a voz feminina no romance maranhense: uma análise da obra Úrsula de maria firmina dos reis

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Uma análise da obra Úrsula de Maria Firmina dos Reis. 1 A VOZ FEMININA NO ROMANCE MARANHENSE: Professora: Joselma Mendes

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Este trabalho pretende evidenciar a presença da mulher na Literatura Maranhense através da obra Úrsula de Maria Firmina dos Reis, uma escritora maranhense e afro-descendente. Busca ainda retratar de forma sucinta o papel da mulher no seculo XIX e a condição do negro na época, usando sua voz para relatar sua condição.

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Uma análise da obra Úrsula de Maria Firmina dos Reis.

A VOZ FEMININA NO ROMANCE MARANHENSE:

Professora: Joselma Mendes

MARIA FIRMINA DOS REIS(1825 -1917)

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Maria Firmina dos Reis (1825 – 1917);

Nasceu na ilha de São Luís, capital da província do Maranhão;

Foi registrada como filha de João Pedro Esteves e Leonor Felipe dos Reis.

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Ingressou, em 1847, por concurso, no magistério público, para a cadeira de instrução Primária na vila de Guimarães, e lecionou até 1881, quando se aposenta.

Em 1859 publica o romance ÚRSULA e passa a colaborar em jornais da época com textos poéticos.

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Funda em 1880, aos 55 anos, uma escola gratuita e mista. É algo inimaginável para as mentalidades da época.

Em 1887, Maria Firmina publica em A Revista Maranhense, nº 3, além de poemas, o conto A Escrava.

No ano seguinte compõe o “Hino da libertação dos escravos”, com letra e música.

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Em 1861, o jornal O Jardim dos Maranhenses começa a publicar, em forma de folhetim, o romance GUPEVA.

Em 1871 publica mais uma obra Cantos à BEIRAMAR.

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Maria Firmina deixou “esse mundo para entrar na história” em 11 de novembro de 1917. Com 92 anos, cega e pobre.

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OBRAS

ÚRSULA (romance) – 1859

Gupeva (romance de temática indianista) - 1861

Cantos à beira-mar - 1871

Poesias – toda a sua vida

A Escrava (conto antiescravista) - 1887

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SITUAÇÃO DA MULHER NO SÉCULO XIX

A mulher era subordinada e dependente do pai ou do marido, sendo feita propriedade do homem e silenciada por ele.

Desde menina era ensinada a ser mãe e esposa, sua educação limitava-se a aprender a cozinhar, bordar, costurar, tarefas estritamente domésticas.

Carregava o estigma da fragilidade, da pouca inteligência, entre outros que fundamentava a lógica patriarcal de mantê-la afastada dos espaços públicos.

ARIES, P. História social da criança e da família. 2a. ed.. Rio de Janeiro: L T C Editora. 1981.

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Imagens da internet.

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O exercício da escrita foi para as mulheres do século XIX, uma forma de romper os limites até então dominados por homens, a escolarização feminina foi o ponto inicial para a construção da identidade da mulher como um ser social e político.

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Abriram escolas, publicaram livros, fundaram jornais e escreveram artigos em defesa do direito à fala pública.

O romance Úrsula, de Maria Firmina dos Reis, foi escrito nesse período histórico; analisá-lo compreende, inevitavelmente, um diálogo entre a escritora e o grupo ao qual pertenceu.

Ao publicar Úrsula, Maria Firmina dos Reis, assinou com o pseudônimo “Uma Maranhense”;

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Maria Firmina dos Reis, foi a primeira mulher, afro-descendente, nordestina e de origem humilde, a relatar no romance Úrsula (1859), através de um discurso crítico e denunciativo, tornando públicas as condições a que estavam submetidos o negro e a mulher na sociedade brasileira.

(DUARTE, 2004. P 203).

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Escrever este romance constitui-se como uma ação de transgressão, que ultrapassa os limites sociais acordados para uma sociedade conservadora e escravocrata.

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NO PRÓLOGO DA OBRA, A AUTORA AFIRMA:

“Sei que pouco vale este romance, porque escrito por uma mulher, e mulher brasileira, de educação acanhada e sem o trato e conversação dos homens ilustrados, que aconselham, que discutem e que corrigem e que corrigem, com uma instrução misérrima, apenas conhecendo a língua de seus pais, e pouco lida o seu cabedal intelectual é quase nulo. [...]”

Por trás dessa declaração de modéstia, a escritora revelou sua condição social, numa sociedade dominadora e escravocrata.

REIS, Maria Firmina dos. Úrsula, P 13: Ed. Mulheres: Belo Horizonte: PUC Minas, 2004.

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Maria Firmina corajosamente levantou sua voz através do que chamou:

“[...] Mesquinho e humilde livro [...]”

Mesmo sabendo do “indiferentismo glacial de uns” e do “riso mofador de outros”, desafiou:

“[...] ainda assim o dou a lume [...]”

REIS. p 13. Mulheres: Belo Horizonte: PUC Minas, 2004.

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Não desanimou e com humildade pede:

“Deixai pois a minha ÚRSULA, tímida e acanhada, sem dotes da natureza, nem enfeites nem louçanias d’arte, caminhe entre vós. Não a desprezeis, ante amparai-a nos seus incertos e titubantes passos para assim dar alento à autora de seus dias, que talvez com essa proteção cultive mais o seu engenho, e venha a produzir cousa melhor, ou quanto menos, sirva esse bom acolhimento de incentivo para outras, que com imaginação mais brilhante, com educação mais acurada, com instrução mais vasta e liberal, tenham mais timidez do que nós”.

REIS, Maria Firmina dos. Úrsula, P 14: Ed. Mulheres: Belo Horizonte: PUC Minas, 2004.

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PERSONAGENS:

ÚrsulaTancredo

Luiza – Mãe de ÚrsulaComendador

Fernando – Tio de Úrsula.

Preta Susana Tulio

Antero

Pai de TancredoAdelaide – Ex de Tancredo.

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A MULHER NA OBRA ÚRSULA ATRAVÉS DAS PERSONAGENS

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Úrsula:

“[...]Bela como o primeiro raio de esperança... Era tão caridosa... Olhos negros, formosos e melancólicos... Com a timidez da corça ... Era ingênua e singela em todas as suas ações[...]”

(Reis: 2004, P 32 e 33)  Mãe de Tancredo:

“[...] uma mulher passiva, resignada, de seus desejos e vontades. [...] meu pai era o tirano de sua mulher; e ela triste vítima, chorava em silêncio e resignava-se com sublime brandura. [...] minha mãe era uma Santa e humilde mulher”.

(Reis: 2004, P. 50) 

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A VOZ DO NEGRO RELATANDO A SUA HISTORIA DE LUTAS E DE SOFRIMENTO;

A escritora usa a estratégia de combater o regime sem agredir diretamente, para isso dar voz ao negro em sua obra, para que o próprio conte sua história.

Ela nos apresenta os negros:

Túlio, Susana e Antero.

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TÚLIO

Através de Túlio, a autora nos define o sentimento do negro a respeito de sua condição, e diz que mesmo com tantos sofrimentos e maus tratos continua com bom caráter, sem rancores no coração.

“[...] – A minha condição é a de mísero escravo! Meu senhor (...) Ah! O escravo é tão infeliz!... Tão mesquinha, e rasteira é a sua sorte, que...” (REIS, 2004 P. 27).

“[...] E o mísero sofria; porque era escravo, e a escravidão não lhe embrutecera a alma; porque os sentimentos generosos, que Deus lhe implantou no coração, permaneciam intactos, e puros como a sua alma. Era infeliz; mas era virtuoso[...]”.

(REIS, 2004 P. 23).

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Com a preta Susana a autora nos apresenta o olhar da escravidão sobre a ótica de uma mulher negra, que foi arrancada do seio de sua terra, tendo usurpado o direito de viver uma vida feliz ao lado de sua família.

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Sua fala acentua e recupera, pela lembrança, uma imagem da África livre com sólidas estruturas familiares e a denúncia da barbárie constituída pela viagem cheia de martírios nos porões de navios.

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[...] E logo dois homens apareceram, e me amarraram com cordas. Era uma prisioneira – era uma escrava! Foi em balde que supliquei em nome de minha filha, que me restituíssem a liberdade: os bárbaros sorriam-se de minhas lagrimas, e olhavam-me sem compaixão. [...] quando me arrancaram daqueles lugares, onde tudo me ficava – pátria, esposo, mãe e filha, e liberdade... Meteram-me e a mais trezentos companheiros de infortúnio e de cativeiro no estreito e infecto porão de um navio. Trinta dias de cruéis tormentos, e de falta absoluta de tudo quanto é necessário à vida passamos nessa sepultura até que abordamos as praias brasileiras. Para caber a mercadoria humana no porão fomos amarrados em pé para que não houvesse receio de volta, acorrentados como animais ferozes.

(Reis, 2004. p 116-117)

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É a negra Susana quem dar para Túlio o verdadeiro significado de liberdade.

“Tu! tu livre? Ah não me iludas! – exclamou a velha africana abrindo uns grandes olhos. [...] Liberdade! Liberdade... Ah! eu a gozei na minha mocidade! – continuou Suzana com amargura – Túlio, meu filho, ninguém a gozou mais ampla, não houve mulher alguma mais ditosa do que eu. Tranquila no seio da felicidade, via despontar o sol rutilante e ardente do meu país [...]”.

(Reis: 2004 p. 114/115) 

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ANTERO

Através de Antero Maria Firmina apresenta o negro que perde a auto-estima e se entrega ao alcoolismo, não resistindo aos infortúnios da vida longe de sua terra.

“Antero era uma escravo velho, que guardava a casa, e cujo maior defeito era a afeição que tinha a todas as bebidas alcoólicas”. (REIS: 2004, P. 205.)

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CARACTERÍSTICAS DA AUTORA.

Inserida no Romantismo.

Narrado em 3ª Pessoa utilizando a técnica de encaixes, constitui, em uma espécie de inovação Polifônica. – ao possibilitar que cada personagem conte sua história.

(artigo: Literatura e Historia no romance feminino do Brasil no sec. XIX: Úrsula.)

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A autora tem características próprias, como: o uso abundante do travessão, de vírgula, a separação do sujeito e do predicado.

“Susana, chama-se ela: trajava uma saia de grosseiro tecido de algodão preto, cuja a orla chegava-lhe ao meio das pernas magras, e descarnadas como todo o seu corpo: na cabeça tinha cingido um lenço encarnado e amarelo, eu mal lhe ocultava as alvíssimas cãs.

(REIS, 2004. P 112.)

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ENFIM...

Úrsula não é apenas o primeiro romance abolicionista da literatura brasileira. É também o primeiro romance da literatura afro-brasileira[...], entendida esta como produção de autoria afro-descendente.

Uma obra que dar voz a mulher (escritora) e tematiza o negro a partir de uma perspectiva interna – o próprio negro narra sua historia cheia de sofrimentos , sonhos e fé.

(DUARTE, 2004. P 203).

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REFERÊNCIAS REIS, Maria Firmina dos. Úrsula. Mulheres: Belo Horizonte: PUC Minas, 2004.

ALMEIDA, Eleuza Diana. Literatura e Historia no romance feminino do Brasil no sec. XIX: Úrsula. Artigo: disponível em: http://www.uesc.br/seminariomulher/anais/PDF/ELEUZA%20DIANA%20ALMEIDA%20TAVARES.pdf Acesso em 17/11/2011

 MONTEIRO, Maria do Socorro de Assis. O subterrâneo intimismo de Úrsula: uma análise do romance de Maria Firmina dos Reis. Doutora em Teoria da Literatura pela PUCRS. Artigo: disponível em: http://caioba.pucrs.br/fo/ojs/index.php/letronica/article/viewFile/5100/4056 Acesso em 17/11/2011.

OLIVEIRA, Lilia Sarat de. Educação e Religião das mulheres no Brasil do século XIX: Conformação e resistência. Artigo: disponível em: http://www.fazendogenero.ufsc.br/8/sts/ST27/Lilian_Sarat_de_Oliveira_27.pdf Acesso em 17/11/2011

OLIVEIRA, Adriana Barbosa de. Gênero e etnicidade no romance Úrsula, de Maria Firmina dos Reis. Tese de Mestrado: disponível em: http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/bitstream/1843/ECAP73WGED/1/disserta__o___revis_o.pdf Acesso em 17/11/2011