a terrÍvel histÓria de everardo norÕes e o...

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A TERRÍVEL HISTÓRIA DE EVERARDO NORÕES E O ANGELUS NOVUS DE PAUL KLEE W. J. Solha Foi como num trecho desta obra , ou de um filme de Costa-Gavras, . Sempre mandei meus livros a bons leitores de todo o país e, confirmando que é dando que se recebe, sempre recebi obras que deus e o mundo também me mandaram, mais, até, do que pude ler. Deu-se, então, que recentemente li e comentei vários contos de ENTRE MOSCAS, de Everardo Norões, todos baseados na vida real, de que gostei muito, e... vai daí que, acidentalmente, um mês depois, dou com outro livro dele, anterior (2012), por mais de um ano escanteado numa de minhas estantes: O FABRICANTE DE HISTÓRIAS ( Edições Muiraquitã ), que - de repente - me interessou muito, claro. E, de cara, o primeiro conto do volume me fascinou. Como me parece ter muito a ver, eis a ficha resumida do autor:

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  • A TERRVEL HISTRIA DE

    EVERARDO NORES E O

    ANGELUS NOVUS DE PAUL KLEE W. J. Solha

    Foi como num trecho desta obra , ou de um filme de Costa-Gavras,

    .

    Sempre mandei meus livros a bons leitores de todo o pas e, confirmando que

    dando que se recebe, sempre recebi obras que deus e o mundo tambm me

    mandaram, mais, at, do que pude ler. Deu-se, ento, que recentemente li e

    comentei vrios contos de ENTRE MOSCAS, de Everardo Nores, todos baseados

    na vida real, de que gostei muito, e... vai da que, acidentalmente, um ms depois,

    dou com outro livro dele, anterior (2012), por mais de um ano escanteado numa de

    minhas estantes: O FABRICANTE DE HISTRIAS ( Edies Muiraquit ), que -

    de repente - me interessou muito, claro. E, de cara, o primeiro conto do volume

    me fascinou. Como me parece ter muito a ver, eis a ficha resumida do autor:

    http://blogmorellianas.blogspot.com/2010/09/o-livro-de-manuel.htmlhttp://filmespoliticos.blogspot.com/2011/05/confissao-laveu-la-confessione.html

  • EVERARDO NORES ARRAES, natural do

    Crato, reside no Recife, foi exilado poltico e morou na Frana, Arglia e

    Moambique.

    Bom, conto uma histria minha, pra depois recont-la na dele:

    L pelo fim dos anos 70, plena ditadura, um colega de alto posto me perguntou se

    eu no gostaria de trabalhar na revista do Desed, do banco, l em Braslia,

    bastante ligada s artes. Como me interessei, tentou minha remoo, mas no a

    conseguiu. A, uma de minhas cunhadas, amicssima da secretria do presidente do

    BB da poca, conseguiu isso num vapt-vupt: veio um telefonema na sexta, pra me

    apresentar no Distrito Federal na segunda. OK. Tomava umas cervejas com os

    novos companheiros de l, depois de um dia de expediente, quando se aproximou

    de mim um ex-colega de ginsio, l de Sorocaba, So Paulo, onde nasci. No

    conversou cinco minutos e eu j estava convidado pra colaborar com o Ministrio

    da Fazenda, como ele, dispensado da vida bancria. Recusei a oferta, alegando que

    no estava nada entusiasmado com a cidade, ele se foi, e meu chefe que ouvira a

    conversa se aproximou puto: Ta como foi que voc conseguiu sua transferncia

    da noite pro dia: com o dedo-duro!

    Conto isso porque foi a primeira coisa de que me lembrei ao ler a primeira

    narrativa de O FABRICANTE DE HISTRIAS, de Nores O EXERCCIO DO

    ASCO, onde dois antigos parceiros de um colgio de jesutas encontram-se por

    acaso, sculos depois, fazendo cooper numa praa de Casa Forte, na capital

    pernambucana, e um deles, o narrador, conta como se impactou, de imediato, com

    o antigo artilheiro do colgio agora obeso, e com seu apartamento, para o qual

    convidado, num trigsimo segundo andar, numa plataforma area, que mais

    parece o bunker de luxo de algum figuro da Gestapo.

    Bom.

    O conto soberbo. Nores nos vai dando pistas, aos poucos, sobre esse homem, at

    encerrar o que se descobre dele, num vmito do narrador.

    Primeira pista, dada pelo anfitrio, depois da terceira dose de usque:

    - No tenho isso que voc chama de moral. Tenho apenas dois princpios: tratar

    meu alvo com delicadeza e descobrir sua vulnerabilidade. (...) Aquilo que voc

    aprenderia se lesse o Da Guerra, de Clausewitz.

    http://www.printempsdespoetes.com/index.php?url=agenda/fiche_eve.php&cle=40829

  • O narrador se intriga com tal citao de um ex-estudante que s pensava em

    futebol. Certamente frequentara algum curso de Estado Maior, oferecido (...) a

    alguns paisanos. O outro se serve pela quarta vez. E, gentil, ainda com a garrafa:

    - Sirvo?

    Recuso-me a aceitar outra dose.

    Nova pista:

    Naquele instante percebi, num recanto da sala, uma pequena tela de vdeo, a

    focalizar, em quadradinhos, as vrias entradas do prdio. Penso: as vidas esto

    recortadas como NUM QUEB RA-CABEA, do qual ningum conhece o original.,

    AQUI O POLTICO PODE SER VIZINHO DO MAFIOSO; O TORTURADOR,

    AMIGO DO JUIZ.

    E eu? pergunta-se, lembrando-se de que o outro tinha sido artilheiro do colgio -

    O que fao, nessa armadilha, goleiro espera do pnalti?

    (...)

    De novo, o barulho do gelo, o jato de usque 12 anos derramado naquele copo pesado.

    Entra um co burgus em cena, que o faz lembrar-se por contraste - de Servlio

    de Holanda como o perdigueiro Jil de O Vau da Sarapalha. O cachorro leva um

    chute do dono. E... veja o detalhe:

    Ao bater na cesta ao lado, revistas se esparramam; do colorido AO MRMORE

    PARDO DO PISO, COMO A PEDRA DE ALGUNS TMULOS CHIQUES DO

    CEMITRIO DE LA RECOLETA.

    Argentina!

    CERTAS COMBINAES DE CORES ACENDEM METFORAS: O ANJO

    SALPICADO DE HERA, A SOLEIRA CARCOMIDA DAS PORTAS DAS IGREJAS,

    UMA BANCADA DE NECROTRIO.

    A mente do narrador dispara uma fuzilaria de associaes que vo lev-lo ao

    Angelus Novus, de Paul Klee, um desenho nanquim, giz pastel e aquarela sobre

    papel, de 1920, que atualmente est no Museu de Israel, em Jerusalm, e que

    ganhou enorme notoriedade quando o filsofo alemo Walter Benjamim ento

    dono dessa obra de arte usou-a como imagem poderosa para a nona de suas

    Teses Sobre o Conceito de Histria

    http://lounge.obviousmag.org/ruinas/Walter Benjamin_1.jpg

  • Bem, A Vista de Delft, de Vermeer, tambm ficou famosa do dia para a noite,

    graas meno de Proust faz, dela, no Em Busca do Tempo Perdido,

  • plus clatant, plus diffrent de tout ce quil connaissait - O mais impressionante, mais diferente

    de tudo que conhecia.

    ... o que tambm aconteceu com A Ressurreio, de Piero della Francesca, quando

    foi descoberta por Aldous Huxley em Sansepolcro, interior da Itlia, de repente La

    pi bela pittura del mondo. The greatest paiting in the world.

    Embora notveis, os quadros de Vermeer e de Piero dificilmente seriam

    considerados os mais belos do mundo por outros experts Mas, como diz o

    experiente jornalista, em O Homem que matou o facnora:

    - When the legend becomes fact, print the legend.

    - Quando a lenda se torna fato, imprima-se a lenda.

    Assim,

    http://historiadeverdade1.blogspot.com/2010/12/arte-luminosa-de-johannes-vermeer.htmlhttp://www.allposters.com.br/-sp/The-Resurrection-posters_i3483888_.htm

  • o Angelus Novus - segundo Nores transcreve do prprio Benjamin - olha

    fixamente alguma coisa que foi deixada para trs, o passado. Enquanto ns

    acompanhamos o transcorrer dos acontecimentos, o anjo enxerga apenas a catstrofe

    e quer despertar os mortos. (...) Mas de repente uma tempestade sopra do paraso e

    faz com que suas asas se abram com tal fora que ele lanado em direo ao futuro.

    Diz a Wikipedia:

    Otto Karl Werckmeister comentou que a interpretao de Benjamin do anjo levou a que se tornasse "um cone da esquerda".

    Tambm para o narrador de Nores. Um sinal.

    Aproveito meu instinto, apanho rapidamente entre as revistas esparramadas duas

    folhas de papel que esvoaam. BUSCO VERIFICAR O NOME COMPLETO DO

    DESTINATRIO, DESVENDAR ALGO QUE ME CHEGA MEMRIA: UMA

    NOTCIA DE JORNAL, UM APITO DE SIRENE, UM BARILHO DE FREIO NA

    AVENIDA, UM CORPO ESTENDIDO, PERFURADO, NA MESA FRIA DO

    NECROTRIO...

    Necrotrio.

    Uma mulher entra em cena. Estranha o estranho.

    - amigo dele?

    - Fomos colegas de colgio. Era artilheiro do time...

    - Puxa! Quanto tempo, hein? E nunca mais se viram?

    - Morei fora, voltei h poucos anos.

    Nores, genial:

    O nunca mais se viram? ressuscita como se tivesse sido arrancado da pequena gaveta

    de um armrio secreto, entre documentos, passaportes, notcias de jornal. ( OU UM

    LAUDO DE MEDICINA LEGAL).

    (...)

    Algo pesa como a vspera de um infarto. (...) O Buda da mesa de repente transforma-

    se numa pistola com silenciador, as revistas em bisturis, escalpelos, tesouras afiadas.

    H um cheiro de cogulo dentro da jaula metlica por onde devo fugir.

    O final terrvel. Mal chega em casa,

    Ligo o computador para rever no youtube a entrevista do ex-oficial da marinha

    argentina Adolfo Scilingo, estilo executivo, terno bem-posto, o olhar indiferente a

    contaminar o cran, a voz pausada de militar disciplinado. RELATA, COM

    NATURALIDADE, AS AUTORIZAES DA IGREJA CATLICA, AS DOSES DE

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Esquerda_pol%C3%ADtica

  • SONFEROS, O MODELO DE AERONAVE UTILIZADO NAS OPERAES, O

    NMERO EXATO DE PESSOAS LANADAS AO MAR. E AS DOSES DE

    USQUE AO CHEGAR A CASA, APS O DEVER

    CUMPRIDO.

    nsia de vmito.

    Fiquei por um instante sem ao, ao terminar o conto. Fico... ou no, outra vez?

    Sentindo-me um tanto tolo como tantos que escreveram para 221 B Baker Street

    atrs de um contato com Sherlock Holmes... fui ao youtube, digitei ADOLFO

    SCILINGO... e l estava o depoimento dele!!!

    Sobre o Papa Inocncio III e

    O FABRICANTE DE HISTRIAS,

    conto de

    Everardo Nores

    W. J. Solha

    Poderamos dizer que toda narrativa de Nores mais ou menos isto e,

    tambm, isto:

    http://www.traditionellkinesiskmedicin.se/grunderna/yin-yang/

  • , por isso ele nunca bvio.

    Quem o fabricante de histrias, personagem dessa histria que abre com um

    sbado em que ele passeia em Lisboa e se v ante a igreja de So Roque,

    , de fachada sbria, que outro

    iceberg... pela qual passa, dizendo pouco se interessar pelo que vem de dentro de

    outras coisas e dela, toda ouro e jacarand, extrados pelos negros das Minas

    Gerais?

    Veja como ele se veste:

    Tnis, camisa creme, cala sem vinco, como pede o vero.

    E como caminha ( Est l, no fim do conto ):

    devagar, mais lento ainda pelo temor de escorregar nas pedras portuguesas de que

    so feitas as caladas da cidade. Ele, que j carrega certa idade, (...).

    Hm. Em todas as histrias que analisei de Nores eu o vi construindo seus

    personagens a partir de pessoas reais. Como faz com o Aquino de Bragana, numa

    delas, e com Fernando Pessoa e Federico Garcia Lorca, noutra. Mas o gos, para

    ele, s um gos, e os poetas so apenas F e F, claro, com o que consegue o

    charme de um certo mistrio de meio-anonimato que pede por ser desvendado,

    http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Iceberg.jpghttp://www.tripadvisor.com.br/LocationPhotoDirectLink-g189158-d243618-i57267915-Igreja_de_Sao_Roque-Lisbon_Estremadura.html

  • alm do que h a liberdade do criador, que no deixa, porm, de nos passar mais

    pistas:

    (...) prefere continuar isolado do outro lado do atlntico mundo, tramar em sossego

    final de captulos de novelas, (...).

    Um teledramaturgo brasileiro. Em Lisboa!

    Algo mais, do comeo: Nenhum indcio de que est a ser seguido por algum que j o

    viu tantas vezes sentado mesa do bar Savoy, numa certa avenida Guararapes, ao

    calor noturno do Recife.

    Bar Savoy Endereo: Av. Guararapes, 147 - Santo Antnio, PE, 50010-000 Telefone:812242291

    Ah,

    AGUINALDO SILVA

    O homem das novelas que trocou o rio pelo castelo

    por RAQUEL COSTA09 julho 2011

    javascript:void(0)https://www.google.com.br/maps/place/Bar+Savoy/@-8.062909,-34.878866,15z/data=!4m2!3m1!1s0x0:0xa4648bbc9e392ca9?sa=X&ei=xWVJVMXWCoiRNsT9gMAG&ved=0CIcBEPwSMA4

  • Autor de xitos da Globo como 'Tieta' e 'Pedra sobre Pedra', o novelista

    de 67 anos deixou para trs a insegurana e a confuso do Rio de

    Janeiro e abraou a tranquilidade de Lisboa.

    Aguinaldo Silva (Carpina, 7 de

    junho de 1943) dramaturgo, escritor, roteirista, jornalista, cineasta e telenovelista brasileiro.

    Silva possui a "marca" de nico autor da Globo que s escreveu novelas de horrio nobre.

    Pernambucano de nascimento, Aguinaldo Silva reside atualmente em Lisboa, Portugal.

    Votemos ao lado Yang do iceberg:

    Mas hoje sbado e, mais adiante, ele se detm a olhar sapatos nas vitrinas(...)

    ... e passa depressa pela tabacaria Havaneza. (...) Certamente no se lembra de que

    soleira da porta ao lado se deteve, certa vez, o homem da Tabacaria, o mesmo de A

    Brasileira, da esttua de bronze.

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Carpinahttp://pt.wikipedia.org/wiki/7_de_junhohttp://pt.wikipedia.org/wiki/7_de_junhohttp://pt.wikipedia.org/wiki/1943http://pt.wikipedia.org/wiki/Dramaturgiahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Escritorhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Roteiristahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Jornalistahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Cineastahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Telenovelistahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Brasilhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Lisboahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Portugalhttp://rd1.ig.com.br/aguinaldo-silva-fala-sobre-beijos-gays-em-novelas-e-sobre-sua-sexualidade/http://entretenimento.uol.com.br/famosos/aguinaldo-silva/

  • Afinal, Nores poderia acrescentar ( mas o gnero conto tem pressa ): pra qu

    lembrar? Ele morrer e eu morrerei./ Ele deixar a tabuleta, eu deixarei os versos./ A

    certa altura morrer a tabuleta tambm, os versos tambm./ Depois de certa altura

    morrer a rua onde esteve a tabuleta,/ E a lngua em que foram escritos os versos.

    (...)

    bem verdade diz Nores, voltando ao bar Savoy, do Recife que ele, o

    fabricante de histrias, sempre sozinho, no era dos trinta homens sentados em torno

    dos trinta copos de chope.

    Quais? Os dos versos de Carlos Pena Filho:

    Na avenida Guararapes, / o Recife vai marchando. / O bairro de Santo Antonio, / tanto se foi

    transformando / que, agora, s cinco da tarde, / mais se assemelha a um festim, / nas mesas do Bar

    Savoy, / o refro tem sido assim: / So trinta copos de chopp, / so trinta homens sentados, / trezentos

    desejos presos, / trinta mil sonhos frustrados.

    http://aconteceunaeuropa.wordpress.com/2012/01/09/os-estranhos-caminhos-de-fernando-pessoa/http://en.wikipedia.org/wiki/Caf%C3%A9_A_Brasileira

  • Carlos Pena. Aguinaldo, agora, costuma saborear os travesseiros de Sintra,

    nas tardes de domingo, quando visita o Palcio da Pena.

    Chiqurrimo. E as novelas?

    (...) sabe que no h muito a dizer de novo: tudo o que pensar sobre a alma humana

    est escrito na Bblia e plagiado por Shakespeare. Satisfaz-se em lidar com a beleza

    dos astros. Sua maneira de dar ao velho uma formatao to contempornea quanto

    as vitrines de um shopping center o seu sucesso. Ele sabe que apenas um

    cirurgio plstico da literatura e admite...

    ( exatamente neste ponto que Nores d o pulo do gato. Ou... no pargrafo

    anterior: )

    Nem desconfia que ao mesmo tempo que caminha, certo concertista executa no rgo

    da igreja uma pea de Antonio Cabezn, a Pavana con su glosa

    ...e admite, ( agora, sim) de repente, que se entrasse na igreja de So Roque e

    talvez o faa no regresso desse seu passeio matinal , poderia obter

    argumentos para compor os prximos captulos da novela. Observar o abuso do

    dourado, a sugerir mais adereos indumentria dos personagens, como do gosto

    herdado do barroquismo.

    http://viajar.clix.pt/fotos.php?r=3&&ni=440&lg=pt&w=costa_de_lisboa_45http://en.wikipedia.org/wiki/Igreja_de_S%C3%A3o_Roque

  • (...) Tambm os anjinhos nus, com seus minsculos sexos,

    (...) seriam, na trama, um elemento de pedofilia a ser tratado com sutileza num

    prximo episdio, renderia reportagens comoventes para a leitura de mulheres em

    salas de espera de consultrios mdicos.

    H mais:

    A balaustrada de bano com pedestal de mosaico florentino seria cenrio para o

    encontro entre a prostituta brasileira e o negociante portugus

    http://lisboasos.blogspot.com/2009/03/igreja-e-museu-de-s-roque.htmlhttp://www.rudyrucker.com/blog/2011/04/20/lisbon-2011/

  • BEM, ... MAS A VOLTA QUE FAZ O ANZOL

    Nores enumera o que o fazedor de histrias certamente far ao chegar em casa:

    comer cherne gralhada, contemplar, de seu jardim, o castelo de So Jorge,

    escrever com sarcasmo, no seu notebook, sobre algum escritor ou ator. Isso,

    noves fora, nada.

    Mas... passa de novo diante da igreja, olha desinteressado a fachada sbria( ...) e, ao

    ouvir um som amortecido de rgo, resolve entrar. Senta-se no ltimo banco. Fecha

    os olhos com indolncia, quase sono. Oua, enquanto prosseguimos.

    Pavana con su glosa - http://www.youtube.com/watch?v=6HvgWdSlikQ.

    http://www.youtube.com/watch?v=6HvgWdSlikQhttp://commons.wikimedia.org/wiki/File:Capela_de_Nossa_Senhora_da_Doutrina_-_Igreja_de_S%C3%A3o_Roque_-_Lisbon_(2).JPGhttp://commons.wikimedia.org/wiki/File:Capela_de_Nossa_Senhora_da_Doutrina_-_Igreja_de_S%C3%A3o_Roque_-_Lisbon_(4).JPG

  • Divaga. O enterro do marido assassinado na novela vtima de um ardil montado

    pela esposa e o amante parecer menos srdido com essa msica de fundo. O

    fretro ser filmado de forma a dar a impresso de flutuar entre as alamedas de

    algum cemitrio chique. A priso dos dois cmplices ser consumada enquanto

    comem sanduche no quiosque no adro da igreja, prximo esttua do homem que

    distribui jornais ( na verdade cautelas ) aos turistas de ocasio.

    (...) O grande Final ser uma espcie de exerccio metafrico (...).

    Como ao ritmo da pavana de Cabezn, anda devagar, mais lento ainda pelo temor de

    escorregar nas pedras portuguesas (...) pois, como destacamos, j carrega certa

    idade (...)

    , quer dizer que a famosa... transformao do personagem no acontece!

    http://www.meloteca.com/foto-orgao-lisboa-sao-roque.htmhttp://www.meloteca.com/foto-orgao-lisboa-sao-roque.htm

  • No. Mas Nores nos mostrou o quanto ele esteve... pertiiinho disso, e a que est,

    justamente, seu toque de gnio! Como Apolo no flagra de Bernini, em que o deus

    alcana e quase consegue violentar Dafne, que se transforma num loureiro:

    Acho que, mais do que isso: o conto me lembra muito uma sequncia do Irmo

    Sol, Irm Lua, de Zeffirelli, ( veja que belo cartaz ):

    ...que se passa a, nessa Baslica de So Joo de Latro, em que o Papa Inocncio

    III, ouvindo, em audincia, o fradezinho Francisco il Poverello dAssisi (o

    Pobrezinho de Assis, descalo e vestido de trapos ) tira a coroa e o manto

    http://www.rbcasting.com/eventi/2013/06/12/apollo-e-dafne-quando-il-marmo-diventa-cinema/http://www.ivid.it/fotogallery/ismod_index.php?i_section=detail&i_categoria=1&i_id=245560

  • luxuoso, impressionado, e abenoa o

    italianinho e sua ordem, com o que jovem sai feliz com a conquista, enquanto

    vemos, ao fundo, os prncipes da Igreja repondo manto e coroa no pontfice.

    http://cineforum-clasico.org/archivo/viewtopic.php?f=55&t=24341http://ktismatics.wordpress.com/2008/05/25/brother-sun-sister-moon-1972/http://www.ivid.it/foto/cinema/Drammatico/1971/Fratello-Sole-Sorella-Luna/312405/scena/scena-Graham-Faulkner-Judi-Bowker-Leigh-Lawson-Kenneth-Cranhamhttp://www.ivid.it/foto/cinema/Drammatico/1971/Fratello-Sole-Sorella-Luna/312405/scena/scena-Graham-Faulkner-Judi-Bowker-Leigh-Lawson-Kenneth-Cranham

  • O FRIO DA LMINA

    W. J. Solha

    Everardo Nores do Crato. Conheceu matadores, coisas de sertanejo, como me

    disse por e-mail, sem dizer quando foi isso provavelmente na infncia e

    adolescncia - e tambm os conheci, em Pombal, alto serto da Paraba, onde duas

    vezes (ah, no imagine nada pico) fui cabra marcado pra morrer. Fora o fato de

    que no final dos anos 60 fiz justamente o papel de um matador no primeiro longa

    paraibano O Salrio da Morte, de Linduarte Noronha produzido por mim, por

    um colega do BB Jos Bezerra Filho, autor da histria - e pelo povo da cidade. A

    estou, de rosrio e escapulrio no pescoo e revlver na cintura

    . Da que avalizo em teoria e prtica O Frio da Lmina ( que

    faz parte dos livros O FABRICANTE DE HISTRIAS e ENTRE MOSCAS (

    Confraria do Vento, 2013, finalista do Portugal/Telecom, com resultado previsto

    pra novembro ). Alm da vivncia da regio, Nores um autor culto, e esta sua

    estria tem, por isso como todas as que conheo, dele grande riqueza interna.

    Veja isto:

    O Primo sorri. Somos parentes prximos e colegas dos tempos de colgio, quando ele

    costumava assistir s aulas com um 38 escondido na carteira e eu contava com sua

    proteo em brigas contra os mais velhos.

    E, perto do final:

    http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://3.bp.blogspot.com/-ndUUjm8pmK4/TZcLwB3H2CI/AAAAAAAAAPE/7MZlmWcnkA8/s1600/faca.png&imgrefurl=http://box3dsm.blogspot.com/2011/12/faca-de-caca.html&h=444&w=1600&tbnid=QsNvTqk5RpnDLM:&zoom=1&docid=tbpVHGFqCwiLxM&ei=m0BNVKqHFJfasATYxYKwBw&tbm=isch&ved=0CCQQMygcMBw4ZA

  • (...) tenho por ele uma espcie de ternura dos tempos de escola, quando invejava seu

    olhar ao encarar algum colega de quem desgostava ou quando me dizia que era

    apenas um hspede de Deus.

    Esse Primo me remeteu imediatamente ao personagem central de um livro que

    marcou poca:

    Emil Sinclair, protagonista e narrador, (...) influenciado por Max Demian, um colega de classe

    precoce e envolvente, prova o crime, a amizade e as incertezas - surpresas que engendram as

    descobertas de sua vida adolescente. (...) Demian revela a Sinclair que existem filhos de Caim, pessoas

    que possuem a capacidade de exercer o bem e o mal.

    E eis uma das falas do Primo que agora, adulto, um matador de aluguel - no

    misterioso encontro com o narrador, numa mesa de bar:

    - Muita gente pensa que s Deus tem o direito de tirar a vida. (...) Conheo um pouco

    do Histria, daqueles tempos de ginsio, e pergunto: quem matou mais gente do que a

    Igreja? (...) tenho conscincia de que s mato gente ruim, ajudo Deus e melhorar essa

    terra.

    Demian tem um equivalente no cinema: Shane (Alan Ladd) de Os Brutos

    Tambm Amam. O garoto v chegar na fazenda o misterioso matador que passa

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Cainitashttp://schoolworkhelper.net/herman-hesse%E2%80%99s-demian-summary-analysis/

  • a trabalhar com o pai dele , impe respeito aos

    que querem tomar a terra da famlia ,

    dana com a me, o que o pai no faz e ensina-o a atirar,

    http://adaged.blogspot.com/2013_02_01_archive.htmlhttp://torontofilmsociety.org/files/2014/03/Shane-7.jpghttp://en.wikipedia.org/wiki/File:Jean_Arthur_in_Shane.jpg

  • ... o que deixa o garoto e a me forados a uma comparao entre esse ideal e o

    pai e marido - srio, responsvel, confivel, trabalhador, mas feio e sem charme

    . Como j observei ao analisar o conto O

    Fabricante de Histrias, Nores gosta das antteses, contrastes. e usei - para

    ilustrar isso - o smbolo do Yin/Yang, alm da imagem de um iceberg ( pela

    enorme parte submersa ). com isso que ele consegue uma espcie de

    tridimensionalidade em suas histrias.

    O ttulo O Frio da Lmina deriva de uma frase do conto:

    Fronteira entre vida e morte pode ser apenas o gume de uma faca. (...) Comecei a

    entender que era assim depois da conversa com o Primo, entre dois copos de cerveja,

    no bar da praa.

    http://1.bp.blogspot.com/-m1Tx9ix34h4/Tra8ASU063I/AAAAAAAAUvc/rvSDQwuwUBQ/s1600/Shane_094Pyxurz.jpg

  • Em vez de bar, poder-se-ia dizer... Saloon.

    Sim, porque o clima que Nores estabelece na histria o mesmo das falsas

    pasmaceiras nos largos espaos dos faroestes, que so os mesmos que vimos e

    vivemos no interior nordestino. Chego a ouvir a enorme solido que nos passa a

    gaita de boca e do assobio da trilha sonora de Ennio Morricone, com trocas de

    olhares como este, que poderia ser os dos tais primos:

    http://symparanekronemoi.blogspot.com/2013/09/deadwood-season-one.htmlhttp://www.popmatters.com/artists/sergio-leone/

  • Quando o matador se vai, na moto, sinto que sua mquina negra equivale a isto:

    Veja esta frase do narrador:

    Escuto histrias e finjo acreditar nelas: assim so criados os mitos.

    Isso nos leva famosa frase dita por um experiente jornalista, noutro western, em

    O Homem que matou o facnora, de John Ford:

    - When the legend becomes fact, print the legend.

    - Quando a lenda se torna fato, imprima-se a lenda.

    Lembrei-me disso noutro conto de Nores, em que o insuficiente quadro Angelus

    Novus, de Paul Klee, transformado por Walter Benjamin num grande smbolo

    das esquerdas.

    O narrador de O FRIO DA LMINA enfatiza, no final, depois que o Primo pega a

    moto negra e se vai:

    a hora morta, quando a preguia toma conta do pequeno comrcio e o lusco-fusco

    das almas rebrilhas sobre as guas do aude. Enfio na boca o ltimo gole: O

    REMORSO no tem gosto de cerveja(...). Repito: GOSTO do primo.

    http://cinapse.co/2014/01/30/two-cents-once-upon-a-time-in-the-west/http://www.rockymtnrefl.com/shawnsunriseonhorsesilhouette.htmlhttp://pixgood.com/horses-and-cowboys-in-the-sunset.html

  • Remorso, Gosto do Primo. Um freudiano que em tudo v sexo, veria no narrador

    a me do garoto de Os Brutos Tambm Amam, a mulher casada que se apaixona

    pelo matador. Ou veria Riobaldo tenso por se apaixonar por Diadorim, que supe

    ser homem. Um junguiano, no entanto, veria no narrador o menino impressionado

    por Demian, pelo Primo que cresceu... e se foi.

    Mas nem Demian nem Shane so novidade. No existe nada de novo de baixo do

    sol, j dizia o Eclesiastes. H um trecho de um romance meu ,

    que contm uma revelao de outro livro, , que me parece vir

    a calhar:

    (...) meu pai, acendendo novo charuto e olhando de esguelha para mim:

    http://angelnumber25.wordpress.com/2012/03/10/gone-too-soon-alan-ladd/http://www.thelin.net/laurent/cinema/films/tt0046303.htmlhttp://produto.mercadolivre.com.br/MLB-463098545-a-batalha-de-oliveiros-w-j-solha-_JMhttp://pt.slideshare.net/rayannesilva93/a-psicanlise-dos-contos-de-fadas-bruno-bettelheim

  • Voc sabia que essa coisa de seu irmo ir pra guerrilha do Araguaia e

    de voc, que fica, ... velhssima? Tome ele me diz Abra na pgina

    115.

    Pego a brochura e leio o ttulo: A Psicanlise dos Contos de

    Fada, de Bruno Bettelheim. Pgina 115. Vejo o nome do captulo:

    Contos dos Dois Irmos . Vejo a fumaa ser tragada pra treva da boca

    e da garganta de meu pai. E leio trecho sublinhado:

    - O tema dos dois irmos central no conto de fada mais antigo,

    que foi encontrado num papiro egpcio de 1250 a.C. Por mais de trs mil

    anos, desde ento, tomou vrias formas. Um estudo enumera 770

    verses... mas provavelmente h muitas mais!

    Leio, estupefato:

    - O que todas essas histrias dos Dois Irmos tm em comum

    so traos que sugerem a identidade dos heris, um dos quais

    prudente e de bom senso...

    No caso, voc meu pai especifica.

    - ... mas pronto a arriscar a vida para salvar o outro irmo, que se

    expe a perigos terrveis,

    - ...Seu irmo.

    Viro a pgina:

    - As estrias sobre o tema dos Dois Irmos acrescentam uma

    outra dicotomia: o impulso pela independncia e autoafirmao, e a

    tendncia oposta, a de permanecer em casa, ligado aos pais. Desde a

    primeira verso egpcia, as estrias frisam que ambos os desejos

    residem em ns, e que no podemos sobreviver privados de nenhum

    deles: com o desejo de ficar ligados ao passado, e o nosso impulso de

    atingir um novo futuro.

    - Agora, preste ateno, Oliveiros.

    - Atravs do desenrolar dos acontecimentos, a estria com muita

    frequncia ensina que cortar inteiramente o prprio passado leva a um

    desastre, mas que existir apenas em funo do passado... impede o

    desenvolvimento.

    - Mas... no existe nenhuma sada, pai?

    - Existe ele diz, seguro Continue lendo.

    - Apenas a integrao completa dessas tendncias contrrias ( a

    do que fica e a do que vai ) permite uma existncia bem sucedida. Mas

    como se consegue isso?

  • Pela curta biografia do autor, disponvel ele viveu ( exilado ) na Frana, Arglia

    e Moambique, o que torna, inesperadamente, o Primo e no o narrador seu

    alterego. Veja como essa tese-anttese se reflete em seu estilo, que resulta em pura

    sntese, no jogo do no-acontecimento narrado base de chiaroscuro, Yin/Yang,

    Sinclair/Demian, garoto/Shane:

    Na abertura:

    (...) a transio entre dia e noite avara.

    No fim segundo perodo:

    Fronteira entre vida e morte pode ser apenas o gume de uma faca,

    um faiscar de bala.

    No comeo desse perodo:

    (...) Na solido das ilhas gregas foram paridos os ciclopes. Aqui tambm tudo se cria,

    nada se esconde. Fala-se alto, mas o balbucio a forma mais corrente de fala. No h

    por que temer os deuses, mas preciso acautelar-se contra a boca dos crentes. Nesses

    lugares altos, as guas descem com rapidez e levam com elas o que houver de excesso

    no caminho. A lama se agarra aos ps com a avidez de sanguessugas, entranha-se nas

    unhas, desacelera os passos. Tudo conspira contra a pressa e deixa seu negror. (...)

    Terceiro perodo:

    (O Primo) Tem (...) pele branca de quem prefere a sombra.

    Bem mais adiante:

    (...) na sua atividade (...) preciso fazer tudo certo, como a gua da vrzea, que parece

    mansa e espelha o cu, mas de repente desembesta quando a chuva faz sua arrancada

    nas cabeceiras.

    Mais adiante:

    (O primo, matador) cumprimenta o policial que passa na calada, informa que filho

    de um ex-empregado de seu pai.

    Perodo seguinte:

    ( O Primo lhe pergunta): Quem matou mais gente do que a Igreja?

    Perodo seguinte:

    O Primo olha o relgio Cartier, diz que foi comprado no mercado de Juazeiro do

    Norte.

    Prximo perodo:

    http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://3.bp.blogspot.com/-ndUUjm8pmK4/TZcLwB3H2CI/AAAAAAAAAPE/7MZlmWcnkA8/s1600/faca.png&imgrefurl=http://box3dsm.blogspot.com/2011/12/faca-de-caca.html&h=444&w=1600&tbnid=QsNvTqk5RpnDLM:&zoom=1&docid=tbpVHGFqCwiLxM&ei=m0BNVKqHFJfasATYxYKwBw&tbm=isch&ved=0CCQQMygcMBw4ZA

  • As portas da matriz esto fechadas, o relgio da torre deixou de funcionar.(...) Em

    compensao os alto-falantes berram versculos da Bblia, interpretada por alguma

    seita da vez.

    E Nores repete, ao terminar o conto, o texto de abertura:

    Porque, em cima da serra, cedinho bruma; de tarde, horizonte verde-cinza. No final

    do dia, as cidades em torno acendem suas luzes. (...)

    Mas acrescenta:

    sempre assim. A repetio ajuda A PENSAR QUE A VIDA NO TEM MUITA

    GRAA E QUALQUER ACONTECIMENTO FORA DO LUGAR AJUDA A

    ALIVIAR A MODORRA DE NOSSA PASSAGEM POR ESSE REINO DO

    ESQUECIMENTO.

    SCORPIACE EM RECIFE

    http://pyxurz.blogspot.com/2011/11/shane-page-5-of-5.html

  • - Sobre o conto Na varanda, sobre o bulevar, de Everardo Nores.

    W. J. Solha

    Este livro: , enfatiza a importncia deste detalhe na Criao do

    Homem, de Miguelngalo: , que vem baila por causa de um

    momento especial, criado por Nores, nesse conto que integra o volume O

    FABRICANTE DE HISTRIAS:

    Ela pediu a caixa de fsforos e ento os dedos se tocaram.

    (...)

    Ao devolver a caixa de fsforos, os dedos se tocaram de novo. Leve tremor de

    gazela acuada, de bicho no cio.

    Onde a cena? Num apartamento do bulevar Mohamed V, no sei se o de

    Casablanca, Tnger ou Agadir trs cidades de Marrocos.

    Como o autor fala numa cidade branca e luminosa como o claro que

    precedeu a chegada do arcanjo Gabriel, voto em Casablanca, como votaria j que

    a caixa de fsforos de um brasileiro, na marca

    http://produto.mercadolivre.com.br/MLB-582682465-universos-da-arte-fayga-ostrower-_JMhttp://www.naturale.med.br/artes/6_a_capela_sistina.htmlhttp://www.lemonde.fr/style/article/2013/10/09/les-tresors-arts-deco-de-casablanca_3492595_1575563.htmlhttp://destinia.co.uk/h/h154426-hotel-tulip-inn-oasis

  • . Mas nos contos de Nores nada claro e, em parte por isso

    mesmo, tudo cativante. Ele no oferece pistas. Cita Nerval, francs; Jancek,

    tcheco; Farid ud-Din Attar, iraniano, ...e tambm um figo partido ao meio do

    Cemitrio das Princesas, aquele, cheio de figueiras, em Argel, onde ele prprio, o

    autor, viveu. um cidado do mundo, evidentemente. Exilado, sua biografia

    confirma, e tambm a saudade mencionada no seu primeiro pargrafo.

    E quem a moa do fsforo? Zohra, encarregada da limpeza. Cerca de

    trinta anos. Um escorpio, a pequena tatuagem no rosto, de linhas perfeitas.

    Fui ao Google. http://www.tattoo.net.br/fotos-de-tatuagem-de-escorpiao/ e l

    est:

    A tatuagem de escorpio costuma ser escolhida por homens e mulheres que tem fascnio

    por aquilo que misterioso e enigmtico. A imagem ameaadora, sempre pronta para o ataque,

    pode transmitir charme e sensualidade, principalmente quando tatuada em mulheres, que indica

    que mesmo sendo pequena e serena, tambm pode ser forte e muitas vezes mortal.

    Seria s isso?

    Mal Zohra entra em cena, o protagonista v que os olhos dela tinham o

    negror dos condenados, e por uma razo que nunca conseguiu entender, ela comeou

    a contar, num francs quase imperceptvel, como havia sido repudiada. Da a

    pergunta: Como seria a cerimnia do repdio?, e ele se lembra de um livro que

    lera na faculdade, de um Louis Milliot. ( Louis Milliot, professeur de droit franais,

    spcialiste du droit musulman.). Escolhe um trecho: O juramento das costas (zihar),

    onde um marido acusa:

    - Juro que tuas costas so para mim como as costas da minha me.

    http://www.tattoo.net.br/fotos-de-tatuagem-de-escorpiao/http://fr.wikipedia.org/wiki/%C3%89tudes_de_droit_en_Francehttp://fr.wikipedia.org/wiki/Droit_en_Francehttp://fr.wikipedia.org/wiki/Droit_musulmanhttp://clorominas.com.br/produtos/fosforo-fiat-lux/http://www.tattooshunt.com/tattoos/scorpio/page/19/

  • Isso me lembra que no meu livro (Codecri 1984), analisei

    a personalidade de Jos Amrico de Almeida atravs de seus romances, memrias

    da infncia e a da participao dele na Revoluo de 30. Conclu que o personagem

    Lcio, de A Bagaceira, ao no querer Soledade porque ela era a cara de sua

    me, revelou ter o mesmo problema do personagem que sua matriz, o Prncipe

    da Dinamarca: , o que estendo ao romancista, memorialista e

    revolucionrio paraibano, como Jones faz com Shakespeare. Bem, o mesmo eu

    poderia dizer do autor de Na Varanda, sobre o Bulevar, j que seu conto todo

    na terceira pessoa, menos nesse momento em que ele diz: Na estante da biblioteca

    da faculdade, LI no livro de Louis Milliot.

    Vejamos o que acontece.

    Zohra tem um filho Jamil de doze anos. Justamente quando a citao do

    juramento das costas termina, o grito do menino a chamar pela me flutuou sobre

    eles como fascas de culpa. Zohra, por isso, deixa pra fazer depois o ch que o

    homem lhe pedira e se apressa. Desapareceu escada abaixo. Temia o filho, uma

    criana; mas era homem.

    lembrado, ento, no conto, o Memorial dos santos, de Farid ud-Din

    Attar, em que se narra que as virtudes do mstico xeique Junald Baghdadi foram

    postas prova pelo califa, que enviou sua casa uma escrava extremamente bela,

    ricamente adornada de jias. Ao ser seduzido, no entanto, o santo suspirou, seu

    suspiro aflorou no rosto da escrava e a fez cair fulminada.

    http://books.google.com/books/about/Z%C3%A2e_Am%C3%A2erico_foi_princeso_no_trono_da.html?id=ZbotAAAAYAAJhttp://pelotascultural.blogspot.com/2011/02/comentando-shakespeare-em-filmes.html

  • A, no bulevar, no mormao de um calor de 40 graus, algo estranho

    acontece:

    Uma luz caminhou entre fios de cabelo, uma mo insinuou-se entre dobras,

    houve um tilintar de xcaras na superfcie da mesa, o copo de menta esverdeou a

    tarde, o amuleto da mo de Ftima pendurado na parede, o olho lhe varou o sexo,

    , o espaldar da cadeira cheirando a suor e mormao, o cobertor

    de l com manchas brilhantes, o aconchego do REMORSO a se diluir entre dois

    lbios ecos e a lngua a solicitar a misericrdia da saliva.

    Wikipdia:

    A hams (rabe: asmahc , literalmente cinco, referindo-se aos cinco dedos

    da mo) um talism com a aparncia da palma da mo com cinco dedos estendidos,

    usado por praticantes do Judasmo e do Islo como um amuleto contra mau-olhado.

    Tambm conhecida pelos nomes chams, mo de Deus, mo de

    Ftima, olho de Ftima, mo de Mriam ou mo de Hamesh.

    Veja o que acontece em seguida:

    Ela o prendeu entre os braos, sussurrou alguma coisa que ele no pde

    entender. Manteve os olhos fechados. UM HLITO SE ACERCOU DELE.

    Voltemos ao Memorial dos santos:

    As virtudes do mstico xeique Junald Baghdadi foram postas prova. (...) Ao

    ser seduzido, entretanto, o santo suspirou, seu suspiro aflorou no rosto

    da escrava e a fez cair fulminada.

    Suspiro, hlito, fulminada. Tudo se repete, em meio a um delrio: No mais

    o incomodava o cheiro de azeite, nem de axilas. As rstias de sol atravessaram as

    aberturas da cortina. Suas mos procuraram laranjas, damascos e o figo partido ao

    meio do Cemitrio das Princesas.

    http://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADngua_%C3%A1rabehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Talism%C3%A3_(objeto)http://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A3ohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Juda%C3%ADsmohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Isl%C3%A3ohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Mau-olhadohttp://blog.uselets.com.br/?p=6840http://www.naturale.med.br/artes/6_a_capela_sistina.html

  • D. H. Lawrence:

    The Italians vulgarly say, it stands for the female part ; the fig-fruit :

    The fissure, the yoni,

    The wonderful moist conductivity towards the centre.

    Os italianos apelidam de figo os rgos sexuais da fmea: A fenda, o yoni, Magnfica via hmida que conduz ao centro.

    (...) No ptio, no viu mais o carneirinho a girar em torno de si mesmo, como

    se existisse um eixo imaginrio, etc, etc. (...) Respirou fundo (...) Ela dormia ao lado

    (..) Era preciso esconder o escorpio gravado NO ALTO DO SEU SEIO. (...)

    Mas o autor, versado em mistrios, se pergunta: Qual a relao entre aquele

    escorpio, azulado, com pontos carmins, bordado na pele de Zohra, e o animal,

    metfora da heresia, descrito por Tertuliano no prembulo sobre a doutrina do

    martrio?

    Martrio. Como dipo, ele vive no exlio.

    Tertuliano refutou uma orientao hertica gnstica que contestava o

    significado do martrio, vista esta heresia sob a imagem do escorpio. Acabou

    dando refutao o ttulo de Scorpiace, o remdio contra a picada do escorpio.

    Mais.

    Tertuliano demuestra que Dios desea la fortaleza de los mrtires y su victoria sobre

    la tentacin;

    Naquele instante, - aparente nonsense - buscou junto a Zohra o antdoto para

    a picada.

    http://ec.aciprensa.com/wiki/Fortalezahttp://ec.aciprensa.com/wiki/Tentaci%C3%B3nhttp://www.amazon.co.uk/Scorpiace-Quinto-S-Tertulliano/dp/8810420144

  • Mas de repente o personagem acorda e se v numa cama branca, de ferro, no

    Recife, o plstico de soro dependurado ao lado. Pirara, andara sonhando? O conto no

    diz.

    E no adormecer sem recurso, (ele se ) lembrou do verso de Leopardi, na

    traduo de Ivo Barroso:

    (...) quando me visita o eterno,

    E as estaes j mortas, e a presente

    E viva com seus cantos. Assim, nessa

    Imensido se afoga o pensamento

    E doce naufragar-se nesses mares.

    POR QUE EVERARDO NORES DEU A SEU LIVRO ENTRE MOSCAS O TTULO DE UM DE SEUS CONTOS?

    W. J. Solha

    H tanta densidade nas suas estrias, quanto num autorretrato de Rembrandt da

    maturidade, feito sempre em vrias camadas, como este:

  • Essas camadas so perceptveis, em Nores, na tcnica utilizada pelo menos nos

    trs ... contos... que j analisei nestes dias, todos a partir de lances reais, dois at

    com tratamento to esmerado quanto se fossem poemas em que ele constri as

    narrativas com paralelismos que as amarram, como os aros que mantm coesos

    os fragmentos de madeira das barricas.

    http://www.repro-arte.com/historia-arte/autores/sigloxvii/rembrandt.php

  • Em Um Certo Padre Gomes, por exemplo, a pequenez de sua solido no Cariri

    se ressalta com o discurso de Valry na Academia lotada, em Paris. Sua batina em

    nada pica, faz com que seus alunos pensem nos trajes dos samurais, com um 38

    na faixa da cintura, em lugar do sabre, etc, etc. Em Um certo Gos, o diplomata

    de Moambique discute com o brasileiro talo Zappa, a Avenida Kenneth Kaunda

    joga com a rua Damio de Gis - em que Aquino de Bragana, o homem de Goa -

    reside, o que faz com que o autor compare o historiador portugus com o

    jornalista atual, um abrindo a grande narrativa das conquistas portuguesas, o

    outro encerrando-a com a luta de independncia das colnias lusitanas em frica e

    sia, etc, etc. E no Entre Moscas?

    De cara, vemos que se trata de uma verso da Metamorfose, de Kafka, em que o

    personagem no acorda transformado num inseto: vai transformar-se nele. Como

    no clebre

    The Fly (A Mosca PT/BR

    ) um filme de terror e fico cientfica dos Estados Unidos, Reino

    Unido e Canad de 1986, com direo de David Cronenberg. Estrelando Jeff

    Goldblum, Geena Davis e John Getz. uma refilmagem do seu homnimo de 1958. O

    enredo desenvolve-se em torno do fsico Seth Brundle (Jeff Goldblum), que est a

    desenvolver uma mquina de teletransporte. Aps fazer alguns testes com objetos e com

    um macaco, Seth, acompanhado de Veronica Quaife (Geena Davis), uma jornalista

    investigativa, sente-se encorajado a testar sua mquina em si prprio. Ao entrar na

    cabine de teletransporte, ele acaba se fundindo

    geneticamente a uma mosca-domstica, tendo diversas

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Portugalhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Brasilhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Estados_Unidoshttp://pt.wikipedia.org/wiki/Reino_Unidohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Reino_Unidohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Canad%C3%A1http://pt.wikipedia.org/wiki/David_Cronenberghttp://pt.wikipedia.org/wiki/Jeff_Goldblumhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Jeff_Goldblumhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Geena_Davishttp://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=John_Getz&action=edit&redlink=1http://pt.wikipedia.org/wiki/The_Fly_(1958)http://pt.wikipedia.org/wiki/Jeff_Goldblumhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Teletransportehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Geena_Davishttp://pt.wikipedia.org/wiki/Mosca-dom%C3%A9sticahttp://www.barricasdeocasion.com/http://www.baixarfilmesdublados.net/baixar-filme-a-mosca-dublado/

  • modificaes fisiolgicas aproximando-o da aparncia de um inseto.

    Talvez a MOSCA NA SOPA, do Raul Seixas:

    Eu sou a mosca Que perturba o seu sono Eu sou a mosca No seu quarto a zumbizar

    Mas eu sou a mosca Que pousou em sua sopa Eu sou a mosca Que pintou pra lhe abusar

    Fato hilrio: quando Walter Carvalho entrevistava Paulo Coelho para o

    documentrio sobre o roqueiro, uma mosca

    apareceu sobrevoando, rodeando, pousando na cara do ex-parceiro do compositor,

    que falava justamente sobre ele. Paulo, sorrindo, estranhou:

    - Uma mosca... aqui em Genebra? Deve ser o Raul!

    E a matou.

    Acho que tudo, para o ENTRE MOSCAS, teve incio quando Nores se deparou,

    num poema infantil espanhol LAS MOSCAS, de Antonio Machado -, com algo

    fascinante: estes dois versos:

    vosotras, moscas vulgares

    me evocais todas las cosas

    Por que fascinante? Veja este trecho de meu poema longo TRIGAL COM CORVOS:

    vi o bolinho madeleine fazer Proust reviver a infncia

    vi acontecer exatamente o mesmo com o personagem de Bergman ao

    comer morangos silvestres

    vi a coisa toda reiterar-se em Light in August - de Faulkner

    quando algum experimentou ervilhas guisadas com melao

    http://miradourocinematografico.blogspot.com/2012/04/raul-o-inicio-o-fim-e-o-meio-um.html

  • leio a mesma coisa nas memrias de Gabriel Garca Mrquez a respeito

    dos efeitos de uma comida criolla servida novamente para ele em Aracataca quando

    adulto

    e acabo me lembrando de meu amigo judeu argentino Kaplan - em seu

    Antes que me Esquea (m) mencionando igual resultado de uma semente de

    girassol torrada que lhe foi servida em Haifa.

    Como se v, Nores de enorme bagagem literria encantou-se com algo to...

    proustiano... em poema no por acaso... infantil.

    LAS MOSCAS

    ]

    Vosotras, las familiares

    inevitables golosas,

    vosotras, moscas vulgares

    me evocis todas las cosas.

    Como os versos prosseguem, mudo a formatao do restante, sem buscar

    tradues, pois como so para crianas tm fcil vocabulrio. Observe que o

    verso que atraiu Nores, encerra a primeira estrofe, acima, e o poema todo ( como

    novo aro de barrica ), abaixo:

    Vosotras, las familiares, inevitables golosas, vosotras, moscas vulgares, me evocis todas las

    cosas. Oh, viejas moscas voraces como abejas en abril, viejas moscas pertinaces sobre mi

    calva infantil! Moscas del primer hasto en el saln familiar, las claras tardes de esto en que

    yo empec a soar! Y en la aborrecida escuela, raudas moscas divertidas, perseguidas

    por amor de lo que vuela, -que todo es volar-, sonoras rebotando en los cristales en los das

    otoales... Moscas de todas las horas, de infancia y adolescencia, de mi juventud dorada;

    de esta segunda inocencia, que da en no creer en nada, de siempre... Moscas vulgares,

    que de puro familiares no tendris digno cantor: yo s que os habis posado sobre el juguete

    encantado, sobre el librote cerrado, sobre la carta de amor, sobre los prpados yertos

    de los muertos. Inevitables golosas, que ni labris como abejas, ni brillis cual mariposas;

    pequeitas, revoltosas, vosotras, amigas viejas, me evocis todas las cosas.

    Genial! A est todo o Em Busca do Tempo Perdido em meia dzia de linhas!

    Muito bem. Vai da que o ttulo Entre Moscas se deve ao fato de que o personagem do conto

    se mantm trancado no prprio quarto ( que acaba funcionando como a cabine de

    teletransporte do filme A MOSCA ) para que sua nica companhia, a mosca que o azucrina,

    no se v.

  • Mas vamos a mais dois aros utilizados pra manter essa barrica inteira. Claro que LAS

    MOSCAS, de um autor chamado Antonio Machado, levaria a uma bvia associao com

    A MOSCA AZUL, poema de... Machado de Assis.

    , Machado, nosso gnio mulato que certamente detestava negros.

    - Quanto a mim, prefiro a mosca de verdade: preta, sem metforas.

    E interessante como Nores... deixa pistas pelo caminho. Veja este trecho:

    Encontrei-a de novo, a minha mosca. Comeou a saltitar sobre o livro aberto ao lado, em cima de

    um pedao de frase: to drive home the finality of death . Caminha com passadas microscpicas,

    ultrapassa o trecho: by the monotonous buzzing of the flies?.

    Que livro seria?

    Este:

    Stanley Burnshaw

    University of Arkansas Press, 1964 - 337 pginas

    http://www.superdownloads.com.br/download/186/papeis-avulsos-machado-de-assis/http://books.google.com.br/books?id=J1JXmJAobSkC&printsec=frontcover&hl=pt-BR&source=gbs_ge_summary_r&cad=0

  • Desse volume constam o poema Las Moscas, de Antonio Machado, no original em

    castelhano e, logo depois, um comentrio, em ingls, no qual figuram essas duas frases. A

    segunda, by the monotonous buzzing of the flies? no meio do texto; a primeira, to drive

    home the finality of death, encerrando-o e pgina 179. A obra est venda e disponvel na

    internet:

    vosotras, amigas viejas,

    me evocis todas las cosas.

    Que coisas?

    Penso, ento, na mosca que pousava no olho do primeiro morto que vi.

    Isto est nesta bela estrofe:

    Yo s que os habis

    posado

    sobre el juguete

    encantado,

    sobre el librote

    cerrado,

    sobre la carta de

    amor,

    sobre los prpados

    yertos

    de los muertos.

    Sobre as plpebras

    rijas

    dos mortos.

  • E depois de roar meu brao esquerdo, aterrissa finalmente na pequena poro de

    comida, de cerca de 3 gramas, que depositei sobre a folha de papel branco, tamanho

    A4.

    Vosotras, las familiares,

    inevitables golosas.

    Note-se com a palavra hasto tdio, fastio aparece no poema de Machado e

    no texto de Nores:

    Moscas del primer hasto

    en el saln familiar,

    Ela, a mosca, ter uma durao de, no mximo, vinte e um dias (..), ficarei sozinho,

    sem ter com quem partilhar O FASTIO.

    (...)

    E de repente a escuto, numa espcie de murmrio.

    Sim, the monotonous buzzing of the flies.

    H todo um referencial literrio nesse conto, em todos os contos e poemas de

    Nores. Veja isto, para nos preparar para a kafkiana transformao do narrador

    em inseto:

    Imagino que assim deve pensar Deus se que Ele existe sobre todos ns humanos,

    pequenos insetos nervosos a se mexerem, sem objetivo nenhum no nosso pequeno

    blido perdido no universo.

    Isso tem muito a ver com a fala de Gloucester no quarto ato, cena um, do REI

    LEAR:

    GLOUCESTER - O que para os garotos so as moscas, ns somos para os deuses: matam-nos

    por brinquedo.

    GLOUCESTER - As flies to wanton boys are we to th' gods.

    They kill us for their sport.

    Mais referncias, mais aros. preocupao com a busca de algo totalizante,

    proustiano, se contrape tergiversaes como esta:

    Fico o dia quase todo a ler e a buscar entender os teoremas da incompletude de Gdel.

    Ou, ento, j que se est sem querer, querendo trabalhando num conto que ,

    todo uma metfora, simbolista, a meno do poeta portugus Camilo Pessanha.

  • (Coimbra, 7 de Setembro de 1867 Macau, 1 de Maro de 1926) foi

    um poeta portugus.1 considerado o expoente mximo do simbolismo em lngua

    portuguesa, alm de antecipador do princpio modernista da fragmentao.

    O deboche:

    Camilo Pessanha. Aquele de barba toda moscas.

    Bem, mas j basta de entretantos e vamos pro finalmente: o conto comea dizendo

    A mosca cola-se ao vidro da janela.

    Descrio?

    olhos mltiplos, omatdios, oitocentos gros translcidos, esferas cristalinas, como uma TV

    LCD

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Coimbrahttp://pt.wikipedia.org/wiki/7_de_Setembrohttp://pt.wikipedia.org/wiki/1867http://pt.wikipedia.org/wiki/Macauhttp://pt.wikipedia.org/wiki/1_de_Mar%C3%A7ohttp://pt.wikipedia.org/wiki/1926http://pt.wikipedia.org/wiki/Poetahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Portugueseshttp://pt.wikipedia.org/wiki/Camilo_Pessanha#cite_note-UOL_-_Educa.C3.A7.C3.A3o-1http://pt.wikipedia.org/wiki/Simbolismohttp://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADngua_portuguesahttp://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADngua_portuguesahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Fragmenta%C3%A7%C3%A3ohttp://aviagemdosargonautas.net/2014/09/07/2069825/

  • O conto termina:

    Ligo a grande mosca, a que no se mexe, no volteia no ar. A que mede trinta e seis

    polegadas, milhares de gros translcidos, esferas cristalinas de alta definio, que levam a

    escurido ao nosso crebro minsculo. E agora encandeiam a noite, na qual, sozinho,

    confundo-me com ela.

    Cest finis.

    , no. Detalhe importantssimo: apesar de absurdo, o conto no teria partido de

    algo real, como em UM CERTO PADRE GOMES, O CEGO e UM CERTO

    GOS? Nores viveu vrios anos na Arglia.

    O Deserto da Arglia (rabe: um deserto localizado na poro (

    centro-norte da frica, mais precisamente no Norte da frica. Na Arglia, o deserto

    representa uma rea de quase 80% do pas. O deserto possui uma rea de 3 500 000 km.

    http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81rabehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Desertohttp://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81fricahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Norte_da_%C3%81fricahttp://ecolfuturo.blogspot.com/2010/11/olhos-de-mosca-sao-bons-para-captar.htmlhttp://anti7.com/rants/2013/04/30/ruido-branco-social/

  • lembro tambm a que me perseguiu na travessia de um trecho de deserto. Havia sido

    prevenido de que o instinto de sobrevivncia levaria a mosca a se grudar em algum de ns

    e a seguir-nos at o fim da viagem. Instintivamente, ela sabia que, naquelas

    circunstncias, abandonar o hospedeiro significaria a morte. Descuidei-me e tornei-me

    seu alvo. Feri-me, de leve, de tanto tentar livrar-me do assdio e acabei por guardar

    uma pequena mancha vermelha, que ainda trago no rosto.

    Ser?

    Vamos ver de mais perto.

    http://www.viajandonomundo.com.br/index.php/os-lugares-mais-lindos-no-mundo-para-conhecer-africa/http://www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/viver/2014/09/25/internas_viver,531778/escritor-everardo-noroes-e-finalista-do-premio-portugal-telecom.shtml

  • No. Aqui est a mancha vermelha:

    http://www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/viver/2014/09/25/internas_viver,531778/escritor-everardo-noroes-e-finalista-do-premio-portugal-telecom.shtmlhttp://triplov.com/poesia/Everardo-Noroes/index.htmhttp://www.repro-arte.com/historia-arte/autores/sigloxvii/rembrandt.php

  • Everardo NORES, Isto sobre seu conto O Cego (pginas 45 ss).

    W. J. Solha

    Reparo no texto abaixo, sobre seu Entre Moscas:

    http://www.repro-arte.com/historia-arte/autores/sigloxvii/rembrandt.php

  • Escrito por Marco Polo

    Ernest Hemingway dizia que a escrita deveria ser como um iceberg, do qual s

    se via uma mnima ponta, enquanto toda sua potncia teria que ser adivinhada

    sob as guas. J Ricardo Piglia diz que todo bom conto tem, sob o texto

    aparente, um subtexto que flui como um rio subterrneo. Esse tipo de

    qualidade, que obriga o leitor a ser um leitor ativo, mergulhador, escavador,

    em busca do ouro real, uma das qualidades do livro de contos Entre moscas,

    do cearense radicado no Recife Everardo Nores

    Bem, e o conto O Cego me parece um perfeito exemplo disso. A comear pelo

    fato de que impossvel, sendo voc borgiano nas citaes, cf Ronaldo

    Correia de Brito, no pensar em Borges.

    No s pela cegueira, mas em alguns pontos

    http://www.ups.edu/faculty/velez/FL380/Bormain.htm

  • pelo estilo. Voc, como Borges, poeta. Por sinal, Hamid j aparece com sua

    cegueira no poema O Anncio dos Brbaros. Mas aqui isto explcito:

    Marcamos n osso primeiro encontro num caf, o da esquina de uma das principais avenidas da

    cidade, junto a uma praa que tem a atmosfera da confluncia de rios ocultos.

    Rios ocultos, no caso, so evidentemente, os personagens Hamid e o narrador. Rios

    ocultos. O conto mostra o quanto.

    (Hamid) Sabe as razes de minha estada na cidade, quem so meus

    contatos, de onde venho.

    Ns, no.

    Indago como ele, cego, conseguira doutorar-se em lgica matemtica pela

    Sorbonne. (..)

    - O olho, disse o cego, simples circunstncia do real.

    (...)

    Reveja isto, depois de ler todo este meu texto:

    (s vezes me pergunto se ele de fato cego), temo que escute meus passos,

    sinta o cheiro de meu corpo, descubra alguma partcula secreta de meu

    nome.

    Umberto Eco presta uma grande homenagem a Jorge Lus Borges, em O Nome da Rosa.

    No livro h uma biblioteca labirntica, secreta, dentro do convento comandado pelo

    misterioso, severo... e cego Venervel Jorge:

    (s vezes me pergunto se ele de fato cego).

    Claro:

    http://filmeseeducacao.blogspot.com/2010/04/o-nome-da-rosa.html

  • quando me pediu para conduzi-lo de automvel, descreveu as ruas por onde passamos,

    confirmando que via to bem quanto eu.

    Al Pacino faz mais do que isso quando dana tango e dirige toda, no papel

    de cego de Perfume de Mulher...

    Hamid chega ao ponto de opinar sobre um desenho retratando uma ex-noiva:

    A ligeira sombra abaixo dos olhos a torna um pouco mais velha mas, no geral, considero que

    um bom trabalho

    ... o que no nada absurdo, ante o fotgrafo cego Evgen Bavcar, do

    documentrio Janela da Alma, sobre escritores e cineastas deficientes visuais,

    ... ou ante o Demolidor, super-heri cego vivido por Bem Affleck.

    http://cinemaedebate.com/2011/03/09/perfume-de-mulher-1992/http://www.youtube.com/watch?v=56Lsyci_gwg

  • Claro que isso tudo remete a Tirsias, o... vidente cego do dipo Rei, de Sfocles, que diz ao

    soberano (que terminar, literalmente, por cegar-se):

    - ... Digo-te, dipo, j que ofendestes a minha cegueira, que tens olhos abertos luz, mas no

    vs teus males.

    Hm. Isso tudo talvez tenha a ver com a escolha do nome Hamid louvado ou digno de

    louvor.

    Mas...

    Com Hamid aprendi a detestar os cegos.

    Como Buuel. Em Viridiana, um dos mendigos, o cego, mau diz Roberto Acioli de Oliveira,

    em A Religio no C inema de Luis Buuel.- Para o cineasta... todos os cegos so maus!

    http://revistaquem.globo.com/Revista/Quem/0,,ERT160581-9531,00.htmlhttp://photos1.blogger.com/blogger/5732/1644/1600/Tiresias[1].jpg

  • E voltamos a Borges, que tem o xadrez como tema de um dos cumes de sua poesia.

    Como explicar a facilidade com que Hamid age?

    (Era) Como se tivesse no crebro um modelo matemtico , um jogo no qual sempre tivesse a

    possibilidade de ganhar ou, no mnimo de empatar a partida, Kasparov jogando contra o Deep

    Blue, ou no conto/ensaio de Poe O jogador de xadrez de Maelzel.

    Bem borgiana a meno desse computador enfrentando Kasparov e desse

    estranho enxadrista, um autmato... na verdade, segundo Poe, uma farsa,

    pois manobrado por um ano.

    Hamid tambm matreiro:

    ...pede que o deixe junto s escadarias da universidade. Pego seu brao, abro

    caminho entre mesas.

    Mas quem o narrador? E quem, Hamid? O final do conto... me lembra o

    de meu romanceamento do dipo Rei, de Sfocles, constante de minha

    Histria Universal da Angstia (Bertrand Brasil, 2005). Meu ttulo, por sinal,

    deriva da Histria Universal da Infmia, do argentino.

    http://3.bp.blogspot.com/-k-DuRVdW8Yc/Tce3YZkJsyI/AAAAAAAAAC8/Ge1Dr6rbwJg/s1600/Borges-y-Sabato-2.jpg

  • O meu tebano, ao fim de tudo, lembra-se de que Tirsias lhe dissera:

    Se agora no vs, olhando tudo, breve tudo vers, embora cego!

    Da que ele mete os ferres dos colchetes nos olhos. Foi quando ouvi minha voz fora deste centro do universo que eu sou, dizendo-me de longe: Tirsias! Senti minhas mos maiores do que as sabia e que o cncavo de suas palmas estavam ... nos ombros nus de dois rapazes Os kroi! percebi. Os guias! e, a seguir - Degraus!- percebi sob meus ps. Procurei controlar os passos para no cair. E temos dipo transformado no vidente, no exato momento em que chega, intimado por sua majestade ele mesmo - a dizer o que sabe de tudo que est acontecendo. E ouve-se a si mesmo:

    - Zeus!... Saber terrvel, quando intil!...

    E a... tenho o Everardo Nores como irmo numa mesma caminhada. As

    coisas esto no ar, lemos e vimos as mesmas coisas, tivemos as mesmas

    influncias... e por isso compreendo perfeitamente o que seu narrador diz,

    enigmaticamente, encerrando o conto:

    No tenho esc olha. (...) tornar-me-ei um pouco ele. At fecharei os olhos.

    Serei um cego subindo escadarias, adentrando becos . Feito um co policial,

    que se rege pelo faro, prestes a cravar suas mandbulas na carne de algum

    infiel.

    Sobre UM CERTO PADRE GOMES, de ENTRE MOSCAS,

    seu volume de contos, Everardo

    W. J. Solha

    http://produto.mercadolivre.com.br/MLB-577028179-historia-universal-da-angustia-wjsolha-_JM

  • Em O SIGNO DA POESIA E O SIGNO DA PROSA, deste volume,

    l-se que poesia aquela coisa que muda de linha antes que a pgina tenha

    terminado e prosa aquilo que continua enquanto possvel aproveitar um pedao

    de papel .

    Nem sempre.

    Na pgina 16, deste livro, por exemplo, se l:

    Surgiu uma ideia.

    Primeiro dominar.

    Depois destruir.

    Descobrir os segredos da arte.

    Tirar-lhe todos os disfarces.

    Domin-la.

    Tornar-se um mestre.

    https://sebodomessias.com.br/livro/literatura-estrangeira/sobre-os-espelhos-e-outros-ensaios.aspxhttps://sebodomessias.com.br/livro/teatro-e-cinema/reflexoes-de-um-cineasta.aspx

  • Depois, arrancar a mscara, pr a nu, demolir!

    O cineasta, aqui, quer apenas ser extremamente claro... e decupa o texto.

    Bem, voc, nas duas ltimas histrias curtas do livro , decide no

    ir at o fim da linha. Pra... tambm decupar uma realidade vivida que tem pra nos

    repassar. Uma delas se chama UM CERTO PADRE GOMES.

    Padre Antonio Gomes de Arajo,

    que, pelo menos nessas fotos em duas fases da vida, me lembra o ator e diretor

    Roberto Begnini de A VIDA BELA, foi como o voc conta

    fora do conto, seu professor e um dos maiores historiadores do Cear, da escola

    de Capistrano de Abreu. D-nos um detalhe dele que importante na histria:

    - Batina negra, com larga faixa a esconder um 38 duplo, segundo as ms lnguas,

    era temido no s pelos alunos.

    Bem, nem tanto.

    http://busca.livrariasaraiva.com.br/saraiva/Confraria-Do-Ventohttps://pt-br.facebook.com/dhdpadregomeshttp://blogdosanharol.blogspot.com/2010/07/padre-antonio-gomes-de-araujo-por.htmlhttp://www.museudocinema.com.br/2007/06/roberto-benigni.html

  • - Um dia, em plena aula, caiu da cadeira. Ningum ousou mexer-se. De sbito,

    levanta-se, aponta o indicador e sentencia: Agora podem rir!

    Fui atrs de mais dados. A Professora da UERJ, Lutgarde Oliveira, antroploga,

    revela:

    - No livro Apostolado do Embuste, ele diz que o padre Ccero se juntou com o

    primo Jos Marrocos para utilizar um composto qumico e simular o sangue do

    famoso milagre da hstia que virou sangue na boca de uma comungante. E provou

    isso porque encontrou um livro francs que dizia como usar o material. S que a obra

    foi editada dez anos depois do milagre. O padre Gomes ainda teve acesso aos prprios

    panos do milagre e os queimou. Quando o questionei sobre isto, ficou enfurecido e

    me acusou de fantica.

    Bem, voc nos interrompe, introduzindo-nos diretamente numa bela imagem de

    sua memria:

    Dez horas da manh.

    Na sala de aula, duas altas janelas cortam

    o claro dos cus em pedaos.

    O professor profere a chamada.

    E a descrio, agora, ganha outro tom: literrio:

    Ele padre, mas nada tem a ver com seus pares.

    Basta ver o corte da batina, a faixa cintura

    que mais parece um obi de samurai.

    http://www.tvblog.it/post/265047/rai-roberto-benigni-porta-in-tv-i-dieci-comandamentihttp://www.metodista.br/unesco/jbcc/editorias/especiais/painel-evocativo-dos-70-anos-de-vida-da-antropologa-luitgarde-oliveira-cavalcanti-barros/imagem07.jpg/view

  • Postura de quem est sempre espreita,

    aguarda o ataque.

    (...) Comenta-se que presa faixa no h uma katana,

    o sabre japons, mas um Smith & Wesson, 38 duplo.

    Os prprios alunos, portanto, ... esperavam muito de seu mestre. Por que? A vem,

    com dois versos, o contraste com a fantasia,

    cinzento o ginsio na sua arquitetura

    cansativamente simtrica.

    (...)

    ... a sala,

    igual a vinte outras,

    com seus trinta alunos sentados em carteiras

    de madeira de lei.

    Nelas, inscries, smbolos.

    Nada de sugestes pornogrficas ou insinuaes subversivas.

    (...)

    aqui se iniciado no exerccio da delao.

    Pronto. Est criado o plot. O que marca o conto o abafado desespero por algo...

    maior, do Padre historiador. Voc fala em usura da histria.

    Onde estar nossa taca?

    http://galeri.uludagsozluk.com/r/toshiro-mifune-690816/

  • Temos um ponto em comum. Em meu romance RELATO DE PRCULA, cujo

    personagem principal... tambm um padre, esse l de Pombal, no alto serto da

    Paraba, meu narrador diz, l pelas tantas:

    jamais terei como pano de fundo nada do porte de uma invaso napolenica ou de um

    gigantesco desembarque de soldados na Normandia, acontecimentos de interesse e

    repercusso mundiais. E da? Da, parece-me, a pouca ou nenhuma ressonncia dos

    escritores brasileiros l fora, como se fssemos arquelogos e o mundo soubesse de

    antemo que jamais encontraremos, aqui, nada parecido com a soterrada Tria ou os

    tesouros de Tutankhamon, esfalfando-nos todos, toa, em escavaes na Lagoa Santa,

    Ing do Bacamarte, ou no Parque Nacional da Serra da Capivara.

    Da que Padre Gomes... sufoca na batina que no larga, no Crato, no silncio

    martirizado no quarto de estudos.

    (...) No tem com quem conversar,

    aprofundar argumentos,

    buscar o verme que contamina o miolo de seu fruto,

    o fruto vermelho da Histria.

    Por que essa... ma, nesse paraso? Seu conto, Everardo, uma elegia pra

    algum que viu que A VIDA NO BELA.

    Tem um ar triste, inquieto.

    (...)

    Em que pensa essa padre, com jeito de homem? Sim, voc diz isso, atravs de um

    certo ano Tand: Com jeito de homem. Frise-se: Com jeito de homem. Mas

    http://bari.notizie.it/the-wrong-picture-benigni-recitera-per-woody-allen/

  • se v que se trata de um homem... cerebral, limitado ao tal ginsio na sua

    arquitetura

    cansativamente simtrica. E a Histria, escreve Jos Honrio Rodrigues, no s

    fato: tambm emoo

    Mas emoo, como? O ambiente terrvel.

    Aqui tudo vigiado.

    A cada janela h um olho espreita.

    Claro que, embora no parea, isso martiriza o personagem, algoz e vtima da

    situao.

    O padre caminha sem prestar ateno a quem passa,

    nem atentar para quem se furta por trs das gelosias.

    O conto, aqui, atinge seu ponto mximo. O que nosso historiador, o que voc

    pesquisa?

    A saga dos annimos.

    Ou seja: catar os detritos da histria.

    Ele luta, amargurado, para escrever... algo que o torne diferente do que no seu

    conto, Everardo. Veja como este seu

    trecho lembra o

    do narrador em meu romance:

    Em 9 de janeiro de 1941, Padre Gomes,

    nos Cariris, longe de tudo, ensina, pesquisa, escreve,

    elabora e medita, sozinho.

    Nesse mesmo dia,

    sob a Frana ocupada e 5 dias

    aps a morte de Henri Bergson,

    Paul Valry pronuncia na Academia Francesa

    o belssimo elogio fnebre ao filsofo.

    Caramba. Padre Gomes, sozinho nos Cariris, Valry fazendo um discurso na

    Academia, em Paris!

  • Tanta grandiosidade, de um lado, e, de outro

    necessrio lupa para recompor feies e formas.

    Lupa que abandonada tendo o conto sido feito e o padre devidamente ampliado.

    O encerramento antolgico. O Padre

    pensa num mundo mais largo, sem cadeias,

    (...)

    longe de um sol que o mesmo sol de todos os dias,

    (...)

    onde nada existe que seja novo,

    onde tudo cansa, tudo exaure...

    Seu Padre busca um Ulisses. O mximo que poderia encontrar, no entanto, este,

    Mero Leopold Bloom, de sua saga dos annimos em detritos da histria.

    Ao fim e ao cabo, retiro o que disse: UM CERTO PADRE GOMES no apenas

    um conto decupado. poesia, sim. E como!

    http://es.wikipedia.org/wiki/Academia_Francesahttp://www.brasileire.com/Noticias/1350490103/bloomsday-celebra-o-ulysses-e-james-joyce

  • AGUINALDO SILVAO homem das novelas que trocou o rio pelo casteloPOR QUE EVERARDO NORES DEU A SEU LIVRO ENTRE MOSCAS O TTULO DE UM DE SEUS CONTOS?Como se v, Nores de enorme bagagem literria encantou-se com algo to... proustiano... em poema no por acaso... infantil.