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Abordagem comportamental para casos de esquizofrenia
Luiz Guilherme G. C. Guerra
E-mail: [email protected]
EsquizofreniaQuadro clínico
Sintomas positivos• pensamento vago ou incompreensível• interrupções ou interpolações do pensamento• atribui a si poderes não explicados culturalmente • escuta vozes que falam sobre seu comportamento
Sintomas negativos• apatia, negativismo, falta de metas, inatividade• retraimento e queda do desempenho social
Transtorno crônico e incapacitante: não há recuperação integral das funções normais (≠ bipolar)
EsquizofreniaQuadro residual
• Podem permanecer delírios: porém há certo controle, o que permite convivência com sintomas
• Sintomas negativos continuam: olhar indiferente; ↓ da expressão facial; perda de iniciativa; dificul// de concentração
• Consciência do transtorno: pacientes muitas vezes deprimidos
Ganhos 2ários: fuga/esquiva: “frente a tarefa custosa, adoeço e consigo atenção da família... mas discrimino que deveria me virar sozinho” (junto c/ a atenção, vem sentimento de fracasso)
Medicamentos Antipsicóticos
• anos 50: anestésico clorpromazina: diminuição do alerta e tendência ao sono, sem perda de consciência
• Indicação: quadro agudo ou crônico de esquizofrenia; mania
• Não curam ESQZ, mas aliviam ou reduzem os sintomas
• Não causam dependência (pacientes normalmente refratários ao uso)
• Parkinsonismo: andar arrastado, rigidez de braços/pernas, tremor em repouso, redução de expressão facial
• Acatisia: dificuldade p/ ficar sentado, inquietação
• Discinesia tardia: movimento de músculos da boca e língua
• Peso ↑
AntipsicóticosEfeitos colaterais
AntipsicóticosEfeitos de retirada
Não há efeito físico relevante em função da retirada
Não há dependência – pelo contrário, a adesão ao tratamento é difícil de se obter por causa dos inúmeros efeitos colaterais desagradáveis
Exemplo de entendimento do transtorno e adesão ao tratamento
• Paciente (P) rejeita diagnóstico e deixa de tomar medicação. Pai passa então a administrá-la. P diz: pai é manipulador e convence equipe médica de que P seria “louca”
• P confrontada: sintomas psicóticos (que nega ter) foram por ela própria descritos e constam do prontuário. P diz: pai a coagiu a relatá-los. Porém, SD da lembrança do relato diminuiu rejeição
• Sessões aprendendo sobre ESQZ. Aceitou que seu próprio relato tb a tornou responsável pelo diagnóstico: ↓ freqüência de falas de rejeição do diagnóstico, e ↑ interesse por informações sobre o transtorno
Abordagem comportamental
Relação de dependência e interferência mútua entre ações [respostas (R) ou comportamentos (cptos)] e eventos [ambiente]
A relação entre cpto e seus efeitos pode gerar:
1) cptos adequados2) cptos problemáticos e constrangedores, c/ ↑ freqüencia
Alcance das relações funcionais
• Identificar possíveis limites de repertório em função da história de vida
• Identificar reforçadores e punidores
• Identificar eventos que desencadeiam R inadequadas
• Produzir discriminação de situações problemáticas
• Induzir R que gerem SR+ (criar alternativas)
• Fortalecimento e manutenção dessas R (seleção pelas conseqüências)
• Transferência para novas situações
• Discussão do diagnóstico c/ equipe de profissionais
Transtorno mental na abordagem comportamental
• Cptos patológicos obedecem às leis do cpto normal, quando conhecemos as variáveis que os controlam e mantêm
• Análise do cpto: contextualiza fatores biológicos na ESQZ como eventos que tornam indivíduo (Δ) mais sensível a determinadas contingências
Contingências podem mostrar a função de respostas/sintomas
• Delírio de perseguição pode repetir padrão de inter-relação concreta. P.ex.: paciente ouve de um parente que “deve trabalhar, mas é inapto para o trabalho”, que “deve namorar, mas que atualmente nenhuma namorada presta” (≈ borderline)
• Delírio tb revela um paciente sensível a mensagens contraditórias, que denotam punição
Acurada especificação de contingências aproxima-nos do entendimento tb comportamental do transtorno
Identificação de contingências que mantêm os cptos, compreendendo sob que controles o Δ responde
Mudança de controle de S:Não olhar só a própria R e efeitos internos que a acompanham: tb observar contexto e eventos externos ao corpo
Mudança de foco: da resposta/sintoma para a contingência
Skinner (1999, p. 313)
“Nenhum comportamento seria agressivo por natureza, embora tendamos a assim considerá-lo, sem perceber nossas próprias inferências, quando o observamos em uma circunstância que torne a agressão provável”
Ex. de mudança de foco: da resposta/sintoma para a contingência
• P ESQZ: “agressivo/egoísta”. Topografia da R indica agressão, mas função verdadeira pode ser defensiva e reflexa
• P busca autonomia (enfrenta sintomas negativos). Mãe simbiótica lamenta/chora, e diz: P só lhe leva mazelas e é egoísta
Reagindo ao lamento, P mostra raiva e impaciência. Então é
novamente criticado, e grita energicamente
Além de “reafirmar” o egoísmo, é tb considerado agressivo
Percebendo somente suas próprias Rs, P sente-se culpado e acredita nas acusações
Importante: necessidade de orientação ou terapia familiar
Terapia comportamental para ESQZ mantém sua identidade
• Quaisquer Δs que vão à terapia têm história de controle aversivo
• Possibilidades de reforço social positivo:
mas poucos problemas limitam tanto as oportunidades de contato e reforço interpessoal como a ESQZ
Exemplo de Modelagem e Reforço Positivo
Importante: cpto é controlado por seus efeitos + imediatos
• P: fala/humor/cognição adequados. Queixa: isolamento social:
sente-se inútil sem trabalho (trabalhou por anos, até ESQZ)
sente-se constrangido c/ vizinhos (estigma da doença)
• Indicou-se compra de bicicleta, que lhe possibilitou entrar em contato c/ vizinhos, evitando exposição prolongada
P pôde, com a bicicleta, passar rápido pelos vizinhos, e cumprimentá-los c/ + confiança e prazer
Treino de novas respostas
Queixa: “não posso modificar o cpto de meus vizinhos... eu tento há anos”
Muitas vezes, tentar indica que se repete padrão há anos
Importante: não a interpretação da repetição, mas a seleção de R relevante e o treino dessa R
Exemplo de manejo para precisão da queixa
• P: ↑ nível intelectual. Queixa: depressão por perda de memória
• Não discrimina que constrói situações que prejudicam a auto-avaliação: frustra-se ao não se lembrar de filmes/livros
• Porém, (1) impõe-se volumosa e árida leitura (lê texto desestimulante p/ testar memória); (2) fez bom resumo de filme semanas após tê-lo visto
• Neuropsicologia: atenção↓, memória ok. Dados permitiram manejo da suposta incapacidade de memorizar. Fator relevante: escolher c/ sensatez, sem se cobrar desempenho
Exemplo de Discriminação, Reforço Diferencial e Extinção
• P: impulsividade/agressividade/depressão. Queixa: família não lhe dá ouvidos, despreza-o, e então fica agressivo. Considera-se louco
• R punida: qualquer crítica que ele faz
• Antecedentes (tendência ao contra-controle): história de revolta c/ doença; situação de conflito de opiniões; e preocupação c/ família
• Reforço negativo: ↑ freqüência de críticas/reclamações aos berros: (1) término da total falta de controle (ilusão de controle, mantida por supressão da crítica da família)(2) berro caracteriza frustração eliciada por punição ou extinção
• Terapeuta assegurou: opiniões têm sentido, críticas são claras. Modelo que P passou a esperar da família
• P passou a emitir sua opinião sem perder controle (contexto p/ família ter que fornecer argumentos)
• Extinção: cptos punitivos e de desprezo perderam eficácia (P preparado p/ piora inicial)
• Reforço diferencial: cptos mais adequados de familiares
Continuação... Exemplo de Discriminação, Reforço Diferencial e Extinção
Obter descrições/interpretações/funções. Na alucinação auditiva:
• P identifica-as c/ alguém ou uma entidade?
• Conteúdo: vozes dão ordens, conselhos, fazem críticas, ou são hostis?
• Antecedentes do sintoma (sintoma=R)
• Ao receber ordens: cpto. de cooperação ou enfrentamento? (sintoma=SD)
• Quais conseqüências normalmente se seguem qdo o paciente as ouve? E quando o paciente adota posturas novas?
Como lidar com delírios e alucinações
Procedimentos para enfraquecer o efeito de delírios e alucinações
Responder a S do ambiente que exerçam controle incompatível c/ controle pelos sintomas: ↓ sofrimento e perturbação
Autocontrole (≈ ansie//):• Mudança do foco da atenção: cantar música agradável, ler em
voz alta, descrever objetos em detalhes
• Estreitamento da atenção/concentração: um único pensamento, não relacionado c/ alucinação
Exame de evidências: • Outros compartilham experiência auditiva? Contribuição p/
consciência do transt e formulação de hipóteses sobre alucinação
Deve-se descrever o que é esperado: predição e processos básicos
• Na melhora: esperam-se respondentes desagradáveis (natural ter medo/ansiedade); labilidade pode vir de EXT
• Naturaliza o processo
• O que seria aversivo, agora é positivo
• Confiança no terapeuta muda predisposição emocional p/ enfrentar eventos aversivos
Tratamento: em resumo...
• Promover entendimento sobre ESQZ (paciente e família)
• Estimular o uso adequado da medicação
• Lidar c/ sintomas positivos e negativos
• Introduzir atividades no cotidiano
• Desenvolver repertório social
FIM
Bibliografia consultada
1. APA (1994) DSM-IV. Artmed2. Caballo (2003) Manual p/ o Tratamento Cognitivo-Comportamental dos
Transtornos Psicológicos. Livraria Santos3. Cordioli e cols. (2005) Psicofármacos. Artmed4. Graeff (1989) Drogas psicotrópicas e seu modo de ação. EPU5. Guerra & Guimarães (2006) Abordagem comportamental p/ pacientes c/
diagnóstico de esquizofrenia. Em Savoia, Psicologia e Psiquiatria. Roca6. Hawton e cols. (1997) Terapia Cognitivo-Comportamental p/ Problemas
Psiquiátricos. Martins Fontes7. Louzã Neto (1995) Esquizofrenia. Em Louzã Neto e cols., Psiquiatria
básica. Artmed8. McKim (1996) Drugs and behavior. Prentice Hall9. Nasello & Richtzenhain (1997) Revisão sobre a farmacologia dos
neurolépticos. Âmbito hospitalar 3, 29-3410. Rang e cols. (1996) Pharmacology. Churchill Livingstone11. Skinner (1953) Ciência e comportamento humano. Martins Fontes12. Skinner (1999) Cumulative Record. Copley