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Nanoprodutos e nanoconsumidoresTRANSCRIPT
MÓDULO: NANOPRODUTOS E
NANOCONSUMIDORES
O DISCURSO DA MÍDIA
A partir da década de 90 a mídia passou a ocupar papel de grande relevância na divulgação de
discursos sobre nanotecnologia, e é principalmente através destes veículos midiáticos, que
diversos conhecimentos sobre ciência e tecnologia chegam diariamente à população,
permitindo assim uma aproximação do público com as novidades científicas. Por outro lado
precisamos levar em conta que, segundo Silva (2004), a mídia se apresenta de uma forma
sedutora e irresistível apelando para a fantasia, o sonho e a imaginação. Fatos estes que
podem incitar o consumo dos produtos por ela anunciados.
Diversos produtos que utilizam nanotecnologia em sua fórmula já são uma realidade entre
nós, estima-se que cerca de 600 itens circulem no mercado. Entre estes podemos citar
tecidos inteligentes que mantém a temperatura corporal permitindo que o ar resfrie o
usuário quando a temperatura estiver alta e expulse o ar quando a temperatura cair; tecidos
com nanopartículas de prata que tornam a roupa resistente ao suor e também atuam como
bactericidas, característica esta que pode revolucionar a
indústria de aventais, utilizados por profissionais da área da
saúde, com vistas a reduzir as temidas infecções hospitalares.
Por outro lado um problema a ser levantado é da possível
contaminação que estas partículas de prata podem causar no
ambiente, quando estas roupas forem lavadas, pois as
nanopartículas são adicionadas a fibras durante a fabricação do
tecido, mas desaparecem após algumas lavagens. Sendo assim
ao alcançarem seu destino final, que certamente será o meio
ambiente, poderão causar efeitos danosos na cadeia alimentar.
Além destes, há uma gama de produtos que poderíamos
citar aqui, mas vamos destacar somente mais um, que
pode ser considerado uma revolução na indústria
cosmetológica, que são os cosméticos que utilizam
nanotecnologia em sua fórmula. Estes são muito comuns
na mídia e também no comércio. Estes produtos trazem a
promessa de uma maior eficácia no tratamento e combate
aos sinais da idade. Apesar de estarem sendo
apresentados aos consumidores como uma expectativa
futurista, onde geralmente são destacados unicamente os benefícios, esta discussão gera
controvérsias entre pesquisadores.
Segundo Ryman-Rasmussen et al. (2006) a pele é permeável a nanomateriais com diversas
propriedades físico-químicas, podendo ser um portal de entrada conduzindo a uma
exposição localizada ou sistêmica danosa para a saúde. Song et al. (2009) relatam que seu
diâmetro pequeno significa que eles podem penetrar barreiras naturais do organismo,
nomeadamente através do contacto com a pele danificada, por inalação ou ingestão. Por
outro lado, Hiratuka (2008) considera que a utilização da nanotecnologia permite um
controle muito maior da velocidade com que o ativo é liberado, assim como a profundidade
em que é liberado na pele. Fato este que levaria a uma maior ação local, com maior eficácia
no uso do produto.
Apesar das pesquisas demonstrarem que há prós e contras em relação ao uso de
nanoprodutos, podemos considerar que uma das questões mais relevantes, no momento
atual, é informar o público sobre as novidades científicas nesta área, uma vez que existem
muitos produtos disponíveis no mercado e a maioria dos nanoconsumidores não possuem
conhecimento sobre os benefícios e possíveis riscos que estes produtos poderão causar a
saúde humana e ambiental, uma vez que, a maioria destas nanopartículas, não existem na
natureza, logo as células provavelmente não terão os meios apropriados de lidar com elas.
Apesar disto à mídia apresenta-se como uma das maiores incentivadoras ao consumo destes
produtos, principalmente no que se refere aos nanocosméticos, interpelando os
consumidores com seu discurso midiático contribuindo assim para a formação do senso
comum.
Um dos principais objetivos das revistas é descrever e interpretar os acontecimentos para
seus leitores, produzindo assim uma versão discursiva dos fatos. Estes são apresentados aos
leitores como uma realidade, uma vez que, como veículos de comunicação que são, fazem
uso da linguagem jornalística, o que segundo Steinberger (2005), tem o poder combinado
para multiplicar em grande escala e velocidade, sua versão dos fatos e, simultaneamente,
constituir um discurso legitimado socialmente que recebe muita confiabilidade.
Ao analisarmos algumas reportagens de cosméticos de marcas afamadas, podemos observar
que existem regularidades na produção discursiva, além do público alvo, reportam-se à
promessa de juventude para os que utilizarem estes tipos de cosméticos, o que produz
efeitos nos sujeitos com relação ao corpo, beleza, saúde e consumo. Utilizam-se também da
voz do sujeito capacitado, pois esta é muito valorizada, uma vez que a pesquisa é vista, quase
sempre, como prova da verdade que está sendo enunciada, o que dá maior confiabilidade à
mesma. Nota-se ainda que geralmente só lado positivo é abordado, não considerando, em
nenhum momento, o uso com cautela pelos possíveis consumidores do produto, devido ao
pequeno número de pesquisas nesta área.
Apesar de todo este poder midiático, não podemos deixar de considerar que ele é
direcionado a sujeitos livres com capacidade de resistir ou
não a estas interpelações. Sendo assim precisamos ser
críticos sobre os eventos discursivos, uma vez que estes
utilizam estratégias de convencimento e sedução. Por outro
lado a resistência é prova de que existe espaço para
intervenções, oscilações, inversões, ou seja, mudanças numa
relação de poder, portanto precisamos conhecer para avaliar
os possíveis riscos e benefícios do uso dos nanoprodutos.
Referências:
HIRATUKA, Célio, et al. (2008). Relatório de acompanhamento setorial de
cosméticos. Vol. 1. UNICAMP E ABDT.
RYMAN-RASMUSSEN, J. P., RIVIERE, J. E., & MONTEIRO-RIVIERE, N. A. (2006). Penetration of
intact skin by quantum dots with diverse physicochemical properties. Toxicological Sciences,
91(1), 159-165. Retrieved from www.scopus.com
SILVA, Tomaz Tadeu da. (2004). Documentos de identidade: uma introdução às teorias do
currículo. Belo Horizonte: Autentica.
SONG, Yuguo et al. (2009). European Respiratory Journal. Industrial Revolution in
Nanotchnologies: Towards a new version of the asbestos disaster? September, vol. 34,
number 3
STEINBERGER, Margarethe Born. (2005) Discursos geopolíticos da mídia: jornalismo interna-
cional na América Latina. São Paulo: EDUC; Fapesp; Cortez, p. 310.