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A VIVÊNCIA DAS ATIVIDADES DE AVENTURA COMO CONTEÚDO DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA Elizandro Ricardo Cássaro 1 Vilmar Malacarne 2 João Fernando Christofoletti 3 RESUMO: O papel da Educação Física escolar é transcender o senso comum e desmistificar formas enraizadas às diversas práticas e manifestações corporais na escola. Ampliando o conhecimento escolar e cientifico desse aluno que permite a ampliação e compreensão dos saberes produzidos na escola, e que possam contribuir em seu cotidiano. Dar um novo significadono papel do ensino da Educação Física escolarrequer amplas possibilidades de intervenção, para superar a dimensão que visa além da parte motriz e imprimi uma dimensão histórica, cultural e social. Esse estudo iniciou em meados de 2010 com as Atividades de Aventura na Rede Municipal de Ensino de Maringá-PR, sendo realizada na Escola Municipal Odete Ribaroli Gomes de Castro e Escola Municipal Dr. Osvaldo Cruz ambas do Ensino Fundamental. O objetivo principal é o desenvolvimento desses conteúdos nas aulas de Educação Física escolar que envolve as modalidades slackline, skate, escalada esportiva e rapel. Verificamos que através desse conteúdo os alunos demonstraram grande interesse nessa prática de manifestação corporal oportunizando como opção de lazer. A contribuição desse conteúdo, salientou a ampliação do conhecimento por parte dos alunos no conteúdo sobre esporte, natureza,educação ambiental, lazer que proporcionaram a divulgação desse conteúdo além da escola ecorroborando à Educação Social. Palavras-Chave:.Educação Física Escolar. Atividades de Aventura. Lazer. Processo Educativo. Educação Social. 1 Especialista em Educação Física na Educação Básica pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Aluno do Programa de Pós- Graduação Stricto Sensu em Educação, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE). Professor da Rede Municipal de Ensino de Maringá. [email protected] 2 Doutor em Educação pela Universidade de São Paulo (USP). Docente do Programa de Pós-Graduação Stricto-Sensu em Educação e Programa de Ensino de Ciências e Matemática da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE). [email protected] 3 Doutor em Educação pela Universidade de Londres. Docente do curso de graduação em Educação Física da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE). [email protected]

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A VIVÊNCIA DAS ATIVIDADES DE AVENTURA COMO CONTEÚDO DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

Elizandro Ricardo Cássaro1 Vilmar Malacarne2

João Fernando Christofoletti3

RESUMO: O papel da Educação Física escolar é transcender o senso comum e desmistificar formas enraizadas às diversas práticas e manifestações corporais na escola. Ampliando o conhecimento escolar e cientifico desse aluno que permite a ampliação e compreensão dos saberes produzidos na escola, e que possam contribuir em seu cotidiano. Dar um novo significadono papel do ensino da Educação Física escolarrequer amplas possibilidades de intervenção, para superar a dimensão que visa além da parte motriz e imprimi uma dimensão histórica, cultural e social. Esse estudo iniciou em meados de 2010 com as Atividades de Aventura na Rede Municipal de Ensino de Maringá-PR, sendo realizada na Escola Municipal Odete Ribaroli Gomes de Castro e Escola Municipal Dr. Osvaldo Cruz ambas do Ensino Fundamental. O objetivo principal é o desenvolvimento desses conteúdos nas aulas de Educação Física escolar que envolve as modalidades slackline, skate, escalada esportiva e rapel. Verificamos que através desse conteúdo os alunos demonstraram grande interesse nessa prática de manifestação corporal oportunizando como opção de lazer. A contribuição desse conteúdo, salientou a ampliação do conhecimento por parte dos alunos no conteúdo sobre esporte, natureza,educação ambiental, lazer que proporcionaram a divulgação desse conteúdo além da escola ecorroborando à Educação Social.

Palavras-Chave:.Educação Física Escolar. Atividades de Aventura. Lazer. Processo Educativo. Educação Social.

1 Especialista em Educação Física na Educação Básica pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Aluno do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE). Professor da Rede Municipal de Ensino de Maringá. [email protected] 2 Doutor em Educação pela Universidade de São Paulo (USP). Docente do Programa de Pós-Graduação Stricto-Sensu em Educação e Programa de Ensino de Ciências e Matemática da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE). [email protected] 3 Doutor em Educação pela Universidade de Londres. Docente do curso de graduação em Educação Física da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE). [email protected]

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INTRODUÇÃO

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) apontam para a necessidade de

se ampliar e enriquecer o conteúdo das aulas de Educação Física, possibilitando que aos

alunos conheçam as variadas manifestações da cultura corporal (BASIL,1997, p.19).

Nesse sentido, seria função do professor de Educação Física colaborar tanto para

introduzir os alunos nas práticas corporais mais comuns (ou conhecidas) de seu

ambiente cultural (que no nosso caso envolve, principalmente, alguns esportes coletivos

como futebol, basquete, vôlei e handebol) como também apresentar aquelas que lhes

seriam menos conhecidas, por não fazerem parte de seu domínio cultural.

Além disso, tais componentes diferenciados ou alternativos da cultura corporal

poderiam ser bastante significativas ao serem introduzidos como parte da experiência

pedagógica do aluno, na medida em que podem tanto ser atraentes para eles (em parte

em função da novidade, mas também devido à sua própria dinâmica) como também se

constituir numa opção interessante de possível prática de lazer a ser vivida fora do

ambiente escolar.

Dito de outro modo, não se trata de se desconsiderar o que usualmente é

mencionado como componente da cultura corporal, isto é, as modalidades esportivas, os

jogos e brincadeiras, as ginásticas, danças elutas. Nem tão pouco trata de desfocar de

objetivos clássicos dessa disciplina escolar, como os que envolvem a psicomotricidade,

odesenvolvimento das capacidades e habilidades motoras,a ampliação do repertório

motor e cultural do aluno ou, ainda, uma educação centrada na promoção da saúde e do

lazer. Pelo contrário, trata-se de ressignificarmose ampliarmos a prática do professor e a

experiência do aluno. Mas para que isso se efetive, faz-se necessário que o professor,

além de seguir o currículo escolar vigente, possibiliteque seus alunos possam vivenciar

uma diversidade de conteúdos e situações que lhes sejam enriquecedoras e que,

eventualmente, possam ser desenvolvidas em seu cotidiano.

Tendo isso em vista, esse artigo traz o relato das experiências educativas

promovidas por um professor de Educação Física, nas turmas do 4º ano e 5º anodo

Ensino Fundamental do município de Maringá-Paraná, a partir (ou por meio)do

desenvolvimento (ou execução) de alguns tipos atividades alternativas que aqui

denominaremos por atividades de aventura. Mais precisamente, trabalhamos

comslackline, skate, escalada esportiva e rapel.

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Tomamos o cuidado de enfatizar a expressão “atividade de aventura” devido ao

fato de não ser consensual uma terminologia específica na literatura pertinente, como

fica bastante claro na exposição feita Dias (2007). Esse autor, a partir de um

levantamento, nos explica que diferentes autores se utilizam de diferentes expressões ou

termos para nomear tais práticas e que a nomenclatura varia em função da ênfase que

cada autor coloca em um ou mais aspectos que compõem ou participam de tais

atividades, como por exemplo o tipo de ambiente em que sãorealizadas, as sensações

que promovem, o uso social de certos vocábulos e assim por diante.Aliás, há que se

destacar a forte associação que as atividades de aventura possuem com aquelas

realizadas em ambientes naturais, as quais costumam ser adjetivadas com o termo

“natureza”. Isso fica bem evidenciado ao se considerar alguns trabalhos produzidos

principalmente nas décadas de 1990 e 2000; período esse em que esse tema parece ter

tido grande apelo na academia, tanto na área da Educação Física como em outras em

que tais práticas estariam de algum modo relacionadas (como Turismo, Ecologia, etc.).

Por exemplo, apenas a título de ilustração, poderíamos citar Betran (1995)

Uvinha (1997, 2001), Brunhs (1997), Schwartz (1999), Marinho (1999), Pimentel

(2006) e Dias (2007), sendo que cada um desses autores usa uma terminologia própria,

como: Atividades de Aventura, Esporte Radicais, Esporte na Natureza, Esporte de

Aventura, Atividades de Aventura na Natureza e Atividades Físicas de Aventura na

Natureza. Em vista disso, nos limitamos ao uso da expressão já mencionada em função

de ser, talvez, a mais usual. No entanto, embora estejamos atentos às questões referentes

à terminologia, não nos debruçaremos sobre isso, visto não se tratar do objeto central de

nossa reflexão.

As atividades aqui descritas foram realizadas com as turmasdo 4º ano e 5º ano

do Ensino Fundamental do município de Maringá-Paraná no período de 2010 à 2012, e

posteriormente em 2014. Embora nos limitemos a esse relato, a experiência de trabalhar

com elas como uma proposta de conteúdo curricular na disciplina de Educação Física

escolar, no qual tais práticas que se iniciaram em 2010 que veem percorrendo ao longo

da minha pratica pedagógica com, uma maior desenvolvimento pedagógico e

aplicabilidade na escola, percorrendodesde as Atividades de Aventura especificamente

as modalidades slackline, skate, escalada esportiva e rapel, e abordamos questões sobre

esporte, lazer, educação ambientalque através dessas práticas corporais de aventura

possam possibilitar uma maior reflexão e atuação desse aluno fora do espaço escolar.

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Segundo Darido (2004), os professores de Educação Física é devem atuar

conscientemente em suas aulas sobre temas afetos à saúde e ao bem-estar, de modo a

conscientizaros alunos sobre a relevância da prática regular de atividade física para a

conquista de uma melhor qualidade de vida. Assim, instrumentalizar o aluno para que

ele possa se dedicar e envolver com atividades físicas como algo prazeroso e não por

uma exigência ou obrigação passa a ser uma meta importante para o professor de

Educação.

Aliás, é justamente esse o ponto discutido por Fraga (2006)4, ao argumentar que

a atividade significativa e prazerosa é provavelmente o que permite um real, contínuo e

duradouro envolvimento da pessoa com alguma prática corporal de modo a ter efeitos

positivos na vida das pessoas.

Nesse sentido, parece-nos relevante que uma atividade qualquer implique em

prazer para o aluno e acreditamos que as atividades de aventura possam colaborar para

isso de duas maneiras principais. Primeiro, em função das sensações associadas ao risco

(ainda que controlado) a certo grau de medo, euforia ou a um tipo de êxtase que é

provocado ou estimulado pela vivência de tais prática. Em segundo lugar, em função

delas poderem ser englobadas (ou incorporadas) como uma prática ou opção do próprio

lazer da criança ou do adolescente.

Em relação ao primeiro aspecto citado, é relevante trazermos as ideias deRoger

Caillois5 (1994)a respeito de sua classificação de tipos de jogos. Esse autor propõe

quatro grandes categorias fundamentais, sendo elas: “Agôn”, que se relaciona às

competições que possuem igualdade de condições e cuja vitória depende

exclusivamente das capacidades e habilidades de cada participante; “Alca”, que envolve

os jogos de azar, nos quais impera a sorte; “Mimicry”, que diz respeito àqueles jogos

em que o “faz de conta” predomina, uma vez que todo jogo envolve a aceitação

temporária da ilusão; e, por fim, o que mais interessa aqui, o “Ilinx”, que está

justamente associado a essa sensação vertiginosa de êxtase, que é o que encontramos

nas práticas de aventura. Nas palavras de Caillois (1996, p. 58):

Un último tipo de juegos reúne a los que se basan en buscar el vértigo, y consisten en un intento de destruir por un instante la estabilidad de la percepción y de infringir a la conciencia lúcida una especie de pánico voluptuoso. En cualquier caso, se trata de alcanzar una especie de espasmo,

4 FRAGA, Alex Branco. Promoção da vida ativa: nova ordem físico-sanitária na educação dos corpos contemporâneos. In. BAGRICHEVSKY, Marcos; PALMA, Alexandre; ESTEVÃO, Adriana; DA ROS, Marco. A saúde em debate na educação física, vol. 02. Blumenau: Nova Letra, 2006, pp. 105-118. 5CAILLOIS, Roger. Los juegos y loshombres:la máscara y elvértigo. México: Fondo de Cultura Económica, 1994.

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de trance o de aturdimiento que provoca la aniquilación de la realidad con una brusquedad soberana.

É claro que, como toda classificação, essa também não é precisa, podendo um

mesmo jogo constar em mais de uma classe ao mesmo tempo.Entretanto, o que nos é

relevante é que ao considerarmos as atividades de aventura como um modo de jogo,

uma vez que elas são livremente acolhidas por quem as faz, deixando-se envolver

completamente em seu mundo, numa dimensão lúdica que ocorre em um tempo e

espaço definidos, sem interesse outro que não seja a sua própria execução, ou seja, uma

vez que possui todas os elementos do jogo, torna-se possível uma melhor compreensão

desse fenômeno corporal de nossa sociedade atual, de nossa cultura.

A classificação que Caillois apresenta nos permite compreender um pouco mais

as atividades de aventura a partir de seu aspecto de risco controlado (de sua dimensão

própria de aventura!) ao considerá-las como meios que possibilitem sensações de

instabilidade e vertigem. Certamente existem

diversos níveis em que a vertigem, o estonteamento de que Caillois nos fala, fazem-se

presentes. Muitos dos chamados “esportes radicais”– sejam urbanos ou de natureza –

proporcionam essas sensações de diversas formas e gradações; a sensação de uma

escalada não será a mesma do “bungee-jump”, que não serão as mesmas de manobras

num skate. Além disso, tais sensações podem estar envolvidas ainda ao próprio aspecto

de novidade que possuem, à instabilidade com a qual o corpo tem que lidar e, ainda,

porque não às próprias características das crianças e adolescentes que estão em uma fase

de experimentação em relação ao mundo a si próprios.

Essa dimensão, aliás, já traz em si o segundo aspecto que nos parece relevante

nesse na fundamentação desse relato que é sua dimensão lúdica e sua potencial inserção

como conteúdo do lazer, o qual, necessariamente, envolve o tempo que o aluno

desfrutar fora da escola.O lazer, aqui, é considerado segundo a clássica definição de

Dumazedier, que nos foi difundida por Marcellino6 (2000, p. 25), isto é, como:

um conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode entregar-se de livre vontade, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se e entreter-se ou, ainda para desenvolver sua informação ou formação desinteressada, sua participação social voluntária ou sua livre capacidade criadora, após livrar-se ou desembaraçar-se das obrigações profissionais, familiares e sociais.

Além disso, é relevante destacar o valor inerente à vivência de práticas no lazer 6MARCELLINO, Nelson C. Lazer e humanização. 4. ed. Campinas: Papirus, 2000.

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não reside apenas no tipo de atividade realizada – isto é, “o que” se faz – mas também

na forma que elas são desenvolvidas – qual é o tipo de envolvimento a pessoa

estabelece com a prática. É preciso que o lazer seja vivenciado intensamente e isso

implica que a vivência tenha como característica central a vivência ou, melhor, a

presença do lúdico (cujo conceito e significação não é, por si só, de fácil delimitação).

Marcellino7 (1995) chega a comparar a busca por uma conceituação do lúdico,

com o participar em um “jogo de palavras”, tal a dificuldade de precisão dos termos a

ele relacionadas. Assim como Marcelino (1995), procuro entendê-lo a partir de sua

manifestação no jogo, na festa, no brincar etc., momentos privilegiados para que o

lúdico se faça presente, o que não quer dizer que ele inexista - ou melhor, que não

poderia existir, uma vez que está quase sempre ausente - em outras esferas da vida

humana, tais como o trabalho, um culto religioso, a escola... O que há, na verdade, são

condições mais ou menos favoráveis para uma atitude lúdica do homem, as quais são

determinadas por nossa estrutura sociocultural. Aliás, acredito que todos os momentos,

todos os lugares e atividades poderiam –e deveriam –possibilitar a manifestação

lúdica. O problema éque ele é usualmente negado em nossa sociedade, em nome da

funcionalidade, da utilidade, da seriedade, isto é, do controle voltado à produtividade.

Nesse sentido, chega a ser curioso (ou interessante) que o lúdico, em muitos momentos

parece estar em oposição à noção de ordem e controle, o que, por sua vez, é o contrário

do que as atividades de aventura proporcionam. Por esse olhar, dá para se dizer que, em

certo sentido, as atividades de aventura são essencialmente manifestações do lúdico.

Por fim, o lazer é ainda uma importante oportunidade de desenvolvimento social

e pessoal, o que é marcado pelo que Marcellino (2002) aponta como duplo aspecto

educativo do lazer. Mais precisamente, o lazer é tanto meio de promover a experiência

educativa como objeto de uma experiência pedagógica. Em outras palavras, tanto se

pode utilizar de uma experiência lúdica para se aprender algo (no caso em questão, o

próprio saber que envolve as atividades de aventura trabalhadas no relato a seguir),

como o próprio lazer pode ser aprendido. Nesse outro viés, o próprio aprendizado das

atividades de aventura pode colaborar para enriquecer a ocupação do tempo livre das

crianças e adolescentes quanto melhor propiciar a vivência da prática em si.

Desse modo, espera-se que ao relatarmos as experiências pedagógicas com as

atividades de aventura, possamos enfatizar e demonstrar sua importância para os alunos,

seja como um conteúdo a ser apreendido, seja um meio a se apreender sobre nossa 7 MARCELLINO, Nelson C. Pedagogia da animação.Campinas : Papirus, 1995.

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cultura corporal.

Compreendemos que as mudanças na área da educação são lentas, pois muitas

são as resistências e barreiras enfrentadas pelos que se aventuramàs mudanças, na esfera

escolar. Isso se dá devido a própria insegurança que o novo possui. Aliás, isso,

ironicamente, caracteriza duplamente a atividade. Pois ela trata de algo novo e, portanto,

está associada ao inesperado. Isso, contudo, é o que caracteriza a própria noção de

aventura, o inesperado, o imprevisto.Os professores, na escola, enfrentamrecusas que,

normalmente, referem-se à falta de conhecimento científico ou mesmo prático por parte

das pessoas envolvidas com a dinâmica escolar.

DESENVOLVIMENTO

A prefeitura do município de Maringá-Paraná (2017), por meio da Secretaria de

Educação (SEDUC), abrange a rede ensino 51 escolas municipais de Ensino

Fundamental, no quais este estudo sobre a Atividade de Aventura na modalidade

slackline, skate, escalada esportivae rapel ocorreu nas Escola Municipal Odete Ribaroli

Gomes de Castroe Escola Municipal Dr. Osvaldo Cruz ambas noEnsino Fundamental,

com os alunos que correspondem o ciclo do 4º ano e 5º ano no período da manhã,

totalizando cerca 120 alunos divididos em 4 turmas com faixa etária de 9 a 12 anos de

idade.

A realização da construção de portfólios ao desenvolver os conteúdos de

Atividades de Aventura nas modalidades de slackline, skate, escalada esportiva e rapelo

professor utilizou o recurso em sua oralidade, o quadro negro com realização de

desenhos e escrita sobre o conceitos, definições, história da modalidade, regras da

modalidade, técnicas especificas de cada modalidade, medidas de segurança de cada

modalidade, além de um planejamento sobre exercícios pedagógicos e circuito

pedagógico que visam a parte motriz do conhecimento de cada esporte. Posteriormente

o professor utilizou os equipamentos de multimídia (Datashow, Projetores), na

elaboração de slides e fotos, Vídeos da Internet, Canal de Youtube na explanação do

conteúdo de aventura, trouxeram um salto significativo na produção e realização por

parte dos alunos nas seguintes modalidades esportivas, além de trabalhos e pesquisa

escolar referente a essa temática.

Os conteúdos são os meios pelos quais o aluno deve analisar e abordar a

realidade de forma que, com isso, possa ser construída uma rede de significados em

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torno do que se aprende na escola e do que se vive. Desse modo, junto com

considerações importantes, como a relevância social do conteúdo, é apontada a

preocupação em se trabalhar com os conteúdos escolares nas três dimensões: atitudinal,

conceitual e procedimental (BRASIL, 1998).

Ao abordar a Atividade de Aventura na modalidade slacklineno contexto escolar

baseamos nossos estudos nos conceitos de Darido (2005) e dos PCNs (BRASIL, 1998)

sobre as três dimensões do conteúdo: Conceitual, Procedimental e Atitudinal.

Segundo Darido (2005) podemos descrever que a dimensão conceitual aponta

que o aluno deve saber os fatos, conceitos e princípios que norteiam a prática da

modalidade em si.

Na dimensão procedimental o alunodeve saber fazer, em sua contextualização

das práticas, das teorias, dos fatos, conceitos e princípios, a ação motora para que possa

atingir o pleno desenvolvimento desse aluno e consequentemente o pleno

desenvolvimento do conteúdo.

Já a dimensão atitudinalrefere-se ao que o aluno deve ser de acordo com o

conteúdo aplicado. Nessa dimensão o que o aluno aprendeu e assimilou, seja em

normas, valores e atitudes, é que contribui em seu crescimento fora do ambiente

educacional, sendo um fato importante para pratica social em seu cotidiano.

Deve-se levar em conta que esse esporte sendo conteúdo da Educação Física

escolar podem ser contempladas nas atividades de lazer que pode ser altamente

educativo, e também como e de que forma são desenvolvidas essas atividades com

intuito pedagógico, uma vez que o componente lúdico e o fator importante para o

desenvolvimento da educação pelo e para o lazer.

No entanto através dessas características podemos dizer que o skate é um lazer

recreativo, pois sua maior proporção e a própria realização das diversas manobras, que

pode estar relacionado a cada individuo, pois já diferente de uma pessoa saber praticar

um futebol sabendo dos fundamentos do esporte e obtém das regras afirma Camargo

(2003,p.17-18).

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Foto I: Escola Municipal Odete Riabroli Gomes de Castro em 2010

Fonte: Autores Foto II: Escola Municipal Odete Ribaroli Gomes de Castro em 2014

Fonte: Autores

As Atividades de Aventura nasmodalidades slackline, skate, escalada esportiva e

rapel os alunos realizaram os portfólios seguindo a especificidade de cada esporte,

percorrendo desde os conceitos, definições, história da modalidade, regras da

modalidade, técnicas especificas de cada modalidade, medidas de segurança de cada

modalidade, educação ambientale além de um planejamento sobre exercícios

pedagógicos e circuito pedagógico que visam a parte motriz do conhecimento de cada

esporte nos aspectos que envolvem o equilíbrio, postura, força, tônus muscular,

flexibilidade, respiração, elasticidade e concentração com intuito de abordar o além do

conceito sobre habilidades motoras, competências motoras, competências físicas a

vivência em cada modalidade.

Foto III: Museu Dinâmico Interdisciplinar na UEM (Universidade Estadual de Maringá-PR)

Escola Municipal Dr. Osvaldo Cruz em 2011 Fonte: Autores

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Foto IV: Museu Dinâmico Interdisciplinar na UEM (Universidade Estadual de Maringá-PR)

Escola Municipal Dr. Osvaldo Cruz em 2012 Fonte: Autores

Nesta atividade vivenciamos a modalidade skatee abordamos os eixos esporte,

corpo e natureza, e posteriormente debates sobre a pratica dessa modalidade na escola e

por grupo de meninas. Sendo que esses espaços apresentam mais visível na cidade sua

pratica do cotidiano dos alunos.

Já na atividade de rapel, serviu para que os alunos percebessem que os

equipamentos de segurança nessa pratica é de suma importância que seja de material

esportivo, pois as chamadas “material alternativos” ou “adaptações do material” possa

apresenta “risco” que torna eminente a pratica esportiva, pois segundo Pimentel (2006)

a Atividades de Aventura é perceptível um risco calculável e mensurado pelos seus

praticantes.

Foto V: Escola Municipal Odete Riabroli Gomes

Fonte: Autores Foto VI: Escola Municipal Odete Riabroli Gomes de Castro em 2010

Fonte: Autores

A escalada esportiva demostrou um maior interesse, na observação dos alunos

disseram desconhecer de lugares, e apenas citaram essa pratica em filmes, canais

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esportivos de Tv, programas esportivos na Tv, sendo pouco divulgado e praticado, no

qual os equipamentos são muitos específicos nessa modalidade.

Foto VII: Museu Dinâmico Interdisciplinar na UEM (Universidade Estadual de Maringá-PR)

Escola Municipal Dr. Osvaldo Cruz em 2011 Fonte: Autores

Foto VIII: Museu Dinâmico Interdisciplinar na UEM (Universidade Estadual de Maringá-PR)

Escola Municipal Dr. Osvaldo Cruz em 2012 Fonte: Autores

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao final desse estudo, identificamos que as vivencias nas Atividades de

Aventura possam ser contempladas na proposta curricular da Rede municipal de

Maringá-Paraná, pois os alunos demonstrarammuito interesse na sua pratica esportiva,

que possibilitam uma maior diversidade de modalidades esportivas na escola e fora

dela, tornando uma opção riquíssima de lazer em seu cotidiano.

Percebemos que os alunos compreenderame conheceram melhor o conceito das

Atividades de Aventura e suas modalidades, tanto como atividade de lazer, como

conteúdo pedagógico, em que seu caráter de novidade, dinâmica, emoção podem ser a

chave para uma maior ou melhor envolvimento do aluno com a disciplina de Educação

Física escolar, com a própria escola e processo educativo continuo.

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A partir dos conteúdos de Atividades de Aventura na Educação Física escolar os

alunos relataram que a questão de esporte, lazer, corpo, movimento, natureza e

educação ambiental trouxeram uma maior percepção do universo de esporte e que

podem ser praticado nos espaços de lazer da cidade, principalmente as

modalidadesslackline e skate, pois os equipamentos são mais acessíveis e espaços para

sua pratica em relação a escalada esportiva e rapel.

As realizações dos portfólios na aplicação dos conteúdos de Atividades de

Aventura demonstraram um valioso instrumento pedagógico,pois abordou de forma

simples e objetiva as questões teóricas do conteúdo de aventuranas modalidades

slackline, skate, escalada esportiva e rapel. Esse processo pedagógico que refere ao

conhecimento de diferentes estilos de modalidades, a história, as regras, as normas de

segurança, identificar as variações de estilos, as habilidades motoras e capacidades

físicas utilizadas em cada Atividades de Aventura, foram importantes, porém a questão

dos aspectos da vivencia teve maior relevância por parte dos alunos nos aspectos que

envolvem a concentração na pratica, o companheirismo, educação ambiental, a

preservação e aproximação com natureza.

A partir desse estudo esperamos proporcionar novos olhares e discussão no

campo da educação física escolar em relação a Atividades de Aventura como opção de

lazer com objetivo de ampliar, democratizar e humanizar as modalidades de aventura na

escola e fora dela oportunizando novos espaços de lazer associando a natureza.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BETRÁN, Javier Oliveira. “LasActividades Físicas de Aventura enlaNaturaleza: análisis sociocultural”. In: Apunts. Educación Física y Deportes. Barcelona, n. 41, 1995, p. 5-8. BRUNHS, Heloísa Turini. O corpo visitando a natureza: possibilidades de um diálogo crítico. In:_______; TOLEDO, Célia Maria de (org). Viagens à natureza: turismo, lazer e natureza. Campinas, SP: Papirus, 1997. ________. Lazer e meio ambiente: corpos buscando o verde e a natureza. Revista Brasileira de Ciências do Esporte 18 (2), Janeiro/1997. CAILLOIS, Roger. Los juegos y loshombres: la máscara y elvértigo. México: Fondo de Cultura Económica, 1994. CAMARGO, Luiz Octávio de Lima. O que é lazer? São Paulo: Brasiliense, 2003. ______, Lazer: concepções e significados. In LICERE: Revista do centro de estudos de lazer e recreação/EEF/UFMG. Belo Horizonte: Celar, v1, no.1, 1998, p. 28-36. BRACHT, Valter. Sociologia crítica do esporte: uma introdução. 3ª ed. – Ijuí: Editora Unijuí, 2005.

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