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A VERDADEIRA PARTICIPAÇAO NOS LUCROS A. F. CESARINO JUNIOR "Contra a participação direta há, pelo menos, três objeções fundamentais: a) dificuldade quase insupe- rável de estabelecer o critério de sua fixação; b) ex- clusão do benefício dos empregados de emprêsas que, eventualmente, não produzam lucros; c) exigüi- dade do benefício e conseqüente desinterêsse do tra- balhador pela sua percepção." - ALBERTO P AS- QUALINI A participação nos lucros, assunto discutido há mais de dois séculos, volta presentemente a preocupar os que se interessam pela solução da Questão Social. Contribuíram grandemente para isso as palavras do Papa JOÃO XXIII na encíclica Mater et Magistra, n.? 73 e 74: "A êsse pro- pósito convém recordar o princípio exposto pelo nosso predecessor PIO XI na encíclica Quadragésimo Anno: completamente falso atribuir só ao capital ou só ao tra- balho aquilo que se obtém com a ação conjunta dum e doutro; e é também de todo injusto que um dêles, negan- do a eficácia da contribuição do outro, se arrogue somen- te a si tudo o que se realiza'." 1 "Essa exigência de justiça ANTONIOFERREIRACESARINOJÚNIOR - Professor das Faculdades de Direito e Economia da Universidade de São Paulo e de Medicina da Pontifícia Uni- versidade Católica de São Paulo, Presidente Honorário da Sociedade In- ternacional de Direito do Trabalho e de Segurança Social e Professor Hono- rário da Universidade Central da Venezuela. 1) AAS XXIII, 1931, pâg. 195.

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A VERDADEIRA PARTICIPAÇAONOS LUCROS

A. F. CESARINO JUNIOR

"Contra a participação direta há, pelo menos, trêsobjeções fundamentais: a) dificuldade quase insupe-rável de estabelecer o critério de sua fixação; b) ex-clusão do benefício dos empregados de emprêsasque, eventualmente, não produzam lucros; c) exigüi-dade do benefício e conseqüente desinterêsse do tra-balhador pela sua percepção." - ALBERTO PAS-QUALINI

A participação nos lucros, assunto discutido há mais dedois séculos, volta presentemente a preocupar os que seinteressam pela solução da Questão Social. Contribuíramgrandemente para isso as palavras do Papa JOÃO XXIIIna encíclica Mater et Magistra, n.? 73 e 74: "A êsse pro-pósito convém recordar o princípio exposto pelo nossopredecessor PIO XI na encíclica Quadragésimo Anno: "Écompletamente falso atribuir só ao capital ou só ao tra-balho aquilo que se obtém com a ação conjunta dum edoutro; e é também de todo injusto que um dêles, negan-do a eficácia da contribuição do outro, se arrogue somen-te a si tudo o que se realiza'." 1 "Essa exigência de justiça

ANTONIOFERREIRACESARINOJÚNIOR - Professor das Faculdades de Direitoe Economia da Universidade de São Paulo e de Medicina da Pontifícia Uni-versidade Católica de São Paulo, Presidente Honorário da Sociedade In-ternacional de Direito do Trabalho e de Segurança Social e Professor Hono-rário da Universidade Central da Venezuela.

1) AAS XXIII, 1931, pâg. 195.

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pode satisfazer-se de diversas maneiras que a experiênciasugere. Uma delas, e das mais desejáveis, consiste em fa-zer que os trabalhadores possam chegar a participar napropriedade das emprêsas, da forma e no grau mais con-venientes. Pois nos nossos dias, mais ainda que nos tem-pos do nosso predecessor, é necessário procurar com todoo empenho que, para o futuro, os capitais ganhos não seacumulem nas mãos dos ricos senão na justa medida, ese distribuam com certa abundância entre os operários.t"A referência acima bastaria para demonstrar a importân-cia do assunto. Entretanto, o próprio fato de dêle se ha-ver cogitado durante mais de dois séculos evidencia igual-mente a sua relevância.

CONCEITUAÇÃO

Definimos participação nos lucros como sendo a atribui-ção facultativa ou obrigatória pelo empregador ao em-pregado, além do justo salário legal ou convencionalmentea êle devido, de uma parte dos resultados líquidos exclu-sivamente positivos da atividade econômica da emprêsa.Para tornar bem claro o conceito de participação nos lu-cros é importante estabelecer a distinção existente entreela e outros institutos com os quais pode ser confundida,como aliás tem acontecido. São êles, notadamente, o salá-rio-incentivo, o contrato de sociedade e a cogestêo. Veja-mo-los um a um.

A. Participação nos Lucros e Salário-Incentivo

Sendo a participação nos lucros o ter o empregado partenos "resultados líquidos" da emprêsa, evidentemente sedistingue das diversas formas de salário-incentivo (salá-rio proporcional, salário-rendimento, prêmios de produção,participação na produção, Sistema Taylor, Sistema Ro-wan, Sistema Schueller etc.) em que o empregado nãoparticipa dêsses ganhos, mas tão-somente do acréscimo de2) Ibidem, pág, 198.

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produção devido, em grande parte, aos seus esforços." Ora,os lucros podem ser determinados por outros motivos, taiscomo a situação do mercado, o câmbio favorável etc..Adiante demonstraremos melhor essa distinção.

B. Participação nos Lucros e Contrato de Sociedade

A participação nos lucros, por si só, não faz originàriamen-te do empregado um sócio da emprêsa. O que pode cau-sar essa situação é a inversão (fato posterior) de seu im-porte em cotas-partes ou ações do capital da emprêsaquando ela assume a forma acionária. O mesmo se devedizer quanto à parceria, que é um verdadeiro contrato desociedade, nada tendo que ver com a participação nos lu-cros. O elemento importante de distinção é que no con-trato de sociedade e na parceria há participação tanto noslucros como nas perdas. Ora, isso não acontece na parti-cipação nos lucros que, por definição, o é somente nos lu-cros, isto é, nos resultados positivos.'

C. Participação nos Lucros e Cogestão

Igualmente, da simples participação nos lucros não decor-re a cogestão, isto é, a administração da emprêsa, em con-junto, pelo empregador e pelos empregados. Tanto essascoisas são distintas que podem existir separadamente,como acontece na Alemanha. Esta possui a cogestão (Mit-bestimrnungstecbt ), mas não, obrigatoriamente, a partici-pação nos lucros,"

3) ARTHUR BIRNIE, História Econômica da Europa, Rio de Janeiro: Zahar,1964, págs. 225/234.

4) ARNALDOSUSSEKIND,Comentários à Consolidação das Leis do Trabalho,Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1963, vol. 111, págs. 359/364.

5) HANS CARL NIPPERDDEY, Lehrbuch des Arbeitsrechts (KoIlektives Ar-beitsrecht), Berlim: Franz Vah1en, 1957, voI. 11, pág. 673; ROLF DIETZ,Die Betei1igung der Arbeitnehmer a der Leitung am Gewinn des Unter-nernehmens, Berlim: WaIter De Gruyter, 1958.

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FUNDAMENTOS

A participação nos lucros se fundamenta em motivos deordem filosófico-social, psicológica, econômica e jurídica.

A. Fundamentos Filosófico-Sociais

Os principais fundamentos filosófico-sociais da participa-ção nos lucros se encontram na Teoria Institucional e naDoutrina Social Católica.

• Teoria Institucional - Segundo GEORGES RENARD,é caraterístico do reconhecimento da teoria do institui-ção "a mistura de um elemento de sociedade ao contratode trabalho"." Ora, já vimos que a participação nos lucrostanto aproxima o contrato de trabalho do de sociedade,que tem dado lugar a confusões entre os dois institutos.

• Doutrina Social Católica - A Doutrina Social Cató-lica é explícita acêrca da participação nos lucros. AssimPIO XI na Encíclica Quadragesimo Anno: "Nas hodiernascondições sociais julgamos seja mais prudente que, namedida do possível, o ajuste do trabalho venha a ser tem-perado um pouco com o contrato de sociedade, conformejá se principiou a fazer de diversas maneiras, com nãopoucas vantagens para operários e patrões. Destarte, osoperários se tornam co-interessados ou na propriedade ouna administração, e compartes, em certa medida, nos lu-cros auferidos". E JOÃo XXIII o esclareceu na Mater etMagistra, conforme já citamos. Por sua vez, o Código So-cial da União Internacional de Estudos Sociais, de Mali-nas, estatui no art. 134: "L'institution du salariat n'estpoint en elle-même injuste et ce serait une erreur que devouloir y substituer systêmetiquement, entre capitalisteset travailleurs, un regime de société qui partagerait gainset parts. I1 est cependant plus approprié aux conditionsactuelles de la vie sociale de tempérer, dans la mesure dupossible, le contrat de salariat par des éléments emprun-tés au contrat de la société".

6) Cf. Da Philosophie de I'Lnstit ution, Paris, 1939, pág. 195.

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A respeito cumpre lembrar a lição de VAN GESTEL: "Essaintegração do trabalho na comunidade da emprêsa poderealizar-se sob tríplice aspecto: pela participação nos lu-cros, pela cogestão e pela copropriedade. Mas, no pensa-mento de PIO XI, as reformas de estruturas devem esten-der-se também à profissão e a tôda a vida social e econô-mica. De modo esquemático, podem ser representadas daseguinte maneira: 1. Na emprêsa: participação nos lu-cros; cogestão; copropriedade." 7

B. Fundamentos Psicológicos

Se a motivação do empresário é o lucro, porque a do em-pregado há de ser somente o salário? Além dêsse aspectoeconômico, êle tem também o interêsse moral de se sen-tir integrado na emprêsa. E' o caso de lembrar, comGILMER: "La gran cantidad de investigaciones experi-mentales en esta rama, llevedes a cabo en el Survey Re-search Center de la Universidad de Michigan, ha permi-tido a KATZ ofrecer cuatro dimensiones de la moral: 1. Lamoral implica la satisfacción intrínseca en el trabajo. 2.La moral implica orgullo por el grupo de trabajo. 3. Lamoral implica satisfacción por salarios y oportunidades deascenso. 4. La moral implica identificación con la empre-sa." "REMUNERACIÓN - Cuando este factor se alinea conlos otros nueve factores leboreles los empleados le orto-gan el cuarto lugar. Es interesante hacer constar que losempleados colocan generalmente este factor cerca del pri-

7) VAN GESTEL, A Igreja e a Questão Social, Rio de Janeiro: Agir, 1956,pág. 246.

8) B. VON HALLER GILMER, Psicologia Industrial, Barcelona: Grijalbo, 1963,págs. 259 e 265. Cf., a respeito, J. A. C. BROWN, La Psicologia Social enla Industrie, MéxicO': Fondo de Cultura, 1958, pág. 230, verbis: "Lacreencia de que el dinero es el único motivo, o por 10 menos el más impor-tante de los motivos para trabajar, es tan estúpida, que cualquiera que Iasostenga seriamente queda automaticamente incapacitado para comprenderla industria o aI trabajador industrial. El trabajo es, fundamentalmente,una actividad social que cumple dos funciones principales: producir losbienes que la sociedad necesite e integrar al individuo en los sistemas derelaciones que constituyen la sociedad".

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mer puesto cuando se les pergunta 10 que quieren. Sinembargo, hay algunas indicaciones de que la remunera-ción y las oportunidades de progresar van unidas a tra-vés deI elemento dinero. Algunos empleados conscienteshan c1asificado a los salarios como de menor importan-cia que la oportunidad para ascender a la segutided. Losestudios demuestran que el iector remuneración coniri-buye más a la insatisJacción que a la satisJacción deI tre-bajador. Muy raras veces expresa alguien su satisJacciónpor la cantidad de dinero que percibe. La remuneraciónes más importante para los hombres que para las mujeresy generalmente más para los obreros que para los ofici-nistas. HERZBERG y sus colaboradores afirman que hayuna tendencia a que la importancia deI salario desciendacon la edad de los empleados, por 10menos hasta los cua-renta anos. Después de los cuarenta los empleados danmayor importancia aI Jactor salario, considerando que losJactores de trabajo, empresa, seguridad y otros parecenbeber llegado a una buena estabilización." M. COUMETOUafirma que para "realizar êsse sentimento íntimo, na p0-sição em que a emprêsa o colocou, o trabalhador deve pôrsua conduta pessoal em harmonia com a função que lheé confiada: essa integração funcional, possível em caso deconvergência dos interêsses da emprêsa e do trabalhador,faz dêle não mais uma rodagem mecânica, mas membroduma organização","

c. Fundamentos Econômicos

A análise do processo econômico demonstra que na pro-dução intervêm quatro fatôres (sem falar no Estado, comofator de segurança): natureza, capital, trabalho e, comgrande relêvo, a organização. Esta, personalizada no em-presário, é que congrega aquêles três fatôres. Na verda-de, é o empresário quem organiza a emprêsa, proporcio-nando-lhe com o capital - seu ou obtido por êle de ou-

9) Citação de E. W. BARKEno capítulo L'activité professionelIe et ses fac-teurs, do Traité de Psychologie Appliqué, sob a direção de H. PIERON,Paris: Presses Universiteires, 1960, vol. lI, pág. 1152.

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trem - as instalações, os maquinismos, móveis, utensíliose matéria-prima necessários (fator natureza), e recrutan-do o trabalho de execução necessário. Daí o fato de -porque êle representa, além da organização, também o ca-pital e a natureza - ser, em conjunto, denominado ape-nas Capital, em oposição àquele último, o trabalho de exe-cução, chamado apenas Trabalho. A necessidade da co-laboração e da atividade de ambos (representada esta úl-tima pelo trabalho de direção, do empresário, e pelo tra-balho de execução, do empregado) é indiscutível.

Cada um dos cinco fatôres citados tem, tradicionalmente,uma remuneração específica: o Estado, o impôsto; o em-presário, o lucro; o capital, o juro; a natureza, a renda daterra; o trabalho, o salário. Entretanto, essa distribuiçãotradicional do produto da atividade econômica da emprêsanão é exata. Com efeito, o salário remunera mais ou me-nos bem (antes menos do que mais) o trabalho de exe-cução do empregado. Acontece, porém, que o emprega-dor, o empresário, também tem uma remuneração especí-fica pelo seu trabalho de direção, a retirada pro labore,que é levada à conta de despesas gerais. E, para remu-nerar sua colaboração, fica com todo o lucro. Não é assimremunerada a colaboração do empregado, ao qual, por-tanto, assiste o direito de participar, com o empresário, doslucros líquidos da emprêsa.

D. Fundamento Jurídico

Do fundamento econômico resulta o fundamento jurídicoda participação nos lucros. Ex facto oritur jus. A par-ticipação nos lucros é, assim, não o efeito de mera libera-lidade do empresário, nem de simples acôrdo bilateral oumultilateral, mas, na feliz expressão de LINDONO, "um di-reito natural do trabalhador". 10 Ainda sob o aspecto ju-rídico, a participação nos lucros pode ser examinada:

10) Cf. ob. cito na nota 13. No mesmo sentido GUSTAVOLAGOS MATUS, EIProblema Historico âel Trabajo, 1950, pág. 202.

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• Quanto à natureza - a participação pode ser volun-tária, conforme resulte de um contrato ou de uma conven-ção coletiva de trabalho, ou obrigatória, se oriunda de lei.• Quanto à forma - pode ser direta, se atribuída ime-diatamente aos empregados; indireta, se somente o bene-ficiar remotamente, por ser invertida, digamos, em obrasde assistência social realizadas pela emprêsa ou pelo sin-dicato operário; ou mista, se direta em parte e, em parte,indireta.• Quanto à ocasião - pode ser imediata, se entregueao empregado no momento mesmo de sua distribuição, oudiferida, se a entrega fôr condicionada a prazo ou condi-ção, podendo ainda aqui haver dualidade, isto é, parte en-tregue desde logo e parte em época posterior.• Quanto aos sujeitos de participação - será indivi-dual, se feita ao empregado isoladamente, ou coletiva, seentregue in solidum à totalidade dos empregados ou aoseu sindicato. Ainda quanto aos sujeitos, pode ser parcial,se atribuída apenas a um grupo de empregados, ou uni-versal, se concedida a todos os dependentes da emprêsa. 11• Quanto à modalidade de distribuição - pode ser pe-cuniária, se entregue em dinheiro, ou acionária, se ao em-pregado fôr conferida sob a forma de ações ou cotas-par-tes do capital.

EVOLUÇÃO

A. Participação nos Lucros - Liberalidade

Nas emprêsas privadas a participação nos lucros come-çou - quase na metade do Século XIX, em França -como ato de liberalidade de empregadores. Assim, naFrança temos em 1842 o exemplo pioneiro de EDMÉ- JEANLECLAIRE e em 1868 o de GODIN; na Inglaterra o deBRIGGS, em 1865; na Alemanha, em 1854, o da Compa-nhia de Produtos Químicos de Thann e Mulhouse, etc ...

11) PONTES DE MIRANDA, Tratado de Direito Privado, Borsoi, Tomo XLVII,pág. 204.

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Em todos êsses casos trata-se de liberalidade do empre-gador, se bem que não desinteressada. Assim, a LECLAIREse atribuiu, além de intuitos paternalistas, a intenção, quefoi a mesma de seus seguidores, de suprir a dificuldade defiscalização do trabalho dos empregados de sua emprêsade pinturas, despertando-lhes o interêsse por maior pro-dutividade e economia de materiais. Êsses intentos con-fundem a participação nos lucros com o salário-incentivo.Com efeito, embora aquêles resultados 'possam provir daaplicação da participação nos lucros, não constituem êlesa sua verdadeira finalidade. 13

Na legislação prevêem a possibilidade de atribuição facul-tativa de lucros aos empregados:• o Código Civil Italiano, nos arts. 2 099, 2.a parte ("Re-tribuição - O prestador de trabalho pode também ser re-tribuído, no todo ou em parte, com participação nos lucrosou nos produtos, com porcentagens ou com prestações emnatureza") e 2 102 ("Participação nos lucros - Se o acôr-do não dispuser diversamente, a participação nos lucrosque cabe ao prestador de trabalho é determinada à basedos lucros líquidos da emprêsa e, para as emprêsas sub-metidas à publicação de balanços, à base dos lucros líqui-dos resultantes do balanço regularmente aprovado e pu-blicado" ) ;• a lei espanhola de contratos de trabalho, nos arts. 44 e45, e o art. 26 do "Fueto de los Espaiíoles";• em Portugal o art. 15 do Estatuto do Trabalho Nacio-nal (Decreto n.? 23048, de 23 de setembro de 1933) eo art. 6.°, § 1.0,da Lei n.o 1952, de 10 de março de 1937.

B. Participação nos Lucros - Obrigação Legal

Vários países introduziram no Século XX em seu orde-namento legal a obrigatoriedade da participação nos lu-

12) Para o histórico da participação n08 lucros vide' obra citada na nota 3.

13) CARLOSMARIALONDONO,La Participación de los trabajadores en los be-neficios de la empresa, Madri: Rielp, 1962, pág. 24 e capo 8.

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eros: Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, França,Irã, México, Peru e Venezuela.

• Bolívia - A Constituição de 1945, no art. 127, deter-minou o estabelecimento da participação nos lucros pelalei. Esta, de 22 de novembro de 1945, manda as emprê-sas comerciais e industriais distribuírem até 25% dos lu-cros, no máximo.

• Brasil - No Brasil (o caso brasileiro estudaremos me-lhor adiante) o n.? IV do art. 157 da Constituição de 18de setembro de 1946 determina que a legislação do tra-balho deve obedecer ao preceito de "participação obriga-tória e direta do trabalhador nos lucros da emprêsa, nostêrmos e pela forma que a lei determinar". Essa lei aindanão existe.

• Chile - No Chile a participação nos lucros está regu-lada pelos arts. 146 a 151 do Códigodo Trabalho de 1931,modificado por diversas leis posteriores. Em realidade,concedem, pràticamente, uma gratificação anual, que é, nomáximo, de 3 meses de salário, isto é, 25% do salárioanual, ou então, 20% dos lucros anuais, à escolha do em-pregador.

• Colômbia - Nesse país a participação nos lucros foisubstituída por uma prima de servicios ou prima anual,consagrada pelo art. 320 do Código Substantivo do Tra-balho (Dee. n.? 2663, de 5 de agôsto de 1950).

• Equador - A lei de 2 de dezembro de 1948 estabelecea participação líquida individual dos trabalhadores, nos lu-cros das respectivas emprêsas, de 7% (art. 2.°) .

'. França - Lei de 26 de abril de 1917 previu nova for-ma de sociedade por ações, que comportaria ações ordiná-rias e ações de trabalho, mas que não foi realizada. Daíque sõmente muito mais tarde a Ordenação n.? 59 126, de7 de janeiro de 1959, seguida dos decretos de aplicação,de 29 de agôsto de 1959 e 20 de maio de 1960, fizesseuma tentativa para transformar o contrato de trabalho es.proximá-lodo contrato de sociedade. Procura ela desen-

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volver a colaboração entre o capital e o trabalho. Entreoutras medidas, a participação dos trabalhadores nos lu-cros das emprêsas é incentivada, não apenas com a decla-ração expressa de que ela não se incorporará à remunera-ção para nenhum dos efeitos (art. 4.°), como também pelapossibilidade da dedução de seu valor das bases de impos-tos para fixação do impôsto sôbre as sociedades ou sôbrea renda das pessoas naturais. Se a participação consistirem emissão ou distribuição de ações em favor dos traba-lhadores, as operações correspondentes ficarão isentas dascontribuições e direitos que normalmente lhes são impos-tos, tudo no máximo de três anos. BRUN e GALLAND con-sideram modestos os seus resultados. 14

• Irã - Decreto de 7 de janeiro de 1963 obriga as em-prêsas industriais e de produção sujeitas à legislação dotrabalho a celebrarem convênios coletivos de trabalhopara a concessão de prêmios ou de participação nos lucroslíquidos, cuja taxa será determinada pelo Ministério doTrabalho e de Assuntos Sociais. A distribuição entre ostrabalhadores levará em conta os fatôres antiguidade esalário .• México - Decreto de 20 de novembro de 1962 refor-mou o art. 123 da Constituição Política dos Estados Me-xicanos, de 1.0 de maio de 1917, que regula a legislaçãodo trabalho. Suas frações VI e IX garantiam aos tra-balhadores o direito à participação nos lucros. Aquêle de-creto alterou a fração IX, regulamentando a sua aplicação.Em conseqüência, foram reformados também os artigoscorrespondentes da Ley Federal deI Trabajo (arts. 100-Ba 100-U e 428-1 a 428-Y). O valor da porcentagem aser distribuída é fixado pela Comissão Nacional para aParticipação dos Trabalhadores nos Lucros das Emprê-sas.15

14) A. BRUN e H. GALLAND, Droit du Travail (Mise à }our), Paris: Sirey,1962, pág. 172.

15) ALBERTO TRUEBA URBINA e JORGE TRUEBA BARRERA, Ley Federal deITrabajo Reformada y Adicionada, México: Parena, 1963, p8ssim.

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• Peru - O Decreto n.? 10908, de 3 de dezembro de1948, estabeleceu a participação nos lucros à base de 30%dos lucros líquidos, fazendo-se a distribuição proporcio-nalmente a remuneração, antiguidade, assiduidade e efi-ciência.

• Venezuela - O art. 87 da nova Constituição ~a Vene-zusla, de 23 de janeiro de 1961, determina que a lei fixaráa participação que deve corresponder aos trabalhadoresnos lucros das emprêsas. Anteriormente, a Lei do Tra-balho, de 4 de maio de 1945, nos arts. 72 a 92, já regu-lava a participação nos lucros. Tôda a emprêsa é obriga-da a distribuir 10% dos lucros líquidos anuais entre ostrabalhadores. Não pode, porém, a parte individual dotrabalhador ser superior ao salário de dois meses.

OBJEÇÕES

São numerosas as objeções apresentadas contra a partici-pação nos lucros, em primeiro lugar - et pour cause ...- pelos empresários; em segundo, por alguns autores, e,em terceiro, até mesmo por sindicatos de trabalhadores.

A. Objeções Patronais

• A estrutura capitalista seria incompatível com a parti-cipação nOS lucros - Afirma-se, inicialmente, a incompa-tibilidade entre a estrutura capitalista e a participação noslucros. Ora, tal incompatibilidade não existe.

A estrutura capitalista de nossa economia baseia-se naexistência do direito de propriedade privada e no princí-pio da livre iniciativa (Constituição Federal, arts. 145 esegs.), princípios conservados no sistema da participaçãoacionária nos lucros.

Mantém-se a propriedade privada da emprêsa, com a únicadiferença de que, em lugar de ela caber apenas aos "atuais"proprietários, passa a caber também a seus empregados.

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Conserva-se outrossim a livre iniciativa, pois a "cooperati-va de produção", em que se transforma aproximadamentea emprêsa, age integralmente no regime de livre emprêsa,pois não deixa de ser regida pelas leis que regulam socie-dades anônimas e sociedades por cotas de responsabilidadelimitada.• Do risco empresário decorreria o direito à totalidadedos lucros - Afirma-se que "apenas o empreendedor as-sume o risco", escapando inteiramente o trabalho ao "riscoempresário" que "justifica a pertinência do lucro ao em-preendedor" . 16

Ora, por um lado, como nem sempre o empresário invertena emprêsa todo o seu patrimônio, em caso de perda totala sua situação é melhor que a do trabalhador. Com efeito,para êsse, normalmente, o trabalho na emprêsa é meio desubsistência própria e de sua família, e a perda do emprê-go significa, pelo menos momentâneamente, ruína com-pleta.Por outro, já do vetusto Código Comercial de 1850 constaa sociedade de capital e indústria, na qual o sócio de in-dústria, que entra apenas com o seu trabalho, participa doslucros, mas não das perdas. Leiam-se os arts. 321 e 322:"O sócio de indústria não responsabiliza o seu patrimônioparticular para com os credores da sociedade. Se, porém,além da indústria, contribuir para o capital com algumaquota em dinheiro, bens ou efeitos, ou fôr gerente da firmasocial, ficará constituído sócio solidário em tôda a respon-sabilidade."; "O sócio de indústria não é obrigado a repor,por motivos de perdas supervenientes, o que tiver recebidode lucros sociais nos dividendos; salvo provando-se doloou fraude de sua parte."Logo, o fato de o trabalhador não participar das perdasnão pode ser impedimento de que êle participe dos lucros.

• A participação nos lucros provocaria a descapitalização_ Argumenta-se que as emprêsas têm necessidade de re-

16) ALBERTO PASQUALINI, Bases e Sugestões para uma Política Social, Riode Janeiro: São José, 1958, pág. 157.

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investir os lucros obtidos ou boa parte dêles (autofinan-ciamento) e que a participação nos lucros o impediria.Nesse sentido se pronunciou o Conselho Nacional de Eco-nomiav "

A parte dos lucros atribuível aos trabalhadores é raramen-te superior a 30%. Logo, não impediria totalmente o au-tofinanciamento. Por outro lado, a participação nos lu-cros acionária favorece exatamente a desejada reinversãodos lucros atribuídos aos trabalhadores. Além disso, obri-ga o próprio empresário a reinvestir para não perder ocontrôle da emprêsa.

• O pequeno valor da participação nos lucros exaspera-ria os trabalhadores - A quem observe balanços de em-prêsas publicados pela imprensa não há de parecer queseus lucros sejam assim tão baixos. .. Com as atuais me-didas de correição monetária (reavaliação de ativos, etc.)também não mais se pode falar que, em face da inflação,tais lucros seriam fictícios.

Exemplificaríamos com a Wi11ys Overland do Brasil S. A..Contando, em outubro de 1963, com 9 402 empregados,teve um lucro líquido de Cr$ 5 858 000 000 . Se a par-ticipação nesses lucros fôsse de apenas 25%, receberiamêsses empregados Cr$ 1 464 500 000 . Se a divisão entreêles fôsse igualitária, cada um teria direito a Cr$ 155 764,quantia superior ao salário médio na emprêsa, que foi deCr$ 145500. Observa-se ainda que, referindo-se ao exer-cício sôbre o qual versou a publicação, afirma a diretoriadaquela emprêsa: "Não escapando a todos êsses fatôresadversos, a indústria automobilística também registrou umdeclínio em seu volume de produção em 1963, quando pro-duziu 174207 unidades, contra 190971 unidades em1962." Isso não obstante, afirma também: "Na assem-bléia geral extraordinária realizada em 27 de fevereiro de1964 foi autorizada a distribuição de bonificação em ações,resultante do aumento de capital então aprovado, em vir-

17) "Conselho Nacional de Economia", parecer na Revista do Conselho Na-cional de Economia, Rio, 1955, n.? 33.

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tude do que os Senhores Acionistas estão recebendo umanova ação de Cr$ 1000 para cada ação de Cr$ 1000 jápossuída. Assim, a correção do valor nominal do investi-mento, realizada no decorrer do último exercício, foi bas-tante apreciável, resultando que os Senhores Acionistaspossuem agora 2 ações novas de Cr$ 1 000, ou seja,Cr$ 2 000, no lugar de cada lote de 5 ações antigas deCr$ 170, no total de Cr$ 850, que possuíam no início doexerC1C10.Convém ressaltar, ainda, que no mesmo pe-ríodo esta companhia distribuiu também dois dividendosem dinheiro: um, em novembro de 1963, de 6%, corres-pondente ao semestre de julho a dezembro de 1962, eoutro, em maio de 1964, de 80/0, correspondente ao anode 1963." 18 Nada mais é preciso acrescentar.• A participação nos lucros levaria os capitalistas nacio-nais a investirem em atividades mais rendosas e menosprodutivas e afastaria os capitais estrangeiros - A escolhade atividades em que investir capitais não depende exclu-sivamente do arbítrio dos investidores, mas das condiçõesdos mercados. E nestes as atividades menos produtivas,obviamente, dão lucros menores. Destarte, a diferençaentre os resultados dos dois tipos de atividades - com esem participação nos lucros - raramente será a favor dosúltimos.Por outro lado, também não é arbitrária a escolha dos mer-cados onde investir. A simples existência da participaçãonos lucros num bom mercado, como, por exemplo, o Brasil,não seria suficiente para afastar os capitais estrangeiros .• A participação nos lucros seria inflacionária - A parti-cipação nos lucros, determinando maior poder aquisitivodos trabalhadores, sem correspondente aumento de produ-ção, favoreceria maior procura dos bens de consumo, au-mentando a inflação.Preliminarmente, a objeção só se aplica à participação pe-cuniária, pois a forma acionária não merece a censura, dada

18) Cf. publicação no O Estado de São Paulo de 18·10-1963, págs. 10 e 11.

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a sua capitalização, ou seja, exatamente o contrário: in-versão em bens de produção e não em bens de consumo.Ademais, não é exato que a participação nos lucros deixede causar qualquer aumento na produtividade dos empre-gados que a recebem.

• A participação nos lucros seria injusta para os traba-lhadores de emprêsas pouco lucrativas - Há emprêsascom muitos trabalhadores e pouco lucro, como as de ser-viços públicos, e outras em que ocorre o inverso. Paraestas se deslocariam os empregados daquelas, injustiçadoscom parca ou nenhuma participação.

Em primeiro lugar, tal deslocamento é impossível, poiscada emprêsa necessita número limitado de empregados.Em segundo, seria maior essa injustiça que a decorrente denenhum trabalhador participar nos lucros da "sua" em-prêsa?

Ademais, seria viável a criação, por lei, de um "Fundo deParticipação nos Lucros", ao qual se destinasse, por exem-plo, o excesso verificado em algumas emprêsas, para serdistribuído entre aquelas em que houvesse carência, Nadanos parece tão certo como o princípio consagrado no ar-tigo 130 da Constituição de 1937: "O ensino primário éobrigatório e gratuito. A gratuidade, porém, não excluio dever de solidariedade dos menos para com os mais ne-cessitados."

• Participação nos lucros produziria redução dos salários- Diz-se que aos empregados somente interessa o salárioreal e não uma ilusória participação nos lucros. Sem dú-vida, se por participação nos lucros se entender tão-so-mente a "concessãode abonos, acréscimos periódicos a sa-lários", que "não têm nada em comum com a participaçãonos lucros propriamente dita", é óbvio que ela não poderáinteressar aos empregados. Mas não é isso o que pro-pomos.

Nenhum valor tem a objeção de que a participação obri-gatória nos lucros produziria redução dos salários, tirandoao empregador o ânimo de aumentá-los espontâneamen-

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te. Em realidade, êsse ânimo existe raramente e os au-mentos de salário se produzem, na quase totalidade doscasos, em conseqüência de mandamentos legais ou de pres-sões dos empregados, muitas vêzes através de greves, queprovocam acréscimos decorrentes de contratos coletivos detrabalho ou de sentenças normativas da Justiça do Tra-balho. É evidente - ao contrário do que se procura as-soalhar _ que, tornando-se os empregados acionistas oucotistas das emprêsas para as quais trabalham, isso emnada influiria na sua condição de empregados. Com efeito,as suas relações com a emprêsa naquela qualidade serãoregidas pelas leis comerciais, e nesta pelas leis sociais.Nenhum motivo há, pois, para que possam, como empre-gados, sofrer qualquer prejuízo, inclusive quanto a salários.

B. Objeções Doutrinárias

ALBERTOPASQUALINIapresentou objeções à participaçãonos lucros, nestes têrmos: "Contra a participação diretahá, pelo menos, três objeções fundamentais: a) dificulda-de quase insuperável de estabelecer o critério de sua fixa-ção; b) exclusão do benefício, dos empregados de emprê-sas que, eventualmente, não produzam lucros; c) exigüi-dade do benefício e conseqüente desinterêsse do trabalha-dor pela sua percepção." 19 Já examinamos as duas últi-mas objeções. Analisaremos, portanto, apenas a primeira.

• Dificuldade no critério de fixação da participação noslucros - Afirma PASQUALlNI:"A dificuldade começa nofixar a noção de lucro. Deve ser êle conceituado como oconsidera a legislação do impôsto sôbre a renda, ou devemser deduzidos outros valôres antes de ser apurada essa ex-pressão residual? Por exemplo, entre as deduções dever-se-á incluir uma parcela correspondente aos riscos do ne-gócio? E também o juro do capital? Certamente essasdeduções não devem estar fora das cogitações dos empre-gadores. Mas, fixado ou caraterizado o lucro. para o efei-to da participação, qual deverá ser o critério de sua dis-

19) cr. nota 16.

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tribuição entre o capital e o trabalho? E como se repartiráentre as diferentes categorias de empregados e trabalha-dores da emprêsa a cota de lucro que lhes é deferida?À primeira vista poderia parecer justo que a distribuiçãoindividual se fizesse em proporção à contribuição de cadaum na produção do lucro. Como, porém, determinar ocritério diferenciativo ou o coeficiente dessa contribuição?Poder-se-ia estabelecer como bases o salário, a assiduidade,o tempo de serviço, a produtividade, a eficiência. Seriamcritérios realmente eqüitativos? Além disso, como apurar,por exemplo, a produtividade? Há, ainda, outras dificul-dades. A relação entre a fôlha de salários e o capital va-ria muito de emprêsa para emprêsa, dependendo da na-tureza desta." 20

Ora, parece-nos fácil responder a essas objeções. Se osfatôres de produção (excluído o Estado) são quatro, umadivisão eqüitativa dará aos trabalhadores da emprêsa 25%dos lucros líquidos e 75% aos demais fatôres (todos re-presentados pelo empresário ou pelo capital). É evidenteque nesses 3/4 dos lucros já estão incluídos uma parcelacorrespondente aos riscos do negócio e também o juro docapital. Porque deduzi-los de nôvo? E, quanto aos lu-cros, que impede sejam os declarados e reconhecidos pelafiscalização do impôsto de renda?

Consideremos agora a objeção que não admite um valorúnico para a cota global de participação dos trabalhadores,sob a alegação de que a relevância do trabalho (de exe-cução) dêles varia conforme o tipo de emprêsa. Numas,mais automatizadas ou mais dependentes do trabalho dedireção do empresário, deveria preponderar o capital sôbreo trabalho. Noutras, exatamente o contrário. Mas, paraisso existem fórmulas, desde a proposta por EINAUDI, queatendem a essas diferenças, levando em conta, no cálculodaquela cota, tanto o valor do capital (ou de seus juros),como o do trabalho representado pelos salários. 21

20) Cf. nota 18.

21) LUIGI EINAUDI, Lezioni di Politica Sociale, Turim: Eunaudi, 1950,pág .141.

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Por outro lado, a fixação do valor individual da participa-ção nos lucros é pràticamente pacífica. Não deverá serigualitária, mas atender a coeficientes numéricos, fàcil-mente adotáveis, referentes aos salários, à assiduidade eao tempo de serviço. Quanto à produtividade (apreciá-vel também numericamente) ou à eficiência, que tambémdeveriam ser consideradas, nada impede sejam atribuídaspelo empresário, seu melhor juiz.

C. Objeções dos Sindicatos Operários

o já citado BIRNIE narra o seguinte: "Afora o antigo exem-plo de participação nos lucros pôsto em prática, em 1829,nas propriedades irlandesas de Lord Wallscourt, o primeiroplano organizado de participação nos lucros, na Inglaterra,teve início em 1865, nas minas de carvão dos Briggs, deYorkshire. Nesse ano os Briggs, cujas relações com osoperários não eram muito amistosas, transformaram a em-prêsa em sociedade anônima, convidando os empregados acomprar ações. Resolveram posteriormente, sempre queos lucros excedessem 10%, dividir metade do excesso comos empregados sob a forma de bonificação, além dos divi-dendos pagos por fôrça das ações. Quatro anos mais tardepermitiram que um representante dos operários-acionistastivesse assento na diretoria. O plano vigorou por cêrcade 10 anos e, durante todo êsse tempo, as bonificaçõespagas aos trabalhadores montaram somas bem regulares,atingindo a média de cêrca de 9% dos respectivos salários.O fracasso final do experimento resultou da hostilidadedos Briggs ao sindicalismo. Esperavam êles que os ope-rários abandonassem o sindicato em troca dos benefíciosdo plano de participação nos lucros. A princípio, muitosassim agiram, mas quando, em 1872, os preços do carvãosubiram e os mineiros de tôda a Inglaterra receberam au-mentos salariais os trabalhadores começaram a voltar parao sindicato. Verificou-se em 1874 uma greve geral emque os empregados dos Briggs tomaram parte. Em con-seqüência disso, o plano de participação nos lucros foi can-celado no ano seguinte. No princípio o plano foi muito

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bem aceito. Mill e outros líderes da opinião pública pas-saram a elogiá-lo como sendo o marco inicial de uma novaera nas relações industriais, e foram terríveis o desapon-tamento e a desilusão causados pelo seu fracasso, ao mes-mo tempo em que a atitude adotada pelos Briggs em facedo sindicalismo teve o infeliz efeito de gerar nas classestrabalhadoras forte desconfiança contra a participação noslucros, o que nunca se conseguiu extirpar completamen-te." 22 (Grifos nossos.)

Assim, em 1923 e em 1925 o British Trade Union Con-gress condenou a participação acionária nos lucros como"destinada a desencaminhar trabalhadores e evitar a soli-dariedade dos sindicatos". Os trabalhadores organizadose seus líderes viam na técnica da participação nos lucrosexpediente político para evitar a solidarização dos empre-gados em suas uniões e sindicatos, disfarce para manterbaixos os salários, e proposta de igualação dos empregadospara atenuar as diferenças entre êles no tocante a qualida-des pessoais. 23

Ora, a participação nos lucros com a conversão de seu va-lor individual em cotas-partes do capital da emprêsa paraseus empregados contribui bastante para a solução daQuestão Social porque os leva à copropriedade dela, trans-formando-os em sócios do empregador, faz com que êlespassem a ter, em grande parte, os mesmos interêsses queêle, transmudando, assim, a emprêsa, de instrumento mui-tas vêzes usado para exploração do trabalho subordinado,em organismo semelhante às cooperativas de produção.

Com efeito, a "eterna luta dos ricos e dos pobres" irá de-saparecendo à medida que, graças à conversão das cotasde participação em cotas do capital das emprêsas, os ricosforem ficando menos ricos e os pobres menos pobres. Eé por isso mesmo que os interessados na continuação e noagravamento da luta de classes combatem a participaçãonos lucros.

22) Cf. nota 3.

23) J. A. C. BROWN, La Psicologia Social en Ia Industria, México, Fondo deCultura, 1958, pág. 230.

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D. Fracasso em outros países? - Alega-se que a parti-cipação nos lucros obrigatória fracassou em todos os paísesem que foi instituída.Ora, isso não é exato, pois, conforme já vimos, a participa-ção nos lucros nêles existente é meramente pecuniária eem muitos dêles não passa de mera gratificação anual de1 ou 2 salários (Venezuela), tendo às vêzes até o nome deprima de servicios (Colômbia). Ora, isso não é a verda-deira participação nos lucros. Não obstante, no Méxicoa participação nos lucros, mesmo pecuniária, deu esplên-didos resultados. Quem o diz é o seu presidente: "tA eco-nomia mexicana experimentou em 1964 uma expansãoque sàmente tem precedentes nos sombrios períodos bé-licos.' O Presidente Adolfo Lopez Mateos fêz tal assertivaesta semana, ao Congresso Federal, em seu informe sôbreas atividades do País nos últimos doze meses. O manda-tário traçou um amplo programa da expansão do País edo desenvolvimento de sua indústria e de sua agricultura,que permitiram alcançar para todos os mexicanos um me-lhor nível de vida. Lopez Mateos salientou que a agri-cultura, a indústria e os serviços cresceram com índicesdesusados, mercê da paz política, da estabilidade cambial,da fixação de maiores salários-mínimos e da aplicação danova política de distribuição de lucros"; e: "A bonançageral causada por êsse desenvolvimento econômico acres-centou-se, para a população trabalhadora do País, à pri-meira aplicação da lei de distribuição de lucros, cujos efei-tos, salientou o mandatário, foram manifestos no progressogeral. Lopez Mateos assinalou que cêrca de 900 milhõesde pesos (72 milhões de dólares) foram distribuídos aostrabalhadores mexicanos, como resultado do exercício de1963, a título de participação nos lucros das emprêsas." 24

(Grifos nossos.)Como se viu, quase tôdas as objeções apresentadas refe-rem-se à participação pecuniária, não à participação acio-nária, contra a qual elas não procedem absolutamente.

24) "Participação nos lucros firmou economia mexicana", Fõlha de SãoPaulo de 6-9-1964.

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Na maioria resultam da confusão entre o salário-incentivoe a verdadeira participação nos lucros, que, em realidade,nada tem que ver com êle, pois dêle diverge em naturezae em finalidade.

VANTAGENS DA PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS

Vantagens da Participação nos Lucros em Geral

As respostas que demos às principais objeções contra aparticipação nos lucros evidenciam, por si mesmas, as van-tagens do sistema.A participação nos lucros cria entre empregador e empre-gados de u'a mesma emprêsa, na forma por nós proposta,a afiectio societatis, obedecendo assim aos mandamentosdas encíclicas sociais,notadamente da Quedregesimo Annoe da Meter et Magistra. Dando ao empregado o caráterde sócio da emprêsa, exalta-lhe a qualidade de pessoa hu-mana e diminui a desigualdade ora existente entre auto--suficientes e hipo-suficientes.

Todos os teóricos do capitalismo reconhecem ser o inte-rêsse pessoal fator eminente de produtividade. Porquehaveria de sê-lo tão-somente o interêsse pessoal do em-pregador e não o dos empregados, uma vez desaparecidaa oposição entre êles?

Sem dúvida alguma os empregados, sabendo que são co-proprietários da emprêsa e que, portanto, trabalham nãoexclusivamente para enriquecer o empregador, mas tam-bém em proveito próprio, irão fazê-lo com mais interêsse,procurarão poupar o maquinismo e economizar a matéria--prima, pois o estarão fazendo igualmente pro domo sua.

Vantagens da Participação Obrigatória e Acionária

As vantagens acima se acentuam quando a participaçãonos lucros não é apenas mera liberalidade do paternalismopatronal, mas um reconhecido direito dos trabalhadores.Assumindo a forma acionária, essas vantagens ainda maisse acrisolam.

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Reconhecemos que o sistema por nós proposto jamais foiexperimentado. Mas, por que não o poderíamos fazer?Por que haveremos de ser sempre caudatários de outrospaíses? Nem se diga que, sendo nós um país subdesenvol-vido, devemos cogitar mais de produzir que de distribuir.

O sistema que preconizamos não efetua a distribuição -note-se bem - senão da propriedade dos meios de produ-ção, sem estatizá-los, não contribuindo, assim, para incre-mentar a inflação, mas, muito ao contrário, para diminuí-la,pois o aumento da produção é um dos melhores meios decombatê-la, sabido que a participação nos lucros aumentaa produtividade dos empregados.

A Participação nos Lucros Acionária e a Democratizaçãodo Capital

Muito se fala presentemente em democratização do capi-tal. O próprio Presidente CASTELLO BRANCO assim se ma-nifestou: "Não há dúvida de que caminhamos ràpidamen-te para a democratização das emprêsas, fenômeno por al-guns denominado de neocapitalismo ou capitalismo de-mocrático e, em que pêse às transformações por que de-verá passar quando transplantado para o nosso meio, nãoé temerário adiantar que conservará os traços fundamen-tais." 25 Nessa ordem de idéias o Dec. n,? 54 105, de 6 deagôsto de 1964, criou o Fundo de Democratização do Ca-pital das Emprêsas. Dará prioridade às solicitações dasemprêsas que aceitem fórmulas que envolvam a aberturade seu capital social (art. 4.°, parág. único, letra a) .

Ora, a participação nos lucros acionária é a melhor e, emnosso meio, talvez a única forma de democratização do ca-pital. Experiências nos Estados Unidos já o têm demons-trado. Assim, o Presidente do Clube dos Lojistas do Riode Janeiro afirma que os norte-americanos, "com o mesmoentusiasmo com que outrora se decidiram a promover ademocratização do capital das emprêsas, para melhor

25) Notícia divulgada pela Fôlha de São Paulo de 18-10-1964.

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acelerar o desenvolvimento dos negócios, dedicam-seagora a incrementar a participação nos lucros das emprê-sas, a fim de conseguirem mais apoio da fôrça de trabalhoa seus emprendimentos, promovendo o progresso e o lucrodêsse progresso para todos". Afirma, a seguir, que a "novatendência de transformar empregados em empregados--acionistas, através da democrática coparticipação nos lu-cros, cresce dia a dia" e que "mais de 80 mil firmas norte--americanas, empregando acima de S milhões de pessoas,desenvolveram planos de participação nos lucros". Êssesfundos, segundo o presidente do Clube dos Lojistas, sãodistribuídos por um Fundo de Participação para êsse fimconstituído no âmbito da emprêsa e para o qual convergemnão só determinada percentagem dos lucros anuais da em-prêsa, que varia entre 10 e 2S por cento, mas também pe-quena parcela do salário dos empregados. Como exemplodêsses fundos de participação cita os da WaIgreen Co., ca-deia de 472 drugstores, num montante de 40 milhões dedólares, e o da Dominion Foundry and SteeI Co., do Ca-nadá, de 4S milhões de dólares, valor que representa o dô-bro do que era há cinco anos. 26

A PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS NO BRASIL

o estudo da participação nos lucros no Brasil compreendetrês fases: a) antes da Constituição de 1946; b) na Cons-tituição de 1946; e c) após a Constituição de 1946.

A. A Perticipeçêo nos Lucros antes da Constituiçãode 1946

Mesmo antes da Constituição de 1946 houve referência àadoção da participação nos lucros, constantes de manifes-tações doutrinárias, congressos e projetos de lei. Na le-gislação houve apenas ligeiras referências à participaçãonos lucros contratual.

26) "Progresso depende de democratização", no Correio da Manha (Rio),de 21-6-1964.

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• Manifestações doutrinárias - Ruy BARBOSA,já em1919, assim se exprimia: " ... precisamos ensaiar a asso-ciação do capital com o trabalho, tão desenvolvida, vaipor um quarto de século, na Grã-Bretanha, onde há seisanos já o praticavam cento e quarenta casas inglêsas, nasquais os operários, em número de cento e seis mil, eramacionistas com os patrões, explorando, com êstes, um ca-pital de trezentos milhões de libras" .

• Congressos - Manifestaram-se favoràvelmente à par-ticipação nos lucros a Carta Econômica de Teresópolis(1945), a Carta de Paz Social (pela participação nos lu-cros indireta), o H,? Congresso Brasileiro de Direito Sociale o Congresso Sindical dos Trabalhadores, todos de 1946,e o Congresso Brasileiro dos Trabalhadores na Indústria(1949).

• Projetos - Em 1919 houve o projeto dos deputadosDEODATOMAIA,ANTÔNIOCARLOSe BORGESDEMEDEI-ROS. Em 1936 o de OSWALDODELIMA, FLÔRESDACUNHAe ADROALDOMESQUITA.Em 1922 o PresidenteARTHURBERNARDESse referiu ao assunto em sua men-sagem ao Congresso .• Legislação - A única referência legislativa era a doart. 63 da Consolidação das Leis do Trabalho, verbis: "Nãohaverá distinção entre empregados e interessados, e a par-ticipação em lucros ou comissões, salvo em lucros de cará-ter social, não exclui o participante do regime dêste capí-tulo."

B. A Participação nos Lucros na Constituição de 1946

Foi a Constituição de 1946 que, pela primeira vez, se refe-riu expressamente à participação nos lucros, ao dispor noart. 157, e seu n.? IV: "A legislação do trabalho e da pre-vidência social obedecerão aos seguintes preceitos, além deoutros que visem à melhoria da condição dos trabalhado-res [ ... ] IV - participação obrigatória e direta do tra-balhador nos lucros da emprêsa, nos têrmos e pela formaque a lei determinar".

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C. A Participação nos Lucros após a Constituiçãode 1946

• Câmara dos Deputados - Após a Constituição de 1946foram apresentados numerosos projetos tendentes a regu-lar o preceito constitucional. Foram êles: n.? 96/46,BERTHO CONDÉ, n,? 104/46, SEGADASVIANNA,n,? 5/47,DANIEL FARACO;n.? 537/47, JOÃo AMAZONASe n.? 144/51, ARTHuR AUDRÁ.Todos êsses projetos foram reunidosno Substitutivo n.? 1039/48, de autoria do deputadoPAULO SARASATE.Êste, depois de sofrer várias emendas,foi afinal aprovado pela Câmara dos Deputados, sendo re-metido ao Senado Federal onde tomou o n.? 333/52, comoprojeto vindo da Câmara dos Deputados.

• Análise do Projeto n.o 1 039/48 (333/52):

1) Campo de aplicação - O projeto abrange tôdas asemprêsas privadas de fins lucrativos, com exceção das ru-rais e das de propriedade da União, dos Estados ou Muni-cípios, salvo quando tal propriedade ou administração es-tatal seja transitória. São consideradas emprêsas autô-nomas as filiais, sucursais, agências e mais estabelecimen-tos dependentes que, escriturando capital e lucros e perdaspróprias, fazem declaração à parte da emprêsa principal.Provada a dissociação de um mesmo grupo comercial ouindustrial em várias emprêsas ou a alteração jurídica desua estrutura, com o fim de diminuir os lucros de uma oude algumas dentre elas, elidindo os objetivos da participa-ção, poderá a Justiça do Trabalho, a requerimento dos in-teressados, determinar que, para os efeitos dessa lei, asemprêsas constantes do grupo sejam consideradas comouma só.Só participarão dos lucros os empregados cujos contratosde trabalho, em sua duração, tenham abrangido todo oexercício a que tais lucros se refiram, salvo se, tendo maisde um ano de trabalho efetivo, demitir-se ou fôr dispen-sado antes do encerramento do exercício financeiro a quetais lucros se refiram, exceto em caso de improbidade com-provada.

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Não. têm direito à participação nos lucros, além dos em-pregados das emprêsas acima excluídas, os domésticos e osservidores públicos e autárquicos ou de entidades paraes-tatais.

É extensiva a participação nos lucros aos que, embora sema relação de emprêgo, exerçam efetivamente atividade pes-soal na emprêsa, excluídos os diretores de sociedades anô-nimas.

2) Capital - Capital é a soma de capital realizado, re-servas e provisões (salvo as que se destinem a atender de-preciações ou outras eventuais reduções do ativo) e im-portâncias menores ou iguais à soma dos primeiros, manti-das pelos titulares ou sócios da emprêsa, em poder desta,durante pelo menos dois anos, excluídos os juros.

O capital das emprêsas estrangeiras será constituído do ca-pital estrangeiro, originário de acionistas, que tenha sidoefetivamente aplicado na emprêsa, no território nacional,e dos lucros tributados que tenham sido incorporados aocapital ou escriturados como reservas ou provisões, excluí-das as destinadas expressamente a atender depreciaçõesou outras eventuais reduções do ativo.

3) Lucros - São os tributáveis pela legislação do impôs-to de renda, deduzidos: I) o montante do impôsto de ren-da, excluídas as multas; H) os juros de 8% sôbre o capitalda emprêsa para remuneração dêste; IH) as quantias cor-respondentes ao aumento do valor do ativo, resultante devendas ou reavaliações efetuadas no respectivo exercício:a) dos imóveis utilizados pela emprêsa para alojamentode seus serviços e instalações; b) da maquinaria utilizadapela emprêsa para a produção de bens do seu ramo denegócio; IV) a importância necessária à amortização deprejuízos verificados nos três últimos exercícios, até o má-ximo de 30% dos lucros acima.

4) Valor global - Dos lucros apurados na forma acimaa emprêsa distribuirá entre seus empregados parcela nãoinferior a uma fração cujo numerador será o total dos sa-lários pagos durante o ano e a êle referentes, inclusive o

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pagamento de horas extraordinárias, e cujo denominadorserá êsse total acrescido de capital (definido acima), ou

SÊsse valor terá como limiteseja: VG pnl

mimmo 1/10 do total dos salários. Se resultar inferior,será aumentado até atingir êsse limite mínimo, se não ex-ceder 20% dos lucros. Em conseqüência, o mínimo daparticipação nos lucros é ou l/lOdo total anual dos sa-lários, ou 20% dos lucros apurados. Se fôr superior a20%, não será alterada até atingir 40% -limite máximoda participação nos lucros obrigatória, dado também pelametade dos salários pagos no exercício, inclusive horas ex-traordinárias .As emprêsas estrangeiras sem capital destinado à aplica-ção no território nacional distribuirão 1/4 do total anualdos salários, se êle fôr igualou inferior a 30% dos lucrostributáveis pela legislação do impôsto de renda, deduzidosêsse impôsto e o necessário para amortização dos prejuí-zos dos últimos três exercícios.

5) Valor individual- O valor individual da participaçãonos lucros será determinado através de planos elaboradoslivremente, por acôrdo, pela emprêsa e 2/3 dos seus em-pregados; ou então pela emprêsa, observados o critérioobrigatório do salário anual de cada empregado, incluindo--sehoras extraordinárias e a sua antiguidade, e, facultativa-mente, os critérios de freqüência e eficiência.

Cada parcela de Cr$ 50,00 ou mais até Cr$ 99,90 dosalário constitui um ponto. Cada ano de serviço efetivocorresponderá a 2% do número indicativo do salário in-dividual. Para a assiduidade haverá uma escala em quea freqüência integral corresponderá a 20% daquele núme-ro, sendo a parcela a ela relativa inversamente proporcio-nal até ao máximo de 10. A da eficiência será fixada li-vremente pelo empregador até ao máximo de 30% domesmo número.

R.A.E./14 A VERDADEIRA PARTICIPAÇÃO 55

Se até 90 dias da data do balanço não estiver organizadoo plano de participação, a distribuição será feita consi-derando-se apenas o salário individual e a antiguidade naemprêsa.

Os participantes não empregados contarão somente salárioe antiguidade. Será salário a remuneração pro labore es-criturada em despesas gerais ou contas subsidiárias, dentrodos limites fixados pela lei do impôsto de renda.

6) Pagamento - Dentro de 90 dias da data do balançoa emprêsa afixará cópia em local apropriado, juntamentecom a demonstração da conta de lucros e perdas e um re-sumo dos cálculos efetuados para os fins desta lei. Den-tro do mesmo prazo a emprêsa entregará a cada empre-gado uma "nota de participação nos lucros" da qual cons-tem, discriminadamente: a) o lucro partilhável e b) ocálculo da parte que caberá ao empregado de acôrdo como plano de participação adotado. Na demonstração daconta de lucros e perdas a despesa de salários a que se re-ferem os lucros deverá figurar destacadamente. O em-pregado terá o prazo de 30 dias para fazer, perante a em-prêsa, qualquer impugnação à "nota de participação".

O pagamento da participação poderá ser feito de uma sóvez ou em quatro prestações, no máximo, até 20 de de-zembro de cada ano. Quando a participação fôr igualouinferior a 1/24 do salário anual seu pagamento será efe-tuado de uma só vez, por ocasião do Natal.

Tôda a vez que a participação individual exceder 1/12 dosalário percebido durante o ano o excesso será depositadoem nome do empregado, na própria emprêsa, em conta es-pecial, vencendo juros não inferiores a 6% ao ano, ou, seo empregador preferir, em conta especial em caixas eco-nômicas ou em bancos de que a União ou os Estados se-jam acionistas majoritários. Somente serão permitidas re-tiradas dessa conta: a) para integrar, no todo ou em parte,capital que o empregado tenha subscrito ou venha a subs-crever na emprêsa; b) para aquisição de casa própria;c) para compensar, até ao máximo de 1/24 do salário

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anual, a falta ou deficiência de participação nos lucros;d) quando cessar ou fôr rescindido o contrato de trabalho,em prestações mensais não superiores à metade do últimosalário mensal percebido.

7) Casos especiais - Nas sociedades de economia mistaem que a maioria do capital pertencer à União, ao Estadoou ao Município a participação nos lucros será fixada livre-mente pelas respectivas administrações e obedecerá a pla-nos por elas elaborados.

As emprêsas sem capital registrado ou com capital regis-trado de até Cr$ 100 mil e que tenham, em qualquer dosdois casos, até 20 empregados poderão optar pelo paga-mento a cada um, como participação nos lucros, de 1/12do salário individual percebido durante o exercício,dispen-sadas as exigências da lei. A lei não prejudicará os con-tratos de participação nos lucros, sejam quais forem assuas modalidades, existentes na data de sua vigência.Em tais casos a participação resultante da lei será levadaà conta dos pagamentos devidos pela emprêsa aos empre-gados.

8) Natureza jurídica - Não se compreendem na remu-neração do empregado, para os efeitos legais, inclusive daprevidência social, as importâncias recebidas como parti-cipação nos lucros. Entretanto, constituirá crédito privi-legiado em caso de falência ou concordata o total das im-portâncias devidas aos empregados, em razão da lei, in-clusive os depósitos referidos quando examinamos o pa-gamento.

9) Crítica - Como se viu, o projeto analisado institui aparticipação nos lucros sõmente pecuniária. Daí decor-rem todos os seus defeitos, que o tornam perfeitamenteinútil.

Para atender às objeções apresentadas à participação noslucros - notadamente às de que a participação nos lucrosprovocaria a descapitalização e seria inflacionária - oprojeto pràticamente reduz a nada a participação nos lu-cros. Com efeito, limita o seu valor global a 50% do

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total anual de salários e o seu valor individual a dois salá-rios mensais, dos quais o empregado receberá anualmenteapenas um.

Logo, em realidade, não institui a participação nos lucros,mas uma simples gratificação anual, o aguinaldo argenti-no. Aliás, hoje, tendo em vista a aprovação de outros pro-jetos aqui não examinados (n.? 3618/61, do deputadoFLORICENOPAIXÃOe, anteriormente, n.os 158/47 e 563/48, do deputado PEDROSOJÚNIOR), tal gratificação é ob-jeto de outra lei, não de participação nos lucros.

Com efeito, a Lei n.? 4090, de 13 de julho de 1962, ins-tituiu a gratificação de Natal para os trabalhadores, sendoregulamentada pelo Dec. n.? 1 881, de 14 de dezembrode 1962. Estabelecem a "gratificação salarial" de ummês de salário por ano, vulgarmente denominada "13.°salário" ou "13.° mês". Em nenhum dêsses diplomas le-gais há qualquer referência à participação nos lucros. Emconseqüência, não representam a lei ordinária que regula-rá o dispositivo do n.? IV do art. 157 da ConstituiçãoFederal.

Deve, portanto, prosseguir a luta para a instituição, entrenós, da verdadeira participação nos lucros, a fim de darcumprimento ao preceito constitucional .

• Outros projetos - Mesmo depois de aprovado o Pro-jeto n.? 1 039/48, vários outros foram apresentados àCâmara dos Deputados: n.? 1929/56, QUEIROZFILHO;n.? 14/59, PAULODETARSO;n.? 1432/60, NELSONCAR-NEIRO;n.? 3 461/61, FERNANDOFERRARI;n,? 3 759/61,JOAQUIMDURVAL;n.? 168/63, LEOPOLDOPERES; n.os219/63 e 531/63, JUAREZTÁVORA,e, n.? 269/63, JESSÉFREIRE, êste sôbre acionariado operário.

Dêles, brevitatis causa, examinaremos apenas os mais ori-ginais, dos deputados QUEIROZFILHO, PAULODE TARSOe JUAREZTÁVORA,mesmo porque alguns, como o do depu-tado FERNANDOFERRARI,versam somente sôbre aspectosparciais do problema.

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1) Projeto 1 929/56, QUEIROZFILHO - Os aspectosoriginais dêsse projeto são: a) a criação de um conselho derepresentantes 10s empregados, de 5 a 25 membros, paraestudo e fiscalização dos planos de participação nos lu-cros; b) o valor global mínimo de 30% dos lucros; c)fixar para os participantes não empregados, como máxi-mo, o limite de 5 vêzes a cota média dos empregados.Obviamente, incide êle nas mesmas críticas feitas ao Pro-jeto n.? 1 039/48.

2) Projeto 14/59, PAULODE TARSO- Dispõe sôbre apolítica de incentivos à adoção, pelas emprêsas, do regi-me de distribuição de lucros aos trabalhadores. Tais in-centivos são: a) dedução do valor global da participaçãonos lucros do lucro real tributável pelo impôsto de renda;b) prioridade, em igualdade de condições, para as opera-ções com o Banco do Brasil, com o Banco Nacional doDesenvolvimento Econômico, com a Caixa Econômica Fe-deral e congêneres, para as concorrências públicas e apro-vação de contratos de qualquer espécie com entidades pú-blicas, autárquicas e sociedades de economia mista fe-derais; c) o lucro será o constante do balanço contábil daemprêsa.

Tal projeto é obviamente inconstitucional, pois admite aparticipação nos lucros facultativa e indireta, enquanto oart. 157, n.? IV, da Constituição de 1946 a estabeleceobrigatória e direta.

3) Projeto 531/63, JUAREZTÁVORA Êsse projetoreestrutura completamente a emprêsa, dela fazendo umacomunidade de capital, trabalho e direção. Considera oslucros bem comum a êles e que entre êles deve ser divi-dido. Para isso entende, entretanto, que deve haver cor-relação de direitos e deveres, que o projeto menciona mi-nuciosamente . Admite para os dois elementos - o capi-tal, de um lado, e o trabalho (tanto de execução, como dedireção) - duas espécies de remuneração: a primária,representada pelos juros do capital e pelos salários de to-dos os que trabalham na emprêsa (suprimidas as retira-das e gratificações de diretores), com o máximo dos 5 me-

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nores salários pagos pela emprêsa; e a secundária, consis-tente na participação nos lucros.O projeto considera lucro líquido, lucro real ou lucro fiscalde um exercício social a diferença obtida entre o lucro bru-to, acrescido das receitas diversas (juros e rendas diver-sas), e as seguintes deduções: a) juros máximos de 10%ao ano sôbre o capital social anualmente reajustado segun-do a aplicação dos coeficientes estabelecidos oficialmentepara compensar as desvalorizações da moeda; b) as dedu-ções legais previstas no regulamento para cobrança e fis-calização do impôsto de renda, nomeadamente as seguin-tes, ligadas à constituição de fundos de garantia do capitale do trabalho e de provisões contra riscos da emprêsa:I) fundo de depreciação e renovação de acervo; II) fundode amortização de capital social, quando legal ou contra-tualmente previsto; III) cotas para amortizações de em-préstimos e financiamentos não incorporáveis ao capitalsocial da emprêsa; IV) cotas de assistência social, inclu-sive a destinada ao pagamento de abono-família; V) co-tas de previdência social; VI) provisões contra riscos daemprêsa.A participação no lucro das sociedades anônimas será feitacom base no lucro fiscal ou real, ou já nos resultados apre-sentados no balanço geral e na demonstração de lucros eperdas, correspondentes ao exercício e aprovados pela as-sembléia geral de acionistas.A participação global do trabalho (nêle incluídos os ele-mentos da direção) nos lucros da emprêsa será propor-cional à contribuição de ambos para a produção da em-prêsa, durante o ano social, e se determina, percentualmen-te, pela relação entre as despesas gerais com o pessoal eas despesas diretas do custeio da produção, durante o anocorrespondente.Incluem-se no cômputo das despesas gerais com o tra-balho as seguintes parcelas: a) as remunerações primá-rias pagas durante o ano ao trabalho, aí incluídos os ele-mentos da direção; b) as cotas de assistência, inclusiveabono-família, e de previdência social a cargo da emprêsa;

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c) as comisões e percentagens, tarefas ou empreitadas, egratificações pagas pela emprêsa.

Excluem-se de tal cômputo: a) as diárias e ajudas decusto para viagens; b) vestuários e acessórios distribuídosao pessoal para prestação de serviços nos locais de tra-balho.

As despesas de custeio direto da produção incluem as se-guintes parcelas: a) os juros pagos como remuneraçãoprimária ao capital social; b) os salários pagos como re-muneração primária ao trabalho, nêle incluídos os ele-mentos integrantes da direção; c) descontos e juros deempréstimos e financiamentos; d) impostos gerais, excluí-do o de renda; e) cotas de assistência e de previdênciasociais a cargo de emprêsa; f) cota destinada ao fundode depreciação e renovação do acervo; g) despesas diver-sas ligadas ao processo de produção.

Nos casos de emprêsas cujas atividades sejam as de em-preitadas de construção de estradas e semelhantes (ar-tigo 56 do Decreto n.? 47 373, de 7 de dezembro de 1959)os salários anuais e as receitas serão os relativos ao lucroapurado parcial ou totalmente na respectiva empreitada,rubricados como operações pendentes.

A determinação da cota individual de cada elemento dotrabalho no lucro da emprêsa será feita em função do tem-po de serviço e do total de salários nela recebidos duranteo ano.

o tempo de serviço é computado sob a forma de "pêso deantiguidade", variável de 1 a 3, da forma abaixo:

a)b)c)d)

de 2 a 4 anos pêso 1,00;de 5 a 7 anos pêso 1,50;de 8 a 10 anos pêso 2,00;além de 10 anos - pêso 3,00.

A participação correspondente ao salário será determina-da sob a forma de "pontos-salários", multiplicando-se ummilésimo do salário anual pelo "pêso de antiguidade". Em

R.A.E./14 A VERDADEIRA PARTICIPAÇÃO 61

função dêsses dois coeficientes será obtido o "índice derateio" dividindo-se o valor da participação global do tra-balho pelo total de "pontos-salários" de todos os elemen-tos do trabalho. Finalmente, a determinação da cota in-dividual de participação de cada elemento do trabalho éfeita multiplicando-se o número de "pontos-salários" dotrabalhador pelo "índice de rateio" .

A participação do capital nos lucros líquidos verificadosserá o saldo disponível após a dedução da cota global departicipação de trabalho, aí incluídos or elementos da di-reção.De acôrdo com a decisão aprovada pela assembléia-geraldos acionistas, a distribuição do lucro líquido apurado emcada exercício será feita, com igual critério para o capital,o trabalho de direção, pelas seguintes formas combinadas:a) em espécie, como bonificação posta à disposição de cadaelemento do trabalho, da direção e do capital; b) em no-vas ações ordinárias, preferenciais e do trabalho, emitidasem correspondência com a cota deduzida para o fundo deampliação da emprêsa, ou para a constituição de qualquerreserva que se possa incorporar ao capital social. A boni-ficação em espécie, atribuída ao trabalho, corresponderá,no mínimo, a um mês de salário, em substituição do atual13.0 salário, criado pela Lei n.? 4090, de 13 de julho de1962. As ações do trabalho gozarão dos mesmos direitosdas ações ordinárias, exceto as limitações à circulação e aodireito de voto. A respeito, o mesmo deputado apresen-tou o Projeto n.? 219/63.

Capital e trabalho serão representados, paritàriamente, noconselho fiscal da emprêsa. O conselho fiscal acompa-nhará a apuração das cotas destinadas à constituição dosfundos de garantia do capital e do trabalho, e de provisõescontra riscosda emprêsa, bem como a administração dêssesfundos.

As eleições das diretorias das sociedades anônimas se fa-rão pelo critério proporcional, determinando-se o cocienteeleitoral mediante a divisão do número total das ações or-

62 A VERDADEIRA PARTrrCIPAçÃ'Ü R.A.E./14

dinárias e ações do trabalho, pelo número de diretores quecompuserem a diretoria.

o trabalho elegerá tantos diretores quantas vêzes o nú-mero de ações do trabalho comportar o coeficiente eleito-ral, computando-se como inteiro a fração superior a ummeio. Quando um diretor não puder, por qualquer mo-tivo, completar o seu mandato, a eleição para substituí-lofar-se-á exclusivamente pelo grupo de acionistas do capi-tal ou do trabalho que o haja eleito anteriormente. In-dependentemente de o trabalho dispor de número de açõessuficiente para eleger um diretor, poderá a direção, deacôrdo com os detentores do capital, organizar uma dire-ção de serviços sociais, entregando-a a representante dotrabalho. Em qualquer tempo poderão o trabalho e a di-reção organizar, de comum acôrdo, um conselho de em-prêsa destinado a examinar permanentemente as questõesde interêsse comum do capital e do trabalho na emprêsa,e, eventualmente, a procurar solução pronta e construtivapara divergências nela surgidas e que possam conduzir aimpasses prejudiciais à harmonia dos fatôres de produçãoe à sua produtividade. .

As sociedades comerciais não estruturadas sob a forma desociedade por ações destinarão, para remuneração secun-dária do trabalho, até 90 dias após o balanço geral, emmoeda nacional, 30%, no mínimo, do lucro fiscal, ou lucropresumido, calculado de acôrdo com o Regulamento paraCobrança e Fiscalização do Impôsto de Renda. Na de-terminação da participação do trabalho no lucro apuradoserá levada em conta, como nas sociedades por ações, a re-muneração primária devida ao capital social. O cálculoda participação individual dos elementos do trabalho (aíincluídos os de direção) nos lucros líquidos far-se-á pelomesmo processo especificado. Ê facultado às sociedadesde que trata o presente artigo distribuir, em ações de tra-balho, parte dos lucros cabíveis ao trabalho, devendo nessecaso os portadores de tais ações transformarem-se em só-cios comanditários.

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As divergências que surgirem com a aplicação dos planosde participação do trabalho nos lucros da emprêsa, bemcomo com a aplicação da lei em foco, serão julgadas pelosdelegados regionais do Impôsto de Renda do Estado emque estiver localizada a sede da emprêsa, com recurso vo-luntário para a Primeira Câmara do Primeiro Conselho deContribuintes, observados os prazos e a forma processualestabelecidos no Regulamento do Impôsto de Renda.

Êsse projeto é o melhor de todos até hoje apresentado, sobtodos os aspectos. A reestruturação da emprêsa nêle pro-posta atende exatamente aos anseios dos que desejam areforma da emprêsa. Adota, como se viu, o sistema misto,mantendo pequena parte pecuniária (o atual 13.° salá-rio) e convei·tendo o restante da participação nos lucrosindividual em ações de trabalho. Estas diferem das or-dinárias apenas por sofrerem restrições quanto à orienta-ção e ao direito de voto, restrições, aliás, não esclarecidasno projeto. Estabelece a participação dos empregados nadireção da emprêsa e no conselho fiscal, de forma propor-cional . Aconselha ainda a criação de um conselho deemprêsa.

Seu único defeito, a nosso ver, reside na sua própria exce-lência. Cremos ser muito difícil no momento a sua apro-vação, embora sejamos inteiramente a seu favor. Comefeito, se a simples idéia da participação nos lucros temencontrado até hoje resistência tão grande que 18 anosapós sua inscrição na Constituição ainda não se conseguiuregulá-la em lei, quanto maior não será a resistência a tãoradical reforma da emprêsa? Pensamos, por isso, que umasolução também acionária mais modesta talvez tivessemaior probabilidade de vingar .

• Projetos do Senado - No Senado Federal foram apre-sentados os Projetos n.Os 28/51, de JOÃo VILLASBOAS;12/63, de NELSONMACULAN,e 96/63, de EURICORE-ZENDE,além do já citado Projeto n.? 333/52, que vemda Câmara dos Deputados (1039/48), e mais o de n.?47/64, de GOUVÊAVIEIRA.

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Em 22 de abril de 1964 o Senado Federal aprovou o re-querimento n,? 78, de 1964, do Senador JEFFERSONAGUIAR,que propunha a tramitação em conjunto daquelesprojetos, com exclusão do de n.? 12/63. E a 24 do mes-mo mês aprovou a constituição de uma comissão especialde 7 membros para, no prazo de três meses, proceder aoestudo das proposições relacionadas com a participação noslucros. Êsse prazo foi posteriormente prorrogado por maistrês meses.

1) Projeto n.o 28/51 - Êsse projeto apresenta comoinovação: a) valor global de 30%; b) para determinaro valor individual leva em conta a produção do emprega-do, anotada em cadernetas individuais; c) adota a formadiferida: 75% entregues a êle e 25% depositados no ins-tituto de aposentadoria e pensões respectivo para somenteserem retirados nas hipóteses previstas no presente artigoem Análise do Projeto 1039/48 (333/52), item 6, fimdo último parágrafo; d) proíbe, expressamente, que asemprêsas compensem período de lucro com período deprejuízo; e) para os casos em que não é obrigatória a es-crita regular a participação nos lucros será calculada, naforma da lei do impôsto de renda, sôbre o montante dasrespectivas operações, distribuindo-se apenas à base do sa-lário; f) obriga as emprêsas que já não o hajam feito, aopagamento da participação nos lucros, à base de 10%,desde a data da Constituição Federal até à vigência da lei;g) permite o exame da escrita patronal.

Sôbre as principais inovações, observaremos apenas que aconsideração da produção no valor individual confunde aparticipação nos lucros com o salário-incentivo. E o efei-to retroativo da letra f supra fere o disposto no art. 141,§ 3.0, da própria Constituição Federal. Com efeito, porfôrça do que dispõe o n.? IV do seu art. 157, a participa-ção nos lucros somente será devida depois de regulada emlei.

2) Projeto n.o 12/63 - Apresenta apenas duas novida-des, ambas concernentes ao valor individual. Manda cal-culá-lo 70% considerando-se o tempo de serviço e os en-

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cargos de família, e 30% segundo a remuneração e a con-tribuição feita ao impôsto de renda. Divide-o: 50%, pa-gos em dinheiro; 25%, depositados, com juros de 8%,nos mesmos têrmos do anterior; e 25% pagos em títulosou ações, inclusive da própria emprêsa.

Observaremos que são desarrazoadas as referências aos en-cargos de família e às contribuições do empregado para oimpôsto de renda.

3) Projeto n.o 96/63 - Inova ao dispor sôbre a demo-cratização do capital das emprêsas e a participação dotrabalhador rural na exploração das propriedades agro-pecuárias. A primeira se fará pelo pagamento de 90%do valor individual em ações nominativas, preferenciais,sem voto ("ações de participação"), das emprêsas, e pelaredução do impôsto de renda às que admitirem como acio-nistas seus empregados e, na falta dêstes, a estranhos.A segunda, pela cessão aos trabalhadores rurais e seus de-pendentes, para que as explorem, de 100/0 das terras, pre-paradas e semeadas pelos proprietários, e de inseticidas efertilizantes, os dois últimos a serem pagos na colheita.No caso de pecuária a área será de 2 hectares de terras pre-paradas e semeadas por família ou grupo de 3 solteiros.Os proprietários poderão, entretanto, optar pela distribui-ção ao empregado de 5% do valor da venda de seus pro-dutos ou de animais nascidos no decorrer do ano.

Os empregados acionistas poderão eleger um membro doconselho fiscal e um diretor com funções consultivas eacesso a todos os informes sôbre as atividades da emprêsa.O mérito - representado, para nós, pela introdução daparticipação nos lucros acionária - desaparece diantedêstes dois graves defeitos: a) as ações são preferenciais,sem direito de voto e livremente transferíveis após a ter-minação do contrato de trabalho; b) seu valor, para cadaempregado, é restrito a 1% do capital da emprêsa.

• Projetos e anteprojetos de Código do Trabalho - Fo-ram até hoje apresentados dois projetos de Código do Tra-balho: n.? 606/50, do deputado SEGADAS VIANNA, e n.?

66 A VERDADEIRA PARTICIP AÇÁ'O R.A.E./14

429/55, do deputado CARLOSLACERDA,êste último ela-borado pelo Dr. DORVALLACERDA.Houve, a seguir, doisanteprojetos: o do Professor EVARISTODE MORAESFI-LHO e êsse mesmo revisto por uma comissão integradapor êle próprio e pelos professôres MOZARTVICTORRus-SOMANOe JOSÉ MARTINSCATHARINO.

1) Projeto SEGADASVIANNA- Cogita da participaçãonos lucros no Capítulo III do Título III (Contrato Indivi-dual de Trabalho), do art. 285 ao art. 306. Reproduz,pràticamente, o Projeto n.? 1 039/48, a que já nos refe-rimos.

2) Projeto CARLOSLACERDA- Cuida da participaçãonos lucros no Capítulo VI do Título II (Das Normas Ge-rais de Proteção ao Trabalho), nos arts. 161 a 178. Sãodo seu próprio autor estas palavras: "Êste capítulo resultado estudo proposto pela notável monografia intitulada "UmEnsaio de Justiça Distributiva", de autoria do GeneralJUAREZTÁVORA.Essa monografia fêz afirmações doutri-nárias, mas não chegou a esboçar solução prática. Paraisso tratamos de aproveitar e reajustar às normas do Có-digo os projetos de lei do Deputado PAULOSARASATE(1948, Projeto n.? 1039) e do Deputado DANIELFARA-CO (1947, Projeto n.o 5)".

3) Anteprojeto EVARISTODEMORAESFILHO~ Ocupa--se da participação nos lucros no Capítulo IV do Título VI(Da Organização da Emprêsa), arts. 631 a 662, e no Ca-pítulo V do mesmo Título, arts. 663 a 666 (Do Acio-nariado de Trabalho). Assim se manifesta o autor emsua justificação: "Quanto à participação nos lucros, apro-veitamo-nos em grande parte, do projeto aprovado pelaCâmara dos Deputados e que, há muito, se encontra noSenado Federal. Obedece aos ditames constitucionais,com a participação direta, obrigatória e geral, mas permitea associação do empregado à emprêsa e a constituição deuma conta de reserva para os momentos difíceis da vidado empregado ou para com ela integrar o seu capital na

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emprêsa", e ainda: "O acionariado do trabalho é faculta-tivo, tendo o anteprojeto o cuidado de uni-lo ao regime daparticipação. A conta especial em nome do empregado,sempre que a participação fôr superior a um duodécimo,poderá ser por êle utilizada para integrar capital subscritona própria emprêsa. Desde o comêço,os acionariados vêmcercados de certa aura de romantismo e utopia. Não nosiludimos. Não reeditamos as famosas ações do trabalhofrancesas adotadas por lei especial há meio século. Asações são da mesma natureza que as demais, comuns. Daío aumento automático e necessário do capital social". Ainovação consistiu em fazer intervir na fiscalização da par-ticipação nos lucros os conselhos de emprêsa criados peloanteprojeto.

4) Anteprojeto revisto - Manteve a participação noslucros no Capítulo IV do Título V (Da Organização daEmprêsa), arts. 466 a 495, e o acionariado do trabalhono capítulo seguinte, arts. 496 a 498. Várias foram asmodificações introduzidas: a) supressão do art. 638, sôbreparticipação nos lucros aos não empregados que trabalhas-sem na emprêsa com a conseqüente supressão do art. 649;b) aumento de 10% para 12% da remuneração do capi-tal (art. 640); c) supressão da referência ao delegado sin-dical, no art. 643; d) substituição da expressão "TribunalRegional do Trabalho", no parágrafo único do artigo aci-ma, por "Justiça do Trabalho"; e) inverteu o critério doparágrafo único do art. 644, para o cálculo do valor indi-vidual, tornando obrigatórias a freqüência e a eficiência,e facultativa a antiguidade - o que é mais razoável -e, conseqüentemente, eliminou a referência à antiguidadeno art. 648 (482 revisto); f) no art. 650 (483 revisto)corrigiu a expressão "perdas e danos" para "lucros e per-das"; g) no art. 653 (486 revisto) suprimiu a expressão:" . . . usando da faculdade constante do art. 19 do CódigoComercial"; h) suprimiu no art. 662 (495 revisto) a pa-lavra "convenções"; i) suprimiu o art. 665, que dispunha,quanto ao acionariado do trabalho: "O capital social deveser aumentado na medida correspondente".

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CO~CL~ÃO

A. A Verdadeira Participação nos Lucros

De todo o exposto resulta claramente - assim o espera-mos - a conclusão de que a verdadeira participação noslucros é a obrigatória, direta e acionária.

Admitida a fórmula do Projeto n.? 1 039/48, estabeleci-dos como limites mínimo o de 20% e máximo o de 40%dos lucros tributados pelo impôsto de renda, distribuídoêsse valor global, obrigatoriamente, de acôrdo com os cri-térios de importe da remuneração anual, antiguidade, as-siduidade e eficiência, para cada empregado, a respectivacota seria integralmente convertida em ações ordináriasou cotas-partes do capital das emprêsas, que seria au-mentado ad hoc. Tôdas elas teriam, obrigatoriamente, aforma de sociedades por cotas ou por ações.

Destarte, os empregados tornar-se-iam, automàticamente,sócios do empregador. Cada um dêles - visto comoomnis homo potest plures personas sustinere -, emboracontinuando a ser empregado regido pela legislação socialpassaria a ser um acionista ou cotista, regulado pelasleis de sociedades por ações ou de sociedades por cotasde responsabilidade limitada. Pràticamente, não haveriaalteração nessas leis, a não ser o fato de que as ações -sempre nominativas - ou cotas somente seriam transfe-ríveis por terminação do contrato do trabalho, e isso mes-mo exclusivamente a outros empregados ou aos proprie-tários da emprêsa, observada essa ordem.

Assim, sem grandes transformações, seriam atingidos, aomesmo tempo, os três escopos da reforma da emprêsa, se-gundo a Doutrina Social Católica: participação nos lucros,cogestão e copropriedade ,

B. Sua Influência na Solução da Questão Social

Muito ao contrário do que se afirma ocorreria com a sim-ples participação nos lucros pecuniária, a participação noslucros acionária, se não a resolvesse, muito influiria paraa solução da Questão Social.

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A demonstração dessa asserção não vamos fazê-la com pa-lavras, mas com fatos.

Já mostramos o êxito extraordinário da participação noslucros no México, mesmo sem ser acionária. O saudosodeputado Professor QUEIROZFILHO assim se exprimiu noitem 3 da justificação do seu Projeto n.? 1929/56: "Ve-jamos, porém, em dados concretos, os frutos anunciadospelo conselho norte-americano das indústrias que traba-lham em regime de participação de lucros: 1) sessentapor cento a mais na remuneração global dos trabalhado-res, em confronto com os melhores salários pagos em ou-tras indústrias do mesmo ramo; 2) quarenta por centode aumento da eficiência em produção por empregado;3) sessenta e seis a oitenta por cento de maior lucro paraa emprêsa considerada em conjunto, isto é, trabalhadorese acionistas; 4) trinta a quarenta por cento de reduçãonos preços para o consumidor de artigos manufaturados;5) renovação do quadro de empregados muito reduzida e,em certos casos, totalmente eliminada; 6) grande aumen-to nas sugestões dos trabalhadores quanto a inovações con-sideradas favoráveis à vida da emprêsa; 7) redução dasqueixas e das greves que se tornaram cada vez mais es-cassas; 8) virtual desaparecimento da vigilância, que setornou desnecessária; 9) número crescente de trabalha-dores qualificados, que desejam ingressar nas emprêsas sobregime de participação; 10) finalmente, aponta-se, comoresultado do sistema, o clima de compreensão, de coope-ração e de ordem que preside a vida da emprêsa, onde,afinal, os agitadores não têm função a exercer". E issonos Estados Unidos, com participação facultativa e pe-cumana . Poderíamos acrescentar ainda os seguintes fa-tos: "A Fundação de Pesquisas sôbre Participação nos Lu-cros de Chicago, num estudo recente de catorze emprêsasvarejistas, das quais sete tinham planos de participação,constatou que as companhias que repartiam os lucros comos empregados prosperavam mais que as outras. O estudode alguns dos maiores varejistas do país - inclusiveGimbel Brothers, Marshall Field & Co., Seers, Roebuck& Co., ]. C. Penney Co. e R. H. Macy & Co. - revelou

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que as suas vendas, valor líquido, lucro bruto e valor dasações eram superiores aos das emprêsas sem aquêles pla-nos"; "Em 1958 sete firmas varejistas tinham lucros líqui-dos equivalentes a 11,3 por cento; os das emprêsas semtais planos, 6,93 por cento. No mesmo ano os lucros porempregado das companhias com planos de participaçãoatingiram US$ 687 contra US$ 461 das companhias semêles . Demais, os varejistas com planos de participaçãoconseguiram manter sua margem de superioridade nessesdois setores nos sete anos de 1952 a 1958. O estudo de-monstrou também que o dólar dos acionistas cresceu maisràpidamente nas companhias com plano de participação;cada dólar investido teve um valor de $ 1,37 entre 1952e 1958, contra $ 0,95 nas outras. Como era de esperar,os dividendos e o valor das ações das emprêsas com pla-nos de, participação foram também superiores"; "exemplotípico do plano de pagamento em dinheiro é o da SanbornCompany, que começou seu plano de participação em1917 e hoje destina 25 por cento do lucro a êsse fim.Em 1959 os empregados da firma receberam a média deUS$ 582 do "bôlo" total de US$ 552 879. O Sr. Jenksdeclara que mais de 90 por cento dos acionistas concor-dam que o progresso da companhia se deve principalmenteao plano em aprêço. Demais, eliminou dificuldades tra-balhistas; atraiu trabalhadores do mais alto tipo e estimu-lou a vontade de trabalhar com afinco" . 27

Convém repetir que tôdas as objeções são contra aquelaforma de participação nos lucros! Entretanto, atestam oseu êxito, além dos fatos já apontados, mais êste, recen-tíssimo: "Operários e GM fazem acôrdo - O Sindicatode Trabalhadores em Indústrias Automobilísticas e a Ge-neral Motors concluíram acôrdo que concede aos empre-gados uma participação nos lucros da sociedade. O acôr-do foi assinado uma hora depois da marcada para declara-ção de uma greve" .28 Outros exemplos são citados em bri-

27) "Participação dos Empregados nos Lucros da Indústria nos EUA", OEstado de São Paulo (suplemento comercial e industrial), de 29c12-1960.

2'8) Cf. nota 25.

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lhante entrevista do esclarecido comerciante Sr. OSWALDOTAVARES.29

Por outro lado, fala-se muito atualmente em democrati-zação da emprêsa, pela conversão das sociedades anôni-mas em sociedades abertas. A própria legislação viria es-timulá-la, como se vê no Dec. n.? 54 105, de 6 de agôstode 1964, que criou o Fundo de Democratização do Ca-pital das Emprêsas (FUNDECE). Diz no art. 4.°, pará-grafo único, letra a: "As operações do Fundo consistirãoem empréstimos com prazo entre 6 e 36 meses, com pe-ríodos de carência adequados e mediante garantias reaisoferecidas pela própria emprêsa ou por seus acionistas.Parágrafo único. Garantidas as condições usuais de se-gurança do reembôlso, o Fundo dará prioridade às solici-tações de emprêsas que: a) aceitem fórmulas que envol-vam a abertura de seu capital social".

Além disso,o Projeto n.? 47, de 1964, do Senador GOUVÊAVIEIRA,pretende assegurar aos empregados o direito depreferência para subscrever 20% dos aumentos de capitalrealizados por sociedades anônimas. Nesse sentido escre-veu KURTE. WEIL: "Seria ainda necessário que houvessemodificações e adaptações em leis atuais ou em andamen-to no Congresso Nacional para que as emprêsas tivessempossibilidade de considerar reinvestimentos de lucros comoaumentos de capital que, transformados em ações, pudes-sem ser distribuídos nessa qualidade para a participaçãonos lucros - já que é intenção do Govêrno diminuir opagamento de dividendos pela aplicação do lucro da em-prêsa no aumento do próprio capital ou em ações de in-dústrias de base (Projeto n.? 325/61 do Executivo, quealtera a Lei n.? 2 862, de 4/9/56, e disciplina a aplicaçãode capitais por meio de impôsto de renda) dando benefí-cios na taxação." 30

29) Cf. nota 26.

30) KURT E. WEIL, "A Participação do Empregado no Lucro da Emprêsa",Revista de Administração de Emprêsas, vol, 2, n.? 4, pág. 28.

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E em várias sociedades de economia mista já existe a par-ticipação nos lucros, como é o caso da Fábrica Nacionalde Motores (Estatutos, art. 25, letra c), da CompanhiaSiderúrgica Nacional (art. 49), da Companhia Nacionalde Álcalis (art. 28). O deputado FERNANDO FERRARI,no Projeto n.? 3461, de 1961, pretendeu instituir a par-ticipação dos empregados e servidores nos lucros de tôdasas sociedades de economia mista e emprêsas públicas.

Aliás, várias emprêsas já têm adotado o sistema de faci-litar aos seus empregados a aquisição de suas ações, comótimos resultados. Podemos citar, de momento, sem terefetuado nenhuma pesquisa a respeito, as seguintes: Cia.Brasileira de Tratores, 31 Listas Telefônicas Brasileiras, 32

Laboratório Maurício Villela. 33

Aprovemos, pois, definitivamente, a participação nos lu-cros acionária, se desejamos, na verdade, resolver a Ques-tão Social, com a sobrevivência dos princípios da proprie-dade privada e da livre iniciativa, evitando, assim, a suacoletivização com estatização. Tornemos capitalistas osproletários para evitar que os capitalistas sejam feitos pro-letários.

31) "Operários capitalistas", Fôlha de São Paulo de 19-3-1963.

32) "Democratização do Capital", Observador Trabalhista, 1964, pág. 56.

33) "Laboratórios Maurício Villela democratizam seus capitais: 150 funcio-nários acionistas", Fôlha de São Paulo (caderno de Economia e Finan-ças), de 4-10-1964.