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1 RUI PEDRO PINA CABRAL DA SILVA A VEDAÇÃO DO RECURSO ADESIVO NOS JUIZADOS ESPECIAIS: Uma limitação do acesso à justiça por enunciação do FONAJE Monografia apresentada à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI , como requisito parcial a obtenção do grau em Bacharel em Direito. Orientador: Prof. MSc. Geyson José Gonçalves da Silva. São José 2010

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1

RUI PEDRO PINA CABRAL DA SILVA

A VEDAÇÃO DO RECURSO ADESIVO NOS JUIZADOS ESPECIAIS:Uma limitação do acesso à justiça por enunciação do FONAJE

Monografia apresentada à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI , como requisito parcial a obtenção do grau em Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. MSc. Geyson José

Gonçalves da Silva.

São José2010

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RUI PEDRO PINA CABRAL DA SILVA

A VEDAÇÃO DO RECURSO ADESIVO NOS JUIZADOS ESPECIAIS:Uma limitação do acesso à justiça por enunciação do FONAJE

Esta Monografia foi julgada adequada para a obtenção do título de bacharel e

aprovada pelo Curso de Direito, da Universidade do Vale do Itajaí, Centro de

Ciências Sociais e Jurídicas.

Área de Concentração: Processo Civil

São José, 24 de novembro de 2010.

Prof. Msc. Geyson José Gonçalves da SilvaUNIVALI – Campus de

Orientador

Prof. Leonardo Vieira de ÁvilaInstituiçãoMembro

Profª. Adriana Conterato Bulsing InstituiçãoMembro

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3

Dedico este trabalho a todos os meus

familiares, inclusive, aos que moram em

Portugal, marcando a expressiva distância

que nos separam, sem, contudo, afastar o

carinho, dedicação, amor e incentivo nesta

trajetória da minha vida.

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4

AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, Augusto Pereira da Silva e Maria Henriqueta Vaz de Pina

Cabral Silva, pela dedicação, carinho e amor.

Aos meus irmãos Teresa Sofia Pina Cabral da Silva e Rodrigo Vaz Pina

Cabral da Silva, que sempre me apoiaram em todos os momentos da minha vida.

Ao meu professor, Cláudio Andrei Cathcart, pelo tema e presteza em ajudar.

Ao meu orientador, professor Geyson Gonçalves da Silva, pelo apoio e

compreensão.

Aos meus amigos, em especial Felipe Zanatta Michelon, Danflauer Antunes

Pereira Júnior e Thiago Yukio Guenka Campos, que me apoiaram e me auxiliaram

em todas as etapas deste trabalho.

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5

“Os juizados especiais exsurgiram com a missão

de realizar o sonho de justiça, que segundo Kelsen,

é o sonho mais formoso da humanidade.

Sonhemos, enfim, porque sonhar é a própria vida,

concebida como momentos de lucidez entre vários

infinitos de mistérios”

Luiz Fux

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6

TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade

pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do

Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o

Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

São José, novembro de 2010.

Rui Pedro Pina Cabral da Silva

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RESUMO

O presente trabalho tem por objeto demonstrar a possibilidade de interposição do

recurso adesivo em sede de Juizados Especiais Cíveis. Para entender o assunto, é

importante ter uma visão geral sobre o período histórico em que foram criados os

Juizados Especiais, além de se ter em mente quais são os princípios e o

procedimento que os regem. Esses foram os temas tratados no primeiro capítulo,

que serviu de suporte para o tema principal. Ato contínuo, tratou-se da teoria geral

dos recursos, que demonstra grande importância na questão, pois enquadra os

princípios, conceitos e definições das formas de impugnação, e ainda, foram

analisados os principais recursos previstos no Código de Processo Civil brasileiro e

nas Leis que instituíram os Juizados Especiais Cíveis Estaduais e Federais. Por fim,

analisou-se as posições doutrinárias e jurisprudenciais, dando-se destaque àquelas

que apontam pelo cabimento da interposição adesiva. Ainda no terceiro capítulo,

foram confrontados os princípios que regem os Juizados Especiais Cíveis e o

regramento do recurso adesivo, de modo a verificar a harmoniosidade entre os dois

institutos.

Palavra-chave: direito processual civil. juizados especiais. recursos. cabimento

recurso adesivo.

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ABSTRACT

The purpose of this study is to demonstrate the interposition possibility of the

adhesive resource at the Special Civil Courts. To understand the matter, it is

important to have an overview of the historical period that created the Special Courts,

it is also important to keep in mind what are the principles and procedures that

govern them. These were the topics covered in the first chapter, which served as

support for the main theme. Immediately thereafter, this was the general theory of

resources, which demonstrates great importance on the issue, as fits the principles,

concepts and definitions of legal remedy, and also analyzes the main features of the

Code of Civil Procedure and the Brazilian Laws which established the State and

Federal Special Civil Courts. Finally, the jurisprudential and doctrinal positions were

analyzed, emphasizing those that link the appropriateness of adhesive interposition.

Also in the third chapter, the principles governing the Special Civil Courts and the

rules resource adhesive were confronted, in order to verify the accordance between

the two institutes.

Keyword: civil procedural law, special courts, resources, resource adhesive

suitability.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO......................................................................................................................11

1. DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS ESTADUAIS E FEDERAIS...................................14

1.1 BREVES CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS..............................................................15

1.2 PRINCÍPIOS INFORMADORES DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS....................22

1.2.1 Princípio da Oralidade..........................................................................................24

1.2.2 Princípio da Simplicidade.....................................................................................26

1.2.3 Princípio da Informalidade....................................................................................28

1.2.4 Princípio da Economia Processual.......................................................................29

1.2.5 Princípio da Celeridade.......................................................................................32

1.2.6 Princípio do Acesso à Justiça...............................................................................34

1.3 PROCEDIMENTO DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS...........................................36

1.3.1 Do pedido inicial ..................................................................................................38

1.3.2 Da citação, intimação e revelia.............................................................................38

1.3.3 Da audiência de Conciliação e Julgamento..........................................................39

1.3.4 Da sentença.........................................................................................................40

2. DO SISTEMA RECURSAL CÍVEL BRASILEIRO ............................................................42

2.1 TEORIA GERAL DOS RECURSOS CÍVEIS...............................................................44

2.1.1 Princípios fundamentais dos recursos.................................................................45

2.1.1.1 Princípio do duplo grau de jurisdição..........................................................45

2.1.1.2 Princípio da taxatividade.............................................................................47

2.1.1.3 Princípio da singularidade ou unirrecorribilidade recursal...........................48

2.1.1.4 Princípio da fungibilidade............................................................................49

2.1.1.5 Princípio da proibição da reformatio in pejus..............................................51

2.1.2 Do juízo de admissibilidade e do juízo de mérito..................................................51

2.1.3 Dos efeitos dos recursos......................................................................................53

2.1.3.1 Efeito devolutivo.........................................................................................54

2.1.3.2 Efeito suspensivo........................................................................................56

2.1.3.3 Efeito translativo.........................................................................................57

2.1.3.4 Efeito regressivo ou de retratação..............................................................58

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2.1.3.5 Efeito expansivo.........................................................................................58

2.2 DOS RECURSOS EM ESPÉCIE DE ACORDO COM O CPC....................................59

2.3 DOS RECURSOS EM ESPÉCIE DE ACORDO COM AS LEIS N. 9.099/95 E 10.259/01...........................................................................................................................64

2.3.1 Lei n. 9.099/95.....................................................................................................64

2.3.2 Lei n. 10.259/01...................................................................................................66

3. DO CABIMENTO DO RECURSO ADESIVO PERANTE OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS .................................................................................................................................68

3.1 DO RECURSO ADESIVO E A OMISSÃO NAS LEIS N. 9.099/95 E 10.259/01..........70

3.2 DOS APONTAMENTOS DOUTRINÁRIOS ACERCA DO CABIMENTO DO RECURSO ADESIVO PERANTE OS JUIZADOS ESPECIAIS............................................................74

3.3 DOS APONTAMENTOS JURISPRUDENCIAIS ACERCA DO CABIMENTO DO RECURSO ADESIVO PERANTE OS JUIZADOS ESPECIAIS..........................................78

3.4 DO RECURSO ADESIVO FRENTE AOS PRINCÍPIOS INFORMADORES DOS JUIZADOS ESPECIAIS.....................................................................................................85

CONCLUSÃO.......................................................................................................................89

REFERÊNCIAS......................................................................................................................93

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INTRODUÇÃO

A presente Monografia tem como objeto de estudo o cabimento do recurso

adesivo no âmbito dos Juizados Especiais Cíveis Estaduais e Federais.

O assunto provoca visões dissidentes tanto na doutrina quanto nos

entendimentos jurisprudenciais das Turmas de Recursos de todo o país, razão pela

qual ao longo da pesquisa será traçado um recorte teórico das Leis 9.099/1995 e

10.259/2001, específicas aos Juizados Especiais, bem como o Código de Processo

Civil.

Dessarte, são difundidas duas vertentes para argumentar a discussão aqui

alastrada. A primeira, manifestamente majoritária, aplica a impossibilidade do

recurso adesivo como forma de manifestar a irresignação de uma sentença nos

Juizados Especiais Cíveis, com base na ausência de previsão legal e na

incompatibilidade do procedimento dos Juizados Especiais com o da interposição

adesiva.

Por sua vez, existem os que pregam entendimento adverso, na medida em

que mesmo não tendo presença positivada na Lei de Juizados Especiais, ainda

assim, o diploma processual tem a sua aplicabilidade subsidiária. Ademais,

sustentam não haver razão na alegada incompatibilidade de procedimentos, haja

vista que o recurso adesivo não abala a celeridade que requer o processo nos

Juizados Especiais.

É nesse momento que surge a controvérsia, ponto de exame da presente

pesquisa, tendo por objetivo avaliar a possibilidade de interposição do recurso

adesivo nos processos de competência dos Juizados Especiais Cíveis, mesmo que

ausente qualquer previsão legal albergando o ato.

Não obstante, a necessidade de trilhar o caminho mais justo na discussão

empregada faz levantar algumas hipóteses de resolução. De início, questões

pontuais devem ser provocadas no intuito de traçar um rumo à resposta definitiva.

São elas: a origem e os princípios norteadores dos Juizados Especiais; a natureza

jurídica e os princípios informadores do recurso adesivo.

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Delimitados os conceitos, faz-se necessário confrontar os respectivos

preceitos no escopo de averiguar uma possível harmonização entre eles. Por fim,

resta aplicar os conhecimentos absorvidos nas razões das decisões judiciais e na

fundamentação doutrinária específica, a fim de desenvolver um senso crítico e

equilibrado do assunto versado.

Sendo assim, o vertido estudo será dividido em três partes distintas, nas

quais, se desenvolverá todo o arcabouço teórico pertinente.

O primeiro capítulo contemplará o momento histórico, as manifestações

embrionárias e a consequente criação dos Juizados Especiais. Após as respectivas

noções introdutórias, serão pormenorizados os seus princípios informadores e a

aplicação na legislação específica. Por derradeiro, discorrer-se-á sobre o peculiar

procedimento nos Juizados, desde o pedido inicial até o momento da prolação da

sentença.

O segundo capítulo tratará do ordenamento recursal brasileiro, com espeque

principal na teoria geral dos recursos, de modo a discorrer sobre o seu conceito,

natureza jurídica, princípios e efeitos. Após, serão analisados os recursos em

espécie previstos no Código de Processo Civil de 1973 e nas Leis 9.099/95 e

10.259/01, que instituem os Juizados Especiais Estaduais e Federais.

No terceiro capítulo, examinar-se-á, mais detalhadamente, o recurso adesivo

e a sua omissão na legislação tratada, bem como os posicionamentos doutrinários e

jurisprudenciais acerca do seu cabimento no microssistema dos Juizados Especiais,

sobrelevando os argumentos nos dois sentidos. Por fim, serão confrontados os

princípios dos dois institutos – recurso adesivo e juizados especiais –, objetivando,

portanto, incitar a reflexão a respeito da temática adotada.

Quanto à metodologia empregada, registra-se a utilização do método

dedutivo, que consiste em premissas, partindo da geral para a específica, fechando

com a conclusão. Assim sendo, o ponto inicial é a delimitação dos conceitos de

juizado especial e recurso, até chegar ao momento de avaliar a possibilidade do

Recurso Adesivo nos Juizados Especiais Cíveis.

Com efeito, a pesquisa será pautada na técnica de documentação indireta, a

qual utilizar-se-á de pesquisa bibliográfica, através das leituras de doutrinas e

artigos, e pesquisa documental direta, por meio do estudo da legislação vigente, em

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especial, a Constituição Federal de 1988, a Lei n. 9.099/95, a Lei n. 10.259/01 e o

Código de Processo Civil de 1973, bem como a análise dos entendimentos

jurisprudenciais referentes ao assunto.

Enfim, pretende-se com o presente estudo, contribuir para o esclarecimento de

alguns pontos controvertidos sobre o tema, porquanto nítida a dissonância existente

no meio forense nacional, e, por consectário, estimular a reflexão em seus variados

aspectos.

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1 DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS ESTADUAIS E FEDERAIS

As sobejadas formalidades processuais, o alto custo das demandas, a

morosidade do judiciário, bem como o congestionamento e a desinformação nos

serviços da justiça, perfazem uma problemática que, ainda defrontada pelos juristas

hodiernos, já causava dissabores em épocas pretéritas.

Na segunda metade do século passado já se falava na falta de acesso às

vias jurisdicionais que atingia a população em geral e, em especial, os pequenos

litigantes1. Aliás, a seu turno, a doutrina aponta como principal motivo destas

dificuldades, acompanhado do excesso de formalismo da via jurisdicional, o

exponencial desenvolvimento nos grandes centros urbanos, alvos de incessantes

movimentos migratórios.

Em decorrência de tais circunstâncias, surgiu o fenômeno que Kazuo

Watanabe denominou “litigiosidade contida”2, fazendo referência aos conflitos de

interesses que pernoitam sem solução, aos que sequer chegam ao conhecimento do

Judiciário ou, por último, aqueles solucionados de maneira inadequada ou ilegítima.

Por consectário, fez-se necessário o despertar ou ressurgimento de

mecanismos institucionalizados, paralelos à maquina judiciária, como meios

alternativos na solução de litígios que, mesmo destituídos da função jurisdicional -

atinente somente ao monopólio estatal -, exercem a posição destacada na

pacificação das contendas3.

A propósito, sobre esta vertente extrajurisdicional, Silvana Campos Moraes

faz importante levantamento jurídico-social protagonizado pela sociedade àquela

época, vejamos:

A segunda metade deste século tem sido caracterizada por elevado índice de violência e insatisfação agregado à preocupante intensificação dos litígios. A litigiosidade, frequentemente, consubstancia-se em conflitos sociais os quais, rapidamente, se multiplicam e perturbam a tranquilidade da comunidade. O crescimento acentuado dos conflitos sociais atinge todas as

1MORAES, Silvana Campos. Juizado de Pequenas Causas. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1991. p. 37.2WATANABE, Kazuo. Juizado Especial de Pequenas Causas. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1985. p. 2.3MORAES, Silvana Campos. Juizado de Pequenas Causas, p. 43.

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sociedades não apenas do mundo ocidental, pois trata-se de um fenômeno universal.Em consequência da exacerbação dos conflitos sociais verifica-se, em quase todos os países, uma proliferação das vias alternativas, institucionalizadas ou não, atuando na pacificação das situações conflituosas. Vários mecanismos são postos em atividade, ora pacificando as partes conflitantes, ora evitando a própria instalação da controvérsia, de modo a enfrentar o referido fenômeno, que é reflexo da complexidade sócio-cultural, sócio-econômica e das tensões da própria vida em sociedade4.

Assim, é possível constatar que a evolução no emprego das vias

conciliatórias arraiga-se na crença de que o direito e os procedimentos contenciosos

não estão aptos a solver todos os conflitos sociais, sobrelevando a qualificada

“deformalização das controvérsias”5, ou seja, a busca por meios informais ou não

convencionais para dirimir os conflitos.

Por sua vez, diante do proliferado descrédito com a “Justiça”, mostrou-se

imprescindível a reação do Poder Judiciário, que o fez por meio da criação de um

procedimento especial jurisdicional. O próprio Supremo Tribunal Federal, segundo o

jurista Piquet Carneiro, chegou à conclusão da impossibilidade prática de acesso a

ele, Judiciário, nos conflitos de interesses, quando diminuta a importância ou o valor

econômico da lide6.

É nesse contexto que o Ministério da Desburocratização7, sob a

coordenação dos Ministros Hélio Beltrão e Paulo Lustosa, em coaduno com a

manifestação popular, que o fazia por via postal, decidiu atender às inúmeras

reclamações e incluiu o Judiciário como órgão do Estado a ser modernizado8.

1.1 BREVES CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS

4MORAES, Silvana Campos. Juizado de Pequenas Causas, p. 68.5Ibidem, p. 69.6CARNEIRO, João Geraldo Piquet. Juizado de Pequenas Causas. Porto Alegre: Ajuris, 1982, p. 70.7Repartição do Poder Executivo Federal responsável pelo Programa Nacional de Desburocratização e que tinha como escopo aperfeiçoar a prestação estatal, diminuindo o impacto da sua estrutura inflexível no meio social brasileiro. 8CUNHA, Luciana Gross. Juizado Especial: criação, instalação, funcionamento e a democratização no acesso à justiça. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 16.

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16

De início, insta gizar que a criação dos Juizados Especiais Cíveis não foi o

primeiro trilho percorrido pela vertente jurisdicional que buscava efetivar o acesso à

justiça frente aos inúmeros problemas já elencados.

Destaca-se, por oportuno, que tempos antes - mais precisamente em julho

de 1982 - foi hasteado no estado do Rio Grande do Sul o primeiro Conselho de

Conciliação e Arbitramento, na comarca de Rio Grande, “no qual se pretendia

resolver, extrajudicialmente, os conflitos de interesse mais simples, objetivando,

assim, reduzir a quantidade de processos judiciais e, ao mesmo tempo, permitir a

ampliação do acesso à justiça”9.

Configurou, em verdade, um movimento local liderado pelo Juiz Antônio

Guilherme Tanger Jardim que, apoiado pela Ajuris - Associação de Juízes do Rio

Grande do Sul -, iniciou as suas atividades nas dependências do Foro local.

Ademais, como já observado, o Conselho visava solver os pequenos conflitos na

seara extrajudicial, ainda que por iniciativa de órgãos do Poder Judiciário, e sua

competência era limitada às causas com valor não superior a 40 ORTN10. Por

derradeiro, os procedimentos eram orais e presididos por um árbitro, escolhido pela

Associação de Juízes do Estado.

No mesmo contexto histórico, a par do movimento que nascia no estado

gaúcho, o Ministério da Desburocratização, através do Programa Nacional de

Desburocratização, na pessoa do Secretário Executivo João Piquet Carneiro,

engendrou um estudo sobre o juizado de pequenas causas de Nova York11, no

escopo de sintetizar conhecimento e experiências no trato de conflitos de pequeno

valor econômico.

Como resultado desse estudo, observou-se que “os juizados de pequenas

causas de Nova York, criados para descongestionar o Poder Judiciário, chamaram a

atenção pelo fato de julgar um número expressivo de processos de forma rápida,

barata e informal”12.

9SOUSA, Álvaro Couri Antunes. Juizados Especiais Federais Cíveis: Aspectos relevantes e o sistema recursal da Lei n. 10.259/01. Rio de Janeiro: Renovar, 2004. p.63.10Na época da instalação do Conselho, 40 ORTN correspondiam a 4,76 salários mínimos.11Small Claim Court.12CUNHA, Luciana Gross. Juizado Especial: criação, instalação, funcionamento e a democratização no acesso à justiça, p. 17.

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17

Aliás, o próprio Piquet Carneiro, na obra organizada pelo insigne jurista

Kazuo Watanabe, destaca as suas impressões pessoais do estudo por ele

ministrado:

O rito processual é simples, informal e essencialmente oral (…). Não se formam autos, nem se transcrevem depoimentos das partes e testemunhas. Todas as anotações relevantes são feitas pelo juiz ou pelo árbitro em simples fichas de registro. (…) A solução amigável da demanda é permanentemente estimulada pelo árbitro e uma parte significativa dos casos é resolvida por conciliação, sem a intervenção do juiz13.

Assim, após o minucioso estudo do sistema judiciário americano, fez-se

indispensável uma série de debates com vistas a uma conclusão sobre a possível

implementação de sistema análogo no Brasil. Para tanto, em 1981, o Ministério da

Desburocratização compôs uma comissão, presidida por Piquet Carneiro,

constituída por célebres juristas, tais como, Kazuo Watanabe, Cândido Rangel

Dinamarco, Caetano Lagrasta Neto, Ada Pellegrini Grinover e Paulo Salvador

Frontini14.

Coube, portanto, ao insigne grupo, formado por integrantes do Poder

Judiciário, Ministério Público e Advocacia Pública, ordenar e confeccionar o

anteprojeto de lei dos juizados de pequenas causas, espelhados na prática

novaiorquina15. Contudo, mais do que uma simples cópia do arquétipo americano, o

sistema dos juizados especiais de pequenas causas representou um conjunto de

inovações, que desabrochavam em novas filosofias e técnicas na tratativa dos

conflitos de interesses.

Sob esse prisma, na Exposição de Motivos da lei encaminhada para a

sanção presidencial, fica clarividente a importância do novo instrumento no embate

aos problemas que prejudicavam a atuação do Judiciário. Vejamos:

Os problemas mais prementes, que prejudicavam o desempenho do Poder Judiciário, no campo civil, podem ser analisados sob, pelo menos, três enfoques distintos, a saber: a) inadequação da atual estrutura do Judiciário para a solução dos litígios que a ela já afluem, na sua concepção clássica de litígios individuais; b) tratamento legislativo insuficiente, tanto no plano material como no processual, dos conflitos coletivos ou difusos que, por enquanto, não dispõem de tutela jurisdicional específica; c) tratamento processual inadequado

13WATANABE, Kazuo. Juizado Especial de Pequenas Causas, p. 26.14CUNHA, Luciana Gross. Juizado Especial: criação, instalação, funcionamento e a democratização no acesso à justiça, p. 18.15Ibidem, p. 19.

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das causas de reduzido valor econômico e consequente inaptidão do Judiciário atual para a solução barata e rápida desta controvérsia16.

Para tanto, denota-se que a ideia basilar dos Juizados Especiais de

Pequenas Causas em garantir a efetividade da prestação jurisdicional no caminho

de simplificar os procedimentos exauridos pela primazia do rito, representa um ícone

nos movimentos17 em prol da repaginação de velhos conceitos enraizados na

consciência dos operadores do direito e incompatíveis com a hodierna visão de uma

jurisdição democrática18.

Em meio a esse alvoroço no universo jurídico, o Anteprojeto de lei, com a

devida Exposição de Motivos, foi encaminhado ao Congresso Nacional, e sem

qualquer veto ou restrição presidencial, transformou-se, finalmente, na Lei n. 7.244,

de 7 de novembro de 1984, dispondo sobre a criação e o funcionamento do Juizado

Especial de Pequenas Causas.

Assim, insculpida nos princípios da oralidade, simplicidade, celeridade,

economia processual e informalidade, foi criada uma nova processualística brasileira

que conjuga mecanismos extrajudiciais de composição com a prestação

jurisdicional, propriamente dita. Portanto, observados os princípios basilares, foi

adotado um esquema procedimental bastante simples, composto na sua maioria por

atos orais e tentativas conciliatórias, em causas de reduzido valor econômico19.

Em funcionamento, inicialmente, nos estados do Rio Grande do Sul e

Paraná, constatou-se que o novo sistema processual dividiu as atenções entre

críticos e defensores. Sobre as censuras lançadas após a vigência da

Lei n. 7.244/84, o jurista Rogério Lauria Tucci tem a sua opinião destacada entre os

mais veementes combatentes do Juizado.

16Exposição de Motivos da Lei n. 7.244/84, Juizados Especiais de Pequenas Causas, n.3 in ACQUAVIVA, Marcus Cláudio. O Juizado Especial de Pequenas Causas ao alcance de todos. São Paulo: LEUD, 1985. p.2.17Na mesma época, sob a influência dos estudos de Mauro Cappelletti sobre o acesso à justiça, foram elaborados outros importantes anteprojetos de lei, encabeçados por ilustres juristas, em prol da defesa dos interesses difusos e coletivos. O resultado desta iniciativa é a instituição da Política Nacional do Meio Ambiente, em 1981, bem como a lei que institui, em 1985, a Ação Civil Pública.18ABREU, Pedro Manoel. Acesso à Justiça e Juizados Especiais: o desafio histórico da consolidação de uma justiça cidadã no Brasil. Florianópolis: Fundação Boiteux, 2004. p. 187. 19O art. 3º da Lei n. 7.244, que institui os Juizados Especiais de Pequenas Causas, considerava causas de reduzido valor econômico as que versassem sobre direitos patrimoniais não excedentes a 20 (vinte) vezes o salário mínimo vigente.

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Para tanto, defendia que o problema mais tormentoso da Justiça encontra-

se na sua deficiente estrutura, o que não é corrigido apenas pela edição de uma lei

nova. Ademais, afirma ser muito mais prático a reformulação e posterior apoio ao

procedimento sumaríssimo, modificando a sua estrutura procedimental e

adequando-o à realidade20.

No mesmo norte, assegurando a inconstitucionalidade de vários

dispositivos da lei susomencionada, o jurista Edgard Silveira Bueno Filho, conclui

que o Juizado Especial de Pequenas Causas ao contar com juízes temporários,

nunca terá uma prestação jurisdicional idêntica à da justiça comum, eis que nesta os

juízes estão dotados de todas as prerrogativas e, naquela, castrados na garantia da

vitaliciedade21.

Como se tanto não bastasse, faz-se mister colacionar a insurgente

conclusão apresentada pela Comissão nomeada pelo Conselho Seccional de São

Paulo da Ordem dos Advogados do Brasil que, após extensas considerações sobre

o Juizado, causou certa polêmica no universo jurídico, in verbis:

107. Não é mudando ritos que se dará melhor solução aos conflitos. Não é afastando os advogados e o Ministério Público que melhorará a prestação jurisdicional. Não é cumprindo diligências com a polícia, tornando insegura a citação, obrigando o comparecimento pessoal das partes, forçando a conciliação, produzindo revelia em série, punindo devedores e penhorando salários dos menos aquinhoados pela sorte, não é assim que se melhora e se presta Justiça.108. O Anteprojeto dos Juizados Especiais é sinal vivo da decadência do direito e da abolição da Justiça. Repete-se o que já foi dito. Não se está resolvendo o problema das partes, ou do acesso ao Judiciário, agora amplamente dificultado pelo comparecimento pessoal. O que se está procurando resolver é a carga de trabalho dos Juízes e Tribunais, delegando a terceiros, conciliadores, árbitros e serventuários, as funções e os misteres do Juiz. Ao invés de um Judiciário para atender às partes, suprime-se a segurança da Justiça, para desafogar o Judiciário.109. Justiça para os pobres e Justiça para os ricos. Para os grandes e para os pequenos. Contraditório assegurado a uns e negado a outros. Em nome de uma aparente rapidez, suprime-se a segurança e institui-se o arbítrio e a injustiça. (…)22.

20TUCCI, Rogério Lauria. Manual do Juizado Especial de Pequenas Causas: Anotações à Lei n. 7.244, de 7-11-1984. São Paulo: Saraiva, 1985. p.4.21BUENO FILHO, Edgard Silveira. Juizado Especial de Pequenas Causas. O Estado de São Paulo, São Paulo, 24 de outubro, 1982, p. 69 apud TUCCI, Rogério Lauria. Manual do Juizado Especial de Pequenas Causas: Anotações à Lei n. 7.244, de 7-11-1984, p. 12.22Conselho da Associação dos Advogados de São Paulo, Juizado de Pequenas Causas, Boletim da AASP, São Paulo, 25 de outubro de 1982, n. 1.245, p. 7-9 apud TUCCI, Rogério Lauria. Manual do Juizado Especial de Pequenas Causas: Anotações à Lei n. 7.244, de

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Vê-se, portanto, que a oposição - comum a qualquer grande inovação

implementada na sociedade -, foi protagonizada por importantes camadas do seio

forense, o que, inclusive, ainda perdura após vinte e cinco anos da criação.

No entanto, há que sobrelevar os posicionamentos favoráveis acerca da

originária obra legislativa.

Sob esse prisma, o Desembargador paulista Francisco César Pinheiro

Rodrigues defende que o maldotado só tem a ganhar com o Juizado. Isto porque a

informalidade dará ao magistrado a liberdade de buscar a verdade dos fatos

alegados pelas partes. Quanto à dispensa de procurador nas causas de diminuto

valor econômico, assevera, ainda, que o Juiz, hábil conhecedor do Direito, não

necessitaria dos conhecimentos jurídicos de um advogado, mas sim dos fatos

apresentados apenas pelas partes. Logo, “o juiz saberá neutralizar a diferença de

capacidade na exposição”23.

Da mesma forma, importante a lição do Professor e Magistrado paulista

Kazuo Watanabe:

O Juizado Especial de Pequenas Causas atende, em suma, ao justo anseio de todo cidadão em ser ouvido em seus problemas jurídicos. É a justiça do cidadão comum, que é lesado nas compras que faz, nos serviços que contrata, nos acidentes que sofre, enfim do cidadão que se vê envolvido em conflitos de pequena expressão econômica, que ocorrem diariamente aos milhares, sem que saiba a quem recorrer para solucioná-los de forma pronta, eficaz e sem muito gasto24.

Destacam-se, também, neste seleto grupo, os juristas José Raimundo

Gomes da Cruz, Luiz Antônio Corte Real, Breno Moreira Mussi, Apody dos Reis,

Milton dos Santos Martins, Athos Gusmão Carneiro, Galeno Lacerda, entre outros,

que visualizam a nova sistemática, como uma forma de atender aos suplícios de

uma Justiça cidadã.

Com efeito, o desejo de uma prestação mais ágil e eficaz, começou a lograr

cunho constitucional com o advento da Carta Magna de 1988 que positivou a

7-11-1984, p.14.23RODRIGUES, Francisco César Pinheiro. Quem tem medo dos Juizados Especiais de Pequenas Causas?, O Estado de São Paulo, 24 de outubro de 1982, p. 68 apud TUCCI, Rogério Lauria. Manual do Juizado Especial de Pequenas Causas: Anotações à Lei n. 7.244, de 7-11-1984, p. 14.24 WATANABE, Kazuo. Juizado Especial de Pequenas Causas, p. 7.

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obrigatoriedade da criação dos chamados “juizados especiais” - o que antes era

apenas uma faculdade dos Estados -, conforme dispõe o art. 98 da Constituição:

Art. 98. A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão: I – juizados especiais, providos por juízes togados, ou togados e leigos, competentes para a conciliação, o julgamento e a execução de causas cíveis de menor complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo, mediante os procedimentos oral e sumaríssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a transação e o julgamento de recursos por turmas de juízes de primeiro grau25.

Aliás, a Carta Política de 1988, conhecida como a Constituição cidadã,

destacou-se na implementação de princípios explícitos e implícitos no escopo de

albergar o Acesso à Justiça. Neste sentido, relevantes os ensinamentos de Álvaro

Couri Antunes, ao destacar o Juizado Especial como um dos principais

mandamentos constitucionais na aplicação do Acesso à Justiça, in verbis:

Outro mandamento constitucional que viabiliza o acesso à justiça concerne à criação dos Juizados Especiais, aproximando o indivíduo do Poder Judiciário, tanto no âmbito estadual como federal, fixando princípios que permitem a todos exercitar suas pretensões com celeridade, simplicidade e sem ônus para o postulante que, em princípio, só pode ser pessoa física, ex vi do disposto no art. 98,I, da Constituição da República [...]26.

Como consequência da diretriz constitucional, destaca-se o surgimento da

Lei n. 9099 de 26 de setembro de 1995, que revogou os termos da Lei n. 7.244/84 e

implementou a criação dos Juizados Especiais Estaduais Cíveis e Criminais. Na

verdade, a grande novidade que o Juizado Especial trouxe ao mundo jurídico, foi

uma ampliação da Competência já prevista na revogada Lei dos Juizados Especiais

de Pequenas Causas, conforme dispõe o ilustre Desembargador Pedro Manoel

Abreu:

O preceito constitucional em apreço foi regulamentado pela Lei n. 9.099, de 26 de setembro de 1995, que, em seu art. 3º, definiu como causas de menor complexidade as de valor não superior a quarenta salários mínimos; as enumeradas no art. 275, II do Código de Processo Civil, qualquer que seja o seu valor; a ação de despejo para uso próprio e das possessórias cujo valor não exceda o limite fixado pela lei27.

25BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Lex: Vade Mecum. 5. Ed. Atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2008.26SOUSA, Álvaro Couri Antunes. Juizados Especiais Federais Cíveis: Aspectos relevantes e o sistema recursal da Lei n. 10.259/01, p.54.27ABREU, Pedro Manoel. Acesso à Justiça e Juizados Especiais: o desafio histórico da consolidação de uma justiça cidadã no Brasil, p. 113.

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No entanto, ainda que comemorado mais este novo avanço na

processualística brasileira, insta ressaltar a visão cautelosa de alguns juristas

brasileiros, como a do ilustre Paulo Lúcio Nogueira28, que demonstrava temor com a

ampliação da competência dos Juizados Especiais, uma vez que haveria o risco de

emperrar o sistema primado pela celeridade.

Contudo, a par do receio apresentado, atualmente o Juizado Especial é

uma realidade que busca o seu espaço na disseminação dos anseios populares,

conforme o testemunho de Álvaro Couri Antunes Souza:

Hodiernamente, pode-se afirmar que o sucesso da implantação dos Juizados Especiais nos Estados-membros colhe seus frutos, em virtude da simplicidade e concentração do rito, abandonando o formalismo do processo civil clássico, reduzindo as espécies recursais e estimulando a conciliação, além de inúmeros outros fatores que permitiram ao público aproximar-se do Poder Judiciário29.

Mais tarde, diante da necessidade de regular, também, as demandas de

menor complexidade envolvendo a União Federal, Autarquias, Empresas Públicas e

Fundações Públicas, editou-se a Lei n. 10.259, de 16 de julho de 2001, que entrou

em vigor 6 (seis) meses após a data de sua publicação, dispondo sobre a instituição

dos Juizados Especiais Federais Cíveis e Criminais.

1.2 PRINCÍPIOS INFORMADORES DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS

Antes de pontuar os preceitos que orientam os Juizados Especiais, faz-se

necessário delinear a etimologia da palavra Princípio e suas acepções mais usuais.

Para tanto, o ilustre jurista José Afonso da Silva, explica que a palavra

princípio apresenta a significação de começo ou “um mandamento nuclear de um

sistema”30.

28NOGUEIRA, Paulo Lúcio. Juizados Especiais Cíveis e Criminais. São Paulo: Saraiva, 1996. p. XI.29SOUSA, Álvaro Couri Antunes. Juizados Especiais Federais Cíveis: Aspectos relevantes e o sistema recursal da Lei n. 10.259/01, p.65.30SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo.15ª ed., São Paulo: Malheiros, 1998. p.95

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Importante acrescentar, também, a ideia de Paulo Bonavides ao citar Luiz-

Diez Picazo e F. de Castro, ressaltando que princípio

deriva da linguagem da geometria, 'onde designa as verdades primeiras'. Logo acrescenta o mesmo jurista que exatamente por isso são “princípios”, ou seja, 'porque estão ao princípio', sendo 'as premissas de todo um sistema que se desenvolve more geometrico'.Declara, a seguir, invocando o pensamento do jurista espanhol F. De Castro, que os princípios são verdades objetivas, nem sempre pertencentes ao mundo do ser, senão do dever-ser, na qualidade de normas jurídicas dotadas de vigência, validez e obrigatoriedade31.

Constata-se, por óbvio, que os princípios são ferramentas basilares para os

legisladores criarem determinadas normas jurídicas e, mais do que isso, para

juristas como Ruy Samuel Espíndola,

hoje, no pensamento contemporâneo, existe unanimidade em se reconhecer aos princípios jurídicos o status conceitual e positivo de norma de direito, de norma jurídica. Para este núcleo de pensamento, os princípios tem positividade, vinculatividade, são normas, obrigam, tem eficácia positiva e negativa sobre comportamentos públicos ou privados bem como sobre a interpretação e a aplicação de outras normas, como as regras e outros princípios derivados de princípios de generalizações mais abstratas. E esse caráter normativo não é predicado somente dos “princípios positivos de Direito”, mas também, como já acentuado, dos “princípios gerais de Direito”. Reconhece-se, destarte, normatividade não só aos princípios que são, expressa e implicitamente, contemplados no âmago da ordem jurídica, mas também aos que, defluentes de seu sistema, são anunciados pela doutrina e descobertos no ato de aplicar o Direito32.

Conclui-se, portanto, a notória relevância refletida pelos princípios enquanto

determinante ao ordenamento jurídico que o reveste. Para tanto, ao tratar mais

especificamente no âmbito do processo dos juizados especiais, merecem exame

destacado os preceitos informativos insculpidos no artigo 2º da Lei n. 9.099/199533,

quais sejam, oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e

celeridade, bem como o princípio do acesso à justiça que, embora não tenha

previsão expressa, é de grande proeminência na expansão da capacidade do

31BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 24ªEdição. São Paulo: Malheiros, 2009. p. 255-256.32ESPÍNDOLA, Ruy Samuel. Conceito de Princípios Constitucionais. 2ª Edição. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. p. 6033BRASIL. Lei n. 9.099 de 26 de setembro de 1995. Lex: Vade Mecum. 5. Ed. Atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2008. “Art. 2º: O processo orientar-se-á pelos critérios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade, buscando, sempre que possível, a conciliação ou a transação.

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24

Judiciário por meio da constitucionalização dos juizados especiais de pequenas

causas.

1.2.1. Princípio da Oralidade

A concepção do princípio da oralidade, segundo o Magistrado Joel Dias

Figueira Júnior, não traduz um “sinônimo de processo verbal”34. Isto porque, não é

excluída a utilização da escrita nos processos envolvendo os juizados especiais,

mas, tão-somente, a fixação de procedimento oral no tratamento da causa.

Aliás, sobre o tema, o insigne jurista defende que a adoção deste princípio

não é exclusividade dos Juizados Especiais, eis que demonstra-se onipresente -

com maior ou menor intensidade -, em todos os procedimentos do processo civil,

quer sejam, o comum ou os especiais35.

No entanto, mais precisamente nos procedimentos da Lei n. 9099/95, é

possível constatar a presença deste preceito em diversos momentos, dentre os

quais, merecem destaque: procuração verbal ao advogado (art. 9, §3º)36; formulação

oral do petitório inicial (art. 14, §3º)37; decisão de plano de todos os incidentes que

obstem o prosseguimento do feito, bem como a prolação da sentença (arts. 2838 e

2939); possibilidade de ofertar a contestação de forma oral (art. 30)40; embargos de

34TOURINHO NETO, Fernando da Costa; FIGUEIRA JÚNIOR, Joel Dias. Manual dos Juizados Especiais Cíveis Estaduais e Federais. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. p. 35.35Ibidem, p. 35.36BRASIL. Lei n. 9.099 de 26 de setembro de 1995. Lex: Vade Mecum. 5. Ed. Atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2008. “Art. 9º,§3º: O mandato ao advogado poderá ser verbal, salvo quanto aos poderes especiais. 37BRASIL. Lei n. 9.099 de 26 de setembro de 1995. Lex: Vade Mecum. 5. Ed. Atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2008. “Art. 14, §3º: O pedido oral será reduzido a escrito pela Secretaria do Juizado, podendo ser utilizado o sistema de fichas ou formulários impressos.38BRASIL. Lei n. 9.099 de 26 de setembro de 1995. Lex: Vade Mecum. 5. Ed. Atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2008. “Art. 28: Na audiência de instrução e julgamento serão ouvidas as partes, colhida a prova e, em seguida, proferida a sentença.39BRASIL. Lei n. 9.099 de 26 de setembro de 1995. Lex: Vade Mecum. 5. Ed. Atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2008. “Art. 29:Serão decididos de plano todos os incidentes que possam interferir no regular prosseguimento da audiência. As demais questões serão decididas na sentença.

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declaração orais (art. 49)41; solicitação verbal para início da execução de sentença

(art. 52, IV)42.

Denota-se, por oportuno, que nos Juizados Especiais o processo pode ser

oral já na fase postulatória, uma vez que tanto a pretensão do autor como a resposta

do réu podem ser oferecidas oralmente, contrariando o procedimento comum

moderno, em que a oralidade manifesta-se apenas na fase instrutória, com a oitiva

das testemunhas, por exemplo43.

Por derradeiro, resta consignar que o processo oral não é apenas uma

diretriz que prima pela prevalência da palavra falada. É, mais do que isso, um

preceito que engloba certos postulados, inclusive, manifestos no sistema processual

dos Juizados Especiais, motivo pelo qual merecem reprodução. São eles: a

concentração dos atos processuais, a identidade física do juiz, a irrecorribilidade das

decisões interlocutórias e a imediação44.

Nessa vereda, no intuito de não protelar demais o estudo em pauta,

colaciona-se a conclusiva lição de Felipe Borring Rocha, ao tratar com propriedade

os postulados susomencionados, in verbis:

a) concentração dos atos processuais: os atos processuais precisam ser concentrados em um único momento ou, pelo menos, em poucos momentos, próximos uns dos outros, para que a palavra oral possa prevalecer. Se o processo for muito longo, sem a documentação tradicional, quando for o momento de se proferir a sentença, elementos importantes poderão ter-se perdido. A Lei n. 9.099/95, em seus artigos, faz cumprir este preceito, estabelecendo apenas duas audiências, uma de conciliação e outra de instrução e julgamento, que deverão ocorrer em sequência e reunir quase todos os atos do processo (conciliação, defesa, instrução e julgamento).

40BRASIL. Lei n. 9.099 de 26 de setembro de 1995. Lex: Vade Mecum. 5. Ed. Atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2008. “Art. 30: A contestação, que será oral ou escrita, conterá toda matéria de defesa, exceto argüição de suspeição ou impedimento do Juiz, que se processará na forma da legislação em vigor.41BRASIL. Lei n. 9.099 de 26 de setembro de 1995. Lex: Vade Mecum. 5. Ed. Atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2008. “Art. 49: Os embargos de declaração serão interpostos por escrito ou oralmente, no prazo de cinco dias, contados da ciência da decisão.42BRASIL. Lei n. 9.099 de 26 de setembro de 1995. Lex: Vade Mecum. 5. Ed. Atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2008. “Art. 52, IV: não cumprida voluntariamente a sentença transitada em julgado, e tendo havido solicitação do interessado, que poderá ser verbal, proceder-se-á desde logo à execução, dispensada nova citação.43CÂMARA, Alexandre Freitas. Juizados Especiais Cíveis Estaduais e Federais: Uma Abordagem Crítica. 3ª Edição. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007. p.12.44ROCHA, Felipe Borring. Juizados Especiais Cíveis: Aspectos Polêmicos da Lei n. 9.099, de 26/9/1995. 5ª Edição. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009. p. 8.

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b) identidade física do juiz: significa dizer que o juiz que diretamente colheu as provas no processo, identificando-se fisicamente com elas, fica vinculando para julgar a causa. Apesar de ser identificado com característica essencial do princípio da oralidade, é preciso reconhecer que o direito brasileiro não possui tradição em observar com rigor a identidade física. A Lei dos Juizados Especiais, apesar de não falar em momento algum na identidade física do juiz, estabelece que o juiz deve sentenciar ao final da audiência de instrução e julgamento (art. 28). Assim, se essa determinação for cumprida, não tendo ocorrido o adiamento da audiência (por exemplo, na hipótese do art. 31, parágrafo único), a identidade física será assegurada.c) irrecorribilidade das decisões interlocutórias: como bem resume Arruda Alvim Netto, a irrecorribilidade das decisões interlocutórias 'representa a impossibilidade de usar, para as decisões proferidas no curso do processo (precisamente durante a instrução oral), de um recurso que paralise o mesmo'. Apesar de sempre ter sido colocada como uma característica do princípio da oralidade, a irrecorribilidade das decisões interlocutórias não era utilizada no direito processual civil brasileiro. Nos Juizados Especiais, entretanto, por causa da concentração dos atos, a maioria das decisões interlocutórias é tomada na audiência de instrução e julgamento onde, de acordo com a Lei, deve ser proferida a sentença (art. 28). Assim, as decisões interlocutórias proferidas, por não precluirem, podem ser impugnadas junto com a sentença, através de um recurso próprio (chamado de 'recurso inominado). Por isso, na maioria das vezes é possível prescindir do recurso em face das decisões interlocutórias.d) imediatismo: o imediatismo é o dever que tem o juiz de coletar diretamente as provas, em contato com as partes, seus representantes, testemunhas e peritos. Apesar da estrutura da Lei facilitar o imediatismo, determinando que o debate, a produção da prova e o julgamento sejam feitos perante o juiz (art.28), tem-se que essa garantia é seriamente comprometida pela possibilidade de condução da audiência de instrução e julgamento por juiz leigo (art. 37)45.

1.2.2. Princípio da Simplicidade

De início, cabe destacar que, para alguns doutrinadores, os princípios da

simplicidade e da informalidade, a rigor, retratam o mesmo conceito. Isto porque,

não há precedentes de aplicação deste preceito, salvo no projeto da Lei dos

45 ROCHA, Felipe Borring. Juizados Especiais Cíveis: Aspectos Polêmicos da Lei n. 9.099, de 26/9/1995, p. 8-10.

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Juizados de Pequenas Causas, sendo, portanto, considerado pela maioria da

doutrina como um mero desdobramento do princípio da informalidade46

Contudo, por não compartilharem do mesmo entendimento, os legisladores

adotam os conceitos em separado e, portanto, este será o critério utilizado no estudo

em apreço.

Pois bem. Ao analisar a presente disparidade, o jurista carioca Felipe

Borring Rocha, toma o caminho da literalidade para conceituar e individualizar o

princípio da simplicidade, in verbis:

Partindo-se do ponto de vista literal, temos que simplicidade, conforme ensinam os bons dicionários, é a qualidade daquilo que é simples. Portanto, parece-nos que o legislador pretendeu enfatizar que toda a atividade desenvolvida nos Juizados Especiais deve ser externada de modo a ser bem compreendida pelas partes, especialmente aquelas desacompanhadas de advogado. Seria, assim, a simplicidade uma espécie de princípio linguístico, a afastar a utilização de termos rebuscados ou técnicos, em favor de uma melhor compreensão e participação daqueles que não tem conhecimento jurídico47.

De outra banda, vê-se a presença do princípio, também, em decorrência do

texto constitucional (artigo 98, inciso I), ao calcar a influência do procedimento

sumariíssimo nos Juizados Especiais. Nessa perspectiva, dispõe a Lei dos Juizados:

o pedido elaborado de forma simples e linguagem acessível (artigo 14, §1º)48;

sentença sucinta (artigo 38)49, entre outros.

Assim, o que se observa deste preceito é a simplicidade nos atos

processuais, de modo a auxiliar a efetividade e o acesso à justiça, desfazendo-se do

excessivo esmero na linguagem escrita e falada que tanto prejudica o entendimento

de classes juridicamente leigas ou menos favorecidas.

Nesse sentido, é o que preceitua Felipe Borring Rocha:

Nunca é demais lembrar que linguagem é poder e quem domina uma linguagem pode subjugar os outros. O Juizado, apesar de todas as

46 Ibidem, p. 10.47 Ibidem, p. 11.48BRASIL. Lei n. 9.099 de 26 de setembro de 1995. Lex: Vade Mecum. 5. Ed. Atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2008. “Art. 14, §1º: “Do pedido constarão, de forma simples e em linguagem acessível: I - o nome, a qualificação e o endereço das partes; II - os fatos e os fundamentos, de forma sucinta; III - o objeto e seu valor”.49BRASIL. Lei n. 9.099 de 26 de setembro de 1995. Lex: Vade Mecum. 5. Ed. Atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2008. “Art. 38: “A sentença mencionará os elementos de convicção do Juiz, com breve resumo dos fatos relevantes ocorridos em audiência, dispensado o relatório”.

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suas peculiaridades, é um lugar intimidador e complexo para a maioria das pessoas que não tem formação jurídica, assim como é um hospital, para quem não é médico, ou um canteiro de obras, para quem não é engenheiro. Se a pessoa, além de tudo, não entender o que é dito, ficará tolhida para exercer a plenitude de seus direitos. Assim, conclui-se que, utilizar-se de uma linguagem 'complicada' (em contraposição à linguagem 'simples' apregoada pelo princípio) tem como consequência alijar as partes leigas de uma efetiva participação no processo, o que é o oposto do que pretende a Lei. O princípio da simplicidade seria, nesta ótica, um corolário do princípio democrático, buscando aproximar a população da atividade judicial50.

1.2.3. Princípio da Informalidade

Consabido que uma das prioridades na processualística moderna é a

deformalização dos processos ou das controvérsias - termo já utilizado neste estudo

-, vê-se cada vez mais o abandono ao formalismo e a adoção de preceitos

contrários, como o da instrumentalidade das formas51 expresso na segunda parte do

artigo 154 do Código de Processo Civil.

Da mesma forma que os demais princípios norteadores, este é um reflexo

do princípio do Acesso à Justiça e “é essencial para que os Juizados atinjam um de

seus principais escopos: aproximar o jurisdicionado dos órgãos estatais incumbidos

de prestar jurisdição”52. Por consectário, intitula-se que o formalismo distancia o

jurisdicionado de buscar a prestação jurisdicional, motivo pelo qual é tão combatido

pelo Juizado.

Dessarte, a Lei n. 9.099/95, em diversos momentos traz a lume as práticas

dotadas desta máxima, como por exemplo, a intimação das partes, que pode

50ROCHA, Felipe Borring. Juizados Especiais Cíveis: Aspectos Polêmicos da Lei n. 9.099, de 26/9/1995, p.11.51Necessário ressaltar, inclusive, a presença do princípio da instrumentalidade das formas no artigo 13 da Lei n. 9099/95, ao determinar que os atos processuais serão válidos sempre que preencherem as finalidades para as quais forem realizados, atendidos os critérios indicados no art. 2º desta Lei.52CÂMARA. Alexandre Freitas. Juizados Especiais Cíveis Estaduais e Federais: Uma Abordagem Crítica, p.21.

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realizar-se por qualquer meio idôneo de comunicação, inclusive o fac-símile e o meio

eletrônico (artigo 19)53.

Ademais, ainda é merecedor de exame destacado: a citação pelo oficial de

justiça, ainda que em comarca diversa, dispensada a expedição de precatória (artigo

18, inciso III)54; provas produzidas em audiência, mesmo que não requeridas

previamente, comparecendo as testemunhas independente de intimação (artigo

34)55; início da execução da sentença condenatória postulado de forma oral e sem

citação (artigo 52, inciso IV)56;

Por fim, registra-se a presença de críticas por partes de alguns

doutrinadores quanto à parcial aplicação deste preceito nos Juizados Especiais. É

que, conforme Alexandre Freitas Câmara, certos costumes forenses - in casu, o uso

da toga ou termos de tratamento formal, como por exemplo, 'Excelência' -, causam

certo distanciamento com o jurisdicionado. Logo, estas práticas iriam em sentido

contrário ao princípio da informalidade, bem como ao próprio processo nos Juizados

Especiais, “em que não se pode exigir qualquer formalidade desmedida,

exacerbada, considerando-se válido o ato processual sempre que atingir sua

finalidade originariamente prevista”57.

1.2.4. Princípio da Economia Processual

53BRASIL. Lei n. 9.099 de 26 de setembro de 1995. Lex: Vade Mecum. 5. Ed. Atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2008. “Art. 19: As intimações serão feitas na forma prevista para citação, ou por qualquer outro meio idôneo de comunicação”.54BRASIL. Lei n. 9.099 de 26 de setembro de 1995. Lex: Vade Mecum. 5. Ed. Atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2008. “Art. 18: A citação far-se-á: (…); III - sendo necessário, por oficial de justiça, independentemente de mandado ou carta precatória”.55BRASIL. Lei n. 9.099 de 26 de setembro de 1995. Lex: Vade Mecum. 5. Ed. Atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2008. “Art. 34: As testemunhas, até o máximo de três para cada parte, comparecerão à audiência de instrução e julgamento levadas pela parte que as tenha arrolado, independentemente de intimação, ou mediante esta, se assim for requerido”. 56BRASIL. Lei n. 9.099 de 26 de setembro de 1995. Lex: Vade Mecum. 5. Ed. Atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2008. “Art. 52, inciso IV: não cumprida voluntariamente a sentença transitada em julgado, e tendo havido solicitação do interessado, que poderá ser verbal, proceder-se-á desde logo à execução, dispensada nova citação”.57 CÂMARA. Alexandre Freitas. Juizados Especiais Cíveis Estaduais e Federais: Uma Abordagem Crítica, p.21.

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Quando se fala em economia processual, visa-se compreender como extrair

do processo o máximo de proveito com o mínimo de tempo e energia (atos

processuais) gastos58.

Nessa toada, conclui-se que desfrutar o máximo de um processo, nada

mais é do que torná-lo efetivo, pois consoante Luiz Guilherme Marinoni,

para que seja assegurada a tutela jurisdicional de uma determinada situação de vantagem, não é suficiente que seja previamente disposto um procedimento qualquer, mas é necessário que o titular da situação de vantagem violada, ou ameaça de violação, tenha a seu dispor um procedimento estruturado de modo a lhe poder fornecer uma tutela efetiva, e não meramente formal ou abstrata, do seu direito59.

Assim, é imprescindível que se busque conferir a todo e qualquer ato

processual o maior peso de efetividade possível, antevendo a busca pela

“racionalidade das atividades processuais”60.

Pois bem. Quanto à aplicação prática deste princípio nos Juizados

Especiais, a Lei n. 9.099/95 consagra a economia processual ao prescrever nos

seguintes casos: cumulação de pedidos conexos (artigo 15)61; possibilidade da

realização imediata da audiência (artigo 17)62; apreciação conjunta dos pedidos

contrapostos, na mesma sentença (artigo 17, parágrafo único)63; dispensa de

reconvenção nas ações dúplices (artigo 31)64; a possibilidade de realização da

58Ibidem, p.22.59MARINONI, Luiz Guilherme. A reforma do CPC e a efetividade do processo: tutela antecipatória, tutela monitória e tutela das obrigações de fazer e de não fazer. Genesis - Revista de Direito Processual Civil. Curitiba, não determinada. v.1, jan. 1996, p.89-90.60ROCHA, Felipe Borring. Juizados Especiais Cíveis: Aspectos Polêmicos da Lei n. 9.099, de 26/9/1995, p.13.61BRASIL. Lei n. 9.099 de 26 de setembro de 1995. Lex: Vade Mecum. 5. Ed. Atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2008. “Art. 15: “Os pedidos mencionados no art. 3º desta Lei poderão ser alternativos ou cumulados; nesta última hipótese, desde que conexos e a soma não ultrapasse o limite fixado naquele dispositivo”. 62BRASIL. Lei n. 9.099 de 26 de setembro de 1995. Lex: Vade Mecum. 5. Ed. Atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2008. “Art. 17: “Comparecendo inicialmente ambas as partes, instaurar-se-á, desde logo, a sessão de conciliação, dispensados o registro prévio de pedido e a citação”.63BRASIL. Lei n. 9.099 de 26 de setembro de 1995. Lex: Vade Mecum. 5. Ed. Atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2008. “Art. 17, § único: “Havendo pedidos contrapostos, poderá ser dispensada a contestação formal e ambos serão apreciados na mesma sentença”. 64BRASIL. Lei n. 9.099 de 26 de setembro de 1995. Lex: Vade Mecum. 5. Ed. Atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2008. “Art. 31: “Não se admitirá a reconvenção. É lícito ao réu, na contestação, formular pedido em seu favor, nos limites do art. 3º desta Lei, desde que fundado nos mesmos fatos que constituem objeto da controvérsia”.

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inspeção judicial durante a audiência de instrução e julgamento (artigo 35, parágrafo

único)65; dispensa de relatório na sentença (artigo 38)66; intimação da sentença

condenatória no momento da própria sessão de julgamento (artigo 52, inciso III)67;

imediata extinção do processo de execução na ausência de bens do devedor (artigo

53, §4º)68.

Por outro lado, fica a crítica doutrinária no tocante a uma gama de institutos

processuais influenciados pelo princípio da economia processual, mas que em sede

de Juizados Especiais, não encontram albergue legal. É o que ocorre, por exemplo,

com a vedação do recurso adesivo - objeto central do presente estudo.

Por derradeiro, mister sobrelevar, também, a intervenção de terceiros,

categoricamente sobrestada nos Juizados Especiais. Nessa toada, Alexandre

Freitas Câmara é incisivo ao defender que

há modalidades de intervenção de terceiro cuja vedação não se justifica, pois não trariam qualquer complicação ao andamento do processo, além das inúmeras vantagens que com sua utilização poderiam acarretar. É o caso, por exemplo, do recurso de terceiro e da nomeação à autoria e o chamamento ao processo (este último, em especial, nos casos previstos no art. 101, II, do Código de Defesa do Consumidor). Não se pode, porém, deixar de reconhecer que a permissão de utilização de denunciação da lide nos processos que tramitam perante os Juizados Especiais Cíveis causaria mais inconvenientes do que vantagens69.

65BRASIL. Lei n. 9.099 de 26 de setembro de 1995. Lex: Vade Mecum. 5. Ed. Atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2008. “Art. 35, § único: “No curso da audiência, poderá o Juiz, de ofício ou a requerimento das partes, realizar inspeção em pessoas ou coisas, ou determinar que o faça pessoa de sua confiança, que lhe relatará informalmente o verificado”.66BRASIL. Lei n. 9.099 de 26 de setembro de 1995. Lex: Vade Mecum. 5. Ed. Atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2008. “Art. 38: “A sentença mencionará os elementos de convicção do Juiz, com breve resumo dos fatos relevantes ocorridos em audiência, dispensado o relatório”.67BRASIL. Lei n. 9.099 de 26 de setembro de 1995. Lex: Vade Mecum. 5. Ed. Atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2008. “Art. 52, inciso III: “a intimação da sentença será feita, sempre que possível, na própria audiência em que for proferida. Nessa intimação, o vencido será instado a cumprir a sentença tão logo ocorra seu trânsito em julgado, e advertido dos efeitos do seu descumprimento (inciso V)”. 68BRASIL. Lei n. 9.099 de 26 de setembro de 1995. Lex: Vade Mecum. 5. Ed. Atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2008. “Art. 53, §4º: “Não encontrado o devedor ou inexistindo bens penhoráveis, o processo será imediatamente extinto, devolvendo-se os documentos ao autor”.69CÂMARA. Alexandre Freitas. Juizados Especiais Cíveis Estaduais e Federais: Uma Abordagem Crítica, p.22-23.

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1.2.5. Princípio da Celeridade

O tema dominante nas cogitações da doutrina e dos que lidam com o

processo civil na experiência judiciária tem sido, indubitavelmente, a preocupação

com sua efetividade frente à morosidade processual.

A possibilidade de obter-se a tutela jurisdicional em tempo razoável

confunde-se, não raras as vezes, com a efetividade do processo. Entretanto,

destaca-se que o grande equilíbrio do processo ocorre com a harmonização de dois

valores relevantes, quais sejam, a celeridade e a justiça. Pois, como dito, um

processo demorado pode não ensejar em resultados justos; entretanto, um processo

demasiadamente rápido, também não é garantia de alcançar a justiça na decisão.

Nesse particular, para ilustrar a preocupação com a tênue simetria

destacada, fica a advertência de Alexandre Freitas Câmara, in verbis:

É preciso, porém, que se diga que a falta de estrutura de alguns Juizados tem feito com que os processos neles instaurados demorem tanto quanto demoram os processos que tramitam perante os juízos comuns. Isto tem feito com que alguns Juizados Especiais Cíveis funcionem, na prática, como 'varas cíveis' em que se adota um procedimento mais simples do que o ordinário ou qualquer outro nestas aplicável. Por outro lado, alguns magistrados tem exagerado na celeridade, impedindo a prática de atos processuais que podem ser extremamente relevantes, provocando com isso um cerceamento de defesa que - em alguns casos -, chega a ser inconstitucional70.

No entanto, vê-se que esses tem sido casos extremos e, via de regra, a

propagação destes conceitos - celeridade e justiça -, é cada vez mais desenvolvida

em novos mecanismos e procedimentos de “aceleração da entrega da prestação

jurisdicional, como a execução provisória e as tutelas jurisdicionais sumárias

(cautelares ou não-cautelares)”71.

No Brasil, por meio da Emenda n. 45, de 8 de dezembro de 2004, o princípio

foi elevado à garantia Constitucional expressa no inciso LXXVIII do artigo 5º,

segundo o qual, “a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a

70CÂMARA. Alexandre Freitas. Juizados Especiais Cíveis Estaduais e Federais: Uma Abordagem Crítica, p.24.71Ibidem, p.23-24.

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razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua

tramitação”72.

Já em sede de Juizados Especiais, fora o próprio artigo 2º que cita

expressamente o princípio em questão, é possível encontrar o seu predomínio nos

procedimentos a seguir: instauração imediata da conciliação, desde que ambos as

partes compareçam ao juizado (artigo 17)73; impossibilidade da realização da citação

por edital (artigo 18, §2º)74; prolação imediata de sentença, quando ausente o

requerido (artigo 23)75; aglomeração dos atos processuais em audiência única (artigo

28)76; condução de testemunha ausente (artigo 34, §2º)77; a possibilidade de

realização da inspeção judicial durante a audiência de instrução e julgamento (artigo

35, parágrafo único)78; solução do litígio pelo meio mais rápido e eficaz, de

preferência com a dispensa de alienação judicial (artigo 53, §2º)79.

Por fim, atendendo a disposição expressa do artigo 31 da Lei n. 9.099/95,

não é admitido reconvenção no peculiar procedimento do Juizado, “todavia, a

72BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Lex: Vade Mecum. 5. Ed. Atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2008: Art. 5º, inciso LXXVIII.

73BRASIL. Lei n. 9.099 de 26 de setembro de 1995. Lex: Vade Mecum. 5. Ed. Atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2008. “Art. 17: “Comparecendo inicialmente ambas as partes, instaurar-se-á, desde logo, a sessão de conciliação, dispensados o registro prévio de pedido e a citação”.74BRASIL. Lei n. 9.099 de 26 de setembro de 1995. Lex: Vade Mecum. 5. Ed. Atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2008. “Art. 18, §2º: “Não se fará citação por edital”.75BRASIL. Lei n. 9.099 de 26 de setembro de 1995. Lex: Vade Mecum. 5. Ed. Atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2008. “Art. 23: “Não comparecendo o demandado, o Juiz togado proferirá sentença”.76BRASIL. Lei n. 9.099 de 26 de setembro de 1995. Lex: Vade Mecum. 5. Ed. Atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2008. “Art. 28: “Na audiência de instrução e julgamento serão ouvidas as partes, colhida a prova e, em seguida, proferida a sentença”.77BRASIL. Lei n. 9.099 de 26 de setembro de 1995. Lex: Vade Mecum. 5. Ed. Atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2008. “Art. 34, §2º: “Não comparecendo a testemunha intimada, o Juiz poderá determinar sua imediata condução, valendo-se, se necessário, do concurso da força pública”.78BRASIL. Lei n. 9.099 de 26 de setembro de 1995. Lex: Vade Mecum. 5. Ed. Atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2008: “Art. 35, § único: No curso da audiência, poderá o Juiz, de ofício ou a requerimento das partes, realizar inspeção em pessoas ou coisas, ou determinar que o faça pessoa de sua confiança, que lhe relatará informalmente o verificado”.79BRASIL. Lei n. 9.099 de 26 de setembro de 1995. Lex: Vade Mecum. 5. Ed. Atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2008: “Art. 53, §2º: Na audiência, será buscado o meio mais rápido e eficaz para a solução do litígio, se possível com dispensa da alienação judicial, devendo o conciliador propor, entre outras medidas cabíveis, o pagamento do débito a prazo ou a prestação, a dação em pagamento ou a imediata adjudicação do bem penhorado”.

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mesma lei permite que o réu, na contestação, formule pedido em seu favor, o que é

conhecido como pedido contraposto”80.

1.2.6. Princípio do Acesso à Justiça

A máxima do acesso à justiça passou por algumas alterações com o

decorrer do tempo, principalmente, em consequência da moderna processualística81.

Isto porque,

nos estados liberais burgueses, ao longo dos séculos XVIII e XIX, podemos afirmar que vigorava uma concepção meramente formal de acesso à justiça. Tendo em vista o individualismo dominante à época, resultado das revoluções burguesas, a garantia do acesso à justiça se limitava à possibilidade de o indivíduo poder propor uma ação judicial82.

Em outras palavras, consoante os ensinamentos do escol Cappelletti e

Garth83, o “direito ao acesso à proteção judicial significava essencialmente o direito

formal do indivíduo agravado de propor ou contestar uma ação”.

Acreditava-se, portanto, que este postulado, retratava um direito natural, não

necessitando de qualquer intervenção estatal para a sua consecução. “O Estado,

portanto, permanecia passivo, com relação a problemas tais como a aptidão de uma

pessoa para reconhecer seus direitos e defendê-los adequadamente, na prática”84.

Contudo, essa ideia clássica foi vencida em virtude de uma nova

compreensão dos direitos humanos e, sobretudo, uma nova concepção de Estado,

conhecido como Estado do Bem-Estar Social ou Welfare State, caracterizado pela

garantia dos serviços públicos e proteção à população.

80HONÓRIO, Maria do Carmo. Os critérios do processo no juizado especial cível: teoria e prática. São Paulo: Editora Fiuza, 2007, p. 77.81RAMOS, Carlos Henrique. Acesso à justiça e efetividade do processo: novos caminhos. Revista Dialética de Direito Processual – Rddp, São Paulo: Oliveira Rocha – Comércio e Serviços Ltda. v.21, dez. 2004, p.11.82Ibidem, p.11.83CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à Justiça. Tradução de Ellen Gracie Northfleet. Porto Alegre: Fabris, 1988, p. 9.84Ibidem, p. 9.

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Nesse panorama, surgiu a noção de acesso efetivo à justiça, o qual

“tem sido progressivamente reconhecido como sendo de importância capital entre os

novos direitos individuais e sociais, uma vez que a titularidade de direitos é

destituída de sentido, na ausência de mecanismos para sua efetiva reivindicação”85.

Conclui-se, portanto, que o preceito em apreço pressupõe dois fundamentais

aspectos, quais sejam, o extrínseco e o intrínseco. Enquanto o primeiro retrata a

própria acessibilidade nas instâncias judiciais, o segundo aspecto (intrínseco)

compreende um momento posterior, inclusive, ao processo 'de per si', reproduzindo

a impreterível necessidade de efetividade do mesmo86.

No ordenamento jurídico brasileiro, o acesso à justiça, além de garantia

constitucional (art. 5º, inciso XXXV, da CRFB/88)87, está presente em todo o direito

processual brasileiro, eis que o seu “estudo é pressuposto de uma ampliação e

aprofundamento dos objetivos e métodos da ciência jurídica coetânea”88.

Enraizado nesse conceito, é possível sobrelevar os Juizados Especiais

como um dos instrumentos de maior influência do acesso à justiça, numa

perspectiva de democratização e cidadania. Nesse norte, o ilustre Magistrado

catarinense, Pedro Manoel Abreu89, ponderou:

8. O sistema de juizados insere o Brasil na chamada terceira onda do universo cappellettiano, pois representa uma resposta aos anseios da população a uma justiça rápida, sem custas e sem formalismo, como freio ao fenômeno da litigiosidade contida e à violência, capazes de induzir à justiça de mão própria e à barbárie, nesse quadro sombrio de pobreza e de exclusão social dos países em desenvolvimento. 9. A desigualdade social é um dos obstáculos mais sérios a ser transposto na questão do acesso à justiça. Os juizados especiais, por isso mesmo, são concebidos dentro de uma perspectiva ontológica e política de democratização do processo e de dignificação do homem, como um canal aberto para o exercício da cidadania.(…)

85CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à Justiça, p. 11-12.86RAMOS, Carlos Henrique. Acesso à justiça e efetividade do processo: novos caminhos, p.13.87BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Lex: Vade Mecum. 5. Ed. Atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2008.”Art. 5º, inciso XXXV: a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”.

88ABREU, Pedro Manoel. Acesso à Justiça e Juizados Especiais: o desafio histórico da consolidação de uma justiça cidadã no Brasil, p. 252.89Ibidem, p. 252 e 257.

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20. A criação do Juizado de Pequenas Causas foi um dos raros esforços no país, para tornar acessível a justiça aos carentes. A disseminação desses juizados pelas periferias das grandes cidades e pelo campo poderia ter um efeito revolucionário, porque pela primeira vez na nossa história os pobres teriam acesso à justiça. (…)27. Os juizados transformaram-se na porta principal de acesso à justiça dos brasileiros, uma vez que provocaram, especialmente após a edição do Código de Defesa do Consumidor, um aumento substancial na demanda de resolução de conflitos, justamente por ser nas relações de consumo que se situam grande parte das violações de direitos dos cidadãos.

Por consectário, denota-se que ao tratar de acesso à justiça, não deve-se

apenas atentar ao seu aspecto formal de garantir a propositura de uma ação, mas

primordialmente a sua abordagem social, da qual emergiu a criação dos juizados de

pequenas causas, democratizando os direitos às grandes massas e incorporando

uma gama de novidades na seara jurídica nacional, de molde a certificar a efetiva

acessibilidade.

1.3. PROCEDIMENTO DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS

Sob a égide dos princípios expressos no art. 2º da lei geradora, o

procedimento dos juizados especiais apresenta-se de forma peculiar, o que o faz

ser, por muitas vezes, inconciliável com os termos dos demais órgãos judiciais de

natureza “comum” ou residual. Sobre esta distinção, louváveis as palavras de Felipe

Borring Rocha90:

em termos de organização judiciária, os órgãos judiciais podem ser divididos em dois grupos: os especializados e os comuns (ou residuais). Comuns, são aqueles que abraçam uma generalidade de ações, ao passo que, especializados, são aqueles que têm atribuição funcional para determinadas ações, seja em razão do procedimento, seja em razão da matéria, ou simplesmente por razões de política administrativa. Assim, os juizados especiais, por terem competência para processar e julgar somente as ações submetidas aos procedimentos estabelecidos pela Lei nº. 9.099/95, são caracterizados como órgãos judiciais especializados.

90ROCHA, Felippe Borring. Juizados Especiais Cíveis: Aspectos Polêmicos da Lei nº. 9.099, de 26/9/1995, p. 3

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Os critérios de fixação da competência, adotados pelo legislador ao editar a

Lei n. 9.099/95, são de natureza objetiva, pois restringem-se em razão do valor e da

matéria. Nessa perspectiva, o artigo 3º da respectiva Lei estabelece as hipóteses de

cabimento, senão vejamos:

Art. 3º O Juizado Especial Cível tem competência para conciliação, processo e julgamento das causas cíveis de menor complexidade, assim consideradas:I - as causas cujo valor não exceda a quarenta vezes o salário mínimo;II - as enumeradas no art. 275, inciso II, do Código de Processo Civil;III - a ação de despejo para uso próprio;IV - as ações possessórias sobre bens imóveis de valor não excedente ao fixado no inciso I deste artigo.§ 1º Compete ao Juizado Especial promover a execução:I - dos seus julgados;II - dos títulos executivos extrajudiciais, no valor de até quarenta vezes o salário mínimo, observado o disposto no § 1º do art. 8º desta Lei.§ 2º Ficam excluídas da competência do Juizado Especial as causas de natureza alimentar, falimentar, fiscal e de interesse da Fazenda Pública, e também as relativas a acidentes de trabalho, a resíduos e ao estado e capacidade das pessoas, ainda que de cunho patrimonial.§ 3º A opção pelo procedimento previsto nesta Lei importará em renúncia ao crédito excedente ao limite estabelecido neste artigo, excetuada a hipótese de conciliação91.

Constata-se, portanto, que nos Juizados Especiais Estaduais Cíveis a

fixação da competência em razão do valor não deve ultrapassar o valor de 40

(quarenta) salários mínimos92. No entanto, nada impede que outras causas sejam

ajuizadas, ainda que o seu valor supere o montante legal. Nesse caso, tem-se que o

valor excedente traduz em renúncia do demandante.

Ademais, a ressalva fica por conta da Lei n. 10.259/01 que, ao instituir os

Juizados Especiais Federais, delimitou a competência às causas com valor até 60

(sessenta) salários mínimos, contrariando o limite estadual.

Por fim, quanto ao critério de competência em razão da matéria, observa-se

que o legislador fixou-as no inciso II do artigo 275 do Código de Processo Civil93,

91BRASIL. Lei n. 9.099 de 26 de setembro de 1995. Lex: Vade Mecum. 5. Ed. Atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2008.92A exceção a esta regra fica por conta do instituto da conciliação, pois na audiência é admitida a realização de acordo acima do teto legal.93BRASIL. Código de Processo Civil de 1973. Lex: Vade Mecum. 5. Ed. Atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2008. “Art. 275. Observar-se-á o procedimento sumário: (…) II - nas causas, qualquer que seja o valor : a) de arrendamento rural e de parceria agrícola; b) de cobrança

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38

porquanto figuram na tutela do procedimento sumário. No mais, faz referência às

causas possessórias cujo valor não exceda o teto de 40 (quarenta) salários

mínimos.

1.3.1. Do pedido inicial

Preambularmente, cumpre sublinhar o jus postulandi das partes,

atinente aos Juizados Especiais, pois nas causas cujo valor não exceda 20 (vinte)

salários mínimos, as partes poderão peticionar sem assistência de um advogado

(artigo 9º da Lei n. 9.099/95). Conquanto às causas de valor superior a 20 salários

mínimos, estabeleceu-se a obrigatoriedade da assistência do advogado.

Desta feita, temos que o pedido poderá ser admitido digitado, manuscrito ou

na forma oral, sendo, neste último caso, resumido a termo nas Secretarias do

Juizado. Ademais, consoante o artigo 14 da Lei dos Juizados Estaduais, deverá

ater-se a uma linguagem clara, simples e acessível, constando o nome, a

qualificação, endereço das partes, os fatos e fundamentos de forma concisa, o

objeto e o valor da causa.

1.3.2. Da citação, intimação e revelia

Da dicção do artigo 18 da Lei n. 9.099/95, vê-se que, via de regra, a citação

do demandado é feita por correspondência com AR (Aviso de Recebimento)

assinado pelo interessado. Porém, excepcionalmente, diante da impossibilidade da

citação postal, o ato será feito por oficial de justiça, independente de mandado ou

ao condômino de quaisquer quantias devidas ao condomínio; c) de ressarcimento por danos em prédio urbano ou rústico; d) de ressarcimento por danos causados em acidente de veículo de via terrestre; e) de cobrança de seguro, relativamente aos danos causados em acidente de veículo, ressalvados os casos de processo de execução; f) de cobrança de honorários dos profissionais liberais, ressalvado o disposto em legislação especial; g) que versem sobre revogação de doação; h) nos demais casos previstos em lei”.

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carta precatória. Outra exceção, fica por conta das pessoas jurídicas, cuja citação

poderá ser feita na pessoa do encarregado da recepção, que será obrigatoriamente

identificado.

Ademais, em sede de Juizados Especiais Cíveis não é admitida a citação

ficta ou por edital, por disposição expressa do artigo 18, §2º da Lei n. 9.099/95; logo,

havendo necessidade desta medida, os autos deverão ser remetidos para uma Vara

Cível da justiça comum.

No tocante às intimações, o artigo 19 da referida lei é cristalino ao pontuar a

semelhança com os atos da citação, motivo pelo qual dispensa maiores

comentários. Fica a ressalva, porém, da possibilidade de intimação das partes em

audiência pelos atos nela ocorridos.

Por fim, não comparecendo o requerido - devidamente citado ou intimado -,

à Audiência de Conciliação e Julgamento e deixando de apresentar defesa, ser-lhe-á

aplicada a pena de revelia, presumindo-se verdadeiros os fatos sustentados no

pedido exordial (artigo 20 da Lei dos Juizados).

1.3.3. Da audiência de Conciliação e Julgamento

Como visto, a conciliação é um dos primados dos Juizados Especias.

Representa grande parte das resoluções dos conflitos iniciados e, sem sombra de

dúvida, traduz na perfeita imagem dos postulados norteadores, em especial, a

efetividade, a celeridade e a economia processual. Não é à toa, portanto, que o

primeiro momento da audiência é reservado à tratativa da conciliação, podendo ser

conduzida pelo Juiz Togado ou leigo ou por conciliador sob a orientação daqueles

(artigo 22 da Lei n. 9.099/95).

Ato contínuo, existindo êxito no acordo, este deverá ser reduzido a termo e

homologado pelo Juiz togado, por meio de sentença com eficácia de título executivo

(artigo 22, § único). Por sua vez, não havendo conciliação, as partes optam pela

instituição ou não do juízo arbitral para solver a contenda.

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Dessarte, decidindo pela negativa, proceder-se-á à audiência de instrução e

julgamento que, se possível, será realizada imediatamente. Neste momento, será

oportunizado ao Demandado apresentação da sua defesa, a qual poderá ser oral ou

escrita, salvo os casos de suspeição e impedimento que correrão em autos

apartados (artigo 30).

Por derradeiro, serão ouvidas as testemunhas - no máximo 3 (três) para

cada parte -, colhidas as demais provas e decididos de plano os incidentes que

possam interferir no regular prosseguimento do feito. As demais questões serão

decididas na sentença (artigo 29).

1.3.4. Da sentença

Definida a fase instrutória, tem-se o início da fase de julgamento e

publicação da sentença. Deste modo, seguindo os preceitos da economia

processual e da celeridade, é dispensado o relatório, devendo a sentença mencionar

apenas um breve resumo dos fatos ocorridos na audiência, além, é claro, dos

fundamentos de motivação do Juiz sentenciante (artigo 38).

No entanto, tem-se que quando a sentença é proferida fora da audiência, o

Magistrado não poderá abster-se do relatório, pois “o que legitima a dispensa do

relatório é a oralidade do procedimento, assim, se o juiz sentencia fora da audiência,

deverá observar as regras ordinárias relativas àquele ato94”.

Gize-se, por oportuno, que a Lei dos Juizados Estaduais permite ao Juiz

leigo, que dirigir a fase instrutória, a prolação da sentença, a qual será submetida à

ponderação do Juiz togado, podendo homologá-la ou proferir outra em seu lugar

(artigo 40).

Por fim, um aspecto merecedor de comentário é a dicção do artigo 39 da Lei

n. 9.099/95, ao postular que “é ineficaz a sentença condenatória na parte que

exceder a alçada estabelecida nesta Lei”95. Assim, o limite de 40 (quarenta) salários 94 ROCHA, Felipe Borring. Juizados Especiais Cíveis: Aspectos Polêmicos da Lei n. 9.099, de 26/9/1995, p.136.95 BRASIL. Lei n. 9.099 de 26 de setembro de 1995. Lex: Vade Mecum. 5. Ed. Atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2008.

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mínimos “não pode ser ultrapassado pelo juiz, seja em pedidos simples, cumulados

(art.17, § único), ou contrapostos (art. 31), sob pena de ineficácia parcial da decisão

judicial em relação ao excesso”96. Porém, insta recordar que estão fora desta

limitação o acordo extrajudicial e a sentença homologatória.

96 ROCHA, Felipe Borring. Juizados Especiais Cíveis: Aspectos Polêmicos da Lei n. 9.099, de 26/9/1995, p.139.

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2 DO SISTEMA RECURSAL CÍVEL BRASILEIRO

Este capítulo tratará do ordenamento recursal brasileiro, com espeque

principal nos recursos previstos no Código de Processo Civil de 1973 e nas Leis ns.

9.099/95 e 10.259/01 que instituem os Juizados Especiais Cíveis Estaduais e

Federais, respectivamente.

Para tanto, inicia-se o estudo convocando a progênie da concepção que

hoje tem-se de recurso, nas profícuas lições do famigerado José Carlos Barbosa

Moreira:

Desde os tempos remotos tem-se preocupado as legislações em criar expedientes para a correção dos possíveis erros contidos nas decisões judiciais. À conveniência da rápida composição dos litígios, para o pronto restabelecimento da ordem social, contrapõe-se o anseio de garantir, na medida do possível, a conformidade da solução ao direito. Entre essas duas solicitações, até certo ponto antagônicas, procuram os ordenamentos uma via média que não sacrifique, além do limite razoável, a segurança à justiça, ou esta àquela. Fazer inimpugnáveis quaisquer decisões, desde que proferidas, atenderia ao primeiro interesse, mas com insuportável detrimento do segundo; multiplicar ad infinitum os meios de impugnação produziria efeito diametralmente oposto e igualmente danoso. Ante a inafastável possibilidade do erro judicial, adotam as leis posição intermediária: propiciam remédios, mas limitam-lhes os casos e as oportunidades de uso97.

É, pois, de fácil constatação que essa instituição teve influência contínua na

judicatura de praticamente todas as sociedades cultas antigas e contemporâneas,

ante a necessidade em corresponder à natureza do homem, que rebela-se contra

qualquer decisão adversa a si98.

Nesse panorama, os recursos cíveis previstos no ordenamento jurídico

brasileiro, ascendem da denominada apellatio romana, cuja decisão recaía ao

próprio imperador romano ou a magistrados por ele designados.

97MOREIRA, José Carlos Barbosa. Comentários ao Código de Processo Civil. 11 ed., Rio de Janeiro: Forense, 2003, v. V, n. 134, p. 229.98ORIONE NETO, Luiz. Recursos Cíveis: teoria geral, princípios fundamentais, dos recursos em espécie, tutela de urgência no âmbito recursal, da ordem dos processos no tribunal. 3ª ed., São Paulo: Saraiva, 2009, p. 2.

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Não obstante, hodiernamente, o conceito de recurso alcança novas e

numerosas formas. Em sua etimologia, o termo “recurso” provem do latim recursus,

e significa voltar atrás, retroagir, retroceder, recuar.

Por sua vez, do ponto de vista técnico-processual, retrata, nas palavras do

citado Barbosa Moreira, o “remédio voluntário idôneo a ensejar, dentro do mesmo

processo, a reforma, invalidação, os esclarecimento ou a integração de decisão

judicial que se impugna”99.

Nesse sentir, conclui-se que o recurso é um instituto distinto e por conjugar

características como ser “um remédio voluntário” e percorrer “dentro do mesmo

processo”, as demais formas de impugnação que não se inserem na definição

acima, são comumente denominadas de “sucedâneos recursais” (como é o caso das

ações impugnativas autônomas, e.g., mandado de segurança e ação rescisória)100.

Seguindo essa linha de entendimento, se o interessado valer-se da ação rescisória, do mandado de segurança, dos embargos do devedor, da ação cautelar inominada, com a finalidade de impugnar determinado pronunciamento judicial, não há cogitar-se de interposição de recurso, pois esses institutos dão azo à formação de novo processo. Mesmo quando o writ é utilizado como meio de impugnar decisão judicial, exercendo o papel de recurso, ele dará ensejo à formação de nova relação jurídica processual diversa daquela em curso101.

Por consectário, adotado esse critério de diferenciação dos recursos a

outros meios impugnativos, não à toa o legislador taxou as formas de insurgência,

cada qual representada por um recurso que possui características e finalidades

próprias, no verbete do artigo 496 do Código de Processo Civil, do qual podemos

citar: a) apelação; b) agravo; c) embargos infringentes; d) embargos de declaração;

e) recurso ordinário; f) recurso especial; g) recurso extraordinário; h) embargos de

divergência em recurso especial e em recurso extraordinário102.

99MOREIRA, José Carlos Barbosa. Comentários ao Código de Processo Civi, p. 207.100MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de Direito Processual Civil: Processo de Conhecimento. 7ª ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008, v.2, p.507. 101ORIONE NETO, Luiz. Recursos Cíveis: teoria geral, princípios fundamentais, dos recursos em espécie, tutela de urgência no âmbito recursal, da ordem dos processos no tribunal, p. 5.102BRASIL. Código de Processo Civil de 1973. Lex: Vade Mecum. 5. Ed. Atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2008.

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2.1 TEORIA GERAL DOS RECURSOS CÍVEIS

Assentar a natureza jurídica dos recursos é tema de fortes debates no

universo jurídico, eis que duas correntes se formaram a respeito. Isto porque, por um

lado, é nítido verificar os que defendem ser o recurso uma ação autônoma quanto

àquela que lhe deu origem, logo, não representaria uma simples continuação do

processo principal. De outra banda, há quem diga que o recurso retrata, sim, a

continuação do direito de ação, já em fase posterior ao procedimento103.

Pois bem, quanto à primeira corrente, que teve como vexilários do

respectivo entendimento os juristas Gilles, Betti, Provincialli, Mortara, Guasp e Del

Pozzo, vê-se que estes ditam ao recurso “a natureza jurídica de ação autônoma de

impugnação de conteúdo constitutivo negativo, já que o recurso visa a

desconstituição da decisão judicial104”. Em outras palavras, referem-se à existência

de um objeto litigioso próprio, eis que retrata o início de um novo procedimento -

interposição do recurso -, visando determinado fim.

Entretanto, como já visto, a doutrina brasileira faz a distinção das ações

impugnativas autônomas e os recursos, sobrelevando os que defendem a segunda

corrente doutrinária. Esta, encabeçada por Ugo Rocco, Enrico Tullio Liebman,

Francesco Carnelutti, José Frederico Marques, Nelson Nery Júnior, Antonio Carlos

Marcato, Barbosa Moreira, Humberto Theodoro Junior, entre outros105, sustenta que

“o recurso é continuação do procedimento, funcionando como uma modalidade do

direito de ação exercido no segundo grau de jurisdição”106.

Aliás, nessa toada, contempla Nelson Nery Júnior107 sobre a doutrina de

Rocco: “o recurso como atividade compreendida no direito de ação, guardando,

portanto, essa natureza jurídica, não vacila em afirmar, entretanto, ser o recurso

uma renovação do procedimento”.103ORIONE NETO, Luiz. Recursos Cíveis: teoria geral, princípios fundamentais, dos recursos em espécie, tutela de urgência no âmbito recursal, da ordem dos processos no tribunal, p. 8-9.104NERY JUNIOR, Nelson. Teoria Geral dos Recursos. 6ª Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais Ltda, 2004, p. 213.105MIRANDA, Gilson Delgado; PIZZOL, Patrícia Miranda. Processo Civil: Recursos. São Paulo: Atlas, 2000, p. 19.106NERY JUNIOR, Nelson. Teoria Geral dos Recursos, p. 218.107NERY JUNIOR, Nelson. Teoria Geral dos Recursos, p. 219.

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É, pois, a doutrina adotada pelos autores e ordenamento pátrios,

facilmente explicável tendo em vista o direito positivo nacional, segundo o qual a interposição de recurso não rende ensejo à instauração de processo distinto daquele em que se proferiu a decisão impugnada, mas apenas dá prosseguimento a um caminho já utilizado pelo autor, com a propositura da ação. Segundo o direito brasileiro, apenas as ações autônomas de impugnação rendem azo à instauração de processo distinto daquele em que proferida a decisão desfavorável108.

2.1.1 Princípios fundamentais dos recursos

Ombreando as palavras de José Afonso da Silva109, o qual adota a acepção

da palavra princípio como sendo o mandamento nuclear de um sistema, vê-se que

no âmbito dos recursos são adotados inúmeros princípios gerais e, às vezes,

específicos a certos mecanismos de impugnação.

Assim, para fins didáticos serão analisados os princípios fundamentais dos

recursos que possuem relação com a temática central. São eles: princípio do duplo

grau de jurisdição, princípio da taxatividade, princípio da singularidade ou

unirrecorribilidade recursal, princípio da fungibilidade e princípio da proibição do

reformatio in pejus.

2.1.1.1 Princípio do duplo grau de jurisdição

O princípio do duplo grau de jurisdição representa a primeira diretriz a

merecer exame destacado no presente estudo, na medida em que

“a consagração de recursos no sistema processual implica dizer que a causa, em

108ORIONE NETO, Luiz. Recursos Cíveis: teoria geral, princípios fundamentais, dos recursos em espécie, tutela de urgência no âmbito recursal, da ordem dos processos no tribunal, p. 10.109SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo, p.95

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tese, será reapreciada por órgão de jurisdição hierarquicamente superior à daquele

que proferiu a decisão”110.

A respeito, tem-se que o presente preceito não resta consignado de forma

expressa na Constituição Federal, porém, decorre da concepção do devido processo

legal (artigo 5º, inciso LIV, da CF)111, albergando ao recorrente uma proteção contra

a falibilidade do ser humano, eis que outra não é a progênie do Julgador. “Nessa

linha de raciocínio, o princípio do duplo grau é, por assim dizer, garantia fundamental

de boa justiça”112.

Não obstante, há quem pugna pelo perfil constitucional desse princípio, com

fulcro na previsão do art. 5º, inciso LV, da CF113, pois, embora não faça constar

expressamente, este dispositivo reflete no direito dos litigantes usarem dos

“recursos” inerentes à ampla defesa.

Por sua vez, o processualista Nelson Nery Júnior, pondera que há previsão,

ainda que não expressa, na Constituição Federal para o princípio em análise,

quando se estabelece que os tribunais do país terão competência para julgar causas originariamente e em grau de recurso. Na CF 102 II, dizendo que o STF conhecerá, em grau de recurso ordinário, outras determinadas e, também, pelo n. III do mesmo dispositivo constitucional, tomará conhecimento, mediante recurso extraordinário, das hipóteses que enumera, evidentemente criou o duplo grau de jurisdição114.

A par da discussão delineada, convém ressaltar que parte da doutrina

aponta certos pontos negativos a respeito da aplicação do princípio do duplo grau de

jurisdição. São eles: “a dificuldade de acesso à justiça, o desprestígio da primeira

110ORIONE NETO, Luiz. Recursos Cíveis: teoria geral, princípios fundamentais, dos recursos em espécie, tutela de urgência no âmbito recursal, da ordem dos processos no tribunal, p. 137.111BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Lex: Vade Mecum. 5. Ed. Atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2008.”Art. 5º, inciso LIV: ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal”

112NERY JUNIOR, Nelson. Teoria Geral dos Recursos, p. 39.113BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Lex: Vade Mecum. 5. Ed. Atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2008.”Art. 5º, inciso LV: aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”.

114NERY JUNIOR, Nelson. Teoria Geral dos Recursos, p. 41.

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instância, a quebra de unidade do poder jurisdicional, a dificuldade na descoberta da

verdade mais próxima possível da real e a inutilidade do procedimento oral”115.

Contudo, mesmo sabendo dos problemas enfrentados pelo Judiciário

- alguns, sem dúvida, impulsionados pela vasta utilização de recursos protelatórios -,

entende-se inconcebível a supressão da utilização do duplo grau de jurisdição, pois,

mais do que um direito do postulante, é uma garantia da justiça trilhar o seu

caminho116.

2.1.1.2 Princípio da taxatividade

De acordo com o princípio da taxatividade, os recursos tem como

pressuposto de validade a previsão e regência em lei federal. Assim, na forma do

direito processual civil brasileiro (art. 496 do CPC) são recursos: apelação, agravo,

embargos infringentes, embargos de declaração, recurso ordinário, recurso especial,

recurso extraordinário e embargos de divergência em recurso especial e em recurso

extraordinário.

Contudo, impende observar que “a taxatividade é do sistema legal federal, e

não do Código de Processo Civil”117. Dessarte, seguindo a regra explanada, recursos

positivados em outros momentos também correspondem ao princípio da

taxatividade, eis que atendida a previsão em lei federal. É o caso dos embargos

infringentes, disciplinados pelo artigo 34 da Lei 6.830/80 e incluídos, a seu turno, na

Lei Adjetiva Civil.

No tocante à matéria de fundo, objeto da presente pesquisa, é necessário

averiguar se, na dicção deste princípio, o recurso adesivo é ou não taxado como um

recurso propriamente dito, uma vez que não consta no rol do artigo 496 do Código

de Ritos. Para tanto, sobre o tema, Luiz Orione Neto é conclusivo, senão vejamos:

115 DIDIER JUNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo José Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil: Meios de impugnação às decisões judiciais e processo nos tribunais. 5ª Ed. Salvador: JusPodivm, 2008, p. 25.116 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de Direito Processual Civil: Processo de Conhecimento, p. 496.117PINTO, Nelson Luiz. Manual dos recursos cíveis. 2ª ed. São Paulo: Malheiros, 2000, p.82.

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De outra banda, não são considerados recursos per se, diversos daqueles do art. 496, o 'recurso adesivo' (art. 500), o 'agravo retido' (art. 523), nem os recursos especial e extraordinário retidos (art. 542, §3º).No tocante aos recursos que admitem a modalidade adesiva – apelação, embargos infringentes, recurso especial e recurso extraordinário (art. 500, II, do CPC) –, é fácil constatar que eles não diferem do recurso-tipo enunciado no art. 496 do CPC, na medida em que o recurso adesivo não passa de um modus operandi daqueles quatro recursos. Dessa maneira, o recorrente pode valer-se dos recursos de apelação, embargos infringentes, recurso especial e recurso extraordinário de duas formas: pela via denominada principal e pela adesiva. Daí afirmar-se que a apelação adesiva nada mais é que uma forma de interposição do recurso de apelação, e assim por diante118.

Por consectário, denota-se que, pelo princípio da taxatividade, o recurso

adesivo pode ser considerado como um instrumento recursal, na medida que

previsto no artigo 500 do Código Processual Civil, entretanto, apresenta-se

subordinado à appellatio principal.

2.1.1.3 Princípio da singularidade ou unirrecorribilidade recursal

O princípio da unirrecorribilidade, como o próprio nome bem indica, traduz

na premissa de que para cada ato judicial cabe, apenas, um recurso específico. Isto

porque, “ao estipular a lei processual quais são os recursos cabíveis, evidentemente

há de indicar, para cada um dos recursos, uma função determinada e uma hipótese

específica de cabimento”119.

Oportuno ressaltar que a doutrina aponta algumas exceções a esse preceito,

como por exemplo, a interposição de embargos de declaração e de outro recurso,

contra uma única decisão. Nesse particular, esclarecedora a lição de Luiz Guilherme

Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart, in verbis:

É verdade que tais casos permitem a interposição, contra uma mesma decisão judicial, de mais de uma espécie recursal. Todavia,

118ORIONE NETO, Luiz. Recursos Cíveis: teoria geral, princípios fundamentais, dos recursos em espécie, tutela de urgência no âmbito recursal, da ordem dos processos no tribunal, p. 143-144.119MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de Direito Processual Civil: Processo de Conhecimento, p. 510.

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não se deve esquecer que cada um dos recursos cabíveis contra tais decisões tem função específica, que não se confunde com a finalidade prevista para a outra espécie recursal. Assim, contra determinado ato judicial e para certa finalidade específica – não abrangida pela finalidade de outro meio recursal – deve ser cabível um único recurso120.

No mais, fora as exceções previstas, tem-se que interposto mais de um

recurso contra a mesma decisão, deve ser decretada a inadmissibilidade do último

recurso, por força do instituto da preclusão consumativa, eis que o direito de recorrer

é exercido no oferecimento do primeiro apelo121.

2.1.1.4 Princípio da fungibilidade

Sob o prisma do princípio da singularidade, o qual preconiza o cabimento de

apenas um recurso para cada situação específica, a fungibilidade é uma das

maneiras de adequar esse apelo àquela situação. Em outras palavras, o princípio da

fungibilidade “autoriza, em determinadas hipóteses, o recebimento de um recurso

por outro”122.

Muito se discutiu após a edição do CPC/73 acerca da adoção ou não do referido princípio. Isso porque o novel diploma deixou de reproduzir a regra expressa existente no art. 810 do CP/39. E por quê? Ao que parece, o autor do anteprojeto, Professor Alfredo Buzaid, deixara de inserir artigo similar ao art. 810 do CPC/39, exatamente para retirar do sistema a possibilidade de se receber o recurso inadequado. O motivo, pelo que consta, é evidente: o nosso CPC/73 introduziu um sistema recursal flagrantemente simples, afastando a possibilidade de erro no momento da interposição do recurso. […]A simplicidade aparente do sistema recursal acabou não encontrando eco na praxe forense. Em inúmeros casos práticos, os julgadores e doutrinadores começaram a divergir quanto à natureza jurídica do provimento jurisdicional objeto do recurso. Essas dúvidas impuseram a alteração da interpretação que de início foi dada ao no

120Ibidem, p. 511.121ORIONE NETO, Luiz. Recursos Cíveis: teoria geral, princípios fundamentais, dos recursos em espécie, tutela de urgência no âmbito recursal, da ordem dos processos no tribunal, p. 175.122ORIONE NETO, Luiz. Recursos Cíveis: teoria geral, princípios fundamentais, dos recursos em espécie, tutela de urgência no âmbito recursal, da ordem dos processos no tribunal, p. 176.

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CPC: o princípio, a par de não ter sido reproduzido expressamente, estava e está implicitamente acolhido123.

Ademais, impende complementar que é admitida a referida adequação nos

casos em que o erro provem tão-somente da escolha do recurso ou da sua forma,

porém, desde que alcance a finalidade original, sob pena de nulidade do ato (artigo

244 do Código de Processo Civil)124.

Nessa linha de raciocínio, a doutrina125 aponta determinadas hipóteses de

difícil aferimento do recurso cabível, tendo em tela o pronunciamento judicial

atacado, e que ensejam a aplicação do princípio da fungibilidade. No entanto, diante

desta situação, devem ser respeitados os pressupostos a merecer exame

destacado: a) presença de dúvida objetiva a respeito do recurso cabível; b)

inexistência de erro grosseiro na interposição do recurso; e, c) respeito ao prazo

adequado para o recurso correto.

Contudo, na prática dos tribunais, vê-se que mesmo adotando esses

critérios, a aplicação do princípio da fungibilidade suscita alguns problemas

pertinentes ao procedimento. Cite-se como exemplo, a exigência do prazo adequado

ao recurso correto. Ora, se pode ser aceitável o erro do interessado ao manejar o

recurso, em face da dificuldade de interpretação do caso concreto, da mesma forma

não poderia lhe ser exigido a observância do prazo correto.

Não obstante, por mais desconexo que pareça, seguindo-se o entendimento

dos tribunais, estar-se-ia diante da impossibilidade de aplicação do princípio da

fungibilidade. Malgrado a jurisprudência apresente essa inflexibilidade, algumas

decisões alinham em sentido oposto, considerando justificável a interposição do

recurso a destempo, consubstanciadas na protuberância do preceito maior do duplo

grau de jurisdição126.

123MIRANDA, Gilson Delgado; PIZZOL, Patrícia Miranda. Processo Civil: Recursos, p. 24.124BRASIL. Código de Processo Civil de 1973. Lex: Vade Mecum. 5. Ed. Atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2008: “Art. 244. Quando a lei prescrever determinada forma, sem cominação de nulidade, o juiz considerará válido o ato se, realizado de outro modo, Ihe alcançar a finalidade.”

125NERY JUNIOR, Nelson. Teoria Geral dos Recursos, p. 144.126 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial n. 12.610-MT, Relator Ministro Athos Carneiro, Quarta Turma. DJ 24-2-1992. Disponível em: <www.stj.jus.br>. Acesso em 22/10/2010.

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2.1.1.5 Princípio da proibição da reformatio in pejus

Ocorre a reformatio in pejus quando o órgão julgador, motivado pelo recurso

de quem viu o seu direito inacolhido, profere decisão ainda mais desfavorável ao

recorrente. Assim, nos termos da proibição do reformatio in pejus, o reparo da

decisão singular não deverá prejudicar o suplicante, se outro recurso não for

interposto.

Ainda que não encontrado de forma expressa no ordenamento jurídico, este

princípio recursal é amplamente aceito na doutrina e jurisprudência pátrias, posto

que reflete no dever do tribunal não conceder ao recorrido mais do que este

suscitou.

No entanto, ressalta-se a existência de situações que podem ser vistas

como exceções ao non reformatio in pejus. Isto porque, é patente a possibilidade do

tribunal “revisar aquilo que ex vi legis se sujeita ao duplo grau de jurisdição, como

por exemplo, as questões de ordem pública que, se acolhida em detrimento do

interesse do recorrente, poderão, de certo modo, levar a uma reforma para pior”127.

2.1.2 Do juízo de admissibilidade e do juízo de mérito

O julgamento do recurso pressupõe duas fases distintas denominadas de

juízo de admissibilidade e juízo de mérito.

De início, tem-se o juízo de admissibilidade estribado na análise de

requisitos de ordem processual que a lei fixa como indispensáveis para o

conhecimento do recurso. Dessarte, o respectivo exame é desempenhado tanto pelo

órgão a quo – ante o qual o recurso é interposto –, como pelo órgão ad quem,

incumbido da apreciação das razões recursais128.

127DIDIER JUNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo José Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil: Meios de impugnação às decisões judiciais e processo nos tribunais, p. 76 128 ROCHA, José de Albuquerque. Teoria Geral do Processo. 8ª ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 268.

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52

Sobre esse particular, elucidativa a lição de Nelson Nery Júnior:

A competência para o juízo de admissibilidade dos recursos é do órgão ad quem. Ao tribunal destinatário cabe, portanto, o exame definitivo sobre a admissibilidade do recurso. Ocorre que, para facilitar os trâmites procedimentais, em atendimento ao princípio da economia processual, o juízo de admissibilidade é normalmente diferido ao juízo a quo para, num primeiro momento, decidir provisoriamente sobre a admissibilidade do recurso. De qualquer sorte, essa decisão do juízo a quo poderá ser modificada pelo tribunal, a quem compete, definitivamente, proferir o juízo de admissibilidade recursal, não se lhe podendo retirar essa competência129.

Assim, quando o juiz singular deixa de receber o recurso manejado, diz-se

pela pronunciação do juízo negativo de admissibilidade, diante da inobservância de

algum dos pressupostos recursais, e, por consequência, o feito não será remetido à

instância superior.

Entretanto, por óbvio, se o contrário suceder e o recurso preencher todos os

requisitos, então estar-se-ia diante do juízo positivo de admissibilidade,

“importando dizer que o juiz mandará processar o recurso, abrindo-se oportunidade

para a parte contrária expor as contra-razões de recurso e, finalmente, remetendo-

se os autos ao tribunal ad quem para o julgamento do mérito”130.

Contudo, para que seja apreciado o mérito da quaestio, como já dito, o

tribunal também proferirá novo juízo de admissibilidade – eis que o mesmo não é

vinculado ao crivo do órgão a quo – e, sendo preenchidos todos os seus

pressupostos, o recurso deverá ser conhecido e concluso para julgamento.

Antes de esquadrinhar o juízo de mérito, reputa-se necessário elencar, sem

maiores detalhes, os ditos requisitos de admissibilidade dos recursos. Para tanto,

observa-se que estes dividem-se, de certa forma – há ressalvas doutrinárias acerca

do tema –, em requisitos intrínsecos e extrínsecos.

Nesse sentido, são requisitos intrínsecos: cabimento; legitimação para

recorrer, interesse em recorrer; e inexistência de fato impeditivo e extintivo do poder

de recorrer. Por sua vez, representam requisitos extrínsecos: tempestividade;

regularidade formal; e preparo131.

129NERY JUNIOR, Nelson. Teoria Geral dos Recursos, p. 255.130Ibidem, p. 259.131MIRANDA, Gilson Delgado; PIZZOL, Patrícia Miranda. Processo Civil: Recursos, p. 29.

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53

Uma vez conhecido o recurso, ou seja, preenchidos os respectivos

pressupostos recursais, passa-se ao exame do seu mérito. Aqui cabe sobrelevar a

dissociação do mérito do recurso e o mérito da causa, pois são conceitos distintos,

ainda que em determinadas situações possam tratar do mesmo objeto.

O mérito recursal é o “fato jurídico apto a autorizar a reforma, a invalidação,

a integração e o esclarecimento da decisão recorrida”132. Por sua vez, o mérito da

causa é o fato jurídico representado na pretensão do litigante em ver pronunciado o

direito que almeja.

No caso do estudo aqui realizado, conclui-se que o juízo de mérito terá por

objeto o pedido deduzido no recurso133. Assim, incumbirá ao Tribunal dizer se o

“recorrente tem ou não razão, isto é, se tem fundamento ou não o recurso de

apelação interposto e se procedem as razões elencadas contra a decisão

impugnada”134.

Por fim, enquanto que para o juízo de admissibilidade é dado conhecimento

ou não ao recurso, uma vez ultimado o exame do mérito recursal, tem-se por

consequência, o provimento jurisdicional do órgão ad quem. Neste caso, o mesmo

pode “dar provimento” ou “negar provimento” ao reclamo.

2.1.3 Dos efeitos dos recursos

Consabido que o primeiro grande efeito dos recursos é impedir o trânsito em

julgado da decisão recorrida, a doutrina canarinha ainda aponta, em princípio, dois

efeitos básicos, quais sejam, o devolutivo e o suspensivo. Não obstante, os autores

fazem constar a presença de outros efeitos a merecer destaque, como são os casos

do translativo, regressivo e o expansivo, motivo pelo qual faz-se necessário a

decomposição de cada um.

132DIDIER JUNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo José Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil: Meios de impugnação às decisões judiciais e processo nos tribunais, p.69.133Exceção às matérias que podem ser resolvidas ex officio pelo órgão julgador, uma vez que podem ser apreciadas sem o respectivo pedido da parte que recorre. 134JORGE, Flávio Cheim. Apelação cível: teoria geral e admissibilidade. 2. ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, p. 57.

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2.1.3.1 Efeito devolutivo

O efeito devolutivo é comum à grande maioria dos recursos e consiste “em

transferir, para órgão diverso daquele que proferiu a decisão recorrida, o

conhecimento da matéria impugnada”135.

O presente efeito está ligado ao brocardo romano tantum devolutum quantum apellatum e consiste em levar ao órgão ad quem o conhecimento do que foi objeto de impugnação. O efeito devolutivo é manifestação do princípio dispositivo, já que permite à parte estabelecer os limites dentro dos quais o órgão ad quem poderá apreciar a pretensão manifestada136.

Utilizando-se desses dizeres, explica-se que a caracterização do efeito

devolutivo desdobra-se em extensão e profundidade. A primeira já foi mencionada

alhures, pois a extensão do efeito devolutivo reflete a ideia do que é ou não

impugnado pelo suplicante. Já a profundidade, a seu turno, “diz respeito à matéria

que será possível de reexame pelo órgão ad quem. Disto se ocupa o §2º do

art.515”137.

No intuito de esclarecer qualquer dúvida da diferenciação acima imposta,

instrutiva a explicação de Marinoni e Arenhart, in verbis:

Em razão de regra decorrente da aplicação do princípio da demanda, perante o direito brasileiro a interposição do recurso somente devolve (atribui) à apreciação do tribunal a matéria impugnada (tantum devolutum quantum appellatum). É o que se denomina de efeito devolutivo em extensão. Assim, se em uma ação de despejo por falta de pagamento, cumulada com pagamento de aluguéis, recorre a parte autora apenas em relação ao não acolhimento da pretensão à cobrança (deixando de lado a pretensão de despejo, também não acolhida pelo magistrado singular), ainda que o tribunal dê provimento ao recurso, reconhecendo o direito de receber os aluguéis não adimplidos, não poderá ser decretado o despejo, já que essa matéria ficou fora do âmbito de sua cognição, por falta de devolutividade desse tema. Por tal motivo, deve a parte recorrente especificar, nas razões do recurso que interpõe, o pedido de nova decisão que pretende, permitindo assim ao tribunal avaliar a extensão máxima que poderá dar à sua deliberação.

135CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil. 14 ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007, v.2, p. 80. 136Ibidem, p. 80.137BUENO, Cássio Scarpinella. Efeitos dos Recursos, apud WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; NERY JUNIOR, Nelson (Org.). Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis e assuntos afins. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006, p. 80.

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Se, todavia, de um lado, o tribunal fica vinculado ao pedido de nova decisão formulado pelo recorrente, de outro, quanto aos fundamentos desse 'pedido', é livre para examinar a todos, ainda que não hajam sido expressamente referidos nas razões do recurso interposto (efeito devolutivo em profundidade)138.

Ressalta-se, ainda, que alguns autores consideram o efeito devolutivo em

profundidade como sendo, na verdade, o denominado efeito translativo, porquanto

aquele “supõe um ato de vontade no manejo do recurso, não existindo qualquer

possibilidade de ser caracterizado quando ocorrer omissão, da parte ou interessado,

sobre alguma questão não mencionada nas razões ou contra-razões do apelo”139.

Contudo, para os fins deste trabalho, o efeito translativo será estudado em

separado, de modo a tornar didática a sua definição, não afastando o que até aqui

foi dito, inclusive, quanto à sua limitação imposta pela verticalidade do efeito

devolutivo.

Por fim, vê-se certa dissonância na doutrina quanto à existência do efeito

devolutivo nos recursos que submetem a irresignação ao mesmo órgão que proferiu

a decisão recorrida, como é o caso dos embargos de declaração.

Nessa perspectiva, Alexandre Freitas Câmara assevera haver recursos

“em que a lei atribui competência ao próprio órgão a quo para que os julgue. É o que

se dá, por exemplo nos embargos de declaração. Nestes casos, não se produz o

efeito devolutivo”140. Entretanto, há quem – Fredie Didier Júnior – considera que

“o efeito devolutivo decorre da interposição de qualquer recurso, equivalendo a um

efeito de transferência da matéria ou de renovação do julgamento para outro ou para

o mesmo órgão julgador”141.

138MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de Direito Processual Civil: Processo de Conhecimento, p. 523.139BORTOWSKI, Marco Aurélio Moreira. Apelação cível. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1997, p. 120, apud ORIONE NETO, Luiz. Recursos Cíveis: teoria geral, princípios fundamentais, dos recursos em espécie, tutela de urgência no âmbito recursal, da ordem dos processos no tribunal, p. 176.

140CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civi, p. 80.141DIDIER JUNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo José Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil: Meios de impugnação às decisões judiciais e processo nos tribunais, p.80.

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2.1.3.2 Efeito suspensivo

O efeito suspensivo diz respeito à eficácia da sentença proferida e não à

formação da coisa julgada. Destarte, diz-se que este efeito provém “da própria

recorribilidade e não do recurso em si mesmo, tendo em vista que a decisão só

passa a produzir efeitos após o trânsito em julgado”142.

Isto ocorre porque, na praxe forense, o efeito suspensivo já é manifestado a

partir da própria publicação da sentença, permanecendo, ao menos, até terminar o

prazo para a parte interessada recorrer. Logo, não estaria adstrito ao recurso, mas

sim à recorribilidade143.

Outrossim, discursam Eduardo Talamini e Flávio Renato Correia de Almeida

ao defenderem que “na verdade, nada se suspende propriamente, porque a

sentença sujeita à apelação com efeito suspensivo, já não produz efeitos quando é

produzida [...]”144.

Aliás, a expressão 'efeito suspensivo' é, de certo modo, equívoca, porque se presta a fazer supor que só com a interposição do recurso passem a ficar tolhidos os efeitos da decisão, como se até esse momento estivessem eles a manifestar-se normalmente. Na realidade, o contrário é que se verifica: mesmo antes de interposto o recurso, a decisão, pelo simples fato de estar-lhe sujeita, é ato ainda ineficaz, e a interposição apenas prolonga semelhante ineficácia, que cessaria se não se interpusesse o recurso145.

Sob outro enfoque, importante consignar a catequese do jurista Marinoni146,

o qual concebe o efeito suspensivo em dois pólos. O primeiro, segurança, de modo

a evitar que a decisão insurgida produza efeitos na pendência de recurso que pode

reformá-la; e o segundo, tempestividade, na medida em que o tempo do processo

não cause danos à parte que tem o direito.

142MIRANDA, Gilson Delgado; PIZZOL, Patrícia Miranda. Processo Civil: Recursos, p. 44.143NERY JUNIOR, Nelson. Teoria Geral dos Recursos, p. 446.144ALMEIDA, Flávio Renato Correia de; TALAMINI, Eduardo. Curso avançado de processo civil: teoria geral do processo e processo de conhecimento. 7. ed., rev. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 591.

145MOREIRA, José Carlos Barbosa. Comentários ao Código de Processo Civil, p. 257.146MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de Direito Processual Civil: Processo de Conhecimento, p. 525.

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Por consectário, é possível enumerar certas situações em que o recurso é

desprovido do aludido efeito suspensivo, como é o caso das hipóteses do artigo 520

do atual Código de Processo Civil147, entre outras exceções legais.

2.1.3.3 Efeito translativo

Como já assinalado, o efeito translativo assemelha-se ao efeito devolutivo

em profundidade, inclusive até considerando aquele como parte desse. Contudo,

neste estudo será adotado o conceito de Marinoni e Arenhart e outros autores que

diferenciam os efeitos citados, pois enquanto o efeito devolutivo

“depende de expressa manifestação da parte, já que somente se devolve ao

conhecimento do tribunal a matéria impugnada, o efeito translativo se opera ainda

que sem expressa manifestação de vontade do recorrente”148.

Assim, entende-se por matéria suscitada a qualquer tempo sem a

necessária manifestação no recurso, as questões de ordem pública como a

prescrição e a decadência, bem como as prescritas no artigo 301 do Código de

Processo Civil, entre outras.

Por derradeiro, “o tribunal é autorizado a conhecer esses temas de ordem

pública, ainda que não tenham sido ventilados, seja no juízo a quo, seja nas razões

do recurso […]. Obviamente, esse efeito é inerente a qualquer espécie recursal”149.

147BRASIL. Código de Processo Civil de 1973. Lex: Vade Mecum. 5. Ed. Atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2008: “Art. 520. A apelação será recebida em seu efeito devolutivo e suspensivo. Será, no entanto, recebida só no efeito devolutivo, quando interposta de sentença que: I – homologar a divisão e demarcação; II – condenar à prestação de alimentos; III – REVOGADO; IV – decidir o processo cautelar; V – rejeitar liminarmente embargos à execução ou julgá-los improcedentes; VI – julgar procedente o pedido de instituição de arbitragem; VII – confirmar a antecipação dos efeitos da tutela.

148MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de Direito Processual Civil: Processo de Conhecimento, p. 525-526.149MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de Direito Processual Civil: Processo de Conhecimento, p. 526.

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2.1.3.4 Efeito regressivo ou de retratação

O efeito regressivo, também conhecido como efeito diferido, “trata-se do

efeito que autoriza o órgão jurisdicional a quo a rever a decisão recorrida”150. A

retratação acontece, pois, no primeiro juízo de admissibilidade, que é

desempenhado pelo Magistrado de primeiro grau.

Os recursos mais comuns que permitem o juízo de retratação são o agravo

de instrumento e a apelação contra sentença que indefere a petição inicial (art. 296,

do CPC). Neste último, é dado ao juiz um prazo de 48 (quarenta e oito) horas para

reformar a sua decisão.

Com efeito, não optando pela retratação – juízo negativo de retratação –, o

Magistrado remeterá a matéria ao órgão ad quem, que fará o segundo juízo de

admissibilidade, conhecendo ou não do recurso e aplicando o efeito devolutivo ao

mesmo.

2.1.3.5 Efeito expansivo

O efeito expansivo apresenta-se apenas em certos casos previstos na

legislação brasileira. Isto porque, “em regra, a interposição do recurso produz efeitos

apenas para o recorrente (princípio da personalidade do recurso)”151.

Contudo, pode ser alcançado um resultado mais amplo do que aquele

geralmente atingido com o julgamento do recurso, nas hipóteses do artigo 509 do

Código de Processo Civil152, pois a decisão proferida pelo órgão ad quem alberga,

também, os litisconsortes que não interpuseram recurso algum.

150DIDIER JUNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo José Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil: Meios de impugnação às decisões judiciais e processo nos tribunais, p. 84.151Ibidem, p.85.152BRASIL. Código de Processo Civil de 1973. Lex: Vade Mecum. 5. Ed. Atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2008: “Art. 509: O recurso interposto por um dos litisconsortes a todos aproveita, salvo se distintos ou opostos os seus interesses.

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Por fim, diz-se um caso de expansão subjetiva do efeito do recurso quando,

manejado embargos de declaração, o prazo para entrar com outro recurso é

interrompido para ambas as partes e não apenas a parte recorrente.

2.2 DOS RECURSOS EM ESPÉCIE DE ACORDO COM O CÓDIGO DE

PROCESSO CIVIL DE 1973

Como visto em momento anterior, o Código de Processo Civil elenca no seu

artigo 496 certos recursos cabíveis na esfera cível forense, por meio dos quais o

jurisdicionado tem acesso à instrumentalização do duplo grau de jurisdição.

Ora, diante da manifesta correlação com o tema explicitado no presente

trabalho, faz-se necessário, ao menos, tecer breves considerações acerca dos

recursos – apelação, embargos infringentes, recurso especial e recurso

extraordinário –, que comportam a sua interposição na modalidade adesiva, cujo rol

é taxado no inciso II do artigo 500 da Lei Adjetiva Civil.

Pois bem, o atual Código de Processo Civil Brasileiro não traz uma definição

do que seja apelação, mas tão-somente limita-se a asseverar que da sentença

caberá apelação (artigo 513).

Dessarte, bem andou Humberto Theodoro Júnior, ao consignar que

apelação “se interpõe das sentenças dos juízes de primeiro grau de jurisdição para

levar a causa ao reexame dos tribunais de segundo grau, visando a obter uma

reforma total ou parcial da decisão impugnada, ou mesmo sua invalidação”153.

É, portanto,

o recurso por excelência, uma vez que através dela, os órgãos judiciários de segundo grau exercem, com plenitude, a função de julgar, revendo as sentenças de primeiro grau, com base tão-só na sucumbência, para reexame parcial ou completo da prestação jurisdicional, inclusive quanto à sua admissibilidade154.

153THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil: teoria geral do direito processual civil e processo de conhecimento. 48 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2008, p. 662.154MARQUES, José Frederico. Instituições de Direito Processual Civil. Campinas: Millennium, 2000, p. 125.

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Recebida a apelação, consoante a dicção do artigo 520 do Código de

Processo Civil, a mesma terá efeito devolutivo, uma vez que é devolvido ao tribunal

o conhecimento da matéria impugnada, bem como o suspensivo, salvo nas

exceções legais já aduzidas, caso em que se fará presente apenas o primeiro efeito.

Ademais, “a competência funcional para julgar o recurso é da câmara ou

turma do tribunal, mas o voto é tomado apenas de três juízes, que formam a

denominada 'turma julgadora' (art. 555, caput)”155. Todavia, convém ressaltar que o

juiz não deverá receber o recurso quando a sentença estiver manifestamente de

acordo com súmula do Superior Tribunal de Justiça ou, até mesmo, do Supremo

Tribunal Federal (artigo 518, §1º).

De outra banda, de forma mais peculiar aparecem os embargos infringentes

que representam “o recurso cabível contra acórdão não-unânime que, no julgamento

de apelação, reforma a sentença de mérito ou, em 'ação rescisória', julga procedente

o pedido de rescisão da sentença transitada em julgado”156 (art. 530 do CPC).

Logo, ocorrendo a hipótese de cabimento e manejado o recurso, é dado

prazo para as contrarrazões e, ato contínuo, tem-se a realização do juízo de

admissibilidade, analisando-se os pressupostos extrínsecos e intrínsecos da

invocação (art. 531 do CPC).

No tocante aos efeitos desse recurso, conclui-se pela presença do

devolutivo nos limites da divergência, bem como o suspensivo quando a apelação

ou ação rescisória o tiverem também. E, ao final, patente o efeito translativo, tendo

em tela que “as questões de ordem pública, ainda que não tenham sido objeto da

divergência, são transferidas ao exame do tribunal, por ocasião do julgamento dos

embargos infringentes”157.

Por derradeiro, impende ressaltar que “os acórdãos proferidos no julgamento

de recurso especial e recurso extraordinário não comportam embargos

infringentes”158. Da mesma forma, em regra, essa proibição vale, também, para o

agravo de instrumento.

155THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil: teoria geral do direito processual civil e processo de conhecimento, p. 679.156CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civi, p. 115-116.157MIRANDA, Gilson Delgado; PIZZOL, Patrícia Miranda. Processo Civil: Recursos, p. 87.158Ibidem, p. 80.

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Pois bem. Uma vez tecidas breves considerações sobre a apelação e os

embargos infringentes, passa-se ao exame dos recursos especial e extraordinário,

também conhecidos como recursos 'excepcionais', pois como o próprio nome sugere

“têm uma finalidade específica, que os particulariza e os difere dos recursos

chamados de 'comuns' ou 'ordinários', qual seja: preservar a unidade e a autoridade

do direito constitucional e infraconstitucional”159.

Para tanto, estão regulados em conjunto nos artigos 541 a 545 do Código de

Processo Civil, bem como as hipóteses de cabimento estão enumeradas nos artigos

102, III e 105, III, ambos da Constituição Federal de 1998.

Assim é que cabe Recurso Especial, cuja competência é do Superior

Tribunal de Justiça, nas causas decididas em única e última instância pelos

Tribunais Regionais Federais ou Tribunais dos Estados, Distrito Federal e

Territórios, quando a decisão objurgada:

a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência;b) julgar válido ato de governo local contestado em face de lei federal;c) der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal160.

Por sua vez, o Recurso Extraordinário é de competência do Supremo

Tribunal Federal e tem o seu cabimento nas causas decididas em única ou última

instância, quando a decisão profligada:

a) contrariar dispositivo desta Constituição;b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal;c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta Constituição;d) julgar válida lei local contestada em face de lei federal161.

É de se notar, portanto, a referência contida nos dispositivos em apreço

sobre as causas decididas “em única ou última instância”. Logo, denota-se que os

recursos especial e extraordinário são cabíveis apenas quando esgotados todos os

recursos ordinários admissíveis.

159ORIONE NETO, Luiz. Recursos Cíveis: teoria geral, princípios fundamentais, dos recursos em espécie, tutela de urgência no âmbito recursal, da ordem dos processos no tribuna, p. 439.160BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Lex: Vade Mecum. 5. Ed. Atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2008: Art. 105, III. 161BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Lex: Vade Mecum. 5. Ed. Atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2008: Art. 102, III.

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62

Quanto aos efeitos, a interposição dos recursos 'excepcionais' produzem

apenas o efeito devolutivo, conforme prevê o §2º do artigo 542 do Código de

Processo Civil, sendo que “tais recursos servem à impugnação de questões de

direito; não se admite a interposição para reexame de prova ou de fatos. São

recursos de estrito direito”162.

Outra particularidade a merecer destaque, é a possibilidade de interposição

de apenas um ou até mesmo dos dois recursos – especial e extraordinário – contra

a mesma decisão. Assim, manejados os dois simultaneamente, os autos serão

remetidos ao Superior Tribunal de Justiça para apreciação do Recurso Especial e,

ato contínuo, o mesmo será feito no Supremo Tribunal Federal para apreciar o

Recurso Extraordinário, salvo se este já não esteja prejudicado (artigo 543 do

CPC)163.

Por fim, não se pode deixar de mencionar dois requisitos de admissibilidade

específicos aos recursos em exame, quais sejam, o prequestionamento e a

repercussão geral.

Dessarte, o primeiro “implica a obrigatoriedade do debate a respeito da

alegação contida no recurso, isto é, torna-se imperioso que a matéria tenha sido

'suficientemente discutida a ponto de se construir tese sobre ela”164. Em outras

palavras, significa a exigência de que a decisão insurgida tenha discutido a temática

que será objeto de apreciação no recurso especial ou extraordinário.

Este requisito de admissibilidade decorre do próprio texto constitucional, que admite o recurso extraordinário e o recurso especial apenas contra “causas decididas”. Assim sendo, é preciso que a matéria objeto do recurso haja sido suscitada e decidida pelo órgão a quo, para que possa ser apreciada no recurso excepcional. Omissa a decisão contra a qual se queira opor o recurso excepcional, faz-se necessária a interposição de embargos de declaração, com o fim de prequestionar a questão federal ou constitucional165.

Por sua vez, a repercussão geral passou a ser exigida com a Emenda

Constitucional n. 45/2004, sendo um pressuposto de admissibilidade específico do

162DIDIER JUNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo José Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil: Meios de impugnação às decisões judiciais e processo nos tribunais, p.250.163CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil, p. 133.164MIRANDA, Gilson Delgado; PIZZOL, Patrícia Miranda. Processo Civil: Recursos, p. 101.165CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil, p. 139.

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Recurso Extraordinário, por tratar de questão constitucional. Logo, a dita Emenda

acrescentou o §3º ao artigo 102 da Constituição Federal166, que preconiza:

Art. 102, §3º: No recurso extraordinário o recorrente deverá demonstrar a repercussão geral das questões constitucionais discutidas no caso, nos termos da lei, a fim de que o Tribunal examine a admissão do recurso, somente podendo recusá-lo pela manifestação de dois terços de seus membros.

Ademais, a Lei n. 11.418/2006, ao incluir o artigo 543-A no Código de

Processo Civil167, tratou de defini-la, ao prescrever que “para efeito da repercussão

geral, será considerada a existência, ou não, de questões relevantes do ponto de

vista econômico, político, social ou jurídico, que ultrapassem os interesses subjetivos

da causa”.

Para tanto, a interpretação dessas questões que demonstram ser de

repercussão geral aparenta uma certa subjetividade do próprio Supremo Tribunal

Federal, salvo os casos em que a lei já tratou de esclarecer, como por exemplo,

quando o recurso impugnar decisão contrária a súmula ou jurisprudência dominante

do referido Tribunal (artigo 543-A, §3º, do CPC).

Vale dizer que somente o Supremo Tribunal Federal tem o poder de analisar o que é ou não é questão de repercussão geral. O exame do feito pelo Supremo Tribunal Federal poderá até, ulteriormente, ser utilizado na instância inferior para negar seguimento ao recurso extraordinário (art. 543-B, §2º), mas apenas aquele tribunal tem a autorização para interpretar o que se deve entender por questão de repercussão geral168.

Outrossim, a decisão do Supremo Tribunal Federal que julgar a existência

da repercussão geral da questão constitucional servirá como precedente para

futuros casos idênticos, inclusive, cabendo ao presidente do tribunal de instância

inferior a aplicação daquilo que a Corte Suprema tenha decidido.

Importa sobrelevar que o prazo para a interposição dos recursos citados é

de 15 (quinze) dias, sendo inclusive contado o mesmo lapso para as contrarrazões,

consoante disposto no artigo 508 do Pergaminho Processual Civil.

166BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Lex: Vade Mecum. 5. Ed. Atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2008.167BRASIL. Código de Processo Civil de 1973. Lex: Vade Mecum. 5. Ed. Atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2008.

168MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de Direito Processual Civil: Processo de Conhecimento, p. 576-577.

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64

2.3 DOS RECURSOS EM ESPÉCIE DE ACORDO COM AS LEIS N. 9.099/95 E

10.259/01

Uma vez explicitado sobre os recursos previstos no Código de Processo

Civil, reputa-se necessário destacar quais os recursos usados no âmbito dos

Juizados Especiais, de modo a não ensejar quaisquer dúvidas acerca dos dois

sistemas. Por consectário, passa-se à analise as leis n. 9.099/95 e 10.259/01 que

instituíram, respectivamente, os Juizados Especiais Estaduais e Federais.

2.3.1 Lei n. 9.099/95

A Lei n. 9.099 de 26 de setembro de 1995 prevê aos juizados especiais

cíveis estaduais apenas dois recursos, quais sejam, os embargos de declaração e o

recurso ou recurso inominado como é comumente chamado na doutrina nacional.

Contudo, esta denominação vem sendo amplamente combatida, pois “chamar de

'recurso' uma modalidade de recurso viola uma das funções do nome, que é

individualizar aquilo que nomeia. Em nosso sentir, o 'recurso' deveria ser chamado

de apelação, como ocorre na parte criminal da Lei (art. 82)”169.

Além dessas duas modalidades de recursos, admiti-se, também, a

interposição de Recurso Extraordinário para o Supremo Tribunal Federal. Entretanto,

este não encontra a sua previsão na Lei, uma vez que é interposto e julgado fora

dos Juizados Especiais170.

Na mesma toada, reluz na doutrina e jurisprudência pátrias a possibilidade,

ainda que escassa, do manejo de agravo. Isto porque, “surgem algumas situações

de caráter emergencial que não poderão deixar o jurisdicionado desprotegido de

uma rápida revisão da decisão proferida em primeira instância”171.

169ROCHA, Felipe Borring. Juizados Especiais Cíveis: Aspectos Polêmicos da Lei n. 9.099, de 26/9/1995, p. 142.170Ibidem, p. 142.171TOURINHO NETO, Fernando da Costa; FIGUEIRA JÚNIOR, Joel Dias. Manual dos Juizados Especiais Cíveis Estaduais e Federais, p. 290.

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65

Para ilustrar o que foi dito, e contrariando o Enunciado n. 15 do FONAJE172,

colaciona-se a orientação firmada pela 6ª Turma Recursal-SC, in verbis:

Agravo de instrumento. Possibilidade de interposição em sede de juizado especial. Tutela antecipada. Seguro. Pagamento de diferença entre o valor segurado e o preço médio do bem. Possibilidade. Decisão mantida. Embora não haja previsão legal para a interposição de recurso de Agravo de Instrumento em sede de Juizado Especial, merece conhecimento tal procedimento recursal se a decisão interlocutória objurgada puder causar ao direito de um dos litigantes lesão grave ou de difícil reparação adotando-se, para tanto, a Conclusão n. 6 do I Encontro das Turmas de Recursos do Estado de Santa Catarina (...)173.

De igual forma, ainda que não sejam considerados recursos na sua forma

pura, o mandado de segurança e o habeas corpus “jamais poderão ser excluídos de

qualquer microssistema, desde que se verifique no caso concreto abuso, violação de

norma, ilegalidade, violência ou coação ilegal na liberdade de ir e vir”174.

Deixando as exceções de lado, cumpre ressaltar que os embargos de

declaração representam, do ponto de vista prático, uma forma recursal, na qual são

almejados a declaração e o esclarecimento de qualquer obscuridade, omissão,

contradição ou dúvida existente na decisão profligada.

Além disso, à luz do artigo 49 da Lei que instituiu os Juizados Especiais

Estaduais, são cabíveis no prazo de 5 (cinco) dias, da ciência da decisão e sua

interposição suspende o prazo para oferecimento de outros recursos, ao contrário do

previsto no procedimento comum ordinário, no qual os embargos interrompem o

prazo de interposição dos recursos175.

Quanto ao recurso inominado, tem-se que este deve ser manejado, em

petição escrita que contenha as razões do recurso e o pedido de revisão, no prazo

de 10 (dez) dias, contados da ciência da sentença (artigo 42 da Lei n. 9.099/95). Já

no tocante aos efeitos deste recurso, contata-se que possui, em regra, apenas o

172Enunciado n. 15 do FONAJE: “Nos Juizados Especiais não é cabível o recurso de agravo”. Disponível em: <www.fonaje.org.br>. Acesso em 22/10/2010.173BRASIL. Agravo de Instrumento n. 49, Turma de Recursos de Joaçaba/SC, Relator Juiz Stanley da Silva Braga, DJ. 09/08/2000. Disponível em: <www.tjsc.jus.br>. Acesso em 22/10/2010.174TOURINHO NETO, Fernando da Costa; FIGUEIRA JÚNIOR, Joel Dias. Juizados Especiais Estaduais Cíveis e Criminais: Comentários à Lei n. 9.099/1995. 5ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2006. p. 296-297.175MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de Direito Processual Civil: Processo de Conhecimento, p. 720.

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66

efeito devolutivo, salvo nos casos em que o Magistrado entenda por bem dar-lhe

efeito suspensivo para evitar lesão irreparável à parte (artigo 43).

2.3.2 Lei n. 10.259/01

No âmbito federal, os Juizados Especiais adotam a maioria das disposições

atinentes à esfera estadual – Lei n. 9.099/95 – no tocante aos recursos. Logo, as

exceções encontradas na Lei 10.259 de 12 de julho de 2001, que instituiu os

Juizados Especiais Federais, são merecedoras de maiores esclarecimentos.

Desde logo, vê-se que a nova legislação adota o recurso de agravo, ainda

que sem denominá-lo expressamente. É que o artigo 5º do referido dispositivo legal,

aponta uma medida de insurgência para os casos de deferimento de medidas

cautelares, diferente do recurso inominado das sentenças definitivas. Assim, em

face da aplicação subsidiária do Código de Processo Civil, é possível assemelhar o

recurso do artigo 5º ao agravo de instrumento, na qualidade de mecanismo de

revisão da decisão interlocutória176.

Por outro lado, alguns Colégios Recursais têm firmado orientação no sentido de que, diante da ausência de previsão legislativa para o recurso de agravo de instrumento, a impugnação interposta há de ser recebida como reclamação contra as decisões interlocutórias, nos termos preconizados nos Regimentos Internos. Trata-se apenas, com a devida vênia, de uma questão puramente terminológica e não ontológica, porquanto, in casu, pouco importa o nomen iuris que se atribui ao recurso hábil para o fim específico de alteração de decisões proferidas no curso do processo que tramita sob a égide da Lei n. 9.099/1995177.

Quanto aos embargos infringentes, tanto a Lei n. 9.099/95 como a Lei n.

10.259/2001 foram omissas a respeito. Neste caso, demonstra-se impossível a

aplicação subsidiária do Código de Processo Civil para albergar o recurso na seara

dos Juizados Especiais, eis que patente a dissonância com os seus princípios

norteadores.

176 TOURINHO NETO, Fernando da Costa; FIGUEIRA JÚNIOR, Joel Dias. Juizados Especiais Federais Cíveis e Criminais: Comentários à Lei n. 10.259, de 10.07.2001. 2ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007, p. 290.177 Ibidem, p. 291.

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67

De outra banda, merece atenção a previsão do pedido de uniformização de

interpretação de lei federal ante a divergência de decisões entre Turmas Recursais,

que será julgado em reunião conjunta pelas Turmas em conflito, se estas forem da

mesma região. Entretanto, se estas forem de regiões distintas, o pedido será julgado

por Turma de Uniformização, composta por juízes de Turmas Recursais, sob a

presidência do Coordenador da Justiça Federal (artigo 14 da Lei n. 10.259/2001).

No mais, em relação aos outros recursos, aproveita-se o que fora explicitado

em virtude dos Juizados Especiais Estaduais, posto que, como dito, os ditames da

Lei n. 9.099/95 possuem aplicação subsidiária no âmbito federal.

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68

3 DO CABIMENTO DO RECURSO ADESIVO PERANTE OS

JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS

Preambularmente, é possível encontrar no ordenamento jurídico vigente,

diversas formas de insurgência, cada qual representada por um recurso que possui

características e finalidades próprias. Estas, em regra, têm a sua previsão no artigo

496 do Código de Processo Civil, por intermédio do qual destaca-se: a) apelação; b)

agravo; c) embargos infringentes; d) embargos de declaração; e) recurso ordinário; f)

recurso especial; g) recurso extraordinário; h) embargos de divergência em recurso

especial e em recurso extraordinário178.

Não obstante, é possível observar formas de impugnação que não se

inserem na especificação acima. É o caso dos comumente denominados

“sucedâneos recursais” ou ações impugnativas autônomas (e.g., mandado de

segurança e ação rescisória).

De outra banda, o recuso adesivo representa uma situação distinta que,

muito embora não esteja previsto no dispositivo em comento, é sem dúvida, também

um instrumento recursal, ou mais precisamente, uma forma de interposição dos

recursos distinta da manejada por via principal179.

Insculpida na necessidade de dar vazão aos recursos protelatórios e

“desnecessários” que invadiam o judiciário, a modalidade adesiva tardou a ser

instituída. Isto porque, em épocas anteriores ao advento do atual Código de

Processo Civil, nas causas de sucumbência recíproca, era comum o manejo

escusado do recurso principal por ambas as partes da lide e, consequentemente, o

entravamento dos Tribunais180.

Dessa forma, foi instituído no Código de Processo Civil brasileiro de 1973,

influenciado, fundamentalmente, pelo direito alemão e o português – neste último,

178 BRASIL. Código de Processo Civil de 1973. Lex: Vade Mecum. 5. Ed. Atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2008: Art. 496.179 SILVA, Wesley Ricardo Bento da. O Recurso Adesivo nos Juizados Especiais. Revista dos Juizados Especiais. Distrito Federal, ano VII, n. XV, jul./dez. 2003. p 59.180MIRANDA, Gilson Delgado; PIZZOL, Patrícia Miranda. Processo Civil: Recursos, p. 48.

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conhecido como recurso subordinado181 -, e encontra albergue no artigo art. 500 do

diploma processual182.

Aliás, neste reservado, fica a crítica à terminologia adotada pelo Código de

Processo Civil, inclusive extasiada com certa unanimidade pela doutrina canarinha,

eis que “não há aqui adesão por uma das partes ao recurso da outra. Aquele que

recorre adesivamente não vem buscar os mesmos resultados que aquele que

recorreu pela via principal”183. Em outras palavras, não há adesão – pelos menos no

que se refere à causa de pedir –, pois cada parte demanda nos termos das

respectivas sucumbências.

No mesmo sentido, transcreve-se as palavras de Moacyr Amaral dos

Santos, ipsis verbis:

Adesivo é o que se une, o que se junta. Enquanto isso, o recurso adesivo se contrapõe ao recurso principal, a este não se juntando. Quando muito o recurso adesivo se junta ao procedimento recursal instaurado com a interposição do recurso principal. Melhor fora se lhe desse a denominação de recurso condicionado, ou subordinado, porquanto está à existência do recurso principal184.

No tocante à concepção e cabimento do recurso adesivo, José Frederico

Marques afirma que este “é incidente que surge em caso de sucumbência recíproca

no procedimento recursal instaurado por um dos litigantes, em virtude de exercer

também a outra parte, posterior e subordinadamente, o direito de recorrer”185.

Aliás, nesse particular, a corrente doutrinária majoritária não considera o

recurso adesivo uma espécie de recurso, mas apenas

uma forma de interposição de recurso. O recurso pode ser interposto de forma independente e de forma adesiva. O recurso adesivo é exatamente o mesmo recurso que poderia ter sido interposto

181 “O Código de Processo Civil português prevê, em seu art. 682, o recurso (mais propriamente denominado) subordinado, figura que corresponde ao nosso recurso adesivo” (COUTO, Mônica Bonetti. Recurso Adesivo: Um Exame à Luz da Teoria Geral dos Recursos. Curitiba: Juruá Editora, 2008. p. 127).182 BRASIL. Código de Processo Civil de 1973. Lex: Vade Mecum. 5. Ed. Atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2008: “Art. 500. Cada parte interporá o recurso, independentemente, no prazo e observadas as exigências legais. Sendo, porém, vencidos autor e réu, ao recurso interposto por qualquer deles poderá aderir a outra parte. O recurso adesivo fica subordinado ao recurso principal e se rege pelas disposições seguintes:[...]”.183CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil, p. 88.184SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil. 23ª ed. São Paulo: Saraiva, 2009, vol. 3, p. 216.185MARQUES, José Frederico. Manual de Direito Processual Civil. 1ª ed. Campinas: Bookseller, 1997, p. 255.

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70

autonomamente, diferenciando-se apenas pela técnica de interposição [...]186.

Em outras palavras, mas comungando da mesma ideia, resta consignada a

opinião de juristas, tais como Moacyr Amaral Santos187, Luiz Orione Neto188, Gilson

Delgado Miranda e Patrícia Miranda Pizzol189, que o consideram uma forma de

impugnar, visto que aplicado às mesmas regras do recurso independente;

entretanto, a sua interposição dá-se na via adesiva.

3.1 DO RECURSO ADESIVO E A OMISSÃO NAS LEIS N. 9.099/95 E 10.259/01

Os desígnios do recurso adesivo restringem-se tão-somente aos elementos

desfavoráveis ao suplicante. Portanto, nenhuma relação coexiste com o objeto ou as

razões do recurso principal interposto pela parte adversa.

Todavia, mesmo sendo considerado um avanço em prol do acesso à justiça

pelo meio forense, insta gizar que a principal crítica à oposição adesiva entoa na

possível “dilatação” do prazo para deduzir as razões da insurgência. É que,

exaurido o lapso do recurso principal e abrindo-se o das contrarrazões, é apenas

neste último que influi a necessidade de contrapor o recurso adesivo.

Luiz Orione Neto190, no rastro do tema versado, leciona:

A resposta negativa se impõe. Com efeito, é cediço que a função do recurso adesivo é exatamente permitir que uma das partes manifeste seu inconformismo diante do outro que rompera com a situação de aquiescência. Logo, como corretamente assinala Jorge Tosta, 'não há porque sustentar, como fazem alguns, que a inserção no recurso adesivo de matéria diversa da que foi objeto na via principal importe em burla ao instituto da preclusão ou coisa julgada'.

186DIDIER JUNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo José Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil: Meios de impugnação às decisões judiciais e processo nos tribunais, p. 86.187SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civi, p. 216.188ORIONE NETO, Luiz. Recursos Cíveis: teoria geral, princípios fundamentais, dos recursos em espécie, tutela de urgência no âmbito recursal, da ordem dos processos no tribunal, p 288-289.189MIRANDA, Gilson Delgado; PIZZOL, Patrícia Miranda. Processo Civil: Recursos, p. 48.190ORIONE NETO, Luiz. Recursos Cíveis: teoria geral, princípios fundamentais, dos recursos em espécie, tutela de urgência no âmbito recursal, da ordem dos processos no tribuna, p 285.

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Dessarte, uma vez superada a questão, mister ressaltar que nem todos os

recursos podem ser manejados na forma adesiva. O inciso II do artigo 500 do

Código de Processo Civil é taxativo ao permitir este procedimento apenas na

apelação, nos embargos infringentes, no recurso especial e no recurso

extraordinário191. Ademais, a interpretação jurisprudencial vem entendendo que

também pode incidir sobre o recurso ordinário constitucional, tendo em vista a

semelhança com a apelação192.

Outrossim, no âmbito da justiça do trabalho, é possível atestar a

admissibilidade do recurso adesivo em recurso ordinário, de revista, embargos e

agravo de petição, esquivando-se do princípio da legalidade. Inclusive, matéria já

sumulada pelo Tribunal Superior do Trabalho, ipsis litteris:

TST Enunciado n. 283 - O recurso adesivo é compatível com o processo do trabalho e cabe, no prazo de 8 (oito) dias, nas hipóteses de interposição de recurso ordinário, de agravo de petição, de revista e de embargos, sendo desnecessário que a matéria nele veiculada esteja relacionada com a do recurso interposto pela parte contrária193.

Guardadas as devidas particularidades, tem-se que uma vez interposto, o

recurso adesivo deve atender a todos os pressupostos de admissibilidade

imprescindíveis para os respectivos recursos (art. 500, parágrafo único, CPC), bem

como fica condicionado ao juízo de admissibilidade positivo do recurso principal.

Sobre o tema, adequada a lição de Fredie Didier Júnior e Leonardo José Carneiro

da Cunha, senão vejamos:

O recurso adesivo se submete aos mesmo requisitos de admissibilidade do recurso principal. Assim, se o recurso principal depende do prequestionamento, o adesivo também dependerá. Somente se permite a interposição de recurso adesivo, se a parte poderia interpor recurso principal, ou seja, apenas se pode aderir a recurso que se poderia interpor194.

Por consectário, são pressupostos e requisitos gerais à correta existência do

recurso adesivo: decisão em que houve sucumbência recíproca; o recurso de uma

191CORREA, Orlando de Assis. Os Recursos no Código de Processo Civil. 3ª ed. Porto Alegra: Síntese, 1981, p. 31. 192MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de Direito Processual Civil: Processo de Conhecimento, p. 593.193Todas as súmulas do Tribunal Superior do Trabalho estão acessíveis no sítio eletrônico da instituição. Disponível em: <www.tst.jus.br>. Acesso em 26-10-2010.194DIDIER JUNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo José Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil: Meios de impugnação às decisões judiciais e processo nos tribunais, p.87.

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parte e o silêncio da outra; o conhecimento do recurso principal; e a sujeição aos

requisitos de admissibilidade dos recursos, tais como tempestividade, regularidade

formal, preparo, entre outros.

A propósito, sabendo que o preparo é requisito de admissibilidade do

recurso adesivo, conclui-se que “não aproveita ao recorrente adesivo a circunstância

de o recurso principal estar isento de preparo”195.

No tocante à tempestividade, o prazo de interposição do recurso adesivo é o

mesmo que a parte dispõe para apresentar as contrarrazões ao recurso principal -

sabendo que a aquela pode contraarrazoar e recorrer ao mesmo tempo, tomar

apenas uma das atitudes ou até nenhuma196.

Por sua vez, quanto ao procedimento do recurso adesivo no judiciário, o

mesmo deve ser deduzido em peça distinta das contrarrazões e interposto perante o

órgão competente pela admissão do recurso principal, ou seja, o juízo a quo no caso

de apelação; o relator do acórdão embargado no caso de embargos infringentes; o

presidente ou vice-presidente do tribunal no caso de recurso especial ou

extraordinário (vide artigos 514, 531, 541 do CPC).

Ato contínuo, será dado o momento da parte adversa contraarrazoar os

termos do recurso adesivo, bem como é feito todo o processamento no juízo a quo e

julgamento no órgão ad quem, consoante as regras próprias do recurso principal.

No entanto, no âmbito dos Juizados Especiais, impulsionados pelo princípio

norteador da celeridade, fica a ressalva de que uma vez recebido o recurso pelo

relator, no Tribunal, “deverá este colocá-lo em pauta para julgamento no prazo de 10

(dez) dias, a contar do seu recebimento”197.

Para finalizar as particularidades do recurso adesivo, cumpre colacionar as

lições de Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart:

Obviamente, se a parte já ofereceu recurso ‘principal’, não terá como apresentar recurso adesivo. Aliás, nem poderá fazê-lo, em função da ocorrência de preclusão consumativa. Ou seja, não será possível a interposição de recurso adesivo, uma vez que a interposição do

195ORIONE NETO, Luiz. Recursos Cíveis: teoria geral, princípios fundamentais, dos recursos em espécie, tutela de urgência no âmbito recursal, da ordem dos processos no tribunal, p 289.196MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de Direito Processual Civil: Processo de Conhecimento, p. 593.197SILVA, Luiz Cláudio da. Os Juizados Especiais Cíveis na Doutrina e na Prática Forense. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 68.

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recurso já se consumou (mediante a interposição de recurso na forma principal). O mesmo raciocínio se aplica para a hipótese de alguma parte pretender apresentar recurso adesivo diante de recurso adesivo já oferecido pelo adversário: como o recurso adesivo somente tem cabimento após a interposição do recurso principal, o oferecimento deste gera para a parte preclusão consumativa, não podendo esta, ulteriormente, ampliar seu recurso por meio de ‘recurso adesivo ao recurso adesivo198.

No que compreende ao microssistema dos Juizados Especiais Cíveis, tanto

a nível estadual como federal, as Leis ns. 9.099/95 e 10.259/01 apresentam-se

omissas quanto à insurgência adesiva. Por este motivo, foram editados enunciados

vedando-a neste órgão especializado.

No seio dos Juizados Especiais Cíveis Estaduais faz-se presente o

Enunciado n. 88 do Fórum Nacional de Juizados Especais – FONAJE, que

prescreve: “Não cabe recurso adesivo em sede de Juizado Especial, por falta de

expressa previsão legal”199.

Aliás, o verbete foi aprovado em 28 de maio de 2004 no XV Encontro do

Fórum, que ocorreu em Florianópolis/SC, no qual participavam das mesas diretoras

a presidente do Fórum, juíza Sandra Silvestre, de Rondônia; o vice-presidente do

órgão Joaquim Domingos de Almeida, do Rio de Janeiro; o Secretário da Reforma

do Poder Judiciário, do Ministério da Justiça, Sérgio Renault; o Juiz Joaquim

Almeida e a Juíza Liliana Bittencourt, de Goiás; a Juíza Janete Simões, do Espírito

Santo; a Juíza Sueli Pini, do Amapá; o Juiz Flávio Fonseca, do Distrito Federal; entre

outros200.

A seu turno, nos Juizados Especiais Cíveis Federais existe o Enunciado n.

59 do Fórum Nacional de Juizados Especiais Federais – FONAJEF, de teor

semelhante, anotando que “Não cabe recurso adesivo nos Juizados Especiais

Federais”201.

198MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de Direito Processual Civil: Processo de Conhecimento, p. 593-594.199Todos os enunciados do Fórum Nacional dos Juizados Especiais estão acessíveis no sítio eletrônico da instituição. Disponível em: <www.fonaje.org.br>. Acesso em 26-10-2010.200Ata dos trabalhos do XV Encontro do Fórum Nacional dos Juizados Especiais , ocorrido nos dias 26 a 28 de maio de 2004 na cidade de Florianópolis, Santa Catarina. Disponível em: <www.fonaje.org.br>. Acesso em 26-10-2010.201Todos os enunciados do Fórum Nacional do Juizados Especiais Federais estão acessíveis no sítio eletrônico da instituição. Disponível em: <www.ajufe.org.br>. Acesso em 26-10-2010.

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3.2 DOS APONTAMENTOS DOUTRINÁRIOS ACERCA DO CABIMENTO DO

RECURSO ADESIVO PERANTE OS JUIZADOS ESPECIAIS

Como se verá, a temática explicitada no presente trabalho é motivo de

efervescentes discussões que deduzem no objeto de comentários dos grandes

processualistas brasileiros, em virtude do possível equívoco que configura a

vedação do recurso adesivo no âmbito dos Juizados Especiais.

Isto porque, tem-se visto na jurisprudência dos Juizados a inadmissibilidade

do recurso adesivo, na medida em que ausente a sua expressa previsão legal.

Nesse sentido, colaciona-se a ratio decidendi da Sétima Turma de Recursos de

Itajaí/SC, in verbis:

“Não conheço do recurso interposto do réu, visto que, em sede de Juizados Especiais, não é cabível a interposição de Recurso Adesivo, por manifesta inexistência de previsão legal. Inclusive tema já consolidado por meio do Enunciado 88 do FONAJE: ‘Enunciado 88 – Não cabe recurso adesivo em sede de Juizado Especial, por falta de previsão legal (Aprovado no XV Encontro – Florianópolis/SC)”202.

E, ainda:

Declara-se, pois, a deserção do recurso interposto pelo réu. O recurso adesivo interposto pelo autor, além da ausência de expresso cabimento, contraria o enunciado 88 do Fonaje, pois ‘Não cabe recurso adesivo em sede de Juizado Especial, por falta de expressa previsão legal’. Diante disso, não se conhece do recurso adesivo203.

Contudo, o argumento em análise apresenta-se deveras simplista e frágil,

eis que destoado de fundamentos sólidos que o justifica. Conforme o escólio de

Cândido Rangel Dinamarco, a inexistência de previsão na Lei em nenhum momento

acarreta na conclusão de que os dois institutos são incompatíveis; pelo contrário,

tanto são compatíveis que

Os objetivos do recurso adesivo coadunam-se muito harmoniosamente com os da criação do processo especialíssimo dos juizados, onde o zelo pela terminação rápida do serviço jurisdicional se situa entre as preocupações centrais. Faz parte do espírito

202BRASIL. Poder Judiciário de Santa Catarina. Sétima Turma de Recursos de Itajaí. Recurso Inominado n. 2008.700368-1, de Balneário Camboriú. Rel. Juiz José Carlos Bernades dos Santos. j. 16.2.2009.203BRASIL. Poder Judiciário de Santa Catarina. Sexta Turma de Recursos de Lages. Recurso Inominado n. 2008.600901-5, de Rio do Oeste. Rel. Juiz Leandro Passig Mendes. j. 20.8.2008.

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conciliatório que aqui se alvitra essa atitude do litigante que, atendido em parte quanto à pretensão sustentada em juízo, prefere não recorrer e só recorrerá se o fizer o adversário. Por isso, também no processo dos juizados especiais é admissível o recurso adesivo, embora não se tenha aqui o recurso de apelação mas o inominado, uma vez que os objetivos práticos deste coincidem com os daquela204.

Na mesma toada, exsurge a catequese de Felipe Borring Rocha:

A posição prevalente na jurisprudência atual não admite a utilização da via adesiva de interposição do “recurso inominado”, por conta da aplicação dos princípios fundamentais dos recursos, especialmente da taxatividade. Na visão da ampla maioria dos julgadores, a falta de autorização expressa no art. 500 do CPC, que trata do tema, impediria o ajuizamento do “recurso inominado” adesivo.Apesar da qualidade dos fundamentos apontados, revisamos a nossa orientação anterior e passamos a admitir o cabimento de tal modalidade de interposição recursal, por reconhecer que o instituto é plenamente compatível com o Sistema dos Juizados, em especial os princípios contidos no art. 2º da Lei. Não obstante, não parece lógico admitir o pedido contraposto (art. 31), que seria um plus, e não aceitar o recurso adesivo, que seria um minus. De fato, sendo o procedimento em primeiro grau dúplice, o correto é que a duplicidade seja também permitida na fase recursal205.

E, ainda:

Inobstante seja faculdade a cada parte interpor, independentemente, no prazo legal, será admissível também no Juizado Especial, nos casos de sucumbência recíproca, a interposição de recurso adesivo, mediante o recurso interposto pela outra parte, nos termos do art. 500 do Código de Processo Civil, a ser ofertado no prazo de resposta (CPC, art. 500, I), do recurso aforado no Juizado Especial (parágrafo 2º do art. 42).206

De outra banda, faz-se presente uma nova ótica do enunciado proibitivo,

encabeçada por Ricardo Cunha Chimenti, explicando as vedações do

“recurso adesivo e os embargos infringentes contra as decisões proferidas pelas

Turmas Recursais dos Juizados Especiais, já que tais recursos somente são

admissíveis nas hipóteses taxativamente previstas nos arts. 500 e 530 do CPC”207.

204DINAMARCO, Cândido Rangel. Manual dos Juizados Cíveis. São Paulo: Malheiro, 2001, p.183 apud DIDIER JUNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo José Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil: Meios de impugnação às decisões judiciais e processo nos tribunais, p.86.205ROCHA, Felipe Borring. Juizados Especiais Cíveis: Aspectos Polêmicos da Lei n. 9.099, de 26/9/1995, p. 151.206 Parizatto, João Roberto. Comentários à Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais de acordo com a lei nº 9.099, de 26-09-1995. Brasília: Editora Brasília Jurídica, 1996, p. 104.207CHIMENTI, Ricardo Cunha. Teoria e prática dos Juizados Especiais Cíveis Estaduais e Federais. 11ª ed., São Paulo: Saraiva, 2009, p. 212.

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Logo, a omissão a ser considerada não seria a das Leis ns. 9.099 ou 12.569,

mas sim a do inciso II do artigo 500 do Código de Processo Civil208, cujo rol é

taxativo ao definir os recursos que comportam a modalidade adesiva. Por

conseguinte, não estando previsto o recurso inominado entre estes, poder-se-ia

dizer que sobre o mesmo não cabe recurso adesivo.

Todavia, convém ressaltar que na doutrina a tese é minoria. Para tanto, os

que discordam desse argumento, considerando-o desarrazoado, afirmam que

embora a denominação adotada na Lei n. 9.099/95 tenha sido apenas a expressão

“recurso” - recurso inominado -, o mesmo afigura-se semelhante à apelação cível do

Código de Processo Civil.

Aliás, corroborando com o que foi dito, a doutrina e a jurisprudência

intercalam, a seu bel-prazer, a utilização dos termos 'apelação' e 'recurso inominado'

em sede de Juizados Especiais.

Nessa perspectiva, o notável jurista Felipe Borring Rocha preceitua que

“no sistema dos Juizados Especiais, em face da sentença, seja definitiva ou

terminativa, cabe 'recurso inominado'. Trata-se, pois, de recurso análogo à apelação,

que por isso mesmo deve servir de parâmetro para sua aplicação”209.

Logo, impende observar que, mesmo diante da omissão comentada, não há

razão robusta para deixar de aplicar as regras da apelação ao recurso inominado.

Assim, reproduz-se como melhor solução, amparada na doutrina de Mônica Bonetti

Couto, a visão de que

[…] o recurso adesivo não pode deixar de ser admitido, visto que o recurso inominado possui o mesmo objeto do recurso de apelação, qual seja, a reapreciação de toda matéria fática e jurídica acerca de determinado litígio por um órgão colegiado, com o escopo de atender ao princípio do duplo grau de jurisdição210.

No âmbito federal, igualmente arrebatadoras as palavras de Fernando da

Costa Tourinho Neto e Joel Dias Figueira Júnior:

Nada justifica essa orientação limitativa, na exata medida em que a norma atinente ao recurso adesivo insculpida no CPC não conflita

208 BRASIL. Código de Processo Civil de 1973. Lex: Vade Mecum. 5. Ed. Atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2008: “Art. 500. […] II - será admissível na apelação, nos embargos infringentes, no recurso extraordinário e no recurso especial“.209ROCHA, Felipe Borring. Juizados Especiais Cíveis: Aspectos Polêmicos da Lei n. 9.099, de 26/9/1995, p. 143.210COUTO, Mônica Bonetti. Recurso Adesivo: Um Exame à Luz da Teoria Geral dos Recursos. Curitiba: Juruá Editora, 2008, p. 193.

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com os princípios ou as regras delineadas na Lei n. 10.259/2001, que, por sua vez, é omissa neste ponto, sendo evidente que o aludido Código, na qualidade de macrossistema instrumental, tem aplicação subsidiária em todos os microssistemas cíveis, desde que verificada a sua compatibilidade. É o caso da incidência cabal das regras do recurso adesivo aos juizados especiais (estaduais e federais)211.

Como se tanto não bastasse, ainda em relação ao argumento vertido, mister

assinalar que o anotado inciso II do artigo 500 do Código de Processo Civil teve a

sua redação dada pela Lei n. 8.038 de 25 de maio de 1990. Por sua vez, as Leis ns.

9.099 e 12.569, foram criadas em 26 de setembro de 1995 e 12 de julho de 2001,

respectivamente. Explicada, portanto, a omissão no dispositivo antecedente à

criação dos Juizados Especiais Estaduais e Federais.

Um terceiro raciocínio veiculado nas Turmas Recursais faz ressoar que o

“recurso adesivo, à mingua de previsão legal na legislação de regência (Leis 9.099,

de 26/09/95, e 10.259, de 12/07/01) e sendo incompatível com o princípio da

celeridade, não é admitido nos Juizados Especiais”212.

No mesmo sentido, leciona Luis Felipe Salomão:

Assim, considerando o sistema próprio de recursos da Lei dos Juizados Especiais e o princípio da celeridade, não há previsão para: agravo de instrumento ou retido, recurso adesivo, embargos infringentes, reclamação (correição parcial) ou qualquer outro recurso previsto nos regimentos internos dos tribunais estaduais ou leis de organização judiciária local, isto também porque o recurso da lei especial é interposto para o próprio juizado (artigo 41), a ser julgado por turma composta de três juízes em exercício no primeiro grau de jurisdição, reunidos na sede do Juizado, com isso evitando-se as 'idas e vindas e carimbos burocráticos' que tanta demora acarretam ao julgamento do recurso (§1º, artigo 41)213.

Sobre o tema, foi confiado um subtítulo específico que analisa os princípios

informadores dos juizados especiais cíveis frente ao instituto do recurso adesivo.

Assim, maiores explicitações serão feitas no momento oportuno; entretanto, de

pronto, já é possível afirmar que a doutrina especializada discorda do argumento,

211TOURINHO NETO, Fernando da Costa; FIGUEIRA JÚNIOR, Joel Dias. Juizados Especiais Federais Cíveis e Criminais: Comentários à Lei 10.259, de 10.07.2001, p. 274.212Súmula 10 da 1ª Turma Recursal dos Juizados Especiais Federais do Distrito Federal.213SALOMÃO, Luis Felipe. Roteiro dos Juizados Especiais Cíveis: Anotações à Lei 9.099/95, com modelos formulários, jurisprudência e legislação pertinente referentes aos Juizados Especiais Cíveis e ao Código do Consumidor. Rio de Janeiro: Destaque, 1997, p. 74-75.

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haja vista que um dos objetivos do recurso adesivo é justamente economizar o

tempo de um possível recurso meramente protelatório.

Por consectário, sobrelevando o que foi explanado, é possível observar que

a doutrina mencionada, a despeito do que é visto em grande parte das decisões das

Turmas Recursais pátrias, tende a “defender” o cabimento do recurso adesivo em

sede de Juizados Especias, nos exatos termos de que, mesmo ausente a sua

previsão legal, nada de convincente há pelo contrário.

3.3 DOS APONTAMENTOS JURISPRUDENCIAIS ACERCA DO CABIMENTO DO

RECURSO ADESIVO PERANTE OS JUIZADOS ESPECIAIS

A jurisprudência das Turmas Recursais brasileiras, tanto a nível estadual

como federal, demonstra-se deveras remansosa quanto à impossibilidade de ser

manejado o “recurso” ou recurso inominado na modalidade adesiva, mesmo diante

da parcimoniosa fundamentação justificativa e da afronta à maioria das opiniões

doutrinárias contemporâneas.

Por esse motivo, resultado da pesquisa elaborada na confecção deste

trabalho, convém colacionar recente julgado do Tribunal Regional Federal da 4ª

Região, o qual evidencia a argumentação proibitiva do recurso adesivo, senão

vejamos:

PROCESSUAL E PREVIDENCIÁRIO. RECURSO ADESIVO. JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS. NÃO CABIMENTO. PENSÃO POR MORTE. PERDA DA QUALIDADE DE SEGURADO. PAGAMENTO DE MAIS DE 120 CONTRIBUIÇÕES. INTERRUPÇÃO. DESEMPREGADO. REGISTRO EM ÓRGÃO PRÓPRIO DO MINISTÉRIO DO TRABALHO E DA PREVIDÊNCIA SOCIAL. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO IMPROVIDO. 1. Não cabe recurso adesivo nos Juizados Especiais Federais, conforme entendimento esposado no Enunciado nº 59 do Fórum Nacional dos Juizados Especiais Federais – FONAJEF […]214.

No mesmo norte, na esfera estadual, empresta-se decisão da Turma

Recursal do Poder Judiciário de Santa Catarina, in verbis:

214BRASIL. Tribunal Regional Federal da 1ª Região. Recurso n. 2008.43.00.902191-1, Primeira Turma Recursal do Tocantins, Relator José Godinho Filho, DJ 08/04/2010. Disponível em: <www.trf1.jus.br>. Acesso em 22-10-2010.

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RECURSO ADESIVO INTERPOSTO PELO AUTOR – NÃO CABIMENTO EM SEDE DE JUIZADO ESPECIAL.Reza o Enunciado 88 do XVII Encontro Nacional de Coordenadores de Juizados Especiais do Brasil – FONAJE que, “não cabe recurso adesivo em sede de Juizado Especial, por falta de expressa previsão legal” (Aprovado no XV Encontro – Florianópolis/SC).RESPONSABILIDADE CIVIL – AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS – OBRIGAÇÃO DE INDENIZAR – MANTER QUANTUM INDENIZATÓRIO - APLICAÇÃO DE MULTA CIVIL PREVISTA NOS ARTIGOS 56 E 57 DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR - SANÇÃO ADMINISTRATIVA QUE RECLAMA A PRESENÇA DE AUTORIDADE E PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO - MULTA AFASTADA.A multa prevista nos artigos 56 e 57 do Código de Defesa do Consumidor é uma sanção administrativa que, como tal, deve ser imposta “pela autoridade administrativa, no âmbito de sua atribuição”, não sendo, portanto, atribuição declinada ao togado215.

Dessa forma, observa-se a proeminente força normativa dos enunciados 88

do Fórum Nacional de Juizados Especais – FONAJE e 59 do Fórum Nacional de

Juizados Especiais Federais – FONAJEF, e a acentuação do princípio da

taxatividade acolhendo a consequente ausência de previsão legal do recurso

adesivo.

Contudo, em sentido adverso, também é possível encontrar decisões que

caminham para o seu cabimento, o que, em tese, afronta a orientação dos Fóruns

dos Juizados. Nessa vereda, calha à fiveleta expressivo aresto da Primeira Turma

Recursal do Distrito Federal e Territórios, in verbis:

DANO MORAL. COBRANÇA INDEVIDA. INDENIZAÇÃO. CABIMENTO. RECURSO ADESIVO PRETENDENDO A ELEVAÇÃO DO VALOR DA CONDENAÇÃO. NÃO PROVIMENTO.I - Cabe indenização por danos morais em favor da pessoa que foi importunada por diversos telefonemas e cartas de cobrança, objetivando compeli-la ao pagamento de uma dívida inexistente, em decorrência de erro praticado pela contabilidade da empresa. II - O reconhecimento do erro em Juízo, com a declaração da inexistência do débito, não exclui a responsabilidade da empresa pelo pagamento da indenização.III - A indenização por dano moral serve para compensar em parte o sofrimento que a cobrança indevida causou ao não devedor. IV - Conhece-se de recurso adesivo, interposto nos termos do art. 500 do Código de Processo Civil, em sede de Juizado Especial Cível. Não se lhe dá provimento, entretanto, quando busca apenas aumentar o valor da indenização, que corretamente levou em

215BRASIL. Poder Judiciário de Santa Catarina. Recurso Inominado n. 2009.400695-5, Quarta Turma de Recursos de Criciúma, Relatora Dra. Gabriela Gorini Martignago Coral, DJ 14/09/2009. Disponível em: <www.tjsc.jus.br>. Acesso em 22-10-2010.

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consideração a repercussão do dano na esfera da vítima e na situação econômica das partes216.

E, ainda:

CIVIL. COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA. ADQUIRENTE. DESISTÊNCIA. PARCELAS PAGAS. DEVOLUÇÃO. PARCELAMENTO. IMPOSSIBILIDADE. CLÁUSULA CONTRATUAL. INTERPRETAÇÃO. COMISSÃO DE CORRETAGEM. CONTRATO AUTÔNOMO. MULTA. REDUÇÃO. IPTU. VALOR DA CONDENAÇÃO. EQUÍVOCO. REDUÇÃO DE OFÍCIO.1. É incabível a devolução das parcelas aos adquirentes de forma parcelada, pois a resolução do ajuste ocorreu, de fato, por iniciativa dos promitentes compradores. 2. A penalidade imposta aquele que deu causa à ruptura do negócio não se confunde com multa moratória. 3. À míngua de ajuste expresso em sentido contrário, é do vendedor a responsabilidade pelo pagamento da comissão de corretagem, por ele contratada e que importa em ajuste autônomo da compra e venda. Já os impostos incidentes sobre o bem, na vigência do ajuste, são de responsabilidade dos compradores, por expressa previsão contratual. 4. O valor principal da condenação é reduzido de ofício, porquanto computados juros moratórios antes do correto termo inicial desse encargo. Recurso principal não provido. Recurso adesivo provido em parte. Redução de ofício do valor da condenação (grifo nosso)217.

Nesse ponto, margeado por dois extremos, convém extrair dos julgados a

verdadeira afronta que os torna dissidentes. Em outras palavras, demonstra-se de

suma importância analisar a fundamentação que levou o julgador a contrariar o

caminho trilhado pela jurisprudência majoritária.

Observa-se de antemão que o Magistrado não está adstrito a qualquer

orientação geral, podendo, portanto, divergir de um julgado em caso análogo.

Porém, é completamente inconcebível que o juiz julgue sem qualquer

fundamentação, pois é esta que permite às partes e aos interessados o

entendimento dos motivos que levaram o Julgador a tomar certa decisão.

Com efeito, partindo do pressuposto acima elencado, passa-se à análise de

dois substanciais julgados, um da Primeira Turma Recursal da Bahia e o outro da

Primeira Turma Recursal do Distrito Federal e Territórios, bem como das respectivas

216BRASIL. Poder Judiciário do Distrito Federal e Territóios. Apelação Cível no Juizado Especial n. 512/98, Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais, Relator Dr. Roberval Casemiro Belinati, DJ 05/05/1999. Disponível em: <www.tjdft.jus.br>. Acesso em 22-10-2010.217 BRASIL. Poder Judiciário do Paraná. Recurso Inominado n. 2004.0000469-1, Turma Recursal Única, Relator Dr. Vitor Roberto Silva, DJ 07/06/2004. Disponível em: <www.tjpr.jus.br>. Acesso em 22-10-2010.

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fundamentações que permitem o cabimento do recurso adesivo nos Juizados

Especiais. Vejamos:

ADMINISTRATIVO, CIVIL, PROCESSO CIVIL. PROCURADOR DA FAZENDA NACIONAL. CORREÇÃO MONETÁRIA DE PARCELAS DEVIDAS EM RAZÃO DE PROMOÇÃO FUNCIONAL PAGAS COM ATRASO. PRELIMINARES DE INCOMPETÊNCIA DO JEF PARA ANULAR ATO ADMINISTRATIVO E PARA ANALISAR DIRIETO INDIVIDUAL HOMOGÊNEO. NÃO APLICABILIDADE. PRESCRIÇÃO NÃO VERIFICADA. NULIDADE DO ATO DE PROMOÇÃO. CIRCUNSTÂNCIA NÃO APURÁVEL EM SEDE DE JEF, NEM MENCIONADA EM MOMENTO OPORTUNO. RECURSO ADESIVO. CABIMENTO. JUROS MORATÓRIOS DE 0,5% AO MÊS. LEI 9.494/97. RECURSO DA UNIÃO DESPROVIDO. RECURSO DO AUTOR DESPROVIDO.[...]Inicialmente, cumpre analisar o cabimento do recurso adesivo em sede de Juizados Especiais Federais. Nessa matéria, tenho que, em sendo o recurso adesivo forma de interposição de recurso, e não de espécie recursal própria, é ele admissível no presente microssistema, vez que, inclusive, harmoniza-se com os princípios gestores dos Juizados, em especial a celeridade e a economia.Isso porque, como sabido, o recurso adesivo permite à parte optar por recorrer de sentença de parcial procedência apenas se a parte adversa o fizer, evitando-se, assim, a interposição desnecessária ou aventureira de recursos, motivada pelo só temor de que o adversário recorra, vindo a acarretar-lhe eventual prejuízo.Inocorrendo, portanto, vedação expressa a essa prática na legislação especial respectiva, entendo de bom alvitre aceitar tal modo de interposição, por não ferir, em nosso entendimento, o princípio da taxatividade recursal no JEF. Nesse sentido, ombreamo-nos às doutas opiniões de Fernando da Costa Tourinho Neto, Joel Dias Figueira Júnior; e Cândido Rangel Dinamarco218.

Pois bem, da leitura do acórdão cotejado observa-se alguns aspectos que

merecem exame destacado. Em primeiro lugar, “ombreada” em posições de

famigerados juristas, a Relatora dos autos aponta com clarividência pela corrente

que não considera o recurso adesivo como “uma espécie recursal própria”. Logo, por

não estar tratando de um recurso per se, mas tão-somente de uma modalidade de

interposição de um recurso, não haveria a obrigatoriedade da sua previsão nas Leis

dos Juizados para ser conhecido. Assim, mantida incólume a harmonia com o

princípio da taxatividade.

218 BRASIL. Tribunal Regional Federal da 1ª Região. Recurso n. 2006.33.00.712672-0, Primeira Turma Recursal da Bahia, Relatora Dr. Rosana Noya Weibel Kaufmann, DJ 04/06/2007. Disponível em: <www.trf1.jus.br>. Acesso em 22-10-2010.

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Em segundo plano, é exteriorizado que os preceitos do recurso adesivo

conciliam-se com os princípios e objetivos norteadores dos Juizados Especiais.

Aqui, é dito, inclusive, que a interposição adesiva realça a celeridade e economia

processuais, na medida em que evita recursos desnecessários, aventureiros e

protelatórios.

Ininterruptamente, observa-se um terceiro e forte argumento. É que, se por

um lado apresenta-se ausente qualquer previsão legal, da mesma forma não há

expressa vedação na Lei. Ou seja, partindo do pressuposto que os enunciados do

Fonaje não possuem força normativa, retratando apenas uma orientação nos

Juizados, não há, por óbvio, impedimento legal que obste a possibilidade do recurso

adesivo.

En passant, na mesma esteira de raciocínio, passa-se ao segundo decisum:

CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. DANO MORAL. OCORRÊNCIA. RECURSO ADESIVO. CABIMENTO. 1) O recurso adesivo não é meio de impugnação autônomo, a reclamar previsão legal específica, podendo e devendo ser admitido em sede de juizados especiais. 2) É grave a culpa do fornecedor que lança, indevidamente, o nome do consumidor em cadastros restritivos de crédito quando as prestações foram pagas antes mesmo do vencimento. 3) O valor das indenizações nos juizados especiais devem guardar, tanto quanto puderem, semelhança com aquelas fixadas pelo juízo comum, sob pena de se desprestigiar quem busca a justiça do povo.[...]As Egrégias Turmas Recursais, em diversas decisões, tem resistido ao conhecimento do recurso adesivo nos procedimentos dos Juizados Especiais, eis que ele não se compatibilizaria com os princípios regedores dessa justiça especial, bem como pela inexistência de previsão legal expressa. Não comungo desse entendimento. O recurso adesivo não é espécie de recurso diverso daqueles existentes, mas fenômeno processual excepcional em que se admite que a parte também sucumbente, utilizando-se do prazo para responder, interponha recurso da mesma natureza daquele interposto pela outra e que acompanhará a sorte do principal. A adesão não lhe confere caráter de recurso autônomo e, pois, dispensa previsão legal específica, podendo-se, nitidamente, neste caso, utilizar-se o Código de Processo Civil subsidiariamente. Outrossim, a adesão ao recurso em nada se opõe aos princípios da simplicidade, informalidade e celeridade, ao contrário, vai ao encontro deles. Afinal, a interpretação sistemática e teleológica das normas insertas na Lei 9.099/95, exatamente privilegiando a celeridade na solução da lide, demonstra que a mens legis dirige-se à criação de obstáculos ao direito recursal, quer pela inexistência de impugnação imediata às decisões interlocutórias, quer pela exigência de recolhimentos das custas integrais no momento do recurso, quer

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ainda pela redução do prazo em relação ao recurso de apelação previsto no CPC. Assim, uma vez proferida a sentença, a celeridade dos Juizados Especiais recomendaria a inércia da parte sucumbente quanto ao direito recursal. Nos casos em que ambas as partes são parcialmente sucumbentes, não se me afigura correto que aquela que se conforma com o decisum¸ colaborando com a celeridade da Justiça Especial e, posteriormente, surpreende-se com o recurso da outra, se veja na impossibilidade de aderir a esse recurso, o que, várias vezes, acarreta a própria desistência do apelo principal. O recurso adesivo, portanto, corrige dois males a um só tempo: funciona como mecanismo para incentivar o conformismo das partes com a decisão e evita penalizar aquela que se resignou com a sentença, mas viu a outra interpor recurso, solitariamente. Enfim, não vislumbro, pois, qualquer óbice ao julgamento de recurso adesivo nos Juizados Especiais219.

De início, meritoso sublinhar a pertinácia do relator quanto à temática que

ele denomina de “resistência das Turmas Recursais“. Na verdade, como foi

contemplado nos extasiados estudos retro, a “cisma” da decisão acima é que

deveria representar “a resistência”. Inclusive, não à toa o tema é considerado pela

enorme maioria como solidificado nos termos dos enunciados do Fonaje; entretanto,

no ponto de vista da sua fundamentação, o relator do acórdão suso crê na justiça

das suas razões e não nas daqueles cuja maioria vem espelhada.

À vista disso, constitui como carro-chefe das razões de decidir a discussão

da natureza jurídica do recurso adesivo, posto que este não representaria “um meio

de impugnação autônomo”, mas um fenômeno excepcional de interposição distinta

da principal. Portanto, não exigiria previsão legal específica para ser admitido nos

Juizados Especiais.

Repisa, também, a compatibilidade do recurso adesivo com os princípios

regedores do Juizado, sobretudo, os da simplicidade, informalidade e celeridade.

Não obstante, afirma que a intenção da Lei n. 9.099/95 é desestimular o acesso ao

sistema recursal, o que pode ser visto pelo ausência de recursos imediatos às

decisões interlocutórias ou pelo recolhimento integral das custas no momento em

que o recurso é manejado.

Sendo assim, a admissão do recurso adesivo representaria um mecanismo

a mais no empenho pela aplicação do princípio da celeridade, nos exatos termos de

219BRASIL. Poder Judiciário do Distrito Federal e Territóios. Recurso Inominado n. 2002.03.1.010865-5, Primeira Turma Recursal de Brasília/DF, Relator Dr. Gilberto Pereira de Oliveira, DJ 19/05/2003. Disponível em: <www.tjdft.jus.br>. Acesso em 22-10-2010.

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que recomendaria a inércia da parte sucumbente, pois esta ainda estaria

resguardada da aplicação adesiva. Outrossim, estar-se-ia incentivando o

conformismo das partes quanto aos termos da decisão e, ao mesmo tempo,

salvaguardando o direito da parte que deixou de recorrer em consentimento com a

celeridade da justiça.

Como pode-se refletir dos referidos julgados – o primeiro, inclusive,

representando os poucos, senão o único, existentes após as aprovações dos

enunciados nacionais –, vislumbra-se que o argumento mais notável aguça um

segundo caminho aos aplicadores do direito, através do qual é discutido a natureza

jurídica do recurso adesivo.

Sobre a temática explanada, é consabido que o escol doutrinário comunga

da mesma opinião, conforme as lições apresentadas no corpo do presente trabalho.

Nesse particular, assenta-se os famigerados José Frederico Marques220, Fredie

Didier Júnior e Leonardo José Carneiro da Cunha221, Moacyr Amaral Santos222, entre

outros, que não consideram o recurso adesivo um meio de impugnação autônomo.

Logo, tornando coerente a lógica empregada nas razões de decidir dos acórdãos

acima.

Ademais, imperioso aderir ao que foi exposto, desta vez no âmbito dos

Juizados Especiais Federais, a ratio decidendi da Primeira Turma Recursal do Rio

Grande do Norte223, in verbis:

RECURSO ADESIVO. CABIMENTO. RECONHECIMENTO DE TEMPO DE SERVIÇO. EMPREGADA DOMÉSTICA. INEXISTÊNCIA DE PROVA DOCUMENTAL. FORÇA MAIOR. DECURSO DO TEMPO. INADMISSIBILIDADE.A Turma Recursal, à unanimidade, entendeu ser cabível, em sede de Juizados Especiais Federais, o recurso adesivo, julgando-o, no entanto, prejudicado, em razão do provimento do recurso do INSS. O Juiz Janilson Bezerra de Siqueira, em voto oral, face à inexistência de regulamentação própria nas Leis 10.259/02 e 9.099/95, considerou que, sendo uma forma de adesão, tal recurso não precisa estar elencado na lei específica, bastando a previsão do recurso

220MARQUES, José Frederico. Manual de Direito Processual Civil, p. 255.221DIDIER JUNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo José Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil: Meios de impugnação às decisões judiciais e processo nos tribunais, p.86.222SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civi, p. 216.223 BRASIL. Tribunal Regional Federal da 5ª Região. Recurso n. 2004.84.13.000123-1, Turma Recursal do Rio Grande do Norte, Relator Almiro José da Rocha Lemos, DJ 25/03/2004. Disponível em: <www.trf1.jus.br>. Acesso em 22-10-2010.

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principal. Levantou ainda que o recurso adesivo atende à agilidade processual, na medida em que desestimula a interposição de recursos simultâneos, mesmo quando não presente o inconformismo […].

Por fim, apenas para exaurir as manifestações que envolvem a temática,

faz-se constar o item 64 do Provimento CSM n. 806/2003, que regulamenta os

Juizados Especiais em São Paulo, asseverando que compete ao Colégio Recursal

julgar em último ou único grau de jurisdição o recurso adesivo.

3.4 DO RECURSO ADESIVO FRENTE AOS PRINCÍPIOS INFORMADORES DOS

JUIZADOS ESPECIAIS

Consubstanciado nas opiniões doutrinárias, orientações jurisprudenciais e

enunciados dos Fóruns Nacionais dos Juizados Especiais Estaduais e Federais,

nota-se a relevante discussão que subsiste quanto à possibilidade do recurso

adesivo nos Juizados Especiais, até mesmo em respeito à harmonia teleológica e

principiológica dos dois institutos.

Sendo assim, reputa-se imprescindível expor os pormenores dos cinco

princípios norteadores dos Juizados Especiais – oralidade, simplicidade,

informalidade, economia processual e celeridade – e confrontá-los com possíveis

óbices ao manejo do recurso adesivo.

Pois bem. Em primeiro lugar, a respeito do princípio da oralidade, pouco há

a dizer. Isto porque, ao contrário da maioria dos atos processuais naquele

microssistema especial, o recurso inominado deve ser interposto em petição escrita,

mediante a mais pura dicção do artigo 42 da Lei n. 9.099/95.

Logo, quanto a este aspecto, não há que falar sobre eventual dissonância

entre os institutos, pois o procedimento inerente ao recurso adesivo apresenta-se

comum ao recurso principal previsto na Lei dos Juizados.

Quanto aos princípios da simplicidade e da informalidade, da mesma forma

não é visualizada qualquer incompatibilidade. Aliás, o que seria o recurso adesivo se

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não uma maneira “informal” de oportunizar o recurso da parte minimamente

sucumbente, refletido no preceito universal do acesso à justiça.

Ademais, infere-se que a simplicidade buscada nos Juizados Especiais não

é defrontada, senão até mesmo enaltecida, pela possível interposição do recurso

adesivo ao invés de dois recursos principais.

Vencidos esses três primeiros preceitos, sobre os quais, inclusive, não há

nenhuma ressalva doutrinária ou jurisprudencial, passa-se à prova do princípio da

economia processual.

Para tanto, relevante o posicionamento do ministro Luiz Fux ao exteriorizar

que “a adesão conspira em favor da economia processual e de uma conciliação por

meio de persuasão, porquanto uma parte pode desistir do recurso exatamente

porque a outra recorreu, atingindo a verdadeira finalidade do recurso adesivo”224.

Não obstante, escorando nas palavras da eminência citada, não foi possível

descobrir alguma oposição a respeito. Todavia, inovando, mister salientar que

especificamente à economia processual, não restam dúvidas sobre o seu alcance

pelo recurso adesivo.

Isto porque, adotando o ponto de vista prático, o simples ato de recorrer

adesivamente afeta o preceito em estima, na medida que constitui um ato

processual acrescentado. Ainda assim, sopesada a carga deste argumento, também

não revela-se justo encetar uma fortuita censura à possível simetria da economia

processual e o respectivo meio de impugnação.

Ora, da mesma forma que acrescenta um ato processual àquele método

primado pela agilidade, o manejo adesivo também impede que seja contraposto o

recurso principal, uma vez que os dois não podem existir ao mesmo tempo. Além

disso, a finalidade do recurso adesivo implica na redução dos recursos meramente

protelatórios ou desnecessários, indo ao encontro, neste ponto, da economia

processual.

Inspirado no que foi narrado, adentra-se ao princípio da celeridade. Acerca

deste, faz-se constar que existem posições jurisprudenciais sólidas trilhando o

caminho da incompatibilidade.

224Fux, Luiz. Manual dos Juizados Especiais Cíveis, Rio de Janeiro: Destaque, 1998, p. 64 apud SILVA, Wesley Ricardo Bento da. O Recurso Adesivo nos Juizados Especiais, p 59.

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Assim, antes de maiores esclarecimentos, colaciona-se o verbete da Súmula

n. 10 da Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Federais de Brasília/DF225,

in verbis: “O recurso adesivo, à mingua de previsão legal na legislação de regência

(Leis 9.099, de 26/09/95, e 10.259, de 12/07/01) e sendo incompatível com o

princípio da celeridade, não é admitido nos Juizados Especiais”226.

No mesmo sentido, registra-se a decisão da Segunda Turma de Recursos

de Blumenau/SC, na lavra do eminente relator Roberto Lepper:

Não se admite recurso adesivo nem pedido contraposto quando da apresentação das contra-razões recursais, porquanto o legislador autorizou apenas a possibilidade de interposição do recurso inominado (art. 41 da Lei nº 9.099/95) como forma de preservar, aos que postulam em juízo, o direito ao duplo grau de jurisdição, porém sem prejuízo da celeridade na prestação jurisdicional, que, aliás, é o que se espera deste procedimento propositalmente simplificado227.

Vê-se, portanto, robusta manifestação contrariando a aplicação do recurso

adesivo nos Juizados Especiais, patente a incompatibilidade com o princípio da

celeridade. Por sua vez, em sentido contrário, colaciona-se a proeminente doutrina

de Fredie Didier Júnior e Leonardo José Carneiro da Cunha, nos termos:

Embora não se concorde com a tese – que parte da falsa premissa de que o recurso adesivo é instituto que atenta contra a celeridade processual –, cumpre advertir que não se admite recurso inominado (Juizados Especiais) adesivo [...]228.

À vista dos posicionamentos divergentes, é possível constatar que a razão

não foge às duas direções. Se, por um lado, resta de fácil constatação o prejuízo à

celeridade do processo, pois, como visto, o recurso adesivo adiciona atos ao

procedimento; por outro, já foi possível constatar que o mesmo pode impedir o uso

procrastinatório em sede de Juizados Especiais.

225Súmula n. 10 da Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Federais de Brasília. DJ 31/10/2003. Disponível em: <www.trf1.jus.br>. Acesso em 22-10-2010.226Precedentes: Recurso Inominado n. 2002.34.00.705.931-5/DF, rel. Juíza Mônica Sifuentes, Sessão de 18/02/02 DJU de 24/01/03; Recurso Inominado n. 2003.34.00.709812-9/DF, rel. Juiz Marcus Vinícius, Sessão de 24/09/03, DJU de 10/10/03; Recurso Inominado n. 2003.34.00.709566-1/TO, rel. Juiz Rafael Paulo, Sessão de 03/09/03, DJU de 12/09/03. 227 BRASIL. Poder Judiciário de Santa Catarina. Apelação Cível n. 2007.200725-8, Relator Dr. Roberto Lepper, Segunda Turma de Recursos de Blumenau. DJ 26/03/2008. Disponível em: <www.tjsc.jus.br>. Acesso em 22-10-2010.228 DIDIER JUNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo José Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil: Meios de impugnação às decisões judiciais e processo nos tribunais, p.86.

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Efetivamente, é possível acentuar que a adoção da modalidade adesiva

incumbiria na intimação da parte que interpôs o recurso principal e a consequente

decorrência do prazo de 10 (dez) dias para que esta apresente as suas

contrarrazões. De outra banda, este já é o procedimento adotado quando ambas as

partes manejam recursos principais, o que então é permitido nos Juizados por

respeito ao duplo grau de jurisdição.

Sendo assim, o maior dispêndio temporâneo que o recurso adesivo pode

causar, pouco destoa do lapso gasto pela interposição simultânea dos recursos

inominados, razão pela qual, o prejuízo manifestado mostra-se mínimo perante a

benesse vedada.

Por fim, como se tanto não bastasse,

[...] a parte que estiver inclinada a aceitar o julgado caso o adversário também o faça, imbuída do animus rebus sic stantibus, pode aguardar sem sobressalto o decurso do prazo comum: sobrevindo o termo final sem que a outra parte impugne a decisão, esta passa em julgado e torna-se imune a qualquer modificação; se, ao contrário, a outra parte interpuser recurso e o processo houver de subir, por isso, ao grau superior de jurisdição, abre-se ainda ao litigante que de início se conservara inerte, e a despeito de já esgotado aquele prazo, a possibilidade de tentar obter do órgão ad quem pronunciamento que melhore a sua própria situação. Assim se evita a interposição precipitada do recurso pelo parcialmente 'vencido', graças à certeza, que se lhe proporciona, de que terá, caso queira, nova oportunidade de impugnar a decisão no que lhe interesse”229.

De qualquer forma, sabendo que o recurso adesivo é capaz de inibir tanto a

interposição de recursos que, na verdade, nenhuma das partes queria interpor,

quanto assegurar o direito de recorrer àquela que está suportando um recurso

meramente protelatório ou desnecessário, o aplicador do direito deve contrapesar

esta vertente com os interesses da economia processual e celeridade, de modo a

pendular pelo rumo que melhor atenda às necessidades dos Juizados Especiais,

das garantias fundamentais e, ainda, do efetivo acesso à justiça.

229 ORIONE NETO, Luiz. Recursos Cíveis: teoria geral, princípios fundamentais, dos recursos em espécie, tutela de urgência no âmbito recursal, da ordem dos processos no tribunal, p. 277.

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CONCLUSÃO

Como visto ao longo deste estudo, os Juizados Especiais figuram entre os

temas mais debatidos no meio jurídico brasileiro, na medida em que representam –

nas duas últimas décadas – uma importante manifestação na defesa do efetivo

acesso à justiça.

Não à toa, é possível constatar que à época da implementação dos Juizados

Especiais, o judiciário brasileiro já vinha sofrendo de graves problemas – alto custo

das demandas, morosidade nos procedimentos, congestionamento e desinformação

nos serviços da justiça – que lhe causavam certo descrédito na população.

Em decorrência dessas circunstâncias, tornou-se inevitável a adoção de

meios alternativos na solução dos litígios, empregando nas vias conciliatórias ou em

outros caminhos informais a crença pela resolução dos conflitos.

É nesse contexto que o desacreditado Poder Judiciário precisou reagir, e o

fez por meio da criação dos Juizados Especiais de Pequenas Causas, sendo, mais

tarde, conhecido por Juizados Especiais.

Por oportuno, denota-se que os Juizados Especiais não representam apenas

um simples rito a ser cumprido pelos juízes, mas um novo órgão judicante primado

pelo acesso à justiça das classes menos favorecidas em harmonia com uma célere

e segura prestação jurisdicional.

Aliás, outra não é a tendência atual, pois ambos os ideais de efetividade e

celeridade – esta última recentemente elevada à garantia constitucional expressa

pela Emenda Complementar n. 45/2004 –, orientam as mais recentes reformas

processuais no universo forense nacional.

Por outro lado, é certo que a opção por um procedimento simplificado tende

a suprimir certos mecanismos adotados na justiça comum, inclusive, aqueles que

não são responsáveis diretamente pelo entrave do Judiciário.

Nesse particular, constata-se que o legislador, ao promover os Juizados

Especiais, procurou tornar simples e fácil o funcionamento recursal, de modo a

reduzir em apenas duas as impugnações previstas, quais sejam, o recurso

“inominado” e os embargos de declaração.

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Contudo, a iniciativa proibitiva não foi aprovada por boa gama da doutrina

pátria, eis que, em parte, estaria sendo tolhido o preceito do duplo grau de

jurisdição. Por conseqüência, tem-se visto a admissão de novos recursos no âmbito

dos Juizados Especiais, como por exemplo, o recurso extraordinário e o agravo.

Nessa vereda, encontra-se o problema da temática em apreço. Ou seja,

caberia recurso adesivo nos processos de competência dos Juizados Especiais

Cíveis, mesmo que ausente qualquer previsão legal?

Pois bem. O resultado obtido na pesquisa deflagrada aponta para uma

resposta positiva, ainda que as decisões judiciais, em sua esmagadora maioria,

afirmem o contrário.

Isto porque, o principal argumento usado na jurisprudência – encabeçado

pelos enunciados 88 do FONAJE e 59 do FONAJEF – apresenta-se

demasiadamente frágil e simplista.

Ora, se não há previsão legal quanto ao cabimento do recurso adesivo, da

mesma forma não existe qualquer vedação legal. Destarte, não sendo vedado, mas

apenas ausente a previsão, poderia ser aplicado o atual Código de Processo Civil

para preencher esta lacuna, na mais pura sobreposição de um macrossistema ao

seu microssistema.

Assim, vê-se que não estaria sendo confrontada a essência dos Juizados

Especiais, mas apenas os enunciados emanados por grupos de Magistrados que

compõem as mesas diretoras dos Fóruns dos Juizados Especiais, os quais, diga-se

de passagem, pouca vinculação normativa possuem.

Aliás, neste ponto, é possível observar situações semelhantes administradas

com mais determinação pelos Juizados Especiais. É o caso, por exemplo, da

expressa inadmissibilidade da reconvenção (artigo 31 da Lei n. 9.099/95), que,

todavia, a mesma lei tratou de formular um pedido contraposto que muito se

assemelha àquele mecanismo, com a ressalva de que é feito na peça contestatória.

De outra forma, não poderia deixar de existir a indagação do porquê não foi

aplicada a mesma regra ao recurso adesivo. Ou seja, uma vez constatado que a

insurgência adesiva não confronta o procedimento dos Juizados, qual seria o

impedimento em ser criado um mecanismo semelhante, talvez, até manifestado nas

próprias contrarrazões do recurso principal?

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É por este motivo que o emprego do recurso adesivo, funcionalidade útil ao

acesso à justiça, não pode ser desmerecido, como está ocorrendo, sob o simples

fundamento da ausência de previsão legal.

Como se tanto não bastasse, vê-se que os dois institutos coadunam-se

harmoniosamente tanto em princípios como finalidades. Isto porque, assim como os

Juizados Especiais, a modalidade adesiva – instituída pelo Código de Processo Civil

de 1973 – foi insculpida na necessidade de dar vazão aos recursos protelatórios e

desnecessários que invadiam o judiciário, em arrimo à celeridade, economia e

efetividade processuais.

Por consectário, a admissão do recurso adesivo representaria um

mecanismo a mais nos objetivos principais dos Juizados Especiais, nos exatos

termos de que recomendaria a inércia da parte sucumbente, pois esta ainda estaria

resguardada da aplicação adesiva. Outrossim, estar-se-ia incentivando o

conformismo das partes quanto aos termos da decisão e, ao mesmo tempo,

salvaguardando o direito da parte que deixou de recorrer em consentimento com a

celeridade da justiça.

Ora, não sendo possível interpor-se o recurso adesivo, aquele que a

princípio aceitaria a sentença acabará interpondo recurso principal, com receio de

que a outra parte também o faça. Assim, acaba incentivando a litigiosidade, fazendo

com que prossiga um processo que já poderia ter chegado ao seu termo final, mas

que agora poderá ter dois recursos manejados.

Portanto, à vista das hipóteses levantadas no corpo deste trabalho, traçando

a origem e os princípios norteadores dos Juizados Especiais, bem como a natureza

jurídica e os princípios informadores do recurso adesivo. Delimitados e confrontados

os respectivos conceitos, e, por fim, aplicados os conhecimentos absorvidos nas

razões das decisões judiciais e na fundamentação doutrinária específica, não pode

ser outra a conclusão, senão a possibilidade de interposição do recurso adesivo nos

Juizados Especiais Cíveis, tanto a nível estadual como federal.

Por todo o exposto, infere-se que, mais uma vez, na ânsia de tolher direitos

recursais com o fim de agilizar o processo, o legislador não atentou para a própria

concepção de efetividade, bem como para o aspecto essencial do devido processo

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legal, os quais devem orientá-lo na adequação para a realização do acesso à justiça

que deve ocorrer de maneira plena, efetiva e segura.

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