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A TEORIA DA PROTEÇÃO E OS CONFLITOS COMERCIAIS ENTRE BRASIL E ARGENTINA Marcelo Gregorio 1 Jonathan Dias Ferreira 2 Mirian Beatriz Schneider Braun 3 Área Temática: Comércio exterior paranaense Resumo: O objetivo desta pesquisa foi analisar as medidas e conflitos comerciais entre o Brasil e a Argentina, as razões que levaram a adotar tais práticas dentro contexto político- econômico e avaliar os impactos, tendo em vista as mudanças na competitividade do setor automotivo, demonstradas pelo Índice de Vantagens Comparativas Reveladas IVCR e pelo Índice de Orientação Regional IOR, no período que compreende 2002-2011. Verificou-se que o Acordo Bilateral Automotivo entre Brasil e Argentina contribuiu para que os instrumentos de proteção comercial não fossem acionados na maior parte do período estudado. O setor pouco sofreu com medidas protecionistas que provocassem alterações perceptíveis nos índices, tanto IVCR quanto IOR. O interessante é observar as mudanças na competitividade de cada item do setor, frente ao mercado mundial. Palavras-chave: comércio, Brasil-Argentina, setor automobilístico. Abstract: The objective of this research was to analyze the measures and trade disputes between Brazil and Argentina, the reasons to adopt such practices within political-economic context and to assess the impacts, considering the changes in the competitiveness of the automotive industry, demonstrated by the Index Revealed Comparative Advantage - IVCR and the Regional Orientation Index - IOR, which comprises the period from 2002 to 2011. It was found that the Bilateral Agreement between Brazil and Argentina Automotive contributed to the instruments of trade protection were not triggered most of the period studied. The industry suffered little protectionist measures that caused noticeable changes in the indices, both IVCR as IOR. It is interesting to observe the changes in the competitiveness of each item in the industry, compared to the world market. Key Words: trade, Brazil and Argentina, the automotive sector. 1 Economista pela Universidade Estadual do Oeste Paranaense UNIOESTE, campus de Toledo PR. E-mail: [email protected] 2 Mestrando em Desenvolvimento Regional e Agronegócio pela Universidade Estadual do Oeste Paranaense UNIOESTE, campus de Toledo PR. E-mail: [email protected] 3 Professora Dra Associada do Colegiado de Ciências Econômicas e do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional e Agronegócio da UNIOESTE, Campus de Toledo. E-mail: [email protected]

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A TEORIA DA PROTEÇÃO E OS CONFLITOS COMERCIAIS ENTRE

BRASIL E ARGENTINA

Marcelo Gregorio1

Jonathan Dias Ferreira2

Mirian Beatriz Schneider Braun3

Área Temática: Comércio exterior paranaense

Resumo: O objetivo desta pesquisa foi analisar as medidas e conflitos comerciais entre o

Brasil e a Argentina, as razões que levaram a adotar tais práticas dentro contexto político-

econômico e avaliar os impactos, tendo em vista as mudanças na competitividade do setor

automotivo, demonstradas pelo Índice de Vantagens Comparativas Reveladas – IVCR e pelo

Índice de Orientação Regional – IOR, no período que compreende 2002-2011. Verificou-se

que o Acordo Bilateral Automotivo entre Brasil e Argentina contribuiu para que os instrumentos

de proteção comercial não fossem acionados na maior parte do período estudado. O setor

pouco sofreu com medidas protecionistas que provocassem alterações perceptíveis nos

índices, tanto IVCR quanto IOR. O interessante é observar as mudanças na competitividade

de cada item do setor, frente ao mercado mundial.

Palavras-chave: comércio, Brasil-Argentina, setor automobilístico.

Abstract: The objective of this research was to analyze the measures and trade disputes

between Brazil and Argentina, the reasons to adopt such practices within political-economic

context and to assess the impacts, considering the changes in the competitiveness of the

automotive industry, demonstrated by the Index Revealed Comparative Advantage - IVCR and

the Regional Orientation Index - IOR, which comprises the period from 2002 to 2011. It was

found that the Bilateral Agreement between Brazil and Argentina Automotive contributed to the

instruments of trade protection were not triggered most of the period studied. The industry

suffered little protectionist measures that caused noticeable changes in the indices, both IVCR

as IOR. It is interesting to observe the changes in the competitiveness of each item in the

industry, compared to the world market.

Key Words: trade, Brazil and Argentina, the automotive sector.

1Economista pela Universidade Estadual do Oeste Paranaense – UNIOESTE, campus de Toledo – PR. E-mail: [email protected] 2Mestrando em Desenvolvimento Regional e Agronegócio pela Universidade Estadual do Oeste Paranaense – UNIOESTE, campus de Toledo – PR. E-mail: [email protected]

3Professora Dra Associada do Colegiado de Ciências Econômicas e do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional e Agronegócio da UNIOESTE, Campus de Toledo. E-mail: [email protected]

1. Introdução

Com a evolução das teorias referente comercio internacional, várias escolas de

pensamento econômico se aprofundaram nos estudos sobre o comportamento do setor

externo das economias. No presente trabalho, será discutida a relação comercial entre Brasil

e Argentina, enfocando a questão dos conflitos comerciais mais recentes entre duas nações

as quais são as mais importantes do Mercado Comum do Sul – MERCOSUL.

Após a segunda guerra mundial, houve influência da Comissão para

Desenvolvimento da América Latina e Caribe – CEPAL nas políticas de desenvolvimento dos

países. De acordo com Baumann et al (2004), políticas de proteção a indústria foram

incentivadas, a chamada substituição de importações, além do afloramento de ideias de

integração regional como meio de se buscar um desenvolvimento econômico em grupo.

Dentre outras tentativas de integração, como a Associação Latino-Americana de

Livre Comercio – ALALC e a Associação Latino-Americana de Integração – ALADI, a

declaração de Iguaçu foi o que veio a firmar a intenção e esforços para integração bilateral

entre o Brasil e Argentina. Estes países foram levados por fatores conjunturais da época,

como a crise da dívida externa, escassez de divisas e balanças comerciais desfavoráveis, a

conduzirem projetos em comum, apesar da não confiança entre ambas pares. Em 1991, o

tratado de Assunção trouxe o Paraguai e o Uruguai para fazerem parte do bloco e em 1995

se deu início ao chamado MERCOSUL (BRANDÃO; PEREIRA, 1998).

A principal justificativa para formação de blocos econômicos é de propiciar maior

liberdade de comércio, com vistas ao aproveitamento das vantagens comparativas recíprocas.

Mesmo num projeto de desenvolvimento comum, existe o conflito de interesse entre as

nações, o que não assegura a harmonia na distribuição das vantagens. Por exemplo, o fator

localização das indústrias é um complicador na negociação entre os membros da união, uma

vez que se tem em mente os benefícios locais que uma indústria pode produzir, como

empregos e renda (CARVALHO; SILVA, 2000).

Dada a existência de conflito de interesses no âmbito comercial, a adoção de

barreiras comerciais é prática comum entre nações. Os motivos podem ser diversos, como

proteção a determinado setor econômico, criação ou manutenção de empregos e correção de

desequilíbrios na balança comercial.

Levando em consideração a corrente ideológica que defende o livre comercio como

promotor de crescimento econômico e bem estar, medidas de proteção não são bem vistas.

A Organização Mundial de Comércio – OMC, foi criada para evitar o abuso da proteção

comercial entre os países, tentando fazer com que o comercio mundial tenha direções mais

livres.

Com a natural elevação do comércio entre as duas nações devido processo de

integração, tornou-se visível o potencial de mercado até então desconhecido para as duas

nações, que continuou progredindo até os dias atuais, tornando-as grandes parceiros

comerciais.

É evidente a polarização do MERCOSUL entre o Brasil e a Argentina, porém os dois

países não dividem esse poder de forma igualitária, sendo o Brasil o país de maior influência

econômica. Medidas de proteções da Argentina adotadas pelo então presidente Nestor

Kirchner, que governou a Argentina de 2002 a 2008, levaram a uma nova perturbação no

cenário de comercio bilateral entre os dois países e essa prática vem sendo imposta sempre

que necessário, aos interesses sobretudo locais, nem sempre tendo reflexos positivos para o

comércio internacional e bem estar dos consumidores.

O presente trabalho visa a avaliação e estudo da competitividade e orientação do

comércio do setor automobilístico do Brasil e Argentina, buscando relacionar as mudanças

ocorridas e ações protecionistas tomadas por estes governos.

A teoria da proteção trará fundamentação à discussão dos efeitos acarretados pela

utilização de instrumentos de proteção comercial, bem como o Índice de Vantagens

Comparativas Reveladas – IVCR, mostrará a competitividade das exportações destes

mercados perante as exportações mundiais. O Índice de Orientação Regional – IOR, indicará

a dependência ou não deste setore de um país em relação ao outro.

A estrutura do trabalho é composta pela apresentação do referencial teórico sobre a

teoria da proteção e a descrição do mercado automobilístico. Após é apresentada a

metodologia que norteará o estudo, a apresentação dos resultados e análise dos mesmos.

Por fim a conclusão do trabalho.

2. Revisão da Literatura

2.1 Protecionismo

O protecionismo é uma postura comercial adotada por governos para dificultar a

entrada de produtos importados em seu território, visando a proteção de algum setor

econômico local, principalmente as indústrias. Segundo Brum (2002), esse tipo de política se

caracteriza pelo uso de medidas de proteção, sendo os mais comuns os subsídios, barreiras

alfandegárias, restrições tarifárias e não tarifárias, quotas às importações, reservas de

mercado e políticas cambiais.

A proteção pode se dar por meio de diversos instrumentos de intervenção pública,

sendo que o conjunto destes dá-se o nome de política comercial (CARVALHO, SILVA, 2000)

As tarifas podem ser classificadas segundo sua finalidade, ou seja, podem ter fins de

receita fiscal apenas (tarifa fiscal) ou como proteção a algum setor da economia (tarifa

protecionista) (SILVA, 1987). Aplicando-se restrições tarifárias ou subsídios às exportações

cria-se uma diferença nos preços dos bens negociados no mercado internacional e os preços

nacionais O efeito direto de uma tarifa é um encarecimento nos bens importados dentro do

país.

Já os subsídios criam um incentivo às exportações nacionais, onde se pode concorrer

no mercado externo com menores custos advindos da produção e também impulsionar

setores internos de baixa eficiência, evitando assim que os bens provenientes deste setor

sejam importados, O fato preponderante é a diferença entre os preços locais e externos

(KRUGMAN, OBSTFELD, 2001). Os subsídios envolvem a transferência de renda real da

sociedade ao setor beneficiário.

A Organização Mundial de Comércio (OMC) tem este como objeto de

regulamentação e é o órgão responsável pela solução de controvérsias geradas por esse tipo

de medida (BAUMANN et al, 2004). Sendo assim, ao analisar os efeitos de uma tarifa ou

subsídios às exportações, pretende-se saber como afetam a oferta e a demanda como uma

função dos preços externos (KRUGMAN; OBSTFELD, 2001).

As tarifas podem ser fixadas a um preço pré determinado (específica) ou um

percentual fixo (ad valorem), este último sendo mais utilizado atualmente (SILVA, 1987). No

caso de uniões aduaneiras, citando como exemplo o MERCOSUL, faz-se uso de uma Tarifa

Externa Comum – TEC, para produtos advindos de países não membros do bloco econômico

(CARVALHO; SILVA, 2000). Algumas ressalvas foram permitidas, em caso de setores

específicos, que deveriam se adequar ao teto da TEC até o ano de 2001 (BRAUN et al., 2012).

O governo pode atuar também de forma a limitar quantitativamente o comercio,

estabelecendo quotas máximas de importação, limitando o acesso local de produtos

importados específicos. A diferença entre uma medida tarifária e a utilização de medidas

quantitativas é que a segunda não gera receita ao governo, porém inferem da mesma forma

preço dos produtos, por alteração na oferta (CARVALHO; SILVA, 2000).

Além disso, medidas de aspectos fitossanitários, normas técnicas para

comercialização de certos produtos ou até mesmo a proibição do comercio de determinados

bens (tarifas proibitivas). Neste último caso, a demanda por tal bem se torna igual a oferta

interna (BAUMANN et al, 2004). O principal objetivo das tarifas é oferecer vantagem ao

produtor doméstico frente à concorrência estrangeira (CARVALHO; SILVA, 2000).

Silva (1987) afirma que as tarifas pode causar alteração nos preços, na produção e

no consumo de bens. Define também outras três efeitos: alteração no volume de exportação

(aumento do consumo de bens produzidos no mercado interno), alterações nas relações de

troca, de acordo com o tamanho relativo do país, e por fim alterações no balanço de

pagamentos.

O efeito derivado seria sobre a alocação de fatores de produção, uma vez que estes

tendem a se integrarem nos setores protegidos (BAUMANN et al, 2004). Efeitos distributivos

também podem ser citados como efeitos derivados. Os de mais relevância são sobre a renda

e consumo (produtos mais caros),

Outro aspecto relevante, segundo Brum (2002), é a taxa de câmbio, ou seja, é o preço

de uma moeda estrangeira em termos de moeda corrente nacional. Portanto um aumento ou

diminuição, a moeda internacional valoriza ou desvaloriza. Pode ser considerada como um

dos determinantes de competitividade dos produtos e serviços em um país. A mesma assume

importância como instrumento de política monetária podendo ser utilizada no controle do

consumo, renda e produção (BRUM, 2002).

As informações relevantes para decisão de exportar são: preços domésticos, preços

externos e taxa de câmbio. Alterações da taxa de câmbio afetam o preço relativo dos produtos

entre o mercado interno e o externo e podem induzir a aumento ou redução do saldo

comercial. Em outras palavras, todas as contas do balanço de pagamentos são influenciadas

pela taxa de câmbio, cujas alterações afetam exportações, importações, entradas de capitais

estrangeiros, rentabilidade de aplicações no exterior, volume de reserva, ente outros

(CARVALHO; SILVA, 2000).

Qualquer intervenção no mercado de divisas que venha a afetar a taxa de câmbio é

entendido por “controle cambial”. Neste sentido, pode-se citar a mesma também como um

instrumento de proteção para economia de um país, uma vez que o uso da mesma pode

promover os setores locais de produção por meio do encarecimento de importados,

restringindo a procura de divisas em situações de déficit na balança de pagamentos. O

controle cambial não elimina as causa do desequilíbrio das contas externas, sendo que se o

mesmo for de ordem estrutural, torna-se sempre necessário o uso de tal mecanismo (SILVA,

1987).

O Brasil, afirma Souza (2008), em seu processo de substituição de importações,

utilizou desse mecanismo de controle cambial para conter a demanda nacional por

importados, tornando-os mais caros. Pode-se dizer que foi uma medida protecionista, uma

vez que o setor industrial nascente local foi beneficiado por tal medida. Porém a utilização

desta é ampla, visto que esta medida atinge os preços no agregado e não direcionado a um

setor. Sendo assim, o setor de comercio de importados e demandantes de matéria prima de

outros países foram prejudicados com tal medida (SOUZA, 2008).

Na política cambial, segundo Silva (1987), deve-se ter cuidado no que diz respeito a

desvalorização da moeda, no intuito de barreira comercial, pois essa prática pode levar a fuga

de capital do país, gerada pelo temor de instabilidade da moeda.

Desde o acordo que formou o MERCOSUL, Brasil e Argentina possuem uma tarifa

externa comum (TEC), em relação aos produtos importados de fora do bloco. Segundo

Baumann et al (2004), numa união aduaneira ou mercado comum, há o mesmo tratamento

tarifário para os bens provenientes de fora do bloco.

O MERCOSUL marca um avanço nas relações históricas entre os países platenses, sempre marcadas pela tentativa de hegemonia regional, sabendo-se que o único país que conseguiu efetivamente se aproximar dessa condição foi o Brasil, haja vista seu parque industrial diversificado e crescente, a fronteira agrícola fértil e em expansão e a riqueza dos seus recursos naturais. Frente aos países platenses, a estrutura econômica brasileira, apesar de suas contradições internas, é evidentemente predominante (BRAUN et al., 2012, p 61).

Baumann et al (2004) cita sobre a importância de convergência nas políticas

cambiais, monetárias e fiscais para um alinhamento dos ciclos econômicos dos países

membros, ideia reforçada por Brandão e Pereira (1998), os quais defendem que quanto maior

o grau da integração econômica pretendido, mais se deve avançar em termos de

harmonização tributária. Para estes, há três motivos pelos quais se faz necessária a

harmonização tributária: minimização de distorções nas condições de competitividade dos

produtos transacionados; minimizar distorções referente rentabilidade dos projetos, para que

não haja desvios em sua localização; por último, evitar distorções no mercado de trabalho,

gerada pela alocação espontânea dos fatores móveis.

Para o estabelecimento da TEC, houve vários impasses devido o diferente nível de

industrialização dos países (MAIA, 2000), havendo conflito de interesses. Ou seja, o Brasil

defendia uma tarifa maior por possuía um parque industrial mais desenvolvido e o Paraguai

preferia uma tarifa mais baixa, uma vez que seu parque industrial é pouco desenvolvido e boa

parte da demanda agregada do mesmo é suprida por importações.

Do ponto de vista comercial, a importância da TEC reside na padronização das

práticas tarifárias com terceiros, evitando o chamado desvio de comércio, que, segundo

Baumann et al (2004) é caracterizado pelo comercio de um bem entre parceiros do bloco,

porém tal item de procedência de fora do bloco, fazendo apenas o repasse da mercadoria,

tendo como vantagem a diferente tratamento tarifário com outros países. Tal prática não é

desejável, uma vez que não estimula o setor de produção de quem está exportando e passa

parte do ônus ao país importador, refletido num menor bem estar social.

2.2 Acordo Automotivo Brasil-Argentina

A partir de meados do 2000, foi firmado o Acordo Automotivo Bilateral entre as

republicas do Brasil e Argentina, em complemento ao Acordo de Cooperação Econômica

firmado em 1990 e reiterado pelo Trigésimo Protocolo Adicional. O acordo previa um comercio

administrado para as importações com alíquota zero até o ano de 2005, onde entraria em

vigência o livre comércio entre as partes. A administração seria norteada por um Coeficiente

de Desvio de Exportações (flex), onde este daria o limite das importações sem pagamento de

impostos de importação, com base no que foi exportado. O que fosse exportado que

excedesse a cota estabelecida pelo flex, seria tributado em 70% da Tarifa Externa Comum –

TEC, para todos os tipos de veículo e 75% da TEC para autopeças (SINDIPEÇAS, 2006).

Este acordo também previa uma porcentagem mínima de nacionalização dos que era

produzido e exportado, sendo revisado em 2002 para que houvesse uma maior abertura

comercial entre os países e outras modificações no flex, homologadas no Trigésimo Primeiro

protocolo adicional.

Porém em 2005 a Argentina alega que não havia condições para que ocorresse o

livre comércio. Em dezembro deste ano, o acordo foi prorrogado para 60 dias (Trigésimo

Segundo protocolo adicional), até que ambas as partes entrassem em um consenso. Somente

em junho de 2006, com o trigésimo quinto protocolo adicional, o acordo foi prorrogado até

junho de 2008 (ANFAVEA, 2012).

Em junho de 2008 houve a substituição do Acordo Bilateral entre Argentina e Brasil,

com novas regras para os produtos do setor. Ficou definido para 2014 a situação de livre

comércio entre as partes. Até lá, o comércio será monitorado trimestralmente, de forma global.

A margem de referência para este comércio será de 100%, desde que se respeite o flex

definido para cada país, sendo que não pode ser superior a 1,95 para Argentina e 2,5 para o

Brasil, ficando subtendido uma acesso maior da Argentina ao mercado brasileiro (MDIC,

2008).

3. Procedimentos Metodológicos

A pesquisa é segmentada em duas partes. A primeira é referente a aplicação do

Índice de Vantagens Comparativas (IVCR) e Índice de Orientação Regional (IOR) no setor

automobilístico.

O IVCR, por Yeats (1997), tem como função a medição da eficiência produtiva no

contexto de transformações nos padrões de comércio, ora seja por uma medida protecionista,

ou outro tipo de transformação que influa nesses padrões comerciais. Segundo Silva (1987)

e Baumann et al (2004), após a adoção de medidas protecionistas, as variáveis preço e

quantidade sofrem mudanças em virtude da tarifa cobrada para importações (no caso de

barreiras tarifárias) ou pelo restrição na oferta do bem (no caso de barreiras não tarifárias).

Sendo assim, segundo Maia (2002), o IVCR fornece um indicador da estrutura

relativa das exportações de um país. O mesmo pode ser utilizado para calcular cada setor

separadamente de cada país.

Para o calculo do índice proposto, utiliza-se a seguinte equação:

IVCRj = (Xij / Xi) / (Xwj / Xw)

onde: Xij = valor das exportações do produto j pelo país i;

Xi = valor das exportações totais pelo país i;

Xwj = valor das exportações mundiais do produto j;

Xw = valor das exportações mundiais totais.

O índice é medido pela razão do valor das exportações do setor j na pauta de

exportações do país i dividido pela razão do valor das exportações do setor j na pauta de

exportações mundiais. Para valores acima da unidade, o país possui vantagens comparativas

reveladas no setor avaliado enquanto para valores abaixo da unidade, o país possui

desvantagem comparativa revelada (MAIA 2002).

O IVCR não é sensível as diferenças de taxa de crescimento econômico dos países

analisados, mas é sensível as barreiras que são aplicadas exclusivamente ao país que se

deseja calcular o índice.

Para verificação nos padrões dos fluxos comerciais do setor estudado, foi utilizado o

Índice de Orientação Regional (IOR). Este índice mostra o grau de orientação das exportações

de determinado produto ou setor para um parceiro comercial a ser estudado (WAQUIL et al.,

2004)

Para o calculo do IOR, utiliza-se a seguinte equação:

IORj = (Xrj / Xrt) / (Xoj / Xot)

Onde:

Xrj = valor das exportações intra-regionais do produto j;

Xrt = valor das exportações intra-regionais totais;

Xoj = valor das exportações extra-regionais totais do produto j;

Xot = valor das exportações extra-regionais totais.

Assim como o IVCR, o IOR varia de zera a infinito, sendo que quando o valor for

acima da unidade, tem-se tendência em se exportar para o parceiro comercial analisado; se

for abaixo da unidade, o país tende a exportar a outros parceiros comerciais; se for igual a

unidade, existe uma mesma tendência entre exportar ao parceiro comercial ou pra outros

parceiros comerciais O IOR é mais significativo se for analisado com comparações ao longo

do tempo. Barreiras comerciais e acordos regionais podem influir significativamente nos

valores de IOR calculados, tornado visível alterações no fluxo de comercio regional devido

essas medidas (WAQUIL et al., 2004)

Os dados referentes aos fluxos comerciais estudados foram coletados no bando de

dados das nações unidas (UN COMTRADE), que reúne informações sobre comercio exterior

do mundo. A escolha dessa fonte de dados se deve principalmente pelo fato de se ter a

minimização de incoerências decorrentes da utilização de diferentes bases e também pelo

fato de que a Argentina não disponibiliza online as informações referentes aos fluxos comércio

exterior da mesma, diferente do Brasil, que possui o sistema ALICEWEB, desenvolvido e

alimentado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comercio Exterior (MDIC) e

Secretaria do Comércio Exterior (SECEX).

Foi utilizada a nomenclatura baseada no Sistema Harmonizado de 2002 (HS 2002),

composto por seis dígitos. É uma nomenclatura Internacional que classifica as mercadorias

numa estrutura de códigos, com suas respectivas descrições. Existe o Sistema Harmonizado

de 2007, que é mais atualizado, porém neste sistema não é possível coletar as informações

dos anos anteriores a 2007.

Esse sistema de nomenclatura possui 96 Capítulos, formado pelos dois primeiros

dígitos, sendo os utilizados para o trabalho foram o 84 (Reatores nucleares, caldeiras,

máquinas, aparelhos e instrumentos mecânicos, e suas partes), 85 (Máquinas, aparelhos e

materiais elétricos, e suas partes; aparelhos de gravação ou de reprodução de som, aparelhos

de gravação ou de reprodução de imagens e de som em televisão, e suas partes e acessórios)

e 87 (Veículos automóveis, tratores, ciclos e outros veículos terrestres, suas partes e

acessórios). A posição dentro de cada capitulo é determinada pelos quatro primeiros dígitos.

Se há mais desdobramentos dentro de cada posição, os dois últimos dígitos informam, caso

contrário o valor será 00.

Não foram considerados os dados de cada capitulo como um todo e sim filtrados com

foco nos produtos que possuem maior importância para a análise. No setor automobilístico,

foram escolhidas 05 posições dentro do capitulo 87, conforme quadro 01.

Código Descrição

8701 Tratores (exceto os carros-tratores da posição 87.09).

8702 Veículos automóveis para transporte de dez pessoas ou mais, incluído o

motorista.

8703 Automóveis de passageiros e outros veículos automóveis principalmente

concebidos para transporte de pessoas (exceto os da posição 87.02),

incluídos os veículos de uso misto (“station wagons”) e os automóveis de

corrida.

8704 Veículos automóveis para transporte de mercadorias.

8708 Partes e acessórios dos veículos automóveis das posições 87.01 a 87.04

Quadro 01: Códigos utilizados para compor o setor automobilístico. Fonte: Adaptado da UN Comtrade database.

A posição 8701 abrange tratores em geral; a 8702 ônibus e vans; a 8703 carros de

passeio; a 8704 caminhões e veículos de carga; por fim a 8708 abrange as peças e acessórios

para as categorias anteriormente escolhidas.

A segunda parte consiste em um estudo histórico das medidas que afetaram o setor

estudado, no período que compreende os anos de 2002 até 2011. Esse tipo de análise é muito

comum, caracterizada, segundo Gil (1989) como ex-post-facto, uma vez que é feita após o

acontecimento do que se deseja estudar e não há manipulação das variáveis.

O método o qual foi seguido para delineamento desta etapa é o Método Histórico que

consiste, segundo Ferreira (1998) é caracterizado pela investigação de acontecimentos do

passado para melhor entrelaçamento entre os fenômenos verificados decorrentes de tais

acontecimentos, afim de verificar como as medidas de proteção dos setores econômicos

adotadas pelas economias do Brasil e da Argentina afetaram o parceiro comercial. Para isso,

será feita uma pesquisa documental, afim de coletar as informações que darão suporte à

análise.

A pesquisa documental, segundo Gil (1995), remete a dados que não receberam

nenhum tratamento analítico. Tendo o conhecimento das medidas tomadas pelos governos

dos países estudados, foi feita uma análise comparativa entre os fluxos comerciais com a

adoção das medidas e por meio destes avaliar os impactos nos fluxos de comércio bilateral,

relacionando com os índices calculados na primeira parte.

A análise comparativa, segundo Lakatos e Marconi (1986), realiza comparações com

a finalidade de verificar as similitudes e explicar possíveis divergências, o que foi feito nas

comparações antes e depois da adoção das medidas de proteção.

4. Resultados e Discussão

No setor automobilístico, os Índices de vantagens comparativas calculados para o

Brasil seguem:

Tabela 01 – IVCR calculado para o Brasil, setor automobilístico, 2002-2011.

Produto Período

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

8701 1,39 1,89 2,55 2,99 2,67 2,77 2,67 1,73 2,07 1,82

8702 1,9 1,53 1,47 3,79 1,58 1,78 1,14 1,42 1,65 0,94

8703 0,56 0,64 0,66 0,75 0,72 0,62 0,6 0,58 0,58 0,44

8704 0,74 1,01 1,36 1,89 1,53 1,48 1,44 1,12 1,32 1,28

8708 0,78 0,84 0,88 0,93 1,02 0,93 0,93 0,86 0,85 0,75

Total 0,68 0,79 0,87 1,04 0,98 0,9 0,89 0,77 0,8 0,68

Fonte: Resultados da pesquisa (cálculos realizados pelo autor).

Com relação aos dados do setor, percebe-se que o Brasil não possui vantagem

comparativa nas exportações do setor em relação ao mundo no período escolhido, exceto

para o ano de 2005, onde o valor é maior que a unidade, sendo que este foi influenciado pelo

aumento das exportações nacionais de autopeças e ônibus/vans. No caso dos ônibus houve

um incremento nas exportações para outros parceiros comerciais, ao passo que para

Argentina manteve-se aproximadamente a mesma taxa de crescimento. Para caminhões, as

vendas brasileiras para o mundo praticamente triplicaram, enquanto as mundiais tiveram

aumento de 1,5 vezes, o que explica o IVCR de maior valor comparado com os outros anos.

No ano de 2006, no total do setor, o índice fica levemente abaixo da unidade.

Uma análise em cada posição separadamente, observa-se uma importante

vantagem comparativa do Brasil na produção de tratores (8701), de ônibus e vans (8702), e

de caminhões e veículos de carga (8704) com índices sempre maiores que a unidade (exceto

para os anos de 2002 para caminhões e veículos de carga e 2011 para ônibus e vans).

A vantagem na produção de tratores pode derivar do fato do Brasil ser um dos países

de maior produção agrícola do mundo, sendo o mercado interno, um forte incentivador da

produção desses veículos no país e assim torna possível a produção para exportação, tendo

o MERCOSUL, como demandantes externos. De acordo com o anuário da ANFAVEA (2012),

as importações de tratores do período de 2002 a 2011 representam cerca de 3,8% do que foi

exportado no mesmo período e cerca de 1,8% do total de vendas no mercado interno

(incluindo os importados). Nota-se, portanto, a força da produção nacional e a independência

frente aos importados.

No caso de caminhões, ônibus e vans, pode-se citar a forte dependência Brasileira

do modal de transporte rodoviário. Mesmo com uma infraestrutura deficiente, é a melhor

dentre outros modais, sendo o mais utilizado e o que possui maior acessibilidade, cobrindo

quase todo território nacional, diferentemente do modal fluvial e ferroviário (apesar da

importância deste último no transporte de cargas, em grande parte é utilizado em combinação

com outro modal, o rodoviário, por exemplo). Sendo assim, é plausível que os esforços se

concentrem na produção de meios de transportes onde se concentra a melhor estrutura e

onde a demanda se faz presente.

Em veículos de passeio e autopeças (8704 e 8708), os índices se apresentaram

menor que a unidade, não tendo vantagens comparativas reveladas na produção destes,

exceto no ano de 2006 para autopeças. Os resultados dos índices neste caso foram

esperados, uma vez que a produção destes é bastante difundida pelo mundo. O perfil de

consumo nos países de terceiro mundo é bem diferente do de primeiro mundo. Estes últimos,

no caso de veículos de passeio, os consumidores levam menos tempo na aquisição de novos

veículos, diferente do Brasil, por exemplo, que possui um forte mercado de carros usados e

alta carga tributária para aquisição de veículos novos. Isso faz com que o ciclo de aquisição

de veículos novos seja maior e sua demanda tem a concorrência do mercado de seminovos

e usados.

Para Argentina, segue os resultados do Índice de Vantagens Comparativas

reveladas:

Tabela 02 – IVCR calculado para a Argentina, setor automobilístico, 2002-2011.

Produto Período

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

8701 0,40 0,24 0,40 0,36 0,42 0,48 0,90 0,30 0,15 0,05

8702 1,58 1,22 2,32 2,75 2,96 2,48 2,44 2,15 3,07 2,88

8703 0,40 0,29 0,37 0,41 0,67 0,84 0,98 0,44 1,51 1,45

8704 1,94 1,35 1,85 3,23 3,72 3,52 3,52 4,68 5,73 6,22

8708 0,68 0,68 0,81 0,87 0,95 0,94 0,94 2,71 0,91 0,77

Total 0,63 0,50 0,66 0,83 1,07 1,15 1,26 1,49 1,70 1,66

Fonte: Resultados da pesquisa (cálculos realizados pelo autor).

No geral, analisando os dados do setor como um todo, percebe-se que a Argentina

possui vantagens comparativas a partir do ano de 2006, permanecendo os valores acima da

unidade até o final do período estudado. Até o ano de 2010, os índices no geral mantém-se

numa crescente, sendo que somente em 2011 sofrem um pequeno decréscimo. Parte deste

crescimento no IVCR total é em virtude ao crescimento do comércio bilateral com o Brasil,

principal demandante externo do setor.

Os produtos que apresentam vantagens na produção são os ônibus/vans e

caminhões. Neste último, apresenta tais resultados devido à dependência do modal rodoviário

para transporte interno de mercadorias, assim como no Brasil. A fraca infraestrutura em outros

modais viabilizam os investimentos em meios de transportes rodoviários. Chama a atenção o

comportamento dos índices calculados para caminhões (8704) que, mesmo com a crise

econômica do ano de 2008, mantiveram-se crescentes para todo período estudado. A tabela

03 mostra a evolução das exportações mundiais e das exportações Argentinas, em U$ FOB.

Tabela 03 – Exportações Argentinas e Mundiais, 2002-2011.

Ano Exportações (U$ FOB)

Argentinas Mundiais

2002 476.690.270,00 55.581.245.581,00

2003 367.192.481,00 63.186.143.527,00

2004 545.764.414,00 74.203.182.151,00

2005 1.077.798.266,00 82.268.681.642,00

2006 1.390.188.901,00 93.381.838.255,00

2007 1.696.026.642,00 114.638.056.406,00

2008 1.878.104.984,00 117.238.203.525,00

2009 1.465.153.743,00 67.538.177.530,00

2010 2.479.831.185,00 92.957.263.372,00

2011 3.480.838.255,00 101.980.903.651,00

Fonte: UN COMTRADE database, 2012.

A ascensão do IVCR mesmo no período da crise de 2008 e 2009, quando os reflexos

foram mais fortemente sentidos, se deve, sobretudo, pela forte queda das exportações deste

produto a nível mundial, que foi muito maior proporcionalmente a queda sofrida nas

exportações argentinas. Considerando os anos de 2008 e 2009, tem-se queda de 22% das

exportações argentinas frente a 42% nas exportações mundiais.

A produção de tratores, carros de passeio e autopeças, no geral, não apresenta

competitividade frente ao mercado mundial, com baixos níveis de exportação comparados

com o total produzido mundialmente. Percebe-se também uma grande orientação das

exportações desses produtos ao Brasil, demonstrando novamente a força vizinha na pauta de

exportação argentina. Esse ponto será demonstrado a seguir através dos Índices de

Orientação Regional (IOR).

Analisando os resultados do Índice de Orientação Regional para o setor

automobilístico do Brasil, tendo como parceiro comercial a Argentina.

Tabela 04 – IOR calculado para o Brasil, setor automobilístico, 2002-2011.

Produto Período

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

8701 1,22 5,67 4,56 3,99 3,32 3,34 3,58 2,52 6,01 5,82

8702 0,13 0,19 1,84 0,66 1,80 0,74 1,56 0,57 0,57 10,03

8703 1,45 3,01 4,78 4,30 5,09 6,81 11,17 12,92 18,57 48,95

8704 3,40 6,08 6,98 5,31 6,53 5,19 7,24 7,90 9,65 13,36

8708 3,68 2,07 2,19 2,49 3,60 3,72 5,91 9,33 11,27 13,18

Total 2,21 3,19 4,19 3,76 4,55 4,90 7,21 9,13 11,96 17,69

Fonte: Resultados da pesquisa (cálculos realizados pelo autor).

Nota-se, para o setor, os índices para todos os anos calculados com valores acima

da unidade, expressando que o Brasil possui tendência em exportar a produção deste setor

à Argentina. O indicie apresentou um grande aumento no período analisado (cerca de 8

vezes), mostrando que a Argentina torna-se cada vez mais o principal destino dessas

exportações. Os índices calculados veem de encontro com os dados contidos no anuário da

ANFAVEA (2012), onde consta que a Argentina é disparada o principal demandante de do

setor automobilístico nacional, na maioria dos produtos.

A única posição que obteve índices menores que a unidade foi o setor de ônibus e

vans (8702). Nos anos de 2004, 2006, 2008 e 2011 os índices tiveram valores acima da

unidade. Neste caso, a Argentina não se mostra o principal demandante, porém não se pode

desprezar a importância deste parceiro comercial para este produto, pois se trata de valores

expressivos no comercio bilateral.

Nota-se que as posições 8703, 8704 e 8708 mantiveram seus índices numa média

crescente, mantendo este crescimento mesmo após a crise do subprime de 2008. As

exportações tiveram queda, demonstradas pelos dados de 2009. Um ponto a se salientar é o

grande aumento do índice para os anos de 2008 em diante, onde as exportações brasileiras

para Argentina tiveram queda, porém o aumento do índice ocorre em virtude da forte queda

nas exportações para outros parceiros comerciais. Ou seja, novamente os índices

caracterizam a forte tendência em exportar para o parceiro comercial e que, mesmo após a

crise, manteve-se como um forte demandante de veículos nacionais.

A posição 8701 referente tratores desde 2003 apresenta relativa estabilidade entre

os anos de 2005 a 2008, com diminuição em 2009 e aumento em 2010, devido a um aumento

maior das exportações à Argentina e menor aos outros parceiros comerciais.

Analisando os resultados do Índice de Orientação Regional para o setor

automobilístico da Argentina, tendo como parceiro comercial o Brasil.

Tabela 05 – IOR calculado para a Argentina, setor automobilístico, 2002-2011.

Produto Período

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

8701 13,31 22,25 7,75 1,55 0,08 0,21 7,87 1,00 0,00 0,69

8702 8,32 4,26 2,47 2,97 4,17 4,07 4,40 5,92 3,96 6,38

8703 5,55 2,96 2,52 3,90 7,45 14,57 23,71 70,58 67,88 71,63

8704 5,89 4,10 3,67 3,62 3,28 2,89 3,84 10,73 6,31 4,13

8708 2,90 3,34 4,78 5,49 4,17 4,93 6,60 1,10 6,92 6,43

Total 4,86 3,51 3,57 4,08 4,58 5,95 8,78 18,79 13,78 11,09

Fonte: Resultados da pesquisa (cálculos realizados pelo autor).

No geral os índices foram todos acima da unidade, expressando a importância do

mercado brasileiro como demandante dos produtos argentinos deste setor. O grande aumento

do índice registrados a partir de 2008 deu-se principalmente pelo motivo das exportações ao

Brasil não sofreram fortes alterações. Em contrapartida, para o resto do mundo, a diminuição

foi mais evidente, o que eleva bastante o valor dos índices calculados.

Pode-se dar destaque ao ocorrido com os índices de veículos de passeio (8703),

onde apresentam a partir do ano de 2007 grande aumento, sobretudo pelo aumento das

exportações ao Brasil e diminuição, principalmente pós 2009, das exportações ao resto do

mundo, reforçando que o Brasil é o principal demandante externo dos veículos de passeio

produzidos na Argentina.

Para tratores (8701), nota-se um valor igual a zero (para duas casa decimais de

arredondamento) para o índice no ano de 2010, em virtude das exportações para o Brasil

terem um valor muito baixo e também pelo valor das exportações ao mundo apresentarem

queda.

Exceto para tratores, nos anos de 2006, 2010 e 2011, o índice teve valores acima da

unidade, sendo as exportações direcionadas ao Brasil. No ano de 2009, nota-se um valor

exato da unidade (considerando duas casas decimais para arredondamento), mostrando, pelo

menos em teoria, uma tendência em exportar tanto ao Brasil quanto ao resto do mundo.

5. Considerações Finais

A predominância do Acordo Bilateral Automotivo entre Brasil e Argentina contribuiu

para que os instrumentos de proteção comercial não fossem acionados na maior parte do

período estudado. Os conflitos que surgiram foram resultados, no entanto, das próprias

divergências que surgiam nos acordos, o que levava a protocolos adicionais com as

mudanças pleiteadas, sempre em comum acordo de ambas as partes. Estes acordos tinham

como base o controle comercial no setor, porém sempre com o mesmo intuito de convergir a

um nível de livre comercio setorial entre as nações, o que vem de encontro com o ideário de

zona de livre comércio objetivado desde a criação do MERCOSUL.

Os principais conflitos dentro dos próprios acordos eram em função do coeficiente de

nacionalização dos produtos (porcentagem de peças nacionais nos veículos nacionais) e pelo

coeficiente de desvio de exportações (flex) que seria adotado por cada país. O flex determina

a penetração no mercado do país vizinho, que por sua vez era uma função da quantidade

exportada por estes. Ou seja, se o flex do Brasil for de 2,6, a cada U$ 100,00 exportados à

Argentina, o pais deveria importar U$ 260,00 em produtos do mesmo setor. Caso as

importações excedessem o valor determinado pelo país, seria pago uma porcentagem da TEC

sobre as exportações excedentes.

Os acordos foram benéficos no intercâmbio comercial das duas nações, pois na

realidade funcionou como um mecanismo compensador, diminuindo as disparidades entre o

comércio bilateral.

A integração regional representada pelo MERCOSUL também é um fator de forte

influência nos resultados do incides de orientação regional calculados. A TEC e as

preferências comerciais firmadas pelos acordos automotivos, mesmo limitada pelo flex,

contribuíram significativamente para que o comercio bilateral fosse fortalecido. Em partes,

pode-se dizer que esses acordos de complementação econômica servem como uma proteção

regional dos membros do bloco econômico aos não membros, fortalecendo assim um

desenvolvimento comercial regional.

Efetivamente, o comercio bilateral Brasil-Argentina no setor automobilístico sofreu

com medidas de proteção mais no final do período estudado, no ano de 2011. Entende-se

que foram medidas de retaliação por parte brasileira contra algumas práticas comerciais

protecionistas da Argentina. Em matéria veiculada pela seção sobre economia do site do

jornal O Estadão, aponta que o Brasil adotou em maio de 2011 licenças não automáticas às

importações do setor automotivo advindas da Argentina. Segundo documentado, a adoção de

tal medida era um resposta às licenças não automáticas tomadas pelo vizinho a uma série de

produtos Brasileiros, o que vinha prejudicando os setores industriais envolvidos. No entanto,

tal medida serviu também para proteger a indústria automotiva nacional do avanço das

importações de veículos coreanos e chineses.

Por fim, o setor pouco sofreu com medidas protecionistas que provocasse alterações

perceptíveis nos índices, tanto IVCR quanto IOR. O interessante é observar as mudanças na

competitividade de cada item do setor, frente ao mercado mundial. O que ficou claro por meio

do IOR foi a importância comercial que um país representa ao outro. Ou seja, a utilização de

instrumentos de proteção entre eles pode alterar significativamente a competitividade do

setor, reduzindo os IVCRs.

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