a volta do planet hemp · ragga pela primeira vez em abril de 2007. na edi-ção 12, a entrevista...

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DEZ 2012 NÃO TEM PREÇO #68 leitura recomendada para maiores de 18 anos REVISTA EDIÇÃO TEMÁTICA FIM DO MUNDO A VOLTA DO planet hemp Marcelo D2 fala sobre o reencontro com sua primeira banda e dos planos para depois do apocalipse “NÃO ESTOU PRONTO PARA O MUNDO ACABAR”

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    REVISTA

    EDIÇÃO TEMÁTICA

    FIM DO MUNDO

    A VOLTA DO planet hemp

    Marcelo D2 fala sobre o reencontro com sua primeira banda e dos planos

    para depois do apocalipse

    “NÃO ESTOU PRONTO PARA O MUNDO ACABAR”

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    QUANDO VOCÊ CONHECEU O SKUNK, QUE FUNDOU O PLANET HEMP COM VOCÊ, VOCÊ

    ESTAVA USANDO UMA CAMISA DA BANDA DEAD KENNEDYS E FOI POR ISSO QUE ELE

    PAROU VOCÊ PARA CONVERSAR. JÁ CHEGOU A PENSAR QUE TUDO QUE ACONTECEU NA SUA VIDA FOI PORQUE VOCÊ ESTAVA COM

    AQUELA CAMISA NAQUELE DIA?

    “Adivinha doutor quem tá de volta na praça? Planet Hemp! Ex-quadrilha da fumaça”

    PERFIL

    POR FLÁVIA DENISE FOTOS LUCAS DE SOUZA

    CONHECERIA O SKUNK de qualquer maneira, sabe? Depois que a gente virou amigo, vi que íamos aos mesmos lugares e não nos conhecíamos. Não sei se foi a camisa do Dead Kennedys, mas o Skunk foi “o cara” na minha vida. Ele foi um anjo mesmo. Costumo até falar que eu vivo um sonho dele, não o meu. O meu sonho era outro, era ser skatista profis-sional. Não queria ser músico, nunca tinha pensado nisso. Esse foi o sonho dele a vida inteira e ele jogou isso no meu colo e foi embora [Skunk morreu em 1994, pouco depois do começo do Planet Hemp]. Ele me tirou da inércia, de um lugar meio cansado. Meu filho tinha acabado de nascer, precisava traba-lhar, fazer dinheiro para sustentá-lo, meio que desisti dos meus sonhos e ele me puxou de volta.

    +

    Leia a nossa primeira entrevista

    com o rapper no bit.ly/d2ragga12

    MARCELO MALDONADO PEIXOTO foi capa da Ragga pela primeira vez em abril de 2007. Na edi-ção 12, a entrevista era totalmente voltada para a briga dele com seu ex-companheiro de banda, BNe-gão. Cinco anos depois do fim do Planet Hemp, o desentendimento dos dois ainda chamava a atenção dos fãs e da imprensa nacional. “Carreguei a ban-da anos e anos, todas as letras do Planet fui eu que escrevi, ele nunca apresentou uma música”, criticou Marcelo na época, em resposta às reclamações de BNegão, que dizia não receber o que tinha direito no grupo.

    Hoje, cinco anos depois, trazemos outra con-versa com Marcelo D2, agora com 45 anos. Dessa vez, o objetivo não é continuar a briga, mas come-morar que a banda está unida novamente. Passados de quase 10 anos sem se falar, ambos finalmente deixaram a rixa de lado para trazer de volta o Planet Hemp, que está fazendo shows pelo Brasil e se apre-senta no Mineirinho, em 8 de dezembro. “É lógico que teve a briga, mas não podemos esquecer os 10, 12 anos que passamos juntos e foram legais para caramba”, justifica o rapper, que nos recebeu em sua produtora, cercado de pôsteres, discos de ouro e de platina da banda.

    Os shows já apresentados no Rio, em Porto Alegre e em Florianópolis mostram que eles estão sendo fiéis ao antigo objetivo de tocar o terror nos conservadores de plantão. Apesar da idade de seus integrantes, o grupo está, sem dúvida nenhuma, voltando ao passado e mostrando para uma nova geração porque o Planet foi uma das bandas mais polêmicas do país.

    Depois do fim, o recomeço

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    samba. É difícil para as pessoas, tudo é muito mastigado. O que se chama de música sertaneja não é sertaneja. Tem um pouco de sertanejo no visual dos caras. Mas é um pouco de axé com funk, que é o pop nacional hoje. Às vezes me vejo no meio disso tudo e pergunto o que eu estou fazendo ali, sabe? Não tenho nada a ver com isso. Mas é bom estar ali também, estou representando um pouco da minha cultura, essa bagunça toda que expliquei antes.

    Tem que ter alguém ali. A cultura hip-hop é tão grande, o rap é tão grande. Faço rap. O que está dentro disso tudo, rock ou samba, está dentro do rap. Ele está passando por um momento tão legal. Tem o Criolo, o Emicida, o Projota. Toda essa galera que está fazendo uma nova cena. Tem que ter alguém lá, no mainstream, e é legal estar lá. Toca Gustavo Lima, toca Marcelo D2 e depois toca Ivete. Acho ótimo estar no meio dos peixes grandes.

    E você está lançando o disco Nada pode me parar. Como é reviver seu tempo no Planet Hemp ao

    mesmo tempo em que você está lançando um rap

    completamente novo?

    SEMPRE FOI ASSIM. Quando lancei meu primeiro disco solo, em 1998, tinha acabado de sair da prisão. Foi aquele turbilhão do Planet Hemp. Acho interessante, sabe? Eu gos-to. Tava há tanto tempo na estrada, fazendo meus shows solo. E agora essa turnê do Planet. Os shows têm sido tão intensos. Esse cansaço de hoje tem um pouco a ver com isso. Além da minha festa de aniversário, teve show do Pla-net Hemp no sábado. No domingo, tive que voltar para o Rio. Cheguei aqui acabado. O show foi foda. Porra, 9 mil pessoas é gente para caramba. E ouço tanto rap, preciso lançar disco de rap sempre. Lancei, em 2010, A arte do ba-rulho. Gravei em 2009, então foram três anos sem gravar. Gravei o disco do Bezerra, mas eram regravações. Foram três anos sem fazer música nova. Estava precisando.

    Como é esse processo de parar de fazer música

    nova e voltar a gravar?

    TODO MUNDO PRECISA de um tempo assim. Quando lan-cei A arte do barulho, vinha fazendo disco assim: ia para o estúdio, escrevia o disco todo lá dentro e depois ia fazer turnê. Decidi fazer diferente, agora estou fazendo música por música. Comecei a fazer esse disco no meio do ano pas-sado. Fiz videoclipes para todas as músicas, filmamos em Nova York, Los Angeles, Ruanda, Angola. Também teve gravações no Rio e em Recife.

    Escrevia a música, gravava uma demo para fazer o ví-deo e depois finalizava a música. Então esse processo deu uma renovada que eu precisava. Estava caminhando mui-to no mesmo lugar, que não é uma coisa que me agrada. Quando lancei A procura da batida perfeita, todo mundo falava: “Você achou a batida perfeita”. E eu falava: “A bati-da não importa, o que importa mesmo é a procura”. Estava me sentindo já um pouco cansado de fazer quase a mes-ma coisa depois de quatro discos solo. Esse disco vai trazer coisas novas.

    O disco estava marcado para ser lançado em

    setembro, mas foi adiado. Quando ele sai?

    ESPERO QUE ATÉ O FIM DO MÊS [dezembro].

    Você está esperando acabar a turnê do

    Planet Hemp?

    NÃO, QUERIA LANÇAR TUDO JUNTO e vender os discos

    Você ainda pensa muito nele?

    PARA CARAMBA. Tanto que estamos fa-zendo um filme [Minha hora é agora]. Ano que vem deve rodar. É um filme sobre esse momento mesmo, sobre como a vida é fei-ta de escolhas. Como ela abre portas e, se você não estiver atento, acaba perdendo. O filme mostra três momentos: no primeiro, os dois ainda não se conhecem; no segun-do, os dois se conhecendo. E, depois que o Skunk morre, tem a parte final, que é a coisa da cadeia do Planet. É um filme sobre como a vida é a arte do encontro, apesar de haver tantos desencontros.

    Você já tocou rap, samba, rock. Como

    você se define?

    UM POUQUINHO DE CADA COISA disso daí. É aquela coisa, cresci comendo feijoada, que, naquela época, não se fazia churrasco em casa. Era feijoada, rabada, peixada, essas coisas que se fazia no quintal. Hoje todo mundo faz churrasco. Então comia esse tipo de coisa e também comia hambúrguer. Ouvia muito samba e ouvia hardcore. Cresci vendo basquete americano e futebol brasileiro. Então, acho que sou a mistura de tudo isso aí mesmo. Cresci assim.

    Você acha que a crítica musical

    brasileira tem dificuldade de lidar

    com artistas que não tocam e

    produzem dentro de um só gênero?

    ACHO QUE É NORMAL. Quando compus A procura da batida perfeita, sai de Los An-geles e pensei: “Vai ser difícil mostrar esse disco”. Na época, as rádios eram ou de pop rock — que o disco não cabia muito, porque era de samba — ou de samba — que tam-bém não cabia, porque minhas letras têm a linguagem popular do pagode. E acabou que ela tocou na rádio de pop e na rádio de

    Eu faço rap. O que está

    dentro disso tudo, rock ou samba,

    está dentro do rap

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    ele é poderoso no palco. Já cantei com mui-ta gente, mas ele no palco é sinistro. No pri-meiro ensaio, nós dois olhando para o outro: “Que foda, cara, nós dois de novo aqui”. O primeiro show foi no Circo Voador, a nossa casa. Sai do show, deitei no sofá do cama-rim e fiquei uns 30 minutos lá. Minha vida veio toda na minha cabeça. Quando era mo-leque, meu sonho era tocar no Circo Voador e, depois de tudo que passei, estar ali de novo. Com o Planet Hemp. Com o Bernar-do, o Rafael, o Formigão e o Pedrinho. Foi demais. O show de Porto Alegre foi foda. O show de Floripa foi animal. .

    Tenho certeza de que o show no Minei-rinho vai ser inesquecível. Além disso, esta-mos no processo de nos entrosar de novo. O primeiro foi emoção pura, no segundo já estávamos mais conscientes do que íamos fazer. No terceiro, de Floripa, erramos mais que nos dois primeiros, porque relaxamos mais, mas o erro faz parte do show. Fizemos o show mais foda lá. Teve aquilo que tem de melhor no palco. A força da banda. Dos três, foi o melhor até agora.

    Vocês já brigaram de novo depois

    de voltar?

    ACHO QUE NÃO VAMOS BRIGAR de novo. Todo mundo está tendo um cuidado enor-me de como falar um com o outro. Ninguém quer brigar, sabe? Está todo mundo que-rendo mais é fazer a coisa direito. De certa maneira, esses três shows reacenderam um orgulho da gente de ser Planet Hemp. De-pois da briga, ficou aquela coisa do “foda-se Planet, não quero mais saber daquela porra”. Eu não, eu deixei as coisas na parede, tenho o maior orgulho. Mas a gente, junto, não queria mais ver as coisas. Acho que reacen-deu esse orgulho: “Caralho, a gente fez uma parada foda, a gente fez uma banda foda”. Temos nossas carreiras solo, principalmente eu e o Bernardo, mas essa era a nossa ban-da. Não podemos cuspir nisso. Não pode-mos esquecer.

    Vocês ficaram 10 anos sem tocar e a

    galera tá lotando os shows.

    FORAM 10 ANOS SEM TOCAR e a galera está viva. O Planet nunca foi um sucesso de um verão. Não teve “aquele verão em que estourou a música do Planet Hemp”. Fomos uma banda de carreira grande, com três discos sólidos, álbuns importantes para caramba para o rock nacional, para a nossa geração. É isso que a galera que viu quer ver de novo.

    E tem muita gente nova cantando. O moleque de 20, 25 anos que vai ao show agora não podia ir antes. Estou falando do

    Voltar a dividir o palco com o

    Bernardo é legal demais. Eu tinha

    esquecido como ele é poderoso no palco

    nos shows do Planet Hemp, mas tem problema com editora porque tem muito sample nesse trabalho. No Brasil isso é um problema. O filho do cara que tem o direito da música não quer liberar, o outro já morreu, não sabe onde que está. Mas acho que sai em dezembro. E, se não rolar, pode lançar em janeiro. Estava ansioso para caramba para lançar, aí veio a turnê do Planet e eu falei: “Quer saber? Tudo bem. Tenho outra brincadeira aqui” [risos]. Vou tirar umas férias também depois dessa turnê com a banda. Vou aproveitar para ir à Ásia. Quero conhecer Bangkok, Hong Kong e Xangai.

    Você também faz vídeos, certo?

    ESTOU FAZENDO UMA SÉRIE AGORA, só filmando com a Super 8 do iPhone. E editando direto no celular, fazendo uns vídeos pequenos para por no YouTube. Chama Pupila dilatada. Estou terminando o segundo agora. Mas é difícil editar no iPhone. Vou parar de editar nele. Estou com tendinite. Fui ao médico, falei que tava com uma dor gigante e ele perguntou: “Você usa muito o iPhone?”. Uso Instagram, Twitter, Facebook, telefone, câmera fotográfica, Super 8, edição. Ele falou que estou com lesão de esforço repetido. Está doendo bastante.

    E agora?

    AGORA ESTOU MEXENDO COM A MÃO ESQUERDA. [risos] Daqui a pouco vou mexer com o dedão do pé. Já tive que deixar de jogar videogame por causa disso. Mas adoro fotografia, vídeo e cinema. Tenho uma ideia para fazer um curta. Mas tenho que esperar eu ter mais tempo. Vou dar uma desacelerada no próximo ano. Essa volta do Planet Hemp foi muito importante para isso. Tenho que voltar um pouquinho para o básico. Fazer coisas antigas que deixei para trás.

    Em uma entrevista em 2010, você falou que

    ia ficar ridículo se voltasse a pular em cima

    do palco e que tinha medo de voltar com o

    Planet Hemp e acabar estragando a banda.

    E aí?

    FUDEU. [risos] Assim, vai ser difícil voltar para fazer alguma coisa nova. Mas uma turnê para rever os amigos e renovar as amizades... O fim do Planet foi

    uma coisa interessante. Primeiro, a gente acabou a banda e manteve a amizade. Mas depois que terminou a banda, a amizade foi para casa do caralho, começamos a brigar. Voltar e rever tudo isso. A gente passou uma década sem subir no palco. Está legal e está irado. Tenho uma cadeira no palco para eu sentar e não bancar o ridículo. Para mostrar a idade também. Mas voltar a banda, voltar mesmo, é bem difícil. Acho que podíamos fazer uma turnê de dois em dois anos.

    Como foi chamar o BNegão para

    voltar depois da briga de vocês?

    TEM UM TEMPAÇO [sic] essas coisas, sabe? Outro dia escrevi sobre isso, falando como tinha aprendido, falando daquele fim de semana dos dois primeiros shows. Achava que nunca mais ia falar com o Bernardo na minha vida, sabe? E a gente voltou superamigo. Parece que a gente estava se vendo sempre. Não parece que ficamos 10 anos sem se ver ou tanto tempo sem se falar. A gente sentou e conversou.

    Primeiro encontrei com todo mundo da banda. O Bernardo tava fazendo shows do disco dele, não foi nos primeiros ensaios. Revisamos as músicas, fizemos um set list. O Bernardo ia chegar para o terceiro ensaio. Liguei para ele e decidimos conversar antes de entrar na frente de todo mundo e resolver nossas diferenças. E conversando vimos que não tinha mais uma gota daquilo daquela época. Mudamos muito, estamos velhos, nossos filhos são homens. Vi o filho do Bernardo no ensaio, ele tem 17 anos. É lógico que teve a briga, mas não podemos esquecer os 10, 12 anos que passamos juntos e foram legais para caramba. É tempo de deixar isso para trás, esquecer. E na balança, a coisa boa está muito maior que a coisa ruim. Deixa para lá. Bola para frente.

    Como foi tocar com ele de novo?

    VOLTAR A DIVIDIR O PALCO com o Bernar-do é legal demais. Tinha esquecido como

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    último show, de quando ele tinha 10, 15 anos. O Planet Hemp era só para maior de idade. E, nos nossos dois últimos anos, não tocamos em BH. Se tocamos, foi uma vez. O cara de Belo Horizonte só teve uma chance. Se ele não foi, esse cara de 30 anos nunca viu um show do Planet. E é legal ver gente nova cantando.

    Você fala cada vez menos de maconha nas suas

    músicas. Chegou um ponto que esse assunto

    esgotou?

    TODO DISCO MEU tem uma composição que fala de maconha. Sempre falo em pelo menos uma frase, em uma música ou outra. Mas também é difícil falar de um tema só durante tantos discos. Estou no meu 10º disco agora. O primeiro álbum do Planet é sobre maconha, o Usuário. Todas as músicas falam de maconha, o segundo já não é tanto assim. Já fala mais de liberdade de expressão, a gente estava passando por aquele momento. É difícil falar só de maconha o tempo inteiro. Eu gosto mais de fumar do que de falar.

    Toda entrevista que você dá perguntam: “O que

    você faria se seus filhos fumassem maconha?”

    MEU FILHO FUMA MACONHA. Ele tem 20 anos. Não sei se ele quer que eu fale isso. Mas ele fala na música dele. Fico com muito mais medo dele sair e beber do que fumar um baseadinho. Se ele fuma um baseado, fica chapado no sofá, fazendo letra, fazendo vídeo. Agora, quando sai para beber com os amigos... É uma puta de uma hipocrisia. A molecada sai para beber com os amigos com 13 anos e tudo certo. Mas quando têm 18, 20 anos e fumam um baseado: “Porra!” E diz a Veja que faz mais mal do que bebida. Não sei de onde eles arrumaram isso, mas tudo bem. É a Veja.

    O que a Holanda, onde você tem um lugar específico para isso e leis fortes, e a Argentina e o Uruguai estão fazendo com a maconha é o certo. Porque não adianta falar: “Está legalizado”. O cara tem que ter responsabilidade. Como agora estão fazen-do com o álcool aqui. O cara bebeu, dirigiu e matou um. Bebeu, dirigiu e foi pego bêbado dirigindo. Tem que pagar por isso. Não pre-cisa matar não, mas tem que pagar por isso. E isso vale para todas as drogas. O indivíduo tem que ter o direito de usar e a responsa-bilidade de usar. Não vejo o porquê de as drogas serem ilegais.

    Você começou a fumar com 13, casou

    com 19, fundou o Planet Hemp com

    25 e acabou de fazer 45 anos. Você

    está começando a sentir o peso da

    idade nas costas?

    NAS COSTAS, nos joelhos, no cotovelo, na cabeça, no dedão do pé, na cicatriz da perna. Está foda. Sempre fui um cara muito ativo, mas, ao mesmo tempo, não pratiquei muito esporte, sou boêmio. O Bezerra falou isso. Eu falei para ele: “Porra, Bezerra. Você tem 67 anos”. Eu achava que ele tinha uns 80. Aí ele falou: “É cara, a boemia é foda”. Eu largo a boemia, mas a boemia não me larga. Tento me alimentar bem, almoço meio dia todos os dias com as minhas crianças, uma comida balanceada, caseira. Como pouco na rua.

    Quero fazer música pelo resto da vida e vem tudo isso junto. Parei de jogar bola,

    E você acha que a maconha deveria ser legalizada

    no Brasil?

    ELA DEVIA SER LEGALIZADA no mundo inteiro.

    Você acha isso possível?

    EU ACHO. O mundo está caminhando para isso. Aqui do lado, no Uruguai e na Argentina, já está legalizado. Na Argentina, você pode portar 5g. O Uruguai legalizou para plantação. Daqui uns anos, o Uruguai vai ser nossa Amsterdã. Vai todo mundo para lá. Acho que o caminho do ser humano vai ser esse. É uma idiotice tão grande achar que o problema das drogas é criminal e não de saúde. Acho que todas as drogas — aí incluo todas: álcool, cocaína, maconha — têm que ser tratadas por psiquiatras, não pela polícia, na base da porrada. Ninguém vai parar de fumar, vai parar de beber porque a polícia meteu porrada. Tinha que ter muito mais educação sobre o assunto. Sobre a anfetamina, que é legalizada, o remédio para dormir, remédio para emagrecer, que junto do álcool dá onda... Acho que a ilegalidade só leva ao crime e isso gera polícia corrupta, traficante armado.

    Ninguém vai parar de fumar, vai parar de beber, porque a polícia

    meteu porrada

    É DIFÍCIL FALAR SÓ DE MACONHA O

    TEMPO INTEIRO. EU GOSTO MAIS DE FUMAR DO QUE DE FALAR

    porque estava machucando um joelho. Tive que operar e tive que operar o outro joelho também. Futebol é pesado, ainda mais quando você joga pouco. Mas é isso. É a idade, estou me preparando. Me sinto muito melhor agora do que há cinco anos. Agora estou sentindo a idade chegando e es-tou desacelerando um pouco. Tenho dado mais tempo para minha família, o que é muito importante. Este ano fiz muito isto: fui gravar e levei família, papagaio, cachorro, gato, so-brinha, filhos, todo mundo. Isso foi legal para o disco e foi bom para mim também.

    BNegão e Marcelo D2 em show do

    Planet Hemp antes do fim da banda

    D2 canta com o filho mais velho, Stephan