a técnica de alexander

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A Técnica de Alexander A Técnica de Alexander é um trabalho de re-educação neuromuscular desenvolvido por Frederick Matthias Alexander (FM), actor australiano nascido na Tasmânia em 1869. Alexander trabalhou como actor e declamador shakespeariano durante uma série de anos, até ao momento em que as primeiras queixas vocais se começaram a fazer sentir. FM refere claramente no seu terceiro livro - The Use of the Self - que começara a sofrer de constante fadiga vocal, chegando por vezes ao ponto de quase perder a voz durante as suas performances. Extremamente perturbado por estes acontecimentos, Alexander procura ajuda médica. É-lhe aconselhado repouso vocal absoluto para debelar algo que não parecia ser muito mais que uma inflamação das cordas vocais. Alexander segue à risca estes conselhos e nota uma melhoria imediata, contando que não estivesse a fazer uso da sua voz. A situação era bem diferente assim que começava a recitar. As queixas vocais reapareciam. Alexander conclui então que o problema deveria estar ligado a algo que ele estava a fazer e não a uma qualquer patologia pré-existente. Isto lança Alexander numa investigação profunda que dura mais de uma década. Fazendo uso de três espelhos, FM observa que, sempre que falava, a sua cabeça rolava para baixo e para trás, perturbando um equilíbrio fundamental e dinâmico do organismo entre as costas, o pescoço e cabeça (controlo primário). Curiosamente, algo muito próximo foi descoberto também na área científica por figuras como George Coghill ou Rudolf Magnus. Após várias tentativas falhadas - correcção directa - de evitar este hábito recorrente de puxar a cabeça atrás, Alexander descobre que só por via da projecção de mensagens cerebrais (direcções), antecedida da prevenção do hábito recorrente (desistência) seria possível eliminar permanentemente as suas queixas vocais. A Técnica de Alexander, inicialmente um método vocal e respiratório, evoluiu bastante desde as primeiras descobertas de FM, alargando-se depois - provavelmente graças ao contacto com John Dewey, Aldous Huxley ou George Bernard Shaw - à esfera comportamental da vida humana. O meu interesse na técnica, porém, continua muito ligado à pureza dos primeiros anos: a sua dimensão mecânica, a cuidada e experimental observação da força do hábito, o rigor do processo mental que propicia, ao longo do tempo, o desbloquear do organismo. A Técnica de Alexander é ensinada um pouco por todo o mundo, quer na área da performance artística e desportiva, quer na área da saúde. O sistema nacional de saúde britânico inclui-a nos seus serviços e recomenda-a como

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Page 1: A Técnica de Alexander

A Técnica de Alexander A Técnica de Alexander é um trabalho de re-educação neuromuscular desenvolvido por Frederick Matthias Alexander (FM), actor australiano nascido na Tasmânia em 1869. Alexander trabalhou como actor e declamador shakespeariano durante uma série de anos, até ao momento em que as primeiras queixas vocais se começaram a fazer sentir. FM refere claramente no seu terceiro livro - The Use of the Self - que começara a sofrer de constante fadiga vocal, chegando por vezes ao ponto de quase perder a voz durante as suas performances. Extremamente perturbado por estes acontecimentos, Alexander procura ajuda médica. É-lhe aconselhado repouso vocal absoluto para debelar algo que não parecia ser muito mais que uma inflamação das cordas vocais. Alexander segue à risca estes conselhos e nota uma melhoria imediata, contando que não estivesse a fazer uso da sua voz. A situação era bem diferente assim que começava a recitar. As queixas vocais reapareciam.  Alexander conclui então que o problema deveria estar ligado a algo que ele estava a fazer e não a uma qualquer patologia pré-existente. Isto lança Alexander numa investigação profunda que dura mais de uma década. Fazendo uso de três espelhos, FM observa que, sempre que falava, a sua cabeça rolava para baixo e para trás, perturbando um equilíbrio fundamental e dinâmico do organismo entre as costas, o pescoço e cabeça (controlo primário). Curiosamente, algo muito próximo foi descoberto também na área científica por figuras como George Coghill ou Rudolf Magnus. Após várias tentativas falhadas - correcção directa - de evitar este hábito recorrente de puxar a cabeça atrás, Alexander descobre que só por via da projecção de mensagens cerebrais (direcções), antecedida da prevenção do hábito recorrente (desistência)  seria possível eliminar permanentemente as suas queixas vocais.  A Técnica de Alexander, inicialmente um método vocal e respiratório, evoluiu bastante desde as primeiras descobertas de FM, alargando-se depois - provavelmente graças ao contacto com John Dewey, Aldous Huxley ou George Bernard Shaw - à esfera comportamental da vida humana.

O meu interesse na técnica, porém, continua muito ligado à pureza dos primeiros anos: a sua dimensão mecânica, a cuidada e experimental observação da força do hábito, o rigor do processo mental que propicia, ao longo do tempo, o desbloquear do organismo. A Técnica de Alexander é ensinada um pouco por todo o mundo, quer na área da performance artística e desportiva, quer na área da saúde. O sistema nacional de saúde britânico inclui-a nos seus serviços e recomenda-a como um dos trabalhos mais relevantes no tratamento de dores crónicas das costas, pescoço e ombros.  Ao apontar para um funcionamento e ritmo naturais do organismo, a Técnica de Alexander influencia de modo assinalável a coordenação respiratória do indivíduo e contribui para um maior bem-estar geral. Promove também uma maior clareza mental, ao testar experiencialmente a validade de toda e qualquer instrução previamente recebida. Em última análise, a técnica de Alexander, ao mostrar o quanto adicionamos escusada e continuamente ao sistema, propicia a emersão das características irrepetíveis de cada indivíduo, que nunca deixaram de estar presentes.  

Eu referi 6 ou 7 vezes nos meus livros algo de que ninguém parece recordar-se:os fins vêm por eles próprios. Não pode ser de outra maneira.

 FM Alexander

Page 2: A Técnica de Alexander

Aulas da Técnica de Alexander  O que é? A técnica de Alexander é um trabalho de re-educação neuromuscular (ou preventivo, no caso de o sistema estar a funcionar harmoniosamente), que se serve de uma série de ferramentas - sistematizadas por Alexander mas que sempre estiveram disponíveis na Natureza - para desbloquear o organismo. Ao prevenir o hábito incorrecto, a técnica promove o aparecimento do fim desejado por via indirecta (concepção cerebral).       Para que serve? Alexander referia que um dos principais objectivos deste trabalho era o de aumentar a precisão da percepção sensorial, que na esmagadora maioria dos casos não é fiável. Só a partir de então, e numa área específica de interesse do aluno ou aluna, é possível reconhecer e desistir (concepção cerebral) da reacção a um estímulo que nos deixa repetidamente fora de equilíbrio.  A quem se destina? Estas aulas destinam-se a qualquer pessoa, de qualquer idade. A maior parte dos alunos que procuram este trabalho são atletas ou artistas que pretendem melhorar a  sua performance por via de uma utilização mais natural e correcta do organismo e com recurso a menos tensão corporal.

Outro grupo que procura a técnica é o de pessoas acometidas por dores e afecções crónicas (e.g. dores de costas, dificuldades respiratórias, vocais, etc), cuja causa está frequentemente relacionada com a maneira como o organismo é utilizado no dia-a-dia. Uma melhor coordenação geral do organismo psico-físico propicia a diminuição ou mesmo desaparecimento dos sintomas.*  O que acontece durante uma aula da técnica?

Page 3: A Técnica de Alexander

 Existem diversos tipos de aulas: individuais, pequenos grupos ou workshops. Numa aula individual - de longe a mais procurada e eficiente pelo tempo de contacto disponível - é feito trabalho na mesa e na cadeira, para se perceber quão disponível está o reflexo do controlo primário no aluno, quão forte é a reacção a um dado estímulo e quão eficaz é adesistência (do fim e da reacção habitual) antes, durante e depois da actividade. Este tipo de aula nunca excede os 30 minutos de trabalho prático continuado. Através do uso das minhas mãos - que devem reflectir um controlo primário activo - o aluno percebe o quanto está a contrair o seu organismo e em que direcção este deve começar a ir por ele próprio depois do hábito incorrecto ser prevenido (a nível do cérebro). Numa fase mais avançada, a parte final da aula é dedicada à aplicação da técnica a uma actividade pela qual o aluno esteja especialmente interessado. Algum trabalho respiratório e vocal, mais tarde ou mais cedo, é também introduzido. Explicações anatómicas funcionais muito simples aparecem de quando em quando para que o aluno tenha algumas referências sobre a natural oposição de forças vigente no sistema.   As aulas em pequenos grupos funcionam ao longo de duas horas, durante as quais o aluno tem a possibilidade de ter 2 momentos de contacto. Estas aulas, que algumas pessoas combinam com aulas individuais, são uma interessante alternativa, na medida em que todos podem observar in loco, num ambiente relaxado e sem críticas, o que acontece aquando da aplicação da técnica a uma dada actividade. Num workshop há, idealmente, uma mistura destes dois registos, antecedida de uma pequena exposição dos princípios básicos da técnica. É também frequente o recurso a alguns jogos que visam demonstrar a falibilidade da nossa percepção sensorial. Os workshops servem sobretudo para introduzir este trabalho ao público.  Quais os benefícios? Ao advogar a indivisibilidade do organismo nas suas componentes físicas e mentais / emocionais, a técnica aborda o indivíduo como um todo e não em partes. Os benefícios de saúde que traz - comprovados já por uma série de estudos científicos conduzidos por publicações como o British Medical Journal - fazem-se sentir a nível respiratório, digestivo e de circulação, sem esquecer um aumento assinalável do bem-estar geral. A descompressão dos órgãos vitais, por via de uma expansão máxima e flexível da coluna vertebral entre a região suboccipital e sacro-ilíaca, contribui em muito para isso. Uma mudança na concepção mental é condição sine qua non para levar a esta reorganização do organismo.   Quantas aulas são necessárias? Alexander sugeria 30 aulas, ao fim das quais o aluno era suposto estar por sua conta no diagnóstico de hábitos que vão contra um funcionamento mais natural do organismo. Eu, regra geral, em contexto individual, tento não ultrapassar este número de sessões de trabalho continuado, exceptuando talvez os casos de lesões ou afecções crónicas. Não quer dizer que os alunos não possam voltar de quando em quando mas é importante que estes sintam que se estão a tornar independentes. Não é o meu objectivo estar a dar aulas às pessoas durante décadas, até porque tem que ficar claro durante estas primeiras sessões que o 'problema' se prende não com algo que ainda não sabemos fazer, mas com algo que estamos a adicionar a um sistema indivisível. O organismo, quando deixado em paz, resvala na coisa certa. A pessoa continua então pelo seu próprio pé.      * É importante esclarecer que neste trabalho não pretendemos descartar ou substituir a inegável importância e benefícios da medicina convencional e do seu diagnóstico. Esta técnica pretende mostrar a quem a procura que a maneira como utilizamos o organismo pode afectar decisivamente - para o bem ou para o mal - o seu funcionamento. 

Page 4: A Técnica de Alexander

Biografia  Nasceu em Lisboa em 1985. A música - em especial o canto - esteve presente desde muito cedo na sua vida. Foi menino de coro dos Pequenos Cantores do Grémio Literário e do Coral Vértice. Estudou no Instituto Gregoriano de Lisboa e diplomou-se, mais tarde, em Canto e Direcção Coral pela Escola Superior de Música da mesma cidade.  Trabalhou durante mais de uma década como cantor, maestro e professor de coro e canto, quer em Portugal, quer no Reino Unido, onde residiu durante quatro anos. O primeiro contacto com a técnica de Alexander dar-se-ia ainda em território nacional, no ano de 2007, por intermédio de Patrícia Gavinho e

Roberto Reveilleau. Estas primeiras aulas apontaram, muito claramente, para uma extraordinária inteligência e capacidade do organismo em libertar uma tremenda quantidade de energia com um mínimo de tensão muscular. 

Sob a orientação de Karen Wentworth, concluiu o curso de professor da Técnica de Alexander no Alexander Technique Studio em Londres. Paralelamente, aprofundou os seus estudos vocais com Yvonne Minton e Ann de Renais.  De regresso a Portugal, dedica a maior parte do seu tempo ao ensino deste trabalho.