a terrÍvel histÓria de everardo norÕes e o...
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A TERRVEL HISTRIA DE
EVERARDO NORES E O
ANGELUS NOVUS DE PAUL KLEE W. J. Solha
Foi como num trecho desta obra , ou de um filme de Costa-Gavras,
.
Sempre mandei meus livros a bons leitores de todo o pas e, confirmando que
dando que se recebe, sempre recebi obras que deus e o mundo tambm me
mandaram, mais, at, do que pude ler. Deu-se, ento, que recentemente li e
comentei vrios contos de ENTRE MOSCAS, de Everardo Nores, todos baseados
na vida real, de que gostei muito, e... vai da que, acidentalmente, um ms depois,
dou com outro livro dele, anterior (2012), por mais de um ano escanteado numa de
minhas estantes: O FABRICANTE DE HISTRIAS ( Edies Muiraquit ), que -
de repente - me interessou muito, claro. E, de cara, o primeiro conto do volume
me fascinou. Como me parece ter muito a ver, eis a ficha resumida do autor:
http://blogmorellianas.blogspot.com/2010/09/o-livro-de-manuel.htmlhttp://filmespoliticos.blogspot.com/2011/05/confissao-laveu-la-confessione.html
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EVERARDO NORES ARRAES, natural do
Crato, reside no Recife, foi exilado poltico e morou na Frana, Arglia e
Moambique.
Bom, conto uma histria minha, pra depois recont-la na dele:
L pelo fim dos anos 70, plena ditadura, um colega de alto posto me perguntou se
eu no gostaria de trabalhar na revista do Desed, do banco, l em Braslia,
bastante ligada s artes. Como me interessei, tentou minha remoo, mas no a
conseguiu. A, uma de minhas cunhadas, amicssima da secretria do presidente do
BB da poca, conseguiu isso num vapt-vupt: veio um telefonema na sexta, pra me
apresentar no Distrito Federal na segunda. OK. Tomava umas cervejas com os
novos companheiros de l, depois de um dia de expediente, quando se aproximou
de mim um ex-colega de ginsio, l de Sorocaba, So Paulo, onde nasci. No
conversou cinco minutos e eu j estava convidado pra colaborar com o Ministrio
da Fazenda, como ele, dispensado da vida bancria. Recusei a oferta, alegando que
no estava nada entusiasmado com a cidade, ele se foi, e meu chefe que ouvira a
conversa se aproximou puto: Ta como foi que voc conseguiu sua transferncia
da noite pro dia: com o dedo-duro!
Conto isso porque foi a primeira coisa de que me lembrei ao ler a primeira
narrativa de O FABRICANTE DE HISTRIAS, de Nores O EXERCCIO DO
ASCO, onde dois antigos parceiros de um colgio de jesutas encontram-se por
acaso, sculos depois, fazendo cooper numa praa de Casa Forte, na capital
pernambucana, e um deles, o narrador, conta como se impactou, de imediato, com
o antigo artilheiro do colgio agora obeso, e com seu apartamento, para o qual
convidado, num trigsimo segundo andar, numa plataforma area, que mais
parece o bunker de luxo de algum figuro da Gestapo.
Bom.
O conto soberbo. Nores nos vai dando pistas, aos poucos, sobre esse homem, at
encerrar o que se descobre dele, num vmito do narrador.
Primeira pista, dada pelo anfitrio, depois da terceira dose de usque:
- No tenho isso que voc chama de moral. Tenho apenas dois princpios: tratar
meu alvo com delicadeza e descobrir sua vulnerabilidade. (...) Aquilo que voc
aprenderia se lesse o Da Guerra, de Clausewitz.
http://www.printempsdespoetes.com/index.php?url=agenda/fiche_eve.php&cle=40829
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O narrador se intriga com tal citao de um ex-estudante que s pensava em
futebol. Certamente frequentara algum curso de Estado Maior, oferecido (...) a
alguns paisanos. O outro se serve pela quarta vez. E, gentil, ainda com a garrafa:
- Sirvo?
Recuso-me a aceitar outra dose.
Nova pista:
Naquele instante percebi, num recanto da sala, uma pequena tela de vdeo, a
focalizar, em quadradinhos, as vrias entradas do prdio. Penso: as vidas esto
recortadas como NUM QUEB RA-CABEA, do qual ningum conhece o original.,
AQUI O POLTICO PODE SER VIZINHO DO MAFIOSO; O TORTURADOR,
AMIGO DO JUIZ.
E eu? pergunta-se, lembrando-se de que o outro tinha sido artilheiro do colgio -
O que fao, nessa armadilha, goleiro espera do pnalti?
(...)
De novo, o barulho do gelo, o jato de usque 12 anos derramado naquele copo pesado.
Entra um co burgus em cena, que o faz lembrar-se por contraste - de Servlio
de Holanda como o perdigueiro Jil de O Vau da Sarapalha. O cachorro leva um
chute do dono. E... veja o detalhe:
Ao bater na cesta ao lado, revistas se esparramam; do colorido AO MRMORE
PARDO DO PISO, COMO A PEDRA DE ALGUNS TMULOS CHIQUES DO
CEMITRIO DE LA RECOLETA.
Argentina!
CERTAS COMBINAES DE CORES ACENDEM METFORAS: O ANJO
SALPICADO DE HERA, A SOLEIRA CARCOMIDA DAS PORTAS DAS IGREJAS,
UMA BANCADA DE NECROTRIO.
A mente do narrador dispara uma fuzilaria de associaes que vo lev-lo ao
Angelus Novus, de Paul Klee, um desenho nanquim, giz pastel e aquarela sobre
papel, de 1920, que atualmente est no Museu de Israel, em Jerusalm, e que
ganhou enorme notoriedade quando o filsofo alemo Walter Benjamim ento
dono dessa obra de arte usou-a como imagem poderosa para a nona de suas
Teses Sobre o Conceito de Histria
http://lounge.obviousmag.org/ruinas/Walter Benjamin_1.jpg
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Bem, A Vista de Delft, de Vermeer, tambm ficou famosa do dia para a noite,
graas meno de Proust faz, dela, no Em Busca do Tempo Perdido,
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plus clatant, plus diffrent de tout ce quil connaissait - O mais impressionante, mais diferente
de tudo que conhecia.
... o que tambm aconteceu com A Ressurreio, de Piero della Francesca, quando
foi descoberta por Aldous Huxley em Sansepolcro, interior da Itlia, de repente La
pi bela pittura del mondo. The greatest paiting in the world.
Embora notveis, os quadros de Vermeer e de Piero dificilmente seriam
considerados os mais belos do mundo por outros experts Mas, como diz o
experiente jornalista, em O Homem que matou o facnora:
- When the legend becomes fact, print the legend.
- Quando a lenda se torna fato, imprima-se a lenda.
Assim,
http://historiadeverdade1.blogspot.com/2010/12/arte-luminosa-de-johannes-vermeer.htmlhttp://www.allposters.com.br/-sp/The-Resurrection-posters_i3483888_.htm
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o Angelus Novus - segundo Nores transcreve do prprio Benjamin - olha
fixamente alguma coisa que foi deixada para trs, o passado. Enquanto ns
acompanhamos o transcorrer dos acontecimentos, o anjo enxerga apenas a catstrofe
e quer despertar os mortos. (...) Mas de repente uma tempestade sopra do paraso e
faz com que suas asas se abram com tal fora que ele lanado em direo ao futuro.
Diz a Wikipedia:
Otto Karl Werckmeister comentou que a interpretao de Benjamin do anjo levou a que se tornasse "um cone da esquerda".
Tambm para o narrador de Nores. Um sinal.
Aproveito meu instinto, apanho rapidamente entre as revistas esparramadas duas
folhas de papel que esvoaam. BUSCO VERIFICAR O NOME COMPLETO DO
DESTINATRIO, DESVENDAR ALGO QUE ME CHEGA MEMRIA: UMA
NOTCIA DE JORNAL, UM APITO DE SIRENE, UM BARILHO DE FREIO NA
AVENIDA, UM CORPO ESTENDIDO, PERFURADO, NA MESA FRIA DO
NECROTRIO...
Necrotrio.
Uma mulher entra em cena. Estranha o estranho.
- amigo dele?
- Fomos colegas de colgio. Era artilheiro do time...
- Puxa! Quanto tempo, hein? E nunca mais se viram?
- Morei fora, voltei h poucos anos.
Nores, genial:
O nunca mais se viram? ressuscita como se tivesse sido arrancado da pequena gaveta
de um armrio secreto, entre documentos, passaportes, notcias de jornal. ( OU UM
LAUDO DE MEDICINA LEGAL).
(...)
Algo pesa como a vspera de um infarto. (...) O Buda da mesa de repente transforma-
se numa pistola com silenciador, as revistas em bisturis, escalpelos, tesouras afiadas.
H um cheiro de cogulo dentro da jaula metlica por onde devo fugir.
O final terrvel. Mal chega em casa,
Ligo o computador para rever no youtube a entrevista do ex-oficial da marinha
argentina Adolfo Scilingo, estilo executivo, terno bem-posto, o olhar indiferente a
contaminar o cran, a voz pausada de militar disciplinado. RELATA, COM
NATURALIDADE, AS AUTORIZAES DA IGREJA CATLICA, AS DOSES DE
http://pt.wikipedia.org/wiki/Esquerda_pol%C3%ADtica
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SONFEROS, O MODELO DE AERONAVE UTILIZADO NAS OPERAES, O
NMERO EXATO DE PESSOAS LANADAS AO MAR. E AS DOSES DE
USQUE AO CHEGAR A CASA, APS O DEVER
CUMPRIDO.
nsia de vmito.
Fiquei por um instante sem ao, ao terminar o conto. Fico... ou no, outra vez?
Sentindo-me um tanto tolo como tantos que escreveram para 221 B Baker Street
atrs de um contato com Sherlock Holmes... fui ao youtube, digitei ADOLFO
SCILINGO... e l estava o depoimento dele!!!
Sobre o Papa Inocncio III e
O FABRICANTE DE HISTRIAS,
conto de
Everardo Nores
W. J. Solha
Poderamos dizer que toda narrativa de Nores mais ou menos isto e,
tambm, isto:
http://www.traditionellkinesiskmedicin.se/grunderna/yin-yang/
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, por isso ele nunca bvio.
Quem o fabricante de histrias, personagem dessa histria que abre com um
sbado em que ele passeia em Lisboa e se v ante a igreja de So Roque,
, de fachada sbria, que outro
iceberg... pela qual passa, dizendo pouco se interessar pelo que vem de dentro de
outras coisas e dela, toda ouro e jacarand, extrados pelos negros das Minas
Gerais?
Veja como ele se veste:
Tnis, camisa creme, cala sem vinco, como pede o vero.
E como caminha ( Est l, no fim do conto ):
devagar, mais lento ainda pelo temor de escorregar nas pedras portuguesas de que
so feitas as caladas da cidade. Ele, que j carrega certa idade, (...).
Hm. Em todas as histrias que analisei de Nores eu o vi construindo seus
personagens a partir de pessoas reais. Como faz com o Aquino de Bragana, numa
delas, e com Fernando Pessoa e Federico Garcia Lorca, noutra. Mas o gos, para
ele, s um gos, e os poetas so apenas F e F, claro, com o que consegue o
charme de um certo mistrio de meio-anonimato que pede por ser desvendado,
http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Iceberg.jpghttp://www.tripadvisor.com.br/LocationPhotoDirectLink-g189158-d243618-i57267915-Igreja_de_Sao_Roque-Lisbon_Estremadura.html
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alm do que h a liberdade do criador, que no deixa, porm, de nos passar mais
pistas:
(...) prefere continuar isolado do outro lado do atlntico mundo, tramar em sossego
final de captulos de novelas, (...).
Um teledramaturgo brasileiro. Em Lisboa!
Algo mais, do comeo: Nenhum indcio de que est a ser seguido por algum que j o
viu tantas vezes sentado mesa do bar Savoy, numa certa avenida Guararapes, ao
calor noturno do Recife.
Bar Savoy Endereo: Av. Guararapes, 147 - Santo Antnio, PE, 50010-000 Telefone:812242291
Ah,
AGUINALDO SILVA
O homem das novelas que trocou o rio pelo castelo
por RAQUEL COSTA09 julho 2011
javascript:void(0)https://www.google.com.br/maps/place/Bar+Savoy/@-8.062909,-34.878866,15z/data=!4m2!3m1!1s0x0:0xa4648bbc9e392ca9?sa=X&ei=xWVJVMXWCoiRNsT9gMAG&ved=0CIcBEPwSMA4
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Autor de xitos da Globo como 'Tieta' e 'Pedra sobre Pedra', o novelista
de 67 anos deixou para trs a insegurana e a confuso do Rio de
Janeiro e abraou a tranquilidade de Lisboa.
Aguinaldo Silva (Carpina, 7 de
junho de 1943) dramaturgo, escritor, roteirista, jornalista, cineasta e telenovelista brasileiro.
Silva possui a "marca" de nico autor da Globo que s escreveu novelas de horrio nobre.
Pernambucano de nascimento, Aguinaldo Silva reside atualmente em Lisboa, Portugal.
Votemos ao lado Yang do iceberg:
Mas hoje sbado e, mais adiante, ele se detm a olhar sapatos nas vitrinas(...)
... e passa depressa pela tabacaria Havaneza. (...) Certamente no se lembra de que
soleira da porta ao lado se deteve, certa vez, o homem da Tabacaria, o mesmo de A
Brasileira, da esttua de bronze.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Carpinahttp://pt.wikipedia.org/wiki/7_de_junhohttp://pt.wikipedia.org/wiki/7_de_junhohttp://pt.wikipedia.org/wiki/1943http://pt.wikipedia.org/wiki/Dramaturgiahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Escritorhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Roteiristahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Jornalistahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Cineastahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Telenovelistahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Brasilhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Lisboahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Portugalhttp://rd1.ig.com.br/aguinaldo-silva-fala-sobre-beijos-gays-em-novelas-e-sobre-sua-sexualidade/http://entretenimento.uol.com.br/famosos/aguinaldo-silva/
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Afinal, Nores poderia acrescentar ( mas o gnero conto tem pressa ): pra qu
lembrar? Ele morrer e eu morrerei./ Ele deixar a tabuleta, eu deixarei os versos./ A
certa altura morrer a tabuleta tambm, os versos tambm./ Depois de certa altura
morrer a rua onde esteve a tabuleta,/ E a lngua em que foram escritos os versos.
(...)
bem verdade diz Nores, voltando ao bar Savoy, do Recife que ele, o
fabricante de histrias, sempre sozinho, no era dos trinta homens sentados em torno
dos trinta copos de chope.
Quais? Os dos versos de Carlos Pena Filho:
Na avenida Guararapes, / o Recife vai marchando. / O bairro de Santo Antonio, / tanto se foi
transformando / que, agora, s cinco da tarde, / mais se assemelha a um festim, / nas mesas do Bar
Savoy, / o refro tem sido assim: / So trinta copos de chopp, / so trinta homens sentados, / trezentos
desejos presos, / trinta mil sonhos frustrados.
http://aconteceunaeuropa.wordpress.com/2012/01/09/os-estranhos-caminhos-de-fernando-pessoa/http://en.wikipedia.org/wiki/Caf%C3%A9_A_Brasileira
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Carlos Pena. Aguinaldo, agora, costuma saborear os travesseiros de Sintra,
nas tardes de domingo, quando visita o Palcio da Pena.
Chiqurrimo. E as novelas?
(...) sabe que no h muito a dizer de novo: tudo o que pensar sobre a alma humana
est escrito na Bblia e plagiado por Shakespeare. Satisfaz-se em lidar com a beleza
dos astros. Sua maneira de dar ao velho uma formatao to contempornea quanto
as vitrines de um shopping center o seu sucesso. Ele sabe que apenas um
cirurgio plstico da literatura e admite...
( exatamente neste ponto que Nores d o pulo do gato. Ou... no pargrafo
anterior: )
Nem desconfia que ao mesmo tempo que caminha, certo concertista executa no rgo
da igreja uma pea de Antonio Cabezn, a Pavana con su glosa
...e admite, ( agora, sim) de repente, que se entrasse na igreja de So Roque e
talvez o faa no regresso desse seu passeio matinal , poderia obter
argumentos para compor os prximos captulos da novela. Observar o abuso do
dourado, a sugerir mais adereos indumentria dos personagens, como do gosto
herdado do barroquismo.
http://viajar.clix.pt/fotos.php?r=3&&ni=440&lg=pt&w=costa_de_lisboa_45http://en.wikipedia.org/wiki/Igreja_de_S%C3%A3o_Roque
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(...) Tambm os anjinhos nus, com seus minsculos sexos,
(...) seriam, na trama, um elemento de pedofilia a ser tratado com sutileza num
prximo episdio, renderia reportagens comoventes para a leitura de mulheres em
salas de espera de consultrios mdicos.
H mais:
A balaustrada de bano com pedestal de mosaico florentino seria cenrio para o
encontro entre a prostituta brasileira e o negociante portugus
http://lisboasos.blogspot.com/2009/03/igreja-e-museu-de-s-roque.htmlhttp://www.rudyrucker.com/blog/2011/04/20/lisbon-2011/
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BEM, ... MAS A VOLTA QUE FAZ O ANZOL
Nores enumera o que o fazedor de histrias certamente far ao chegar em casa:
comer cherne gralhada, contemplar, de seu jardim, o castelo de So Jorge,
escrever com sarcasmo, no seu notebook, sobre algum escritor ou ator. Isso,
noves fora, nada.
Mas... passa de novo diante da igreja, olha desinteressado a fachada sbria( ...) e, ao
ouvir um som amortecido de rgo, resolve entrar. Senta-se no ltimo banco. Fecha
os olhos com indolncia, quase sono. Oua, enquanto prosseguimos.
Pavana con su glosa - http://www.youtube.com/watch?v=6HvgWdSlikQ.
http://www.youtube.com/watch?v=6HvgWdSlikQhttp://commons.wikimedia.org/wiki/File:Capela_de_Nossa_Senhora_da_Doutrina_-_Igreja_de_S%C3%A3o_Roque_-_Lisbon_(2).JPGhttp://commons.wikimedia.org/wiki/File:Capela_de_Nossa_Senhora_da_Doutrina_-_Igreja_de_S%C3%A3o_Roque_-_Lisbon_(4).JPG
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Divaga. O enterro do marido assassinado na novela vtima de um ardil montado
pela esposa e o amante parecer menos srdido com essa msica de fundo. O
fretro ser filmado de forma a dar a impresso de flutuar entre as alamedas de
algum cemitrio chique. A priso dos dois cmplices ser consumada enquanto
comem sanduche no quiosque no adro da igreja, prximo esttua do homem que
distribui jornais ( na verdade cautelas ) aos turistas de ocasio.
(...) O grande Final ser uma espcie de exerccio metafrico (...).
Como ao ritmo da pavana de Cabezn, anda devagar, mais lento ainda pelo temor de
escorregar nas pedras portuguesas (...) pois, como destacamos, j carrega certa
idade (...)
, quer dizer que a famosa... transformao do personagem no acontece!
http://www.meloteca.com/foto-orgao-lisboa-sao-roque.htmhttp://www.meloteca.com/foto-orgao-lisboa-sao-roque.htm
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No. Mas Nores nos mostrou o quanto ele esteve... pertiiinho disso, e a que est,
justamente, seu toque de gnio! Como Apolo no flagra de Bernini, em que o deus
alcana e quase consegue violentar Dafne, que se transforma num loureiro:
Acho que, mais do que isso: o conto me lembra muito uma sequncia do Irmo
Sol, Irm Lua, de Zeffirelli, ( veja que belo cartaz ):
...que se passa a, nessa Baslica de So Joo de Latro, em que o Papa Inocncio
III, ouvindo, em audincia, o fradezinho Francisco il Poverello dAssisi (o
Pobrezinho de Assis, descalo e vestido de trapos ) tira a coroa e o manto
http://www.rbcasting.com/eventi/2013/06/12/apollo-e-dafne-quando-il-marmo-diventa-cinema/http://www.ivid.it/fotogallery/ismod_index.php?i_section=detail&i_categoria=1&i_id=245560
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luxuoso, impressionado, e abenoa o
italianinho e sua ordem, com o que jovem sai feliz com a conquista, enquanto
vemos, ao fundo, os prncipes da Igreja repondo manto e coroa no pontfice.
http://cineforum-clasico.org/archivo/viewtopic.php?f=55&t=24341http://ktismatics.wordpress.com/2008/05/25/brother-sun-sister-moon-1972/http://www.ivid.it/foto/cinema/Drammatico/1971/Fratello-Sole-Sorella-Luna/312405/scena/scena-Graham-Faulkner-Judi-Bowker-Leigh-Lawson-Kenneth-Cranhamhttp://www.ivid.it/foto/cinema/Drammatico/1971/Fratello-Sole-Sorella-Luna/312405/scena/scena-Graham-Faulkner-Judi-Bowker-Leigh-Lawson-Kenneth-Cranham
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O FRIO DA LMINA
W. J. Solha
Everardo Nores do Crato. Conheceu matadores, coisas de sertanejo, como me
disse por e-mail, sem dizer quando foi isso provavelmente na infncia e
adolescncia - e tambm os conheci, em Pombal, alto serto da Paraba, onde duas
vezes (ah, no imagine nada pico) fui cabra marcado pra morrer. Fora o fato de
que no final dos anos 60 fiz justamente o papel de um matador no primeiro longa
paraibano O Salrio da Morte, de Linduarte Noronha produzido por mim, por
um colega do BB Jos Bezerra Filho, autor da histria - e pelo povo da cidade. A
estou, de rosrio e escapulrio no pescoo e revlver na cintura
. Da que avalizo em teoria e prtica O Frio da Lmina ( que
faz parte dos livros O FABRICANTE DE HISTRIAS e ENTRE MOSCAS (
Confraria do Vento, 2013, finalista do Portugal/Telecom, com resultado previsto
pra novembro ). Alm da vivncia da regio, Nores um autor culto, e esta sua
estria tem, por isso como todas as que conheo, dele grande riqueza interna.
Veja isto:
O Primo sorri. Somos parentes prximos e colegas dos tempos de colgio, quando ele
costumava assistir s aulas com um 38 escondido na carteira e eu contava com sua
proteo em brigas contra os mais velhos.
E, perto do final:
http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://3.bp.blogspot.com/-ndUUjm8pmK4/TZcLwB3H2CI/AAAAAAAAAPE/7MZlmWcnkA8/s1600/faca.png&imgrefurl=http://box3dsm.blogspot.com/2011/12/faca-de-caca.html&h=444&w=1600&tbnid=QsNvTqk5RpnDLM:&zoom=1&docid=tbpVHGFqCwiLxM&ei=m0BNVKqHFJfasATYxYKwBw&tbm=isch&ved=0CCQQMygcMBw4ZA
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(...) tenho por ele uma espcie de ternura dos tempos de escola, quando invejava seu
olhar ao encarar algum colega de quem desgostava ou quando me dizia que era
apenas um hspede de Deus.
Esse Primo me remeteu imediatamente ao personagem central de um livro que
marcou poca:
Emil Sinclair, protagonista e narrador, (...) influenciado por Max Demian, um colega de classe
precoce e envolvente, prova o crime, a amizade e as incertezas - surpresas que engendram as
descobertas de sua vida adolescente. (...) Demian revela a Sinclair que existem filhos de Caim, pessoas
que possuem a capacidade de exercer o bem e o mal.
E eis uma das falas do Primo que agora, adulto, um matador de aluguel - no
misterioso encontro com o narrador, numa mesa de bar:
- Muita gente pensa que s Deus tem o direito de tirar a vida. (...) Conheo um pouco
do Histria, daqueles tempos de ginsio, e pergunto: quem matou mais gente do que a
Igreja? (...) tenho conscincia de que s mato gente ruim, ajudo Deus e melhorar essa
terra.
Demian tem um equivalente no cinema: Shane (Alan Ladd) de Os Brutos
Tambm Amam. O garoto v chegar na fazenda o misterioso matador que passa
http://pt.wikipedia.org/wiki/Cainitashttp://schoolworkhelper.net/herman-hesse%E2%80%99s-demian-summary-analysis/
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a trabalhar com o pai dele , impe respeito aos
que querem tomar a terra da famlia ,
dana com a me, o que o pai no faz e ensina-o a atirar,
http://adaged.blogspot.com/2013_02_01_archive.htmlhttp://torontofilmsociety.org/files/2014/03/Shane-7.jpghttp://en.wikipedia.org/wiki/File:Jean_Arthur_in_Shane.jpg
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... o que deixa o garoto e a me forados a uma comparao entre esse ideal e o
pai e marido - srio, responsvel, confivel, trabalhador, mas feio e sem charme
. Como j observei ao analisar o conto O
Fabricante de Histrias, Nores gosta das antteses, contrastes. e usei - para
ilustrar isso - o smbolo do Yin/Yang, alm da imagem de um iceberg ( pela
enorme parte submersa ). com isso que ele consegue uma espcie de
tridimensionalidade em suas histrias.
O ttulo O Frio da Lmina deriva de uma frase do conto:
Fronteira entre vida e morte pode ser apenas o gume de uma faca. (...) Comecei a
entender que era assim depois da conversa com o Primo, entre dois copos de cerveja,
no bar da praa.
http://1.bp.blogspot.com/-m1Tx9ix34h4/Tra8ASU063I/AAAAAAAAUvc/rvSDQwuwUBQ/s1600/Shane_094Pyxurz.jpg
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Em vez de bar, poder-se-ia dizer... Saloon.
Sim, porque o clima que Nores estabelece na histria o mesmo das falsas
pasmaceiras nos largos espaos dos faroestes, que so os mesmos que vimos e
vivemos no interior nordestino. Chego a ouvir a enorme solido que nos passa a
gaita de boca e do assobio da trilha sonora de Ennio Morricone, com trocas de
olhares como este, que poderia ser os dos tais primos:
http://symparanekronemoi.blogspot.com/2013/09/deadwood-season-one.htmlhttp://www.popmatters.com/artists/sergio-leone/
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Quando o matador se vai, na moto, sinto que sua mquina negra equivale a isto:
Veja esta frase do narrador:
Escuto histrias e finjo acreditar nelas: assim so criados os mitos.
Isso nos leva famosa frase dita por um experiente jornalista, noutro western, em
O Homem que matou o facnora, de John Ford:
- When the legend becomes fact, print the legend.
- Quando a lenda se torna fato, imprima-se a lenda.
Lembrei-me disso noutro conto de Nores, em que o insuficiente quadro Angelus
Novus, de Paul Klee, transformado por Walter Benjamin num grande smbolo
das esquerdas.
O narrador de O FRIO DA LMINA enfatiza, no final, depois que o Primo pega a
moto negra e se vai:
a hora morta, quando a preguia toma conta do pequeno comrcio e o lusco-fusco
das almas rebrilhas sobre as guas do aude. Enfio na boca o ltimo gole: O
REMORSO no tem gosto de cerveja(...). Repito: GOSTO do primo.
http://cinapse.co/2014/01/30/two-cents-once-upon-a-time-in-the-west/http://www.rockymtnrefl.com/shawnsunriseonhorsesilhouette.htmlhttp://pixgood.com/horses-and-cowboys-in-the-sunset.html
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Remorso, Gosto do Primo. Um freudiano que em tudo v sexo, veria no narrador
a me do garoto de Os Brutos Tambm Amam, a mulher casada que se apaixona
pelo matador. Ou veria Riobaldo tenso por se apaixonar por Diadorim, que supe
ser homem. Um junguiano, no entanto, veria no narrador o menino impressionado
por Demian, pelo Primo que cresceu... e se foi.
Mas nem Demian nem Shane so novidade. No existe nada de novo de baixo do
sol, j dizia o Eclesiastes. H um trecho de um romance meu ,
que contm uma revelao de outro livro, , que me parece vir
a calhar:
(...) meu pai, acendendo novo charuto e olhando de esguelha para mim:
http://angelnumber25.wordpress.com/2012/03/10/gone-too-soon-alan-ladd/http://www.thelin.net/laurent/cinema/films/tt0046303.htmlhttp://produto.mercadolivre.com.br/MLB-463098545-a-batalha-de-oliveiros-w-j-solha-_JMhttp://pt.slideshare.net/rayannesilva93/a-psicanlise-dos-contos-de-fadas-bruno-bettelheim
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Voc sabia que essa coisa de seu irmo ir pra guerrilha do Araguaia e
de voc, que fica, ... velhssima? Tome ele me diz Abra na pgina
115.
Pego a brochura e leio o ttulo: A Psicanlise dos Contos de
Fada, de Bruno Bettelheim. Pgina 115. Vejo o nome do captulo:
Contos dos Dois Irmos . Vejo a fumaa ser tragada pra treva da boca
e da garganta de meu pai. E leio trecho sublinhado:
- O tema dos dois irmos central no conto de fada mais antigo,
que foi encontrado num papiro egpcio de 1250 a.C. Por mais de trs mil
anos, desde ento, tomou vrias formas. Um estudo enumera 770
verses... mas provavelmente h muitas mais!
Leio, estupefato:
- O que todas essas histrias dos Dois Irmos tm em comum
so traos que sugerem a identidade dos heris, um dos quais
prudente e de bom senso...
No caso, voc meu pai especifica.
- ... mas pronto a arriscar a vida para salvar o outro irmo, que se
expe a perigos terrveis,
- ...Seu irmo.
Viro a pgina:
- As estrias sobre o tema dos Dois Irmos acrescentam uma
outra dicotomia: o impulso pela independncia e autoafirmao, e a
tendncia oposta, a de permanecer em casa, ligado aos pais. Desde a
primeira verso egpcia, as estrias frisam que ambos os desejos
residem em ns, e que no podemos sobreviver privados de nenhum
deles: com o desejo de ficar ligados ao passado, e o nosso impulso de
atingir um novo futuro.
- Agora, preste ateno, Oliveiros.
- Atravs do desenrolar dos acontecimentos, a estria com muita
frequncia ensina que cortar inteiramente o prprio passado leva a um
desastre, mas que existir apenas em funo do passado... impede o
desenvolvimento.
- Mas... no existe nenhuma sada, pai?
- Existe ele diz, seguro Continue lendo.
- Apenas a integrao completa dessas tendncias contrrias ( a
do que fica e a do que vai ) permite uma existncia bem sucedida. Mas
como se consegue isso?
-
Pela curta biografia do autor, disponvel ele viveu ( exilado ) na Frana, Arglia
e Moambique, o que torna, inesperadamente, o Primo e no o narrador seu
alterego. Veja como essa tese-anttese se reflete em seu estilo, que resulta em pura
sntese, no jogo do no-acontecimento narrado base de chiaroscuro, Yin/Yang,
Sinclair/Demian, garoto/Shane:
Na abertura:
(...) a transio entre dia e noite avara.
No fim segundo perodo:
Fronteira entre vida e morte pode ser apenas o gume de uma faca,
um faiscar de bala.
No comeo desse perodo:
(...) Na solido das ilhas gregas foram paridos os ciclopes. Aqui tambm tudo se cria,
nada se esconde. Fala-se alto, mas o balbucio a forma mais corrente de fala. No h
por que temer os deuses, mas preciso acautelar-se contra a boca dos crentes. Nesses
lugares altos, as guas descem com rapidez e levam com elas o que houver de excesso
no caminho. A lama se agarra aos ps com a avidez de sanguessugas, entranha-se nas
unhas, desacelera os passos. Tudo conspira contra a pressa e deixa seu negror. (...)
Terceiro perodo:
(O Primo) Tem (...) pele branca de quem prefere a sombra.
Bem mais adiante:
(...) na sua atividade (...) preciso fazer tudo certo, como a gua da vrzea, que parece
mansa e espelha o cu, mas de repente desembesta quando a chuva faz sua arrancada
nas cabeceiras.
Mais adiante:
(O primo, matador) cumprimenta o policial que passa na calada, informa que filho
de um ex-empregado de seu pai.
Perodo seguinte:
( O Primo lhe pergunta): Quem matou mais gente do que a Igreja?
Perodo seguinte:
O Primo olha o relgio Cartier, diz que foi comprado no mercado de Juazeiro do
Norte.
Prximo perodo:
http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://3.bp.blogspot.com/-ndUUjm8pmK4/TZcLwB3H2CI/AAAAAAAAAPE/7MZlmWcnkA8/s1600/faca.png&imgrefurl=http://box3dsm.blogspot.com/2011/12/faca-de-caca.html&h=444&w=1600&tbnid=QsNvTqk5RpnDLM:&zoom=1&docid=tbpVHGFqCwiLxM&ei=m0BNVKqHFJfasATYxYKwBw&tbm=isch&ved=0CCQQMygcMBw4ZA
-
As portas da matriz esto fechadas, o relgio da torre deixou de funcionar.(...) Em
compensao os alto-falantes berram versculos da Bblia, interpretada por alguma
seita da vez.
E Nores repete, ao terminar o conto, o texto de abertura:
Porque, em cima da serra, cedinho bruma; de tarde, horizonte verde-cinza. No final
do dia, as cidades em torno acendem suas luzes. (...)
Mas acrescenta:
sempre assim. A repetio ajuda A PENSAR QUE A VIDA NO TEM MUITA
GRAA E QUALQUER ACONTECIMENTO FORA DO LUGAR AJUDA A
ALIVIAR A MODORRA DE NOSSA PASSAGEM POR ESSE REINO DO
ESQUECIMENTO.
SCORPIACE EM RECIFE
http://pyxurz.blogspot.com/2011/11/shane-page-5-of-5.html
-
- Sobre o conto Na varanda, sobre o bulevar, de Everardo Nores.
W. J. Solha
Este livro: , enfatiza a importncia deste detalhe na Criao do
Homem, de Miguelngalo: , que vem baila por causa de um
momento especial, criado por Nores, nesse conto que integra o volume O
FABRICANTE DE HISTRIAS:
Ela pediu a caixa de fsforos e ento os dedos se tocaram.
(...)
Ao devolver a caixa de fsforos, os dedos se tocaram de novo. Leve tremor de
gazela acuada, de bicho no cio.
Onde a cena? Num apartamento do bulevar Mohamed V, no sei se o de
Casablanca, Tnger ou Agadir trs cidades de Marrocos.
Como o autor fala numa cidade branca e luminosa como o claro que
precedeu a chegada do arcanjo Gabriel, voto em Casablanca, como votaria j que
a caixa de fsforos de um brasileiro, na marca
http://produto.mercadolivre.com.br/MLB-582682465-universos-da-arte-fayga-ostrower-_JMhttp://www.naturale.med.br/artes/6_a_capela_sistina.htmlhttp://www.lemonde.fr/style/article/2013/10/09/les-tresors-arts-deco-de-casablanca_3492595_1575563.htmlhttp://destinia.co.uk/h/h154426-hotel-tulip-inn-oasis
-
. Mas nos contos de Nores nada claro e, em parte por isso
mesmo, tudo cativante. Ele no oferece pistas. Cita Nerval, francs; Jancek,
tcheco; Farid ud-Din Attar, iraniano, ...e tambm um figo partido ao meio do
Cemitrio das Princesas, aquele, cheio de figueiras, em Argel, onde ele prprio, o
autor, viveu. um cidado do mundo, evidentemente. Exilado, sua biografia
confirma, e tambm a saudade mencionada no seu primeiro pargrafo.
E quem a moa do fsforo? Zohra, encarregada da limpeza. Cerca de
trinta anos. Um escorpio, a pequena tatuagem no rosto, de linhas perfeitas.
Fui ao Google. http://www.tattoo.net.br/fotos-de-tatuagem-de-escorpiao/ e l
est:
A tatuagem de escorpio costuma ser escolhida por homens e mulheres que tem fascnio
por aquilo que misterioso e enigmtico. A imagem ameaadora, sempre pronta para o ataque,
pode transmitir charme e sensualidade, principalmente quando tatuada em mulheres, que indica
que mesmo sendo pequena e serena, tambm pode ser forte e muitas vezes mortal.
Seria s isso?
Mal Zohra entra em cena, o protagonista v que os olhos dela tinham o
negror dos condenados, e por uma razo que nunca conseguiu entender, ela comeou
a contar, num francs quase imperceptvel, como havia sido repudiada. Da a
pergunta: Como seria a cerimnia do repdio?, e ele se lembra de um livro que
lera na faculdade, de um Louis Milliot. ( Louis Milliot, professeur de droit franais,
spcialiste du droit musulman.). Escolhe um trecho: O juramento das costas (zihar),
onde um marido acusa:
- Juro que tuas costas so para mim como as costas da minha me.
http://www.tattoo.net.br/fotos-de-tatuagem-de-escorpiao/http://fr.wikipedia.org/wiki/%C3%89tudes_de_droit_en_Francehttp://fr.wikipedia.org/wiki/Droit_en_Francehttp://fr.wikipedia.org/wiki/Droit_musulmanhttp://clorominas.com.br/produtos/fosforo-fiat-lux/http://www.tattooshunt.com/tattoos/scorpio/page/19/
-
Isso me lembra que no meu livro (Codecri 1984), analisei
a personalidade de Jos Amrico de Almeida atravs de seus romances, memrias
da infncia e a da participao dele na Revoluo de 30. Conclu que o personagem
Lcio, de A Bagaceira, ao no querer Soledade porque ela era a cara de sua
me, revelou ter o mesmo problema do personagem que sua matriz, o Prncipe
da Dinamarca: , o que estendo ao romancista, memorialista e
revolucionrio paraibano, como Jones faz com Shakespeare. Bem, o mesmo eu
poderia dizer do autor de Na Varanda, sobre o Bulevar, j que seu conto todo
na terceira pessoa, menos nesse momento em que ele diz: Na estante da biblioteca
da faculdade, LI no livro de Louis Milliot.
Vejamos o que acontece.
Zohra tem um filho Jamil de doze anos. Justamente quando a citao do
juramento das costas termina, o grito do menino a chamar pela me flutuou sobre
eles como fascas de culpa. Zohra, por isso, deixa pra fazer depois o ch que o
homem lhe pedira e se apressa. Desapareceu escada abaixo. Temia o filho, uma
criana; mas era homem.
lembrado, ento, no conto, o Memorial dos santos, de Farid ud-Din
Attar, em que se narra que as virtudes do mstico xeique Junald Baghdadi foram
postas prova pelo califa, que enviou sua casa uma escrava extremamente bela,
ricamente adornada de jias. Ao ser seduzido, no entanto, o santo suspirou, seu
suspiro aflorou no rosto da escrava e a fez cair fulminada.
http://books.google.com/books/about/Z%C3%A2e_Am%C3%A2erico_foi_princeso_no_trono_da.html?id=ZbotAAAAYAAJhttp://pelotascultural.blogspot.com/2011/02/comentando-shakespeare-em-filmes.html
-
A, no bulevar, no mormao de um calor de 40 graus, algo estranho
acontece:
Uma luz caminhou entre fios de cabelo, uma mo insinuou-se entre dobras,
houve um tilintar de xcaras na superfcie da mesa, o copo de menta esverdeou a
tarde, o amuleto da mo de Ftima pendurado na parede, o olho lhe varou o sexo,
, o espaldar da cadeira cheirando a suor e mormao, o cobertor
de l com manchas brilhantes, o aconchego do REMORSO a se diluir entre dois
lbios ecos e a lngua a solicitar a misericrdia da saliva.
Wikipdia:
A hams (rabe: asmahc , literalmente cinco, referindo-se aos cinco dedos
da mo) um talism com a aparncia da palma da mo com cinco dedos estendidos,
usado por praticantes do Judasmo e do Islo como um amuleto contra mau-olhado.
Tambm conhecida pelos nomes chams, mo de Deus, mo de
Ftima, olho de Ftima, mo de Mriam ou mo de Hamesh.
Veja o que acontece em seguida:
Ela o prendeu entre os braos, sussurrou alguma coisa que ele no pde
entender. Manteve os olhos fechados. UM HLITO SE ACERCOU DELE.
Voltemos ao Memorial dos santos:
As virtudes do mstico xeique Junald Baghdadi foram postas prova. (...) Ao
ser seduzido, entretanto, o santo suspirou, seu suspiro aflorou no rosto
da escrava e a fez cair fulminada.
Suspiro, hlito, fulminada. Tudo se repete, em meio a um delrio: No mais
o incomodava o cheiro de azeite, nem de axilas. As rstias de sol atravessaram as
aberturas da cortina. Suas mos procuraram laranjas, damascos e o figo partido ao
meio do Cemitrio das Princesas.
http://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADngua_%C3%A1rabehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Talism%C3%A3_(objeto)http://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A3ohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Juda%C3%ADsmohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Isl%C3%A3ohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Mau-olhadohttp://blog.uselets.com.br/?p=6840http://www.naturale.med.br/artes/6_a_capela_sistina.html
-
D. H. Lawrence:
The Italians vulgarly say, it stands for the female part ; the fig-fruit :
The fissure, the yoni,
The wonderful moist conductivity towards the centre.
Os italianos apelidam de figo os rgos sexuais da fmea: A fenda, o yoni, Magnfica via hmida que conduz ao centro.
(...) No ptio, no viu mais o carneirinho a girar em torno de si mesmo, como
se existisse um eixo imaginrio, etc, etc. (...) Respirou fundo (...) Ela dormia ao lado
(..) Era preciso esconder o escorpio gravado NO ALTO DO SEU SEIO. (...)
Mas o autor, versado em mistrios, se pergunta: Qual a relao entre aquele
escorpio, azulado, com pontos carmins, bordado na pele de Zohra, e o animal,
metfora da heresia, descrito por Tertuliano no prembulo sobre a doutrina do
martrio?
Martrio. Como dipo, ele vive no exlio.
Tertuliano refutou uma orientao hertica gnstica que contestava o
significado do martrio, vista esta heresia sob a imagem do escorpio. Acabou
dando refutao o ttulo de Scorpiace, o remdio contra a picada do escorpio.
Mais.
Tertuliano demuestra que Dios desea la fortaleza de los mrtires y su victoria sobre
la tentacin;
Naquele instante, - aparente nonsense - buscou junto a Zohra o antdoto para
a picada.
http://ec.aciprensa.com/wiki/Fortalezahttp://ec.aciprensa.com/wiki/Tentaci%C3%B3nhttp://www.amazon.co.uk/Scorpiace-Quinto-S-Tertulliano/dp/8810420144
-
Mas de repente o personagem acorda e se v numa cama branca, de ferro, no
Recife, o plstico de soro dependurado ao lado. Pirara, andara sonhando? O conto no
diz.
E no adormecer sem recurso, (ele se ) lembrou do verso de Leopardi, na
traduo de Ivo Barroso:
(...) quando me visita o eterno,
E as estaes j mortas, e a presente
E viva com seus cantos. Assim, nessa
Imensido se afoga o pensamento
E doce naufragar-se nesses mares.
POR QUE EVERARDO NORES DEU A SEU LIVRO ENTRE MOSCAS O TTULO DE UM DE SEUS CONTOS?
W. J. Solha
H tanta densidade nas suas estrias, quanto num autorretrato de Rembrandt da
maturidade, feito sempre em vrias camadas, como este:
-
Essas camadas so perceptveis, em Nores, na tcnica utilizada pelo menos nos
trs ... contos... que j analisei nestes dias, todos a partir de lances reais, dois at
com tratamento to esmerado quanto se fossem poemas em que ele constri as
narrativas com paralelismos que as amarram, como os aros que mantm coesos
os fragmentos de madeira das barricas.
http://www.repro-arte.com/historia-arte/autores/sigloxvii/rembrandt.php
-
Em Um Certo Padre Gomes, por exemplo, a pequenez de sua solido no Cariri
se ressalta com o discurso de Valry na Academia lotada, em Paris. Sua batina em
nada pica, faz com que seus alunos pensem nos trajes dos samurais, com um 38
na faixa da cintura, em lugar do sabre, etc, etc. Em Um certo Gos, o diplomata
de Moambique discute com o brasileiro talo Zappa, a Avenida Kenneth Kaunda
joga com a rua Damio de Gis - em que Aquino de Bragana, o homem de Goa -
reside, o que faz com que o autor compare o historiador portugus com o
jornalista atual, um abrindo a grande narrativa das conquistas portuguesas, o
outro encerrando-a com a luta de independncia das colnias lusitanas em frica e
sia, etc, etc. E no Entre Moscas?
De cara, vemos que se trata de uma verso da Metamorfose, de Kafka, em que o
personagem no acorda transformado num inseto: vai transformar-se nele. Como
no clebre
The Fly (A Mosca PT/BR
) um filme de terror e fico cientfica dos Estados Unidos, Reino
Unido e Canad de 1986, com direo de David Cronenberg. Estrelando Jeff
Goldblum, Geena Davis e John Getz. uma refilmagem do seu homnimo de 1958. O
enredo desenvolve-se em torno do fsico Seth Brundle (Jeff Goldblum), que est a
desenvolver uma mquina de teletransporte. Aps fazer alguns testes com objetos e com
um macaco, Seth, acompanhado de Veronica Quaife (Geena Davis), uma jornalista
investigativa, sente-se encorajado a testar sua mquina em si prprio. Ao entrar na
cabine de teletransporte, ele acaba se fundindo
geneticamente a uma mosca-domstica, tendo diversas
http://pt.wikipedia.org/wiki/Portugalhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Brasilhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Estados_Unidoshttp://pt.wikipedia.org/wiki/Reino_Unidohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Reino_Unidohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Canad%C3%A1http://pt.wikipedia.org/wiki/David_Cronenberghttp://pt.wikipedia.org/wiki/Jeff_Goldblumhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Jeff_Goldblumhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Geena_Davishttp://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=John_Getz&action=edit&redlink=1http://pt.wikipedia.org/wiki/The_Fly_(1958)http://pt.wikipedia.org/wiki/Jeff_Goldblumhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Teletransportehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Geena_Davishttp://pt.wikipedia.org/wiki/Mosca-dom%C3%A9sticahttp://www.barricasdeocasion.com/http://www.baixarfilmesdublados.net/baixar-filme-a-mosca-dublado/
-
modificaes fisiolgicas aproximando-o da aparncia de um inseto.
Talvez a MOSCA NA SOPA, do Raul Seixas:
Eu sou a mosca Que perturba o seu sono Eu sou a mosca No seu quarto a zumbizar
Mas eu sou a mosca Que pousou em sua sopa Eu sou a mosca Que pintou pra lhe abusar
Fato hilrio: quando Walter Carvalho entrevistava Paulo Coelho para o
documentrio sobre o roqueiro, uma mosca
apareceu sobrevoando, rodeando, pousando na cara do ex-parceiro do compositor,
que falava justamente sobre ele. Paulo, sorrindo, estranhou:
- Uma mosca... aqui em Genebra? Deve ser o Raul!
E a matou.
Acho que tudo, para o ENTRE MOSCAS, teve incio quando Nores se deparou,
num poema infantil espanhol LAS MOSCAS, de Antonio Machado -, com algo
fascinante: estes dois versos:
vosotras, moscas vulgares
me evocais todas las cosas
Por que fascinante? Veja este trecho de meu poema longo TRIGAL COM CORVOS:
vi o bolinho madeleine fazer Proust reviver a infncia
vi acontecer exatamente o mesmo com o personagem de Bergman ao
comer morangos silvestres
vi a coisa toda reiterar-se em Light in August - de Faulkner
quando algum experimentou ervilhas guisadas com melao
http://miradourocinematografico.blogspot.com/2012/04/raul-o-inicio-o-fim-e-o-meio-um.html
-
leio a mesma coisa nas memrias de Gabriel Garca Mrquez a respeito
dos efeitos de uma comida criolla servida novamente para ele em Aracataca quando
adulto
e acabo me lembrando de meu amigo judeu argentino Kaplan - em seu
Antes que me Esquea (m) mencionando igual resultado de uma semente de
girassol torrada que lhe foi servida em Haifa.
Como se v, Nores de enorme bagagem literria encantou-se com algo to...
proustiano... em poema no por acaso... infantil.
LAS MOSCAS
]
Vosotras, las familiares
inevitables golosas,
vosotras, moscas vulgares
me evocis todas las cosas.
Como os versos prosseguem, mudo a formatao do restante, sem buscar
tradues, pois como so para crianas tm fcil vocabulrio. Observe que o
verso que atraiu Nores, encerra a primeira estrofe, acima, e o poema todo ( como
novo aro de barrica ), abaixo:
Vosotras, las familiares, inevitables golosas, vosotras, moscas vulgares, me evocis todas las
cosas. Oh, viejas moscas voraces como abejas en abril, viejas moscas pertinaces sobre mi
calva infantil! Moscas del primer hasto en el saln familiar, las claras tardes de esto en que
yo empec a soar! Y en la aborrecida escuela, raudas moscas divertidas, perseguidas
por amor de lo que vuela, -que todo es volar-, sonoras rebotando en los cristales en los das
otoales... Moscas de todas las horas, de infancia y adolescencia, de mi juventud dorada;
de esta segunda inocencia, que da en no creer en nada, de siempre... Moscas vulgares,
que de puro familiares no tendris digno cantor: yo s que os habis posado sobre el juguete
encantado, sobre el librote cerrado, sobre la carta de amor, sobre los prpados yertos
de los muertos. Inevitables golosas, que ni labris como abejas, ni brillis cual mariposas;
pequeitas, revoltosas, vosotras, amigas viejas, me evocis todas las cosas.
Genial! A est todo o Em Busca do Tempo Perdido em meia dzia de linhas!
Muito bem. Vai da que o ttulo Entre Moscas se deve ao fato de que o personagem do conto
se mantm trancado no prprio quarto ( que acaba funcionando como a cabine de
teletransporte do filme A MOSCA ) para que sua nica companhia, a mosca que o azucrina,
no se v.
-
Mas vamos a mais dois aros utilizados pra manter essa barrica inteira. Claro que LAS
MOSCAS, de um autor chamado Antonio Machado, levaria a uma bvia associao com
A MOSCA AZUL, poema de... Machado de Assis.
, Machado, nosso gnio mulato que certamente detestava negros.
- Quanto a mim, prefiro a mosca de verdade: preta, sem metforas.
E interessante como Nores... deixa pistas pelo caminho. Veja este trecho:
Encontrei-a de novo, a minha mosca. Comeou a saltitar sobre o livro aberto ao lado, em cima de
um pedao de frase: to drive home the finality of death . Caminha com passadas microscpicas,
ultrapassa o trecho: by the monotonous buzzing of the flies?.
Que livro seria?
Este:
Stanley Burnshaw
University of Arkansas Press, 1964 - 337 pginas
http://www.superdownloads.com.br/download/186/papeis-avulsos-machado-de-assis/http://books.google.com.br/books?id=J1JXmJAobSkC&printsec=frontcover&hl=pt-BR&source=gbs_ge_summary_r&cad=0
-
Desse volume constam o poema Las Moscas, de Antonio Machado, no original em
castelhano e, logo depois, um comentrio, em ingls, no qual figuram essas duas frases. A
segunda, by the monotonous buzzing of the flies? no meio do texto; a primeira, to drive
home the finality of death, encerrando-o e pgina 179. A obra est venda e disponvel na
internet:
vosotras, amigas viejas,
me evocis todas las cosas.
Que coisas?
Penso, ento, na mosca que pousava no olho do primeiro morto que vi.
Isto est nesta bela estrofe:
Yo s que os habis
posado
sobre el juguete
encantado,
sobre el librote
cerrado,
sobre la carta de
amor,
sobre los prpados
yertos
de los muertos.
Sobre as plpebras
rijas
dos mortos.
-
E depois de roar meu brao esquerdo, aterrissa finalmente na pequena poro de
comida, de cerca de 3 gramas, que depositei sobre a folha de papel branco, tamanho
A4.
Vosotras, las familiares,
inevitables golosas.
Note-se com a palavra hasto tdio, fastio aparece no poema de Machado e
no texto de Nores:
Moscas del primer hasto
en el saln familiar,
Ela, a mosca, ter uma durao de, no mximo, vinte e um dias (..), ficarei sozinho,
sem ter com quem partilhar O FASTIO.
(...)
E de repente a escuto, numa espcie de murmrio.
Sim, the monotonous buzzing of the flies.
H todo um referencial literrio nesse conto, em todos os contos e poemas de
Nores. Veja isto, para nos preparar para a kafkiana transformao do narrador
em inseto:
Imagino que assim deve pensar Deus se que Ele existe sobre todos ns humanos,
pequenos insetos nervosos a se mexerem, sem objetivo nenhum no nosso pequeno
blido perdido no universo.
Isso tem muito a ver com a fala de Gloucester no quarto ato, cena um, do REI
LEAR:
GLOUCESTER - O que para os garotos so as moscas, ns somos para os deuses: matam-nos
por brinquedo.
GLOUCESTER - As flies to wanton boys are we to th' gods.
They kill us for their sport.
Mais referncias, mais aros. preocupao com a busca de algo totalizante,
proustiano, se contrape tergiversaes como esta:
Fico o dia quase todo a ler e a buscar entender os teoremas da incompletude de Gdel.
Ou, ento, j que se est sem querer, querendo trabalhando num conto que ,
todo uma metfora, simbolista, a meno do poeta portugus Camilo Pessanha.
-
(Coimbra, 7 de Setembro de 1867 Macau, 1 de Maro de 1926) foi
um poeta portugus.1 considerado o expoente mximo do simbolismo em lngua
portuguesa, alm de antecipador do princpio modernista da fragmentao.
O deboche:
Camilo Pessanha. Aquele de barba toda moscas.
Bem, mas j basta de entretantos e vamos pro finalmente: o conto comea dizendo
A mosca cola-se ao vidro da janela.
Descrio?
olhos mltiplos, omatdios, oitocentos gros translcidos, esferas cristalinas, como uma TV
LCD
http://pt.wikipedia.org/wiki/Coimbrahttp://pt.wikipedia.org/wiki/7_de_Setembrohttp://pt.wikipedia.org/wiki/1867http://pt.wikipedia.org/wiki/Macauhttp://pt.wikipedia.org/wiki/1_de_Mar%C3%A7ohttp://pt.wikipedia.org/wiki/1926http://pt.wikipedia.org/wiki/Poetahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Portugueseshttp://pt.wikipedia.org/wiki/Camilo_Pessanha#cite_note-UOL_-_Educa.C3.A7.C3.A3o-1http://pt.wikipedia.org/wiki/Simbolismohttp://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADngua_portuguesahttp://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADngua_portuguesahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Fragmenta%C3%A7%C3%A3ohttp://aviagemdosargonautas.net/2014/09/07/2069825/
-
O conto termina:
Ligo a grande mosca, a que no se mexe, no volteia no ar. A que mede trinta e seis
polegadas, milhares de gros translcidos, esferas cristalinas de alta definio, que levam a
escurido ao nosso crebro minsculo. E agora encandeiam a noite, na qual, sozinho,
confundo-me com ela.
Cest finis.
, no. Detalhe importantssimo: apesar de absurdo, o conto no teria partido de
algo real, como em UM CERTO PADRE GOMES, O CEGO e UM CERTO
GOS? Nores viveu vrios anos na Arglia.
O Deserto da Arglia (rabe: um deserto localizado na poro (
centro-norte da frica, mais precisamente no Norte da frica. Na Arglia, o deserto
representa uma rea de quase 80% do pas. O deserto possui uma rea de 3 500 000 km.
http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81rabehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Desertohttp://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81fricahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Norte_da_%C3%81fricahttp://ecolfuturo.blogspot.com/2010/11/olhos-de-mosca-sao-bons-para-captar.htmlhttp://anti7.com/rants/2013/04/30/ruido-branco-social/
-
lembro tambm a que me perseguiu na travessia de um trecho de deserto. Havia sido
prevenido de que o instinto de sobrevivncia levaria a mosca a se grudar em algum de ns
e a seguir-nos at o fim da viagem. Instintivamente, ela sabia que, naquelas
circunstncias, abandonar o hospedeiro significaria a morte. Descuidei-me e tornei-me
seu alvo. Feri-me, de leve, de tanto tentar livrar-me do assdio e acabei por guardar
uma pequena mancha vermelha, que ainda trago no rosto.
Ser?
Vamos ver de mais perto.
http://www.viajandonomundo.com.br/index.php/os-lugares-mais-lindos-no-mundo-para-conhecer-africa/http://www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/viver/2014/09/25/internas_viver,531778/escritor-everardo-noroes-e-finalista-do-premio-portugal-telecom.shtml
-
No. Aqui est a mancha vermelha:
http://www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/viver/2014/09/25/internas_viver,531778/escritor-everardo-noroes-e-finalista-do-premio-portugal-telecom.shtmlhttp://triplov.com/poesia/Everardo-Noroes/index.htmhttp://www.repro-arte.com/historia-arte/autores/sigloxvii/rembrandt.php
-
Everardo NORES, Isto sobre seu conto O Cego (pginas 45 ss).
W. J. Solha
Reparo no texto abaixo, sobre seu Entre Moscas:
http://www.repro-arte.com/historia-arte/autores/sigloxvii/rembrandt.php
-
Escrito por Marco Polo
Ernest Hemingway dizia que a escrita deveria ser como um iceberg, do qual s
se via uma mnima ponta, enquanto toda sua potncia teria que ser adivinhada
sob as guas. J Ricardo Piglia diz que todo bom conto tem, sob o texto
aparente, um subtexto que flui como um rio subterrneo. Esse tipo de
qualidade, que obriga o leitor a ser um leitor ativo, mergulhador, escavador,
em busca do ouro real, uma das qualidades do livro de contos Entre moscas,
do cearense radicado no Recife Everardo Nores
Bem, e o conto O Cego me parece um perfeito exemplo disso. A comear pelo
fato de que impossvel, sendo voc borgiano nas citaes, cf Ronaldo
Correia de Brito, no pensar em Borges.
No s pela cegueira, mas em alguns pontos
http://www.ups.edu/faculty/velez/FL380/Bormain.htm
-
pelo estilo. Voc, como Borges, poeta. Por sinal, Hamid j aparece com sua
cegueira no poema O Anncio dos Brbaros. Mas aqui isto explcito:
Marcamos n osso primeiro encontro num caf, o da esquina de uma das principais avenidas da
cidade, junto a uma praa que tem a atmosfera da confluncia de rios ocultos.
Rios ocultos, no caso, so evidentemente, os personagens Hamid e o narrador. Rios
ocultos. O conto mostra o quanto.
(Hamid) Sabe as razes de minha estada na cidade, quem so meus
contatos, de onde venho.
Ns, no.
Indago como ele, cego, conseguira doutorar-se em lgica matemtica pela
Sorbonne. (..)
- O olho, disse o cego, simples circunstncia do real.
(...)
Reveja isto, depois de ler todo este meu texto:
(s vezes me pergunto se ele de fato cego), temo que escute meus passos,
sinta o cheiro de meu corpo, descubra alguma partcula secreta de meu
nome.
Umberto Eco presta uma grande homenagem a Jorge Lus Borges, em O Nome da Rosa.
No livro h uma biblioteca labirntica, secreta, dentro do convento comandado pelo
misterioso, severo... e cego Venervel Jorge:
(s vezes me pergunto se ele de fato cego).
Claro:
http://filmeseeducacao.blogspot.com/2010/04/o-nome-da-rosa.html
-
quando me pediu para conduzi-lo de automvel, descreveu as ruas por onde passamos,
confirmando que via to bem quanto eu.
Al Pacino faz mais do que isso quando dana tango e dirige toda, no papel
de cego de Perfume de Mulher...
Hamid chega ao ponto de opinar sobre um desenho retratando uma ex-noiva:
A ligeira sombra abaixo dos olhos a torna um pouco mais velha mas, no geral, considero que
um bom trabalho
... o que no nada absurdo, ante o fotgrafo cego Evgen Bavcar, do
documentrio Janela da Alma, sobre escritores e cineastas deficientes visuais,
... ou ante o Demolidor, super-heri cego vivido por Bem Affleck.
http://cinemaedebate.com/2011/03/09/perfume-de-mulher-1992/http://www.youtube.com/watch?v=56Lsyci_gwg
-
Claro que isso tudo remete a Tirsias, o... vidente cego do dipo Rei, de Sfocles, que diz ao
soberano (que terminar, literalmente, por cegar-se):
- ... Digo-te, dipo, j que ofendestes a minha cegueira, que tens olhos abertos luz, mas no
vs teus males.
Hm. Isso tudo talvez tenha a ver com a escolha do nome Hamid louvado ou digno de
louvor.
Mas...
Com Hamid aprendi a detestar os cegos.
Como Buuel. Em Viridiana, um dos mendigos, o cego, mau diz Roberto Acioli de Oliveira,
em A Religio no C inema de Luis Buuel.- Para o cineasta... todos os cegos so maus!
http://revistaquem.globo.com/Revista/Quem/0,,ERT160581-9531,00.htmlhttp://photos1.blogger.com/blogger/5732/1644/1600/Tiresias[1].jpg
-
E voltamos a Borges, que tem o xadrez como tema de um dos cumes de sua poesia.
Como explicar a facilidade com que Hamid age?
(Era) Como se tivesse no crebro um modelo matemtico , um jogo no qual sempre tivesse a
possibilidade de ganhar ou, no mnimo de empatar a partida, Kasparov jogando contra o Deep
Blue, ou no conto/ensaio de Poe O jogador de xadrez de Maelzel.
Bem borgiana a meno desse computador enfrentando Kasparov e desse
estranho enxadrista, um autmato... na verdade, segundo Poe, uma farsa,
pois manobrado por um ano.
Hamid tambm matreiro:
...pede que o deixe junto s escadarias da universidade. Pego seu brao, abro
caminho entre mesas.
Mas quem o narrador? E quem, Hamid? O final do conto... me lembra o
de meu romanceamento do dipo Rei, de Sfocles, constante de minha
Histria Universal da Angstia (Bertrand Brasil, 2005). Meu ttulo, por sinal,
deriva da Histria Universal da Infmia, do argentino.
http://3.bp.blogspot.com/-k-DuRVdW8Yc/Tce3YZkJsyI/AAAAAAAAAC8/Ge1Dr6rbwJg/s1600/Borges-y-Sabato-2.jpg
-
O meu tebano, ao fim de tudo, lembra-se de que Tirsias lhe dissera:
Se agora no vs, olhando tudo, breve tudo vers, embora cego!
Da que ele mete os ferres dos colchetes nos olhos. Foi quando ouvi minha voz fora deste centro do universo que eu sou, dizendo-me de longe: Tirsias! Senti minhas mos maiores do que as sabia e que o cncavo de suas palmas estavam ... nos ombros nus de dois rapazes Os kroi! percebi. Os guias! e, a seguir - Degraus!- percebi sob meus ps. Procurei controlar os passos para no cair. E temos dipo transformado no vidente, no exato momento em que chega, intimado por sua majestade ele mesmo - a dizer o que sabe de tudo que est acontecendo. E ouve-se a si mesmo:
- Zeus!... Saber terrvel, quando intil!...
E a... tenho o Everardo Nores como irmo numa mesma caminhada. As
coisas esto no ar, lemos e vimos as mesmas coisas, tivemos as mesmas
influncias... e por isso compreendo perfeitamente o que seu narrador diz,
enigmaticamente, encerrando o conto:
No tenho esc olha. (...) tornar-me-ei um pouco ele. At fecharei os olhos.
Serei um cego subindo escadarias, adentrando becos . Feito um co policial,
que se rege pelo faro, prestes a cravar suas mandbulas na carne de algum
infiel.
Sobre UM CERTO PADRE GOMES, de ENTRE MOSCAS,
seu volume de contos, Everardo
W. J. Solha
http://produto.mercadolivre.com.br/MLB-577028179-historia-universal-da-angustia-wjsolha-_JM
-
Em O SIGNO DA POESIA E O SIGNO DA PROSA, deste volume,
l-se que poesia aquela coisa que muda de linha antes que a pgina tenha
terminado e prosa aquilo que continua enquanto possvel aproveitar um pedao
de papel .
Nem sempre.
Na pgina 16, deste livro, por exemplo, se l:
Surgiu uma ideia.
Primeiro dominar.
Depois destruir.
Descobrir os segredos da arte.
Tirar-lhe todos os disfarces.
Domin-la.
Tornar-se um mestre.
https://sebodomessias.com.br/livro/literatura-estrangeira/sobre-os-espelhos-e-outros-ensaios.aspxhttps://sebodomessias.com.br/livro/teatro-e-cinema/reflexoes-de-um-cineasta.aspx
-
Depois, arrancar a mscara, pr a nu, demolir!
O cineasta, aqui, quer apenas ser extremamente claro... e decupa o texto.
Bem, voc, nas duas ltimas histrias curtas do livro , decide no
ir at o fim da linha. Pra... tambm decupar uma realidade vivida que tem pra nos
repassar. Uma delas se chama UM CERTO PADRE GOMES.
Padre Antonio Gomes de Arajo,
que, pelo menos nessas fotos em duas fases da vida, me lembra o ator e diretor
Roberto Begnini de A VIDA BELA, foi como o voc conta
fora do conto, seu professor e um dos maiores historiadores do Cear, da escola
de Capistrano de Abreu. D-nos um detalhe dele que importante na histria:
- Batina negra, com larga faixa a esconder um 38 duplo, segundo as ms lnguas,
era temido no s pelos alunos.
Bem, nem tanto.
http://busca.livrariasaraiva.com.br/saraiva/Confraria-Do-Ventohttps://pt-br.facebook.com/dhdpadregomeshttp://blogdosanharol.blogspot.com/2010/07/padre-antonio-gomes-de-araujo-por.htmlhttp://www.museudocinema.com.br/2007/06/roberto-benigni.html
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- Um dia, em plena aula, caiu da cadeira. Ningum ousou mexer-se. De sbito,
levanta-se, aponta o indicador e sentencia: Agora podem rir!
Fui atrs de mais dados. A Professora da UERJ, Lutgarde Oliveira, antroploga,
revela:
- No livro Apostolado do Embuste, ele diz que o padre Ccero se juntou com o
primo Jos Marrocos para utilizar um composto qumico e simular o sangue do
famoso milagre da hstia que virou sangue na boca de uma comungante. E provou
isso porque encontrou um livro francs que dizia como usar o material. S que a obra
foi editada dez anos depois do milagre. O padre Gomes ainda teve acesso aos prprios
panos do milagre e os queimou. Quando o questionei sobre isto, ficou enfurecido e
me acusou de fantica.
Bem, voc nos interrompe, introduzindo-nos diretamente numa bela imagem de
sua memria:
Dez horas da manh.
Na sala de aula, duas altas janelas cortam
o claro dos cus em pedaos.
O professor profere a chamada.
E a descrio, agora, ganha outro tom: literrio:
Ele padre, mas nada tem a ver com seus pares.
Basta ver o corte da batina, a faixa cintura
que mais parece um obi de samurai.
http://www.tvblog.it/post/265047/rai-roberto-benigni-porta-in-tv-i-dieci-comandamentihttp://www.metodista.br/unesco/jbcc/editorias/especiais/painel-evocativo-dos-70-anos-de-vida-da-antropologa-luitgarde-oliveira-cavalcanti-barros/imagem07.jpg/view
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Postura de quem est sempre espreita,
aguarda o ataque.
(...) Comenta-se que presa faixa no h uma katana,
o sabre japons, mas um Smith & Wesson, 38 duplo.
Os prprios alunos, portanto, ... esperavam muito de seu mestre. Por que? A vem,
com dois versos, o contraste com a fantasia,
cinzento o ginsio na sua arquitetura
cansativamente simtrica.
(...)
... a sala,
igual a vinte outras,
com seus trinta alunos sentados em carteiras
de madeira de lei.
Nelas, inscries, smbolos.
Nada de sugestes pornogrficas ou insinuaes subversivas.
(...)
aqui se iniciado no exerccio da delao.
Pronto. Est criado o plot. O que marca o conto o abafado desespero por algo...
maior, do Padre historiador. Voc fala em usura da histria.
Onde estar nossa taca?
http://galeri.uludagsozluk.com/r/toshiro-mifune-690816/
-
Temos um ponto em comum. Em meu romance RELATO DE PRCULA, cujo
personagem principal... tambm um padre, esse l de Pombal, no alto serto da
Paraba, meu narrador diz, l pelas tantas:
jamais terei como pano de fundo nada do porte de uma invaso napolenica ou de um
gigantesco desembarque de soldados na Normandia, acontecimentos de interesse e
repercusso mundiais. E da? Da, parece-me, a pouca ou nenhuma ressonncia dos
escritores brasileiros l fora, como se fssemos arquelogos e o mundo soubesse de
antemo que jamais encontraremos, aqui, nada parecido com a soterrada Tria ou os
tesouros de Tutankhamon, esfalfando-nos todos, toa, em escavaes na Lagoa Santa,
Ing do Bacamarte, ou no Parque Nacional da Serra da Capivara.
Da que Padre Gomes... sufoca na batina que no larga, no Crato, no silncio
martirizado no quarto de estudos.
(...) No tem com quem conversar,
aprofundar argumentos,
buscar o verme que contamina o miolo de seu fruto,
o fruto vermelho da Histria.
Por que essa... ma, nesse paraso? Seu conto, Everardo, uma elegia pra
algum que viu que A VIDA NO BELA.
Tem um ar triste, inquieto.
(...)
Em que pensa essa padre, com jeito de homem? Sim, voc diz isso, atravs de um
certo ano Tand: Com jeito de homem. Frise-se: Com jeito de homem. Mas
http://bari.notizie.it/the-wrong-picture-benigni-recitera-per-woody-allen/
-
se v que se trata de um homem... cerebral, limitado ao tal ginsio na sua
arquitetura
cansativamente simtrica. E a Histria, escreve Jos Honrio Rodrigues, no s
fato: tambm emoo
Mas emoo, como? O ambiente terrvel.
Aqui tudo vigiado.
A cada janela h um olho espreita.
Claro que, embora no parea, isso martiriza o personagem, algoz e vtima da
situao.
O padre caminha sem prestar ateno a quem passa,
nem atentar para quem se furta por trs das gelosias.
O conto, aqui, atinge seu ponto mximo. O que nosso historiador, o que voc
pesquisa?
A saga dos annimos.
Ou seja: catar os detritos da histria.
Ele luta, amargurado, para escrever... algo que o torne diferente do que no seu
conto, Everardo. Veja como este seu
trecho lembra o
do narrador em meu romance:
Em 9 de janeiro de 1941, Padre Gomes,
nos Cariris, longe de tudo, ensina, pesquisa, escreve,
elabora e medita, sozinho.
Nesse mesmo dia,
sob a Frana ocupada e 5 dias
aps a morte de Henri Bergson,
Paul Valry pronuncia na Academia Francesa
o belssimo elogio fnebre ao filsofo.
Caramba. Padre Gomes, sozinho nos Cariris, Valry fazendo um discurso na
Academia, em Paris!
-
Tanta grandiosidade, de um lado, e, de outro
necessrio lupa para recompor feies e formas.
Lupa que abandonada tendo o conto sido feito e o padre devidamente ampliado.
O encerramento antolgico. O Padre
pensa num mundo mais largo, sem cadeias,
(...)
longe de um sol que o mesmo sol de todos os dias,
(...)
onde nada existe que seja novo,
onde tudo cansa, tudo exaure...
Seu Padre busca um Ulisses. O mximo que poderia encontrar, no entanto, este,
Mero Leopold Bloom, de sua saga dos annimos em detritos da histria.
Ao fim e ao cabo, retiro o que disse: UM CERTO PADRE GOMES no apenas
um conto decupado. poesia, sim. E como!
http://es.wikipedia.org/wiki/Academia_Francesahttp://www.brasileire.com/Noticias/1350490103/bloomsday-celebra-o-ulysses-e-james-joyce
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AGUINALDO SILVAO homem das novelas que trocou o rio pelo casteloPOR QUE EVERARDO NORES DEU A SEU LIVRO ENTRE MOSCAS O TTULO DE UM DE SEUS CONTOS?Como se v, Nores de enorme bagagem literria encantou-se com algo to... proustiano... em poema no por acaso... infantil.