a visão da educação ambiental em uma escola pública estadual de

84
Centro Universitário Salesiano de São Paulo - UNISAL SILVIA ELIAS A visão da educação ambiental em uma escola pública estadual de ensino básico na periferia de Campinas: uma proposta interdisciplinar para o ensino médio MESTRADO EM EDUCAÇÃO Americana São Paulo 2013

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Page 1: A visão da educação ambiental em uma escola pública estadual de

Centro Universitário Salesiano de São Paulo - UNISAL

SILVIA ELIAS

A visão da educação ambiental em uma escola pública estadual de ensino básico na

periferia de Campinas: uma proposta interdisciplinar para o ensino médio

MESTRADO EM EDUCAÇÃO

Americana – São Paulo

2013

Page 2: A visão da educação ambiental em uma escola pública estadual de

Centro Universitário Salesiano de São Paulo - UNISAL

SILVIA ELIAS

A visão da educação ambiental em uma escola pública estadual de ensino básico na

periferia de Campinas: uma proposta interdisciplinar para o ensino médio

Americana – São Paulo

2013

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado

em Educação do Centro Universitário Salesiano de São

Paulo - UNISAL, como requisito parcial para a obtenção

do título de Mestre em Educação, sob a orientação do

Professor Doutor Antônio Carlos Miranda.

Page 3: A visão da educação ambiental em uma escola pública estadual de

Elias, Silvia

E

41v

A Visão da educação ambiental em uma escola pública

estadual de ensino básico na periferia de Campinas: uma proposta

interdisciplinar para o ensino médio / Silvia Elias – Americana:

Centro Universitário Salesiano de São Paulo, 2013.

84 f.

Dissertação (Mestrado em Educação). UNISAL/SP.

Orientador: Prof. Dr. Antônio Carlos de Miranda

Inclui bibliografia.

1. Educação ambiental. 2. Interdisciplinaridade. 3. Currículos –

PCN’s. 4. Ensino médio – Brasil. 5. Prática de ensino. I. Título.

CDD – 372.357

Catalogação elaborada por Lissandra Pinhatelli de Britto/ CRB8-7539

Bibliotecária UNISAL – Campus Maria Auxiliadora.

Page 4: A visão da educação ambiental em uma escola pública estadual de

BANCA EXAMINADORA

________________________________________________________________

Professor Doutor Antônio Carlos Miranda

UNISAL

________________________________________________________________

Professor (a) Doutora Renata Sieiro Fernandes

UNISAL

________________________________________________________________

Professor (a) Doutora Brígida P. V. de Queiroz

UNISAL

Centro Universitário Salesiano de São Paulo - UNISAL

Americana – São Paulo

2013

Page 5: A visão da educação ambiental em uma escola pública estadual de

RESUMO

O presente estudo tem o objetivo de analisar a proposta elaborada pela nova LDB e os PCN’s.

Uma das ações da nova proposta da LDB é a inclusão do ensino médio no ensino básico; outra é

oferecer às escolas a possibilidade de elaboração de suas propostas curriculares por meio do

Projeto Político-Pedagógico e de um trabalho interdisciplinar através dos temas transversais,

considerados de relevância social. A organização escolar, a partir desses instrumentos

pedagógicos, está em construção e ainda é uma ação tímida. Também, na reforma curricular, a

escola recebeu materiais didáticos como o caderno do aluno e do professor, tanto para o nível de

ensino fundamental como para o médio, organizados por disciplinas e conteúdos a serem

trabalhados. Percebemos ainda uma valorização das áreas tradicionais do saber. Os PCN’s

trabalham com diretrizes que são os possíveis caminhos para se realizarem novas ações de

educação nas diversas regiões e em todas as escolas de ensino básico e também com os temas

transversais, apontando as possíveis direções. Dentre eles, temas transversais, encontra-se a

educação ambiental, que deverá ser trabalhada de maneira interdisciplinar, articulando os vários

conhecimentos, a criticidade, a participação, a emancipação e, assim, levar ao desenvolvimento e

à construção da cidadania. As observações da pesquisa qualitativa realizada em uma escola

estadual, localizada no Jardim Campo Belo I, do município de Campinas/SP, por meio de

projetos de atividades práticas usando a educação ambiental em seu contexto interdisciplinar,

demonstraram que a educação ambiental de acordo com as propostas dos PCNs caracteriza-se

como uma das dificuldades tanto para os professores como para os alunos. Na avaliação dos

resultados e do envolvimento em atividades interdisciplinares os alunos não apresentaram uma

nova formulação para novos conhecimentos, portanto, não ocorreu de fato uma aprendizagem

permanente. Também não relacionaram meio ambiente, interdisciplinaridade e cidadania. A

tentativa do desenvolvimento de suas competências não nos permitiu perceber a

contextualização. Para um trabalho interdisciplinar em educação ambiental não devemos percebê-

la como prática pedagógica, mas sim como uma visão formadora, não somente do professor na

sua dimensão instrumental/cidadã, como também dos alunos que, ao tratarem de uma educação

política para a transformação dos saberes, mudem também a formação do homem. A escola

pública de ensino básico, mesmo amparada pela legislação e através da interdisciplinaridade, não

se aproximou da proposta curricular para a inclusão social e da prática da cidadania. Há muito a

Page 6: A visão da educação ambiental em uma escola pública estadual de

ser realizado para que a escola se torne a forma e a função de mudança da realidade de vida,

formando cidadãos.

Palavras-chave: Educação Ambiental, Interdisciplinaridade, PCN’s.

Page 7: A visão da educação ambiental em uma escola pública estadual de

ABSTRACT

The present study aims to analyze the proposal prepared by the new LDB and NCP's.

One effect of the new proposal is the inclusion of school in primary; another was to offer schools

the possibility of drafting their curriculum proposals through the Political-Pedagogical Project

and also interdisciplinary work through the cross-cutting themes that are socially relevant social.

The school organization from these teaching tools is under construction and is still a relatively

shy. Also in curriculum reform received educational materials such as notebook student and

teacher both for the level of primary education as the medium, organized by subjects and content

to be worked, still perceive an appreciation of the traditional areas of knowledge. NCP's work

with guidelines that are possible ways to perform new education initiatives in various regions and

in all primary schools on cross-cutting themes. Among them is the environmental education

should be crafted so linking the various interdisciplinary knowledge, criticality, participation, and

empowerment and thus lead to the development and construction of citizenship. Observations of

qualitative research in the state school in Campinas / SP located in Jardim Campo Belo I through

project activities using environmental education in its interdisciplinary context proved to be one

of the difficulties both for teachers and for students. In assessing the results and involvement in

interdisciplinary activities these students did not present a new formulation for new knowledge,

so there was in fact a continuous learning environment and not related, interdisciplinary and

citizenship. Try developing your skills not allow us to understand the context interdisciplinary

work in environmental education should not perceive it as a pedagogical practice, but as forming

a vision, not only the teacher in their instrumental dimension / citizen, as well as the students that

when dealing with an education policy for the transformation of knowledge, change also the

formation of man. Public school of basic education, even supported by legislation and by not

approached the interdisciplinary curriculum for social inclusion and practice of citizenship. We

have much to accomplish, so that the school becomes the form and function of changing reality

of life, forming citizens.

Keywords: Environmental Education, Interdisciplinary, PCN's.

Page 8: A visão da educação ambiental em uma escola pública estadual de

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

BID Banco Interamericano de Desenvolvimento.

CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior.

CEPAL Comissão Econômica para América Latina e Caribe.

CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.

CPFL Companhia Paulista de Força e Luz.

CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente.

CIMA Comissão Interministerial para o Meio Ambiente.

CETESB Companhia de Tecnologia e Saneamento Ambiental.

CERI Centro para Investigação e Inovação do Ensino.

CEB Câmara de Educação Básica.

CNE Conselho Nacional de Educação.

CRAS Centro de Referência de Assistência Social.

DST Doenças Sexualmente Transmissíveis.

EA Educação Ambiental.

EDS Educação para o Desenvolvimento Sustentável.

EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária.

EMEI’s Escolas Municipais de Educação Infantil.

ECA Estatuto da Criança e do Adolescente.

ETE Estação de Tratamento de Esgoto.

EUA Estados Unidos da América.

FEAM Fundação Estadual do Meio Ambiente.

FEEMA Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente.

FUMEC Fundação Municipal para Educação Comunitária.

GTPE Grupo de Políticas Educacionais.

HTPC Horário de Trabalho Pedagógico Coletivo.

IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis.

IDH Índice de Desenvolvimento Humano.

INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira.

LDB Leis de Diretrizes e Bases da Educação.

Page 9: A visão da educação ambiental em uma escola pública estadual de

MMA Ministério do Meio Ambiente.

MCT Ministério da Ciência e Tecnologia.

MDE Modelo de Desenvolvimento Econômico.

MEC Ministério da Educação e Cultura.

MinC Ministério da Cultura do Brasil.

MINTER Ministério do Interior.

ONU Organização das Nações Unidas.

OEA Organizações dos Estados Americanos.

OCDE Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico.

OMC Organização Mundial do Comércio.

OMS Organização Mundial da Saúde.

ONG’s Organizações não Governamentais.

PCN’s Parâmetros Curriculares Nacionais.

PDT Partido Democrático Trabalhista.

PIB Produto Interno Bruto.

PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.

PNUMA Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.

PPC Paridade de Poder de Compra.

Pronea Programa Nacional de Educação Ambiental.

SANASA Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento S/A.

SEE/SP Secretaria da Educação do Estado de São Paulo.

SEMA Secretaria Especial do Meio Ambiente.

UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.

UNICAMP Universidade Estadual de Campinas.

USP Universidade de São Paulo.

Page 10: A visão da educação ambiental em uma escola pública estadual de

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.............................................................................................................................10

CAPÍTULO 1 - A NOVA LDB....................................................................................................12

1.1 PCN, Temas Transversais...............................................................................................16

1.2 Educação ambiental no currículo escolar........................................................................18

1.3 A Agenda 21....................................................................................................................26

1.4 A necessidade da educação ambiental............................................................................27

1.5 Os caminhos que permeiam a educação ambiental.........................................................32

1.6 A representação do grupo: a escola.................................................................................42

CAPÍTULO 2– METODOLOGIA E DISCUSSÕES................................................................44

2.1 Caracterização da comunidade onde a escola está inserida............................................46

2.2 Caracterização da escola.................................................................................................47

2.3 Resultados.......................................................................................................................48

CONCLUSÃO...............................................................................................................................75

BIBLIOGRAFIA .........................................................................................................................81

Page 11: A visão da educação ambiental em uma escola pública estadual de

10

Introdução

Propomos uma análise dos Parâmetros Curriculares Nacionais aos temas transversais,

os quais deverão apresentar a expectativa de fomentar uma aprendizagem significativa para os

alunos. Deste modo, a educação ambiental, considerada um tema transversal, ao propor uma

articulação entre criticidade, emancipação, participação, ao exercício da cidadania, tema

expectativa de provocar mudanças, reflexões e novas atitudes individuais ou coletivas, seja na

comunidade escolar ou na do entorno. A reforma curricular do ensino médio, ao questionar o

currículo atual, que se caracteriza por um currículo compartimentalizado, apresenta uma inovação

ao ambiente escolar, sendo capaz de oferecer um tratamento interdisciplinar e contextualizado

para uma nova forma de aprendizagem, que torne o aluno envolvido com a busca de solução do

problema.

Nossa opção metodológica, além do aprofundamento das questões teóricas e análises

dos documentos oficiais, foi a de trabalhar a educação ambiental de maneira interdisciplinar em

atividades práticas e pesquisa qualitativa, realizada na modalidade de questionários para alunos

do período noturno da escola estadual Prof.ª Celeste Palandi de Mello, na cidade de Campinas.

No capítulo I, apresentamos como a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional trouxe mudanças no novo currículo da educação básica. Pela nova LDB, os conteúdos

considerados tradicionais deverão ser tratados de maneira interdisciplinar na expectativa do

desenvolvimento das competências. Com essas mudanças, a escola sofrerá algumas alterações na

sua forma de gestão administrativa e pedagógica.

Ainda neste primeiro capítulo situamos como a educação ambiental participa das

preocupações da nova organização da sociedade. Surge daí a necessidade do entendimento dessas

leis, bem como dos interesses e modelo de desenvolvimento que deverão ser debatidos por todos.

A escola, como reprodutora dos valores da sociedade, também deve entender as leis e as

ferramentas que lhe são oferecidas, como a Agenda 21 escolar. Os compromissos da esfera

governamental e da sociedade se fazem presentes nas escolas públicas de educação básica,

resultando no exercício da cidadania.

No Capítulo II, apresentamos a pesquisa como interpretação da proposta de um novo

currículo, através de atividades interdisciplinares, na escola estadual Profª. Celeste Palandi de

Mello, para alunos do período noturno.

Page 12: A visão da educação ambiental em uma escola pública estadual de

11

Na avaliação dos resultados e do envolvimento em atividades interdisciplinares esses

alunos não apresentaram uma nova formulação para novos conhecimentos, portanto, não ocorreu

de fato uma aprendizagem permanente e não relacionaram meio ambiente, interdisciplinaridade e

cidadania. A tentativa do desenvolvimento de suas competências não nos permitiu perceber a

contextualização.

Desta pesquisa, as interpretações da proposta de um novo currículo através de

atividades interdisciplinares nesta escola, para os alunos do período noturno, nos apontam que as

atividades que se apresentaram importantes para estes alunos nos permitiram delinear os

objetivos e preocupações de uma parcela desse grupo, ao demonstrarem a expectativa de serem

incluídos no sistema vigente da nossa sociedade e assim serem reconhecidos como cidadãos.

Page 13: A visão da educação ambiental em uma escola pública estadual de

12

CAPÍTULO 1

A NOVA LDB

O objetivo deste capítulo é apresentar e entender como a nova Lei de Diretrizes e

Bases (LDB) apresentou a proposta do currículo para a educação básica, que atualmente inclui o

ensino médio. Esse novo currículo deverá ser interdisciplinar e contextualizado. A expectativa

em aprender e se envolver na busca de solução de um problema possibilitará o exercício da

cidadania.

Em sequência, apresentaremos a educação ambiental como proposta de um tema

transversal incluído na Constituição Federal de 1988 e consolidada nos PCN’s (Parâmetros

Curriculares Nacionais), a qual deve receber tratamento interdisciplinar, sendo capaz de favorecer

a aprendizagem, a pesquisa, a tomada de atitudes, e promover o senso crítico na tentativa de

transformação da realidade. A mudança na rotina da unidade escolar pela elaboração do Projeto

Político-Pedagógico (PPP) se faz uma necessidade e assim a possibilidade de formular o

currículo que melhor represente aquela comunidade.

Junto com as muitas mudanças de ordem política, econômica e de legislações que já

aconteceram no Brasil, também na educação se apresenta uma nova proposta de reforma

curricular para o ensino médio. Estas propostas estão baseadas nas mudanças das formas dos

novos conhecimentos e seus desdobramentos, quanto à forma de produção e as relações sociais.

Para situar a educação brasileira, podemos usar a cronologia da nossa história política

e econômica. Sabemos que a nossa sociedade foi fruto de um regime de Ditadura Militar (1964 –

1985), sendo, por isso, regida em situações de controle. A formação da nossa sociedade dentro

desse regime garantiu com sucesso pessoas obedientes, sempre passivas. A educação neste

período era pautada em um paradigma tradicional, em que eram privilegiadas as pessoas

obedientes, para isso se valia da técnica de memorização e repetição mecânica; o aluno é sujeito e

submisso de outro, o professor, este numa situação de superioridade, de quem detém o saber,

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13

alguém capaz de transmitir conhecimentos e ainda se manter livre de questionamentos.

Reproduziam-se assim, as regras aceitas dentro de toda a sociedade, através da formação escolar.

Quando a nossa sociedade deixou de ser administrada pelo regime militar e conheceu

a democracia, essa troca de administração política necessitou de novos valores e outras propostas,

para tanto, as pessoas deveriam ter outras formações, outras atitudes, outros conhecimentos.

No Brasil, temos muitas razões para comemorar as novas propostas de uma educação

popular efetiva, com participação, espaços ampliados, direitos conquistados. É demonstração de

mudanças na Política Nacional de Educação a Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB nº

9394/96, que apoia a democratização do ensino; inclusão social e apoio à permanência na escola.

E que, no enfretamento de outros desafios, apresenta também novas exigências na formação, a de

não acumular conhecimentos, mas de uma preparação científica e capacidade de utilizar as

diferentes tecnologias relativas às áreas de atuação.

Tais mudanças na educação básica estão de acordo com os dois fatores seguintes:

As mudanças estruturais que ocorrem da chamada “revolução do conhecimento”

alternado o modo de organização do trabalho e as relações sociais, e a expansão

crescente da rede pública, que deverá atender a padrões de qualidade que se

coadunem com as exigências desta sociedade (MEC, 2000, p.6).

Todas as reformas educacionais que se fizeram necessárias estiveram amparadas pela

Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a qual também serviu de base para a elaboração

da Resolução que estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio

(DCNEM) e a Resolução CEB/CNE nº 03/98, explicitando os princípios e finalidades da

Educação Nacional. Uma das reformas da educação pela LDB (Lei 9.394/96) foi a inclusão do

ensino médio na educação básica.

Essas mudanças e as novas propostas também foram originadas em décadas passadas

(1990) nas novas relações entre os países, quando tivemos financiamentos de órgãos

internacionais, como o Banco Mundial (BID) e o Banco Internacional para a Reconstrução e

Desenvolvimento (BIRD), além de outros órgãos de cooperação técnica (UNESCO, por

exemplo). Para tanto, as reformas impostas ao Estado resultou numa diminuição dos gastos

públicos em relação à educação. Estes órgãos nas suas ofertas de financiamentos e empréstimos,

Page 15: A visão da educação ambiental em uma escola pública estadual de

14

também nos apresentaram as possíveis metodologias, como declarado no trabalho de Cury

(2002):

Desse modo, o investimento externo acertado junto a Bancos – investimento que

é dívida a pagar – foi mais do que um empréstimo. Ele veio acompanhado de

critérios contratuais (nem sempre transparentes) e mesmo de metodologias já

predefinidas (CURY, 2002, p. 168).

A nova etapa da educação básica tem então a formação geral, todavia, com novas

exigências entendidas como competências básicas, assim descritas:

O Ensino Médio, portanto, é a etapa final de uma educação de caráter geral,

afinada com a contemporaneidade, com a construção de competências básicas,

que situem o educando como sujeito produtor de conhecimento e participante do

mundo do trabalho, e com o desenvolvimento da pessoa, como “sujeito em

situação” – cidadão (MEC, 2000, p. 10).

Essa ação tem a expectativa, de acordo ainda com a nova Lei: “deverá vincular-se ao

mundo do trabalho e à prática social” (Art.1º § 2º da Lei nº 9.394/96).

Os novos valores atribuídos ao conhecimento escolar deverão ser capazes de romper

com o paradigma o qual conforma o indivíduo ao mundo do trabalho, como consta no

documento:

Disciplina, obediência, respeito restrito às regras estabelecidas, condições até

então necessárias para a inclusão social, via profissionalização, perdem a

relevância, face às novas exigências colocadas pelo desenvolvimento

tecnológico e social (MEC, 2000, p. 11).

Surge, portanto, outro objetivo para a nova educação do ensino médio:

A perspectiva é de uma aprendizagem permanente, de uma forma continuada,

considerando como elemento central dessa formação a construção da cidadania

em função dos processos que se modificam. Alteram-se, portanto, os objetivos

de formação no nível do Ensino Médio e do pensamento crítico (MEC, 2000, p.

11).

A nova proposta foi organizada em duas maneiras para a aplicação dos conteúdos

escolares, sendo os currículos definidos pela nova LDB (Lei nº 9.394/96):

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15

com uma Base Nacional Comum, a ser complementada, em cada sistema de

ensino e estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas

características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da

clientela (LDB nº 9.394/96, Art. 26).

Na parte comum do currículo da educação básica, os componentes curriculares já

ofertados: história, geografia, matemática, ciências, biologia, sociologia, filosofia, língua

estrangeira, considerados tradicionais, deverão, segundo a nova proposta da reforma curricular do

ensino médio, deixar de serem compartimentalizados e serem tratados de maneira interdisciplinar

e contextualizados, capazes de se articularem e apresentarem respostas aos problemas:

Em suma, a interdisciplinaridade tem uma função instrumental. Trata-se de

recorrer a um saber diretamente útil e utilizável para responder às questões e aos

problemas sociais contemporâneos (MEC, 2000, p. 21).

Com a proposta de interdisciplinaridade surge também a explicação:

A integração dos diferentes conhecimentos pode criar as condições necessárias

para uma aprendizagem motivadora, na medida em que ofereça maior liberdade

aos professores e alunos para a seleção de conteúdos mais diretamente

relacionados aos assuntos ou problemas que dizem respeito à vida da

comunidade (MEC, 2000, p. 22).

Das preocupações de uma nova forma de aprendizagem, que faça sentido e torne o

aluno envolvido na busca de solução e atuação durante a aula, que também seja significativa,

necessitando ainda da interação dos sujeitos envolvidos nessa nova prática educativa, levando o

aluno a fazer uso de suas competências e do seu conhecimento.

Ainda temos na proposta de mudança de currículo escolar uma parte dos

componentes identificada como parte diversificada, que segundo o documento oficial:

A parte diversificada do currículo destina-se a atender às características

regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela (LDB nº

9.394/96, Art. 26).

Complementa a Base Nacional Comum e será definida em cada sistema de

ensino e estabelecimento escolar. O seu objetivo principal é desenvolver e

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16

consolidar conhecimentos das áreas, de forma contextualizada, referindo-os a

atividades das práticas sociais e produtivas (MEC pp. 22-23).

Outro contexto relevante indicado pela LDB é o exercício da cidadania, que deverá

ser objeto de trabalho em todas as disciplinas já organizadas no currículo comum, diante da

convivência entre os sujeitos dentro da escola, a qual deve proporcionar diálogos, atitudes

políticas e sociais, na particularidade das decisões que serão também interesse da coletividade,

dentro da comunidade em que está inserida.

A nossa conclusão é de que as novas políticas educacionais estão sempre se alterando

com a finalidade de atender as exigências da sociedade. Ao trocar o regime ditatorial pela

democracia, a inclusão se fez presente, e ainda precisamos de nova postura do aluno para ser

considerado cidadão. A necessidade de inclusão de uma nova parcela da população na escola

pública pretende mudar a imagem do nosso público escolar. Se a educação fosse comparada a

uma pirâmide, teríamos uma pirâmide com a base larga e o vértice originado pelo estreitamento

ao longo dos níveis escolares. Com a nova proposta já se percebe outra figura, pois, além do

ensino fundamental, o ensino médio, agora dentro do que se classifica como educação básica, e

onde encontramos muito investimento, promoveu uma mudança dessa imagem.

Das realidades agora tão distintas surgem outros desafios às políticas públicas, como

espaço físico, formação de professores, novos valores, a presença da comunidade, entre outros.

Continuamos com desafios a serem superados.

1.1 PCN’s e Temas Transversais

São propostas dos PCN’s (Parâmetros Curriculares Nacionais) os Temas

Transversais. Estes deverão ser objeto de trabalho nas escolas, na expectativa de facilitar,

fomentar e contextualizar os conteúdos, a fim de construir uma aprendizagem com significados

para os alunos. Os temas transversais têm relevância social e são: ética, orientação sexual, meio

ambiente, pluralidade cultural, saúde, trabalho e consumo.

Os novos valores atribuídos ao conhecimento escolar deverão ser capazes de romper

com o paradigma que conforma o indivíduo ao mundo do trabalho.

Page 18: A visão da educação ambiental em uma escola pública estadual de

17

A aplicação dos conteúdos de acordo com as recomendações revela as funções desta

etapa da formação. Para a mudança de currículo espera-se consolidar os conhecimentos já

adquiridos, desenvolver a capacidade de continuar aprendendo, a capacidade de contextualizar e

ainda ter autonomia intelectual.

Os assuntos selecionados, para serem trabalhados num conjunto de disciplinas,

podem ser considerados temas transversais às áreas de conhecimento do currículo escolar, ou

seja, poderá ser uma aprendizagem facilitada devido à contextualização através da

interdisciplinaridade. E, que ao participar da construção do seu conhecimento, os alunos se

sintam numa ação capaz de despertar a prática da cidadania.

A redação dos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio demonstra que:

a interdisciplinaridade supõe um eixo integrador, que pode ser o objeto de

conhecimento, um projeto de investigação, um plano de intervenção (MEC,

1990, p. 76).

O objetivo da contextualização é dar sentido ao que será ensinado ao aluno, e então

podemos ter como ponto de partida a sua realidade, mas na necessidade uma solução e a condição

de escolhas darão condições para que o aluno alcance o seu desenvolvimento. A expectativa de

auxiliar na busca de solução e assim despertar a necessidade de adquirir conhecimento é o que se

conhece por competência.

Mesmo se apresentando como documentos oficiais e, portanto, capazes de nos

respaldar na proposta de uma nova educação nacional, consideramos que a prática escolar, no uso

da interdisciplinaridade com temas transversais, ainda não contempla a organização do ano

letivo, e por isso a escola pouco se modificou.

1.2 Educação Ambiental no Currículo Escolar

A nova educação com os temas transversais coloca como obrigatório a promoção da

educação ambiental (EA), pois, como consta na redação da Constituição Federal de 1988, Art.

225,§ 1º -, para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao poder público:

Page 19: A visão da educação ambiental em uma escola pública estadual de

18

VI – promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a

conscientização pública para a preservação do meio ambiente;

A educação ambiental teve legalidade na Constituição Federal de 1988. A partir de

1997, os Parâmetros Curriculares Nacionais a consolidaram (a educação ambiental) pela Lei da

Educação Ambiental nº 9.795 (27/04/99), e ela foi inserida nos temas transversais como Meio

Ambiente e Saúde (MEC, 1997), por se entender que os cuidados com meio ambiente são

indispensáveis para a manutenção e continuidade da vida no planeta.

A orientação dos PCNs é que o ambiente seja considerado uma totalidade devido à

interdependência entre o meio natural e o urbano, e que a economia, o social, o cultural estejam

sempre direcionados para a necessária sustentabilidade. Por isso, as ações deverão ser de nível

local, nacional e global. Assim, para atingirmos o objetivo proposto, torna-se fundamental que a

educação ambiental na escola possa conferir domínio e conhecimento sobre o assunto

relacionado aos problemas ambientais. Que se favoreça a pesquisa, a busca de informações,

tomadas de atitudes e a disponibilidade de aprendizagem. É, então, um trabalho interdisciplinar,

preocupado com a promoção do senso crítico na tentativa de transformação da realidade.

Das definições e temas sobre a educação ambiental, seguindo determinadas

características, Sauvé (1996) apresenta a explicação de educação ambiental sobre o meio

ambiente como aquisição de conhecimentos e habilidades derivados da interação com o meio

ambiente, fazendo dele um objeto de aprendizado; a educação no meio ambiente é aquela ao ar

livre, uma estratégia pedagógica, em que o contato com a natureza oferece um aprendizado

experimental, tornando-se um meio de aprendizado; ou a educação para o meio ambiente, na qual

o aluno é ativo e procura resolver e prevenir os problemas ambientais.

Das proposições de Sauvé (1996) quanto ao uso do meio ambiente na aprendizagem,

suas observações sobre a administração escolar e às novas propostas de aprendizagem, temos

nesta unidade escolar sugestões de atividades ecológicas tais como separação do lixo, dia da

árvore, horta de plantas medicinais, entre outras. Da tentativa de aproximação dos alunos com o

meio ambiente, da ideia de sustentabilidade, de ambientes ecologicamente corretos, percebemos

que a visão do meio ambiente é a de um ambiente controlado. A natureza poderá ser observada,

mas não sentida e explorada. Os responsáveis pela gestão escolar recebem nossas propostas, mas

Page 20: A visão da educação ambiental em uma escola pública estadual de

19

que destacam o contato com meio ambiente, com a natureza, é a possibilidade de acidentes ou

imprevistos com animais (picadas, mordidas, arranhões, etc.) e plantas perigosas (espinhos,

veneno, pigmentos). Então isso não se caracteriza como sugestões, mas, sim, empecilhos,

propostas contrárias.

Ao se observarmos o ambiente físico escolar, a administração burocrática e a

mediação politica que ali se aplica, podemos perceber o quanto são limitados os espaços, as áreas

livres, e ao citar Prescott (1987) concordamos quando ele escreve sobre as escolas, mesmo que só

para séries inicias, demonstrando como este conjunto de fatores, ao se posicionar em defesa de

que os efeitos do ambiente escolar , que ora modela ora inibe os comportamentos espontâneos e

naturais do processo de desenvolvimento da criança.

Percebemos a distância dos objetivos que se baseiam as engenharias e os seus

projetos em relação aos objetivos pedagógicos e por isso a falta de interação entre o ensino-

aprendizagem e a construção de mais uma obra. A construção está mais para delimitar um espaço

para a educação do que para as relações que ali deverão se estabelecer.

A unidade escolar em que desenvolvemos este estudo se enquadra na situação acima

descrita. Vale ressaltar que atende a um número muito alto de alunos por sala, até 55 alunos por

turma, além do pouco espaço destinado ao ambiente natural. Nesta escola há áreas construídas

separando o refeitório, o pátio; e poucos espaços destinados à área verde; este pouco que restou

não tem condições de reproduzir um ambiente natural interessante, não possibilita uma prática de

observação, análise, comparação. Isso é uma dificuldade para um aprendizado com o meio

ambiente, ou no meio ambiente. O nosso espaço escolar para o momento faz a diferença entre o

discurso e a prática social.

Do tema meio ambiente e educação ambiental podemos destacar que não é a escola o

único local em que eles possam ser trabalhados, mas que é no espaço escolar que temos a

reprodução das regras de convívio social, portanto, a escola é o local onde se sedimentam

paradigmas.

A começar pelas pesquisas e suas vertentes, das muitas contribuições, os documentos,

os pesquisadores sempre têm muito a nos apresentar. Todos indicam possibilidades de uma

efetiva educação voltada para o ambiente e o social, como sempre deveria ter sido. E que as

novas metodologias sejam processos de reflexão, de valorização além de:

Page 21: A visão da educação ambiental em uma escola pública estadual de

20

estudos bibliográficos e que possibilite um elo teórico para a reflexão das nossas

ações, para ousar um processo de[(trans) + (forma) + (ação)]de realidades

(SATO, 2000a), além de: modestamente em um âmbito escolar, universitário ou

qualquer outra instituição que pretendemos mudar (SATO, 2000a, p. 2).

Da leitura sobre pesquisas em educação ambiental e a epistemologia a respeito dos

paradigmas, Sato (2003), nos apresentou 4 eixos, os quais a autora identifica como principais:

O positivismo: esse método na pesquisa em educação ambiental está baseado no

“objetivismo” e produz um conhecimento sem críticas.

O construtivismo (ou interpretativismo): trata de uma compreensão e interação, além da

contextualização. A conclusão da autora é:

o construtivismo parece ser apenas um fim justificável para as indagações

educacionais; ao invés de ser um processo de transformação da realidade

(SATO, 2003, p. 9).

O sócio construtivismo: a apresentação desse tema pela autora declara que o objetivo

dessa teoria é de ação constitutiva. Assim ela o descreve:

O conhecimento é generativo, emergente e dialético, com pesquisas que

busquem a transformação das realidades como sujeita no processo histórico das

realidades multifacetadas (SATO, 2003, p. 9).

O pós-estruturalismo, que assim ela define:

É uma vertente que tenta a conjugação entre a sociedade e a natureza; no diálogo

necessário entre os diversos conhecimentos existentes, mergulhando a

racionalidade na emoção; na necessidade da compreensão das ciências que

estudam as partes, com as ciências que estudam o todo e as suas partes; e,

sobretudo no resgate da ética, solidariedade e coletivismo como alternativas

possíveis para alcançarmos uma humanidade mais responsável (TOLEDO, 2000

apud SATO, 2003, p.10).

Page 22: A visão da educação ambiental em uma escola pública estadual de

21

A educação ambiental que se realizou nesta escola tem característica da vertente

positivista, pois demonstrou um ato educacional que se encerra por si mesmo, que não considera

conflitos de interesse, porém, atua como se a educação fosse imune aos elementos de reprodução

do sistema. Precisamos entender que a questão ambiental é uma questão socioambiental.

O positivismo apresenta-se de forma sutil e com tal abrangência de abordagem que

suas ideias ainda estão na ordem de discursos do dia de muitas instituições, programas e planos

de governos. Muitas vezes, conscientes ou inconscientes muitos educadores acabam por aplicar o

positivismo em suas atividades, de tal forma que sempre esperam um resultado de seu corpo

discente satisfatório ou não. Não que se esteja condenando esse método, mas o que se há de

refletir é com relação à rigidez à qual ele é aplicado, a ponto de gerar certa discriminação com

relação à construção e produção de conhecimentos.

A educação ambiental é dotada de teorias e posicionamentos políticos, dos mais

conservadores até os progressistas. Mas para ser uma educação ambiental crítica deve estar

composta com seu conteúdo político-pedagógico, além dos discursos políticos-ideológicos sobre

as questões ambientais. Deve reconhecer a preocupação com a degradação ambiental para além

da visão moderna capitalista – a exploração da natureza- que ao ser diminuído passa a ser mais

valorizada, pois é recurso raro.

A educação ambiental em suas ações, na tomada de consciência, da possibilidade de

mudança de perspectiva, se não tratar de seus aspectos político-ideológico poderá começar de

maneira equivocada.

Dentro das possibilidades de mudança no currículo da nova proposta para educação

básica surgem as diversas maneiras de se aplicar a educação ambiental. Os diferentes

profissionais envolvidos: pedagogos, professores, associações, etc., também apresentam suas

escolhas e alternativas para a ação educativa, o novo fazer e entender as preocupações com o

meio ambiente e seu destaque dentro da educação. Percebemos a intenção dos que assim se

colocam à disposição, segundo suas teorias e experiências, e, portanto, “formaram-se ‘igrejinhas’

pedagógicas – sugerindo a forma ideal do educar, ou o ‘melhor’ programa, o ‘método’ mais

adequado” (SAUVÉ, 1998-1999 apud SATO, 2006, p.4), deixando para cada profissional da

educação a escolha e identificação com o perfil de seu público-alvo e em que contexto a ser

usado. Ainda percebemos que entre essas chamadas “correntes” há uma “maneira geral de

conceber e praticar a educação ambiental” (SATO, 2006, p.17).

Page 23: A visão da educação ambiental em uma escola pública estadual de

22

Podemos compreender que para realizar a educação ambiental de acordo com as

várias maneiras de educar e as várias correntes que se apresentam devemos nos deter em certos

pontos, ora convergentes, agindo mutuamente, ora tão divergentes que é possível observar uma

diversidade de práticas e valores que nos obrigam a defender nossas opções, separando, assim,

alguns grupos de educação ambiental.

As apresentações de cada uma das correntes serão definidas em função dos seguintes

parâmetros (SATO, 2006, p. 18):

A concepção dominante do meio ambiente;

A intenção central da educação ambiental;

Os enfoques privilegiados;

Os exemplos de estratégias ou de modelos que ilustram a corrente.

Corrente naturalista: com sua concepção da natureza, fazendo dos envolvidos um forte

enfoque voltado pela experiência, pelo apelo afetivo, despertar do perfil cognitivo, usando a

criatividade além da estética;

Corrente conservacionista: atribui os valores da natureza como necessários para manter a

qualidade e quantidade das produções e da valorização da extração e manutenção dos recursos

naturais, garantindo uma gestão ambiental, desenvolvendo o perfil cognitivo de novos

comportamentos;

Corrente resolutiva: apresenta a proposta de solução de problemas a partir de um

diagnóstico, da solução a partir de novas habilidades, de estudo de casos;

Corrente sistêmica: tem na sua participação a análise e síntese para uma visão global,

desenvolver novos pensamentos para a compreensão da situação e realidade ambiental para uma

tomada de decisão mais apropriada;

Corrente científica: voltados para a experiência científica, desenvolver atividades de

pesquisa hipotético-dedutiva;

Corrente humanística: desperta a concepção sobre o modo de vida, como interagir e viver

melhor com meio ambiente, como se sentir pertencente ao espaço natural;

Page 24: A visão da educação ambiental em uma escola pública estadual de

23

Corrente moral-ética: tem na sua concepção desenvolvimento e prática do civismo, do

ecocivismo, definição de novos valores, de crítica aos valores sociais;

Corrente holística: a partir das múltiplas interações do ser com o meio ambiente, ser

participativo, “‘conhecimento orgânico’ do mundo” (SATO, 2006, pág. 41);

Corrente biorregionalista: pratica as ações comunitárias, sejam elas locais ou regionais,

desenvolvendo por meio de projetos comunitários;

Corrente práxica: desenvolve ações e reflexões, garantindo a aprendizagem pela ação;

Corrente crítica social: interpretação da real causa dos problemas na tentativa da

transformação da realidade socioambiental, desconstrução de realidades postas, procura resolver

por pesquisa-ação, debates, pôr em prática a emancipação, objetivando a transformação;

Corrente feminista: determinar a participação feminina nas decisões do futuro do meio

ambiente, respeito aos seus diagnósticos e soluções;

Corrente etnográfica: o despertar das identidades, das culturas, de seus valores, de sua

prática com o meio ambiente, o uso dos contos, das lendas, da divulgação da tradição;

Corrente da ecoeducação: da concepção do meio ambiente, formar, despertar para uma

nova relação com meio ambiente e com o mundo;

Corrente da sustentabilidade: prática de contribuição e envolvimento no desenvolvimento

econômico sustentável, com aspectos sociais, ambientais, com menor impacto possível, ou até

mudança nas estratégias de produção, comercialização e divulgação do comércio, se necessário.

A prática de educação ambiental pode ser percebida dentro do calendário das

atividades escolares. O que devemos lembrar é que são atividades descontextualizadas. São ações

dentro de um modelo de escola tradicional na forma de transmissão de seus conteúdos

disciplinares, com a finalidade de transmitir conhecimentos, resultando em uma ação informativa

derivada da corrente conservadora. As pedagogias que se aplicam ainda no século XXI são de

caráter antropocêntrico, e sem mudanças, é a reprodução dos modelos impostos. Sendo sempre

Page 25: A visão da educação ambiental em uma escola pública estadual de

24

direcionado a uma disciplina transmitida de forma estanque, não contemplando a

interdisciplinaridade prevista nos PCN’s.

A nova situação pedagógica deverá provocar a reorientação dos currículos, pois essa

mudança deverá ter outros princípios, já que poderá desenvolver também um caráter

emancipatório, sendo necessárias mudanças dos conteúdos dos livros didáticos, lembrando o que

Jean Piaget destaca nos seus ensinamentos: “o currículo deve contemplar o que é significativo

para o aluno” (PIAGET, 2007 apud GADOTTI, 2009, p.10).

A prática da educação ambiental deverá produzir um novo currículo escolar. Por

não se comportar como disciplina, um dos seus princípios é que seja um eixo norteador de caráter

interdisciplinar. Deverá ser realizada com o uso de muitos recursos materiais, de diversos

métodos para favorecer a participação, valendo-se da ludicidade, brincadeiras, discussões, das

ações de alunos ativos num processo de contextualização e assim com maior possibilidade de

aprendizagem.

É assim que se apresenta a importância de uma educação para formação de

cidadania. A educação ambiental e a cidadania estão dentro de um mesmo princípio, a formação

de cidadãos, de indivíduos que conheçam a realidade, se comprometam e atuem de forma

autônoma, sejam responsáveis, dediquem e provoquem as mudanças necessárias, e estas atitudes

levem a melhoria não só da qualidade de vida, mas também da qualidade ambiental.

A educação ambiental, em vez de ser tomada como “prática pedagógica”, poderia

ser assumida como uma nova visão formadora, não apenas do professor em sua dimensão

profissional e cidadã, mas como uma política de transformação dos saberes necessários à

formação do homem.

A educação ambiental deverá ser um instrumento da compreensão, do

entendimento, do esclarecimento das relações sociais, e assim ter o poder de agir na própria

realidade. Esta educação ambiental para a cidadania promoverá a criticidade, a reflexão, da

capacidade de provocar um pensar e repensar em suas atitudes. Por isso também poderá ser essa

educação a base de uma prática da responsabilidade com o outro, do exercício da cidadania, da

resolução de problemas coletivos além dos individuais, na expectativa de relações mais

harmoniosa entre os indivíduos e o meio ambiente.

A educação ambiental se caracteriza pela emancipação, pelo exercício da cidadania,

do desenvolvimento da criticidade, com a expectativa de resgatar o sentimento de pertencimento,

Page 26: A visão da educação ambiental em uma escola pública estadual de

25

não podendo ser trabalhada de acordo com uma corrente considerada conservadora que

representa o caráter hegemônico.

É assim que surge a necessidade de uma educação ambiental considerada crítica

com a proposta de articulação, do exercício da cidadania e expectativa de resgatar o sentimento

de pertencimento. A escolha da educação ambiental crítica é a nossa expectativa de mudança.

Como nos explica Loureiro (2007):

Educação Ambiental Crítica é bastante complexa em seu entendimento de

natureza, sociedade, ser humano e educação, exigindo amplo trânsito entre

ciências (sociais ou naturais) e filosofia, dialogando e construindo “pontes” e

saberes transdisciplinares. Implica igualmente no estabelecimento de movimento

para agirmos pensarmos sobre elementos micro (currículo, conteúdos, atividades

extracurriculares, relação escola-comunidade, projeto político pedagógico etc.) e

sobre aspectos macro (política educacional, política de formação de professores,

relação educação-trabalho mercado, diretrizes curriculares etc.), vinculando-os

(LOUREIO, 2007, p. 3).

Diante de uma problemática ambiental e global temos a necessidade de uma interação

da sociedade na busca de soluções para problemas sociais e ambientais. As consequências dessa

problemática dependem de muito conhecimento, discernimento e respeito à diversidade para

atenuar seu impacto. A escola na percepção que pode ter sobre o meio ambiente, que poderá

colaborar provocar discussões e assim propor soluções pontuais ou até mais amplas.

É a educação ambiental que poderá nos oferecer uma nova proposta e nos orientar

para novas soluções, pois precisamos entender e nos envolver nas possibilidades de nova gestão

educacional, ambiental e também de cidadania para atuar nas políticas públicas, nas decisões

coletivas, no discernimento, nos novos valores, no cuidado com o outro e com o nosso planeta.

Para o modelo da nossa sociedade contemporânea é preciso uma redobrada atenção,

além de novos questionamentos e entendimentos devido à amplitude das questões ambientais e,

por isso, novas discussões sobre os paradigmas que ainda estão entre nós. Só assim vamos ter a

construção da cidadania ambiental. Isto sintetiza a explicação dos problemas que temos de

enfrentar.

Page 27: A visão da educação ambiental em uma escola pública estadual de

26

1.3 AGENDA 21

Outro documento interessante na área ambiental é a Agenda 21, que foi um dos

principais resultados da conferência Eco-92, ou Rio-92, ocorrida na cidade do Rio de Janeiro, em

1992. A Agenda 21 é um documento que estabeleceu a importância de cada país a se

comprometer a refletir, global e localmente, sobre a forma pela qual os governos, empresas,

organizações não governamentais e todos os setores da sociedade poderiam cooperar no estudo

de soluções para os problemas socioambientais.

A elaboração da Agenda 21 derivou da necessidade de um instrumento para a

tentativa de reconversão da sociedade industrial, necessidade de um novo paradigma econômico e

civilizatório e outra interpretação do conceito de progresso, na expectativa de promover melhor

qualidade ambiental e de vida, através da harmonia entre as partes, ao possibilitar um novo

planejamento procurando abrir um novo caminho para participação e ações de toda a população.

São ações da Agenda 21 a inclusão social, a educação, a saúde, melhor distribuição de renda, a

sustentabilidade, incluindo os sistemas de produção e consumo evitando o desperdício, a ética, a

política, que de ações locais, podem ser também de nível nacional e global. A Agenda 21 pode

ser considerada como ferramenta para o desenvolvimento da educação ambiental escolar.

A Agenda 21 Brasileira foi elaborada com o propósito de firmar os compromissos da

nossa sociedade com as responsabilidades diante das mudanças necessárias e em concordância

com as novas exigências para colaborar de maneira coerente e justa entre os povos.

A agenda 21 escolar está dentro do projeto do Ministério do Meio Ambiente em ação

conjunta com o MEC, conhecido como “Vamos Cuidar do Brasil com as Escolas”, em 2004. O

uso desse documento está na proposta do objetivo de que a escola se torne um espaço

democrático, capaz de desenvolver e acompanhar a educação ambiental de forma permanente,

que apresente inovações e novas práticas de aprendizagem, o cuidado com o ambiente e as

pessoas.

A agenda 21 escolar também poderá participar da construção do projeto político-

pedagógico da escola e poderá ser um dos instrumentos do conhecimento e participação na

agenda 21 local.

Das observações necessárias às ações do governo sobre a educação ambiental em

relação à proposta da Agenda 21 Escolar, é o fato deter na Secretaria de Educação do Estado de

São Paulo a proposta de uma Agenda 21, com o tema já selecionado: “Água Hoje e Sempre”:

Page 28: A visão da educação ambiental em uma escola pública estadual de

27

Consumo Sustentável, o qual não resultou de uma construção, mas sim de uma proposta para as

escolas, o que nos demonstrou uma aplicação verticalizada no currículo escolar:

Proposta da Agenda Ambiental na Escola, elaborada pelo Programa Nacional de

Educação Ambiental do Ministério do Meio Ambiente, em que se especificam as

ações de curto, médio e longo prazo necessário à formação de atitudes para a

redução de consumo e a discussão sobre o uso sustentável da água – as duas

finalidades convergentes destas orientações. Uma proposta unificadora para a

escola, a Agenda sintetiza os compromissos dos educadores e sinaliza para a

participação de diferentes atores e interesses. A Agenda é um programa de

atividades para que a questão da água se mantenha viva no âmbito escolar,

devendo ser continuamente trabalhada pela equipe pedagógica e administrativa

(SEE/SP, 2004, p. 107-108).

Ainda da necessidade da construção de novos valores, de novas atitudes, percebemos

algum “poder” na decisão de temas e ferramentas para o trabalho dentro da escola, mesmo que

identificado como educação ambiental para a formação da cidadania.

1.4 A necessidade da educação ambiental

Situamos aqui como a educação ambiental de postura política participa das

preocupações da organização da sociedade e, portanto, o entendimento dessas leis, dos interesses

e do modelo de desenvolvimento que deverá ser escolhidos por todos os interessados e

envolvidos. É assim que o comparecimento da sociedade civil nas aplicações de políticas

públicas se faz necessário. É um exercício de cidadania.

Apresentamos também as várias propostas das vertentes na educação ambiental

escolar, com seus propósitos e roteiros à disposição dos professores que procuram atuar em

projetos e atividades, às vezes, em conformidade com o sistema, às vezes contrariando-o. Porém,

a escolha é uma das ações políticas a que temos direito.

A percepção de meio ambiente pelos brasileiros diz respeito à flora e à fauna, não se

incluindo nelas as cidades e os homens. Nota-se assim, a necessidade de ampliação do conceito

de meio ambiente, que se mostra muito pobre no entendimento popular. Além disso, o

conhecimento de direitos e deveres ainda está por ser aprendido.

Page 29: A visão da educação ambiental em uma escola pública estadual de

28

Nas mudanças políticas ocorridas na sociedade, de parcerias nas soluções aos

problemas sociais, ambientais e econômicos, temos a sensação do pouco entendimento. Do termo

“política”, segundo Bobbio et al (1993 apud DIAS e MATOS, 2003), a definição clássica foi

herdada dos antigos gregos, no século 4a. C, na obra de Aristóteles intitulada Política:

O conceito de política é derivado do adjetivo originado de polis (politikós), que

significa tudo que se refere à cidade e, consequentemente, o que é urbano, civil,

público e até mesmo sociável e social (BOBBIO et al, 1993 apud DIAS e

MATOS, 2003, p. 2).

Ainda de acordo com esses autores:

Novas reflexões sobre a realidade que nos cerca são necessárias para o seu

entendimento e para que possamos pautar nossas ações por valores que sejam

resultado do amadurecimento da humanidade como um todo, e que envolvam o

respeito à vida, ao meio ambiente, à justiça social, o respeito à diversidade

cultural, às diferenças, enfim, um enorme conjunto de novas questões,

diretamente ligadas a ações que devem realizar o poder público para que sejam

oferecidas as condições adequadas para que se concretizem os novos e os

antigos direitos da pessoa humana (DIAS e MATOS, 2004, p. 2).

Também nos esclarecem que:

A política relacionada com o estudo das políticas públicas é justamente a

atividade que busca, pela concentração institucional do poder, sanar conflitos e

estabilizar a sociedade pela ação da autoridade, é o processo de construção de

ordem, que permita a pacífica convivência entre pessoas diferentes, com

interesses particulares e que buscam a felicidade para si, condição que lhes é

assegurada (ou pelo menos deveria ser) pela ação política do Estado (BOBBIO

et al, 1993 apud DIAS e MATOS, 2003, p. 3).

Deste modo, não é só na política pública de educação que se faz consenso na prática

da transversalidade. Confirmada a nova visão de conceitos e valorização das partes para atender

melhor ao todo, quando são somados os valores, os interesses e os compromissos dos vários

atores envolvidos, a resposta de uma política pública se aproxima muito mais da real necessidade

onde se aplicarão tais ações.

Page 30: A visão da educação ambiental em uma escola pública estadual de

29

Por meio de leituras sobre estudos das políticas públicas sabemos que estas podem ser

produzidas por processos indutivos, definindo agenda, impondo definições de problemas e

criando condições para sua própria ação. Capelo (2003 apud MARCONSIM, 2008) argumenta:

Políticas públicas desenvolvidas, predominantemente têm buscado compensar,

sem sucesso, as profundas desigualdades sociais e, vista de regra é

implementada de cima para baixo, não contemplando grupos baseados em

diferenças de raça, gênero, preferência sexual, geração, portadores de

necessidades especiais, entre outros, assim como os excluídos dos centros de

decisão por questões econômicas e culturais (CAPELO, 2003 apud

MARCONSIM, 2008, p.111).

A conclusão dessa afirmação é não atingir um melhor resultado, pois muitas das

políticas públicas podem nos dar a impressão de “remediar” e não solucionar, e que não estão

alinhadas com as necessidades dos envolvidos que dependem dos benefícios dela.

Para entender por onde se configuraram os modelos de desenvolvimento e de

educação para os países da América Latina, Marconsim (2008) expõe o cenário descrito por

Capelo (2003 apud MARCONSIM, 2008) que “a teorização vinda da Comissão Econômica da

ONU (CEPAL), no final da década 1940, apontava o desenvolvimento com base na substituição

de importações e ampliação do mercado interno” (MARCONSIM, 2008, p. 112).

A partir do modelo de desenvolvimento, outros temas passam a ter necessidade de se

apresentarem às novas políticas. Assuntos como meio ambiente, qualidade de vida,

desenvolvimento sustentável, o emprego, a energia, água e saneamento, entre outros, que estão

todos descritos no documento conhecido como RELATÓRIO BRUNDTLAND, são as novas

fontes de discussões na formulação de políticas públicas.

Dentro das preocupações das novas necessidades de organização das sociedades, e

nas propostas do RELATÓRIO BRUNDTLAND, estão todos os setores incluídos, assim como a

qualidade do desenvolvimento, avaliação do uso dos recursos naturais, entre outros.

Marconsim (2008) afirma sobre o Relatório: “Na sua formulação, a preocupação com

o aumento da escolarização formal dos sujeitos desses empreendimentos está na intencionalidade

de todos os documentos públicos, além da capacitação técnica e do desenvolvimento de

tecnologias sociais adequadas” (MARCONSIM, 2008, p.113).

Page 31: A visão da educação ambiental em uma escola pública estadual de

30

Em data muito recente, dezembro de 2010, as políticas públicas e responsabilidade

social tornou-se um assunto divulgado pela ONU. Trata-se de uma nova norma internacional,

ISO 26000: “Acordada pela maioria dos países e aceita de forma quase unânime que destaca um

novo papel das organizações como atores sociais relevantes de transformação social, incluindo

empresas, organizações do terceiro setor e as públicas” (DIAS e MATOS, 2003, p.177). No

entendimento dos autores, a responsabilidade social (RS) “representa o desafio de organizar as

relações econômico-sociais e o meio ambiente em um contexto globalizado, indo mais além do

social para converte-se em sustentável” (DIAS e MATOS, 2003, p. 178).

Dentro das explicações das atuais necessidades da responsabilidade social, estão:

No aumento de interesse, da atenção, além dos grandes desastres ambientais e

sociais, como os de Bophal, Chernobyl e Exxon-Valdez. Junto a isso, o Informe

de Brundtland (1987) e a Rio 92 que inspiraram um conceito de

desenvolvimento que vai além do crescimento econômico e de contínua geração

de riqueza definida exclusivamente em termos financeiros, para abranger

conceitos de equidade intra e intergeracional e qualidade de vida (FRANCO,

2007 apud DIAS e MATOS, 2003, p.178).

As novas atitudes foram incorporadas em vários organismos internacionais, entre

eles: Organizações das Nações Unidas (ONU), Banco Interamericano de Desenvolvimento

(BID), Organizações dos Estados Americanos (OEA) e União Europeia, atitudes estas “que

favoreçam a adoção da filosofia de Responsabilidade Social” (DIAS e MATOS, 2003, p. 179).

O Fórum Econômico de Davos, ocorrido em 1999, também demonstrou a

preocupação com a responsabilidade social. Além das responsabilidades entre as empresas e

corporações, também surge à preocupação “com a implementação de políticas públicas neste

campo” (LAFUENTE, 2003 apud DIAS e MATOS, 2003, p.180).

O Banco Mundial, em 2002, divulgou um documento: Papéis do Setor Público no

fortalecimento da responsabilidade social corporativa: um estudo de base, defendendo que nas

agências do setor público o ambiente é propício para a implementação da responsabilidade social.

Os responsáveis pelo documento explicam, segundo Dias e Matos (2003), que:

os ambientes para o desenvolvimento de negócios sustentáveis estarão mais bem

situados naqueles lugares onde o setor público tenha melhor compreensão e leve

adiante seu papel de liderança em relação à Responsabilidade Social (DIAS e

MATOS, 2003, p. 181).

Page 32: A visão da educação ambiental em uma escola pública estadual de

31

A explicação destes temas ao novo cenário político é que o poder público pode agir

como um facilitador, e assim estabelecer critérios de contratos e ações com empresas que

praticam a responsabilidade social. Entre os setores que mais necessitam dessas políticas temos

“setores-chaves para a comunidade como a educação e saúde” (DIAS e MATOS, 2003, p. 191).

Para tais realizações, cabe ao poder público lançar mão de ferramentas e mecanismos

que garantam essa gestão e são exemplos: criação de selos voluntários de produtos, bancos de

boas práticas e diretrizes para sistemas de gestão, incentivos fiscais, fomentar o consumo

socialmente responsável.

A conclusão do texto sobre a responsabilidade social é a de que “tem papel relevante

à educação ambiental e o aumento da participação” (DIAS e MATOS, 2003, p. 192). Entender de

política, portanto, depende de uma educação para saber se expressar e buscar os interesses; ter

educação ambiental é a garantia de qualidade de vida e de uma sociedade mais justa.

Dentro da nossa formação política e administrativa percebemos algumas mudanças e

uma nova visão de política pública, uma delas é descentralização do poder. De acordo com

Severino (1989, p.68): “A prática interdisciplinar é intencional e requer uma postura

interdisciplinar, e o processo de descentralização que por ora se apresenta com novos

significados”.

A descentralização do poder, para além do nível municipal e estadual, está também

nas escolas de ensino básico, na criação de seus próprios currículos com a participação da

comunidade local. Ao elaborar o Projeto Político Pedagógico, este será o instrumento mediador.

Mesmo que a nossa legislação e a escola ainda se apresentem de forma fragmentada,

já percebemos algumas mudanças, mesmo com pouca expressão. É assim que surge a

necessidade de respostas articuladas e de uma postura interdisciplinar.

1.5 Os caminhos que permeiam a Educação Ambiental

Para diagnosticar os caminhos que foram propostos para a educação ambiental no

Brasil e na tentativa de analisar alguns documentos, autores e situações sobre este tema, o autor

Carlos Loureiro (2209) descreve como a educação ambiental demorou a surgir entre nós. Ele nos

Page 33: A visão da educação ambiental em uma escola pública estadual de

32

lembra que embora a educação ambiental tenha sido incluída na Constituição Federal de 1998,

ela já se encontrava em discussão pelo Conselho Federal de Educação em 1987. O autor ainda

nos declara “que o debate ambiental se instaurou no país sob a égide do regime militar nos anos

setenta” (LOUREIRO, 2009, p. 79), e por isso sem a participação popular. Dada à situação

política internacional: “falar em ambiente era pensar em preservação do patrimônio natural, em

um assunto técnico voltado para a resolução dos problemas ambientais identificados e em algo

que impedia o desenvolvimento do país” (LOUREIRO, 2009, p. 80).

Mesmo começando a despontar o vínculo do social ao ambiental, de maneira muito

modesta e sem grande proporção, na tentativa de situar a posição do país na Conferência de 1992,

o documento Relatório Nacional – da extinta Comissão Interministerial para o Meio Ambiente

(CIMA), demonstrou como a educação ambiental era secundarizada no debate político. No

relatório está escrito:

A peculiaridade notável da década de 1970 está no fato de que a Educação

Ambiental se inseriu primeiro na estrutura administrativa dos órgãos públicos de

meio ambiente, em vez de ser objeto de trabalho do sistema educativo. Isto

talvez se explique em razão dessa educação ser, a época, ainda carente de

desenvolvimento conceitual e, logo, vinculada mais ao ambiente do que à

educação propriamente dita (CIMA, 1991, p. 63).

Loureiro (2009) aponta que esse foi o principal problema, pois:

A Educação Ambiental não foi percebida: como processo educativo, reflexo de

um movimento histórico, produziu uma prática descontextualizada, voltada para

a solução de problemas de ordem física do ambiente, incapaz de discutir

questões sociais e categorias teóricas centrais da educação (LOUREIRO, 2009,

p. 63).

Desse modo, podemos concluir que esse fato desviou a função da educação, deixando

esta de ser o veículo da transformação social.

Usando a leitura do autor Dias (2001), lembramos as respostas às Recomendações da

Conferência de Estocolmo, onde a UNESCO promoveu, em 1975, o encontro internacional sobre

educação ambiental, com a participação de 65 países, sendo seus representantes especialistas que

formularam então os princípios e orientações para um programa internacional de educação

Page 34: A visão da educação ambiental em uma escola pública estadual de

33

ambiental: que fosse um programa contínuo, multidisciplinar, integrado às diferenças regionais e

voltado para os interesses nacionais.

Dando continuidade aos propósitos, nos dois anos seguintes uma nova Conferência

foi realizada a fim de estabelecer as bases conceituais, as metodologias para o desenvolvimento

da educação ambiental em nível mundial. Nasceu nesse encontro a Carta de Belgrado dedicada à

nova ética global: a erradicação da pobreza, da fome, do analfabetismo, da poluição, da

dominação e exploração humana.

É nítida a situação de descaso do Brasil ao setor da educação ambiental pela falta de

interesse dos políticos dominantes e pela ausência de política educacional definida para o país.

Surgiu, todavia, o interesse entre os órgãos estaduais de meio ambiente e as Secretarias de

Educação dos Estados. Nas observações de Dias (2001), O MEC e o MINTER, como para

reafirmarem as suas inoperâncias, firmaram Protocolos de Intenções, com o objetivo de

formalizar trabalhos conjuntos, no ano de 1987, visando a “inclusão de temas ecológicos” nos

currículos de 1º e 2º graus. “Tais Protocolos de Intenções, pérolas refinadas da idiossincrasia

tecnocrata vigentes, nunca saíram realmente das intenções e seriam prósperos em fazer a conexão

entre o nada e coisa alguma” (DIAS, 2001 p. 81).

Por falta de princípios, objetivos e metodologias, em várias oportunidades de

encontros, a Conferência de Tbilisi – considerada o ponto culminante da Primeira Fase do

Programa Internacional de educação ambiental, nasceram através de seus representantes, o

pedido de inclusão em suas políticas de educação, medidas que visassem à incorporação a

conteúdos, diretrizes e atividades ambientais nos seus sistemas de ensino, em que deverão ser

considerados todos os aspectos que compõem a questão ambiental: políticos, sociais,

econômicos, científicos, tecnológicos, culturais, ecológicos e éticos. A educação ambiental

deveria ser o resultado de uma reorientação e articulação de diversas disciplinas e experiências

educativas, que facilitassem a visão integrada do ambiente.

No Brasil, o MEC (Ministério da Educação e Cultura), ao lançar o documento

Ecologia: uma proposta para o ensino de 1º e 2º graus, ao qual se atrelava a disciplina de

Ciências Biológicas, não abordava em sua plenitude o que preconizava na Conferência de Tbilisi.

Como questionou Dias (2001, p. 84): “Se apenas os aspectos biológico-ecológicos estavam sendo

enfatizados, a quem interessaria essa abordagem?”.

Page 35: A visão da educação ambiental em uma escola pública estadual de

34

O documento que apresentou a proposta: resolução para o CONAMA (Conselho

Nacional do Meio Ambiente), ao estabelecer suas diretrizes, propõe:

Processo de formação e informação social, orientado para o desenvolvimento da

consciência crítica sobre a problemática ambiental, de habilidades necessárias à

solução de problemas ambientais, atitudes que levem à participação das

comunidades na preservação do equilíbrio ambiental (DIAS, 2001, p. 8).

Por tais objetivos não interessarem, ao serem apresentados, foram retirados da pauta

de votação do plenário tão logo possível.

Com expectativas de fomentar a educação ambiental em ações conjuntas, a SEMA

(Secretaria Especial do Meio Ambiente), Fundação Universidade de Brasília, CNPq (Conselho

Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), CAPES (Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e Pnuma (Programa das Nações Unidas para o

Meio Ambiente) realizaram o 1º Curso de Especialização em educação ambiental, para formação

de recursos humanos. Ao se perceber a capacidade desses profissionais, quando os interesses

eram contrários à política, com suposta falta de verbas, o curso foi extinto.

Assim, em todas as tentativas, a partir da Conferência de Tbilisi, não tínhamos

conseguido atingir o objetivo da educação ambiental: “um processo educacional renovador e

promotor de mudanças sociais, políticos e econômicos, absolutamente necessárias à nação e ao

seu povo” (DIAS, 2001, p. 86).

Ainda envolvendo os países nessas mudanças sugeridas e necessárias, a próxima

Conferência teve como finalidade apresentar as dificuldades, os acertos para a implantação da

educação ambiental. Nesse momento, o Brasil não apresentou nenhum relatório. Surgiu para esse

encontro, o Parecer 226/87 do Conselho Federal de Educação, declarando a necessidade da

inclusão da educação ambiental nos currículos das escolas de 1º e 2º graus. Dias (2001) afirma:

O vexame que o Brasil passara frente à comunidade do encontro de Moscou (de

17 a 21 de Agosto de 1987), teria fortes repercussões internacionais e chegaria

até ao Banco Mundial e a outros organismos internacionais da área ambiental de

alto potencial de pressão política (DIAS, 2001, p.87).

Page 36: A visão da educação ambiental em uma escola pública estadual de

35

Já em 1988, ocorreram inúmeras catástrofes (desmatamentos, efeito estufa,

crescimento populacional, pobreza internacional, atos terroristas, etc.), junto:

Às pressões para o pagamento da dívida externa, contraída pelos países

subdesenvolvidos, como responsáveis por transformações drásticas na

economia, na sociedade e no ambiente dos devedores (...). Assim, tivemos um

distanciamento cruel entre as classes sociais (DIAS, 2001, p. 87).

É nesse ano que sai a nossa nova Constituição, na qual um capítulo traz o papel do

Poder Público: “promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização

pública para a preservação do meio ambiente” (Capítulo VI, Artigo 255, Parágrafo 1, item

VI),destacando que o artigo sofreu várias alterações no sentido de diminuir sua eficácia,

conforme interesses de alguns.

No ano seguinte, em 1989, foi criado o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos

Recursos Naturais Renováveis – IBAMA, que além de suas funções de coordenar e executar a

Política Nacional do Meio Ambiente, deveria também estimular a educação ambiental, o que não

se concretizou, devido à falta de investimento nas capacitações dos seus profissionais, visto o seu

compromisso de ter “sua presença em todos os campos de atuação” (DIAS, 2001, p. 80). O que se

concretizou foi uma prática de diluição, onde a colocação das divisões hierárquicas criadas dentro

do IBAMA, “resultou numa falta de compromisso e seriedade do governo e seus asseclas

nacionais e transnacionais com as questões ambientais” (DIAS, 2001, p. 88).

Na insistência de alguns poucos interessados em educação ambiental, uma tentativa

de efetivação foi o curso de Ecologia, um programa da Universidade Aberta, com apoio da

Fundação Demócrito Rocha, já com:

Visão holística, integradora, que analisava as nossas mazelas ambientais sob

diferentes aspectos, oferecendo às pessoas uma reflexão política, social,

econômica, cultural, ecológica e ética das principais questões que nos afligem, e

que continuam até hoje, muitas delas agravadas e acompanhadas de outras novas

(DIAS, 2001, p. 89).

Page 37: A visão da educação ambiental em uma escola pública estadual de

36

Outra oportunidade foi o curso de Especialização em educação ambiental, ações

conjuntas entre o Pnuma, CNPq, Capes e IBAMA, na Universidade Federal de Mato Grosso, em

Cuiabá, tendo o mesmo fim do anterior.

Assim, ao longo de vários anos de eventos de educação ambiental em que o Brasil

participou, não logrou nenhum processo eficaz.

Dentro do MEC (Ministério da Educação e Cultura) e do IBAMA, um grupo de

interessados em educação ambiental, se propuseram a divulgar suas premissas para professores

de 1º e 2º graus, dentro da Revista Nova Escola, que foi alvo de críticas, além da morosidade para

sua circulação. Todavia, teve apoio do Presidente da República, Fernando Collor de Melo, que

ordenou sua imediata publicação.

Já em 1989, sob a coordenação da professora Neli Aparecida de Melo, criou-se o

Grupo de Trabalho para a educação ambiental, sendo essa uma boa ação do MEC. Esse mesmo

grupo tornou-se permanente pela Portaria 773 de 10/05/1993, e conseguiu realizar em apenas

dois anos muitas das atividades propostas para o MEC, desde 1977, quando o Brasil participou da

Conferência de Tbilisi. Com a mudança de governo, esse grupo sofreu mudanças, reformas e

entraves da nova administração, através da “descentralização”.

Em 1994, o MEC, o MMA (Ministério do Meio Ambiente), o MCT (Ministério da

Ciência e Tecnologia) e o MinC (Ministério da Cultura do Brasil), apresentaram o Programa

Nacional de Educação Ambiental – Pronea, na soma dos esforços resultou na Lei 9795/99, da

Política Nacional de Educação Ambiental, em 27/04/1999.

Encontrar uma legislação de educação ambiental que garanta os princípios de um

cidadão brasileiro, nos dará o respaldo em aulas alternativas e realísticas, capazes de envolver os

alunos, a escola e a comunidade local.

Dentro dos objetivos da Política Nacional de Educação Ambiental, está proposta, em

seu art. 5º, uma compreensão integrada do conceito de meio ambiente, das múltiplas e complexas

relações, além das que envolvam os elementos naturais, também as que relacionam as formas de

organização de espaço juntamente à relação com o ser humano, em sua presença e ações.

Os espaços naturais e os ocupados pelo homem, segundo a Lei, garantirão a

democratização das informações, das problemáticas existentes, sejam ambientais ou sociais, e

que estas possam estimular à consciência crítica A participação individual se fará coletiva no

Page 38: A visão da educação ambiental em uma escola pública estadual de

37

espaço escolar, nas comunidades. Do envolvimento resulta a responsabilidade e a prática do

exercício da cidadania.

A prática desta ação coletiva realizada simultaneamente no território nacional fará,

através da cooperação entre as regiões, a construção com democracia, da tão preconizada

sociedade sustentável. Participação entre as regiões, o aceite do outro, o diálogo, a escolha

definida para aquela situação terá apoio no princípio da liberdade e da responsabilidade. Assim,

na participação de todos, podemos nos apoiar na solidariedade e igualdade perante a Lei.

Nesta Lei, portanto, a educação ambiental é preconizada com o princípio da

participação, na tentativa de se atingir uma nova consciência ecológica e social, pois, a educação

ambiental, os sujeitos são titulares do direito ao meio ambiente e de uma sociedade mais justa. A

educação ambiental é também, um direito do cidadão, assim como seus deveres dentro da

constituição da cidadania.

Pelas leituras realizadas, observamos que os movimentos a favor da educação

ambiental demoraram a se estabelecer apoiados em Leis, decretos e as práticas escolares. E, o

Brasil, pouco apresentou em termos de trabalhos e esforços para tal. Como afirma Loureiro

(2009, p. 80): “No Brasil, em particular, a educação ambiental se fez tardiamente”.

Pelo estudo desse autor, percebemos que o movimento ambientalista passou a ser

interesse público e social somente na década de oitenta. Ainda com viés conservacionista, por

influência da classe média europeia, deu “o tom político predominantemente nas organizações

recém-formadas, algo que refletiu imediatamente no processo de formação do Partido Verde

brasileiro” (LOUREIRO, 2009, p. 80).

O autor descreve como os órgãos de meio ambiente, como a FEEMA (Fundação

Estadual de Engenharia do Meio Ambiente), no Rio de Janeiro; a CETESB (Companhia de

Tecnologia e Saneamento Ambiental), em São Paulo, apresentaram material didático de

qualidade, atrelando o social ao ambiente, mas sem grande expressão na sociedade. Então, a falta

de envolvimento, a pouca importância, os significados políticos, as práticas descontextualizadas

resultaram na impossibilidade de concretizar a educação ambiental e “ignorou os princípios do

fazer educativas e a diversidade e radicalidade inserida no ambientalismo perdendo o sentido de

educação como vetor de transformação social e civilizacional” (LOUREIRO, 2009, p. 81).

Deste modo, temos sim uma política pública de educação, porém em seu papel de

mediador de conflitos e interesses, o Estado, mesmo denotando o trabalho pelo bem comum, não

Page 39: A visão da educação ambiental em uma escola pública estadual de

38

se apresenta neutro, pois cabe a ele decidir quem ganha ou quem perde nesse processo, quando se

destaca “as diferenças entre distribuições de bens e necessidades de grupos definidos”

(LOUREIRO, 2009, p.87). Além da Política Nacional de Educação Ambiental, podemos analisar

os caminhos e as bases conceituais as quais nos permitem compreender suas contradições, “à luz

da teoria e da pedagogia crítica” (LOUREIRO, 2009, p. 88).

Ainda para o autor, não deveria ser preciso discutir sobre as já anunciadas e

amplamente utilizadas categorias conceituais em educação ambiental, já que as mesmas foram

registradas em documentos oficiais, resoluções, diretrizes, desde Belgrado e Tbilisi, década de

70, que ao passarem por ações teórico-metodológicos tão comuns e recorrentes, esvaziaram de

sentido.

Loureiro (2009) ainda observa a perda de densidade na compreensão do que

caracteriza a educação ambiental e da capacidade de refletir e se posicionar diante das tendências

existentes, que legitimamente buscam se afirmar no processo de consolidação da educação

ambiental enquanto política pública no país. Na interpretação desse autor, “criou-se um consenso,

pela baixa problematização teórico-prática, de que todos os educadores ambientais se pautam

numa única visão de mundo” (LOUREIRO, 2009, p.19).

Podemos considerar que a definição de educação ambiental, para uma formação

crítica precisará desenvolver conceitos, categorias e sua identidade, que tenha um corpo teórico

que possibilite compreendê-la em seu sentido educativo e transformador, contrapondo-a ao

grande bloco hegemônico de tendências que a definam essencialmente como o fazer pedagógico

comportamentalista e tecnocrático responsável por “ecologizar” a ética e a cultura. Loureiro

(2009) ainda afirma:

Não é estabelecer contrapontos reflexivos em busca de um modelo padrão a ser

seguido por todos os educadores. (...) Isso seria reducionismo epistemológico e a

negação do educar como processo dinâmico. Um posicionamento que se

pretende “apolítico”, em nome da verdade científica e do ambiente reificado,

expressa um modelo de ciências e de educação positivista ou mecanicistas,

hierarquizadas e tradicionais, incongruentes com propostas de rupturas

paradigmáticas e sociais (LOUREIRO, 2009, p. 23).

Destacamos do autor citado um de seus esclarecimentos: nossa perspectiva de

educação se consolidou em duas vertentes que se desdobraram em concepções e tendências:

Page 40: A visão da educação ambiental em uma escola pública estadual de

39

a. Pedagogia histórico-crítica inspirada em Marx, Gramsci, Makarenko e Georges

Snyders, como também os nomes Dermeval Saviani, Marilena Chauí, José Carlos

Libaneo, Carlos Jamil Cury;

b. Pedagogia libertária, de Paulo Freire, Moacir Gadotti, Carlos Rodrigues Brandão,

Vanilda Paiva, Miguel Arroyo, entre outros (LOUREIRO, 2009).

A importância dessa perspectiva pedagógica associada a Paulo Freire, confirma que

apesar de o educador nunca ter escrito sobre a educação ambiental, sua atuação na educação

colocou como premissa a impossibilidade de superação das contradições nas relações sociais

vigentes por meio da educação reprodutora da sociedade capitalista, à qual chamava de

“educação bancária”, favorecendo assim uma educação tecnocrata e conservadora, uma educação

que procura “transformar a mentalidade dos oprimidos e não a situação que os oprime” (FREIRE,

1987apud LOUREIRO, 2009, p. 25).

Marcos Reigota (2009) lança as críticas sobre que educação ambiental se quer fazer e

esclarece que precisamos estar informados de que o problema que se apresenta não é o aumento

de pessoas que precisam morar, vestir, se alimentar, e sim problemas relacionados ao consumo de

recursos naturais e das riquezas provocadas pelo sistema capitalista de desenvolvimento nos

países industrializados.

Dentro do sistema capitalista, o discurso que se apresenta não é o consumo de

recursos naturais e riquezas pelos países desenvolvidos, mas do aumento da população (pobre)

então, a necessidade é da ampliação da distribuição justa e equitativa dos recursos naturais (e

alimentos) e dos bens culturais (educação) necessários para a manutenção de vida com dignidade

em todo o mundo; além de outro argumento, destacado pelo mesmo autor, o da educação

ambiental estar ligada à conservação das espécies – então ligada à ecologia – sem que ela tivesse

que se preocupar com os problemas sociais e políticos que provocavam esta situação de

desaparecimento das espécies. Segundo Reigota (2009):

A educação ambiental como política está comprometida com a ampliação da

cidadania, da liberdade, da autonomia e da intervenção direta dos cidadãos e

cidadãs na busca de soluções e alternativas que permitam a convivência digna e

voltada para o bem comum (REIGOTA, 2009, p.13).

Page 41: A visão da educação ambiental em uma escola pública estadual de

40

Consideramos verdadeira a afirmação desse autor quando destaca que a educação

ambiental como “educação política” é, por princípio, questionadora das certezas absolutas e

dogmáticas; é criativa, pois busca desenvolver metodologias e temáticas ambientais que

possibilitem descobertas e vivências, estimula o diálogo de conhecimentos científicos, étnicos e

populares, diferentes manifestações artísticas, crítica em relação aos discursos e práticas que

desconsideram a capacidade de discernimento e de intervenção das pessoas e dos grupos

independentes e distantes dos dogmas políticos, religiosos, culturais, sociais e da falta de ética.

Enquanto prática político-pedagógica, a educação ambiental determinada histórica e

socialmente, pretende possibilitar o desenvolvimento e a escolha de estratégias de ação, que

venham a contribuir para a construção do processo de cidadania e para a melhoria da qualidade

de vida da população.

Entre as décadas de 60 e 70, tivemos uma preocupação e muitas discussões sobre o

ensino formal. Aparece nesta época a educação ambiental como uma proposta alternativa para o

sistema de ensino, com releitura de autores como Rousseau, Froebel, Dewey, Montessori,

Steiner, além de Paulo Freire (GADOTTI, 2009).

A cada intervenção para mudanças de atitudes, a educação ambiental também foi

apresentando novas áreas de conhecimentos, um tema foi associado à gestão ambiental; em outra

época ao gênero, depois para o desenvolvimento, para a paz e para os direitos humanos; no

evento Rio-92 a ênfase se deu em três dimensões: ecologia, economia e sociedade (GADOTTI,

2009, p.80). Nas várias maneiras de se praticar a educação ambiental, deve-se ter consciência das

reais mudanças de hábitos para sentirmos os seus resultados, que poderá sim ser positivos,

quando decidirmos por ela (educação ambiental), tivermos liberdade, cidadania e a administração

de uma nova forma, com pessoas envolvidas e participativas.

A Conferência Internacional Sobre Meio Ambiente (ECO-92), realizada no Rio de

Janeiro, em junho de 1992, classifica o ensino como:

Fundamental para conferir consciência ambiental e ética, os valores e atitudes,

técnicas e comportamentos em consonância com o desenvolvimento sustentável,

e que favoreçam a participação pública efetiva nas tomadas de decisões (RIO de

JANEIRO, 1992, 350).

Page 42: A visão da educação ambiental em uma escola pública estadual de

41

Para tanto, é necessário que se desenvolva a responsabilidade individual e coletiva em

níveis locais, nacional e planetário. Pensar em educação, acrescida da palavra ambiental nos

tempos de hoje, implica, portanto, rever conceitos tais como ética, cidadania, liberdade,

solidariedade.

No Capítulo 36 da Agenda 21, a educação ambiental é definida como um processo

que busca:

(...) desenvolver uma população que seja consciente e preocupada com o meio

ambiente e com os problemas que lhes são associados. Uma população que

tenha conhecimentos, habilidades, atitudes, motivações e compromissos para

trabalhar, individual e coletivamente, na busca de soluções para os problemas

existentes e para a prevenção dos novos (...) (FEAM).

O gerenciamento do meio ambiente significa a implementação de ações articuladas,

as quais resultam da conscientização, mudança de hábitos e comportamentos. A educação

ambiental deve ser considerada como processo de interação entre sociedade e o meio em que ela

se insere, a partir da observação e da reflexão da população. Não deve a educação ambiental,

contudo, ser ministrada de maneira isolada, compartimentalizada, mas, sim, de maneira

interdisciplinar, tendo sempre em consideração o cotidiano dos alunos.

Com a conclusão destas leituras, podemos perceber que a educação ambiental se faz

presente e deverá ser permanente, pois tem apoio nas Leis da Educação Brasileira. Ao oferecer a

oportunidade da cidadania, de uma escola democrática, que seja capaz de tornar seus alunos

conscientes, responsáveis e sabendo interpretá-la, estão aptos a praticá-la de acordo com as

nossas leis.

A educação capaz de provocar transformações deve ser emancipatória, justa na

distribuição de bens e, por isso mesmo, capaz de promover a inclusão e ser igualitária.

1.6 A Representação de Grupos: A Escola

A escola pode auxiliar no processo de transformação equilibrada da vida, por

intermédios da participação ativa da comunidade escolar, e, posteriormente, com o envolvimento

Page 43: A visão da educação ambiental em uma escola pública estadual de

42

de outras parcelas da sociedade, de forma a alcançar melhorias das infraestruturas comunitárias,

dos serviços públicos e, consequentemente, a valorização da qualidade de vida.

Segundo Guimarães (1995), o conteúdo escolar é a apreensão sistematizada

(conhecimento) de uma realidade. Se, em uma aula, o educador se restringir apenas ao conteúdo

pelo conteúdo, não o relacionando com a realidade, estará descontextualizando esse

conhecimento, afastando-o da realidade concreta, tirando-lhe o significado e alienando-o.

Lopes (1988) cita a necessidade de trabalhar a educação ambiental relacionada a um

planejamento participativo. Para esse autor:

A ação de planejar implica a participação ativa de todos os elementos envolvidos

no processo de ensino, deve priorizar entre teoria e prática, o planejamento deve

partir da realidade concreta (aluno, escola, contexto social), deve estar voltado

para atingir o fim mais amplo da educação (LOPES, 1988, p.51).

É importante salientar que o planejamento em educação ambiental deverá partir da

realidade local, mas inserida na realidade global.

Reflexos do que ressalta Lopes (1990) podem ser observados na experiência do

Conselho de Educação de Toronto, no Canadá (UNESCO, 1999). Este órgão realizou uma grande

reforma no seu currículo escolar, por meio de consulta em massa à comunidade, cuja questão que

norteou a consulta foi: O que os alunos devem saber fazer e valorizar quando se graduarem?. As

consultas comunitárias tiveram a duração de um dia e após análise dos resultados verificou-se

que a comunidade não desejava nada de revolucionário. Os seis resultados específicos foram:

alfabetização, faculdade de apreciar a arte e a criatividade, comunicação e colaboração, manejo

da informação, cidadania responsável e aptidões, valores e atitudes para a vida pessoal. Pode-se

perceber que os desejos da sociedade são amplos e podem compor a formação da comunidade

acadêmica, sendo que a formação acadêmica se apresenta mais restrita.

Reigota (2007) corrobora em seu argumento:

As sociedades modernas, calcadas no individualismo, devem se integrar por

meio de crenças e pensamentos comuns, representações que produzem uma

solidariedade orgânica, imprescindível para construção de uma estabilidade

entre os indivíduos e sua coletividade (REIGOTA, 2007, p. 67).

Page 44: A visão da educação ambiental em uma escola pública estadual de

43

Sendo assim, se a política ambiental pode ser pensada de forma democrática por

tratar de uma construção social, os governos devem ser também conduzidos pelo envolvimento e

participação da sociedade.

O Estado, na intenção de envolver os cidadãos em assuntos sobre meio ambiente,

apresenta a responsabilidade da educação ambiental com novo enfoque educativo que seja capaz

de promover mudanças individuais e coletivas, locais e globais, econômicas e culturais.

A educação ambiental transformadora possui um caráter emancipatório, pois situa o

sujeito como agente de transformação da realidade. Na possibilidade de surgimento de conflitos é

que a legislação se fará presente. Assim, ao situar o novo agente de transformação da realidade, o

cidadão poderá estar presente na vida política de modo consciente, com ética, ter acesso aos

direitos fundamentais e ao meio ambiente. É exercício de cidadania.

A educação ambiental deverá acontecer através da construção de metodologias,

procedimentos e outras orientações pedagógicas resultantes da troca de experiências, pelas

iniciativas e adaptações a cada realidade educacional. Essas propostas e mudanças têm a

expectativa de práticas inovadoras e não uma reprodução de atividades.

Por isso, políticas públicas, educação ambiental e cidadania em suas interações se

apresentam de “maneira interdisciplinar”, pois é a situação necessária de uma educação para a

conscientização, participação na tentativa de transformações da sociedade e da busca da

sustentabilidade ambiental, da garantia de seus direitos.

Page 45: A visão da educação ambiental em uma escola pública estadual de

44

CAPÍTULO 2

METODOLOGIA E DISCUSSÕES

A nossa opção metodológica foi a de realizar uma pesquisa qualitativa, considerada

apropriada aos nossos objetivos. Conforme Minayo (1993), a pesquisa qualitativa permite

compreender os valores culturais e as representações de determinado grupo social sobre temas

específicos; levando-nos a compreensão das relações entre os atores sociais, seja nas instituições

públicas como também nos movimentos sociais. E, também, porque a pesquisa qualitativa nos

permite avaliar as políticas públicas e sociais, partindo de sua formulação até seu destino, a

população. Vale ainda destacar algumas características de uma pesquisa qualitativa, consideradas

por Bogdan (apud TRIVIÑOS, 1987, pp.127-131) como básicas e reais, a saber:

A pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como fonte direta dos dados e o

pesquisador com instrumento-chave;

A pesquisa qualitativa é descritiva;

Os pesquisadores qualitativos estão preocupados com o processo e não simplesmente com

os resultados e o produto;

O significado é a preocupação essencial da abordagem qualitativa.

Na escolha dessa metodologia, a pesquisa qualitativa foi realizada numa escola da

rede estadual do município de Campinas-SP, localizada no Jardim Campo Belo I. O objeto de

estudo foi um questionário respondido por 27 alunos do ensino médio do período noturno da

Escola Estadual Professora Celeste Palandi de Mello. Tal pesquisa pode ser considerada um

estudo de caso, configurando o que afirma Trivinõs: “O estudo de caso é um tipo de pesquisa

cujo objeto é uma unidade que se analisa em profundidade” (TRIVINÕS, 1987, p. 133).

Para o autor, o estudo de caso é uma investigação qualitativa que pode ser

desenvolvida dentro do âmbito escolar, e se trata de um processo que tenta descrever e analisar

algo em termos complexos e compreensivos o qual se desenvolve num período de tempo e que,

Page 46: A visão da educação ambiental em uma escola pública estadual de

45

ao captar a estrutura dinâmica social, também define as características e propriedades do que se

estuda, desde seu nascimento até as possíveis características.

Concordamos com Triviños (1987), quando ele considera que o ambiente, o contexto

onde os indivíduos realizam suas ações e desenvolvem seu modo de vida tem importância

essencial na compreensão mais clara das atividades. O meio imprime ao sujeito que nele vive

traços peculiares que são desvendados à luz da compreensão que ele próprio estabelece. Desta

maneira, compreender o indivíduo fora de seu contexto natural pode criar situações artificiais que

falsificam a realidade e produzem interpretações equivocadas.

Para a interpretação e compreensão do desenvolvimento desse grupo de alunos

utilizamos uma pesquisa qualitativa, na expectativa de analisar as influências no desenvolvimento

humano, tal como é preconizada no PCN’s. Para tanto, foram utilizados questionários, bem como

o desenvolvimento de dois projetos interdisciplinares, a saber:

(1) A teoria de saponificação com os eventos do cotidiano, integrando os alunos em aulas

teórico-demonstrativas pelas quais puderam colocar em prática os principais conteúdos

discutidos, o que nos permitiu perceber que as atividades experimentais viabilizaram uma forma

de aprendizagem mais eficiente.

(2) Trabalho com o título: Agenda 21 na Escola e a Dengue na Comunidade, em que pelo

componente curricular de Biologia esses alunos deverão interagir com as informações fora do

muro da escola. O tema gerador: “Como a escola pode ajudar a comunidade, através da

sensibilização e mobilização, para a tomada de decisões de como identificar criadouros desse

mosquito; o nível de conhecimento daquela população a respeito da doença, dos sintomas, e

características do mosquito transmissor? Como a escola pode ajudar os alunos a aplicarem os

conhecimentos da Biologia no cotidiano”?

Podemos aplicar o tema teórico previsto neste conteúdo curricular, conforme artigo

35 da LDB: “a compreensão dos fundamentos científicos – tecnológicos dos processos

produtivos, relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada disciplina”.

Esses alunos apresentaram ainda o interesse na participação da campanha de

erradicação dos criadouros do mosquito transmissor da dengue naquele bairro, usando como

ferramenta a Agenda 21.

Page 47: A visão da educação ambiental em uma escola pública estadual de

46

2.1 Aspectos gerais da comunidade onde a escola está inserida

Podemos visualizar a comunidade a que pertence a escola do bairro Campo Belo I e

as reais condições em que vivem seus moradores pelas imagens trazidas no documentário

Campinas: Outro Olhar, Bairros Esquecidos, do repórter Gilson Rei (Correio Popular, 2009):

Do questionamento sobre a justificativa da aceitação dessa realidade é de

considerarem uma economia e a facilidade morarem muito próximo do local de trabalho, o

Aeroporto de Viracopos. Parece-nos, todavia, que essa região pertence a outro espaço ao revelar

muita pobreza. As imagens estão na Figura 1.

Figura 1

Por meio dessas imagens percebemos qual é a comunidade que esta escola irá

acolher.

A partir do envolvimento com essa população dentro do espaço escolar, observamos

o pouco envolvimento e participação em movimentos que promovam mudanças tanto na

infraestrutura como no reconhecimento de ser um munícipe. Nessa população percebemos a falta

do exercício de cidadania.

Fotos do bairro: Gilson Rei Fonte: Correio Popular 09/01/2009

Page 48: A visão da educação ambiental em uma escola pública estadual de

47

O bairro Campo Belo dispõe dos seguintes recursos: rede de água encanada

(SANASA); rede de esgoto instalada (ETE ainda em construção – SANASA); rede elétrica

(CPFL); rede telefônica parcial. Linhas de ônibus circular: 3 opções (195, 192,197). Encontramos

também as entidades religiosas: Igrejas Católicas e Evangélicas, Terreiro de Candomblé, Centro

Espírita. Neste bairro, há 2 escolas infantis municipais (Emei’s). A associação dos moradores do

bairro mantém um campo de futebol com programação para o ano todo. Também tem em

funcionamento um Centro de Saúde Municipal e um Centro de Convivência – CRAS.

2.2 A caracterização da escola

A escola estadual Profª. Celeste Palandi de Mello, lotada na Diretoria Regional de

Ensino de Campinas - Oeste, instalada em 02/1988, está inserido no Jardim Campo Belo I e conta

com alunos provenientes de famílias com muitos filhos, na qual parte dos irmãos e pais se

encontram desempregados.

A unidade escolar mantém vários níveis de escolaridade, distribuídos assim: Ensino

Fundamental: 1º ao 6º ano (diurno), organizados em três turnos, a saber: matutino (das 07h às

11h), intermediário (das 11h15 às 15h15) e vespertino (das 15h30 às 18h45). No período noturno

(19h às 22h: 45): ensino médio: 1º ao 3º anos; EJA – ensino médio: 2º e 3º termos. A demanda

nesta unidade escolar requer muitas salas de aulas. A necessidade de espaço físico da unidade

escolar fez com que acontecesse uma associação entre as Secretarias de Educação Estadual e a

Municipal, para uso de salas de aulas da FUMEC (4 unidades), onde há adaptações para alunos

cadeirantes.

2.3 Resultados

Para a realização da pesquisa qualitativa foram usados questionários e atividades

interdisciplinares. Pela participação dos alunos nas atividades e suas respostas aos questionários

nos foi possível perceber como são recebidas as novas propostas para a escola pública de ensino

básico.

Page 49: A visão da educação ambiental em uma escola pública estadual de

48

Nossa entrevista teve início com a identificação do local de moradia, pois a escola

atende a três bairros diretamente além de outros indiretamente. Dos 27 alunos entrevistados,

19(70%) confirmaram residir no bairro Campo Belo I, outros 4 (14%) declararam residir em

outro bairro e tivemos também os alunos que não quiseram declarar o local da residência.

Percebemos certo desconforto para alguns alunos assumirem que residem neste

bairro. Durante diálogos com esses alunos observamos o descontentamento com a realidade do

espaço em que frequentam, alguns declararam interesse em melhorar a situação de abandono e

descaso que sentem em relação a este bairro. A expressão: “ir até Campinas” é muito comum,

declarando assim não pertencerem ao município com realidades tão díspares, ainda que

pertençam ao mesmo espaço geográfico. Deste modo, se sentir dentro de um espaço coletivo e

ainda pertencer a um município pode melhorar a sensação de inclusão e despertar o desejo de

participação. Vale a descrição de Vilar (2001) no artigo de Alberto Jesus Almeida (2001) sobre:

A cidade e a educação:

Que na planificação urbanística se tenham em conta as necessidades de relação e

convivência de todos os cidadãos: a definição de rua como um prolongamento

da habitação, a intensificação das políticas e atuais programas de

pedestrialização, de arruamentos, e as necessidade de realizar pequenas atuações

nos bairro e ruas, como mecanismo de conscientização social (Carta Local,

1993, p.31), foi algumas das propostas realizadas no Seminário Europeu sobre

Espaços e Qualidade de vida para a Infância com o objetivo de conseguir

cidades mais humanas (VILAR, 2001, p. 26 apud ALMEIDA, 2008, p. 8).

A perspectiva da relação entre escola e cidade, segundo o paradigma da cidade

educativa, reconhece a potencialidade educativa da cidade e a escola como um dos seus

elementos de educação formal (MACHADO, 2004, p. 163 apud Almeida, 2001, p. 6). Hoje mais

do que nunca, a cidade, grande ou pequena, dispõe de incontáveis possibilidades educadoras,

quando Almeida (2001) nos apresenta sua definição:

Se as cidades são hoje consideradas baluartes da liberdade, da participação

cidadã, da aceitação, das diferenças, de lugares de prazer e de descompressão,

transformaram-se também em símbolos de insegurança, do desconhecimento, da

desconfiança e do anonimato (ALMEIDA, 2001, p. 3).

A educação ambiental deverá promover o respeito ao outro, ao ambiente, seja o

natural ou o construído, na expectativa de garantir uma melhor qualidade de vida para todos.

Page 50: A visão da educação ambiental em uma escola pública estadual de

49

Essa educação deverá oferecer a inclusão social, o sentimento de pertencimento, do respeito ao

direito de ser um cidadão.

Da questão sobre “As três coisas que você mais gosta de fazer na escola”, recebemos

algumas observações, reclamações e sugestões de mudança na rotina escolar. A situação de

estar na escola para estudar foram respondidos por 9(33%) alunos, outros que declararam

procurar amigos são 3(11%),e outros 3(11%) ainda querem conhecer algo a mais (história de

vida, discutir política, a organização da escola, etc.: tivemos também 12 (44%) alunos que não

souberam expressar se gostam da escola.

A explicação que talvez possa nos esclarecer a falta de interesse em estar na escola é

a forma de como são tratados os conteúdos, pois ainda temos a transmissão de conhecimentos

unidirecional, o que representa uma educação conservadora. Esta parte de alunos está vinculada

à presença no local, mas não apresentam interesse pelos conteúdos escolares, mas pela escola

como um local de encontro com seus interesses sociais.

Também é uma dificuldade a grande rotatividade de professores, pois no afastamento

do profissional efetivo contrata-se temporariamente outro profissional que, mesmo sem a

intenção, não absorve os trabalhos e projetos do professor que substitui. A equipe gestora por

vezes não permite a mudança de rotina com os alunos.

A prática da interdisciplinaridade é uma alternativa à rotina escolar para um melhor

aprendizado por meio de discussões.

Desde o século XXI as pedagogias que se aplicam ainda nas escolas são de caráter

antropocêntrico, o que não provoca mudanças, mas reprodução de modelos impostos. É assim

que se apresenta a importância de uma educação para formação de cidadania e organização, “do

desenvolvimento da capacidade de governar-se e criar mecanismos de gestão pública não estatal”

(GADOTTI, 2009, 69).

A educação ambiental, em vez de ser tomada como "prática pedagógica", deverá ser

assumida como uma nova visão formadora, de todos que participam da vida escolar, os docentes,

os discentes, equipe gestora, comunidade, representantes dos governos municipal e estadual e se

façam presentes, mas como uma política de transformação dos saberes necessários à formação do

homem. Daí a importância do desenvolvimento de projetos articulados envolvendo a coautoria

dos vários protagonistas do processo educacional; propiciar o desenvolvimento de projetos em

torno de uma problemática de interesse de um grupo de alunos, integrando o computador,

Page 51: A visão da educação ambiental em uma escola pública estadual de

50

materiais da biblioteca e a televisão, é fundamental para o processo de reconstrução de uma nova

escola. Isto porque a parceria que se estabelece entre os protagonistas (gestores, professores,

alunos) da comunidade pode facilitar a busca de soluções que permitam viabilizar a realização de

novas práticas pedagógicas, tendo em vista a aprendizagem para a vida.

Talvez o envolvimento dos alunos na escola dependa do conhecimento ofertado pelo

currículo, quando as escolas tiverem a decisão entre emancipação ou dominação.

Fizemos a pergunta: “Na sua escola foi desenvolvido algum trabalho junto com

vários professores, onde você se sentiu envolvido em novos conhecimentos?” As respostas que

correspondem a 10 alunos (37%) é que não existem atividades assim nesta escola; de 13 (48%)

alunos a resposta foi sim; outros 3 (11%) alunos não responderam a questão.

Nesta escola, a proposta de atividades interdisciplinares existe, mas nem todos os

professores acreditam na ampliação do conhecimento, no envolvimento dos alunos em conversas

mais longas, num raciocínio mais elaborado, alegando que alunos do noturno nos demonstram

preocupação com o mínimo dos conteúdos para conseguir aprovação no ano letivo, que alguns

alunos precisam das notas, pois já mantêm vínculo de trabalho.

Outra dificuldade para trabalho interdisciplinar entre os docentes é a grande

quantidade de professores por área nesta escola, sendo 4 professores de matemática, 3 de Física,

3 de Química, 4 professores de Português e 2 professores de Biologia, assim, cada um tem dia

letivo diferente dos demais. Mesmo quando o governo criou o HTPC – Horário de Trabalho

Pedagógico Coletivo, cada professor ainda tem o direito de escolher em qual unidade escolar quer

participar, pois a grande maioria atua em mais de uma delas, devido à necessidade de completar a

grade horária para um melhor salário. Deste modo, o grupo de professores que se reúne e trabalha

em equipes e contrapõe aos que não o fazem, o que se torna motivo de reclamações na rotina

escolar.

Na tentativa de evitar tais desgastes, a nossa equipe gestora não assumem essas

atividades, mesmo nos oferecendo apoio; deixa claro que é de responsabilidade de cada

profissional o tempo de sua hora-aula, não invadindo as demais. Esse é um dos motivos da baixa

participação em atividades interdisciplinares, por isso observamos poucas mudanças na qualidade

das aulas e das atividades sugeridas.

A preocupação com a formação docente implica reconhecer a existência de saberes e

fazeres pertinentes ao ato de ensinar. Esse reconhecimento representa um avanço em relação à

Page 52: A visão da educação ambiental em uma escola pública estadual de

51

perspectiva presente (ainda) no senso comum de que a docência é atividade decorrente de uma

vocação, expressão de talento inata que alguns detêm. Compreender as razões dos professores ao

adotar práticas conservadoras ou inovadoras nos oferecerá elementos para repensar a formação

docente em novas bases.

Mais do que definir com precisão aquilo que se consistiria na profissão de professor,

busca-se compreender os processos que possibilitam a construção de identidades (MONTEIRO,

2002). A socialização profissional consiste, para os indivíduos, em construir sua identidade e

relações sociais. Ainda para Dubar (1992) identidade profissional não se confunde com

identidade social, embora mantenha relações estreitas com ela (DUBAR, 1992 apud

MONTEIRO, 2005, p. 165).

A modernização das sociedades ocidentais provocou a eliminação da cultura vigente

em tempos medievais, que integrava produção de saberes e formação nos saberes. Essa cultura

foi sendo substituída por uma divisão social e intelectual entre as funções de pesquisa assumidas

pela comunidade científica ou por corpos de especialistas, e as funções de formação, assumidas

por um corpo docente distanciado das instâncias de produção dos saberes. Os saberes técnicos

sofreram o mesmo processo, sendo que os responsáveis por sua utilização foram cada vez mais

transformados em meros executantes atomizados no universo do trabalho capitalista (TARDIFI et

al, 1991 apud Monteiro, 2005, p. 166).

Ao longo desse processo, os professores foram perdendo a sua participação na

produção dos saberes, tornando-se improdutivos no plano cognitivo e dedicando-se às tarefas

técnico-pedagógicas de formação, cada vez mais fragmentadas e especializadas, e muitas vezes

realizadas por novos profissionais que assumem tarefas antes de responsabilidade dos professores

(MONTEIRO, 2005).

No momento atual, torna-se cada vez mais senso comum a necessidade do acesso à

informação e à escolarização em todos os níveis. É nesse cenário que a instituição universitária se

depara com questões a respeito da qualidade do conhecimento científico que produz e os

processos educativos os quais se encontram sob sua responsabilidade, levando aos

desdobramentos a respeito da qualidade do profissional formado por ela. Diante dessas questões a

universidade se vê diante de questões mais remotas como, por exemplo, o que apresenta Foresti

(1997):

a) Qual é o papel do docente?

Page 53: A visão da educação ambiental em uma escola pública estadual de

52

b) Encontra-se realmente em curso a construção de um projeto pedagógico que vislumbre

a universidade como produtora de conhecimento e formadora de profissionais competentes?

Kourganoff (1990), ao discutir a excelência da atividade de pesquisa na Universidade,

critica o fato de que a competência pedagógica e a dedicação ao ensino não ocupam lugar algum

na carreira do professor universitário: “Assim, paradoxalmente, no ensino superior o ensino não é

jamais considerado como a principal função de um professor” (KOURGANOFF, 1990 apud

FORESTI, 1997, p.108).

Ainda no que diz respeito à dedicação ao ensino, Paioli (1988 apud FORESTI, 1997,

p.70) afirma que “na cultura universitária existe uma corrente de pensamento que julga o dar

aulas, ou ensinar ou orientar como alguma coisa que não vale a pena”.

Conforme Foresti (1997), autores têm se dedicado à reflexão da prática docente e à

construção de um projeto pedagógico para universidade brasileira e, torna-se cada vez mais voz

corrente entre esses autores, a crítica ao paradigma a respeito das atividades primordiais da

academia e a defesa de um novo paradigma de ensinar e aprender, o qual vem surgindo face às

ações concretas de docentes que defendem a função social da universidade.

Cabe às universidades a responsabilidade pela formação inicial de professores, a qual

vem sofrendo alterações a partir da aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

(1996). Entre essas alterações, vale ressaltar duas de grande relevância:

a) a formação de professores de educação infantil e séries iniciais do ensino fundamental

passam a ser ministrada em cursos de nível superior,

b) Institutos Superiores de Educação deverão ser criados como centros formadores,

disseminadores, sistematizadores e produtores do conhecimento referente ao processo de ensino,

aprendizagem e educação escolar.

Uma das iniciativas do Ministério de Educação e Cultura diz respeito ao Programa

PCN em Ação, o qual vem sendo desenvolvido em parceria com as secretarias de educação e

apresenta como tema central a formação profissional dos professores atrelada ao trabalho

desenvolvido na sala de aula. O programa propõe o incentivo ao estudo em grupo dos Parâmetros

e Referenciais Curriculares, a troca de experiências, ao trabalho em equipe e a articulação entre a

teoria e a prática pedagógica para que novos programas de formação continuada possam ser

desenvolvidos no interior das escolas (PRADO, 2000).

Page 54: A visão da educação ambiental em uma escola pública estadual de

53

Dos novos objetivos da Educação, em todos os níveis, a Educação Superior, tem

representado um desafio para reorganização e participação da sociedade, pois as universidades

públicas estaduais e federais fazem parte do novo papel do Estado, devendo as instituições de

ensino apresentar interações entre as áreas de ensino, pesquisa, entre ensino formal e não formal,

a sociedade civil, as políticas e de sistemas de Gestão Pública. Da gestão pública, das novas

necessidades para a educação, surge também a expectativa de uma política pública que trate da

formação de educadores ambientais.

Ainda a respeito da formação profissional do professor, a título de exemplo, é válido

mencionar que a legislação brasileira sobre educação, mais especificamente a LDB (Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional) é omissa em relação à formação pedagógica do

professor universitário. No caminho que percorre a Educação, alguns docentes consideram o

ensino e o conhecimento como transmissão de um saber pronto – outros admitem o conhecimento

e ensino em construção. Pimentel (1997) afirma que: “(...) ainda encontramos professores que

embora saibam questionar o paradigma dominante, continuam na proposta do passado”.

(PIMENTEL, 1997, p. 86). A autora ressalta as diferenças significativas entre os diferentes tipos

de professores,o qual acompanhou extremamente pertinente a uma proposta de formação

continuada que reflita criticamente sobre a prática:

Todos os professores têm domínio amplo, profundo e atualizado da ciência que ensinam,

apresentam o domínio de habilidades didáticas, em maior ou menor número, mas poucos

têm o conhecimento consciente do que é ensinar.

Entre eles distinguem-se os professores “pós-modernos emergentes”, que apresentam

outras habilidades, ligadas à metodologia que criaram, favorecendo a articulação do

ensino/pesquisa, teoria/prática, conhecimento formal/conhecimento do cotidiano, ciência

natural/ciência social - interdisciplinaridade e transdisciplinaridade. Correm riscos,

toleram a ambiguidade e estabelecem relações amplas. Na metodologia de ensino que

adotam reproduzem o seu próprio caminho na busca da construção do conhecimento.

Os que seguem o paradigma da ciência moderna e os que utilizam os dois paradigmas

sofrem mais intensamente as pressões que pesam sobre o seu papel de professor.

Parecem não ter feito uma análise consciente de como ensinam, relacionando esse

Page 55: A visão da educação ambiental em uma escola pública estadual de

54

conceito de ensino com os de conhecimento e ciência que adotam. Não têm, portanto,

uma prática docente refletida (PIMENTEL, 1997, p.85-87).

Conforme Monteiro (2005), a formação de professores, território ainda em processo

de constituição e afirmação, é um processo que possui profunda relação com a profissão que

contribui para criar e desenvolver. Por outro lado, os docentes são profissionais que exercem

papel estratégico numa sociedade que vive transformações cada vez mais rápidas e na qual o

acesso ao conhecimento se modifica radicalmente em decorrência do desenvolvimento

tecnológico. Formar um professor nesse contexto é tarefa que nos desafia e estimula: onde, como,

com quais saberes, com quem, são questões cujas respostas ainda não encontramos com certeza

que gostaríamos de ter.

Todas as possíveis mudanças para a nova escola incluem dividir o papel de

representante do conhecimento. Das várias origens da formação docente, cada um traz sua

identidade e talvez seja isso o que nos afasta da possibilidade de atuar com o outro.

Do cuidado exigido para um novo profissional de educação e da educação ambiental,

ainda temos que garantir aos estudantes de educação básica o direito à educação superior. Ser um

país onde a sociedade capitalista é dependente de políticas macroeconômicas, entre as

desigualdades sociais, ter direito à educação superior pública e gratuita não é para todos que

desejam dar continuidade aos estudos.

Para trabalhar temas interdisciplinares na consulta aos alunos o tema escolhido foi “a

fabricação de sabão e sabonetes”. Podemos acompanhar as ações através dos registros conforme

figura 2.

Page 56: A visão da educação ambiental em uma escola pública estadual de

55

Figura 2

Esse tipo de trabalho é essencial para a mobilização dos saberes nas escolas da

periferia, na expectativa de um aprendizado mais efetivo, para que os estudantes se sintam

também no controle das situações de ensino-aprendizagem. Contudo, as práticas pedagógicas

escolares se encontram marcadas por mecanismos tradicionais da exclusão social, fazendo com

que o processo de ensino-aprendizagem, em especial nas escolas das periferias, seja mais um

processo de enculturação dessa população, do que um processo com vistas a sua emancipação e

capacidade crítica. Faz-se urgente, se pretendemos de fato uma escola para todos, que essa

situação seja revista.

Da tentativa de interdisciplinaridade nesta escola pública de ensino médio, ainda

percebemos a ação de uma educação ambiental conservadora que, de acordo com Guimarães

(2007):

Esta educação ambiental tradicional, não pode e/ou não quer perceber as redes

de poder que estruturam as relações de dominação presentes na sociedade atual,

Fotos: Profª. Cheila (Química)

Page 57: A visão da educação ambiental em uma escola pública estadual de

56

tanto entre pessoas (relações de gênero, de minorias étnicas e culturais), entre

classes sociais, quanto na relação norte-sul entre nações, assim como também

entre relações de dominação que se construíram historicamente entre sociedade

de natureza. São nessas relações de poder e dominação que podemos encontrar

um dos pilares da crise ambiental dos dias de hoje (GUIMARÃES, 2007, p. 35).

O que se percebe são apropriações segundo alguns interesses, então a

interdisciplinaridade não se apresenta em condição de efetividade. É a partir daí que nasce, além

de novos valores, também: “Novos princípios epistemológicos e estratégias conceituais que

orientem a construção de uma racionalidade sobre bases de sustentabilidade ecológica e de

equidade social” (LEFF, 2009, p. 61).

A interdisciplinaridade apresenta as condições que deverão ser superadas, sendo a

base epistemológica o corpo teórico que se fará capaz de desenvolver o novo caráter para a nova

condição cidadã, a ética e a política.

Ao realizar uma análise dos sistemas interdisciplinares, Leff (2007) explica:

A partir dos anos 70 surgiram duas problemáticas no terreno da epistemologia e

da metodologia das ciências; a produção interdisciplinar de conhecimento e sua

aplicação no planejamento e desenvolvimento econômico. (...) O

desenvolvimento das ciências gerou novas especialidades que se encontram na

fronteira entre duas ou mais disciplinas, propondo a problemática

interdisciplinar (LEFF, 2007, p.37).

O autor destaca ainda que isso resultou em uma visão do conhecimento e do real,

originando assim um projeto pedagógico, “com o propósito de treinar inteligências capazes de

apreender quase à maneira da filosofia Gestalt, a unidade da realidade” (LEFF, 2007, p.38).

Esclarece ainda que a interdisciplinaridade propôs-se como uma metodologia tanto para o avanço

do conhecimento como para a resolução de problemas práticos. E a partir daí produziu-se uma

série imaginária de “ciências ambientais” que sendo um leque de disciplinas, especializações e

técnicas práticas do ecodesenvolvimento, não possuem objetos científicos propriamente ditos.

Ele explica que esse novo projeto pedagógico tem sua base na origem do modelo

positivista do conhecimento, desse modo, as práticas interdisciplinares desconhecem a existência

Page 58: A visão da educação ambiental em uma escola pública estadual de

57

dos objetos teóricos das ciências; a produção conceitual dissolve-se na formalização das

interações e relações entre objetos empíricos. Alerta-nos quanto a sua interpretação:

A história das ciências gerou paradigmas transdisciplinares e enfoques

metodológicos sobre sistemas complexos que oferecem a possibilidade de

integrar diversos processos materiais e ordens do real. Entretanto, o projeto

transdisciplinar caracterizou-se também pela transferência analógica dos

conceitos e teorias pertencentes a uma ciência a diferentes disciplinas, gerando

um efeito ideológico ou reducionismo do saber devido à aplicação de conceitos

científicos fora do campo especifico do real no qual se produzem seus efeitos de

conhecimento (LEFF, 2007, p. 40).

Surge, então, a orientação de um novo processo de pensar e ter práticas

interdisciplinares. Leff (2007) apresenta uma explicação para essas práticas interdisciplinares:

a seleção de variáveis e dimensões significativas para apreender uma

problemática a partir dos enfoques das diferentes disciplinas, e necessária para o

diagnóstico da articulação dos efeitos gerados, pela convergência de fenômenos

naturais, de fatores tecnológicos, de mecanismos econômicos e de condições

políticas e institucionais sobre a problemática ambiental (LEFF, 2007, p.40 ).

Estar em articulação com especialistas, ter uma visão sistêmica onde as dúvidas

permeiam todas as especialidades, as quais se tornem o objetivo da aplicação de cada

conhecimento, pode ser a chave para um maior desenvolvimento das questões ambientais. É um

resultado diferente da capacidade de soluções dentro dos paradigmas disciplinares, isolados, aos

quais ainda estamos doutrinados.

Dentro de disciplinas específicas é possível obtermos uma interpretação da problemática

ambiental, mas Leff (2007) nos mostra que:

Adquire maior relevância quando sua solução torna necessária sua “tradução”,

num programa multidisciplinar de pesquisas, capaz de gerar os conhecimentos

necessários para implementar formas alternativas de aproveitamento sustentável

dos recursos naturais (LEFF, 2007, p. 98).

Page 59: A visão da educação ambiental em uma escola pública estadual de

58

Sobre as primeiras discussões a respeito desse tema, Sato (2006, p. 120) defende que

é necessário que se faça “um retomo aos básicos” e em um processo de consolidação do campo

da educação ambiental uma “necessária fuga para frente”.

A dificuldade da prática da interdisciplinaridade também se passa sobre o próprio

currículo, que também deve ter discursos sobre sua forma, composição, teoria e prática, e entre

educação e sociedade, ainda que, de acordo com Sato (2006) “necessitassem apresentar ‘novos

sentidos’ de conhecimento que as disciplinas individuais por si mesmas não estavam em

condições de proporcionar” (SATO, 2006, p. 120). Podemos concluir desse modo, que certos

temas com novos títulos e novas perspectivas podem nos distanciar de novas práticas educativas.

Sabemos que a nossa realidade será alterada somente quando houver alterações em

toda a sociedade. Além de que as mudanças nos tirarão de uma zona de conforto, de

cumplicidade e insatisfações. Concordamos com os dizeres de Cury (1999, p. 25): “O passo

fundamental, porém, é a consciência da importância da educação básica por parte dos cidadãos”.

Essa consciência vem crescendo, de um lado, por causa da transformação da base econômica de

produção. E quando isso acontece, ela:

Altera, mais ou menos rapidamente, toda a imensa superestrutura. Ao

considerar tais alterações é necessário sempre distinguir entre a alteração

material – que se pode comprovar de maneira cientificamente rigorosa – das

condições econômicas de produção e as formas jurídicas, políticas, religiosas,

artísticas ou filosóficas, em resumo, as formas ideológicas pelas quais os

homens tomam consciência deste conflito (MARX, 1983 apud CURY, 1999, p.

25).

Não é falta de legislação, de instrumentos pedagógicos, políticas públicas de

educação que teremos uma educação sem sentido. Já temos como realizar uma educação cidadã.

Da proposta do trabalho com o título: Agenda 21 na Escola e a Dengue na

Comunidade, através do componente curricular de Biologia, os alunos desta série deverão

interagir com as informações fora do muro da escola. Esses alunos apresentaram ainda o interesse

na participação da campanha de erradicação dos criadouros do mosquito transmissor da Dengue

naquele bairro, usando como ferramenta a Agenda 21 escolar. As instituições públicas envolvidas

foram a escola estadual Profª. Celeste Palandi de Mello e o Centro de Saúde Campo Belo I –

Campinas/SP

Page 60: A visão da educação ambiental em uma escola pública estadual de

59

A partir do uso de um tema gerador e na a expectativa de despertar nos nossos alunos

o interesse pelos componentes curriculares, na expectativa é de fazer deles protagonistas da

aprendizagem, perguntamos: “Como a escola pode ajudar os alunos a aplicarem os

conhecimentos da Biologia no cotidiano?”. E do interesse que esses alunos demonstraram

pudemos ampliar essa atividade, a fim de incluir a comunidade do entorno, assim fizemos a

pergunta: “Como a escola pode ajudar a comunidade identificar criadouros desse mosquito?”.

Podemos aplicar o tema teórico previsto neste conteúdo curricular, conforme disposto

no Art. 35, da Nova LDB:

IV – a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos

produtivos, relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada disciplina.

Para a realização de conscientização da população, as equipes de saúde do município

visitam os domicílios do bairro regularmente. Para maiores informações serem levadas à sala de

aula, a professora de biologia acompanhou o trabalho de visitas aos domicílios durante alguns

dias. Para isso, as responsáveis pelo projeto se reuniram por várias vezes, além do horário de

trabalho. As atividades foram registradas através das fotografias, como na figura 3.

Figura 3

Figura 3 – Reunião dos Representantes da Escola e do Centro

de Saúde do Bairro Campo Belo

Page 61: A visão da educação ambiental em uma escola pública estadual de

60

A partir do entendimento e da facilidade de aprender quando se participa das tomadas

de decisões, se envolvendo na busca de solução do problema, percebemos a necessidade de uma

ação em conjunto. Desta forma precisamos do exercício de cidadania. Dentre os atores que

deverão participar das ações que se fizerem necessárias, e a participação do Estado se faz ao

oferecer políticas públicas, uma de nosso interesse é a Agenda 21 Local:

A Agenda 21 Local é excelente instrumento para o planejamento participativo

que expressa à visão da sociedade, que procura enxergar além daquilo que

nossos olhos permitem, para deixar às futuras gerações possibilidades de

conviver em um mundo equilibrado, saudável e com justiça social. Para tal é de

extrema importância à participação efetiva de todos os atores sociais, para que

cada um reconheça na Agenda sua visão de futuro, e que entenda que cada

desafio, sucesso ou fracasso de percurso, tem parte de sua responsabilidade

(BRASÍLIA, 22/set. 2013).

Do conhecimento de que a Agenda 21 é um instrumento de planejamento e de

participação de toda a população para ações que promovam uma melhor qualidade de vida, todos

os setores da sociedade podem cooperar no estudo de soluções para os problemas

socioambientais. A Agenda 21 escolar está dentro do projeto do Ministério do Meio Ambiente

em ação conjunta com o MEC, sendo mais uma ferramenta para o desenvolvimento da educação

ambiental dentro do espaço escolar.

O documento Agenda 21 Local também é um instrumento da educação ambiental,

uma vez que ações coletivas e de interesse público necessitam de intervenções políticas e

populares, pois se trata de uma situação que exige resposta. Os projetos que serão propostos para

aquela comunidade de interesse têm a expectativa da organização dos envolvidos, deverão ser

tratados de forma interdisciplinar, com criticidade e uma prática educativa que poderá levar a

novos comportamentos, atitudes e novos valores.

Além dessas mudanças, o espaço escolar também deverá apresentar novos

compromissos daqueles que ali convivem. Os professores serão responsáveis por participarem da

construção do conhecimento. Deixar de ter trabalho isolado, se ajustar ao plano de projeto

coletivo, saber trabalhar de maneira contextualizada e interdisciplinar, são as novas qualidades do

professor, pois a proposta de ensino de qualidade deverá ser para o aluno aprender aquilo que faz

Page 62: A visão da educação ambiental em uma escola pública estadual de

61

sentido dentro e fora da escola. Os alunos, por sua vez, deverão também ser coautores das

descobertas, do protagonismo, deverão ser capazes de ter autonomia e exercer a cidadania.

Ainda a respeito da formação profissional do professor, a título de exemplo, é válido

mencionar que a legislação brasileira sobre educação, mais especificamente a LDB (Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional) é omissa em relação à formação pedagógica do

professor universitário. No caminho que percorre a Educação, alguns docentes consideram o

ensino e o conhecimento como transmissão de um saber pronto – outros admitem o conhecimento

e ensino em construção. Pimentel (1997) afirma que: “(...) ainda encontramos professores que

embora saibam questionar o paradigma dominante, continuam na proposta do passado”.

(PIMENTEL, 1997, p. 86).

A nova proposta para a educação básica deslocou da aprendizagem pelo aluno para a

responsabilidade do professor efetivá-la. Isso significa fazer com que os alunos usem suas

competências para apreender os conteúdos disciplinares de maneira interdisciplinar para assim os

conteúdos se revestirem de sentido, levando esses alunos à compreensão de fatos da realidade, de

interpretação, e do uso dos vários conhecimentos na busca de uma solução. Isso foi registrado nas

fotografias da figura 4.

Page 63: A visão da educação ambiental em uma escola pública estadual de

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Figura 4

Percebemos que algumas atividades podem despertar a participação dos alunos. E,

por se mostrarem envolvidos e interessados, por várias vezes os docentes lançam mão da internet,

jornais escritos, revistas, na tentativa de provocar discussões, avaliarem o poder das propagandas,

a veracidade das propagandas conforme a interpretação individual e como isso representa o

modelo de vida que eles escolhem, ou pelo menos pensam ter a escolha.

Trabalhos de organização do conhecimento, discussões, propostas de

ações de conscientização e manipulações de materiais lúdicos e biológicos. Uma

parte dos encontros foi dentro da escola, outros em visita a comunidade.

Fotos: representantes das instituições.

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63

A educação pode receber muitas contribuições com a chegada das diversas

tecnologias, que além de aumentar também muda a forma de adquirir o conhecimento, como a

internet, e assim deve mudar os paradigmas de ensinar e aprender. Segundo Moran (2000):

a educação escolar precisa compreender e incorporar mais as novas linguagens,

desvendar os seus códigos, dominar as possibilidades de expressão e as possíveis

manipulações. É importante educar para usos democráticos, mais progressistas e

participativos das tecnologias que facilitem a educação dos indivíduos

(MORAN, 2000, p. 36).

Na perspectiva da nova educação, o uso das tecnologias ainda não faz parte da rotina

das escolas públicas e também desta unidade escolar. Além das dificuldades da escola em manter

a qualidade e o bom funcionamento do laboratório de informática, há também falta de interesse

por parte de alguns professores em trabalhar com conteúdos “virtuais”. Todos os recursos

tecnológicos têm seu valor pedagógico (BRASILIA, 2005), quando bem aproveitados esses

recursos poderão contribuir para uma aprendizagem significativa.

É fato que a educação através de recursos tecnológicos pode não conduzir a prática da

educação ambiental, se ao usá-los pretendemos sejam capazes de nos apresentar somente a

solução aos problemas, sejam ambientais, sociais, econômicos, uma vez que as programações das

tecnologias têm como objetivo a resposta, sem questionamentos ou descobertas.

Outra questão lançada para os alunos: “Você tem professores que discutem temas

além do livro didático?”. Na devolutiva do nosso público, tivemos 21 (77%) alunos respondendo

SIM; 1 (3%) aluno que não sabe se tem nesta escola tal prática; e 4 (14%) que não responderam.

Nosso objetivo é ainda avaliar a participação dos alunos no processo de aprendizagem, com usos

de outros recursos didáticos, aqui representados pelos cadernos oferecidos pelo governo do

Estado de São Paulo.

A partir da década de 60, surge uma troca no foco da aprendizagem. Nessa época

surgem recursos tecnológicos e didáticos, que pela organização e motivação do professor

puderam garantir também a motivação de seus alunos, deixando de lado a importância do saber

científico do professor. Basta que ele (professor) tenha habilidades para usar e organizar os

recursos disponíveis.

Page 65: A visão da educação ambiental em uma escola pública estadual de

64

O Banco Mundial apresentou-se financiando projetos didáticos – os quais deveriam

garantir o conteúdo a ser ensinado – se apresentassem qualidade – tendo uma coordenação

própria, ou seja, pessoas dedicadas a função de educador, através de cursos e treinamentos

específicos, dispensando uma formação específica na disciplina, que demandaria maior tempo.

Nos cursos de Licenciatura curta, o objetivo é o conteúdo de caráter pedagógico, contrário ao

conteúdo específico, tradicional.

É função de o profissional docente acompanhar o crescimento cognitivo individual, o

amadurecimento pessoal, sendo não só conhecimento pessoal, de experiência de vida, mas

científico e com continuidade.

Nota-se que a relação professor-estudante é capaz de, garantir a estabilidade da

aprendizagem, e até mesmo a vontade de persistir, envolvendo fortemente os estudantes com

compromisso oriundo da escola. Isso pode levar a uma reflexão da competência desse

profissional.

Numa perspectiva construtivista do ensino e da aprendizagem, a competência

disciplinar, ou seja, o domínio do conhecimento científico do ponto de vista heurístico-

conceitual, experimental e formal (VILLANI, 1986); e a habilidade didática, ou seja, a

capacidade de proporcionar aos alunos as situações mais favoráveis para seu crescimento

intelectual e emocional e de sustentá-los em seu processo de aprendizagem específica, constitui

um binômio em contínua interação com resultados variáveis. A competência do professor é uma

soma bastante equilibrada de conhecimento específico da disciplina e do processo de

aprendizagem

Dentro da concepção de ensino que considera o estudante protagonista da sua

aprendizagem e o professor organizador e orientador deste processo, o planejamento consequente

e as avaliações devem ser tomados como instrumentos de promoção e de controle da

aprendizagem. Este papel garante-se quando o professor é capaz de apresentar em sala de aula

comportamentos coerentes com uma interação dialógica contínua entre ele e seus estudantes.

Na percepção dos professores, as propostas dos livros ou as propostas curriculares são

aceitas como definitivas e sem necessidade de alterações do conteúdo; não se faz escolhas ou

perguntas, “não se avalia nem relevância desses tópicos nem a possibilidade de sua aprendizagem

pelo aluno” (DELIZOICOV, 2009, p. 124). Há, por parte dos professores, uma dedicação ao

processo burocrático e de conteúdos, com tamanha responsabilidade que, ao concluir o ano

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letivo, sente-se dentro do perfil profissional esperado naquela unidade escolar, mas não foi

analisado o aprendizado do aluno, se de fato ele se interessou, aprendeu a relação que tem o

conteúdo em sala de aula e o conhecimento adquirido. Talvez o papel do professor não esteja

ainda “alinhado” com a importância desses conhecimentos, “na vida, na formação de sua

cidadania, em capacidade de explicar o mundo e agir sobre ele” (DELIZOICOV, 2009, p. 125).

A questão lançada para dialogar com a cidadania na interpretação desses alunos foi:

“Para você, esta escola ajuda entender o que é ser cidadão?”. As respostas estão distribuídas entre

os que concordam com isso: 13 (48%) alunos disseram SIM; outros 10 (37%) não acreditam

nessa ajuda; 3 (11%) dos alunos não se expressaram.

A escola, uma das principais instituições responsáveis pela educação e formação do

homem, deve estar vinculada aos princípios da dignidade, da participação, da

corresponsabilidade, da solidariedade e da equidade. Professores e funcionários das escolas

precisam estar capacitados para interagir no processo de construção de cidadãos que saibam

exercer sua cidadania.

A julgar a educação num processo em que envolvem as novas formas de pensar a

liberdade, o social, e a economia, não podemos ignorar as ideias e os ideais políticos, suas

concepções e compromissos. Na descrição de Arroyo (1993), “esta ênfase no peso político da

educação está vinculada às opções políticas e a sistemas de pensamentos mais globais que ao

longo de décadas vem orientando intelectuais, governantes e educadores em suas práticas”

(ARROYO, 1993, p. 34). Esse julgamento se faz necessário, pois, ao entender a colocação:

“educação e cidadania”, assim se contribuem ou não para sua prática, garantindo-a ou na sua

ausência, justificando-a. O autor conclui: “Em outros termos, urge refletir sobre o grau de

coerência global desses ideais de convívio social e político subjacente a pensamentos

pedagógicos” (ARROYO, 1993, p. 34).

Na nova ordem social, também nasce a nova pedagogia moderna, que por ser política,

se orienta por questões de poder, formas de governo, soberania, participação e também de

cidadania. Então, podemos perceber que a educação moderna, ao ser redesenhada e ao ser

conformada aos confrontos sociais e políticos, perpassa em determinados momentos de

conquistas de liberdade, cidadania, participação, e em outros de submissão e controle, de acordo

com as novas relações sociais e forma de produção industrial. Arroyo (1993) afirma que “nos

últimos séculos, a distribuição da dose de educação passa a estar condicionada ao destino de cada

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66

indivíduo na nova ordem social e à dose de poder que os diversos grupos sociais vão

conquistando” (ARROYO, 1993, p. 36).

Espera-se da educação na pedagogia moderna, a qual conquistou um papel central

para a nova ordem, o cidadão, pois só ela pode tornar o homem apto ao novo mercado

econômico, sendo declarada responsável pela civilização, participação, liberdade; saltando de um

papel secundário, agora é a condição para um novo sujeito se apresentar á nova ordem. Estar

ocupando lugar central para uma nova ordem social e econômica significa que a educação

também estará condicionada, controlada, pois será considerado homem moderno para participar

do convívio social homens civilizados, instruídos, racionais e educados.

Para se sentirem dentro dessa nova ordem, tanto social como política, o cidadão

formado pela pedagogia moderna são cidadãos que não perceberam o vínculo da educação com a

cidadania. Estar civilizado e educado pode ainda ser uma justificativa para sua exclusão, não

podendo conceber a liberdade e emancipação humana sem passar pela instituição de educação.

De acordo com Arroyo (1993): “passar por alto dessa lógica global e dos efeitos reais que ela

legitimou e continuar defendendo a educação como ritual sagrado de passagem para o reino da

liberdade é uma forma de contribuir para que a cidadania continue a ser negada, reprimida e

protelada” (ARROYO, 1993, p.40).

Ao final da análise dos objetivos da educação, não é possível destacar o papel da

escola, pois ela está sujeita à função do movimento global e não a atividades particulares com sua

própria política, objetivos e interesses. A nova ordem necessita de trabalhadores, homens livres

para o mercado. Como afirma Arroyo (1993, p. 38): “e os súditos tinham de ser feitos cidadãos

livres para a participação na cidade, no novo convívio social”.

Em todas as mudanças na sociedade, cada projeto social vigente possui seus

determinantes sociais e econômicos, aos quais se associam educação e cidadania. Ao se ocultar a

lógica da construção do social, não será a educação capaz de ser o direito à participação e da

cidadania.

Se for a escola o local que podemos ter uma educação ambiental, também é nela que

tem de estarem os profissionais da educação e o educador ambiental. E, para a escola exercer sua

função e a formação do cidadão, além do educador, precisamos das condições físicas do ambiente

e da predisposição do público-alvo. Ainda estamos na expectativa de superar alguns problemas,

como: classe superlotada, falta de material adequado, pouca socialização, falta de tempo para

Page 68: A visão da educação ambiental em uma escola pública estadual de

67

atenção e conversas que necessitam de longo período de dedicação a pequenos grupos, separação

de conteúdos e também das pessoas entre os componentes curriculares, pouco envolvimento

dentro do ambiente e entre todos. Portanto, se nas práticas educativas ainda estamos presos ao

modelo tradicional, não temos ainda um educador capaz de exercer em sua dimensão ambiental a

consciência e a cidadania de seus alunos.

Para avaliar o quanto esses alunos conhecem a respeito de cidadania, lançamos a

questão: “Você tem conhecimento dos seus direitos e deveres como aluno e cidadão?” Como

resposta, 10 (37%) alunos assumiram que SIM, sabem; 8 (29%) disseram NÃO; 4 (14,8%)

preferiram escrever MAIS OU MENOS; e ainda os que não responderam (14,8%).

Ao propor um diálogo sobre essa pergunta ficou muito claro que esses alunos

conhecem muito mais sobre obrigações e deveres do que sobre seus direitos, uma vez que os

primeiros são situações de suas rotinas escolares, já que obedecem a horários, aceitam as regras

da escola, como o uso do uniforme, horário de entrada, da merenda, advertências, ou mesmo ser

deslocado da turma.

Por ser a ordem a aceitação dos interesses coletivos, temos como objetivos a

disciplina, as normas, a educação para a harmonia, o respeito à lei, e somente os sujeitos

adequados a essas regras são passíveis da participação no convívio social. Isso também está no

plano político-educacional. Arroyo (1993, p. 57) lembra-nos que “A questão da educação para a

cidadania será reduzida a educar para a cooperação do bem comum e para a superação do

indivíduo possessivo, numa unidade moral articuladora do convívio social”.

É fato que a educação contém elementos do romantismo e da sociologia positivista,

pois o convívio social, ora pode ser a defesa do indivíduo, ora pode ser o caminho da integração

ao social. Sobre a concepção romântica do social e de como se tentou construí-la na prática

educativa, Arroyo destaca que houve “a ênfase na igualdade moral de todos, igualdade mais de

deveres do que de direitos” (ARROYO, 1993, pág. 58). Ainda observa que “A cidadania é vista

como aceitação da obrigação moral para o convívio harmônico com seus semelhantes”. Educar

para a cidadania se reduz a cultivar o senso do valor moral em cada individuo, na criança e nos

jovens, sobretudo (ARROYO, 1993, pág. 58). A história da educação pode se mostrar muito mais

antiga, mas sempre em conflito.

Para dialogar sobre os valores que atribuem aos compromissos a partir da escola, nas

conversas com esses alunos surgiram então às explicações que eles fazem das obrigações e

Page 69: A visão da educação ambiental em uma escola pública estadual de

68

situações que julgam ter importância na perspectiva da vida social, financeira, profissional. Então

à questão: “Escreva o que você classifica como importante para você”: a distribuição destas

respostas apresentaram 6 (22%) alunos que responderam a escola e o estudo; 5 (18%) alunos que

não associam a escola como importante;15 (55%) alunos que não sabem o que é importante.

Talvez ainda haja imaturidade nos jovens do ensino médio do período noturno, além

de que eles estão divididos entre vários compromissos. A sensação de não conseguir concorrer

com outros jovens mais dedicados aos estudos, ao compromisso da leitura, junto à falta de

incentivo da família e a necessidade da ajuda como mão de obra para somar a renda no grupo

familiar pode se apresentar como uma explicação de atribuir pouca importância ao estudo. Isso

corrobora os dizeres de Cury (2002), ao descrever a situação do ensino médio na nova LDB:

do ponto de vista jurídico, considerado as três funções clássicas atribuídas ao

ensino médio: a função propedêutica, a função profissionalizante e a função

formativa, é esta última que agora, conceitual e legalmente, predomina sobre

as outras. (...) Legalmente falando, o ensino médio não é, como etapa

formativa, nem porta para o ensino superior e nem chave para o mercado de

trabalho. Ele tem uma finalidade em si, embora seja requisito tanto do ensino

superior quanto da educação profissional de nível técnico (CURY, 2002, p.

187).

Do entendimento dos alunos de que a escola não vai influenciar, nem tão pouco seja

capaz de colocá-los em situação muito melhor daquela que é a sua realidade, eles não se

preocupam em se dedicar à vida escolar como possibilidade de mudanças nem a curto e muito

menos em longo prazo, ficando sem expectativa para o futuro.

Se pretendermos apostar na importância da escola na vida desses jovens e despertar o

interesse em nossos alunos, a escola precisará então de outras maneiras para levá-los às

descobertas e ao aprendizado. Com um novo público e com outras responsabilidades, a escola

precisa de novos métodos, teorias e práticas que se identifiquem com a comunidade a que

pertence.

A educação ambiental é uma possibilidade. Por meio de um de seus princípios, a

interdisciplinaridade, os nossos alunos poderão perceber a importância de estar sendo educado

conscientemente, de ter novas atitudes e discernimento. Que ele se tornou um cidadão.

Page 70: A visão da educação ambiental em uma escola pública estadual de

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Investir em educação, a nosso ver, é antes de tudo recuperar a verdadeira função

antropológica do ensinar-aprender da escola. Investindo na qualidade dos professores,

respaldando-os, para que se assumam como cidadãos conscientes, capazes de dividir

conhecimento e ouvir a seus alunos, orientando professores para assumirem suas funções únicas e

insubstituíveis no mundo. Isso colocará a escola num lugar de lutas comuns, de respeito,

confiança e solidariedade e a tornará um grande prazer para professores e alunos.

Percebemos que não nos aproximamos da nova proposta curricular da escola para a

inclusão social, para a prática da cidadania e interdisciplinaridade. Sendo assim, os alunos

demonstraram que estar na escola é uma obrigação, que ainda não encontraram motivos para

acreditar nos conteúdos ministrados, e que ainda assim são considerados “bons”, pois ajudam a

manter a ordem e aceitam as regras que lhes são impostas.

Para os que apresentaram algum interesse nas atividades como as de

responsabilidade, de atitudes a serem defendidas, de questionarem, não se sentiram ainda capazes

de repetir tais situações e tiveram algumas dificuldades para dar continuidade às aulas

consideradas “diferentes”. Mesmo as ações conjuntas de professores de diversas áreas em busca

de novas propostas para aprendizagem não foram capazes de promover mudanças no ambiente

escolar.

Pela avaliação do novo currículo escolar e usando a interdisciplinaridade, percebemos

que os alunos se envolveram em novas atividades, mas não em novos conhecimentos o que

revela, portanto, não se efetivou de fato uma aprendizagem permanente. Ainda, eles não

relacionaram o tema transversal ‘meio ambiente’ com cidadania. Talvez ainda tenhamos

dificuldade para interpretar que os conteúdos curriculares não precisam ser somente de um ou de

outro campo do saber.

Da reforma proposta para o ensino médio, no desenvolvimento de suas competências,

os alunos não apresentaram a contextualização, senão pela possibilidade de adquirirem

experiências e novas rotinas dentro da escola.

As propostas para a nova organização curricular derivadas das legislações da

educação, ao preconizar o uso dos PCN’s para uma nova função da escola diante da sociedade,

nos demonstraram que temos muito a fazer para que os alunos se tornem cidadãos. Para que a

reforma curricular ofereça mudanças para um novo ensino médio, ela deverá apresentar um novo

paradigma sobre o ensinar e aprender.

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70

Em oportunidade de diálogo com os alunos, encontramos receptividade e

disponibilidade, e tivemos a oportunidade de avaliar sua compreensão a respeito de cidadania. As

falas dos alunos estão organizadas em duas vertentes que se dividiram em duas possibilidades:

saber ou não o que é cidadania.

Ao falarem sobre o tema cidadania, percebemos que em nenhum momento esses

alunos se debruçaram sobre meio ambiente, interdisciplinaridade, nem demonstraram associar as

atividades práticas que os envolveram em assuntos que perpassam a economia, o emprego, a

justiça, o bem-estar, a qualidade de vida, e também não se sentiram responsáveis por novas

atitudes, julgando sempre que “alguém” organizará, exigirá e os fará cumprir as regras e serão

assim considerados aptos a participar da sociedade. Quando um indivíduo é educado, frequenta a

escola, é então um cidadão.

A questão: “O que é cidadania para você?”.

As declarações dos alunos entrevistados revelam aqueles que acreditam no papel da

escola quanto à educação para o exercício da cidadania. O entendimento de estar cientes das

regras de convívio, da rotina da escola faz com que se sintam em acordo com as definições que

eles têm sobre a cidadania.

“Para mim cidadania é uma espécie de conjunto onde estão presentes todos os

nossos direitos. E muitas vezes ter alguém para te aplaudir pelo que você fez certo, como

também haverá alguém para te julgar quando fizer errado. A escola ajuda sim a entender a

cidadania, porque na escola aprendemos que temos direitos e obrigações, e ela com certeza nos

ajuda a se tornar um cidadão. Mais ou menos, porque apesar de todos serem cidadãos alguns

não agem como. E isso acaba afetando o desenvolvimento e a pratica dos demais. Deveria ter

profissionais que soubessem praticar cidadania a todo o momento, e pessoas que se

interessassem mais a entender o que é isso” (K, 16 anos).1

1 Serão mantidas na escrita as características da fala dos alunos.

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“Para mim cidadania é o melhor modo de aprender”. A escola ajuda sim. Nesta

escola às vezes. “Poderia ter mais palestras para ajudar a gente, para a gente desenvolver e

aprender melhor” (B., 16 anos).

“Para mim cidadania é um modo de a gente aprender o que somos, ser cidadão é ter

seus próprios documentos e registros de que você é. A escola ajuda sim bastante porque tem tudo

a ver com cidadania. Nesta escola às vezes temos práticas de cidadania, porque são muito pouco

assunto sobre esse tema. Em minha opinião os professores poderiam fazer mais palestras,

debates ou mais trabalhos sobre cidadania (B., 17 anos).

“Para mim cidadania é tudo que envolve regras e respeito, onde coisas simples para

bom convívio em grupo que são impostas e as pessoas seguem”... Acima de tudo cidadania é

respeito. A escola sim pode ajudar a entender a cidadania sim, pois assim como todos os outros

lugares, na escola existem regras e conceitos a serem seguidos. Nesta escola nem todas as aulas

têm, mas a maioria sim, algumas pessoas não sabem a hora de brincar e de manter o respeito em

sala de aula. O que a escola deveria fazer para eu aprender mais sobre cidadania, mais pessoas

que soubessem definir “o que é cidadania”, alguns profissionais da escola nem sequer sabem o

que é isto, precisa de pessoas capacitadas. (A. M.P.17 anos).

“Para mim, cidadania é ser cidadão e ter a consciência de seus atos e de seus

deveres em uma sociedade. A escola ajuda sim a entender o que é cidadania porque tem alguns

professores que se importam. Nesta escola há sim práticas de cidadania. O que deveria ter nesta

escola, eu acho que deveria ter um professor que ensinasse sobre a cidadania (D., 19 anos).

“Para mim cidadania é cumprir deveres e adquirir direitos, ser uma pessoa de bem,

que respeita as leis, ser solidário, e ter ética”. A escola ajuda sim, na escola aprendemos que

temos deveres e com o dever feito ganhamos benefícios como boas notas! E na escola também

passamos a conhecer os direitos que temos como cidadão. Nesta escola tem mais a prática aos

fins de semana, que a escola fica aberta para aqueles que não têm o que fazer se encontrar com

os amigos praticar esportes, tirar um lazer, e lazer para mim faz parte da cidadania. A escola

deveria dar mais passeios com os alunos do ensino fundamental que é a área que quase não vão

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passear com a escola, parar de ficar só com os livros, lousa, acho que se tivesse algo que os

motivasse nas matérias passadas com o que aprenderão no local que visitarão, a matéria para

de ficar só na teoria e vai também para a prática. A aprendizagem fica melhor para eles

aprender, e mais interessante despertando a atenção e mais alunos se interessaria. (M., 17 anos).

“Para mim cidadania é o ser humano poder ser dono da sua própria vida e poder

pagar seus impostos, suas próprias contas com seu próprio trabalho, e ele ser livre poder propor

suas ideias”. Sim a escola ajuda a entender a cidadania até porque a cidadania faz parte da

educação. Nem em todas mais na maioria sim, algumas pessoas não sabem a hora de brincar e

de manter o respeito em sala de aula. Mas pessoas que entendesse mais sobre cidadania que

alguns nem sabe direito o que é cidadania. (M.).

Ao analisar essas declarações percebemos que os alunos apresentam pouco

esclarecimento a respeito de cidadania e educação ambiental e, mesmo com o uso da proposta

curricular dos temas transversais, uma vez que eles deveriam estabelecer relação da parte

(disciplina isolada) com o todo, ou seja, a interdisciplinaridade.

A cidadania é interpretada por esses alunos sempre como obrigações a serem

cumpridas, e ainda o aprendizado organizado, cobrado em provas, sempre de caráter unitário. O

fato de estarem na escola lhes dá a impressão de terem se tornado cidadão por bom

comportamento e pouca exigência. Esse entendimento contraria ao do cidadão formado para

prática de novas atitudes, discernimento, participação ativa, opinião formada. Apesar do respaldo

que encontramos no PCN’s (Parâmetros Curriculares Nacionais), usando inclusive a

interdisciplinaridade, acreditando que essas práticas foram contextualizadas, isso não aconteceu

efetivamente.

Apesar da redefinição das teorias pedagógicas, e pelas muitas práticas educativas, a

educação tem demonstrado um trabalho a favor da sociedade capitalista, impondo seus limites à

liberdade, a sua forma de submissão e também da participação política de seu público-alvo. Nota-

se que o poder da educação não deixou de ser uma maneira de excluir o novo sujeito por ela

administrado. A adequação necessária para o novo convívio social, ainda que “pese” sobre a

liberdade, a participação, ao sujeito educado. Conforme Arroyo (1993, p. 38), “A educação

moderna passou a agir como passagem estreita para o novo reino da liberdade e da participação.

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73

(...) Depois de vários séculos de nova ordem, o numero dos excluídos desse reino continua sendo

bem mais numeroso do que os eleitos, os educados, os civilizados”.

Os alunos que declararam não acreditar no papel da escola para uma educação que

leve ao exercício da cidadania, explicaram assim:

“Eu não sei muito bem o que é cidadania, mas para mim, é ter onde morar, ter apoio

do governo e da escola” (E.17 anos).

“Para mim cidadania é ser cidadã, é ser reconhecido na sociedade, de maneira

participativa na humanidade. A escola ajuda de maneira bem entendedora não, porque ainda

não entendi o que é cidadania. A escola não ajuda. Que eu saiba a escola não tem práticas de

cidadania, porque todos sabemos que somos cidadãos que ter igualdade, independentemente de

qual classe for, em qualquer ambiente. Esta escola deveria ter mais explicações nas salas,

explicando sobre cidadania, às vezes explicam, mas acabam não comentando tanto nas próximas

aulas” (J, 17 anos).

“Para mim cidadania é ser reconhecido na sociedade. A escola ajuda mais ou

menos, eles falam, mas não muita clareza que possamos entender. Eu não sei se nesta escola há

prática de cidadania. Umas das explicações melhores e bem claras que nos possamos entender e

debater em qualquer ocasião” (M., 18 anos).

“Cidadania é o direito de ir e vir, votar por direito, votar por direitos seus, por

governantes, de algo e por direito de questionar algo que achamos não estar certo.A escola não

ajuda a aprender sobre isso, ela até menciona algo sobre, mas tudo superficialmente de um jeito

que nem aprendemos nada e, além disso, temos direito de questionar, pois sempre há alguém que

tem mais “poder”, que não nos deixa expor ideais e expectativas sobre algo. Deveríamos ensinar

melhor o que é como praticar e como lutar por ela, porque só assim saberiam exatamente o que

é e o que melhoraria em nossas vidas com ela” (L., 18 anos).

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Saber que a educação é responsável por representar os valores da sociedade também

pelos conhecimentos, desenvolvimento dos valores, pudemos concluir pelas falas desse grupo

de alunos é que a escola não sofreu mudanças ao longo da evolução da sociedade, e, portanto

não desperta interesse e nem apresenta novidades. A sensação de não acrescentar diferenciais

em relação ao conhecimento ofertado para esses alunos, uma vez que não conseguem outras

oportunidades a começar pela concorrência por vagas nas universidades consideradas senão a

melhor, com boa referência pode nos demonstrar uma lacuna a ser preenchida, lacuna esta do

produto ofertado e da necessidade da população que ainda está frequentando a escola, e isso não

é só no nível de ensino básico. Para esses alunos a conclusão é de que a obrigação de se formar

na escola pública é de conservar o status quo, pois nos comentários sobre as novas propostas

para a escola nos foi relatado que não é porque os avós e os pais se formaram na escola pública

que tiveram mais oportunidade na vida profissional e nem tão pouco na social.

Há necessidade de questionamentos na relação da educação com os ideais políticos,

além de ainda na escola se apresentem as mesmas concepções que ocorre em outros setores da

sociedade. Precisamos, de acordo com Arroyo (1993) “desmontar essas concepções tão

marcantes” no pensamento pedagógico e não é apenas uma necessidade de renovação teórica e de

ideias mais claras, mas, antes de tudo, um caminho para redefinir nossas práticas para poder

elaborar projetos educativos condizentes com a nova história que está sendo construída. Alguns

pontos que esse autor julga necessário desmontar:

- a concepção da história como progresso inexorável da barbárie à civilização, da

miséria à felicidade de todos, da exploração à liberdade. Só uma visão crítica do

progresso capitalista e de suas formas de exploração, do embrutecimento do

homem nos permitirá equacionar devidamente os limites reais impostos por esse

progresso à participação e à cidadania, e nos mostrará a utopia pedagógica,

- a questão da cidadania nas camadas populares e a crença nos estados modernos

como instância capaz de tutelar, educar, conduzir e proteger o povo contra si

mesmo, contra seus instintos e contra a irracionalidade de falsos condutores.

Ao concluir tais leituras percebemos que não é na escola que se prepara o cidadão,

inclusive a educação está voltada para a busca de soluções individuais no convívio social, o

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convívio na cidade, mesmo que não transforme a realidade do indivíduo. A cidadania não será o

trabalho da escola.

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CONCLUSÃO

Do conhecimento de vários autores, documentos, ações e novas atitudes em algumas

escolas públicas de ensino básico, da expectativa de mudanças nas práticas escolares, à prática da

interdisciplinaridade, do uso de temas transversais ainda não se efetivaram. Da escola que deverá

ser capaz de formar um indivíduo, não atingimos o objetivo, e nem tão pouco nos preparamos

para tal.

Na proposta dos PCN’s há a garantia de que a formação do cidadão é preocupação da

equipe que a propos. Assim, a cidadania é a participação de forma crítica, quanto a si mesmo e

quanto aos argumentos que julgar necessários, essas ações dentro da escola que serão derivadas

das ações do professor e do próprio aluno. Os PCN’s são considerados como propostas dessas

práticas.

Cabe ainda para uma melhor interpretação dos documentos oficiais, diferenciar o que

são Diretrizes Curriculares Nacionais e Parâmetros Curriculares Nacionais. Na explicação de

CURY (2002, p. 194): “Diretrizes são linhas gerais que, assumidas como dimensões normativas,

tornam-se reguladoras de um caminho consensual, conquanto não fechado a que historicamente

possa vir a ter outro percurso alternativo, para se atingir uma finalidade maior”.

O termo diretrizes significa caminhos propostos para e, contrariamente à imposição

de caminhos, ele denota um conjunto de indicações pelo qual os conflitos se resolvem pelo

diálogo e pelo convencimento. A diretriz pressupõe, no caso, uma concepção de sociedade e uma

interlocução madura e responsável entre vários sujeitos, sejam eles parceiros, no campo político,

dirigentes ou dirigidos. Conforme Cury (2002), a apropriação das diretrizes pelos projetos

pedagógicos permite o exercício da autonomia dos estabelecimentos no sentido de adequá-las à

sua realidade.

Dessa interlocução, espera-se o traçado de diferentes modos de se caminhar para a e

assim ter efetivação dos fins comuns, obedecendo-se à diversidade de circunstâncias

socioculturais, ao respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais e regionais (cf. art. 210da

Constituição Federal de 1988) e à recusa ao monopólio da verdade: “A apropriação das diretrizes

pelos projetos pedagógicos permite o exercício da autonomia dos estabelecimentos no sentido de

adequá-las à sua realidade” (CURY, 2002, p.195).

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O termo diretrizes pode nos demonstrar que a escola tem sim um controle e por isso

um órgão regulador, neste caso, o MEC. As avaliações a que estamos sujeitos também parecem

alterara função da escola ao trocar os resultados num sentido técnico em detrimento do papel

social da educação.

Este entendimento esclarece porque temos a avaliação nacional da educação SARESP

(Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar) e SAEB (Sistema de Avaliação do Ensino

Básico). Parâmetros estabelecem uma faixa de medidas aceitáveis, ou conjunto de possibilidades

para um indicador, e assim nos permitem mostrar o quanto estamos próximos ou distantes de

nossos objetivos em relação àquele indicador. Os resultados de parâmetros nos permitem

perceber o quanto estamos próximos ou distantes dos objetivos. Seus valores serão a busca das

melhorias. Ainda que nossa pretensão da melhoria esteja na a qualidade: “(...) dizem que a

balança dá o peso, mas não diz se o objeto é de ouro ou prata” (DESPRESBÍTERIS, 2001, p. 3.).

Talvez a mudança na sua forma de atuação da escola pode nos apresentar mais um

desafio. Também a inclusão da área de Meio Ambiente como um dos temas transversais, os

PCN’s apresentam as orientações para o trabalho do professor: “O trabalho pedagógico com a

questão ambiental centra-se no desenvolvimento de atitudes e posturas éticas e, no domínio de

procedimentos, mais do que na aprendizagem de conceitos” (BRASIL, 1998, p. 201).

Para a prática da educação ambiental temos recebido regras, normas que mesmo ao

serem regulamentadas não vão definitivamente ao ponto do problema, mas de encontro com uma

solução de maneira que não mudem a estrutura vigente, que no sistema capitalista é o da

exploração e o lucro.

A educação ambiental que nos interessa é a que busca quebrar o paradigma atual, pois

ela se faz aberta ao diálogo, a receber e entender o outro. É a da construção de uma postura

política, seja individual ou coletiva. É a educação ambiental crítica.

Outro assunto que precisa ser revisto é a proposta curricular lançada e implementada

em 2008 pela Secretaria de Estado da Educação de São Paulo. Ela apoia-se na utilização de

diversos materiais pedagógicos que contemplam dentre eles o caderno do aluno, subdividido em

quatro volumes e em diferentes disciplinas. Há também o caderno do professor que subsidia a

aplicação das atividades do caderno citado. O material é dividido em níveis fundamental e médio,

por disciplinas e séries, apresentando a quantidade de aulas necessárias para a aplicação do

conteúdo detalhado e pré-determinado para cada hora aula, todos esses materiais recebidos da

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Secretaria de Educação do Estado de São Paulo. Os PCN’s apresentam uma valorização nas áreas

tradicionais do saber. Os textos revelam propostas detalhadas de conteúdos que incluem

conhecimentos, procedimentos, valores e atitudes no interior de disciplinas ainda

compartimentalizadas.

Ao apresentar outra mudança na educação derivada do processo democrático no país,

a partir da nova LDB, foi permitido que as unidades escolares elaborassem sua proposta

curricular através da construção de seu Projeto Político-Pedagógico. Sua elaboração será fruto de

discussões, propostas, envolvimento de participação e, por isso, de vários olhares, o que

corresponde a uma construção interdisciplinar. Mas essa construção se faz tímida. As

possibilidades propostas ainda nos apresentam poucas respostas. Ainda não temos uma população

com criticidade, participação, conhecimento das leis que lhes são oferecidas. Assim não

exercemos a cidadania. Nem na escola nem na sociedade.

Do cuidado exigido para um novo profissional de educação e da educação ambiental,

ainda temos que garantir aos estudantes de educação básica o direito à educação superior. Ser um

país onde a sociedade capitalista é dependente de políticas macroeconômicas, entre as

desigualdades sociais, ter direito à educação superior pública e gratuita não é para todos que

desejam dar continuidade aos estudos.

Como consta, já na educação básica 44% dos estudantes exercem algum tipo de

trabalho e 30% se dividem entre trabalho e estudo. No ensino médio, dos poucos que concluem,

não têm sequer o direito de sonhar em cursar uma universidade. Estes dados foram divulgados

em matéria da Revista ADUNICAMP, em Setembro de 2005, com o título: Educação não é

mercadoria – O ataque à universidade pública. Nesta mesma matéria, o texto apresenta os

resultados do Censo Demográfico do IBGE (2000), o qual registra cerca de 18 milhões de jovens

entre 15 e 19 anos. O último Censo Escolar, realizado em 2003, atesta que 9 milhões de jovens

estavam matriculados no ensino médio. O cruzamento de indicadores dos censos permite concluir

que cerca de 6 milhões de jovens de 15 a 17 anos estão fora da escola. Dos 9 milhões de

matriculados no ensino médio regular concluem, por ano, apenas 1,8 milhão (INEP, 2003).

Atualmente, o número de vagas nos vestibulares já é superior a 1,8 milhões, mas destas apenas

14% são públicas. Uma agenda democrática tem de partir do princípio de que o acesso à

educação pública e garantia de permanência são direitos inalienáveis e dever do Estado. Assim é

indispensável garantir, no plano da legislação, o direito constitucional da educação superior

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pública, universal e gratuita, aberta a todos aqueles que desejam dar prosseguimento aos estudos

e garantir os conhecimentos necessários para continuar com probabilidades de êxito seus estudos.

O Conselho Universitário considera que o debate que se trava em torno da questão

universitária pode se constituir em uma oportunidade para o aprimoramento tanto do ensino

superior brasileiro como da política educacional como um todo. Dos pontos não consensuais que

perduram no anteprojeto da reforma e cuja manutenção no texto apresenta uma ameaça – e

seguramente um retrocesso – para a universidade pública brasileira, o mais grave é a persistente

tentativa de definir o conceito de autonomia universitária (ou seja, de restringi-lo), quando a

Constituição Brasileira já dá conta deste tópico, de forma irretocável, no seu artigo 207,

dispensando qualquer regulamentação em lei (Revista ADUNICAMP p. 59).

Da mesma forma, a política educacional não leva em conta a necessidade de corrigir

o desequilíbrio do universo educacional brasileiro por meio de sua qualificação sistêmica, do

fundamental ao universitário, sem esquecer também as lacunas que se verificam na educação

infantil e no ensino técnico-profissionalizante (Revista ADUNICAMP p. 60).

É indispensável, portanto, a construção de um sistema educacional que de um lado

articule as instituições federais, estaduais, municipais e todos os níveis de ensino e, de outro,

como já prevê o Plano Nacional de Educação, corrija as distorções regionais de oferta da

educação, além de definir meios de colaboração entre a federação, os estados e os municípios,

facilitando o desenvolvimento sustentado em todo país (Revista ADUNICAMP p. 60).

Também surge como outra preocupação a formação dos profissionais da Educação

Ambiental. A formação deste profissional está vinculada aos currículos ofertados e serão estes

que determinarão que tipo de profissional que estarão preparados. Receber o currículo pronto

pode nos demonstrar como um instrumento capaz de identificar os objetivos dos professores, que

sendo representante do trabalho que se pretende desenvolver junto ao seu público alvo, que são

particulares e específicos nas respectivas escolas, não é a nossa realidade nem fruto de nosso

trabalho, mas um material recebido pronto e de acordo com interesses de poucos e de forças

multilaterais.

Assim teremos uma das mudanças que possibilitará a educação ambiental, se fará

uma realidade quando a prática do profissional de educação ambiental deixar de ser fragmentada

como está organizado o currículo escolar. Devemos construir um currículo que deverá estabelecer

quais princípios e conteúdos derivados de diálogos e participações nos serão úteis e reais.

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Outra observação e mudança que se fazem necessárias ao profissional da educação

ambiental são o envolvimento e a participação em cursos de especializações, mestrado,

doutorado, além de divulgação de trabalhos, encontros e debates sobre as novas orientações da

formação e atuação deste profissional, da troca de experiências e trabalhos coletivos.

Os profissionais formados para ser um educador ambiental, com postura política e

função definida, poderão pensar numa nova proposta educacional e que dela resultem novas

atitudes, outras escolhas. Que para além destes profissionais, todos que se envolvam com eles

(alunos, comunidade do entorno, faculdades, pesquisadores.) possam aprender e reivindicar seus

direitos, a justiça social, novas formas de relações sociais e com natureza.

Ao apresentar às conclusões de se trabalhar as questões ambientais nas escolas, e em

particular na escola pública estadual no período noturno, numa das periferias de campinas /SP,

podemos afirmar que, apesar de ter nos possibilitado descobertas, reflexões, e mesmo com

propostas renovadas e transformadoras, ainda temos uma prática de caráter conservador na

educação, por isso acreditamos que se refere a um processo ainda em construção e de uma

proposta pedagógica ainda não bem definida.

Pela convivência diária com professores da unidade escolar escolhida pudemos

observar que os mesmos apresentam expectativas quanto à possibilidade de outra realidade em

sala de aula, de busca da realização profissional, mas que se movem sem estímulos e

desmotivados. Destes profissionais não pudemos perceber quais são os de posição definida, entre

a situação de atuação conservadora ou crítica.

A nossa LDB 9394/96 apresenta a necessidade de espaços de formação continuada,

além de outras mudanças na rotina desses profissionais, portanto, é necessário o apoio e auxílio

tornando-os mais seguros. Das propostas que são ofertadas às escolas públicas, precisamos de

uma aproximação entre o órgão responsável (SEE/SP) e o profissional em exercício percebeu a

necessidade de um diálogo que origine proposta eficaz. A oferta do HTPC (Horário de Trabalho

Coletivo) não se tornou eficaz na proporção que se espera, sendo uma das reclamações que é um

tempo pequeno para elaboração e propostas de projetos que deverão envolver toda a escola, que

as atitudes deverão ser coletivas, mas que não são atingidas, pois as condições de trabalho, a

organização escolar, não criam condições para tal.

Assim, ao analisarmos o cotidiano da escola, percebemos a necessidade de romper

com as práticas conservadores que se reproduzem nas escolas, que precisamos de um diálogo

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coletivo, de pensamento crítico para fortalecer um movimento a partir da educação. Movimento

que deverá ser contra hegemônico.

Se a escola deve ser um local de troca de experiências, de formação coletiva, de

criticidade, de reflexão sobre o contexto socioeconômico, o professo, ao ter a visão ampliada

também terá o perfil de professor-pesquisador, desenvolvendo sua prática numa dimensão

ambiental.

As transformações que desejamos, portanto, não serão fáceis de serem realizadas e,

apesar das condições dos profissionais da educação, não só do nível básico, mas também os da

educação superior e pós-graduação precisam fortalecer as concepções, e a partir da educação

ambiental crítica criar rupturas que se façam necessárias; da valorização do professor, do diálogo,

da reflexão, de um novo fazer docente. Precisamos, sim, da construção de novos caminhos, da

mudança de valores.

Além das observações aqui descritas sobre a educação ambiental numa escola

pública, precisamos nos debruçar também sobre o ensino ofertado no período noturno, o qual

poderá nos orientar para outras pesquisas e descobertas.

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