a respeito do movimento estudantil pecheux

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  • 8/3/2019 A Respeito Do Movimento Estudantil Pecheux

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    [4. H.-F. MAUCY,op. cit ., p. 204.15. CHA\l.LEVILLE,Archives de Ia loge, registro de correspondncia f. 2-42.16. Esse mtodo, estabelecido por Michel Pcheux, st resumido num artigodos Annales E.S.C., maio-agosto de 1971, pp. 668-694. Pode-se consultartambm M. PCHEUX,Analyse automatique du discours, Paris , Dunod, 1969,141 p., C. HAROCHEe M. PCHEUX,Manuel pour l 'utlisation de Ia mthoded'analyse automatique du discours, Paris , Laboratrio de psicologia socialda Sorbonne, 1971, 52 p. datilografadas.17. D. LIGOV, "La franc-maonner ie f ranaise au XVIII" siecle (position desproblemes et tat des questions)", Information historique, maio-junho de1964, p. 108 ..

    264

    M. PCHEUX E J. WESSELIUSA RESPEITO DO MOVIMENTO ESTUDANTILE DAS LUTAS DA CLASSE OPERRIA:3 ORGANIZAES ESTUDANTIS EM 1968

    (Federao dos Estudantes Revolucionrios)(Movimento de 22 de Maro) (Unio dos Estudantes Comunistas)

    IntroduoA anlise que aqui apresentamos refere-se ao contexto da palavraluta I nos panfletos impressos em maio e junho de 1968 por trs organizaesestudantis: a Federao dos Estudantes Revolucionrios(F .E. R. ),0 Movimento de 22 de Maro (22M) e a Unio dosEstudantes Comunistas (U. E .C. ).A escolha da palavra-chave foi inspirada, em primeiro lugar, noque acreditamos ser uma das caractersticas do "movimento de Maio".Efetivamente, no era, em primeiro lugar, um movimento de revolta,de oposio, de luta contra o "poder", no importa como este tenhasido definido? Partindo dessa considerao, poderamos ter mantidocomo palavra-chave o termo combate, em vez de luta. Entretanto, essesdois termos no so equivalentes. A amplitude de significao da raizluta maior que a da raiz combate e, principalmente, a palavra lutapodeoter um sentido poltico muito preciso, como em luta de classes.Por outro lado, uma vez que o conjunto desses critrios nos pareceudecisivo, o termo luta (no singular) encontra-se entre as palavras utilizadas mais freqentemente nos panfletos de maio de 1968. Segundo aspesquisas de Geffroy, Lafon e Tournier,2 a palavra luta aparece emter.ceiro lugar, depois de estudantes e trabalhadores, ao passo que otermo combate s aparece no 18.0 lugar.

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    Pressupomos que o contexto dos termos luta e lutar permitltlamostrar um aspecto das perspectivas polticas e da estratgia dasorganizaes estudadas, pelo menos tal como so expressas verbalmente.Quais so os protagonistas, quais os objetivos que essas organizaesconsideram importantes? Em outras palavras: quem luta, com quem,contra quem ou contra o qu? Como? Por que ou por quem?Escolhemos os panfletos como material de anlise porque est"es

    constituam, em maio e junho de 1968, um dos modelos de comunicaoprivilegiados, como os cartazes ou as inscries nos muros. Pontuavamos acontecimentos; respondiam uns aos outros. O aspecto temporal muito importante: muitas vezes os panfletos so escritos em funode acontecimentos determinados; referem-se a uma situao limitada notempo e, s vezes, no espao. isso o que diferencia os panfletos dosmanifestos, programas, etc., que tambm constituem tomadas de posio coletivas.Distinguem-se tambm dos jornais, por um lado, pela sua no-periodicidade e, por outro, por serem gratuitos. E mais: a informaoe as anlises polticas contidas num panfleto tm sempre um carterbastante esquemtico. Um panfleto tem que ser lido rapidamente, da

    o seu estilo geralmente resumido. Da ideologia dos autores ele sconserva o ,que pertinente com relao ao contexto poltico e conjuntura em que se situa.Este dado ,muito interessante no que diz respeito comparaoentre as organizaes, mas tambm acarreta algumas complicaes metodolgicas. Com efeito, uma anlise rigorosa exigiria uma comparaodia-a-dia, ou, em ltimo caso, em perodos muito curtos. 3Ora, isso no foi possvel, por um lado porque as organiz~esconsideradas nem sempre distriburam panfletos simultaneamente e,por outro, porque a comparao seria feita com um nmero de enunciados muito pequeno, tendo em vista as limitaes do mtodo empregado. Por isso que agrupamos, para cada organizao, os panfletosdistribudos entre 3 de maio e 30 de junho, considerando que duranteesse perodo, historicamente delimitado, as diferenas que existemem cada organizao entre umsubperodo e outro no devem ser deum grau que torne impossvel qualquer comparao transversal.Resta-nos agora caracterizar rapidamente as 'organizaes cujostextos foram analisados no plano deste estudo. Como dissemos acima,trata-se da Federao dos Estudantes Revolucionrios (F. E .R. ), doMovimento de 22 de Maro (22M) e da Unio dos Estudantes Comunistas (U. E .C. ).

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    A razo da nossa escolha reside no fato de que essas organizaesimplantadas no meio estudantil apresentam origens histricas desco-nexas. No estiveram ligadas antes e no provm de cises diretas ,apartir de um movimento poltico comum. As cises encontradas naorigem das divergncias entre a U. E .C. e a F. E. R . so anterior,es prpria existncia dessas organizaes. A U. E. C. foi criada em1956, durante o XIV Congresso do Partido Comunista Francs. Semser propriamente a ala estudantil do P. C.F . , a U. E .C. baseia-se, contudo, na linha elaborada por este (pelo menos era o"que ocorria em1968 ) . Das trs organizaes consideradas, esta a nica a ter naretaguarda um grande partido ligado classe operria.

    A F. E .R. nasceu em abril de 1968. Rene os estudantes dosComits de Unio de Estudantes Revolucionrios (C. L. E. R .) e dogrupo Revoluo. Os C.L.E.R. foram criados em 1961 por militantesda Organizao Comunista Internacionalista para a reconstruo da IVInternacional (O. C. r. ).Quanto ao terceiro grupo, o Movimento de 22 de Maro, surgiu,como o nome indica, a 22 de maro de 1968, em Nanterre, por ocasioda ocupao do edifcio da administrao aps a priso de alguns militantes do Comit Vietn Nacional. O 22M difere das duas outras

    organizaes na medida em que no proclama o marxismo-Ieninismo e,em certos aspectos, at se ope a ele (principalmente, como veremosa seguir, no que diz respeito aos problemas de organizao).O mtodo usado 5 consistiu em tirar dos trs conjuntos de panfletos considerados as frases que continham o morfema luta em seuaspecto nominal ou verbal. Assim, foram constitlldos trs corpus,identificados respectivamente pelas siglas U. E. C., F. E.R.e 22M.Levantamos ,a hiptese de que o aparecimento da palavra luta ou lutar,no funcionamento de frases coletadas em cada um desses trs corpus,colocava em jogo mecanismos de seleo-combinao especficos (localizveis por comutaes num contexto invariante). O procedimentode anlise por meio de um tratamento informtico visa a determinaros diferentes vestgios desses mecanismos de seleo-combinao, agrupando-os em "domnios semnticos" (identificados aqui pela formaDl X que representa o ensimo domnio do corpus X). O estudo automatizado das relaes entre esses domnios permite, em certos casos,estabelecer a existncia de, configuraes de domnios semnticos, ouhiperdomnios, que sero identificados pela forma HD1X, que representa o ensimo hiperdomnio do corpus X.Cada organizao estudantil que participou do movimento de maio-junho de 1968 desenvolveu (como se sabe, de um modo que os resultados abaixo vo, em certa medida, permitir verificar) objetivos, pa-

    2(,7

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    Contudo, a simples meno dessa referncia, atualmente encontrada num grande nmero de movimentos estudantis dos pases capitalistas, no suficiente para esclarecer o carter especfico de que sereVeste no caso de maio de 68 na Frana. De, forma diferente, outrosmovimentos estudantis, que poderiam ser empiricamente 7 consideradosidnticos ao que se desenrolou na Frana, o movimento de maio foicronologicamente seguido por greves operrias, o que no significa quetenha sido causa delas, mas que, em todo caso, a anlise de sua realligao com a luta do proletariado na Frana absolutamente indispensvel no estudo do movimento estudantil francs em 1968 e depois:situa-se efetivamente dentro de uma conjuntura de luta, da qual o proletariado participa a ttulo de elemento decisivo.

    lavras de ordem e uma linha especfica. Tomando por base os resultados obtidos pelo mtodo acima descrito, vamos tentar precisar, emcada um dos trs exemplos escolhidos,. a natureza dessa especificidade,articulando em torno desse problema a apresentao e o comentriodesses resultados.Impe-se uma primeira constatao de ordem bem geral, ou seja,que o movimento estudantil no um fenmeno poltico autnomo(unicamente ligado aos intelectuais em formao nas universidades),

    mas que sua existncia concreta (as formas que assumiu na Frana)depende de um elemento que de certa maneira lhe exterior, emborapJ,:oduzanele uma srie de efeitos.6 Esse elemento a luta antagonistaque o proletariado e a burguesia capitalista travam na formaosocial francesa: a referncia luta de classe travada pela classe operria(na forma explcita do apoio s suas lutas e defesa de seus interesses)acha-se efetivamente presente nos 3 corpus estudados.

    HD2 F.E.R.a luta dos estudantes

    I. A referncia luta do movimento operrio

    designao do

    que abre caminho

    poltica do poder gaullista iperodo de poder popular !

    regime I d d d' d .oder e ver a elta emocraClagoverno popular (com participao ... )para o socialismo

    1luta 1 por um 1. ~omit. _ " ,governo popularlntervenao de umHD2D7

    Nessas condie::;,o primeiro ponto ,a ser examinado refere-se maneira pela qual a luta do movimento operrio (seu adversrio, seuobjetivo, seus meios de ao) evocada nos discursos das trs organizaes consideradas.

    No caso da V.E .C., onde a ligao com o Partido ComunistaFrancs determinante e evidente face ao conjunto das outras organizaes estudantis, os objetivos do movimento operrio, a natureza doadversrio e os meios de ao so definidos nos mesmos', termos formulados pelos P. C. F., isto , nos termos de tomada do poder polticoao nvel do poder de Estado. O objetivo poltico explicitamentecolocado.

    Esse objetivo articulado de modo antagnico adversrio poltico.

    D18

    D13

    Enfim, a luta por esse objetivo (a saber, a vit~ia poltica sobreesse adversrio) est ligada definio dos meios para alcana-lo.HD5 1discusso sobre umll' unio em um 1programa comum I de governocontedo de'. 0

    luta I pela unidade Iontra a ditadura luta por um governo popular

    Da i!D28

    Esses diferentes pontos so explicitamente retomados na formulao que os estudantes comunistas fazem a respeito da luta travada.

    das massasde classedo 'Proletariado

    lutaev fazer parte integrante dafaz parte integranteda

    dos estudantesdos, trabalhadoresdos sindicatosdos operriosdos estudantes

    HD122MViva a lutaHD1 V.E.C.Viva a luta

    2682(, lJ

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    HD3

    Os est.udantesl unio , IcomunIstaslutam pela ,instaurao de um governo.!-l,

    popularde uniocom participao ...capaz de ...

    dos resultados) o prprio objetivo do movimento operrio, em todaa sua generalidade: a especificidade do 22M, neste ponto, est emligar a realizao desse objetivo (construir outra sociedade) s formasconcretas e imediatas da luta (as barricadas), como confirmam osresultados abaixo:

    I em luta 11 De Gaulle 1contra '1' os decretos 11desemprego, I os licencia~entos Is suspensoes

    2, As formas de exterioridade do movimento estudantil COnlrelao ao movimento ~peraio

    Para comentar rapidamente este primeiro coitjunto de resultados,poderamos dizer que os objetivos estabelecidos pelaF. E. R., emtermos de contedo; esto politicamente em retrao com relao aosque a U. E. C. prope, ao passo que o 22M visa diretamente ao objetivo do movimento operrio, sem colocara questo da tomada dopoder poltico, porque ele se situa alm ou fora dessa questo.Veremos adiante as conseqncias antileninistas dessa posio do22 de maro.

    Depois de ter examinado os efeitos diferenciais da luta do proletariado face burguesia capitalista no discurso das organizaes estudantis, vamos enfocar as diferentes formas, de exterioridade que seestabelecem, conforme as organizaes, entre essa luta e aqueles queso caracterizados e que se caracterizam a si prprios como estudantes.Retomemos a constatao que fizemos inicialmente (d. p. 268), ouseja, que, se a Universidade conta com alguns estudantes de origemproletria, o proletariado como tal est ausente (tanto em 1968 comoatualmente) 8 at agora, mostramos que essa ausncia do proletariadono impedia que as organizaes se referissem a ele; agora, vamosmostrar em que essa ausncia determina as prprias formas dessa referncia: em outras palavras, vamos nos questionar e questionar os resultados da anlise, para precisar a significao das formas variveis deexterioridade do movimento estudantil com relao ao movimento operrio.

    o sentido 'i da luta 1das barricadas 'o sentido 1profundo das barricadaserdadeiro das palavrasns queremos 1 transformar radicalmente a Universidade 1construir uma sociedade ... (que) ,

    D18

    D21D13

    Trata-se, na verdade, principalmente de uma luta defensiva, destinada a proteger as conquistas e impedir o agravamento da situao.R-essaltemos, por enquanto, o carter bem pouco pol tico dessesobjetivos de h.1ta,na medida em que a questo da tomada do poderno colocada: veremos a seguir que esse carter contrabalanadopor uma srie de palavras de ordem poltica referentes organizaoda luta.

    Os objetivos que transparecem na anlise dos panfletos distribudos pelo movimento de 22M, so, ao contrrio, de natureza a permitir qualific-Ios de objet ivos pol ticos a longo prazo, na medida emque seu contedo (quando expresso, o que pouco freqente ao nvel

    como se a U. E. C. tivesse a funo de representar o P. C. F .junto aos estudantes, dentre os quais o proletariado enquanto tal seacha praticamente ausente. A questo sobre os ttulos que a U. E. C.reivindica para falar em nome do P. C. F. se soma a uma outra questo, que no parece colocar-se nos mesmos termos para o proletariado,tendo em vista a presena doP. C. F. no meio de massas operrias,assim como a influncia que este exerce. Trata-se da questo dosttulos que o prprio P. C. F. pode reivindicar para falar na qualidadede representante poltico consciente e organizado do proletariado. Veremos a seguir as formas que essa questo assume na F. E. R . , porum lado, e no 22M, por outro, e suas conseqncias.

    Contudo, antes de tocar nesse ponto, convm expor de que modoos objetivos da luta do movimento operrio so colocados nos panfletos da F. E . R ., e nos do 22M.Os resultados relativos anlise dos panfletos F. E. R. mostramque, para essa organizao, a luta situa-se essencialmente ao nvel dosefeitos do capitalismo,'

    D2 Os trabalhadores I en:ramstao

    270 271

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    Comearemos pelo caso em que essa questo de exterioridade parece no se colocar, ou seja, o do 22M. Os resultados do corpus 22M,na verdade, do a entender que os estudantes (do mesmo modo queos secundaristas, professores, etc.) so colocados numa classe de equivalncia que tambm compreende os trabalhadores. DAssim, por exemplo:

    como se os grupos assim qualificados tivessem, em termos marxistas, uma posio de classe comum, o que subentende ao mesmotempo sua homogeneidade interna e a similaridade de suas tomadas deposio na prtica, ligadas s suas formas de conscincia. Em outraspalavras, da mesma forma que uma solidariedade de classe rene ostrabalhadores, uma solidariedade (de uma natureza a ser precisada) 10unir ia os estudantes secundaristas e professores entre si, unindo-os,pelo mesmo movimento, aos trabalhadores e classe operria.As determinaes l igadas ao que o marxismo-Ieninismo. denominasi tuao de classe (ou seja, as que resultam do papel nas relaes deproduo econmica) ficam, por assim dizer, anuladas face a essenovo tipo de solidariedade que resulta da reunio, na luta, de certascate~orias sociais que, de uma forma ou de outra (represso-explorao), tm razes para pr fim dominao de butra classe social( burguesia) ou seus representantes.Retomaremos logo as caractersticas dessa solidariedade que parece unificar a defasagem entre as diferentes situaes de classe emjogo, depois de mostrar a natureza radicalmente diferente das posiesda U. E. C. nesse ponto.Constatamos, na verdade, que n corpus U .E .C., alm da determinao assinalada, aparecem:HD3 Os estudantes comunistas lutam por ...formulaes do seguinte tipo:

    Assim, vemos que certos agentes histricos, colocados na conjuntura de maio de 68, so identificados, no por sua situao de classe(como HOS trabalhadores" ou a "burguesia") mas, tambm neste caso,por suas tomadas de posio na prtica. Todavia, essa tomada de posio acarreta uma solidariedade na luta pelo poder poltico ("os que"== os aliados) e no uma solidariedade que unifica a natureza de classedos agentes histricos considerados, unindo-os classe operria.

    Quanto aos panfleto~ da F. E. R., manifestam, nesse ponto, umaambigidade cractedstica que aparece nos seguintes resultados:

    A comutao dos termos (essa luta faz parte/deve fazer parte,unio das lutas) no estabelece diretamente as relaes entre esses termos .. Contudo, o conhecimento - exterior ao corpus - que temosdas posies da F.E. R. (e que os "destinatrios" dos panfletos tinhamna poca) permite-nos comentar os resultados da seguinte forma: paraessa organizao, a luta dos estudantes ao mesmo. tempo parte inte-grante da luta do proletariado, e pode e deve integrar-se na luta declasse ... contanto que a unio ocorra, isto , contanto que a luta sejaconvenientemente organizada.Essas diferentes observaes levam-nos a pensar que, para cadauma das trs organizaes consideradas, existe um elemento decisivoque determina como o movimento estudantil tem relao com a lutade classes e como pode integrar-se nela, isto , um elemento quedetermina as condies objetivas ,atravs das quais a relativa exterioridade do movimento estudantil pode ser reduzida, e at anulada.Assim, a orientao da ltima srie de resultados ser feita sobrea anlise diferencial desse elemento determinante.

    das massasde classedo proletariadoparte integrante daluta

    llu'" d", e",udante

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    Retomemos o resultado j citado, concemente posio da U.E. C.:

    3. Anli$e do elemento determinante capaz de reduzir ou anulara exterioridade relativa do movimento estudantU.com relaoao movimento operrio na luta de classes

    Equivale a dizer que a aliana poltica proposta pelo( a) (partidoda) classe operria dirigida queles que, na Universidade e fora dela,tm - como os trabalhadores da classe operria - reivindicaes con-cretas e urgentes, porque esto tendencialmente submetidos proletarizao e ao desemprego. Baseando-nos em anlises exteriores ao corpus

    No 22M:

    Na F.E.R.:

    os que recusam I inci tar I . Irganizar as utasI os que , ~bandonam I um setor de lutasolam

    I

    1frentelo luta o 1t to I o c~putol da t classe operria

    I o conjunto 1- traio contra .

    DI

    Dl3

    D4

    Poderamos dizer, nessas condies, que para a F. E. R., tantoquanto para o 22M, a luta da classe operria "um assunto muito

    estudado, diremos que se trata (atravs e alm dos estudantes) de.:camadas, categorias ou fraes de classe da pequena burguesia que,embora apresentando contradies polticas e ideolgicas, acham-seatualmente submetidas a um processo de desestruturao-reestruturaoque as aproxima da classe operria (citamos, a ttulo de exemplo tpico,o caso dos descendentes de pequenos comerciantes que fizeram estudoscientficos para se tornarem engenheiros e que procuram trabalho, masno encontram).

    O segundo ponto refere-se forma poltica da aliana, caracterizada pela necessidade da ligao comas organizaes e o partido daclasse operria, como condio de ligao com a prpria classe operria.Em relao a este segundo ponto, as posies da F. E . R. e do 22Mvo se precisar e se diferenciar, e aparecer o que constitui para cadauma dessas organizaes o que denominamos "elemento determinante":essas duas organizaes estudantis contestam, na verdade, o que sepoderia chamar de papel metonmico do P. C. F. em relao classeoperria, e o seu direito de falar 'em nome da classe operria.

    Da decorre uma crtica que no visa estritamente aos comunistasenquanto tais (por oposio s organizaes reacionrias ou fascistas,que lutam contra "os comunistas" ou "os marxistas" ), mas os quetm responsabilidades de direo e de organizao no P. C .F ., acusados de traio frente classe operria. Entretanto, importante ressaltar o carter indireto dessas acusaes que visam explicitamente aum comportamento e no a uma organizao.Assim, por exemplo:

    da classe 1perria o

    real~ente I democrtica

    odas organizaesdo partidorevolucionrios

    por umauniversidade

    I os q,:e jlutam 1ao ladoos aliados o sem serHD6

    HDl I viva a sindicatosluta dos estudantestrabalhar operrios

    Dll 1ale?a~ 1de reivindicaes 1 co.ncretaslatlsfaao ' o feItasD22 interesse dos estudantes e interesses dos trabalhadores

    D24 1 os que lutam 1 pela satisfao das 1. urgentes 1o a unio ,reivindicaes 'I dos estudantes I 'os trabalhadores

    Esse resultado levanta duas constataes que formularemos assim:- entre os estudantes, alguns entram na categoria poltica dos aliadosda classe operria, na medida em que, sem se colocarem como revolucionrios, lutam ao lado da classe operria;- a classe operria politicamente representada por suas organizaese por seu partido: lutar ao lado destes a condio necessria e suficiente, o elemento de terminante que decide a ligao com a classeoperria.

    Retomemos o primeiro ponto e examinemos o que constitui abase objetiva dessa aliana, tendo em vista suas etapas necessrias:alm da luta por uma transformao poltica (luta por um governopopular), essa aliana marcada pela convergncia para reivindicaesimediatas:

    274 275

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    Identificamos, por outro lado, as bases objetivas da concentraoorganizada em. relao classe operria, proposta pela F. E. R. 11 (osjovens, e portanto, os estudantes em particular):

    Para a F. E. R., dessa maneira indireta que aquilo que denominamos exterioridade do movimento estudantil com relao classe operria pode ser reduzida ou anulada: j vimos o tema da unio das lutas:constatamos agora que, para que essa unio ocorra, preciso que aluta estudantil seja organizada e dirigida, de onde uma luta pela organizao e pela direo das lutas no meio estudantil:

    1das liberdades 1da U.N.E.F., do marxismo ,

    1 preciso 1os estudantes constituem, um fator de ordemI influncia sobre o,uta do movimento estudantil preciso r organizar a luta 1eforar a U. N . E . F .eluta pela defesa

    1lado 1nteresse da classe operriaD4

    D5

    D14

    D3

    D13

    emDI0 a luta contra a explorao capitalista

    O mecanismo pelo qual se estabelece a ligao estudantes-operriostransparece melhor no seguinte resultado:

    Mais uma vez, vemos que os estudantes so os representantes,dentro da Univel.1Sidade,de uma categoria mais ampla da qual fazemparte; mas, diferentemente das posies tomadas pela U. E .C., trata-semenos de uma categoria econmica e poltica que d~ um "bloco histrico" constitudo pela "juventude"; por conseguinte, essa categoria desempenha menos o papel de aliado poltico que o de ponto de apoiopara a (re- )construo do movimento operrio: para a F. E. R. (nacondio de parte da O. C. I .) representa o meio de se assumir finalmente, polit icamente falando, isto , de tomar lugar na luta pela direo da luta.O elemento determinante, no 22M, a ligao com a classe operriae com suas lutas, tal como descrita por esse movimento, difere radicalmente dos tipos de ligaes indicados pelas duas outras organizaesanalisadas. O 22M, na verdade, no tem que conceber uma aliana deuma parte do movimento estudantil com a classe operria, como tambm no tem que se preocupar com uma unio futura. Mostramosacima (p. 271) que o problema da exterioridade do movimento estudantil com relao s lutas operrias est, de certo modo, resolvidona prtica, por um novo tipo de solidariedade que perpassa e une diferentes categorias sociais.

    Resta examinar como o 22M descreve a constituio, na prtica,desse lao de solidariedade com a classe operria, atravs do qual omovimento estudantil se coloca a seu lado.

    'organizao que dirija Ii forma de o~ganizao dai a luta dos estudantesos que desvlam .

    luta 1dos jovens 1de todos os' trabalhadores1organizao 1internacional revolucionria da juventude

    Dll

    D7D15

    srio" para ser deixado para o partido que, se que existe, pode reivindicar o nome de "partido da classe operria". A diferena essencial,como veremos, est no fato de que, para a F.E.R., um "partido daclasse operria" necessrio para as lutas desta e preciso cri-Io,visto que, segundo ela, ele no existe, ao passo que, para o 22M, aslutas da classe operria no tm absolutamente necessidade da existnciade tal partido, qualquer que seja a sua direo.Isso nos permite explicitar na anlise dos resultados o que desem

    penha o papel determinante no caso da F. E .R. e no do 22M.O discurso da F. E. R. destaca que o termo decisivo "organizao"fica sempre muito prximo da nominalizao do verbo "organizar":quando funciona como substantivo, precedido de uma nominalizaoequivalente, derivada do verbo "criar". Assim, por exemplo:HDl criao I de uma organizao I I" .e um partido revo uClOnarla

    1 necessidade da 1 . ~ 1 de juventude 1. criao de uma, orgamzaao, luta .1probl~ma~ Ida luta contra o.Estado 1orgamzaao10 anos de luta contra De Gaulle,

    DI

    276 277

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    Assim, vemos nitidamente destacar-se a caracterstica das lutascomo o 22M as enfoca: a organizao (e as organizaes) desapareceram, ao mesmo tempo no sentido que a U. E. C. emprega esses termos e na significao dada pela F. E . R . (organizao-construo); aluta define-se pelo seu sentido e pelas formas locais, conjunturais, singulares em cada momento, formas que assume a relao entre os protagonistas vocs e ns, cujos papis so complementares, e mesmointercambiveis na unificao da luta. 12

    Podemos dizer, ento, que para o 22M, o elemento de terminante cada quadro concreto de luta, na medida em que a cada momento serevela "hic et hunc" o prprio sentio da luta que as circun.stnciasconcretas (local, durao, intensidade fsica) evidenciam:

    I a polcia _ I d I ex~l~rao Irepressao a pohclaluta 1 l contraio Estado_ 11 polici~l Ie faz a repressao burgues,

    a luta contra I o Estado_I a luta contra /0 Estado ~olicial [.repressao a exploraao

    a luta se faz na rua eT nas I fbricas j'mpresas1 faculdades 1no nas urnas .

    HD5

    Todavia, no discurso do 22M, permanecem vestgios sintomticos,que do a entender que a questo da exterioridade relativa do movimento estudantil com relao ao movimento operrio, na verdade,sempre se colocou na prtica, inclusive na do 22M, como confirmamos dois resultados que seguem:

    HD3

    D15 I mtodo I I novo Iipo de luta tradicional, pois, fazer surgir o sentMo profundo da luta (do movimento operrio) nas formas imediatamente concretas a confrontao, o que aparece como a mola da solidariedade das lutas, onde quer que se desenrolem, oposta mente ao que, para o 22M, leva sua fragmentao eisolamento burocrtico e eleitoral:

    Assim, a luta por objetivos remotos e pouco definidos (transformar radicalmente a Universidade, construir uma sociedade ... ) podeser feita atravs de aes imediatas, na medida em que estas "concretizam" aqueles. Notamos, assim, a circularidade represso-luta contraa represso.A caracterstica determinante do novo mtoo que o 22M opeaos "tipos tradicionais de luta":

    D23

    .1

    os policiais 110 000 policiaisna rua

    are-I 0 1res- do Estadoo policial

    lutalutavossanossaai

    1 no-esquecimento das lutas 11o.perrias. 11de Caen I '. de Redon, etc. ,\ generalizao I ! da semana I1 desenvolvimento das lutas d~s trab~lhadores .1

    . .1mtodo 1 1 dtretamostra ,de luta ativ~1 . efetlvasentidounificaoforma

    disposio

    estudantes 1que, ~e 1ecundaristas manifes. t avam contras I professores ,lutaram ,trabalhadores

    HD4

    HD2

    A partir desse momento, vemos que a luta contra a polcia (contraa represso do Estado policial ou burgus) identifica-se com a lutacontra a explorao capitalista, entendida como essncia da luta domovimento operrio.

    HD6

    D16trabalhadores ,..agrupados nos I pela autodefesa de 1estudantes comits se mobilizam Flins a chamadodo (22M)

    ,solicitao) \ Flins Ipelo dos trabalhadores de Renault'

    278Dizamos, na introduo deste estudo, que a palavra luta havia

    sido escolhida devido, entre outras coisas, freqncia de uso nos279

    :;; ~hii~~~i

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    panfletos considerados, e tambm pelo fato de que esse termo, emsua forma nominal ou verbal, era provavelmente capaz de reunir contextos relativamente especficos; podemos agora dizer que essa especificidade dos contextos tal que estamos diante de trs termos homnimos, diferenciados ao mesmo tempo pelos objetivos, pelos agentes epela orientao temporal. Poderamos dizer, a ttulo de resumo, que:- a F. E. R. luta no presente para organizar a unio estudantes-trabalhadores, com o auxlio do "bloco da juventude", a fim de realizaro que.faltou no passado;- a V.E.C. luta no presente com as organizaes da classe operriapara realizar uma aliana (unio) que abra caminho para um outroregime no futuro;- o 22M luta simultaneamente no presente e no futuro, tendo a lutaanti-represso o valor exemplar de um smbolo desse futuro.

    280

    Notas do estudo de M. Pcheux e J. Wesselius

    1. Consideramos essa palavra, em suas duas formas, como verbo e como substantivo.2. A. GEFFROY,P. LAFON,M. TOURNIER,A la rr1cherchr1du particu!ir1r r1tdugnral dans le vocabulaire des tracts de mai1968, 1971, cole normalesuprieur de Saint-Cloud, 29 p.3. Poderamos, na verdade, distinguir pelo menos quatro fases: I} de 3a 12 de maio (fechamento da Sorbonne e combates de rua); 2} da manifestao de 13 de maio ao segundo discurso do general de Gaulle, em 30de maio; 3} de 31 de maio at a dissoluo dos grupos "esquerdistas", em12 de junho; 4} de 13 de junho ao segundo momento das eleies legislativas, em 30 de junho.4. Essa considerao aplica-se apenas s trs organizaes que constituem oobjeto deste estudo. Com efeito, o mesmo no ocorre com uma organizaocomo a Unio das Juventudes Comunistas (marxista-leninista) que sof reuprofundas modificaes durante os meses de maio e junho de 1968, modificaes que levaram ao seu desmembramento.5. Mtodo A. A. D . Ver M. PCHEUX, Analyse automatique du discours,Paris, Dunod, 1969. Encontra-se, alis, nesta obra a apresentao e a discusso desse mtodo (d. pp. 184-59). A anlise sinttica necessria elaborao desse estudo foi feita por Cl. HAROCHEe N. BOURDIN.6. Retomaremos mais adiante o sentido dessa exterioridade.7. Empiricamente, isto , a partir do que imediatamentr1 visvel: designamosassim a descrio jornals tica do local das lutas (rua, universidade ... ), ascaractr1rsticas dos agentes dessa luta (estudantes, polcia ... ), e seu com-

    portamr1nto (correm, param, so dispersados ... ).8. Talvez nos digam que o proletar iado atualmente est presente nas universidades ... na forma de pessoal de servio que assegura o seu funcionamento dirio; essa observao no constitui uma tirada humorstica involuntria , na medida em que ressalta como propriamente impossvel imaginar,nas atuais condies polticas, que o proletariado pudesse ter outro papelnessa siruao?9. Simultaneamente, o contedo dessa classe de equivalncia mostra. que o22M diferencia mais os protagonistas do movimento intelectual que os domovimento operrio. Veremos ma/i adiante que essa diferenciao anuladaquando o 22M insiste na necessria unio com a cbsse operria.10. Ver acima, p. 273.

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    -----~ ,~ ~ _ lI- ;,;.

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    11 . Para a F. E . R., a crise do capitalismo leva a burguesia a criar o desemprego, a fim de se mantere de salvaguardar sua ditadura: esse plano daburgues ia visa, em primeiro lugar , aos jovens, que ou ainda no tm empregoou tm pouco tempo de servio e so, por tanto, mais faci lmente dispensveis.12. Uma anlise da significao do. ns e do tlocs mostra que esses te rmosno so, muitas vezes, nem definidos nem definveis; contudo, se o vocs,quando poss vel atribuir- lhe um contedo, apl ica-sec: :ssencialmente aosoperrios, o ns, em funo das circunstncias, pode designar tanto os estu-dantes como o conjunto dos operrios e estudantes.

    MAURICE TOURNIERo VOCABULRIO DAS PETIES OPERRIAsDE 1848:ESTUDO DOS PARENTESCOS ESTATtSTICOS

    Os historiadores que analisassem as peties de 1848, quer tenhamsido escritas para o Luxemburgo ou enviadas diretamente AssembliaNacional, poderiam ter tendncia a enfatizar, como J. Belin-Milleron,a influnia do modelo revolucionrio. Certamente estas, na maioriadas vezes, dirigem-se aos "cidados representantes", 1 ao "cidadopresidente de. .. " , 2 ao "cidado ministro (de)", 3 aos "cidados membros de ... ", 4 aos "cidados presidente e membro( s) de ... ", 5 ousimplesmente comeam, como em 1790, pelo apelativo "cidado( s)". 6Muitas terminam com saudaes de tipo montanhs, como "Saudao efraternidade", 7 "Saudao e verdadeira fraternidade", 8 "Liberdade,igualdade, fraternidade",:I "Saudao fraterna", 12 "Saudao respeitosa e fraternidade", 10 etc. J. Belin-Milleron 12 mostra como, por umdesses curiosos recursos da memria coletiva, idias e vocbulos daRevoluo Francesa foram redescobertos em fevereiro de 1848, mas distanciados e renovados em sua rea de funcionamento. Ele cita comoexemplos: razo, felicidade de todos, dever sagrado, Repblica, til,Povo, regenerao ... As rvores da liberdade eram replantaclas naspraas; adeses e oferendas pblicas afluam; a festa popular ressurgia;a Marselhesa estava nas primeiras notas das canes alegres; floresciamclubes em todas as esquinas ... Este reflexo semi-secular explica tambm o recurso espontneo ao gnero peticionrio. Foram reencontrados os caminhos da expresso popular. Desse modo, o passado servepara agir sobre o presente; a magia histrica, para obrigar os poderososa agir.

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