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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Instituto de Ciências Humanas
Bacharelado em Conservação e Restauro de Bens Culturais Móveis
Monografia
A reconstrução da memória de uma Casa-Museu: Diagnóstico de
conservação de uma amostragem da coleção de pintura da Casa
Museu Fernando de Castro – Porto/Portugal.
Micheli Martins Afonso
Pelotas 2013
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE MUSEOLOGIA E CONSERVAÇÃO E RESTAURO
BACHARELADO EM CONSERVAÇÃO E RESTAURO DE BENS CULTURAIS MÓVEIS
A RECONSTRUÇÃO DA MEMÓRIA DE UMA CASA-MUSEU: DIAGNÓSTICO DE CONSERVAÇÃO DE UMA AMOSTRAGEM DA
COLEÇÃO DE PINTURA DA CASA MUSEU FERNANDO DE CASTRO – PORTO/ PORTUGAL.
Micheli Martins Afonso
Trabalho de conclusão apresentado ao Bacharelado em Conservação e Restauro de Bens Culturais Móveis da Universidade Federal de Pelotas, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Conservação e Restauro de Bens Culturais Móveis, sob orientação da Profa. Doutora Juliane Conceição Primon Serres.
Pelotas, fevereiro de 2013.
Aprovada em ______/______/_______.
Banca examinadora:
___________________________________________
Profa. Doutora Juliane C. Primon Serres (UFPel/orientadora)
___________________________________________
Prof. Mestre Roberto Heiden (UFPel)
Pelotas, 2013.
AGRADECIMENTOS
Ao longo desta etapa da minha jornada acadêmica recebi o apoio de várias
pessoas que contribuíram, de uma maneira ou de outra, para que este percurso
trilhado fosse proveitoso e significativo na minha vida.
Em primeiro lugar, eu gostaria de agradecer a Dra. Maria João Vasconcelos,
diretora do Museu Nacional Soares dos Reis, por me conceder a oportunidade de
ingressar na equipe de Conservação e Restauro da instituição que dirige como
estagiária, por seu apoio, incentivo e por aprovar a realização desta pesquisa.
Agradeço a responsável pela Casa Museu Fernando de Castro, Vera Cálem,
por sua paciência, amizade e transmissão de conhecimento. A conclusão desta
pesquisa só foi possível graças à contribuição exaustiva desta gestora. Agradeço a
Vera Calém por ter me apresentado a Casa Museu Fernando de Castro e me
cativado, através de seu amor e dedicação por esta instituição.
Não posso deixar de ser grata aos conservadores/restauradores do Museu
Nacional Soares dos Reis, a Profª Doutora Salomé de Carvalho e ao Mestre Filipe
Fernandes, pela paciência, orientação, amizade e confiança.
Gostaria de agradecer a minha orientadora, Juliane Serres, por sua dedicação
e interesse no sucesso deste trabalho e aos meus professores do curso de
Conservação e Restauro de Bens Culturais Móveis da Universidade Federal de
Pelotas, pelo apoio durante a graduação.
Ao meu pai, João Afonso, devo o meu muito obrigado, por todos estes anos
de amor, dedicação, incentivo e apoio incondicional. A minha mãe Sayonara Martins
e a minha irmã Gabriéli Lemos, a minha gratidão por seu carinho e paciência.
Agradeço as minhas primas Anelise Martins e Rose Conte por sua amizade,
apoio e motivação nos momentos difíceis.
Agradeço a Deus por sua benção diária.
Por fim, sou grata aos meus amigos e familiares por me encorajarem a seguir
em frente, pelas palavras amorosas e por participarem deste momento importante
da minha caminhada.
Tôda a obra tem no artista o seu elemento criador e tem no público o seu elemento definitivo, e a obra não surgirá, não resultará senão assim. Qualquer realização sem crítica não terá o Sol que ilumine e eis porque, V. Ex.as neste dia, encheram de luz a minha casa, da luz em que brilham as maiores fulgurações da literatura, da ciência, da oratória e da arte portuguesa. Se a alta sensibilidade de V Ex.as dentro da sua tolerância e generosidade, encontrarem nesta casa um momento de emoção eu terei bendito a hora em que nela pensei e recolhido para meu prêmio e consôlo a mais enternecedora alegria.
Fernando de Castro
RESUMO
AFONSO, Micheli Martins. A reconstrução da memória de uma Casa-Museu: diagnóstico de conservação de uma amostragem da coleção de pintura da Casa Museu Fernando De Castro – Porto/ Portugal. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Curso de Bacharelado em Conservação e Restauro de Bens Culturais Móveis. Universidade Federal de Pelotas, Pelotas/RS/Brasil, 2013.
A Casa Museu Fernando de Castro, vinculada ao Museu Nacional Soares dos Reis e localizada na cidade do Porto em Portugal, foi a residência do poeta, caricaturista e, sobretudo, colecionador Fernando de Castro. De seu pai herdou a sociedade em uma vidraria situada na Rua das Flores na cidade do Porto. Era comerciante por profissão, mas artista por vocação. Fernando de Castro dedicou a vida ao colecionismo de obras de arte: foram cerca de 35 anos devotados a transformar a sua residência em um museu de caráter singular, albergando obras de especial relevo que compõem o patrimônio cultural português. O ecletismo descreve a coleção de Fernando de Castro. Destaca-se nesta instituição a pintura naturalista dos séculos XIX e XX, além de exemplares primorosos dos séculos XVI ao XX. A escultura do século XVI ao XIX é centrada, sobretudo, em temas religiosos. Um dos aspectos que tornam este acervo singular é o fato de Fernando de Castro ter reunido uma quantidade extraordinária de talha dourada, provenientes de conventos e igrejas. Este ornato pouco comum em uma Casa-Museu integra quase todos os ambientes da casa, revestindo a maioria das paredes desta habitação. A Casa-Museu ainda possui uma vasta coleção de cerâmica, têxteis, vidro, porcelana, leques, objetos etnográficos, entre outras relíquias do cenário português. Fernando de Castro reuniu este espólio com intuito de dividir o seu trabalho com a cidade do Porto, mas principalmente, tinha nesta obra uma satisfação pessoal. Este acervo excêntrico, pouco estudado e com várias lacunas em sua memória carece de atenção da sociedade e de especialistas em Conservação e Restauro, tendo em vista a iminente degradação que assombra a sua coleção. O profundo interesse de seus gestores em manter este patrimônio não é suficiente para a sua preservação, considerando que a Casa-Museu sofre com a carência de recursos financeiros e humanos. Necessita principalmente de especialistas que atuem na área de Conservação e Restauro para que auxiliem na conservação e manutenção deste espólio museal. Aferindo um valor substancial a este patrimônio, esta pesquisa tem por objetivo contribuir com a reconstrução da memória de Fernando de Castro e da sua Casa-Museu, verificar o estado de conservação da Casa Museu Fernando de Castro e realizar um diagnóstico de conservação de uma amostragem do espólio de pintura, fomentando a partir dos resultados obtidos, a pesquisa, o interesse e a conservação desta instituição museal de caráter singular.
Palavras-chave: Casa Museu Fernando de Castro, Conservação e Restauro,
Diagnóstico de Conservação – pintura.
ABSTRACT
AFONSO, Micheli Martins. A reconstrução da memória de uma Casa-Museu: diagnóstico de conservação de uma amostragem da coleção de pintura da Casa Museu Fernando De Castro – Porto/ Portugal. Trabalho de Conclusão de
Curso (Graduação) – Curso de Bacharelado em Conservação e Restauro de Bens Culturais Móveis. Universidade Federal de Pelotas, Pelotas/RS/Brasil, 2013.
The Fernando de Castro House Museum, which is linked to the Soares dos Reis National Museum and is located in the city of Porto in Portugal, was where poet, caricaturist, and, above all else, collector Fernando de Castro resided. He inherited a glass-making shop on Rua das Flores Street from his father in the city of Porto. De Castro was a trader by profession but an artist by vocation. Fernando de Castro dedicated his life to collecting works of art and devoted almost 35 years to transforming his residence into a unique museum, lodging works of special importance that formulate examples of Portuguese cultural heritage. Eclecticism characterizes Fernando de Castro’s collection. Naturalist paintings from the 19th and 20th centuries are what stand out, along with exquisite samples from the 16th through the 20th centuries. The sculptures from the 16th to the 19th centuries are centered primarily around religious themes. One of the many aspects that makes this heap of artwork unique is the fact that Fernando de Castro was able to scrape together an extraordinary amount of golden engravings, primarily from convents and churches. This less-than-common type of decoration for a House Museum successfully integrates almost all of the rooms, dressing up most of the walls. The House Museum still has a vast collection of ceramic, textile, glass, porcelain, fans, ethnographic objects and other relics from the Portuguese landscape. While Fernando de Castro assembled this estate with the intention of sharing his work with the city of Porto, there is a strong sense of personal satisfaction present. This eccentric pile of works of art, minimally studied and full of gaps, lacks attention from mainstream society and specialists from Conversation and Restauration organizations, who are fully aware of the imminent degradation that haunts his collection. The profound interest in maintaining this heritage isn’t enough to secure its preservation, considering that House Museums often suffer from lack of financial and human resources. There is a great need for specialists in the area of conservation and restauration to aid in the maintenance of the estate. In an attempt to gauge a reasonable value of this testimony to cultural heritage, this research aims to contribute to the reconstruction of the memory of Fernando de Castro and his House Museum, to verify the state of the House Museum of Fernando de Castro, and to carry out a conservation assessment of a sampling of the paintings on the estate, based on the results obtained, the research, the interest and the conservation of this unique museum institution.
Key Words: House Museum Fernando de Castro, Conservation and Restauration, Conservation Diagnosis -- painting
LISTA DE ABREVIATURAS
CMFC – Casa-Museu Fernando de Castro
IPM – Instituto Português de Museus
MNSR – Museu Nacional de Soares dos Reis
RPM – Rede Portuguesa de Museus
DGPC – Direção Geral do Patrimônio Cultural
LISTA DE OBRAS EXAMINADAS
CMFC 1 – Bretanha. José Júlio de Sousa Pinto. Óleo sobre tela. CMFC 2 – Nero. Autor desconhecido. Óleo sobre tela. CMFC 3 – Academia. Henrique Pousão, [1854 -1884]. Óleo s/ papel, colado s/ tela e
protegido com madeira no reverso. CMFC 4 – Raparigas. Autor desconhecido, [séc. XIX]. Óleo sobre tela. CMFC 5 – Retrato de homem. Autor desconhecido. Óleo sobre tela. CMFC 8 – Academia. A. C. Silva Porto. Óleo sobre tela. CMFC 10 – Paisagem. Marques d’Oliveira. Óleo sobre madeira. CMFC 12 – Marinha. João José Vaz. Óleo s/ tela colado em madeira. CMFC 13 – Senhora Josefina Rosa de Jesus. Júlio Costa, 1920. Óleo sobre tela. CMFC 14 – O descanso. Alberto Carlos de Sousa Pinto, [1861 – 1928]. Óleo s/ tela. CMFC 20 – Ponte de Gomil. Agostinho Salgado, 1937. Óleo sobre contraplacado. CMFC 28 – Flores. Ayres de Gouveia, [séc. XIX – XX]. Pastel s/ papel. CMFC 29 – O grilo do Penedo. Carlos Reis. Óleo sobre madeira. CMFC 30 – Árvores em flor. Júlio Trigoso, [séc. XX]. Óleo sobre tela. CMFC 31 – Camélias. António José da Costa, [1840 – 1929]. Óleo sobre papel colado s/ madeira. CMFC 37 – O porco morto. José Julio de Sousa Pinto. Óleo sobre tela. CMFC 39 – Igreja de Travanca. Acácio Lino. Óleo sobre tela. CMFC 40 – Cachas d’Uvas. José Júlio de Sousa Pinto, [1856 – 1939]. Óleo s/ tela. CMFC 41 – Azilados. António Costa, 1898. Óleo sobre madeira. CMFC 42 – Aporta do Aido. José Maria Soares Lopes, [1888 – 1921]. Óleo s/ tela. CMFC 45 – Bruges, Vieux Pont. Nestor Cambier, 1908. Óleo sobre tela. CMFC 47 – Montanha. João Reis, [1899 – 1922]. Óleo sobre madeira. CMFC 48 – Carroça abandonada. Autor desconhecido. Óleo sobre madeira. CMFC 50 – Olhar de saudade. Antonio Costa, 1898 [?]. Pastel s/ tela. CMFC 51 – Paisagem. Fausto Sampaio, 1943. Óleo sobre tela. CMFC 52 – Paisagem. José Leite, [1873 – 1939]. Óleo s/ tela colado em cartão. CMFC 53 – Jarra com Flores. José Júlio de Sousa Pinto, 1877. Óleo sobre tela. CMFC 54 – Vouzela. Marques d’Oliveira, 1889. Óleo sobre madeira. CMFC 55 – A volta da Caridade. Fausto Gonçalves, 1924. Óleo sobre madeira. CMFC 61 – Pôr-do-sol. Júlio Ramos. Óleo sobre tela. CMFC 64 – Retrato de homem. Autor desconhecido, [séc. XIX]. Óleo sobre tela. CMFC 65 – Retrato de homem. Autor desconhecido. Óleo sobre tela. CMFC 66 – O homem com pistola. Autor desconhecido. Óleo sobre tela. CMFC 68 – Academia. Sousa Pinto [?]. Óleo s/ papel. CMFC 71 – Apanha de azeitona (estudo). António Ramalho, 1896. Óleo sobre tela. CMFC 72 – Academia. E. Krabansky. Óleo sobre tela. CMFC 75 – Entrada do Castelo da Vila da Feira. Marques d’Oliveira, 1899. Óleo s/
madeira. CMFC 81 – Retrato de menina. José Júlio de Sousa Pinto, [1856 – 1939]. Óleo s/
tela. CMFC 82 – Retrato de senhora. José Júlio de Sousa Pinto. Óleo sobre tela. CMFC 88 – Estudiosa. Maria Sophia Martins de Sousa, [Sophia Martins, 1865 – 1922]. Óleo s/ tela. CMFC 90 – Le manoir de Fomeville. Jean-Charles Contel. Óleo sobre tela. CMFC 96 – Frutos. Joaquim Augusto Marques Guimarães, 1888. Óleo sobre tela. CMFC 97 – Porto mar de Londres. Jeremiah Hodges Mulcahy, 1842. Óleo s/ tela.
CMFC 100 – Retrato de senhora. Marques d’Oliveira [1853 – 1927]. Óleo sobre tela. CMFC 106 – Barcos de pesca na ponte de Leixões ao pôr-do-sol. Cândido da Cunha, [ 1866 – 1926]. Pastel s/ papel. CMFC 108 – Gigantes. Sousa Pinto. Óleo sobre tela. CMFC 110 – Amieiro em Flor. Alípio Brandão, [1918 – 1965]. Óleo sobre madeira. CMFC 116 – Poldras. José Júlio de Sousa Pinto. Óleo sobre madeira. CMFC 118 – Rio Douro Porto. Henri Edward Huguenin. Óleo sobre madeira. CMFC 119 – Guimarães (aspecto de casa). Júlio Silva, 1937. Aguarela s/ Papel. CMFC 124 – Pote com crisântemos. Helena Roque Gameiro, 1921. Aguarela s/
papel. CMFC 127 – Ponte de pedra. Autor desconhecido, séc. XX. Óleo sobre tela. CMFC 128 – Desenho humorístico. Manuel Aníbal da Costa Monterroso, 1938. Nanquim e aguarela s/ papel. CMFC 132 – Papa Pio VI. Autor desconhecido, [séc. XVII – XVIII]. Óleo s/ madeira. CMFC 135 – Maison a Rouen. Jean-Charles Contel, [1835 – 1928]. Óleo sobre tela. CMFC 137 – Busto de academia. Alberto Carlos de Sousa Pinto. Óleo sobre tela. CMFC 140 – Paisagem em França. José de Brito, [1855 – 1946]. Óleo s/ madeira. CMFC 144 – Retrato de um abade de Sto Idelfonso. Autor desconhecido. Óleo s/ tela. CMFC 145 – Retrato. Marques d’ Oliveira. Óleo s/ cartão. CMFC 146 – Um retrato de homem. Marques d’Oliveira. Óleo sobre tela. CMFC 148 – Tanque e lavadeira. Henri Edward Huguenin, 1868. Óleo s/ madeira. CMFC 153 – Serra de Gerez. Joaquim Lopes, [1886 – 1956]. Óleo s/ contraplacado. CMFC 159 – Cabeça de velho. Alberto Pinto. Óleo s/ tela colado em cartão. CMFC 182 – Nossa Senhora com menino no colo. Autor desconhecido. Óleo s/ tela. CMFC 198 – Claustros da Sé do Porto. Alberto de Sousa, 1923. Aguarela s/ papel. CMFC 200 – Altar da Igreja de S. Francisco, do Porto. Alberto Souza, 1936.
Aguarela. CMFC 208 – Uma ponte. José António Cavadas Pinto Guimarões, [1882]. Óleo
sobre madeira. CMFC 210 – Pedra Salgada. Henri Edward Huguenin, 1923. Óleo sobre madeira. CMFC 212 – Moinhos. José de Brito. Aguarela s/ papel. CMFC 220 – São Jerónimo. Autor desconhecido. Óleo sobre madeira. CMFC 270 – Rochedo á Beira-Mar. I. de Pinho. Nanquim e aguarela s/ papel. CMFC 271 – Cadeirinha. Autor desconhecido. Óleo sobre tela. CMFC 274 – Cabeça de rapariga. Sousa Pinto. Óleo s/ tela colado em madeira. CMFC 275 – Crianças a brincar. Autor desconhecido. Gravura colorida s/ papel. CMFC 276 – Desenho humorístico. F. Valença, [1882 – 1962]. Aguarela e lápis de cor s/ papel. CMFC 277 – Espanholas. [Poder-se-ia atribuir a Adelaide de Lima Cruz 1878 – 1963, ou a Maria Adelaide de Lima Cruz 1908 – 1985]. Pastel oleoso e gouache s/ papel. CMFC 281 – Marinha. Antonio Carneiro, 1903. Óleo sobre madeira. CMFC 282 – Frades. Lokit, [ou Lorit, séc. XX]. Óleo s/ porcelana não vidrada. CMFC 283 – Erupção de 1810 (Eruzione Del 1810). Autor desconhecido. Gouache
s/ papel com recorte. CMFC 287 – Hidrangeas. Ayres de Gouveia. Pastel s/ papel. CMFC 288 – Cathédrale de Reims – França. Autor desconhecido. Espelho gravado. CMFC 291 – Aldeia de Outono. Manuel Tavares, 1936. Aguarela s/ papel. CMFC 292 – Margens do Cávado. Romão, 18[86]. Aguarela s/ papel.
CMFC 293 – Peru. Alberto de Souza, 1926. Aguarela s/ papel. CMFC 295 – Rio Douro. Manuel Maria Lúcio. Óleo sobre tela. CMFC 297 – Vendo cais a tarde. Carlos Alberto de Sousa Pinto, [1861 – 1923]. Óleo
s/ tela. CMFC 300 – Castanheiro. Alfredo Keil, [1850 – 1907]. Óleo sobre tela colada em
cartão. CMFC 301 – Mar Azul. António Carneiro, 1909. Óleo sobre madeira. CMFC 302 – Palmeiras em flor. A. Correia da Costa, 1925. Óleo sobre tela. CMFC 303 – Mar chão. Autor desconhecido, séc XIX. Óleo sobre tela. CMFC 309 – Silêncio de Aldeia. Candido da Cunha, 1900. Óleo sobre tela. CMFC 310 – Tarde da Foz. H. E. Huguenin. Óleo sobre tela. CMFC 312 – Cabeça de mulher. [Poder-se-ia atribuir à Alberto Sousa Pinto]. Carvão s/ papel. CMFC 313 – Nossa Senhora com o menino no colo. Autor desconhecido, [séc. XVIII?]. Óleo sobre tela. CMFC 316 – Cabeça de criança. Teixeira Lopes, 1917. Grafite s/ papel. CMFC 317 – Itália. Autor desconhecido. Desenho á pena s/ papel. CMFC 318 – Rosas. Alberto Silva, 1935. Óleo sobre madeira. CMFC 319 – Árvores inclinadas. Alberto Carlos de Sousa Pinto. Óleo sobre tela. CMFC 325 – Marinha. M.S.F, 1899. Óleo sobre cartão. CMFC 328 – Busto de homem. J. A. Correia, [1887]. Grafite e giz, lápiz ou pastel
branco s/ papel. CMFC 329 – A velha do pau. Autor desconhecido, [séc. XIX]. Óleo sobre tela. CMFC 344 – São José e o menino. Autor desconhecido, [séc. XIX]. Óleo sobre tela. CMFC 346 – Crepúsculo. Candido da Cunha, 1915. Óleo sobre madeira. CMFC 365 – S. Lourenço Justiniano. Matteo Gregório Rossi Romano/Giacinto Calandru...Gravura sobre seda. CMFC 366 – Sagrada família. Autor desconhecido. Óleo sobre metal. CMFC 368 – A tavana. Maria Adelaide de Lima Cruz. Pastel s/ cartão ou papel. CMFC 377 – Cabeça de menino. Ayres de Carvalho. Óleo sobre cartão. CMFC 378 – Retrato de António Cabral. Tomaz de Moura, [1873 – 1955]. Óleo s/
tela. CMFC 380 – Medas. Inácio de Pinho, 1920. Aguarela s/ papel. CMFC 381 – Ponto de mar. Artista desconhecido. Desenho aguarelado s/ papel. CMFC 382 – Uma vista do Porto. F. Le Breton, séc. XIX. Gravura colorida s/ papel. CMFC 383 – Uma Inglesa. F. da Silva Gouveia, 1922. Lápis de cor s/ papel. CMFC 384 – Estátua representando um mulher (estudo). A. Teixeira Lopes, 1921.
Carvão, grafite e agurarela s/ papel. CMFC 387 – Barcos. João Monteiro, 1920. Carvão ou grafite s/ papel. CMFC 390 – Porta de uma Igreja. Antonio Lima, 1924. Desenho a nanquim s/ papel. CMFC 391 – Ribeira. João Monteiro, 1919. Carvão s/ papel [e/ou grafite]. CMFC 392 – Retrato de senhora: Atriz Delfina. Columbano Bordalo Pinheiro, 1874. Pastel s/ papel. CMFC 394 – Um homem de Estado. Ignácio da Silva Valente/F. Bartolozzi, 1812. Gravura. CMFC 397 – Camões. L. David/F. Champollian/A. Salmom. Gravura s/ papel. CMFC 400 – Banho de ninfas. Autor desconhecido, [séc. XVIII ?]. Óleo sobre tela. CMFC 402 – Motivo religioso. Autor desconhecido. Gravura em preto e branco, colorida com aguarela.
CMFC 403 – Gravura alegórica ao papado de Clemente XIV. Autor desconhecido,
1769. Gravura aguarelada s/ papel. CMFC 404 – Varina. J. Mirão, 1932. Nanquim s/ papel. CMFC 667 – Retrato de homem. Autor desconhecido, [séc XIX]. Óleo sobre tela. CMFC 668 – Retrato de homem. [Poder-se-ia atribuir a Teixeira Barreto]. Óleo s/
tela. CMFC 669 – Retrato de homem. [Pretender-se-ia atribuir a João Antonio Correia,
séc. XIX]. Óleo sobre tela. CMFC 670 – Vacas numa paisagem com neve. Autor desconhecido, [séc. XIX]. Óleo
s/ tela. CMFC 671 – Paisagem. Autor desconhecido, [séc. XVIII – XIX]. Óleo sobre madeira. CMFC 672 – Cão e gato. Autor desconhecido,[ séc. XIX]. Óleo sobre tela. CMFC 674 – Santa [?]. Autor desconhecido, [séc. XVII – XVIII]. Óleo sobre madeira. CMFC 675 – Retrato de senhora. Autor desconhecido, [séc. XIX]. Óleo s/ tela colado em cartão.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Vista do atelier / pinacoteca (O SÉCULO ILUSTRADO, 31 DE AGOSOTO
DE 1946).
Figura 2 – Outro ângulo do atelier / pinacoteca durante a inauguração em 1944.
(JORNAL DE NOTÍCIAS, 23 DE MAIO DE 1944).
Figura 3 – Personalidades ilustres da cidade do Porto e região reunidos durante a apresentação à sociedade da casa e da coleção de Fernando de Castro. (O COMÉRCIO DO PORTO, 23 DE MAIO DE 1944). Figura 4 – Personalidades ilustres da cidade do Porto e região reunidos durante a
apresentação à sociedade da casa e da coleção de Fernando de Castro. (O PRIMEIRO DE JANEIRO. 23 DE MAIO DE 1944). Figura 5 – Livros escritos por Fernando de Castro. Respectivamente: “Meteoro – memória escripta por ocasião da morte de meu sobrinho Fernando” 1909, “Noivado Pobre – sonetos” 1921 e “Lar Apagado – Sonetos” 1925. (Fotografias: Micheli Afonso. CMFC, 2012). Figura 6 – Livros escritos por Fernando de Castro. Respectivamente: “Degraus Limosos – Sonetos” 1940, “Meus Deus!... Meu Deus!... Sonetos” 1943 e “Altar Sem Culto – Sonetos” 1954. (Fotografias: Micheli Afonso. CMFC, 2012). Figura 7 – Núcleo de caricaturas feitas por Fernando de Castro utilizando um jogo
de palavras com nomes de localidades de Portugal. (Fotografia: Micheli Afonso. CMFC, 2012). Figura 8 – Um aspecto da sala de caricaturas. (Fotografia: Micheli Afonso. CMFC, 2012). Figura 9 – Algumas obras do grupo de caricaturas que representam os nomes de localidades de Portugal. (Fotografia: Micheli Afonso. CMFC, 2012). Figura 10 – Caricatura de Fernando de Castro – Guarda. (Fotografia: Micheli Afonso. CMFC, 2012). Figura 11 – Caricatura de Fernando de Castro – Tábua. (Fotografia: Micheli Afonso. CMFC, 2012). Figura 12 – Caricatura de Fernando de Castro – Penafiel. (Fotografia: Micheli Afonso. CMFC, 2012). Figura 13 – Caricatura de Fernando de Castro – Caldas da Rainha. (Fotografia: Micheli Afonso. CMFC, 2012). Figura 14 – Algumas caricaturas que compõem o núcleo de representações de personalidades importantes de Portugal. (Fotografia: Micheli Afonso. CMFC, 2012). Figura 15 – Auto-caricatura de Fernando de Castro. (Fotografia: Micheli Afonso. CMFC, 2012). Figura 16 – Caricatura feita por Fernando de Castro - Dr. Abel Salazar. (Fotografia: Micheli Afonso. CMFC, 2012). Figura 17 – Fernando de Castro em seu atelier. (O SÉCULO ILUSTRADO, 31 DE AGOSOTO DE 1946). Figura 18 – Fernando de Castro. (O TRIPEIRO DO PORTO. Nº 12, Abril de 1952). Figura 19 – Vista da fachada dos três edifícios que constituem a CMFC. (Fotografia:
Micheli Afonso. CMFC, 2012). Figura 20 – Vista da fachada da CMFC e do portão que da acesso ao quintal da
Casa-Museu. (Fotografia: Micheli Afonso. CMFC, 2012). Figura 21 – Vista da sala de exposições temporáririas desativada, localizada no
edifício anexo a CMFC. (Fotografia: Micheli Afonso. CMFC, 2012).
Figura 22 – Outro ângulo da sala de exposições temporárias desativada, localizada
no edifício anexo. (Fotografia: Micheli Afonso. CMFC, 2012). Figura 23 – Detalhe da Sala Minhota ou Sala Regional. (Fotografia: Micheli Afonso.
CMFC, 2012). Figura 24 – Detalhe da grade em ferro forjado riscada por Fernando de Castro.
(Fotografia: Micheli Afonso. CMFC, 2012). Figura 25 – “Cantar ao Desafio” escultura em barro Policromado - Henrique Moreira.
(Fotografia: Micheli Afonso. CMFC, 2012). Figura 26 – Uma vista da Sala Minhota ou Sala Regional. (Fotografia: Micheli
Afonso. CMFC, 2012). Figura 27 – Um aspecto da Sala de Jantar. (Fotografia: Micheli Afonso. CMFC,
2012). Figura 28 – Outro aspecto da Sala de Jantar. (Fotografia: Micheli Afonso. CMFC,
2012). Figura 29 – Vista do teto do vestíbulo ao rés-do-chão da CMFC. (Fotografia: Micheli
Afonso. CMFC, 2012). Figura 30 – Detalhe da escadaria que liga o piso térreo com o 1º andar da Casa-
Museu. (Fotografia: Micheli Afonso. CMFC, 2012). Figura 31 – Detalhe Sala Dourada. Em primeiro plano um faldistório. (Fotografia:
Micheli Afonso. CMFC, 2012). Figura 32 – Detalhe da Sala Azul com pintura ao fundo de Alberto Silva retratando
Fernando de Castro. (Fotografia: Micheli Afonso. CMFC, 2012). Figura 33 – Hall de escadarias do 1º piso da CMFC. (Fotografia: Micheli Afonso.
CMFC, 2012). Figura 34 – Detalhe da Sala de Caricaturas com destaque para a escultura que
representa Fernando de Castro executada por Henrique Moreira. (Fotografia: Micheli Afonso. CMFC, 2012). Figuras 35 – Detalhe do quarto de dormir de Fernando de Castro. (Fotografia: Micheli Afonso. CMFC, 2012). Figuras 36 – Outro detalhe do quarto de dormir de Fernando de Castro. (Fotografia: Micheli Afonso. CMFC, 2012). Figura 37 – Detalhe do púlpito no hall da escadaria do 2º piso da CMFC. (Fotografia: Micheli Afonso. CMFC, 2012). Figura 38 – Recorte da escadaria do 2º pavimento da CMFC. (Fotografia: Micheli Afonso. CMFC, 2012). Figura 39 – Detalhe do Vitral do hall da escadaria do 2º pavimento. (Fotografia: Micheli Afonso. CMFC, 2012). Figura 40 – Uma vista do hall do 2º piso da CMFC. (Fotografia: Micheli Afonso. CMFC, 2012). Figura 41 – Aspecto da parede externa sem isolamento. (Fotografia: Micheli Afonso. CMFC, 2012). Figura 42 – Visualização de parte do telhado com as hastes de cobre que sustentavam as caleiras. (Fotografia: Micheli Afonso. CMFC, 2012). Figura 43 – Manchas de umidade presentes visíveis no piso. (Fotografia: Micheli Afonso. CMFC, 2012). Figura 44 – Manchas de infiltrações e umidade no teto da CMFC. (Fotografia: Micheli Afonso. CMFC, 2012). Figura 45 – Marcas de umidade e presença de bolores na sala de reserva de pinturas. (Fotografia: Micheli Afonso. CMFC, 2012).
Figura 46 – Estado de conservação das janelas da sala de reserva de pinturas.
(Fotografia: Micheli Afonso. CMFC, 2012). Figuras 47 – Visualização da “estufa”. Sala localizada no 3º piso e que não é
utilizada devido ao alto índice de umidade relativa, um grande fluxo de infiltrações e presença de micro-organismos. (Fotografia: Micheli Afonso. CMFC, 2012). Figura 48 – Idem 47. Figura 49 – Proteção aplicada em janelas para evitar a entrada em excesso de
radiação luminosa. (Fotografia: Micheli Afonso. CMFC, 2012). Figura 50 – Outro aspecto da proteção aplicada em algumas janelas para evitar a
entrada excessiva de raios solares. (Fotografia: Micheli Afonso. CMFC, 2012). Figura 51 – CMFC 31. Inscrição que remete a Fernando de Castro e ao seu
endereço na cidade do Porto em Portugal. Figura 52 – CMFC 400. Redução das dimensões. Figura 53 – CMFC 88. Redução das dimensões. Figura 54 – Redução das dimensões, deformações e repintes (entre outras
patologias). Figura 55 – Redução das dimensões, deformações e lacunas (entre outras
alterações). Figura 56 – CMFC 10. Sujidade superficial. Figura 57 – CMFC 8. Sujidade superficial. Figura 58 – CMFC 13. Presença de bolor no suporte têxtil. Figura 59 – CMFC 13. Presença de bolor na camada pictórica. Figura 60 – CMFC 10. Ataque xilófago ativo. Figura 61 – CMFC 671. Ataque xilófago inativo. Figura 62 – CMFC 392. Manchas de umidade. Figura 63 – CMFC 41. Manchas de umidade. Figura 64 – CMFC 400. Lacunas e destacamentos. Figura 65 – CMFC 182. Lacunas. Figura 66 – CMFC 271. Oxidação do verniz e escurecimento dos pigmentos. Figura 67 – CMFC 344. Oxidação do verniz.
SUMÁRIO
RESUMO ..................................................................................................................... 5
ABSTRACT ................................................................................................................. 6
LISTA DE ABREVIATURAS ........................................................................................ 7
LISTA DE OBRAS EXAMINADAS .............................................................................. 8
LISTA DE FIGURAS.................................................................................................. 12
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 16
I – RECONSTRUÇÃO DA MEMÓRIA DA CASA MUSEU FERNANDO DE CASTRO
.................................................................................................................................. 22
I.I. O COLECIONADOR, FERNANDO DE CASTRO. ............................................ 24
I.II. A FACE ARTÍSTICA E POÉTICA DE FERNANDO DE CASTRO .................... 28
I.III. CESSÃO DA CASA MUSEU FERNANDO DE CASTRO AO ESTADO. ......... 34
I.IV. A CASA MUSEU FERNANDO DE CASTRO .................................................. 36
II - ESTADO DE CONSERVAÇÃO DA CMFC .......................................................... 46
III - DIAGNOSTICO DE CONSERVAÇÃO DO ESPÓLIO DE PINTURA DA CASA
MUSEU FERNANDO DE CASTRO – AMOSTRAGEM ............................................. 55
CONCLUSÃO ............................................................................................................ 75
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 77
ANEXOS ................................................................................................................... 80
16
INTRODUÇÃO
Fernando de Castro no discurso de apresentação da sua casa, que na altura já
era considerada por amigos e críticos como “um Museu particular” (O COMÉRCIO
DO PORTO, 21 de maio de 1944), proclama a sua alegria e realização em ver a sua
“obra” prestigiada e reconhecida pela população portuense. O despertar para a
criação de locais que retratassem e inserissem o público na vivência, nos gostos e
na memória de seres ilustres de uma sociedade, de representação singular no
contexto em que estavam inseridos, ou ainda participassem de fatos históricos com
tal valor a serem mantidos vivos na coletividade, denota mundialmente do século
XIX (PONTE, 2007, p. 167). Sendo assim, Fernando de Castro não se tratava
apenas de um colecionador, era um homem de seu tempo que configurava o seu lar
almejando um dia transformá-lo em um Museu, neste caso específico uma Casa-
Museu, designação utilizada em Portugal ou Museu-Casa no Brasil.
A ânsia em salvaguardar os seus bens, expor orgulhosamente o seu legado,
manter viva a memória de um ente querido ou homenagear uma personalidade
social, deu origem a esta instituição que mescla o íntimo como o coletivo, o privado
com o público. Desejo que é justificado por Joel Candau quando afirma que “a
memória assegura não só um sentimento de continuidade pessoal, mas aquele de
uma continuidade social” (CANDAU 2009/10, p. 46-47). Entretanto, a criação de uma
Casa-Museu por uma pequena parcela da sociedade não é suficiente para garantir a
sua sobrevivência: é preciso uma identificação do coletivo para que este legado se
torne um patrimônio verdadeiro.
Dentre a pluralidade de ações que um museu deve desenvolver enquanto
“equipamento cultural” (GODOY, 1997, p. 95), o contato com o público torna-se
questão primordial para a sua existência, seja através de ações educativas,
pesquisas, visitas guiadas, cursos de curta duração, etc. Outro elemento
fundamental é o acervo que esta instituição comporta. Na situação específica de
uma Casa-Museu, o acervo não se limita as peças expostas nas galerias, expande-
se a composição do edifício, jardins, biblioteca e até mesmo aos banheiros, que em
alguns casos podem ser originais ao período íntimo da casa, constituindo desta
forma o edifício como parte fundamental para a apreciação correta do espólio.
17
A visita a uma Casa-Museu reporta o expectador a um modo de vida que
corresponde um período específico da existência daquela comunidade. Este
ambiente cotidiano oferece um contato direto com o reflexo do passado/presente de
uma parcela da sociedade, satisfazendo a sua curiosidade (HORTA, 1997, p. 113 -
114). Para tanto, atividades que contemplem a conservação e o restauro são
imprescindíveis, facilitando a relação do público com o acervo, ao mesmo tempo em
que assegura a perpetuação deste espólio a gerações futuras.
A conservação em todas as suas faces, é componente constituinte e
determinante para a preservação de um bem, impedindo ou limitando o temor do
esquecimento, não deixando “enfraquecer o sentimento de identidade” (CANDAU,
2009/10) que aquela instituição abriga. De acordo com a análise de António Ponte
sobre as Casas-Museu em Portugal “[...] são muito débeis os serviços relacionados
com a conservação preventiva [...]. A Casa-Museu é geralmente encarada como um
espaço de exposição sem condições de conservação e salvaguarda” (PONTE, 2007,
p. 109). Neste sentido, entende-se fazer necessária a inserção, nestas instituições,
de agentes capacitados na área da conservação e restauro, aferindo uma orientação
especializada e direcionada para a manutenção destes bens. Além disso, atribui-se
relevância significativa nesta abordagem, visando o acréscimo científico que estes
profissionais irão devolver a comunidade através desses estudos.
No âmbito das ações de conservação e restauro como estagiária do Museu
Nacional de Soares dos Reis - Porto/Portugal - surgiu o interesse em pesquisar a
Casa Museu Fernando de Castro, tutelada pelo Museu Nacional Soares dos Reis. O
primeiro contato com o local deu-se durante uma campanha de limpeza, realizada
pela equipe de conservação e Restauro do MNSR na Casa Museu Fernando de
Castro.
O centro histórico da cidade do Porto, em Portugal, é reconhecido
mundialmente pela Unesco devido a riqueza e importância do seu patrimônio
cultural. Além da bela arquitetura, exemplarmente representada por seus casarões
históricos ornamentados pelos azulejos portugueses, a cidade abriga um belo
patrimônio natural, destacando o Rio Douro. Designa-se como uma região singular,
no que concerne aos doces portugueses e ao Vinho do Porto e pelo vasto número
de museus e casas de cultura que abrigam parte do legado português.
Neste turbilhão cultural, vinculada ao Museu Nacional de Soares dos Reis
desde a sua criação em 1952, evidencia-se um patrimônio adormecido: a Casa
18
Museu Fernando de Castro. Residência de um poeta, caricaturista e comerciante da
cidade do Porto, a Casa Museu Fernando de Castro sublima pela excelência do
acervo que comporta. Caracterizada pela decoração genuína à época que o patrono
habitava o local, apresenta um preenchimento quase que total do seu espaço,
revelando o gosto de Fernando de Castro pelo colecionismo de obras de arte
(PONTE, 2007).
Fernando de Castro dedicou-se em vida, a compor sua morada com uma
variada gama de tipologias ligadas à arte, ao que tange pinturas dos séculos XVI ao
XX, esculturas quase que exclusivamente dedicadas à arte sacra, datadas entre os
séculos XVI e XIX, cerâmicas, vidro e torêutica1. Particulariza-se pela forte influência
da talha dourada, proveniente de igrejas e conventos a qual serve de cenário para a
exposição da maioria do espólio museal. O revestimento de quase todo o edifício por
esta ornamentação tridimensional dourada revela a imponência que o patrono
concedeu a este refúgio cotidiano que, ao mesmo tempo em que sufoca pela
ausência de espaços vazios, deslumbra por sua originalidade e composição.
Pretende-se com a pesquisa atingir dois objetivos principais: o primeiro
coresponde ao reconhecimento do ambiente a ser pesquisado através da
reconstrução da sua memória. Este processo é essencial à pesquisa, mesmo sendo
um trabalho elaborado com foco principal na Conservação e Restauro, área
competente a proponente deste projeto. Consciente da carência de documentação e
registros do processo de constituição de um ambiente íntimo à transformação em
uma Casa-Museu e a falta de pesquisas sobre esta particularidade, a reconstrução
da memória deste local justifica-se nesta pesquisa. Além disso, torna-se
absolutamente importante entender minimamente o histórico do local, para que
futuras análises que dizem respeito à conservação, possam ser feitas. Ainda neste
aspecto, estima-se obter uma melhor compreensão da relação do patrono com a
casa e a coleção.
O segundo objetivo, corresponde à análise do ambiente ao qual o acervo está
exposto – a Casa Museu Fernando de Castro – nomeadamente o seu estado de
1 Arte de trabalhar o metal, especialmente por modelagem. Essa técnica também pode ser combinada
com outras como a cinzeladura, a tauxia e a marchetaria. O termo é usado para designar os objetos realizados através dessa técnica, cujo especialista é chamado toreuta. Fonte: http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseaction=termos_texto&cd_verbete=3848
19
conservação e, especificamente uma amostragem do diagnóstico de conservação
do espólio de pintura.
Pretende-se realizar uma amostragem do diagnóstico de conservação no
espólio de pintura presente na Casa-Museu, averiguando quais as principais
patologias são encontradas nesta parcela da coleção, tanto quanto a frequência a
que se apresentam. Levando em consideração o número elevado das obras
presentes na coleção de pintura2, a disponibilidade do local para receber a
pesquisadora e o período de tempo escasso para realização do projeto, foi
necessário definir uma amostragem deste acervo para obtenção de resultados
preliminares. Em relação a este aspecto, algumas situações foram ponderadas para
a escolha das obras que seriam analisadas: diversas obras da coleção de pintura
encontram-se expostas nas distintas dependências da CMFC. São locais de difícil
acesso para realização das análises, além disso, os riscos de acidentes são
elevados para esta coleção, caso não se tenha uma equipe especializada e alguns
recursos técnicos que favoreçam a investigação destas obras. Outro ponto a ser
ponderado para definição da parcela amostral foi à utilização ou não das caricaturas
feitas por Fernando de Castro. Os desenhos efetuados pelo patrono têm as mesmas
características técnicas, pictóricas e o mesmo suporte – papel. Além disso, seria
inviável realizar o diagnóstico de todas estas peças devido ao seu número elevado.
Após ponderar sobre estas particularidades e dificuldades de execução da pesquisa,
decidiu-se analisar apenas as peças do espólio de pintura que se encontravam em
zona de arrecadação. Existe uma variada gama de técnicas e suportes de pintura
nesta parte do acervo, sendo possível obter resultados mais proveitosos a respeito
do estado de conservação geral das peças devido a esta diversidade.
A metodologia aplicada para a elaboração deste projeto foi, sobretudo, a
pesquisa no acervo do Museu Nacional de Soares dos Reis, entrevistas com Vera
Calém, responsável pela Casa Museu Fernando de Castro, e constantes visitas de
pesquisa ao local. A recolha de elementos que contribuísse para compor o histórico
da instituição foi realizada a partir do levantamento de dados que fizessem menção
a Casa Museu Fernando de Castro, dentre eles fotografias antigas, documentação
correspondente a Casa-Museu, recortes de jornais, anotações sobre obras, fichas
2 A coleção de pintura possui aproximadamente 700 obras. Destas, cerca de 300 peças
correspondem às caricaturas executadas pelo patrono da Casa-Museu, Fernando de Castro. O museu ainda inclui na coleção de pintura algumas gravuras, pastéis, aguarelas e técnicas de pintura variadas sobre suporte de madeira, tela, contraplacado, papel e porcelana.
20
de inventário e algumas poucas referências bibliográficas que citam a Casa Museu
Fernando de Castro. Pode-se reconstruir parcialmente e do modo introdutório, tendo
em vista a amplitude do tema abordado, a memória desta Casa-Museu. Utilizaram-
se, duas fontes bibliográficas que citam a CMFC. A primeira diz respeito à
dissertação elaborada para obtenção de grau em nível de Mestrado de António
Manuel Torres da Ponte3 que desenvolveu seu trabalho caracterizando e
problematizando as Casas-Museu em Portugal. A segunda referência bibliográfica
corresponde também a uma dissertação de Mestrado elaborada por Marta Rocha
Moreira4, na qual aborda aspectos arquitetônicos das Casas-Museus em Portugal.
No que tange a área da Conservação e Restauro, utilizou-se como recurso
metodológico para identificar o estado de conservação da coleção de pintura da
CMFC, uma ficha de diagnóstico de conservação, elaborada pela equipe de
Conservação e Restauro do Museu Nacional Soares dos Reis, nomeadamente pela
Dra. Salomé Carvalho. A referida ficha de diagnóstico utilizada para avaliar as
coleções de pintura foi desenvolvida principalmente para colaborar com ações de
gestão de acervo, em que fosse necessário obter resultados rápidos e eficazes do
estado de conservação da coleção.
Foi necessário recorrer a outras ferramentas para complementar as
informações capturadas sobre as obras, pois nem sempre era possível identificar os
autores e/ou as datações das pinturas durante o processo de diagnóstico de
conservação. Para tanto, recorreu-se as fichas de inventário da coleção de pinturas
presentes no acervo do Museu Nacional Soares dos Reis. Cabe salientar que, ainda
hoje existem algumas pinturas não identificadas dentro do espólio da Casa-Museu
Fernando de Castro e algumas outras em que as atribuições de autorias foram
revistas e alteradas. Como referido, a CMFC não possui documentação sobre a
procedência ou autoria da maioria das suas obras. Algumas peças são datadas pelo
próprio artista. Em outros casos, quando se sabe a identidade do pintor, atribui-se a
peça uma datação que esteja de acordo com o espaço cronológico em que o artista
desenvolveu as suas obras e faleceu.
Sabe-se extremamente pouco a respeito do artista, poeta e, acima de tudo, o
colecionador Fernando de Castro. Uma parte das informações contidas nesta
3 PONTE, António Manuel Torres da. Casas-Museu em Portugal: Teorias e práticas. Faculdade de
Letras da Universidade do Porto. Porto, 2007. 4 MOREIRA, Marta Rocha. Da casa ao Museu. Adaptações arquitectónicas nas casas-museu de
Portugal. Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto. Porto, 2006.
21
pesquisa são frutos de recolhas de pequenos fragmentos que nutrem as referências
sobre a história deste personagem. A maior parcela dos dados recolhidos para
composição deste trabalho foi extraída de entrevistas feitas com a responsável pela
CMFC. Vera Calém é responsável pela Casa Museu Fernando de Castro desde
julho de 2006, anterior a esta data, a responsável pela CMFC era a conservadora
Catarina Maia e Castro. Estas entrevistas são essenciais para a reconstrução da
memória desta Casa-Museu, tendo em vista os anos de trabalho dedicados a CMFC
e por sua larga experiência em museus, o seu extenso conhecimento sobre história
da Arte e, sobretudo, pintura.
22
I – RECONSTRUÇÃO DA MEMÓRIA DA CASA MUSEU FERNANDO DE CASTRO
Quem transita pela Rua de Costa Cabral, na cidade do Porto, não imagina a
riqueza e a singularidade que a residência de número 716 abriga. Contendo apenas
uma tímida inscrição em sua fachada indicando que aquela residência é na verdade
uma Casa-Museu, desvela toda a sua exuberância e valor patrimonial somente para
os interessados a nela adentrar.
A Casa-Museu Fernando de Castro é de responsabilidade administrativa do
Museu Nacional Soares dos Reis, situado na cidade do Porto, mas configura-se em
um organismo independente no que diz respeito ao espólio museal. Vale salientar
ainda, que a CMFC integra o Instituto Português de Museus e a Rede Portuguesa de
Museus (PONTE, 2007, p.82) e é tutelada, assim como o Museu Nacional Soares
dos Reis, pela Direção Geral do Patrimônio Cultural. A admissão da Casa Museu
Fernando de Castro ao RPM foi automática pelo fato de a mesma ser associada ao
Instituto Português de Museus.
A Casa Museu Fernando de Castro foi doada ao Estado em 1952, desde esta
data até meados dos anos 1980, a instituição manteve as suas portas abertas à
comunidade portuense. Na realidade as portas nunca foram seladas totalmente, já
que permite ser visitável pelos interessados através de agendamento prévio, sem
custos. Possui opções de contatos, breve descrição do local e da sua coleção,
alocados junto ao sitio eletrônico do Museu Nacional Soares dos Reis5.
A reconstrução da memória desta instituição é fundamental para o
entendimento do seu espólio museal e para que futuras ações de conservação
preventiva e intervenções de beneficiamento possam ser feitas sem alterar os
princípios expositivos impostos pelo seu fundador e mentor: Fernando de Castro.
Existem vagos registros e documentações a cerca desta Casa-Museu, no que diz
respeito a vida do patrono, a sua relação com a casa e a cerca das obras que estão
expostas neste espaço. Um dos principais problemas enfrentados pela
administração desta Casa-Museu é justamente esta falta de informações que
auxiliariam na tomada de decisões e na preservação das peças. É difícil clarificar,
salvo algumas poucas obras, a procedência do espólio da Casa Museu Fernando de
Castro. Vera Calém6, administradora da CMFC, acredita que a maioria das peças foi
5 http://mnsr.imc-ip.pt/pt-PT/menu_fernando_castro/ContentList.aspx.
6 Entrevista concedida por Vera Calém em 26 de dezembro de 2012 à autora desta pesquisa.
23
adquirida pelo colecionador em leilões, outras compradas das mãos dos próprios
artistas e alguns exemplares que fogem do padrão da composição global da Casa-
Museu, salientando os termos estilísticos, admite-se que possam ter sido oferecidos
ao patrono por terceiros.
Uma hipótese para a falta de registros, diz respeito ao histórico da Casa-
Museu, no que tange o falecimento precoce do patrono, e a figura da irmã de
Fernando de Castro como agente responsável pelo desvio da informação sobre o
seu irmão e o local. Maria da Luz de Araújo e Castro manteve consigo pertences
pessoais e documentos de Fernando de Castro após a sua morte que nunca foram
doados ou inventariados como o resto dos objetos da casa. Estima-se que neste
apanhado de registros documentais e objetos também pudessem estar contidos
diários de Fernando de Castro e outras várias informações a respeito das obras que
o patrono foi adquirindo com o passar dos anos, tanto quanto referências sobre as
reformas efetuadas no edifício na época em que o patrono habitava o local. A Casa
Museu Fernando de Castro foi inventariada em 1951, em uma época em que a
sociedade preservava valores quanto à intimidade pessoal que naquele
entendimento não diziam respeito a terceiros, sendo assim, acredita-se que Maria da
Luz de Araújo e Castro tenha se desfeito dos objetos pessoais do irmão para
preservar a sua intimidade intacta.
No documento de cessão da CMFC ao Estado, Maria da Luz de Araújo e
Castro estabelece uma série de “condições e obrigações” que devem ser acordadas
e cumpridas para que a doação possa ser efetuada. Ao que tange a quinta condição,
ao se referir aos critérios para a exposição das caricaturas do irmão, expressa o
porte dos objetos de uso pessoal de Fernando de Castro e adverte sobre o modo
adequado de proceder a exibição destas obras na Casa-Museu, caso “mais tarde”,
eles fossem por ela doados:
“Se ela doadora vier a entregar, mais tarde, ao Estado, os objetos de uso pessoal do seu saudoso irmão, objetos que não estão inventariados, deverão os mesmos ser guardados em vitrines próprias colocadas, de preferência, na sala em que se exponham as espécies referidas neste artigo” (Auto de Cessão – Documento de doação da CMFC ao Estado, 1952).
A doação dos objetos pessoas de Fernando de Castro a Casa-Museu nunca
ocorreu. Maria da Luz de Araújo e Castro quando morre deixa parte da sua herança
para o Ateneu Comercial da cidade do Porto. Até o momento não existem registros
24
de alguma documentação sobre a Casa Museu Fernando de Castro ter sido
entregue a este órgão em conjunto com parte da herança de Maria da Luz de Araújo
e Castro.
I.I. O COLECIONADOR, FERNANDO DE CASTRO.
Fernando António de Castro nasceu em 1889 na cidade do Porto, em Portugal.
Fernando de Castro, como é conhecido, era filho de comerciantes, negócio
promissor e que lhe coube o legado. De herança também ficou a casa que alguns
anos depois seria transformada na Casa Museu Fernando de Castro.
De seu pai herdou sociedade numa firma comercial, com escritórios e loja na rua das Flores, no Porto. Sem gosto pelo comércio, actividade a que naturalmente estaria destinado o seu futuro, o tempo que passava no escritório ocupava-o em grande parte a desenhar e a escrever, tendo-nos deixado um número significativo de caricaturas, desenhos humorísticos e alguns livros publicados, em verso e em prosa, e também um manuscrito. (CASTRO, Cataria Maia e.)
O edifício onde hoje se aloca a CMFC foi construído em 1883 pelo pai do
colecionador, o Sr. Fernando António de Castro, do qual herdou também o nome.
Em 1908 o edifício foi ampliado “através do acrescento de um andar e de uma
cozinha nas traseiras” (MOREIRA, 2006, p.13). A paixão pelo colecionismo de obras
de arte aflorou em Fernando de Castro que tinha um espírito de artista, mas exercia
a profissão de comerciante.
Fernando de Castro faleceu com 57 anos. Não é claro quando o patrono
iniciou a sua coleção, entretanto acredita-se que o mesmo tenha dedicado cerca de
35 anos da sua vida para agrupar estas obras, como cita o Jornal de Notícias de 23
de maio de 1944:
“Fernando de Castro, poeta e artista de singular temperamento,
com ter nascido rico, porque era filho de homem rico, teve de
cumprir a fatalidade do seu destino. E assim, pela vida fora,
num sonho de poeta e de artista, com o dinheiro que lhe
sobrava, em vez de tentar operações aventurosas na Bolsa, foi
carreando e amontoando materiais para a realização de sua
obra máxima, em que inverteu não só o montante das
economias, como o melhor de 35 anos de vida.”
25
Supõe-se que Fernando de Castro tenha iniciado timidamente a sua coleção
ainda muito jovem, e que após o falecimento dos seus pais, a mesma tenha tomado
corpo e se expandido, devido ao fato de o patrono ter herdado a residência que hoje
corresponde à sede deste espaço museal.
Fernando de Castro decorou o interior da sua casa com coleções de pintura,
cerâmica, torêutica, escultura e vidro. Além disso, preencheu os espaços e as
paredes da habitação com talha dourada. Em 1936/37 Fernando de Castro realizou
novamente obras de ampliação da sua casa em virtude do “crescimento das suas
colecções e do desenvolvimento da sua actividade artística” (MOREIRA, 2006,
p.113). Nesta obra, construiu-se no lote intermediário a casa número 716 e a casa
704, ambas pertencentes a Fernando de Castro, um edifício térreo:
[...] destinado a atelier, com acesso a partir do vestíbulo central do rés-do-chão do edifício inicial, aumentando ainda a área de serviço e a zona de trabalho, despensa e copa. O atelier iluminado por um janelão na fachada norte e por duas claraboias, era amplo, simples, funcional e servia simultaneamente de galeria de exposição privada. (MOREIRA, 2006, p.113).
Este poeta e colecionador transformou o seu atelier em uma recheada
pinacoteca, onde se podia contemplar com maior amplitude, as belíssimas obras do
cenário artístico português e estrangeiro que ali eram expostas.
Figura 2 – Outro ângulo do atelier / Figura 1 – Vista do atelier / pinacoteca pinacoteca durante a inauguração em 1944
Fonte: O Século Ilustrado, 1946. Fonte: Jornal de Notícias, 1944.
Dentre os artistas de maior expressão na pintura, escultura e diversas faces
da arte, obras que são acolhidas por Fernando de Castro em sua ilustre Casa-
Museu e têm potencial relevo em diversos cômodos da residência, destacam-se,
26
segundo o jornal O Primeiro de Janeiro de 23 de maio de 1944, Sousa Pinto,
Teixeira Lopes, Soares dos Reis, José Malhoa, António da Silva Porto, Columbano
Bordalo Pinheiro, Marques de Oliveira, António Carneiro, Henrique Pousão, Josefa
de Óbidos, Artur Loureiro, Aires de Gouveia, António Ramalho, Alves de Sá, João
Augusto Ribeiro, Acácio Lino, José de Brito, Vieira Portuense, Veloso Salgado, entre
outros. Pode-se também destacar os artistas José Leite, Francisco de Campos,
Alberto Silva, Henrique Moreira, A. Corrêa Costa, João Reis, Charles Contel, António
José da Costa, Augustinho Salgado, Fausto Gonçalves, Soares Lopes, Nestor
Cambier, Candido da Cunha, e muitos outros nomes significativos para a cultura
portuense.
Em 1936/37 após as representativas obras de ampliação realizadas no
edifício da Casa-Museu, Fernando de Castro novamente foca na ação de exercer a
sua paixão pelo colecionismo de arte, preenchendo quase todos os espaços da sua
moradia com as mais diversas obras de arte e também da talha portuguesa e
espanhola. Posterior a alguns anos, Fernando de Castro considera que a sua Casa-
Museu atinge uma maturidade enquanto obra de arte e sendo assim, deveria ser
contemplada pela sociedade. Desta forma, em 1944, o colecionador abre as portas
da sua Casa-Museu para alguns personagens célebres da cidade do Porto e região.
Os convidados foram recebidos pelo artista e pela sua irmã D. Maria da Luz de
Araújo e Castro, que nesta época estava desquitada e desta forma dividia a
residência com o irmão. Participaram do evento alguns intelectuais, artistas,
escritores, representantes da alta sociedade portuense, admiradores de Fernando
de Castro e alguns repórteres. Dentre estas ilustres personalidades, pode-se
destacar o General Gaudêncio José da Trindade, comandante da I Região Militar, o
engenheiro Albano Sarmento, presidente da Câmara Municipal do Porto, o capitão
Rodrigues Coelho, chefe do Departamento marítimo do Norte, coronel Namorado de
Aguiar, comandante da Polícia de Segurança Pública do Porto, Dr. Antero de
Figueiredo, Dr. Adriano Rodrigues, reitor da Universidade do Porto, Dr. Artur de
Castro Côrte Real, Mário de Figueiredo, Eduardo dos Santos (Edurisa), Daniel
Felgueiras, Cesário Dias, Raul de Caldevilla (O COMÉRCIO DO PORTO,
23/05/1944). Também fizeram presença D. Guilhermina Suggia, eminente
violoncelista, D. Emília de Sousa Costa e Aurora Jardim, ambas escritoras e a
pianista Berta Alves de Sousa (JORNAL DE NOTÍCIAS, 1944).
27
Durante a visita a Casa-Museu, os convidados tiveram a oportunidade de
conhecer a excêntrica residência de Fernando de Castro com as suas
particularidades que, na época e até hoje, são raros. Fala-se mais especificamente
do preenchimento e ornamentação de quase todos os espaços da casa com talha
dourada, esculturas, pinturas e diversas outras obras das mais variadas tipologias.
Nesta época, Fernando de Castro já expressava publicamente o seu desejo em
transformar aquele local em um museu. Durante a cerimônia de apresentação da
sua coleção para a sociedade, que durou aproximadamente três horas, o patrono
proferiu um discurso de agradecimento pela presença dos seus convidados na sua
Casa-Museu:
Não imaginara eu, ao principiar esta obra, que me caberia a
honra da presença de V. Ex.as a verificá-la. Modesto que sou,
não resisti a pedir a V. Ex.as a gentileza desta visita, e, isto
porque não me sentia bem sem ela. Alguém que realize uma
obra, tão pequena que seja, como neste caso, não descansa,
enquanto a não comunica. Tôda a obra tem no artista o seu
elemento criador e tem no público o seu elemento definitivo, e a
obra não surgirá, não resultará senão assim. Qualquer
realização sem crítica não terá o Sol que ilumine e eis porque,
V. Ex.as neste dia, encheram de luz a minha casa, da luz em
que brilham as maiores fulgurações da literatura, da ciência, da
oratória e da arte portuguesa. Se a alta sensibilidade de V Ex.as
dentro da sua tolerância e generosidade, encontrarem nesta
casa um momento de emoção eu terei bendito a hora em que
nela pensei e recolhido para meu prêmio e consôlo a mais
enternecedora alegria. Bem hajam assim, V. Ex.as pela honra
eminente que me deram vindo aqui, e agradeço bem do
coração, essa cativante gentileza. Estou certo de que o gênio
dos artistas maravilhosos, de tantas e tantas gerações, nesta
casa representados, também neste momento, agradecem, do
além, o culto e o amor de V. Ex.as pela sua obra gloriosa.” (O
COMÉRCIO DO PORTO, 23 de maio de 1944).
Acredita-se que Fernando de Castro idealizava a sua casa e a sua coleção
como algo que devesse ser compartilhado com a sociedade. Abria as portas da sua
residência aos curiosos e interessados na sua coleção. Construiu e decorou cada
espaço do seu lar com cuidado e dedicação de um verdadeiro artista, almejando um
futuro museu. Em 1943, no jornal “O Diário Popular”, o termo Casa-Museu já é
referido durante a reportagem sobre a CMFC do dia 25 de julho. Esse anseio era
compartilhado com a sua única herdeira e irmã, Maria da Luz de Araújo e Castro.
28
Figura 3 e 4 – Personalidades ilustres da cidade do Porto e região reunidos durante a apresentação à sociedade da casa e da coleção de Fernando de Castro.
Fonte fig. 3: O Comércio do Porto. 23/051944. Fonte fig. 4: O Primeiro de Janeiro, 1944.
I.II. A FACE ARTÍSTICA E POÉTICA DE FERNANDO DE CASTRO
Fernando de Castro era um homem profundamente culto. Não possuía
formação universitária, mas como a sua família dispunha recursos, certamente
recebeu uma educação de qualidade. Detinha um gosto requintado para a literatura,
hábito que se faz refletir através das diversas estantes de livros presentes na Casa-
Museu. O seu gosto pela arte literária também se estendia a poesia. Fernando de
Castro revelou-se poeta e publicou durante a vida, ao que se tenha registro até hoje,
seis livros, sobretudo, sob a forma de sonetos.
O seu primeiro exemplar “Meteoro – memória escripta por ocasião da morte
do meu sobrinho Fernando”, foi publicado em 1909 quando o poeta tinha apenas 20
anos. Trata-se provavelmente de uma edição e impressão patrocinada com os
recursos financeiros do próprio autor, através da Typographia Santos na cidade do
Porto. O livro é dedicado ao sobrinho Fernando, filho de sua irmã Maria da Luz de
Araújo e Castro, que faleceu ainda bebê. Nesta primeira publicação, Fernando de
Castro ainda assina como Fernando de Castro Jr., inscrição que é abolida pelo
poeta nas suas publicações seguintes, tanto quanto na assinatura das suas
caricaturas. Em 1921 Fernando de Castro publica o seu segundo livro: “Noivado
Pobre – 100 Sonetos”, com edição de Magalhães e Moniz Limitada, na cidade do
Porto. O poeta ainda lançou mais três livros em vida: “Lar Apagado – Sonetos”,
lançado em 1925, através da Livraria Moreira no Porto; “Degraus Limosos -
29
Sonetos”, publicado em 1940; “Meu Deus!... Meu Deus!... Sonetos”, reproduzido em
1943 também na cidade do Porto.
Em 1954 pela livraria Tavares Martins, do Porto, o último livro de Fernando de
Castro é publicado tratando-se de uma homenagem póstuma realizada pela irmã do
poeta. O livro de sonetos “Altar sem Culto” foi lançado oito anos após a morte do
escritor, o que reforça a hipótese de Maria da Luz de Araújo e Castro ter ficado com
fontes importantes de documentação e registros pessoais de Fernando de Castro,
dificultando a reconstrução da memória deste respeitável personagem.
Figura 5 – Livros escritos por Fernando de Castro. Respectivamente: “Meteoro – memória escripta por ocasião da morte de meu sobrinho Fernando” 1909, “Noivado Pobre – Sonetos” 1921 e “Lar Apagado – Sonetos” 1925.
Fonte: Fotos da autora. Figura 6 - Livros escritos por Fernando de Castro. Respectivamente: “Degraus Limosos – Sonetos” 1940, “Meus Deus!... Meu Deus!... Sonetos” 1943 e “Altar Sem Culto – Sonetos” 1954.
Fonte: Fotos da autora.
Além da poesia, Fernando de Castro dedicou o seu tempo durante anos ao
desenho de caricaturas. De uma forma sadia e bem humorada o colecionador
revelava o seu “bom temperamento”, como mencionado em alguns jornais da época
30
e, sobretudo, a face alegre, a face luminosa de Fernando de Castro. Suas primeiras
caricaturas datam aproximadamente do ano de 1912 e essa prática acompanhou o
artista até os últimos anos da sua vida.
Fernando de Castro dividiu a sua produção em dois núcleos: o primeiro diz
respeito a caricaturas de personalidades contemporâneas a sua época. São
pessoas influentes no cenário português, mas que ainda não se sabe o grau de
intimidade que o artista tinha com estas pessoas. O segundo grupo corresponde a
realização de desenhos de caricaturas que executam um jogo de palavras com
nomes de localidades em Portugal. São trocadilhos bem humorados e ilustrados de
maneira que se perceba facilmente a mensagem da caricatura. As caricaturas estão
atualmente expostas na Casa-Museu consonante a determinação de Maria da Luz
de Araújo e Castro (Auto de Cessão – Documento de doação da CMFC ao Estado,
1952).
Figura 7 – Núcleo de caricaturas feitas de jogo de palavras com nomes de localidades de Portugal. Figura 8 – Um aspecto da sala de caricaturas.
Fonte: Fotos da autora. Fonte: Fotos da autora.
Figura 9 – Algumas obras do grupo de caricaturas que representam os nomes de localidades de Portugal.
Fonte: Fotos da autora.
31
Fernando de Castro era um homem regionalista. Percebe-se esta influência
em vários cantos da Casa-Museu e também nos desenhos das suas caricaturas, ora
valorizando personagens da sua terra, ora realizando jogos de palavras ou
desenhos explícitos para enfatizar alguns nomes de localidades de Portugal. O
tratamento que o artista atribui a estes desenhos, seja nas frases ou mesmo nas
características atribuídas a cada personagem são bem humorados e ao mesmo
tempo extremamente fáceis de interpretar, sobretudo para quem conhece um pouco
da cultura portuguesa. Neste referenciar de localidades e cidades de Portugal, pode-
se citar como exemplo totalmente explícito a cidade de Guarda (fig. 10). Situada na
região central de Portugal e conhecida como a cidade mais alta deste país, é
retratada por Fernando de Castro através da imagem de um policial em pose de
guarda. Da mesma forma fácil e simples de entender, é a brincadeira que o artista
faz com a localidade de Tábua (fig. 11), sob o distrito de Coimbra em Portugal. Esta
localidade é ilustrada através da figura de uma senhora muito delgada e ereta. A
graça que Fernando de Castro faz com a cidade de Penafiel (fig. 12), região norte de
Portugal, também é facilmente interpretada após breve observação do desenho. O
desenho humorístico retrata uma senhora prestes a cozinhar uma galinha que foi
depenada para ir ao fogo, ainda assim a ave apresenta uma única pena em seu
corpo, constituindo a “Pena Fiel”.
Figura 10 – Caricatura de Fernando Figura 11 - Caricatura de Fernando de de Castro - Guarda Castro - Tábua
Fonte: Fotos da autora. Fonte: Fotos da autora.
32
Figura 12 – Caricatura de Fernando Figura 13 – Caricatura de Fernando de Castro – de Castro -Penafiel Caldas da Rainha
Fonte: Fotos da autora. Fonte: Fotos da autora. Figura 14 - Algumas caricaturas que compõem o núcleo de representações de personalidades importantes de Portugal
Fonte: Fotos da autora.
Os desenhos de caricaturas que pertencem ao núcleo de personalidades
ilustres da época em que o artista viveu, estão em sua grande maioria identificados.
Admite-se que a recognição destes desenhos foi aferida por D. Maria da Luz de
Araújo e Castro na mesma época em que as obras foram emolduradas.
Sabe-se que foi a irmã de Fernando de Castro que determinou em algum
momento, provavelmente após o falecimento do irmão, que estes desenhos fossem
emoldurados. Essa informação é captada devido a referência de etiquetas,
33
pertencentes a casa que executa a colocação das molduras e que está anexada
atrás de algumas caricaturas, indicando a ordem de serviço com atribuição a D.
Maria da Luz de Araújo e Castro.
Em 1938 Fernando de Castro desenhou uma auto-caricatura (fig. 15) na qual
retrata um homem alinhado, muito bem vestido, o que faz refletir a sua situação
financeira e imponência social. O retratado possui um olhar atendo e ao mesmo
tempo indicando a maturidade que os anos lhe concederam. Caricatura de aspecto
estilístico muito semelhante, também realizada por Fernando de Castro, retrata o
cientista e artista Abel Salazar7. Abel Salazar nasceu e morreu no mesmo ano que
Fernando de Castro, apesar disso, até o momento não é conhecido a ligação entre
estas duas personalidades. Ainda que Fernando de Castro tenha realizado a
caricatura de Abel Salazar sete anos após ter desenhado a sua auto-caricatura, em
ambos os desenhos o artista retratou os personagem em pose de perfil, com terno e
sapatos correspondentes aos trajes masculinos utilizados pela sociedade burguesa
da época. Os dois personagens utilizam chapéu e bengala e são representados
fumando, hábito considerado elegante naquele período. A hipótese mais provável
para as semelhanças entre os dois desenhos, diz respeito a um retrato do contexto
social que Fernando de Castro estava inserido.
Figura 15 – Auto-caricatura de Figura 16 – Caricatura de Fernando de Castro: Fernando de Castro. Dr. Abel Salazar.
Fonte: Fotos da autora. Fonte: Fotos da autora.
7 Abel Salazar caracteriza-se pelo seu polimorfismo. Este polimorfismo traduziu-se em atividades
científicas, pedagógicas, artísticas, literárias, culturais, entre outras. Tornou-se notável pelo imenso trabalho e contributo intelectual que deixou como legado. Fonte: http://cmas.up.pt/.
34
Acredita-se que no decorrer da confraternização de apresentação do museu
particular de Fernando de Castro à sociedade em 1944, também foram expostos aos
convidados, não se sabe de que forma, os seus desenhos de caricaturas para que
fossem apreciados. Nesta mesma ocasião, almejava-se a realização de uma futura
exposição com as obras do artista.
Dum grupo de intelectuais que ontem visitaram a casa-museu partiu a iniciativa de promover uma exposição de caricatura de autoria de Fernando de Castro que, como já tivemos o ensejo de referir, é um caricaturista de real talento. Os drs. Alberto de Figueiredo e Costa, Hugo Rocha, Eduardo dos Santos (Edurisa) e outros amigos e admiradores de Fernando de Castro vão diligenciar mostrar ao público portuense – e em boa hora o farão - essa faceta do espírito de artista que por mais de um título faz jus à simpatia e à admiração de quantos têem tido ou tiveram o ensejo de o surpreender nas suas manifestações artíticas. (COMÉRCIO DO PORTO, 1944).
Não se sabe ao certo se esta exposição foi concretizada, mas em pesquisas
preliminares e a partir de entrevista8 com a responsável pela CMFC, não existem
registros deste acontecimento, talvez pelo fato de Fernando de Castro ter falecido
subitamente dois anos após esta reunião.
Figura 17 – Fernando de Castro em seu atelier. Figura 18 – Fernando de Castro.
Fonte: O Século Ilustrado, 1946. Fonte: O Tripeiro do Porto, 1952.
I.III. CESSÃO DA CASA MUSEU FERNANDO DE CASTRO AO ESTADO.
Em 1946, Fernando de Castro adoece e ao fim de 15 dias falece
inesperadamente. Sua certidão de óbito diagnostica angina de peito como a causa
8 Entrevista concedida por Vera Calém em 26 de dezembro de 2012 à autora desta pesquisa.
35
da morte. Como nunca se casou, tem a sua irmã, Maria da Luz de Araújo e Castro,
como única herdeira. Fernando de Castro compartilhava com a sua amiga e irmã o
anseio de um dia transformar a sua Casa-Museu em um órgão público. Como falece
precocemente, não deixa nenhum testamento ou documento que faça valer a sua
vontade. Apesar disso D. Maria da Luz de Araújo e Castro decide respeitar o desejo
do irmão e poucos anos após a morte de Fernando de Castro dá início aos tramites
para realizar a doação da Casa-Museu.
A promessa de doação dos edifícios e respectivo espólio feita por Maria da Luz de Araújo e Castro, apreciadora incansável da obra do seu irmão, foi aceite pelo Estado Português a 15 de Dezembro de 1951 e a escritura de doação lavrada a 24 de Janeiro de 1952, concretizando o sonho de Fernando de Castro. (MOREIRA, 2006, p.113).
A irmã de Fernando de Castro teria como primeira opção de doação da Casa-
Museu à Câmara Municipal da cidade do Porto. Como esta instituição pública não
possui recursos financeiros para arcar com as exigências da doadora a cessão não
foi efetuada. A doação é feita em 1952 ao Estado, que se compromete em manter
mensalmente a doadora com uma quantia de cinco mil Escudos (Auto de Cessão –
Documento de doação da CMFC ao Estado, 1952), condição que foi imposta por
Maria da Luz de Araújo e Castro no documento de cessão da Casa Museu Fernando
de Castro ao Estado. Além desta condição, a concessora atribui mais nove
condições para que o imóvel seja ofertado ao Estado, sendo elas: primeira: Nos
prédios doados devem ser instaladas exposições abertas ao público com a coleção
doada, não podendo ser afastadas permanentemente os objetos que integram a
Casa Museu Fernando de Castro, salvo “temporariamente, para restauro ou
exposição”. Segunda: Os objetos respectivos à Casa Museu Fernando de Castro,
devem, na medida do possível, manter a exposição organizada pelo patrono.
Terceira: Especialmente devem se manter as talhas decorativas espalhadas pelos
aposentos da Casa-Museu. Quarta: O quarto de Fernando de Castro deve ser
preservado com os objetos que o guarnecem. Quinta: As caricaturas de Fernando
de Castro devem ser expostas de maneira condigna e em local especial um dos
seus bustos também inventariados. Sexta: O retrato dos pais do patrono deve ser
mantidos nas dependências ao qual se encontram e se a doadora mandar pintar um
retrato do seu irmão, este deve ser exposto em local de destaque. Sétima: O quintal
deverá ser preservado como dependência da Casa-Museu, mas pode servir para ser
36
construído um pavilhão de exposição que melhor distribua os objetos da Casa
Museu Fernando de Castro, o resto deverá ser ajardinado. Oitava: O Estado fica
obrigado a pagar a doadora, uma quantia de sessenta mil escudos anuais. Nona:
Estado tomará posse a partir desta data dos prédios e dos objetos doados. Décima:
A doadora ficará isenta de impostos dos objetos e prédios doados (Auto de Cessão
– Documento de doação da CMFC ao Estado, 1952).
Existem relatos dos antigos funcionários da Casa-Museu, destacados por
Vera Calém, que após a cessão da CMFC ao Estado Maria da Luz de Araújo e
Castro ainda frequentava o local mantendo a mesma intimidade que tinha com a
casa e com os objetos antes da doação deste bem patrimonial.
I.IV. A CASA MUSEU FERNANDO DE CASTRO
A Casa Museu Fernando de Castro é constituída pelo prédio principal, onde
está exposto o acervo, dois prédios secundários e o quintal. O prédio principal
possui três andares e mais de dez salas. Os edifícios secundários que em primeiro
momento abrigavam o atelier de Fernando de Castro foram remodelados para
receber exposições temporárias e atualmente constituem-se em zonas de
arrecadação9, sem acesso aos visitantes.
Figura 19 – Vista da fachada dos três Figura 20 – Vista da fachada da CMFC e do edifícios que constituem a CMFC. portão que da acesso ao quintal.
Fonte: Fotos da autora. Fonte: Fotos da autora.
9 O termo “zona de arrecadação” foi utilizado para designar uma área restrita, sem acesso do público,
onde é armazenado o espólio de pintura que não está atualmente exposto. O termo Reserva Técnica não seria indicado neste contexto.
37
Esta instituição sofreu algumas alterações de beneficiação, sobretudo, entre
os anos de 1952 a 1982. O edifício principal que acolhe a exposição permanente da
Casa-Museu, organizado e estruturada por Fernando de Castro, sofreu em 1954
melhorias nas instalações elétricas que foram substituídas por instalações
modernas. Em 1969 foi reconstruído o muro e algumas obras de conservação da
casa foram feitas. Em 1975 realizaram-se obras emergenciais de reparação, em
1977 e 1980 foram feitas reparações diversas no local e conservação da Casa-
Museu (MOREIRA, 2006, p. 118).
No período de 1954 a 1969 foram efetuadas obras de remodelação do edifício
intermediário, onde localizava-se o atelier e pinacoteca de Fernando de Castro. A
proposta para o local seria promover um espaço de exposições temporárias para a
Casa Museu Fernando de Castro.
O atelier central foi adaptado a sala de exposição temporária, depois de eliminado o profundo nicho, substituído o pavimento, elaborado um novo método de apresentação das peças e revisto o sistema de iluminação artificial, que substituiria progressivamente as suprimidas claraboias e o Janelão da fachada principal coberto por uma parede no interior. (MOREIRA, 2006, p. 118).
Na configuração atual o janelão e as claraboias (ver fig. 1 e 2) não estão
visíveis, mantendo-se até os dias atuais as obras que foram feitas naquele período.
Figura 21 – Vista da sala de exposições Figura 22 – Outro ângulo da sala de exposições desativada. temporárias desativada.
Fonte: Fotos da autora. Fonte: Fotos da autora.
A Casa Museu Fernando de Castro possui várias dependências, cada uma com
as suas particularidades que cativam e surpreendem o espectador. Ao mesmo
38
tempo, a Casa possui uma unidade estilística muito centrada no ecletismo, na arte
sacra e na representação da talha dourada em praticamente todos os cômodos.
A coleção de livros encontra-se espalhada por toda a residência, distribuída em
várias estantes, sobretudo nos primeiro e segundo andares da Casa-Museu.
A colecção de móveis, distribuída por toda a casa, inclui peças de mobiliário, mas também todos os elementos em talha e ainda outros objectos, como cortinados e tapetes [...]. As peças de cerâmica, de pintura e escultura encontram-se dispersas acompanhando as decorações em talha, mas criaram-se reservas independentes para as que não se encontram expostas. A reserva de cerâmica, ordenada tipologicamente, ocupa um armário de parede. [...] As medalhas estão expostas numa vitrina e as moedas foram reunidas em reserva. (MOREIRA, 2006, p. 117).
O gosto de Fernando de Castro como bibliófilo abrange o seu caráter de
colecionador devido à presença em seu acervo de alguns livros que certamente,
devido ao seu conteúdo, não atrairiam a atenção do poeta. A beleza, elegância e
singularidade de algumas encadernações e lombadas inerentes as estes volumes
desperta a atração de Fernando de Castro, razão pela qual estes exemplares
integram a coleção. A sua extensa biblioteca, outra preciosidade presente na Casa-
Museu, necessita de especial atenção devido à sua importância para este
patrimônio: são mais de dois mil exemplares presentes neste acervo e espalhados
por várias estantes e cômodos da Casa-Museu. Abrange uma vasta coleção
“Camiliana”: Fernando de Castro alberga várias edições da mesma obra de Camilo
Castelo Branco, revelando a admiração que o patrono possuía pelo autor. Ainda no
que tange a biblioteca de Fernando de Castro, é possível encontrar obras de autores
clássicos portugueses como Padre António Vieira, Eça de Queiroz, Almeida Garrett,
entre outros. Possui raridades bibliográficas que foram compradas em lotes de
leilões possivelmente pelo valor intrínseco das encadernações que são
consideradas pelo poeta como uma arte. É possível verificar na biblioteca de
Fernando de Castro livros variados sobre história da arte, principalmente escritos no
idioma francês e português, ainda, uma série de revistas portuguesas de Arte,
ilustração Portuguesa entre outras relíquias da literatura.
Devassar, percorrer, esmiuçar, com a vista, o recheio dessa residência de artista, é como folhear um volumoso álbum de mágicas estampas a cores, que se combinam por grupos como
39
estrofes e, entrando pelos olhos, alcançam a alma, afagando-a, embalando-a, deliciando-a, com sua música de timbres aveludados, abafados, espiritualizados... (ROCHA, Hugo. O tripeiro do Porto, 1952)
Ao entrar na Casa Museu Fernando de Castro uma das primeiras salas que
se desvela é a Sala Regional ou Sala Minhota10. Como o próprio nome expõe, esta
sala enfoca o tema regionalista, apresentando diversas obras que revelam uma face
da cultura portuguesa. Pode-se observar ao entrar no espaço uma grade decorativa
em ferro forjado, “provida da cruz arqui-episcopal” e riscada por Fernando de Castro
para compor o cenário deste cômodo (O SÉCULO ILUSTRADO, 1946).
Complementando a composição da grade, está presente na sala uma estante no
estilo Minhoto que abriga livros, algumas esculturas, armas e outras obras de arte.
Ao centro da sala Minhota, destaca-se a escultura etnográfica “Cantar ao Desafio”
executada em barro policromado pelo escultor português Henrique Moreira. Outro
aspecto que merece especial destaque na CMFC é a decoração que se expande
aos tetos do local. Na Sala Minhota o teto é decorado com lambris que de acordo
com os periódicos O Século Ilustrado11 e O Comércio do Porto12 são provenientes
do Convento dos Remédios localizado na cidade de Braga em Portugal.
Figura 23 - Detalhe da Sala Minhota ou Figura 24 - Detalhe da grade em ferro forjado Sala Regional. riscada por Fernando de Castro.
Fonte: Fotos da autora. Fonte: Fotos da autora.
10 Região Minho situada a Norte de Portugal. 11
O Século Ilustrado, 31 de agosto de 1946. 12
O Comércio do Porto, 21 de maio de 1944.
40
Figura 25 - “Cantar ao Desafio” barro policromado – Henrique Figura 26 - Uma vista da Sala Minhota ou Sala Moreira. Regional.
Fonte: Fotos da autora. Fonte: Fotos da autora.
Em matéria escrita para o jornal O Comércio do Porto de 21 de maio de 1944,
o jornalista Edurisa13 classifica a talha dourada observada na Sala Minhota como de
proveniência do convento bracarense14 de Montariol. A alegação de Edurisa é
confirmada pelo jornalista Hugo Rocha ao proferir a mesma informação no periódico
O Tripeiro do Porto, de 195215.
Ao longo do tempo, alguns objetos em exposição foram suprimidos a fim de
facilitar o acesso aos visitantes e colaborar com a eficiência da segurança da CMFC,
mantendo o cuidado de não alterar em síntese a disposição planeada por Fernando
de Castro. Ainda assim, nos dias de hoje surpreende a quantidade de obras
expostas neste local. O jornalista Hugo Rocha, em visita a Casa-Museu no ano de
1952, comenta a respeito do cenário encontrado na época:
Algumas das divisões da casa-museu dão ao visitante a impressão de abarrotadas de peças até à congestão, mas ao observador atento e minucioso não escapará o critério de ordem que ditou o arrumo de tudo quando, ali dentro, se expõe. (ROCHA, Hugo. O Tripeiro do Porto, 1952).
A sala de Jantar, localizada, assim como a Sala Minhota, ao rés-do-chão da
CMFC possui uma aura sacralizada devido a iconografia religiosa que toma conta do
local. Ricamente decorada com talha dourada e esculturas de viés religioso, esta
13
Jornalista e intelectual Eduardo dos Santos. Fonte: O Comércio do Porto, 23 de maio de 1944. 14 Proveniente da cidade de Braga em Portugal. 15 O Tripeiro do Porto, abril de 1952. Nº 12, Série V ano VII.
41
sala prepara o espectador para o ambiente que envolve toda a casa. O teto da sala
de jantar, de procedência espanhola (ROCHA, Hugo. O Tripeiro do Porto, 1952),
também é uma peça única, executada na forma de caixotões e, provavelmente sob
orientação de Fernando de Castro, recortado com intuito de unir peças variadas de
talha para compor aquele ornato. O artista/decorador pensava em todos os detalhes
para adornar os cômodos da CMFC, sendo que utilizou até mesmo uma cancela na
porta de entrada da sala de jantar, ricamente entalhada e dourada, o que torna
aquele ambiente ainda mais luxuoso.
Figura 27 - Um aspecto da Sala de Jantar. Figura 28 - Outro aspecto da Sala de Jantar.
Fonte: Fotos da autora Fonte: Fotos da autora
As escadarias são outra fonte de deslumbre: recobertas por talha dourada, é
notável o trabalho que Fernando de Castro teve em engendrar aquele local, com a
paciência de selecionar peças distintas de talha, quase como se estivesse montando
um quebra-cabeças, cujo encaixe foi feito de maneira quase que imperceptível. Até
hoje não existem registros dos artífices que auxiliaram Fernando de Castro na
decoração e construção internada desta residência. Existe uma citação, que a irmã
de Fernando de Castro deixou registrada no documento de cessão da CMFC, que
faz alusão a um escultor “Diogo de Macedo”, mas que provavelmente seja o
responsável por avaliar a talha deixada por Fernando de Castro, para que a casa
pudesse ser doada ao Estado (Auto de Cessão – Documento de doação da CMFC
ao Estado, 1952).
42
Figura 29 - Vista do teto do vestíbulo ao Figura 30 - Detalhe da escadaria que rés-do-chão da CMFC. liga o piso térreo com o 1º andar.
Fonte: Fotos da autora Fonte: Fotos da autora
No primeiro pavimento da Casa-Museu destacam-se a Sala Dourada ou Sala
de Baile, a Sala Azul e a sala de exposição das caricaturas executadas por de
Fernando de Castro. A Sala Dourada ou Sala de Baile evoca a decoração de
algumas salas do Palácio de Versailles, localizado na França, mas em escala muito
reduzida. O espaço destaca logo na entra dois faldistórios, designados na sua
função original a dar acento aos grandes dignitários da igreja como, por exemplo, os
bispos. Além destes elementos, a talha dourada, o revestimento com papel de
parede, o lustre central e os espelhos que revestem todo o cômodo atribuem uma
imponência e elegância a esta sala.
A Sala Azul expõe uma decoração com predominância dos tons azuis,
característica que atribui nome ao recinto. Nesta peça avista-se estantes com
diversos livros, alguns leques resguardados em uma estante, vasos e algumas
esculturas em porcelana de origem oriental, esculturas em cerâmica, vidros e
diversas pinturas que revestem as paredes deste local. O azulejos portugueses são
empregados como um detalhe na parte superior das paredes desta habitação,
harmonizando-se com a decoração que parece ser minuciosamente pensada pelo
patrono. A sala é coberta por pinturas representadas pelo evidente artista português
José Julio de Sousa Pinto. Ainda salienta-se ao centro de uma das paredes a pintura
que retrata Fernando de Castro, de autoria de Alberto Silva, influente artista que foi
ligado ao Salão Silva Porto16.
16 O Salão Silva Porto foi fundado por artistas da cidade do Porto, em Portugal, para expor os principais artistas portugueses entre os anos de 1925 até meados dos anos 1960. Informações
43
Figura 31 - Detalhe Sala Dourada. Figura 32 - Detalhe da Sala Azul com pintura ao fundo Em primeiro plano um faldistório. de Alberto Silva retratando Fernando de Castro.
Fonte: Fotos da autora. Fonte: Fotos da autora.
O Hall de escadarias que concede acesso do 1º andar para o piso térreo, é
organizado estilisticamente como qualquer outro cômodo da Casa-Museu. Neste
espaço sacralizado as pinturas que recobrem as paredes são organizadas como
retábulos. O tema predominante nesta área da CMFC é a arte sacra, sendo que
todas as pinturas e esculturas representam a imagem de santos ou têm como base
temas religiosos. Na Sala das Caricaturas, além da exposição destes desenhos
elaborados pelo patrono, é possível admirar uma escultura de vulto que alude a
Fernando de Castro e que foi executada pelo artista português Henrique Moreira.
Figura 33 - Hall de escadarias do 1º piso Figura 34 - Sala de Caricaturas. Escultura de da CMFC. vulto executada por Henrique Moreira.
Fonte: Fotos da autora. Fonte: Fotos da autora.
As salas que se sobressaem, no terceiro piso, são o Quarto de Dormir de
Fernando de Castro e o hall de escadarias do terceiro piso e o escritório. Ao
adentrar no quarto de dormir de Fernando de Castro percebe-se que o trabalho
obtidas em entrevista concedida por Vera Calém em 26 de dezembro de 2012 à autora desta pesquisa.
44
deste artista em reunir obras de arte e preencher todos os espaços do seu lar tem
com certeza, fins expositivos, mas mais do que isto: Fernando de Castro reunia
aquelas peças e decorava a sua Casa para obter uma satisfação pessoal. Este
desejo é refletido no quarto de dormir de Fernando de Castro, tendo em vista que
este é um ambiente que comporta o ápice da intimidade de uma residência e
apresenta, da mesma forma que nos outros cômodos da Casa-Museu, uma
decoração plena. Salienta-se neste espaço, novamente a arte religiosa, a presença
de estantes repletas de livros algumas fotografias do artista/poeta, a presença de
várias pinturas e a predominância da talha dourada, que reveste até mesmo a cama
que Fernando de Castro dormia.
Figuras 35 e 36 - Detalhe do quarto de dormir de Fernando de Castro.
Fonte figuras 35 e 36: Fotos da autora.
No hall de escadas do 2º pavimento, a decoração que Fernando de Castro
criou, incluindo um púlpito e um altar, sugere um recanto do Convento de Santa
Clara, localizado em Coimbra (O COMÉRCIO DO PORTO. 21/05/1944). Os detalhes
deste recinto são primorosos, desde a talha dourada que reveste de cima a baixo
toda a peça, os serafins e querubins mesclados no meio da talha dourada, as
diversas imagens santas, uma custódia que completa o altar, o entalhe precioso das
bordas da escadaria, as estantes de modelo singular que albergam parte da coleção
literária de Fernando de Castro, entre muitos outros detalhes representados nesta
sala, que necessitariam de muitas linhas de texto e dias de observação para serem
descritos com clareza.
45
Figura 37 - Detalhe do púlpito no hall da Figura 38 - Recorte da escadaria do 2º escadaria do 2º piso. pavimento.
Fonte: Fotos da autora. Fonte: Fotos da autora. Figura 39 - Detalhe do Vitral do hall da Figura 40 - Uma vista do hall do 2º piso da escadaria do 2º pavimento. CMFC.
Fonte: Fotos da autora. Fonte: Fotos da autora.
Ainda no 2º andar da CMFC está alocada uma zona de arrecadação de
pinturas e esculturas. Esta sala não é decorada como os outros cômodos da CMFC,
e a sua utilização primária não é conhecida pela administradora do local. Acredita-se
que este espaço possa ter servido de quarto para empregadas que tenham
trabalhado no local enquanto o mesmo era apenas uma residência e tenha sido
utilizada pela irmã de Fernando de Castro.
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II - ESTADO DE CONSERVAÇÃO DA CMFC
No exercício das ações que auxiliam nas práticas de conservação preventiva, a
fim de evitar a degradação acelerada dos bens culturais, consoante com
conhecimento técnico e as práticas empregadas pelos funcionários de museus,
tangencia ainda a restrição econômica, recursos humanos escassos, a falta de
equipamentos e suportes para o favorecimento deste processo.
Segundo a Resolução adotada pelos membros do ICOM-CC durante a XVa
Conferência Trianual em Nova Delhi no ano de 2008, considera-se conservação
preventiva:
“Todas aquelas medidas e ações que tenham como objetivo evitar ou minimizar futuras deteriorações ou perdas. Elas são realizadas no contexto ou na área circundante ao bem, ou mais frequentemente em um grupo de bens, seja qual for sua época ou condições. Estas medidas e ações são indiretas – não interferem nos materiais nas estruturas dos bens. Não
modificam a sua aparência.” (ABRACOR, nº1, 2010.)
Existem diversas designações para o termo “conservação preventiva”
podendo ser encontradas em variadas bibliografias sobre o tema. De maneira em
geral, as denominações alteram no que tange a amplitude ou especificidade do
termo, mas vão ao encontro do que o ICOM-CC considera como Conservação
Preventiva.
A Casa Museu Fernando de Castro foi construída em 1893 e ampliada em
1908 (MOREIRA, 2006, p. 113) pelo pai de Fernando de Castro. Deste de então
sofreu algumas intervenções de beneficiação17, sobretudo foram realizadas ações
de manutenção do espaço museal e ingerência de caráter emergencial realizadas no
edifício.
A primeira conservadora da Casa Museu Fernando de Castro foi a também
responsável pelo local Doutora Clementina Quaresma. O seu trabalho no local
decorreu no período de 1952 até 1986, quando foi substituída pela conservadora
Catarina Maia e Castro.
Em 1986, quando a conservadora Catarina Maia e Castro foi destacada para a casa-museu, a água escorria pelas paredes interiores a partir das coberturas, a falta de luminosidade no interior escondia enormes maleitas, as peças em reserva
17
Referências já citadas na página 38 deste trabalho.
47
estavam armazenadas em conjunto com toda a espécie de objetos, a instalação eléctrica fora parcialmente desactivada pelo perigo que representava, no quintal cresciam plantas invasoras, reinando a desorganização e o descuido prolongado. (MOREIRA, 2006, p. 119).
A carência de recursos financeiros enfrentados pela gerência da Casa-Museu
e por o local apresentar um quadro de funcionários inadequado para a sua
manutenção, destacam-se como os principais fatores para a degradação desta
instituição museal. Além disso, deve-se levar em consideração o fato de o edifício
não ser previamente concebido para suportar obras de arte, sendo que corresponde
primeiramente a uma habitação, sem condições especiais para manutenção e
conservação do acervo.
A primeira revitalização da Casa Museu Fernando de Castro, considerada
também como as primeiras ações de conservação e conservação preventiva
destinada ao local, deu-se a partir da nomeação da conservadora Catarina Maia e
Castro como responsável pela Casa-Museu. Doravante a este fato, práticas de
investigação, gestão museal e ações de conservação da CMFC foram realizadas
sob o comando desta gestora. A este aspecto, pode-se citar a revisão que foi
realizada nas fichas de identificação das obras, corporificadas a partir do inventário
do espólio presente na Casa-Museu, a elaboração de um plano museológico e de
um programa de intervenção para o local, além de contatos que foram estabelecidos
com o Instituto Português do Patrimônio Cultural e com a Direção Geral dos Edifícios
e Monumentos Nacionais de Portugal, para alinhavar a execução de obras de
beneficiação na Casa Museu Fernando de Castro (MOREIRA, 2006, p. 119).
Durante anos algumas reformas foram realizadas no local com intuito de
contribuir para a conservação deste espaço, a maioria das ações foi indicada pela
conservadora Catarina Maia e Castro sob orientação e/ou em conjunto com
arquitetos especializados. Um contributo importante para a CMFC deu-se a partir do
reparo realizado em toda rede elétrica que foi refeita a fim de solucionar os
problemas de falta de iluminação em alguns cômodos e ao mesmo tempo acabar
com o risco de curto circuito iminente. Da mesma forma, um sistema de aquecimento
foi instalado na CMFC, facilitando o controle de temperatura do local, principalmente
nas estações frias do ano.
A Rua de Costa Cabral na cidade do Porto, em Portugal, onde situa-se a
Casa Museu Fernando de Castro, configura-se como uma via de grande trânsito, no
48
que tange diversos meios de transporte, incluindo os públicos. Diante deste fato, sob
o fluxo intenso de veículos, foi instalado na entrada principal da CMFC ao rés-do-
chão, também sob orientação da Conservadora Catarina Maia e Castro, um guarda-
vento. Esta pequena intervenção elaborada em alumínio com um acabamento que
não influencia na apreciação do cenário museológico, impedia, na época em que a
Casa Museu Fernando de Castro mantinha as portas principais da instituição
abertas ao público, que a poluição latente na Rua de Costa Cabral adentrasse e
penetrasse de maneira arrasadora na instituição. Esta medida de conservação
preventiva não evitava que as obras fossem afetadas pelos gases poluentes, mas
diminuía muito o impacto com a coleção. Aproximadamente em 1980 a
conservadora da instituição decidiu selar a porta principal da instituição, e as visitas
a CMFC começaram a ser realizadas somente sob agendamento prévio.
A providência tomada, em fechar as portas da instituição para acesso
imediato do público em geral, contribuiu para a permanência e uma boa
conservação da Casa Museu Fernando de Castro até os dias atuais. Esta medida
preventiva evitou o desgaste constante da coleção pelos gases nocivos que
entravam em abundância e ao mesmo tempo abrandou os danos causados a
coleção que era afetada por uma elevada incidência de luz, já que a Casa-Museu
era mantida iluminada durante o horário de funcionamento para poder receber os
visitantes. Sabe-se que altos índices de luminosidade e exposições prolongadas a
estas radiações, principalmente de proveniência natural, são altamente prejudiciais
para qualquer coleção e podem desencadear reações fotoquímicas que contribuem
para a degradação das obras, sendo os seus danos irreversíveis. Uma vez iniciada
as reações fotoquímicas, os objetos podem seguir se degradando mesmo se
colocados na obscuridade total. Os principais responsáveis por esta degradação são
os raios U.V. e I.V., sendo que os raios Ultra Violetas possuem um maior
comprimento de onda, por isso degradam mais pela incidência de luz enquanto os
raios Infravermelhos são os responsáveis pela transmissão de calor, acelerando os
processos de deterioração (IMC, 2007, p. 97).
Algumas obras de conservação e restauro foram executadas na CMFC, ainda
na atuação da conservadora Catarina Maia e Castro. Neste âmbito, procedeu-se à
reparação das coberturas, do sótão e das salas do terceiro piso destinadas as zonas
de arrecadação.
49
Após a realização de um relatório síntese de inspecção do edifício da casa-museu, que se deteve na análise pormenorizada de diferentes elementos construtivos detectando diversas patologias provocadas por infiltração de águas pluviais. (MOREIRA, 2006, p. 120).
Vera Cálem, funcionária do Museu Nacional Soares dos Reis a mais de 30
anos, assumiu em 2006 a responsabilidade pela CMFC tendo como objetivo dar
continuidade aos trabalhos de pesquisa e de conservação que estavam sendo feitos
por Catarina Maia e Castro. Além disso, Cálem visa pela inserção de estudantes de
graduação e pós-graduação na instituição, a fim de contribuírem para a recuperação
da memória da Casa Museu Fernando de Castro. Ela conta com um quadro pessoal
de funcionários limitadíssimo e possui o auxílio de cerca de dois voluntários que
contribuem para a manutenção e pesquisa no local. Atualmente a CMFC enfrenta
novamente problema com infiltrações e excesso de umidade. O prédio é protegido
com equipamentos de segurança, mas foi vítima de furto externo de uma parcela
das caleiras de cobre que complementavam a construção do edifício. As caleiras
tinham como função evitar o excesso de umidade depositada nas paredes do prédio
e desde o furto, em 2012, o local está sem esta proteção. Outra fonte de umidade é
uma das paredes externas da Casa-Museu, que necessita ser impermeabilizada
através de um reboco ou proteção exterior.
Figura 41 – Aspecto da parede externa Figura 42 – Vista de parte do telhado sem com isolamento. as caleiras.
Fonte: Fotos da autora. Fonte: Fotos da autora.
As infiltrações e o excesso de umidade presente no edifício são um dos
grandes problemas de conservação enfrentados pela Casa Museu Fernando de
Castro. A casa possui poucos desumidificadores, desta forma eles são utilizados nos
cômodos que sofrem mais com a umidade. Os aquecedores presentes em todos os
50
recintos da Casa-Museu também cumprem um papel importante para o controle de
temperatura e umidade do local. Apesar disso, o uso destes aparelhos é controlado
e realizado em horários restritos para que a rede elétrica não seja sobrecarregada.
A coleção da CMFC perece com o desgaste natural do tempo e, sobretudo,
com a falta de manutenção das obras por uma equipe especializada em
conservação e restauro. A Casa-Museu recebe, conforme a disposição destes
funcionários, a equipe de conservação e restauro do Museu Nacional Soares dos
Reis, para que sejam efetuadas jornadas de limpeza na sua coleção. Contudo, esta
equipe conta com apenas dois profissionais especializados que não possuem
suporte técnico e tempo para interagir com o espólio completo presente no local. As
obras que recebem esta manutenção também são avaliadas, e caso sejam
diagnosticadas negativamente são transportadas para o Laboratório de
Conservação e Restauro do MNSR para poderem ser intervencionadas. Apesar
disso, as campanhas de limpeza não são periódicas. Desta forma, tendo em vista a
gama de objetos expostos e a forma não museal18 de exposição, fato que dificulta a
sua conservação, a CMFC precisaria de uma equipe própria de conservação e
restauro para agir em tempo integral junto à coleção, assegurando a sua
perpetuação por mais alguns anos.
A configuração inicial da CMFC correspondia a de uma residência usual, por
isso, é visível na decoração deste local a presença de vários têxteis, como tapetes,
acortinados, estofados, almofadas, entre outros. Levando em consideração que a
exposição não limita a presença do visitante a nenhum dos espaços da Casa-
Museu, e que os têxteis incorporados à coleção por Fernando de Castro encontram-
se expostos segundo arranjo do patrono, é normal que estes elementos estejam em
estágio avançado de degradação. A responsável pela Casa Museu Fernando de
Castro, Vera Calém19, afirmou que pretende realizar estudos para encontrar
soluções de exposição do local que não prejudique ainda mais estes objetos.
Ora, uma possibilidade para preservar os têxteis da CMFC seria suprimir o
uso da maioria deles, evitando o desgaste constante causado pelas visitas guiadas.
Todavia, esta alternativa afetaria a organização elaborada por Fernando de Castro e
18 Refere-se a exposição dos objetos sem uma classificação por tipologias, a fim de facilitar as ações de conservação e restauro tanto quanto o controle ambiental. Também diz respeito a falta de vitrines, mobiliário, iluminação adequadas entre outras ações que são tomadas em conjunto com museólogos e conservadores e restauradores durante o preparo de uma exposição. 19 Entrevista concedida por Vera Calém em 26 de dezembro de 2012 à autora desta pesquisa.
51
a apreciação da obra do artista como um todo. Sendo assim, esta opção não é
adequada para este modelo de Casa-Museu. Uma segunda alternativa seria
implantar um sistema de isolamento nestes locais, limitando o acesso dos visitantes
a algumas salas. Esta alternativa causaria transtornos para a administração, tendo
em vista que os ambientes tornam-se pequenos devido ao grande número de
objetos expostos e em alguns locais os tapetes, por exemplo, cobrem quase todo
chão do recinto. Esta saída conservativa limitaria muito o acesso do público à zonas
inteiras da coleção ou, dependendo de como fosse organizado o isolamento,
causaria riscos de acidentes à coleção. Talvez o uso de réplicas destas peças
têxteis seria a melhor opção para a CMFC, mas esta escolha gera um custo alto que
a instituição, na atual conjuntura, não tem condições de arcar. Além disso, se faria
necessário a criação de uma reserva adequada para armazenar as peças que
seriam retiradas de exposição.
Figura 43 - Manchas de umidade Figura 44 - Manchas de infiltrações e umidade visíveis piso. presentes no teto da CMFC.
Fonte: Fotos da autora. Fonte: Fotos da autora.
Figura 45 - Marcas de umidade e presença Figura 46 - Estado de conservação das janelas de bolores na sala de reserva de pinturas. da sala de reserva de pinturas.
Fonte: Fotos da autora. Fonte: Fotos da autora.
52
Figuras 47 e 48 - Visualização da “estufa”. Sala localizada no 2º piso e que não é utilizada devido ao alto índice de umidade relativa, um grande fluxo de infiltrações e presença de micro-organismos.
Fonte figuras 47 e 48: Fotos da autora.
Como precaução contra os fatores exteriores de degradação – luz e poluição
(CASANOVAS, 2008), adotou-se o uso do já citado guarda-vento. Desta forma
diminui-se os danos causados pelo alto índice de poluição verificado na Rua de
Costa Cabral devido ao fluxo intenso de veículos detectado nesta via de circulação.
Outra medida preventiva observada na CMFC é o cuidado posto em manter as
janelas fechadas, evitando que a poluição e os raios luminosos entrem no local. Ao
mesmo tempo, a Casa-Museu não possui meios mecânicos ou alternativos de
circulação de ar, sendo assim, a abertura de algumas fontes de ventilação durante
algumas horas do dia, torna-se necessário. Durante o período em que as janelas
encontram-se seladas a iluminação utilizada é a artificial, que só é ativada quando
há necessidade de uso do cômodo. A iluminação zenital é aproveitada, todavia
rigorosamente controlada pela gestora da CMFC evitando contato direto de objetos
expostos com estes focos de luz. A maioria das janelas da Casa-Museu possui
proteção nas janelas em tecido que permite que a luz natural penetre no ambiente,
mas com índices de radiação mais baixos. Algumas destas proteções utilizadas nas
janelas exibem sinais de degradação, ação de umidade e micro-organismos, por
isso devem ser substituídas.
Um fator a se considerar como crítico para qualquer especialista que vise
elaborar um plano de conservação preventiva para a Casa Museu Fernando de
Castro é a multiplicidade de materiais presentes na coleção e o método de
exposição que não limita a interação entre entes objetos. Desta forma, índices de
temperatura e umidade relativa devem ser elaborados levando em consideração o
conjunto expositivo e não um grupo específico de materiais, que geralmente são
53
expostos por tipologia. Cada material é heterogêneo no que tange o comportamento
em relação às alterações perante valores variados de umidade relativa e
temperatura.
Todos os materiais que absorvem humidade, tais como madeira, osso, marfim, pergaminho, pêle, têxteis, vime (cestaria e esteiras), colas e aglutinantes (importante!), aumentam de volume quando a humidade aumenta e diminuem quando esta desce, o que provoca o empeno e o fender de objectos, o desconjuntar, o aparecimento de rachas, a quebra de fibras, etc., sobretudo quando a humidade relativa é muito baixa. (THOMSON, Garry. in CASANOVAS, 2008, p. 91)
As relações que os materiais exercem em contato com o meio ambiente
necessitam ser respeitadas e consideradas durante as práticas de conservação e na
elaboração de planos de conservação preventiva. Desta forma é possível prever e
evitar variações bruscas dos índices de umidade e temperatura, além da exposição
de objetos a um ambiente inadequado para a sua composição.
Figura 49 - Proteção aplicada em Figura 50 - Outro aspecto da proteção aplicada em janelas para evitar a entrada em algumas janelas para evitar a entrada excessiva de excesso de radiação luminosa. raios solares.
Fonte: Fotos da autora. Fonte: Fotos da autora.
Atualmente a Casa Museu Fernando de Castro não possui um plano de
conservação preventiva para a sua coleção. Novamente surge o problema da falta
de recursos humanos e capital de giro enfrentado pela gestora da CMFC. Em visitas
ao local e ao longo de várias entrevistas com Vera Cálem, a responsável pela
instituição, é visível o seu interesse e conhecimento a respeito da coleção e das
normas de conservação adotadas em instituições museais. Apesar disso, não
existem recursos para colocar em prática este conhecimento, ao mesmo tempo a
54
coordenadora assume a necessidade iminente da inserção no corpo pessoal da
CMFC de uma equipe especializada em conservação e restauro, a fim de prover
soluções inteligentes e acessíveis para a conservação da Casa-Museu e de seu rico
e singular acervo.
55
III - DIAGNOSTICO DE CONSERVAÇÃO DO ESPÓLIO DE PINTURA DA CASA
MUSEU FERNANDO DE CASTRO – AMOSTRAGEM
O acervo da Casa Museu Fernando de Castro foi inventariado pela primeira vez
em 1951, antes de sua cessão ao Estado. O autor do inventário foi o Dr. Vasco
Valente, então diretor do Museu Nacional Soares dos Reis. O inventário foi
executado para viabilizar a doação desta instituição ao Estado e decorreu em um
prazo exíguo para que uma classificação detalhada do espólio fosse realizada.
Desta forma, dividiu-se a coleção em sete seções: pintura, escultura, cerâmica,
moedas e medalhas, móveis, livros, e porcelanas (MOREIRA, 2006, p. 117). A partir
deste dado, é possível perceber o motivo para a classificação abrangente que foi
aferida à coleção de pintura, incluindo desenhos e gravuras nesta seleção. Em 1986,
o inventário da Casa Museu Fernando de Castro foi revisto pela conservadora e
então responsável pelo local, Catarina Maia e Castro (MOREIRA, 2006, p. 117).
Durante esta inspeção, várias lacunas de informações foram preenchidas, como
atribuições de autores às obras, detalhamento das peças, correção de descrições,
marcação de todas as peças, registro fotográfico da coleção, atualização das fichas
de identificação, entre outras ações.
As reservas de pintura e escultura, organizadas por época, dimensão e/ou material em que foram executadas, estão instaladas em três divisões do último piso, anteriormente ocupadas pela irmã de Fernando de Castro. (MOREIRA, 2006, p. 117).
Tendo em vista a disponibilidade de acesso à Casa Museu Fernando de Castro
ser limitada; o tempo destinado para a realização da pesquisa de campo deste
trabalho ser estreito, as condições dificultosas para lidar com a coleção de pintura e
avaliar o seu estado de conservação, as carências técnicas para o desenvolvimento
da análise nas peças expostas e o extenso número de exemplares que compõem a
coleção de pintura - dentre eles pintura distribuída em vários suportes como tela,
madeira, papel, cartão, porcelana, entre outros, algumas gravuras em preto e branco
e coloridas, executadas em seda, desenhos com diversas técnicas e a coleção de
caricaturas de Fernando de Castro - efetuou-se apenas o diagnóstico de uma
amostragem do estado de conservação deste espólio museal. Decidiu-se analisar as
peças que se encontram em arrecadação, na própria CMFC, considerando a ampla
56
gama de obras que fazem parte desta coleção de pintura e que ao mesmo tempo
caracterizam-se pela variedade de técnicas, suportes e estado de conservação.
No decorrer da pesquisa foram analisadas 131 obras que fazem parte do espólio
de pintura, segundo a classificação elencada pelo Dr. Vasco Valente ao realizar o
inventário da Casa Museu Fernando de Castro. Portanto, além de pinturas, foram
avaliados desenhos e gravuras sob diversos suportes. Dentre estes, pode-se
classificar as seguintes técnicas20: 53 obras em óleo sobre tela, 2 obras em óleo
sobre tela colado em madeira, 4 obras em óleo sobre tela colada em cartão, 25
obras em óleo sobre madeira, 3 obras em óleo sobre cartão, 3 obras em óleo sobre
papel, 5 obras em pastel sobre papel, 1 obra em pastel sobre tela, 9 obras em
aquarela sobre papel, 4 obras em aquarela e outras técnicas sobre papel, 4 obras
em técnica mista21 sobre papel, 4 obras em Carvão e/ou Grafite sobre papel, 1 obra
em lápis de cor sobre papel, 3 obras em Nanquim sobre papel, 6 gravuras sobre
papel, 1 gravura sobre seda, 1 obra em óleo sobre porcelana não vidrada, 1 obra em
óleo sobre metal, 1 espelho gravado.
Gráfico 1
Fonte: Realizado com base na ficha de diagnóstico express pintura.
As analises das obras referidas transcorreram no período de dezembro de
2012 a janeiro de 2013 e foram realizadas in situ, particularmente na zona de
20
Informações retiradas das 131 fichas de diagnóstico de conservação, amostragem elencada nesta pesquisa. 21
Técnica mista neste caso diz respeito ao uso de vários materiais em uma mesma obra. Os materiais referidos são: Carvão, grafite, aquarela guache, pastel oleoso, pastel seco.
40%
19% 3% 2%
2%
2%
4% 1%
7%
3%
3% 3%
5%
1% 1% 1% 1% 1% 2%
Técnicas artísticas encontradas no diagnóstico de conservação da CMFC
Óleo s/ tela Óleo s/madeira Óleo s/ tela colada em cartão Óleo s/ tela colada em madeira Óleo s/ cartão Óleo s/ papel Pastel s/ papel Pastel s/ tela Aquarela s/ papel Aquarela e outras técnicass/ papel Técnica mista s/ papel Carvão/grafite s/ papel Gravuras s/ papel Gravuras s/ seda Óleo s/ porcelana não vidrada Óleo s/ metal Espelho gravado Lápis de cor s/ papel Nanquim s/ papel
57
arrecadação da coleção de pintura da Casa Museu Fernando de Castro, que situa-
se no segundo pavimento desta instituição.
Efetuou-se o diagnóstico de conservação levando em consideração a
carência de recursos técnicos para efetuar o mesmo. Sendo assim, vale salientar
que os exames os quais as obras foram submetidas são de caráter organolépticos,
já que não existiu auxílio de instrumentos técnicos para a realização dos mesmos. A
amostragem do diagnóstico de patologias da coleção de pintura deu-se a vista
desarmada, sem o auxílio de candieiros ou focos de luz especializados que
pudessem facilitar os exames. É importante frisar que a fonte de iluminação da
reserva de pintura da CMFC não é adequada para este tipo de procedimento.
Considerando que a CMFC não possui um espaço adequado para tais ações de
conservação e que o transporte das peças para outra instituição museal seria
inviável, realizaram-se estas ações de conservação na zona de arrecadação do
espólio de pintura, apesar dos empecilhos técnicos.
A ferramenta utilizada para gerir a identificação das principais patologias,
encontradas nesta amostragem da coleção de pintura, constitui-se em uma ficha de
diagnóstico express utilizada em coleções de pintura, elaborada pela equipe de
Conservação e Restauro do Museu Nacional Soares dos Reis, nomeadamente pela
Conservadora/Restauradora, Profa. Doutora Salomé de Carvalho. Este instrumento
objetiva classificar quantitativamente uma série de patologias que são decorrentes
nestas obras e suportes22. Desta forma, foi organizada para realização de
diagnósticos rápidos, a fim de favorecer a avaliação geral de uma coleção. Portanto,
a ficha de diagnóstico express é favorável para a obtenção de resultados a cerca de
uma coleção de pintura em um curto espaço de tempo, onde cada obra é avaliada
separadamente, mas os resultados são obtidos a partir da analise do conjunto de
obras.
A ficha de diagnóstico express pintura23 é dividida em cinco campos
diferentes e tem um total de duas laudas. É composta pelas seções de “identificação
da obra”, “diagnóstico de patologias / estado de conservação: suporte, grade e
moldura”, “diagnóstico de patologias / estado de conservação: estrato pictórico e
verniz”, “notas complementares” e “fica técnica”.
22
A ficha de diagnóstico express foi elaborada principalmente para a avaliação de pinturas com suporte em tela ou em madeira. 23
Ficha de diagnóstico express pintura disponível em anexos.
58
Cada patologia encontrada durante a avaliação da amostragem do espólio de
pintura remete a uma coluna a ser preenchida na fica de diagnóstico de
conservação. A partir da quantificação destes dados, pode-se averiguar quais
patologias são mais recorrentes nesta coleção e elencar os principais fatores para o
surgimento de tais degradações.
Foram analisados separadamente os resultados das fichas de diagnóstico de
patologias das 131 obras do espólio de pintura, no que tange os resultados do
suporte, moldura e grade, e o fruto das observações a cerca do estrato pictórico e
verniz.
O produto das análises realizadas através da ficha de diagnóstico express da
coleção de pintura pode ser observado nos gráficos a seguir:
Gráfico 2
Fonte: Realizado com base na ficha de diagnóstico express pintura.
Redução das dimensões
Adições
Costuras
Fissuras/Fendas
Partes partidas
Partes em destacamento/perda
Deformações
Uniões/Juntas
Oxidação
Rasgões
Massas de preenchimento
Alterações no sistema de união
Cantos danificados
Elem. Metálicos danificados
Marcas de ferramentas
Reintelagem
Inscrições
Insetos
Fungos
Manchas de humidade
Sujidade superficial
Rebarba
Proteção do reverso
Barreiras de humidade no reverso
42
6
1
30
23
64
67
0
66
20
29
13
10
102
6
1
69
13
47
62
131
0
8
9
Diagnóstico de Patologias - moldura, suporte e grade
Amostragem da coleção de pintura da CMFC
59
Gráfico 3
Fonte: Realizado com base na ficha de diagnóstico express pintura.
Os dados obtidos nos gráficos acima são fruto da análise de um conjunto de
obras que não correspondem exclusivamente a técnica de pintura, pois como já foi
referido nesta pesquisa, a amostragem foi realizada sob uma parcela da coleção de
pintura que foi pré-estabelecida em inventário. Desta forma, decidiu-se quantificar os
dados obtidos nas obras específicas em óleo sobre tela e óleo sobre madeira, a fim
de garantir uma melhor interpretação destes dados. Foram analisadas 59 obras em
Fungos e bolores
Falta de adesão entre as camadas
Pulverulência
Ocorrência de bolhas
Estalado envelhecimento natural
Estalado envelhecimento precoce
Escamado
Enconchado
Preenchimentos
Reintegrações cromáticas
Repintes
Lacunas
Destacamentos
Risco/abrasão
Desgaste Superficial
Aumento de transparência
Escorrências
Branqueamento/degradação do medium
Descoloração (dos pigmentos/ligante, …
Diferenças de brilho
Efeitos de pasmado
Oxidação do verniz
Eficiência do verniz
Sujidade superfical
50
17
0
0
17
29
11
0
2
0
9
38
9
11
3
2
9
0
2
16
12
68
5
131
Diagnóstico de Patologias - extrato pictórico, verniz
Amostragem da coleção de pintura da CMFC
60
óleo sobre tela, incluindo as obras que estão coladas sobre cartão ou madeira, e 25
obras em óleo sobre madeira. Apesar de o desenho e da gravura possuírem
características próprias, distintas das técnicas pictóricas, os princípios conservativos
utilizados em pintura também podem ser aplicados para estas tipologias (CALVO,
2006, p. 58). Os resultados das análises das pintura em óleo sobre tela e óleo sobre
madeira podem ser conferidos nos gráficos a seguir:
Gráfico 4
Fonte: Realizado com base na ficha de diagnóstico express pintura.
Redução das dimensões
Adições
Costuras
Fissuras/Fendas
Partes partidas
Partes em destacamento/perda
Deformações
Uniões/Juntas
Oxidação
Rasgões
Massas de preenchimento
Alterações no sistema de união
Cantos danificados
Elem. Metálicos danificados
Marcas de ferramentas
Reintelagem
Inscrições
Insetos
Fungos
Manchas de humidade
Sujidade superficial
Rebarba
Proteção do reverso
Barreiras de humidade no reverso
40
2
1
14
13
32
31
0
33
15
16
5
6
41
2
1
32
8
22
25
59
0
5
1
Óleo sobre Tela: Diagnóstico de Patologias - moldura, suporte e grade
Amostragem da coleção de pintura da CMFC
61
Gráfico 5
Fonte: Realizado com base na ficha de diagnóstico express pintura.
Fungos e bolores
Falta de adesão entre as camadas
Pulverulência
Ocorrência de bolhas
Estalado envelhecimento natural
Estalado envelhecimento precoce
Escamado
Enconchado
Preenchimentos
Reintegrações cromáticas
Repintes
Lacunas
Destacamentos
Risco/abrasão
Desgaste Superficial
Aumento de transparência
Escorrências
Branqueamento/degradação do medium
Descoloração (dos pigmentos/ligante, …
Diferenças de brilho
Efeitos de pasmado
Oxidação do verniz
Eficiência do verniz
Sujidade superfical
25
12
0
0
15
24
7
1
0
0
5
23
5
7
2
1
6
0
2
7
7
46
4
59
Óleo sobre Tela: Diagnóstico de Patologias - extrato pictórico, verniz
Amostragem da coleção de pintura da CMFC
62
Gráfico 6
Fonte: Realizado com base na ficha de diagnóstico express pintura.
Redução das dimensões
Adições
Costuras
Fissuras/Fendas
Partes partidas
Partes em destacamento/perda
Deformações
Uniões/Juntas
Oxidação
Rasgões
Massas de preenchimento
Alterações no sistema de união
Cantos danificados
Elem. Metálicos danificados
Marcas de ferramentas
Reintelagem
Inscrições
Insetos
Fungos
Manchas de humidade
Sujidade superficial
Rebarba
Proteção do reverso
Barreiras de humidade no reverso
0
1
0
12
4
11
4
2
3
0
6
7
2
22
3
0
13
2
7
8
25
0
3
1
Óleo sobre Madeira: Diagnóstico de Patologias - moldura, suporte e grade
Amostragem da coleção de pintura da CMFC
63
Gráfico 7
Fonte: Realizado com base na ficha de diagnóstico express pintura.
A partir dos resultados das fichas de diagnóstico de patologias, várias medidas
conservativas poderão ser executadas para salvaguardar estas obras. Caso o
diagnóstico de conservação de uma determinada peça seja negativo, ou uma obra
específica desperte o interesse de um pesquisador, a partir deste primeiro exame
visual, análises instrumentais poderão ser realizadas, permitindo um conhecimento
aprofundado deste objeto. Como exemplo, pode-se citar os exames de raio X
aplicado para detectar arrependimentos do artista, problemas de restauro (CRUZ,
2010, p.13-32) entre outros detalhes, espectroscopia de infravermelho com
Fungos e bolores
Falta de adesão entre as camadas
Pulverulência
Ocorrência de bolhas
Estalado envelhecimento natural
Estalado envelhecimento precoce
Escamado
Enconchado
Preenchimentos
Reintegrações cromáticas
Repintes
Lacunas
Destacamentos
Risco/abrasão
Desgaste Superficial
Aumento de transparência
Escorrências
Branqueamento/degradação do medium
Descoloração (dos pigmentos/ligante, …
Diferenças de brilho
Efeitos de pasmado
Oxidação do verniz
Eficiência do verniz
Sujidade superfical
11
2
0
0
3
3
3
0
1
0
3
11
1
3
1
1
0
0
0
7
1
17
1 25
Óleo sobre Madeira: Diagnóstico de Patologias - extrato pictórico, verniz
Amostragem da coleção de pintura da CMFC
64
transformada de Fourier (FITIR), utilizado em suma para identificação de materiais,
entre diversos outros exames que podem ser efetuados com intuito de permitir um
diagnóstico de conservação mais preciso, além de fornecer pormenores importantes
para a documentação e registro do histórico da obra.
La observación visual, después del estudio de las fuentes documentales, supone el primer contacto a fondo con la pintura y debería determinar la necesidad del resto de pruebas y análisis. (CALVO, Ana. 2002, p. 61).
O envelhecimento natural, através da ação do tempo, não é a única fonte de
degradação das obras de arte. A deterioração dos objetos artísticos se dá através de
vários fatores intrínsecos e extrínsecos a obra. Pode-se caracterizar como alguns
agentes de deterioração extrínsecos aos objetos: luz, temperatura, umidade relativa,
poluição ambiental, agentes biológicos de degradação, vibração mecânica, roubos,
vandalismos, acidentes naturais, manuseamento, acondicionamento, sistemas de
emolduramento e fixação às paredes incorretos (CALVO, 2006, p. 67). Os fatores
intrínsecos, dizem respeito à natureza dos materiais que integram uma obra e/ou ao
uso de técnicas inadequadas. Desde já, vale salientar que após o século XIX
“durante a época industrial” (BRAGA, 2003, p. 128) os materiais utilizados em
pinturas são de qualidade inferior, principalmente devido ao fato da inserção de
tintas industrializadas no mercado da arte. A sensibilidade, estabilidade e resistência
que um determinado material terá frente aos fatores ambientais de degradação
também serão determinantes para o seu estado de conservação. Somados a esses
fatores bastante conhecidos, recentemente pesquisadores pelo ICC identificaram
outro fator que ameaça as coleções, a dissociação, elemento que causa um impacto
em relação ao valor dos objetos isoladamente ou em conjunto.
A ficha de diagnóstico express direcionada para a coleção de pintura foi
elaborada com intuito de elencar patologias e características que são decorrentes
em acervos de pintura mantidos em instituições museais. A seguir, serão abordadas
algumas das principais alterações encontradas na coleção de pintura em geral e,
sobretudo, nas obras em óleo sobre tela e óleo sobre madeira.
Um índice alarmante averiguado na Casa Museu Fernando de Castro
equivale a constatação de que as 131 obras avaliadas manifestaram algum tipo de
sujidade superficial. A acumulação de poeira, micropartículas de materiais
diversos, excrementos de animais e outras sujidades superficiais aceleram a
degradação dos materiais. A sujidade superficial emprega-se como um veículo para
65
a penetração da umidade facilitando a proliferação microbiana, além disso, é causa
da acidez em diversos materiais, sobretudo, em pinturas. Este problema ocorre
devido ao déficit de profissionais especializados na área de conservação e restauro
que possam oferecer uma manutenção periódica neste acervo. Campanhas de
limpeza são realizadas na CMFC com intuito de amenizar esta carência. Infelizmente
o acervo da Casa Museu Fernando de Castro é muito extenso e de difícil acesso, o
que reduz o número de obras intervencionadas por campanha. Alia-se a isto o fato
de a equipe de conservação e restauro do Museu Nacional Soares dos Reis dispor
de apenas dois profissionais especializados e um número ainda mais reduzido de
estagiários e/ou voluntários. Outro fator a considerar, diz respeito a falta de sistemas
de ventilação adequados, o que facilita a entrada de partículas de poeira e outras
sujidades.
Figura 56 - CMFC 10. Sujidade superficial. Figura 57 - CMFC 8. Sujidade superficial.
Fonte: Fotos da autora. Fonte: Fotos da autora.
Uma característica interessante e que agrega informações relevantes para a
documentação de uma obra, corresponde às inscrições encontradas em 69 das
131 peças estudadas. Foram consideradas como inscrições as informações escritas
ou marcadas no verso das obras. Trata-se de apontamentos desordenados, grafia
de números, informações sobre nome de pinturas, a respeito dos autores, do
personagem retratado, marcações do endereço e nome de Fernando de Castro,
entre outras referências não decifradas até o momento.
Figura 51 - CMFC 31. Inscrição que remete a Fernando de Castro e ao seu endereço na cidade do Porto em Portugal.
66
Fonte: Fotos da autora.
No que tange ao suporte, uma particularidade presente nas pinturas a óleo
sobre tela despertou a atenção durante o exame visual: 40 das 59 obras
diagnosticadas apresentavam algum tipo de redução das dimensões. Todavia,
essa característica pode ser observada considerando que alguns artistas antigos
realizavam as suas pinturas em bastidores provisórios (VILLARQUIDE, 2005, p. 56),
fato que, em primeira análise e sem ponderar sobre o histórico da obra, pode levar a
erro. Outra hipótese que deve ser maturada expõe o tratamento menos rebuscado
do suporte, no que tange o corte irregular da tela, geralmente utilizada por artistas
para a realização de “estudos” em pintura. Verificou-se que diversas obras possuíam
as bordas do suporte têxtil cortadas, impossibilitando a execução de um bom
tensionamento dessas pinturas. A ruptura causada pela oxidação e acidificação do
suporte, geralmente ocasionada em zonas de contato com elementos metálicos
oxidados, pode induzir ao corte deste tecido, em muitos casos executado por
proprietários particulares com pouco conhecimento sobre pintura. Ao se tratar de
colecionismo de obras de arte, como é o caso da Casa Museu Fernando de Castro,
é comum encontrar pinturas mutiladas em função do gosto do colecionador ou como
uma forma de adequação daquela obra aos espaços de exposição. Citou-se nesta
pesquisa que Fernando de Castro em 1944 possuía uma vasta pinacoteca, obras de
pintura que cobriam praticamente todos os espaços visíveis de uma sala do edifício
anexo. Desta forma, entende-se o motivo de ter se encontrado na CMFC um número
considerável de pinturas mutiladas, tendo em vista que estes recortes foram
67
executados, provavelmente, com intuito de facilitar a decoração composta por
Fernando de Castro.
El auge Del coleccionismo supone el traslado de las obras de arte de unas colecciones a otras, de unas salas a otras, por lo que, la mayoría de las veces, los tamaños de aquéllas no se adaptan a las dimensiones de la nueva ubicación, siendo entonces amputadas y recortadas. (MIGUEL, 1997, p. 58).
Figura 52 – CMFC 400. Redução das dimensões. Figura 53 – CMFC 88. Redução das dimensões.
Fonte: Fotos da autora. Fonte: Fotos da autora. Figura 5424 - Redução das dimensões, Figura 55 – Redução das dimensões, deformações e repintes (entre outras deformações e lacunas (entre outras patologias). alterações)
Fonte: Fotos da autora. Fonte: Fotos da autora.
A corrosão dos elementos metálicos encontrados, muito facilmente em
pinturas com suporte em tela e em madeira, é responsável pela degradação da
celulose presente nestes materiais. Verificou-se durante a análise dos resultados da
quantificação das patologias encontradas nas pinturas a óleo sobre tela e a óleo
sobre madeira, um alto índice de obras que possuíam elementos metálicos
24
Obra correspondente a uma academia (estudo de homem), integrante do espólio da CMFC, mas que não fez parte das avaliações do diagnóstico de conservação. É apresentada apenas com um exemplo das patologias encontradas no espólio da CMFC.
68
danificados. Estes objetos degradam-se principalmente pelo desgaste do tempo,
por sua constituição metálica e pelo contato, em longo prazo, com umidade relativa
em excesso. Além da oxidação, a deformação destes objetos pode causar sérios
riscos às superfícies que estiverem em contato com estes materiais, como rasgões,
furos, fissuras, oxidação do suporte, arranhões, entre outros. A oxidação e a
acidificação desencadeiam reações que aceleram o envelhecimento dos materiais.
Também pode causar a ruptura do suporte, o que gera deformações por falta de
tensionamento.
Os rasgões do suporte têxtil podem ser causados, pela oxidação e
acidificação já mencionadas, pela mediocridade do material que o compõe, devido a
fatos acidentais, por manuseamento incorreto, armazenamento inadequado,
tensionamento exagerado em materiais frágeis, etc.
As deformações averiguadas nas pinturas em tela são de origem variada,
mas a maioria sofre desta patologia devido ao contato com variações climáticas.
Outros fatores que causam estas deformações são os problemas de tensionamento,
o acúmulo de sujidade na parte inferior de algumas telas, o armazenamento
incorreto, uma pressão prolongada por um elemento rígido sobre a tela, grades
inadequadas, entre outros motivos.
A escassez nos sistemas de limpeza das obras de arte contribuem para o
desencadeamento de alterações de caráter biológico, tais como: fungos, bolores e
insetos. Estas alterações podem se manifestar de diversas maneiras nos suportes.
Os fungos e os bolores causam a hidrólise da celulose dos suportes em tela o que
gera a perda da resistência mecânica (CALVO, 2002, p. 137).
As bactérias, os fungos e os insectos nutrem-se de muitos dos materiais que fazem parte das pinturas (celulose, lenhina, colas animais). Os fungos provocam alterações físico-químicas nos materiais e manchas de cores variadas. (CALVO, 2006, p. 81).
Os xilófagos são agentes causadores de estragos irreparáveis em muitas
coleções, uma vez que a fonte de alimento destes insetos é a madeira e materiais
celulósicos. Sendo assim, em caso de ataque por estes insetos, há uma perda de
material o que provoca a instabilidade e deterioração dos suportes em madeira. O
ataque destes organismos é comum em grades e molduras. Muitas vezes os orifícios
causados por estes animais atravessam o extrato pictórico dos suportes em
madeira. Este fato ocorre quando os xilófagos utilizam estas zonas para realizar a
extrusão do suporte em madeira. Outras maneiras de constatar o ataque por
69
xilófagos em uma coleção é a presença de serrim que estes insetos desprendem, a
visualização de madeira fresca e pelo ligeiro ruído que produzem ao escavar as
galerias (CALVO, 2006, p. 81). O método mais coerente para identificação do ataque
destes insetos condiz com ações de limpezas constantes, verificações periódicas e
conhecimento da coleção.
Figura 58 - CMFC 13. Presença de bolor no Figura 59 – CMFC 13. Presença de suporte têxtil. bolor na camada pictórica.
Fonte: Fotos da autora. Fonte: Fotos da autora. Figura 60 - CMFC 10. Ataque xilófago ativo Figura 61 - CMFC 671. Ataque xilófago inativo.
Fonte: Fotos da autora. Fonte: Fotos da autora.
Durante a análise das obras correspondente a amostragem do espólio de
pintura da CMFC, detectou-se um número razoável de peças com a presença de
manchas de umidade ou barreiras de umidade no reverso. A umidade relativa
concentrada em altos ou baixos níveis pode causar danos irreversíveis aos
70
“materiais orgânicos que constituem a maior parte das pinturas de cavalete25”
(CALVO, 2006, p. 70), da mesma forma que as variações constantes destes índices.
Os objetos artísticos podem absorver umidade relativa de várias formas, sendo as
principais: capilaridade, higroscopicidade, infiltração e condensação.
A capilaridade atua nos materiais inorgânicos através da absorção de
umidade utilizando como meio os poros naturais existentes nestes objetos.
Introduzem-se geralmente pelo contato destes materiais com paredes, muros e
qualquer superfície úmida. A infiltração dá-se por falhas construtivas no edifício ou
pela falta de caleiras e revestimentos externos nas paredes dos imóveis que
abrigam as coleções. Certos materiais possuem como característica a
higroscopicidade, aspecto natural em alguns materiais como, por exemplo, a
madeira. Esta característica é responsável por estabelecer o equilíbrio dos objetos
com o meio ambiente. Desta forma, os materiais higroscópicos sofrem mais com os
índices elevados de umidade relativa e com as variações climáticas (VILLARQUIDE,
2005, p. 31).
Figura 62 - CMFC 392. Manchas de umidade. Figura 63 - CMFC 41. Manchas de umidade.
Fonte: Fotos da autora. Fonte: Fotos da autora.
Em condições ambientais onde a umidade relativa atinge altos índices,
verifica-se ainda a expansão volumétrica de materiais higroscópicos, a proliferação26
de agentes microbiológicos de degradação, o amolecimento de colas naturais, o
surgimento de manchas de umidade e pode ser a causa de borrões em algumas
cores e aglutinantes (CALVO, 2002, p. 128). Ao mesmo tempo, caso a umidade
25
“As chamadas pinturas de cavalete a óleo sobre tela caracterizam-se pelo seu suporte têxtil e pela técnica pictórica à base de um óleo sicativo” (CALVO, 2006, p. 34). 26
Neste caso deve-se considerar o conjunto de três fatores: altos níveis de umidade relativa, ventilação e temperatura.
71
relativa seja registrada a níveis inferiores a 35%, haverá uma contração de alguns
materiais, poderá causar o ressecamento nas colas animais e alterações nas
camadas pictóricas, tronando-as quebradiças (CALVO, 2006, p. 71). O uso não
controlado de aquecedores no inverno pode reduzir em poucas horas o índice de
umidade relativa em um cômodo.
A degradação da camada pictórica está ligada com o envelhecimento dos
materiais, com a qualidade da composição dos elementos que a compõem, com as
técnicas de execução de pintura e com as condições ambientais as quais uma obra
é submetida. O manuseamento, armazenamento, engradamentos, tensionamentos e
vários outros fatos externos a obra também podem causar uma deterioração da
camada cromática. Uma pintura é composta por vários extratos e o estado de
conservação destes extratos está profundamente ligada a conservação do suporte e
das condições climáticas a que a obra está sujeita. “La pintura, una vez seca, no
tiene la flexibilidad del lienzo y, cuando este se mueve, por los cambios de humedad
fundamentalmente, la capa pictórica se cuartea […]” (CALVO, 2002, p. 142). A
pintura a óleo caracteriza-se pela utilização de óleos secativos como aglutinante dos
pigmentos. Os mais utilizados em pinturas são os óleos de noz e de linho. É
importante verificar a concentração de aglutinante oleoso que cada pigmento
necessita para cumprir a sua função em plenitude. Caso esta proporção
pigmento/aglutinante seja modificada, alterações de deterioração serão visualizadas
na camada pictórica a longo ou em médio prazo. O conhecimento da composição
dos materiais, das técnicas corretas de execução de acordo com cada pigmento e
aglutinante utilizado e o controle das condições ambientais, evitando ao máximo a
marcação de níveis extremos de temperatura e umidade, tanto quando a variação
brusca destes índices, colaboram para a conservação da camada pictórica de uma
pintura.
As lacunas são causadas pela perda localizada da camada pictórica
deixando o suporte ou por vezes a camada de preparação à mostra. No caso
específico deste diagnóstico de conservação, considerou-se como lacuna a
alteração anteriormente citada e os orifícios deixados por insetos xilófagos,
provocando a perda de material do suporte com extensão a camada pictórica. Os
fatores responsáveis por esta degradação são principalmente as oscilações de
condições ambientais, as movimentações naturais dos suportes, a falta de
compatibilidade entre os materiais empregados numa mesma obra e a má execução
72
de técnicas. Os destacamentos, os escamados são um primeiro sinal para o
surgimento das lacunas. Os destacamentos e os escamados podem surgir em
tratamentos de restauro, devido ao excesso de cola aplicado na superfície da
pintura, o que provoca uma tensão na camada pictórica. As técnicas aplicadas, a
movimentação do suporte, e os fatores ambientais já citados também contribuem
para o surgimento desta patologia. Outro fator que provoca esta alteração na
camada de policromia diz respeito à falta de adesão entre as camadas da pintura,
causada principalmente pela incompatibilidade dos materiais aplicados, dos métodos
de preparação do suporte e execução da pintura (CALVO, 2002. P. 145).
Figura 64 – CMFC 400. Lacunas e destacamentos. Figura 65 – CMFC 182. Lacunas.
Fonte: Fotos da autora. Fonte: Fotos da autora.
Os repintes correspondem a uma reparação estética, executados com intuito
de reparar alterações de cor na policromia, adaptar a obra ao gosto do proprietário,
encobrir lacunas na camada pictórica, entre outros motivos. Geralmente sobrepõem-
se a camada pictórica original.
Los repintes pueden ser localizados, em puntos aislados, o generalizados em toda la obra o em gran parte de ella (por ejemplo fondos o ropajes) y realizados por personas distintas al autor […]. (CALVO, 2002, p. 151).
A execução dos repintes é feita de modo a mesclar-se com a composição
original, geralmente utilizando a mesma técnica pictórica e a partir da imitação da
pincelada do artista.
As causas da oxidação do verniz são variadas, fundamentalmente ligadas
ao envelhecimento natural desta matéria, mas também a fatores externos que
aceleram esta degradação. O contato desta camada de proteção com agentes
poluentes e partículas de poeira diminui a vida útil dos vernizes. Fatores climáticos
73
como luz e temperatura também influenciam na eficiência do verniz. A umidade pode
causar a microfissuração do verniz, gerando zonas esbranquiçadas na área afetada.
O óleo de linhaça a medida que vai envelhecendo aumenta o grau de
amarelecimento, sobretudo se a sua secagem se der na ausência de luz. Caso o
verniz seja novo, o amarelecimento que surge devido a ausência de luminosidade
pode ser revertida expondo a pintura a luz solar (VILLARQUIDE, 2005, p. 89).
Aplicações de verniz mal executadas geram manchas, acumulações, escorrência e
diferenças de brilho, e desta forma não exercem a sua função primordial: a proteção
da camada pictórica. A oxidação do verniz muita vezes pode ser de veras elevada
ao ponto de influenciar na apreciação estética da obra. Alguns vernizes têm
tendência a fixar-se nos tons mais escuros das obras, desta forma estas zonas
podem oferecer maior resistência em processos de limpeza do verniz e com o
passar do tempo não recuperam o seu tom original. Em suma, a oxidação das
camadas de verniz é irreversível e a única alternativa até o momento é sua remoção
(CALVO, 2002, p. 154 - 155).
Figura 66 – CMFC 271. Oxidação do verniz e escurecimento dos pigmentos Figura 67 – CMFC 344. Oxidação do verniz.
Fonte: Fotos da autora. Fonte: Fotos da autora.
Um último fator de degradação a se ressaltar, mas não menos importante,
principalmente se tratando da CMFC cuja documentação é quase que inexistente, é
a dissociação das obras de arte (WALLER & CATO, 2011). Segundo Waller & Cato
(2011), ao contrário dos outros agentes de deterioração já referidos, a dissociação
não causa danos visuais a obra, mas sim um impacto em relação ao aspecto
jurídico, intelectual e cultural desempenhado por este objeto em uma instituição
museal ou sociedade. Este agente de degradação gera a perda de valor de uma
obra ou coleção como um todo. Uma pesquisa poderá ficar comprometida caso haja
74
a dissociação, como por exemplo, a retirada de um objeto de seu lote de origem,
ocultando informações relevantes para uma investigação. Na Casa Museu Fernando
de Castro, o risco de ocorrer uma dissociação é maior quando há a substituição do
gestor do local, tendo em vista que muita informação que se tem atualmente sobre a
instituição não está documentada e sim no conhecimento dos seus administradores.
Vale ressaltar que, a pesar disso, os esforços para documentar todas as
informações que surgem com o apoio de pesquisas e pesquisadores são visíveis
nesta Casa-Museu, mas novamente a falta de recursos humanos impede que a
transcrição de algumas referências recolhidas sejam efetuadas.
75
CONCLUSÃO
A Casa Museu Fernando de Castro é fonte de uma primorosa coleção que
integra a cultura e a memória do cenário artístico português. Existe um universo
neste cenário museal que até o momento viu-se pouco estudado e encontra-se
carente de atenção da sociedade e das autoridades do patrimônio. O seu espólio
eclético, pacientemente recolhido pelo artista e poeta Fernando de Castro, retrata a
uma prática antiga e elogiável: o colecionismo de obras de arte. Cada objeto exposto
reflete a personalidade sensível do patrono. Em geral, todas as peças são
exemplares singulares para a história da arte, mas nada se compara ao valor
agregado a estes objetos quando inseridos no ambiente da Casa-Museu e expostos
em conjunto com seus pares, entrando em harmonia com o espaço e realizando um
diálogo pleno que somente Fernando de Castro conhecia. Um visitante que adentra
pela primeira vez nesta Casa-Museu recebe uma gama imensa de estímulos visuais
o que o leva a uma estagnação momentânea, tempo necessário para que se possa
assimilar aquele ambiente e seguir a visita. Possivelmente Fernando de Castro
tenha pensado neste local com intuito de deslumbrar, de extasiar e mais do que isto,
de promover em seus visitantes um “momento de emoção”, como diria o patrono em
seu discurso27 de inauguração em 1944.
Após 61 anos da doação deste patrimônio ao Estado, constata-se um número
mínimo de ações de beneficiação e conservação praticadas neste espaço. Além
disso, observa-se uma alarmante degradação que, por falta de manutenção, vem se
agravando a cada ano que passa. Torna-se difícil imaginar uma instituição museal
com um valor tão significativo para a cultura de uma cidade e de um país sem os
mínimos recursos destinados a conservação deste espólio. A falta de recursos
técnicos, humanos e financeiros impedem que a gestão deste organismo atue de
maneira mais incisiva no que tange a preservação.
Em um primeiro momento, é essencial a elaboração de um plano de
conservação preventiva que abarque as necessidades do local, considerando as
suas carências a fim de poder ser implementado e seguido pelos seus funcionários.
É imprescindível a inserção de profissionais especializados na área de conservação
e restauro. A Casa Museu Fernando de Castro possui um amplo espólio e de
27 O Comércio do Porto, 23 de maio de 1944.
76
variada tipologia, o conhecimento e experiência destes profissionais são
fundamentais para a preservação deste acervo que necessita de uma vigília e
manutenção constantes. Mostra-se importante que no mínimo sejam realizadas
visitas semanais, por conservadores e restauradores, e que os mesmos
desenvolvam um plano de ação, que esteja de acordo com o plano de conservação
preventiva destinado a Casa-Museu. O plano de ação deverá determinar as práticas
conservativas que serão realizadas na instituição levando em consideração o
número de membros da equipe e o tempo disponível para a realização destas
práticas. O treinamento dos funcionários da instituição, quanto ao manuseio,
armazenamento, possibilidades de limpeza e orientação aos visitantes deve ser
realizado. Além disso, o plano de emergência necessita estar sempre atualizado e a
disposição dos funcionários. Simulações para situações de risco devem ser
praticadas com todos que compõem o quadro pessoal do local.
Uma instituição não sobrevive sem os seus visitantes. Desta forma, faz-se
imprescindível o uso de campanhas de aproximação do público com a instituição,
promovendo palestras, mini-cursos, discussões sobre determinado tema ou objeto
presente na Casa-Museu, etc. Um bem só recebe o título de patrimônio quando a
sociedade o confere. Para tanto, e em primeiro momento, faz-se necessário ações
de comunicação, divulgando e consolidando este organismo no cenário cultural da
cidade do Porto.
A alegria que Fernando de Castro demonstrou em seu discurso de 1944, por
receber uma parcela da sociedade em sua casa, revela uma das missões
primordiais da Casa Museu Fernando de Castro: o compartilhamento da obra deste
artista e poeta com a comunidade. O usufruto na forma de apreciação e
contemplação estética não pode ser negado, sem isso todo o trabalho que o patrono
teve em reunir este espólio, durante anos de sua vida seria em vão. Para tanto,
práticas de conservação e restauro são prioridades.
Pretendeu-se com este trabalho, fomentar o interesse, a pesquisa, a
divulgação e, sobretudo, a conservação da Casa Museu Fernando de Castro.
Garantindo que a obra de vida de um poeta, artista e colecionador seja preservada,
cumprindo com a sua função enquanto instituição museal.
77
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PT/menu_fernando_castro/ContentList.aspx. Acesso: 10/07/2012 às 13:19h.
Canadian Conservation Institute. Disponível em: http://www.cci-icc.gc.ca/index-eng.aspx. Acesso: 14/08/2012 às 19:37h.
Acervo do Museu Nacional Soares dos Reis:
Auto de Cessão. Documento de Doação da Casa Museu Fernando de Castro ao Estado. Documento fotocopiado. Acervo do Museu Nacional Soares dos Reis.
O Comércio do Porto. Há no Pôrto um Museu particular. Porto, 21.05.1944.
Documento fotocopiado. Acervo do Museu Nacional Soares dos Reis.
O Comércio do Porto. Casa Museu Fernando de Castro. Porto, 23.05.1944.
Documento fotocopiado. Acervo do Museu Nacional Soares dos Reis.
Diário Popular. No Porto a Casa-Museu Fernando de Castro e o seu valiosíssimo recheio. Lisboa, 25.07.1943. Documento fotocopiado. Acervo do Museu Nacional Soares dos Reis.
Jornal de Notícias. O poeta Fernando de Castro recebeu ontem no seu museu autoridades do distrito e numerosos amigos e admiradores, que teceram justos elogios à sua obra de coleccionador-artista. Porto, 23.05.1944. Documento fotocopiado. Acervo do Museu Nacional Soares dos Reis.
O primeiro de Janeiro. Uma casa-museu que é um documentário de preciosidades artísticas. Porto, 23.05.1944. Documento fotocopiado. Acervo do Museu Nacional Soares dos Reis.
O Tripeiro do Porto – Hugo Rocha. A Casa-Museu de Fernando de Castro. V série, Ano VII. Nº 12, p. 268. Porto, Abril de 1952. Documento fotocopiado. Acervo do Museu Nacional Soares dos Reis.
80
ANEXOS
81
Referência:
Data:
Departamento de Conservação e Restauro
Ficha de diagnóstico Express
Pintura
Identificação da Obra
Num. Inventário
Título
Autoria e Datação
Materiais e Técnica
Localização
Diagnóstico de Patologias / Estado de Conservação
Suporte / moldura / grade
Redução das dimensões
Adições
Costuras
Fissuras / fendas
Partes partidas
Partes em destacamentos / perda
Deformações
Uniões/juntas
Oxidação
Rasgões
Massas de preenchimento
Alterações no sistema de união
Cantos danificados
Elementos metálicos danificados
Marcas de ferramentas
Reintelagem
Inscrições
Insetos
Fungos
Manchas de humidade
Sujidade superficial
Rebarta
Proteção do Reverso
82
Referência:
Data:
Manchas de humidade no reverso
Estrato pictórico / verniz
Fungos / bolores
Falta de adesão entre as camadas
Pulverulência
Ocorrência de bolhas
Estalado envelhecimento natural
Estalado envelhecimento precoce
Escamado
Enconchado
Preenchimentos
Reintegrações cromáticas
Repintes
Lacunas
Destacamentos
Risco / abrasão
Desgaste superficial
Aumento de transparência
Escorrências
Branqueamento/degradação do medium
Descoloração (dos pigmentos/ligante, escurecimento)
Diferenças de brilho
Efeitos de pasmado
Oxidação do verniz
Eficiência do verniz
Sujidade superficial
Notas complementares
Ficha Técnica
Data:
Assinatura: