a relação de parentesco em especial a filiação

13
A relação de parentesco, em especial a filiação Relembremos que as relações de parentesco São as que se estabelecem entre pessoas que têm o mesmo sangue, quer por descenderem umas das outras (pais e filhos, avós e netos), quer por provirem de um progenitor comum (irmãos, primos) (1578º). A relação de parentesco mais importante é a relação de Filiação. Esta pode ser natural/biológica ou adotiva. Em sentido estrito, a filiação é uma espécie de relação de parentesco, definindo-se como a relação juridicamente estabelecida entre duas pessoas que procriam e aquelas que foram geradas. É nesta aceção que o termo é usado nos artigos 1796º e ss., que regulam o estabelecimento da filiação. Estabelecimento da filiação Filiação Natural ou biológica A filiação natural ou biológica resulta do ato de procriação. Em regra , a filiação só é relevante se for juridicamente estabelecida e tem eficácia retroativa (artigo 1797º); Exceção : Casos de impedimentos matrimoniais (artigo 1603º). Princípios fundamentais 1)Princípio do superior interesse da criança : É do superior interesse da criança que quer a paternidade quer a maternidade se encontrem estabelecidas (preferência da biparentalidade face à monoparentalidade). Este princípio verifica-se nos seguintes casos: averiguação oficiosa por parte do estado, presunção de que o marido da mãe que consentiu na inseminação heteróloga é o pai (artigo 1889º), possibilidade de perfilhação, mesmo sem a maternidade estabelecida, etc. Este é um conceito indeterminado que corresponde à “estabilidade das condições de vida da criança, das suas relações afectivas e do seu ambiente físico e social”, o que implica a existência de “um ambiente familiar normal” (artigo 69º/2, CRP). É do interesse do menor o seu “integral e harmonioso desenvolvimento físico, inteletual e moral”. 2) Princípio da verdade biológica : Em regra, a filiação jurídica deve corresponder à verdade biológica. Este princípio verifica- se nos seguintes casos: Relativamente à mãe a filiação resulta do nascimento (artigo 1796º), admissibilidade como meios de

Upload: maria-do-mar-carmo

Post on 04-Dec-2015

3 views

Category:

Documents


1 download

DESCRIPTION

Direito da Familia - filiação

TRANSCRIPT

Page 1: a Relação de Parentesco Em Especial a Filiação

A relação de parentesco, em especial a filiaçãoRelembremos que as relações de parentescoSão as que se estabelecem entre pessoas que têm o mesmo sangue, quer por descenderem umas das outras (pais e filhos, avós e netos), quer por provirem de um progenitor comum (irmãos, primos) (1578º). A relação de parentesco mais importante é a relação de Filiação. Esta pode ser natural/biológica ou adotiva.Em sentido estrito, a filiação é uma espécie de relação de parentesco, definindo-se como a relação juridicamente estabelecida entre duas pessoas que procriam e aquelas que foram geradas. É nesta aceção que o termo é usado nos artigos 1796º e ss., que regulam o estabelecimento da filiação.

Estabelecimento da filiaçãoFiliação Natural ou biológicaA filiação natural ou biológica resulta do ato de procriação. Em regra, a filiação só é relevante se for juridicamente estabelecida e tem eficácia retroativa (artigo 1797º);Exceção: Casos de impedimentos matrimoniais (artigo 1603º).

Princípios fundamentais 1)Princípio do superior interesse da criança: É do superior interesse da criança que quer a paternidade quer a maternidade se encontrem estabelecidas (preferência da biparentalidade face à monoparentalidade). Este princípio verifica-se nos seguintes casos: averiguação oficiosa por parte do estado, presunção de que o marido da mãe que consentiu na inseminação heteróloga é o pai (artigo 1889º), possibilidade de perfilhação, mesmo sem a maternidade estabelecida, etc. Este é um conceito indeterminado que corresponde à “estabilidade das condições de vida da criança, das suas relações afectivas e do seu ambiente físico e social”, o que implica a existência de “um ambiente familiar normal” (artigo 69º/2, CRP). É do interesse do menor o seu “integral e harmonioso desenvolvimento físico, inteletual e moral”.

2) Princípio da verdade biológica: Em regra, a filiação jurídica deve corresponder à verdade biológica. Este princípio verifica-se nos seguintes casos: Relativamente à mãe a filiação resulta do nascimento (artigo 1796º), admissibilidade como meios de prova exames de sangue (artigo 1801º), possibilidade de afastar presunção de paternidade (artigo 1832º). Exceções a este princípio: sujeição das ações de estabelecimento judicial da maternidade e paternidade, bem como das ações de impugnação; casos em que não é possível o Estado fazer uma averiguação oficiosa (suspeitas de relações incestuosas, mais de dois anos após nascimento – artigo 1809º e artigo 1866º); artigo 1857º (perfilhação de maiores só se este filho der o seu consentimento); proibição de estabelecimento de filiação natural se já tiver sido decretada uma adoção plena (artigo 1987º) (prevalece o superior interesse da criança).Estes princípios não são absolutos, podendo cruzar-se entre si.

O nascimento é um facto obrigatoriamente sujeito a registo (artigo 1º/1/a, CRC), que, quando ocorrer em território português, deve ser declarado, dentro dos vinte dias imediatos, numa conservatória do registo civil, ou, se o nascimento em unidade de saúde onde seja possível declarar o nascimento, até ao momento em que a parturiente receba alta da unidade de saúde

Page 2: a Relação de Parentesco Em Especial a Filiação

(artigo 96º/1, CRC). O nascimento deve ainda ser declarado na unidade de saúde para onde a parturiente tenha sido transferida, desde que seja possível declarar o nascimento, até ao momento em que a parturiente receba alta (artigo 96º/2, CRC). Estabelecimento da maternidadeA maternidade jurídica resulta do facto do nascimento, regra que tem em vista a situação comum, em que a mãe genética e a mãe de gestação são uma e mesma pessoa. O parto é tido como um elemento que torna patente a ligação biológica do filho à mãe. 1) Por declaração 1 : A pessoa (seja ela quem for) que fizer a declaração de nascimento deve identificar a mãe (artigo 1803º). Registo feito nas próprias unidades de saúde (artigo 96º/1, CRC), feito pelas pessoas elencadas no artigo 97º, CRC. A filiação só é juridicamente relevante se se encontrar legalmente estabelecida e registada (artigo 1797º/1) e só com o estabelecimento da filiação é que há eficácia retroativa (artigo 1797º/2). É uma declaração verbal perante o funcionário do registo, salvo o que está consagrado no artigo 129º, CRC. O artigo 112º/1, CRC e o artigo 1803º/1 referem que o declarante do nascimento deve identificar, sempre quando possível, a mãe do registando. No entanto, a lei distingue:

- Nascimentos corridos há menos de um ano: A maternidade mencionada pela pessoa que fez a declaração (seja ela quem for) considera-se estabelecida, restando notificar a mãe deste facto, se não tiver sido ela, ou o marido a fazer a declaração (artigo 1804º/1 e artigo 113º/1, CRC). E se a maternidade estabelecida não for verdadeira? R: Impugnação nos termos do artigo 1807º, quer pela pessoa que consta como mãe e não é, quer pelo registado.- Nascimentos corridos já mais de um ano: Legislador entendeu que esta situação justifica algumas cautelas. Nestes casos, a declaração só estabelece automaticamente a maternidade se o declarante for a própria mãe (ou, ainda que seja um terceiro, a mãe esteja presente no ato, ou seja um procurador da mãe com poderes especiais). Caso não o seja, a pessoa indicada como mãe será notificada pessoalmente para, no prazo de 15 dias vir declarar se confirma a maternidade; Se a pretensa mãe negar a maternidade ou não puder ser notificada, a menção por terceiro fica sem efeito (artigo 1805º e artigo 114º, CRC).

2) Por reconhecimento judicial (artigo 1814º e ss) Quando não resulte de declaração, a maternidade pode ser reconhecida em ação de investigação intentada pelo filho contra a pretensa mãe para esse efeito (1814º). Caso este tenha nascido ou sido concebido em constância de matrimónio, tal ação deve ser intentada também contra o marido da pretensa mãe e, se existir perfilhação, ainda contra o perfilhante (artigo 1822º,1)O filho deve provar que nasceu da pretensa mãe, sendo possível recurso a exames de sangue2. Há duas presunções de maternidade, podendo ser ilididas (artigo 1816º)Prazo: Durante toda menoridade3 ou 10 anos após à sua maioridade ou emancipação (doutrina defende que não deveria sequer existir um prazo), podendo este prazo ser alargado (artigo 1817º)Atenção : Ver 1822º,2 e 1824º

1 Forma: ver 129º CRC2 Mas a mãe pode recusar-se a fazer tais exames. O juiz depois interpretará tal recusa conforme entender.3 Neste caso o filho deve ser representado pelo MP, enquanto representante geral dos incapazes

Page 3: a Relação de Parentesco Em Especial a Filiação

Averiguação Oficiosa da maternidade (artigo 1808º e ss)Não se trata de um verdadeiro modo de estabelecimento da maternidade ou paternidade (ainda que a sua inserção sistemática assim o possa levar a crer). Trata-te de um processo iniciado pelo funcionário do registo civil sempre que a maternidade não esteja mencionada no registo do nascimento (artigo 1808º,1) com vista a que a maternidade seja estabelecida de um dos modos anteriormente previstos. Assim, no final deste processo (feito nos termos do 1808º,2), podemos chegar a um de três resultados:

1) Chega-se a uma pretensa mãe, que confirma a maternidade: Maternidade estabelecida por declaração, quando a mãe é confrontada em tribunal; (artigo 1808º,3)2) Chega-se a uma pretensa mãe, que nega a maternidade: Início de processo de reconhecimento judicial para o Ministério Público por haver provas que justifiquem a sua viabilidade(1808º,4);3) Nunca se chega a encontrar a pretensa mãe: processo morre;

Atenção aos casos em que não é admitida a averiguação oficiosa: artigo 1809º

Estabelecimento da paternidade1) Por presunção "pater is est" ou da paternidade do marido da mãe (artigo 1826º e ss): Aplica-se a filhos nascidos ou concebidos na constância do matrimónio. O momento da conceção do filho é fixado, para os efeitos legais, dentro os primeiros cento e vinte dias dos trezentos que precederam o seu nascimento (artigo 1798º), salvo as exceções do 1799º e 1800º.É possível fazer cessar esta presunção : artigos 1828º (mãe declare que o marido não é seu filho), artigo 1829º/2/b (quando o divórcio é decretado) e artigo 1832º/1 (mãe declara que o filho não é seu). Conflitos de dupla presunção de paternidade (caso a mulher não tenha respeitado o período internupcial ou casos de bigamia) resolvidos pelo artigo 1834º; Presume-se que o pai seja o segundo marido; mas o segundo casamento será anulável, uma vez que o primeiro ainda não foi dissolvido (artigo 1589º); Nos termos do artigo 1841º/1, o pai pode apresentar-se no Ministério Público para apresentar provas de que é, efetivamente, o pai;E se a paternidade estabelecida por esta presunção não for verdadeira? R: Impugnação nos termos do artigo 1839º (especial atenção ao nº3, que é uma exceção ao princípio da verdade biológica), artigo 1840º (mais fácil impugnar a paternidade de filhos concebidos antes do matrimónio), artigo 1841º (pode ser impugnada por quem se ache pai do filho) e artigo 1842º (prazos);

2) Reconhecimento voluntário/ Perfilhação (artigo 1849º e ss): Caráter livre, pessoal, solene, pessoal e irrevogável; Aplica-se ou quando a filhos nascidos ou concebidos na constância do património cuja presunção tenha sido afastada e a filhos nascidos ou concebidos fora da constância do matrimónio. Capacidade para perfilhar (artigo 1850º), verdadeiro negócio jurídico, com características especiais: não podem surgir cláusulas de limitação da perfilhação, ou seja, que esta esteja sujeita a termo ou condição (artigo 1852º), irrevogável 1858º), Forma (1853º), Tempo (1854º), Perfilhação de nascituro (1855º), de filho falecido (1856º), de maiores (1857º) (só produz efeitos se o maior consentir: exceção ao princípio da verdade biológica), Anulável se tiver sido viciada por erro ou coação (1860º)

Page 4: a Relação de Parentesco Em Especial a Filiação

E se a paternidade estabelecida por perfilhação não for verdadeira? R: Impugnação nos termos do 1859º

3) Por reconhecimento Judicial (artigo 1869º e ss):A paternidade pode ser reconhecida em ação especialmente intentada pelo filho se a maternidade já se achar estabelecida ou for pedido conjuntamente o reconhecimento de uma e outra (artigo 1869º). Também a mãe menor pode intentar a ação em representação do filho (artigo 1870º). A paternidade presume-se (artigo 1871º/2): a) Posse de Estado b) Escrito do pai c) Convivência com a mãe, quer em UF quer em Concubinato duradouro, isto é, relações amorosas duradoras d) Sedução da mãe (dificuldades de prova) e) Relações sexuais. Estas presunções são ilidíveis em sede de processo judicial;Os prazos para o reconhecimento judicial da paternidade são os mesmos do que os previstos para o reconhecimento judicial da maternidade (artigo 1873º, que nos remete para o 1817º)

Averiguação oficiosa da paternidade (artigo 1864º e ss)Sempre que seja lavrado o registo de nascimento de menor apenas com a maternidade estabelecida, deve o funcionário remeter ao tribunal certidão integral do registo, a fim de se averiguar oficiosamente a identidade do pai (artigo 1864º). Processo (artigo 1865º). Casos em que não é admitida: relações incestuosas e 2 depois do nascimento (artigo 1866º). Se durante um processo crime (ex: violação) houver prova de que houve relações sexuais propensas à gravidez, admite-se uma averiguação oficiosa ainda que tenham passado dois anos sobre a data do nascimento, prazo este imposto pelo artigo 1866º (1867º).Tal como a averiguação oficiosa da maternidade, não se trata de um modo de estabelecimento da paternidade, mas sim uma via que visa estabelecer a paternidade por um dos modos anteriormente referidos. Assim, após esta averiguação:

- Ou se encontra um pretenso pai que perfilha (artigo 1865º, 3)- Ou se encontra um pretenso pai que não perfilha, iniciando-se um reconhecimento judicial (artigo 1865º,4 e 5)- Ou não se encontra um pretenso pai : processo morre.

Efeitos da filiaçãoEfeitos Gerais→ Deveres Paternofiliares (artigo 1874º): Deveres mútuos (quer de pais para filhos quer de filhos para pais, consoante a fase de vida; para sempre mas, essencialmente, durante a menoridade):

a) Respeito: Dever de não violar os direitos individuais do outro como, por exemplo, respeitar a reserva de intimidade da vida privada dos filhos (quer pessoais quer patrimoniais);b) Auxílio: Ajuda e proteção mútua (especial foque para os primeiros momentos de vida do filho e para os últimos dos pais) (em caso de doença e velhice);c) Assistência (1874º,2): Dever de natureza patrimonial. Divide-se em:

-Dever de prestação de alimentos, previsto no artigo 2009º. O artigo 1880º vem esclarecer que este dever persiste durante a maioridade ou emancipação do filho maior. Caso os pais não cumpram: ação, podendo mesmo constituir crime (artigo 250º, Código Penal); artigo 250º/6, CP (sanção pecuniária compulsória);- Dever de contribuir para os encargos da vida familiar

Page 5: a Relação de Parentesco Em Especial a Filiação

Estes deveres, além de mútuos, perduram toda a vida:- Até ao filho se tornar maior ou emancipado, dirigem-se essencialmente aos pais e estão incluídos nas responsabilidades parentais- Depois de o filho se tornar maior ou emancipado, autonomizam-se;- OTM (DL nº314/78, 27 Outubro; artigos 186º a 189º);- Quando os pais ficam idosos, dirigem-se essencialmente aos filhos;

→ Nome do Filho (artigos 1875º e 1876º) + artigo 102º e 108º, CRC

→ Nacionalidade (Lei da Nacionalidade)

Responsabilidades parentais (1877º a 1920º-C)Conjunto de situações jurídicas que, em regra4, emergem do vínculo de filiação e que visam a proteção e representação do filho menor não emancipado. Só existem durante a menoridade (cessam com maioridade ou emancipação). São poderes-funcionais.

Características: Indisponibilidade (intransmissíveis e insuscetíveis de acordo que apenas um exerce, sob pena de violar o artigo 1699º/b), Irrenunciabilidade (artigo 1882º), Funcionalidade (artigo 1878º) (tudo orientado tendo em conta o interesse do menor, daí que o Estado pode intervir se o filho estiver em risco- 36º,6 CRP e existam situações de inibição e limitações do poder parental - 1913º e ss), Tipicidade, Garantia reforçada (pais têm direito a que o filho seja restituído, se for retirado de casa) (exemplos: artigo 249º, Código Penal + artigo 1887º/2 + artigos 191º a 193º, OTM).

Conteúdo Engloba vários poderes-deveres (previstos no artigo 1878º, e desenvolvidos noutros artigos):1) Poder-dever de guarda5: Este poder-dever engloba:

- Vivencia com o filho. Exceção no artigo 1883º- Zelo pela sua saúde (pais podem privar que o filho se dê com certas pessoas; mas nunca com os seus irmãos e ascendentes- artigo 1887º-A, ou, no caso da adoção restrita, com a família natural)

2) Poder-dever de dirigir a educação: artigo 1885º; dirigir a vida religiosa (artigo1886º). Engloba poder de correção (castigos, mas não excessivos);3) Dever de sustentar o filho: Exige-se que os pais partilhem com os filhos o mesmo nível de vida que eles tenham (artigo 36º/5, CRP). Exceção: artigo 1879º 4) Poder-dever de representação: artigo 1881º;5) Poder-dever de administrar os bens do filho: Este poder dever está sujeito a regras:- Exercício da administração (artigo 1897º): Em regra não há lugar à prestação de contas ou caução. Exceções: quando se torne evidente uma má administração (artigo 1920º); - Utilização dos rendimentos do filho com limites (artigo 1896º)- Os pais podem ser excluídos da administração dos bens do filho (artigo 1888º)- Administração finda com maioridade ou emancipação (artigos 127º, 1900º)- Certos atos que os pais só podem exercer com o consentimento dos pais, sob pena de serem anuláveis (artigo 1889º/1 e 1893º, CC);

4 Pois há casos em que não são os pais a exercer5Vivência com o menor, correspondendo a uma das possibilidades que as responsabilidades parentais podem abranger (mas é possível exercer as resp parentais sem ter a guarda: caso em que o menor vive só com um progenitor, e o outro continua a exercer as responsabilidades parentais. Não se confunde com o termo "confiar a criança", que traduz a entrega do menor aos cuidados de alguém (1907º) (claro que quando se entrega o menor a uma pessoa, essa pessoa passa também a ter a guarda.

Page 6: a Relação de Parentesco Em Especial a Filiação

6) Dever de obediência vs Autonomia do menor: Em princípio os filhos estão numa posição de subordinação. No entanto, uma vez que se visa a criação de um ser humano autónomo, os pais têm se ter em conta a opinião dos filhos nas decisões importantes (artigo 1878º,2). A nossa lei dá muita autonomia aos menores (a partir dos 16 podem escolher religião, celebrar contrato de trabalho, perfilhar, trabalhar, ir a consultas de planeamento familiar...). Os pais devem, de acordo com a maturidade dos filhos, conceder-lhes autonomia na organização da sua própria vida.

Exercício das responsabilidades parentais (artigo 1901º e ss)Regra Geral: Pelos pais

→ Se os pais vivem juntos: Exercício comum pleno (1901º a 1904º) (exceções previstas nos artigos 1903º, 1904º e 1910º), exigindo-se o comum acordo entre ambos os pais. Na falta de acordo qualquer um deles pode recorrer a tribunal. Caso um progenitor pratique um ato sem o acordo do outro num ato cuja lei exija o consentimento de ambos ou se trate de ato de particular importância, este ato é anulável por analogia do 1893º. Mas no artigo 1902º/,1 diz que a falta de acordo não é oponível a terceiro de boa fé. → Se os pais não vivem juntos: Exercício pleno comum mitigado (1906º); Isto significa que só se exige o acordo de ambos para questões de particular importância, excluindo-se os casos de manifesta urgência, em que qualquer dos progenitores pode agir sozinho (nº1). Caso se tratem e responsabilidades relativas a atos da vida corrente do menor, estes cabem ao progenitor com quem o filho resida habitualmente ou se encontre temporariamente (nº3). Mas com quem deve ficar o menor a residir? Quem deve ficar com a guarda do menor? (nº6)- Com acordo: A guarda até pode ser alternada;- Sem acordo: O tribunal não pode impor a guarda alternada, tendo de atribui-la a um dos progenitores. Critério primordial a ter em conta: o interesse do menor/progenitor com melhor relação com os filhos. Outros critérios: geográficos, económicosNota: Há casos especiais em que o exercício das responsabilidades pode cabe a apenas um dos cônjuges, como dá a entender o 1906º,5 (ex: um progenitor preso,... regulado na OTM)

- Incumprimento dos deveres: crime segundo o artigo 249º, Código Penal.- Possibilidade de limitação das responsabilidades parentais: é possível o menor ser confiado a outra pessoa (artigo 1918º) ou, caso se trate de uma má administração dos bens dos filhos, o tribunal pode decretar providências adequadas (artigo 1920º), como a designação de um administrador de bens (artigo 1967º);- Possibilidade de inibição das responsabilidades parentaisA inibição pode ser: 1)De pleno direito (artigo 1913º)(ocorre "opa legis", isto é, mediante a verificação determinado facto, como crimes6) ou 2)Judicial (artigo 1915º)(tem de ser alguém a requerer, podendo assentar em causas objetivas, como uma doença/ausência, ou causas subjetivas, como infrações culposas dos deveres para com os filhos). A inibição não isenta o dever de prestar alimentos (artigo 1917º). Neste caso (e noutros), o poder paternal é suprido pela tutela (artigo 1921º e ss), sendo esta composta por dois órgãos: um tutor (artigo 1931º/1), que tem os mesmos direitos e

6 Atenção especial para a alínea a) que considera de pleno direito inibidos do exercício das responsabilidades parentais "os condenados definitivamente por crime a que a lei atribua esse efeito". Não há crimes em que se verifique uma inibição automática; Cabe ao juiz determinar esta medida acessória, mediante uma avaliação casuística.

Page 7: a Relação de Parentesco Em Especial a Filiação

obrigações dos pais, ainda que esteja obrigado a prestar contas (artigo 1935º e ss) (tutores são fiscalizados pelo tribunal, segundo o artigo 1937º/1); e um conselho de família (artigo 1951º), normalmente constituído por 3 vogais (normalmente um parente do lado materno, um do paterno e um representante do MP), ao qual incumbe a função de vigiar o modo como são exercidas as responsabilidades parentais por parte do tutor.Nas instituições de assistência, normalmente o tutor é o diretor da instituição onde os menores se encontram.

-Tutela cessa (artigo 1961º);- Administração de bens coexiste com as responsabilidades parentais ou com a tutela (artigos 1922º, 1967º e 1970º, CC);

Filiação adotiva (Noção de adoção no artigo 1586º7) (artigo 36º/7, CRP) (OTM – artigo 162º e ss) (Lei proteção de jovens e crianças em risco) (Convenção relativa À proteção das crianças e à cooperação em matéria de adoção internacional de 1993, entrou em vigor em Portugal em 2004)Noção no artigo 1586º (só corresponde à adoção plena). Constitui-se por sentença judicial, após um processo (artigo 1973º), tendo em vista o princípio do superior interesse da criança (artigo 1974º,1,1ªparte) bem como o princípio da convivência (artigo 1974º,1, 2ª parte). Vínculo constituído na menoridade, mas que se mantém até à maioridade e até à morte. Se já tiver sido estabelecido um vínculo de adoção, não pode ser estabelecido mais nenhum, a não ser que seja pelo cônjuge do adotante ou do parceiro da UF (artigo 1975º).Caso do tutor ou administrador de bens quiser adotar (artigo 1976º).A adoção pode ser nacional ou internacional, pela ou restrita (artigo 1977º) e singular ou conjunta.

Adoção plena (artigos 1979º a 1991º): adotado torna-se filho do adotante, como se se tratasse de filiação natural e integra a família do adotante; há um corte de laços com a família de origem, salvo se cônjuge adotar o filho do outro cônjuge;- artigo 1974º: zelar pelo interesse da criança;Requisitos do/s adotante/s (1979º + 1973º+1974º):- Idades mínimas e máximas no artigo 1979º;-consentimento do adotado se tiver mais de 12 anos (artigo 1980º/2)- Consentimento do adotante, nos termos do 1982º. Ainda que o artigo 1981º, que enumera as pessoas cujo consentimento é necessário não o refira. Também chegamos lá através do 1990º, que permite a revisão da sentença que tenha decretado a adoção quando falte ou tenha sido 7 Esta noção só corresponde à adoção plena

Administrador de bens (1922º) (representante a nível dos bens)

Pode coexistir quer com as resp parentais quer com a tutela. Regime: 1967º e ss

Tutela (1921º)Regime no 1927º e ss)

Responsabilidades Parentais. Caso falhem

Page 8: a Relação de Parentesco Em Especial a Filiação

viciado por erro ou determinado por coação moral o consentimento do adotante. Caso o consentimento suscite dúvidas quanto à modalidade de adoção, entender-se-á que o foi para a adoção restrita (artigo 1993º,2) - Vontade de adotar assete em motivos legítimos, sempre no interesse da criança (ideia de que não se adota só porque a mãe não pode ter filhos, ou porque o adotando é rico) e idoneidade aferida pelo tal inquérito que deve preceder qualquer adoção (artigo 1973º e 1974º); na falta de vontade admite-se a revisão da sentença judicial (artigo 1990º);-adotante deve estar bem de sáude;- duas pessoas casadas ou em união de facto há mais de dois anos(os prazos podem ser contados conjuntamente, segundo o artigo 1979º/1, desde que tenham pelo menos 25 anos;-pode adotar sozinho quem tenha mais de 30 anos; mas se estiver a adotar o filho do cônjuge voltamos à regra dos 25 anos (artigo 1979º/2);-só pode adotar quem tenha até 60 anos, salvo se estiver a adotar o filho co cônjuge (artigo 1979º/3);-a diferença de idades entre o adotante e o adotando não deve ser superior a 60 anos, salvo se o primeiro estiver a adotar irmãos e haja uma diferença de idades face a eles;

Requisitos do adotando (artigo 1980º):

Adotante pode estar com o adotando: num período que não deve ser superior a 6 meses, segundo o artigo 9º do DL nº185/93, 22 Maio; é um período de confiança administrativa e judicial, nos termos do artigo 1978º/1;

Adoção pelo tutor ou administrador de bens (artigo 1976º): só depois de serem prestadas as contas e saldada a sua responsabilidade, para impedir que haja enriquecimento ilícito;

Consentimentos necessários (artigo 1981º)( acrescentar o consentimento do/s adotante/s) e a sua forma (1982º); o juiz deve ouvir os filhos do adotante maiores de 14 anos (artigo 1984º);

Uma vez decretada por sentença judicial, torna-se irrevogável , já não podendo ser estabelecida a filiação natural (artigo1989º) (mas admite-se que seja desfeito o vínculo através do processo de revisão da sentença) e produz os seguintes efeitos (artigo 1986º): Vínculo semelhante ao da filiação natural entre adotante e adotado, cessam os vínculos com a família natural (1987º) (com a exceção relativa aos impedimentos) e há um corte radical com a família natural, exceto de se tratar da adoção do filho do cônjuge. Adotado perde o nome próprio e apelidos da família de origem e adquire os da família biológica (artigo 1988º/1 e 2). Segredo de identidade (artigo 1985º): a identidade não deve se revelada aos pais naturais do adotado, salvo se estes autorizarem (nº1); os pais naturais do adotado podem recusar que a sua identidade seja revelada ao adotante (nº2);

Após a sentença ter sido decretada, motivos de revisão da mesma (artigo 1990º)NOTA: as certidões de casamento devem conter os apelidos dos pais biológicos, por forma a evitar certos impedimentos e relações incestuosas (artigo 213º/3, CRC)

Adoção restrita (artigo 1992º a 2002ºD)Mais do que o apadrinhamento civil, mas menos do que a adoção plena. Não há corte com a família natural, continua com os seus direitos sucessórios (artigo 1999º). O adotante exerce as responsabilidades parentais (artigo 1994º), mas o adotando não é seu filho. Podem ser

Page 9: a Relação de Parentesco Em Especial a Filiação

acrescentados apelidos da família adotante, mas permanecem os apelidos da família biológica, segundo o artigo 1995º. Pode ser necessária a prestação de contas do adotante, a pedido dos pais biológicos, do Ministério Público e do próprio adotando (artigo 2002º-A). Admite-se o reconhecimento da filiação natural, não causando impedimentos à adoção restrita (artigo 2001º).

RequisitosHá uma maior flexibilidade quanto aos requisitos do adotante (artigo 1992º) (idade mínima de 25 anos quer para adoção singular ou conjunta). Exigem-se, com as necessárias adaptações, os requisitos do adotando (1980º), os consentimentos (1981º) (lembrar que em caso de dúvida do consentimento do adotante, se entende que pretende adoção restrita), bem como a sua forma (1982º) e os motivos de revisão de sentença previstos para a adoção plena (1993º)

Efeitos: O adotante passa a exercer as responsabilidades parentais e a residir com o adotado (1997º). Por se tratar de um vínculo mais ténue, o adotante deve prestar contas (artigos 1998º + 2002º-A).Ao contrário da adoção plena, esta é revogável nos termos dos artigos 2002º-B e 2002º-C.

Efeitos sucessórios do adotado : quanto à família natural mantêm-se (artigo 1994º), já quanto à família adotiva são muito restritos (artigo 1999º)

Pode ser convertida em adoção plena (artigo 1997º,2)