Calendrio Judaico1

A SAntidAde no tempo

Introduo ao Calendrio Judaico.

Datas histricas, como pedras fundamentais de um edifcio, se constituem em caminhos para serem trilhados pelos que querem manter suas tradies e sua herana histrica. Experimentadas por uma gerao e relembradas pelas geraes a vir , atravs das lembranas evocadas por estas datas que honrada a herana construda por nossos antepassados. Antes de 1971 o aniversario de Washington era um dos nove feriados celebrados nas suas datas especficas que ano aps ano caam em diferentes dias da semana. Houve ento uma reforma promovida pelo dcimo nono Congresso dos Estados. Unidos em 1968. Determinados a criar um sistema federal uniforme de feriados que ocorressem somente em Segunda Feiras o Congresso aprovou a mudana de trs dos feriados para passarem a ser assim celebrados e aumentou o nmero de feriados criando o Columbus Day (a ser celebrado tambm numa Segunda Feira). O aniversrio de Washington foi deslocado de sua data fixa, 22 de Fevereiro, e transplantado para a terceira Segunda de Fevereiro, seguida pelo Memorial Day que foi deslocado do ltimo dia de Maio para a ultima Segunda de Maio.O feriado recm criado Clumbus Day foi posicionado na segunda Segunda Feira de Outubro. (C. L. Arbelbide, Washingtons Birthday, www.archives.gov)

Em contraste com o estabelecimento de feriados histricos, que podem ser arbitrariamente posicionados ou movidos de forma a acomodar frias de fins de semana mais compridos, o calendrio Judaico no cumpre s a mera funo de honrar a herana Judaica. O Shabat e os dias festivos so em se mesmos nossa herana imbudos que esto de intrnseca santidade e espiritualidade e se constituem na oportunidade para um tremendo crescimento pessoal. O objetivo da serie de aulas de Morash sobre o Calendrio Judaico o de explorar o significado e a observncia do Shabat e dos dias festivos Judaicos ocasies naturalmente propcias para que todos os Judeus se conectem com sua herana.

A estruturA do tempo.

O primeiro conceito a ser esclarecido num estudo sobre quaisquer das pedras fundamentais do calendrio Judaico a compreenso de que os dias festivos Judaicos no comemoram apenas acontecimentos do passado. O Judasmo no enxerga o tempo como uma progresso linear esttica que flui de um momento para o outro sem qualquer conexo com o passado. Em vez disto, o Judasmo percebe o tempo como uma dimenso cclica, um ambiente no qual nos movemos da mesma forma com que nos movemos pelo espao. Assim escreve o Rabino E.E. Dessler : o tempo no passa meramente por ns, em vez disto, ns que nos movemos atravs dele. (Michtav MEliyahu, Vol. I, p. 103). O Rabino Dessler continua explicando que ns viajamos atravs de um ciclo semanal e desta forma encontramos a cada semana o Shabat, enquanto, ao mesmo tempo viajamos atravs de ciclo anual passando pelos festivais e dias festivos Judaicos. De fato, a palavra que significa tempo em Hebraico reflete seu significado inerente: zman significa preparado. Cada momento no tempo foi preparado por Deus para que o utilizemos a fim de alcanar nossos objetivos individuais e comunitrios. Como escreve o Maharal na introduo de seu livro Derech Chaim:

Tudo depende do tempo e cada coisa tem seu tempo particular, como afirma o versculo: Tudo tem sua poca e h um tempo para tudo [Kohelet/Ecclesiastes 3:1]. Nossos sbios afirmam que no h nada que no tenha seu lugar (particular) e no homem que no tenha seu tempo (especfico) [Pirkei Avot/Etica dos Pais 4:3], donde aprendemos que todas as coisas tm, cada uma, seu tempo especial.

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encontros no tempo.

N trajetria da viagem que empreendemos ao longo do ciclo anual, nos deparamos com vrios festivais. Todos eles recebem a denominao moadim, uma palavra que traduzida literalmente significa encontros. Os festivais so encontros no tempo. Mas o que que encontramos a cada ano em Pessach, Shavuot e Sucot? O Rabino Sholom Noach Brezovsky, no livro Nesivos Shalom (Vol. II, p. 189), nos ensina que cada um destes pontos de encontro tem sua prpria energia spiritual que nos oferece uma oportunidade nica de crescimento neste tempo escfico.

Cada um dos festivais Judaicos traz consigo um presente espiritual que nos proporciona inspirao para o ano inteiro. O presente a essncia especfica do festival. Pode-se depreender a essncia do festival de Sucot do texto da prece instituda por nossos Sbios: Zman Simchateinu, o tempo de nossa alegria....[De forma similar] Pessach chamado de Zman Cheiruteinu, o tempo de nossa libertao; Shavuot chamado de Zman Matan Torateinu, o tempo da doao de nossa Tor. Essas caracterizaes capturam a essncia de cada um destes festivais.

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Pessach, por exemplo, o tempo da libertao. Foi ento que o povo Judeu foi retirado do Egito, aps 210 anos de escravido, para se tornar a nao que receberia a Tor do Eterno. Ns revivemos a cada ano esta libertao numa experincia individual atravs das mitsvot de Pessach que nos provm com a fora necessria para vencer nossas inclinaes bsicas e libertarmos nossas energias para servir ao Eterno. Pessach chamado

o tempo de nossa libertao, no porque, falando historicamente, nos tornamos livres da escravido Egpcia naquele dia, mas porque a realidade espiritual chamada liberdade tem sua razes plantadas naquela poca do ano. por isto que nos dito na Hagad que cada pessoa se deve sentir como se pessoalmente estivesse saindo o Egito.

O que verdadeiro para Pessach no menos verdadeiro para cada um dos festivais do calendrio Judaico. Assim sendo, quando o Rabino Samson Raphael Hirsch analizou os festivais, em sua obra Horeb, ele os chamou de edot, testemunhas, porque eles so para ns testemunhas da natureza de sua energia espiritual enraizada nas suas respectivas estaes. Assim como Pessach nos proporciona um encontro com a liberdade, Shavuot oferece uma experincia sobre revelao. Rosh Hashan sobre julgamento, Sucot sobre alegria e assim por diante.

(Para uma melhor compreenso sobre como as mitsvot dos Yomim Tovim podem ser a fonte para o estabelecimento dos festivais, veja Sifsei Chaim, Moadim, Vol. III, pp. 188-189.)

purim e chAnuc

importante notar que mesmo os festivais de origem Rabnica, ou seja, Purim e Chanuc , seguem o mesmo padro. Instituindo estes festivais e as mitsvot que neles devem se cumpridas nossos Sbios nos estavam revelando a energia especial das foras espirituais inerentes a estas datas. Com o Rabino Elchonon Wasserman explica em Kuntres Divrei Sofrim (p. 7), cada mitsv instituda pelos Sbios tem um carimbo Divino.

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Em todos os mandamentos e proibies de origem Rabnica os Sbios sintonizaram suas mentes com os pensamentos Divinos....e por esta razo somos obrigados a agir como eles determinaram, porque assim o fazendo estaremos cumprindo o desejo do Eterno, que eles tiveram a capacidade de perceber em suas mentes por estarem estas sintonizadas com a dEle.

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Isto explica porque em Chanuc recitamos a beno ao acender a menor.

" ' " Abenoado s Tu, Eterno nosso Deus, que nos santificaste com Teus mandamentos e nos ordenaste acender as velas de Chanuc. Embora a determinao de acender a Chanuki no seja uma ordem Bblica, compreendemos que, como todas as determinaes Rabnicas ela a revelao da vontade Divina. Portanto seja a essncia do tempo revelada pela Tor ou pelos Sbios, compreendemos que nossos festivais so uma oportunidade nica de ensejar nosso crescimento espiritual

cAdA FestivAl um presente.

O Rabino Hirsch (Horeb, pp. 86-88) sumariza a mensagem central dos festivais Judaicos e explica como se relacionam entre si da seguinte forma: shabat Consagrao da vida.

pessach A criao fsica do povo Judeu e a ligao entre seu destino e seus deveres atravs de todas as geraes.

shavuot A criao spiritual do povo Judeu e a origem Divina dos ensinamentos Judaicos e sua norma de vida.

rosh hashan e Yom Kipur O Exame da vida.

sucot A sobrevivncia fsica do povo Judeu na terra de Israel e a apreciao da especial proteo Divina

shemini Atzeret Sobrevivncia espiritual do povo Judeu na terra de Israel e a tutela Divina da Tor.

purim A sobrevivncia fsica do povo Judeu no exlio e a afirmao da f na proteo invisvel do Eterno a este povo.

chanuc A sobrevivncia espiritual do povo Judeu no exlio e a afirmao da f na preservao Divina do esprito de Israel.

Cada um dos tesouros espirituais desses festivais acrescenta uma dimenso necessria ao panorama completo da vida Judaica. Nossas vidas so portanto envolvidas pela alegria de Purim e temperadas pelas lamentaes de Tish BAv; so inspiradas pela teshuvah em Yom Kipur e preenchidas pela trepidao de Rosh Hashan; iluminadas pela perspectiva de Chanuc e motivadas pela oportunidade de Shavuot. Todas so necessrias , cada uma em seu tempo. Tudo tem seu tempo e h um tempo para cada coisa sob o sol.

sAntiFicAndo o tempo.

Mas, estaremos ns simplesmente girando em volta de um ciclo que se repete indefinidamente, encontrando sempre os mesmos momentos de liberdade, julgamento e alegria a cada ano? Na verdade, embora a estrutura

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do tempo seja cclica ela tambm linear. Isto , passa por estes momentos especiais a cada ano, mas cada ano como uma nova experincia uma nova oportunidade de incorporar a essncia do festival em nossas vidas. A palavra Hebraica para ano shanah, que significa no somente repetio mas tambm mudana. Ento a estrutura Judaica do tempo no se assemelha a um crculo mas sim a uma espiral em movimento ascendente, progredindo em direo a um objetivo o propsito final da Criao enquanto ao mesmo tempo passa por pontos chave de conexo que preenchem nossa jornada com energias especiais ao longo do caminho.

A viso Judaica do tempo dinmica. Envolve a ns, os participantes, no processo. Todos os festivais Judaicos, com exceo do Shabat so determinados segundo um calendrio lunar fixado pelo povo, ou mais precisamente pela Corte Superior Judaica (ajustado periodicamente para coincidir com as estaes do ano solar). A cada ms, testemunhas vinham informar ter avistado a nova lua e ento a Corte anunciava o incio de um novo ms, determinando desta forma quando deveriam ser celebrados os festivais. por isto que a palavra Hebraica para me chodesh, significando algo novo. Cada ms renovado com a participao da humanidade. O Shabat como o indicador da Criao do mundo a exceo a esta regra porque chega em seu tempo semanal determinado sem qualquer interferncia nossa. Mas todos os outros feriados e festividades Judaicas so um encontro mutuo entre o Eterno e a humanidade. [Veja, do Rabino Samson Raphael Hirsch, Comentrio sobre Shemot/Exodus 12:2].

A mitsv de santificar a lua nova transformou o povo Judeu de passivos passageiros no tempo em condutores das foras espirituais. Participando do processo em que o Eterno introduz no calendrio as energias espirituais relevantes dos Moadim, ns mesmos passamos a santificar o tempo. Quando afirmamos em nossa beno de cada festival? Abenoado s Tu Eterno nosso Deus, que santificas Israel e os tempos, o que estamos realmente fazendo abenoar o Eterno por nos ter dado a habilidade de santificar o tempo. [Veja o Talmud Bavli, Berachot 49a].

shAbAt A pedrA de toque dA vidA JudAicA.

Como j vimos, o Shabat diferente dos festivais. Sua santidade est permanentemente ancorada na estrutura do tempo estabelecida pelo prprio Eterno. No primeiro Shabat, descansou o Eterno de Seu trabalho de criar o mundo. Cada Shabat nos oferece o sentimento desta compleio. O mundo ainda no est perfeito mas o Shabat meein Olam HaBa, uma prova do paladar do Mundo Vindouro. Sem a lembrana semanal do Shabat, o ciclo do tempo ficaria sem controle da mesma forma que ns perderamos de vista o propsito final da Criao. Ele nosso ponto fixo de referencia em relao a santidade. Cumprindo o Shabat proclamamos que Deus criou o universo, nos deu a Tor e est diretamente envolvido na conduo da histria do mundo. Conclumos da que o Shabat manifesta a essncia do Judasmo e da vida Judaica.

revestindo-nos de energiA.

Todos ns estamos familiarizados com os feriados e os festivais Judaicos. Participamos de servios religiosos nas Grandes Festas (Rosh Hashan e Yom Kipur), acendemos a menor de Chanuc e sentamos a mesa do Seder de Pessach. Mas absorvemos as energias espirituais que se manifestam nestas pocas? Encaramos os festivais no como aniversrios de acontecimentos histricos mas como marcadores de realidades espirituais enraizadas no tempo? Percebemos nossa participao nos rituais que envolvem estes acontecimentos como oportunidades para santificar o tempo , para elevar o mundano a um novo plano spiritual?

As aulas apresentadas nesta Serie da Morash sobre o Calendrio Judaico visam atender exatamente a isto. Pesquisando as fontes Judaicas clssicas e os trabalhos dos grandes filsofos Judeus atravs dos tempos, projetamos estas aulas de forma a nos ensinar a extrair o mximo de nossos encontros sazonais com o Eterno ao longo de nossa jornada atravs da espiral do tempo para o cumprimento do propsito da Criao.