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Documento Base para a Oficina Fluminense de construção da Instalação Pedagógica - Caravana Agroecológica e Cultural da Região Metropolitana do Rio de Janeiro 1 “Terra é mais que terra (...) É o lugar histórico dessas lutas (...) dos índios, dos negros e dos camponeses. (...) Terra é festa do povo” Dom Tomás Balduino Análise de Contexto para o III ENA – Das experiências aos olhar sob o território O III Encontro Nacional de Agroecologia acontece em um importante momento da história brasileira, numa conjuntura marcada por grandes contradições. No âmbito da construção da agroecologia, é notória a conquista dos movimentos sociais na construção da Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (PNAPO) e do Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (PLANAPO). Entretanto, vivenciamos neste mesmo cenário o avanço do agronegócio e da mineração, no campo e na cidade, a estagnação da reforma agrária - tema este fundamental para construção da agroecologia - a violação de direitos territoriais e avanços de demais empreendimentos liderados pelos atores hegemônicos do grande capital, de forma geral. O estado e a cidade do Rio de Janeiro, especialmente, protagonizam estas transformações de maneira bastante singular, sendo uma das sedes da Copa do Mundo, que ocorrerá em junho próximo, e das Olimpíadas de 2016, ainda em construção. Aqui, o modelo de desenvolvimento tem como pilar os megaprojetos e megaempreendimentos, cujo objetivo principal é gerar lucro às empresas dos setores imobiliários, construtoras, proprietários fundiários, etc. O avanço desses projetos acirra e evidencia conflitos e a disputa de projetos ao buscar consolidar para o 1 Texto elaborado a partir da Oficina “Construção e disputas da agroecologia nos territórios” promovida pela Articulação Nacional de Agroecologia, nos dias 14 e 15 de abril. Por Emilia Jomalinis (Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul), com contribuições de Uschi Silva (Articulação de Agroecologia do Rio de Janeiro).

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Page 1: aarj.files. Web view“dar alma para o debate aterrissar”. Ao longo deste segundo momento, uma pessoa da organização fará a síntese gráfica. O coletivo que organiza a instalação

Documento Base para a Oficina Fluminense de construção da Instalação Pedagógica - Caravana Agroecológica e Cultural da Região Metropolitana do Rio de Janeiro1

“Terra é mais que terra (...) É o lugar histórico dessas lutas (...) dos índios, dos negros e dos camponeses. (...) Terra é festa do povo”

Dom Tomás Balduino

Análise de Contexto para o III ENA – Das experiências aos olhar sob o territórioO III Encontro Nacional de Agroecologia acontece em um importante momento da história brasileira, numa conjuntura marcada por grandes contradições. No âmbito da construção da agroecologia, é notória a conquista dos movimentos sociais na construção da Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (PNAPO) e do Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (PLANAPO). Entretanto, vivenciamos neste mesmo cenário o avanço do agronegócio e da mineração, no campo e na cidade, a estagnação da reforma agrária - tema este fundamental para construção da agroecologia - a violação de direitos territoriais e avanços de demais empreendimentos liderados pelos atores hegemônicos do grande capital, de forma geral.

O estado e a cidade do Rio de Janeiro, especialmente, protagonizam estas transformações de maneira bastante singular, sendo uma das sedes da Copa do Mundo, que ocorrerá em junho próximo, e das Olimpíadas de 2016, ainda em construção. Aqui, o modelo de desenvolvimento tem como pilar os megaprojetos e megaempreendimentos, cujo objetivo principal é gerar lucro às empresas dos setores imobiliários, construtoras, proprietários fundiários, etc. O avanço desses projetos acirra e evidencia conflitos e a disputa de projetos ao buscar consolidar para o Rio e seu entorno um projeto de cidade-empresa e cidade-mercadoria, que tende a ignorar os direitos humanos de suas populações.

Em meio a isso, reafirmar um projeto para o campo e para a cidade de bases agroecológicas nos parece fundamental. É no acirramento das contradições que novas possibilidades se criam e onde se evidencia esse campo de disputa no qual a agroecologia tem se afirmado tanto em seu discurso político, como em suas práticas diárias, materializada nos territórios através das lutas e resistências.

É preciso estar atent@s, também, sobretudo porque é possível identificar que novos atores começam a utilizar o conceito da agroecologia. Estamos tod@s falando da mesma coisa? Ter o entendimento sobre o que estamos falando e saber comunica-lo é uma estratégia chave para não nos perdemos neste importante momento. Assim, um importante produto deste ENA será avançarmos num entendimento de qual é a nossa visão sobre este Brasil agroecológico. Em outras palavras, quais são nossas propostas para consolidação da agroecologia no Brasil? Esta

1 Texto elaborado a partir da Oficina “Construção e disputas da agroecologia nos territórios” promovida pela Articulação Nacional de Agroecologia, nos dias 14 e 15 de abril. Por Emilia Jomalinis (Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul), com contribuições de Uschi Silva (Articulação de Agroecologia do Rio de Janeiro).

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é uma questão essencial sobre os sentidos do ENA. Para isto, a preparação do III Encontro Nacional de Agroecologia optou pelo foco metodológico nos territórios, como forma de ver as experiências, entender as disputas materializadas, bem como os atores nelas envolvid@s, e refletir sobre o campo de possibilidades e desafios na construção da agroecologia. São nos vários territórios brasileiros que as disputas estão cada vez mais acirradas. Dessa forma, são os territórios palco de disputas de projeto de sociedade, ou o que muitos chamam de projetos de modelo de desenvolvimento.

As Caravanas como metodologia de preparação e construção do III ENAA realização de Caravanas Territoriais foi a metodologia utilizada para o processo preparatório nos territórios, para o III ENA. Ao todo, foram realizadas 14 caravanas – sendo uma focada na temática da juventude - envolvendo cerca de 2.500 pessoas, entre agricultores/as, técnicos/as, pescadores/as, comunicadores/as populares, estudantes, acadêmicos, jornalistas e gestores públicos. O III ENA não ocorrerá apenas em Juazeiro. É, na verdade, a soma de todos estes inesgotáveis momentos de preparação, formação e reflexão junto às experiências agroecológicas.

A proposta da caravana utilizada pela ANA foi uma importante inovação metodológica e teve como objetivo mobilizar os atores locais para que eles possam estudar e compreender melhor seu território, pensar o fortalecimento da agroeocologia, a ampliação da escala das suas experiências, bem como conhecer as ameaças que estas experiências enfrentam para se desenvolver.

Através das caravanas também ficou registrada a diversidade de experiências agroecológicas presentes nos territórios: nossas agri-culturas são múltiplas! Foi a partir do olhar do território que também pudemos evidenciaram os projetos antagônicos em disputa nesses locais: o caso do perímetro irrigado a ser implantado na Chapada do Apodi (RN-CE), o crescimento da mineração na Zona da Mata (MG), as hidrelétricas previstas para o rio Tapajós, em Santarém (PA) e o uso intenso de agrotóxicos no Mato Grosso, como na região de Cáceres. No Rio, percebemos que nossos enfrentamentos se dão com o avanço da lógica da cidade empresa; que relega para sua periferia grandes empreendimentos, como a siderúrgica TKCSA, deixa para a especulação imobiliária suas áreas mais centrais e adota uma perspectiva preservacionista para suas área de conservação, ignorando o direitos de povos tradicionais ou populações que já vivem há tempos nesses territórios. Em outras palavras, busca intensificar essa dicotomia campo/cidade e a dicotomia mulheres e homens versus natureza.

Como a agroecologia é construída por múltiplos atores, vale ressaltar a participação das mulheres, das crianças e d@s jovens na organização caravanas. A expressão dos seus trabalhos esteve presente em suas experiências, práticas e conhecimentos na defesa da biodiversidade, do patrimônio genético, na produção de alimentos saudáveis e na luta por políticas públicas voltadas para a defesa da agricultura familiar, camponesa e da agroecologia.

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As Instalações Pedagógicas como Metodologia para olhar nossos territórios

É no território que a vida pulsa!

A instalação pedagógica enquanto metodologia foi escolhida para facilitar a compreensão do debate territorial, durante o encontro em Juazeiro. De maneira lúdica e sensorial, objetiva-se realizar o debate acerca dos territórios visitados pelas caravanas. Diferentemente da forma como outros atores, como o Governo Federal, entendem o conceito de território, esta palavra aparece aqui com o intuito de visibilizar as disputas existentes e os distintos atores que a compõe: desloca-se o foco das experiências individuais e de suas tecnologias e se acende os holofotes sobre o contexto no qual as experiências localizam-se. Buscaremos apontar os processos de acumulação de capital (a partir de atores que não estão vinculados a processos de construção da vida, mas sim de extração de riqueza num curto prazo assim) e a construção da agroecologia (muitas vezes invisibilizada nesses territórios pelos próprios processos de acumulação do capital) como um contraponto do modelo de desenvolvimento predominante. Trata-se de pensar o território enquanto um espaço de disputa e construção da agroecologia, simultaneamente. O enfoque no território busca analisar a construção da agroecologia não de maneira fragmentada, mas sim, contextualizada em seu entorno.

A expectativa é também entender as 14 instalações de maneira associada: dada as diferenças dos territórios visitados, podemos identificar semelhanças? As lógicas de relação da experiência com a natureza e das expressões do capital se assemelham de alguma forma? Espera-se também das instalações que elas estimulem que as pessoas falem sobre suas realidades; pessoas que estão no dia a dia com um enfrentamento no seu lugar de existência, contribuindo para a costura dessas conexões.

Construindo uma Instalação Pedagógica – Exercitando outros tipos de linguagensA instalação serve como animadora do debate sobre o território apresentado. Assim, em linhas gerais, a ideia é que o público interaja em um primeiro momento com a instalação, dialogando com essa realidade. Após, em um segundo momento o debate é aberto para que as pessoas falem sobre a vivência e as conexões do território apresentado com seus territórios de origem. A ideia é ter participantes de todas as regiões, garantindo a riqueza e diversidade de situações em cada sessão. O objetivo dessa sessão é construir coletivamente uma visão sobre como a agroecologia se relaciona com territórios; qual o tipo de construção e luta a agroecologia tem feito. Como a agroecologia vê o futuro do território, pensando o passado? Qual a relação daquelas pessoas com o futuro? Quais são as expressões existentes do grande capital, dos grandes empreendimentos?

A atividade terá 03 horas e a proposta da ANA para esta atividade é a seguinte, lembrando que as instalações tem relativa autonomia para organizar uma programação diferenciada:

Momento 1: Se inicia com as instalações e cada pessoa vai para uma instalação. Momento de apreciação da instalação. Proposta que dure de 40 minutos a uma hora. Neste momento, a proposta é que se tire de 1 a 2 moderadores para a instalação.

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Momento 2: Depois dessa apreciação, abre-se um debate, no formato de depoimentos. Depoimentos serão registrados graficamente. Proposta que dure de 1h/1h30min. É a hora de “dar alma para o debate aterrissar”. Ao longo deste segundo momento, uma pessoa da organização fará a síntese gráfica. O coletivo que organiza a instalação deverá indicar o nome de uma pessoa do território para ajudar o designer gráfico.

Momento 3: Apresentação do relatório gráfico

Momento 4: Debate sobre a síntese gráfica com complementações e outros. Momento da síntese é livre – as pessoas vão se inscrever e falar sobre os desenhos (críticas e complementações, diferentes entendimentos).

Construção e disputas da agroecologia no território metropolitano do Rio de Janeiro

O que é preciso representar; Que símbolo ajuda nesta representação? Vamos deixar a sensibilidade de lado e começar pelo sensorial! É preciso levar símbolos do nosso território. O que temos de mais característica nas

nossas regiões? Como estimular todos os sentidos? Olfato, Audição, Tato, Olfato e Paladar? A construção não é uma pura e simples confecção de materiais. É um momento de

reflexão sobre o nosso território. Devemos elaborar um roteiro? Como elabora-lo sem que ele seja uma “camisa de

força”? Levar produção de textos, livros, cartilhas também é importante Quem será o/a mediador/a? Como garantir a dimensão de gênero e de geração na representação?