a tribuna 16 fev 2014

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Economia VITÓRIA, ES, DOMINGO, 23 DE FEVEREIRO DE 2014 ATRIBUNA 37 ANÁLISE “Escassez de mão de obra técnica tornou a carreira valorizada” “As empresas reclamam da falta de mão de obra qualificada em po- sições técnicas. Logo, quando o ce- nário é de mais oferta de vagas que quantidade de profissionais é natu- ral que haja inflação salarial. Há alguns anos, o curso técnico era mais difundido e havia maior disponibilidade de profissionais. Hoje, mais pessoas optam pela for- mação superior. No entanto, o profissional deve ficar atento, pois há carreiras téc- nicas cuja remuneração pode ser maior que a do profissional com formação superior, isso é uma que- bra de paradigma. Não quer dizer que o salário de quem tem formação superior decli- nou, mas que a escassez de mão de obra técnica tornou a carreira mais valorizada. Principalmente no caso de técnicos com conhecimento que leva tempo para ser dominado. As vantagens vão além do salário e passam por auxílio-idioma, for- mação técnica aprofundada e até desenvolvimento de coaching e gestão, além de um bom clima or- ganizacional.” Ricardo Haag, gerente executivo da Page Personnel Busca começa nas salas de aula Quem escolhe fazer curso técni- co já está sendo observado pelas empresas a partir do primeiro dia de aula, tamanha é a necessidade de contratar trabalhadores qualifi- cados no Estado. O assessor para Implantação de Polos de Inovação do Instituto Fe- deral do Espírito Santo (Ifes), Ta- deu Pissinati, explicou que isso ocorre quando há maior aqueci- mento da demanda industrial. E, apesar de haver certa retração do setor no momento, as empresas continuam buscando futuros em- pregados nas salas de aula. Ele citou o exemplo do Estaleiro Jurong Aracruz, cuja parceria com o Ifes ele coordena. “Não à toa a Jurong busca estudantes que pos- teriormente são contratados como trainees”, frisou. Entre os atrativos para os futu- ros profissionais estão programa de carreira e até mesmo oportuni- dades de viajar para o exterior. A gerente de RH do Estaleiro Jurong Aracruz, Lucila Lopes, in- formou que os técnicos recém-for- mados fazem treinamento de mais de um ano em Tecnologia Naval e Oceânica no Instituto Ngee Ann, em Cingapura, no Sudeste da Ásia, onde fica a sede do grupo, e depois são contratados como trainees. Segundo Lucila, a companhia já enviou 23 recém-formados no ano passado, que retornam em breve. No mês passado, outros 27 embar- caram para Cingapura. “Como a demanda é muito espe- cializada, a empresa precisa ter um programa de formação de es- pecialistas. Quando eles voltam do exterior vão para nichos mais es- pecializados”, afirmou Pissinati. O QUE FALTA NO MERCADO > PESQUISA do Man- power Group com 40 mil empresários em 42 países mostrou que os técnicos estão em 1º lugar entre as 10 posições mais difíceis de preencher no País. > 54% dizem que a falta de talentos afeta a ca- pacidade de atender seus clientes. MERCADO DE TRABALHO Reajuste garantido de até 15% por ano P rofissionais que dão resulta- dos são o que esperam as empresas quando contra- tam. Mas para mantê-los, elas têm que usar a criatividade. Na construtora Lorenge, por exemplo, a cada ano, parte dos em- pregados pode receber aumentos salariais entre 5% e 15%, de acordo com o desempenho, medido pela avaliação por competências, e com a remuneração do mercado. O diretor de Administração e Gestão de Pessoas da empresa, Nilson Silva, avaliou que apesar de o mercado de construção civil ter passado por um momento de “bo- om”, com muitos projetos sendo lançados e muitas contratações por empresas nacionais, ainda não é fácil conseguir trabalhadores es- pecializados. “Com a saída de construtoras de outros estados que atuavam aqui e que eram bem agressivas com a questão do salário, conseguimos ter mais mão de obra, mas não quer dizer que estão sobrando profissionais”, frisou. Para motivar os trabalhadores, a promoção é um meio eficaz. O mé- todo na Lorenge é o seguinte: no mês de novembro, é feita uma ava- liação do empregado e é identifi- cada alguma competência que ele precisa melhorar. Em agosto do ano seguinte, ele volta a ser avalia- do para saber o que melhorou. “Se tiver nota acima de 80% é candi- dato a um aumento salarial que vai de 5% a 15%”, explicou Silva. Ele salientou, porém, que ape- nas o salário não segura o empre- gado. “O trabalhador precisa ser valorizado no salário, mas também deve ser cuidado em sua saúde. O salário é motivador, mas não é o DIVULGAÇÃO EWANDRO PETROCCHI explicou que uma das estratégias usadas pelas empresas é contratar como estagiário O que as empresas oferecem para fisgar os profissionais DIVULGAÇÃO LUCILA: treinamento em Cingapura Pesquisa da Fundação Dom Ca- bral mostrou que 93,41% DAS 167 EMPRESAS ENTREVISTA- DAS oferecem algum benefício para reter profissionais. Dessas, 87,04% oferecem as- sistência médica e odontoló- gica; 61,11%, previdência pri- vada e 50% salário variável. O governo do Estado calcula que para as obras dos novos projetos que vão chegar ao Estado até 2017, serão necessários 23.900 NO- VOS PROFISSIONAIS com conhecimento especializado. AUXÍLIO PARA aprender idiomas, principalmente o inglês. DESENVOLVIMENTO de coaching, ou seja, treinamento em gestão de pessoas. PLANO DE CARGOS e salários. BOLSA de estudos de nível superior. CURSOS fora do Estado. PROMOÇÃO ANUAL com aumento entre 5% e 15% extra no salário. REMUNERAÇÃO específica atrelada a resultado ou projeto específico. VIAGENS para fora do País. CRESCIMENTO horizontal. 7 milhões de técnicos é a quantidade que o Brasil terá de formar até 2015 para atender a necessidade da indústria, como mostrou pesquisa do Senai. Empresários recla- mam que faltam no mercado técnicos em mecânica, construção civil, eletrotécnica, au- tomação industrial, portos, petróleo e gás, extração mineral, ali- mentos, em adminis- tração, segurança do trabalho, entre outros. Uma pesquisa da Fundação Dom Cabral mostrou que: 91% dos 167 empre- sários entrevis- tados têm difi- culdades em contratar profis- sionais. 65,27% têm dificuldade de contratar profissionais de nível técnico. 83,23% das empresas dizem faltar profissionais capacitados. 47,31% têm dificuldade para contratar profissionais para a produção e 36,53% para a área de logística. 50,62% dos empregado- res apontam as posições técni- cas como as de qualificação mais precária. 71,26% dos empresários entrevistados afirmam faltar formação espe- cífica. Fonte: grupo Intermediação Massiva de Mão-de-Obra (IMMO), Fundação Dom Cabral, Senai, Manpower Group e especialistas entrevistados. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 PROCURADOS JUSSARA MARTINS - 11/02/2011 CURSO de Eletrotécnica: alta procura principal”, destacou Silva. Por isso, além de benefícios bási- cos, como alimentação e assistên- cia médica, muitas empresas ofe- recem plano de participação nos resultados e ajuda de custo de até 50% para o trabalhador pagar os estudos, como explicou o gerente de Recursos Humanos da Bertoli- ni, Alexandre Michelin. O presidente do Centro de De- senvolvimento Metalmecânico (Cedmec), o empresário Antônio Falcão, destacou que apesar de oferecer atrativos não é possível garantir a permanência do traba- lhador. “O empresário sabe que o mercado é dinâmico”, frisou. Para tentar segurar o profis- sional, o gerente do Senai Vitó- ria, Ewandro Petrocchi, contou que a estratégia é contratar co- mo estagiário. “Mas só isso não resolve. Por isso, as empresas oferecem participação em lucro e treinamentos, entre outras vantagens.” O trabalhador precisa ser valorizado no salário, mas também deve ser cuidado em sua saúde Nilson Silva, diretor de Administração e Gestão de Pessoas da Lorenge

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Page 1: A tribuna 16 fev 2014

Ec o n o m i a

VITÓRIA, ES, DOMINGO, 23 DE FEVEREIRO DE 2014 ATRIBUNA 37

ANÁLISE

“Escassez de mão deobra técnica tornoua carreira valorizada”

“As empresas reclamam da faltade mão de obra qualificada em po-sições técnicas. Logo, quando o ce-nário é de mais oferta de vagas quequantidade de profissionais é natu-ral que haja inflação salarial.

Há alguns anos, o curso técnicoera mais difundido e havia maiordisponibilidade de profissionais.Hoje, mais pessoas optam pela for-mação superior.

No entanto, o profissional deveficar atento, pois há carreiras téc-nicas cuja remuneração pode sermaior que a do profissional com

formação superior, isso é uma que-bra de paradigma.

Não quer dizer que o salário dequem tem formação superior decli-nou, mas que a escassez de mão deobra técnica tornou a carreira maisvalorizada. Principalmente no casode técnicos com conhecimento queleva tempo para ser dominado.

As vantagens vão além do salárioe passam por auxílio-idioma, for-mação técnica aprofundada e atédesenvolvimento de coaching egestão, além de um bom clima or-ga n i z a c i o n a l . ”

Ricardo Haag,gerente executivo

da Page Personnel

Busca começa nas salas de aulaQuem escolhe fazer curso técni-

co já está sendo observado pelasempresas a partir do primeiro diade aula, tamanha é a necessidadede contratar trabalhadores qualifi-cados no Estado.

O assessor para Implantação dePolos de Inovação do Instituto Fe-deral do Espírito Santo (Ifes), Ta-deu Pissinati, explicou que issoocorre quando há maior aqueci-mento da demanda industrial. E,apesar de haver certa retração dosetor no momento, as empresascontinuam buscando futuros em-pregados nas salas de aula.

Ele citou o exemplo do EstaleiroJurong Aracruz, cuja parceria como Ifes ele coordena. “Não à toa aJurong busca estudantes que pos-

teriormente são contratados comot ra i n e e s ”, frisou.

Entre os atrativos para os futu-ros profissionais estão programade carreira e até mesmo oportuni-dades de viajar para o exterior.

A gerente de RH do EstaleiroJurong Aracruz, Lucila Lopes, in-formou que os técnicos recém-for-mados fazem treinamento de maisde um ano em Tecnologia Naval eOceânica no Instituto Ngee Ann,em Cingapura, no Sudeste da Ásia,onde fica a sede do grupo, e depoissão contratados como trainees.

Segundo Lucila, a companhia jáenviou 23 recém-formados no anopassado, que retornam em breve.No mês passado, outros 27 embar-caram para Cingapura.

“Como a demanda é muito espe-cializada, a empresa precisa terum programa de formação de es-pecialistas. Quando eles voltam doexterior vão para nichos mais es-pecializados”, afirmou Pissinati.

O QUE FALTA NO MERCADO

> PESQUISA do Man-power Group com 40mil empresários em42 países mostrouque os técnicos estãoem 1º lugar entre as 10posições mais difíceisde preencher no País.

> 54% dizem que a faltade talentos afeta a ca-pacidade de atenderseus clientes.

MERCADO DE TRABALHO

Reajuste garantidode até 15% por anoProfissionais que dão resulta-

dos são o que esperam asempresas quando contra-

tam. Mas para mantê-los, elas têmque usar a criatividade.

Na construtora Lorenge, porexemplo, a cada ano, parte dos em-pregados pode receber aumentossalariais entre 5% e 15%, de acordocom o desempenho, medido pelaavaliação por competências, e coma remuneração do mercado.

O diretor de Administração eGestão de Pessoas da empresa,Nilson Silva, avaliou que apesar deo mercado de construção civil terpassado por um momento de “bo -o m”, com muitos projetos sendo

lançados e muitas contrataçõespor empresas nacionais, ainda nãoé fácil conseguir trabalhadores es-p e c i a l i z a d o s.

“Com a saída de construtoras deoutros estados que atuavam aqui eque eram bem agressivas com aquestão do salário, conseguimoster mais mão de obra, mas nãoquer dizer que estão sobrandop ro f i s s i o n a i s ”, frisou.

Para motivar os trabalhadores, apromoção é um meio eficaz. O mé-todo na Lorenge é o seguinte: nomês de novembro, é feita uma ava-liação do empregado e é identifi-cada alguma competência que eleprecisa melhorar. Em agosto doano seguinte, ele volta a ser avalia-do para saber o que melhorou. “Setiver nota acima de 80% é candi-dato a um aumento salarial que vaide 5% a 15%”, explicou Silva.

Ele salientou, porém, que ape-nas o salário não segura o empre-gado. “O trabalhador precisa servalorizado no salário, mas tambémdeve ser cuidado em sua saúde. Osalário é motivador, mas não é o

D I V U LG AÇ ÃO

EWANDRO PETROCCHI explicou que uma das estratégias usadas pelas empresas é contratar como estagiário

O que as empresas oferecem parafisgar os profissionais

D I V U LG AÇ ÃO

LUCILA : treinamento em Cingapura

Pesquisa da Fundação Dom Ca-bral mostrou que 93,41% DA S167 EMPRESAS ENTREVISTA-DAS oferecem algum benefíciopara reter profissionais.

Dessas, 87,04% oferecem as -sistência médica e odontoló-gica; 61,11%, previdência pri-vada e 50% salário variável.

O governo do Estado calcula que para as obras dos novos projetosque vão chegar ao Estado até 2017, serão necessários 23.900 NO -VOS PROFISSIONAIS com conhecimento especializado.

AUXÍLIO PARA aprenderidiomas, principalmente oinglês.DESENVOLVIMENTO decoaching, ou seja,treinamento em gestão dep e ss o a s .PLANO DE CARGOS e salários.BOLSA de estudos de nívels u p e r i o r.

CURSOS fora do Estado.PROMOÇÃO ANUAL comaumento entre 5% e 15%extra no salário.REMUNERAÇÃO específicaatrelada a resultado ouprojeto específico.VIAGENS para fora doPa í s .CRESCIMENTO h o r i z o n ta l .

7 milhõesde técnicos

é a quantidade que oBrasil terá de formar

até 2015 para atendera necessidade daindústria, como

mostrou pesquisa doSe n a i .

Empresários recla -mam que faltam nomercado técnicos emmecânica, construçãocivil, eletrotécnica, au-tomação industrial,portos, petróleo e gás,extração mineral, ali-mentos, em adminis-tração, segurança dotrabalho, entre outros.

Uma pesquisa da Fundação Dom Cabral mostrou que:9 1%dos 167 empre-sários entrevis-tados têm difi-culdades emcontratar profis-sionais.

65, 27 %têm dificuldadede contratarprofissionais denível técnico.

8 3, 2 3 %das empresasdizem faltarp r o f i ss i o n a i sc a p a c i ta d o s .

47, 3 1%têm dificuldade paracontratar profissionaispara a produção e

36,53% para aárea de logística.

50, 6 2 %dos empregado-res apontam asposições técni-cas como as dequalificaçãomais precária.

7 1 , 2 6%dos empresáriose n t r ev i s ta d o safirmam faltarformação espe-cífica.

Fonte: grupo Intermediação Massiva de Mão-de-Obra (IMMO), Fundação Dom Cabral, Senai, Manpower Group e especialistas entrevistados.

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PROCURADOSJUSSARA MARTINS - 11/02/2011

CURSO de Eletrotécnica: alta procura

principal”, destacou Silva.Por isso, além de benefícios bási-

cos, como alimentação e assistên-cia médica, muitas empresas ofe-recem plano de participação nosresultados e ajuda de custo de até50% para o trabalhador pagar osestudos, como explicou o gerentede Recursos Humanos da Bertoli-

ni, Alexandre Michelin.O presidente do Centro de De-

senvolvimento Metalmecânico(Cedmec), o empresário AntônioFalcão, destacou que apesar deoferecer atrativos não é possívelgarantir a permanência do traba-lhador. “O empresário sabe que omercado é dinâmico”, frisou.

Para tentar segurar o profis-sional, o gerente do Senai Vitó-ria, Ewandro Petrocchi, contouque a estratégia é contratar co-mo estagiário. “Mas só isso nãoresolve. Por isso, as empresasoferecem participação em lucroe treinamentos, entre outrasva n t a g e n s.”

“O trabalhadorprecisa ser

valorizado no salário,mas também deve sercuidado em sua saúde”Nilson Silva, diretor de Administração eGestão de Pessoas da Lorenge