a voz do nordeste

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Folar estimula economia da região Entrevista António Pinto Leite: “Empresas devem fugir do Estado para vencerem a crise” edição n.º 644 ANO XXV abril|2011 esta revista é parte integrante do jornal nordeste e não pode ser vendida separadamente Ensino Superior: IPB aposta em investigação na fileira no azeite Opinião: FMI: Desastre ou Esperança?

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Revista - Edição 644

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Page 1: A Voz do Nordeste

Folar estimula economia da região

Entrev i s taAntón io P in to Le i t e :

“ Empre sa s devem f ug i r do E s tado pa ra

ven ce rem a c r i s e ”

ed ição n .º 644 • ANO XXV • abr i l |2011esta revista é parte integrante do jornal nordeste e não pode ser vendida separadamente

Ensino Superior:IPB aposta em

investigação na fi leira no azeite

Opinião:FMI: Desastre ou Esperança?

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• edição n.º 644 • ano XXV • abril|2011 •

Noção de trabalho suplemen-

tar. O trabalho suplementar, mui-tas vezes designado por “traba-lho extraordinário”, é todo aquele que é prestado fora do horário de trabalho e que é solicitado pelo empregador nas situações de acréscimo eventual e transitório de trabalho (que não justifique con-tratar alguém propositadamente), nos casos de força maior (p. ex. devido a calamidades ou intem-péries) e em situação de necessi-dade indispensável para prevenir ou reparar prejuízo grave para a empresa ou para a sua viabili-dade (esta análise é feita caso a caso pela própria empresa).Exclusões. Não é considera-do trabalho suplementar o que é prestado para compensar atrasos ou ausências do trabalhador que sejam da sua responsabilidade, desde que haja acordo entre este e o empregador para a referida compensação, tal como a situação em que o trabalhar permanece no trabalho durante mais algum tem-po para finalizar alguma tarefa, desde que esta tolerância de tem-po não ultrapasse quinze minutos face à hora estabelecida para o fim do período normal de traba-lho diário. Nesta última hipótese, o trabalhador será sempre pago por esses acréscimos de trabalho com os valores/hora correntes, o que ocorrerá quando esses tem-pos somarem 4 horas ou, caso tal não se verifique, no final do ano.

“COM TODO O DIREITO”

Trabalho SuplementarTem um horário de trabalho e num determinado dia fez mais horas do que aquelas estipuladas? Saiba o que isso significa, se vai ou não ser remunerado por esse trabalho e qual o descanso adicional devido pelo mesmo.

Isenção de horário. Fica também excluído da noção de trabalho su-plementar aquele que é prestado no regime de isenção de horário, desde que esta isenção não tenha estipulado um número máximo de horas de trabalho diárias ou se-manais. Se assim for, então as ho-ras prestadas além desses limites são consideradas como trabalho suplementar.Obrigação do trabalhador. O tra-balhador, por regra, é obrigado a prestar trabalho suplementar des-de que lhe seja solicitado legitima-mente pelo empregador perante algumas das situações já referi-das (acréscimo eventual e transi-tório de trabalho, caso de força maior ou situação de necessidade indispensável para prevenir ou re-parar prejuízo grave para a em-presa ou para a sua viabilidade). O trabalhador só poderá solicitar dispensa de trabalho suplemen-tar alegando um motivo atendí-vel cuja justeza é analisada caso a caso, pesando-se, em confronto, os interesses do trabalhador e do empregador.Limites. O número de horas de trabalho suplementar que podem ser exigidas a um trabalhador va-ria em função da própria dimen-são da empresa onde trabalha. A título de exemplo, e considerando a regra do Código do Trabalho, tomemos uma microempresa (com menos de 10 trabalhadores) ou uma média empresa (entre 10 a

49 trabalhadores). Nestes casos, os limites são os seguintes: 175 horas por ano; 2 horas num dia normal de trabalho (dia normal: aquele que não é feriado, dia de descanso obrigatório ou comple-mentar). O limite semanal é afe-rido por referência a uma média num período, normalmente de 4 meses. Mas, somadas as horas de trabalho normal com as horas de trabalho suplementar, a média se-manal nunca pode ultrapassar as 48 horas.Registo. O empregador tem de fazer o registo de todo o trabalho suplementar que os trabalhadores realizam, anotando as horas em que ocorre o seu início e o seu fim, num suporte documental (p. ex., num impresso adaptado ao sis-tema de controlo de assiduidade existente na empresa) sem rasuras ou emendas. Este registo tem de ser visado pelo trabalhador após a prestação do trabalho.Pagamento. Se o trabalho suple-mentar for prestado num dia útil, a primeira hora ou fracção desta (p. ex., 20 min.) será pago com um acréscimo de 50%, considerando-se sempre uma fracção como se fosse uma hora. Caso seja pres-tado num dia de descanso sema-nal complementar ou obrigatório ou ainda num feriado, será pago com um acréscimo de 100%.

Descanso compensatório. O tra-balhador que presta trabalho su-plementar em dia útil, em dia de descanso complementar ou em fe-riado tem direito a um descanso compensatório remunerado, cor-respondente a 25% das horas de trabalho que efectuou. Goza-rá este descanso quando o mesmo totalizar um número de horas igual ao seu período normal de traba-lho diário. No entanto, se prestou trabalho suplementar no dia de descanso semanal obrigatório, en-tão terá direito a um dia completo de descanso, independentemente das horas de trabalho que efec-tuou. Gozará este dia de descan-so num dos 3 dias úteis seguintes ao trabalho prestado.Legislação: artigos 100.º, 203.º, 211.º, 226.º, 227.º, 229.º, 231.º, 268.º e 271.º do Código do Tra-

balho.Nota importante: Para calcular-mos o valor da hora de trabalho, temos de adoptar a seguinte fór-mula legal: (Rendimento Mensal x 12) : (52 x período normal de tra-balho semanal).

t e l m o

cadavezjurista e do-cente no I.P.B.

Para perguntas e sugestões: [email protected]

Directora - Teresa Batista | Redacção - João Campos e Teresa Batista | Publicidade e Marketing - Bruno Lopes | Colaboram nesta edição - Humberto Ribeiro, Telmo Cadavez e José Mário Leite | Propriedade/Editor - Pressnordeste, Lda. | Registo ERC n.º 111077 | Fotografia - Rui Ferreira | Concepção Gráfica - Vasco Lopes | Impressão - Diário do Minho | Tiragem - 5.000 exemplares | Periodicidade: Mensal | Redacção e Administração - Rua Alexandre Herculano, nº 178, 1º andar – Apartado 215, 5300-075 Bragança | Telefone: 273329600 | Fax: 273329601 | e-mail: [email protected] | Depósito Legal n.º 30.609/89.

Page 3: A Voz do Nordeste

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• edição n.º 644 • ano XXV • abril|2011 •

t e r e s a

b a t i s t a

d i r e c t o r a

entrevista04| 21 empresas de Bragança faliram em 2010

A economia nacional vive dias dramáticos, mas a região de Trás-os-

Montes e Alto Douro procura contrariar a crise com a orga-nização de certames para pro-mover os produtos da terra, ajudando os produtores da re-gião a fazer negócio e a pro-duzir mais quantidade e com melhor qualidade. A Feira do Folar de Valpaços, um evento que já vai na 13ª edição, é um exemplo de como se pode con-trariar a crise, apostando na promoção e na venda daqui-lo que de melhor se produz no concelho, rentabilizando os re-cursos endógenos.Numa altura em que a econo-mia precisa de ser estimulada, a realização destes certames é fundamental para que haja movimentação de recursos fi-

Folar contraria crise económicananceiros. É desta forma que as regiões do interior do País assumem um papel relevante na economia nacional, demons-trando que estão bem vivas numa altura em que o País vive assombrado com os problemas financeiros que põem em risco o financiamento externo.Os números revelam que as tradicionais feiras são verda-deiros centros comerciais. No caso de Valpaços, no ano pas-sado o volume de negócios, analisando apenas a venda di-recta, rondou 1,25 milhões de euros durante três dias. Além disso, este evento também con-tribui para que a restauração e unidades de alojamento te-nham um acréscimo significati-vo de receitas. Estes resultados traduzem a eficácia do investi-mento de cerca de 150 mil eu-

ros que a autarquia tem vindo a fazer na promoção da Feira do Folar. Este ano, apesar da crise, os produtores não baixam os braços e afirmam que vão pro-duzir a mesma quantidade do que no passado, acreditando que a qualidade do produto vai cativar os visitantes.É deste optimismo que o País precisa para se erguer do amontoado de dívidas em que foi mergulhando ao lon-go dos anos. Apesar do po-der de compra das famílias ter sido reduzido com os cortes sa-lariais e o aumento da carga fiscal, a economia não pára e o comércio precisa de iniciati-vas de promoção para ultra-passar os obstáculos impostos pela crise.

“Com todo o direito”02| Trabalho suplementar

ciência & ensino22| Instituto Gulbenkian no top 10

economia8| Valpaços quer vender folar certificado já no próximo ano

opinião06| Vais conhecer o homem dos teus sonhos

ensino superior20| Linhas de Investigação do IPB

empresas pme excelência 201016| Santos Jóia: uma

empresa sólida em crescimento

e ainda:

nesta edição:nesta edição:

EDITORIAL

07| Desastre ou Esperança? FEEF e o FMI aterram em Portugal

10| Feira do Folar é o maior evento do norte do país12| Bolo Podre promove Santa Maria de Émeres

13| Folar vendido a nível nacional14| Poço da Vila: Azeite com selo de qualidade

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rotas & destinos18| Vinhos velhos e Azeites novos

deixam saudades em Tabuaço

economia social23| Projectos sociais criam emprego

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• edição n.º 644 • ano XXV • abril|2011 •

As empresas atravessam dificuldades e os empresários

têm que fazer esforços acrescidos para encontrar soluções que lhes

permitam ultrapassar a actual crise económica. Numa altura

em que o número de empresas a fechar as portas não pára de

aumentar e o risco de falência é muito elevado, a Voz do Nordeste

entrevistou o presidente da Associação Cristã de Empresários

e Gestores (ACEGE), António Pinto Leite, que fala dos desafios

que se impõem aos líderes empresariais, das dificuldades

que levam as empresas a fechar as portas e do futuro do País.

ENTREVISTA

Voz Nordeste (VN) – Perante a actual conjuntura económi-ca desfavorável para as em-presas, o que é que a ACEGE tem feito no sentido de aju-dar os empresários a superar a crise?António Pinto Leite (APL) - Pe-rante uma crise com esta di-mensão, a primeira priorida-de da ACEGE tem sido apelar e ajudar ao sentido de lideran-ça dos responsáveis empresa-riais. Se os líderes não resistem firmes nas adversidades, quem resiste? Há um dever moral dos líderes empresariais de manter a con-fiança e a esperança de todos os que os rodeiam.

Em segundo lugar, por todo o país passamos a mesma mensa-gem: a crise deve constituir um exercício de sentido social para todos os líderes empresariais. E vamos mais longe, sublinhamos que o critério do amor ao pró-ximo é o critério empresarial a ser seguido: tratar os outros, sejam colaboradores, fornece-dores ou a comunidade envol-vente, como gostaríamos de ser tratados se estivéssemos no seu lugar.Finalmente, prosseguimos a de-núncia do desperdício do Es-tado como a principal causa do drama português. O Esta-do não deve absorver mais de 40% da riqueza nacional e

hoje absorve cerca de 50%.VN – A ACEGE lançou o Fun-do Bem Comum para apoiar projectos empreendedores de desempregados com mais de 40 anos. Porquê a aposta nes-ta faixa etária?APL- A sociedade actual é iní-qua para o envelhecimento. Há um extremar de competitivida-de que leva a subvalorizar o factor experiência e a sobre-valorizar o factor energia. Há também uma contradição in-sustentável em tudo isto: a vida biológica é cada vez mais lon-ga e a vida profissional cada vez mais curta. Economicamen-te, será impossível sustentar com dignidade pessoas que a partir

dos 40 anos e por mais 40 anos ficam sem trabalho. O desem-prego senior é uma das zonas mais intensas de sofrimento so-cial, daí termos centrado a nos-sa atenção neste problema.VN- Quantas empresas já en-cerraram em Portugal entre o ano passado e o início deste ano?APL – Em 2010 agravou-se sig-nificativamente o número de processos de insolvência, rela-tivamente a 2009. Em 2010, cerca de 5.100 empresas en-traram no ciclo da insolvência.VN- O distrito de Bragança segue a tendência nacional? Quantas empresas já fecha-ram as portas, no mesmo pe-

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• edição n.º 644 • ano XXV • abril|2011 • ENTREVISTA

ríodo, nesta região do País?APL - Bragança contrariou a

tendência nacional. Em 2009, entraram nos tribunais 28 pro-cessos de insolvência e em 2010 apenas 21. Houve, assim, em Bragança, um decréscimo de 25%. VN – Quais os principais pro-blemas que levam ao encerra-mento das empresas?APL - Neste momento, a maior cri-se vem da falta de liquidez e das restrições ao crédito. As crises financeiras são sempre muito perigosas, porque atingem o cora-ção da actividade econó-mica. O não pagamento pontual aos fornecedores e o papel sem perdão do Estado nessa matéria ain-da agrava mais a falta de liquidez das empresas. VN – O atraso nos pagamentos da parte do Estado aos fornecedores e prestadores de serviços tem contri-buído para a falência de empresas em Portugal?APL - Naturalmente. É inaceitável que o Estado, que é pago com os nossos impostos, seja causador de sofrimen-to social por má gestão do dinheiro que lhe entregamos. Mas o pior é o facto de o Estado servir de exem-plo e servir de desculpa para que muitos que podem pagar a horas não o façam. O Estado alimenta uma cultura de não cumprimento na so-ciedade. VN – O que é que motivou a ACEGE a celebrar, recentemente, um protocolo com a Confede-ração da Indústria Portu-guesa no sentido de os fornecedores serem pa-gos a tempo e horas?APL - Vamos lançar esse projecto com a CIP, pe-dindo às empresas que se comprometam publi-camente a pagar a ho-

ras aos seus fornecedores. Os estudos sobre sinistralidade empresarial e aumento do de-semprego causados pelo não pagamento pontual entre em-presas apontam para números preocupantes. Portugal é o país europeu pior classificado nes-ta matéria. Não pagar a horas causa encerramento de empre-sas e desemprego, causa sofri-mento. Pagar a horas é o míni-mo ético empresarial.

VN – Quais os ramos de ac-tividade mais afectados pela crise em que o País está mer-gulhado?APL - Prefiro ver o tema do ou-tro lado: têm resistido à crise os sectores que, em tempo, se adaptaram às novas condições de mercado. Estamos hoje inte-grados numa moeda muito for-te e com o mercado global à nossa disposição, mas também capaz de nos destruir. O cal-çado, sectores tecnológicos de ponta, o vinho, certos segmen-

tos do turismo, o sector expor-tador em geral, são casos de sucesso. O sector dos serviços também tem muitos casos de sucesso. Há muita gente a quem a vida corre bem em Portugal e esses casos devem inspirar to-dos os portugueses.Vão sofrer muito os sectores dependentes do Estado, o pró-prio sector público empresa-

rial. O sector privado foi sucessiva-mente avisado: este Estado acabaria na bancarrota. VN – De que forma é que os empre-sários podem dar a volta à crise e sobreviver na actual conjuntura eco-nómica?APL - Primeiro, sejam quais forem as dificuldades, actuando como líderes verdadeiros, sem medo e com capa-cidade inspiradora. Depois, motivan-do e investindo nas pessoas que estão nas suas empresas, porque é o factor

humano que faz a diferen-ça. Por outro lado, pensan-do estrategicamente, des-cobrindo o novo mundo de oportunidades que está por explorar, as novas alianças que deverão fazer, fugindo do Estado e das suas benes-ses. Apostando em produtos

e serviços diferenciadores, na gestão da marca, na inovação, nos nichos de mercado internacionais. E trabalhan-do, trabalhando e exigindo, exigin-do. VN- Qual o papel dos empresários na procura de soluções para resol-ver os problemas económicos que os País enfrenta actualmente?APL - Os empreendedores têm um pa-pel decisivo no futuro de Portugal. Vou mais longe: Portugal depende, como poucas vezes na sua História, dos seus empreendedores. Sem criação de ri-queza não haverá Estado social, nem

protecção dos mais desfa-vorecidos, nem afirmação de Portugal no Mundo. Os empresários são empreen-dedores por excelência, mas há outros empreende-

dores: os trabalhadores incansáveis e com mérito, os profissionais liberais, os funcionários públicos exemplares, os voluntários, os estudantes com gran-de desempenho, os investigadores, as mães e os pais que suportam duras vidas profissionais e não desistem de acompanhar o desenvolvimento dos seus filhos, tanta gente activa, criati-va, inconformada, que luta pelo seu futuro e do seu país com alma.

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Quando fui ver o últi-mo filme de Woody Allen cujo título coin-

cide com o que agora escrevo, ainda não tinha sido publica-do o meu texto da revista an-terior.Também ainda não me tinha sido pedido um texto sobre a importância da vinda a EAR-MA a Bragança. Nem tinha lido a transcrição em epígrafe.No filme em causa há uma per-sonagem crucial: Cristal, uma quiromante que convence He-lena das suas capacidades vi-dentes e premonitórias. Sally, a filha, inicialmente incentiva a mãe a manter e aprofundar este relacionamento por enten-der que as consultas na quiro-mante eram mais benéficas (e mais baratas) que o acompa-nhamento psiquiátrico que He-lena iniciara, destroçada por um divórcio que apenas a char-latã conseguira “racionalizar”. Arrepende-se amargamente quando a vidente (provavel-mente receosa da perda do poder de compra da fiel clien-te) convence Helena a recusar à filha o empréstimo que lhe havia garantido. Por causa de um “certo alinhamento dos as-

tros”. O problema é que Sally já se tinha despedido e depen-dia do dinheiro da mãe para iniciar uma nova actividade que lhe garantiria a sua sobre-vivência. E de nada valeram os intensos, insistentes, dramá-ticos e desesperados protestos e pedidos de explicações e de revisão da decisão.Perante a irracionalidade das decisões arbitrárias (ou sujeitas “aos caprichos dos astros”) ne-nhum argumento racional pode ser eficazmente esgrimido. Na maioria dos casos são de pe-quena monta os malefícios e, normalmente, “terapêuticos” pois atingem sobretudo os cré-dulos de tais práticas. Não vem daí grande mal ao mun-do se contabilizarmos o carác-ter propedêutico que as neces-sárias falhas (que um dia terão de acontecer) há-de exercer, mais tarde ou mais cedo. O problema é quando a “crença” atropela as legítimas e racio-nais expectativas de terceiros colocando em causa o normal percurso da vida tal qual é e deve ser entendida e vivida.E o que é que tudo isto tem a ver com a economia, que é o tema desta revista? Tem tudo. Porque a extrema crise em que

estamos mergulhados deve-se, segundo toda a informação que é conhecida, ao facto de, durante anos termos pensado ser mais ricos que o que efec-tivamente éramos. E alguns le-varam essa crença, voluntária ou involuntariamente, a um ní-vel que o método científico nunca permitiria.Depois de ter visto o filme e de ter respondido ao município de Bragança sobre o congres-so anual da Earma fiquei satis-feito por ler a citação de Ro-bert Pirsig. Quase parece uma sequência lógica de algum es-tranho alinhamento cósmico. Claro que não passa de mera coincidência. Colocar hipótese contrária seria negar a essên-cia da própria sequência, que só existe e é relevante preci-samente pelo conteúdo… que claramente contraria a mesma hipótese. (parece confuso, mas não é! – a coincidência que existe é a da aceitação da prevalência da racionalidade sobre quaisquer outros factores. Aceitar que a coexistência se deve a facto-res cósmicos, destrói o ponto comum acaba com a própria coincidência!)

“Vais conhecer o homem dos teus sonhos”

j o s é m á r i o

l e i t ed i r e c t o r- a d j u n t o d a F u n d a ç ã o G u l b e n k i a n

“A verdadeira finalidade do método científico é garantir que a Natureza não nos levou, erradamente a pensar que sabemos algo que efectivamente não sabemos”

Robert Pirsig,Zen and the Art of Motorcycle Maintenance

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• edição n.º 644 • ano XXV • abril|2011 •

Perante a

irracionalidade das

decisões arbitrária s

(ou sujeitas “aos

caprichos dos

astros”) nenhum

argumento racional

pode ser eficazmente

esgrimido.

O problema é

quando a “crença”

atropela as

legítimas e racionais

expectativas de

terceiros colocando

em causa o normal

percurso da vida tal

qual é e deve ser

entendida e vivida.

OPINIÃO

Page 7: A Voz do Nordeste

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• edição n.º 644 • ano XXV • abril|2011 •

Infelizmente para Portugal, o pico da crise financeira ocorreu apenas um ano an-

tes das eleições legislativas de 2009. Como sabemos, anos pré-eleitorais são sempre de “corta-fitas”. E no exacto perí-odo em que deveríamos come-çar a apertar o cinto, fizemos exactamente o contrário. Quer um exemplo? Fruto dos impac-tos imediatos e fortíssimos da crise financeira, a maior par-te das economias ocidentais entrou em processos de defla-ção, que corresponde à bai-xa generalizada dos preços. Este processo é menos frequen-te, pois como se sabe os pre-ços tendem a subir ao longo do tempo, ou seja, inflação. A pro-va dos efeitos imediatos é que as variações mensais dos pre-ços foram negativas em todos os meses do último trimestre de 2008. E foi neste ambien-te de deflação, que se previa algo duradouro, que o governo anunciou um aumento especta-cular de 2,9% nos salários da função pública para o ano se-guinte. Claro que foi cuidada-mente justificado, pois o minis-tério das finanças previu para

Desastre ou

2009 a baixa da inflação mé-dia para 2,5%, pelo que se justificaria aumentos salariais na função pública de 2,9%, co-brindo a inflação esperada e resultando num aumento real de salários de apenas 0,4% (isto é, descontado o aumento dos preços ao valor do aumen-to nominal dos salários). E qual é que haveria de ser o valor fi-nal da inflação em 2009? Foi negativa em 0,8%, i.é., defla-ção, pois claro! Ou seja, o ga-nho real dos salários dos fun-cionários publicos em 2009 afinal não foi nem 0,4%, nem tão pouco 2,9%, mas sim 3,7%! Nada mal para quem está na “maior crise de sempre”. Mas o pior é que se tratou de uma in-dicação perversa que foi pas-sada à população em geral: a de que tudo estava bem, “busi-ness as usual”. Mas não estava, até porque esse “falso” aumen-to já levantou voo, com o cor-te médio de 5% nos vencimen-tos para 2011. Aliás, aproveito para acrescentar que a inflação média se situa actualmente em 2% e com tendência para subir. Isto quer dizer que os cortes re-ais de salários efectivos na fun-

çao pública em 2011 não vão ser de 5%, mas provavelmente superiores a 7%! E isto sem con-tar com eventuais medidas adi-cionais de austeridade.Em 2009, o governo português justificou aquele que haveria de ser um défice recorde de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) com a necessidade de su-avizar os efeitos da crise eco-nómico-financeira global, mas rapidamente se comprometeu a baixar o défice para 2010, i.é., após as eleições. Essa re-dução seria para pouco mais de 8% e teria de ser obriga-toriamente alcançada, pois tra-ta-se de um nível elevadíssimo de défice, insustentável a prazo (recordo que o Euro obriga os países a não exceder os 3%). Tolerância zero para mais er-ros de previsão. Contudo, neste momento, o défice para 2010 já vai em 8,6%, a agora que todo o mundo quer, e vai, con-tinuar a escrutinar as contas públicas portuguesas ao por-menor, a tendência será pro-vavelmente de subida. E quan-to piores forem os números da execução orçamental, mais es-forços ainda terão de vir a ser

exigidos aos portugueses.O que significa então o re-gresso da ajuda externa? Um acto de rendição. O reconhe-cimento que falhámos, que as previsões e as políticas adop-tadas não eram as mais apro-priadas e que agora precisa-mos de ajuda para não cair no abismo, que seria deixarmos de ter os fundos necessários para a economia e a socien-dade continuarem a funcionar. O preço: provavelmente mais medidas adicionais de auste-ridade, e uma certa travessia no deserto, necessária para di-gerir anos de despesismo e en-dividamento excessivo. Quem paga? Já sabemos, os o costu-me. E a quem assacar respon-sabilidades? Cada um dirá de sua justiça. Os factos são que actualmente temos os mais al-tos níveis de sempre em regime democrático quanto a défice, endividamento e desempre-go. E claro, estamos em reces-são económica, após uma dé-cada perdida de crescimento económico. Não tenho dúvidas que Portugal se voltará a er-guer. Só não sei quando e em que moldes.

Esperança?

OPINIÃO

O FEEF e o FMI aterram em PortugalE finalmente Portugal vê-se obrigado a recorrer à ajuda externa do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF) e do Fundo Monetário Internacional (FMI). As dúvidas quanto à incapacidade de Portugal manter o equilíbrio orçamental acabaram por se confirmar. E agora? O que vai ser de Portugal e dos portugueses? Antes ainda de perspectivar o futuro próximo, importa analisar sucintamente como foi possível chegarmos a este ponto.

h u m b e r t o

r i b e i r o

docente do IPB

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Page 8: A Voz do Nordeste

A Feira do Folar de Valpaços é uma referência a nível nacional e é um forte impulso económico para o concelho. Com a XIII Feira do Folar, Produtos da Terra e seus Sabores à porta, a Voz do Nordeste entrevistou o presidente da Câmara Municipal de Valpaços, Francisco Tavares, que falou da evolução do certame, do seu peso na economia do concelho e do processo de certificação do folar, que deverá estar concluído já no próximo ano.

ENTREVISTA

1 – A Feira do Folar de Val-paços é um dos maiores cer-tames da região Norte. Qual o peso deste evento no de-senvolvimento económico do concelho? Começámos há 13 anos. Na al-tura, não tínhamos ideia que iria atingir esta dimensão. Hoje, a Feira do Folar é uma mais-valia económica para o conce-lho. O produto de excelência é o folar, mas há outros produtos associados à sua produção que também são importantes para a economia local.Na feira também temos o vi-nho, o azeite, o fumeiro e ou-tros produtos da região. Este certame representa um volume de negócios significativo e os

expositores ficam contentes ao longo das feiras. É uma aposta para continuar, porque fortalece a economia do concelho.2 - Qual o volume de negó-cios que este certame repre-senta para o concelho?Em termos de venda directa de produtos representa 1,25 milhões de euros, mas durante toda a semana que antecede a feira há dinâmica económica. Temos animação e actividades culturais, as pessoas visitam-nos e os comerciantes têm mais mo-vimento nas suas casas.Apesar da crise, esperamos que este ano o número de visi-tantes ultrapasse os 50 mil. Para além da feira temos a

gastronomia, o património cul-tural e paisagístico.3 – Este certame ajuda os agri-cultores, pequenos produtores e empresários do concelho a vender os seus produtos e a produzir em maiores quanti-dades?O folar afirmou-se a nível re-gional e nacional. Para além da Feira, já há uma série de produtores que têm os seus pro-dutos à venda em lojas no Porto e em Lisboa e produzem folar durante todo o ano. A Câmara Municipal também tem feito todos os esforços para que este produto se afir-me pela qualidade e temos reu-nido esforços para conseguir a certificação do folar de Valpa-

ços. Neste momento, o processo está a decorrer com mais cele-ridade e esperemos que daqui a um ano o processo de certifi-cação do folar esteja firmado. Associamo-nos à QUALIFICA, uma empresa que certifica pro-dutos regionais, e esperemos no próximo ano já ter o nosso produto com o selo da certifi-cação no mercado.Os produtores também têm fei-to um esforço muito significati-vo ao longo dos anos, para me-lhorarem e adaptarem os seus espaços de produção do folar. Também tem havido mais con-trolo da qualidade deste pro-duto, porque o nosso folar afir-ma-se pela qualidade e não tanto pela quantidade.

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ECONOMIA

Valpaços quer vender folar certificado já no próximo ano• edição n.º 644 • ano XXV • abril|2011 •

Page 9: A Voz do Nordeste

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Este produto é uma mais-valia local e os produtores têm cons-ciência disso. É um filão econó-mico que não podemos des-prezar.4- A certificação é um proces-so complicado, porque o folar é feito com muitos produtos. Os produtores têm que cum-prir regras exigentes para se poder avançar com o proces-so de certificação?O folar é o produto final. Há uma fileira de produtos que in-corporam o folar, como a fa-rinha, os ovos, as carnes, que têm que ser certificados pre-viamente. Alguns já estão certi-ficados, como é o caso do azei-te, fumeiro e farinhas, o que torna mais fácil a certificação do folar.Com a QUALIFICA a tratar deste processo temos a certe-za que no próximo ano temos o folar certificado, reconhecendo todo o esforço que a autarquia fez para que a certificação do folar fosse uma realidade.Quando um produto é certifi-cado há regras de fabrico e os produtores sabem que não podem desviar-se desses pa-râmetros para conseguirem o selo de certificação e garanti-rem a qualidade a quem com-pra o produto. 5 – A certificação é uma for-

ma de valorizar ainda mais este produto?Naturalmente que sim. Qual-quer produto que seja certifica-do tem garantia de qualidade e as pesso-as que o ad-quirem pro-curam essa mesma quali-dade, porque querem um produto com determinadas carac ter í s t i -cas e a certifi-cação é uma garantia de que não é adulterado.6 – Na Feira do Folar encon-tramos o folar artesanal, mas também aquele que é fabrica-do pelas padarias e pastela-rias. A certificação vai abran-ger todo o folar?Sim. O modo de fabrico do fo-lar tradicional e do folar mais

comercial é precisamente o mesmo. O local da confecção é que é diferente. Os fornos a le-nha ainda são preservados nas aldeias e é onde é feito o folar

artesanal. O folar comercial é feito em fornos modernos. No entanto, a qualidade é preci-samente a mesma.Temos empresas que vendem

folar no concelho de Valpaços já com o nome fir-mado no merca-do, o que é uma mais-valia para o concelho, por-que é mais um fluxo económico.Por isso, temos aqui uma rique-

za muito grande que temos que aproveitar e as institui-ções, a autarquia e a própria sociedade civil tem consciência disso, pelo que, no futuro, va-mos continuar a apostar neste produto.7 – O folar tem promovido o concelho de Valpaços a nível nacional e além fronteiras…

Começou-se de forma tímida, mas hoje este certame está fir-mado a nível regional, nacio-nal e, até, além fronteiras. O município tem algumas gemina-

Valpaços quer vender folar certificado já no próximo anoções na Europa e o folar está sempre presente nas nossas refeições. Além disso, o folar também já faz parte da gas-tronomia local.8- A par do folar, esta Feira também tem contribuído para a afirmação de outros produ-tos da terra?Para além do folar, temos o azeite, o vinho, a amêndoa que também são produtos com muito peso na economia local.Ao nível da agricultura, o vi-nho, o azeite, a amêndoa e a castanha representam cerca de 50 milhões de euros na eco-nomia do concelho. Portanto é um concelho rico. Temos que valorizar a agricultura e os governos têm que estar aten-tos à riqueza produzida neste concelho. O governo devia ter uma aten-ção especial para com os mu-nicípios que produzem riqueza e não estão à espera do Esta-do para trabalhar. As pessoas investem e deviam ser concedi-dos mais apoios para o sector primário, mais incentivos para os agricultores afirmarem os seus produtos no mercado.No concelho, temos mais de 20 produtores e engarrafadores de vinho, com prémios, que são empreendedores.

• edição n.º 644 • ano XXV • abril|2011 • ECONOMIA

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especial AMÊNDOA

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• edição n.º 644 • ano XXV • abril|2011 •

Folar dinamiza economia local

Feira do Folaré o maior evento do Norte do PaísCertame alia a componente económica aos eventos culturais e recreativos, que cativam os visitantes

Valpaços transforma-se num verdadeiro cen-tro turístico durante

os próximos dias 15,16 e 17 de Abril. A XIII Feira do Folar, Produtos da Terra e seus Sabo-res assume-se como uma mon-tra do folar de qualidade, mas também dos produtos genuínos que se produzem no concelho,

como o azeite, o vinho, o fumei-ro, a doçaria ou o mel.Segundo o vice-presidente da Câmara Municipal de Valpa-ços, Amílcar Castro, este certa-me é o maior de todo o Norte do País, quer em termos de vi-sitantes, quer ao nível do volu-me de negócios.“Conseguimos fazer mais de

1 milhão de euros sem contar com o movimento nos restau-rantes e hotéis. Aqui o aloja-mento enche e as pessoas até procuram dormidas em Miran-dela e Chaves”, garante o au-tarca.Neste evento vão participar cerca de 70 expositores do concelho de Valpaços, visto

ECONOMIA

Entre os stands presen-tes na Feira do Folar en-contram-se seis stands de

folar artesanal, 13 de folar e fumeiro artesanal, seis de fu-meiro tradicional, 11 de folar de padaria, dois de bolo po-dre, 14 instituições, que mos-tram à comunidade aquilo que fazem ao longo do ano, cinco espaços de artes decorativas,

e duas cooperativas, que re-presentam o vinho e o azeite. No certame também se pode encontrar o vinho, o azeite, o mel, as compotas, os frutos se-cos, entre outros produtos da terra.Em tempo de crise, Amílcar Castro realça que este evento é uma “golfada de ar fresco” para a economia local. “Os vi-

que o moderno pavilhão mul-tiusos já se revela pequeno para acolher todas as solici-tações. “Só aceitamos os pro-dutores e produtos da nossa terra, porque não temos um es-paço que possa albergar toda a gente que mostra interesse em participar”, justifica Amíl-car Castro.

sitantes deixam aqui dinheiro, levam a imagem do nosso con-celho e divulgam os nossos pro-dutos”, salienta o autarca.A par da vertente económica, esta Feira também conta com actividades culturais, como a apresentação de um livro so-bre arte rupestre no concelho de Valpaços, desportivas, no-meadamente um Raid TT e um

espectáculo de Taekwondo. Já a animação está garantida pelas bandas musicais e gru-pos etnográficos do concelho.A divulgação a nível nacio-nal é outra aposta do municí-pio, que, este ano, vai ter uma emissão em directo através do Programa das Festas, da RTP, e mantém a transmissão no pro-grama Terra a Terra, da TSF.

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• edição n.º 643 • ano XXV • fevereiro-março|2011 •

Feira do Folaré o maior evento do Norte do País

ENTRADA LIVRE

VIII RAID TT “ROTA DO FOLAR”

ORGANIZAÇÃO:MUNICÍPIO DE VALPAÇOS

15 | 16 | 17 DE ABRIL 2011

CONTACTO: SECRETARIADO DA FEIRA DO FOLAREmail: secretariado.feiradofolar@valpaços.ptTelf.: 278 710 130 - Fax: 278 711 135

GASTRONOMIA REGIONAL - TABERNAS TÍPICASGRUPOS MUSICAIS - BANDAS FILARMÓNICASRANCHOS FOLCLÓRICOS - CONCERTINAS

Page 12: A Voz do Nordeste

Bolo Podre promoveSanta Maria de ÉmeresReceita tradicional é mantida no âmbito de um projecto que garante a confecção deste produto e a divulgação da freguesia

Fabrico de folar artesanal para a Feira de Valpaços ganha peso na economia local

O Bolo Podre é um doce tradicional da freguesia de San-

ta Maria de Émeres, no conce-lho de Valpaços, que tem sido promovido pela Feira do Folar. A receita tradicional é assegu-rada por Irene Teixeira e Dul-

ce Cardoso Alcoforado, que são os rostos de um projecto que aposta no fabrico de Bolo Podre, aliado à promoção da freguesia.Há quatro anos, Dulce Alcofo-rado avançou com a constru-ção de instalações novas, que estão certificadas para a con-fecção de Bolo Podre, um in-vestimento de cerca de 60 mil euros, financiado em 50 por cento pela Associação de De-senvolvimento do Alto Tâmega (ADRAT).O novo espaço permitiu con-feccionar bolos em maior quantidade, mantendo sem-pre a receita tradicional, que tem passado de geração em geração. Farinha, ovos, azeite, chá de laranja e canela são os principais ingredientes deste doce típico da Páscoa.“ É uma tradição muito anti-

ga. Já tem mais de 200 anos. Antigamente, chamavam-lhe o bolo dormido, porque não ha-via fermento e a massa ficava toda a noite a levedar”, conta Irene Teixeira, de 64 anos.O afamado Bolo Podre de Santa Maria de Émeres tem vindo a ganhar projecção e na Feira do Folar de Valpaços é um produto que esgota, por-que há muita gente a procurar este doce. “Este bolo pode estar um mês em casa que não se estraga. Os ingredientes são todos ca-seiros. É um doce que acompa-

nha bem com queijo, compota e também pode ser torrado”, enaltece Dulce Acoforado, de 68 anos.A aposta na certificação é o passo a dar no futuro, para que este produto possa ser ainda mais valorizado no mer-cado. Iva Alcoforado, mento-ra deste projecto, afirma que esta aposta tem sido um suces-so, o que faz com que o Bolo Podre de Santa Maria de Éme-res já esteja à venda em lojas de produtos regionais do Por-to, Lisboa, Braga ou Guima-rães.

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• edição n.º 644 • ano XXV • abril|2011 • especial AMÊNDOAECONOMIA

Josefa Soares começou a produzir folares em gran-de quantidade para ven-

der na Feira do Folar de Val-paços. Esta produtora de folar de Vilarandelo vê este certa-me como uma oportunidade de negócio, que ajuda a equi-librar as contas nesta época do ano.A receita tradicional e os in-gredientes caseiros são a es-sência do folar, que ganha um sabor especial quando é con-

feccionado nos tradicionais fornos a lenha. A isto junta-se o fumeiro caseiro, que é pro-duzido em maior quantidade a contar com a confecção do folar.Josefa Soares afirma que faz mais de 200 folares para ven-der na feira. Para que o pro-duto não falte durante os três dias do certame, Josefa conta com a ajuda de duas colabo-radoras. “Tenho sempre folar fresquinho”, assegura.

A qualidade do produto con-tribui para que esta produtora tenha clientes certos, que foi fi-delizando durante os 12 anos em que participa no certame.Este ano, Josefa teme que a Feira do Folar tenha menos vi-sitantes, devido à crise, mas garante que vai fazer a mes-ma quantidade de folar dos anos anteriores, na expectati-va que conseguir escoar toda a produção.

Folar à moda antiga

ECONOMIA

Page 13: A Voz do Nordeste

Carnes de qualidade marcam a diferença

A padaria Moutinho alia a produção em grandes quantida-

des ao fabrico tradicional, o que faz com que o folar tenha bom aspecto e um sa-bor irresistível. “A única coi-sa que é feita numa máquina é a massa, porque fazemos grandes quantidades. O res-to do processo é todo arte-sanal, desde pôr as carnes a

enfornar. Tam-

bém são feitos em formas de barro e em fornos a lenha. É isto que faz com que o nosso folar fique tão bom”, enaltece Maria da Conceição Moutinho.As carnes utilizadas por esta panificadora também marcam a diferença. Salpicão, lingui-ça e carne da pá dão um aca-bamento “perfeito” ao folar. “Não conseguimos comprar a pequenos produtores, porque gastamos grandes quantida-

des, mas trabalhamos com

fornecedores que nos garan-tem a qualidade”, enaltece a empresária.A panificadora Moutinho em-prega 12 colaboradores, mas na época da Páscoa cria mais seis postos de trabalho para a confecção do folar.No futuro, Maria da Conceição afirma que gostava de alar-gar a venda de folar a outras cidades e a mais hipermerca-dos.

Bolo Podre promoveSanta Maria de Émeres

Folar vendido a nível nacionalPanificadora Moutinho alia a produção em grandes quantidades ao fabrico tradicional

O folar produzido na Panificadora Mou-tinho, em Argeriz

(Valpaços), é vendido a ní-vel nacional e internacional. A qualidade deste produto re-gional é reconhecida de Norte a Sul do País e, até, além fron-teiras. Na época da Páscoa, o folar desta padaria é enviado para a comunidade emigrante nos quatro cantos do mundo.O folar com rótulo Panificado-

ra Moutinho pode, ainda, ser adquirido em lojas de produ-tos regionais, no Porto, em al-guns hipermercados e nos pon-tos de venda no concelho de Valpaços. A empresa tem, ain-da, um serviço de distribuição regional, que leva o folar às aldeias, onde este produto é muito procurado, principalmen-te na época da Páscoa.Maria da Conceição Moutinho, proprietária da Panificadora Moutinho, afirma que esta casa já produz folar há 30 anos. No início, este produto só era fa-bricado nesta época festiva, mas garante a empresária que desde que se realizam as fei-ras a procura de folar tem au-mentado significativamente e o

negócio tem crescido.“Produzimos folar todos os dias e durante todo o ano, mas é na época da Páscoa que produ-zimos em maior quantidade”, salienta Maria da Conceição Moutinho.Na altura da Feira do Folar de Valpaços, que coincide com a Feira organizada pela Casa de Trás-os-Montes e Alto Dou-ro, em Lisboa, a Panificadora

Moutinho faz mais de 5 mil fo-lares.A par dos certames, Maria da Conceição afirma que recebe encomendas que surgem no âmbito da promoção feita nas feiras onde está presente. “Há pessoas do Porto, Braga, Gui-marães, que se deslocam aqui à padaria para comprar folar nesta época da Páscoa”, real-ça a empresária.

• edição n.º 644 • ano XXV • abril|2011 • ECONOMIA

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• edição n.º 642 • ano XXV • janeiro|2011 •

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ECONOMIA

Produzido na Quinta do Carrasco, na aldeia de Abreiro (Mirandela),

o azeite “Poço da Vila” pri-ma pela qualidade, garantida através do controle de todo o processo de produção, trans-formação e engarrafamento.O azeite virgem extra produ-zido nos cerca de 50 hecta-res de olival que são proprie-dade de Henrique Cardoso é vendido a nível nacional, mas também já entrou no merca-do internacional, nomeada-mente em França. Na região é possível adquirir este “ouro” transmontano directamente na

Quinta do Carrasco, mas tam-bém pode ser degustado nal-guns restaurantes típicos, como é o caso do restaurante “Ade-ga” e do restaurante “O Grês”, em Mirandela.Henrique Cardoso afirma que o objectivo é aproximar o azeite “Poço da Vila” do con-sumidor. “Ainda durante este ano vamos abrir lojas nossas em pontos estratégicos do País. Estamos já à procura de um es-paço no Porto, em Mirandela também iremos abrir uma loja e iremos estudar outros locais”, enaltece o empresário.A produção de azeite é uma

tradição familiar que já tem meio século, mas a marca “Poço da Vila” só surgiu há 10 anos, dois anos depois da Quinta do Carrasco ter apos-tado na construção de um la-gar moderno e adaptado às exigências do mercado.Henrique Cardoso realça que o lagar tem duas linhas de pro-dução independentes, o que permite fazer a separação da azeitona consoante a sua qua-lidade. “Através deste sistema conseguimos seleccionar lotes de maior qualidade”, enaltece Henrique Cardoso.

• edição n.º 644 • ano XXV • abril|2011 •

“Poço da Vila” Virgem Extra e com selo DOPO lagar da Quinta do Car-rasco transforma, anualmen-te, cerca de 2 mil toneladas de azeitona, mas só cerca de 150 mil quilos são utilizados para produzir o azeite “Poço da Vila”. “Também fazemos a transformação de azeito-na de outros agricultores. Por isso, é que nem toda a azei-tona que transformamos é uti-lizada para o azeite que ven-demos engarrafado”, explica Henrique Cardoso.O empresário enaltece, ainda,

que se trata de um lagar eco-lógico, que tem vindo a sofrer algumas alterações ao nível da modernização dos equipa-mentos ao longo dos tempos.O resultado é o azeite de qualidade, que já foi distingui-do com um prémio internacio-nal na Feira Semana Verde da Galiza (Espanha), em 2008.Henrique Cardoso afirma que este prémio foi um incentivo para continuar a apostar na produção de azeite de quali-dade.

O azeite “Poço da Vila” re-sulta da transformação das variedades verdeal trans-montana, cordovil, madural e cobrançosa.A par do Azeite Virgem Extra, o “Poço da Vila” também é co-mercializado com o selo DOP, que garante o cumprimento de vários parâmetros de qualida-de.Ao nível das vendas, Henrique Cardoso afirma que o ponto alto é nos meses de labora-ção do lagar, em que as pes-

soas procuram o azeite novo, e na época das amendoeiras em flor. “Vem muita gente que aproveita para comprar os produtos da região e o azei-te é um deles”, realça o em-presário.Com a qualidade reconheci-da, o azeite “Poço da Vila” vai ganhar uma nova posição no mercado nacional, com a abertura de lojas próprias em diferentes zonas do País.

Henrique Cardoso quer abrir postos de venda próprios em diferentes zonas do País para vender o “ouro” com a marca “Poço da Vila”

Poço da Vila: azeite com selo de qualidade

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• edição n.º 642 • ano XXV • janeiro|2011 •

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ECONOMIA

Poço da Vila: azeite com selo de qualidade

• edição n.º 644 • ano XXV • abril|2011 •

Rua Casimiro Morais – Abreiro – MIRANDELATelm.: (+351) 966 047 633

E-Mail: [email protected]

AZEITE VIRGEM EXTRA

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• edição n.º 644 • ano XXV • abril-maio|2011 • EMPRESAS PME EXCELÊNCIA 2010

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EMPRESAS

Santos Jóias:uma empresa sólida em crescimento

A Santos Jóias nasceu há mais de 50 anos, pelas mãos de Manuel Fran-

cisco dos Santos, um homem apaixonado pela ourivesaria que iniciou a sua carreira na venda ambulante, tendo aber-to a primeira loja em Mace-do de Cavaleiros, em 1953. A partir daí, a empresa do ramo da Ourivesaria e Óptica tem passado de geração em gera-ção e tem conquistado o mer-cado. Esta empresa tem vindo a cres-cer ano após ano, o que lhe permite criar emprego na re-gião e alcançar excelentes re-sultados financeiros, contra-riando a conjuntura económica desfavorável que se afigura como um obstáculo para o sec-tor empresarial. Prova disso é a recente distinção com o ga-lardão PME Excelência 2010, um prémio atribuído pelo IAP-

MEI - Instituto de Apoio às Pe-quenas e Médias Empresas e à Inovação, que pretende re-compensar as empresas que se evidenciaram pela qualidade dos seus resultados e elevados padrões competitivos, com rá-cios de solidez financeira e de rentabilidade acima da média nacional.António José Vaz, sócio-geren-te da Santos Jóias Ourivesa-ria e Óptica, Lda, afirma que este prémio foi uma surpresa, mas garante que vem de en-contro ao trabalho que tem vindo a ser desenvolvido pela empresa. “ Temos como objec-tivo a qualidade, inovação e a superação das expectativas dos nossos clientes.”, enaltece o empresário.Para António José Vaz este pré-mio é uma homenagem ao fun-dador da empresa e aos co-laboradores da Santos Jóias.

“Dá-nos alento para continuar a empreender, tendo em conta que os tempos não são fáceis na área empresarial”, realça o sócio-gerente.No entanto, o empresário lan-ça um desafio às entidades en-volvidas na atribuição deste prémio, para porem à dispo-sição das empresas programas

que lhes permitam desenvolver projectos mais ambiciosos, bem como uma diferenciação posi-tiva ao nível das condições de acesso à banca. “O estatuto PME facilita o acesso à banca, porque nos dá um raiting me-lhor, mas não é suficiente”, ga-rante o sócio-gerente da San-tos Jóias.

• edição n.º 644 • ano XXV • abril|2011 •

Galardão PME Excelência 2010 distingue o desempenho da Santos Jóias Ourivesaria Óptica, Lda, um negócio empreendedor que não pára de crescer

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• edição n.º 644 • ano XXV • abril|2011 • EMPRESAS PME EXCELÊNCIA 2010

A Santos Óptica Médica, membro fundador do Ins-tituto Óptico, oferece ser-

viços de Contactologia, Topografia Corneal, Te-

rapia Visual, Tonometria, Ortoqueratologia, bem como consultas visuais

grátis. Conta, ainda, com a colaboração do Dr. Ho-rário Correia na área da

Oftalmologia.

Na Ourivesaria, a Santos Jóias oferece produtos

com design agradável e inovador e tem a repre-

sentação de várias mar-cas de prestígio nacional,

como a Omega, a Mont Blanc ou a Topázio. Dis-põe, ainda, de uma ofi-cina para reparação de relojoaria e artigos em

ouro.

Santos Jóias aposta na formaçãode todos os colaboradores Esta foi a primeira vez que a Santos Jóias recebeu o galar-dão PME Excelência, mas os excelentes resultados desta empresa do ramo da Ourive-saria e Óptica já tinham sido reconhecidos com a atribuição de dois prémios PME Líder.António José Vaz é o rosto da Santos Jóias desde 1983, ten-do deixado uma carreira na banca para dar continuida-de a um negócio de família e faz questão que os seus filhos abracem este projecto de su-cesso.“Estamos já numa fase em que a minha preocupação é pre-parar o caminho para a ter-ceira geração. Dois dos filhos são Optometristas, licenciados pela Universidade do Minho, e estão a tirar o mestrado na mesma área, um deles termi-na este ano e o outro no próxi-mo ano. Vamos ter os primeiros mestres na área da Optome-tria formados em Portugal, o que é um orgulho por saber que todo o trabalho que de-senvolvi ao longo dos anos foi bem aceite pelos meus segui-dores”, confessa António José Vaz.

A importância de apostar na formação é enaltecida por Luís Santos, Optometrista da San-tos Jóias Ourivesaria e Ópti-ca, Lda. “com o nível de inves-timentos que um consultório de Optometria nos obriga a fazer, sentimos necessidade de saber mais, para que possamos ti-rar todo o partido de apare-lhos como o Retinógrafo ou o Topógrafo , o mestrado surge nesse sentido, pois habilita-nos não só a lidar com este tipo de aparelhos, mas também pre-tende aumentar os nossos co-nhecimentos em diversos cam-pos como a contactologia ou a patologia ocular. Apesar de não ser nossa função tratar doenças oculares, é absoluta-mente fundamental reconhe-cer sinais e sintomas para que exista um correcto acompa-nhamento/encaminhamento.”, enaltece o técnico da visão.Aliás, a formação estende-se aos 15 colaboradores que fazem parte dos quadros da Santos Jóias. A empresa cria as condições para que todos adquiram as competências ne-cessárias para prestarem um serviço de qualidade a todos

os clientes.“Tive sempre como grande ob-jectivo que as nossas casas fos-sem uma referência ao nível

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EMPRESAS

dos produtos na área da Ouri-vesaria e da Óptica”, enaltece o empresário. A abertura de lojas em pon-tos considerados estratégicos levaram a Santos Jóias a insta-lar-se em Bragança, onde está há mais de 14 anos, Mogadou-ro, Alfândega da Fé e prepa-ra-se agora para abrir uma nova loja em Chaves.

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• edição n.º 644 • ano XXV • abril|2011 •

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ROTAS & DESTINOS

Sucesso do I Show Taste leva

organização a garantir continuidade do certame

no próximo ano

O I Show Taste de Vi-nhos Velhos e Azei-tes Novos despediu-

se de Tabuaço com vontade de regressar. O sucesso alcançado, tanto ao nível do número de visitantes, como no volume de contactos e negócios, levam o presidente

da Câmara Municipal de Ta-buaço, João Ribeiro, a garan-tir a continuidade do evento. “É para manter nos próximos anos, com algumas mudanças para melhor”, garante o edil.Na óptica do autarca, o mu-nicípio já merecia um certame assim, tanto pela excelência

dos vinhos e azeites que bro-tam destas terras, como pelas paisagens contornadas pelo Douro e Távora.Aliás, não foi à toa que a Rota do Azeite de Trás-os-Montes, em parceria com a Rota das Vinhas de Cister e a Rota do Vinho do Porto, escolheram Ta-buaço para servir de palco a um evento inédito a todos os níveis.Tanto assim é, que o secretário de Estado da Administração Local, José Junqueiro, no en-cerramento deste I Show Tas-te, realçou a cooperação en-tre diferentes entidades para o desenvolvimento regional. “Estamos perante um novo pa-radigma de emprego criado pelo Turismo”, salientou o go-vernante.E é neste sector que Tabuaço tem conhecido um franco de-senvolvimento, seja ao nível das magníficas quintas, que enaltecem a hospitalidade e

a gastronomia duriense, seja ao nível da confecção de pro-dutos locais, como o afamado bolo-rei, muito procurado por quem visita o concelho.No último dia do certame, as atenções viraram-se para as demonstrações de cozinha tra-dicional e moderna. De um lado, Adalberto Pinto, proprie-tário de um restaurante na al-deia de Sendim (Tabuaço), preparou os tradicionais rojões e o fumeiro na brasa. Do ou-tro, alunos e formadores da Es-cola de Hotelaria e Turismo de Lamego apresentaram pratos mais requintados. O resulta-do foi um duplo show-cooking e uma saúdável disputa entre dois tipos de cozinha, onde a qualidade é o denominador comum.A estas iguarias juntaram-se os carros clássicos, com mais de 50 anos, que fizeram um per-curso turístico entre Sabrosa e Tabuaço.

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Vinhos Velhos e Azeites Novos deixam saudades em Tabuaço

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No dia dedicado ao espuman-te, as honras da casa estiveram a cargo de Txema Garcia Diaz, um verdadeiro embaixador do Champanhe em Espanha.Já o italiano Marco Oreggia di-rigiu o workshop dedicado aos azeites, onde cerca de 60 pes-soas degustaram algumas das melhores marcas produzidas em Portugal.

Durante o certame realizaram-se provas de azeite e vinhos, bem como workshops dedica-dos a estes produtos de excelên-cia, onde estão incluídos os es-pumantes. Todos else contaram com profissionais de topo a nível europeu.O parisiense Emmanuel Delmas participou numa Prova de De-gustação de Vinhos Velhos e Azeites Novos, no Museu do Ima-ginário Duriense (MIDU), patro-cinada pela Rota do Vinho do Porto.

Profissionais de topo protagonizam workshops

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ROTAS & DESTINOS

Vinhos Velhos e Azeites Novos deixam saudades em Tabuaço

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• edição n.º 642 • ano XXV • janeiro|2011 •

Investigação ajuda agricultores

A Escola Superior Agrá-ria do Instituto Poli-técnico de Bragança

(IPB) tem vindo a desenvolver um vasto trabalho de inves-

tigação ao nível da filei-ra da oliveira. Nesta

área, já foram con-cluídas cinco te-ses de Doutora-mento e estão mais cinco em curso. Foram, igualmente, terminadas 10 teses de Mestrado de-

dicadas a esta

temática com um forte impacto na região de Trás-os-Montes e Alto Douro. Nos últimos 20 anos, a Esco-la Agrária tem dedicado es-pecial atenção a esta cultura, de forma a aumentar a susten-tabilidade das explorações e o rendimento dos agricultores. Têm sido vários os temas tra-balhados no âmbito de projec-tos com financiamento externo, quer nacional quer internacio-nal, como sejam a mecanização da cultura e a colheita mecâni-ca da azeitona, a fertilização do olival e a manutenção do solo, a rega do olival e neces-

sidades de água da planta, a protecção contra pragas e do-enças que afectam a azeitona e a oliveira, bem como a de-terminação do momento de co-lheita da azeitona. A caracte-rização de azeites varietais e azeite de Trás-os-Montes DOP e a caracterização dos dife-rentes tipos de azeitona de mesa produzidas a nível regio-nal também têm sido temáticas abordadas pelos investigado-res do IPB.Actualmente, estão a ser de-senvolvidos nove projectos com financiamento externo no âm-bito desta importante fileira

para a economia transmonta-na.Estão em curso duas acções em rede financiadas pelo PRODER, que incluem outras instituições regionais ou nacionais, com vis-ta à transferência do conheci-mento para o sector, ao nível da fertilidade do solo e pro-tecção da cultura contra pra-gas e doenças, quer em termos de determinação do melhor momento para a colheita das diferentes cultivares que com-põem o azeite de Trás-os-Mon-tes, a quantidade de azeite e a sua qualidade.

Doutoramentos exploram a f ileira da oliveira

A manutenção da super-fície do solo com méto-dos alternativos à mo-

bilização tradicional é também alvo de trabalho num projec-to financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, onde se procuram estabelecer os métodos mais adequados de manutenção do solo da cul-tura, protegendo-o da erosão, aumentando a sua fertilidade e o rendimento da cultura.O ataque de pragas e doen-ças provoca prejuízos conside-

ráveis aos agricultores. Se, por um lado, o ataque dos inimigos da oliveira reduzem a quanti-dade de azeitona produzida, por outro, podem também di-minuir a qualidade do azeite daí resultante. O uso de pes-ticidas para o combate a es-tes inimigos da cultura não é uma prática viável em olivicul-tura sustentável, uma vez que pode ter impactos ambientais negativos e deixar resíduos no azeite. Neste sentido, é neces-sário encontrar formas alter-

nativas e sustentáveis de com-bater os inimigos da oliveira, um trabalho desenvolvido em quatro projectos financiados, como sejam o desenvolvimento de micoinsecticidas, com bai-xos riscos ambientais, e a valo-rização e incremento da acção dos inimigos naturais. Por último, é dada especial atenção aos produtos do oli-val, quer seja através do apro-veitamento e extracção de di-ferentes compostos com alto valor biológico existentes nas

águas russas, quer pela carac-terização dos azeites varietais das diferentes cultivares de azeitona e diversos tipos de azeitona de mesa, quer ainda através do desenvolvimento de produtos alternativos, como as pastas e snacks à base de azeitona e azeite, actividades financiadas por um projecto nacional e outro internacional.Mais informação pode ser en-contrada em http://esa.ipb.pt/investigacao/projectos-em-execucao/.

Em Portugal, e sobretudo nas regiões do interior, a oliveira é uma cultura de grande im-portância económica, social, ambiental e paisagística. A azeitona produzida destina-se maioritariamente à extracção de azeite. No entanto, a pro-

dução destinada a azeitona de mesa tem aumentado nos últi-mos anos. É de destacar tam-bém que a produção nacional não é suficiente para as neces-sidades do País, que, de acor-do com a previsão do Conse-lho Oleícola Internacional para

30% da produção de azeite sai de Trás-os-Montes

o ano de 2010, foi de 74 000 toneladas e um consumo anual de 7,5 kg / habitante. Trás-os-Montes é uma impor-tante região produtora, res-ponsável por cerca de 30% da produção de azeite nacio-nal.

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ENSINO SUPERIOR

Linhas de inves t igação do IPB• edição n.º 644 • ano XXV • abril|2011 •

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Linhas de inves t igação do IPB• edição n.º 644 • ano XXV • abril|2011 •

ENSINO SUPERIOR

O Instituto Politécnico de Bragança (IPB) tem vindo a desen-

volver o projecto VERCam-pus, que visa a implantação no Campus Universitário de um “Parque Vivo” dedicado à di-vulgação das Energias Reno-váveis, nomeadamente solar fotovoltaica, solar térmica, eó-lica, hídrica, sistemas híbridos, smart grids, veículos eléctricos, biocombustiveis e medidas de eficiência energética.No contexto deste projecto, o IPB realizou obras de melhoria de eficiência energética dos edifícios e integrou sistemas de energias renováveis (solar tér-mica, solar fotovoltaica, eólica, hídrica e biocombustiveis) du-rante os últimos dois anos, um investimento de cerca 2,5 mi-lhões de euros, provenientes do projecto Interreg PROBIOENER e do protocolo assinado com o

Estado, através do Ministro de Estado e das Finanças, com co-financiamento de 75%.Nesta fase já foram instaladas uma central fotovoltaica de 45 kW (15 kW em cada uma das Escolas do Campus de Santa Apolónia); uma central eólica de 10 kWp, com duas turbi-nas instaladas nos antigos si-los da EPAC; uma micro-hídri-ca de 2 kW; uma vitrina com vidros fotovoltaicos, com po-tência total de 1.2 kW; um se-guidor solar de 3 kW e uma turbina eólica de 1.4 kWp, que vão funcionar como unida-des de micro geração integra-da numa “rede eléctrica inte-ligente” (smart grid), à escala piloto, para sistemas isolados. Estão, ainda, em funcionamen-to uma unidade de produção de biodiesel a partir de óle-os usados; sistemas solares ter-modinâmicos para aquecimen-

to de águas quentes sanitárias em todos os bares do Campus, na cantina e nas três residên-cias de estudantes.O Parque foi concebido para estar aberto à comunidade, através de um conjunto de acti-vidades que vão desde o ensino e formação ao longo da vida, até à realização de projectos de transferência de tecnologia e de I&D, passando pela disse-minação de fontes renováveis de energia e das tecnologias envolvidas, junto da comunida-de envolvente, designadamen-te, empresas, instituições pú-blicas e privadas e escolas de diferentes níveis de ensino. A designação de “Parque Vivo” pretende realçar que o Parque estará permanentemente acti-vo, com a realização de activi-dades regulares abertas à co-munidade em geral.

Parque de Energias Renováveis no Campus

A concretização do pro-jecto também vai per-mitir a realização de

actividades de ensino e de formação, que é a principal missão do IPB, com uma com-ponente de verificação e de-monstração experimental no âmbito da formação ao longo da vida e dos cursos ministra-dos no IPB, designadamente o Mestrado em Energias Renová-veis e Eficiência Energética e a licenciatura em Engenharia de Energias Renováveis, entre ou-

tros cursos de mestrado e de li-cenciatura.Por outro lado, o projecto visa assegurar também que as em-presas e a comunidade em ge-ral disponham de informação sobre os reais custos das suas soluções energéticas e sobre as melhores alternativas, de forma a estimular comporta-mentos mais eficientes que se traduzam numa utilização mais racional da energia. Para o efeito, o IPB está a desenvol-ver acções concretas com vista

a uma maior sustentabilidade energética, através da inte-gração de energias renováveis e implementação de medidas de eficiência energética para, desse modo, contribuir para o desígnio nacional de redu-ção de CO2 e obter uma pou-pança não inferior a 20% do consumo de energia até 2020, assumindo o compromisso de atingir este objectivo nos pró-ximos anos.

Soluções energéticas para reduzir custos

www.ipb.ptTelefone: 273 303 200 · Telefax: 273 325 405 · E-mail: [email protected] de Santa Apolónia · 5300-253 Bragança · Portugal

CETCursos de Especialização TecnológicaLicenciaturasMestrados

Ensino Superior Público de qualidade

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• edição n.º 644 • ano XXV • abril|2011 •

I n s t i t u t o G u l b e n k i a n n o To p 10Pelo segundo ano consecutivo, o Instituto de Ciência fica entre os 10 melhores lugares para doutorados

O Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC) ocupa a nona po-

sição entre as instituições in-ternacionais (fora dos Estado Unidos) para investigadores doutorados. Os dados foram avançados no âmbito de um in-quérito anual da revista de Ci-ências da Vida ‘The Scientist’. Em 2011, só três instituições do ano anterior conseguiram man-ter-se na lista, entre elas o IGC que fica, pelo segundo ano consecutivo, entre os melhores. São os próprios investigado-res, ligados a instituições de investigação em todo o mun-do, que elegem os melhores lu-

gares para trabalhar, através deste inquérito. O Instituto Gul-benkian, cuja vice-presidência é ocupada pelo transmontano José Mário Leite, é a única ins-tituição portuguesa com lugar neste Top 10. Numa carreira de investigação, o período de pós-doutoramen-to é crítico para solidificar a rota estabelecida durante o doutoramento, de modo a que o investigador se estabele-ça como um futuro líder de in-vestigação. Segundo António Coutinho, director do IGC, “os doutorados são extremamente importantes na produção cien-tífica dos grupos e na ‘saúde’

da instituição”.Marie Bonnet é francesa e está a realizar o seu pós-doutora-mento no IGC. “No IGC sinto que os coordenadores confiam nos pós-docs, o que nos incen-tiva a traçar o nosso caminho, e estão empenhados em trans-mitir-nos o seu conhecimento, o que nos garante orientação para levarmos o nosso pro-jecto de investigação a bom porto”, enaltece a investiga-dora. A multidisciplinariedade do IGC também é enaltecida por Marie Bonnet. “Permite-me contactar com outras áreas de investigação, colaborar com pessoas de especialidades di-

ferentes, tudo dentro da mes-ma instituição. O balanço entre a independência e orienta-ção tem sido muito importante para a minha carreira e des-de que cheguei ao IGC estou regularmente a adquirir novas competências”, conclui a inves-tigadora francesa. No IGC trabalham, actualmen-te, 83 doutorados, em 46 gru-pos de investigação, de 20 na-cionalidades, nomeadamente Alemanha, Angola, Argentina, Austrália, Brasil, Cuba, Dina-marca, Espanha, EUA, França, Grécia, Índia, Inglaterra, Isra-el, Itália, Japão, México, Portu-gal, Roménia e Suécia.

Jó Bezerra de Sales, eco-nomista brasileiro e aluno de Mestrado na Universi-

dade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), foi premiado pelo Tesouro Nacional de Fi-nanças Públicas do Brasil, pelo seu trabalho “Transferências Intergovernamentais: a desi-gualdade na repartição da cota-parte do ICMS no Pará - 1998 a 2008”.O jovem, especializado em

Gestão Pública e em Direito Tributário, foi orientado na sua investigação pela Professo-ra Teresa Sequeira, da UTAD, tendo como co-orientador no Brasil o Professor José Raimun-do Trindade, da Universidade Federal do Pará. Jó Bezerra de Sales frequentou o mestra-do na UTAD ao abrigo de um convénio entre as duas Univer-sidades.A sua dissertação foi submeti-

da ao XV Prémio Tesouro Na-cional de Finanças Públicas, or-ganizado pelo Ministério da Fazenda do Brasil, Secretaria do Tesouro Nacional e Funda-ção Getúlio Vargas, tendo sido escolhida entre os três melho-res trabalhos de finanças pú-blicas do Brasil em 2010.De acordo com o seu autor, o trabalho possui grande rele-vância para o Pará, pois reve-la graves distorções na repar-

tição das quotas do Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestação de Servi-ços de Transporte Interestadu-al e Intermunicipal e de Comu-nicação (ICMS) aos municípios, com recomendação de altera-ções na legislação, de modo a permitir uma distribuição mais equitativa e viabilizando um desenvolvimento mais equili-brado.

Tesouro Nacional do Brasil premeia aluno da UTADMestrando desenvolveu um trabalho de

grande relevância para o Pará (Brasil)

CIÊNCIA & ENSINO

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Dirigido por cinco pessoas em regime de voluntariado, o Centro Social e Paroquial dos Santos Mártires divide-se em três grandes departamentos: a Área Social, onde está integrado o Centro de Convívio e o Refeitório Social, o de-partamento de Projectos, do qual faz parte o CLDS, a for-mação, recursos humanos e marketing, e a Área Educativa, onde está integrado o Jardim-de-Infância e o ATL.

ECONOMIA SOCIAL

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Projectos sociais cr iam empregoCentro Social e Paroquial dos Santos Mártires dá trabalho a 16 pessoas e tem em curso um projecto que vai criar mais 32 empregos

O Centro Social e Pa-roquial dos Santos Mártires, em Bra-

gança, tem vindo a crescer ano após ano e emprega, actual-mente, 16 pessoas. Estão, ain-da, em curso outros projectos de âmbito social que vão per-mitir criar ainda mais postos de trabalho. A iniciativa “Academia Santos Mártires – Construir para In-cluir”, que contempla a cons-trução de um Lar Residencial, com 24 lugares, um Centro de Actividades Ocupacionais, com capacidade para 30 pessoas, e Residências Autónomas, com 13 lugares, vai permitir em-pregar mais 32 pessoas.A nova resposta social na área da deficiência foi aprovada

em 2009, o protocolo foi assi-nado no ano passado e a obra estará concretizada até 2013. Trata-se de um investimento de cerca de 1,5 milhões de euros, financiado em 75% pelo Pro-grama Operacional Potencial Humano (POPH).Em época de crise, as Institui-ções Particulares de Solidarie-dade Social (IPSS) assumem um papel crucial na sociedade, tanto ao nível do apoio social que prestam, como ao nível da criação de postos de trabalho. “O terceiro sector é o maior empregador, tanto a nível re-gional, como nacional”, realça a coordenadora do Contrato Local de Desenvolvimento So-cial (CLDS) dos Santos Márti-res, Carla Pires.

O CLDS, que está no terre-no há cerca de um ano, é um bom exemplo do apoio em vá-rias áreas prestado por esta instituição. Este programa já deu apoio a centenas de pes-soas em várias áreas, nomea-damente criação de emprego, educação parental, associati-vismo e informação e acessibi-lidades (ver caixa).“Trabalhamos directamente com as pessoas, abrangendo a freguesia urbana da Sé e as freguesias rurais de Carraze-do, Rebordãos, Gostei e No-gueira”, salienta Carla Pires.A 1ª Feira de Emprego e So-lidariedade, que vai decor-rer nos dias 6 e 7 de Maio, em Bragança, é outra iniciati-va desenvolvida no âmbito do CLDS. Esta iniciativa vai aliar o emprego, a educação e a soli-

dariedade, com o objectivo de dar respostas às pessoas que procuram trabalho numa altura em que a conjuntura económica é desfavorável.Nesta Feira vão marcar pre-sença 45 empresas, entre as quais instituições de solidarie-dade, empresas de formação, escolas secundárias e de ensino superior, bem como empresas de vários ramos de actividade, nomeadamente agrícolas, de energias renováveis, agrícolas, de turismo, entre outras. A qualidade dos serviços pres-tados também é uma preocu-pação do Centro Social e Pa-roquial dos Santos Mártires, que aderiu ao projecto Qual_is, uma parceria com a Rede Anti-Pobreza (EAPN), que visa a certificação da qualidade da instituição.

130 pessoas atendidas no gabinete de emprego25 conseguiram um contrato de trabalho11 foram encaminhadas para estágios profissionais389 pessoas abrangidas pelas acções de intervenção parental344 pessoas tiveram acesso às tecnologias da informação4 associações criadas e 1 revitalizada

Estr

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