a sobrevivÊncia do rÁdio brasileiro na era da convergÊncia das mÍdias

30
LÚCIA MADEIRA DE NARDI A SOBREVIVÊNCIA DO RÁDIO BRASILEIRO NA ERA DA CONVERGÊNCIA DAS MÍDIAS UBERLÂNDIA-MG 2008

Upload: lucia-de-nardi

Post on 23-Jun-2015

339 views

Category:

Documents


2 download

DESCRIPTION

Monografia apresentada ao curso deComunicação Social, Habilitação emJornalismo do Centro Universitário doTriângulo – UNITRI, como prérequisitobásico à conclusão dadisciplina de Projetos Experimentais,sob a orientação do Prof. MestrePaulo Henrique da Silva Souza.

TRANSCRIPT

Page 1: A SOBREVIVÊNCIA DO RÁDIO BRASILEIRO NA ERA DA CONVERGÊNCIA DAS MÍDIAS

LÚCIA MADEIRA DE NARDI

A SOBREVIVÊNCIA DO RÁDIO BRASILEIRO NA ERA DA CONVERGÊNCIA DAS MÍDIAS

UBERLÂNDIA-MG 2008

Page 2: A SOBREVIVÊNCIA DO RÁDIO BRASILEIRO NA ERA DA CONVERGÊNCIA DAS MÍDIAS

LÚCIA MADEIRA DE NARDI

A SOBREVIVÊNCIA DO RÁDIO BRASILEIRO NA ERA DA CONVERGÊNCIA DAS MÍDIAS

Monografia apresentada ao curso de Comunicação Social, Habilitação em Jornalismo do Centro Universitário do Triângulo – UNITRI, como pré-requisito básico à conclusão da disciplina de Projetos Experimentais, sob a orientação do Prof. Mestre Paulo Henrique da Silva Souza.

UBERLÂNDIA-MG 2008

Page 3: A SOBREVIVÊNCIA DO RÁDIO BRASILEIRO NA ERA DA CONVERGÊNCIA DAS MÍDIAS

Banca Examinadora

Page 4: A SOBREVIVÊNCIA DO RÁDIO BRASILEIRO NA ERA DA CONVERGÊNCIA DAS MÍDIAS

Dedicatória

Dedico esta monografia a meus avós: Ainda Prata Madeira, João De Nardi, Júlio Marques Madeira Lúcia Franceschet De Nardi e ao meu amigo Marco Antônio Carvalho.

Page 5: A SOBREVIVÊNCIA DO RÁDIO BRASILEIRO NA ERA DA CONVERGÊNCIA DAS MÍDIAS

Agradecimentos

Agradeço ao número três. Quando digo número três, refiro-me aos meus três

pais, irmãos, amigos, mestres e empresas.

Sem os meus três pais: Deus, Nelson De Nardi e Wilma Prata Madeira De

Nardi eu não existiria e não conheceria o que significam ética e valores. Sem meus

três irmãos: Luciano, Nelma e minha irmã de coração, Lívia Maria Rosa, não

compreenderia o valor da doação e reconciliação. Assim também, sem meus três

amigos: Igor Antoine, Rafael Guimarães e Thaísa Sanchez, eu não saberia que

existem anjos iluminados que acreditam em mim e não me deixam desamparada. E

como não falar dos meus três mestres?

Cládio Marcos, Janaína Depiné e Paulo Henrique da Silva Souza ensinaram-

me a amar o que faço e não desistir dos meus sonhos. Então, por fim, agradeço a

três empresas: G.A. Comunicação (pelo início), Rádio Itatiaia (pela paixão) e TV

Paranaíba (pela confiança). Empresas que acreditam no meu potencial e me tornam

uma profissional melhor. A todos esses “três”; agradeço por estarem em minha vida

e me ensinarem que, a cada dia, há um novo desafio, que deve ser trilhado com

amor e dedicação.

Page 6: A SOBREVIVÊNCIA DO RÁDIO BRASILEIRO NA ERA DA CONVERGÊNCIA DAS MÍDIAS

Resumo

A radiodifusão foi decisiva para o desenvolvimento cognitivo dos seres

humanos, e, além disso, foi uma das responsáveis por descobertas e inovações dos

meios de comunicação. Após passar por muitas crises e adaptações, o rádio não

morreu, e faz parte das novas tecnologias até os dias atuais. Em época da era digital

e em tempo de convergência de mídias, é necessário descobrir, então, quais são as

perspectivas para o radiojornalismo brasileiro. Este trabalho pretende ainda

apresentar uma proposta de um modelo de programação tanto de emissoras em

amplitude modulada (AM) como freqüência modulada (FM). É importante salientar

que esta proposta fundamenta-se na história do rádio, na realidade atual, e em um

futuro próximo, que é a rádio digital.

Palavras - chave: Comunicação, Rádio, Radiodifusão, Rádio Digital, Convergência

de Mídias, Radiojornalismo.

Page 7: A SOBREVIVÊNCIA DO RÁDIO BRASILEIRO NA ERA DA CONVERGÊNCIA DAS MÍDIAS

Sumário

Introdução...................................................................................................................1

Capítulo 1 – Evolução da Comunicação...................................................................3

1.1 - O ato de comunicar-se, uma necessidade humana.........................................................3

1.2 - O processo da comunicação e suas linguagens..............................................................4

1.3 - Evolução dos veículos de comunicação...........................................................................5

Capítulo 2 – História do rádio....................................................................................9

2.1 – Surgimento, propostas e crises.......................................................................................9

2.2 – Características de um rádio sobrevivente ....................................................................15

2.3 – Tipos de rádios: diferenças e semelhanças..................................................................18

Capítulo 3 - Atualidade: Crise, transformação ou adaptação?............................27

3.1 – Tempo de convergência de mídias ...............................................................................27

3.2 – O futuro do rádio............................................................................................................30

3.3 - Perspectivas do radiojornalismo.....................................................................................34

Capítulo 4 - Uma proposta, um novo modelo de programação...........................38

Considerações finais...............................................................................................43

Referências Bibliográficas......................................................................................47

Anexos......................................................................................................................49

Page 8: A SOBREVIVÊNCIA DO RÁDIO BRASILEIRO NA ERA DA CONVERGÊNCIA DAS MÍDIAS

Introdução

Século XXI. Uma era marcada pelo digital. Após anos de convivência com a

transmissão analógica, o ser humano depara-se com uma nova realidade. Aquela

marcada pela interatividade e pelo instantâneo. Uma era estimuladora e instigadora

dos sentidos humanos.

Basicamente tudo é feito em tempo real e com o maior número de recursos

possíveis. Aliando vídeo, áudio e imagens, as tecnologias caminham para ampliar

ainda mais os limites dos indivíduos.

Para os veículos de comunicação já existentes, um tempo de alterações.

Cada um deverá se adaptar ou estará fadado ao fracasso. Era que exercita também

reflexões e indagações sobre o futuro.

Para os profissionais da comunicação, a era digital lança um novo desafio: o

de serem ainda mais criativos, dinâmicos e preparados para serem os melhores do

mercado. Para tanto, é necessário investigação.

“A sobrevivência do rádio brasileiro na era da convergência das mídias” é um

objeto de estudo que pretende descobrir um pouco mais sobre a era da

convergência das mídias e propor mudanças.

O fato de que a radiodifusão sofreu e ainda sofre especulações quanto à sua

extinção ou sobrevivência, faz com que a curiosidade e a busca para descobrir qual

a verdadeira força deste veículo surjam.

O rádio brasileiro passa por adaptações, portanto é necessário que os

profissionais de jornalismo que já trabalham ou pretendem ingressar neste ramo

saibam quais serão os possíveis diferenciais diante de um cenário estimulador de

todos sentidos humanos e quais as perspectivas do radiojornalismo em uma

realidade digital.

Para chegar às conclusões, apresentam-se quatro capítulos que se dividem

pela: evolução do ser humano, história do rádio, era da convergência das mídias e,

por fim, apresentam-se propostas de novas programações.

Uma em rádio AM (amplitude modulada) e uma em FM (freqüência

modulada), embasados na realidade atual. Este estudo tem o objetivo também de

servir como base para futuros estudos sobre radiodifusão.

Com o objetivo de analisar qual a importância deste novo desafio lançado aos profissionais de rádio, usaremos como objetos de estudo pesquisas realizadas pelo

Page 9: A SOBREVIVÊNCIA DO RÁDIO BRASILEIRO NA ERA DA CONVERGÊNCIA DAS MÍDIAS

Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (IBOPE), uma vez que são

medidores de audiência.

Foram utilizadas também bibliografias que possibilitaram a base estrutural do

trabalho, já que a história do rádio é uma das mais antigas de todos os veículos.

No primeiro capítulo, trabalha-se a necessidade do ser humano em

comunicar-se entre si, as diferentes formas de linguagem e ainda a relação de

cumplicidade entre seres humanos e veículos de comunicação, é necessário

descobrir os principais motivos que levam às novas descobertas, por isso um

capítulo sobre o assunto.

É fundamental discorrer sobre o surgimento, propostas e crises enfrentadas

pelo rádio, além das características marcantes e dos diferentes tipos de

transmissões, tema tratado no segundo capítulo.

No terceiro capítulo, fala-se principalmente do tempo em que vivemos

atualmente, a era da convergência de mídias. Discute-se o futuro próximo da

radiodifusão, e por fim, as perspectivas para os profissionais do radiojornalismo.

Embasados na necessidade de comunicação natural do ser humano, da

história do rádio e da era das convergências de mídias, propõe-se, no quarto e

último capítulo, novas programações para este novo cenário.

Page 10: A SOBREVIVÊNCIA DO RÁDIO BRASILEIRO NA ERA DA CONVERGÊNCIA DAS MÍDIAS

Capítulo 1 - A evolução da comunicação

A busca pela sobrevivência fez com que a capacidade de comunicação dos

animais e seres humanos se desenvolvesse. Desde a era paleontológica até os dias

de hoje, o ser vivo está em constante desenvolvimento e transformação, e essa

transformação acontece através da relação entre este ser vivo e a comunicação.

1.1 - O ato de comunicar-se: uma necessidade humana.

Com a evolução dos séculos, o ato de comunicar-se tornou-se cada vez mais

necessário e assim, como o ser humano, a comunicação acompanhou esta

evolução. Como em uma inter-relação, um influenciou o desenvolvimento do outro.

De acordo com a Doutora em Semiótica e Lingüística Geral, Maria Margarida

de Andrade, a comunicação é fundamental para o ser humano. “Não existe uma

única atividade humana que não seja afetada ou que não dependa de alguma forma

de comunicação” (ANDRADE, 1999).

Ao comunicarem-se uns com os outros, os seres humanos tiveram que

aprender a viver em sociedade, e isso se deu através do desenvolvimento natural e

básico da espécie, ou seja, por meio do desenvolvimento contínuo e interligado do

amadurecimento físico, cognitivo e por conseqüência, psicossocial.

O desenvolvimento físico são as mudanças no corpo, no cérebro, na

capacidade sensorial e nas habilidades motoras que se associam às mudanças

cognitivas; capacidade mental, aprendizagem, memória, pensamento e linguagem.

Diante desse processo, o ser humano busca a continuidade da espécie.

A partir do momento em que o indivíduo se vê ameaçado ou solitário, procura

outros para que, juntos, tornem a vida mais extensa e prazerosa. Portanto, alia-se

aos outros, criando, assim, uma relação psicossocial, ou seja, forma

relacionamentos e cria laços de confiança.

De acordo com o filósofo Abraham Maslow, o ser humano tem várias

necessidades e, para que possa viver em sociedade, deve supri-las. Primeiramente,

a necessidade básica, de sobrevivência, depois de segurança, afeto, estima e,

consequentemente, auto-realização. Após criar esses níveis, o filósofo inventou a

denominada “Pirâmide de Maslow”, a qual organiza as necessidades dos seres por

hierarquia.

Page 11: A SOBREVIVÊNCIA DO RÁDIO BRASILEIRO NA ERA DA CONVERGÊNCIA DAS MÍDIAS

[...] Cada um tem de "escalar" uma hierarquia de necessidades para atingir a sua auto-realização; necessidades fisiológicas (básicas), tais como a fome, a sede, o sono, a excreção, o abrigo; necessidades de segurança, que vão da simples necessidade de sentir-se seguro dentro de uma casa a formas mais elaboradas de segurança como um emprego estável, um plano de saúde ou um seguro de vida; necessidades sociais ou de amor, afeto, afeição e sentimentos tais como os de pertencer a um grupo ou fazer parte de um clube; necessidades de estima, que passam por duas vertentes, o reconhecimento das nossas capacidades pessoais e o reconhecimento dos outros face à nossa capacidade de adequação às funções que desempenhamos; necessidades de auto-realização, em que o indivíduo procura tornar-se aquilo que ele pode ser. A pessoa tem que ser coerente com aquilo que é na realidade, temos de ser tudo o que somos capazes de ser, desenvolver os nossos potenciais. – Vide pirâmide em anexos – (WIKIPÉDIA. Hierarquia de necessidades de Maslow. Disponível em<http://pt.wikipedia.org/wiki/Hierarquia_de_necessidades_de_Maslow> Acesso aos 04 out.2007)

Ao mesmo tempo em que a teoria da perspectiva contextual, teoria

desenvolvida pela psicologia, defende que o desenvolvimento humano só é

compreendido em seu contexto social, e complementa que o indivíduo não é uma

entidade isolada que interage com o ambiente e sim uma parte inseparável do

mesmo, Lev Semenovich Vygostky defende que “é pessoa e meio atuando e se

transformando mutuamente.” (PAPPALIA E OLDS, 2000)

1.2 - O processo da comunicação e suas linguagens

De acordo com o dicionário Aurélio, a palavra comunicar significa: ato ou

efeito de emitir, transmitir e receber mensagem por meio de métodos ou processos

convencionados quer por meio da linguagem falada ou escrita, quer de outros sinais,

signos ou símbolos, de aparelhamento técnico e sonoro ou visual.

Para a Doutora em Semiótica e Lingüística Geral, Maria Margarida de

Andrade, citada anteriormente, o conceito de comunicação é:

[...] A comunicação surgiu, provavelmente, da premência que os homens sentiam de trocar idéias e experiências. A palavra comunicar vem do latim comunicare, que significa pôr em comum. Depreende-se daí a que a essência da palavra comunicar está associada à idéia de convivência, comunidade, relação de grupo, sociedade. (ANDRADE, 1999)

Baseado nas duas concepções do conceito de comunicação, pode-se afirmar que comunicar é preciso, é fundamental, seja para sobrevivência, seja pela precisão

Page 12: A SOBREVIVÊNCIA DO RÁDIO BRASILEIRO NA ERA DA CONVERGÊNCIA DAS MÍDIAS

em estar em sociedade ou até para conquistar objetivos como estatus,

dinheiro e lucro.

Com a carência e precisão dos humanos em estarem em constante

comunicação, ferramentas foram criadas para facilitar a propagação da informação.

A princípio, os símbolos e sinais eram utilizados e, com o tempo e desenvolvimento

mental humano, as formas de comunicação também evoluíram.

“Comunicação é a interação social através da mensagem’ e ‘qualquer uso de

linguagem se caracteriza sempre como um processo de comunicação’” (FISK, 1990).

A criação das línguas, fala, escrita, gestos, imagens, sons, ou seja, formas de

linguagem, possibilitaram a facilidade de interação entre as pessoas. A partir do

momento em que o indivíduo começa a utilizar-se dessas linguagens, a

comunicação se torna mais eficaz e desenvolvem-se os veículos de comunicação.

1.3 - Evolução dos veículos de comunicação e a relação com indivíduo

Durante anos, as notícias eram transmitidas boca-a-boca, porém a

curiosidade dos seres humanos era tão grande, para saber da vida alheia e dos

acontecimentos, que fez com que a comunidade buscasse alternativas para

propagar notícias de forma mais rápida e eficaz. “Saber o que está acontecendo, ter

acesso às notícias e às "novidades" é uma necessidade humana” (STEPHENS,

1993).

O primeiro veículo de comunicação de massa, e que atingiu um grande

número de indivíduos, surgiu fundamentado na escrita, através da imprensa.

Em 1436, o conhecido Gutemberg de Mogúncia (Johannes Gensfleisch zur

Laden zum Gutenberg 1390-1468), desenvolveu caracteres móveis de metal,

linotipo, e, após 24 anos, registrou-se o primeiro trabalho impresso em papel, o

denominado “Vita Chisti”: a Bíblia.

De acordo com a “Pequena enciclopédia de Moral e civismo”, publicada no

ano de 1967 no Rio de Janeiro, o primeiro periódico em grande escala a ser

publicado foi o “Gazeta do Rio de Janeiro” em 10 de setembro de 1808.

Em 1820, descobertas da área de telefonia já se faziam constantes. Os

telégrafos começaram a fazer parte da vida da sociedade, porém não poderiam ser

considerados prolongamentos dos veículos de comunicação de massa, uma vez que

somente possibilitaram a comunicação inter-pessoal e não de grande número de

indivíduos em escala extensa.

Page 13: A SOBREVIVÊNCIA DO RÁDIO BRASILEIRO NA ERA DA CONVERGÊNCIA DAS MÍDIAS

“Realisticamente, a Era da Comunicação de Massa teve início no começo do

século XX com a invenção e adoção ampla do filme, do rádio e da televisão para

populações grandes. Foram esses veículos que iniciaram a grande transição por nós

continuada hoje em dia.” (DEFLEUR, 1993).

Como Abraham Maslow afirma, o indivíduo possui necessidades que devem

ser coerentes com a realidade e com a capacidade do ser em desenvolver

potencialidades. Portanto, como o desenvolvimento físico, cognitivo e psicossocial

caminham juntos, o ser humano busca novidades e usa da criatividade para evoluir;

assim os meios de comunicação também evoluem.

A vontade de superar as limitações e de criar o novo fizeram com que a

associação da imagem e áudio acontecesse, criando-se assim a televisão. Uma das

invenções que levaram à evolução dos meios de comunicação de massa, já que é

dinâmica e rápida.

A imagem e os movimentos na tela fizeram com que a televisão se transformasse

em fascínio. Passou-se a acreditar que o real estaria na televisão ao vivo e em

cores; criou-se então uma espécie de dependência: se existe na televisão, é porque

é crível, associada à obsessão pelo sentido da visão e o pouco esforço intelectual

que a imagem proporciona.

“A imagem transmite uma mensagem independentemente do conhecimento prévio de um idioma falado ou escrito, por parte do receptor. A televisão mostra e o telespectador vê; por exemplo, um alemão não necessita de intérprete para compreender uma imagem de um assalto no centro de São Paulo. Vendo apenas a imagem, ele compreenderá que a cena foi de um roubo, que alguém foi lesado, que a atitude é errada e violenta, o que o estrangeiro não saberá, caso não compreenda o código verbal, é que o assalto foi no centro de São Paulo, ou seja, a mensagem principal foi transmitida independentemente da palavra. O objetivo do exemplo não é diminuir a função da palavra, mas mostrar a universalidade da imagem.” (GARCIA, 2007).

Enquanto a televisão mostra aos telespectadores, o rádio instiga e estimula o

desenvolvimento cognitivo, ao propor que o imaginário seja ativado, além de

proporcionar companhia aos ouvintes.

“Depois da invenção do rádio, ninguém precisou mais ficar sozinho. Nas regiões mais distantes, o homem passou a ter a companhia de repórteres, artistas, cantores e músicos. Os rádios transistorizados, que usam pilhas, levaram a todos os

Page 14: A SOBREVIVÊNCIA DO RÁDIO BRASILEIRO NA ERA DA CONVERGÊNCIA DAS MÍDIAS

pontos do país o maravilhoso invento do século XX.” (ESSINGER,

CAMPBELL, SOUZA, et al. 1973)

Partindo do pressuposto de que o ser humano está em constante

transformação e reinvenção, constata-se que o desenvolvimento humano nunca

finda. A cada dia, a sociedade busca inovações e amplia seu conhecimento.

Assim surgiu a internet, veículo associativo, que diminui a distância entre os

indivíduos e aumenta o nível de informações disponíveis para grande número de

pessoas em qualquer lugar do mundo, a conhecida “world wide web” (rede de

alcance mundial).

De forma multimídia, a internet tem o poder de concentrar imagem, texto e

áudio, o que faz com que seja um dos veículos mais completos, além de possibilitar

que o indivíduo tenha em mãos a chamada mídia “pull”, ou seja, escolhe o que lê, vê

e ouve.

Com a possibilidade de associar as linguagens, o ser humano foi

aperfeiçoando as técnicas que possibilitariam a comunicação, como a criação de

novos programas, softwares e veículos tecnológicos.

Um exemplo disso é a tecnologia do celular, que ampliou ainda mais o acesso

às informações rápidas através do “short messages”, e que noticiam em poucos

caracteres os últimos fatos usando mensagens instantâneas.

Entre várias formas de tecnologia, vivemos agora a era digital, intrigante e

desafiadora às mentes humanas. Mesmo com técnicas e estruturas físicas não muito

conhecidas pela maioria das pessoas, a era digital já dá sinais e demonstrações de

que ocasionarão interferências na evolução da sociedade, trazendo o conceito de

‘sociedade digital’.

O que antes era somente propagado em via única através da televisão ou

rádio, somente emitido, não sabendo se o receptor decodificou ou não a mensagem,

agora possuirá o feedback, ou seja, terá o retorno da informação no momento da

transmissão; o receptor sentirá, perceberá e reagirá.

O fato de poder escolher o que se quer assistir e quando assistir poderá

resultar em uma guerra digital, já que se espera haver programações específicas

para cada área, o que denominamos de segmentação na TV.

Assim como a TV, o rádio também vive hoje sob influência do digital. Passa-se por uma transição de tecnologias e todas as mídias parecem convergir em um

Page 15: A SOBREVIVÊNCIA DO RÁDIO BRASILEIRO NA ERA DA CONVERGÊNCIA DAS MÍDIAS

único veículo com propósito de oferecer o máximo de informações associadas

ao entretenimento e uso de vários sentidos humanos.

Se, então, o objetivo é associar o máximo de recursos para conquistar o

receptor das mensagens, surge a dúvida: Por que o rádio sobreviveu a tantas crises

e quais são as reais razões e motivos para resistir à convergência das mídias?

E ainda, se existem tantos veículos de comunicação mais evoluídos e com

maior disponibilidade de linguagens e interatividade com o receptor, por que ainda

se faz jornalismo em rádio? Por que as emissoras de rádios ainda existem?

Page 16: A SOBREVIVÊNCIA DO RÁDIO BRASILEIRO NA ERA DA CONVERGÊNCIA DAS MÍDIAS

Capítulo 2 - História do rádio

Para responder aos questionamentos feitos no primeiro capítulo é necessário

recapitular a história do rádio, por quais propostas e crises passou para consolidar-

se até os dias atuais. A análise destes fatores será necessária para chegarmos às

respostas que fundamentam os dois pilares principais desta monografia: a

sobrevivência do rádio e do radiojornalismo.

2.1 – Surgimento, propostas e crises.

No primeiro capítulo, constatou-se que o indivíduo necessita se superar e

criar novos horizontes, portanto a radiodifusão surgiu da precisão em descobrir o

desconhecido. Pessoas em todo mundo começaram a buscar novas formas de

comunicação.

Henrich Rudolph Hertz (1857-1894) descobriu, em 1887, as ondas de rádio, o

que contribuiu muito para o desenvolvimento do meio. Já em 1893, o padre

brasileiro, Roberto Landell de Moura (1861-1928), estudava a transmissão da fala

através de aparelhos sem fio, assim como o sérvio Nikola Tesla (1856-1943). Porém,

no mundo, quem ficou reconhecido por ter o domínio da transmissão das ondas de

rádio foi o italiano Gugliemo Marconi (1874 -1937) que patenteou a invenção em

1896. 1

Após ser patenteada, a descoberta exigia inovações. Criou-se, então, a

transmissão da fala através de ondas eletromagnéticas, ou seja, ondas que se

propagam no vácuo.

[...] A rápida expansão da radiotelegrafia estimulou a busca de condições para transmissão de sons, coroada de êxito em 1906, com a criação da válvula “audion”, pelo engenheiro norte-americano Lee de Forest (1873-1961), o que possibilitou a produção de variações eletromagnéticas, os sinais de áudio, capazes de configurar as modulações da voz humana. Esses sinais reforçados e sobrepostos a uma onda portadora, podem ser transmitidos por uma antena e recebidos por outra com ela sintonizada. (ARAÚJO, OLIVEIRA, SOUZA, et al, 1967)

No ano de 1920, as emissoras de rádio já dominavam o mundo, mas somente

após 16 anos da descoberta das ondas eletromagnéticas, o Brasil conheceu o que

era a primeira transmissão de voz e som em grande escala.

1 Fonte - Texto: De herege a herói. Inventor do rádio, padre Landell de Moura foi tido como herege por promover a radiodifusão. Diego Klautau/ Esquinas de São Paulo (Cásper Líbero)

Page 17: A SOBREVIVÊNCIA DO RÁDIO BRASILEIRO NA ERA DA CONVERGÊNCIA DAS MÍDIAS

No dia sete de setembro de 1922, por razão da comemoração dos 100 anos

da Independência do Brasil, aconteceu, através do discurso do presidente da época,

Epitácio Pessoa, e execução da ópera Guarani, de Carlos Gomes, entre outras

atrações, a primeira difusão no país. 1

A inauguração do novo invento, caracterizada e marcada por intenções

políticas, não pode ser considerada a estréia da primeira emissora de rádio no país,

uma vez que isso ocorreu somente após um ano.

Em 20 de abril de 1923, o carioca Edgar Roquette Pinto (1884-1954) e Henry

Morize fundaram a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro com proposta de educação e

cultura e o objetivo de “Levar a cada canto um pouco de educação, de ensino e de

alegria”. Após 13 anos de vivência, a Rádio Sociedade foi estatizada e passou a se

chamar Rádio Mec do Rio de Janeiro (AM 800KHz – FM 98.9MHz) - ainda existente

e com acesso virtual através do site www.radiomec.com.br

- e se mantêm com a mesma proposta de Roquette Pinto e Morize: a de

“trabalhar pela cultura dos que vivem em nossa terra e pelo progresso do Brasil”.

Também em 1923, surge a Rádio Clube de Pernambuco, em Recife; a Rádio

Educadora Paulista, em São Paulo; e a Rádio Clube do Paraná, em Curitiba. 1

Com o aumento do número de emissoras, a sociedade começou a comprar

ainda mais aparelhos de rádio. O eletrodoméstico, até então, era considerado como

algo de grande valor e estima. As pessoas reuniam-se em volta do denominado

“móvel” para acompanhar as rádionovelas, saber notícias da guerra e ouvir os

programas de auditório.

“Cada aparelhinho desses era mantido pelo seu dono com muito carinho, com

a estima que se tem por algo precioso e raro. A sua música tinha um sabor especial

das coisas misteriosas...”(SAMPAIO apud COSTELLA,2001)

Com o “boom” do rádio e os novos programas, a contratação de funcionários

fez-se necessária. Locutores, apresentadores, produtores, artistas e cantores, isso

aumentou ainda mais os custos e criou o hábito nas pessoas de terem o aparelho

quase como um membro da família.

1 Fonte: ORTRIWANO, Gisela Swetlana, A informação no rádio. Os grupos de poder e a determinação dos conteúdos; São Paulo: Summus, 1985, pág 13 1 Fonte: www.radialistasp.org.br

Page 18: A SOBREVIVÊNCIA DO RÁDIO BRASILEIRO NA ERA DA CONVERGÊNCIA DAS MÍDIAS

Para custear a manutenção dos aparelhos e manter o salário dos funcionários

em dia, a solução foi abrir espaço para os anúncios e procurar uma programação

diferenciada que atraísse mais os ouvintes.

Em 1931, autorizou-se a legislação que regulamentava o pagamento por

veiculação de propagandas nas emissoras, facilitando a sobrevivência das mesmas.

Ao passo que o número de emissoras aumentava, a concorrência e

competição pela busca da audiência também. Na época de ouro do rádio brasileiro,

na década de 40, quando os programas se tornavam fixos, o público não somente

aceitou a invenção como viveu o produto.

“O rádio constituiu-se ao mesmo tempo em produto e em instrumento de expansão e consolidação do processo civilizatório urbano – industrial no País, através da difusão por toda a realidade brasileira de valores vinculados ao estilo de vida que aos poucos se esboçava entre nós” (PEREIRA apud COSTELA, 2001)

No ano de 1941, o padrão jornalístico passou por alterações, antes formal,

começou a ser afetado pela criação do programa “Repórter Esso”, patrocinado pela

companhia norte americana de combustíveis automotores de mesmo nome,

apresentado por Herón Domingues (1924 -1974) e transmitido pela Rádio Nacional.

Uma tentativa de levar aos ouvintes uma linguagem menos elitista e mais acessível

às grandes massas. 1

De acordo com Antônio F. Costella, em 1942, o país possuía

aproximadamente 75 emissoras de rádio. “Na década dos anos quarenta, as

emissoras começariam a sentir o peso da concorrência.” (COSTELLA, 2001). Como

nos dias atuais, as emissoras criaram recursos para não perderem os ouvintes fieis.

Mais de 14 radionovelas eram transmitidas somente em uma das emissoras. Os

radiojornais fugiam dos padrões de leitura ao microfone.

A segmentação em rádio começou a ser percebida em 1947 quando, ao

perder audiência, as emissoras passaram a falar sobre determinado assunto. De

acordo com o site www.radialistasp.org.br

, o primeiro registro de emissora segmentada no estilo esportivo foi a Rádio

Panamericana de São Paulo.

Ainda no ano de 1947, a invenção dos rádios portáteis facilitou o contato dos

ouvintes com as notícias.

1 Fonte - Texto: Vocação: Repórter Esso. Locutor conta histórias sobre a vontade de ser apresentador antes de entrar para o programa e como a censura agiu sobre o noticiário.

Page 19: A SOBREVIVÊNCIA DO RÁDIO BRASILEIRO NA ERA DA CONVERGÊNCIA DAS MÍDIAS

“Uma inovação tecnológica, ademais, haveria de beneficiar enormemente o rádio; o transistor. Invenção de John Bardeen, Walter Brattain e William Chockley patenteada em 1947, o transistor substituiu as válvulas e, sendo muito menor do que elas, permitiu reduzir o tamanho dos receptores. Tornando-se portátil, o rádio ganhou audiência, pois se impôs em inesperados lugares. Instalou-se onipresente nos automóveis. Passou a acompanhar os ouvintes nos estádios esportivos. Faz companhia a muitos trabalhadores durante o dia inteiro, na oficina ou na roça.” (COSTELLA, 2001 )

Na década de 50, o rádio brasileiro passou pela primeira e grande crise

registrada na história. Dez anos após viver a época de ouro, o invento da televisão

trouxe à sociedade um novo cenário, aquele que carrega consigo áudio e imagem.

Os profissionais de rádio começam a transitar para o novo veículo. E, além de

perder muitos apresentadores, atores e cantores, as emissoras de rádio no país

começam a perder audiência para a “telinha”.

Enquanto o rádio atuava somente no imaginário social, a TV mostrava -

mesmo que a princípio em preto e branco - quem eram os donos das vozes, quem

eram as cantoras e artistas que viviam na imaginação de tantos ouvintes.

Uma crise financeira se instalou na radiodifusão brasileira. Com a perda dos

profissionais para as emissoras de TV, as rádios tiveram que trocar os antigos

profissionais por fitas-cassetes e discos, assim alterando toda programação. Não era

possível manter as produções caras que até então eram feitas. Surge, então, a

polêmica da extinção do veículo.

A primeira solução encontrada pelos donos de emissoras de rádio foi investir

no radiojornalismo. Em 1954, a Rádio Bandeirantes, localizada no estado de São

Paulo, inovou ao criar “programetes” de 15 minutos, e de horas cheias, ou seja, de

hora em hora; aliando-se ao fato dos rádios serem portáteis, o que possibilitou às

pessoas ficarem informadas a qualquer hora e em qualquer lugar, e isso conquistou

o público novamente e reanimando o rádio brasileiro.1

No ano 1955, a primeira transmissão experimental de rádio FM aconteceu. A Rádio Imprensa do Rio de Janeiro, de propriedade de Anna Khoury, chegou aos ouvintes com uma nova proposta: a de entretenimento e diversão, sem interesses comerciais, com muita música e informação.

1 Fonte: www.radialistasp.org.br

Page 20: A SOBREVIVÊNCIA DO RÁDIO BRASILEIRO NA ERA DA CONVERGÊNCIA DAS MÍDIAS

Em 1959, o rádio já se recuperava da crise causada pela criação da televisão,

e agora as transmissões ao vivo se tornavam cada vez mais constantes, os

repórteres falavam diretamente do local do fato. Investiu-se em prestação de

serviços, ou serviços de utilidade pública, como: funcionamento de comércio durante

feriados, dos bancos, perda de documentos, etc. Fatos e acontecimentos que

facilitariam as rotinas da sociedade e aproximaram os ouvintes dos que faziam rádio,

instaurando uma espécie de intimidade.

Na década de 60, o rádio experimentou a segmentação, especializado e

focado em prestação de serviços e transmissões esportivas. Os apresentadores

eram mais comunicadores e dinâmicos, ao invés de somente possuírem boas vozes.

As incessantes descobertas envolvendo comunicação via satélite que

começaram a aparecer no mundo em 1957, chegaram ao Brasil em 1961. Em 27 de

outubro deste ano, o país resolveu participar ativamente das pesquisas envolvendo

novas tecnologias. E, após montar um terminal de transmissão no Rio de Janeiro,

alcançou-se a comunicação, em 1963, com Nutley, nos EUA, também captada na

França, na Inglaterra e na Itália.1

Em ano de golpe militar, 1964, o rádio brasileiro passou por dificuldades.

Muitas rádios, contrariadas com regime militar e a derrubada do presidente João

Goulart, começaram a instigar os ouvintes a contestarem o regime, o que fez com

que a ira dos poderosos fosse aguçada.

O Ministério das Comunicações, criado em 25 de fevereiro de 1967, iniciou, em 1969, um esquema de censura e manipulação das emissoras brasileiras para evitar que este veículo de comunicação de massa causasse problemas políticos e ideológicos, e instituiu-se então o Ato Institucional Nº 5.

[...] Depois de uma reunião do presidente Arthur da Costa e Silva com generais e ministros, em 13 de dezembro de 1968, foi instituído o Ato Institucional Nº5, que determinava censura total à imprensa e revogava as punições ao abuso de poder das autoridades policiais e militares. (RADIALISTAS SÃO PAULO . Uma Breve História Do Rádio Am No Brasil. Disponível emhttp://64.233.169.104/search?q=cache:Mp4RpuX5KTUJ:www.radialistasp.org.br/hist_radio.htm+Primeira+r%C3%A1dio+FM+no+Brasil&hl=pt-BR&ct=clnk&cd=1&gl=br acessado aos 26/03/08 às 22h10)

1 Fonte: COSTELLA, Antônio F. Comunicação – do grito ao satélite. 4 ed. São Paulo: Mantiqueira, 2001.

Page 21: A SOBREVIVÊNCIA DO RÁDIO BRASILEIRO NA ERA DA CONVERGÊNCIA DAS MÍDIAS

Além de censurar as emissoras, o AI 5 começou a investir em rádios FM , e,

cada vez mais, as emissoras passaram a se segmentar, o que fez com que, em

1970, já no governo de Ernesto Geisel, o rádio fosse conhecido como rádio brega,

mas continuou com audiência.

Durante as décadas de 70 e 80, o rádio se baseou nas FMs, no

entretenimento, no radiojornalismo e na segmentação, e passou por momentos de

melhorias e aperfeiçoamento.

Nos primeiros cinco anos da década de 80, passou por uma ótima fase,

porém, em 1985, outra crise dominou o rádio, desta vez, especificamente o rádio

AM.

Somado à isso, os donos das AMs começam a vender as emissoras, por

acreditarem serem as FMs mais lucrativas, com maior possibilidade de publicidade e

menor custo.

Coincidentemente, neste mesmo período, 1990, a internet começou a

conquistar de vez o mundo. Uma nova tecnologia, que novamente instigava a

curiosidade das pessoas para o novo e inusitado, tirou o foco da sociedade do rádio

para o moderno mundo virtual.

Em 1993, o movimento, para acabar com a obrigatoriedade do programa “Voz

do Brasil” tomou força, porém sem sucesso. A agitação acabou e a manifestação foi

em vão.

Na virada do século, no ano 2000, o preconceito para com o som das AMs

aumentou infinitamente e em 2001 nasceu a perspectiva do som digital. Agora o AM

terá som de FM e o FM qualidade de CD.

No ano de 2005, a primeira emissora do país a lançar jornalismo em FM

durante 24 horas foi a Band News FM, que estreou programação em São Paulo, Rio

de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre. Este sistema ainda não está operante em

todas as regiões do país, somente em algumas capitais e via internet.

Atualmente, as rádios web, sistemas de redes e as constantes descobertas

em comunicação por satélite sustentam a continuidade do rádio na era da

convergência das mídias, porém ainda não se sabe qual o destino das emissoras de

rádio no país e nem do radiojornalismo. Esta monografia visa expor pontos que

possam levar a respostas diante da dúvida que se instala sobre as perspectivas do

radiojornalismo e possíveis propostas para o mesmo.

Page 22: A SOBREVIVÊNCIA DO RÁDIO BRASILEIRO NA ERA DA CONVERGÊNCIA DAS MÍDIAS

2.2 – Características de um rádio sobrevivente

Diante de tantas crises pelas quais o rádio passou, é importante salientar,

neste momento, as características que possivelmente fizeram com que o mesmo

sobrevivesse aos períodos difíceis já apresentados neste trabalho.

É fundamental analisar cada fator diante do olhar dos ouvintes, do setor

comercial e principalmente do lado jornalístico, por isso cada particularidade será

avaliada em tópicos para a melhor exposição de cada característica.

- Facilidade de acesso: a mobilidade.

Todas as características do rádio baseiam-se fundamentalmente na facilidade

do acesso. O ouvinte tem contato com as informações e entretenimento de forma

rápida e eficaz na hora em que quer. O fato de que existem diversos tipos de

aparelhos de rádio portáteis, de tamanhos e espécies diversificados faz com que o

rádio seja o único veículo que está em todos os lugares e pode acompanhar o

ouvinte, deixando-o sempre informado.

Do ponto de vista comercial, a alta freqüência de exposição da informação, da

publicidade e dos atores-apresentadores, em vários lugares ao mesmo tempo,

fazem com que o rádio seja um bom negócio; quanto maior o ambiente de

propagação, mais pessoas são instigadas a anunciar.

- O Poder da Linguagem

Desprovido do recurso imagem, o ouvinte imagina tudo o que está sendo

falado, por isso é importante que a linguagem voltada para o mesmo seja

diferenciada. Deve ser uma linguagem mais simples, coloquial, que se aproxime da

fala. Se o ouvinte não está atento, pode perder a essência principal da notícia.

Se existe uma linguagem muito rebuscada, até mesmo a área comercial da

emissora é afetada, já que, ao trabalhar com uma linguagem muito estruturada,

desnecessariamente pode distrair o ouvinte e fazer com que se desinteresse e até

mesmo mude a freqüência.

Por isso, o método da repetição é muito utilizado, só que, se aplicado em

excesso, pode cansar o receptor da mensagem. É preciso encontrar o equilíbrio

entre o coloquial e o método de repetição. Não se deve simplificar demais e nem

tornar-se redundante.

Page 23: A SOBREVIVÊNCIA DO RÁDIO BRASILEIRO NA ERA DA CONVERGÊNCIA DAS MÍDIAS

- Agilidade de informação: o imediatismo.

O rádio caracteriza-se pela agilidade da informação e do imediatismo, que

podem ser considerados fatores de bastante relevância na análise das

características.

Na hora em que o fato acontece, o ouvinte fica sabendo com riqueza de

detalhes, o que ocorreu imediatamente e, ao decodificar a mensagem e o que está

sendo falado, reage no mesmo momento, o que aumenta a probabilidade do

departamento comercial obter sucesso na venda da imagem e anúncios da emissora

e das empresas anunciantes.

Em tempo real, o repórter que está na rua vê o episódio e consegue informar,

via telefone, as últimas notícias, e o fato do rádio ter produção menos complexa

auxilia o repórter na transmissão de informações com facilidade e agilidade.

- O contato constante: a interatividade.

Se o rádio possui imediatismo, significa dizer também que terá interatividade,

faz com que o ouvinte dê o feedback, ou seja, a realimentação da informação.

Se o mesmo não entendeu algo, liga na emissora e pede mais informações.

Caso não concorde com o que está sendo falado, também entra em contato e se

pronuncia. Assim, sente-se ouvido. É como se nessa hora o ouvinte se tornasse o

emissor da mensagem, que fala, expõe o que pensa, e o veículo de comunicação

fosse o ouvinte.

A interatividade também dá ao departamento comercial a noção de que algo

possa estar errado na produção dos comerciais e imagem da emissora. Quando o

ouvinte se pronuncia, podem-se fazer alterações. Assim como na produção de

matérias, no setor jornalístico, o ouvinte vira pauteiro, dá idéias, contribui para que

todos saibam aquilo que pode ser interessante. Cabe, então, ao departamento

selecionar o que deve ou não ser levado em conta.

- A praticidade como meio: a instantaneidade.

Com a invenção dos transistores, os aparelhos de rádio tornaram-se presentes em locais antes não imaginados, e, além disso, faz-se radiojornalismo através de telefone, ao vivo, e isso é um diferencial de veículo. No impresso, a notícia só é veiculada no dia seguinte. Na televisão, o fato necessita ser filmado,

Page 24: A SOBREVIVÊNCIA DO RÁDIO BRASILEIRO NA ERA DA CONVERGÊNCIA DAS MÍDIAS

registrado. Na internet, precisa-se de foto, de texto escrito, para depois haver

postagem. No rádio, não. Tudo é em tempo real.

A principio, o fato do rádio não possuir imagens poderia ser visto como um

problema, uma regressão no tempo, mas, atualmente, um dos fatores que o torna

prático e instantâneo é a ausência de imagem.

Rápido para o ouvinte que quer ficar informado, vivo para os anunciantes, e

criativo e dinâmico para os que fazem a notícia. Rápido, porque o ouvinte fica

sabendo na hora da notícia, se quiser saber, mais procura outro meio. Vivo, pois os

anunciantes estão diretamente presentes e desafiador para os jornalistas.

- A vantagem: o preço.

O contato entre a radiodifusão e indivíduos está cada dia mais fácil. O custo

dos aparelhos receptores de sinal são muito baixos e acessíveis. Compram-se

aparelhos de rádio a partir de R$ 1,99, e a manutenção dos mesmos é feita com

pilhas ou energia. Preços ditos não tão elevados.

Para as emissoras, os custos estão diretamente ligados às vendas, aos

anunciantes e à audiência. Se a empresa-emissora possui um grande número de

anunciantes, os custos com funcionários e manutenção de equipamentos são pagos

pelos próprios anúncios. Caso contrário, a emissora deve buscar alternativas para

se sustentar.

A produção jornalística pode ser considerada barata, uma vez que não se

gasta tanto com equipamentos, como é o caso das emissoras de televisão, por

exemplo. Gasta-se, sim, com combustíveis, funcionários, telefonemas, custos estes

que podem ser mantidos pelos anúncios e publicidades. E outras despesas podem

ser pagas também através de permutas.

- A escolha: a seletividade.

Como dito anteriormente, com o tempo, as emissoras de rádio tiveram que

buscar diferenciais, logo, optaram por segmentar suas programações. Algumas se

voltaram para esportes, outras para entretenimento e assim por diante. Isso fez com

que os ouvintes tivessem a opção de escolher a programação. Se ele sintoniza em

determinada emissora, sabe exatamente o que ouvirá.

Page 25: A SOBREVIVÊNCIA DO RÁDIO BRASILEIRO NA ERA DA CONVERGÊNCIA DAS MÍDIAS

O departamento comercial vende espaço de mídia para comércios

específicos, por exemplo, se a rádio é especializada em esportes, vende mídia para

empresas de esportes. O que facilita a venda e inserção de “spots” (anúncios).

Já o departamento jornalístico, neste caso, varia de acordo com o foco

principal da emissora. Se a rádio é voltada para entretenimento, não se preocupará

com o setor jornalístico.

- Um diferencial: a tradição

Com o tempo, o ouvinte não ficou mais sozinho. O rádio virou um amigo, um

aliado das pessoas para acabar com a solidão. A maioria das pessoas viu no rádio

uma espécie de companheiro em que poderiam confiar seus problemas e

inseguranças. Basta ligar o rádio, quando estão sozinhas, para acabar com a solidão

na qual se encontram.

Para o departamento comercial veicular mídia tornou-se fácil, já que o rádio

era considerado o único veículo de comunicação de massa que atingia a classe dos

analfabetos, passando informações sem necessitar de mais de um sentido além da

audição.

O radiojornalismo cresceu baseado na facilidade da linguagem, mais

coloquial, e mais próxima do ouvinte. Isso se mantém até os dias atuais, o que

contribui muito para produção de textos e matérias em rádio.

2.3 – Tipos de rádio; diferenças e semelhanças.

O rádio pode ser utilizado de várias formas. Desde a simples transmissão de

uma pequena informação, por walk-talkies, até a difusão de uma programação

completa.

A princípio, os rádios eram usados para comunicação entre navios para evitar

colisões. Atualmente, além de estarem presentes nas embarcações náuticas, são

usados também na aviação, nas empresas, indústrias, segurança pública e até

mesmo nas atividades privadas.

“A transmissão e recepção de todos os tipos de radiocomunicação envolve os mesmos estágios: (1) criar os sinais de comunicação e transformá-los em ondas eletromagnéticas, (2) transmitir (enviar) as ondas de rádio e (3) receber as ondas de rádio e convertê-las em uma forma que possa ser compreendida” (CHILDCRAFT, 1981).

Page 26: A SOBREVIVÊNCIA DO RÁDIO BRASILEIRO NA ERA DA CONVERGÊNCIA DAS MÍDIAS

Com base na citação acima, é importante falar sobre cada processo

separadamente. Para acontecer a transmissão de informações, é necessário que as

ondas sonoras se transformem em elétricas e depois eletromagnéticas.

Todo processo começa a partir do momento em que o locutor-emissor produz

som, ou seja, fala algo ou provoca vibrações no ar através das cordas vocais. Essas

vibrações atingem o microfone que está conectado a fios, cabos e mesa de controle,

instrumentos que transmitem energia elétrica; e, ao encontrarem as ondas sonoras,

associam-se e as impulsionam ao transmissor da emissora. Este transmissor é

responsável por produzir ondas, chamadas portadoras, que transmitirão as ondas

elétricas oriundas da mesa de controle para a antena da emissora, a qual propaga

os sinais em forma de ondas de superfície, espaciais e ondas espaciais refletidas. 1

“Na realidade, o transmissor é construído de tal maneira que ele emita uma onda eletromagnética de determinada freqüência e de determinada amplitude (característica associada à potência do transmissor). Para cada transmissor existe uma freqüência característica. Esta onda eletromagnética característica de cada transmissor, por si só, não transmite mensagem nenhuma para ser captada no receptor. Ela é apenas a portadora da mensagem, a qual deverá ser de alguma forma “calcada” (“escrita”) sobre ela. É por isto denominada de onda portadora. Note bem, a freqüência da onda portadora é a freqüência característica do transmissor”. (FEIRA DE CIÊNCIAS. Transmissão – Recepção Rádio Galena Iniciação aos fenômenos ondulatórios. Disponível emwww.feiradeciencias.com.br/sala15/15_33.asp

A partir do momento em que o transmissor emite dois tipos de ondas

eletromagnéticas, cria-se então a concepção de modulação em AM e FM.

Amplitude Modulada (AM)

A compreensão de amplitude modulada surge da idéia de que as ondas

portadoras advindas do transmissor não transmitem nenhum tipo de mensagem e

somente ao chocarem-se com as ondas eletromagnéticas podem conduzir alguma

difusão.

Isso acontece pela alteração na amplitude das ondas portadoras. Ao entrarem

em contato, as ondas eletromagnéticas alteram a potência (velocidade a que é

transferida energia ou a que é realizado trabalho) das ondas portadoras. Observe

figura:

1 Fonte: CHILDCRAFT. Enciclopédia Delta Universal. Rio de Janeiro: Editora Delta, 1981

Page 27: A SOBREVIVÊNCIA DO RÁDIO BRASILEIRO NA ERA DA CONVERGÊNCIA DAS MÍDIAS

As ondas em amplitude modulada são propagadas pela antena das

emissoras de três formas. Por ondas de superfície (horizontais que atingem os

receptores próximos), ondas espaciais (que se propagam além da ionosfera e

atingem receptores distantes) e ondas espaciais refletidas, que são as ondas que

atingem a ionosfera e ainda refletem na terra aumentando ainda mais a

possibilidade de atingir outros receptores. 1

Por isso, pode-se dizer que as emissoras AMs atingem um público maior do

que as FMs, além de abranger lugares mais distantes no período noturno quando as

ondas espaciais são mais eficazes.

Porém, ao mesmo passo em que atingem locais mais distantes, são

prejudicadas pela estática provocada pelas ondas espaciais refletidas, fato que será

analisado à frente.

Freqüência Modulada (FM)

A Freqüência Modulada difere-se da Amplitude Modulada pelo fato de que, ao encontrar as ondas portadoras emitidas pelo transmissor, as ondas eletromagnéticas alteram o número completo de ciclos ou oscilações por unidade de tempo, ou seja, modificam a freqüência com que as ondas portadoras emitem sinal

1 Fonte: CHILDCRAFT. Enciclopédia Delta Universal. Rio de Janeiro: Editora Delta, 1981

Page 28: A SOBREVIVÊNCIA DO RÁDIO BRASILEIRO NA ERA DA CONVERGÊNCIA DAS MÍDIAS

Da mesma forma, como na transmissão AM, as ondas em freqüência

modulada são emitidas em ondas de superfície e ondas espaciais, porém

diferentemente das AMs, as ondas espaciais em FMs não são refletidas ao atingir a

ionosfera, fato que faz com que a propagação de informações das FMs restrinja-se a

menos quilômetros atingidos do que as de amplitude modulada.

Como AMs e FMs possuem transmissões diferentes, as informações são

transportadas em freqüências desiguais, logo, uma não interfere na outra.

. Para que esses sinais de freqüência sejam recebidos, é preciso que o

receptor (aparelho de rádio) tenha uma antena, o sintonizador, amplificadores e alto-

falantes, componentes de um aparelho básico de radiodifusão.

Por causa destes quatro elementos, o ouvinte consegue ouvir a programação

que deseja. A antena capta os sinais enviados pelo transmissor, e através do

sintonizador marca a freqüência escolhida. Os amplificadores melhoram o sinal da

emissora escolhida e por fim os alto-falantes transformam os sinais na mensagem

final para o ouvinte, modificando as ondas recebidas em ondas parecidas com as

sonoras, originadas do estúdio da emissora. 1

Amplitude Modulada X Freqüência Modulada

Várias diferenças podem ser observadas entre Amplitude Modulada e Freqüência Modulada. Desde a forma de transmissão até o estímulo causado pela radiodifusão.

1 Fonte: CHILDCRAFT. Enciclopédia Delta Universal. Rio de Janeiro: Editora Delta, 1981

Page 29: A SOBREVIVÊNCIA DO RÁDIO BRASILEIRO NA ERA DA CONVERGÊNCIA DAS MÍDIAS

“O veículo possui características como a instantaneidade, a simultaneidade e a rapidez. Todas elas contribuem assim para fazer do rádio o melhor e mais eficaz meio a serviço da transmissão de fatos atuais. Outras características deste meio de transmissão de mensagens corroboram tal hipótese. Entre elas, a capacidade do rádio de ser entendido por um público muito diversificado, por não exigir um conhecimento especializado para a decodificação e a recepção nas condições mais diversas, todas elas favorecidas pela autonomia concedida ao aparelho receptor a partir do invento do transistor.” (PRADO, 1985)

- Qualidade de transmissão

Como abordado anteriormente, o fato das transmissões em AMs serem feitas

também através de ondas espaciais refletidas faz com que os sinais atinjam lugares

mais afastados, porém este mesmo contribui para que a qualidade seja menor

comparada às das FMs, pois as ondas espaciais emitidas pelas FMs não refletem,

elas vazam além da ionosfera e as de AM refletem e fazem com que o som seja

alterado, interferindo na qualidade da transmissão.

- Programação

Um dos diferenciais entre AM e FM é a programação. Enquanto uma é

voltada para o entretenimento, a outra se baseia na quantidade de informação. FMs

têm um formato leve, com muita música e descontração. Já AMs programam-se

pautadas na informação e na prestação de serviços.

- Público

O público alvo de cada freqüência varia de acordo com o interesse de cada

ouvinte. Se se busca distração, sintoniza-se em emissoras de freqüência modulada,

já que, de acordo com “Manual do radialista” publicado pelo Ministério da Educação

em 1997, o público das FMs é segmentado e busca linguagem informal e música,

características de FM. Enquanto nas AMs o público busca informação instantânea,

prestação de serviços e jornalismo.

- Custos

Os gastos com AM são ditos mais caros, uma vez que a produção em AM deve ser mais elaborada, já que existem gastos com reportagens, maior quantidade de funcionários, manutenção de equipamentos, entre outros. Em FM, o fato de transmitir músicas e entretenimento faz com que as despesas sejam menores, já que os funcionários conseguem baixar as músicas gratuitamente na internet e usar outros recursos alternativos como este.

Page 30: A SOBREVIVÊNCIA DO RÁDIO BRASILEIRO NA ERA DA CONVERGÊNCIA DAS MÍDIAS

- Mercado

As FMs têm espaço maior do que as AMs no mercado de radiodifusão,por

alcançarem um sinal mais claro e limpo. Isso faz com que a audiência das FMs seja

maior do que as de AM.

- Potência

Enquanto as AMs transmitem em 535kHz e 1605kHz, as FMs o fazem em 88

a 108MHz. Um quilohertz corresponde a mil hertz (Vibrações por segundo) e um

megahertz equivale a um milhão de quilohertz.

- Estímulo

Entre as várias diferenças entre AM e FM pode-se observar o estímulo

cognitivo que cada uma proporciona aos ouvintes.

Rádio Alto Estímulo (AM) Rádio Baixo Estímulo (FM)