a trajetoria de um coronel negro no nordeste brasileiro
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A TRAJETORIA DE UM CORONEL NEGRO NO NORDESTE BRASILEIRO (1864 – 1919): POSSIBILIDADES DE ESTUDOS BIOGRAFICOS
1. quem e onde: o personagem e seu cenário
Francisco Dias Coelho, nasceu em 1864, na fazenda Gurgalha, uma das
propriedades pertencentes ao Coronel Quintino Soares da Rocha e sua esposa Umbelina
Adelaide de Miranda, então o mandatário da vila e seguramente o mais poderoso
proprietário de terras da região.
A dita propriedade tinha uma extensão de 17.000 hectares, ainda assim, era apenas
mais uma das muitas propriedades do casal Soares da Rocha. Situada próximo à vila de
Nossa Senhora da Graça de Morro do Chapéu, na zona da Chapada Diamantina, centro
norte da Bahia. Desde o fins do século XIX, essa área era o ponto de ligação entre as
principais áreas produtoras da Bahia. Como zona intermediaria, estava no caminho das
principais rotas da economia baiana, duas delas merecem menção neste momento.
A primeira se iniciava no extremo noroeste, região conhecida como Sertão do São
Francisco, assim denominada por se localizar às margens do rio com mesmo nome, que
vem a ser o segundo maior do Brasil, perdendo em extensão somente para o Rio
Amazonas, mas que percorre todo o semiárido brasileiro, atravessando quase todos os
Estados nordestinos. Durante o período colonial foi de extrema importância, pois tanto
servia de caminho para se adentrar aos sertões, como era fonte de água perene foi
determinante para a fixação de populações e rebanhos no interior do Brasil, partindo do
litoral do Nordeste. Esta era a mais importante rota de transporte de gado das províncias
interiores de Goiás e Piauí para o litoral baiano, atravessando todo a Bahia no sentido oeste
- leste. Essa rota de transporte de gado permaneceu ativa ate o inicio do século XX.
A segunda se refere ao caminho entre duas importantes áreas de mineração de ouro
e diamantes, a zona da Serra da Jacobina, em pleno sertão baiano e a zona mineira das
Minas Gerais, que desde o século XVII, atraíram um grande contingente populacional.
Neste caso a região, a ligação era efetivada pela Estrada Real, que cortava toda a o sertão
atravessando praticamente toda a Bahia no sentido norte – sul, passava por toda a Chapada
Diamantina e chegava à vila de Rio de Contas no Sudoeste, e daí ligava a região das Minas
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Gerais, que era a principal região produtora de ouro para o Brasil da época. Essa estrada
tinha um grande importância estratégica para o governo colonial português e permanece
ativa por algum tempo mesmo depois da independência do Brasil. Ainda na colônia, a
coroa portuguesa estabeleceu postos de fiscalização e casas de fundição de ouro com o selo
da coroa portuguesa nas extremidades e no meio da rota, na tentativa de melhor controlar o
comercio de ouro e pedras preciosas, e também como maneira e melhorar a cobrança de
impostos sobre mercadorias e animais transportados pela estrada que nesta época ligava as
duas zonas mais densamente povoadas do Brasil.
Assim, a localização da fazenda era privilegiada, por estar localizada no
cruzamento de duas das mais vias importantes de transporte de gado e mercadorias tanto
para o litoral da Bahia, onde estava localizada a sede administrativa da Província e o seu
maior contingente populacional1. Embora no litoral, principalmente na zona conhecida
como Recôncavo Baiano, estivessem as terras consideradas mais férteis da Bahia, a
produção em larga escala para o consumo interno estava prejudicada pela monocultura
agroexportadora de cana de açúcar. Aliada a uma proibição que vigorava desde os tempos
colônias de não se poder praticar a pecuária a menos de dez léguas da costa, com a quase
exclusividade para cultura canavieira, intensificando a necessidade de farinha de mandioca
e carne que eram produzidas nos sertões.
Mesmo decadente durante quase todo o século XIX, a produção açucareira,
garantia riqueza e influência política, sendo os seus maiores produtores também os mais
influentes políticos. Entretanto, a decadência econômica e o crescimento econômico de
outros produtos na pauta de exportação baiana também favorecia o crescimento de uma
nova elite advinda do sertão que paulatinamente ascendia no cenário político baiano, na
mesma medida em que as elites litorâneas decaiam.
A outra rota que dava importância a Gurgalha era a estrada Real, construída desde
fins do século XVIII, ligava duas importantes zonas mineradoras do Brasil. Desde o
surgimento da atividade mineradora de ouro na vila de Santo Antônio da Jacobina, Sertão
da Bahia, e de diamantes nas Minas do Rio de Contas extremo sudoeste baiano e
importante entreposto para as Minas Gerais, a área aurífera mais produtiva do Brasil na
época. Essas três zonas atraíram em pouco tempo um grande afluxo populacional, e com
1 O termo província será utilizado no texto para se referia a região ate o ano de 1889, quando o Brasil passou de Monarquia à República assumindo o modelo federativo, a partir de então as províncias passaram a ser Estados Federados dos Estados Unidos do Brasil.
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isso, demandou uma enorme quantidade de alimentos principalmente os também
consumidos no Recôncavo, a exemplo da farinha de mandioca e carne, tornando-se assim,
outro polo consumidor de bovinos que eram transportados majoritariamente pela Chapada
Diamantina e que tinha em Morro do Chapéu um dos principais entrepostos, tanto de
passagem quanto de cria e engorda de animais.
No ano de 1864, a vila de Morro do Chapéu não demonstrava a mesma pujança
econômica que a região tinha para a província da Bahia. Embora sua economia não se
restringisse somente à pecuária, uma vez que os diamantes foram oficialmente descobertos
na Chapada Diamantina em 1841, o comercio de gado bovino e muar, continuava a ditar a
tônica da economia local, ate a década de oitenta do século XIX, quando as secas e as
propriedades industriais do carbonado – sub produto do diamante – modificaram por
completo as relações econômicas e sociais da região.
A dita fazenda refletia a realidade dos latifúndios dedicados à pecuária na Chapada
Diamantina. Os seus proprietários não eram somente donos de terras, a eles também
pertenciam animais e gente. Os documentos cartoriais apontam que Quintino Soares da
Rocha e sua esposa eram proprietários de muitos animais, entre bovinos, equinos e muares,
mesmo que o inventário post mortem do Coronel de sua esposa não aponte um plantel
muito grande de animais. Isso pode ser explicado com o cruzamento das fontes cartoriais
com os relatos de compra e venta e pagamentos de registros de impostos da
municipalidade. Com o comércio intenso de animais, com exceção de momentos e crise no
consumo ou transporte, a fazenda não mantinha um plantel alto, em momentos de
tranquilidade a quantidade de animais mantidos na propriedade estava sempre abaixo da
capacidade total da terra para melhor aproveitamento das pastagens e da disponibilidade de
água. Essa quantidade poderia ser ainda menor nos momentos de secas, que ocorriam com
certa frequência no nordeste Brasileiro.
Tal qual as outras fazendas da região, a Gurgalha também apresentava uma
diversidades de pessoas que a habitava, cultivavam ou nela pastoreavam animais,
submetidos ao poder do seu proprietário numa relação de paternalismo, que para E.P.
Thompson, não somente se caracterizava por uma relação vertical, mas de certa maneira
horizontalizada onde os subalternos também manifestavam os seus interesses e
negociavam a sua fidelidade (Thompson, 1998).
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Pessoas de diferentes origens e condições sociais viviam nas fazendas da Chapada
Diamantina, conviviam brancos pobres, negros que nunca conheceram o cativeiro, ex-
escravos livres e escravos, formaram famílias e se mesclaram entre si, na Gurgalha haviam
famílias brancas mestiças e negras e mais importante, haviam também famílias escravas.
Assim, o coronel Quintino Soares da Rocha era senhor de famílias escravas e comandava
outro tanto de agregados, cujas condições de vida não se diferenciava muito das famílias
de cativos. Os inventários dão noticia que mais de oitenta escravos foram sua propriedade
durante o tempo em que permaneceu como proprietário da fazenda isto é de 1840 até 1880,
data da sua morte e apenas oito anos antes da abolição da escravatura brasileira.
A forma mais comum de exploração do trabalho dos agregados por parte dos
proprietários no nordeste do Brasil era a meação. Nas fazendas de gado da Chapada
Diamantina, o sistema de meação funcionava basicamente na criação do gado, ou seja, o
proprietário destinava uma gleba de terra para uma família de agregados, e esta ficaria
responsável pela a criação de uma boiada que variava entre 100 e 300 animais. Ao final do
período estipulado, inicialmente por um período de quatro anos, depois anualmente, o
agregado pagaria com gado o tempo em que permaneceu. Esse pagamento era chamado de
sorte, quando todos os animais acima de um ano eram presos no curral da sede da fazenda
e feita a partilha, quando o agregado tinha direito a um dentre quatro animais. (Prado Jr.,
1976)
Esta forma de contrato por um lado oferecia às famílias de agregados,
principalmente se fosse uma família escrava, uma mobilidade muito grande, pois poderiam
movimentar-se livremente pelas fazenda, comercializar excedentes de produtos agrícolas e
pequenos animais destinado ao sustento da casa. Por outro lado, estabelecia um vinculo
muito forte com o proprietário. O contrato que era apenas verbal, poderia ser rompido
unilateralmente por parte do fazendeiro, e este também poderia ter preferencia na venda os
animais dos agregados, o que caracterizava um vinculo de dependência financeira e de
solidariedade muito forte, ficando enfraquecido sempre o agregado.
O sistema de meação também criava anomalias dentro do escravismo. O vaqueiro
que era o individuo responsável pelo trato com o gado e que também era o pai da família
agregada com que o contrato era estabelecido, poderia e não raras vezes foi um escravo,
que poderia ter como auxiliares, denominados fábricas, seus próprios filhos ou
trabalhadores avulsos, oriundos da fazenda ou de outros lugares vizinhos. No caso de um
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vaqueiro escravo, poderia ter sob o seu comando fábricas livres, e não poucas vezes
brancos. Não foi encontrada na documentação nenhum mal estar entre escravos vaqueiros
e fábricas livres. Isso também foi relatado na historiografia sobre a escravidão no Brasil.
2. a família e o nascimento de Dias Coelho
O Francisco Dias Coelho, nasceu em três de dezembro de 1864, na mesma fazenda
Gurgalha acima descrita. Seu nascimento coincidiu com a emancipação da Paroquia de
Nossa Senhora da Graça de Morro do Chapéu, iniciando um novo município se
desmembrando da Vila de Santo Antônio da Jacobina, antes do desmembramento, era um
dos cinco municípios da Bahia. Nesta época, a divisão territorial, administrativa e
judiciária do Brasil seguia parelha com a divisão territorial eclesiásticas, assim, o
desmembramento de uma paróquia também era seguido da criação de um novo município
e posteriormente de uma nova comarca judicial.
Suas raízes estavam arraigadas nos mais baixos estratos da sociedade. Dias Coelho era
descendente de duas famílias de agregados daquela fazenda. Era filho de Quintino e Maria
da Conceição Dias Coelho. As duas famílias de onde vieram os pais de Dias Coelho
tinham em comum o fato de serem negros e agregados do Coronel Quintino Soares da
Rocha. No entanto, se diferenciavam na condição social e na hierarquia que ocupavam
entre os agregados da fazenda.
Os pais de Quintino Dias Coelho, ou seja, a família paterna, segundo os livros
cartoriais e eclesiásticos dos arquivos locais, a saber, Simão e Ezalta Dias Coelho, apesar
de negros nunca foram escravos, eram agregados da fazenda Gurgalha desde antes dessa
ser comprada pelo casal Soares da Rocha, permanecendo nela ate o seus respectivos óbitos.
Tiveram seis filhos e conseguiram comprar uma pequena propriedade nas margens da
fazenda . mesmo que a condição de pequenos proprietários não lhes conferisse total
independência com relação à fazenda de onde continuaram sendo agregados, se
diferenciavam dos demais agregados por terem uma possibilidade maior de renda.
O casal também mantinha boas relações com os proprietários. Seus filhos foram
afilhados de batismo e casamento dos proprietários ou de parentes próximos, sendo que um
deles, Quintino Dias Coelho, recebeu o mesmo nome e era afilhado do coronel Quintino
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Soares da Rocha, demonstrando a relação de afinidade, e de proteção que existia entre os
proprietários e algumas famílias de agregados no sertão da Bahia.
O lado materno passou pela escravidão, e como também era comum a muitos casais de
escravos e libertos em situação semelhante no sertão baiano, formaram uma família,
compraram as suas liberdades com o trabalho na pecuária e permaneceram como
agregados na fazenda onde sempre viveram.
O avô materno, José Gomes de Araújo era africano, chegou ao Brasil na condição de
escravo ainda muito jovem, com cerca de onze anos de idade, em 1824, quando foi
comprado pelo padre Francisco Gomes de Araújo. Ambos, senhor e escravo foram viver na
Chapada Diamantina a partir de 1838, após a instalação da Paroquia de Nossa Senhora da
Graça de Morro do Chapéu, onde o seu amo foi o primeiro pároco.
José conheceu sua esposa no cativeiro da Fazenda Gurgalha, onde acumulava as
funções de tratador de animais da paroquia com a de vaqueiro e meeiro para o Coronel
Quintino, até o ano de 1848, quando comprou a sua liberdade. Viveu amasiado com
Andrezza Maria do Espírito Santo, de quem comprou a liberdade e manteve como sua
propriedade até se casarem em 1853. Deste matrimonio nasceram três filhos, dentre eles
Maria da Conceição, a mãe de Francisco Dias Coelho.
É provável que José tenha sido beneficiado com a mudança econômica que houve na
Chapada Diamantina a partir de 1841, com a descoberta de diamantes na região. Além dos
agregados, que em sue tempo livre na lida com o gado também garimpavam, vieram para a
região um grande contingente de migrantes, advindos de outras regiões da província ou de
outros lugares do Brasil. Com isso, a população da pequena vila de Morro do Chapéu teve
um crescimento expressivo. Em 1836, os habitantes da paroquia foram estimados em 1669,
sendo que destes 1465 eram livre, 23 libertos e 181 escravos. Dentro deste último grupo,
39 eram africanos e 142 criolos. José estava entre os trinta e nove africanos listados no
censo (Vieira Filho, 2006). O crescimento populacional continuou forte em todo século
XIX. No ano de 1856, outro censo foi realizado e a população saltou para 9190 habitantes.
Sendo que 8450 eram livres e 740 pessoas eram escravas. Mesmo com o imenso
crescimento da população escrava, o crescimento foi muito menor que o numero de livres,
infelizmente o censo não indica quantos destes eram nascidos livres (brancos, negros ou
mestiços), e quantos eram egressos da escravidão, também houve um crescimento do
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número de compra de liberdades por parte dos escravos da região, demonstrando que a
mineração era uma das possibilidades de acumulo pecuniário, para a compra da liberdade.
Quando se casaram e formaram a sua família nuclear, Quintino e Maria da Conceição
Dias Coelho continuaram vivendo muito próximos aos seus parentes, como agregados na
fazenda onde nasceram, e faziam parte da órbita de influência do Coronel Quintino. Seu
casamento se deu quando os dois eram muito jovens ela com quinze anos e ele com vinte e
dois, apenas seis meses antes do nascimento do primeiro filho.
A vida de Francisco Dias Coelho foi cheia de reveses desde tenra idade. Nascido na
pobreza, bem próximo à indigência, teve o seu primeiro trauma com a morte da mãe em
1871, quando contava com sete anos de idade em virtude das consequência de uma das
frequentes secas que assolavam o nordeste Brasileiro. Durante a seca de 1868, que
perdurou ate 1871, as vidas de muitos dos moradores da fazenda Gurgalha foi ceifadas.
Dentre os fatalmente vitimados pela seca estava a sua mãe, fato este que levou o pai a
tomar uma medida drástica, mas comum no sertão em tempos de seca ou de grandes
dificuldades econômicas, que era de doar os filhos para viver com famílias abastadas da
vila para realizarem pequenos trabalhos domésticos. Assim, Francisco e sua irmã mais
velha Maria, foram morar na residência do Major Pedro Celestino Barbosa, representante
político do Coronel Quintino na Vila.
Os pequenos órfãos de mãe viveram com a família adotiva, que não tinha filhos
legítimos por muitos anos, ate atingirem a maioridade, no convívio com os Barbosa
aprenderam a ler, escrever e um ofício. A menina aprendeu as prendas domesticas e foi
preparada para o casamento com um dos agregados do Major, enquanto Francisco, foi
aprendiz de boticário, profissão que carregou consigo durante toda a sua vida, mesmo
exercendo outras atividades ao longo dos anos.
Antes de completar dezoito anos, já exercia a atividade de tabelião de notas do
cartório local, o que era ilegal, haja vista que pela constituição brasileira da época esta
atividade somente seria possível aos maiores de vinte e um anos. No entanto, a região
passava por importantes mudanças por conta da atividade de mineração do carbonado,
fortemente influenciada pela demanda originaria da indústria europeia.
O carbonado é um diamante de baixa qualidade e sem brilho, por causa disso não
era útil na lapidação e fabrico de joias, no entanto tem a mesma dureza do diamante e no
fim do século XIX, teve as suas propriedades industriais descobertas e aplicadas na
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Europa. A pedra negra e opaca era conhecida na Chapada Diamantina como “ferrujão”,
antes da demanda europeia pela pedra, os mineiros o consideravam como uma pedra
satélite do diamante, usando para demarcar os campos de minério. Quando o veio
diamantino era encontrado o carbonado era descartado.
A situação foi modificada graças as inovações tecnológicas da Revolução Industrial
europeia com a invenção e utilização em escala industrial da perfuratriz a vapor. Essa
maquina, associada a substituição da pólvora negra pela dinamite permitiu o salto na
mineração aumentando a extração de carvão, minério de ferro e a abertura de tuneis e
canais, tanto na Europa quanto em outros lugares do mundo, como por exemplo, os canais
de Suez e Panamá, o túnel ferroviário de São Gotardo na Suíça, os metros de Paris, Berlin
e Londres e as minas de carvão e ferro da Alemanha e França. O maior empecilho para a
utilização em larga escala da perfuratriz a vapor era o alto custo das suas pontas de brocas,
originalmente confeccionadas com o diamante, mas que representava um alto custo final
nas obras diminuindo a sua viabilidade econômica.
Ainda na década de setenta do século XIX, um engenheiro francês começou a
utilizar o carbonado em substituição ao diamante, o que barateou o processo e viabilizou a
utilização da perfuratriz. Apesar de mais barato, o carbonado era encontrado em
quantidades e preço que justificassem a sua viabilidade econômica em duas regiões do
planeta em Borneou na Oceania e na Chapada Diamantina, barateando a mineração de
grandes empresas europeias, mas impactando e provocando modificações profundas nas
zonas produtoras.
A rápida e inesperada demanda por um produto visto pelos garimpeiros da região
como dejeto, e consequentemente a repentina valorização fez com que pessoas que não
estavam incluídas entre os membros da elite tradicional da região acumulassem fortuna
muito rapidamente, e alçasse o status de uma nova elite, composta em Morro do Chapéu e
em toda a Chapada, majoritariamente por negros e mestiços. Especificamente na face norte
da região, Francisco Dias Coelho, foi o principal ator desse processo. No inicio da
demanda pelo produto, acumulava as funções de boticário e tabelião de notas no cartório
local. O trânsito entre os garimpeiros e a facilidade de contato com compradores por causa
da botica, talvez tenha sido o canal necessário para que ele entrasse na atividade comercial
de pedras preciosas. No entanto, se pode afirmar que de meados a fins dos anos oitenta do
século XIX, já era considerado o maior comerciante de carbonado da Bahia, o dinheiro do
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minério abriu as portas para que adentrasse em um terreno antes ocupa (Saborit, 2005)do
pelos brancos da região e comprou a patente de tenente coronel da Guarda nacional, o
maior posto da corporação e garantia o comando da 174ª brigada de infantaria da guarda
Nacional e com isso o poder institucional sobre os outros coronéis do sertão.
Nos primeiros anos do século XX, já era considerado o décimo homem mais rico
do estado da Bahia, e reconhecido pelas elites estaduais como o comandante de fato dos
coronéis sertanejos e com isso influenciava diretamente as tomadas de decisões estaduais
com o seu apoio, inserindo-se na política regional e se convertendo no poderoso coronel
negro da chapada diamantina (Pang, 1979, p. 246).
Apesar de todo a fortuna e poder que acumulou Duran te toda a sua vida, o Coronel
Dias Coelho foi paulatinamente esquecido com o passa do tempo na região em que exerceu
o poder e influencia política, para além de algumas ruas, que anos depois tiveram os nomes
trocados e uma escola na periferia da cidade, nada mais se conservou.
Historiograficamente aconteceu o mesmo, pessoas como Dias Coelho nunca
estiveram em voga nos tradicionais estudos sobre o coronelismo, sequer na Bahia, onde
pela proximidade dos fatos poderia ter havido uma atenção maior. Fazendo com que os
estudos sobre a temática tivessem avançado pouco em sua interpretação ate muito próximo
dos dias atuais. Poucos historiadores brasileiros e baianos se dedicaram ao tema ficando a
analise e a proposição de teorias sobre o fenômeno majoritariamente a cargo de sociólogos.
A maior parte dos estudos sobre a história politica do Brasil, qualificam o coronelismo
como um fenômeno historicamente datado da Primeira República Brasileira (1889 – 1930),
iniciada com a queda do Império e finalizada com a ascensão do Presidente Getúlio
Vargas. Para os sociólogos e historiadores do Brasil, este foi um período em que o Brasil
transitou de um modelo agro exportador oligarca para um país industrial comanda por uma
burguesia nascente, que se consolida a partir da década de trinta do século XX, onde
Vargas concretiza o projeto modernizando o Brasil.
O coronelismo estaria inserido neste período transitório, onde o estado não era mais
centralizador e oligárquico como no Império e ainda não era democrático e burguês como
no período apos Vargas, assim os coronéis se fincaram neste vazio de poder de um estado
quase que inexistente, forças políticas em transição e mantinha o seu poder na base
familiocrática, fortalecido pelo isolamento das comunidades rurais do interior esquecidas
pelos estado e dominadas pela ignorância sempre a favor dos coronéis.
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Os sociólogos contemporâneos e posteriores a Vargas foram os primeiros a analisar
o coronelismo, neste período a história como ciência ainda era muito incipiente no país,
Fazendo com que as análises provenientes dessa disciplina se consolidassem e
permanecessem quase que inquestionáveis até a atualidade, influenciando outras
disciplinas principalmente a história que, sobre o fenômeno foi centralizada no estudos
sobre o sul e sudeste, ou com as perspectivas desta zona para as outra regiões do Brasil.
O primeiro cientista social brasileiro a analisar o coronelismo foi o sociólogo e
advogado Vitor Nunes Leal, cuja primeira edição de sua obra, “Coronelismo , Enxada e
Voto”, foi em 1945, em pleno período Varguista. Ele considerava que o fenômeno estava
baseado nos oligarcas que dominavam a estrutura agrária do país. Essa oligarquia
representava remanescentes do império que apoiados na Guarda Nacional mantinham-se
no poder local inseridos na troca de favores com as elites regionais e nacionais, num
período em que as instituições republicanas ainda não estavam plenamente estabelecidas.
Segundo ele, havia uma grande rede de relações entre os chefes locais que se
subordinavam aos chefes regionais em trocavam votos, conquistados ou fraudados por
benesses para seus próprios fins e não para interesse publico, configurando assim uma
intromissão do poder privado no domínio público. Na base do sistema coronelista estavam
os eleitores que constituíam o elo mais fraco de toda a cadeia politica do Brasil de fins do
século XIX e três primeiras décadas do século XX.
Com a proclamação da República e a promulgação da primeira constituição
republicana, foram modificados os critérios para se alistar como eleitores. Durante o
período imperial, as eleições para cargos eletivos eram feitas de forma censitária, somente
poderiam ser eleitores os maiores de vinte um anos de idade e detentores de renda
suficiente para serem eleitores e ainda maior para candidatos. Com a Republica houveram
mudanças na maneira em que se alistavam os eleitores, poderiam ser eleitores ou
candidatos todos o cidadão brasileiro maior de vinte e um anos desde que fosse
alfabetizado sem distinção de renda, a única exigência era fazer uma petição escrita de
próprio punho em frente a uma autoridade eleitoral. Longe de ser uma democratização das
eleições, as mudanças no código eleitoral produziram mais exclusões que democratização.
O contingente de alfabetizados era ainda menor do que os de pessoas com renda suficiente,
haja vista que educação publica nunca foi prioridade no Brasil Imperial, e continuou não
sendo na Republica, somado isso ao processo de Abolição da escravatura, em 1888, que
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apenas concedeu a liberdade a todos os negros brasileiros, mas não lhes deu condições de
ascensão social, elevou em muito o contingente de analfabetos sem perspectivas de
alfabetizar-se.
Segundo a análise feita por Leal, os coronéis enquanto latifundiários eram os
principais beneficiários com o contingente eleitoral reduzido provocado pela constituição
republicana, com isso, ampliava a margem de negociação dos chefes locais -os coronéis-, e
os chefes regionais que dominavam os cargos de deputados, senadores estaduais e
governadores de Estado, esses por sua vez negociavam as suas influencias dentre os
coronéis com os votos para os cargos nacionais de deputados federais, senadores da
Republica e presidentes.
Dessa maneira, a análise de Leal compreende que o coronelismo somente poderia
existir em uma região distante dos centro de decisão politica e atrasada, social e
culturalmente onde o controle da população se fazia eficiente pelo alto índice de
analfabetismo e manipulação das pessoas e consequentemente dos seus votos pela ausência
das instituições do Estado Republicano.
Alguns termos se tornaram comuns nessa analise como: curral eleitoral, voto de
porteira fechada e voto de cabresto. A utilização destes termos comparava os eleitores ao
gado nas fazendas dos coronéis, e este, poderia comercializa-los da maneira como mais lhe
conviesse, no curral eleitoral estavam reunidos todos os eleitores no dia das eleições
conduzidos pelos cabos eleitorais pelos cabrestos de pequenos favores, assistência as
famílias em tempos de crises frequentes nos períodos das secas ofertas de trabalho,
relações de apadrinhamento, e principalmente, ameaças dos jagunços e bandoleiros que
estava sempre a serviço dos chefes locais.
Entretanto, o próprio Leal assume que não fez pesquisa em arquivo para chegar as
suas conclusões, e que levantou todas as suas hipóteses a partir das observações dos
coronéis do interior paulista, seu único universo de análise. Isso nos leva a compreender o
motivo da fragilidade das observações com relação ao coronelismo no nordeste brasileiro.
Em sum, a análise sociológica do coronelismo feita por Leal, representam o espírito te uma
época, em que o sudeste do Brasil, recém industrializado afirma centralidade regional
política e economicamente ao tempo em que confere ao nordeste a posição de periferia.
Embora seja pioneira, o trabalho de Leal acentua essa relação de centro e periferia, não
abarcam outras regiões e tornando os coronéis paulistas modelos e referencias de analises
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para todo o Brasil, não admitindo afirmações e possibilidades que poderia modificar o
panorama proposto pelas suas hipótese.
As ideias de Leal foram complementadas na década de cinquenta do século XX,
com uma interpretação até então inovadora para a época, onde começavam a avançar no
Brasil a sociologia de influencia weberiana. O também sociólogo Raymundo Faoro lançou
em 1957, seu maior trabalho, o livro “os donos do Poder: a formação do patronato
brasileiro”. Este autor estava fortemente influenciado pelas ideias weberianas como dito
anteriormente, e tinha como principal objetivo analisar a formação do estado burocrático
brasileiro, que segundo o próprio autor se consolidou na década de trinta do século passado
com o governo Vargas, semelhante ao autor anterior, mas que se diferenciava do mesmo
por seguir a perspectiva teórica, já mencionada, com maior ortodoxia.
Mesmo eu a intenção primordial do autor não fosse analisar especificamente o
coronelismo, Raymundo Faoro avança em muitos aspectos. Em primeiro ligar, supera a
noção de fenômeno e o considera como uma sistema necessário ao momento de transição
de um regime imperial, com uma sociedade estamental e agrária, para um regime
Republicano, urbano/industrial, que consolidava o estado Burocrático forte, sob o comando
da burguesia indústria que estava nascendo no Brasil da época brasileiro (Faoro, 2004, p.
622).
Segundo essa interpretação, que extrapola a noção proposta por Leal, o sistema
coronelista existia desde o Império, justificado pelo caráter estamental da sociedade, que
demonstrava as características herdadas do período colonial, e portanto, não havendo
modificações tão profundas no período pós independência, onde prevalecia um feudalismo
tardio, que foi se transformando no decorrer do século XIX, concomitantemente, já havia
na época uma burguesia nascente mas que rapidamente impunha os seus conceitos ao
estado. Para ele esse feudalismo chega aos seu final em meados do segundo quarto do
século XX, quando então o coronelismo que era a sua expressão máxima deixa de existir
por completo, quando a burguesia brasileira, representada pelo governo Vargas, centraliza
o estado burocrático, tornando presente o estado que não chegava em determinados locais
do pais, e assim , provoca a derrocada dos chefes locais com a imposição do poder estatal
sobre as relações de troca de favores que baseavam as relações anteriores.
Ao contrario do autor anterior, Faoro não considera o coronelismo como
historicamente datado da primeira republica brasileira (1889 -1930). Para ele o
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coronelismo teve o seu inicio ainda no período imperial esse manteve presente durante o
período inicial da republica quando teve o seu fim, neste sentido, embora expanda o inicio,
concorda com o que fora dito quanto ao final.
Embora tenha sido os estudos de Faoro tenham sido revolucionários para a época
demonstrando um amadurecimento na sociologia politica do Brasil, uma vez que outros
estudos estavam sempre ofuscados pela obra de Gilberto Freyre “Casa Grande e Senzala”
analisando o poder político no Brasil de maneira historicizada e generalizante, ainda assim,
as criticas feitas a Leal podem ser estendidas a Faoro. Mesmo tendo como perspectiva a
analise do Brasil como um todo, considerando o nascimento e evolução da nação, Faoro
tem como base analítica o sudeste brasileiro na década de 1940, as outras regiões e épocas
são vistas como complementares e acessórias, centralizando assim, o Brasil do sudeste
como modelo de sociedade brasileira e o coronelismo desta zona como parâmetro para o
Brasil, mesmo que aspectos e coronéis de outras zonas sejam citados. E principalmente, a
sociologia como disciplina principal para a analise, baseada fundamentalmente em analises
bibliográficas não levando em consideração a documentação primaria.
Posteriormente os estudos que vieram não representaram grandes avanços, da
década de cinquenta até a atualidade, as analises feitas sobre o coronelismo brasileiro estão
restritas as influencias destes dois marcos fundadores da interpretação. Estas influencias
não estão distantes mesmo quando os poucos historiadores sobre o tema se inclinam para
perceber o nordeste em geral e a Bahia em particular. Para os historiadores baianos, a
relação de centro e periferia se desloca para litoral e Sertão, numa perspectiva menor do
que os grandes nomes da sociologia fizeram com o Brasil. Desta maneira, mesmo expondo
o litoral como centro das determinações políticas e econômicas da Bahia, o estado ainda
continua como periferia histórica do Brasil corroborando para reafirmar o que já fora dito
pelos sudestinos.
Para além nas décadas de setenta e oitenta do século poucos cientistas sociais que
analisaram o coronelismo baiano XX, a exemplo de Alário Fernando Souza, Dora Leal
Rosa e Maria Alba Guedes Machado Melo, que eram sociólogos e seus trabalhos se
resumiram a Dissertações de Mestrado, nunca chegando a publicações de alcance mais
amplo, porém inovaram na analise de espaço ao perceberem a Chapada Diamantina e
sertão do são Francisco, não avançaram nas interpretações, na prática somente aplicaram o
modelo proposto por Leal para a Bahia.
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Ainda nos anos setenta foi publicado o livro “Coronelismo e oligarquias”, de
autoria do historiador radicado nos Estados Unidos Eul- Soo Pang. Fruto de uma tese de
doutoramento na Universidade de Stanford, Pang realizou profundas e pioneiras pesquisas
na Bahia. Seu trabalho se diferenciava dos demais por utilizar principalmente fontes
primárias, depositadas no Arquivo Público da Bahia. Além de ser o primeiro historiador de
formação a estudar o tema, Pang inova na maneira de como ser tratar o coronelismo,
percebendo que haviam outras possibilidades de se ascender que não fosse
necessariamente a posse de terras. O autor ainda classifica os coronéis em grupos de
acordo com as suas devidas ocupações como: comerciantes, guerreiros, padres,
proprietários de terras, e ainda faz relações do coronelismo do interior baiano com outros
Estados do nordeste brasileiro.
Embora inovadora, tanto pela analise quanto pelas fontes que utiliza para construir
o discurso, Pang repete os modelo proposto por Faoro, mesmo sendo historiador, percebe-
se uma forte influencia da sociologia weberiana em Pang, assim como Faoro considera o
coronelismo como um sistema transitório, que no caso especifico do estado da Bahia, cujo
interior, principalmente na zona dos sertões ainda permanecia atrasado e feudal, foi o
principal lócus de atuação dos coronéis.
Para o autor, mesmo que pudessem exercer diferentes atividades, ainda eram
membros da elite numa sociedade sertaneja estamental e pouco ou não propensa a
modificações, assim, os coronéis eram sempre membros da elite rural que utilizavam o seu
poder econômico e de influencia para manter o controle do seu estamento sobre a
sociedade. Este poder era sobrevalorizado com as relações com as elites estaduais, que
mantinham o poder na hierarquia social que não admitia ascensão de indivíduos advindos
de estamentos inferiores, dessa maneira, as tradicionais elites litorâneas se mantinham no
domínio das elites sertanejas, que por sua vez dominavam o povo, numa estrutura
hierarquicamente imóvel.
As décadas posteriores podem ser consideradas como o esquecimento do tema, não
foi publicado nenhum trabalho que apontasse outras interpretações sobre o coronelismo
tanto na Bahia quanto no Brasil, algumas teses de mestrado e doutorado defendidas em
varias universidades brasileiras abordaram o tema mas a interpretação não se diferenciava
muito dos dois pressupostos acima citados.
A partir da metade da primeira década do século XXI, muitos arquivos ocais
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começaram a ser abertos a pesquisadores no interior da Bahia. Isso conjuntamente com a
expansão das universidades estaduais da Bahia, propiciara o desenvolvimento de varias
pesquisas na área de história tendo varias temáticas sob o foco e abrindo espaço para
abordagens pouco usuais para a historiografia baiana como a história regional e as
possibilidades de biografia de personagens históricas não abordadas pelos estudos
tradicionais.
Dentre os arquivos locais disponibilizados estão os da cidade de Morro do Chapéu,
estavam o Arquivo da Paroquia de Nossa Senhora da Graça, O arquivo Publico Municipal,
da Câmara de Vereadores e do Fórum Cleriston Andrade –Comarca de Morro do Chapéu.
Nestes arquivos estão depositados livros eclesiásticos que registram batismos, casamentos
e óbitos de livres e escravos desde 1838, quando foi fundada a paroquia, além do livro de
tombo, onde alguns padres registraram momentos importantes da vida da paroquia. Livros
contábeis onde está registrada a contabilidade do município com os registros de impostos,
orçamento municipal. Nos livros da câmara municipal estavam as atas de reunião, livros de
leis e atas das eleições municipais desde 1864. Mas, o mais revelador foi o arquivo da
comarca de Morro do Chapéu com processos judiciais, registro de compra e venda de
terras animais e escravos, testamentos e inventários e processos criminais depositados
neste arquivo desde 1860. Além dos arquivos do jornal local e de inúmeras fotografias em
mãos de arquivos particulares.
É ponto pacifico para os historiadores que não é possível se fazer pesquisa histórica
sem fontes. Ainda que o documento não fale o por si, e que a interpretação dos documentos
esteja sob inúmeras condicionantes a depender do momento, do lugar e da corrente
historiográfica do pesquisador, dentre outras coisas, não desqualifica o documento em si,
ao contrário reforça a necessidade de comprovação documental das hipóteses levantadas.
Isso não justifica a critica de alguns jornalistas que existe uma “obsessão” do historiador
pelas suas fontes, o historiador se mantem fiel à critica documental, isso significa analisa
quem e como produzio o documento, em qual situação e com quais interesses, etapas da
produção cientifica que não se faz necessária para o trabalho de muitos jornalistas
(Schmidt, 1997). O oficio do pesquisador em historia se pauta pelo indícios demonstrados
pela sua documentação.
O tipo de documentação também é determinante para a escolha da metodologia a
ser utilizada pelo historiador. Ignassi Saborit, discorrendo sobre historia regional afirma
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que o tipo de fonte é determinante para a temática e a teoria da história local (Saborit,
2005, p. 192). Isso pode ser aplicado para o caso de Morro do Chapéu. Diferente das
dificuldades apresentadas em alguns trabalhos sobre a história regional, com relação a
pouca quantidade ou diversidade documental, os arquivos locais analisados apresentam
exatamente o contrário, além de existir uma grande quantidade de documentos ainda não
trabalhados, estes ainda são de variadas naturezas e propósitos no momento da sua
produção. Para essa região, os documentos eclesiásticos, judiciais e administrativos, além
dos arquivos e documentos particulares se complementam, oferecendo um mosaico da
sociedade sertaneja do século XIX.
Tal qual San Jose de Gracia, estudada por Luiz Gonzales, no seu clássico “El
pueblo en vilo” (Gonzáles, 1972). A região de Morro do Chapéu grandes diferenciais, ao
contrário, era um a zona extremamente comum e se diferenciava muito pouco das outras
regiões pecuaristas da Bahia e, com exceção das condições geográficas, também não era
diferente de outras zonas do Brasil. Porem, ainda como afirmara Gonzales, a sua forca esta
na fragilidade, por ser um lugar comum, a parte norte da Chapada Diamantina era um
reflexo da sociedade sertaneja do século XIX, e também um fragmento representativo da
sociedade baiana, com todas as suas especificidades e contradições, entre uma economia
litorânea e agrícola decadente, sendo substituída paulatinamente por uma nova elite
pecuarista e ascendente advinda dos sertões.
Os estudos que utilizam a redução de escala de observação nas análises
historiográficas não são mais novidades. Desde fins da década de setenta do século XX,
que algumas experiências historiográficas bem sucedidas. Para a América Latina, o
trabalho já citado de Gonzáles somados a Carlos Mayo dentre outros, demonstram como a
história local e regional, ou seja em micro escala, pode ser um aporte para a compreensão
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