecimento sobre o assunto de forma mais
aprofundada. E conclusão de que ainda é débil a abordagem empírica e social sobre a
prostituição masculina, tema que merece mais atenção.
11
2 INTRODUÇÃO
A atual literatura acerca da saúde do homem aponta-os como sujeitos invisíveis aos
serviços de saúde. KNAUTH et al. (2012) mostram a invisibilidade dos homens aos serviços
de saúde, principalmente, no que tange a atenção básica. Isso, por consequência do reflexo das
construções sociais de gênero, que colocam o papel do homem como um ser que não se cuida,
que não adoece, sobretudo forte, hipermasculino, viril e invulnerável. Na mesma perspectiva,
de acordo com COUTO et al (2010), a invisibilidade é produzida por uma expectativa dos
profissionais de que os homens não cuidam nem de si, nem dos outros, não procuram os
serviços de saúde. Portanto, suas ações no dia a dia, no que tange a assistência, acabam
reforçando essa invisibilidade.
Já os estudos de SANTOS (2011) apontam que os profissionais do sexo também são
considerados uma população invisível aos serviços de saúde. A prostituição é considerada
pelo autor como uma das profissões mais antigas do mundo e pode ser vista de várias formas:
como uma relação comercial atividade com significado sexual para quem paga, uma transação
econômica, independente do rendimento de quem presta o serviço.
A prostituição envolve diversos julgamentos morais, os quais podem variar de acordo
com cada cultura. A prática da prostituição não se configura como uma ordem homogênea de
comportamentos e/ou identidades sexuais de gênero. Sendo assim, existem vários tipos de
prostituição e prostitutas (os): mulheres e homens heterossexuais, bi e/ou homossexuais,
travestis e/ou transexuais que realizam programas sexuais, de modo autônomo ou utilizando
de intermediários, em locais como a rua, bordéis, casas de massagem, saunas e mais
recentemente via internet (FREITAS, 1996).
Diante da falta de procura dos homens aos serviços de saúde, FIGUEIREDO (2005)
argumenta que os homens não procuram as Unidades Básicas de Saúde porque estas não
disponibilizam programas ou atividades direcionadas especificamente para a população
masculina.
No que tange a visibilidade dos profissionais do sexo aos serviços de saúde,
levantamos o pressuposto de que a união desses fatores, ou seja, o profissional do sexo que
exerce a prostituição masculina (viril) estaria duplamente invisível aos serviços de saúde. Até
mesmo pelo preconceito moral que a nossa sociedade atribui tanto a procura do homem na
unidade de saúde, questionando a sua masculinidade, quanto da prostituição como uma
atividade promíscua.
Em face desta indagação, o presente estudo aborda a produção do conhecimento
científico existente no Brasil acerca da prostituição masculina e saúde desta população, com o
intuito de maior discussão e abordagem do tema no campo da Saúde Coletiva.
12
3 OBJETIVOS
3.1 Objetivo Geral
Analisar a abordagem da prostituição masculina nas pesquisas do campo da saúde.
3.2 Objetivos Específicos
Caracterizar a produção científica sobre a prostituição masculina;
Descrever sobre prostituição e masculinidade;
Conhecer a abordagem dos serviços de saúde em relação a atividade da prostituição
masculina.
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4 REVISÃO DE LITERATURA
Nesta revisão de literatura será abordado o conceito de gênero e masculinidade(s),
prostituição, prostituição masculina e política de atenção à saúde a saúde do homem.
4.1 Gênero e Masculinidade
O termo (relação) gênero é formado por homens e mulheres. Este é norteado muitas
vezes pelas diferenças biológicas, porém, acredita-se que seja um aspecto cultural, o qual
muda frente ao meio em que o sujeito está inserido.
Para SCOTT (1995), o gênero é um elemento constitutivo de relações sociais baseadas
nas diferenças percebidas entre os sexos e uma forma primária de dar significados às relações
de poder. A autora afirma que o uso do termo gênero é utilizado para apontar as relações
sociais entre homens e mulheres. Seu uso rejeita explicitamente explicações biológicas, como
aquelas que encontram um denominador comum.
Gênero torna-se, contudo, uma forma de indicar “construções culturais”, a criação
inteiramente social de ideias sobre os papéis adequados aos homens e às mulheres. Trata-se
então de uma forma de se referir às origens sociais das identidades subjetivas de homens e
mulheres, sendo então uma categoria social imposta sobre um corpo “sexuado”.
Seguindo o princípio de que gênero são formas de identidades subjetivas de homens e
mulheres, CONNELL (1995) propõe que se deva pensar em “masculinidades” e
“feminilidades”, estando estas, suscetíveis à variabilidade da identidade de cada indivíduo,
seja feminino ou masculino. A partir dessa linha de pensamento, existem várias formas de ser
homem, bem como, várias formas de ser mulher. Diante disso, o autor diferencia conceitos
que surgem em resposta da dinâmica de poder colocada nas relações de gênero, propõe a
existência de quatro padrões de masculinidade: hegemônica, subordinada, cúmplice e
marginalizada.
LEAL e BOFF (1996) dizem que a virilidade é um aspecto fundamental para o tipo de
masculinidade heteronormativa. Ser hipermasculino e invulnerável faz parte do discurso sobre
o que é ser homem.
Para CONNELL (1995), a masculinidade hegemônica é sustentada e mantida por um
amplo segmento da população masculina em função da gratificação fantasiosa de fazer parte
do poder que ela proporciona, além, é claro, dos motivos concretos, tal como conseguir retirar
14
daí benefícios, tais como: melhores salários e postos, através da dominação institucionalizada
masculina em relação às mulheres.
Já KIMMEL (1998), descreve a masculinidade hegemônica, é construída ao mesmo
tempo e em oposição às outras formas de ser homem, que geralmente são questionadas e/ou
desvalorizadas. A partir daí começam a entrar em campo outras variáveis para caracterização
do tipo ideal caracterizado pela hegemonia, tais como: inserção social, classe, virilidade, raça,
sexualidade, condições socioeconômicas.
Para COSTA (2002), os homens se beneficiam do dividendo patriarcal da
subordinação das mulheres e das consideradas masculinidades subordinadas a esta. A autora
pontua que características como força, assertividade e não vulnerabilidades, nos homens,
levam a um menor cuidado com a saúde e a uma menor procura por médicos por partes
destes, uma vez que isso é tido como representação de fraqueza e/ou vulnerabilidade. Sobre
isso, COSTA (2002), fala também sobre os privilégios dos homens diante da opressão das
mulheres.
Os homens continuam a se beneficiar da opressão das mulheres, mas,
significativamente, nos últimos vinte anos a anuência das mulheres à hegemonia
masculina tem sido contrabalanceada pela resistência feminista ativa. Os homens,
como grupo, não são oprimidos pelas relações de gênero, mas alguns, certamente,
sentem-se ameaçados pelo desafio feminista aos seus poderes e privilégios. Os
homens também são afetados por esse sistema de poder: somos, muitas vezes,
emocionalmente limitados e comumente temos uma saúde mais precária e uma
expectativa de vida menor do que as das mulheres. Mas estes problemas são, com
mais precisão, vistos como “os custos de se estar no topo”. De fato, as mudanças nos
estilos masculinos que vemos entre homens relativamente privilegiados podem ser
interpretadas como um sinal de que estes homens gostariam de parar de pagar estes
“custos”, mas isto não significa necessariamente um desejo de parar de estar “no
topo (COSTA, 2002, p.215).
COSTA (2002), acredita ainda que este represente a introjeção dos valores
hegemônicos em quem o cultiva, já que se mantém aí a dualidade macho-fêmea. Vale
ressaltar que para COELHO & CARLOTO, as práticas de subordinação e de dominação
incluem o abuso, a violência legal, a discriminação econômica e pessoal.
Enquanto a masculinidade subordinada diz respeito a dominação e subordinação entre
grupo de homens, assim como podemos ver a dominação dos heterossexuais e
consequentemente subordinação dos homossexuais, a masculinidade cúmplice refere-se aos
homens que desfrutam das vantagens e/ou privilégios do patriarcado, característica da
masculinidade hegemônica, porém, não defendem essa posição. Nessa perspectiva, o
15
patriarcado é uma ordem de gênero específica na qual a masculinidade hegemônica define a
inferioridade do feminino e das masculinidades subordinadas.
Existe ainda a masculinidade marginalizada, a qual refere-se às relações entre as
masculinidades ou grupos étnicos dominantes e subordinados, ou seja, sendo assim, raça e
classe são condições que levam sujeitos a serem subordinados.
Conforme COELHO E CAROLLO (2007) a masculinidade hegemônica pode trazer
benefícios aos seus praticantes e/ou seguidores. Quanto à prostituição masculina viril,
podemos ver esse benefício, ligado ás relações de poder e hierarquia de gênero, na qual
perpetua a dominação masculina praticada pelos adeptos da masculinidade hegemônica (viril).
4.2 Prostituição
A prostituição pode ser vista como uma relação comercial, atividade com significado
sexual para quem paga, uma transação econômica, independente dos rendimentos de quem
presta o serviço.
Essa relação, já foi muito respeitada e associada a poderes sagrados, conhecida como
Prostituição Sagrada. Porém, com o surgimento da sociedade patriarcal, a independência
sexual e econômica das mulheres a atividade passou a ser mal vista. “As mulheres da vida
sempre tiveram um lugar na história, mas ao longo dos anos, seu status passou de respeitável
à condenável”. (CHOLLLET, 2008)
De acordo com (CHOLLLET, 2008) a mulher pré-histórica controlava sua sexualidade
e era associada a “Grande Deusa”. Cultura, religião e sexualidade estavam interligadas, e
tinham como base a Grande Deusa, primeiramente conhecida como Inanna e mais tarde como
Ishtar. Nesse tempo, manter relações com prostitutas eram fundamental para um homem
conquistar poder e respeito. Os homens pré-históricos desconheciam seu papel na procriação,
portanto, não visavam à paternidade. De acordo com a autora, foi essa preocupação com a
prole, que mais tarde, levou ao surgimento das sociedades patriarcais, com a submissão da
mulher.
Por volta de 3.000 a.C., tribos nômades passaram a criar gado e tornaram-se
conscientes do papel masculino na reprodução. As sociedades matriarcais da deusa
começaram a ser subjugadas. As primeiras civilizações da era histórica
desenvolveram-se na Mesopotâmia e no Egito, e nasceram desse levante. Novas
formas de casamento foram introduzidas especificamente destinadas a controlar a
sexualidade das mulheres. Foi nesse momento da história humana, em torno do
16
segundo milênio a.C., que a instituição da prostituição sagrada tornou-se visível e
foi registrada pela primeira vez na escrita (NICKIE citada por PEREIRA, 2012).
Disponível em: http://www.moniqueprada.com/acompanhante/as-prostitutas-na-
historia/).
Conforme supracitado, as prostitutas eram exaltadas, possuíam status superiores as
demais, inclusive eram meio para conquista de respeito e poder dos homens. Segundo
PEREIRA (2012), na Grécia Antiga, as mulheres viviam em um confinamento físico e mental,
porém as que se tornavam “meretrizes, prostitutas” desfrutavam de liberdade sexual e
econômica. Foi nesse momento que os homens começaram a tomar poder, que começou a
surgir também a hierarquia entre as mulheres, ou melhor dizendo, meretrizes. Sendo assim,
foi separado as que eram do templo, com um escalão de prostitutas de classe alta, que
mantiveram seus antigos poderes e privilégios com as que trabalhavam fora do templo, sendo
estas, as primeiras prostitutas de rua. Ainda assim, as ligações entre religião e sexo persistiam,
e até as meretrizes de rua eram tidas como sagradas e protegidas. A divisão das mulheres em
prostitutas e esposas surge no início da descoberta patriarcal. Ainda, de acordo com a autora,
foi na antiga Suméria, por volta de 2.00 a.C., que surgiram as primeiras leis separando as
duas.
O abismo entre as esposas e as prostitutas aumentou após a descoberta patriarcal pelos
homens e com isso o aumento dos casamentos de forma patriarcal, modelo onde a mulher é
submissa aos homens. No decorrer da história a independência sexual e econômica das
meretrizes tornaram-se ameaça ao modelo patriarcal. Por consequência disso, os rituais
sexuais, viraram pecados graves e as prostitutas pecadoras. As principais religiões patriarcais
que seguiram – o cristianismo e o islamismo- reconheceram o impacto devastador do estigma
da prostituta na divisão e regulamentação das mulheres (PEREIRA, 2012).
A Grécia antiga foi uma típica sociedade patriarcal. As mulheres não podiam
participar da vida política tampouco social. Porém, como aconteceu a todas as sociedades
antigas, os primeiros habitantes da Grécia foram povos adoradores das deusas - meretrizes. Os
deuses masculinos só vieram mais tarde, por volta de 2.00 a.C., com os invasores indo-
europeus. As duas culturas fundiram-se e produziram o híbrido que chegou até nós.
(PEREIRA, 2012)
Segundo SOUZA (1998), a prostituição é tida como uma prática milenar. Contudo
essa prática ainda é caracterizada por um fenômeno considerado invisível aos olhos da
sociedade.
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A prostituição tradicionalmente tem subvertido o exercício controlado da
sexualidade via instituições sociais. Tentativas de controle foram implementadas no
passado, variando da satanização, isto é, o controle exercido pela instituição
religiosa, passando pela proibição apresentada em códigos civis, e chegando,
finalmente, nos dias atuais no Brasil, à demanda pela sua legalização, como
atividade profissional. (GUIMARÃES e HAMANN, 2005, p.3)
CHAPKINS (1997) citado por apud RAMALHO (2012) explica que, quando se diz
trabalho sexual existe um mercado do sexo que inclui a prostituição quando há relação sexual,
porém, existem também outras formas de comercialização das satisfações eróticas, tais como:
pornografia, danças, massagens eróticas, strip-tease, chamadas telefônicas e/ou virtuais
eróticas.
4.2.1 Prostituição Masculina
A prostituição masculina refere-se àquela realizada por homens, e definida como a
prática de entregar relações sexuais em troca de dinheiro, favores, e/ou benefícios para quem
oferta o programa. Esta carrega duas nomenclaturas: michê e garoto de programa.
A prostituição masculina também é conhecida pelas nomenclaturas michê e garoto de
programa. A nomenclatura “michê” é conhecida a partir do trabalho de PERLONGHER
(1987), esta possui dois sentidos. Um se refere ao (simples) ato de se prostituir, quem quer
que esteja exercendo esta atividade. “Dessa forma, fazer michê seria uma expressão utilizada
por quem se prostitui para se referir ao ato próprio da prostituição” (PERLONGHER,1987
p.41). Já numa segunda acepção ao termo michê, pode-se perceber o uso deste para
denominar tipos ou gêneros de prostituição, ou seja, este define modos ou hierarquias de
prostituição. Sendo assim, segundo PERLONGHER (1987 p.41), “varões geralmente jovens
que se prostituem sem abdicar dos próprios protótipos gestuais e discursivos da masculinidade
em sua apresentação perante o cliente”, ou melhor, dizendo, são sujeitos viris.
Já o termo garoto de programa, é para o profissional do sexo masculino que atente tanto
homens quanto as mulheres, ou a ambos, distinguindo-se do michê, já que seu local de
trabalho dos michês são as saunas masculinas ou boates, ou atendimento via internet (FILHO,
2013).
Segundo SANTOS (2011), a prostituição masculina aparece como um fenômeno menos
comum, quase obscuro e inexistente aos olhos da sociedade em geral.
18
4.2.2 Prostituição no Brasil
Existem no mundo, três formas legais sobre a prostituição, o abolicionismo, o
regulamentarismo e o proibicionismo. No caso do regulamentarismo, a profissão é
reconhecida e regulamentada, o proibicionismo coloca a prostituição como atividade ilegal.
Atualmente, no Brasil, o sistema adotado é o do abolicionismo. Dessa forma, a legislação
brasileira pune os donos e gerentes de casas de prostituição, bem como qualquer tipo de
exploração da prostituição feita por terceiros, são os chamados “crimes contra a liberdade
sexual” (SILVA, 2005).
Portanto, a atividade de prostituição no Brasil não é crime, mas sim quem favorece a
prostituição ou qualquer outra forma de exploração sexual de vulnerável; mediação para
servir a lascívia de outra pessoa; favorecimento da prostituição; quem mantém casa de
prostituição; rufianismo (tirar proveito da prostituição alheia) tráfico internacional de pessoa
para fim de exploração sexual; tráfico interno de pessoas para fim de exploração sexual e
qualquer tipo de atividade sexual que inclua menores de 18 anos ou incapaz. (BRASIL 2005).
Vale ressaltar, que a prostituição está entre as 600 profissões brasileiras, registradas na
Classificação Brasileira de Ocupações (CBO). Indicado no subgrupo 5198, a classificação de
“profissional do sexo”, que inclui “garota de programa, garoto de programa, meretriz,
messalina, michê, mulher da vida, prostituta e trabalhador do sexo”. “Esses profissionais são
descritos como pessoas que buscam programas sexuais; atendem e acompanham clientes;
participam em ações educativas no campo da sexualidade”. Porém, a indicação na CBO não
coloca a prostituição como categoria regulamentada. Apenas representa o reconhecimento,
pelo Ministério do Trabalho e Emprego acerca da grande quantidade de pessoas que exercem
a atividade da prostituição. (SILVA, 2005)
Atualmente, existe um projeto de lei denominado “Gabriela Leite”, que propõe a
regulamentação da prostituição. O projeto de lei visa “desmarginalizar a prostituição e
permitir que se tenha maior acesso aos serviços de saúde, ao direito do trabalho, à segurança
pública e principalmente à dignidade humana” (WYLLYS, 2012, p.2).
O projeto também propõe a regulamentação como um instrumento de combate a
exploração sexual e possibilidade de fiscalização das casas de prostituição, além de melhorar
o controle do Estado sobre a atividade.
Cabe destacar, que apesar do projeto ser para a legalização da prostituição, o documento
se refere quase que por completo apenas a prostituição feminina, tratando, no próprio meio a
prostituição masculina como invisível.
19
4.3 Política de Atenção à Saúde do Homem
Neste Tópico, falaremos sobre a Política Nacional de Atenção Integral a Saúde do
Homem (PNAISH). Entendemos que essa política é importante para o presente estudo, pois,
se propõe a reconhecer os determinantes sociais da vulnerabilidade dos homens às doenças, e
mostrar a necessidade de mudança dos paradigmas que se referem a percepção da população,
sobretudo masculina, em relação ao cuidado com a própria sua saúde.
A discussão acerca da saúde do homem ainda é recente. As investigações e estudos
foram incentivados a partir da PNAISH. Essa Política foi criada por meio da secretaria de
Atenção á Saúde, do Ministério da Saúde e é considerada um dos marcos do Sistema Único de
Saúde (SUS). A política foi criada com o objetivo de promover melhorias no que tange a
saúde da população masculina do Brasil, “contribuindo, de modo efetivo, para a redução da
morbidade e mortalidade dessa população, através do enfrentamento racional dos fatores de
risco e mediante a facilitação ao acesso, às ações e aos serviços de assistência integral à saúde
da referida população“ (BRASIL, 2008 p. 38).
Uma das ferramentas trabalhadas na Política é o acolhimento deste público aos
serviços de saúde. Suas diretrizes foram elaboradas tendo em vista os “princípios da
integralidade, factibilidade, coerência e viabilidade, sendo norteadas pela humanização e a
qualidade da assistência”, sendo estes, princípios norteadores para quaisquer ações
relacionadas à PNAISH (BRASIL, 2008 p.36).
A política destaca que a não adesão masculina aos serviços de saúde “revela
estereótipos de gênero baseados em características culturais, que normatizam certo tipo de
masculinidade tida por hegemônica, obedecendo a uma ordem simbólica na qual a doença
expressa fragilidade ao corpo” (COSTA, 2003 p. 417).
Um dos principais objetivos da PNAISH é promover ações de saúde que contribuam
nas singularidades masculinas em seus diversos contextos, sejam eles econômicos, sociais ou
políticos. Para tanto, deve-se respeitar os diferentes níveis de desenvolvimento e organização
dos sistemas locais de saúde e tipos de gestão, possibilitando o aumento da expectativa de
vida e a redução dos índices de morbimortalidade por causas preveníveis e evitáveis para a
referida população (BRASIL, 2008).
Conforme supracitado, o Ministério da Saúde, por meio da PNAISH vem cumprir seu
papel ao formular a política que deve nortear as ações de atenção integral a saúde do homem,
visando estimular o autocuidado e, sobretudo, o reconhecimento de que a saúde é um direito
social básico e de cidadania de todos os homens brasileiros (BRASIL, 2008).
20
No que concerne à atividade da prostituição, por ser considerada um fenômeno
carregado por julgamentos de valores morais, é necessário olhar diferente para quem a pratica.
Principalmente quando se tem a equidade como um dos princípios norteadores do Sistema de
Saúde, e, sobretudo, uma Política que possui princípios que implicam na promoção,
reconhecimento e respeito à ética e aos direitos do homem, que deveria obedecer às suas
peculiaridades socioculturais.
21
5 METODOLOGIA
5.1 Tipo de Estudo
Este estudo trata-se de uma pesquisa bibliográfica. Considera-se pesquisa
bibliográfica, o tipo de pesquisa desenvolvida em base de materiais já elaborados,
constituídos principalmente de livros e artigos científicos (Gil, 2008). O presente estudo tem o
intuito de proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais
explícito ou ao construir hipóteses.
Assim, realizamos uma revisão a partir de estudos publicados nos últimos onze anos
sobre a prostituição masculina e a saúde. A identificação e a organização destas publicações
deram-se a partir de um instrumento de coleta de dados, elaborado pelo autor.
5.2 Fontes de Informações
Para a coleta de dados foi utilizado a Rede Internacional de Computadores (Internet),
para consulta dos Bancos de Dados SciELO, Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da
Universidade de São Paulo (Guia de Teses da USP/www.teses.usp.br), e Bireme – Biblioteca
Virtual em Saúde. As palavras-chaves utilizadas para o levantamento foram: “prostituição”,
“prostituição masculina” e “saúde”.
Abaixo, a Tabela 1 apresenta a distribuição dos textos conforme os bancos de dados
selecionados.
Tabela 1 – Caracterização dos estudos conforme banco de dados, Brasil, 2004-2014.
Base de Dados Número (n) %
Guia de Teses USP 4 40
SciELO 3 30
Bireme 3 30
Total 10 100
Fontes: Banco de Dados da SciELO, Banco de Teses da USP, e BIREME – Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), 2015.
22
Sobre os bancos de dados, a Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da
Universidade de São Paulo (mais conhecida como Guia de Teses da USP) foi criada em 2001
e visa disponibilizar virtualmente o conhecimento produzido pelos trabalhos defendidos na
USP. Por meio da internet a biblioteca permite acesso às versões completas de teses e
dissertações. Em agosto de 2015 (18/08/2015) o banco de dados contava com um total de
55.227 documentos, sendo (32.650) dissertações, (22.177) teses e (400) livre docência. A
biblioteca está associada a uma iniciativa global, a Networked Digital Libary of Theses and
Disseminations (NDLT), reconhecida pela UNESCO; e ao Instituto Brasileiro de Informação
em Ciência e Tecnologia (IBICT) do Ministério da Ciência e Tecnologia, através da
Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações1.
Já a Scientific Electronic Library Online (SciELO) é uma biblioteca eletrônica, criada
por meio de um projeto de pesquisa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São
Paulo (FAPESP), em parceria com a BIREME - Centro Latino-Americano e do Caribe de
Informação em Ciências da Saúde. Foi criada por meio de um projeto, que, a partir de 2002
teve o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
A SciELO abrange uma coleção selecionada de periódicos científicos brasileiros e
permite acesso a coleções de periódicos como um todo, aos fascículos de cada título de
periódico, assim como aos textos completos dos artigos.
A BIREME, também conhecida como Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), foi criada
no ano de 1967 com o nome de Biblioteca Regional de Medicina (nome mudado
posteriormente para Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da
Saúde, porem a sigla BIREME continua em uso), mediante um convênio entre a OPAS e o
Governo do Brasil, representado pelos Ministérios da Saúde e da Educação, a Secretaria de
Saúde do Estado de São Paulo e a Escola Paulista de Medicina, hoje Universidade Federal de
São Paulo.
A BIREME recebe recursos da OPAS, do Governo Brasileiro e de agências nacionais
e internacionais de apoio à pesquisa e desenvolvimento, e visa contribuir para a melhoria do
ensino, pesquisa e atenção a saúde nos países da América Latina e Caribe mediante o
estabelecimento e coordenação do Sistema Latino-Americano e do Caribe de Informação em
Ciências da Saúde de modo a atender às necessidades de informação científica da comunidade
de profissionais de saúde.2
1. Disponível em http://www.teses.usp.br (Acessado em 18/08/2015 às 00h31min).
2 . Disponível em http://www.bireme.br/bvs/P/pmiss.htm (Acessado 18/08/2015 às 01h06min).
23
A coleta deu-se em três etapas, a primeira referente à coleta de fontes bibliográficas, a
segunda foi exclusão de publicações repetidas e a terceira, sistematização e análise das
informações de cada texto.
5.2.1 Coleta de fontes bibliográficas
Foi utilizado um instrumento de coleta de dados para sistematizar os dados de modo a
contemplar os objetivos da pesquisa (Anexo 1).
Os dados começaram a ser coletados no mês de novembro de 2014 e o último acesso
aos bancos de dados, para verificação da quantidade e coleta de informações, foi no dia 18 de
agosto de 2015. Foi usado como critério para seleção de publicação:
Publicações em periódicos científicos nacionais
Trabalhos em língua portuguesa disponibilizados nos bancos de dados selecionados,
independente da nacionalidade de origem;
Temática: abordagem da prostituição masculina e relação com a saúde, mesmo que
não seja o objeto principal do estudo;
Produção bibliográfica publicada nos últimos onze anos (2004 a 2014).
Para a escolha das publicações, foi realizado consulta nos bancos de dados utilizando
as seguintes palavras-chave “prostituição”, “prostituição masculina” e “prostituição masculina
e saúde”. Posteriormente, houve leitura do título, na qual foram selecionados 82 artigos, num
momento seguinte, realizou-se a leitura do resumo, com a seleção de 10 publicações.
Quadro 01 – Artigos selecionados para caracterização dos estudos, Brasil, 2015.
It
e
m
Autor/ ano de
publicação
Título
Tipo de
publicação
Banco de dados
1 ANTUNES, M. C.
2005
Territórios da vulnerabilidade ao
HIV: homossexualidades
masculinas em São Paulo.
Dissertação Biblioteca Digital de Teses e
Dissertações da Universidade de
São Paulo
2 TAQUETE, S. R.
et al. 2005
Relatos de experiência
homossexual em adolescentes
masculinos.
Artigo Ciência & Saúde Coletiva, SCIELO
3
PAIVA, V.;
PUPO, L. R. e
BARBOZA, R.
2006
O direito à prevenção e os desafios
da redução da vulnerabilidade ao
HIV no Brasil.
Artigo Revista de Saúde Pública,
BIREME
4 BENZAKEN, A.
S. et al. 2007
Intervenção de base comunitária
para a prevenção das DST/AIDS na
região amazônica, Brasil.
Artigo Revista de Saúde Pública, SCIELO
24
5 GARCIA, S. et. al.
2008
Estigma, discriminação e HIV/Aids
no contexto brasileiro, 1998 e
2005.
Artigo Revista de Saúde Pública,
BIREME
6 TOLEDO, M. M.
2008
Vulnerabilidade de adolescentes ao
HIV/AIDS: REVISÃO
INTEGRATIVA.
Dissertação Biblioteca Digital de Teses e
Dissertações da Universidade de
São Paulo
7 FIGUEIREDO, R. e PEIXOTO,
M. 2010
Profissionais do sexo e
vulnerabilidade.
Artigo Boletim do Instituto de Saúde,
BIREME
8
CORTEZ, F. C. P.
et al. 2011
Consumo de álcool e outras drogas,
sintomas depressivos,
impulsividade e aspectos
dimensionais de personalidade
entre homens biológicos
profissionais do sexo.
Dissertação Biblioteca Digital de Teses e
Dissertações da Universidade de
São Paulo
9 SANTOS, M. A.
2011
Prostituição masculina e
vulnerabilidade às DSTS/AIDS.
Artigo Texto & Contexto –
Enfermagem, SCIELO
10 JÚNIOR, G. P. S.
2012
O negócio do “prazer remunerado”
nos discursos de garotos que fazem
programa.
Dissertação Biblioteca Digital de Teses e
Dissertações da Universidade de
São Paulo Fontes: Banco de Dados da Scielo, Banco de Teses da USP, e BIREME – Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), 2015.
5.2.2 Categorização e Análise das informações
As publicações escolhidas para análise foram selecionadas de acordo com a ordem em
que foram encontradas nas bases. Primeiramente foram analisados os estudos do Banco de
Dados da SciELO, depois os do Guia de Teses da USP, e BIMERE – Biblioteca Virtual em
Saúde (BVS). Posteriormente foi realizado análise das publicações, onde foram excluídas as
produções repetidas nessas fontes.
Para a organização e tabulação dos estudos os textos foram selecionados de acordo
com a ordem cronológica ascendente em que os estudos foram realizados, a fim de melhor
contextualizar e realizar o diálogo e discussão entre os estudos.
Os resultados foram divididos em três categorias, a primeira refere-se à caracterização
dos estudos encontrados, a segunda contempla as considerações teóricas sobre a prostituição
masculina e a terceira aborda a investigação principal do estudo, prostituição masculina e
saúde.
5.3 Aspectos éticos
Este trabalho fez uso de fontes de dados secundários, de domínio público, portanto,
não foi submetido ao Comitê de Ética, conforme estabelecido pela Resolução nº 466, de 12 de
dezembro de 2012, do Conselho Nacional de Saúde. (BRASIL, 2012)
25
6 RESULTADOS
6.1 Caracterização dos estudos
Neste tópico, os estudos serão caracterizados conforme o título, ano de publicação,
área temática, periódico de publicação, e aspectos metodológicos do estudo.
Quanto ao ano de publicação dos estudos, verifica-se uma distribuição homogênea.
Os anos de 2005, 2008 e 2011 são os anos que apresentam maior quantidade de estudos
disponibilizados (20%), os demais anos 2006, 2007, 2010 e 2012 apresentam quantidades
semelhantes de estudos selecionados (10%).
Tabela 2 – Caracterização dos estudos conforme ano de publicação, Brasil, 2004-2014.
Ano de publicação N %
2005 2 20
2006 1 10
2007 1 10
2008 2 20
2010 1 10
2011 2 20
2012 1 10
Total 10 100
Fontes: Banco de Dados da Scielo, Banco de Teses da USP, e BIREME – Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), 2015.
De acordo com SANTOS (2011), nas últimas décadas houve um considerável aumento
nos estudos e publicações com a temática voltada para a educação e prevenção ao vírus HIV e
à saúde do adolescente e do escolar, acredita-se que pelo fato da epidemia do HIV/AIDS
atingir de modo significativo as pessoas dessa fase.
Esse período é caracterizado pelas grandes mudanças quanto ao sistema de valores que
orientam a vida sexual das pessoas. A epidemia HIV/AIDS é um dos fenômenos que mais tem
desafiado a definição das estratégias da promoção da saúde e dos direitos sexuais para a
população jovem e com práticas homossexuais. No entanto, o assunto possui pouca
visibilidade no que tange a entender os efeitos da vulnerabilidade da epidemia em homens, o
autor ressalta ainda, que a visibilidade é menor ainda no “universo daqueles que se envolvem
com a prostituição masculina” (SANTOS, 2011).
A Tabela 3 refere-se ás indexações em que os estudos foram publicados. Nota-se
maior frequência de estudos do Guia de Teses da USP (40%), seguido da Revista de Saúde
Pública
26
(30%). Posteriormente, com frequências semelhantes (10%) encontram-se o Boletim do
Instituto de Saúde, Ciência e Saúde Coletiva, e Revista Texto e Contexto Enfermagem.
Pela fonte da publicação verifica-se a sua relação com o campo da saúde coletiva, pois
a maioria é de periódicos dessa área. As dissertações e teses, encontradas no banco de teses da
USP também referem a referida área. Somente um artigo é específico da área da saúde
voltado para a enfermagem, Texto e Contexto enfermagem.
Tabela 3 – Caracterização dos estudos conforme indexação da publicação, Brasil, 2004-2014.
Nome do periódico Frequência %
Guia de Teses USP 4 40
Revista de Saúde Pública 3 30
Boletim do Instituto de Saúde 1 10
Ciência & Saúde Coletiva 1 10
Texto & Contexto – Enfermagem 1 10
Total 10 100
Verifica-se que a maioria dos estudos foi publicada em periódicos de Saúde Pública,
porém esses estudos possuem um recorte limitado, voltado para doenças sexualmente
transmissíveis, havendo necessidade de maior reflexão sobre as investigações que visem as
subjetividades desta categoria.
O segundo quadro refere-se à classificação de desenho/tipo de estudo, bem como sua
abordagem segundo os autores. Quanto ao tipo de estudo verifica-se predominância nos
estudos Etnográficos (3) e Descritivos (3), sendo que concomitante a um desses últimos
possui o caráter exploratório. Em seguida com apenas uma aparição encontram-se os
desenhos de estudo: revisão sistemática, revisão integrativa, transversal e seccional
retrospectivo.
Quanto ao tipo de abordagem, verificou-se que a maioria dos estudos (7) possui
abordagem qualitativa. Porém, três estudos tiveram abordagem qualitativa e quantitativo
simultaneamente, sendo denominados de estudos “quali-quanti”.
Quadro 2 – Caracterização dos estudos conforme tipo e abordagem de estudo, Brasil, 2015.
Item Autor/ ano de
publicação Título
Desenho/Tipo do
Estudo
Abordagem
1 ANTUNES, M.
C. 2005
Territórios da vulnerabilidade ao
HIV: homossexualidades masculinas
em São Paulo.
Revisão
Sistemática
Qualitativo
2 TAQUETE, S. R.
et al. 2005
Relatos de experiência homossexual
em adolescentes masculinos.
Transversal Quali-quanti
3 PAIVA, V.;
PUPO, L. R. e
BARBOZA, R.
O direito à prevenção e os desafios
da redução da vulnerabilidade ao
HIV no Brasil.
Etnográfico Qualitativo
27
2006
4 BENZAKEN, A.
S. et al. 2007
Intervenção de base comunitária para
a prevenção das DST/AIDS na
região amazônica, Brasil.
Etnográfico Qualitativo
5 GARCIA, S. et.
al. 2008
Estigma, discriminação e HIV/Aids
no contexto brasileiro, 1998 e 2005.
Descritivo Qualitativo
6 TOLEDO, M. M.
2008
Vulnerabilidade de adolescentes ao
HIV/AIDS: REVISÃO
INTEGRATIVA.
Revisão integrativa Qualitativo
7 FIGUEIREDO, R. e PEIXOTO,
M. 2010
Profissionais do sexo e
vulnerabilidade.
Descritivo Qualitativo
8
CORTEZ, F. C.
P. et al. 2011
Consumo de álcool e outras drogas,
sintomas depressivos, impulsividade
e aspectos dimensionais de
personalidade entre homens
biológicos profissionais do sexo.
Seccional/
Retrospectivo
Quali-quanti
9 SANTOS, M. A.
2011
Prostituição masculina e
vulnerabilidade às DSTS/AIDS.
Descritivo/Explora
tório
Quali-quanti
10 JÚNIOR, G. P. S.
2012
O negócio do “prazer remunerado”
nos discursos de garotos que fazem
programa.
Etnográfico Qualitativo
O terceiro quadro apresenta a descrição dos objetivos das publicações, localidade da
realização da pesquisa bem como amostra. Quanto aos objetivos dos estudos compreende-se
uma divisão de quatro categorias principais com a finalidade de: caracterizar o perfil dos
sujeitos, propor medidas de promoção/prevenção a saúde desses sujeitos; controle acerca das
doenças sexualmente transmissíveis; e ocorrência de situação de risco e vulnerabilidade dos
sujeitos. Cabe aqui destacar que ainda que os estudos sejam classificados nessa categoria para
análise eles podem não se limitar a apenas uma dessas.
Verifica concentração de estudos (6) realizados na em São Paulo, ainda que em
regiões diferentes. Um dos estudos, o de TAQUETE et al. (2005) foi realizado no Rio de
Janeiro (Universidade Estadual do Rio de Janeiro). Na região do Amazonas, mais
especificamente no município de Manacapuru, também foi realizado um dos estudos. Cabe
aqui dizer, que o estudo de PAIVA; PUPO e BARBOZA (2006) abrangeu o território
brasileiro, não explicitando nenhuma região, enquanto a pesquisa de TOLEDO (2008)
contemplou vários países da América Latina.
No que se refere às amostragens, três dos estudos, os de TAQUETE et al. (2005),
PAIVA; PUPO e BARBOZA (2006) e BENZAKEN et al. (2007), analisaram garotos de
programa, enquanto outros três se referiram apenas a amostra de jovens/adolescentes homens.
Dois estudos, TOLEDO (2008) e CORTEZ et al. (2011), mencionaram terem estudado apenas
homens. A pesquisa de FIGUEIREDO e PEIXOTO (2010) fez uso apenas de indicadores de
28
metas sobre a prevenção de HIV. E por último, o estudo PAIVA; PUPO e BARBOZA (2006)
que usou apenas indicadores de prevenção para realização da pesquisa.
Quantos aos anos de estudo percebe-se pequena concentração entre os anos de 1997 à
1999, sendo esses estudos referentes aos itens um, quatro e cinco. Apenas um estudo foi
realizado no ano de 2011, sendo este referente ao item dois. Os demais estudos foram
realizados entre os anos de 2007 e 2010, sendo os itens seis, sete e oito referentes ao ano de
2007 e o item dez ao ano de 2010. Os itens três e sete não constavam os anos de início da
realização da pesquisa.
Quadro 3- Descrição dos objetivos das publicações, local, ano de estudo e amostra, Brasil, 2015.
Item
Autor/
ano de
publica-
ção
Título
Objetivos Local e ano
de estudo
Amostra
1
ANTUN
ES, M.
C. 2005
Territórios da
vulnerabilidade ao
HIV:
homossexualidade
s masculinas em
São Paulo.
Descrever como
subculturas sexuais de
homens que fazem sexo
com homens que
frequentam bares e boates
em duas regiões de São
Paulo ocupavam diferentes
territórios, descrever suas
subculturas e práticas
sexuais.
Região
Central e
Jardins em
São Paulo -
SP, 1999-
2000.
500 Homens
Bairros que
estavam nas regiões
escolhidas do
estudo.
2
TAQUE
TE, S. R.
et al.
2005
Relatos de
experiência
homossexual em
adolescentes
masculinos.
Descrever e analisar
características de um grupo
de rapazes que tiveram
experiências sexuais com
homens para melhor
compreender a vivência da
sexualidade na
adolescência e subsidiar
programas de prevenção de
doenças, promoção de
saúde e orientação sexual a
adolescentes.
Núcleo de Estudos da
Saúde do
Adolescente
da
Universidade
Estadual do
Rio de Janeiro
(NESA,
UERJ), 2001-
2002.
105 Adolescentes
masculinos de 12 a
19 anos
3
PAIVA,
V.;
PUPO,
L. R. e
BARBO
ZA, R.
2006
O direito à
prevenção e os
desafios da
redução da
vulnerabilidade ao
HIV no Brasil.
Analisar a resposta
brasileira em contraste
com as metas estabelecidas
para prevenção do
HIV/Aids pela UNGASS.
Rio Grande do
Sul, São
Paulo, Pará,
Pernambuco e
Mato Grosso
do Sul Brasil,
2003-2004.
Indicadores e metas
números 49, 50, 52
e 53, sobre a
prevenção do
HIV/Aids dos
estados
selecionados.
4
BENZA
KEN, A.
S. et al.
2007
Intervenção de
base comunitária
para a prevenção
das DST/AIDS na
região amazônica,
Brasil.
Descrever estudo de caso
de intervenção de base
comunitária, desenvolvido
na perspectiva
construcionista-
emancipatória, para o
controle das DSTs/AIDS.
Manacapuru –
Amazonas,
1997-2004.
5 Garotas de
Programa.
5 GARCIA
, S. et. al.
Estigma,
discriminação e
Identificar a prevalência de
atitudes discriminatórias
Norte e
Nordeste;
Todos os
moradores, com
29
2008 HIV/Aids no
contexto
brasileiro, 1998 e
2005.
em dois momentos da
epidemia brasileira
HIV/Aids e possíveis
mudanças ocorridas.
Centro-Oeste
e Sudeste,
exceto São
Paulo; Sul; e
estado de São
Paulo, 1998 e
2005.
idade entre 16 e 65 anos (5.040
entrevistas, com
1.260 domicílios
sorteados)
6
TOLED
O, M. M.
2008
Vulnerabilidade
de
adolescente
s ao HIV/AIDS:
REVISÃO
INTEGRATIVA.
Identificar as evidências
científicas da literatura
sobre os elementos de
vulnerabilidade de
adolescentes a infecção do
HIV.
Vários países
da América
latina, 2007.
41 estudos
7
FIGUEI
REDO,
R. e
PEIXOT
O, M.
2010
Profissionais do
sexo e
vulnerabilidade.
Refletir sobre a problemática da
prostituição feminina e
masculina, considerando
este fenômeno enquanto
exploração
socioeconômica e de
gênero.
São Paulo,
sem citação do
ano.
Sem citação da
amostra.
8
CORTE
Z, F. C.
P. et al.
2011
Consumo de
álcool e outras
drogas, sintomas
depressivos,
impulsividade e
aspectos
dimensionais de
personalidade
entre homens
biológicos
profissionais do
sexo.
Avaliar aspectos
psicopatológicos
específicos de homens
biológicos profissionais do
sexo (male sex workers –
MSW), examinar aspectos
dimensionais da
personalidade,
impulsividade, uso de
álcool e drogas e
envolvimento com
atividades criminais entre
MSW da cidade de Santo
André/SP.
Santo André –
São Paulo,
2007-2009.
80 Garotos de
programa (40 com
TIG e 40 sem)
9
SANTO
S, M. A.
2011
Prostituição
masculina e
vulnerabilidade às
DSTS/AIDS.
Identificar as razões que
levam homens jovens a se
inserirem no mercado da
prostituição masculina,
apreender as
representações que
elaboram sobre as práticas
sexuais adotadas e sua
percepção quanto à própria
vulnerabilidade às
DSTS/AIDS.
Ribeirão Preto - São Paulo,
2007.
24 adolescentes e
jovens homens do
sexo masculino
10
JÚNIOR, G. P. S.
2012
O negócio do
“prazer
remunerado” nos
discursos de
garotos que fazem
programa.
Olhar para a prostituição
de rua praticada por
garotos de programa, com
o intuito de entender e
revelar subjetividades
presentes nesse contexto,
uma vez que, no campo da
Saúde Pública, esse tema
geralmente culmina em um
viés epidemiológico,
voltado para os riscos que
correm de contraírem
DSTs.
Osasco - São
Paulo, 2010-
2014.
26 Garotos de
Programa
30
6.2 Considerações teóricas sobre a prostituição masculina
Nesta categoria apresenta-se as considerações dos autores dos textos selecionados
acerca da prostituição masculina, incluindo questões pertinentes aos conceitos de gênero,
sexualidade e orientação sexual. Importantes conceitos que devem ser conhecidos pelos
profissionais da saúde para um atendimento integral e holístico ao sujeito usuário do SUS.
TOLEDO (2008) ao dizer sobre a prostituição apresenta-a na dimensão de
vulnerabilidade social, apresentando como consequência da pobreza; violação dos direitos
humanos; relações de gênero, que incluem aspectos culturais, exploração sexual; sobretudo
pela falta de estrutura familiar, de acesso à educação, consequentemente de emprego;
violência e falta de expectativa com o futuro.
Já para FIGUEIREDO e PEIXOTO (2010), falar de prostituição é falar da exploração
do corpo e da sexualidade por um mercado consumidor desse serviço. Apontam que a
indústria da prostituição se baseia na desigualdade de gênero, socioeconômicas, étnico-raciais
e geracionais.
Esses pilares são revelados pelo universo dos prostituídos: geralmente
mulheres, homossexuais, transgêneros, rapazes, jovens e adolescentes, de
baixo nível socioeconômico. Também migrantes, etnias/raças/cores
discriminadas, como negros, pardos e indígenas (no Brasil); latinos e
afrodescendentes ou oriundos do Leste Europeu e da Ásia (nos países do
chamado 1º Mundo) (FIGUEIREDO e PEIXOTO, 2010, p. 10). No estudo de TAQUETE et al. (2005) o dado que mais chamou a atenção foi a
prostituição dos rapazes com homossexuais masculinos. Os autores colocam que as
justificativas para esses garotos se inserirem na prostituição giram em torno da questão
econômica/social, e que os adolescentes acabam se tornando alvo de homossexuais mais velhos
para realização de seus desejos sexuais.
Já no de TOLEDO (2008), a prostituição masculina foi mencionada como uma forma
de obter dinheiro para sobrevivência, a orientação sexual ou desejos do cliente não importa,
desde que o objetivo seja alcançado: pagamento em dinheiro, presentes ou drogas (até mesmo
por essas também poderem ser comercializadas).
SANTOS (2011) também refere-se a homens que se envolvem em relações sexuais
com outros homens, visando a obter algum tipo de compensação. Comumente ela é definida
como a prática de entregar-se a relações sexuais promíscuas em troca de dinheiro, a
prostituição exercida por homens é ainda um tema relativamente desconhecido no campo da
pesquisa em saúde.
Em geral, pouco tem sido os estudos desde o trabalho pioneiro de
PERLONGHER (1987), publicado há mais 20 anos, ainda início da epidemia
de aids. Nessa vertente, abordar o universo da assim denominada
"prostituição viril", assumindo uma perspectiva não-excludente e não-
estigmatizante, constitui um desafio na atenção à saúde.O universo da
prostituição viril é duplamente minoritário e estigmatizado, seja pelo tipo de
31
atividade comercial que os atores sociais desenvolvem, seja pela natureza
homossexual do relacionamento que essa transação, na maioria das vezes,
envolve (SANTOS, 2011, p. 78).
Já o estudo de JUNIOR (2012) trata das (in)visibilidades de garotos de programa (que
atuam no território de Osasco - São Paulo) no campo da saúde pública, além disso,
problematiza a temática sobre a prostituição masculina considerando-a como campo de
conhecimento específico da Saúde Pública. Após identificar o caminhar metodológico da
pesquisa a autora inicia referenciando que ao abordar o tema “mercado sexual” é inevitável
que não se fale de prostituição, pois esta é uma das principais maneiras de se inserir e atuar
nesse universo. Em seguida traz o tópico: “Garotos de programa nas fronteiras da
homossexualidade: reflexões teóricas na perspectiva das ciências sociais”, no qual ela trabalha
com as fronteiras entre sexualidades, masculinidades e homossexualidades; dimensões
políticas da sexualidade; violências ocultas homossexuais à visibilidade da diversidade sexual.
Quanto a nomenclatura usada para se referir a prostituição masculina, ANTUNES
(2005) usa em seu estudo a sigla “C.A.” (Carteira Assinada) para denominar os garotos de
programa, ou qualquer homem que estejam sendo bancado por outros homens em troca de
favores sexuais, geralmente mais velhos, com estabilidade financeira e que podem pagar para
terem relações sexuais com homens mais jovens. Os “C.A.” não são considerados michês
nessa perspectiva pelo autor, uma vez que não possuem múltiplos parceiros sexuais em troca
de dinheiro.
No estudo de SANTOS a nomenclatura usada para se referir a atividade que esses
indivíduos exercem foi "garotos de programa", "michê" e loverboys. Quanto aos motivos para
inserção na indústria do mercado sexual, os relatos mostram que o interesse financeiro muitas
vezes representa apenas a forma mais visível e aceitável da escolha por esse tipo de trabalho.
Enquanto isso, para JUNIOR (2012) a discussão sobre esses indivíduos serem “garotos
de programa”, “michê”, “prostituto”, houve negações dos mesmos ao se referir à atividade a
qual exerciam, contudo, negação de serem algum dos termos mencionados. Sendo assim
mencionaram trabalhar com o negócio do “prazer remunerado”, fazendo oposição à
expectativa social à uma sociedade politicamente conservadora. Cabe ressaltar que ao abordar
e perguntar se eram garotos de programa todos os entrevistados disseram ser, a autora justifica
que eles se apresentam primeiramente, como a forma de identificar o que faziam naquele
território. A autora define nessa discussão o termo michê assim como PERGLONGHER
(1987), ao dizer que o michê refere-se a prostituição masculina, viril e que o termo também
serve para os diferenciar da prostituição exercida por mulheres e travestis. Aponta ainda que
em outros contextos (que não a rua) existem outras nomenclaturas como: go go boys,
capetinha de plantão e massagistas.
Já para TAQUETE et al. (2005) o termo usado foi HSH (homens que fazem sexo com
outros homens).
32
CORTEZ et al. (2011) apontam em seu estudo que a pesar de existir diversas
nomenclaturas para o homem que se prostituí nas ruas (MSW - strret hustlers), ainda existem
poucos estudos que avaliem os aspectos psicopatológicos desses indivíduos. Diante disso os
autores buscaram examinar os aspectos dimensionais da personalidade, impulsividade, uso de
álcool e drogas e envolvimento com atividades criminais entres os homens biológicos
profissionais do sexo (male sex workers – MSW) que atuam nas ruas do município de Santo
André – São Paulo.
ANTUNES (2005), estudou o território do Ibirapuera e Trianon (São Paulo) esses são
territórios de michês de classe média enquanto no centro a prostituição viril era de jovens de
classe baixa. Ao falar de prostituição, menciona a frequência de michês e prostitutas não
serem bem-vindos na região do Jardins, o que caracteriza a violência simbólica, física sofrida
por esses, o que configura a chamada “rede de exclusão”, pois estes muitas vezes também não
são aceitos em diversos outros contextos, seja familiar, cultural, econômico.
Para o autor, na cultura sexual brasileira a masculinidade é afirmada por meio da
virilidade, postura ativa, força e agressividade. “As práticas homoeróticas fazem parte dessa
construção, na qual o papel sexual (ativo ou passivo) é quem define a identidade de gênero”
(ANTUNES, 2005, p. 26). Em contrapartida, existe uma desvalorização de homossexuais que
assumem posturas feminilizadas ou que se mostram como passivos durante a relação sexual.
Existe grande quantidade de homens que mantém relações sexuais com outros homens e não
assumem uma identidade homossexual.
Os comportamentos femininos e a passividade são inaceitáveis, sendo que
aqueles que não conseguem assumir uma postura ativa nesses jogos acabam
ficando estigmatizados dentro do grupo e adquirindo um novo papel sexual
dentro do seu grupo, o de bicha, viado, boiola. Esses atores sociais estão
envoltos de estigma e preconceito, chegando até a sofrer a perseguição dos
machos viris e sendo vítimas da violência. (ANTUNES, 2005, p. 27)
GARCIA et. al. (2008) procurou identificar a prevalência de atitudes discriminatórias
em momentos da epidemia de HIV/AIDS no Brasil, os autores fazem referência aos HSH,
porém, no contexto desses indivíduos carregarem o estigma a AIDS. Referem-se diretamente
aos michês, HSH, profissionais do sexo, usuários de drogas associando-os como populações
suscetíveis ao estigma que acompanhou o início da AIDS em meados dos anos 1980.
Para GARCIA et al. (2008) os MSW costumam sofrer discriminação e são
estigmatizados pela sociedade, principalmente os que possuem identidade de gênero feminina.
Os autores pontuam que geralmente esses MSW com identidade de gênero feminina possuem
este papel de gênero em tempo integral, estando assim expostos de forma integral também as
experiências de rejeição. “Na realidade, sentimentos constantes de estigmatização e rejeição
podem alterar a percepção que uma pessoa tem em relação as reações de outras, levando a
evitação de situações sociais”. (p. 77)
Os MSW com Transtorno de Identidade de Gênero (TIG), se comparados com os sem
transtorno apresentam frequências mais graves de sintomas depressivos, maior frequência de
33
história de violência física por parte dos clientes, menor frequência de terem outras profissões
além da prostituição, em contrapartida, de acordo com o estudo estes apresentam maior renda
mensal. No período da infância e/ou adolescência, um quarto dos pesquisados apresentavam
história de fuga de casa; alta taxa de violência física e ou sexual. De acordo com o estudo,
essa precoce separação familiar pode contribuir para a geração de “sentimentos de solidão,
baixa autoestima, inutilidade e autopunição na vida adulta”. Os autores acrescentam ainda que
grande parte dos portadores de transtorno de identidade de gênero não tem uma boa aceitação
da sociedade também.
Argumentando ainda sobre identidade masculina, SANTOS (2011) afirma que esta se
configura diante de um processo de socialização que repudia a identidade homossexual.
Mostrando assim, os limites impostos pelos estereótipos de gênero a construção de uma
identidade masculina. Contudo, o modelo tradicional de identidade masculina também é
identificado pela “demonstração de virilidade, desvalorização das necessidades afetivas e
valorização de características como a competitividade, preocupação acentuada com o
desempenho, dominação autoritária e opressão do gênero feminino”. (p. 1)
Os resultados da pesquisa de SANTOS (2011) demonstram que o parceiro que exerce
o papel “ativo” na relação é conhecido como “homem”, “cara normal”, de forma que
consegue manter os padrões impostos por uma masculinidade dominadora, heteronormativa.
Para os garotos de programa, a recompensa financeira que sela o "contrato de trabalho" é um
elemento importante na constituição e manutenção dessa crença, que atribui lugares diferentes
para o michê e seu cliente, na medida em que a remuneração oferece uma justificativa lógica e
racional para o comportamento sexual desviante da heteronormatividade.
Os entrevistados caracterizam seus serviços sexuais pela posição adotada
durante o intercurso sexual, definida pela dicotomia "penetrar" versus "ser
penetrado". Nessa perspectiva binária, a maioria define-se como "ativo",
"100% ativo", "ativo liberal" ou, simplesmente, "homem", com uma minoria
que admite abertamente ser "ativo e passivo" ou "apenas passivo". Essas
denominações aparecem recursivamente nos discursos dos colaboradores. Na
cultura brasileira o critério utilizado para determinar a orientação sexual, via
de regra, não é o sexo do parceiro, mas a posição assumida no ato
sexual.
Sendo assim, em uma relação entre dois homens, somente o
"passivo" (definido como aquele que é penetrado durante a relação sexual) é
identificado, pejorativamente, como "bicha", "veado", "boiola", "baitola",
"afeminado", "homossexual” (SANTOS, 2011, p. 80).
Para TAQUETE et al. (2005) a puberdade pode ser vivida por alguns adolescentes
como uma doença, isso por consequência da heteronormatividade. Um risco que maximiza a
situação é o "machismo" nos atuais modelos hegemônicos de gênero, na medida em que a
prática homossexual ativa, encarada por alguns como sinal de potência e virilidade, releva o
"super- macho" que consegue "transar" até com homens.
No estudo de JUNIOR (2012) é relatado a todo momento que, quando aparece alguém
com trejeitos femininos, gay, ou que se mostre passivo nas relações sexuais esse primeiro
34
grupo prefere manter distância dos mencionados, pois alegam que podem ser confundidos
com gays, afeminados bem como passivos, consequentemente mais “desvalorizados” no meio
segundo eles mesmos. Acerca do receio desses garotos serem associados ao meio gay, a
autora aponta também que, diferente da prostituição feminina, a masculina não possui
nenhuma organização que visem seus direitos trabalhistas por consequência do medo da
associação com os gays. No trabalho também é apontado certa aversão pelas travestis. Dizem
também que caso dividam aquele espaço acabariam espantando a clientela que ali frequenta.
SANTOS (2011) entrevistou 24 adolescentes e jovens homens do sexo masculino, que
admitiram fazer sexo com homens e/ou mulheres em troca de gratificação financeira. A idade
dos entrevistados variou de 17 a 29 anos, sendo a maioria solteiro, com baixo nível de
escolaridade, com famílias de camadas populares. Acerca dos motivos para entrada no mundo
da prostituição, a grande maioria alegou que havia começado a exercer a atividade do sexo
comercial após os 18 anos.
A pesquisa de JUNIOR (2012) foi realizada com 26 garotos. No que concerne a
identidade desses sujeitos, grande maioria dos entrevistados (inclusive os que possuem
trejeitos femininos) ao tratar de sua identidade se identificaram como homens, heterossexuais,
alguns bissexuais, apenas dois gays, mas fora do meio, sobretudo “totalmente ativos”, alguns
inclusive negaram fazer parte da prostituição, disseram estar na “caça” (o termo caça refere-se
a busca por aventuras sexuais e pegação), porém, que se surgisse alguma possível
remuneração a aceitaria em troca de “favores sexuais”, ou seja, seria uma troca de interesses.
Quanto a orientação sexual destes indivíduos a maioria alegou ser heterossexuais, apesar de
grande parte da clientela ser homens. Nesse contexto na pesquisa surgem os HSH (homem
que faz sexo com outros homens). Alguns entrevistados apontam estar no meio da prostituição
apenas como forma de complementar renda, sobretudo, apontam que não abdicam de suas
performances de masculino, viris, de serem heterossexuais, dois deles inclusive revelaram
durante a pesquisa terem filhos e esposa, porém esses não sabem que trabalham na
prostituição. Sobre os que possuem filhos a autora aponta para um discurso em que esses
sujeitos usam o peso de ser pai para atrair clientela, sendo esta também uma forma de
valorizar suas performances viris. Um dos entrevistados que justificou estar ali apenas para
conseguir complemento financeiro, relatou ter emprego fixo, sendo que este foi oferecido por
um de seus clientes. Alega também sofrer abusos constantes, mas que não afeta nem interfere
diretamente no seu trabalho (na empresa).
Segundo JUNIOR (2012), esses indivíduos entendem que a sexualidade humana pode
ser vivenciada de diversas maneiras, inclusive como fazendo sexo por dinheiro, daí o motivo
para não se “rotularem” com uma nomenclatura que carregue tanto estigma. Neste contexto
(de sexualidades) a autora aponta a necessidade da realização de pesquisas que ampliem e
contribuam para a compreensão da sexualidade como parte de uma dinâmica, social, histórica
e infinita enquanto expressão humana, tendo a necessidade de mostrar as reais realidades
35
subjetivas desses garotos.
TAQUETE et al. (2005) buscou compreender a vivência da sexualidade na
adolescência e subsidiar programas que orientem adolescentes quanto a promoção e
prevenção de doenças. Sendo assim, aponta que a semenarca (primeira ejaculação) dos
pesquisados ocorreu entre 12 e 13 anos e a média de idade da sexarca (primeira relação
sexual) foi de 13,2 anos. O primeiro coito aconteceu antes dos 15 anos e a maioria relatou ter
sido com mulher. Quanto ao abuso sexual, 3 adolescentes relataram ter sofrido e 10 não.
Quanto a ter relação sexual (homossexual) em troca de dinheiro seis dos 13 adolescentes
relataram ter passado pela experiência.
Dos 105 entrevistados, 64 já tinham tido experiência sexual, 13 tinham se relacionado
com outros homens, apenas dois dos entrevistados se consideravam homossexuais e todos os
outros 11, apesar das experiências homossexuais, não se identificavam com esta orientação.
Os adolescentes que relataram já ter vivido experiência homossexual relataram medo quanto a
descoberta de sua sexualidade por receio à rejeição e à discriminação, e por isso justifica que
muitos homossexuais não se expõem e se isolam. Cabe aqui relatar que um dos treze
adolescentes já tinha tentado suicídio por conta de pressão familiar para “virar homem”.
Relação sexual com homens não esteve significativamente associada a ter uma DST.
Após fazer menção ao “perfil” dos prostituídos FIGUEIREDO e PEIXOTO (2010)
referem-se a quem são os “prostituídores”, ou seja, quem são as pessoas que sustentam a
indústria da prostituição e os definem como “homens, geralmente adultos, brancos,
heterossexuais ou bissexuais, que desejam aparentar status de gênero masculino, além de
possuir recursos e utilizá-los para compra do serviço/profissional do sexo, para satisfazer sua
necessidade, fantasia ou desejo”.
Os autores citam em seu estudo que a prostituição vem sendo legitimada por elites e
governantes, por serem consumidores da prostituição (clientes). Referenciam a situação assim
como PELONGHER (1987), “a miséria, filha da desigualdade social, é vista como
desencadeante do processo de prostituição” (FIGUEIREDO e PEIXOTO, 2010, p. 204).
Porém, esse processo também está associado a tabus da sexualidade que excluem muitas
dessas pessoas da vida familiar original e as impele à desproteção e, consequentemente, à
dominação pelos mais poderosos.
Já o estudo de CORTEZ et al. (2011) os MSW com Transtorno de Identidade de Gênero
(TIG) descrevem seus clientes como executivos, jovens, de condição socioeconômica média e
alta.
Para JUNIOR (2012), a alternância na relação de poder evidentemente o cliente domina
colocando-se em posição superior financeiramente e por outro lado o garoto de programa
também conduz a relação, pois ele apresenta virilidade e juventude.
Ainda conforme JUNIOR (2012), a partir da análise dos discursos desses garotos,
afirma que gays afeminados, continuam sendo inferiorizados e ridicularizados, mesmo no
36
próprio meio; alguns discursos acerca da atividade colocam a prostituição como atividade de
glamour e sofisticação, em contrapartida houve quem se referisse a ela como uma maldição.
As experiências performáticas masculinas, portanto, são vistas diante das reações de risco e
esses garotos atraem clientes usando da mesma ferramenta que as prostitutas do sexo
feminino, usando discurso pronto, porém, na prostituição masculina esse discurso vem em
forma de autoafirmação de identidades masculinas, usando da justificativa de recompensa
financeira para suas aventuras sexuais.
ANTUNES (2005) apresenta “o cenário cultural e as subculturas homossexuais” onde
aponta que é necessário resgatar a discussão sobre o cenário da homossexualidade como
produto de forças históricas e sociais. Nesse contexto conceitua a sexualidade como um dos
papéis vivenciados pelos indivíduos e que é construído de forma subjetiva, representada de
acordo com o cenário cultural. Sendo assim a subcultura homossexual “organizada em torno
de desejos e práticas masculinas do mesmo sexo...” (PARKER, 2002 citado por ANTUNES,
2005).
Alguns argumentos sobre a exacerbada sexualidade desses “prostituídos” têm sido
utilizados como fator individualizante de “escolha da profissão”, “vida fácil”. A atual
sociedade não tolera expressões da sexualidade e as relega à marginalidade, privilegiando e
promovendo apenas a monogamia, a matrimonialidade e a sustentação da estrutura familiar no
modelo burguês-europeu, o que de certa forma contribui para a marginalização da prostituição
(FIGUEIREDO e PEIXOTO, 2010).
Para FIGUEIREDO e PEIXOTO (2010), a perpetuação da exploração sexual é
reforçada devido à ausência de solidariedade entre os estigmatizados sexualmente. Essa
divisão dos grupos de prostituição, que se conforma na hierarquia “ser mais homem” versus
“ser menos homem/não ser homem” é incorporada e reproduzida pelos próprios explorados,
estigmatizando outros prostituídos da mesma forma como são estigmatizados. Sendo assim,
A culpa é imputada ao explorado (“inadequado” aos padrões sociais),
acusado pelo explorador e por outros grupos explorados. O explorador ganha
razão e se torna modelo a ser almejado e nem sempre tem consciência de seu
papel, já que é formado pela sociedade para assumir tal posição. Por este
motivo, tal como uma “luta de classes”, a “minoria social estigmatizada” só
estará apta a se fortalecer caso promova a organização dos grupos
discriminados. Entre prostitutas, a organização foi desencadeada com o início
da epidemia de AIDS, com entidades como a Rede Brasileira de Profissionais
do Sexo, que realizou, em 1987, o 1º Encontro Nacional de Prostitutas, com a
Associação da Vila Mimosa, em 1988, a Associação das Prostitutas do
Estado do Ceará (APROCE), fundada em 1990, década em que também
surgiram o Grupo de Mulheres Prostitutas da Área Central de Belém (1990),
a Associação Sergipana de Prostitutas (1990), o DaVida - Prostituição,
Direitos Civis e Saúde (1992), entre outras. Infelizmente, a maioria das
prostitutas e, em especial os profissionais do sexo masculino de rua, não
costumam se associar. Michês, na maioria das vezes, não se apresentam
socialmente como prostitutos fora do “trabalho”. Quanto aos travestis, não
possuem organizações específicas e vêm se inserindo nas organizações de
luta LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros), visando denunciar a
violência que enfrentam, lutar pela ampliação de seus direitos e reivindicar a
prevenção de doenças sexualmente transmissíveis (DST) e AIDS e a atenção
a sua saúde sexual em geral (FIGUEIREDO; PEIXOTO, 2010, p. 2).
37
FIGUEIREDO e PEIXOTO (2010, p.4) abordam a questão da criminalização da
homofobia, pois esta “incide automaticamente sobre profissionais do sexo masculino, uma
vez que tal criminalização pode ser usada como defesa, restringindo agressões verbais,
comportamentais e físicas que enfrentam em andanças e no trabalho”.
A Rede Brasileira de Prostitutas, com grupos no Sul, Sudeste e Nordeste,
articula o movimento em busca da identidade profissional, visando o pleno
exercício da cidadania, a redução do estigma, da discriminação e a melhoria
da qualidade de vida. Por isso, defendem a profissionalização da prostituição
e o projeto de lei federal Nº98/2003 (FIGUEIREDO; PEIXOTO, 2010, p. 5).
Em contrapartida ao movimento de busca por identidade profissional das prostitutas,
os autores revelam que os michês não desejam ser estigmatizados “com o rótulo de
profissionais do sexo, uma vez que a garantia de direitos sociais de saúde já está prevista a
todos pela equidade possibilitada no atendimento pelo SUS, além da possibilidade de
aquisição de aposentadoria como autônomos pelo INSS”.
O estudo de PAIVA; PUPO e BARBOZA, (2006) aborda a prostituição masculina
apenas no sentido de ações de distribuição de preservativos para esses trabalhadores e
seringas para usuários de drogas injetáveis. Aponta ainda que apesar da UNGASS trabalhar
com iniciativas consideradas importantes para diminuição do estigma e discriminação, os
trabalhadores do sexo, homossexuais e transgêneros não estão incluídos nos indicadores e
metas da UNGASS.
BENZAKEN et al. (2007) também não abordam diretamente sobre a prostituição
masculina, porém usam o termo “homens que fazem sexo com outros homens”, sendo este
termo também usado para referenciar michês. De forma não contínua, esses homens,
juntamente com travestis e prostitutas, se fantasiavam para desfilar num bloco de carnaval de
nome “sem preconceito”, porém os autores atentam que quando esses homens não se
fantasiavam, pintavam seus rostos a fim de se esconder.
Os autores afirmam que a reprodução da experiência em outros contextos
sociopolíticos e culturais deve ser encarada de forma cuidadosa e que a aceitação e
organização de homens que fazem sexo com outros homens, travestis, prostitutas e escolares
na mesma sede é um indicador local que pode ser difícil adesão em outras realidades
brasileiras. Ressaltam que tal prática conseguiu articulação com o setor educação, porém, não
isso não foi possível com o conselho tutelar, nem com a polícia.
6.3 A prostituição masculina e saúde
A relação entre prostituição masculina e a saúde foram abordados pelos autores de
diversas formas. Diferentes metodologias foram utilizadas pelos autores em sua pesquisa, mas
uma característica foi percebida em todos os estudos, a abordagem da prostituição masculina
com as doenças sexualmente transmissível, em especial a AIDS.
38
ANTUNES (2005) inicia seu estudo com o tópico “homossexualidade em tempos de
AIDS: estudos sobre Homens que fazem Sexo com Homens (HSH)”, onde coloca que a falta
de estudos sobre sexualidade dificultaram o planejamento de estratégias de prevenção no
início da epidemia da AIDS, que inicialmente foi chamada de “peste gay”, pois atingia
inicialmente os HSH. Segundo o autor, os primeiros trabalhos acerca da temática surgiram em
resposta da preocupação com a evolução da epidemia dentro da comunidade gay. “A partir de
então abriu-se espaço para discutir a sexualidade, identidade sexual, do poder implícito nas
relações interpessoais, do simbolismo da AIDS, da vida, da morte, do prazer, das culturas e
subculturas sexuais”. (p. 17)
Sua pesquisa foi feita sob dois pontos diferentes da grande São Paulo (Jardins e o
centro da cidade). De acordo com o autor o mapeamento possibilitou observar as diferenças e
semelhanças entre homens das duas regiões pesquisadas.
Os dados obtidos na aplicação dos questionários também indicaram
diferenças significativas em resposta as questões relativas aos dados sócio
demográficos, e também sobre práticas sexuais de risco para contrair o HIV,
motivos para utilizar o preservativo, percepção de risco, crenças na eficácia
do preservativo e adesão de atividades de prevenção ao HIV, indicando que
esses diferentes cenários podem estar resultando em cenas sexuais distintas
(ANTUNES, 2005, p. 91).
A pesquisa aponta que muitos homens preferiam não frequentar bares do Jardins por
conta do ambiente de aparências. O autor logo pontua a questão da discriminação por
homossexuais ser vivida dentro do próprio gueto. Muitos dos pesquisados também relataram
que a família não tinha conhecimento acerca de sua identidade sexual, em função do estigma
vivido.
Dentro dos cenários analisados o autor observou vários papéis vivenciados e descritos
pelos frequentadores dos lugares pesquisados, esses papéis foram percebidos como sendo de
“travesti, michês, bicha velha ou tias, executivos e boy”. Para ANTUNES (2005), o
aglomerado de casas de prostituição no centro da cidade permite a convivência de
homossexuais, prostitutas, michês, travestis e moradores de rua em geral de forma pacífica.
(p. 100)
A relação entre prostituição masculina e saúde realizada por ANTUNES (2005) refere-
se as dinâmicas em grupo e técnicas psicodramáticas realizadas com 500 homens que estavam
frequentando alguma dessas regiões, para discutir o uso de preservativos e sua erotização,
práticas sexuais e negociação com o parceiro frente aos riscos de contrair DST/AIDS.
Nos achados:
O maior número de homens participantes do jardins (82%) fizeram uso
inconsciente do preservativo no sexo oral, enquanto no centro foram (72%).
Maior proporção de homens no centro (16%) afirmaram que engoliam
esperma “sempre” ou “na maioria das vezes” do que no jardins (10%). Em
geral, (52%) dos participantes tiveram algum tipo de prática de risco nos
últimos seis meses. (...) além da maior porcentagem, de práticas de risco no
centro, observou-se que esses homens tinham menor percepção do risco de
39
contrair o HIV, quando comparados com os homens que frequentavam o
jardins. A confiança no preservativo como um meio eficaz de prevenção
também era menor no centro e mais homens discordaram da afirmação de
que “camisinhas são seguras e não estouram com facilidade (ANTUNES,
2005, p. 105-106).
Quanto à realização de testes de HIV 71% dos entrevistados relataram já ter realizado
o teste e destes 5% se declararam soropositivos. 50 % dos entrevistados também declaram
estar carregando preservativos. Dentre os que relataram não fazer uso de preservativo duas
respostas prevaleceram: 66% alegaram já conhecer o parceiro (confiança), 53% disseram que
o parceiro parecia saudável, 21% alegaram estar sob efeito de álcool/drogas.
Segundo ANTUNES (2005), o preconceito e a discriminação vivenciada por aqueles
que tem práticas sexuais homoeróticas e o preconceito dentro da própria comunidade de
HSH com relação aos homosssexuais mais pobres, feminilizados, velhos ou negros tendem a
afetarem aspectos individuais que não foram investigados na pesquisa( auto estima, ser sujeito
da sua própria sexualidade, se sentir sujeito portador de direitos, estigma) podem criar
barreiras para o acesso as informações sobretudo também incide na dificuldade para HSH
buscarem os serviços de saúde.
Ressalta-se que os aspectos citado por ANTUNES (2005) podem ser temas de
pesquisas numa perspectiva mais ampliada da prostituição masculina e saúde, visto que saúde
na contemporaneidade, não refere a doença, mas ao bem-estar consigo e no mundo.
Já o estudo de TAQUETE et al. (2005) também estuda homens que tiverem relação
com outros homens, porém, conta exclusivamente com uma população composta por
adolescentes, que buscavam atendimento médico no NESA – UERJ. O NESA é um setor da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) responsável pela atenção integral à saúde
de adolescentes na faixa etária de 12 a 20 anos de idade. O setor funciona como uma unidade
docente-assistencial nos níveis de atenção primária, secundária e terciária.
Os autores apresentam inicialmente algumas características do seu objeto de estudo
(adolescentes), dentre elas, que esta é a fase das primeiras experiências sexuais; uma fase de
experimentação que contribui na construção da identidade sexual futura, experimentando
então formas de der homens ou mulheres. Os pesquisadores privilegiaram realizar entrevistas
nos dias de funcionamento dos ambulatórios de sexualidade/DST e urologia, para aumentar a
probabilidade de encontrarem na sala de espera do NESA pacientes que já tivessem pelo
menos uma experiência sexual genital, fosse por meio de relações heterossexuais ou
homossexuais. Não houve busca de forma preconcebida por adolescentes que pudessem ser
classificados como homossexuais. Vale ressaltar que as entrevistas também foram realizadas
com pacientes de outras clínicas, sendo elas: clínica médica, nefrologia, endocrinologia,
alergia, reumatologia.
A idade dos adolescentes que relataram experiências sexuais com homens variou de 14
a 19 anos, sendo a média 17,3 anos. A prevalência de DST esteve em sete adolescentes e
40
cinco destes relataram quase sempre e/ou sempre usam preservativo, enquanto oito relataram
usar às vezes ou quase nunca.
O estudo em questão faz considerações importantes acerca da prostituição masculina e
a saúde dos adolescentes que exerceram a prática da prostituição. De acordo com os autores,
homossexualidade, prostituição, comportamento promíscuo, uso de drogas, depressão,
suicídio, etc. remetem a um mal-estar individual e também a um mal-estar na cultura desses
adolescentes. Alertam ainda que os serviços de saúde que atendem adolescentes e investem na
promoção da saúde sexual e prevenção de DST/AIDS precisam estar atentos a questão da
prostituição no caminho da homossexualidade, o que pode aumentar a vulnerabilidade a essas
doenças” (TAQUETE et al. 2005)
Ainda com o olhar voltado para as DSTS/AIDS, o estudo de PAIVA; PUPO e
BARBOZA (2006) buscou analisar a resposta brasileira à epidemia de em relação às metas
estabelecidas para o ano de 2005 no capítulo sobre prevenção da “Declaração de
compromissos sobre HIV e AIDS das Nações Unidas” (p.111). Para isso, foram analisados: o
aconselhamento e a oferta do teste anti-HIV, a educação para sexualidade entre jovens, o
acesso a preservativos masculinos e femininos, o controle das DSTS, a prevenção com
usuários de drogas injetáveis e em locais de trabalho e os planos ações e metas para
DST/AIDS de 2003 e 2004 dos estados do Rio Grande do Sul, São Paulo, Pará, Pernambuco e
Mato Grosso do Sul. De acordo com os autores esses estados foram selecionados na seleção
dos 100 municípios com maior incidência de AIDS no país.
Os autores fizeram um tópico “plano de ações e metas” e neste foram criados cinco
subtópicos, sendo estes: “acesso a preservativo”, “sobre os jovens”, “oferta de teste anti-HIV
e aconselhamento”, “local de trabalho”, “redução de danos entre usuários de drogas injetáveis
(UDI)”. (PAIVA; PUPO e BARBOZA, 2006, p.112)
Neste primeiro subtópico os autores referem à política de ampliação ao acesso a
preservativos, bem como distribuição destes pelo Ministério da Saúde. Citam que entre os
anos de 2004 e 2005 o acesso foi reduzido no Brasil, por consequência de problemas
operacionais. Além disso, com base em uma pesquisa realizada em 2005, dizem que as
camadas da população que aderem ao uso de preservativo são maiores entre pessoas mais
jovens com o primeiro grau completo, e menor entre mulheres, homens negros, e na região
Centro-Oeste e significamente maior entre os analfabetos. Posteriormente é falado acerca do
uso de preservativos entre os jovens, caracterização de uso do preservativo: uso frequente,
tipo de parceiro e nível de escolaridade. No final deste subtópico os autores destacam que a
distribuição de preservativos na escola ainda é baixa e que o foco em transmitir informações,
palestras são ações importantes, porem, não são suficientes para a promoção do sexo seguro e
fortalecimento de jovens como sujeitos de sua sexualidade. Quanto à oferta de teste anti-HIV
e aconselhamento, colocam que o percentual de pessoas “testadas” cresceu de forma
significativa nos últimos anos. Ressaltam que a maior parte dessa população é composta por
41
mulheres de 25 a 39 anos. “Estes dados revelam um avanço importante no acesso da
população feminina ao diagnóstico precoce do HIV/AIDS, porém sugere que os homens não
estão sendo atingidos pelo esforço” principalmente os homens negros. Apostam ainda que
essa diferença vem desde o final da década de 1990. (PAIVA; PUPO; e BARBOZA 2006, p.
114)
No subtópico local de trabalho, colocam dados quanto à prevenção da doença em
locais de trabalho, avanços na legislação, sobretudo ao teste de HIV para admissão em
emprego. Citam que desde no ano de 1997 o Programa Nacional- DST/AIDS instituiu um
conselho nacional que reúne 25 grandes empresas, com o objetivo de mobilizar o setor
empresarial para a prevenção das DST/AIDS. Em contrapartida colocam que esses conselhos
não atingem os trabalhadores mais vulneráveis, bem como os desempregados, aqueles com
menor escolaridade, vinculados à economia informal. Em seu último subtópico, os autores
tratam acerca dos projetos de prevenção às DST/AIDS com usuários de drogas no país.
No que tange a prostituição, o estudo coloca como desafio quanto questões acerca da
visibilidade dessa população, pois, apesar da existência de várias iniciativas no plano de
vulnerabilidade social e intervenções no campo da diminuição do estigma e discriminação,
como o apoio à proteção de direitos sexuais, estes projetos não incluem os homossexuais,
transgêneros e profissionais do sexo.
O estudo de BENZAKEN et al. (2007), assim como o de PAIVA; PUPO; e
BARBOZA (2006) trata-se de um estudo focado no controle das DST/AIDS. BENZAKEN et
al. (2007) descrevem uma intervenção na base comunitária desenvolvido para o controle das
DST/AIDS do período de 1997 a 2004 no município de Manacapuru localizado no estado de
Manaus.
O estudo foi iniciado contextualizando o problema quanto ao aumento da incidência
de DST (AIDS) e a dificuldade no controle das DST, sejam virais ou bacterianas, no mundo e
principalmente na América Latina. Os autores colocam que as políticas existentes para o
controle das DST/AIDS que não são capazes de considerar o contexto sociopolítico são
consideradas insuficientes. Logo no inicio contextualizam o cenário da saúde no município
durante o período de 1991 a 1996, sendo caracterizado por conter alta rotatividade de
profissionais e baixos números de DST notificados. Em meio a isso, no ano de 1997 foi
construído um projeto “princesinha”, cujo objetivo foi interromper a transmissão das
DST/AIDS e ampliar o acesso ao diagnóstico dos casos incidentes no SUS. As atividades do
projeto foram desenvolvidas de forma integrada com “pesquisadores, autoridades sanitárias
locais, consultores externos, autoridades políticas, parlamentares, lideranças sindicais,
comunitárias religiosas, representantes dos setores educação e segurança”. (BENZAKEN et
al., 2007, p.2)
Referente às atividades de educação preventiva, foi escolhido iniciar o programa com
“trabalhadoras” do sexo e seus clientes. Foi realizado capacitação em abordagem sindrômica
42
das DST e aconselhamento com técnicos da rede municipal de saúde pública juntamente com
cinco prostitutas que foram escolhidas de forma aleatória para serem multiplicadoras do
conhecimento acerca das DST/AIDS. O critério de escolha dessas mulheres foi facilidade de
comunicação, grau de escolaridade e interesse no projeto.
Durante o período de trabalho de educação sexual (1997 a 2004) os autores
observaram (juntamente com outros estudos) a diminuição das taxas de incidência das
principais síndromes de DST e a manutenção em baixo nível da epidemia de HIV/AIDS.
Colocam ainda que, por terem usado a metodologia emancipatória/construtivista na
intervenção psicossocial contribuiu de forma significativa para a transformação das trajetórias
individuais e coletivas daquela população.
Já a partir do estudo de GARCIA, S. et. al. (2008) o perfil dos estudos começam a ter
alterações, apesar de ainda terem foco nas DSTS/AIDS. Este, foi considerado o primeiro de
base populacional que documentou e relacionou opiniões de caráter discriminatório em
relação aos portadores do HIV. “Para a realização da pesquisa foi construído um indicador
baseado em soma de pontuações que permitisse comparar ações ao longo do tempo (ano de
1998 e 2005)” (p.82). Esses dois anos referem-se aos dados de uma pesquisa realizada no ano
de 2005 “comportamento Sexual e Percepções da População Brasileira Sobre HIV/AIDS”,
comparados com uma pesquisa similar realizada no ano de 1998.
O trabalho destes conceitua estigma e discriminação a fim de identificar atitudes
discriminatórias ou estigmatizantes no contexto da epidemia da AIDS. Segundo os autores, o
estigma e a discriminação associados ao HIV/AIDS podem reduzir e/ou dificultar a procura
pela realização de teste, por receio do resultado, e pela falta de informação sobre o que será
feito caso o teste aponte positivo. Os resultados em geral, mostram redução do índice de
intenção de discriminação do ano de 2005 se comparado com 1998. Porém, nos dois períodos,
pode ser percebido alto índice do nível de concordância para a obrigatoriedade do teste da
AIDS envolvendo profissionais do sexo, usuários de drogas e mulheres grávidas.
No estudo feito em 2005, mulheres apresentam maior índice de intenção de
discriminação se comparado com os homens. Quanto menor a escolaridade, maior a intenção
de descriminalização, os que apresentaram menor índice de descriminalização foram pessoas
que não possuíam nenhum tipo de religião. Segundo os autores, esses dados mostram a
exigência de fiéis a seguirem linhas mais conservadoras, o que neste caso significaria
demarcar territórios morais a partir dos quais o HIV e a AIDS são percebidos e tratados como
“o vírus e a doença dos que vivem do pecado”. (GARCIA et. al., 2008, p.82)
A comparação entre as pesquisas mostrou elevado percentual nos dois períodos
indicando elementos estigmatizantes, tanto para mulheres grávidas, como para profissionais
do sexo e usuários de drogas. Os autores atentam que, não foi possível estabelecer associação
entre os níveis de intenção de discriminação e de conhecimento das pessoas sobre os
mecanismos do HIV. Apesar da redução do índice a disseminação de informações sobre
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formas de transmissão (e não transmissão) da AIDS ainda necessita de melhor elaboração e
divulgação e, sobretudo, que é extremamente importante que o Estado programe políticas que
assegurem o acesso equitativo de homens e mulheres à prevenção, atenção e tratamento digno
em todas as esferas públicas.
Ainda com foco nos achados acerca das DSTS/AIDS, TOLEDO (2008) assim como
AYRES et al. (2003), usa três dimensões da vulnerabilidade, sendo eles: dimensão individual,
dimensão programática e dimensão social. A dimensão individual corresponde às práticas,
conhecimentos e/ou comportamentos de saúde, modos de vida. Já a dimensão programática
refere-se à acessibilidade aos serviços de saúde, políticas públicas, recursos de saúde,
participação social e políticas públicas. A dimensão social abrange o acesso: à informação,
aos cuidados de saúde, valores sociais, diversidade cultural, relações de gênero e direito
humano.
TOLEDO (2008) identificou 33 elementos de vulnerabilidade que foram extraídos das
evidencias científicas. Esses elementos foram listados e distribuídos segundo cada uma de
suas dimensões (individual, programática e social). A exposição em paralelo dos elementos descritos no conceito teve a
finalidade de compará-los para identificar diferenças, semelhanças ou
elementos complementares, que retratassem a vulnerabilidade do grupo de
adolescentes, assim como a existência de algum novo elemento (TOLEDO,
2008, p. 68).
TOLEDO (2008), assim como TAQUETE et al. (2005) abordou a relação de vulnerabilidade
e infecção de HIV em adolescentes, inclusive nos que faziam sexo em troca de dinheiro.
Quanto à infecção de HIV/AIDS nesses adolescentes, que exercem a atividade de prostituição,
é apontado que são especialmente vulneráveis, pois na maioria das vezes é o cliente quem
impõe as condições para efetuar o pagamento pela relação sexual, ou seja, o medo de negociar
o uso de preservativo é consequência do medo de perder o cliente e/ou até mesmo medo de
sofrer violência por parte dos clientes. No trabalho é citado que adolescentes pobres em
situação de prostituição, que fazem uso de drogas e vivem sob uma sinergia de fatores que
causam vulnerabilidade possuem chances maiores de vulnerabilidade e de também estarem
distantes dos serviços de saúde.
A partir do estudo de FIGUEIREDO e PEIXOTO (2010) começa a ter maior
abordagem diretamente à prostituição. Este é estruturado em quatro tópicos principais:
vulnerabilidades; vulnerabilidade de profissionais do sexo feminino; vulnerabilidade de
profissionais do sexo homens e transgêneros e iniciativas para a promoção da saúde entre
profissionais do sexo. No tópico vulnerabilidades os autores abordam que a desigualdade
social e o desejo sexual socialmente “indesejado” são “invisibilidados” e que a estigmatização
sexual se mescla ao “autoritarismo e à arrogância de classe”. Isso, segundo os autores, pode
acarretar uma série de vulnerabilidades, que vão desde o afastamento da família, busca de
autosustento, exposição à violências externas, além de transtornos emocionais.
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Em vulnerabilidade de profissionais do sexo feminino os autores trazem dados
referente ao aumento de AIDS em mulheres. Segundo os autores isso ocorre porque este
grupo é homogêneo no seu baixo status socioeconômico, culminando em menor poder de
negociação do uso do preservativo e, consequentemente, acaba se expondo a mais infecções.
A este fator, somam-se, muitas vezes, o uso de drogas (álcool, cocaína e crack), a falta de
assistência ginecológica adequada e o pouco uso de preservativo por clientes, que muitas
vezes varia conforme o preço pago.
No que tange a vulnerabilidade de profissionais do sexo homens e transgêneros os
autores trazem observações quanto o decréscimo de transmissão pelo uso de drogas injetáveis,
a transmissão homo/bissexual vem se estabilizando enquanto a heterossexual continua a
crescer. Porém, destaca que deve-se considerar, nesses dados, a subnotificação de
soropositividade pela baixa testagem dessa população.
Na vulnerabilidade sexual, os michês, nas capitais, por se identificarem como
homens, praticamente não aceitam fazer programas com clientes homens sem
uso de camisinha e só abandonam a prevenção com parceiras e outras
mulheres, inclusive prostitutas - aí sim, expondo-se a DST/HIV/AIDS.
Segundo a Coordenação Nacional de DST/Aids, não há dados que explicitem
a quantidade de michês e travestis soropositivos, pois o prontuário desses não
aponta sua situação bissexual da “profissão”, enquanto travestis são
identificados com sexo e nome masculinos, o que mistura seus dados com o
de outros homens (FIGUEIREDO e PEIXOTO, 2010, p 199).
Quanto à exposição à violência, o autor cita uma pesquisa realizada pelo Grupo Gay
da Bahia no ano de 2008, que registrou “47 assassinados de profissionais do sexo masculino
(42 travestis e cinco gays), além de 48 gays que, apesar de não comprovado, morreram
provavelmente em situações ligadas à prostituição.” (p 199) Os autores apontam que a
exposição à violência física entre profissionais do sexo masculino é diferente à das prostitutas,
pois, além da polícia e clientes, enfrentam a homofobia e o contato físico mais agressivo e
letal estabelecido entre homens.
Segundo FIGUEIREDO e PEIXOTO (2010) muitos transexuais, como Francisco
Aguiar, 43 anos, declararam no estudo que tentam evitar a prostituição, adotando uma postura
“feminina” mais receptiva ao sexo. Assim, só realizam programas quando necessitam de
dinheiro para suas cirurgias, uma vez que esta é a única forma de obter renda. Isso mostra que
as implicações ultrapassam os aspectos de saúde física ligados à profissão, provocando o
desempenho de um papel sexual ativo que são obrigados a se submeter com clientes, para
chegar a serem, enfim, passivos, atestando a extrema violência psíquica com relação à própria
identidade.
Sobre as iniciativas para a promoção da saúde entre profissionais do sexo FIGUEIREDO e
PEIXOTO (2010) colocam a necessidade de que as estratégias do SUS promovam ações na
Atenção Básica visando facilitar o acesso a informações e serviços de assistência, bem como
capacitem profissionais para atuarem com esse público específico. Sobretudo para os garotos
de programa, pois segundo os autores, a situação é mais complexa, pois esses garotos não
45
revelam sua situação de trabalho aos profissionais de saúde, pois têm autopreconceito com a
ocupação e prática bissexual. Dizem também, que as estratégias de promoção à saúde entre
profissionais do sexo incluem maior acesso a insumos fundamentais ao seu trabalho:
preservativos masculinos e femininos, lubrificantes. Finalizam com o argumento de que as
estratégias intersetoriais mais abrangentes são fundamentais para reduzir a vulnerabilidade
social dos profissionais do sexo e, consequentemente, sua vulnerabilidade em saúde.
A pesquisa de CORTEZ et al. (2011) foi desenvolvida com base em uma divisão dos
“street MSW” aqueles com e sem alteração da identidade de gênero e dos MSW com e sem
comportamentos sexuais de risco. O estudo mostra que os MSW com e sem transtorno de
identidade de gênero (TIG) e MSW com uso consciente ou inconsciente de preservativos
diferem entre si em relação às variáveis sociodemográficas, vulnerabilidade e traços
dimensionais de personalidade. Os estudos apontam que grande parte dos que não aderem ao
uso de preservativo possuem motivos de realizar as atividades sexuais, sob efeito de álcool e
outras drogas, por solicitação do cliente e aceitam por não querer perder o “programa”, ou até
mesmo por alegarem não gostar de usá-los. Para os autores, um aspecto importante do estudo
foi à utilização de instrumentos psicométricos para avaliar a relação entre traços dimensionais
de personalidade, sintomas depressivos e abuso de substâncias psicoativas com a de
identidade de gênero e os comportamentos sexuais de risco. Segundo os achados, os
profissionais do sexo que se prostituem nas ruas correspondem à parte mais visível da
indústria do sexo. Essa visibilidade, associada a fatores intrínsecos dos MSW, como sua
carência de habilidades profissionais/sociais, baixo nível econômico e educacional e ausência
de suporte social/familiar, aumentam sua vulnerabilidade, limitando sua habilidade em lidar
com situações de risco no trabalho. Apesar disso, sempre se esquivam da adesão a programas
e serviços de saúde pública e educacionais, bem como qualquer uma outra que apresente
ameaça aos seus estilos de vida.
Quanto ao uso de álcool e outras drogas, o estudo mostra o consumo por parte dos
MSW em geral. Sobre isso, a autora refere que diversos autores já descreveram as relações
entre o uso de substâncias psicoativas e comportamentos sexuais de risco. Atenta ainda, que a
presença desses comportamentos não deve ser negligenciada e é necessário que se faça
intervenções adequadas para a referida população.
Ambos os grupos referiram envolvimento com atividades criminais. Sobretudo os
MSW que referem fazer uso inconsciente de preservativo apresentam maior envolvimento
com atividades criminais e também possuem maior autorrelato de serem portadores de HIV.
No que tange a violência, o estudo mostra que a população com TIG apresenta maior
frequência de sofrerem violência se comparado com outros profissionais do sexo.
Ao final do estudo CORTEZ et al. atentam que os MHW são um grupo heterogêneo e
que as políticas públicas devem atentar-se para essa questão, evitando generalizações. Deve-
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se também realizar programa que avaliem as reais necessidades dos MHW, bem como
recomenda que profissionais da saúde e da assistência social que trabalham com essa
população se atentem a promover intervenções intersetoriais, sobretudo que visem redução
dos prejuízos causados pela discriminação contra os profissionais do sexo.
Fazendo contextualização sobre a prostituição masculina, SANTOS (2011) aponta,
que nos últimos anos houve um aumento do interesse pela inclusão dos homens na agenda de
pesquisa na área da saúde, o que refletiu em um aumento da produção científica sobre as
masculinidades. Ao investigar a iniciação sexual masculina, estudo nacional mostrou que as
narrativas dos jovens eram coerentes com um modo de ser homem que se faz
presente no discurso de diferentes gerações. A permanência de preconceitos e
estereótipos de gênero reforça a necessidade de um esforço conjunto em
saúde e educação, que privilegie o protagonismo dos homens jovens em
ações com vistas à promoção de saúde sexual e reprodutiva”. (SANTOS,
2011, p. 77)
As masculinidades que promovem ruptura com os padrões dominantes tem dificuldade
de se inserirem no modelo assistencial vigente. “Isso revela a dificuldade de promover o
princípio da universalidade da oferta de serviços em saúde, de modo a abranger segmentos
vulneráveis da população, como os adolescentes e jovens adultos, com sua notória diversidade
sexual”. Os determinantes socioeconômicos também se configuram como barreiras para a
acessibilidade aos serviços de saúde.
Isso coloca a necessidade de articularmos gênero e classe social com a
formação contemporânea das identidades. A relação entre vulnerabilidade e
pobreza é consistente, havendo mesmo uma aparente associação entre a
instabilidade profissional que atinge o jovem de camadas populares (e seus
familiares) e a busca de novas estratégias de sobrevivência, nem sempre
compatíveis com os ditames da lei e da moral vigentes. Esse quadro social
desfavorável foi agravado a partir da década de 1980 com o advento da AIDS
e a posterior globalização da epidemia, aumentando a vulnerabilidade das
camadas populares, que têm menos acesso aos recursos e às informações em
saúde. (SANTOS, 2011, p. 77-78)
Com o advento da AIDS houve a necessidade de mudanças nos sistemas que orientam
e normatizam a vida sexual das pessoas, sobretudo da população homossexual. Porém o autor
destaca que poucos são os estudos que se preocupam em compreender os efeitos dessa
vulnerabilidade, menor ainda o conhecimento do universo daqueles que se envolvem com a
prostituição masculina. De acordo com os relatos do estudo de SANTOS (2011) o trabalho
dos garotos permite apresenta-los para uma realidade diferente das que até então eles viviam:
“residências chiques, quartos de motéis equipados e possibilidade de fruição de outros
confortos que amenizam a vida opaca e cinzenta da periferia”. Em contrapartida a isso, o
autor pontua que o valor central que o corpo assume para as camadas sociais
subalternas acaba determinando um aumento da vulnerabilidade aos agravos em saúde.
Dentre as experiências mais significativas que ocorrem na juventude pobre, o
desempenho sexual emerge como um dos momentos em que os jovens se
encontram numa posição particularmente vulnerável. De acordo com o
estudo nessa fase acontecem uma somatória de fatores que agravam essa
vulnerabilidade, tais como: pressão social a que são submetidos, cobrança em
47
assumir uma posição de destaque, medo de serem descobertos em suas
práticas sexuais, em consequência serem estigmatizados com o possível
afastamento do convívio de familiares, parceiros e amigos além do
silenciamento do próprio desejo homossexual latente, que é sutilmente
escamoteado ao se fazer do corpo um dispositivo maquínico de obtenção de
prazer calculado (SANTOS, 2011, p. 81).
Ao adotarem essas características, esses jovens dificultam a percepção da própria
vulnerabilidade aos riscos causados pela prática da prostituição. Sobretudo, para o autor, o
“caráter clandestino” que caracteriza o sexo comercial, aliado ao relacionamento com
múltiplos parceiros, torna os jovens envolvidos mais vulneráveis à infecção por DST/AIDS.
Visto em uma perspectiva de gênero, o fenômeno da desvalorização do
feminino, equacionado ao "frágil" e sexualmente receptivo, explica porque o
indivíduo do sexo masculino que adota, na sua prática sexual, a posição
receptiva ("passiva"), é alvo de intensa desqualificação social. O jovem
"michê", que já sofre a discriminação pelo fato de ser pobre e morador da
periferia, não pode arcar com esse estigma adicional de "bicha", o que o faz
acirrar sua homofobia, levando-o a recusar terminantemente esse lugar
socialmente atribuído àqueles que fazem sexo com outros homens
(SANTOS, 2011, p. 81).
No que tange aos riscos associados à prática do sexo comercial todos os entrevistados
se identificaram, como vulneráveis para contraírem doenças sexualmente transmissíveis,
principalmente a AIDS. Porém o estudo revela que essa percepção não os faz repensar suas
escolhas e abandonar a atividade em prol de outro meio de subsistência. Os entrevistados
também mostraram, em geral, baixo nível de conhecimento sobre doenças sexualmente
transmissíveis.
A prática do sexo seguro, com uso do preservativo, foi a estratégia mais conhecida
para prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, que muitas vezes para eles se
resumem em HIV.
Em geral, o uso do preservativo restringe-se ao sexo anal. Raramente é usado
na prática do sexo oral e nunca no relacionamento com suas parceiras de
relacionamentos estáveis. A justificativa utilizada para a negligência da
proteção no sexo oral com clientes é que, habitualmente, são receptivos nessa
relação, isto é, o cliente é quem pratica sexo oral com eles, logo, o risco que
correm nesse tipo de prática seria nulo ou insignificante. Com as esposas ou
parceiras fixas o não uso da camisinha era justificado pelo tempo de
convivência e pela "confiança" que depositavam nelas (SANTOS, M. A.,
2011, p. 82).
Para SANTOS (2011) o risco de contrair o HIV não é o único perigo que ronda as
vidas desses rapazes. “A exposição recorrente a ameaças e situações potenciais de violência é
mencionada como uma sombra constante que paira sobre a prática do sexo comercial”.
Por fim, conclui que a vulnerabilidade desses garotos de camadas populares com
prática homossexual não incida apenas no plano físico, psicológico e social, mas também
numa realidade em que faltam políticas públicas “voltadas para a juventude que vive em
situação de exclusão, particularmente para os que se engajam em padrões não aceitos de
comportamento”.
Quanto prevenção ao risco de contrair DST/AIDS, JÚNIOR (2012) observou que em
48
locais escuros (cantos, próximo de árvores, becos) encontravam-se alguns preservativos
usados, o que mostra uso deste meio para prevenção. Foi relatado que a maioria dos michês
são adeptos ao uso de preservativo para clientes novos, os que não procuram o serviço com
muita frequência, no entanto quando se trata de um cliente que faz uso constante destes
serviços a maioria disse abrir mão do uso de preservativo, usar o preservativo também pode
depender de como o cliente se apresenta (limpo, forma de falar, de se impor).
Quanto ao uso de preservativo durante sexo oral em nenhum ponto da pesquisa a
autora relata que um dos garotos fazem uso, pelo contrário, aos que aceitam o sexo oral com
outros homens negam usar preservativo alegando mal gosto. Cabe aqui dizer que quando
retratado sobre o sexo oral alguns dos entrevistados revelaram não realizá-lo com clientes
homens, mesmo sendo este praticamente 100% da clientela consumidora destes serviços.
No que tange as políticas de prevenção às DSTS/HIV/AIDS, no estudo de JÚNIOR
(2012) foi percebido que os garotos têm acesso aos serviços, bem como às informações
relacionadas às possíveis infecções causadas pela relação sexual desprotegida. Porém foi
percebido que os serviços de saúde são lugares que possui grande fomentação de preconceito
e moralismo. Por consequência disso, os garotos usam técnicas para acessar os serviços sem
que revele sua prática no mercado do sexo, dessa forma os garotos de programa passam
despercebidos pelos serviços de saúde. A autora pontua que quando esses garotos (que fazem
programa) são identificados nos serviços de saúde, logo são inseridos em políticas de
prevenção e ações que generalizam comportamentos, sobretudo os de riscos às DSTS/AIDS.
Diante desse contexto aponta para as vivências ocultas homossexuais como um aspecto
importante para a reflexão sobre as práticas de saúde pública, pois ainda que de forma
proibida, tal prática sempre esteve presente na sociedade.
Inserida nas clandestinidades sociais a homossexualidade nunca tinha sido
alvo específico da Saúde Pública, passou a ser após o surgimento do
HIV/AIDS, passando então a direcionar ações de saúde pública reconhecendo
a homossexualidade como grupo de risco e com isso normatizando como
deveriam ser as condutas dessas pessoas (JUNIOR, 2012, p. 57).
De acordo com JUNIOR (2012), muitos dos garotos preferem trabalhar em lugares
fechados (fora da rua) devido a grande exposição às violências, inclusive as cometidas por
policiais. Foi contatado que os garotos sofrem violências verbais, físicas e sociais (por meio
de humilhação pública). “As violências procedem no meio familiar, na rua, nos grupos que
convivem, etc.” (p. 217) Esse grupo tem em seu imaginário centrado na heteronormatividade,
o que não lhes permite denunciar as violências sofridas. Segundo a autora, o ato de posicionar
sobre as violências sofridas coloca a masculinidade desses indivíduos em “risco”, pois
consideram que sofrer violência é uma coisa característico de mulher, do feminino, “do
afeminado”, ou seja, de todos os grupos considerados inferiores na hierarquia sexual.
Cabe destacar aqui que durante o discurso de um dos entrevistados foi referido que na
maioria das vezes apenas os “gays, afeminados, passivos” que atuavam naquela região
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sofriam violências frequentemente. Em contrapartida durante uma das entrevistas surgiu um
garoto, negro no grupo de entrevistado, este apontou sofrer ataques violentos constantes por
parte de policiais, logo a autora os associa com atitudes de perseguição racistas.
JUNIOR (2012) revelam ainda que este garoto em especial carrega uma amargura,
intensidade e hostilidade policial em sua fala. Quanto aos tipos de violência sofridas, além da
física, psicológica, alguns garotos relataram que a polícia algumas vezes já chegou de retirar
(pegar) o dinheiro de trabalho da noite de alguns garotos. Em contrapartida outro entrevistado
apontou que no mesmo grupo de agressores (policiais) existem os que pagam valores
exuberantes por programas, principalmente para os “novatos”, que chegam a receber cerca de
dois mil reais para um programa. As ações violentas também são ocasionadas por skinheads e
até mesmo pelos “viciados” que também ocupavam aquele território. Apesar da violência
neste meio, há um consenso, o de que não contratariam ninguém para os assegurarem (o que
seria função de um cafetão).
Chama a atenção que um dos entrevistados disse fazer todos os dias, antes de
trabalhar, preparo físico, mental e espiritual. Justifica ainda que o motivo do preparo
emocional se refere a mentalização para o proteger dos ataques verbais que sofre, alerta ainda
“medo, se não fizer isso pode deixar o trabalho de lado, entrar em depressão”. Nesse sentido,
o garoto refere ter presenciado um ataque o qual o deixou com lembranças e perturbações
psíquicas que se manifestam de diversas formas por consequência de uma experiência vivida.
Essa experiência refere-se a um programa em que o cliente e um amigo propôs uma transa a
quatro pessoas, onde o garoto de programa entrevistado e um colega aceitaram, cobrando
valores altos, segundo o relato.
A autora pontua o grande número de garotos que fazem uso de drogas, sendo a cocaína
a mais usada. No decorrer das entrevistas do estudo a autora relata que alguns garotos alegam
não usar por vontade própria, mas sim quando algum cliente pede para fazer uso
conjunto/companhia, o que eu inclusive também pode servir como pretexto para aumentar o
valor do programa.
Aponta também divisão de espaço entre os que usam drogas e os que não usam. Neste
momento cabe dizer que a hierarquia existente diante deste contexto em que os garotos
entrevistados mostraram que no final da rua (Marechal) encontram-se garotos que geralmente
fazem os trabalhos sexuais em troca de drogas, os chamados “viciado”. De acordo com os
garotos entrevistados, os que estavam nessas regiões consideradas inferiores realizam relações
sexuais em troca de droga, o que segundo eles não são formas profissionais de exercerem a
atividade, por isso não os consideram como da mesma “profissão”. Esses (viciados) foram
chamados de drogados, sujos, fedidos, mal arrumados, baratos, enfim caracterizados pelos
que se colocavam em situação oposta como pessoas que não possuem postura profissional
para atuarem naquele meio. Todos os entrevistados, mesmo alguns dizendo não serem
usuários de drogas já experimentaram substancias psicoativas como maconha, crack e/ou
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cocaína. Há também um grupo dentro do entrevistado que refere usar drogas, mas após o
período de trabalho, apenas como uma happy hour , enquanto alguns referem fazer uso no
sentido de se sentirem aliviados diante da pressão social a que vivem, usando-as, segundo a
autora como única forma de saída para os problemas sociais a que esses garotos estão
expostos.
Diante da narrativa a respeito dos conflitos familiar, afetivo e discursos moralistas, a
autora imagina as possíveis consequências na saúde mental individual de quem passa por esse
processo. Duas coisas desqualificam os garotos de programa que atuam na rua: ser passivo e
ter sofrido algum ato violento na rua. Tal fato se justifica pela defesa de a todo momento esses
garotos se auto afirmarem “homens”, “ativos”. Entre a prostituição feminina essa
desqualificação se dá quando alguma colega descobre que a outra foi infectada por alguma
DST.
Ao abordar a saúde no campo da prostituição masculina percebe-se predomínio da
preocupação com os comportamentos de risco destes indivíduos quanto as suas práticas
sexuais, principalmente em contrair DSTS/AIDS. Estudos com foco nas DSTS/AIDS nessa
população, buscaram caracterizar o perfil dos sujeitos em diversos aspectos, como por
exemplo adesão e conhecimento de atitudes para prevenção às DSTS. Os estudos também
abordam questões como raça, condição sócio econômica e alfabetização como forma de
caracterizar as vulnerabilidades desta população.
Poucos estudos mostraram preocupações com esses sujeitos quanto aos agravos à
saúde ligados aos contextos subjetivos em que vivem como uso de álcool e outras drogas,
depressão, suicídio e violência. Apesar disso, ainda que relacionado aos comportamentos de
risco, percebe-se a preocupação em diminuir o estigma e discriminação em que essa
população vive. De forma generalizada os garotos de programa são caracterizados como
população invisível aos serviços de saúde, bem como aos profissionais de saúde. Tal fato
justifica-se em resposta de suas performances em passar despercebidos aos serviços e aos
profissionais de saúde por medo de sofrer estigma e discriminação, bem como pelo
despreparo dos profissionais da saúde em lidar com esses indivíduos. A invisibilidade
também gera a falta de políticas públicas voltadas passa essa população que pode ser
considerada vulnerável por viver diante de um contexto de exclusão, principalmente por
estarem inseridas em padrões que muitas vezes não são aceitos na sociedade.
51
7 ANÁLISE
A prostituição pode ser entendida como um processo onde o sujeito oferta “favores
sexuais” em troca de qualquer recompensa financeira ou material. Também é entendida como
exploração do corpo e da sexualidade.
Percebe-se que falar de prostituição masculina implica em abordar questões acerca da
sexualidade, principalmente a homossexualidade e nos denominados homens que fazem sexo
com outros homens (HSH); bem como em Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTS),
sobretudo HIV/AIDS; estigma; discriminação e rejeição.
A maioria dos estudos abordam questões ligadas aos comportamentos de riscos de
garotos de programa em contrair DSTS/AIDS. Tal fato pode ser justificado pelo contexto
político em que os estudos foram, realizados, pois a maioria iniciou-se entre os anos 1997 e
2001. Nesse período, no Brasil, segundo o Centro de pesquisas históricas (IBVV) o Ministério
da Saúde estimou que por conta da utilização das drogas antirretrovirais (ARVs), o SUS
poupou 677 milhões de dólares em internação e tratamento de infecções oportunistas em
pessoas com HIV/AIDS. Durante esses anos também foi fundada a Associação Brasileira de
Lésbicas , Gays e Travestis. (ABGLT); morreram pessoas importantes por HIV/AIDS, como
o vocalista da Legião Urbana, Renato Russo; a lei nº 9.313, de 13 de novembro de 1996,
garantiu a distribuição gratuita, pelo sistema público de saúde, de medicamentos para pessoas
com HIV/AIDS; início da implementação nacional da distribuição gratuita e universal dos
ARVS na rede pública de saúde; foi editada pelo Conselho Nacional de Saúde a Resolução
196, que contem regras para experimentos com seres humanos, dificultando a realização de
pesquisas antiéticas com HIV+, o que vinha sendo denunciado pelas ONGs do país; os
serviços públicos de saúde distribuem os antirretrovirais Zidovudina (AZT), Didanosina
(DDI), Zalcitabine (ddC), Lamivudina 3TC, Saquinavir e Ritonavir; instalação, no Brasil, do
grupo temático, UNAIDS; pesquisadores descobrem que mesmo com o coquetel, o HIV se
mantinha com reservatórios escondidos no organismo; inicio da distribuição pelo sistema
público de saúde de Indinavair e Estavudina (d4T); (1998) o Ministério da Saúde gastou 224
milhões de dólares com ARVs e atende 35.900 pessoas e em (1999) o Ministério da Saúde
gastou 305 milhões de dólares com ARVs e atende 55.600 pessoas; inicio da Produção
Nacional de 3TC e da combinação de AZT+3TC; manifestação Nacional , em setembro, por
organizações da sociedade civil com atividades em HIV/AIDS, pedindo liberação de recursos
financeiros para compra de medicamentos para a AIDS; inicio da distribuição, pelo sistema
52
publico de saúde, do Efivarens; o governo federal divulga que o programa de acesso universal
à terapia antirretroviral reduziu em mais de 50% o número de mortes e em quase 80% a
ocorrência de doenças oportunistas no país. O efeito deveu-se à produção de medicamentos
nacionais, similares de marca, muito mais baratos; estudos indicam que quando o tratamento
com o coquetel é abandonado, a infecção torna-se outra vez detectável; pacientes
desenvolvem efeitos colaterais aos remédios; manifestação Nacional, em novembro, por
organizações da sociedade civil com atividades em DST/AIDS, pedindo a compra de anti-
retrovirais, para a rede pública de saúde; o Ministério da Saúde gasta 303 milhões de dólares
com ARVs e atende 87.500 pessoas; promulgação no Estado de São Paulo da Lei nº 10.948,
que dispõe sobre as penalidades a serem aplicadas à pratica de discriminação em razão de
orientação sexual e dá outras providências3.
Porém esse fator não pode ser generalizado, pois estudos realizados nos anos de 2007
também tiveram como enfoque as DST/AIDS. A partir de 2007 houve mudanças na
abordagem dos estudos, sendo que em 2007, o estudo de CORTEZ (2011) estudou questões
ligadas ao uso de álcool e outras drogas, mas, ainda assim apontava para a questão de
vulnerabilidades dos garotos de programa às DST/AIDS. Apenas o estudo de JÚNIOR (2012)
abordou de forma prioritária questões subjetivas dos garotos de programas e criticou a
limitação dos estudos anteriores em abordar apenas questões referentes ás DSTS/AIDS nessa
população.
Diante dos estudos, pode-se dizer que os garotos de programa são uma população em
que predominam rapazes, adolescentes, jovens onde a maioria mostra-se oriundo de baixo
nível econômico e escolar. Esses indivíduos se mostraram como sujeitos heterossexuais, ainda
que segundo os encontrados, a maior parte da clientela seja composta por homens. Os clientes
são considerados de classe média alta, brancos, executivos, geralmente mais velhos, a procura
da realização de seus desejos sexuais, que na maioria das vezes são desejos que não são
considerados comuns fora do contexto da prostituição e tem condições financeiras favoráveis
suficientes pagara realizá-los com homens mais jovens (os garotos de programa). Esses
clientes se identificam como heterossexuais alguns bissexuais, porém percebe-se segundo os
estudos, que estes mantêm seu status masculino.
3 Disponível em:
http://www.ibvivavida.org.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=61&Itemid=70#INIC
IO Acesso em 23/11/2015
53
No que se refere a masculinidades, chama a atenção à totalidade dos garotos de
programa que realizam autoafirmação quanto a sua sexualidade “heterossexual” e sua postura
“masculina”, “macho”, inclusive aqueles que usam os filhos como forma de valorização
heterossexual no discurso para sensibilização e conquista de clientela. Para NASCIMENTO
(1999) essas atitudes definem o modelo hegemônico, pois é caracterizado como o homem que
tem autoridade, sobretudo no lar, é autônomo, livre, tem força, coragem e não expressa suas
emoções, tampouco chora ou adoece, é, sobretudo macho e heterossexual.
Isso também pode ser notado quanto à nomenclatura usada por alguns autores, que
usaram o termo HSH para diferenciar os “homens que fazem sexo com homens (HSH)” de
garotos de programa e michês. A justificativa para uso do termo refere-se que esses HSH
exercem a atividade apenas como meio para se obter complemento de renda financeira.
Porém, ao abordar questões acerca de vulnerabilidades, sobretudo às DSTS/AIDS, os autores
colocam os HSH em estaca igual aos garotos de programa, michês e homossexuais.
Mesmo que os garotos de programa e michês também façam, em grande parte,
autoafirmação de suas masculinidades. Os HSH são considerados em alguns estudos como
sujeitos superiores numa relação de hierarquia de gênero, pois alegam não sentir prazer
durante a relação sexual com outros homens. Vale ressaltar que em alguns estudos, os garotos
de programa/michês também alegam estarem na atividade e não sentir prazer durante a
relação sexual com outros homens.
A autoafirmação desses garotos de programa vem por meio da demonstração de suas
performances viris e por mostrarem em todo momento sua postura ativa na relação sexual
com outros homens, bem como força, invulnerabilidade e agressividade no seu cotidiano de
trabalho. Cabe aqui destacar que segundo relatado nos estudos, ainda que o garoto de
programa exerça papel passivo durante alguma relação sexual, esse papel não é revelado no
meio em que trabalha, pois demonstra desvalorização. Dessa forma, assim como nos achados
de SANTOS (2011) é possível perceber a desvalorização dos garotos de programa
homossexuais ou que demonstrem alguma postura feminilizada assim como os que se
mostram como passivos durante relação sexual.
Nesse sentido a masculinidade chamada de subordinada para Oliveira (1998) é quase
inexistente no meio da prostituição masculina. Essa masculinidade é representada pelos gays,
os quais não escapam da contribuição para legitimar a hegemonia de uma masculinidade que
os subordina e que se coloca em posição inferior inclusive à das mulheres. Esta também é
constituída pelos camp, que são gays, que adotam comportamentos muito próximos dos
comportamentos femininos, os chamados de afeminados.
54
Nesse contexto, percebe-se a grande quantidade de homens que praticam o padrão da
masculinidade hegemônica mesmo que seja apenas para usufruir de suas vantagens,
conformando com a teoria queer da heternormatividade, pois mesmo que fogem as normas,
realizando sexo com outros homens, os indivíduos que se prostituem, identificam-se como
homens, buscando um lugar dentro do padrão.
Concomitante à postura forte adotada por esses homens também é percebido o receio
de serem rejeitados, discriminados, seja pela atividade que exercem ou pela identidade de
gênero que adotaram. Chama atenção a violência em que estes sujeitos são expostos. A
violência sofrida por esses homens é caracterizada não só pela violência física, mas também
pela psicológica e moral. Segundo relatos, desde suas moradias até a rua esses homens estão
sujeitos a serem violentados. As pesquisas mostraram que a violência, bem como a homofobia
preconceito e discriminação dentro de casa, são os principais fatores que podem levar garotos
à rua a fim de se tornarem profissionais do sexo.
A violência surge por consequência de serem gays, identificados como homens que
fazem sexo com outros homens, ou em decorrência de estarem na rua exercendo a atividade
de prostituição. Cabe destacar que percebe-se que os que adoram postura mais feminilizadas
estão mais sujeitos a sofrerem violência, inclusive dentro do próprio meio da prostituição.
A violência pode ser vivenciada até durante a negociação do “programa”, pois nesta, o
cliente na maioria das vezes tem o poder de escolha em usar preservativo ou não. Em
contrapartida, estudos mostraram relatos de que o preservativo não é usado durante algumas
relações sexuais pelos garotos estarem sob efeito de alguma droga psicoativa ou por alegarem
realmente não gostarem de fazer uso.
O uso de álcool e outras drogas na prostituição é um fator que chama atenção, pois em
todos os estudos foram mencionados que os garotos de programa em algum momento já
fizeram uso dessas substâncias, sendo mais comum o uso de álcool, maconha e cocaína. Esses
comportamentos são tratados como comportamentos de riscos e ou promíscuos e mostram em
contrapartida que muitas vezes fazem uso dessas substâncias como forma de fuga da pressão
diária em que esses garotos vivem por conta da sua profissão e/ou identidade. Atenta-se que
todos os estudos aludem os apontamentos acerca do uso de álcool e drogas por esses garotos
em torno de realizarem sexo desprotegido e com isso se tornar mais vulneráveis a contrair
alguma DST/AIDS.
Como fuga da realidade em que vivem, surgem as invisibilidades, onde os estudos
mostram que esses garotos levam consigo o estigma e medo de sofrerem preconceito e
60
discriminação num contexto fora da prostituição. Por consequência disso a maioria desses
garotos negam a atividade que exercem, a fim de passarem despercebidos em outros
contextos, assim como é o caso dos serviços de saúde. Uma vez que estes serviços ao
identificarem suas identidades sexuais e ou atividades que exercem logo os submetem aos
serviços de prevenção às DST/AIDS.
Os estudos que não abordaram diretamente a questão da prostituição masculina e
saúde foram considerados importantes, pois, ainda assim revelaram que as políticas públicas
não são capazes de analisar o contexto sócio político desses indivíduos, bem como as
subjetividades dessa população. Alguns podem ainda revelar preconceitos na abordagem dos
serviços a essa população, como é o caso do estudo de BENZAKEN (2007) em que cita o
projeto “princesinha”, que apesar de ser um projeto voltado para ampliar o acesso de
profissionais do sexo ao diagnóstico às DST/AIDS no SUS tem seu nome fundamentado num
gênero feminino, o que contribui para o distanciamento dos homens a esses serviços.
Essas atitudes podem ser consideradas assim como o que ANTUNES (2005) chama de
violência simbólica, que se configura pela rede de exclusão, pois caracteriza a não aceitação
desses sujeitos nos diversos contextos: familiar, econômico, cultural e social.
Quanto ao estigma que esses garotos vivenciam no cotidiano desses garotos, surge a
necessidade de estudos que abordem não apenas os comportamentos “promíscuos” ou “de
riscos” relacionados à sua atividade, mas também estudos quanto ao estilo e qualidade de vida
que esses garotos levam, bem como aos sofrimentos psíquicos que podem emergir diante de
suas vulnerabilidades sociais, a fim de colaborar com as ações no campo e que visem a
diminuição do estigma e discriminação de profissionais do sexo, bem como ações que
facilitem o acesso desses indivíduos aos serviços de saúde e promovam a melhora da
qualidade de vida dos mesmos.
61
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo buscou analisar a produção do conhecimento científico acerca da
prostituição masculina e saúde, com o foco na abordagem que os autores fazem desta
prostituição. Verificou-se que dentre os estudos, quatro publicações são do banco de tese da
USP, sendo duas dissertações e duas teses de doutorado, e três publicações na revista de saúde
pública, demonstrando o interesse do assunto por pesquisadores do campo da saúde coletiva.
Uma parte considerável da amostra se caracterizou por pesquisa de abordagem qualitativa,
onde o método da etnografia se fez presente, demonstrando a profundidade do tema e ainda
canais abertos para investigação.
A partir da análise dos estudos, considera-se que as pesquisas com essa temática
encontram-se centrados nos olhares biomédicos e apontam apenas para planos e ações de
controle e intervenção com foco nas Doenças Sexualmente Transmissíveis/ HIV/AIDS.
Percebe-se contudo a necessidade de estudos que abordem de forma holística as dinâmicas
que envolvem a prática da prostituição masculina a fim de compreender suas subjetividades
para dar visibilidade e inserir esses indivíduos em políticas públicas e ações de saúde.
Cabe aqui destacar que esses sujeitos passam despercebidos aos serviços de saúde, o
que mostra o despreparo das equipes de saúde em abordar essa população. Atenta-se que o
despreparo também pode incidir em atitudes preconceituosas para com a população de garotos
de programa.
Estudar a prostituição masculina no campo da saúde incide em questões que
perpassam abordar apenas questões referentes às DSTS/AIDS, tornando-se possível discutir
acerca das diversidades e especificidades a fim de reconhecer os determinantes sociais desses
indivíduos, que inclusive são aspectos que a PNAISH se propõe, para contribuir para que essa
população não seja marginalizada na dinâmica social.
62
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APÊNDICE
Instrumento de coleta de dados
Titulo do trabalho:
Autor (es):
Ano de publicação:
Periódico de publicação:
Objetivo do estudo:
Metodologia utilizada:
Tipo de abordagem da prostituição masculina: ( ) preventiva ( ) controle ( ) vulnerabilidade
( ) educativa ( ) promoção da saúde
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