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Daniela Scalon Oliveira Rossanna Petrosino A relação mãe ouvinte / filho surdo na cena de alimentação Pontifícia Universidade Católica de São Paulo 2007

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Page 1: A relação mãe ouvinte / filho surdo na cena de …...Valeu a pena!”“ i AGRADECIMENTOS À Profª. Dra. . Teresa Maria Momensohn dos Santos, pela orientação e contribuição

Daniela Scalon Oliveira Rossanna Petrosino

A relação mãe ouvinte / filho surdo na cena de alimentação

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo 2007

Page 2: A relação mãe ouvinte / filho surdo na cena de …...Valeu a pena!”“ i AGRADECIMENTOS À Profª. Dra. . Teresa Maria Momensohn dos Santos, pela orientação e contribuição

Daniela Scalon Oliveira

Rossanna Petrosino

A relação mãe ouvinte / filho surdo na cena de alimentação

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo 2007

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Banca Examinadora, como exigência parcial para obtenção do título de Bacharel em Fonoaudiologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, sob a orientação da Profª. Drª. Teresa Maria dos Santos Momensohn.

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DEDICATÓRIA

Aos nossos amados pais

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“Nada como sonhar e objetivar um desejo...

Nada como sentir a vitória se realizar...

Nada como dizer:

Valeu a pena!”“

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i

AGRADECIMENTOS

À Profª. Dra. . Teresa Maria Momensohn dos Santos, pela orientação e contribuição

para a realização deste trabalho, sempre procurando transmitir da melhor maneira

possível os conhecimentos que possui.

Ao IEAA por nos receber com carinho e conceder a realização de parte da pesquisa,

em especial a Profª. Dra. Patrícia Fernandes Rodrigues

Às famílias que aceitaram participar da pesquisa, recebendo-nos com carinho,

humildade e muita atenção.

A Profª. Dra. Maria Cecília Moura por ter aceitado o convite para ser parecerista e

contribuir para a finalização deste trabalho.

Ao João pela ajuda, pela atenção nos momentos de tensão que passamos na

biblioteca. Obrigada!

As nossas amigas maravilhosas (Ale, Bru, Doce,Cá, Cí e Ná). Obrigada por cada

uma de vocês serem especiais. Obrigada pelo carinho, pelas risadas, pelas brigas,

pelos choros, pelas viagens, pelas nossas quintas-feiras e por vocês serem essas

pessoas maravilhosas! Muito sucesso a todas nessa nova etapa.

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ii

De Daniela...

Aos meus pais, pois sem eles não seria possível realizar esse trabalho. Tudo que

sou é por vocês.

A minha mãe pelo carinho, atenção, amor, força, e por ser essa mãe e pessoa

maravilhosa que me ensina a cada dia. Obrigada por acreditar sempre em mim, amo

você incondicionalmente!

Ao meu pai pelo exemplo de pessoa e profissional que é. Por me incentivar sempre,

acreditar em mim, e principalmente por ter me mostrado a importância de lutar pelas

minhas vontades. Obrigada por sempre me amar. Amo você, meu pai!

As minhas irmãs, Tatiana e Marcella por além de irmãs serem as minhas melhores

amigas, com quem posso contar sempre. Pelo incentivo e por me fazerem feliz todos

os dias.

Ao Thiago, por estar presente nesses quatro anos da minha formação, sempre me

dando apoio, amor, compreensão e por ter abraçado esse meu sonho como se fosse

dele.

Aos meus avós Orieta e Ronaldo que foram essenciais para minha formação. Me

acolheram como filha e como neta ao mesmo tempo. Sempre que eu lembrar da

minha faculdade vou lembrar que vocês. Foi muito especial. Obrigada.

A todas as minhas amigas que sempre me deram força e sempre estiveram ao meu

lado independente da ocasião.Muito Obrigada! ( Jaque, Mari e Victorrinha)

A uma das pessoas mais importantes e especiais que conheço, não só por

compartilhar esse trabalho, mas também pela verdadeira amizade. Obrigada por

sempre ser essa pessoa pura e amiga que você é. Você me ensinou a cada dia e a

cada momento a importância do real significado de amizade e juntas foi possível

realizar esse trabalho. Te amo!

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iv

De Rossanna...

A Deus que esteve sempre iluminando meu caminho e por me abençoar com tantas

alegrias e realizações!

Aos meus pais, pois sem eles não chegaria aonde cheguei! À minha mãe Domenica

pelo carinho, pela compreensão, pelos conselhos pela paciência comigo durante

todos estes anos, principalmente no último! Te amo!

Ao meu pai Michele, pelo incentivo aos estudos, por sempre mostrar o caminho

certo para ser feliz, para crescer e ser alguém. Saiba que te admiro muito!

Aos meus irmãos e cunhadas que mesmo indiretamente me ajudaram na realização

deste trabalho.

À vó Rosa que sempre com seu sorrido me acolheu quando precisei.

A July pela simples alegria ao me ver, fazendo com que eu adquirisse força para

continuar!

Ao Rodrigo meu namorado, que muito tenho a agradecer! Desde os empréstimos

dos livros, da ajuda nas transcrições, até pelas suas palavras e credibilidade em

mim, quando eu mesma achei difícil acreditar em mim mesma! Obrigada por estar

sempre ao meu lado !

A todas minhas amigas, que entenderam muitas vezes os meus “nãos”. Que me

deram força e pelas “terapias calmantes” com a escuta e as palavras amigas !

Obrigada !

E a principal pessoa, a minha amiga – irmã e agora dupla de TCC, Daniela.

Obrigada pelos risos, pelas caras , pelo companheirismo, pela sua amizade mais do

que verdadeira e pelas palavras. Muitas vezes nem nós mesmas acreditávamos que

iria dar certo, mas , não desistimos e construímos juntas! Realmente não teria

pessoa melhor para realização desse trabalho! Você é iluminada ! Obrigada por

tudo!

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RESUMO

Oliveira,D ; Petrosino,R - A relação mãe ouvinte/ filho surdo na cena de

alimentação. Trabalho de conclusão de curso. Fonoaudiologia. PUC São Paulo.

Sabemos que pais de crianças deficientes auditivas tendem a não se

comunicar com seus filhos, e poucos fazem o uso da linguagem oral com essas

crianças. Alguns estudos mostram que toda criança com problema de linguagem, ou

de comunicação pode apresentar problemas na alimentação. Esse trabalho tem

como objetivo analisar a relação mãe ouvinte/filho surdo na cena de alimentação.

Para realização desse estudo foram entrevistados seis pais, ouvintes, de crianças

deficientes auditivas de dois a quatro anos em uma clínica privada. O roteiro de

perguntas foi elaborado contendo questões abertas sobre alimentação e

comunicação, que foram analisadas pelo Discurso do Sujeito Coletivo. Os resultados

mostraram que a alimentação em si só é normal, as crianças comem bem e não

apresentam problemas para se alimentarem. Mas ao longo dos discurso dos pais

fica explícito que poucos dirigem a palavra a seus filhos, argumentando que como

seus filhos não ouvem não precisam ter essa atitude. Muitos pais demonstram os

sentimentos de sofrimento, medo e insegurança em relação ao futuro do seu filho

pela falta de comunicação, mas nada relacionado à alimentação. Como conclusão,

verificamos que Discurso do Sujeito Coletivo nos possibilitou constatar que em um

processo terapêutico as questões do dia-a-dia da família precisam ser discutidas.

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ABSTRACT

The relationship hearing mother/deaf child at feeding scene.

We know that hearing parents of deaf children towards not having a good

communication with their children. Some studies had shown that every child with

speech/language disorders presents feeding problems. The goal of this research is

to analyze the relationship between hearing parents with their deaf child during the

feeding scene. In order to do this study, six hearing parents of deaf children were

interviewed in a private clinic. The questionnaire was elaborated in open set format

about feeding and communication and answers were analyzed through the Collective

Subject perspective. Results showed that all parents at the first moment say that

feeding process of their child is normal, but careful analysis of their speech highlights

that few of them talk to their children and they argued that as their children don’t hear

they do not have this attitude. Many parents showed suffering feelings, fear and

insecurity about the future of their child due to the lack of communication, but nothing

about feeding. As conclusion we verify that the Collective Subject Perspective let us

assure that in a therapeutic process the family daily questions must be discussed.

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SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS .......................................................................................................................I

RESUMO.......................................................................................................................................... V

ABSTRACT.....................................................................................................................................VI

INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 1

REVISÃO DA LITERATURA ......................................................................................................... 4

DEFICIÊNCIA AUDITIVA E FAMÍLIA................................................................................................... 4

ALIMENTAÇÃO .............................................................................................................................. 12

MATERIAL E MÉTODO: ............................................................................................................. 18

CARACTERIZAÇÃO DOS SUJEITOS ................................................................................................... 18

Procedimentos ......................................................................................................................... 18

Análise dos resultados.............................................................................................................. 19

RESULTADOS E DISCUSSÃO ..................................................................................................... 21

CONCLUSÃO................................................................................................................................. 28

BIBLIOGRAFIA............................................................................................................................. 30

ANEXOS ......................................................................................................................................... 37

ANEXO 1....................................................................................................................................... 38

ANEXO 2....................................................................................................................................... 41

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INTRODUÇÃO

A audição é o sentido que nos insere no mundo, é a principal maneira pela

qual conseguimos nos comunicar e nos relacionar. A diminuição da audição nos

primeiros meses de vida pode trazer prejuízos na relação da criança com a mãe,

afetando a linguagem e todo o processo de desenvolvimento.

A confirmação do diagnóstico de surdez faz com que a família se desorganize

emocionalmente, causando a ruptura de expectativas, alteração no relacionamento

afetivo-social e de linguagem com a criança. Durante a gestação, os pais alimentam

uma série de fantasias e sonham com uma criança idealizada, criando expectativas

em relação a esse filho desconhecido. Luterman (1979) comenta, sobre a dificuldade

de aceitar um distúrbio de comunicação mais grave, no caso a surdez de seus filhos.

Ogden e Lipset (1982) relatam que as reações ao diagnóstico de surdez atravessam

um caminho comum a todos, embora possam ser expressos de formas distintas, por

pessoas e personalidades distintas, formando um ciclo de respostas. Vignola (1999)

verificou em sua pesquisa diversos tipos de sentimentos, reações, dificuldades que

existem dentro da família do indivíduo surdo. Relatou que esses sentimentos variam,

pois a família passa por mudanças significativas na dinâmica familiar, pois seus

componentes se relacionam e ao mesmo tempo se interferem.

A família segundo Minuchin (1994), pode ser vista como um sistema social

aberto, em constante transformação, que se adapta às diferentes exigências das

fases do seu desenvolvimento. É caracterizada como um todo coeso, inseparável e

interdependente, no qual todas as partes estão relacionadas entre si. Portanto, cada

comportamento ou mudança em um dos membros afeta todos os outros.

Para Regen (2005) as reações variam de família para família, mas em geral

há um sentimento de tristeza e de perda muito grande perante ao diagnostico de

surdez do filho: a perda de um indivíduo sadio e idealizado.

Os pais de deficientes auditivos constroem a imagem de que seu filho é um

ser diferente das outras crianças. Segundo Bevilacqua e Formigoni (1997), no

momento em que os pais descobrem a deficiência auditiva da criança, surgem

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diversos conflitos. A descoberta da deficiência auditiva deixa os pais confusos, com

sentimento de derrota.

A audição desempenha papel preponderante e decisivo na aquisição e no

desenvolvimento da linguagem oral. Segundo Zorzi (1993) e Freire (1996) as

interações, desde o momento da concepção, são apresentadas como fundamentais

no processo da construção da linguagem. A atividade interpretativa da mãe é

essencial para a aquisição da linguagem e construção do sujeito. Esta relação, o tipo

e grau de linguagem, a modalidade gestual e ou oral, usada pelas mães e crianças

são atribuídos à representação ou imagem que um vai construindo do outro,

enquanto interlocutor. O papel do adulto é fundamental, pois ele introduz a criança

no universo lingüístico desde que ela nasce.

As práticas alimentares são permeadas pela seleção, o consumo, a produção

da refeição, o modo de preparação, de distribuição, de ingestão, isto é, o que se

planta, se compra, se come, como se come, onde se come, com quem se come, em

que freqüência, em que horário, em que combinação, tudo isso conjugado como

parte integrante das práticas sociais. Rotenberg e De Vargas (2004) citam que o

estabelecimento de significados, categorias para os diferentes alimentos, os

diferentes usos, as prescrições e proibições, os ritos à mesa, as formas de

preparação, a composição, o número das refeições diárias e o horário estruturam a

alimentação cotidiana, sendo aspectos importantes e marcas diferenciadoras entre

os grupos sociais, cuja representação varia em cada cultura.

A cultura espelha o simbólico, pois somos os únicos que preparamos o

alimento. É através do alimento que se simboliza o contato diário com a vida, não

apenas da necessidade orgânica, mas, sobretudo no sentido de continuar a

participar socialmente do mundo. Assim, De Vargas (2006) diz que, em contextos

diversificados, os grupos sociais criam suas estratégias de construção de saber. Seu

aprendizado, no caso especifico da alimentação, é construído desde sua infância, no

contato com sua avós, mães e comunidade.

A alimentação e a nutrição adequadas são requisitos essenciais para o

crescimento e desenvolvimento das crianças. Mais do que isso: são direitos

humanos fundamentais, pois representam a base da própria vida.

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O ato de se alimentar é visto como constituinte do sujeito. “Esse ato deve ser

abordado sob três óticas: “a fisiológica, como indicadora de grau de maturidade

neurológica e muscular do bebê, a nutricional como “combustível” para o

crescimento e desenvolvimento neuro psico - motor; e a estrutural como elo no

contato mãe/ bebê” (KÜRSTER, 2001).

Conforme a criança vai se desenvolvendo, sua alimentação e hábitos

alimentares devem sofrer modificações, principalmente em relação à forma de

preparo, tipo de alimentos utilizados, consistência da comida e a maneira que é

oferecida à refeição.

Podemos verificar que a deficiência auditiva provoca um desequilíbrio familiar,

principalmente nas questões das dificuldades de comunicação, acolhimento e

instruções da mãe ouvinte ao filho surdo.

A alimentação é um aspecto fundamental para a promoção da saúde da

criança. Segundo Palladino (2007, comunicação pessoal) toda criança com

alteração de linguagem tem algum comprometimento na alimentação. È na

alimentação que ocorre o primeiro laço entre mãe-bebê.

Como já foi dito, o processo de constituição subjetiva se sustenta no laço

entre mãe e filho, e que a comunicação é um dos aspectos privilegiados na

montagem desse par, o que acontece quando uma barreira se instala justamente ai?

Considerando que a hora da alimentação é um dos momentos de comunicação que

servem ao estreitamento do laço entre mãe e filho, o objetivo desse estudo é

analisar como é feita a cena de alimentação entre as crianças com

comprometimento auditivo e suas mães ouvintes, já que existem poucos estudos

sobre esse assunto.

Objetivo: analisar a relação da mãe ouvinte/criança surda na cena de

alimentação, a partir da técnica do discurso do sujeito coletivo.

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REVISÃO DA LITERATURA

Deficiência Auditiva e Família

A audição é um dos mais importantes sentidos do ser humano. Silman et al

(2004) acreditam que através da audição podemos saber das condições do meio

ambiente mesmo de olhos fechados. È também por ela que os humanos

habitualmente se comunicam.

A deficiência auditiva é entendida como um tipo de privação sensorial, cujo

sintoma comum é uma reação anormal diante do estímulo sonoro (GAGLIARDI E

BARRELLA, 1986).

Segundo Scliar-Cabral (1988) a deficiência auditiva é caracterizada como um

problema sensorial, que acarreta dificuldades na detecção e percepção dos sons.

Assim, seja de qualquer grau ou etiologia, a deficiência auditiva traz graves

implicações para o desenvolvimento social e emocional do ser humano, devido à

sua natureza complexa, além de sérias alterações que provoca sobre a linguagem

por adquirir ou já adquirida.

O impacto da privação sensorial auditiva não é somente na capacidade de

compreender as informações sonoras, mas sim no modo de se relacionar com seu

meio ambiente e cultura. Essa privação também pode provocar conseqüências

biológicas, psicológicas e sociais.

Para Balieiro e Ficker (1997) definir deficiência auditiva não é uma tarefa

simples, pois surdez, socialmente, não se refere apenas a uma questão de níveis de

perda auditiva, mas envolve questões de natureza extremamente complexa. É do

conhecimento de todos que uma criança que possui uma diminuição na capacidade

auditiva poderá ter sua linguagem prejudicada. Isso acontece porque a perda poderá

interferir no processo de desenvolvimento de linguagem assim como no

desenvolvimento social, emocional, cognitivo e intelectual.

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De uma maneira geral as deficiências auditivas são classificadas de acordo

com o grau da perda da audição que é avaliado pela intensidade do som, medida

em decibéis (dB) bilateralmente. Segundo Marchesi, (1996) o momento da perda

auditiva tem clara repercussão sobre o desenvolvimento infantil. Quanto mais idade

tiver a criança, e quanto maior experiência com o som e com a linguagem oral ela

possuir, mais fácil será a sua posterior evolução lingüística.

È importante ressaltar também que a identificação e intervenção precoces da

perda auditiva em bebês e crianças pequenas têm importância crucial para o

processo de adaptação do indivíduo ao mundo. (BALIEIRO, TRENCHE 2004).

Segundo Marchesi, (1996) o adulto é o maior responsável no papel de

desempenhar a sintonia estabelecida com a criança e por facilitar as trocas

comunicativas entre ambos.

“Por exemplo, em se tratando do processo de aquisição da linguagem, a adequação mútua nas "conversações" mantidas sobre os objetos, a troca de olhares, gestos e expressões e a incorporação da linguagem da criança surda por parte do adulto são alguns dos elementos que contribuem para o estabelecimento de uma linguagem fluente e satisfatória”. MARCHESI, A. (1996),(pp.200-206).

Segundo Oliveira et al. (2004), a família tem papel fundamental no

desenvolvimento do indivíduo e na manutenção da saúde de seus membros não

somente em decorrência do cuidado constante que ela dispõe no dia-a-dia, mas

ainda, principalmente, em casos de doença.

Powell 1992, considera a família um grupo primário. Para ele é na interação

familiar que, desde muito cedo, vai configurando-se a personalidade do indivíduo e é

nessa interação que se determinam as características sociais, éticas e morais da

comunidade adulta. Para o autor, é possível compreender muitos dos fenômenos

sociais ao analisarmos as características das famílias.

Knobel (1992), ao refletir sobre a família, observa que a mesma, ao interagir

com os filhos, ajudará a formar a personalidade, determinando aí suas

características sociais.

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Dumont e Marcon (2006) identificaram que os primeiros passos para o

desenvolvimento natural e social do ser humano são dados dentro da família, pois

ela constitui o primeiro grupo no qual a criança é inserida e tem suas primeiras

experiências e relacionamentos interpessoais.

Segundo Monteiro e Torezan (1997), as famílias que possuem um membro

com alguma deficiência enfrentam dificuldades adicionais às comumente

enfrentadas por todas as famílias. A deficiência promove mudanças na rotina

familiar, requer respostas diferentes para o grupo social, além de maior

envolvimento com profissionais de várias especialidades e um ensino especializado,

o que, por sua vez, exige maiores recursos financeiros.

Além disso, são gerados muitos sentimentos nos membros familiares, não só

destes com a pessoa deficiente, mas de todos os membros em si.

A deficiência torna-se algo incompreensível para os familiares, principalmente

para as mães, que são as quais mais desejaram e idealizaram o filho. Uma vez que

esse desejo é rompido pelo diagnóstico, esse passa a ter um caráter maior que o

próprio filho (MONTEIRO E BAGAROLLO, 2004).

A família, nesse momento, passa por inúmeros sentimentos delicados. Na

literatura podemos encontrar vários autores que os descrevem. Segundo, eles, a

família passa por um longo processo de superação até chegar à aceitação da sua

criança: do choque, da negação, da raiva, da revolta, da rejeição, entre outros

sentimentos, até a construção de um ambiente mais preparado para incluir essa

criança como membro da família (SILVIA E DESSEN, 2001).

Desse modo, quando a família passa por perturbações em suas interações,

pode se apresentar como um grupo de referência confuso, deixando de proporcionar

um aprendizado construtivo. É por isto que muitos dos comportamentos e reações

individuais revelam o tipo de configuração familiar na qual o sujeito está inserido

(KNOBEL, 1992). Portanto, existe a dificuldade para os pais em aceitar uma criança

surda.

Segundo Moses e Hecker-Wulation (1981) o diagnóstico de surdez prejudica

o processo de vínculo afetivo entre pais e filhos, não somente pela “incapacidade”

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por parte da criança de perceber o estímulo verbal, mas principalmente pela

dificuldade dos pais em lidar com a frustração.

Os pais aguardam ter uma criança normal e saudável. A confirmação da

surdez de acordo com Kashyap (1986) mexe nas estruturas da família e pode agir

como fonte de severas desorganizações psicológicas para o ajustamento dos pais e

da família, A autora comenta que a presença da criança surda, na maioria das

vezes, terá impacto em diferentes aspectos do dia-a-dia familiar. O diagnóstico de

surdez apresenta para os pais e para a família uma criança com uma variedade de

tensões e desafios intra-psíquicos e ambientais. As tensões e desafios de criar uma

criança surda estão associados, segundo Calderon e Greenberg (1999), a aprender

novos métodos de comunicação, estar mais envolvido nas tomadas de decisões

sobre educação, aumentar contato com diversos profissionais das mais diversas

áreas e comprar e utilizar suportes técnicos, assim como a experiência do dia-a-dia

de ter uma criança que é "diferente", pois, comunica-se de maneira diferente.

A família enfrenta muitas dificuldades para aceitar a deficiência. É uma

descoberta traumática e confusa, em que a mesma busca justificativas sobre por

que serem eles os escolhidos (ALMEIDA, 1993).

Na maioria das vezes as famílias negam o fato, ou seja, não admitem nem

aceitam a deficiência do filho, fazendo com que o atendimento torne-se tardio, o que

pode prejudicar o desenvolvimento da criança e de suas habilidades.

Passando essa fase, os pais enfrentam, segundo Almeida (1993), uma fase

de negociação, ou seja, trata-se de uma compensação, onde os pais tentarão

encontrar estratégias para a melhoria das condições de vida de seu filho portador de

deficiência.

Segundo Negrelli e Marcon (2004), mais adiante, outros estágios aparecem,

como a raiva, a depressão e a aceitação. Raiva pela falta dos resultados esperados,

raiva do outro (médico, professores e demais profissionais), pela falta de

colaboração e por não ver amenizada a deficiência do filho. A depressão surge

normalmente em decorrência da falta de adaptação à condição. Uma vez que os

pais já estejam conscientes da deficiência do filho, acaba ocorrendo à aceitação.

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A deficiência auditiva, por ser invisível, não causa muito impacto para os

sujeitos ouvintes, mas causa uma enorme interferência no desenvolvimento

educacional, social, e emocional do sujeito deficiente auditivo.

A falta de esclarecimento demora no diagnóstico e prognóstico pode vir a

prejudicar a relação mãe-bebê. Muitas vezes essa falta de informação e orientação

gera angústia relacionada ao presente e ao futuro do bebê e faz com que os pais se

sintam culpados pela deficiência do filho. Não podemos generalizar, pois há pais e

crianças que superam as dificuldades e desenvolvem normalmente.

Gomes (1994) destaca que cada família possui valores, crenças e costumes

que muitas vezes são transmitidos de geração para geração, e isso deve ser

considerado pelo profissional que vai atuar com ela, porque a determinação e o

(re)conhecimento da doença podem estar pautados nesses valores.

Como diz Nagy (2005), a atenção dada à família em relação ao modo como

ela lida com a deficiência auditiva tem se mostrado tão importante quanto à atenção

dada às próprias limitações dos pacientes. Ou seja, a evolução das crianças

depende tanto do trabalho específico em terapia como da intervenção junto aos pais

e do acolhimento a eles.

Visto desse modo, as famílias e os profissionais que atuam com os sujeitos

deficientes têm um papel fundamental na constituição desses como pessoas e

cidadãos, além de interferirem na construção das concepções culturais da qual

fazem parte.

Novaes e Balieiro (2004) discutiram o atendimento e a terapia de linguagem

da criança surda enfatizando o diálogo/criança como estrutura de análise, sugerindo

que o adulto insere a criança na linguagem, assumindo o papel de interprete na

situação discursiva (op.cit.p.773).

Como diz Oliveira et al (2004) a atuação do profissional estará voltada ao

tríplice conjunto de elementos que envolvem a pessoa portadora: as características

e etiologia da deficiência, a família como meio social imediato e o contexto social

mais amplo no qual estão inseridos.

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Vários estudos (Beckman e Pokorni, 1998; Harris e Mchale, 1989;

Beckman,1991;Dyson,1991 apud Monteiro ; Bagarollo, 2004) tem apontado para

uma forte relação entre estresse familiar (principalmente da mãe) e os cuidados que

a criança deficiente requer. Tais estudos demonstram a necessidade de os

profissionais da área estarem preparados para lidar com o estresse e estarem

atentos aos efeitos e riscos de se atribuir tarefas adicionais aos pais. O impacto da

surdez de um bebê na sua primeira socialização com os pais ouvintes não se limita

à importância relativa da vocalização ou toque materno como instrumentos para

acalmar um recém-nascido inquieto. Os pais ouvintes de crianças ouvintes passam

muito tempo a apreciar as variadas reações do bebê às vocalizações de adultos.

Quando o bebê é surdo, essas interações são diferentes e dependem da ligação das

vocalizações paternas a comportamentos não vocais.

Partindo do principio de que a vida de uma criança com deficiência se

constitui em uma fase critica, exigindo adaptações e o estabelecimento de novas

prioridades na família (Brito,1997), não se pode deixar de considerar que o

desenvolvimento da criança é resultante do empreendimento conjunto entre ela e o

adulto que dela cuida e que as relações com as pessoas e os sistemas sociais os

quais tem um papel crucial para as aquisições e para a construção de formações

psicológicas cada vez mais sofisticadas.

A situação comunicativa de surdos em famílias de ouvintes pode ser

complicada porque ouvintes e surdos possuem diferentes modelos de

comportamento visual, assim como diferentes necessidades visuais. O contato visual

na comunicação entre mães e crianças ouvintes vai até mais ou menos 4 ou 5

meses de idade, pois a partir desta idade o bebê começa a se interessar por objetos

e a mãe começa a compartilhar a atenção sobre o objeto, a mãe realiza então

comentários sobre o objeto, aponta-o, etc. No caso da criança surda a mãe ouvinte

tende a ter o mesmo comportamento que tem com a criança ouvinte, ocorre então

que a criança surda perde muito da comunicação, a mãe inconscientemente não

espera pelo contato visual para comunicar, e a criança recebe uma comunicação

fragmentada (SWISHER, 1991).

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As crianças surdas têm menor tendência do que as crianças ouvintes a

receber explicações dos pais no que se referem às emoções, razões, ações, papéis

esperados e conseqüências de vários comportamentos ( REBELO,2002).

Carvalho (1998) aponta que a descoberta da surdez do filho leva a diminuição

do uso da voz dos familiares para se comunicar com a criança. Algumas mães

diminuem suas falas diretas com o filho, ou até não se utilizam mais da palavra.

Para a autora, as atitudes maternas de acentuado desalento ou de super proteção

são esperadas e compreensíveis, mas não são incentivadoras do desenvolvimento

da criança.

A língua é um dos traços culturais passados de geração à geração, e, neste

caso, a expectativa dos pais é de que seus filhos se comuniquem com eles.

(SOIFER 1982).

Para Silveira (2003) os sentidos das marcas identificatorias que as crianças

surdas carregam, são responsáveis por muitos dos impasses no processo de

estruturação psíquica das mesmas, e estão relacionadas á fantasmática1 parental,

cujos desdobramentos poderão representar diferentes níveis de complicações no

desenvolvimento da linguagem oral.

Ainda segundo a autora, essa “falta da linguagem” no desenvolvimento geral

da criança surda faz com que, muitas delas, vivam a frustração de não serem

compreendidas pelo outro. Vivenciam o fracasso. Esse sentimento como diz no

texto, pode perpertuar-se como padrão nos relacionamentos interpessoais futuros

dessas crianças.

Com diz Garrido (2007), passado o impacto da família sobre a doença, essas

crianças não podem deixar de ser reconhecidas como falantes, embora o

desenvolvimento da linguagem nestes casos possa ser peculiar.

1 Fantasmática parental: aquilo que a criança neurótica fantasia sobre sua família. È na fantasmática parental que a criança deposita o seu desejo de como quer a família.

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Comunicar significa trocar idéias, sentimentos e experiências entre pessoas.

Comunicar é, pois, um complexo sistema simbólico constituído por sinais verbais,

sinais escritos e sinais não verbais ( REBELO,2002).

É através da interação com a mãe que se inicia o despertar da criança para a

comunicação.

“[...] A relação mãe- bebê é satisfatória para ambos e favorece a possibilidade

da criança se relacionar com o meio ambiente, sendo que essa fase inicial da vida

do bebê é marcada pela comunicação sensorial”. O toque, o segurar, o manejo

satisfatoriamente bom, a alimentação- momento em que a criança é apresentada a

um objeto que não viola a sua onipotência perante o outro, no caso o seio materno-

são formas de comunicação fundamentais para a continuidade do desenvolvimento

do processo maturacional da criança (PELOSINI, 2005, P. 26).

As interações mãe - bebê permitem reconhecer desde os primeiros tempos as

competências comunicativas que o bebê demonstra desde o nascimento

aparecendo às necessidades de troca e comunicação como aspectos tão

importantes como à própria alimentação (REBELO 2002).

A criança surda nasce privada de audição e, por conseqüência, limitada na

comunicação receptiva a qual influencia na comunicação expressiva. O fato de a

criança não ouvir ou quando ouve algum som, não ter a capacidade de

discriminação sonora que lhe possibilita a compreensão, dificulta a comunicação

receptiva.

Rebelo (2002) também fala da comunicação da criança surda congênita, usa

como comunicação receptiva e expressiva a Língua Gestual o que lhe facilita a

compreensão das mensagens e das interações com as famílias grupo de pares e

grupos sociais.

A comunicação exige uma troca de papéis, alternada e sucessiva em que um

dos parceiros toma o lugar de emissor e dá a deixa ao receptor para que este tome

a vez. Rebelo (2002) diz, que no caso de crianças surdas com pais ouvintes, essa

correlação provavelmente será menor, e as explicações referentes às situações

emocionais experimentadas por ambos os lados são menos freqüentes e menos

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competentes devido à geral ineficiência da sua comunicação entre o progenitor e o

filho.

Quanto a comunicação com crianças pequenas, Ficker (1983) relata que as mães,

ao se dirigirem aos seus filhos na fase de aquisição de linguagem, acabam por

utilizar um discurso simples para facilitar o processo. A origem desse discurso é

determinada pelo feed back que a criança da a mãe, pelas pistas que oferece de

acordo com o seu desenvolvimento cognitivo e lingüístico, como também sofre a

influencia da situação de interação nos momentos que requerem a comunicação.

Segundo, Fonseca (2001) a voz da mãe significa o mundo para o bebê e a

constituição psíquica e de linguagem das crianças surdas parecem estar

relacionadas a essa afirmação. Assim, a presença física da mãe deveria ser

substituída pouco a pouco pela comunicação verbal, isto é, a mãe passaria a ser

reconhecida pela própria voz. Mas, com isso vem a pergunta, como a criança surda

poderá reconhece - lá a distância?

As crianças pequenas, que apresentam deficiência auditiva, sofrem com esse

distanciamento, o psiquismo ainda fragilizado sofre também o impacto da doença,

exigindo um novo tipo de funcionamento da linguagem e apreensão do mundo

externo. Segundo a autora, o organismo não é a causa da estruturação/ constituição

do sujeito, mas sim seu limite. São marcas impressas no real do corpo que

determinam as escolhas e regem o funcionamento de funções e habilidades

corporais. As marcas, os traumas, como a deficiência auditiva, podem ser obstáculos

à estruturação psíquica. Essa cena se reverte na medida em que o corpo é tomado

pelo discurso do outro.

Alimentação

No cuidado da saúde da criança a alimentação é um aspecto fundamental

para a promoção de sua saúde. Porém, entendemos que a nutrição e as práticas

alimentares são práticas sociais, não podendo ser abordadas por uma única

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perspectiva disciplinar, pois o significado do ato de nutrir, de comer, ultrapassa o

mero ato biológico.

A alimentação e a nutrição adequadas são requisitos essenciais para o

crescimento e desenvolvimento das crianças. Mais do que isso: são direitos

humanos fundamentais, pois representam a base da própria vida.

A alimentação se destaca como um dos mais importantes meios para garantir

o adequado crescimento e prevenir carências nutricionais entre os fatores que

influenciam o crescimento e a saúde da criança PHILIPPI (2003).

Para Rodrigues (2005) nos primeiros anos de vida, é essencial para o

crescimento e desenvolvimento da criança uma alimentação qualitativa e

quantitativamente adequada, pois ela proporciona ao organismo a energia e os

nutrientes necessários para o bom desempenho de suas funções e para a

manutenção de um bom estado de saúde.

As práticas alimentares são adquiridas durante toda a vida, destacando-se os

primeiros anos como um período muito importante para o estabelecimento de

hábitos que promovam a saúde do indivíduo. (PHILIPPI 2003).

Segundo Rotenberg (1999) as práticas alimentares são permeadas pela

seleção, o consumo, a produção da refeição, o modo de preparação, de distribuição,

de ingestão, isto é, o que se planta, se compra, se come, como se come, onde se

come, com quem se come, em que freqüência, em que horário, em que combinação,

tudo isso conjugado como parte integrante das práticas sociais.

Para Arnaiz (1996) a alimentação do ser humano não é instintiva, é

construída e aprendida cognitivamente e ideologicamente nas relações sociais.

De Vargas (2000) nos informa que, em contextos diversificados, os grupos

sociais criam suas estratégias de construção de saber. Seu aprendizado, no caso

específico da alimentação, é construído desde sua infância, no contato com suas

avós, mães e comunidade e, no presente, orientam seu trabalho e sua participação

na família e vida social.

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Segundo Monte e Giugliani (2004) a alimentação da criança desde o

nascimento e nos primeiros anos de vida tem repercussões ao longo de toda a vida

do indivíduo. Sabe-se que o aleitamento materno é um importante componente da

alimentação infantil ótima.

O leite humano oferece os nutrientes que a criança necessita para iniciar uma

vida saudável e representa o alimento essencial para o lactente até o sexto mês de

vida, como alimento exclusivo; a partir de então, deve ser complementado com

outras fontes nutricionais até pelo menos 2 anos de idade. (VIEIRA ET AL 2004).

Para as crianças entre dois e três anos de idade, a alimentação deve ser

capaz de suprir as demandas de macro e micro-nutrientes. A necessidade de maior

cuidado em relação à alimentação deste grupo decorre principalmente do fato de

nessa faixa etária ocorrer a incorporação de novos hábitos alimentares, implicando o

conhecimento de novos sabores, texturas e cores, experiências sensoriais que

influenciarão diretamente o padrão alimentar a ser adotado. Durante este período, a

alimentação da criança pode ser a mesma da família, com algumas adaptações em

relação à forma de preparo e apresentação dos alimentos de acordo com a idade

(PHILLIPI, 2003).

Para Carvalhaes (2002) algumas práticas podem facilitar a aceitação de

novos alimentos pela criança, como a interação da mesma no momento da

alimentação, em contraste com uma apresentação passiva do alimento. Deve-se

selecionar alimentos que sejam apropriados à capacidade motora da criança,

garantir um ambiente tranqüilo e sem distrações no momento da refeição,

proporcionar intervalos entre as refeições para que a criança sinta fome, oferecer

estrutura familiar adequada.

Segundo Devincenzi (2004) a alimentação é importante não somente para

satisfazer as necessidades nutricionais da criança, mas deve ser vista também como

um fator educacional na promoção da mastigação, da deglutição e do contato com

novos sabores. As formas de aprendizagem da criança na alimentação se dão por

exposição repetida e apresentação de alimentos desconhecidos.

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A nutrição de uma população não depende só do acesso desta a uma

alimentação adequada, mas, sobretudo, da educação e cultura da população. A

educação alimentar inicia-se muito precocemente, nos primeiros meses de vida,

quando são construídos os alicerces dos hábitos alimentares. (VIEIRA ET. AL 2004)

Para Oliveira et al. (2005) a infância é o momento ideal para a aprendizagem

de bons hábitos (não só alimentares, mas de toda espécie). Como é o momento no

qual a criança está conhecendo o mundo em sua volta e criando sua personalidade,

é a oportunidade ideal de ensiná-la a ter bons hábitos, pois serão aprendidos

naturalmente, mesmo antes de serem sedimentados maus hábitos, como ocorrem

nos adultos.

Segundo um estudo realizado por Rotenberg e De Vargas (2004) com

moradores da Rocinha (RJ) e freqüentadoras de grupos de mães do Centro

Municipal de Saúde Píndaro de Carvalho Rodrigues mostram que a amamentação, a

introdução de alimentos complementares até a alimentação cotidiana da família é

um processo construído pela experiência e aprendizado próprios de cada grupo

social. Também identificaram que as práticas alimentares são construídas a partir de

diferentes dimensões: temporal, de saúde e doença, de cuidado, afetiva, econômica

e de ritual de socialização, que se entrelaçam conformando uma rede.

De acordo com Vieira et al. (2004) o comportamento alimentar da criança é

determinado pela interação da criança com o alimento, pelo seu desenvolvimento

anatomo-fisiológico e por fatores emocionais, psicológicos, socioeconômicos e

culturais. Entretanto, a influência mais marcante na formação dos hábitos

alimentares é o produto da interação da criança com a própria mãe ou a pessoa

mais ligada à sua alimentação. É importante lembrar que os lactentes ingerem os

alimentos que lhes são oferecidos e do modo como são preparados.

Os mesmos autores também dizem que a família oferece amplo campo de

aprendizado social à criança. O ambiente doméstico, o estilo de vida dos pais, as

relações inter-familiares podem ter grande influência na alimentação, nas

preferências alimentares, e afetar o equilíbrio energético da alimentação pela

disponibilidade e composição dos alimentos. Assim, a família poderá estabelecer o

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aprendizado de um hábito socialmente aceito ou inserir novos hábitos, contribuindo

para a formação de um padrão de comportamento alimentar adequado ou não.

Para Oliveira et al (2005) todos os aspectos que envolvem a nutrição e saúde

infantil são diretamente influenciados pelo ambiente que a criança encontra na

gestação e ao longo de sua vida, assim como pelas fases de seu desenvolvimento

fisiológico.

Machado (2007) comenta que mais do que o alimentar, a comida é uma forma

de comunicação entre mãe e filho. Alimentar-se representa um movimento em

direção da tomada de consciência, é dar hospitalidade, carinho, é colocar-se como

sujeito frente ao objeto, é uma forma de adquirir singularidade.

Para romper esse círculo vicioso Bressolin et. all, (1987) afirmam que é

preciso entender que uma mãe suficientemente boa é aquela que se identifica com o

filho e decodifica o que ele sente, o que ele quer e não a que consegue que a

criança aceite muitas colheradas de sopa. A comida deve ser um vínculo de prazer e

afeto, e não o contrário.

Winnicott (1997), discorrendo sobre distúrbios alimentares, afirma que as

dificuldades de alimentação do bebê se referem mais ao problema da mãe em ter

que se adaptar às necessidades do bebê do que as inadequações bioquímicas.

Segundo Lima et all (2000) as dificuldades alimentares mobilizam as mães

sob a forma de preocupação, ansiedade, e sensação de incompetência, gerando

dessa forma um ciclo negativo na relação mãe-bebê. È como se a alimentação e

propriamente a cena de alimentação surgisse para a mãe como um ponto cego onde

permanece impossibilitada de manejar subjetivamente estas questões.

Cabe destacar que hoje a construção do aprendizado em nutrição e

alimentação humana dá-se a partir de várias fontes de informação. Para Giard

(1998) outrora a amamentação, as formas de preparação dos alimentos, as receitas,

faziam parte do ritual de socialização das crianças, sendo aprendidas em conversas

de mulheres, com a experiência e vivência, repassadas de mãe para filha, da avó

para a neta. Atualmente, as fontes são diversas, as mulheres estão inseridas no

mercado de trabalho, cotidianamente, são divulgadas através de revistas, jornais,

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programas de rádio e televisão, informações muitas vezes referendadas pelo

discurso acadêmico-científico.

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MATERIAL E MÉTODO:

Caracterização dos Sujeitos

Participaram desta pesquisa seis mães, sendo estas, mães ouvintes de

crianças deficientes auditivas, de qualquer etiologia. Não foram levados em

consideração critérios como sexo, condição sócio-econômica, dentre outros, para a

seleção dos sujeitos da pesquisa, assim como para a análise dos resultados obtidos.

Foram selecionadas as mães que atendiam os seguintes critérios de inclusão:

• Ser mãe ouvinte de criança deficiente auditiva;

• Mães de crianças deficientes auditivas de sujeitos na faixa etária entre

dois a quatros de idade;

• Filho deficiente auditivo sem outra patologia associada;

• Ter assinado o termo de consentimento.

Procedimentos

A coleta de dados foi realizada no IEAA - Instituto de Ensinos Avançados da

Audição e os sujeitos foram submetidos a questões elaboradas pelas

pesquisadoras. (Anexo 1)

Estas questões têm o intuito pesquisar as reações e sentimentos dos pais

frente à situação da hora de alimentação de uma criança surda, a forma como essa

se dá e as orientações recebidas para essa situação; como é comunicação das

mães com a criança na hora da alimentação?

Durante a aplicação dos questionários, somente pesquisadora e o

entrevistado permaneceram na sala.

Como recurso de apoio para o registro das entrevistas com as famílias, foi

utilizado um gravador de áudio portátil.

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Posteriormente o conteúdo das gravações foi transcrito de forma literal.

Análise dos resultados

Para a realização da análise dos resultados foi utilizada a técnica do Discurso

do Sujeito Coletivo – DSC.

O DSC é “uma proposta de organização e tabulação de dados qualitativos de

natureza verbal, obtidos a partir de depoimentos, artigos, matérias de revistas,

cartas, papers de revistas especializadas etc.” (LÈFEVRE. AL., 2000).

Segundo Lèfevre et al. (2002), a técnica consiste basicamente em analisar o

material verbal coletado em pesquisas que tem como os depoimentos sua matéria

prima, extraindo-se de cada um destes depoimentos as Idéias Centrais e as suas

correspondentes Expressões-Chave.

Os autores evidenciam que as Expressões-Chaves são pedaços ou trechos,

segmentos, contínuos ou descontínuos do discurso que revelam a essência do

discurso ou a teoria subjacente. Já a Idéia Central é um nome ou expressão

lingüística que revela e descreve de maneira mais sintética e precisa o sentido

presente em cada uma das respostas e entrevistas analisadas, ou seja, as

Expressões-Chaves.

Após essa etapa, foi elaborado o discurso síntese, ou seja, o DSC que

constituiu na transformação e redução da listagem de várias Idéias Centrais e de

Expressões – Chaves numa só, como se houvesse apenas um indivíduo que fosse

portador de um discurso – síntese de todos aqueles que compõem um dado sujeito

coletivo. Para construir textos sobre o DSC é preciso seguir alguns princípios, sendo

estes: coerência (reunião de pedaços ou trechos dos depoimentos até formar um

discurso coerente); posicionamento próprio (apresentar sempre um posicionamento

original e específico mediante ao tema pesquisado) e tipos de distinção entre os

DSCs (quando se obtém mais de uma resposta leva-se em conta ou a diferença ou

a complementaridade). LÈFREVE ET AL. 2003 HABIRO E RIBEIRO 2005.

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Os autores destacam ainda que o DSC é a reunião de todas as possibilidades

imaginárias (discurso uno, diferente e antagônico) oferecidas por uma dada cultura,

num dado momento, para pensar um dado tema, e que a separação deste DSC

global em vários DSCs tem uma finalidade didática de tornar a exposição mais

compreensível. Assim, o DSC é uma estratégia metodológica que tem como objetivo

tornar mais clara uma representação social e o conjunto das representações que

conforma algo imaginário.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

1. Descrição da alimentação do filho desde o dia em que nasceu.

Idéia Central > “Sempre foi ótima, nunca teve problema com alimentação. E hoje ele

come qualquer coisa que a gente come, fruta, ele almoça, janta”.

Discurso do Sujeito Coletivo: “Normal. Ela mama de manhã. Antes de acordar eu

dou a mamadeira para ela enquanto ela dorme. Ai ela é acostumada a não tomar

café, comer pão essas coisas. E almoço desde que ela nasceu eu amamentei até os

seis meses, e ai depois começou a papinha, e é o almoço é arroz, feijão, ovinho, às

vezes uma carne, suco, ai depois ela vai para escolinha e a tarde tem o lanchinho

dela. Ai quando volta da escola ela toma uma mamadeira, e quando é umas sete

horas da noite ela janta, arroz, feijão, uma carne, uma mistura e um suco. Antes de

dormir ela toma outra mamadeira”.

A partir do trabalho desenvolvido com os pais dessas crianças deficientes

auditivas foi possível observar a importância de se abordar temas que podem

parecer simples, porém são importantíssimos para a saúde infantil. Segundo Philippi

(2003) a alimentação é o mais importante meio para crescer e se prevenir contra

carências nutricionais entre os fatores que influenciam na saúde da criança.

As entrevistas possibilitaram compreender que a introdução de alimentos

complementares ao leite materno até a alimentação cotidiana da família é um

processo. Conforme a criança vai crescendo e se desenvolvendo, sua alimentação

vai progressivamente sofrendo modificações, principalmente em relação à forma de

preparação, tipo de alimento e consistência da comida.

A alimentação de um bebê é uma transição entre o alimento líquido, leite

materno, para alimentos em consistências pastosas até à comida. Podemos

perceber na alimentação da criança e na da família, a presença de alimentos

básicos, alimentos considerados fortes, que alimentam e sustentam. Esses

alimentos básicos são: o arroz, o feijão, a carne, o macarrão e verduras.

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Como salienta Giard (1998), as formas de preparação dos alimentos, as

receitas, fazem parte do ritual de socialização das crianças, sendo aprendidas em

conversas femininas, com experiências e vivências repassadas de mãe para filha,

da avó para a neta. Apesar de atualmente as fontes serem diversas, o feijão ainda é

um alimento caracterizado pelo ritual de socialização. O feijão é um alimento

presente em todos os discursos deste trabalho, é um alimento forte, rico em ferro

podendo ser considerado e aprendido no ritual de socialização, assim como é dado

destaque para outros alimentos , entre eles a “carninha” e os vegetais verdes. Obs.:

(normalmente as crianças só comem os vegetais amassados disfarçados com outros

alimentos) Ex: “a única coisa que ele gosta é couve-flor, a gente amassa então ele

come.”

Assim, a criança "que come" fica referida àquela que come de tudo, que come

os alimentos que a família pode oferecer, dentro do possível, "comida" variada e

criativa.

2. Alimentação do filho hoje e se houve mudança após diagnostico

de surdez.

Idéia Central > “Não. Não mudou nada, é a mesma coisa”. “Não falo, quando ele

ouvia, eu falava, falava né?”

Discurso do sujeito coletivo: “Não, nada. Não mudou nada na verdade. Tudo como

criança normal. Então, de alimentação é difícil falar porque não mudou nada depois

que descobri a deficiência auditiva. É normal na alimentação, não me dá trabalho,

come,come comida, come um pouco de tudo. Assim, ele nunca pediu pra a gente.

Então foi com o passar do tempo que a gente foi a costumando a fazer gesto pra ele

né? Pra comer, até para dormir a gente faz assim (pai faz demonstração do gesto)

ai ele já sabe”.

Esses discursos nos oferecem conclusões a respeito das reações dos pais ao

relacionarem alimentação com a deficiência auditiva.

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No primeiro momento, os pais dizem que a surdez não implica em nada na

alimentação de seus filhos. Demonstram que a alimentação acontece de maneira

normal. Porém não levam em consideração que a comunicação da mãe com o filho

é um fator importantíssimo para o desenvolvimento da linguagem da criança. A

audição desempenha um papel preponderante e decisivo na aquisição e no

desenvolvimento da linguagem oral. Segundo Zorzi (1993) e Freire (1996) as

interações, desde o momento da concepção, são apresentadas como fundamentais

no processo da construção da linguagem. A atividade interpretativa da mãe é

essencial para a aquisição da linguagem e construção do sujeito.

Como verificamos no discurso dos pais, eles visam sempre estimular os filhos

através de vocalizações e apoios gestuais. Percebe-se também a dificuldade para

os pais explicarem, falarem com seus filhos e muitas vezes se perguntam se

realmente estão se fazendo entender. Ex: “quando eu vou… dar comida pra ele eu

falo, vamos supor: batata ó, vamos comer BATATA (aumenta o tom de voz para

especificar o alimento que vai ser ingerido).” Ou seja, podemos notar que a grande

preocupação dos pais em relação as crianças deficientes auditivas é pela falta de

comunicação. Existe uma enorme dificuldade para explicar para criança deficiente

auditiva sobre o novo alimento que esta sendo introduzido. Não é na hora de comer

e sim na hora de se comunicar com essa criança que a dificuldade aparece.

Como já vimos anteriormente, Moses e Hecker-Wulation (1985) dizem que o

diagnóstico de surdez prejudica o processo do vinculo afetivo entre pais e filhos, não

só pela incapacidade do filho em perceber o estimulo verbal, mas principalmente

pela dificuldade dos pais em lidar com a frustração. Para os pais é muito complicado

aceitar a deficiência, essa dificuldade é tão grande que muitas vezes os pais param

de falar com os seus filhos. Carvalho, (1998), aponta que a descoberta da surdez do

filho leva a diminuição do uso da voz dos familiares para se comunicar com a

criança. Algumas mães diminuem suas falas diretas com o filho, ou até não se

utilizam mais da palavra. Por ex. “Às vezes eu fico assim… sem saber conversar

com ele, como lidar com ele, ai eu vou falar e às vezes ele não entende. Se eu for

por de castigo, às vezes não sei dizer, porque ele está ficando de castigo, ai eu

tenho que ficar segurando ele

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3. Alimentação do filho hoje em dia e seu funcionamento

Idéia Central >: “Então nunca tivemos problema de alimentação com ele, ele se

alimenta super bem viu”

Discurso do Sujeito Coletivo: De segunda a sexta ele fica na minha sogra ai ele

come com as outras crianças. Os primos são três: uma de três anos, um de quatro e

um de sete. Ai eles almoçam junto antes de ir pra escola. Os quatro almoçam juntos,

sempre com alguém acompanhando, tipo minha sogra e os 4.. Mas sozinhos, eles

mesmos comem , sabe?Janta também na minha sogra, com as crianças, meu sogro,

minha sogra. Eu trabalho faz um tempo e quase todos os dias... Então, .....eu sou

um pouco ausente em casa. ...Mas, porque eu tenho períodos, período do almoço,

da manhã, no horário agora que ele chega da escola. E é normalmente horário que

eu me encontro em casa, o resto eu to trabalhando.

Os pais das crianças deficientes auditivas relataram sobre a alimentação e o

funcionamento de seus filhos no dia a dia. A partir de suas falas, identificou-se que

todos dizem não ter problemas com a alimentação do filho e que as crianças comem

bem. Porém, ao longo de muitos dos discursos percebemos que por mais que a

alimentação dos filhos esteja dentro dos padrões que os pais julgam ser o melhor,

pontos importantes são esquecidos.

É durante a alimentação que a mãe faz o seu primeiro contato com o filho.

Segundo (Kürster, 2001) o ato de se alimentar é visto como constituinte do sujeito,

esse ato é abordado por três óticas, a fisiológica, como indicadora de grau de

maturidade neurológica e muscular do bebê, a nutricional como “combustível” para o

crescimento e desenvolvimento neuro psico- motor; e a estrutural como elo no

contato mãe/ bebê.

Como ponto fundamental a cena de alimentação é muito importante para a

relação mãe e bebê. A hora da alimentação é um dos momentos de comunicação

que servem ao estreitamento do laço entre mãe e filho.

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Muitas das crianças quase não sentam à mesa com os pais, devido à correria

do dia a dia e pela falta de interesse de comunicação. Palladino (2007) afirma que a

montagem da cena de alimentação, ou seja, sentar-se a mesa, utilizar talheres, e

estabelecer diálogos com os presentes na mesa é fundamental para a relação mãe-

criança. É a mãe que vai apresentar e fornecer o primeiro alimento e o primeiro tipo

de alimentação à criança. O diálogo também é necessário para aquele que está

servindo o alimento à criança, é através dele que se explica o que está sendo

oferecido à criança, podendo fazer brincadeiras com a comida tornando a cena

divertida para que a criança se interesse pela comida.

Notamos que isso não acontece com os sujeitos entrevistados, os familiares

não se interessam pela comunicação durante a hora de se alimentar, para eles a

alimentação só acontece pelo real papel de comer e ficar satisfeito ignorando toda a

parte construtiva existente dentro da montagem da cena de alimentação.

4. Preocupações com a alimentação e com a comunicação.

Idéia Central >: “ele é independente, porque o que ele quer comer ele mostra, faz

gestos, aponta pra boca, e a gente já sabe que ele quer comer”.

Discurso do Sujeito Coletivo: “Não, na alimentação eu não me preocupo, porque o

que eu der pra ele, ele come. Agora na comunicação é difícil de lidar com ele, eu

num… as vezes eu num sei explicar a situação das coisas que acontece do dia-a-

dia. Ele não me obedece, as vezes tem que pegar o chinelo e mostrar, ai ele sabe,

ele sabe que… ele ta errado. Ele não obedece ninguém… muito difícil”.

“Às vezes eu fico assim… sem saber conversar com ele, como lidar com ele, ai eu

vou falar e às vezes ele não entende. Se eu for por de castigo, às vezes não sei

dizer, porque ele está ficando de castigo, ai eu tenho que ficar segurando ele…”.

A partir desses discursos podemos perceber que a preocupação principal dos

familiares está na comunicação e não na alimentação. Todos os sujeitos

entrevistados demonstram não terem dificuldades para alimentar os seus filhos,

todos eles comem bem e se viram bem.

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Sempre que aparece alguma dificuldade no discurso dos pais, está

relacionado à comunicação, ou melhor, à falta de comunicação. Podemos observar

esse fato principalmente em situações que exigem explicações e ordens dos pais

para os seus filhos. Como o Rebelo (2002), afirma as crianças deficientes auditivas

em comparação com as ouvintes, tendem a receber uma quantidade menor de

explicações dos pais no que se referem às emoções, razões, ações, papeis

esperados.

Em geral todos os pais falam que nunca tiveram problema com a alimentação,

mas ao longo de sua descrição mostram uma grande preocupação com a falta de

comunicação. Normalmente essas crianças comem de tudo e não dão trabalho para

se alimentar. Acredita-se que esse fato aconteça pela dificuldade de comunicação

que existe entre a mãe ouvinte com o seu filho surdo.

A criança surda possui uma comunicação expressiva alterada devido a sua

privação de audição. O deficiente auditivo possui uma limitada comunicação

receptiva, quando ouve algum som, não tem capacidade de discriminação sonora

que lhe possibilita a compreensão, dificulta a comunicação receptiva.

A pesquisa mostra que crianças pequenas já sabem se servir sozinhas e

demonstram independência. Essa independência pode ser entendida pela

dificuldade de comunicação entre os pais e as crianças aqui entrevistadas, talvez

por estarem em processo terapêutico. As crianças se servem para facilitar a sua

alimentação. Como Swisher, (1991) descreveu, as crianças surdas perdem muito da

comunicação, a mãe sem perceber não espera pelo contato visual para se

comunicar, fazendo com que a criança receba uma comunicação fragmentada.

A maioria das crianças deficientes auditivas se comunica com a mãe na hora

de se alimentar através de gestos ou por pequenas manifestações orais ex: [papa].

Greenberg (1984), diz que o uso precoce da comunicação bimodal (oral e gestual)

pode prevenir alguns dos problemas que a criança surda enfrenta e promover

interações mutuamente satisfatórias entre as mães e suas crianças surdas. Essa

afirmação nos demonstra então a razão do porque a mãe definir que a alimentação

do seu filho é normal, as crianças surdas junto com os seus familiares encontram

maneiras de se entenderem.

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Nas interações sociais a criança vai construindo as bases para agir sobre o

mundo. É na e com a família que a criança adquire a linguagem e, com ela, os

valores sociais e culturais, já que a família constitui o primeiro grupo social que a

criança inicia suas experiências.

A linguagem da criança é influenciada pela família assim como a criança

influencia os pais e irmãos pela sua linguagem.

A família, de uma forma geral, desempenha a função de cuidar, promover a

saúde, o bem estar e dar proteção.

Aqui se mostra que o papel do outro é fundamental e é o responsável por

introduzir-lhes o principio da realidade a fim de dar contenção às energias psíquicas

que estão dispersas e confusas.

A partir da queixa "que a criança não come", "não mastiga", as mães ou

forçam a criança a comer de qualquer maneira ou substituem a "comida" por

mamadeira ou leite. Indo além de cuidar e nutrir, a relação mãe-criança e alimento

está inserida numa dimensão de proteção de garantia de sobrevivência e não de

uma relação afetiva, de estímulo, de busca ou não de autonomia e de socialização.

Na ânsia de que a criança fique alimentada, identificamos que algumas mães

apresentam práticas alimentares inadequadas.

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CONCLUSÃO

Em geral todos os pais falam que nunca tiveram problema com a alimentação,

mas ao longo de sua descrição mostram uma grande preocupação com a falta de

comunicação. Normalmente essas crianças comem de tudo e não dão trabalho para

se alimentar. Acredita-se que esse fato aconteça pela dificuldade de comunicação

que existe entre a mãe ouvinte com o seu filho surdo.

Os pais dizem que a surdez não implica em nada na alimentação de seus

filhos. Demonstram que a alimentação acontece de maneira normal. Porém não

levam em consideração que a comunicação da mãe com o filho é um fator

importantíssimo para o desenvolvimento da linguagem da criança. A audição

desempenha um papel preponderante e decisivo na aquisição e no desenvolvimento

da linguagem oral.

Através do Discurso do Sujeito Coletivo verificamos que em um processo

terapêutico as questões do dia-a-dia da família precisam ser discutidas.

“Então, de alimentação é difícil falar porque não mudou nada depois que

descobri a deficiência auditiva. É normal na alimentação, não me dá trabalho,

come,come comida, come um pouco de tudo. Assim, ele nunca pediu pra a gente.

Então foi com o passar do tempo que a gente foi acostumando a fazer gesto pra ele

né? Pra comer, até para dormir a gente faz assim (pai faz demonstração do gesto) ai

ele já sabe.

Ela mama de manhã. Antes de acordar eu dou a mamadeira para ela

enquanto ela dorme. Ai ela é acostumada a não tomar café, comer pão essas

coisas. E almoço desde que ela nasceu eu amamentei até os seis meses, e ai

depois começou a papinha, e é o almoço é arroz, feijão, ovinho, às vezes uma

carne, suco, ai depois ela vai para escolinha e a tarde tem o lanchinho dela. Ai

quando volta da escola ela toma uma mamadeira, e quando é umas sete horas da

noite ela janta, arroz, feijão, uma carne, uma mistura e um suco. Antes de dormir ela

toma outra mamadeira.

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Não, nada. Não mudou nada na verdade. Tudo como criança normal.

De segunda a sexta ele fica na minha sogra ai ele come com as outras

crianças. Os primos são três: uma de três anos, um de quatro e um de sete. Ai eles

almoçam junto antes de ir pra escola. Os quatro almoçam juntos, sempre com

alguém acompanhando, tipo minha sogra e os 4.. Mas sozinhos, eles mesmos

comem , sabe?Janta também na minha sogra, com as crianças, meu sogro, minha

sogra. Eu trabalho faz um tempo e quase todos os dias... Então, .....eu sou um

pouco ausente em casa. ...Mas, porque eu tenho períodos, período do almoço, da

manhã, no horário agora que ele chega da escola. E é normalmente horário que eu

me encontro em casa, o resto eu to trabalhando.

Não, na alimentação eu não me preocupo, porque o que eu der pra ele, ele

come. Agora na comunicação é difícil de lidar com ele, eu num… as vezes eu num

sei explicar a situação das coisas que acontece do dia-a-dia. Ele não me obedece,

as vezes tem que pegar o chinelo e mostrar, ai ele sabe, ele sabe que… ele ta

errado. Ele não obedece ninguém… muito difícil.

Às vezes eu fico assim… sem saber conversar com ele, como lidar com ele,

ai eu vou falar e às vezes ele não entende. Se eu for por de castigo, às vezes não

sei dizer, porque ele está ficando de castigo, ai eu tenho que ficar segurando ele…”.

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ANEXOS

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Anexo 1 Caro (a) Senhor (a)

Eu, Daniela Scalon Oliveira/ Rossanna Petrosino fonoaudiólogo(a), cujo

telefone de contato é (11) 8424-2221/8292-1500, iremos desenvolver uma pesquisa

cujo título é, “A relação mãe ouvinte/filho surdo na cena de alimentação”.

O objetivo deste estudo é de analisar a relação da mãe ouvinte/ filho surdo na

cena de alimentação: através do DSC e necessito que o Sr.(a). forneça informações

à respeito de seu(sua) filho(a), cujas perguntas estão em anexo, devendo ocupá-

lo(a) por 15 minutos, para completar as respostas.

A participação do(a) seu (sua) filho(a) nesta pesquisa é voluntária e não

determinará qualquer risco ou desconforto, pois não manterei qualquer contato com

ele(a), ficando a coleta dos dados restritos a esta entrevista.

A participação do(a) seu(sua) filho(a) não trará qualquer benefício direto mas

proporcionará um melhor conhecimento à respeito da comunicação da mãe ouvinte

e o filho surdo na cena de alimentação, que em futuros tratamentos fonoaudiológicos

poderão beneficiar outras crianças ou, então, somente no final do estudo poderemos

concluir a presença de algum benefício.

Não existe outra forma de obter dados com relação ao procedimento em

questão e que possa ser mais vantajoso.

Informo que o Sr(a). tem a garantia de acesso, em qualquer etapa do estudo,

sobre qualquer esclarecimento de eventuais dúvidas. Se tiver alguma consideração

ou dúvida sobre a ética da pesquisa, entre em contato com a Daniela Scalon

Oliveira/ Rossanna Petrosino. Tel.8424-2221/8292-1500.

Também é garantida a liberdade da retirada de consentimento a qualquer

momento e deixar de participar do estudo, sem qualquer prejuízo, punição ou atitude

preconceituosa.

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Garanto que as informações obtidas serão analisadas em conjunto com

outras crianças, não sendo divulgada a identificação de nenhum dos participantes.

O Sr(a). tem o direito de ser mantido atualizado sobre os resultados parciais

das pesquisas e caso seja solicitado, darei todas as informações que solicitar.

Não existirá despesas ou compensações pessoais para o participante em

qualquer fase do estudo, incluindo exames e consultas. Também não há

compensação financeira relacionada à participação do(a) seu(sua) filho(a). Se existir

qualquer despesa adicional, ela será absorvida pelo orçamento da pesquisa.

Eu me comprometo a utilizar os dados coletados somente para pesquisa e os

resultados serão veiculados através de artigos científicos em revistas especializadas

e/ou em encontros científicos e congressos, sem nunca tornar possível a

identificação do(a) seu(sua) filho(a).

Anexo está o consentimento livre e esclarecido para ser assinado caso não

tenha ficado qualquer dúvida.

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Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Acredito ter sido suficiente informado a respeito das informações que li ou que

foram lidas para mim, descrevendo o estudo “Relação mãe ouvinte/ criança surda na

cena de alimentaçao”.

Eu discuti com o(a) fonoaudiólogo(a) Daniela Oliveira e Rossanna Petrosino

sobre a minha decisão em permitir a participação de meu(minha) filho(a) nesse

estudo. Ficaram claros para mim quais são os propósitos do estudo, os

procedimentos a serem realizados, seus desconfortos e riscos, as garantias de

confidencialidade e de esclarecimentos permanentes.

Ficou claro também que a participação do(a) meu(minha) filho(a) é isenta de

despesas e que tenho garantia do acesso aos resultados e de esclarecer minhas

dúvidas a qualquer tempo. Concordo voluntariamente em permitir a participação

do(a) meu(minha) filho(a) deste estudo e poderei retirar o meu consentimento a

qualquer momento, antes ou durante o mesmo, sem penalidade ou prejuízo ou

perda de qualquer benefício que eu possa ter adquirido.

_______________________________ Data _______/______/______

Assinatura do pai (mãe) ou responsável

__________________________ Data _______/______/_____

Assinatura do (a) pesquisador(a)

Nome da criança:

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Anexo 2

Questões:

1- Descreva a alimentação de seu filho(a) desde o dia que ele(a) nasceu.

2- Como é a alimentação do seu filho(a) hoje? Houve mudanças após o

diagnostico de surdez?

3- Fale sobre os momentos difíceis da alimentação. Come muito? Come

pouco? Como age? Como é seu funcionamento no dia-a-dia?

4- Existe algo que preocupe em relação a alimentação ou a falta de

comunicação?