a sociedade vÍtima da improbidade...

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CENTRO UNIVERSITÁRIO FLUMINENSE - UNIFLU FACULDADE DE DIREITO DE CAMPOS - FDC PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CURSO DE MESTRADO EM POLÍTICAS PÚBLICAS E PROCESSO A SOCIEDADE VÍTIMA DA IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA HELSON HENRIQUE DE SOUZA OLIVEIRA CAMPOS DOS GOYTACAZES 2006

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CENTRO UNIVERSITÁRIO FLUMINENSE - UNIFLU FACULDADE DE DIREITO DE CAMPOS - FDC

PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CURSO DE MESTRADO EM POLÍTICAS PÚBLICAS E PROCESSO

A SOCIEDADE VÍTIMA DA IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

HELSON HENRIQUE DE SOUZA OLIVEIRA

CAMPOS DOS GOYTACAZES 2006

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HELSON HENRIQUE DE SOUZA OLIVEIRA

A SOCEDADE VITIMA DA IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

Dissertação apresentada como requisito para obtenção do grau de Mestre em Políticas Públicas no processo pela Faculdade de Direito de Campos sob a orientação do prof. Dr. Dwight Cerqueira Ronzani.

CAMPOS DOS GOYTACAZES 2006

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A SOCEDADE VITIMA DA IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

HELSON HENRIQUE DE SOUZA OLIVEIRA

DDiisssseerrttaaççããoo ssuubbmmeettiiddaa aaoo ccoorrppoo ddoocceennttee ddoo PPrrooggrraammaa ddee PPóóss--GGrraadduuaaççããoo eemm DDiirreeiittoo,, ddaa

FFaaccuullddaaddee ddee CCaammppooss,, ccoommoo ppaarrttee ddooss rreeqquuiissiittooss nneecceessssáárriiooss ppaarraa aa oobbtteennççããoo ddoo GGrraauu

ddee MMeessttrree eemm DDiirreeiittoo –– Políticas Públicas no Processo.

AApprroovvaaddaa eemm ____//____//________..

DDrr.. ____________________________________________________________________________________________

DDrr.. ______________________________________________________________________________________________

Dr. Dwight Cerqueira Ronzani

CCAAMMPPOOSS DDOOSS GGOOYYTTAACCAAZZEESS 22000066

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DDEEDDIICCAATTÓÓRRIIAA

DDeeddiiccoo eessttee ttrraabbaallhhoo aaooss mmeeuuss ffaammiilliiaarreess ee eemm eessppeecciiaall aa mmiinnhhaa eessppoossaa EElliiaannee,, mmeeuuss ffiillhhooss EEllaaiinnee CCrriissttiinnaa,, MMaaíírraa ee TThhiiaaggoo ee aa mmiinnhhaa nneettaa GGaabbyy..

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AGRADECIMENTOS

À Instituição Faculdade de Direito de Campos, que mercê de um trabalho sério de sua direção proporciona aos professores um aprimoramento em seus currículos. À coordenação de Mestrado na pessoa do Professor Leonardo Greco e ao orientador deste trabalho Dr. Dwight Cerqueira Ronzani, que de forma dedicada fez com que se chegasse a conclusão e a defesa desta dissertação.

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"Povo que preza a honestidade terá governantes honestos. Um povo que, em seu cotidiano, tolera a desonestidade e, não raras vezes, a enaltece, por certo terá governantes com pensamento similar."

Emerson Garcia.

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RESUMO

A sociedade tem experimentado grandes malefícios decorrentes da improbidade administrativa, tanto é que tem sido uma preocupação constante de leis, mesmo não muito recentes, em assegurar a sua proteção, tanto no campo administrativo, como judicial. Nesse mister cumpre ressaltar que as leis sempre foram no sentido de anunciar hipóteses de ilícitos administrativos através de faltas disciplinares que iam da simples advertência até a demissão a bem do serviço público, visando com isso assegurar a lisura dos atos e do funcionamento da Administração Pública. Necessário realçar que no respeitante a previsão constitucional, nenhuma outra Constituição tratou com maior abrangência do tema como se acha hoje tratado pela Carta Política em vigor. Assim foi com a Constituição Federal de 1946, com a de 1967, com as alterações introduzidas pelas Emendas 1/69 e 11/78, em seu art. 153 § 11, a Carta Política em vigor, desde 1988, procedeu a inovações ampliando o conceito de improbidade administrativa, passando a sociedade a partir de então a contar com mais um instrumento de combate a corrupção. A legislação infraconstitucional produziu duas leis nessa área, anteriores a lei 8.429/92, que são a Lei n. 3164/57 – Lei Pitombo-Godoi Ilha e Lei 3.502/58 – Lei Bilac Pinto. As duas leis mencionadas, embora editadas visando o aperfeiçoamento disciplinador da matéria, não tiveram grande aplicabilidade, pois se referiam tão somente ao enriquecimento ilícito, sendo por isso mesmo de pouca incidência. A lei nº. 8.429/92 foi elaborada e sancionada no decorrer de um processo de moralização, que teve início com a abertura democrática e com a promulgação do texto Constitucional de 1988, em virtude do clamor da opinião pública, revoltados com os atos de improbidade, prática rotineira de administradores públicos, que usavam o poder em benefício próprio, lesando o erário e construindo imensas fortunas, sem que fossem alcançados pelo braço da lei. O texto legal ora sob comento, veio preencher lacunas existentes e tornou-se um referencial para o gestor público, pois as disposições dessa lei procuraram sobremodo introduzir profundas transformações no funcionamento da máquina administrativa e no comportamento dos administradores públicos, tão afeitos ao descumprimento das normas legais, minimizando os efeitos nefastos para a sociedade. Palavras-chave: improbidade; administração pública; constituição federal.

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ABSTRACT Society has experienced a lot of malignancies arisen from administrative improbity, so the laws, even those not so recent, are constantly directed to assure its protection not only at the administrative field but also at the judicial one. In this aspect we have to emphasize that laws were always made in the purpose of warning hypothesis of administrative illicits through disciplinary faults, that went from mere advertising to discharge for the sake of the public service, aiming at affirming the integrity of the acts and the functioning of Public Administration. It is necessary to enhance that concerning to constitutional prevision, no other Constitution dealed with this theme with more inclusion than the Politic Charter in vigor. The Politic Charter in vigor since 1988, proceeded to innovations enlargening the concept of administrative improbity. From then onwards, society began to have on more instrument to fight corruption. The infraconstitutional legislation made two laws in this area preceding the 8.429/92 law. Those were: the Pitombo-Godoi law nº. 3164/57 and the Bilac Pinto Law nº. 3.502/58. Although the two mentioned laws were editted aiming at the disciplinator improvement of this theme, they had not great applicability for they referred just to illicit enrichment, because of it, from little incidence. The law nº. 8429/92 was elaborated and sanctioned during a moralization process that began with the democratic opening and with the promulgation of the Constitutional text from 1988, because of public opinion clamour, they were disgusted with the improbity acts, that were routine practice among public administrators who used the authority on their own sake. This way they injury the public treasury making themselves huge fortunes without been caught by the arms of law. The legal text now being commented, came to fill in the existent blanks and it became a reference to the public manager for the dispositions of this law tried to introduce deep transformations in the functioning of the administrative machine and in the public administrators behavior, so accustomed to the disobedience of the legal norms minimizing the disastrous effects to society.

Key – words: improbity; public administration; federal constitution

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SUMÁRIO

RESUMO.......................................................................................................................07

ABSTRACT ...................................................................................................................08

INTRODUÇÃO ..............................................................................................................12

CAPÍTULO 1 – ORIGEM HISTÓRICA DA LEI DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

......................................................................................................................................20

CAPÍTULO 2 – CORRUPÇÃO – IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA CONCEITO ......34

2.1 - CONCEITOS DE MORALIDADE ADMINISTRATIVA E MORALIDADE

SOCIAL .........................................................................................................................35

2.2 - A MORALIDADE SOCIAL... ....................................................................37

2.3 – CONCEITO DE CORRUPÇÃO...............................................................37

2.4 – CONCEITO DE IMPROBIDADE... ..........................................................40

CAPÍTULO 3 – A LEI Nº 8.429/92 E OS ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

QUE TIPIFICAM A CONDUTA DO AGENTE................................................................44

3.1 – NATUREZA JURÍDICA DAS SANÇÕES... .............................................45

3.2 – PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA... .49

3.2.1 - PRINCÍPIO DA LEGALIDADE... ..........................................................50

3.2.2 - PRINCÍPIO DA IMPESSOALIDADE....................................................51

3.2.3 - PRINCÍPIO DA MORALIDADE ADMINISTRATIVA.............................53

3.2.4 - PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE............................................................56

3.2.5 - PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA... ............................................................60

3.2.6 - PRINCÍPIOS IMPLÍCITOS NO CORPO CONSTITUCIONAL..............62

3.2.6.1 - PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE........62

3.2.6.2 - PRINCÍPIO DA INDISPONIBILIDADE..............................................64

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3.2.6.3 - PRINCÍPIO DA AUTOTUTELA.........................................................68

3.3 – PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA... .71

3.3.1 - A LEI n. 4717/65 – LEI DA AÇÃO POPULAR... ...................................71

3. 3.2 - A LEI n. 7347/85 – LEI DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA... ..........................73

3.3.3-ASPETOS PROCESSUAIS DA LEI DE IMPROBIDADE

ADMINISTRATIVA ............................................................................................74

3.4 - FORO ESPECIAL POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO E A COMPÊNCIA

ORIGINÁRIA...................................................................................................... 75

3.5 - AÇÃO CIVIL PÚBLICA X AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA 77

3.6 - A CONSTITUCIONALIDADE DA LEI DE IMPROBIDADE

ADMINISTRATIVA ........................................................................................................80

3.6.1 - LEGITIMIDADE PARA A AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

.........................................................................................................................81

3.6.2 - LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO... ...................................83

3.6.3 - O MINISTÉRIO PÚBLICO E O LITISCONSÓRCIO DOS CO-

LEGITIMADOS..............................................................................................................84

3.6.4 - O MINISTÉRIO PÚBLICO COMO CUSTOS LEGIS............................85

3.6.5 - O ADVOGADO COMO LEGITIMADO ATIVO... ..................................85

3.6.6 - SUJEITO PASSIVO E ATIVO..............................................................87

3.6.6.1 - SUJEITO PASSIVO..........................................................................87

3.6.6.2 - SUJEITO ATIVO...............................................................................89

CAPÍTULO 4 – A DISCUSSÃO NACIONAL E INTERNACIONAL DE

IMPROBIDADE................................................................................................................91

CAPÍTULO 5 - A TUTELA DA IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA COMO

INSTRUMENTO DE EFETIVAÇÃO DE DIREITOS HUMANOS

......................................................................................................................................94

5.1- O INÍCIO DO COMBATE INTERNACIONAL À CORRUPÇÃO..............................95

5.2- DESENVOLVIMENTO DA TUTELA INTERNACIONAL DA PROBIDADE.... ........97

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5.3- A SOCIEDADE – VÍTIMA E RESPONSÁVEL PELA APLICAÇÃO DA LEI DE

IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA..............................................................................101

CONCLUSÃO................................................................................................................105

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...............................................................................110

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho visa demonstrar, que, embora tenham surgido

progressos com o advento da Lei de Improbidade Administrativa sistema instituído pela

Lei 8429 de 02/06/92, pois anteriormente, vigiam as leis nºs. 3164/57 e 3502/58 e

prossegue ainda vigindo o instituto da ação popular, referência ao relevante papel

desempenhado pela Lei n. 4.717/65, que disciplinou as hipóteses de cabimento e a

forma de sua utilização cuja finalidade se prende a anulação ou declaração de nulidade

dos atos lesivos a administração pública. Verifica-se que a sistemática processual, na

prática, transforma os fins por ela perseguidos em mais um instrumento em nosso

ordenamento jurídico que precisa cada vez mais ser aperfeiçoado para dar uma

resposta de forma eficaz, capaz de com maior agilidade conter os abusos perpetrados

pelos maus administradores.

Conduz a visão do estudo para o campo social, para a observância aos

direitos humanos, numa proposta de inserção e comparação com as normas e

regulamentos que visam proteger a sociedade, permitindo com que o cidadão possa

efetivamente usufruir dos direitos sociais garantidos na Carta Política vigente.

A doença social disseminada epidemicamente por esses agentes cujas

condutas afrontam a sociedade, gestores da coisa pública que procuram através do

meio ilícito e fácil enriquecer à custa do erário, sem dúvida com o advento da lei de

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improbidade administrativa chegou ao Judiciário, mas ao contrário da euforia inicial

despertada na sociedade em razão do referido texto legal, muitos dos processos a que

são submetidos esses agentes não funcionam com a celeridade e eficácia na punição

dos agentes ímprobos como se era de esperar.

Razões para isso, poderiam ser apontadas as mais diversas, tais como

as dificuldades do Poder Judiciário, assoberbado pelo número de processos postos a

sua apreciação e até mesmo quanto aos mecanismos judiciais que garantem a esses

”cidadãos” uma ampla defesa sob pena de nulidade daqueles atos praticados.

No entanto, o que se observa é que o ponto que faz a diferença e

permite que a impunidade seja tratada de forma mais amena, pelo menos no momento

atual, em favor desses agentes, surge talvez, porque em razão de fortuna amealhada no

percurso de caminhos tortuosos facilitem as suas defesas, pois sem dúvida podem

contratar excelentes e renomados escritórios de advocacia, o que lhes permite

defender-se mais amplamente em todas as instâncias, inclusive recursais, tendo

assegurado por isso mesmo, em algumas oportunidades se ver escoar pela via do

tempo, através do esquecimento, todo aquele esforço inicialmente despendido pelo

aparelho estatal na busca de sancionar o transgressor que lesou o erário.

Entretanto, apesar dessa situação que assistimos em muitos casos, é

possível reverter esse quadro se a sociedade como um todo se mobilizar para cobrar do

aparelho estatal uma atuação mais rigorosa, sem qualquer condescendência com esse

tipo de crime que empobrece e fragiliza a sociedade e retira do cidadão o seu direito de

ver ser respeitada a supremacia do interesse público.

Aliás, nesse particular, necessário consignar, que o interesse individual

não pode se sobrepor ao interesse coletivo, daí não se justificando que esses agentes

continuem obtendo no judiciário o reconhecimento de direitos que não são garantidos

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aos miseráveis, desprotegidos pela sorte, que praticam delitos sem a extensão dos que

foram praticados por esses administradores ímprobos.

Não resta dúvida, que o surgimento de fortunas inexplicáveis e que tornam

esses agentes públicos detentores de riquezas do dia para a noite é responsável por

uma política pública deficiente que retira da saúde, da educação, dos salários dos

servidores públicos, da previdência social, e da segurança pública, a condição de vida

digna das pessoas.

Em pronunciamentos feitos através dos meios de comunicação, a época o

Ministro do controle e da transparência, Waldir Pires, afirmou que o dinheiro público

repassado pelo Governo Federal vem sendo usado de forma incorreta por algumas

Prefeituras e especialmente no “Bom dia Brasil” da TV Globo, afirmou de forma textual

para quem estivesse assistindo que:

[...] esses recursos vem sendo mal aplicado pelos municípios, a julgar pelo elevado nível de irregularidades encontradas nas inspeções que a Controladoria-Geral da União, vem realizando em Prefeituras.1

O ministro chega a ponto de em seu pronunciamento pedir de forma

veemente a participação popular no processo de fiscalização e conclama o Poder

Judiciário a uma atuação enérgica na punição dos responsáveis por esses abusos e

desmandos com o dinheiro do povo.

A Agência Brasil deu naquela oportunidade uma grande repercussão a

anomalia detectada e informou que após fiscalizar 50(cinqüenta) municípios brasileiros,

a Controladoria Geral da União encontrou indícios de fraude em 45 (quarenta e cinco)

deles, isso mesmo, num total de 90% (noventa por cento) dos que foram fiscalizados

encontrava-se em situação duvidosa no gasto do dinheiro público que fora repassado

1PIRES, Waldir. Entrevista com ministro. Jornal Bom dia Brasil. TV Globo. 03 de setembro de 2003.

Disponível em: http://www.bomdiabrasil.globo.com/jornalismo.html. Acesso em: 13.12.2006.

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pelo Governo Federal para atendimento de escolas (leia-se Educação) e hospitais (leia-

se Saúde).

Na verdade o que se verifica é um gasto sem retorno à custa do pobre

povo brasileiro, que é quem paga a conta de todos esses desmandos e abusos que são

perpetrados contra o erário, com esses administradores divertindo-se com boa parte dos

milhões que receberam da União naquela oportunidade.

À medida que se intensificam as fiscalizações, que elas se tornam mais

rotineiras, não se pode ter dúvida que mais desperdício deve ser encontrado, porém, a

ciência de fatos como esses, já pode ser considerado avanço, como ainda não se pode

duvidar que a publicidade dos mesmos só chegou a conhecimento das pessoas porque

estamos vivendo numa democracia.

É preciso que se entenda que não basta o Ministério Público cumprir com

a sua parte, apurando e promovendo as medidas judiciais que são reclamadas, pois

como se manifestou o ministro a tarefa agora é do Poder Judiciário.

Aliás, com quem está com a palavra, ou melhor, a caneta, para decidir

com serenidade, com justiça, observando os procedimentos legais, mas com firmeza

nos processos que forem instaurados.

Pois, o grande problema que precisa de solução rápida e eficaz é o que diz

respeito à proteção da verdadeira e grande vítima de todos esses desmandos que é

sem dúvida a sociedade que se vê desprotegida e desassistida de saúde, segurança,

educação e todos os demais direitos sociais que lhe são assegurados pelo texto

constitucional.

Nessa luta travada vale trazer a citação do procurador federal José

Adércio Leite Sampaio, que cai como luva na abordagem do tema:

O direito sozinho pode pouco: uma ação menos ainda. Mas é preciso começar ou não esmorecer: o direito não pode ser só, mas pode também. Pode até ser

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que uma andorinha apenas não faça verão, mas deixa, pelo menos, o céu mais bonito. Ou simplesmente diferente. 2

Temos que é preciso uma conscientização cada vez maior da sociedade

sobre as questões a ela pertinentes, para que o cidadão possa saber identificar o ato de

improbidade administrativa e em razão disso exercer na plenitude o seu direito de

cidadania, fiscalizando e denunciando essas doenças que corroem o organismo social

debilitando-o e fazendo com que direitos fundamentais constitucionalmente garantidos,

não sejam violados para propiciar o enriquecimento ilícito, a lesão ao erário e o

descumprimento dos princípios da administração pública, com ações ou omissões que

violem os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade e lealdade às instituições

públicas.

O posicionamento de Sérgio Monteiro Medeiros sobre a Lei de

Improbidade Administrativa dá mostras que temos um bom dispositivo legal posto à

disposição dos órgãos responsáveis por sua aplicação:

Mas reafirmo minha fé na Lei de Improbidade Administrativa, pois se o Ministério Público e o Judiciário efetivamente quiserem, pode-se operar verdadeira revolução na Administração Pública brasileira, agitando-se esse salutar e poderoso instrumento de combate à corrupção, para gáudio e fortalecimento da democracia. Pelos frutos até então colhidos, quando a Lei completa ao tempo desta 1ª. edição, seus dez primeiros anos de vigência, prenuncia-se não ser um ideal impossível de ser realizado, por maiores que são os obstáculos. E são muitos.3

Entretanto, apesar dessa consciência dos estudiosos sobre o tema, ainda

prescinde de muita publicidade para conscientização de que é ato de cidadania

participar e saber que o ralo por onde escoam verbas públicas que deveriam estar

sendo empregadas na saúde, educação, assistência social, segurança pública,

saneamento, transportes, desenvolvimento tecnológico e habitação, além de geração de

energia, para que o País não viva eternamente sob o pálio do “apagão” e da ameaça de 2SAMPAIO, José Adércio Leite. Probidade na era dos desencantos. Crise e propostas de restauração da

integridade dogmática da Lei 8.429/1992 – Improbidade Administrativa: 10 anos da Lei n. 8429/1992. Belo Horizonte: Del Rei, 2002, p.147-188.

3MEDEIROS,Sérgio Monteiro. Lei da Improbidade Administrativa. 1ª ed. Rio de Janeiro: Juarez de Oliveira, 2003, p. 03-04.

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colapso do sistema nacional de energia, pode gradativamente, ir sendo fechado. Mas é

preciso haver vontade e determinação.

É induvidoso que precisa haver um enfrentamento constante para que

essas questões que se nos apresentam, sejam vencidas, mas como dito no pensamento

de José Adércio, “é preciso começar ou não esmorecer”.4

Se todos nós nos mobilizarmos, fazendo com que através de ações

fiscalizadoras, exerçamos um controle externo efetivo e sem trégua de vigilância, tenho

a certeza de que os recursos que são saqueados da saúde pública, da educação, da

segurança, de obras sociais, do meio ambiente, da execução e serviços de obras

públicas, para contratação irregular de cabos eleitorais, de desapropriações de imóveis

a preços superfaturados e tantos outros, em pouco tempo serão estancados e teremos a

justiça social que almejamos.

Por isso tudo é que defendo um processo mais rápido para esse tipo de

prática, cuja matéria se situa na tutela extrapenal da moralidade administrativa, mas que

no ângulo que nos interessa nesse momento é a que se encontra na legislação esparsa

que trata da ação de improbidade administrativa.

Na verdade, as pessoas que por alguma razão ocupam ou ocuparam

cargo público de Procuradores dos Estados ou dos Municípios, como advogados

públicos vivenciam ou vivenciaram com mais clareza as situações abrangidas pela Lei

de Improbidade Administrativa e cada vez mais devem procurar se agarrar a esse

instituto como forma de passar a limpo esse universo contaminado pela falta de caráter

de pessoas que só pensam em fazer fortuna à custa do dinheiro do pobre e combalido

povo brasileiro.

4SAMPAIO, José Adércio Leite. Op cit., p. 147-188.

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A Administração Pública, a nosso ver, é muito mais que o simples gerir e

zelar pela coisa pública, como pregam alguns Administradores, sem, no entanto, descer

na inteireza aos sentimentos norteadores que levam esse gerir e zelar na sua plenitude

em direção à coletividade e ao público, de uma forma geral.

Na verdade, o que alguns Administradores fazem é gerir e zelar pela coisa

pública no seu interesse particular, fazendo da Administração pública, na realidade, uma

atividade particular, para atendimento de suas próprias atribuições e ganâncias.

O que se tem observado com freqüência é que esses administradores

descompromissados com os verdadeiros ideais têm proliferado e são como “ervas

daninhas” que corroem e acabam com tudo, sendo capazes apenas de deixar dívidas e

mais dívidas para seus sucessores, embora preguem sempre respeito à lei.

A Lei de Responsabilidade Fiscal vem sendo deturpada, pois deveria estar

servindo ao legítimo interesse de atuar em defesa do Estado e da sociedade ao

contrário de se tornar uma bandeira nos discursos inflamados de alguns administradores

públicos.

Os contratos administrativos, as licitações públicas, enfim, as regras mais

rudimentares de acatamento aos preceitos legais são ignoradas, tudo sob o manto de

uma pretensa legalidade emergencial, previsível e que pode ser antevista com pelo

menos anos de antecedência, além de realizarem procedimentos licitatórios fictícios,

onde os participantes comparecem apenas para convalidar o processo inicial, que vai

ensejar para um deles uma declaração posterior de emergência. Tudo muito sofrível e

às escâncaras, na certeza da impunidade.

E todas essas coisas acontecem não por ausência de legislação

apropriada, pois nos últimos anos o Brasil tem se esmerado na edição de leis visando

coibir tais afrontosas e abusivas atitudes por parte desses “administradores”, podendo-

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se citar, a título de exemplos, a Lei de Improbidade Administrativa e a Lei de

Responsabilidade Fiscal.

Mas, no entanto, essas pessoas que transitam nessa área acreditam

sempre na impunidade, assoberbando de trabalho o incansável órgão do Ministério

Público através de suas Promotorias de Direitos Difusos e Tutelas Coletivas,

desaguando no Poder Judiciário que, além das demandas dos cidadãos comuns, ainda

tem que se preocupar em examinar os processos promovidos pelas atitudes insidiosas

de tais “administradores”.

Poder-se-ia citar como exemplo mais recente de tal situação o caso da

Empresa Brasileira de Correios, que foi objeto de apuração pelo Congresso Nacional,

para desmontar um grande esquema de fraudes às licitações e ao que parece, tudo leva

a crer, embora ainda não tenham sido concluídas todas as investigações da policia

federal, se presume a existência de uma organização criminosa que foi constituída com

o firme propósito de se locupletar através dos recursos públicos.

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CAPITULO 1 - ORIGEM HISTÓRICA DA LEI DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

Ao percorrer o caminho que nos leva a busca histórica da Lei de

Improbidade Administrativa, se faz necessário realçar que no respeitante a previsão

constitucional, nenhuma outra Constituição tratou com maior abrangência do tema como

se acha hoje tratado pela Carta Política em vigor.

Esse retroagir no tempo se faz preciso para que entendamos os esforços

feitos pela sociedade no sentido de extirpar essa doença que contamina as pessoas no

mais profundo de suas almas, atingindo o caráter e mudando a personalidade.

Não se tem poupado esforços com ferramentas legais, na área

administrativa e jurídica, assim é que a lei atual e que trata do tema, ora abordado, faz

do seu traço característico a concisão e a precisão matemática, como ordena em

obedecimento a normas constitucionais a exação pelos princípios da legalidade,

impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.

Nos últimos tempos, melhor precisando, nestas últimas duas décadas, o

mote com relação à moralidade e a improbidade administrativa, vem sendo objeto de

cada vez mais freqüentes discussões sobre o tema, cujo enfrentamento se dá não só

porque está inserido no texto constitucional, mas também porque a sociedade está

acuada e sofrida com os atos dos agentes ímprobos que exercem funções

eminentemente públicas.

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A partir dessas considerações é que traçaremos os aspectos da Lei de

Improbidade Administrativa e seus contornos históricos para se chegar até ela,

demonstrando que a administração pública não pode se deixar contaminar por vícios

que corrompem os seus princípios.

A Constituição Federal de 1946 já tratava do enriquecimento ilícito que é

uma das modalidades da improbidade administrativa e dispunha no seu art. 146, § 31, in

fine, o seguinte: “a lei disporá sobre o seqüestro e o perdimento de bens, no caso de

enriquecimento ilícito, por influência ou com abuso de cargo ou função pública, ou de

emprego em entidade autárquica”.5

A Constituição de 1967, com as alterações introduzidas pelas Emendas

1/69 e 11/78, em seu art. 153 § 11, previa em sua parte final que “a lei disporá sobre o

perdimento de bens por danos causados ao erário ou no caso de enriquecimento ilícito

no exercício da função pública”.6

A Carta Política em vigor, desde 1988, procedeu a inovações ampliando o

conceito de improbidade administrativa, passando a sociedade a partir de então a contar

com mais um instrumento de combate à corrupção.

A legislação infraconstitucional produziu duas leis nessa área, anteriores a

lei 8.429/92, que são a Lei n. 3164/57 – Lei Pitombo-Godoi Ilhá e Lei 3.502/58 – Lei

Bilac Pinto, como se verá mais adiante.

Na busca da origem histórica da Lei Improbidade administrativa, de como

surgiu esse instituto, a nosso ver é preciso voltar no tempo, mais precisamente aos idos

de 09 de junho de 1948, quando o projeto de Lei de nº 23 veio dar origem à Lei nº.

1.079/50 (Crimes de Responsabilidade), e ali já constava o entendimento de que o

impeachment era uma instituição de direito constitucional que se revestia de uma 5BRASIL, Constituição Federal, 1.946, art. 146, § 31 in GARCIA, Emerson. Improbidade Administrativa.

2a. Ed. São Paulo: Lúmen Júris, 2004, p. 18. 6BRASIL, Constituição Federal de 1.967, art. 153, § 11 in GARCIA Emerson. Op. cit. pg.

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característica eminentemente política e que o objetivo até histórico desse instituto era o

afastamento definitivo do titular da função pública que não revelava aptidões para o seu

exercício. 7

Naquela oportunidade foram exemplificados praticamente todos os casos

de impeachment conhecidos no mundo e no Brasil até aquela época, sempre com o

enfoque de que esse instituto nasceu para um julgamento político a ser realizado,

especialmente, pelo Senado.

A intenção era mesmo criar um processo político para a perda do cargo do

agente, e não um processo judicial. Observe-se, em especial, o seguinte trecho contido

na exposição de motivos que deu origem àquele texto legal:

Ao conjunto de providências e medidas que o constituem, dá-se o nome de processo, porque este é o termo genérico com que se designam os atos de acusação, defesa e julgamento, mas é, em última análise, um processo sui generis, que não se confunde e se não pode confundir com o processo judiciário, porque promana de outros fundamentos e visa outros fins. 8

No entanto, o que se observa é que a Lei nº. 1.079/50, não veio para criar

um processo judicial, mas um processo de natureza política. Tanto foi assim que o artigo

42 dispôs que: “Art. 42. A denúncia só poderá ser recebida se o denunciado não tiver,

por qualquer motivo, deixado definitivamente o cargo”.9

Não foi desse modo, estabelecida punição para agente público que já

tivesse deixado o cargo e até mesmo para os agentes que chegassem a ser

processados por crimes de responsabilidade, a Lei, em seu artigo 3º, ressalvou que

esse procedimento não excluiria o julgamento do acusado por crime comum, na justiça

ordinária, nos termos das leis de processo penal.

Em síntese, o entendimento era de que crime de responsabilidade, na

concepção daquela lei, ensejaria um julgamento político, que ficaria a cargo do Senado 7BRASIL. Lei nº 1.079 / 50. Disponível em: www.planalto.gov.br. Acesso em: 01.05.2006. 8Ibidem. Loc. cit. 9BRASIL. Lei nº 1.059 /50. Disponível em: www.planalto.gov.br. Acesso em: 01.05.2006.

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Federal para o caso de Presidente da República, Ministros de Estado, Ministros do

Supremo Tribunal Federal ou Procurador Geral da República. Para Governadores de

Estados a competência foi reservada às Assembléias Legislativas.

Nascendo assim a Lei dos Crimes de Responsabilidade, com as premissas

de julgamento apenas de agente que estivesse no cargo, enfoque sobre a perda do

cargo e julgamento “político”, não interferindo ou excluindo processo judicial.

Mas os desmandos políticos, o abuso do exercício desse poder, com

reflexos diretos sobre a sociedade, que sempre suportou o pesado ônus decorrente do

mesmo, foram levando ao amadurecimento da idéia de que seria preciso se pensar

numa forma de punição mais eficaz para os crimes de improbidade administrativa e

então a legislação infraconstitucional, produziu as duas leis já anteriormente

mencionadas, nessa área, anteriores a lei 8.429/92, que são a Lei n. 3164/57 – Lei

Pitombo-Godoi Ilha e Lei 3.502/58 – Lei Bilac Pinto.

A Lei Federal Pitombo-Godoi Ilha (nº.3164/57) tinha o objetivo de

seqüestro dos bens de servidor público, adquiridos por influência ou abuso de cargo ou

função pública, ou de emprego em entidade autárquica, sem prejuízo da

responsabilidade criminal em que aquele tenha incorrido, além de legitimar o Ministério

Público e a qualquer do povo para a proposição das medidas judiciais cabíveis em face

do servidor público que usando do cargo tivesse enriquecido ilicitamente.

A outra, ou seja, a Lei Federal Bilac Pinto (nº. 3.502/58) regulava o

seqüestro e o perdimento de bens de servidor público da administração direta e indireta,

nos casos de enriquecimento ilícito, por influência ou abuso de cargo ou função e

complementava a anterior com a indicação das hipóteses que configurariam o

enriquecimento ilícito.

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As duas leis mencionadas, embora editadas visando o aperfeiçoamento

disciplinador da matéria, não tiveram grande aplicabilidade, pois se referiam tão

somente ao enriquecimento ilícito, sendo por isso mesmo de pouca incidência.

Não se pode, entretanto omitir que o Decreto Lei 201/67, também exerceu

e exerce papel de fundamental importância para coibição das práticas lesivas ao erário.

Ao tratar do assunto Waldo Fazzio Junior deixa consignado que: Os arts.

1º usque 3º do Decreto-Lei 201 tratam da responsabilidade penal do Prefeito pela

prática de crimes funcionais, suas conseqüências e respectivo processo. Na verdade,

são crimes próprios de prefeito, também denominados crimes de responsabilidade

impróprios ou funcionais.

Tratando-se de tais ilícitos penais, independentemente de autorização da

Câmara Municipal, o prefeito será julgado perante o Tribunal de Justiça do estado, nos

termos da Constituição Federal, art. 29, inciso X. O legislador reservou à Câmara de

Vereadores o julgamento do prefeito por infrações político-administrativas, isto é, os

tradicionalmente chamados crimes de responsabilidade; quanto aos crimes funcionais,

julga-os o Poder Judiciário.10

Quanto aos crimes funcionais previstos no Decreto-Lei nº. 201/67 Waldo

Fazzio Junior tece as seguintes considerações:

Reproduz-se o catálogo de crimes funcionais ou de responsabilidade

impróprio estampado no art. 1º do Decreto 201/67:

“I – apropriar-se de bens ou rendas públicas, ou desviá-los em proveito

próprio ou alheio:

II – utilizar-se indevidamente, em proveito próprio ou alheio, de bens,

rendas ou serviços públicos:

10

FAZZIO JUINOR, Waldo – Improbidade Administrativa e Crimes de Prefeito – Comentário Artigo por Artigo da Lei Nº. 8429/92 e DO DL 201/ 67, 3ª ed. São Paulo – Atlas, pg. 37.

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III – desviar ou aplicar indevidamente, rendas ou verbas públicas;

IV – empregar subvenções, auxílios, empréstimos ou recursos de qualquer

natureza, em desacordo com os planos ou programas a que se destinam;

V – ordenar ou efetuar despesas não autorizadas por lei, ou realizá-las em

desacordo com as normas financeiras pertinentes;

VI – deixar de prestar contas anuais da administração financeira do

Município à Câmara dos Vereadores, ou ao órgão que a Constituição do Estado indicar,

nos prazos e condições estabelecidas;

VII – deixar de prestar contas, no devido tempo, ao órgão competente, da

aplicação dos recursos, empréstimos, subvenções ou auxílios internos ou externos,

recebidos a qualquer título;

VIII – contrair empréstimos, emitir apólices, ou obrigar o Município por

títulos de crédito, sem autorização da Câmara ou em desacordo com a lei;

IX – conceder empréstimos, auxílios ou subvenções sem autorização da

Câmara, em desacordo com a lei;

X – alienar ou onerar bens imóveis, ou rendas municipais, sem autorização

da Câmara, ou em desacordo com a lei;

XI – adquirir bens, ou realizar serviços e obras, sem concorrência ou coleta

de preços, nos casos exigidos em lei;

XII – antecipar ou inverter a ordem de pagamento a credores do Município,

sem vantagem para o erário;

XIII – nomear, admitir ou designar servidor, contra a expressa disposição

de lei;

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XIV – negar execução a lei federal, estadual ou municipal, ou deixar de

cumprir ordem judicial, sem dar o motivo da recusa ou da impossibilidade, por escrito, à

autoridade competente;

XV – deixar de fornecer certidões de atos e contratos municipais dentro do

prazo estabelecido em lei.11

E prossegue aludindo que o elenco de crimes de responsabilidade de

prefeito e seu processamento constitui matéria regulada nos arts. 4º e 5° do Decreto-Lei

nº. 201/67, fazendo inclusive a indagação – Por que o Legislador utiliza a expressão

infrações político administrativas?

Certamente, intentando extremar as condutas em tela, daquelas

contempladas no art. 1º, o diploma legal deixa claro que não são crimes, no sentido

técnico jurídico, mas infrações de relevância política. Até por isso, não são atuações

suscetíveis de reprimenda penal e só serão levadas ao conhecimento jurisdicional, em

primeiro grau, via mandado de segurança, se inobservada a legalidade formal do

procedimento camarário, ou em segundo grau, se eventualmente, recurso houver para

aquela instância, de decisão do juízo monocrático, e, ainda assim, para examinar tão

somente a observância ou não da legalidade e dos direitos e garantias constitucionais,

são crimes de responsabilidade política perseguidos em processo político

administrativo). 12.

Decreto-Lei nº. 201/67: “Art. 4º São infrações político-administrativas dos

prefeitos Municipais sujeitas ao julgamento pela Câmara dos Vereadores e sancionadas

com a cassação do mandato:

I – impedir o funcionamento regular da Câmara;

11

FAZZIO, Waldo Junior, op. Cit. – pgs. 41/42.

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II – impedir o exame de livros, folhas de pagamento e demais documentos

que devam constar dos arquivos da Prefeitura, bem como a verificação de obras e

serviços municipais, por comissão de investigação da Câmara ou auditoria,

regularmente instituída;

III – desatender, sem motivo justo, as convocações ou os pedidos de

informações da Câmara, quando feitos tempo e em forma regular;

IV – retardar a publicação ou deixar de publicar as leis e atos sujeitos a

essa formalidade;

V – deixar de apresentar à Câmara, no devido tempo, e em forma regular,

a proposta orçamentária;

VI – descumprir o orçamento aprovado para o exercício financeiro;

VII – praticar, contra expressa disposição de lei, ato de sua competência

ou omitir-se na sua prática;

VIII – omitir-se ou negligenciar na defesa de bens, rendas, direitos ou

interesses do Município, sujeitos à administração da Prefeitura;

IX – ausentar-se do Município, por tempo superior ao permitido, ou afastar-

se da Prefeitura, sem autorização da Câmara dos Vereadores;

X – proceder de modo incompatível com a dignidade e o decoro do

cargo.”12

Ainda assim persistia a busca de um mecanismo capaz de pelo menos

obstaculizar a ação dos agentes ímprobos e continuou nessa maturação para se criar

um processo de natureza judicial para punição dos agentes públicos em geral, com

contornos bem diferentes, o que veio ocorrer mais adiante, ou seja, em 14 de agosto de

1991, com o advento da Exposição de Motivos nº. 0388, do então Ministro da Justiça

12

FAZZIO Junior , op. – pg. 42/ 43

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Jarbas Passarinho, dirigida ao então Excelentíssimo Senhor Presidente da República

Fernando Collor, que foi acolhida e enviada pelo então Presidente da República ao

Congresso Nacional, através da Mensagem nº. 406, de 14 de agosto de 1991, que deu

origem ao que hoje se conhece como “Lei de Improbidade Administrativa”, nascendo a

Lei nº. 8.429/92. 13

Necessário registrar que o projeto original sofreu sensíveis modificações

no legislativo até a sua aprovação final.

É de se por em realce, que mesmo assim, o fato significou um grande

avanço, no Estado Democrático de Direito, pois é certo que a iniciativa partiu de um

Ministro de Estado, da Justiça, que propôs ao Presidente da República, que

encaminhou o projeto ao Congresso Nacional, e, posteriormente, os Senadores e

Deputados Federais que aprovaram um texto, no qual todos eles se sujeitavam a serem

julgados, em processo judicial comum, perante um juiz de primeira Instância, pelos “atos

de improbidade”.14

Na verdade foi um significativo avanço que se deu no momento em que

todas essas autoridades, quando redigiram ou aprovaram a nova lei, abrindo mão do

foro por prerrogativa de função para crimes comuns no Supremo Tribunal Federal, e

algumas delas para crimes de responsabilidade, também nesse mesmo Tribunal, pois

estavam agindo dentro dos limites do artigo 37, § 4º, da Constituição Federal, que não

fez qualquer distinção quanto aos atos de improbidade administrativa de agentes

políticos e dos outros agentes públicos (“comuns”).

Entretanto, se analisarmos o mencionado dispositivo constitucional, ao

tratar de atos de improbidade, nenhuma ligação ele fez dos mesmos, com a antiga

figura política dos crimes de responsabilidade.

13 BRASIL. Lei nº 8429/92. Disponível em: www.planalto.gov.br. Acesso em: 01.07.2006. 14 BRASIL. Lei nº. 8429/92. Disponível em: www.planalto.gov.br. Acesso em: 01.07.2006.

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Por oportuno saliente-se que o artigo 102, inciso I, alíneas “b” e “c”, da

Constituição Federal também não estabeleceu qualquer prerrogativa por função aos

agentes políticos para serem julgados por atos de improbidade administrativa no

Supremo Tribunal Federal, mas a bem da verdade, se essa fosse a vontade dos

legisladores constituintes, poderiam muito bem tê-lo feito, quando da Assembléia

Nacional Constituinte de 1988, pois ali os Deputados e Senadores poderiam, mas não o

quiseram, ou melhor, o momento não lhes era propício, tendo deixado as prerrogativas

de função no Supremo Tribunal Federal apenas para os casos de crimes comuns e os

crimes de responsabilidade (Lei nº. 1.079/50). Nada mencionaram quanto aos “atos de

improbidade administrativa”, que nasciam com contexto próprio, no artigo 37, § 4º, da

mesma Constituição, e que, posteriormente, foram tratados, especificamente, na Lei nº.

8.429/92.

Acrescente-se a tudo isso, que também de forma semelhante aconteceu

com o artigo 105, inciso I, alínea “a”, da Carta Magna, que somente mencionou o foro

por prerrogativa de função para crimes comuns de governadores de Estado e outras

autoridades, não tendo sequer tratado do crime de responsabilidade para

Governadores, mas apenas para magistrados de tribunais de justiça e regionais e

tribunais de contas, além de membros do Ministério Público que oficiem perante

tribunais.

Nesse contexto, é preciso esclarecer que em nenhuma das dezenas de

emendas sofridas pela Constituição Federal foi aventada essa questão de modificar a

competência para o julgamento de atos de improbidade administrativa.

Pode-se, portanto afirmar, sem medo de errar, que não havia mesmo

razão para qualquer distinção, nem na Constituição, nem na Lei de Improbidade, entre

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ato de improbidade administrativa cometido por agente político daquele cometido pelo

agente público comum.

Constava da própria Exposição de Motivos do Projeto que originou a Lei nº

8.429/92, que era preciso criar um procedimento legal adequado - o devido processo

legal. Não havia como não há a finalidade de criar uma nova lei para ser adaptada à

antiga de crimes de responsabilidade. As duas objetivavam fins próprios e deveriam

conviver absolutamente distintas.

Por outro angulo, a exposição de motivos da nova lei deixou consignado

que “todo agente público” deveria apresentar declaração de bens e valores, como

condição prévia indispensável à posse e ao exercício em cargo, emprego ou função

pública e ainda na mesma exposição foi mencionada a criação de procedimento

tendente a apurar os casos de enriquecimento ilícito, sem distinção entre agente político

e qualquer outro agente público. 15

E dessa maneira nasceu a Lei nº. 8.429/92 (Lei de Improbidade

Administrativa), bastante diferente da antiga Lei nº. 1.079/50 (Lei dos Crimes de

Responsabilidade), pois enquanto aquela primeira criava um processo político de

julgamento no Senado Federal e nas Assembléias Legislativas, a segunda criava, em

verdade, um procedimento judicial, de natureza cível, a tramitar na Justiça Comum ou

Federal de Primeira Instância, independente da autoridade envolvida, seguindo o rito

ordinário do Código de Processo Civil.

Os artigos 1º, 2º, 3º e 4º da nova Lei dão bem a demonstração de que

legislador em relação texto, quis de forma incisiva demonstrar que os atos de

improbidade administrativa, praticados por qualquer agente público, servidor ou não,

contra a administração direta, indireta ou fundacional de qualquer nível de poder, de

15BRASIL. Lei nº 8429/92. Disponível em: www.planalto.gov.br. Acesso em: 01.07.2006.

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empresa incorporada ao patrimônio público ou de cuja criação ou custeio o erário haja

concorrido ou concorra com mais de cinqüenta por cento do patrimônio ou da receia

anual, teriam sua punição prevista na forma desta lei.

Sendo que para isso definiu agente público, como todo aquele que exerce,

ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação,

designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato,

cargo, emprego ou função nas entidades que menciona no artigo 1º, da Lei 8. 429/92 .

Numa tentativa de aprimoramento observa-se uma preocupação da lei em

não distinguir a sua aplicação para o caso daquele que não sendo agente público,

também de igual forma pratica ou se beneficie dos atos de improbidade administrativa.

Traz fundamental observância quanto aos princípios constitucionais da

legalidade, impessoalidade, moralidade e publicidade, pelos agentes públicos ou os a

eles equiparados, que em qualquer nível de hierarquia são obrigados no trato com a

coisa pública.

No nosso modesto entendimento a interpretação dessas disposições deve

ser feita observando o preceituado no artigo 2º, §§ 1º e 2º, da Lei de Introdução ao

Código Civil, verbis:

§1º. A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule matéria de que tratava a lei anterior”. §2º. A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior.16

A conclusão em primeiro lugar, é que, com o advento da Lei nº. 8.429/92,

que é mais nova do que a Lei nº. 1.079/50, independentemente de nível ou hierarquia, o

agente público eleito ou não, político ou não, em cargo, emprego ou função, e até

mesmo aquele que não seja servidor público, todos passaram a se sujeitar ao novo

procedimento criado para apuração de atos de improbidade administrativa, perante juiz

16BRASIL. Código Civil Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2006, art. 2.

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singular (de 1ª Instância); Não se pode aceitar simplesmente a mera alegação de que

todo ato de improbidade administrativa (conceito recente) é um crime de

responsabilidade (conceito da lei antiga) pois isso não condiz com a intenção do texto

que foi editado visando coibir abusos por parte desses agentes.

Com todo respeito a qualquer outro entendimento, não é a lei mais antiga

que prevalece sobre a nova, mas sim a nova que prevalece sobre a antiga, sendo certo

que elas vieram com características e finalidades absolutamente distintas com a

finalidade de assegurar a supremacia do interesse público e não o do particular.

De resto pode-se assegurar que abrangência da nova lei de improbidade

administrativa e a aplicação dos procedimentos nela previstos a todos os agentes

públicos, políticos ou não, servidores ou não, indistintamente, já é reconhecida pela

doutrina brasileira, sendo que de forma textual o STJ, com o voto do relator Min. Luiz

Fux Relator do REsp. nº. 416.329-RS, firmou entendimento de que a denominação de

‘agentes públicos’ refere-se genérica e indistintamente a todos os sujeitos que servem

ao Poder Público, considerando-se um ‘gênero’ do qual são espécies os agentes

políticos, administrativos, honoríficos e delegados, o que faz com que os sujeitos ativos

dos atos de improbidade administrativa não sejam apenas os servidores públicos, mas

também quaisquer outras pessoas que estejam de algum modo vinculadas ao Poder

Público.17

Daí que partindo dessa comprovação é que se torna viável chegar à

conclusão que o mesmo não acontece nos regimes ditatoriais e autocráticos, uma vez

que são idealizados e conduzidos sem a participação popular, ficando mais vulnerável e

propiciam por isso mesmo, um ambiente mais favorável aos altos índices de corrupção.

17BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. RESP. nº. 416.329-RS. Relator Min, Luiz Fux. Disponível em:

www.stj.gov.br. Acesso em: 01.08.2006.

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Assim é que se pode afirmar sem medo de errar que a fragilidade do

sistema democrático facilita a propagação da corrupção, pois se aproveita das

limitações dos instrumentos de controles, da inexistência de mecanismos capazes de

manter a administração vinculada à legalidade e imune a arbitrariedade do poder e da

constante supremacia dos detentores do poder ante ao anseio coletivo.

E, quando se trata do sistema brasileiro, a conclusão é lógica e não foge a

regra, eis que foi escravo durante séculos de tal situação, desde o início de sua

colonização.

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CAPÍTULO 2 – IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA – MORALIDADE CORRUPÇÃO –

CONCEITO

Para que tenhamos uma visão sobre moralidade, improbidade e a

corrupção, preciso se torna situar o seu campo de ocorrência, ou seja, a administração

pública.

E quando se situa o seu campo de atuação na administração pública,

nunca é demais lembrar a clássica concepção de Hely Lopes Meirelles, ao definir

administração pública quando afirmou que esta “em sentido material é o conjunto de

funções necessárias aos serviços públicos em geral (...)”, e, em sentido formal, é o

conjunto de órgãos instituídos para a consecução dos objetivos do Governo (...).” 18

Portanto, é de se entender que o art. 37 da Carta Constitucional vigente,

estabeleceu que a administração pública deve estar fincada sob esses dois alicerces,

que é o organizacional (formal) e o funcional (material), em estrito obedecimento aos

princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência entre

outros.

18MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 16ª. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,

1991. p. 67-71.

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2.1 - CONCEITOS DE MORALIDADE ADMINISTRATIVA E MORALIDADE SOCIAL

A moralidade administrativa é a base que sustenta a administração pública

e está disposta no art. 37, caput da Constituição Federal, ou seja, é agir e atuar de

acordo com os princípios constitucionais e está intimamente ligada ao exercício das

ações executadas pelos agentes públicos.

O professor e magistrado José Arthur Diniz Borges ao tratar da moralidade

administrativa19, reporta-se àquilo que diz respeito à ética, traduzindo probidade com a

finalidade de impessoalidade.

É o que diz respeito à ética, lealdade, honestidade, probidade com a coisa

pública, a atuação do administrador segundo padrões éticos de probidade decoro e boa-

fé e classifica a moral como o conceito mais amplo do direito, pois a moralidade para o

direito administrativo passou a ser regra de direito = norma jurídica para todos que

desempenham funções administrativas.20

Como se vê, a lição ministrada nos dá bem a mostra da importância da

moralidade administrativa que tem que estar atrelada aos atos administrativos do

Administrador Público bem intencionado, voltado para a ética, leal, honesto e probo no

trato da coisa pública.

Daí que, em sua conduta, o administrador público não pode sob qualquer

hipótese, até mesmo abrigando-se no manto de uma pretensa discricionariedade,

dispensar a ética, pois tem também que distinguir o honesto do desonesto, averiguando

os critérios de conveniência, oportunidade e justiça em suas ações.

O sempre festejado administrativista José dos Santos Carvalho Filho alude

ao tema em sua obra Manual de Direito Administrativo deixando consignado que o “art.

37 da Constituição Federal também a ele se referia expressamente, e pode-se dizer, 19BORGES, José Arthur Diniz. Direito Administrativo Sistematizado e sua Interdependência com o Direito

Constitucional. Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2002, p.85. 20Ibidem, loc. cit.

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sem receio de errar, que foi bem aceito no seio da coletividade, já sufocada pela

obrigação de ter assistido aos desmandos de maus administradores, freqüentemente na

busca de seus próprios interesses ou de interesses inconfessáveis, relegando para

último plano os preceitos morais de que não deveriam se afastar.21

Para Maurice Hauriou, a moralidade pública é o conjunto de regras de

conduta tiradas da disciplina interior da administração. 22

Nesse particular cabe, no entanto, a ponderação de que sendo o

administrador uma pessoa humana, deve através de sua formação ética procurar

distinguir se determinada ação poderá alcançar o fim único a que ele está obrigado.

A verdade é que a moralidade administrativa afeta diretamente a vida da

Administração e compromete o desenrolar de sua atividade, tornando-a sem

credibilidade perante os administrados.

A observância aos princípios que regem a administração pública se faz

presente na Lei n° 8.429, de 02/06/92, que caracteriza os atos de improbidade

administrativa e prevê os casos de falta de probidade na Administração, estabelecendo

as conseqüentes sanções aplicáveis a agentes públicos e a terceiros, quando forem

apontados como responsáveis por esse tipo de conduta incompatível e ilegítima,

chegando mesmo à suspensão dos direitos políticos, à perda da função pública, à

indisponibilidade dos bens e ao ressarcimento ao erário, tudo isso sem prejuízo da Ação

Penal cabível. É de se pôr em realce que tal diploma legal regulamenta o art. 37, § 4°,

da CF.

21CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual do Direito Administrativo. 9ª ed. Rio de Janeiro: Lumen

Júris, 2002, p. 15. 22Ibidem, loc. cit.

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37

2.2 - A MORALIDADE SOCIAL.

A outra moralidade é a social, que é aquele conjunto de regras que são

instituídas através de valores com a finalidade de conduzir as ações humanas e

delimitá-las para assegurar a paz social.

E, é aí que surge o direito como assegurador de fazer valer essas regras

de convivência social.

São as regras de costume e de moral que regem a convivência pacifica

entre os cidadãos.

A moralidade social está ligada à vida em sociedade, convivência entre os

cidadãos.

Segundo Denis Coutinho Silveira, “(...)23 a justiça é a base da sociedade;

sua aplicação assegura a ordem na comunidade social, por ser o meio de determinar o

que é justo.”24

2.3 - CONCEITO DE CORRUPÇÃO

CORRUPÇÃO indica a idéia de destruição, de degeneração e em se

tratando de esfera estatal, se caracteriza pelo uso ou a omissão, pelo agente público, do

poder que a lei lhe outorgou em busca de uma vantagem indevida para si ou para

terceiros, deixando para segundo plano os legítimos fins contemplados pela norma.

Temos como elementos característicos da corrupção o desvio de poder e o

enriquecimento ilícito e pode-se dizer que a improbidade e a corrupção relacionam-se

entre si como gênero e espécie, sendo que esta é absorvida por aquela, sendo certo,

que suas causas e seus efeitos devastadores são produzidos por seu alastramento na

engrenagem administrativa estatal. 23SILVEIRA, Denis Coutinho. Os Sentidos da Justiça em Aristóteles. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2001, p.

122. 24CARVALHO FILHO, José dos Santos. Op. cit., loc. cit.

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Nos regimes democráticos, que permitem a ascensão do povo ao poder com

a constante renovação dos dirigentes máximos existe a possibilidade de uma maior

vigilância quanto ao comportamento daqueles que exercem ou pretendem exercer a

representação popular, bem como de todos os demais fatos que são de interesse

público.

Necessário consignar que a corrupção algumas das vezes permite trilhar

pelo caminho mais rápido de acesso ao poder, entretanto, traz consigo o venenoso

efeito de promove a instabilidade política, uma vez que as instituições não estarão

alicerçadas em concepções ideológicas, mas sim no dinheiro advindo do poder

econômico que a sustentou para alcançar a meta que foi traçada.

É de se observar que o comportamento dos gestores públicos,

especialmente os que ascenderam ao poder por meio de um mandato político

normalmente é resultado das alianças que precederam a própria investidura do agente,

trazendo com isso, não raras vezes, o comprometimento da administração pública que

lhe foi confiada.

Na maioria das vezes o êxito político não está só ligado ao desempenho

vitorioso de um candidato, mas também é reflexo do poder econômico, sendo que tais

receitas se originam tanto de financiamentos diretos e indiretos, de natureza pública ou

privada.

O povo brasileiro assiste embora entristecido, mas por outro lado, com a

esperança que os últimos acontecimentos que tomaram conta do país no mundo

político, possam vir a servir de estímulos para mudanças que nos levem a encontrar

soluções para os velhos problemas.

A corrupção no sentido estrito é a conduta de autoridade que exerce o

poder de modo indevido, em benefício de interesse privado, em troca de uma retribuição

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de ordem material, segundo Manoel Gonçalves Ferreira Filho, citado por André Carvalho

Ramos.25

Ainda André Carvalho Ramos, cita a clássica definição de BOBBIO,

MATTEUCCI e PASQUINO, que afirmam ser a corrupção “uma forma particular de

exercer influência ilícita, ilegal e ilegítima, sobre os negócios públicos, para proveito

próprio ou alheio, diferenciando três espécies de corrupção: o suborno, definido como o

uso de retribuição ilícita para realização ou omissão de ato de ofício; o nepotismo

definido como a concessão de emprego ou favor por vínculo familiar ou por amizade, em

detrimento do mérito; e finalmente o peculato, entendido como o desvio ou apropriação

da coisa pública para proveito ilegal de particulares”.26

E, prossegue ainda, citando que segundo Carmem Lúcia Antunes Rocha:

A corrupção sistêmica é formada pela conjunção dos seguintes fatores: -- “a existência de concentração de poder em um único agente público; -- multiplicidade de órgãos competentes para execução de tarefas, sem determinação precisa de responsabilidades; -- ausência de sistemas eficientes de controle dos gastos públicos, bem como a falta de publicidade e transparência de tais gastos; -- finalmente: a impunidade tanto dos corrompidos como dos corruptores;27

Além do sentido etimológico, existem dois sentidos para o termo

“corrupção”, um restrito e outro amplo, que se confunde com a improbidade

administrativa.

Segundo ainda André de Carvalho Ramos, na obra anteriormente

mencionada, “O sentido amplo já citado de corrupção é o da corrupção sistêmica, que,

como bem assinala Flávia Schilling, consiste em uma troca clandestina entre a

administração pública e o mercado econômico social, de modo a formar uma espúria

25FERREIRA FILHO, Manoel dos Santos apud RAMOS, André Carvalho. O combate internacional à

corrupção e da Improbidade. Belo Horizonte: Del Rey, 2002, p. 03-04. 26RAMOS, André Carvalho, Op. cit., loc. cit. 27ROCHA, Carmem Lúcia Antunes apud RAMOS, André Tavares. Op. cit., loc. cit.

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troca de favores, com o uso do poder decisório do cargo público para favorecimento de

setores econômicos ou políticos privilegiados”.28

Consigna que os elementos característicos da corrupção são: o desvio de

poder e o enriquecimento ilícito.

Improbidade e corrupção relacionam-se entre si como gênero e espécie

sendo esta absorvida por aquela.

Assim é que desse sentido amplo surge o conceito de improbidade

administrativa, que além de abarcar os casos de corrupção em sentido estrito, prescinde

do prejuízo patrimonial do Estado, englobando os atos atentatórios aos princípios

básicos da administração pública, como o da publicidade, impessoalidade, legalidade e

eficiência. Ou seja, pode um ato ser considerado ato de improbidade ao determinar

despesa supérflua.

2.4 - CONCEITO DE IMPROBIDADE:

Para Hely Lopes Meireles

[...] o velho e esquecido conceito romano do probus e do improbus administrator está presente na nossa legislação administrativa, como na nossa Constituição da República, que pune a improbidade na administração com sanções políticas, administrativas e penais [...].29

O conceito de improbidade é muito mais amplo do que se prender a idéia

apenas do ato lesivo ou ilegal, significa falta de probidade, desonestidade, pratica de

atos contrário a honra, imoral e que é o contrário de probo, honesto, honrado, que não

observa os preceitos morais.

Para João Batista de Almeida, Improbidade significa desonestidade,

infringência ao princípio da moralidade administrativa, com enriquecimento ilícito do

28RAMOS, André Carvalho. Op. cit., p. 04. 29MEIRELLES, Hely Lopes. Op. cit.. p. 67-71.

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agente, dano ao erário ou ofensa aos princípios constitucionais da administração pública

e as normas legais.30

Por isso, quando se chama alguém de ímprobo, se está dizendo que

aquele cidadão agiu com falta de probidade, desonestidade, praticou atos contrários à

honra e imoral, no exercício de cargo, função, mandato ou emprego público, que

inobservou os princípios constitucional-administrativos da legalidade, da

impessoalidade, da publicidade, da moralidade e da eficiência, que desvirtuou a

finalidade do desempenho da função pública, usando de má-fé:

[...] não é chaga recente. Sempre foi nociva rotina parasitando a Administração Pública. Embora as funções e cargos oficiais sejam bens de domínio público que não podem ser expostos à negociação, há muitos agentes públicos, entre os quais maus prefeitos, que fazem de seu ofício o balcão onde vendem por vias travessas aquilo que deve ser consagrado ao interesse público.31

O artigo de Carlos Heitor Cony, intitulado “O irmão de Ali Babá”

citado por Sérgio Monteiro Medeiros, aborda o assunto demonstrando que a certeza da

impunidade e o tráfico de influência, são sem dúvida a razão mais forte de uma

corrupção sem limites que se vê por esse país. Alguns agentes públicos ou a eles

equiparados para os efeitos da lei Improbidade teimam na prática de atos lesivos ao

patrimônio público que repercute no campo social com devastador efeito capaz de tornar

esse tipo de agente abastado e a sociedade mais empobrecida.32

Praticam suas condutas ilícitas tanto de forma comissiva, como

omissiva, sendo que no primeiro caso ele comete o ilícito e na segundo ele se omite e

permite com sua omissão que a ilicitude seja praticada, nada fazendo para impedi-la, ou

tendo conhecimento dela se omite e não denuncia.

30

ALMEIDA, João Batista de, Adequação da Ação e Combate À Improbidade Administrativa, Improbidade Administrativa 10 anos da Lei N. 8.429/92, Belo Horizonte, Del Rey, 2002, pág. 132. 31 MEDEIROS Sérgio Monteiro. Lei de Improbidade Administrativa – Comentários e Anotações Jurisprudenciais. 1ª ed. Rio de Janeiro; Juarez de Oliveira, 2003 pág. 15/16. 32 FAZZIO JUNIOR, Waldo. Comentário Artigo por Artigo da Lei nº. 8429/92 e do DL 201/67. 3 ed. Rio de Janeiro: Atlas, 2001, p. 51.

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Os atos de improbidade administrativa são cada vez mais evidentes nos

dias atuais e a sua prática pelos administradores públicos tem sido cada vez e mais

freqüentes, mas o cidadão comum, por desinteresse ou desconhecimento, não se dá

conta de que a sociedade é a grande vítima de todos esses delitos, que são praticados

sem que esses agentes transgressores da lei recebam as correspondentes punições.

A improbidade administrativa é um câncer social que corrói os alicerces da

máquina administrativa de nosso país.

Os atos que caracterizam a improbidade administrativa são os que

importam em enriquecimento ilícito, no recebimento de qualquer vantagem econômica,

direta ou indireta, em superfaturamento, em lesão aos cofres públicos, pela prática de

qualquer ação ou omissão dolosa ou culposa, que viole os deveres de honestidade,

imparcialidade, legalidade e lealdade às instituições.

É preciso ter em mente que o conceito de improbidade administrativa não

se restringe ao ato lesivo ou ilegal em si. É muito mais que isso, é o contrário de

probidade, que significa qualidade de probo, integridade de caráter, honradez. Daí,

improbidade é o mesmo que desonestidade, mau caráter, falta de probidade.

A disposição do caput do art. 37 da Constituição Federal de 1988 tem uma

maior amplitude, pois abrange os agentes públicos de uma maneira geral, tanto os que

exercem a atividade pública como agente administrativo (servidor público stricto sensu),

como aquele que atua como agente político (servidor público lato sensu), que são os

que se encontram no desempenho de mandato eletivo).

Por disposição expressa no mencionado artigo, a transgressão, a violação

a qualquer dos princípios elencados em seu texto, advém para o violador punição, tanto

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administrativa, como política através das sanções insertas na Lei 8.429/92 – Lei de

Improbidade Administrativa.

Pela Emenda Constitucional nº. 19, de 04 de junho de 1998, o art. 37 da

Constituição Federal recebeu nova redação, que dispôs os fundamentos para

elaboração do art. 11 da Lei nº. 8.429/92, incluindo entre os princípios constitucionais o

da eficiência.

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CAPITULO 3 - A LEI Nº 8.429/92 E OS ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

QUE TIPIFICAM A CONDUTA DO AGENTE SUAS SANÇÕES

A Lei nº 8.429/92 trata das práticas de improbidade administrativa,

especialmente nos seus arts. 9, l0 e 11, que caracterizam as condutas que tipificam os

atos de improbidade administrativa como veremos a seguir, entretanto, o faz de forma

genérica, o que abre, induvidosamente, lacunas para várias interpretações sobre quais

atos seriam ou não ímprobos, o que remete ao judiciário a função de interpretar a lei de

forma concisa para cada caso concreto.

O art. 9º trata do que constitui enriquecimento ilícito de agente público,

obtido pelo uso indevido de mandato, função, emprego ou atividades que de qualquer

forma recebam dinheiro público e o responsável pelo ato de improbidade administrativa

capitulado neste artigo, se sujeita à perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente

ao seu patrimônio, ressarcimento integral do dano, quando este se verificar, perda da

função pública, suspensão dos direitos políticos de oito a dez anos, pagamento de multa

civil de até três vezes o valor do acréscimo patrimonial e proibição de contratar com o

Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou

indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio

majoritário, pelo prazo de dez anos.

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No art. 10, o agente poderá ser apenado com o ressarcimento integral do

dano, perda de bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, perda da função

pública e suspensão dos direitos políticos (cinco a oito anos), pagamento de multa civil

(até duas vezes o valor do dano) e proibição de contratar com o Poder Público (cinco

anos).33

Como feixe no art. 11, encontramos os atos atentatórios aos Princípios da

Administração Pública que são apenados da seguinte forma: - ressarcimento integral do

dano, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de três a cinco anos,

pagamento de multa civil até cem vezes o valor da remuneração percebida pelo agente

e proibição de contratar com o Poder Público pelo prazo de três anos.34

Constata-se, sem que se faça uma análise mais minuciosa do art. 12, que

as sanções cominadas para a prática dos diversos atos de improbidade se apresentam

muito similares, encontrando apenas as variantes quanto ao modo de apenar o agente

ímprobo. 35

3.1 - NATUREZA JURÍDICA DAS SANÇÕES:

Embora o tema abordado não se prenda à discussão da natureza jurídica

das sanções constantes na Lei de Improbidade Administrativa, é feito esse registro

porque ele se identifica com a proposição no sentido de se saber que a sociedade

vitimada pelos atos de improbidade administrativa, terá a garantia de que o resultado

será sempre em seu benefício e com reflexos punitivos para o agente ímprobo.

33BRASIL.LEI nº 8429, de 2 de junho de 1992. Disponível em: www.planalto.gov.br. Acesso em:

01.07.2006. 34Ibidem. 35Ibidem.

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Aqui se trata de que uma vez identificado o bem jurídico a ser tutelado e

indicada a norma jurídica que veda a conduta do agente, seja então, indicada a norma

punitiva para o infrator.

Não há dúvida que essa punição, pena ou sanção representa o resultado

que se mostra como um instrumento de aplicação do direito,

Segundo Emerson Garcia:

Sob o prisma ôntico, não há distinção entre as sanções cominadas nos diferentes ramos do direito, quer tenham natureza penal, civil ou administrativa, pois, em essência, todas visam a recompor, coibir ou prevenir um padrão de conduta violado, por sua vez, sob o ponto de vista axiológico, as sanções apresentarão diferentes dosimetrias conforme a natureza da norma violada e a importância do interesse tutelado, distinguuindo-se igualmente, conforme a forma, os critérios, as garantias e os responsáveis pela sua aplicação.36

Podemos observar que no nosso direito positivo existem sanções que são

aplicadas a determinados ramos do direito. Toma-se como exemplo o cerceamento da

liberdade do cidadão que é sanção de natureza penal como se vê do art. 5º, inciso XLVI

da Carta Constitucional de 1988, porém é possível ainda, de ser utilizada como sanção

contra o depositário infiel e o inadimplente do débito alimentar, com previsão no art. 5º,

inc. LXVII, da Constituição Federal e, do mesmo modo, como sanção disciplinar em

relação aos militares, não podendo ser afastado nem mesmo com utilização do habeas

corpus (art. 142 § 2º. da Constituição Federal).

Poder-se-iam citar outros exemplos como a infração aos deveres inerentes

funções acarretando a perda da função pública, sanção de natureza civil (art. 37 § 4º da

CF/88), administrativa (art.41, § 1º, incs. I, III da CF/88) ou penal (art. 5º, inc. XLVI, da

CF/88).

Também poderíamos citar como uma sanção penal (art. 15, inc. III da

CF/88) ou de uma sanção política (art. 85 da CF/88 e Lei nº. 10.079/50).

36GARCIA, Emerson. Improbidade Administrativa. 2ª ed. Rio de Janeiro: Lumen Júris, 2004, p.18.

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Contudo o que nos interessa mesmo é a que diz respeito a improbidade

administrativa, ou seja, as sanções disciplinada pela Lei 8.429/92, que serão aplicadas

por um órgão jurisdicional, com abstração de conotação de natureza hierárquica, o que

afasta a possibilidade de sua caracterização como sanção disciplinar-administrativa.

Há doutrinadores que à luz do direito posto, como Emerson Garcia, que

defendem que a natureza jurídica da sanção é civil, fundamentando esse

posicionamento no art. 37, § 4, in fine, da Constituição Federal de 1988, que estabelece

as sanções para os atos de improbidade administrativa e prevê que as mesmas sejam

aplicadas de acordo com a gradação prevista em lei e sem prejuízo da ação penal

cabível; - regulamenta esse dispositivo, a disposição contida no art. 12, da Lei de

Improbidade dispõe que as sanções serão aplicadas independentemente de outras de

natureza penal; - as condutas ilícitas elencadas nos arts. 9º, 10 e 11 da Lei 8.429/92,

ante o emprego do vocábulo “notadamente”, o que apresenta total incompatibilidade

com o princípio da estrita legalidade que rege a área penal, segundo o qual a norma

incriminadora deverá conter expressa previsão da conduta criminosa; a exigência

expressa de caracterização da conduta como infração penal; a utilização da palavra

pena no art. 12, não tem condão alterar a essências dos institutos, quando no caso a

similitude com o direito penal é meramente semântica. 37

Ao se posicionar de tal forma, com o que concordamos, Emerson Garcia

conclui que se trata de natureza cível, extrapenal, alicerçando sua concepção nos

seguintes fatores: a) o art. 37, § 4º, in fine, da Constituição, estabelece sanções para os

atos de improbidade e prevê que estas serão aplicadas de acordo com a gradação

prevista em lei “sem prejuízo da ação penal cabível”; b) regulamentando esse dispositivo

constitucional, dispõe o art. 12, caput, da Lei nº.8.429/92 que as sanções serão

37

Idem.

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aplicadas independentemente de outras de natureza penal; c) as condutas ilícitas

elencadas nos arts. 9º, 10 e 11 da Lei de Improbidade, ante o emprego do vocábulo

“notadamente”, tem caráter meramente enunciativo, o que representa total

incompatibilidade com o princípio da estrita legalidade que rege a seara penal, segundo

a qual a norma incriminadora deve conter expressa e prévia descrição da conduta

criminosa; d) o processo criminal atinge de forma mais incisiva o status dignitatis do

indivíduo o que exige expressa caracterização da conduta como infração penal, sendo

relevante frisar que ela produzirá variados efeitos secundários; e) a utilização do

vocábulo “pena” no art. 12 da Lei nº. 8429/92 não tem o condão de alterar a essência

dos institutos, máxime quando a similitude com o direito penal é meramente semântica;

f) a referência a “inquérito policial” constante do art. 22 da Lei nº. 8.429/92 também não

permite a vinculação dos ilícitos previstos neste diploma legal à esfera penal, já que o

mesmo dispositivo estabelece a possibilidade de o Ministério Público requisitar a

instauração de processo administrativo e não exclui a utilização do inquérito civil público

previsto na Lei nº. 7.347/85, o que demonstra que cada qual será utilizado em

conformidade com a ótica de análise do ilícito e possibilitará a colheita de provas para a

aplicação de distintas sanções ao agente; g) a aplicação das sanções elencadas no art.

12 da Lei de Improbidade pressupõe o ajuizamento de ação civil (art. 18) , possuindo

legitimidade ativa ad causam o Ministério Público e o ente ao qual esteja vinculado o

agente público, enquanto que as sanções penais são aplicadas em ações de igual

natureza, tendo legitimidade, salvo as exceções constitucionais, unicamente o Ministério

Público.38

38

Ibidem.

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3.2 - PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Dando continuidade ao tema abordado cumpre agora tecer alguns

comentários em torno dos demais princípios administrativos expressos a que todo o

administrador público tem o poder/dever de observar no desempenho da função pública,

pois representam os pilares de sustentação que norteiam o seu modo de agir na

condução da coisa pública.

A nossa Carta Magna preconiza de forma expressa que o Administrador

Público deve observar os princípios da legalidade, da impessoalidade, moralidade,

publicidade e eficiência.

Tratando-se de administração pública, no caso específico o Direito

Administrativo, além daqueles que defluem do sistema, teve o constituinte a

preocupação de apontar aqueles que deveriam obrigatoriamente ser observados pelos

agentes públicos.

Assim, o Estado Constitucional Democrático de Direito é o que o Estado

exerce sua função através do direito, estabelece os limites do poder através de uma lei

superior.

Os princípios são de fundamental importância na atuação administrativa,

segundo o administrativista Celso Antônio Bandeira de Mello:

Violar um princípio é muito mais grave que transgredir uma norma. A desatenção ao princípio implica não somente a ofensa a específico mandamento obrigatório, mas a todo o sistema de comando. É a mais grave forma de ilegalidade ou inconstitucionalidade, conforme escalão do princípio atingido, de seus valores fundamentais, contumélia irremissível a seu arcabouço lógico e corrosão de sua estrutura mestra. Isto porque, ao ofende-lo, abatem-se as vigas q eu sustém e alui-se toda a estrutura neles esforçada.39

Contudo a violação não se dá somente com relação aos Princípios

Constitucionais expressos, mas também quando se viola os chamados princípios

39MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 17º Ed. São Paulo: Malheiros,

2004, p. 842.

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implícitos, pois eles igualmente são revestidos de carga atributiva, axiológica e

vinculativa.

3.2.1 - PRINCÍPIO DA LEGALIDADE

Quanto ao princípio da Legalidade, pode-se constatar que o mesmo se

encontra expresso no art. 5º, II, da Carta Constitucional vigente, quando preceitua que

“ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de

lei”.40

Mas, para o estudo com referência a Administração Pública, a legalidade

tem contornos característicos, pois a atuação está dependente do que a lei dispõe,

sendo permitido que o administrador público fique restrito a realização de suas condutas

quando tiverem elas previsão legal.

Pelo princípio da legalidade buscou o legislador constitucional deixar de

forma induvidosa o registro de que essa deve ser uma “diretriz básica da conduta da

administração”, que não se pode em hipótese alguma conceber qualquer atividade

administrativa sem autorização legal, o que será caracterizada como ilícita, caso venha

a ocorrer.

Nesse aspecto, o escólio de José dos Santos Carvalho Filho

[...] tal postulado, consagrado, após séculos de evolução política, tem por origem mais próxima a criação do Estado de Direito, ou seja, do Estado que deve respeitar as próprias leis que edita, implica subordinação completa do administrador à lei. Todos os agentes públicos, desde o mais modesto deles, devem ser instrumentos de fiel e dócil realização das finalidades normativas. 41

Retrata de forma bem precisa o princípio numa clássica e feliz

comparação, para Hely Lopes Meirelles “enquanto os indivíduos no campo privado

40BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. São Paulo: Saraiva, 2006, art. 5º. 41CARVALHO FILHO, José dos Santos. Op. cit., p. 14.

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podem fazer tudo o que a lei não veda, o administrador público só pode atuar onde a lei

autoriza.”42

O verdadeiro administrador público tem que andar passo a passo dentro

da lei, pois só assim estará gerindo e zelando pela coisa pública em benefício de toda

uma coletividade, no verdadeiro Estado de Direito, que edita as leis e as respeita,

cumprindo-as e fazendo cumpri-las de forma impessoal, dispensando aos

administrados, tratamento igual quando se encontram em idêntica situação jurídica.

3.2.2 - PRINCÍPIO DA IMPESSOALIDADE

Quando se faz referência ao princípio da Impessoalidade, o texto

constitucional buscou de forma inequívoca deixar consignado que é obrigação do

administrador público voltar-se exclusivamente para o interesse público e não para o

privado, proibindo terminantemente favorecimentos e apadrinhamentos a pessoas, em

prejuízo de outras.

A finalidade desse princípio sempre alardeado pelos doutrinadores

pátrios sobre a matéria é que a Administração Pública tem que ter como objetivo único o

interesse público e que isso não pode ser alcançado se for perseguido interesse próprio

ou particular, porque nesse caso deixa-se de lado a impessoalidade para o cometimento

de atitude claramente discriminatória.

Como remate, preciosos são os ensinamentos do já citado e festejado

administrativista José dos Santos Carvalho Filho sobre o assunto que se posiciona no

sentido de que “Não se pode deixar de fora a relação que a finalidade da conduta

administrativa tem com a lei, uma atividade e um fim supõem uma norma que lhe

estabeleça, entre ambos, o nexo necessário.”43

42MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 27ª ed. São Paulo: Malheiros, 2002. p. 86. 43CARVALHO FILHO, José dos Santos. Op. cit. p. 15.

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Como a lei em si mesma deve respeitar a isonomia (art. 5°, caput e inciso I

da CF/88), a função administrativa nela baseada também deverá fazê-lo, sob pena de

ocorrer desvio de finalidade, que ocorre quando o administrador se afasta do escopo

que lhe deve nortear o comportamento - o interesse público.

Existem administradores públicos que sob o manto da discricionariedade

de seus atos afrontam constantemente o princípio da impessoalidade e nem por isso

são de qualquer forma questionados, talvez até por acomodação de algumas pessoas e

outras por desconhecimento de seus direitos decorrentes da cidadania.

Exemplos freqüentes e gritantes se encontram quando o administrador

constrói com dinheiro público bens imóveis para serem explorados por particulares, sem

qualquer critério, e os direciona para os seus eleitos, seus apadrinhados, inobservando

o competente processo licitatório, não permitindo assim, que outros em condições iguais

tenham o mesmo acesso. Tal hipótese configura desvio de finalidade já que o interesse

público está sendo desumanamente “deturpado” para servir a particulares. Nesse

momento é que os avanços em nossa legislação permitiram maior mobilidade a diligente

e digna instituição do Ministério Público, que por seus representantes estão sempre

intervindo, visando restabelecer o Estado Democrático de Direito e garantir à

coletividade a defesa e a preservação de suas garantias fundamentais.

É bem verdade que muitos desses administradores descompromissados

com o interesse público, entendem essa intervenção legal e legítima do MP, como uma

forma de tutelar os seus atos, o que não condiz com a realidade, pois senão, teríamos o

caos total, com a sociedade desprotegida e a mercê dos atos de favorecimentos

pessoais desses Governantes.

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3.2.3 - PRINCÍPIO DA MORALIDADE ADMINISTRATIVA

Ao tratar da moralidade administrativa, segundo José Arthur Diniz Borges

nos ensinamentos ministrados em sua obra Direito Administrativo Sistematizado e sua

Interdependência com o Direito Constitucional, pág. 85, “Moralidade (CF art. 5°, LXXIII

c/c 37 caput) - (Probidade), (Finalidade), (Impessoalidade). É aquele que diz respeito à

ética, lealdade, honestidade, probidade com a coisa pública; Atuação do Administrador

segundo padrões éticos de probidade, decoro e boa-fé”; “[(Moral: conceito mais amplo

do que Direito (no campo do Direito Privado)]. (Hoje diante do caput do art. 37 da

CF/1988, a moralidade para o Direito Administrativo passou a ser regra de direito =

norma jurídica para todos que desempenham funções administrativas).”44

Como se vê, nos dá bem a mostra da importância desse inafastável

princípio da moralidade que tem que estar atrelado aos atos administrativos do

Administrador Público bem intencionado, voltado para a ética, leal, honesto e probo no

trato da coisa pública.

Daí que, em sua conduta, o administrador público não pode sob qualquer

hipótese, até mesmo abrigando-se no manto de uma pretensa discricionariedade,

dispensar a ética, pois tem também que distinguir o honesto do desonesto, averiguando

os critérios de conveniência, oportunidade e justiça em suas ações.

O sempre festejado administrativista José dos Santos Carvalho Filho alude

ao tema em sua obra Manual de Direito Administrativo deixando consignado que:

O art. 37 da Constituição Federal também a ele se referia expressamente, e pode-se dizer, sem receio de errar, que foi bem aceito no seio da coletividade, já sufocada pela obrigação de ter assistido aos desmandos de maus administradores, freqüentemente na busca de seus próprios interesses ou de interesses inconfessáveis, relegando para último plano os preceitos morais de que não deveriam se afastar.45

44BORGES, José Arthur Diniz. Op. cit., p. 85. 45CARVALHO FILHO, José dos Santos. Op. cit., p. 15.

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Por oportuno consignar, que essas espécies do gênero são realidades,

pois basta que se faça um mínimo de esforço, para que sejam tais seres maléficos para

a sociedade, visualizados e corporificados em nossas mentes, tudo a mercê dos

estragos constantes que produzem ou produziram em suas passagens nefastas e

imorais pela vida pública, para quem a transgressão dos preceitos morais justificam os

fins por eles objetivados.

É preciso que se tenha em mente que para combater essa transgressão

existem dispositivos legais colocados à disposição da sociedade, pois sem margem a

erros a ausência deliberada da moralidade administrativa afeta diretamente a vida da

Administração e compromete o desenrolar de sua atividade, tornando-a sem

credibilidade perante os administrados. Tais dispositivos se fazem presentes na Lei n°

8.429, de 02/06/92, que caracteriza os atos de improbidade administrativa e prevê os

casos de falta de probidade na Administração, estabelecendo as conseqüentes sanções

aplicáveis a agentes públicos e a terceiros, quando forem apontados como responsáveis

por esse tipo de conduta incompatível e ilegítima, chegando mesmo à suspensão dos

direitos políticos, à perda da função pública, à indisponibilidade dos bens e ao

ressarcimento ao erário, tudo isso sem prejuízo da Ação Penal cabível. É de se pôr em

realce que tal dispositivo legal regulamenta o art. 37, § 4°, da CF.

Do mesmo modo, importante como instrumento relevante de tutela

jurisdicional, podemos citar a Ação Popular, art. 5 °, LXXIII da CF, que anteriormente só

se prestava a tutelar o patrimônio público econômico e passou, também, a tutela de

enorme importância para a sociedade, como o meio ambiente, o patrimônio histórico e

cultural e a moralidade administrativa. A Ação Popular encontra-se regulamentada pela

Lei n° 4.717, de 29/06/65, e através dela o cidadão comum, qualquer deles, num

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verdadeiro Estado Democrático de Direito, pode deduzir a pretensão de anular atos do

Poder público contaminado de imoralidade administrativa.

Como remate temos ainda a Ação Civil Pública evidenciada no art. 129, III,

da CF, que se inclui como missão institucional do Ministério Público, embora tanto a

ação principal, como a cautelar poderão serem propostas pela União, pelos Estados,

Municípios e ainda estão legitimadas as autarquias, empresas públicas, fundação,

sociedade de economia mista ou associação que esteja constituída há pelo menos um

ano nos termos da lei civil.

Visa a ação civil pública a proteção ao meio ambiente, ao consumidor, à

ordem econômica, à livre concorrência, ou a defesa do patrimônio artístico, estético,

histórico, turístico e paisagístico.

Tanto os legitimados como o Poder Público, têm a faculdade de intervir no

processo como litisconsortes de quaisquer das partes, conforme se depreende do art.

5º. § 2º da Lei 7.347/85.

Pode-se, no entanto concluir que a intervenção do órgão ministerial é

obrigatória, pois se não intervier como parte, atuará por força da lei como fiscal.

Vê-se, desse modo, que existe uma gama de leis colocadas à disposição

da sociedade para combater esses administradores públicos desprovidos de qualquer

senso e de moral, mormente a administrativa, porém, o que precisa ser feito é a

conscientização dos cidadãos em geral de seus direitos, para que com vigilância, se

coloquem vigilantes contra esses atos atentatórios a moralidade administrativa e lancem

mão dos instrumentos legais diligenciando para que sejam os mesmos invalidados e os

seus autores punidos de forma severa.

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A moralidade é definida por José Afonso da Silva46 como um dos

princípios da Administração pública (art. 37). Já discutimos o tema quando tratamos da

ação popular, e vimos que a Constituição quer que a imoralidade administrativa em si

seja fundamento da nulidade do ato viciado. A idéia subjacente ao princípio é a de que

moralidade administrativa não é moralidade comum, mas moralidade jurídica. Essa

consideração não significa necessariamente que o ato legal seja honesto. Significa

como disse Hauriou, que a moralidade administrativa consiste no conjunto de regras de

conduta tiradas da disciplina interior da Administração.

Maria Sílvia Zanella Di Pietro, em sua obra de Direito Adminitrativo, 14ª

edição, p. 80, citando Augustin Gordillo, nos deixa a seguinte lição:

[...] é só por meio da participação popular no controle da Administração Pública que será possível superar a existência dessa administração paralela e, em conseqüência, da moral paralela.47

3.2.4 - PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE

Do mesmo modo importante como os demais, já tratados neste espaço, o

princípio sob análise, traduz-se na exigência de uma ampla divulgação dos atos

praticados pela Administração Pública, tendo em mente sempre o interesse público que

deve sempre prevalecer sobre o particular, quando estejam em conflito, ante as

ressalvas previstas em lei, por exemplo, respeitante a intimidade.

Insculpida no artigo 37 da Carta Magna vigente, a obrigatoriedade da

publicidade dos atos administrativos constitui-se numa garantia fundamental para que o

administrado possa ter conhecimento de como está sendo gerida a coisa pública.

Por outro lado, propicia também ao administrado a possibilidade de

controlar a legitimidade da conduta dos agentes administrativos, pois só através da

46SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 20ª. Ed. São Paulo: Malheiros, 2002, p.

648-649. 47DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 14ª ed. São Paulo: Atlas, 2002, p. 80.

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conduta transparente se poderá aferir a legalidade dos atos praticados e o grau de

eficiência de que se encontram revestidos.

Na realidade, o que se tem observado é que alguns administrados públicos

preferem que os atos por eles praticados fiquem sempre no anonimato, pois só assim

estarão imunes da vigília que deve ser exercida sobre eles no controle de práticas de

seus atos.

Exemplificando, sempre no terreno das hipóteses, poderíamos sugerir um

controle efetivo quanto às nomeações para cargo de confiança, pois a simples

publicação do ato principal, qual seja, a nomeação do agente para desempenho em

cargo com um símbolo, não impede que a título de complementação o administrador

conceda ao seu apadrinhado, em outra rubrica e por outra forma de pagamento,

vantagens que a lei não previu, nem autorizou. Este ato que foi praticado ocultamente

para ferir a vigilância do administrado é passível de anulação e aí teríamos com a falta

de publicidade, uma forma de burlar os demais princípios constitucionais vigentes.

Como se vê, a obediência do administrador público aos princípios

constitucionais é mais que uma simples obrigação emanada da lei, mas caracteriza-se,

sobremodo, em demonstrar para a sociedade a índole do governante que foi por ela

escolhido.

Ainda no terreno das hipóteses e sempre tendo em mente a possibilidade

que o fato possa realmente ocorrer, poderíamos citar os contratos de aluguéis de

imóveis, as concessões de bolsas de estudos que não são nominalmente especificadas

a quem se destinam, nem critérios de concessão, os processos de dação em

pagamento através de recebimento de imóveis para ocupação por um determinado

período para quitação de tributos; os recebimentos de ingressos para shows,

espetáculos futebolísticos, eventos pagos e toda uma gama de situações a que não é

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dada a devida e obrigatória publicidade, ficando o administrado sem saber como está

sendo gerida a Administração Pública.

Mas é necessário que o cidadão comum conscientize-se que ele pode e

deve ser o fiscal atuante e controlador desses administradores públicos e pode obrigá-

los a divulgação de seus atos, sem que para isso, necessitem pagar taxas com seus

requerimentos, podendo lançar mão do direito de petição (art. 5°, XXXIV, “a”, da CF/88)

e expedição de certidão que registrem a verdade dos atos praticados (art. 5°, XXXIV,

“b”, da CF e Lei n° 9.784/99).

Se forem negados os direitos constitucionalmente apresentados, ou ainda

que veiculada incorretamente ou não veiculada a informação, dispõe o cidadão comum

ainda, lastreado no texto constitucional vigente, para garantir a restauração da garantia

da legalidade do mandado de segurança (art. 5°, LXIX, da CF) e o habeas data (art. 5°,

LXXII, da CF).

Assim é que por esse princípio devem submeter-se todas as pessoas

administrativas e os agentes públicos e os que assim são equiparados, pois mesmo

sendo privadas relacionam com a Administração Pública, equiparando-se aqueles

agentes.

Daí que ao término da abordagem deste tópico sob análise, não seria

ousadia deixar registrado que a importância da divulgação dos atos praticados pelos

administradores públicos é de tamanha importância que deveriam ser divulgados em

locais públicos de grande acesso, tanto nas áreas urbanas, como nos distritos, para que

um maior número de pessoas pudesse tomar conhecimento do fato e questioná-lo, se

assim entendessem cabível.

Seria um marco se no Estado Democrático de Direito o cidadão que não

tem acesso à informação lá do interior desse imenso país pudesse tomar conhecimento

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de todos os atos dos administradores públicos em minúcias, fiscalizando o emprego das

verbas públicas.

O reflexo para a sociedade seria salutar, pois colocaria mais olhos atentos

as condutas dos agentes públicos ou os a eles equiparados, freiando seus instintos,

quando estes se mostrassem contrários ao interesse público.

Certo que não se tem um ideal possível, pois a mutação da sociedade se

dá com muita rapidez e a adequação de tais valores as normas é mais demorado,

fazendo com que no momento em que uma lei passe a integrar o ordenamento jurídico

pátrio, suas disposições que seriam suficientes para atender naquele primeiro momento,

não o sejam posteriormente.

Mas é importante que não se abra mão da transparência em todos os

setores da vida humana, com muito mais razão quanto se trata da coisa pública, da

administração pública.

A idéia da transparência na Administração Pública é o ponto nodal desse

princípio, uma vez que não se pode imaginar o trato com a coisa pública, sem que

esteja atrelada a obrigatoriedade de satisfação a sociedade, afinal o administrador

nesse caso é um mero gestor da coisa que é pública, que não lhe pertence.

A impessoalidade é um princípio que instrumentaliza o controle interno e

externo da administração pública, que demonstra que os atos públicos têm que ser

direcionados a todos sem distinção, visando tão somente o atendimento ao interesse

público da administração.

Assim é que José dos Santos Carvalho Filho a ele se refere como o

Princípio que objetiva a igualdade de tratamento que a Administração deve dispensar

aos administrados que se encontrem em idêntica situação jurídica. Nesse ponto,

representa uma faceta do princípio da isonomia. Por outro lado, para que haja

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verdadeira impessoalidade, deve a Administração voltar-se exclusivamente para o

interesse público, e não privado, vedando-se, em conseqüência, sejam favorecidos

alguns indivíduos em detrimento de outros e prejudicados alguns para favorecimento de

outros. Aqui reflete a aplicação do conhecido princípio da finalidade, sempre

estampado na obra dos tratadistas da matéria, segundo o qual o alvo a ser alcançado

pela Administração é somente o interesse público, e não se alcança interesse público se

for perseguido o interesse particular, porquanto haverá nesse caso sempre uma atuação

discriminatória.

3.2.5 - PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA

Introduzido no texto constitucional vigente, através das regras relativas ao

projeto de reforma do Estado, pela Emenda Constitucional n° 19/98, o princípio sob

comento tem a finalidade de conferir direito aos usuários dos diversos serviços

prestados pela Administração ou por esta delegados e estabelecer obrigações efetivas

aos prestadores.

Maria Sylvia Zanella Di Pietro, em sua Obra Direito Administrativo, 14ª

Edição, citando Hely Lopes Meirelles, fala na eficiência como um dos deveres da

Administração Pública, definindo-o como “o que se impõe a todo agente público de

realizar suas atribuições com presteza, perfeição e rendimento funcional. É o mais

moderno princípio da função administrativa, já que não se contenta em ser

desempenhada apenas com legalidade, exigindo resultados positivos para o serviço

público e satisfatório atendimento das necessidades da comunidade e de seus

membros”. 48

48DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Op. cit., p. 83.

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Segundo Maria Silvia Zanella Di Pietro, ainda citando Hely Lopes

Meirelles, em sua obra já mencionada pg. 83, que: “esse dever de eficiência bem

lembrado por Carvalho Simas, corresponde ao dever da boa administração da doutrina

italiana, o que já se acha consagrado, entre nós, pela Reforma Administrativa Federal

do Dec. Lei 200/67, quando submete toda atividade do Executivo ao controle do

resultado (art. 13 e 25,V) fortalece o sistema de mérito (art. 25, VIII), sujeita a

Administração Indireta a supervisão ministerial quanto à eficiência administrativa (art.

26, III) e recomenda a demissão ou dispensa do servidor comprovadamente ineficiente

ou desidioso (art. 100)”.49

Como se vê, o princípio abrange duas vertentes, uma no que diz respeito

ao modo de atuação do agente público e outra com relação ao modo de organizar,

estruturar, disciplinar a Administração Pública, tudo com um único objetivo de alcançar

os melhores resultados na prestação de serviços públicos.

Acontece que, na prática, em algumas administrações públicas não se vê

a observância desse princípio, pois integrando em seus quadros de mando, estão

pessoas humanas que não estão adaptadas para aqueles serviços, ou mesmo que não

foram devidamente preparadas para desenvolverem atividade pública e pela gama de

poder que detêm acabam fazendo com que agentes públicos prestadores de seus

serviços, sejam os reflexos daqueles primeiros e prestem um serviço de péssima

qualidade e sem qualquer eficiência, devendo, por isso mesmo, serem denunciados

para que respondam pelos gestos incompatíveis que causam dano à imagem e à

engrenagem administrativa.

49Ibidem, loc. cit.

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A complexidade que envolve o controle de tal princípio é uma realidade,

pois não se pode desrespeitá-lo, mas tem que ser conjugado respeitando as diretrizes e

as prioridades dos Administradores Públicos.

Entretanto, se sua aplicação nos parece complexa por um lado, por outro

se torna simplista, pois a sociedade dispõe do voto para banir o Administrador e o

agente político escolhido por ele, que imprime essa desordem organizacional na

Administração.

3.2.6 – PRINCÍPIOS IMPLÍCITOS NO CORPO CONSTITUCIONAL

3.2.6.1-PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE

Maria Sílvia Zanella Di Pietro cita Gordillo para deixar consignado que a

decisão discricionária do funcionário será ilegítima, apesar de não transgredir nenhuma

norma concreta e expressa, se é “irrazoável”, o que pode ocorrer principalmente

quando:

a) não dê os fundamentos de fato ou de direito que a sustentam; b) não leve em conta os fatos constantes do expediente ou públicos e notórios; c) não guarde uma proporção adequada entre os meios que emprega e o fim que a lei deseja alcançar, ou seja, que se trate de uma medida desproporcionada, excessiva em relação ao que se deseja alcançar.50

Na verdade, com os avanços naturais ocorridos ao longo dos anos, no

aprimoramento da Administração Pública no Estado Democrático de Direito, o que se

busca é o que o Administrador Público, se conscientize que ele não é o dono da coisa

pública, mas simplesmente seu gestor e como tal deve obediência a toda uma

coletividade que espera dele que as suas decisões discricionárias contribuam

efetivamente para um atendimento satisfatório do interesse público.

50GORDILLO apud DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Op. cit, p. 83.

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Exemplificando, poderíamos citar a hipótese de um Administrador Público,

que sabedor, que a maioria numa comunidade gostaria de ter como entretenimento uma

quadra polivalente de esportes, sem qualquer critério, direciona verba para construção

temporária, em época festiva, de construção de uma obra para lazer de um seu ente

familiar.

Ora, no caso o administrador deveria conjugar o princípio da

proporcionalidade e razoabilidade com a discricionariedade para atingir o bem comum e

não o interesse particular de uma pessoa.

Outro exemplo é o do governante que sem motivação de atendimento

coletivo, procede ao calçamento de ruas inexpressivas, sem ocupação residencial para

atender pretensões pessoais de um seu colaborador.

Nesse caso, o princípio de discricionariedade facultado ao Administrador,

não só sucumbiu ante a razoabilidade e a proporcionalidade, mas também afetou toda

uma gama de princípios, eis que se manifesta impessoal, imoral e ilegítimo, passível de

anulação pela via judiciária.

A lei faz de forma separada, referência aos princípios da razoabilidade e

proporcionalidade e isso se vê na lei 9784/99, porém não há como negar que o segundo

se constitui num aspecto essencial contido no primeiro.

Deve-se ter como razoável o que se situa entre os parâmetros da

proporcionalidade capaz de atender o ato discricionário e o interesse público.

Assim é preciso que o cidadão comum cada vez mais exerça uma vigília

sobre os administradores públicos e que não tenha medo de denunciar esses atos

ilegítimos e impuros que causam prejuízos e danos imensos a sociedade.

Não adianta ficar reclamando do MP e nem do Poder Judiciário, é preciso

exercer a cidadania em sua plenitude, pois só denunciando os fatos é que o Ministério

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Público poderá acionar a máquina judiciária e esta se manifestar nos estritos limites da

lei, sobre a lesão posta para apreciação.

3.2.6.2 - PRINCÍPIO DA INDISPONIBILIDADE

O Administrador Público deve ter em mente, sempre, que todo o cuidado

exigido para com os bens e interesses públicos resulta em benefício para a própria

coletividade e que as atividades administrativas são exercidas pelo Estado, mas com

finalidade de atender ao interesse comum.

O fim último dessa atuação administrativa deve voltar-se para o interesse

público, pois se assim não ocorrer estará maculada pelo desvio de finalidade, pois não é

um único cidadão o destinatário exclusivo da atividade administrativa, mas sim a

sociedade no seu todo.

Ao administrador público cumpre a obrigação/dever de gerir, conservar e

velar pelos bens e interesses públicos em prol da coletividade, a verdadeira titular

desses direitos e interesses, que são indisponíveis.

Como exemplo poderia se imaginar a situação em que alguns

“administradores” públicos se esquecem propositadamente do princípio da

indisponibilidade e, sem qualquer pudor, começassem a reunirem empreiteiros e

direcionar obras e serviços em licitações comprometidas nas quais previamente já se

conhece o ganhador, formalizando a posteriori os procedimentos de modo a dar cunho

de veracidade ao ato maculado.

Acontece que o administrador público não pode dispor de forma desonesta

e ilegítima na execução de obras e serviços, pois o prejuízo é da Administração e, por

via de conseqüência, dos administrados.

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O verdadeiro freio à materialização desse exemplo poderia ser encontrado

através de uma fiscalização rigorosa dos órgãos de controle, com a ajuda da sociedade

organizada que permitiria que o Ministério Público pudesse mais rapidamente tomar

conhecimento dos atos praticados pelos agentes públicos, adotando então as medidas

visando a defesa do erário. Pelo menos, poderia em tese, inibir os que acreditam na

impunidade e se acham acima do bem e do mal.

Não se pode conceber, sob qualquer pretexto, que a alienação a qualquer

título de bens públicos seja realizada indiscriminadamente e sem a observância dos

preceitos legais, como se o verdadeiro titular do direito fosse o agente público e não a

coletividade, agindo com poderes de usar, gozar e dispor a seu bel-prazer.

O princípio da indisponibilidade deixa a certeza de que todos os freios

impostos ao Administrador Público, ainda são poucos, ante a soberba, a ganância e

ambição de certos seres “humanos” despreparados para ocupar o cargo para o qual

foram alçados.

A bem da verdade, sob o assunto em foco poderia indagar sobre a melhor

forma de vigilância quanto a possível disponibilidade do Administrador Público, com

relação a obras e serviços públicos, tomando por base o exemplo citado, do cartel de

empreiteiras para viciar as licitações, onde previamente são acertados qual obra e

serviços será realizada por essa ou aquela firma, numa verdadeira afronta aos princípios

da indisponibilidade, impessoalidade e da legalidade.

É preciso deixar bem fixado que a Administração não tem o direito ou a

faculdade de usar, gozar e dispor livremente dos bens e interesses públicos, porque ela

não atua em caráter particular, mas sim, age e atua em nome de toda uma coletividade,

a qual tem que prestar contas de seus atos tanto na esfera político-administrativa, como

no âmbito do Judiciário.

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Comete equívoco imperdoável o administrador sem compromisso que,

guindado ao cargo público de comando se revela se desnuda por inteiro e pensa que a

caneta em suas mãos lhe concede a supremacia do poder sem limite, capaz de dar o

que não é seu, indicar onde a lei exige que se faça de forma diferente e entregar obras

e serviços públicos sem atender aos preceitos legais aplicáveis à espécie, pois estará

fadado ao descrédito público, além de sujeitar-se às sanções tanto administrativas como

penais.

Nesse caso é preciso vigilância constante sobre o ímprobo para não

permitir que lance mão do que não é seu para disponibilizar ao seu bel prazer.

A vigilância tem que ser de todos os seguimentos da sociedade e não só

dos órgãos institucionais, a quem constitucionalmente são garantidas tais atribuições.

Outro aspecto seria estender os tentáculos fiscalizatórios dos Tribunais de

Contas em direção ao início desses procedimentos, para que pudessem acompanhar,

passo a passo, todo o desenrolar e já ali demonstrar e desmontar os equívocos

cometidos e coibir os abusos.

As condutas vedadas aos administradores públicos deveriam ser mais

bem informadas e explicadas para as pessoas, mesmo através de distribuição de

cartilha, maciça propaganda em rádio, televisão e jornais, para que, por exemplo, se

saiba que um Prefeito não pode a seu bel prazer, por sua livre iniciativa criar pontos de

táxis indiscriminadamente e sem qualquer critério sair concedendo autonomias sem

observar o devido processo licitatório, pois ele não pode dispor desses serviços, pois

estaria ferindo interesse público.

É importante que o cidadão saiba não se pode privilegiar determinada

seita ou culto religioso com doações, fruto de aquisições com dinheiro público, pois

estará dispondo de bem público.

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Comumente se vêem administradores públicos fazendo cortesia com o

dinheiro público, por isso seria interessante que se informasse que não se pode

proceder à distribuição gratuita, a não ser que a lei anterior autorize, de ingressos em

teatros pertencentes ao poder público, privilegiando determinadas pessoas em

detrimento de toda uma sociedade que tem que pagar para ter acesso a essas casas

públicas, pois estará ferindo interesse público confiado a sua guarda e realização.

É terminantemente proibido privilegiar com a cessão de bens para

exploração de comércio, ou outra qualquer atividade, sem atender o disposto na Lei n°

8666/93; não se pode sem autorização legal e sem obedecer a Lei n° 8666/93, contratar

com dinheiro público, seguranças para shows patrocinados pelo poder público; não se

pode previamente dar, conceder, indicar, apontar ou beneficiar determinadas firmas,

com obras e serviços.

Não pode conceder anistia, isenção fiscal, descontos, parcelamentos de

dívidas tributárias, sem autorização legal; não pode usar da faculdade inerente ao cargo

exercido para desapropriar imóvel beneficiando determinada pessoa, parentes, amigos,

exercentes de cargos de confiança, servidores públicos.

Não pode dispor do dinheiro público para através de obras beneficiar

loteamento de um seu colaborador em cargo de confiança; não pode dar, ceder,

autorizar ou permitir o uso e a realização de bens e serviços públicos sem que a lei

autorize, muito menos usar dinheiro alheio “público” para presentear filhos e parentes

com aquisição de todos os equipamentos necessários à prática de determinado esporte

favorito dos mesmos; que não pode, enfim, fazer festas com dinheiro público, isso

mesmo, festa no sentido literal da palavra, abrangendo todo o aparato necessário, pois

aí estará promovendo uma farra à custa do povo.

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É preciso ficar claro que é a ordem legal que dispõe sobre esses

interesses e bens e não o administrador por sua livre disposição, deixando consignado

que o princípio da indisponibilidade está intrinsecamente ligado ao princípio da

legalidade.

No entanto, poderão ocorrer casos em que os princípios da moralidade, da

publicidade e da impessoalidade também se vejam desrespeitados, pois o administrador

ao dispor do bem, serviço ou interesse público o fez de forma abusiva e leviana

atendendo a interesses meramente pessoais não dando publicidade ao ato.

A bem da verdade, não adianta o cidadão comum ficar reclamando, é

preciso que use do seu direito de cidadão e fiscalize, fornecendo subsídios suficientes

aos órgãos competentes para instauração dos procedimentos cabíveis a cada espécie

de ilícito, a quem institucionalmente cumpre o dever de zelar pela observância dos

direitos da coletividade, pois aí teremos o cumprimento de seu verdadeiro papel no

contexto jurídico-social.

A não ser dessa forma, resta o direito de ação constitucionalmente

consagrado para o cidadão comum dirigir-se ao judiciário pleiteando o restabelecimento

do Estado de Direito.

3.2.6.3 - PRINCÍPIO DA AUTOTUTELA

O princípio da autotutela, sob exame, representa uma forma de ser

observado o princípio da legalidade, com a revisão e até revogação dos próprios atos

administrativos, restaurando com isso a sua situação de regularidade.

Tudo isso acontece porque não raro que a Administração Pública cometa

equívocos no exercício de sua atividade, dado a complexidade das tarefas sob sua

responsabilidade, daí que é previsível que ela mesma disponha de mecanismo próprio

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para sustar aqueles atos quando eivados de vícios que os tornem ilegais declarando

sua nulidade porque deles não se originam direitos, podendo revogá-los por motivos de

conveniência e oportunidade.

Porém, necessário ressaltar que devem ser respeitados os direitos

adquiridos e ressalvada em todos os casos a apreciação judicial.

Essa garantia de reconhecimento de autotutela foi consagrada,

inicialmente, nas clássicas súmulas nºs. 346 e 473 do STF que firmaram entendimentos

respectivamente:

A administração pública pode declarar a nulidade de seus próprios atos; A Administração pode anular seus próprios atos quando eivados de vícios que os tornem ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos e ressalvados em todos os casos, a apreciação judicial.51

A anulação é a declaração de invalidade de um ato administrativo ilegítimo

ou ilegal, feita pela própria Administração ou pelo Pode Judiciário. Baseia-se, portanto

em razões de legitimidade ou legalidade, diversamente da revogação, que se funda em

motivos de conveniência e oportunidade e, por isso mesmo, é privativa da

Administração. Desde que a Administração reconheça que praticou um ato contrário ao

direito vigente, cumpre-lhe anula-lo e quanto antes, para restabelecer a legalidade

administrativa (...), como preleciona Hely Lopes Meirelles.

Como se vê não se trata de uma mera faculdade da Administração

Pública, mas também um dever, uma obrigação, pois pode até de ofício proceder à

sustação do ato equivocado levado a termo.

Portanto existem dois momentos da atuação administrativa na aplicação

da autotutela, um quando aprecia o aspecto da legalidade do ato por ela praticado e que

de ofício procede a revisão do ato ilegal, outro, quando sob outro aspecto, ou seja, de

51BRASIL. STF. Súmulas nº 346 e 473. Disponível em: http://www.stf.gov.br. Acesso em: 01.07.2006.

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mérito, no qual reexamina atos anteriores quanto à conveniência e oportunidade de sua

manutenção ou desfazimento.

No primeiro exemplo, poderíamos citar a edição de um ato que afronta

disposição de ordem legal e o Administrador Público tem a obrigação/dever de proceder

a sua revisão adequando-o às normas legais, noutro quando a Administração examina

atos anteriores e decide sobre a conveniência e oportunidade de sua manutenção ou

opta pela sua revogação.

Tudo isso é feito em nome do interesse público e de modo a permitir que

os atos administrativos estejam em consonância com as normas legais.

No entanto, se ao praticar o ato o administrador público causou danos a

terceiros ou lesou a Administração, essas lesões serão passíveis de apreciação do

poder judiciário, respondendo o seu autor pela extensão dos danos e prejuízos

causados ao erário.

Na verdade o que se observa é que os princípios norteadores da

Administração Pública são todos direcionados para o fim de vigiar e policiar o

Administrador mal intencionado.

O Estado Social Democrático para conseguir os seus fins editou ainda a

Lei 9.784, de 29 de janeiro de 1999 que visou regular o processo administrativo no

âmbito da Administração Pública Federal e houve a preocupação de estabelecer um

prazo para que isso ocorresse, pois até então, não existia um prazo disciplinador para

essa providência.

O artigo 53 da mencionada lei assegurou a Administração o direito de

anular os seus próprios atos, mas por outro lado fez questão de respeitar o direito

adquirido, bem como ainda, no artigo seguinte ou seja, no 54, prescreveu que esse

direito da administração os atos administrativos favoráveis para os destinatários decai

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em cinco anos contados da data em que foram praticados, ressalvado os casos de má-

fé.

3.3 - PREVISÕES LEGAIS COM A FINALIDADE DE COIBIR AS PRATICAS DE

IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

3.3.1 - A LEI n. 4717/65 – LEI DA AÇÃO POPULAR

Além das leis mencionadas anteriormente, não se tem como não fazer

referência ao relevante papel desempenhado pela Lei n. 4.717/65, que disciplinou as

hipóteses de cabimento e a forma de utilização da Ação Popular cuja finalidade se

prende a anulação ou declaração de nulidade dos atos lesivos a administração pública.

Logo, ou melhor, dois anos depois foi promulgada a Constituição de 1967,

e pouco depois a Emenda Constitucional n. 01/69, que previam sobre o perdimento dos

bens por dano ao erário, porém continuaram com seu alcance direcionado para o

enriquecimento ilícito,

Segundo dizer que Hely Lopes Meirelles a Ação Popular é:

A via constitucional (art. 5, LXXXIII) posta à disposição de qualquer cidadão (eleitor) para obter a anulação de atos ou contratos – ou a eles equiparados – lesivos ao patrimônio público ou da entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa e ao meio ambiente natural.52

Não se pode negar que a Lei 4.717 de 29 de junho de 1965, conhecida

com a Lei da Ação Popular, trouxe avanços consideráveis, no trato do agente com a

administração pública, pois trouxe a possibilidade de qualquer pessoa controlar os atos

administrativos de seus governantes, objetivando a sua punição de acordo com a norma

legal expressa, protegendo, assim, os bens tutelados por ela e que são de interesses

52MEIRELLES, Helly Lopes, Op. cit., p.193-194.

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coletivos, citando-se entre eles, o meio ambiente, o patrimônio histórico e cultural e

amoralidade administrativa.

Os legitimados para a propositura da ação popular objetivam tão somente

a nulidade do ato, com a conseqüente reparação do dano causado ao erário.

Contudo, é necessário consignar que outros remédios jurídicos tendentes

a prevenção à pratica desses atos surgiram anos depois, destacando-se a Ação Civil

Pública em 1985 e com a Promulgação da Constituição de 1988, que tratou

especificamente da improbidade administrativa no art. 37, § 4.

O Art. 2º, da lei em comento considerou nulos os atos lesivos as entidades

mencionadas no art. 1ª, que se revestissem de incompetência, vício de forma,

ilegalidade do objeto, inexistência de motivos e desvio de finalidade.

Em seu parágrafo único conceituou os casos de nulidade determinando

que para que isso ocorra é preciso que se observe que quanto a incompetência os ato

não se inclui nas atribuições legais do agente que o praticou.

Quanto ao vício de forma este se dará quando for verificada a omissão ou

a observância completa ou irregular de formalidades que são indispensáveis à

existência ou a seriedade do ato.

A ilegalidade do ato se caracterizará quando o resultado do ato importa em

violação a lei, regulamento ou outro ato normativo.

A falta de motivação ou a inexistência de motivos se comprovará quando a

matéria de fato ou de direito em que se fundamenta o ato, é materialmente inexistente

ou juridicamente inadequada ao resultado obtido.

O desvio de finalidade se verifica quando o agente desvia a prática do ato

do fim, procura atingir fim diverso daquele previsto na regra de competência.

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3.3.2 - A LEI n. 7347/85 – LEI DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA

Ao fazer referência a Ação popular, dissemos que a mesma visa assegurar

interesse e direito coletivo, sendo que através dela, qualquer cidadão, que se encontre

no gozo de seus direitos políticos, poderá dela lançar mão.

Mas, a nossa Carta Constitucional, em seu art. 129, III, acolheu a Ação

Civil Pública, que já tinha previsão na Lei 7.347 de 29 de julho de l985, que é voltada

para a tutela dos direitos e interesses difusos e coletivos, de que é exemplo o patrimônio

público e social.

Nesse particular se faz necessário deixar registrado que se a Ação Civil

Pública se presta à tutela jurisdicional de qualquer direito e interesse difuso e coletivo

como se encontra da previsão da Lei 7.347/85, não se pode olvidar que a ação fundada

na Lei 8.429/92 pode também ser considerada como Ação Civil Pública, na medida em

que os atos de improbidade administrava nela definidos tem o seu alcance quanto aos

bens de natureza difusa, ou seja, o erário público e a moralidade administrativa,

considerados patrimônio público e social de todos.

Vê-se, pois, que não se constitui em impropriedade técnica, se trilharmos

por essa linha de raciocínio em considerar a Ação de Improbidade Administrativa uma

modalidade de Ação Civil Pública, obedecendo logicamente as normas processuais e

procedimentais inseridas na Lei 8.429/92. 53

A semelhança entre a Ação Civil Pública e a ação fundada na Lei

8.429/92, ocorre porque enquanto a primeira se presta a tutela jurisdicional de direito e

interesse difuso e coletivo a segunda embora civil, tem natureza jurídico-constitucional,

na media em que os atos de improbidade administrativa nela definidos, abrangem os

atos que importam em enriquecimento ilícito (art. 9.), que causam prejuízo ao erário (art.

53

Alves Rogério Pacheco – Improbidade Administrativa – 2ª ed. Rio de Janeiro Lumens Júri 2004 pg. 668.

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10) e que atentam contra os princípios da administração pública (11.) atingindo bens e

interesses de natureza difusa.

3.3.3 – ASPETOS PROCESSUAIS DA LEI DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

A abordagem dos aspectos processuais da lei de improbidade

administrativa não pode se restringir tão somente ao processo judicial tem-se como

obrigatória que tratar inicialmente do procedimento administrativo, que permite a

qualquer cidadão representar à autoridade administrativa competente para que seja

instaurada a investigação destinada a apurar a prática de ato de improbidade

administrativa como se infere do art. 14 da Lei nº. 8.429/92.

Pelo que se é dado a entender da mecânica procedimental do art. 15 da lei

de Improbidade Administrativa, com a instauração do processo administrativo a

comissão processante terá que dar ciência ao Tribunal de Contas e ao Ministério

Público, podendo estes, designar representante para acompanhar o procedimento

administrativo (parágrafo único do art. 15).

A representação pelo interessado pode se dar diretamente ao Ministério

Público, bem como este pode de ofício requisitar instauração de inquérito policial ou

instaurar procedimento administrativo ou até mesmo Inquérito Civil Público.

Para a instauração do procedimento administrativo não precisa que o

interessado esteja legitimado, pois é evidente que qualquer pessoa que tendo

conhecimento da prática de um ilícito contra o erário, pode e deve noticiar o fato a

autoridade competente para que esta instaure os procedimentos respectivos tendentes

a apuração dos fatos e da adoção da medida judicial.

O procedimento judicial, ou seja, os aspectos com relação ao processo

que envolve a Lei de Improbidade Administrativa podem ser tratados indicando com

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pontos referenciais a medida cautelar de seqüestro de bens do responsável pela lesão

ao erário ou enriquecimento ilícito, medida cautelar de bloqueio de bens, contas

bancárias e aplicações financeiras mantidas no exterior.

Na hipótese de enriquecimento ilícito ou lesão ao erário, a ação principal

terá o rito ordinário, sendo que a pessoa jurídica interessada pode propor a ação ou

figurar como litisconsorte do Ministério Público.

O processo veda o acordo, a transação e a composição, sendo que o

Ministério Público pode funcionar no processo como fiscal ou propor ele próprio a ação,

como parte.

A Lei veda expressamente em seu artigo 17 § 1º da Lei 8.429/92, qualquer

transação, mesmo na fase de inquérito, isso dada da indisponibilidade dos interesses

coletivos, muito embora quando se trate de termo de ajustamento de conduta existe que

acene com tal possibilidade, entre eles Rogério Pacheco Alves, sob o argumento de que

esse procedimento é permitido com relação aos direitos difusos.

A Fazenda Pública promoverá todas as ações necessárias ao

ressarcimento do dano causado ao erário e a procedência da ação determinará o

pagamento pessoa jurídica prejudicada pela prática do ilícito.

3.4 - FORO ESPECIAL POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO E A COMPETÊNCIA

ORIGINÁRIA

Até recentemente em razão da edição da Lei 10629/2002, travou-se uma

grande discussão a respeito de qual seria o foro de competência em razão da

prerrogativa de função.

A regra de competência para o caso concreto demanda um raciocínio a ser

feito por exclusão com a indagação se é caso de Ação de Improbidade Administrativa de

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competência originária dos Tribunais, como ainda, se saber se estaria a prática de tais

ilícitos no rol de competência das chamadas justiças especiais (Justiça do Trabalho,

Eleitoral e Militar), ou se trataria de competência das Justiças Estaduais ou Federais.

Pois bem afastada a competência da Justiça Federal, surge então a

competência da Justiça Estadual, bastando para isso recorrer Lei de Organização

Judiciária para se saber a regra ali inserta.

Assim deve pelo menos, inicialmente, se trabalhar a idéia para se buscar a

competência.

Entretanto, a discussão tornou-se polemica e as decisões prevalecentes

até então eram de que as normas da Lei nº. 10.628/2002 que previa prerrogativa de foro

por função não deveriam ser aplicadas quando se tratasse da Lei de Improbidade

Administrativa.

É fato concreto que a nossa Constituição Federal determina em vários de

seus dispositivos regras que endereçam aos Tribunais a competência para

conhecimento de ações que figurem como demandados determinados ocupantes de

cargos públicos, o que é denominado de foro de prerrogativa de função.

Assim é que o Presidente da República, os Deputados Federais, os

Senadores, os Ministros de Estado e o Procurador da República, pelo art. 102. I, “b” da

Carta Constitucional vigente são processados e julgados pelo STF.

Os Governadores, Desembargadores dos Tribunais de Justiça (art. 105, I)

pelo Superior Tribunal de Justiça.

Os Juízes de Direito e Promotores de Justiça, pelos Tribunais de Justiça

(art. 96, III), o mesmo acontecendo quando se tratar de conduta praticada por Prefeito

(art. 29, X).

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Entretanto, quando se trata de processo com base na Lei nº. 8429/92,

essa questão se nos parece superada, pois que decisão do Supremo Tribunal Federal

acolheu Ação Direta de Inconstitucionalidade sob o nº. 2797, tendo como relator o Min.

Sepúlveda Pertence e requerente a Associação Nacional dos Membros do Ministério

Público – CONMP, como requeridos o Presidente da República e o Congresso Nacional,

e considerou procedente a mesma para declarar a inconstitucionalidade da Lei nº. 10.

628, de 24 de dezembro de 2002, que acresceu os §§ 1º e 2º do Código de Processo

Penal. 54

Necessário consignar que no campo da Lei 8.429/92, que não se cogita

aplicação de sanção penal, as orientações emanadas das decisões tanto do STF como

do STJ, é que a prática de atos caracterizadores de improbidade administrativa por tais

autoridades, a competência para o seu processo e julgamento será do magistrado de

primeiro grau, pois são eles os juízes naturais de tais causas, não se cogitando de

competência originária de tribunal para julgá-la.

3.5 - AÇÃO CIVIL PÚBLICA X AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

O tema em destaque tem suscitado discussão sobre o cabimento ou não

da Ação Civil Pública ou Ação Popular quando se trata de improbidade administrativa,

sendo mesmo possível encontrar na doutrina divergência de posicionamento.

Há os que entendem que pela amplitude que se pretendeu dar para

garantia da tutela do interesse público, pouco importa o nome que se queira dar a ação,

o que importa é o seu manejo pelos legitimados na defesa do patrimônio público. Entre

os que se filiam a essa corrente destaca-se Rogério Pacheco Alves.55

54

Ação Direta de Inconstitucionalidade sob o nº. 2797, www.stf.gov.br, acesso em 10/10/2006. 55GARCIA, Emerson; ALVES, Rogério Pacheco. Improbidade administrativa. 2 ed. Rio de Janeiro: Lúmen

Júris, 2004, p. 668.

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No entanto existem outras vertentes que defendem que quando houver

dano ao erário, não se mostrará possível o ajuizamento de Ação Popular.

Nesse caso o entendimento é no sentido de que o objeto da Ação de

Improbidade é mais amplo do que o da Ação Civil Pública.

Segundo essa corrente, a qual se filia Marcelo Figueiredo, ao comentar o

art. 17 da Lei 8.429/92, a Ação Civil Pública poderá ter por objeto a condenação em

dinheiro ou o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer. Também na Ação

Popular a sentença procedente julgará a invalidade do ato, condenará em perdas e

danos os responsáveis e beneficiários do ato (art. 11 da Lei 4.717/65).56

Acrescentam que o objeto na Ação de Improbidade Administrativa se

mostra mais amplo, razão porque existindo ato de improbidade administrativa, os

legitimados devem propor Ação de Improbidade Administrativa e não outras.

Do mesmo modo que não se impede a propositura da Ação Civil Pública e

Ação Popular a título subsidiário como autoriza o art. 17, § 2º. da Lei n. 8429/92.

Em nosso entendimento temos que se mostram distintos os procedimentos

das duas Ações, isso porque na Ação de Improbidade Administrativa o que se pretende

é a imposição de sanções por atos de tipificação específica, sendo que seu objeto

imediato é a declaração da existência de um ato ímprobo e o objeto mediato é o

ressarcimento do dano, do perdimento de bens, o pagamento de multa civil, a perda da

função pública, a suspensão dos direitos políticos ou, ainda, a proibição de contratar e

de receber benefícios ou incentivos.

A Ação Civil Pública tem procedimento especial, cujo objeto imediato é o

direito a proteção de valores específicos como o meio ambiente, os direitos do

consumidor, a integridade do patrimônio cultural e natural, outros interesses difusos e

56FIGUEIREDO, Marcelo. Probidade Administrativa. 4 ed. São Paulo: Malheiros, 2000, p. 92.

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coletivos, bem como a ordem econômica, enquanto o seu objeto mediato será a

reparação em pecúnia, em favor de um fundo especial, ou a obrigação de fazer ou não

fazer.

Podemos enumerar ainda algumas distinções entre as duas ações, a

saber: - admite-se na Ação Civil Pública (Lei nº.7347, de 1985, art. 5º § 6º), transação

mediante compromisso de ajustamento, o que não ocorre com a Ação de

responsabilidade por ato de improbidade administrativa (art. 17 § 1º da Lei nº.8429 de

1992), que não permite transação, acordo ou conciliação.

A Ação Civil Pública comporta a concessão ampla de medida liminar no

âmbito da relação jurídica principal como se infere do art. 12 da Lei nº. 7347, o que não

acontece com na Ação de Improbidade Administrativa, que nesse caso tem previsão

para as medias cautelatórias como se constata no art. 16 da lei específica.

Tratando-se de Ação Civil Pública, o juiz pode conceder efeito suspensivo

aos recursos que não tenham previsão legal para tanto, (art. 14 da Lei específica), o

mesmo não ocorre com os recursos decorrentes da Ação de Improbidade

Administrativa.

É de se observar ainda, que na Ação Civil Pública não se tem

adiantamento de custas, emolumentos, honorários periciais, nem condenação da

associação autora em honorários advocatícios, custas e despesas processuais, sendo

que esse regramento não existe para os legitimados da Ação de Improbidade

Administrativa regida pela Lei 8.429/92.

É preciso registrar que não se retira do Ministério Público legitimidade para

o ajuizamento de Ação Civil Pública com a finalidade de punição dos responsáveis pelo

cometimento de atos de improbidade administrativa.

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A legitimidade do Ministério Público advém de previsão expressa do inciso

III do art. 129 da Carta Constitucional vigente e encontra respaldo no art. 17 da Lei nº.

8429, de 1992.

É de se por em realce que a via adequada para tal objetivo não é a ação

regulada pela Lei nº. 7347, de 1985, mas sim a ação prevista pela Lei 8.429/92, nos

seus arts. 17 e 18, que é especifica para os atos de improbidade administrativa.

Importante registro que se faz é que não existe qualquer óbice a que a

Ação de Improbidade Administrativa possa ser denominada também de “Ação Civil

Pública”, pois não se vê nenhum prejuízo nisso. Porém, o que não se pode admitir é a

comunhão numa mesma lide de dois procedimentos especiais diferentes.

Com relação aos procedimentos especiais segundo Clóvis do Couto e

Silva: “Qualifica-se o procedimento como especial porque, além dos pressupostos

processuais a todo e qualquer processo, a lei instituiu, para estes, outros requisitos, que

lhe são específicos. Por força desses requisitos próprios, não se pode propor uma ação

que tenha rito especial por outra, como, por exemplo, uma consignação em lugar de

uma de prestação de contas. Esses pressupostos específicos, tanto quanto os gerais,

são verificáveis ex officio pelo juiz”.57

3.6 - A CONSTITUCIONALIDADE DA LEI DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

Embora não seja esse o objetivo desse trabalho, não se pode afastar de

algumas questões, especialmente quando se está tratando do tema que tem por objeto

uma Ação especial de natureza constitucional, assim é que doutrinadores como Toshio

Mukai, já expôs seu entendimento de que: “inexiste no texto constitucional, dentre as

disposições que tratam da distribuição de competências dos entes federados, mormente

57SILVA, Clóvis do Couto e. Comentários ao Código de Processo Civil. São Paulo: Revista dos Tribunais,

1998, p.1.

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o art. 24 (que dispõe sobre a competência concorrente), nenhuma autorização à União

que lhe outorgue competência legislativa em termo de normas gerais sobre o assunto

(improbidade administrativa). Aliás nem poderia mesmo existir, pois, se se trata de impor

sanções aos funcionários e agentes da Administração, a matéria cai inteiramente na

competência legislativa em tema de Direito Administrativo, e, portanto, na competência

privativa de cada ente político. Em suma, se o funcionário é federal somente lei federal

pode impor-lhe sanções pelo seu comportamento irregular; se o funcionário é municipal

somente lei administrativa do Município ao qual está ligado pode impor-lhe sanções”.58

O referido autor ainda pondera:

A questão é séria e merece ser acolhida, dado que qualquer sanção administrativa prevista em lei federal, a ser imposta ao funcionário estadual ou municipal, se aplicada por agente, ainda que competente, ou mesmo pelo juiz, contamina esse ato de absoluta e irrefragável inconstitucionalidade.59

Aprofundando-se ainda em suas considerações, o jurista referenciado já

se posiciona no sentido de que o artigo 1º, da Lei 8.429/92, já aponta na direção de que

qualquer ato de improbidade praticado contra a administração direta, indireta ou

fundacional de qualquer um dos três Poderes, por um agente público, servidor ou não,

estará sob sua égide.

Segundo ainda Toshio Mukay, a Lei de Improbidade administrativa não

respeita o Pacto Federativo previsto na Carta Constitucional. 60

3.6.1 - LEGITIMIDADE PARA A AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

Como já vimos em tópicos anteriores a Ação Popular, em 1965 deu início a

garantia de um importante instrumento de proteção aos direitos difusos, legitimando o 58MUKAI, Toshio. A Inconstitucionalidade da Lei de Improbidade Administrativa. Lei Federal 8429/92. São

Paulo: BDA, 1999, p. 720-722. 59MUKAI, Toshio. Op. cit., loc. cit. 60Ibidem, loc. cit.

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cidadão para o seu exercício, mas voltava-se originariamente para resguardar o

patrimônio público.

Na atualidade, com atual Carta Política vigente, em seu artigo 5º. Inc.

LXXIII se previu a tutela do meio ambiente e da moralidade administrativa.

A Ação Civil Pública veio com a finalidade de instrumentalizar mais

adequadamente a proteção dos direitos difusos e por ela se conferiu legitimidade ao

Ministério Público, a União, aos Estados, aos Municípios, e às autarquias, empresas

públicas, fundações e associações (art. 5º da Lei nº. 7347/85).

Pode-se observar que com advento da Lei 7.347/85, houve a adoção de

uma modalidade de legitimação ativa concorrente e extraordinária tendo em conta que

nenhuma das pessoas mencionadas no art. 5º participa da relação jurídica de direito

material.

A Lei nº. 8429/92 – especificamente a Lei de Improbidade Administrativa

em seu artigo 17 indica os legitimados ativos, demonstrando que a ação será proposta

pelo Ministério Público ou pela pessoa Jurídica interessada, dentro de trinta dias da

efetivação da medida cautelar.

Essa regra deve ser complementada pela norma reguladora inserta no § 2º

do mesmo art. 17, que autoriza a Fazenda Pública a promover as ações necessárias à

complementação do ressarcimento do patrimônio público.

Os legitimados a princípio seriam aquelas mencionadas no art. 1º da

mencionada lei, que seria a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, por

sua administração direta e indireta ou fundacional.

É preciso esclarecer que a legitimação nesse caso será extraordinária,

pois a pessoa jurídica de direito público estará agindo como substituto processual uma

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vez que, mesmo estando defendendo interesse próprio para preservação do patrimônio,

atuará essencialmente, na defesa do erário, do qual é detentora toda a coletividade.

Quanto às entidades aludidas no parágrafo único do referido artigo e que

recebem subvenção, benefício ou incentivo, fiscal ou creditício, de órgão público bem

como aquelas para cuja criação ou custeio o erário tenha concorrido ou concorra com

menos de cinqüenta por cento do patrimônio ou da receita anual, não possuem

legitimidade extraordinária para o ajuizamento de Ação de Improbidade, isso porque a

lei não tem o caráter de proteger direito individual ou patrimônio privado de entidades,

mas sim o uso irregular de recursos públicos nela investido, desse modo, a legitimação

para punição será atribuída ao Ministério Público ou mesmo a Administração Pública

Direta, indireta ou fundacional que haja incorporado, criado, custeado ou incentivado a

entidade privada.

3.6.2 - LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO

A norma constitucional, especialmente dos arts. 127 e 129, inc. III da

Constituição Federal consubstancia a legitimidade do Ministério Público decorrente do

art. 17 da Lei nº. 8.429/92.

No respeitante as normas infraconstitucionais podem-se destacar a Lei nº.

8625/93, art. 25, inc. IV e na Lei Complementar 75/93 e porque não ressaltar a própria

lei da Ação Civil Pública, cujo agir precípuo está na defesa do patrimônio público, ainda

que, restritamente se entenda na acepção de “erário”.

De tudo isso é preciso entender que o Ministério Público além da proteção

ao erário está ainda legitimado para guarda dos princípios da administração pública,

estampados no art. 37 da Carta Magna, cuja transgressão encontra-se na base de todas

as condutas de improbidade.

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Tal agir, o atuar do Ministério Público não é fincado em interesses

meramente materiais e pecuniários, mas sim pela missão constitucional de zelar,

ladeado por outras instituições, pelos fundamentos do Estado Democrático de Direito.

Pelo que se percebe, via de regra, o autor da Ação de Improbidade será o

Ministério Público investido em suas funções institucionais, ou dos indicados, lesados e

que se encontram elencados no artigo 1º da lei, como legitimados, para figurarem no

pólo ativo da relação processual.

3.6.3 - O MINISTÉRIO PÚBLICO E O LITISCONSÓRCIO DOS CO-LEGITIMADOS

Destaca-se sobremodo que a defesa do interesse público, mas

precisamente da reparação do dano ao patrimônio público é um dever/obrigação dos

legitimados, daí entender-se que podem os co-legitimados ou autuarem isoladamente

ou optar pela formação de um litisconsórcio no pólo ativo.

O principio da obrigatoriedade da Ação de Improbidade Administrativa

obriga o legitimado concorrente a buscar a responsabilidade de todos aqueles que

tenham praticado ou concorrido para a prática do ato de improbidade, do mesmo modo,

que vai alcançar todos os fatos, objeto de apuração, não sendo permitido ao seu autor

escolher os fatos, entendo que uns são mais graves que os outros.

Entretanto, havendo omissão, a solução que se nos parece acertada está

no disposto no § 3º do art. 17 da Lei 8.429/92, que remete para a Ação Popular, na qual

a pessoa jurídica de direito público ou de direito privado pode assumir a posição que

entenda mais acertada na Ação de Improbidade.

Segundo preceitua o art. 17 em seu § 3º: “No caso de a ação principal ter

sido proposta pelo Ministério Público, aplica-se no que couber, o disposto no § 3º do art.

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6º da Lei 4.717, de 29 de junho de 1965 (Redação dada pela Lei nº 9.366, de

16.12.1996).

Nesse caso, pode-se constatar que todas as vezes que for verificada uma

omissão do Ministério Público, poderão os co-legitimados proceder ao seu aditamento

com o objetivo de suprir a falta, para alcançar a total reparação do dano ao patrimônio

público, aplicando-se desse modo, a respectiva sanção a todos os que tenham de

alguma forma obrado contra a legalidade, concorrendo para o cometimento do ato de

improbidade administrativa.61

3.6.4 - O MINISTÉRIO PÚBLICO COMO CUSTOS LEGIS

A intervenção do Ministério Público se faz obrigatória, mesmo quando não

figure como autor da Ação de Improbidade Administrativa, sendo que nesse caso sua

atuação será como custos legis zelando pela justa e rápida composição da lide.

A intervenção ministerial tem seu fundamento no art. 17, § 4º da Lei

8.429/92, funcionando como fiscal da lei, tendo vista do processo depois das partes,

devendo ser intimado pessoalmente de todos os atos do processo, podendo produzir

provas e requerer medidas ou diligências que se fizerem necessárias para se chegar a

verdade.

Como já dito anteriormente a intervenção do órgão ministerial na Ação de

Improbidade Administrativa é obrigatória e tal omissão significa nulidade absoluta,

podendo ser declarada de ofício pelo juiz.

3.6.5 - O ADVOGADO PÚBLICO COMO LEGITIMADO ATIVO

61 Alves Rogério Pacheco – Improbidade Administrativa – 2ª ed. Rio de Janeiro Lumens Júri – 2004 pg. 704).

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Outro aspecto que merece ser apreciado neste trabalho diz respeito a

possibilidade ou não dos advogados públicos estarem legitimados para figurarem como

agentes ativos no ajuizamento da Ação de Improbidade Administrativa.

Antes de abordar o tema, se teria primeiramente que saber da existência

ou não de autonomia da administração e desses agentes perante o Governo, pois não

pode pairar qualquer dúvida que sem esse requisito da autonomia, não teríamos como

alcançar o resultado pretendido, muito embora, uma vez proposta a ação a intervenção

obrigatória do órgão ministerial público, garanta a que o processo chegará até seu final,

independente do resultado que vier a ser alcançado.

Entretanto, não se pode olvidar que essa atuação só terá razão de ser

devidamente fortalecida, quando estiverem garantidos a essas instituições destinadas a

representação judicial e a consultoria jurídica das unidades administrativas, autonomia

funcional, administrativa e financeira, possibilitando uma atuação ativa e presente do

próprio Estado na defesa do erário.

Não se pode negar que um órgão público, através de seus advogados

públicos, sem autonomia, não terá a condição em virtude do uso indevido do poder

hierárquico de se opor quando estiverem em jogo interesses políticos.

Feito esse registro temos que como órgãos que representam as unidades

administrativas ativa e passivamente em juízo, com a outorga de representação que

lhes é conferida pela Constituição Federal, pelo (art. 12 do CPC), pelas Constituições

Estaduais pelas respectivas Leis Orgânicas, se terão, ressalvada a questão da

autonomia, também como legitimados os advogados públicos para a propositura da

Ação de Improbidade Administrativa, defendendo o erário para o qual exercem a

respectiva função.

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3.6.6 - SUJEITOS PASSIVOS E ATIVOS NA AÇÃO DE IMPROBIDADE

ADMINISTRATIVA

A Lei de Improbidade Administrativa define em seus artigos 1º, 2º, 3º quem

são os sujeitos ativos e passivos do ato de improbidade administrativa.

3.6.6.1 - Sujeito Passivo

A identificação desses agentes que podem ser sujeitos passivos na Ação

de Improbidade administrativa é um ponto importante a ser destacado, pois a lei visa

punir as suas condutas delituosas que causam prejuízos e danos ao erário.

Segundo disposição expressa estabelecida na Lei nº. 8.429/92: “Os atos

de improbidade praticados por qualquer agente público, servidor ou não contra a

administração direta, indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos

Estados, do Distrito Federal, dos Municípios, de Território, de empresa incorporada ao

patrimônio público ou de entidade cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou

concorra com mais de cinqüenta por cento do patrimônio ou da renda anual, serão

punidos na forma desta Lei”.62

O parágrafo único do mencionado artigo complementa que:

Estão também sujeitos às penalidade desta Lei os atos de Improbidade praticados contra o patrimônio de entidades que receba subvenção, benefício ou incentivo, fiscal ou creditício, de órgão público bem como daquelas para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou concorra com menos de 50% (cinqüenta por cento) do patrimônio ou da receita anual, limitando-se, nestes casos, a sanção patrimonial à repercussão do ilícito sobre a contribuição aos cofres públicos.63

Os réus, ou os agentes passivos serão normalmente os agentes públicos

pela prática do ato de improbidade administrativa.

62BRASIL.LEI nº 8429, de 2 de junho de 1992. Disponível em: www.planalto.gov.br. Acesso em:

01.07.2006. 63Ibidem.

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Segundo entendimento do STJ em recente decisão, os particulares no

exercício de funções públicas delegadas também são caracterizados como agentes

públicos para efeito da Lei nº. 8429/92, bem como, de igual modo os seus atos são

caracterizados como atos de autoridade para efeitos de cabimento de mandado de

segurança.

O caso apreciado se tratava de hospitais particulares conveniados ao SUS

– Sistema Único de Saúde -. Segundo o Min. Luiz Fux relator do Resp. nº. 416.329-RS,

“a denominação de ‘agentes políticos’ refere-se genérica e indistintamente a todos os

sujeitos que servem ao Poder Público, considerando-se um ‘gênero’ do qual são

espécies os agentes políticos, administrativos, honoríficos e delegados, o que faz com

que os sujeitos ativos dos atos de improbidade administrativa não sejam apenas os

servidores públicos, mas também quaisquer outras pessoas que estejam de algum

modo vinculadas ao Poder Público”.64

Sob a ótica da definição legislativa, os sujeitos ativos para efeito da Lei de

Improbidade Administrativa têm uma amplitude maior, fazendo com que surja a

necessidade de uma interpretação teórica que venha a permitir o alcance na

responsabilização na aplicação do dispositivo legal.

Caminhando então nessa direção, são sujeitos passivos as administrações

diretas e indiretas (autarquias, sociedade de economia mista e fundações); a empresa

incorporada ao patrimônio público; entidade para cuja criação ou custeio o erário haja

concorrido ou concorra com mais de 50% do patrimônio ou da renda anual; entidade

para cuja criação ou custeio o erário tenha concorrido ou concorra com menos de 50%

do patrimônio ou da receita anual; entidade que receba subvenção, benefício ou

incentivo, fiscal ou creditício, de órgão público.

64BRASIL. STJ: Hospitais Particulares conveniados ao SUS também são considerados agentes públicos.

Disponível em: www.stj.gov.br. Acesso em: 01.07.2006.

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É preciso que se tenha em mente que as sociedades de economia mista e

as empresas públicas, ao fazerem parte da administração indireta, assim como as

entidades para cuja criação o Tesouro tenha contribuído ou contribua com menos de

cinqüenta por cento do patrimônio ou da receita anual, não estão excluídas do braço da

lei. Oportuno, no entanto, esclarecer que em tais casos a sanção patrimonial limitar-se-á

aos prejuízos causados aos cofres públicos.

A Lei sujeita ainda as suas penalidades os atos de improbidade

administrativa praticados contra o patrimônio de entidades que recebam subvenção,

benefício ou incentivo fiscal ou creditício de órgão público.

3.6.6.2 - Sujeito Ativo

O sujeito ativo do ato de improbidade poderá ser qualquer agente público

(art.2º da Lei 8429/92), ou mesmo, todo aquele, que exercendo mesmo que

transitoriamente, ou sem remuneração, por eleição, contratação, designação ou

qualquer outra forma de vínculo ou investidura, mandato, cargo ou função nas entidades

indicadas no art. 1º da Lei de Improbidade.

Alcança ainda todo aquele que não sendo agente público, concorra ou

induza para a prática do ato de improbidade ou dele se beneficie, sob qualquer forma

direta ou indireta.

Um dado interessante e que precisa ficar registrado é quanto a definição

dos sujeitos ativos, porque isso ocorre com o reconhecimento dos sujeitos passivos,

pois é agente público tudo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem

remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma

de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego, ou função nas entidades

mencionadas no art. 1º e parágrafo único da Lei nº. 8.429/92.

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Outro ponto importante e que precisa ser ressaltado diz respeito ao

empresariado privado, que mesmo estando nessa condição, podem as respectivas

empresas serem enquadradas como possíveis sujeitos passivos, podem ser reputados

agentes públicos, ao efeito da lei de improbidade, sendo, inclusive, passíveis de

afastamento liminar, no curso do processo, para garantia de instrução como se infere do

art. 20, parágrafo único da Lei de Improbidade.

Desse modo percebe-se com clareza que pode ser sujeito ativo do ato de

improbidade, todo aquele que estiver enquadrado no art. 1º e seu parágrafo único da Lei

nº. 8429/92, o qual vincula o art. 2º da mesma lei.

É ainda, considerado para efeito da lei sujeito ativo aquele que, mesmo

não sendo agente público, induza ou concorra para a prática de ato de improbidade ou

dele se beneficie de forma direta ou indireta.

Nesse caso não se aplicará a perda da função pública, pois esse sujeito

não a tem.

A gama de pessoas sujeita a responsabilização por ato de improbidade

administrativa é muito grande, tornando-se por isso mesmo obrigatório que se use do

bem sendo e analise o elemento subjetivo do agente na hora da imputação da conduta

ilícita.

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CAPÍTULO 4 - A DISCUSSÃO NACIONAL E INTERNACIONAL SOBRE

IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

A discussão sobre a corrupção pode ser sentida como uma preocupação

tanto no cenário nacional, como no internacional, assim é que ao completar dez anos da

lei de improbidade administrativa, alguns autores pátrios, dentre eles, André Carvalho

Ramos em seu trabalho sobre o tema com o título “O combate Internacional à

Corrupção e a Lei da Improbidade” conclamou para que se fizesse uma reflexão sobre a

inserção de nossa lei num contexto mais amplo de combate internacional a corrupção e

práticas administrativas ímprobas, pretendendo demonstrar com isso que a tutela da

probidade administrativa não estava mais restrita aos diplomas normativos internos,

entre os quais a Lei de Improbidade Administrativa, que sem dúvida se constitui num

marco.65

Nenhuma dúvida pode pairar que essa preocupação de combater a

corrupção, especialmente no âmbito do organismo estatal tem aumentado sobremodo,

pois se verifica além de alguns tratados internacionais sobre o tema, há ainda, uma

incessante produção de estudos e análises, bem como de resoluções de importantes

órgãos das Nações Unidas, como o Alto Comissariado para Direitos Humanos e

também a Comissão dos Direitos Humanos.

65RAMOS, André Carvalho. Op. cit., loc. cit.

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Por isso que interessa aos estudiosos brasileiros que seja inserida a Lei de

Improbidade Administrativa na estrutura da normatização internacional em

desenvolvimento, como uma maneira de comparar os institutos e através desse estudo

comparativo recomendar o aprimoramento quer das normas internas, quer nas

internacionais.

Por outro lado, existe ainda um outro interesse, que é o que reside no fato

de que a tutela internacional de probidade hoje é influenciada amplamente pelos

diplomas internacionais de direitos humanos e estipulada em vasta escala pelos órgãos

internacionais de proteção aos direitos humanos, que encontram na corrupção e na

improbidade em sentido maior, um dos fatores de impedem a implementação dos

direitos sociais.

Assim é que o autor citado acima afirma que é a partir dessa idéia que

surge o conceito do “Good Governance e do direito de todos a uma administração

proba, que bem utilize os escassos recursos da sociedade para o bem comum e não

para obtenção de vantagens e privilégios de uma minoria”.66

Outro fato apontado como interesse que conduz ao estudo sobre o

assunto sob enfoque vem a ser a crescente cooperação no combate a corrupção, por

isso que se pode constatar que nos diplomas internacionais estão previstas a

cooperação e a assistência jurídica para dar combate a tal prática, determinando

inclusive, não ser cabível a oposição de sigilo bancário em casos de investigação e

processos de crimes de corrupção, ainda se estabelece o dever de extraditar ou

acusados ou julgar.

De outro modo, pode-se verificar que é incipiente o regramento

internacional sobre sanções não penais ao sujeito ativo de atos de corrupção e

66RAMOS, André Carvalho. Op. cit., loc. cit.

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improbidade, o que nos leva a necessidade de ver o governo brasileiro modificar tal

cenário.

Observa-se que a abordagem do tema tem obrigatoriamente que passar

pelo estudo de dois tratados internacionais, especialmente porque atinge diretamente o

Brasil, que são a Convenção Interamericana contra a corrupção elaborada sob os

auspícios da Organização dos Estados Americanos e a Convenção Internacional contra

a corrupção de funcionários públicos estrangeiros em transações comerciais

internacionais, demonstrando à integração da lei de improbidade administrativa com os

atuais parâmetros de combate internacional a corrupção.

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CAPÍTULO 5 - A TUTELA DA IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA COMO

INSTRUMENTO DE EFETIVAÇÃO DE DIREITOS HUMANOS

A nossa Constituição estruturou em seu preâmbulo, o Estado Democrático

de Direito, com o objetivo de “assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais”

como um dos “valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem

preconceitos”.

Nesse mesmo diapasão, figura, em seu artigo 1º, entre os fundamentos

desse Estado Democrático de Direito, a dignidade da pessoa humana, que então ocupa

o topo da ordem jurídica brasileira e se concretiza na previsão da proteção de direitos

humanos em diversos de seus dispositivos, sem excluir ainda, aqueles previstos em

tratados internacionais, entendo-se por direitos humanos ou direitos fundamentais

fundados na percepção de Hesse, como um conjunto mínimo de direitos necessário

para assegurar uma vida de ser humano baseada na liberdade e na dignidade.

Segundo Dallari:

[...] direitos humanos representam uma forma abreviada de mencionar os direitos fundamentais da pessoa humana. Esses direitos são considerados fundamentais porque sem eles a pessoa humana não consegue existir ou não é capaz de se desenvolver e de participar plenamente da vida.67

Nesse sentido Canotilho preleciona que a interpretação da Constituição

pré-compreende uma teoria de direitos fundamentais.68

67ABREU, Dallari Dalmo de. Direitos humanos e cidadania. São Paulo: Moderna, 1998. p. 07. 68CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito constitucional. Coimbra: Almedina, 1998, p. 363.

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Desse modo a tutela constitucional e internacional de probidade

administrativa não foge desse entendimento, pois não há como entender normas

constitucionais e legais referentes à defesa do patrimônio e moralidade pública sem a

premissa de que tal proteção é essencial para assegurar a dignidade da pessoa

humana.

Tudo isso visa combater as práticas de corrupção, para que o homem

possa viver uma vida digna, com satisfação de suas necessidades materiais e

espirituais básicas e por isso os agentes devem atuar com probidade, que não é só

parra evitar o enriquecimento ilícito e os desvios, mas também para assegurar uma

aplicação correta dos escassos recursos públicos.

Portanto chega-se num ponto em que a conclusão é de que a tutela da

probidade administrativa não é mais um imperativo meramente nacional, mas sim

internacional, que busca de forma incessante coibir as práticas de corrupção, com a

implementação de direitos humanos.

5.1 - O INÍCIO DO COMBATE INTERNACIONAL À CORRUPÇÃO.

Extrai-se com nitidez dos estudos realizados que o desenvolvimento de

normas internacionais de combate a corrupção, inicialmente teve impulso pela crescente

preocupação com as práticas de concorrência desleal.

São citados como exemplo os estudos realizados na década de 70, da

Securities and Exchange Commission dos Estados Unidos da América sobre subornos

pagos a funcionários públicos estrangeiros por empresas norte-americanas para

obtenção de vantagem competitiva sobre as empresas rivais.

Em meio ao clamor que exigia moralidade pós-Watergate, em prol do

fortalecimento de praticas e empresariais sérias e éticas, os Estados Unidos então na

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época do governo Carter, editaram o Foreign Corrupt Pratices Act, que se tornou

célebre ao ser aplicado no escândalo LOCHEED-TAKLA, de 1989, quando veio à tona a

propina de 600 mil dólares paga pela empresa americana LOKHEED a uma autoridade

egípcia para ser vencedora de uma licitação. A empresa foi condenada a pagar uma

multa de 25 milhões de dólares, que representava o dobro do potencial ganho que a

empresa esperava obter.69

Esse impulso que André de Carvalho Ramos denomina de pró-

competição leal, motivou as primeiras investigações de corrupção, mesmo quando

realizadas fora das fronteiras americanas e exigiu que o combate à corrupção fosse

incluído na pauta das organizações internacionais, pois o que se objetivava é que

houvesse uma comunhão de esforços dos Estados através de compromissos

internacionais, pois as ações isoladas não alcançariam êxito e seria por certo, mesmo,

interrompida, caso as práticas de corrupção como formas de competição por mercados

e ganhos tivessem seguidores nos Estados concorrentes.70

Em 1984 a Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico

(OCDE) elaborou o seu Antibribery Recommendation, que entre outros itens, solicitava

aos Estados-membros da OCDE que envidassem todos os esforços na coibição de

subornos, práticas de corrupção que favorecessem ilegalmente determinada empresa

ou negócio.

Em 1986, a OCDE reiterou apelo editando nova recomendação que se

propunha a estimular medidas que através de leis internas que proibissem a dedução

tributária, como uma espécie de “despesa operacional” das propinas pagas pelas

empresas em atividade no exterior.

69RAMOS, André Carvalho. Op. cit., p. 78. 70Ibidem, loc. cit.

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De forma semelhante foram editadas Resoluções pela União Européia,

que com base no Tratado de Maastricht, que buscou coibir os casos de corrupção no

qual participam funcionários dos Estados ou mesmo da própria União Européia.

Do mesmo modo, a ONU tem elaborado uma série de informes e

resoluções contra a corrupção, podendo-se ser citada entre outras, a Resolução 51/59

da Assembléia Geral, sobre ações contra a corrupção, que tem anexo o chamado

Código Internacional de Conduta para os Titulares de Cargos Públicos e também a

Resolução 51/191, que trata da declaração da ONU contra a corrupção nas transações

comerciais internacionais.

Também como marco dessa fase de combate internacional a corrupção

pode ser citada a Convenção sobre Corrupção de Funcionários Públicos em Transações

Comerciais Internacionais elaborada pela OCDE e posta a assinatura a qualquer

Estado, membro ou não da citada organização, sendo que o Brasil já ratificou a sua

adesão, que foi incorporada ao Direito Brasileiro por meio do Decreto 3.678, de

30.11.2000.

No entanto, em 1990, o combate à corrupção internacional ingressou em

uma nova fase: a de defesa dos direitos humanos.

Essa nova fase é fundada na constatação da relação entre a corrupção e a

ausência de efetividade do recebimento pelas pessoas dos chamados direitos sociais,

que são aqueles que reclamam pela intervenção do Estado, afundado em práticas

corruptas.

5.2 - DESENVOLVIMENTO DA TUTELA INTERNACIONAL DA PROBIDADE

O Direito Internacional possui hoje normas que regem temas como:

direitos humanos, meio ambiente, integração regional e cooperação interjurisdicional,

entre outros, o que retrata forte desenvolvimento da disciplina desde a chamada época

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clássica, na qual as normas internacionais regiam apenas o relacionamento formal dos

Estados e regras mínimas de conduta na guerra.

Necessário também registrar que a humanidade de um momento para

outro também se viu na obrigação de comungar todos os esforços, pois a humanidade

da era nuclear enfrentava o risco de desaparecimento como um todo.

O homem se vê preso ao planeta terra em que vive, mas toma consciência

que os seus recursos de sobrevivência começam a se diluir, a escassear e que o Direito

Internacional ancorado em regras limitadas, presos a temas tradicionais, como

representação diplomática, imunidade de jurisdição, determinação de território, bem

como o regramento das soluções controversas, mostravam-se perigosamente

insuficiente para assegurar uma vida digna com um mínimo de qualidade no globo.

No caso dos Direitos humanos, conforme ensina Dunshee de Abranches:

O Direito Internacional dos Direitos Humanos abrange “o conjunto de normas substantivas e adjetivas do Direito Internacional, que tem por finalidade assegurar ao indivíduo, de qualquer nacionalidade, inclusive apátrida, e independente da jurisdição em que se encontrem os meios de defesa contra os abusos e desvios de poder praticado por qualquer Estado e a correspondente reparação quando não for possível prevenir lesão”.71

Desse modo os direitos do homem devem ser compreendidos na esfera

internacional como o conjunto de direitos e faculdades que garantem a dignidade da

pessoa humana e se beneficiam de garantias internacionais institucionalizadas.

A consolidação do Direito Internacional dos Direitos Humanos aconteceu

após a constatação das barbáries da Segunda Guerra com a necessidade de evitar

repetição do ocorrido, assim é que após a edição da Declaração Universal dos Direitos

do Homem, em 1948, foram realizados estudos para elaboração de um tratado

internacional de direitos humanos, contendo os direitos protegidos reconhecidos pela

comunidade internacional.

71ABRANCHES, Dunshee apud RAMOS, André de Carvaho. Op. cit., p. 11.

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Entretanto, a Guerra Fria impediu a edição de um tratado único, pois os

dois blocos (capitalistas e comunistas), não acordaram sobre o peso a ser dado aos

direitos da primeira geração ou aos direitos sociais, de segunda geração. Foram então

elaborados dois tratados, o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos e o Pacto

Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais.

Então foram classificados os direitos protegidos em cinco espécies, a

saber: direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais. Entendendo-se por

direitos civis, os direitos de autonomia do indivíduo contra interferências indevidas do

Estado ou de terceiros. Assim é que o conteúdo de tais direitos é relativo à proteção dos

atributos da personalidade de da dignidade da pessoa humana.

Já os direitos políticos são direitos de participação, ativa ou passiva, na

elaboração das decisões políticas e na gestão da coisa pública.

Com relação aos direitos econômicos, são aqueles relacionados com a

organização da vida econômica de um Estado, na ótica produtor- consumidor.

O Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, ora em

comento, estabelece o direito de toda pessoa a um nível de vida capaz de garantir a si

próprio e para sua família, o que deve incluir alimentação, moradia e vestimenta, assim

como a melhoria contínua de suas condições de vida, (como mencionado no artigo 11

como verdadeiro direito a esperança).

No artigo 12 encontramos a menção ao direito a saúde, com a previsão da

criação de condições que assegurem a todos assistência médica e serviços médicos em

caso de enfermidade;

No artigo 13 o direito a educação, exigindo-se inclusive a implementação

progressiva da gratuidade da educação de nível superior.

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Entretanto, não basta ficar numa simples menção é preciso que sejam

esses direitos efetivamente recebidos pelas pessoas e seus familiares.

Ao tratar da dimensão objetiva dos direitos humanos veremos que essa

consiste em reconhecer que os direitos humanos não devem ser entendidos apenas

com um conjunto de posições jurídicas conferidas aos seus titulares, mas também como

um conjunto de regras impositivas de comportamentos voltadas à proteção e satisfação

daqueles direitos subjetivos conferidos aos indivíduos.

Realmente essa dimensão objetiva faz com que direitos humanos sejam

regras de imposição de deveres, em geral ao Estado, de implementação e

desenvolvimento dos direitos individuais.

Segundo Peter Häberle, citado por André de Carvalho Ramos, “os direitos

fundamentais possuem um duplo conteúdo. De um lado apresentam aspecto de direito

individual, são direitos da pessoa. Titulares dos direitos fundamentais são, segundo a

natureza do direito fundamental em questão, ora os indivíduos singulares, ora grupos

como associações e sindicatos”.72

Por outro lado ensina Häberle, “os direitos fundamentais são

caracterizados por um aspecto institucional (“institutionelle Seite”). Representam,

também, a garantia de esfera de vida regulada e organizada segundo princípios de

liberdade, que, devido seu significado objetivo-institucional não se deixa fechar no

esquema restrito de liberdade do indivíduo e de seus limites.” 73

Esse duplo caráter caracteriza a própria essência dos direitos

fundamentais.

O direito a uma administração proba com combate à corrupção

fortalecendo a chamada good governance ou administração proba, tem sido a tônica

72HÄBERLE, Peter. apud RAMOS, André de Carvaho. Op. cit., p. 14. 73HÄBERLE, Peter. apud RAMOS, André de Carvaho. Op. cit., p. 14.

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permanente do Alto Comissariado de Direitos Humanos da Organização das Nações

Unidas, que seria o processo pelo qual as instituições públicas conduzem os negócios

públicos em obediência ao Estado de Direito (rule of law), imunes a corrupção, voltadas

para a promoção de igualdade social.

Com isso concluí-se com a feliz expressão de Bobbio, que o problema de

nosso tempo não é mais declarar ou fundamentar os direitos humanos, mas sim

protegê-los com efetividade. Ou seja, implementá-los.74

De concreto do estudo realizado verifica-se que de fato, a improbidade

administrativa é a designação técnica da chamada corrupção administrativa, pelo qual é

promovido o desvirtuamento dos princípios basilares de uma administração

transparente, eficiente equânime, em prol quer de vantagens patrimoniais indevidas,

quer para beneficiar, de modo ilegítimo, servidores ou mesmo terceiros.

5.3 - A SOCIEDADE - VÍTIMA E RESPONSÁVEL PELA APLICAÇÃO DA LEI DE

IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.

A Lei de Improbidade Administrativa não estabeleceu apenas obrigações

para os administradores públicos, mas também procurou ser um instrumento de defesa

que permitisse a sociedade acompanhar e denunciar os atos praticados pelos agentes

públicos, passou a ser um instrumento capaz revela a transparência das ações

administrativas, permitindo que o cidadão pudesse fazer uma radiografia dos atos

praticados pelos servidores públicos de um modo geral.

Ora se a sociedade é a grande vítima desses crimes de “colarinho branco”,

nada mais justo que ela também possa participar desse processo como forma de

apontar as transgressões sofridas.

74BOBBIO, Norberto apud RAMOS, André de Carvaho. Op. cit., p. 18.

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Como pode ser observado, a LIA (Lei de Improbidade Administrativa) não

estabeleceu responsabilidade apenas para os administradores públicos, mas igualmente

para a sociedade, pois se ela se omite ou se torna conivente por ação ou omissão,

deixando de se manifestar, estará convalidando, de forma irreversível, possíveis erros e

até lesões que são perpetradas contra o erário, com a proliferação acentuada de

pessoas desprovidas de caráter, que fazem da vida pública uma forma de conseguirem

fama e fortuna por caminhos tortuosos e as custas do sangue de pessoas que vivem em

estado miserável e que são as que mais precisam dos serviços públicos.

O rico, o abastado, não necessita da prestação dos serviços públicos,

esses já vivem em situações de desigualdade social que lhe é amplamente favorável,

para eles nada afeta quando falta a previdência, o hospital, os serviços em geral de

natureza pública, pois dispõem de recursos capazes de contornar esses possíveis

problemas.

No entanto, os segmentos mais humildes da sociedade é que sofrem

diretamente os efeitos e as conseqüências danosas dessas práticas maléficas que

aviltam o ser humano e o transformam em subespécie dependente dessa gente sem

escrúpulo.

A luta da sociedade para se ver livre da corrente de corrupção que

percorre anos após anos, desfilando imponente pelos corredores e gabinetes dos

Poderes constituídos dessa república chamada Brasil, tem que ser travada de forma

incessante, implacável, tanto nos municípios, onde os Prefeitos ainda não entenderam

que são simples gestores da coisa pública e não os donos que pensam ser, como em

cada segmento de poder que seja mantido pelo povo.

A Lei 8429/92, como foi popularmente denominada de lei do “colarinho

branco” representa um considerável avanço, como já dito, na medida que a sociedade

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como vitima dos abusos de poder praticados pelos agentes públicos, se mobiliza e

denuncia os ímprobos, que não são só os que se beneficiam nos casos de

enriquecimento ilícito no exercício de mandato, cargo, emprego ou função na

administração direta, indireta ou fundacional, mas também, igualmente, os que recebem

subvenção, benefício ou incentivo, fiscal ou creditício, de órgão público.

Por oportuno deixar mais uma vez registrado que se trata de um avanço

quando lei equipara aos agentes públicos, todos aqueles que exercem, ainda que

transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação

ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função

nas entidades da administração pública, ou por ela beneficiada.

A característica principal da lei, ou seja, o seu traço marcante evidencia-se

na sua tipicidade para sancionar o agente público.

E, é nessa mesma lei, que a sociedade encontra respaldo para enquadrar

os infratores da Lei de Responsabilidade Fiscal, pois que autoriza qualquer pessoa a

representar à autoridade administrativa competente para que seja instaurada

investigação destinada a apuração de ato de improbidade administrativa, bem como,

ainda, autoriza o Ministério Público o mister de investigar e apurar possíveis

cometimentos de ilícitos por ela previstos, requisitar a instauração de inquérito policial

ou procedimento administrativo, de ofício ou a requerimento de autoridade

administrativa.

Como já ficou demonstrado em tópicos anteriores, a Lei de Improbidade

Administrativa, pode sancionar conduta tendente à prática do enriquecimento ilícito,

prejuízos ao erário e as que afrontem os princípios da administração pública.

É uma lei de tutela extrapenal, mas em qualquer dos casos pode-se

verificar o percurso da esfera penal para apuração de ilícito com conseqüência direta

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nessa área, além de sanções civis e administrativa, agravada pela possível perda dos

direitos políticos, além a função pública e outras punições.

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CONCLUSÃO

Nossa proposta nesse trabalho é identificar a conduta do administrador

público, que age com abuso de poder tornando vitima a sociedade, de acordo com a Lei

de Improbidade Administrativa, procurando demonstrar que os benefícios da correta

aplicação do texto legal, representa um grande benefício para o organismo social,

permitindo que as pessoas possam ter uma vida mais decente, digna e capaz de

receber os serviços que são distribuídos pelos Governos para as camadas, mas

sensíveis financeiramente.

A Administração Pública tem seus limites impostos na Constituição Federal

para segurar os abusos e os desmandos de seus agentes, pois tem sido de constância

ao longo dos tempos, escândalos e mais escândalos envolvendo esses cidadãos que

chegam ao poder pelo voto ou por escolha de quem foi eleito, num verdadeiro festival

de notícias jornalísticas, televisivas e radiofônicas, mas é preciso mais para parar essas

pessoas cujo único objetivo é usar o cargo público para proveito pessoal.

A experiência pessoal como Procurador Geral de Município propiciou o

conhecimento da máquina pública pelo lado da administração, de sua engrenagem mais

complexa, cujas condutas dos agentes muitas vezes não são compatíveis com os

princípios constitucionais, mas que para esses administradores faz parte do cotidiano,

razão do desenvolvimento desse modesto trabalho acadêmico, onde após examinar

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mais detidamente o conteúdo da Lei de Improbidade Administrativa, chega-se a

inarredável conclusão que o texto legal em apreço é bom e merece ser aperfeiçoado

para permitir a sua aplicação de forma mais eficaz contra os que teimam em

desobedecer aos seus contornos.

O ponto de partida seria sem dúvida obstaculizar a ação desses agentes

quanto ao enriquecimento ilícito que se dá através dos mais variados modos,

especialmente das licitações públicas, que são viciadas e se tornam uma porta de

entrada para a prática da corrupção.

À guisa de exemplificar a linha de raciocínio, poder-se-ia dizer, à primeira

vista, que uma licitação pública sob a modalidade de pregão eletrônico, estaria imune à

prática ilícita, num primeiro momento esse seria o raciocínio, mas se mais detidamente

analisar-se o problema se verá que o ser humano ao enveredar para tais práticas não

age sozinho, tem ao lado dele todo um esquema facilitador do seu modo de agir e aí se

pode começar no terreno das hipóteses a indagar o motivo que sendo o sistema

acessível a uma grande parte da sociedade, que toma conhecimento de forma imediata

da realização do certame, essas pessoas poderiam ter alguma fórmula capaz de

contornar, de se locupletar através do mesmo.

A pesquisa poderia se iniciar, partindo da premissa em que sendo realizado

o pregão eletrônico e nele comparecendo licitantes, para, por exemplo, venderem 1000

(mil) unidades de uma determinada medicação, que seria a princípio a quantidade

previamente avaliada para atendimento a pacientes num determinado período (trinta

dias) e essa mercadoria teria sido entregue e conferida pelo funcionário encarregado,

acabasse em uma semana, não seria o caso de se levantar quem foram os beneficiários

recebedores, através de um órgão externo de controle, que não fosse tão somente os

Tribunais de Contas?

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Até porque os órgãos de controle externo auxiliares do legislativo que

deveriam atuar nessa direção de impedir a fraude encontram-se à distância o que nem

sempre permite uma fiscalização diligente.

Os legislativos, que têm atribuição além de legislar, fiscalizar os atos dos

Executivos, nem sempre vem cumprindo com fidelidade esse papel, não raras são as

vezes em que se constata o comprometimento dessas ações, através do favorecimento

das benesses ofertadas pela máquina administrativa.

As Organizações não Governamentais e as pessoas jurídicas legitimadas,

nem sempre têm condições de cumprir esse papel, eis que lhes falta autonomia para se

insurgir contra ato de poder, ou prática de ato administrativo lesivo a sociedade.

Não são organizadas de forma independente, precisam do braço do

Executivo para existirem ou estão sob seu comando, o que importa dizer que não terão

condição de se levantar para ajuizar, noticiar ou representar contra as condutas lesivas

ao erário.

Acontece que se tem que achar uma fórmula que mesmo que não venha

coibir totalmente, mas pelo menos iniba a vontade de praticar qualquer ilícito nessa

modalidade e assim deveria ser, se os órgãos fiscalizatórios realmente atuarem através

de sucessivas e rotineiras fiscalizações, intensificando o controle, pois o reflexo seria

bem melhor para a coletividade.

Do mesmo modo que se dotasse o Ministério Público de mecanismos

capazes de permitir que possam ter acesso a tais informações, que são de interesse

público, de forma mais ágil, procurando pesquisar imediatamente a correta a aplicação

dos recursos públicos e dos certames licitatórios estar-se-ia, quem sabe dando um

importante passo na direção de impedir que a sociedade fosse a grande vítima dos

crimes de improbidade administrativa.

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O contra-argumento nessa direção é de que nesse caso poderia ocorrer

uma intromissão indevida quanto a liberdade do administrador público exercer

livremente o mandato que lhe fora outorgado pela vontade popular, mas a resposta

natural a essa resistência está em que os atos são públicos, passíveis de publicidade, a

Constituição garante o direito a informação, do mesmo modo que é obrigação

institucional do órgão ministerial fiscalizar a correta aplicação da lei.

De tudo, observa-se que se o Administrador Público portar sua conduta

dentro da ética, da moral, dando transparência aos seus atos, ele por certo,

conseqüentemente seguirá seu trajeto na vida pública sem afrontar a Lei de

Improbidade Administrativa.

Induvidosamente, apesar da dificuldade para que o processo tenha solução

mais eficaz e rápida a sociedade está amparada com mecanismos legais de proteção

dos seus interesses, contra os maus agentes, mas é preciso que no regime

democrático, todos façam sua parte, que denunciem os seus maus representantes, que

exijam do Poder Judiciário e do Ministério Público atuações compatíveis com suas

atribuições institucionais e que pressionem seus representantes, para fazerem

adequações à lei capazes de permitir maior agilidade na punição dos ímprobos,

limitando para esse tipo de práticas os infindáveis apelos recursais, que permitem que

se sintam seguros e que o fato, após tanto retardamento, caia no completo

esquecimento, com a lógica conseqüência da impunidade.

Dentre as adequações, poder-se-ia pensar num mecanismo capaz de

existindo indícios suficientes de práticas reiteradas de cometimento de ilícitos que se

tornasse obrigatório o afastamento do agente do cargo, para evitar que pudesse exercer

influência na colheita de provas e continuasse exercendo o poder na plenitude com

favorecimento pessoal com prejuízo para a sociedade,

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Nesse caso, indiscutivelmente, seria garantido o devido processo legal, com

a amplitude de defesa constitucionalmente prevista, mas por outro lado se preservaria o

erário e facilitaria conseguir por vias lícitas as provas para a instrução do processo que

fosse instaurado, estabelecendo-se com isso um maior equilíbrio entre a defesa da

sociedade e a do agente acusado da prática.

Com todo respeito, não se venha contra-argumentar que isso fere o princípio

da ampla defesa constitucionalmente garantido, pois a contrario sensu poder-se-ia

argumentar com segurança que a supremacia do interesse público a ser protegida tem

maior amplitude do que o direito individual do ímprobo, que retira do cidadão a recepção

de seus direitos fundamentais.

O que pretendeu o legislador constitucional foi proteger direito individual

sério, não direito de quem lesa os cofres públicos, fazendo verdadeiras fortunas às

custas da desgraça do povo, que desassistido se vê sem a garantia dos direitos

fundamentais e sociais previsto no texto constitucional.

A sociedade é também a grande vítima de seu estado de letargia, de sua

inércia, de sua deliberada e manifesta omissão, que faz com que os ímprobos se sintam

fortalecidos para saquearem “a maravilhosa caverna do erário” e depois como num

passe de mágica usarem a varinha de condão que lhes abra as portas para que vivam

imunes e impunes para todo o sempre. “É preciso não esmorecer”.

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