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NOVEMBRO / 2011 Emergência 22 TRABALHO SOBRE IMAGEM ORIGINAL DO SITE: WWW.SXC.HU ABANDONO SEGURO ABANDONO SEGURO ESPECIAL / PLANO DE ABANDONO Emergência 22 NOVEMBRO / 2011 Sem legislação única, plano de escape depende de análises e treinamentos para garantir segurança na saída de uma situação de emergência Sem legislação única, plano de escape depende de análises e treinamentos para garantir segurança na saída de uma situação de emergência

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ESPECIAL / PLANO DE ABANDONO

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ESPECIAL / PLANO DE ABANDONO

Emergência22 NOVEMBRO / 2011

Sem legislação única, plano de escape dependede análises e treinamentos para garantir segurançana saída de uma situação de emergência

Sem legislação única, plano de escape dependede análises e treinamentos para garantir segurançana saída de uma situação de emergência

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NOVEMBRO / 2011 Emergência 23Emergência 23NOVEMBRO / 2011

Reportagem de Melissa Becker /Cartola - Agência de Conteúdo

Crojão lançado por um dos espectadores deu início a umincêndio no teto da boate Republica Cromañón – e auma das principais tragédias da capital argentina dosúltimos anos, que resultou em 194 mortes e 1.432 feri-dos.

Quesitos fundamentais de segurança não foram ob-servados – entre eles, o que poderia ser a alternativapara salvar vidas também era inexistente. A saída deemergência estava trancada a cadeado, e vítimas ficaramamontoadas contra a porta. Corpos foram pisoteados.No meio da confusão, sobreviventes retornavam à bo-ate para socorrer outros.

O pânico em uma catástrofe aumenta danos e perdas,e a maneira de deixar um local de risco de forma seguraé o objetivo principal de um Plano de Abandono bemelaborado, treinado e executado. É neste planejamentoque são traçadas as estratégias para a remoção eficaz,rápida e sem atropelos de todo o público da edificaçãopara um ponto seguro. No entanto, o desenho adequa-do destes procedimentos, muitas vezes, é dificultadopela falta de uma legislação federal que o especifique.

LEGISLAÇÃONBRs (Normas Brasileiras), da ABNT (Associação

Brasileira de Normas Técnicas), relacionadas ao temafazem referência ao Plano de Abandono, que constacomo requisito mínimo de um Plano de Emergênciana NBR 15219/2005 – Plano de Emergência contraIncêndio – Requisitos (confira no quadro Onde buscar

orientações), mas elas funcionam como re-comendação técnica, não compulsória.

“Não existe uma lei federal que definacomo fazer o abandono propriamente dito.Algumas citam algo relacionado ao Planode Emergência. A norma regulamentadora23, que trata da proteção contra incêndio,cita a questão do abandono de forma su-perficial. Ela que, teoricamente, deveria darmais informações, não dá. A vantagem daNBR é que ali se reúne uma série de pesso-as da sociedade. É uma norma mais demo-crática e, com isso, se consegue uma visão

erca de 3.000 jovens assistiam ao show da bandade rock Callejeros na noite de 30 de dezembrode 2004, em Buenos Aires. Em meio à festa, um

geral da sociedade”, observa Walter Blassioli Junior, se-cretário da Comissão de Planos e Equipes de Emer-gência Contra Incêndio do CB 24 (Comitê Brasileirode Segurança Contra Incêndio) da ABNT.

No entanto, para que sejam usadas como instrumen-to legal, a NBRs devem estar citadas em um decreto,portaria ou legislação específica.

Uma legislação que deve ser cumprida plenamenteao se elaborar um Plano de Abandono é a do Corpo deBombeiros local, mas somente ela é insuficiente parater uma área como segura, analisa Rogério Crotti, enge-nheiro de Segurança do Trabalho e consultor em pro-teção contra incêndios.

Alguns estados, por meio de leis e decretos estaduais,sob fiscalização de seus corpos de bombeiros, cobramestes Planos, mas o técnico de Segurança e Emergênciae especialista em Gestão de Emergência e Desastres,Marco Aurélio Rocha, observa que em muitos estadosda federação não há uma padronização das legislaçõesestaduais sobre o que deve constar e como deve serfeito o Plano de Abandono.

“Um estado tem instruções técnicas, outros códigose resoluções. Não há um padrão clássico de emergência.Fica a cargo de cada estado, então, torna-se confuso”,opina Rocha.

No entanto, Crotti destaca que a legislação do Corpode Bombeiros do Estado de São Paulo – a primeira e amais ampla no país, com a maior parte de suas ITs (Ins-truções Técnicas) remetendo para NBRs – serve debase para outros estados. “Muitos dos outros estadosda federação acabaram assumindo estas 44 ITs dentrode seu corpo técnico, mas de outra forma. Aproveita-ram o texto e mudaram o nome. O conteúdo é pratica-mente o mesmo, e muitas copiam exatamente o queestá nas NBRs. Se trabalhar com NBR, fundamental-mente, você está cobrindo tudo. Mas existem estadosque não fizeram isto ainda, como o Rio Grande doSul”, observa.

O Estado do Rio de Janeiro conta com seu Códigode Segurança Contra Incêndio e Pânico (COSCIP), De-creto nº 897, de 21 de setembro de 1976. Posterior-mente, o Decreto nº 35.671, de 9 de junho de 2004,instituiu que as edificações de maior risco de incêndio,mesmo aquelas construídas anterior ao COSCIP, de-vem ter diversos aparatos de proteção contra incêndio,além de Brigada de Incêndio, lembra Rocha.

No entanto, ele observa que a legislação gaú-cha é menos detalhada do que o Código flumi-nense, por exemplo – no Rio Grande do Sul,não há instruções técnicas, mas a lei estadualnº 10.987 de 11/08/1997 que atribuiu ao Corpode Bombeiros Militar a competência para apro-

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ESPECIAL / PLANO DE ABANDONO

NOVEMBRO / 2011Emergência24

Estrutura traçadaUm bom Plano de Abandono leva em consideraçãovários determinantes como os riscos e as rotas

Uma torre de escritórios e uma indús-tria petroquímica oferecem desafios di-ferentes para um escape. Dados comoprocessos desenvolvidos, produtos ma-nipulados, riscos ambientais, distânciasde segurança, autoridades que devem serenvolvidas e responsabilidades durantea emergência e abandono dos locais, en-tre outros, são questões que precisamser consideradas. “Deve haver uma pre-visão em cima dos problemas da em-presa, não só de incêndio. Se há vaza-mento de cloro, um material extrema-

mente tóxico, preciso tirar a populaçãodo local, às vezes, até de empresas e áreasvizinhas, e, ao mesmo tempo, a equipede emergência deve entrar em operação.Não é apenas um ‘sai correndo’”, alertaRogério Crotti engenheiro de Seguran-ça do Trabalho e consultor em proteçãocontra incêndios.

O principal na elaboração do Planode Abandono está em direcionar a popu-lação fixa e flutuante para as saídas deemergência, alerta o tenente-coronel Flá-vio José Bianchini, do Corpo de Bom-

var os Planos de Prevenção contra In-cêndio. Nesta avaliação, de acordo comRocha, serão analisadas as rotas de fuga,saídas e iluminação de emergência, alar-mes de incêndio e outras condicionantesprevistas pelas normas da ABNT, semcitar as normas de Planos de Emergên-cia que conste abandono de área. “Achoque deve ser mais especificado. As ITsde SP vêm bem a calhar. São ITs do Cor-po de Bombeiros, que dizem como fazere por que fazer”, opina Rocha.

DIFERENÇASAo mesmo tempo em que ITs esta-

duais mais específicas restringem confli-tos de interpretações das normas, a exis-tência de diferentes fontes para defini-ção do Plano de Abandono dificulta otrabalho de quem procura parâmetrospara adotar esta medida de forma efici-ente.

“Uma empresa com filiais em váriosestados pode ter que cumprir legislaçõesdiferentes ou gerar um procedimentopróprio que atenda a todas. Estes ajustesacarretam maior estudo por parte dosórgãos corporativos das empresas, bem

como readequações constantes, um cus-to desnecessário se a legislação fosseúnica. O maior problema do conflitonormativo entre as NBRs e as ITs é oavanço tecnológico. Vamos supor quetenhamos uma NBR que seja de ponta,com a melhor tecnologia possível, e uma

legislação tecnologicamente desatualiza-da. Neste caso, teremos que atender àlegislação e talvez dispensar a melhortecnologia, o que passa a ser um retro-cesso”, ressalta Crotti.

Sem um passo-a-passo definido porlei federal, resta fazer um compilado deorientações para se garantir a segurança.Ao mesmo tempo, chegar ao Plano deAbandono ideal não segue uma fórmu-la matemática. Cada aspecto do procedi-mento depende dos riscos que o em-preendimento apresenta – em geral, jálevantados pelo Plano de Emergência.Por isso, a indicação é que seja feito poralguém com competência técnica.

Especialistas apontam ainda outraquestão que complica a ação do Planode Abandono: a falta de treinamento. Al-gumas empresas não levam o plano dopapel para a prática para testá-lo comfrequência, mas são os exercícios e simu-lados que melhor preparam os funcioná-rios para agir corretamente em uma si-tuação crítica e preservar vidas.

“Treinamento é condicionamento. Oexercício repetido várias vezes leva a me-nor probabilidade do pânico. Se não e-xiste capacitação para vencer o medo,vai acontecer uma desgraça. Todos saemcorrendo para o mesmo local, no cha-mado efeito de convergência, o ‘estou-ro da boiada’, porque não tem treina-mento. Mas se existe capacitação, verifi-ca-se onde está o sinistro e vai para outrolugar. Isso é o Plano”, afirma CarlosHenrique dos Santos, coordenador geralde Brigada da empresa Sprink.

ONDE BUSCAR ORIENTAÇÕESDiferentes normas e instruções técnicas citam pontos relacionados ao

Plano de Abandono. Saiba onde buscar suas referências:

Fontes: Rogério Crotti, Walter Blassioli Junior e cap. Humberto Shigueo Shirotori

ABNT

NR 23

Legislação estadual

National Fire Protection Association (NFPA)

Site:http://www.abnt.org.br/

Site:http://portal.mte.gov.br/legislacao/normas-regulamentadoras-1.htm

Site (São Paulo):http://www.corpodebombeiros.sp.gov.br

Site:http://www.nfpa.org

NBR 15219/2005 – Plano de Emergência Contra Incêndio – RequisitosNBR 9077/2001 – Saídas de Emergência em EdifíciosNBR 13434/2004 – Sinalização de Segurança Contra Incêndio e PânicoNBR 10898/1999 – Sistema de Iluminação de Emergência

A Norma Regulamentadora 23, de Proteção Contra Incêndios, do Ministério do Trabalho eEmprego, é ligada à CLT e define que todos os empregadores devem adotar medidas deprevenção de incêndio para todos os funcionários de acordo com a legislação estadual e asnormas técnicas aplicáveis.

Procedimentos de prevenção a incêndio devem sempre seguir a legislação de cada estado.Há unidades federativas em que o Corpo de Bombeiros elaborou Its (Instruções Técnicas).No Estado de São Paulo, estas são as instruções relacionadas ao Plano de Abandono:InstruçãoTécnica Nº 11 – Saídas de emergênciaInstruçãoTécnica Nº 12 – Centros esportivos e de exibição – requisitos de segurança contraincêndioInstruçãoTécnica Nº 15 – Controle de fumaçaInstruçãoTécnica Nº 16 – Plano de emergência contra incêndioInstruçãoTécnica Nº 17 – Brigada de incêndioInstruçãoTécnica Nº 18 – Iluminação de emergência

A entidade americana tem, segundo especialistas, orientações mais detalhadas quepodem sugerir medidas a serem adotadas em Planos de Abandono no Brasil.

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Treinar, treinar e treinarPrática constante leva ao condicionamentoe ao controle em uma situação crítica

A cadeira mexeu um pouco, e a advo-gada Marjori Roselli ficou com uma levesensação de vertigem. “Será que estoucom tontura?”, pensou. Enquanto al-guns não perceberam nada, outros cole-gas do 11º andar confirmaram ter nota-do o tremor na unidade da Allianz Segu-ros na Rua Conselheiro Crispiniano, nocentro de São Paulo. Era um terremotocom epicento no Chile, que chegou a7,7 graus na escala Richter e atingiu dife-rentes bairros da capital paulista, em no-vembro de 2007.

A advogada lembra que, com orienta-ção dos brigadistas, os funcionários des-ceram pela escada de emergência e sedirigiram para o ponto de encontro, semsaberem o que estava acontecendo. “Otreinamento ajuda muito nestas horas.Não tinha fumaça, não tinha fogo, nemtodo mundo sentiu o tremor, mas já fa-zíamos o simulado há alguns anos. Saí-mos de forma ordenada, e a brigada fezcumprir as regras”, conta Marjori. Apósvistoria do Corpo de Bombeiros, o pré-dio foi liberado, sem danos.

A unidade – que conta com 450 cola-boradores, dos quais 50 são brigadistas– adota treinamento e atualizações anu-ais. “O Plano de Abandono faz parte

da cultura da empresa. Não existe restri-ção: tudo o que pode ser implementado,tentamos fazer. Faço pesquisas para tra-zer algo novo a cada ano. Se mostrar-mos sempre o mesmo, ninguém maisvai querer participar”, observa EnivanNogueira, técnico de Segurança do Tra-balho e Patrimônio da Allianz Seguros.

Duas rotas de fuga direcionam paradois pontos de encontro distintos. Alémdo alarme, mapas e sinalização de emer-gência atualizada orientam o caminho pa-ra saída em situações de perigo. SegundoNogueira, o treinamento não serve ape-nas para condicionar os empregados,mas também para testar o funcionamen-to da administração de risco e pânico.

FREQUÊNCIAA NBR 15219 recomenda exercícios

simulados de abandono, com a partici-pação de toda a população, a cada seismeses para parciais (uma opção a ser co-locada em prática quando o sinistro émais localizado) e 12 meses para com-pletos em locais de risco baixo ou mé-dio. Para o risco alto, o período máxi-mo é de três meses para simulados par-ciais e seis meses para completos.

No mínimo uma vez por ano deve ser

beiros da Polícia Militar do Estado de SãoPaulo e presidente da Instrução Técni-ca nº11 (Saídas de Emergências). “A po-pulação máxima permitida e, em espe-cial, seu controle são fatores fundamen-tais para determinar a largura e númeroexato de saídas de emergência”, comple-menta.

Assim como o perfil da população quetrabalha no local – quantidade de funci-onários, turno em que trabalham e atéfaixa etária –, a presença de pessoas defora influencia. Há indústrias em que vi-sitantes têm acompanhamento em tem-po integral, enquanto outras exibem umvídeo sobre o que fazer em caso de e-mergência cada vez que se começa umavisita, segundo Walter Blassioli Junior,secretário da Comissão de Planos e E-quipes de Emergência contra Incêndiodo CB 24. Já consumidores de um shop-ping center ou hóspedes de um hotelprecisam receber orientações dos em-pregados durante o abandono e isto de-ve estar previsto desde o início. Em al-guns casos, a equipe de brigadistas nãotem número suficiente para fazer a reti-rada adequada de todos os colegas. Poristo, Blassioli ressalta que deve estar claroaos funcionários o que fazer ao ouvir oalarme: se esperam pela equipe de emer-gência ou se, calmamente, devem ir aoponto de encontro definido.

ROTASAs rotas de fuga e as saídas de emer-

gência devem ser bem sinalizadas, de-sobstruídas e com iluminação de emer-gência, ressalta o tenente-coronel Flá-vio José Bianchini. Para garantir que elasassegurem a vida das pessoas até umponto afastado do perigo, as recomenda-ções da ABNT que devem ser seguidas,conforme Crotti, são a NBR 9077/2001– Saídas de emergência em edifícios, aNBR 13434/2004 – Sinalização de segu-rança contra incêndio e pânico e a NBR10898/1999 – Sistema de iluminação deemergência.

Nestas normas, se definem especifica-ções da estrutura física, como saídas,corredores e escadas, com cálculos parachegar a dimensões e quantidades pro-porcionais ao número de pessoas, entreoutras. Mas só essas adequações nãobastam. Segundo especialistas, o impor-tante é o plano como um todo, pois leva-rá em conta observações como a veloci-dade e o tempo que a equipe leva para

percorrer estas rotas, umcaminho alternativo parapermitir a saída do pesso-al quando a rota de fugadefinida estiver sinistrada,os pontos de encontro ecomo chegar a eles comsegurança.

Os trajetos não devemapenas conduzir até o ladode fora do prédio, mas aum local de encontro to-talmente seguro, onde apopulação deve aguardar a próxima ori-entação. Parece simples, mas no lugaronde as pessoas finalmente respiram ali-viadas, aspectos nem sempre previstos,na prática, podem causar vítimas – des-de uma parede próxima que ameace de-sabar até a direção do vento, o que, deacordo com Rogério Crotti, geralmente

não são considerados. “Sehá um vazamento de amô-nia no fundo da fábrica eum vento predominantede lá para o ponto de en-contro na portaria, o ventovai trazer o produto paracima deste pessoal. Estáencaminhando todos paraa morte, dependendo daconcentração”.

Conforme o tamanho daunidade, mais de um pon-

to de encontro será adequado. Empre-sas que tenham um controle de pessoalfazem lista de chamada para verificar setodos chegaram ao local combinado. A-lém disso, é importante a equipe de e-mergência estar atenta para a evacuaçãodeste lugar, caso o sinistro aumente e co-loque as pessoas em risco.

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Blassioli: visitantes

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ESPECIAL / PLANO DE ABANDONO

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Tabela 1

Número de ações voltadas à prevenção de sinistros pelosCorpos de Bombeiros Militares no Brasil (2007)

Fonte: Ministério da Justiça, Secretaria Nacional de Segurança Pública, Departamento de Pesquisa. Análise da Informação eDesenvolvimento de Pessoal em Segurança Pública/ Pesquisa Perfil Organizacional dos Corpos de Bombeiros Militares 2005/2007.

Ações voltadas à prevenção de sinistros Nº Absoluto (%)Prevenção a incêndio urbano 44.808 38,64Prevenção de afogamento 25.602 22,08Outras ações de prevenção 15.175 13,09Prevenção de acidentes domésticos 11.124 9,59Prevenção em festas e eventos 6.118 5,28%Prevenção de segurança comunitária 5.692 4,91%Atividades em escolas 2.816 2,43%Prevenção à vulnerabilidade social 1.185 1,02%Prevenção a incêndio florestal 989 0,85%Prevenção de acidentes de tráfego 902 0,78%Prevenção de desabamento 552 0,48%Prevenção de inclusão social 410 0,35%Operações simuladas de salvamento, busca e resgate 324 0,28%Prevenção em ações simuladas em escolas e edificações 259 0,22%Total de ações 115.956 100%

recomendado um simulado com o má-ximo de cenários possíveis – como pes-soas feridas, incêndio e vazamento deproduto químico –, sempre se atendo aoPlano. “É comum observarmos que al-guns exercícios simulados de combate oude abandono de área não seguem as re-comendações dos Planos de Emergên-cia, sendo que a formação, treinamento

e atualização dos grupos de resposta,muitas vezes, não são elaborados con-siderando as hipóteses acidentais e pro-cedimentos contidos nos planos de res-posta à emergência”, observa MarcoAurélio Rocha, técnico de Segurança eEmergência e especialista em Gestão deEmergência e Desastres, que sugere ain-da a evacuação sem comunicado pré-

vio de que é um simulado, para avaliarsua eficácia e o tempo de resposta, le-vando em conta fatores psicológicos esubjetivos do inesperado, mas atentandopara redobrar as atenções objetivandoevitar possíveis acidentes pelo pânico.

DIFICULDADESMesmo considerando cenários catas-

tróficos, a conscientização das pessoasé uma das maiores dificuldades enfren-tadas em um Plano de Abandono paraos especialistas, mais até do que carac-terísticas estruturais (como altura ouantiguidade da edificação). A importân-cia dada ao treinamento se inicia nosaltos escalões – se a administração daempresa não está interessada ou nãoquer parar a linha de produção para aexecução de um simulado, a preocupa-ção com a medida não se difunde entreos funcionários. É com chefias que es-timulem a adesão que empregados se en-volvem e participam melhor dos treina-mentos. Carlos Henrique dos Santos, co-ordenador geral de Brigada da Sprink no-ta ainda que empresas de estados ondeuma fiscalização mais rigorosa ocorre –como São Paulo e o Distrito Federal –são mais preocupadas.

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Prédios mistos também representamum desafio. “Em um edifício com vári-as empresas condôminas, a administra-ção quer fazer, mas não acontece. Oscondôminos não aderem. Às vezes, agente precisa dar treinamento para 500,400 pessoas, e vão 50”, descreve o coor-denador de Brigada da Sprink, que aten-de mais de cem clientes pelo país.

Apesar de sua importância, ações si-muladas em escolas e em edificaçõesocupam o último lugar entre os traba-lhos especificados de prevenção feitospelos Corpos de Bombeiros no Brasil.Em 2007, dado mais recente, correspon-deu apenas a 0,22%, ou 259 ações emtodo o país naquele ano (ver Tabela 1).

Para o tenente-coronel Flávio JoséBianchini, do Corpo de Bombeiros daPolícia Militar do Estado de São Pauloe presidente da Instrução Técnica nº 11(Saídas de Emergências), a maior difi-culdade que poderá ocorrer na realiza-ção de um Plano de Abandono diz res-peito à adequação nas edificações exis-tentes, pois há um layout definido e limi-tações quanto às rotas de fuga. Por isso,o Plano de Abandono deve ser elabora-do e realizado por pessoas que tenhamou que venham a ter um amplo conhe-

cimento da edificação.Uma arquitetura antiga, sem rotas de

fuga, larguras de escadas e saídas ade-quadas, exige um treinamento maior deseus ocupantes, inclusive com intervalosmenores para simulados, para que fi-quem mais condicionados a um escapeseguro conforme as condições do local.No entanto, Santos alerta que mesmoedificações recentes, muitas vezes, nãocontam com rotas de fuga projetadasdentro das normas da ABNT, o que di-ficulta o treinamento e o planejamento.

Outra situação recorrente é o Planode Abandono engavetado – feito apenaspara cumprir uma formalidade e semaplicação prática. “Isso é comum. Só em-

A missão de cada umDependendo da estrutura, diferentes funções podemgarantir uma saída organizada para um local seguro

Em empresas com quadro funcionalreduzido ou em turnos com equipe pe-quena, todos podem ser treinados parasaber agir em todas as ações necessáriasem um Plano de Emergência. Em uma

estrutura maior, definir funções previa-mente é o ideal, de acordo com os espe-cialistas. Dividir o grupo entre os quefarão o combate ao incêndio e os quecuidarão da retirada dos colegas evita

presas com muita bagagem, longa exis-tência, que já enfrentaram problemas emvários lugares, têm uma preocupaçãomaior com a segurança. Em geral, sãocorporações grandes, industriais e multi-nacionais. Elas sabem que compensa in-vestir em segurança. As outras, a gentetem que continuar com o trabalho deconvencimento, para que elas invistamem segurança. Melhorou bastante nosúltimos anos, mas ainda temos, princi-palmente, em serviços e comércio, de-ficiências”, observa Humberto ShigueoShirotori, capitão do Corpo de Bombei-ros de São Paulo e coordenador da Co-missão de Planos e Equipes de Emer-gência Contra incêndio do CB 24.

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Alto risco, alto envolvimentoEm Angra dos Reis, simulado geral de central nuclearexigiu megaoperação em dois dias de exercícios

Um fictício acidente simultâneo nasduas usinas nucleares envolveu cercade duas mil pessoas por 30 horas emAngra dos Reis, Rio de janeiro, nos dias31 de agosto e 1º de setembro desteano. Pela primeira vez, o Exercício Ge-ral do Plano de Emergência Externo daCNAAA (Central Nuclear AlmiranteÁlvaro Alberto) foi realizado em doisdias, uma megaoperação que reuniu en-tidades civis e militares, além de mora-dores da região.

Embora seja muito baixa a probabili-dade de ocorrer um acidente que levea uma liberação de material radioativo

nas usinas de Angra, um acidente desteterá um impacto significativo na região,o que exige um planejamento de res-posta muito abrangente e detalhado, ex-plica Paulo Roberto Werneck de Carva-lho, coordenador do Plano de Emer-gência Local da Eletronuclear. O Planoabrange a central nuclear, a vila residen-cial de Praia Brava e a localidade de Pira-quara de Fora, e é combinado com oPlano de Emergência Externo, quecuida da população, coordenado peloDepartamento Geral de Defesa Civildo Estado do Rio de Janeiro. “O planode evacuação é o último elo desta cadeia

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erros de atuação.As denominações variam, assim como

as necessidades da empresa. Em umaevacuação, existem algumas funçõesusuais para se manter a organização, co-mo o líder do abandono, o abre-fila (quevai na frente, para conduzir o grupo sematropelos pela escada de incêndio) e ocerra-fila (para garantir que ninguém fi-que para trás). Às vezes, a única coisa aser feita por alguém é nada mais alémde seguir as ordens para deixar o localcom segurança. “Em prédios, que sãocada vez mais altos, se não houver umaorganização, vira uma babilônia dentroda escada de incêndio”, comenta WalterBlassioli Junior, secretário da Comissãode Planos e Equipes de EmergênciaContra Incêndio do CB 24.

Equipamentos especiais ajudam naremoção de portadores de necessidadesespeciais e de grávidas por integrantesda equipe destacados para isso, como oelevador de emergência – normalizadona NBR 9077, mas sem aplicação difun-dida no país, segundo o consultor Rogé-rio Crotti – ou a cadeira de rodas paradescida de escadas nestas situações.

BOMBEIROSOutra importante figura em um aban-

dono é quem irá repassar dados sobre aocorrência e a retirada das pessoas parao Corpo de Bombeiros – e antes mes-mo de o socorro chegar ao local. Capi-tão do Corpo de Bombeiros de São Pau-lo e coordenador da Comissão de Pla-nos e Equipes de Emergência contra In-cêndios do CB 24, Humberto ShigueoShirotori, ressalta que ter o número decontato desta pessoa faz diferença paradeterminar que uma viatura com equi-pamento mais especializado também vá.A troca de informações colabora para abusca no local e, para ele, esta relaçãoentre o órgão e a empresa deve come-çar antes, na elaboração das ações. “Nãotem como fazer um plano correto, bemfeito, sem a interação dos serviços es-pecializados de atendimento à emergên-cia. É necessário que a empresa entre emcontato com o Corpo de Bombeiros, aPolícia Militar, o policiamento ostensivo,o serviço de ambulâncias local, pois to-dos vão interagir na emergência”, opina.

Segundo ele, esta participação implicaque os detalhes do abandono já foramvistos antes da fiscalização, que ocorrequando existe a renovação do auto de

vistoria do Corpo de Bombeiros do Es-tado de São Paulo.

A distância do batalhão mais próximoe seu tempo de resposta a um chamadoé outro fator a ser analisado em um Pla-no. Shirotori defende que o órgão conteaté com uma cópia do Plano de Emer-gência de empresas com maior risco,pois permite organizar melhor o aten-dimento e fará diferença na hora dabusca.

DIVULGAÇÃOComunicação é fundamental em um

Plano. Por isso, rotas de fuga e pontosde encontro devem estar bem sinaliza-

dos na edificação, e a empresa deve bus-car a melhor metodologia para explicaro procedimento à população fixa: pa-lestras, vídeos ou reuniões, conformetamanho, condições e estrutura. “Algunslugares distribuem um resumo sobre ca-minhos de saída e ramal de emergência,além de colocar isto impresso nos locaisde circulação – mais ou menos, comoem um avião. Além da aeromoça, háexplicações no bolsão na frente da pol-trona, de tal maneira que as pessoas co-nheçam e entendam bem. Nos simula-dos, elas se habituam em seguir rotas defuga para chegar até o ponto de encon-tro”, sugere Blassioli.

Uma escala define que alguns atuem na emergência e outrossigam para os pontos de reunião a partir de onde os ônibusfarão o transporte numa emergência

CENTRALNUCLEAR

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NOVEMBRO / 2011 Emergência 29

Crianças conscientesExercícios práticos nas escolas dos EUA estimulamvalorização de procedimentos de segurança

A figura de um simpático cão dálmatavestido de bombeiro leva crianças ame-ricanas a aprenderem desde como secomportar em uma situação de emer-gência até como socorrer alguém. Opersonagem Sparky, da NFPA (Natio-nal Fire Protection Association), completa60 anos em 2011, acompanhando ge-rações treinadas em todas as escolas dopaís para agirem em diferentes tipos deacidentes e desastres, inclusive na horado abandono.

De acordo com o coronel Marco An-tonio Secco, engenheiro na área de Prote-ção e Combate a Incêndio – que acom-panhou simulações de evacuação emescolas nos Estados Unidos – a ação daNFPA é ampla. Em geral, no país, exer-cícios para abandono ocorrem até qua-tro vezes ao ano. A mobilização nas ins-tituições de ensino chega a ser mais fre-

quente. “Visitei uma escolaem Memphis na qual a di-retora fazia o treinamentode evacuação a cada doismeses. Era um meio que elatinha de cumprir o progra-ma do NFPA”, relata Secco.

Para o momento da fuga,as crianças são treinadas para que elasse organizem e deixem o prédio quan-do o alarme disparar em uma situaçãocrítica. A professora exerce um papelfundamental no ensino desta ação, quedepois é realizada apenas com os alu-nos, para que saibam exatamente o quefazer. Com material pedagógico varia-do e treino, se busca criar uma mentali-dade em crianças a partir de quatro anosque trará duas principais vantagensnuma ocorrência: não ser vítima e sal-var a vida de alguém.

Os ensinamentos de Sparky não fi-cam restritos ao ambiente escolar. Nosite especial do personagem (http://www.sparky.org), uma das atividadesconvida o pequeno internauta a criarum Plano de Abandono para sua casa,passando instruções de como elaborá-lo – desde a observação de duas saídasem cada cômodo à divulgação do pla-no aos outros moradores da casa.

que a gente chama de defesa em pro-fundidade. Só que não se espera chegarno fim para se tomar providência. Já noalerta, os três centros de emergências emAngra, no Rio e em Brasília são ativadospreventivamente”, ressalta Werneck.

Cerca de 1,4 mil pessoas trabalhamna operação e no suporte às usinas. Emtodos os anos ímpares, como em 2011,há exercício geral com evacuação de vo-luntários, bloqueios de rodovias e marí-timo e remoção de supostos acidenta-dos por aeronaves das Forças Armadaspara o Rio de Janeiro. Nos anos pares,é a vez do simulado parcial. “Cada usi-na, independente destes simulados, fazcinco exercícios anuais do Plano de E-mergência interno. Todo o trabalhador,para ter acesso à central nuclear, fazuma série de treinamentos, inclusive doPlano de Emergência, e eles são treina-dos anualmente”, aponta Werneck.

O simulado mais recente incluiu o ris-co de liberação de radiação para o ambi-ente e a decretação de situação de emer-gência. A retirada dos trabalhadores dacentral nuclear – inclusive dos operári-os da construção de Angra 3 – foi tes-tada no primeiro dia do evento. Maisde 100 ônibus transportaram cerca de4.000 pessoas em menos de uma hora.Além disso, parte dos cerca de 16 milmoradores em um raio de cinco quilô-metros em torno das usinas, incluindohabitantes das ilhas, participou volun-tariamente do treinamento. Uma cam-panha nos meios de comunicação a-nunciou o simulado com antecedên-cia aos quase 170 mil habitantes da ci-dade.

O Gabinete de Segurança Institucio-nal da Presidência da República é o res-ponsável pela coordenação dos exercí-cios, sendo o órgão central do Sistemade Proteção ao Programa Nuclear Bra-sileiro. A organização das ações coubeao Comitê de Planejamento de Respos-ta a Situações de Emergência Nuclearem Angra dos Reis (Copren/AR).

ORIENTAÇÃOPara orientar a fuga de

dentro da usina, a empresaconta com totens espalha-dos com instruções, sina-lização para os quatro pon-tos de reunião e sistema desom com dois sinais – umde alerta e um de evacua-ção, que servem ainda co-mo canal de voz. Da cen-tral nuclear, há três saídasaté a rota principal, a ro-dovia Rio-Santos. Existe uma escala daspessoas que vão atuar na emergência,enquanto os demais só devem ir paraos pontos de reunião, a partir de ondeos ônibus farão o transporte. Visitantesficam permanentemente sob responsa-bilidade de um funcionário da usina que

tenha recebido treina-mento para a escolta. Nofinal de cada ano, 60 milcalendários são distribuí-dos para a comunidadecom instruções do Planode Emergência e, atual-mente, alunos do 9º anoda rede municipal têmparticipado de visitas àsusinas por meio de suasescolas.

Por enquanto, nuncaocorreu uma situação em que o Planode Emergência, incluindo o abandono,fosse posto em prática. A empresa se-gue recomendações da Agência Inter-nacional de Energia Atômica, órgão daONU, e diretrizes da CNEN (Comis-são Nacional de Energia Nuclear).

PRINCIPAIS RECOMENDAÇÕES DADAS ÀS CRIANÇAS NOSEUA QUANTO AO PLANO DE ABANDONO E SUAS PRÁTICAS

Fonte: Cel. Marco Antonio Secco, engenheiro na área de Proteção e Combate a Incêndio

-Ter o conhecimento do local em que está- Ficar calmo- Manter uma organização- Buscar pelas indicações de saída que levam para fora do local- Ligar para o 911 e cumprir as instruções do atendente

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Werneck: série de treinamentos

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