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X Encontro Nacional de Educação Matemática
Educação Matemática, Cultura e Diversidade Salvador – BA, 7 a 9 de Julho de 2010
Anais do X Encontro Nacional de Educação Matemática Relato de Experiência
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A VEZ DA HISTÓRIA: RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA ENVOLVENDO
PALESTRAS-TEMÁTICAS SOBRE HISTÓRIA DA MATEMÁTICA
Cristiane Borges Angelo
Universidade Federal da Paraíba - UFPB
Jânio Elpídio de Medeiros
Universidade Federal da Paraíba - UFPB
Cristiane Fernandes de Souza
Universidade Federal da Paraíba - UFPB
Jussara Patrícia Alves de Paiva
Universidade Federal da Paraíba - UFPB
Resumo: O presente relato de experiência objetiva apresentar o trabalho desenvolvido no
projeto “A vez da história: despertando o interesse e a melhoria da aprendizagem da
matemática por meio de palestras-temáticas sobre história da matemática”, vinculado ao
Programa de licenciatura - PROLICEN/UFPB/2009. O objetivo geral do projeto foi
integrar o Curso de Licenciatura em Matemática do Campus IV – Litoral Norte, às escolas
públicas do município de Rio Tinto, promovendo a articulação entre ensino, pesquisa e
extensão na formação dos licenciandos do referido curso, bem como atuando na promoção
do interesse e na melhoria da aprendizagem em Matemática dos alunos de escolas públicas.
O público-alvo atendido pelo projeto constituiu-se por estudantes dos anos finais do Ensino
Fundamental (6º ao 9º ano).
Palavras-chave: História da matemática; Formação de professores; Educação matemática.
Introdução
Este relato objetiva apresentar o trabalho desenvolvido no projeto “A vez da
história: despertando o interesse e a melhoria da aprendizagem da matemática por meio de
palestras-temáticas sobre história da matemática”, vinculado ao Programa de Licenciatura -
PROLICEN/UFPB/2009. O objetivo geral do projeto foi integrar o Curso de Licenciatura
em Matemática do Campus IV – Litoral Norte, às escolas públicas do município de Rio
Tinto/PB, promovendo a articulação entre ensino, pesquisa e extensão na formação dos
licenciandos do referido curso, bem como atuando na promoção do interesse e na melhoria
da aprendizagem em Matemática dos alunos de escolas públicas. Para atingir o objetivo
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geral proposto, o projeto teve como objetivos específicos utilizar a história da matemática
como recurso pedagógico para promover o interesse e a melhoria da aprendizagem nessa
disciplina, em alunos de escolas públicas; possibilitar o contato dos licenciandos em
Matemática com escolas da rede pública; desenvolver nos alunos-bolsistas a capacidade de
expressarem-se escrita e oralmente os signos da língua e da matemática com clareza e
precisão.
Justificando o uso da história da matemática como recurso metodológico
De acordo com dados divulgados em fevereiro de 2007 pelo Sistema Nacional de
Avaliação da Educação Básica (SAEB), as médias de proficiência em matemática, no
Brasil, de 1995 a 2005, demonstram, de forma geral, uma queda em todos os níveis
avaliados, quais sejam a quarta e a oitava séries do Ensino Fundamental e o terceiro ano do
Ensino Médio (BRASIL, 2007).
Esse quadro leva-nos a refletir sobre a forma como a matemática tem sido
abordada nas escolas brasileiras. Em geral, a visão que se tem da matemática é aquela que
concebe essa ciência como um conhecimento estanque, pronto e acabado, o que leva a um
ensino nessa disciplina baseado na repetição mecânica de algoritmos, em que a
memorização de regras se sobrepõe ao entendimento significativo dos conteúdos
matemáticos. Em conseqüência a essa visão, os conteúdos matemáticos são apresentados
totalmente desconectados de sua origem e de outras áreas de conhecimento, trabalhando-se
a Matemática desconsiderando os aspectos sócio-culturais que originaram tais conteúdos.
Em oposição a essa visão, acreditamos que a Matemática deve ser concebida sob
uma visão histórico-crítica, sendo abordada como um conhecimento vivo, dinâmico,
produzido historicamente nas diferentes sociedades, sistematizado e organizado com
linguagem simbólica própria em algumas culturas, atendendo às necessidades concretas da
humanidade.
Essa visão é corroborada pelo pesquisador Dário Fiorentini (1995) quando afirma
que assim como acontece com todo conhecimento, a Matemática é também um saber
historicamente em construção que vem sendo produzido nas e pelas relações sociais e,
como tal, tem seu pensamento e sua linguagem. Para o pesquisador, essa linguagem com o
passar dos anos foi se tornando formal, precisa e rigorosa, distanciando-se daqueles
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conteúdos dos quais se originou, ocultando, assim, os processos que levaram a Matemática
a tal nível de abstração e formalização (ibidem, 1995).
Segundo o pesquisador Iran Abreu Mendes (2006), a Educação Matemática,
enquanto área de estudos e pesquisas, tem se estruturado através de algumas tendências,
amparadas em várias concepções filosófico-metodológicas, que norteiam os pesquisadores
na busca de um ensino mais eficaz.
Uma dessas tendências se ancora no uso da história da matemática no ensino
dessa disciplina, que se apresenta como uma alternativa para o professor de qualquer nível
de ensino mostrar a evolução da disciplina ao longo dos tempos e, assim, poder motivar os
seus alunos para uma aprendizagem significativa, apontando a relevância do conhecimento
matemático.
Jonh Fauvel (apud MENDES, 2006), em artigo intitulado Using history in
mathematics education, aponta várias razões para o uso da história no ensino de
matemática, tais como: a história aumenta a motivação para a aprendizagem matemática;
humaniza a matemática; mostra o seu desenvolvimento histórico através da ordenação e
apresentação de tópicos no currículo; os alunos compreendem como os conceitos se
desenvolveram; contribui para as mudanças de percepções dos alunos com relação à
matemática; a comparação entre o antigo e o moderno estabelece os valores das técnicas
modernas a partir do conhecimento desenvolvido ao longo da história da sociedade; ajuda
a desenvolver uma aproximação cultural para a construção do conhecimento matemático;
suscita oportunidades para investigação matemática; pode apontar os possíveis aspectos
conceituais históricos da matemática que dificultam a aprendizagem dos estudantes;
contribui para que os estudantes busquem no passado soluções matemáticas para o presente
e projetem seus resultados no futuro; ajuda a explicar o papel da matemática na sociedade;
faz da matemática um conhecimento menos assustador para os estudantes e apara a
comunidade em geral; explora a história, ajudando a sustentar o interesse e a satisfação dos
estudantes; fornece oportunidades para a realização de atividades extracurriculares que
evidenciem trabalhos com outros professores e/ou outros assuntos (caráter interdisciplinar
da história da matemática).
De posse das justificativas apresentadas por Fauvel para o uso da história da
matemática no ensino dessa disciplina, podemos depreender que o uso da história como
recurso metodológico tem por finalidade promover a ressignificação da aprendizagem de
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conceitos matemáticos produzidos pela sociedade em sua evolução. Além disso,
desmistifica a concepção de que a matemática é uma ciência “pronta”, criada por mentes
“iluminadas”. Em contrapartida, o uso da história da matemática no ensino dessa
disciplina, pode levar os alunos a conceberem a matemática como uma ciência que se
desenvolveu e ainda se desenvolve em contextos socioculturais, a partir da demanda de
diferentes culturas.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), documentos que norteiam a
educação Básica brasileira, afirmam que a história da matemática, juntamente com outros
recursos didáticos e metodológicos, pode oferecer uma importante contribuição ao
processo de ensino e aprendizagem da matemática. Segundo os documentos que versam
sobre o Ensino Fundamental, ao revelar a matemática como uma criação humana, ao
mostrar necessidades e preocupações de diferentes culturas, em diferentes momentos
históricos, ao estabelecer comparações entre os conceitos e processos matemáticos do
passado e do presente, o professor tem a possibilidade de desenvolver atitudes e valores
mais favoráveis ao aluno diante do conhecimento matemático (BRASIL, 1998). Nesse
sentido, a história da matemática configura-se em um instrumento de resgate da própria
identidade cultural.
Concordamos com o educador matemático Iran Abreu Mendes (2006, p. 97) ao
defender que a história a ser usada no ensino fundamental e médio deve ser uma “história-
significado” ou uma “história reflexiva”, ou seja,
uma “história cuja finalidade é dar significado ao tópico matemático
estudado pelos alunos, levando-os a refletir amplamente sobre tais
informações históricas de modo a estabelecer conexões entre os aspectos
cotidiano, escolar e científico presente nessa história”.
Para Ferreira (1998 apud MENDES, 2006), a utilização da história da matemática
como recurso didático pode ajudar a justificar para os estudantes os porquês conceituais e
teóricos da matemática que devem ser aprendidos por eles.
Pelo acima exposto, optamos por desenvolver o projeto, tendo como fio condutor
atividades de pesquisa, ensino e extensão focadas no uso da história da matemática como
alternativa metodológica para promoção do interesse em Matemática e a melhoria da
aprendizagem nessa disciplina.
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Descrição metodológica
Diversos pesquisadores apontam que o uso da história da matemática como
recurso pedagógico levaria a resultados satisfatórios no que concerne à aprendizagem na
disciplina de matemática (MENDES, 2006; MIGUEL, MIORIM, 2004; CARVALHO,
BRITO, 2009). Nesse sentido, pretendeu-se, com o desenvolvimento do projeto, contar a
história de alguns conteúdos da matemática, por meio de palestras-temáticas, procurando
mostrar aos alunos que a matemática é uma criação humana que se desenvolveu e se
desenvolve em contextos socioculturais, a partir das necessidades das diferentes culturas
em diferentes períodos da história.
As palestras-temáticas foram ministradas por um aluno-bolsista e por duas alunas
voluntárias, sob a orientação e supervisão da coordenadora do projeto. Para isso, os alunos
realizaram estudos e pesquisas acerca da história da matemática e, a partir desses estudos,
elaboraram textos que serviram de base para as palestras-temáticas. Nesse sentido, o
projeto atuou em consonância com o Projeto Político Pedagógico do Curso de Licenciatura
em Matemática, pois permitiu que os alunos desenvolvessem habilidades e competências
relacionadas a “capacidade de expressar-se escrita e oralmente os signos da língua e da
matemática com clareza e precisão” (Projeto Político-Pedagógico, 2008, p. 13).
O projeto também atuou na consolidação do Projeto Político-Pedagógico do Curso
de Licenciatura em Matemática, do Campus IV – Litoral Norte, indo ao encontro dos
objetivos desse curso ao inserir-se na perspectiva de melhoria da qualidade de ensino da
Educação Básica na microrregião a qual está inserido esse campus.
O projeto foi desenvolvido em duas escolas da rede pública do município de Rio
Tinto-PB, quais sejam: Escola Municipal Antônia Luna Lisboa e Escola Estadual Professor
Luiz Gonzaga Burity.
Como primeira etapa do projeto, aplicamos um questionário aos professores de
matemática, com a finalidade de averiguar quais conteúdos matemáticos os estudantes
apresentam maior dificuldade de aprendizagem. Além disso, perguntamos aos professores
se eles utilizavam a história da matemática como recurso pedagógico no desenvolvimento
de suas aulas. Após a análise dos resultados concluímos que os professores não utilizam
esse recurso pedagógico.
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Realizamos, também, o diagnóstico de quais conteúdos seriam abordados nas
palestras-temáticas e os resultados apontaram para os seguintes conteúdos: números
inteiros, equações de primeiro grau e operações fundamentais. Esses conteúdos foram
elencados pelos professores como os que mais os alunos apresentavam dificuldades para
sua aprendizagem.
Após a etapa de diagnóstico, iniciamos a pesquisa bibliográfica e elaboração de
textos-bases das palestras-temáticas que foram ministradas aos alunos das escolas públicas,
a partir dos conteúdos acima elencados.
Em seguida a essa etapa, iniciamos o trabalho de preparação das palestras-
temáticas em que confeccionamos todo o material que seria utilizado com os alunos em
sala de aula, quais sejam, jogos, cartazes, painéis, material para dramatização, dentre
outros.
Sob a supervisão e orientação da coordenadora do projeto, os licenciandos
ministraram um total de três palestras-temáticas sobre a história dos conteúdos
matemáticos, atendendo um total de, aproximadamente, 150 alunos distribuídos em duas
turmas de 6º ano, uma turma de 7º ano e uma turma de 8º ano.
A primeira palestra ministrada foi dirigida a alunos do 6º ano da Escola Municipal
Antônia Luna Lisboa. A temática dessa palestra foi operações fundamentais, em que
abordamos como as operações de adição, subtração, multiplicação e divisão surgiram, bem
como alguns métodos que povos da antiguidade utilizavam para efetuar cálculos.
O objetivo foi mostrar aos alunos que
as solicitações do cotidiano, principalmente o crescimento do comércio,
conduzia o homem a buscar um conhecimento mais sistematizado que lhe
possibilitasse resolver problemas concretos: “armar contas” e “resolver contas”.
(DYNNIKOV, 2003, p. 10-11)
Ao abordarmos a adição e a subtração, mostramos aos alunos as diferentes
notações que representavam, ao longo do tempo, essas operações.
Apresentamos aos alunos os métodos utilizados pelos árabes para efetuar adições
e subtrações que eram baseados nos conceitos e definições das operações realizadas pelos
gregos e romanos.
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Explicamos os dois métodos de adição adotados por esses povos. O primeiro, que
consistia em aplicar a regra atual, iniciando-se as adições pelas unidades, da direita para a
esquerda, em que frequentemente encontrávamos a soma das unidades de ordem superior
debaixo da soma, conforme a figura 1. O segundo método que consistia em começar a
soma pela esquerda para a direita, corrigindo os valores quando resultavam em valores de
ordem superior, conforme figura 2.
Com relação à operação de subtração, apresentamos os dois métodos utilizados
pelos árabes.
O primeiro método empregava a regra atual, começando da direita pela esquerda e
efetuando as correções mentalmente, conforme a figura 3. No segundo método começava-
se da esquerda pela direita e escrevendo-se as dezenas abaixo, conforme a figura 4.
Quando abordamos a multiplicação, apresentamos o método da gelosia para
multiplicar dois números que possivelmente se originou na Índia, por volta do século XII e,
após, foi difundido na China e Arábia (BOYER, 1996 apud DYNNIKOV, 2003). Nesse
método, cada retângulo é dividido pela diagonal e os produtos parciais são escritos nos
retângulos. Em nossa palestra utilizamos como exemplo a operação 185 x 84, conforme a
figura 4.
Figura 1 Figura 2
Figura 3 Figura 4
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Para finalizar o trabalho, propomos aos alunos o Dominó das quatro operações
que consiste em um jogo de dominó composto por 28 peças, que são confeccionadas tendo
impressas sobre as mesmas as operações de adição, subtração, multiplicação e divisão,
além das respectivas soluções para cada uma das operações descritas nas peças. Como no
jogo de dominó tradicional, dever-se-ia ligar as peças com suas respectivas soluções.
Figura 5
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A segunda palestra ministrada foi dirigida a alunos do 7º ano da Escola Estadual
professor Luiz Gonzaga Burity. Nessa palestra foi abordado o tema Números Inteiros.
Primeiramente falamos sobre o surgimento dos números negativos, mostrando que
surgiram da necessidade de operações comerciais. Para isso, foi feita uma dramatização em
que os licenciandos ministrantes da
palestra, utilizando sacos que
simulavam conter 1 Kg de farinha,
mostraram aos alunos como
aconteciam as trocas e as notações que
deram origem a esses números, que
comumente aconteciam na Europa.
Enfatizamos para os alunos que, ao
longo dos séculos, o desenvolvimento da Matemática esteve diretamente ligada ao
desenvolvimento do comércio. Nesse sentido, entendemos que era importante mostrar aos
alunos a localização da Europa em relação ao Brasil, de acordo com o mapa representado
na figura 5.
Mostramos aos alunos que os primeiros sinais para representar as operações
aritméticas surgiram através de práticas cotidianas dos comerciantes europeus.
Na dramatização realizada utilizamos dois sacos que continham 10 saquinhos de 1
kg, totalizando 10 kg de farinha em cada saco. Falamos para os alunos que se, durante um
dia, um comerciante vendesse 7 kg de farinha, ele desenhava um traço na frente do número
7 para lembrar que naquele saco havia 7 kg a menos que a quantidade inicial. Uma outra
situação abordada na dramatização era a de que se ele despejasse no outro saco os 3 kg de
farinha que sobravam, escrevia o número 3 com dois traços em forma de cruz na frente,
para lembrar que havia naquele saco 3 kg a mais que a quantidade original.
Para finalizar essa palestra, utilizamos como recurso didático o jogo de Trilha dos
inteiros. Nessa atividade, afixamos o tabuleiro contendo a trilha no quadro-negro e os
alunos vinham ao quadro para jogar em duplas. Os alunos jogavam dois dados: um com a
numeração e outro com os sinais positivo e negativo. Dependendo da combinação dos dois
dados os alunos avançavam ou recuavam no tabuleiro.
A terceira palestra, cuja temática foi Equações de 1º grau, foi ministrada a alunos
do 8º ano da Escola Estadual professor Luiz Gonzaga Burity. Nessa palestra abordamos a
Figura 5
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origem da álgebra, bem como o significado de uma equação, assim como os métodos
utilizados para resolver as equações de 1º grau. O foco da palestra foi a “tradução” para a
linguagem matemática de problemas históricos. A seguir, apresentamos um dos problemas
históricos trabalhados com os alunos, encontrado no epitáfio de Diofante, matemático
grego. À medida que apresentávamos as informações do problema, mostrávamos para os
alunos a sua “tradução” para a linguagem matemática.
Após abordar os problemas históricos, finalizamos a palestra propondo aos alunos
o jogo do Bingo matemático em que sorteávamos uma equação, escrevíamos no quadro-
negro e os alunos as resolviam. Se dispusessem do resultado na cartela do bingo, o
marcavam. Ganhou o jogo o aluno que preencheu a cartela primeiramente.
Nas três turmas em que foram ministradas as palestras-temáticas, percebeu-se
uma grande dificuldade com relação aos conteúdos apresentados. Além disso, quando
questionados pela coordenadora do projeto se já conheciam a história dos conteúdos
apresentados ou se já haviam participado de jogos nas aulas de matemática, afirmaram que
não, para os dois casos. Apesar disso, percebeu-se um grande interesse e envolvimento da
maioria dos alunos durante os momentos da intervenção.
Considerações finais
Com o desenvolvimento desse trabalho, percebemos uma grande dificuldade
demonstrada pelos alunos que foram atendidos pelo projeto, em termos de conhecimento
matemático. Nesse sentido, concluímos que ações dessa natureza são sobremaneira
x
x/6
x/12
x/7
5
x/2
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importantes para que possamos promover uma re-significação dos conteúdos matemáticos
abordados nas palestras-temáticas, promovendo, dessa forma, um maior interesse dos
alunos pela matemática, bem como uma melhoria da aprendizagem nessa disciplina.
Apesar de ser uma proposta concreta para a melhoria do ensino de matemática,
Mendes (2006) aponta algumas dificuldades que se têm colocado na implementação do uso
da história no ensino da matemática, dentre as quais destacamos o despreparo dos
professores que não tiveram tanto em sua formação inicial quanto continuada,
oportunidades de estudo da história da matemática e da análise das possibilidades de
inserção dessa história em suas práticas pedagógicas. Em consonância ao exposto acima,
diagnosticamos, no desenvolvimento desse projeto que os professores não utilizam a
história da matemática como recurso pedagógico em suas aulas. A esse respeito Fossa e
Mendes (1996, apud MENDES 2009) em pesquisa realizada com professores de
Matemática apontam o alto grau de desconhecimento dos professores acerca da história
dos tópicos matemáticos que fazem parte do currículo da Educação Básica. Esses
pesquisadores constataram que um dos motivos para esse desconhecimento é a falta de
orientação para que busquem esse conhecimento em pesquisas e elaborem atividades que
contribuam para a aprendizagem de seus alunos.
Acreditamos que, para essa dificuldade ser minimizada é necessário que seja
trabalhada na formação, inicial e continuada, de professores de matemática questões
relacionados ao uso da história da matemática em sala de aula. Nesse sentido, ratificamos a
importância deste projeto e de futuras ações que atuem na formação de professores focadas
no uso da história da matemática como alternativa metodológica para promoção do
interesse em Matemática e a melhoria da aprendizagem nessa disciplina.
Referências
BRASIL. INEP. Sistema de avaliação da Educação Básica. SAEB/2005 - Primeiros
Resultados: Médias de desempenho do SAEB 2005 em perspectiva comparada.
Disponível em http://www.inep.gov.br/download/saeb/2005/SAEB1995_2005.pdf
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais:
Matemática. Brasília: MEC/SEF, 1998.
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BRITO, Arlete de Jesus; CARVALHO, Dione Lucchesi; MIGUEL, Antônio; MENDES,
Iran Abreu. História da Matemática em Atividades Didáticas. São Paulo: Editora Livraria
da Física, 2009.
DYNNIKOV, Circe Mary Silva da Silva. Explorando as operações aritméticas com
recursos da História da Matemática. Coleção História da Matemática para professores.
São Paulo: SBHM, 2003.
FIORENTINI, Dário. Alguns modos de ver e conceber o ensino da matemática no Brasil.
In: Zetetiké. Nº 3. Campinas: CEMPEM/FE – UNICAMP, 1995.
MENDES, Iran Abreu. A investigação histórica como agente da cognição matemática na
sala de aula. In: MENDES, Iran Abreu; Fossa, John Andrew; VALDÉS, Juan Nápoles.
(org.). A história como agente de cognição na Educação Matemática. Porto Alegre:
Editora Sulina, 2006.
MENDES, Iran Abreu. Investigação histórica no ensino de Matemática. Rio de Janeiro:
Editora Ciência Moderna, 2009.
MIGUEL, Antônio; MIORIM, Maria Ângela. História na Educação Matemática:
propostas e desafios. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.