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Samuel Barros Estudante de Doutorado em Comunicação na Universidade Federal da Bahia (UFBA) A colaboração dos cidadãos na produção de leis: lições das consultas online do Marco Civil da Internet ABCP | Belo Horizonte, MG, Brasil | Agosto 2016

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Page 1: [ABCP 2016] A colaboração dos cidadãos na produção de leis: lições das consultas online do Marco Civil da Internet

Samuel Barros Estudante de Doutorado em Comunicação na Universidade Federal da Bahia (UFBA)

A colaboração dos cidadãos na produção de leis:

lições das consultas online do Marco Civil da Internet

ABCP | Belo Horizonte, MG, Brasil | Agosto 2016

Page 2: [ABCP 2016] A colaboração dos cidadãos na produção de leis: lições das consultas online do Marco Civil da Internet

O Marco Civil da Internet: o que é?

- O Marco Civil da Internet (Lei número 12.965, de 23 de abril de 2014) estabeleceprincípios, garantias, direitos e obrigações para os usuários de internet: cidadãos, empresas e governo. Entre outros temas, esta legislação estabelece princípios para a liberdade de expressão, proteção da privacidade, arquivo de dados de conexão, neutralidade da rede e liberdade para os negócios baseados na internet.

- O Marco Civil da Internet é reconhecidamente importante por reforçar a validade de liberdades e direitos no ambiente online. Notadamente, a garantia da neutralidade da rede, uma questão que não era tratada por nenhuma outra legislação brasileira, foi recebida como um grande avanço.

Page 3: [ABCP 2016] A colaboração dos cidadãos na produção de leis: lições das consultas online do Marco Civil da Internet

Esfera Pública Online > Marco Civil da Internet

Page 4: [ABCP 2016] A colaboração dos cidadãos na produção de leis: lições das consultas online do Marco Civil da Internet

Consultas Online > Marco Civil da Internet

Page 5: [ABCP 2016] A colaboração dos cidadãos na produção de leis: lições das consultas online do Marco Civil da Internet

Os estudos sobre o Marco Civil da Internet

- Há muitos estudos sobre o Marco Civil da Internet a partir de questões e metodologias do campo do Direito, particularmente porque esta legislação é vista como inovadora à medida em que reconhece a neutralidade da rede como um direito do cidadão (BEZERRA, WALTZ, 2014; BOFF, FORTES, 2014; DAVIES, 2014; THOMPSON, 2012; SIDAK, 2012; VAZ, 2011; MORAES, 2013; SEGURADO, LIMA, AMENI, 2015).

- Há um número importante de pesquisas sobre a participação política, tanto em iniciativas formais quanto em ambientes de sociabilidade online, ao longo do processo de discussão da lei (BARROS, MARINHO, 2013; BRAGATTO et al., 2015; CAPONE, ITUASSU, PECORARO, 2015; LEMOS et al., 2015; SAMPAIO et al., 2013; O’MALEY, 2015; RADOMSKY, SOLAGNA, 2016).

- Contudo, não há estudos sobre o desenho das plataformas que viabilizaram esta participação, nomeadamente o desenho das consultas online que contribuíram na construção do Marco Civil da Internet.

Page 6: [ABCP 2016] A colaboração dos cidadãos na produção de leis: lições das consultas online do Marco Civil da Internet

2009 • Ministério da Justiça, 1ª fase

• O que nós queremos?

2010 • Ministério da Justiça, 2ª fase

• Primeiro desenho

2012 • Câmara dos Deputados

• O caminho legislativo

2014

2015

Consultas Online > Marco Civil da Internet

• Senado• Enquete com problemas

• Ministério da Justiça• Regulamentação

Page 7: [ABCP 2016] A colaboração dos cidadãos na produção de leis: lições das consultas online do Marco Civil da Internet

2009 • Ministério da Justiça, 1ª fase

• O que nós queremos?

2010 • Ministério da Justiça, 2ª fase

• Primeiro desenho

2012 • Câmara dos Deputados

• O caminho legislativo

2014

2015

Consultas Online > Marco Civil da Internet

• Senado• Enquete com problemas

• Ministério da Justiça• Regulamentação

Page 8: [ABCP 2016] A colaboração dos cidadãos na produção de leis: lições das consultas online do Marco Civil da Internet

A avaliação do desenho de consultas públicas online

Inclusividade e pluralismo

Recursos epistêmicos

Forma e empoderamento da participação

Governo da iniciativa: termos de uso, identificação e moderação

Page 9: [ABCP 2016] A colaboração dos cidadãos na produção de leis: lições das consultas online do Marco Civil da Internet

Ministério da Justiça, primeira fase: O que queremos?

- Em consulta uma minuta que tentava mapear os temas que deveriam ser objeto da legislação. Foco no estabelecimento de direitos.

- Foram evitados temas que pudessem aumentar a resistência à proposta: direitos autorais, crimes virtuais e regulamentação das telecomunicações.

- 800 contribuições, segundo dados oficiais; 686, segundo Bragatto, Sampaio e Nicolás (2015).

- 130 participantes diferentes participaram do processo consultivo. Contudo, apenas dois enviaram 254 contribuições ou 53,62% de todas as mensagens. O que significa a superparticipação em ambientes online?

- A consulta foi feita na plataforma Cultura Digital (MinC).

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Ministério da Justiça, primeira fase: O que queremos?

- A dificuldade para o domínio epistêmico do tema e dos interesses em disputa pode resultar em constrangimentos para a inclusividade da iniciativa, apesar de esforços consideráveis: seção de notícias e vídeos sobre o tema, blog onde foram feitos esclarecimentos com linguagem didática e acessível.

- Processo de participação: “o processo de discussão [...] não deve ser um “chat” nem um fórum convencional de debates. [...] Serão levadas em consideração posições que fundamentem sua opinião da forma mais qualificada possível” (Termos de Uso).

- Processamento dos inputs: todos os comentários foram impressos, lidos e discutidos em uma reunião de dois dias, mas os cidadãos não foram respondidos ou informados sobre o processo.

- Acesso aberto aos comentários, o que permite que os interesses sejam ponderados. A identificação foi requisitada apenas para postar comentários.

Page 11: [ABCP 2016] A colaboração dos cidadãos na produção de leis: lições das consultas online do Marco Civil da Internet

Ministério da Justiça, segunda fase: O que vamos fazer?

- O anteprojeto foi apresentado com 34 artigos e recebeu 1168 comentários (média: 34,35).

- Mesma plataforma da primeira consulta.- Inovação no provimento de informações: os

organizadores pediram que as embaixadas brasileiras ao redor do mundo reportassem como cada país legislava sobre a guarda de registro de usuários (logs), a responsabilidade dos provedores de serviços em relação aos conteúdos publicados por terceiros e sobre o anonimato. 35 relatórios foram publicados.

- No blog, também foram postadas contribuições enviadas por organizações civis e empresariais por outros mecanismos que não pelo mecanismo da consulta. Tal procedimento promoveu o conhecimento das posições em disputa.

Page 12: [ABCP 2016] A colaboração dos cidadãos na produção de leis: lições das consultas online do Marco Civil da Internet

Ministério da Justiça, segunda fase: O que vamos fazer?

- Não foi informado o modo como os comentários seriam processados, mas os organizadores assinalam que “o formato da consulta, em si, pretende estimular a participação da sociedade e reconhecer a relevância de suas contribuições, tanto na definição da abrangência da norma quanto de sua redação final”.

- Indicativo de que os argumentos foram levados em conta: 5 artigos tiveram a redação alterada ou foram suprimidos durante o processo de consulta. Exemplo do artigo 20.

Page 13: [ABCP 2016] A colaboração dos cidadãos na produção de leis: lições das consultas online do Marco Civil da Internet

Câmara dos Deputados: O processo legislativo

- Duas seções para o fornecimento de informações:

> “Biblioteca virtual”: leis existentes que abordam o tema, tramitação do MCI, vídeos das audiências públicas e lista de 14 organizações relacionadas à governança da internet.

> “Informe-se”: notícias produzidas pela Agência Câmara.- As informações sobre o funcionamento do

sistema de participação, não são abundantes mas suficientes (ver cabeçalho da página).

- A linha do tempo indica as fases da tramitação do projeto de lei na Câmara e ajuda o usuário a compreender que a participação é parte de um processo legislativo.

Page 14: [ABCP 2016] A colaboração dos cidadãos na produção de leis: lições das consultas online do Marco Civil da Internet

Câmara dos Deputados: o processo legislativo

- Além de poder comentar diretamente no projeto de lei (Wikilégis), houveram fóruns e bate-papos em tempo real.

- Wikilégis: os 25 artigos que integravam o projeto de lei apresentado para consulta receberam 104 comentários e 52 sugestões de alteração do texto. Ao todo, portanto, foram enviadas 156 contribuições, com média de 6,24 por artigo.

- Foram 32 fóruns, que receberam apenas 111 comentários.

- Os bate-papos foram realizados durante a transmissão online das sete audiências públicas que aconteceram em várias cidades do país, além de um bate-papo que foi aberto durante uma reunião da comissão especial que discutiu o projeto de lei. Ao todo, constam oito bate-papos, com 289 participantes e 2350 mensagens trocadas.

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Câmara dos Deputados: O processo legislativo

- Destaque para uma tabela, baixada mais de 20 mil vezes, que apresenta a redação original, o texto alterado e as pessoas que sugeriram as alterações em cada artigo. Elaborado pelo relator Alessandro Molon.

- O relator reconheceu a influência de sugestões enviadas através do Wikilégis, dos fóruns de discussão, através do Twitter com o uso da hashtag #MarcoCivil, bem como indicou os artigos que foram alterados por iniciativa própria.

Page 16: [ABCP 2016] A colaboração dos cidadãos na produção de leis: lições das consultas online do Marco Civil da Internet

As consultas devem ser amplamente conhecidas: publicidade como demanda para a inclusão de novos atores.

Inclusividade e pluralismo

As consultas devem dar condições para a participação de diferentes públicos: leigos e especialistas, cidadãos avulsos e organizações de representação de interesses.

Recursos epistêmicos

As consultas devem ser responsivas.

Forma e empoderamento da participação

As consultas devem ser previstas e regulamentadas dentro do processo de tomada de decisão.

Governo da iniciativa: termos de uso, identificação e moderação