a. r. crabtree - o livro de amÓs pa

202

Upload: gerse-jordao

Post on 04-Jun-2018

338 views

Category:

Documents


20 download

TRANSCRIPT

Page 1: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 1/201

Page 2: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 2/201

Composto e Impresso nas Oficinas da 

CASA PÜBUCADOBA BATISTA  

Rua Silva Vale, 7S1 — Tomaz Coelho — Rio

Page 3: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 3/201

LIVRODE

AMÓS A. R Crabtiee, Th- D.

1 9  6  0 

CASA   PTJBLICADORA BATISTA  Caixa Postal 320 

Rio de Janeiro

Page 4: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 4/201

Í N D I C E

PáginasP r e fá c io ........................................................................................7

Introdução

Amõs de T e c o a ........................... .................................... 10O Preparo para o   Seu M inis tér io ..............................   12A Chamada de A m 6 s .................................................... 13A Religião de Israel desde Moisés até o Tempo de

D a v i .............................................................................. 15A Influência de Davi na Religião de Israel . . . . 17Característicos da Profecia an tes de Am õs . . 20 As Condições de Israel no Período de Amõs e

O s ê i a s .................. .......................................................   23O Fracasso da Religião de Israel . .   ....................   25O Livro de Amõs ............................................................. 28O Estilo Literário de Amõs .......................................... 32A Teologia de A m õ s ..................................................... 34

A m ó s

Texto, Exegese e Exposição .......................................  47I. Oráculos contra as N a ç õ e s ................................ 47

II. Três Sermões sôbre o Destino de Israel .. 72 III. Uma Série de Visões, a Controvérsia com  

Amasias, o Pim do Ministério de Amõs, Epí-logo ........................................ ...................................   141

Pregações sôbre o Livro de Amõs

A Vocação de Amõs ...................................................   187O Julgamento D iv in o ............................ .... ...............   191O A pêlo ao Senso M o ra l..............................................   192A Religião Meraimente Cerimonial e a Religião

V erd a d eira ................................................................. 194O Encontro In evitáve l com D e u s ............................ 195Privilégio e Responsabilidade ............. .....................  196

Busca ime e V iv e i........................................................... 197O Rio Perene da J u s t i ç a .......................................... 198A Visão de D e u s ............................................... ..  .. . . 199Bibliografia Selecionada ............................................... 201

Page 5: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 5/201

Page 6: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 6/201

^prefácio

Êste comentário foi preparado para os pastores e pregadores que desejam aprofundarse no estudo das verdades eternas das profecias do Velho Testamento. A obra representa o esfôrço de apresentar ©s eleimen tos básicos no estudo crítico do texto, da exegese e ex-posição do hebraico e do vaior homilético da profecia.

O estudo crítico do texto do Velho Testamento es-tá sendo feito à luz da descoberta de novos manuscritos, e o novó conhecim ento da Arqu eologia e da . H istória  A ntiga , com entusiasmo e p rov eito. A s descobertas . ar-queológicas nas ruínas de Samaria verificam e escla-recem condições sociais de Israel no período de Jero boão 23, discutidas por Amós.

O leitor notará como a tradução do hebraico da profecia pelo aútor varia freqüentemente das versões  em português, especialmente na forma presente de mui-tos verbos na poesia, pois o tempo do verbo hebraico é determinado principalmente pelo contexto, e não sim-plesmente pela forma gramatical. A poesia hebraica da  profecia é representada na forma poética em português,  sem qualquer esfôrço de aperfeiçoar a sua forma poéti-ca. A crítica, a exegese e a exposição apresentamse,  

versículo por versículo, seguindo logo a versão do he-braico .

Devido à repetição de certos ensinos do profeta,  como de qualquer bom pregador, há também repetições  destas idéias no comentário, mas de pontos de vista  diferentes que devem ajudar no melhor entendimento  da mensagem. No estudo desta profecia, f icase cada  vez mais impressionado com o valor eterno de seus en-sinos, e da sua aplicação universal.

A forma do comentário é a mais simples possível para facilitar a leitura e o estudo da mensagem. A  Introdução é longa, m as apresen ta informação sôbreo ambiente histórico da profecia canônica e de vários

Page 7: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 7/201

A. R . CRABTREE

outros assuntos relacionados com a vida, o caráter e a missão de Amós, os seus ensinos teológicos e éticos e  

o seu lugar na história da revelação divina. São poucas  as abreviações: RSV, The Revised Standard Version; KJV, The King James Version;  SBB, Socleãaãe Bíbli-ca do Brasil.

Preciso reconhecer mais uma vez, como em todos  os meus outros livros, a valiosa colaboração da minha  incansável companheira, D. Mabel, na leitura e no preparo da Obra para a imprensa.

E limitado » número dos leitores de uma obra des-

ta natureza, 'mas é oferecida aos pastores e pregado-res evangélicos do Brasil c Portugal que tém poucos  comentários em português, na esperança de que seja  de valor aos seus estudos, e ao seu ministério na ins-trução do seu povo na exposição das verdades eternas  dêste mensageiro poderoso do Senhor, divinamente ins-pirado par'a falar não somente aos seus contemporâ-neos da Palestina, mas para todos os povos do mundo, em tôdas as épocas subseqüentes da história.

Rio de Janeiro,

15 de Abril de 1960

i ■.  A . R . Crabtree

Page 8: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 8/201

i n t r o d u ç ã o

A obra de Amós é a mais antiga das profecias escri-tas que leva o nome do escritor. O seu ministério no rei-no de Israel, na primeira metade do século oitavo antes de Cristo, foi o princípio de uma nova época na história  

da religião. Amós inaugurou o ministério dos profetas canônicos que transmitiram ao povo as eternas verda-des da revelação divina que orientavam os fiéis na reali-zação do eterno propósito do Senhor na eleição de Israel. W. H. Robinson declarou em uma das suas obras que o ensino ético dos profetas do Velho Testamento repre-senta o maior passo no progresso do homem. Os ensinos ricos e profundos dos profetas sôbrè o caráter e o pro-pósito de Deus na história prepararam os fiéis para so-breviver à destruição nacional, e ao exílio da sua terra. Na maravilhosa providência divina, êstes fiéis voltaram para a sua amada terra em ruínas, para preservar e trans-mitir as Escrituras da revelação divina.

Os estudantes criteriosos do Antigo Testamento e da história humana reconhecem o profeta Amós como um 

dos grandes homens do mundo . Observou Comill: “Amós é um dos mais notáveis homens na história do espírito humano.” A grandeza do profeta de Tecoa manifestase na esfera espiritual e moral da humanidade. O conceito da ética apresentado na mensagem de Amós relacionase direta e intimamente com o caráter revelado do Senhor Javé, o Deus de Israel. Esta ética bíblica é mais com-

preensiva, mais profunda e mais firme do que o sistema filosófico das responsabilidades morais do homem, de-senvolvido pelos gregos, três e quatro séculos depois do tempo de Amós.

Page 9: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 9/201

10 A. R. CRABTREE

 Amós de Tecoa

Como todos os grandes reformadores religiosos, Amós era produto e também representante da sua época. En-quanto as fôrças e influências da história contribuem poderosamente na formação do caráter do homem, elas não podem oferecer uma explicação dos dons e talentos dos homens de gênio. Inatos são os característicos dis-tintivos de qualquer pessoa, mas é o poder da persona-lidade dtí homem de talentos superiores que introduz nò mundo novas fôrças para o desenvolvimento da históriá e da cultura humana. Como o primeiro dos profetas ca-nônicos, Amós apresentou ao mundo os princípios eter-nos da justiça que contribuem para o desenvolvimento e a preservação da cultura religiosa em tôdas as épocas da história.

O ambiente físico, há providência divina, influenciou o caráter, e até os ensinos teológicos de Amós. Êle viveu e trabalhou como pastor na região montanhosa, pedrego-sa e austera, pouco habitada, ao sul de Belém, conhecida como o deserto da Judéia. Nos lados dos outeiros e nos vales tortuosos havia pastagem escassa, apenas para um número limitado de ovelhas.

Tecoa, a aldèia de Amós, nove quilômetros ào sul de Belém, foi uníi dos ltigarés fortificados por Roboao para à proteção de Jerusalém (II Crôn. 11:6). Com a eleva-ção dé 920 metros, servia dè lugar para tocar trombeta, e assim transmitir sinais e anúncios ao povo (Jer. 6:1).  Era tecoíta a mulher sábia que, ao pedido de Joabe, per-suadiu ao rei Davi que permitisse a volta de Absàlão, seu filho desterrado, para Jerusalém (II Sâm. 14) . Mate 

tárde, tecoítas ajudaram na reconstrução dos iriüros de Jerusalém (Neem. 3:5,27). Foi, então, um lugar bem conhecido e de alguma influência, antes do tempo de Amós. Separada e silenciosa, a aldeia contribuiu para o desenvolvimento dos poderes de observar e refletir de

Page 10: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 10/201

O LIVRO DE AMÕS 11

homens como Amós. A aspereza física de Tecoa reflete 

se no caráter robusto de Amós, e ajudou no seu preparo para entender è interpretar a justiça divina pára com o povò infiel. A sua linguagem vigorosa refíèté âs experi-ências da vida comò pastor e observador das leis da na-tureza física.

A linguagem figurativa do profeta reflete a sua ex-periência como pastor. Êle tinha ouvido o bramido do 

leão,quando pegava a prêsa. Tinha visto os restinhos do animal morto e devorado ,pelas feras. Exposto ao calor do sol, e aos ventos frios da noite, o pastor conhecia a dureza da natureza física.

Amós, porém, não foi homem rústico do campo, sem preparo e treinamento, como mensageiro do Senhor. Não podemos determinar com certeza como recebeu o seu pre-

paro literário. Mas o estilo rico, fulgurante e poderoso das suas mensagens mostra claramente que não era me-ramente um homem de dons extraordinários, mas que tinha desenvolvido os seus dons de falar e escrever, ffi geralmente reconhecido que o conhecimento e o dom de 

 falar entre os  árabes e os hebreus não foràm limitados aos homens profissionais, de riqueza e cultura. Com observação cuidadosa e a faculdade de reter na memÓrià 

as tradições e a história transmitidas oralmente, muitos homens, sem a vantagem de unia educação fqrmal, ad-quiriram profundo conhecimento prático da vida,.

Alguém sugeriu que Amós, com a suá curiosidade intelectual, pudesse ter se encontrado freqiientemeiite çoi» as caravanas que passavam por Belém e pèrto de Tecoá, Recebendo, delas informaçõès importantes de outros paí-

ses Com o conhecimento de Israel; revelado no seu livro, e quase certo que êle tinha visitado ò  reino setentrional varias vêzes antes de entrar ha sua missão prõfétícá, Ê claro que êle conhecia de perto as condições sôòiais e re-ligiosas de Israel.

Page 11: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 11/201

12 A. R. CRABTREE

O Preparo para o Seu Mtnistério

Amós possuía profundo conhecimento básico da his-tória, de Israel. Sabia que o povo foi libertado da escra-vidão do Égito pelo Senhor Javé, o Deus dos céus e da terra. Sabia que este povo foi escolhido para servir co-mo nação sacerdotal entre todos os povos do mundo. Sa-bia que o povo aceitara voluntàriamente os compromis-sos de fidelidade ao Senhor do concêrto do Sinai que o 

seu Deus lhes oferecera no seu grande amor eletivo. Sa-bia que o Senhor guiara o povo da sua escolha por qua-renta anos através do deserto e lheS dera a terra dos amorreus.

Com o seu conhecimento das condições religiosas de Israel, o pastor, sem dúvida, meditou em silêncio sôbre a majestade, a grandeza e a justiça do Senhor em con-

traste com a ingratidão e a infidelidade de Israel. Pen-sando sôbre o temperamento e a mentalidade religiosa do povo tão pervertido, o pastor, com a sua experiência com Deus, ficou profundamente comovido. A perversão da justiça social, a avareza e a opressão cruel dos pobres, o suborno dos tribunais da justiça, e a prostituição dos cultos religiosos demonstraram a Amós o afastamento 

completo do povo de Israel do seu Deus. Usando a rique-za adquirida por opressão e violência para subornar as instituições incumbidas de defender os direitos dos fra-cos contra a injustiça dos ricos e poderosos, a dignidade e ò valor do homem justo foi reduzido ao valor de um par de sapatos. Julgando que pudesse aplacar o Senhor, e ganhar o seu apoio e os seus favores com sacrifícios, ofertas e festas religiosas, Israel tinha reduzido o seu 

Deus ao nível de um bom camarada de homens injustos, sem compreender a tolice da sua religião. Como os deu-ses dos pagãos, o Deus de Israel existiu para servir ao seu povo, ficando subordinado aos ricos que lhe pudessem

Page 12: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 12/201

O LIVRO DE AMÓS 13

oferecer os maiores sacrifícios e Celebrar as maiores fes-tas em seu nome.

O povo egoísta assim procurava envolver o Senhor Deus no seu próprio desprêzo da justiça e nas transgres-sões e pecados que praticava para a satisfação dos seus prazeres e apetites físicos. O Deus soberano dos céus e da terra, que libertou o grupo de escravos dò poder do Egito, e lhe revelou o seu eterno propósito na história pela eleição dêle como a sua nação sacerdotal, dará curso 

livre à sua eterna justiça. Na operação da justiça divi-na, êste mesmo povo, injusto e rebelde, será completa-mente destruído. Esta era a convicção abrasadora do pastor de Tecoa, antes de receber a sua chamada para entregar a mensagem dura ao povo de Israel.

 A Chamada dé Amós

A chamada de Amós, bem como a sua mensagem, relacionase não somente com a personalidade, os dons, a cultura e as experiências religiosas do profeta, mas também com as condições políticas, econômicas, sociais e religiosas do povo da época. Não há outro profeta co-mo Amós que revele tão claramente as relações da sua mensagem com a sua personalidade e com as circunstân-

cias e condições da época. Todavia, a chamada vem do Senhor Deus da justiça, segundo a sua declaração explí-cita, confirmada pelas verdades eternas da sua mensa-gem .

O sacerdote hostil de Betei pensou que Amós era um dos profetas que se dedicavam à pregação, um represen-tante da escola dos profetas. Êstes eram pregadores de 

verdades morais da religião. Não eram profetas falsos, mas as suas pregações não contribuíram para o desenvol-vimento da revelação divina que está preservada nas Es-crituras do Veího Testamento.

Amós representava um novo exemplar de profeta e

Page 13: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 13/201

14 A. R . CRABTREE

pregador que o sacerdote Amásias não podia entender. 

Envolvido na injustiça social do seu poyo e preocupado com os seus próprios interêsses, mostrou logo a sua hos-tilidade para com o pregador da justiça.

Na experiência da chamada do profeta, êle ficou em comunicação direta com Deus. Inspirado pelo Espírito dô Senhor, ísaías viu no Templo o altar de fogo, e inter-pretou a mensagem que proclamava ao povo de Judá. Aniós teve uma série de visões e, com o esclarecimento do Espírito do Senhor, êle interpretou a mensagem delas para o povo dè Israel.

O pastor de Tecoa tinha a convicção firme e inabalá-vel de que o Senhor ia lhe revelando a mensagem precisa para o povo de Israel naquele tempo. O fato de que está revelação concordava perfeitamente com as suas próprias observações e o seu raciocínio intelectual não diminuiu 

de maneira alguma a certeza absoluta de que o próprio Senhor estava falando ao povo de Israel por seu inter-médio .

Nenhum dos profetas teve mais certeza do que Amós da sua vocação divina. Êle declara positivamente: “O Senhor me tirou de após o rebanho, e o Senhor me disse: Vai, profetiza ao meu povo Israel” (7:15) .  Profetiza é a ordem do Senhor para o pastor. Recebe, entende e transmite ao povo de Israel, áo povo do Senhor, o orá-culo, a, palavra de Deus. Tudo isto se encerra na pala-vra hebraica,  profetisa. O profeta declara ao inimigo Amasias: “Eu não era profeta, riem filho de profeta, mas pastor do meu rebanho e cultivador de siçômoros, quando recebi a ordem clara e positiva do Senhor.” Assim, de-clara que não tinha vindo da escola dos profetas, mas da 

presença do Senhor. Não tinha recebido nenhum treina-mento na música, nem na dança para induzir à êxtase . Receberá a mensagem bem còmo a ordem de proclamála, diretamente do Deus de Israel, o Senhor dos céus e da terra. É governado pela lei divina, de causa e efeito,

Page 14: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 14/201

O LIVRO DE AMÕS   15

o raciocínio intelectual, orientado e dirigido pela Inteli-

gência Suprema.Não buscara a incumbência de profeta. Pelo contrá-rio, o Senhor Jãvé tomou a iniciativa, e lhe deu a incum-bência de entregar a mensagem divina ao povo de Israel .. Não podia resistir à ordem do Senhor:

“O leão rugiu, quem não terá mêdo? .O Senhor falou, quem não profetizará?” (3:8) . 

Não podia deixar de falar das coisas que tinha visto e ouvido. Na sua dependência da revelação divina o pro-feta reconheceu a profunda significação da profecia.

“Certamente o Senhor Javé não fará coisa alguma sem revelar o seu segrêdo aos seus servos, os pro fetas” (3:7).

 A Religião de Israel desde Moisés até o Tempo de Dm%

Para entender o lugar de Amos em relação com a profecia hebraica, é necessário considerar ligeiramente ps característicos principais do movimento profético des-de o tempo de Moisés. Os hebreus nunca puderam se es-quecer por completo de que o Senhor os tinha libertado da sua miséria no Egito e os escolhera como o seu povo peculiar. O majestoso mensageiro do Senhor, Moisés, orientador do povo no período da formação, despertou nêle a inesquecível esperança de que o Senhor havia de guiar o povo da sua escolha no cumprimento da missão predeterminada. Ã luz das descobertas arqueológicas e do novo conhecimento dá história, é geralmente reconhe-cida agora a veracidade da narrativa bíblica sôbre a li-bertação do grupo de escravos hebreus do Egito, e a sua 

formação, sob a liderança de Moisés, como a nação sacer-dotal entre os povos do mundo. O mundo deve a Moisés, o homem de Deus, a lei moral dos Dez Mandamentos, e a religião monoteísta do Senhor Javé, Criador e Controla-dor dos céus e da terra.

Page 15: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 15/201

16 A. R . CRABTREE

Desde o Monte Sinai o povo escolhido vacilou na sua 

fidelidade religiosa, mas se manteve mais ou menos fiel àp seu Deus no tempo de Moisés e Josué. Mas, éomeçan áo  no período dòs Juizes, os hebreus incorporavam cana íieus, e adotavam vícios da sua civilizáção, incluindo ele-mentos e práticas da religião fácil e irresistivelmente atraente na moralidade menos rigorosa. Enquanto o es-critor de Juizes reconhecia os numerosos desvios morais 

do povo, ele mantinha o conceito fundamental da religião de Israel e as promessas do seu Deus. Podia haver perío-dos, dè degenerescência política e religiosa do povo, mas o Senhor nunca abandonaria o povo da sua escolha. Mas gradualmente as relações religiosas dos hebreus para com os eananeus se tornaram tão complicadas que não pude-ram ser perfeitamente esclarecidas, atê séculos depois, à luz dos ensinos dos profetas canônicos.

Através de todos os períodos da história, desde Moi-sés e Josué até à época de Amós, o grupo dos fiéis man-teve a sua fé firme e vigorosa no seu Deus. Não perdeu a coragem, nem a certeza da vitória final do propósito do Senhor na escolha do seu povo. O cântico da poétisa e estadista Débora revela o perigo das condições políti-cas « religiosas na falta da unidade das tribos contra o 

inimigo, como também o fervor e a fé no triunfo final daqueles que amam e confiam no Senhor.

“Assim pereçam, Senhor, todos os teus inimigos.Mas aquêles que te amamsajam como o sol quando sai na sua  fôrça”   (Jui-zes 5:31).

Os eananeus, representando vários povos, não fica-

ram unidos contra os israelitas, e êste fato facilitou o estabelecimento das tribos, mais ou menos independentes, na terra. Mas quando os filisteus, bem treinados na or-ganização militar, entraram na terra, com o propósito de subjugar os habitantes e tomar posse da Palestina, os

Page 16: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 16/201

O LIVRO DE AMOS 17

feráèlitas i^conhecéram a necessidade imperiosa de se 

ünirèm contra o inimigo perigoso. Depois de duas vitó-rias dos filisteus e da morte do juiz Eli, surgiu rapida-mente o sentimento em favor do, estabelecimento da mo-narquia.

O juizprofeta Samuel fêz uma vigorosa campanha dè educação religiosa, e persuadiu o povo a tirar dentre êles os baalins e asterotes, e a preparar o coração para o serviço do Senhor. Com êste preparo Israel ganhou a famosa vitória de  Ebenézer.  O movimento político de uni-ficar as tribos para combater os filisteus, sob a orienta-ção do profeta Samuel, apelou a tôdas as tribos, e re-sultou no avivamento da fé de Israel.

Nem todos os mais nobres concordaram na escolha de um rei, mas prevaleceu o desejo da grande maioria do povo, e a nova forma do govêrno foi estabelecida, com 

á esperança dos fiéis de que o rei sempre seria para êles o representante fiel do Senhor. O profeta Samuel, com mêdo da opressão dos reis, opôsse à fundação da monar-quia, mas continuou o seu ministério profético. Apoiou a escolha de Saul como o primeiro rei de Israel. Depois de ganhar algumas vitórias importantes para o seu povo, o rei, perturbado pelo ciúme, desobedeceu à ordem de Samuel, ficou desmoralizado na perseguição de Davi, c„ finalmente, morreu tragicamente no Monte de Gilboa.

Saul conseguiu reter os filisteus na Palestina cen-tral, e deixou ao seu sucessor Davi a responsabilidade de subjugar os filisteus e outros inimigos de Israel, e de de-senvolver o seu povo numa grande e poderosa nação.

 A Influência de Davi na Religião de Israel 

Homem segundo o coração do Senhor na sua vida re-ligiosa, Davi revelouse como grande general na subju-gação dos filisteus e de vários outros,povos em redor. Davi revelou os seus multiformes taleotqs conio: organi?

L. A. 2

Page 17: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 17/201

18 "•A."1R. CRABTREE

zadoi estadista de visão e como homem profundamente religjoso, apesar das suas ̂ fraquezas ;• A conquista da fortaleza dos jebuseus e o estabelecimento da capital po-lítica e religiosa em Jerusalém, tiveram uma influência; poderosa e permanente na história do povo. À submissão de Davi à revelação do Senhor, por intermédio do profe-ta Natã, contribuiu notàvelmente para o desenvolvimen-to religioso de Israel.

Davi resolveu edificar uma casa para a habitação do Senhor (Sal. 132). Comunicou o seu desejo ao pro-feta Natã que lhe deix logo o seu apoio, mas depois de consultar o Senhor, o profeta induziu o rei a deixar a obra para o seu filho. Mas em virtude do nobre propósi-to, o rei. recebeu a promessa histórica de II Samuel 7: 1115. Alguns pensam que a história do incidente foi escrito algum tempo depois de Davi, e embelezada pela imaginação do escritor. Comentando sôbre esta opinião, A. B. Davidson diz “Em tôda a história da religião da humanidade, não há nada que possa ser comparado com a obra profética em Israel.” 1

“Também o Senhor te declara que êle mesmo te fará uma casa. Quando fôrem completados os teus dias, e viéres a dormir com teus pais, então farei 

levantar o teu filho depois de ti, que sairá das tuaã entranhas, e estabelecerei o seu reino. Êle edifi-cará uma casa ao meu nome, e eu estabelecerei pa-ra sempre o trono do seu reino. Eu lhe serei pai, e êle me será filho. Se êle cometer a iniqüidade, castigáloei com a vara de homens, e com os açoi-tes dos filhos do homem, mas o meu amor fiel 

(h&sed)  não tirarei dêle, como o tirei de Saul, a quem afastei de diante de ti” (II Sam. 7:llb15) .Ô zelo religioso de Davi culminou na construção do 

Templo pelo seu filho Salomão. Resultou também ha

1 ; Oíd' Testament Prophecy,  p. 59

Page 18: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 18/201

O ' L IV R O ' D E AMÓS   19 

produção de üma vasta literatura: de louvor ao Senhor 

nos Salmos, e teve grande influência na pregação dos profetas. Apesar das falhas e fraquezas de Davi, o seu reino acentuou o conceito de que o remo de Israel era tipo do reino perfeito de Deus.

Permaneceu na memória de Israel a idade áurea do reinado de Davi, e o profeta Amós, com a severa condo, nação da apostasia do povo da época, ainda esperava que o Senhor levantaria o tabernáculo caído do grande rei. A 

influência de Davi na literatura profética é indicada pela menção freqüente do seu nome, muitas vêzes com referên-cia à promessa davídica: 87 vêzes nos Salmos; 10 em Isajas e 15 em Jeremias ; 4 em Ezequiel; 1 em Oséias; 2 em Amós; 6 em Zacarias.

Não obstante as influências benéficas de Davi, duas fôrças contribuíram, no período do seu govêrno, para o 

progresso do baalismo. A religião dos povos subjugados por êle aumentou a influência e o desenvolvimento dêste baalismo, enquanto êste recebia apenas algumas influên-cias da religião dos israelitas, O declínio moral e espi-ritual de Davi foi influenciado pelo ambiente, e o exem-plo dêle enfraqueceu as fôrças da religião do Senhor.

Salomão, com as suas fabulosas riquezas e o seu poder ditatorial, diminuiu ou apagou o serviço dos pro-fetas, e êle afastouse gradualmente dos ideais democrá-ticos e religiosos do seu povo. Com a ópressão política, e a introdução de várias formas de paganismo na côrte, êle preparou ò caminho para a divisão do reino, com a paganização cada vez mais poderosa dòs reis e do povo!

A divisão do reino não produziu os bons resultados que os profetas e os fiéis esperavam. Os dois reinos fica-

ram enfraquecidos e mais sujeitos ao perigo da conquista pelos inimigos mais fortes. As alianças geralmente pre- judicaram mais do que ajudaram os dois reinos. As guer-ras entre Judá e Israel e as freqüentes revoltas nò reino de Israel sempre resultaram no enfraquecimento da fé

Page 19: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 19/201

A. R . CRABTREE

religiosa do povo. Potica importância tinha a religião, 

fora da política, para os reis dos dois reinos, com algu-mas nobres exceções entre os reis de Judá.Quando Onri fêz aliança política com Tiro, por meio 

do casamento do seu filho Acabe com Jezabel, êle intro-duziu no reino de Israel o baalismo fanático de Melquart de Tiro e o conceito da autoridade absoluta do rei. Jeorão rei de Judá, casoüse com Atalia, filha de Acabe e Jeza-bel, e assim levou a influência dêsse novo baalismo cor rutor ao reino de Judá,

A revolução de Jeú, na sua brutalidade cruel, con-seguiu exterminar o baalismo importado de Tiro, com o sacrifício do prestígio político de Israel, mas nada fêz para purificar a fé de Israel da corrução do baalismo ca naneu, tão severamente condenado mais tarde pelos pro-fetas Amós, Oséias e Outros . Jeú fói muito além do con-

selho dos profetas no método cruel de exterminar o ba-alismo. Exterminou oS homens experimentados no go vêrno, enfraqueceu o reino, e tinha que pagar tributo ao rei da Assíria por alguns anos. Nada conseguiu fazer para purificar è fortalecer a fé dé Israel no Senhor Javé. Os profetas canônicos censuraram as injustiças e as in-fidelidades da dinastia de Jeú mais severamente do que os profetas tinham censurado os reis da dinastia de Oriri.

Característicos da Profecia antes de Amós

Os maiores profetas do período desde Moisés até Amós, Samuel, Elias e Eliseu eram defensores corajosos do Senhor Javé, o Salvador de Israel, o Deus de justiça e misericórdia. Êstes, juntamente com muitos outros pro-

fetas do período, tinham à profunda convicção de que o  Senhor os tinha chamado para defender e manter as ver dadês divinas reveladas por intermédio de Moisés ê das experiências históricas de Israel com o seu Deus. Perma-neceu em grande parte a influência do baalismo do pe-

Page 20: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 20/201

Oí.LIVRQ DE AMÓS n 

ríodo dos Juizes. Na conquista da Palestina por Davi, Os cananeus for ara integrados como israelitas, com ce-

rimônias e práticas imorais da sua religião, gradualmen-te reconhecidas pelo povo em geral como elementos da religião de Israel.

É difícil de se avaliar a proporção da influência do baalismo sôbre os profetas dêste período, mas é geral-mente reconhecido que 0  frenesi e as atividades físicas de alguns dos profetas, no reinado de Saul, representam 

algumas das influências dos cananeus, Estas influências exteriores não se harmonizara perfeitamente com a ope-ração direta do Espírito do Senhor na consciência e na inteligência de Moisés e dos profetas canônicos. Êstes verdadeiros mensageiros do Senhor eram pastores do seu povo, Preocupados com os perigos das guerras com os inimigos,. êles não chegaram a entender tão claramente, como os profetas canônicos, que a fé de Israel não podia 

depender das fôrças políticas, Mas, perturbados pelos perigos políticos, êstes homens de Deus lutaram denoda-damente para preservar a fé do seu povo.

Os profetas Elias e Eliseu representam a luta de vida e morte entre Israel e o novo baalismo. Finalmente conseguiram eliminar, por intermédio de Jeú, o sangui-nário, o baalismo de Melquart, mas 0  baalismo dos ca-

naneus, bem enraizado na vida do povo, ainda exercia a sua influência nos dois reinos, como se entende claramen-te pelo estudo dos profetas canônicos.

Não houve distinção entre os cananeus subjugados e absorvidos pelo reino de Davi e os próprios israelitas. Assim não é possível determinar as superstições e as práticas religiosas que o povo de Israel recebeu dos ca-naneus misturados com os israelitas. Mas o profeta Oséias nos declara que os israelitas não sabiam que os frutos que ofereciam a Baal eram recebidos do Senhor Deus de Israel.

Elias e Eliseu, com a reforma conseguida pór inter-

Page 21: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 21/201

22 A. R . CRABTREE

médio de Jeú, não conseguiram eliminar a corrução que 

finalmente levou à destruição o reino político de Israel, e finalmente o de Judá. Êstes profetas se apresentaram como reformadores, como também todos Os profetas sub-seqüentes. Dedicaram o seu ministério ao esforço de eli-minar as influências corrutoras do baalismo, proclaman-do ao mesmo tempo os princípios da democracia e da jus-tiça do Senhor Javé, o Deus de Israel . Elias entendeu cla-ramente que os ideais da autoridade e do poder do rei, 

introduzidos por Jezabel, podiam destruir por completo o conceito de que o rei de Israel era o agente do Senhor e que 0 seu govêrno representava, embora imperfeita-mente,o reino de Deus na terra. Assim como o profeta Natã teve a coragem de confrontar o rei Davi com o pe-cado de adultério ê assassínio, Elias condenou severa-mente õ roubo e a morte de Nabote por Acabe. Segundo 

o ponto de vista de Jezabel, a conselheira do marido, isto  não era pècado, e sim o direito absoluto do rei soberano de roubar e matar em favor dos seus próprios interêsses. Não obstante as imperfeições da reforma dos profetas Elias e Eliseu, os princípios da justiça do Senhor que êles pregaram são os mesmos que se encontram nas pro-fecias canônicas, no seu maior desenvolvimento. Os pro-fetas canônicos, em geral, lembrandose das atividades 

políticas de Elias e Eliseu, perderam a confiança nos reis como representantes do reino do Senhor na terra.A revolução política orientada por Elias e Eliseu, e 

executada por Jeú (II Reis, caps. 9 e 10), representa o resultado do trabalho religioso e político dêsses podero-sos profetas por alguns anos. Êles conseguiram colocar no trono de Israel a dinastia de Jeú que governou no 

período da decadência religiosa de Israel.Na sua crueldade brutal Jeú exterminou o baalis-mo importado de Tiro, mas pouco se interessava na pu-rificação da religião de Israel, fora da sua influência po-lítica. Mais tarde Amós e Oséias e outros profetas con-

Page 22: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 22/201

O LIVRO DE AMÓS 23

denaram severamente o baalismo eananeu dó período da dinastia de Jeú. Jeú fracassou miseravelmente como re-presentante do reino do Senhor Javé. Os profetas ca-nônicos procuraram oferecer conselhos aos reis mas, com raras exceções, os reis não se incomodavam com a reli-gião profética.

 As Condições Sociais de Israel no Período de Amós eOséias

O povo hebraico teve a sua origem no ambiente de três mil anos da civilização dos egípcios e dos mesopotâ mios, como se sabe agora, à luz do conhecimento da Ar-queologia e da História. A fonte principal da sua fé foi a experiência miraculosa com o Senhor Javé no Egito, mas o povo preservou também as tradições históricas de seus patriarcas, identificando o TodoPoderoso de Abraãò com o Senhor Javé, o Redentor de Israel .

No século oitavo antes de Cristo, aquela parte dp mundo conhecido no Ocidente como o Oriente Próximo  já tivera uma longa história, com várias formas de reli-gião. A nação de Israel era ainda comparativamente no-va entre os povos da região, mas já se ufanava de uma história notável. Lembravase, embora indistintamente, 

do seu grande libertador e estadista, Moisés, o mensa-geiro da revelação do Senhor que a salvou das garras do Egito, e a escolheu como o seu povo peculiar, e a in* cumbiu da missão sacerdotal entre as nações do mundo.

No esforço de desenvolverse de acôrdo com os ensi-nos religiosos e éticos, e os princípios da democraqia, re-cebidos por intermédio de Moisés no Monte Sinai, os he-breus tinham que lutar, desde o princípio da sua histó-ria como povo, com as influências do seu ambiente his? tórico.

Nas vitórias políticas da conquista da Palestina e no desenvolvimento nacional, sob o govêrno de seus reis,

Page 23: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 23/201

Page 24: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 24/201

O LIVRO DE AMÕS 25

títmjunto dó território dos dois reinos foi o maior da 

história desde o tempo de Salomão.Esquecendose do perigo do gigante ao leste que por enquanto ficava inativo, Israel se regozijava no seu po-der e na sua grande prosperidade (Amós), como se ti-vesse certeza da sua segurança eterna. Como outras na-ções da história, (Israel) chegou ao pico da prosperida-de material pouco tempo antes da queda final. A fabulo-sa prosperidade de Israel aumentou o seu orgulho e ar-

rogância, multiplicou as injustiças sociais, corrompeu os tribunais da justiça, honrou a prosperidade e o luxo dos opressores dos indefesos, como evidências de favores di-vinos, enquanto julgava que pudesse ganhar os favores do Senhor com ofertas, dízimos, sacrifícios e festas reli-giosas. Por muito tempo a decadência política e religio-sa tinha se manifestado na vida nacional. Aumentou nes-

se período com novas influências de arrogância e hipo-crisia.Os historiadores dão apenas uma vaga noção do 

declínio moral e religioso do povo desde o tempo de Sa-lomão. Reconheceram que o govêrno opressivo de Sa-lomão causou a divisão do reino, mas pouco entenderam as más conseqüências da divisão. Ê na literatura dos pro-fetas do século oitavo em diante que se encontra o en-

tendimento claro das condições trágicas da sociedade e da religião de Israel e Judá.

O Fracasso da Religião de Israel 

No período de Amós Israel era muito religioso. A sua religiosidade foi uma indicação do fracasso da sua 

fé. O povo se ufanava de seus cultos elaborados, das suas ofertas, dízimos e sacrifícios que apresentava assi-duamente ao seu Deus; e especialmente das festas sun-tuosas que celebrava em o nome do Senhor.

A prostituição da religião de Israel resultou do seu

Page 25: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 25/201

Page 26: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 26/201

o. LIVRO DE .AMÓS 21

divorciada das relações humanas . No tempo de Amós, a 

religião de, Israel ficou quase que completamente paga nizada.Tôdas as manifestações da decadência religiosa de 

Israel, como a avareza, a soberba, a corrupção, a injus-tiça e a hipocrisia resultaram da falta do entendimento do caráter do seu Deus. Há uma tendência moderna de se desprezar a teologia, mas a qualidade da vida religiosa resulta do entendimento do caráter de Deus . Alguns di-

zem que o homem cria a Deus conforme à sua própria imagem. É claro que Israel fêz isto, no tempo de Jero boão II, para a sua própria destruição. Mas o Senhor Javé, Criador e Governador dos céus e da terra, se co-municou com Amós, e os profetas subseqüentes do Velho Testamento e a revelação do caráter do Senhor que êles receberam apelam eternamente à inteligência e à cons-

ciência humana e contribuem para o desenvolvimento da  justiça e da dignidade dos homens nas suas relações so-ciais .

Ê a palavra de Deus mais aguda do que a espada de dois gumes, que penetra até a divisão da alma e es-pírito, e revela os pensamentos e as intenções do cora-ção. Amós, o mensageiro do Senhor, entendeu claramen-te a futilidade da religião cerimoniosa dos homens car-regados de iniqüidade. Expõe com fôrça e clareza a in- justiça de Israel à luz da justiça divina. Nesta exposi-ção o profeta apresenta o conceito da justiça de Deus que exige a prática da retidão pelos homens nas suas rela-ções sociais e nos seus negócios uns para com os outros.

O homem de Deus viu no esplendor da prosperidade material do povo no remado de Jeroboão II a grande de-

sigualdade que existia entre as condições econômicas dos ricos e dos pobres. No estudo das condições nas visitas à cidade de Samaria e ao santuário de Betei, êle chegou a entender as condições religiosas e morais do povo, es-pecialmente dos homens que ganharam as riquezas por

Page 27: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 27/201

28 A R. CRABTR EE

violência :e rapina e pela opressão dos pobres e necessi-

tados (Amós 3:10), Credores sem remorso vendiam os pobres como escravos (2:68) . Esmagavam os necessita-dos e miseráveis. Usavam balanças enganosas e vendiam aos pobres o refugo do trigo. Até os juizes, responsáveis pela proteção dos fracos contra os fortes, aceitavam di-nheiro dos ricos para tomarem decisões, injustas nas con-tendas legais, contra os pobres (5:12) . As mulheres se mostravam tão duras e tão gananciosas e cruéis como os 

Jiomens. Exigiam dos maridos que oprimissem os pobres ■e quebrantassem os necessitados para adquirirem os meios de satisfazer a sua vaidade (4:1).

Na vida pública, a decadência moral se manifestava abertamente nos negócios dos mais poderosos do povo. Jjstes tinham tanta influência que podiam praticar à von-tade a injustiça sem restrição (8:5) . Desprezavam os 

mais nobres sentimentos humanos (2:8) . Não tolera-vam repreensões das suas práticas. Odiavam aquêle que os reprovasse à porta e abominavam ao que falasse since xamente (5:10) . Preocupados com a aquisição de rique-zas e os seus prazeres, os oficiais e os ricos se mostra-vam insensíveis à ruína do país (6:6), Ufanavamse de poder e autoridade, e ficavam sossegados, sem pensar na possibilidade do julgamento vindouro (6:1,13) . Mos-

travamse maduros para o castigo da justiça divina (8: 13),

O Livro de Amós

Amós é geralmente reconhecido como o autor do li-vro, mas alguns críticos sustentam que várias anotações 

« ãdiçõès foram acrescentadas à obra por escritores sub-seqüentes. Robert H. Pfeiffer, por exemplo, pensa que os glosadores ou comentaristas eram judeus de Jerusa-lém que fizeram as adiçõés entre 500 e 200 a.C . Se-gundo a opinião dêle, êstes acrescentaram as doxologias,

Page 28: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 28/201

O LIVRO DE AMÓS 29

a passagem 9:1115 e outros trechos. No The International Criticai Commentary,  W. R. Harper declara: “Quase a quinta parte do livro que leva o nome de Amós tem que ser posta de lado.” Mas os comentaristas não concordam na citação dos trechos que Amós não podia ter escrito. Julgam que as passagens foram acrescen-tadas por razões teológicas e para esclarecimento ou de-senvolvimento dos ensinos originais da obra. Em geral, 

êles começam com os seus próprios pontos de vista do entendimento e dos ensinos de Amós, e assim negam ao profeta tudo o que não concorda com êstes ensinos. Ê verdade que, em alguns casos, há indicações de estilo que favorecem a sua crítica, mas as suas opiniões são freqüentemente subjetivas. A tendência entre os comen-taristas modernos é a de aceitar quase todo o livro como a obra de Amós. Alguns não querem dar o devido apre-ço à capacidade do profeta em desenvolver os seus pró-prios ensinos. Não há base histórica, nem provas ex-ternas, para se negar ao autor original qualquer porção essencial do livro.

O profeta entendeu a história do povo de Israel, a finalidade, o significado e a importância da eleição. O conceito da história e a esperança messiânica ligaramse 

tradicionalmente com a finalidade e o propósito da esco-lha de Israel« O fato de que Amós reconheceu as respon-sabilidades espirituais de Israel na sua eleição divina não cancelou em absoluto o concêrto do Senhor com o povo.

Ê certo que o profeta não nega a possibilidade da harmonia entre o juízo inexorável do Senhor contra o pecado e a misericórdia divina no perdão do pecador arj rependido.

“Pois assim diz o Senhor à casa de Israel:Buscaime e vivei” (5:4):“Buscai o bem e não o mal, para que vivais;

Page 29: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 29/201

30 A. R. CRABTREE

’ e assim o Senhor, o Deus dos Exércitos, estará convosco, como vós dizeis.

Odiai o mai, e amai o bem, e estabelecei o juízo na porta; 

talvez o Senhor, o Deus dos Exércitos,tenha piedade do resto de José” (5:1415).

O profeta que apresentou ao povo êstes apelos, e 

não há razão de se duvidar de que foi Amós, certamente acreditava no perdão divino dos homens arrependidos.A organização do livro é simples e clara. Tem três 

divisões principais, ligadas pela unidade do plano do au-tor. Ê provável que alguns poucos versículos estejam deslocados, ou ligeiramente modificados. Ê também pos-sível que haja algumas poucas interpolações. Tais emen-das não modificam os ensinos do livro, nem diminuem 

o seu eterno valor.A primeira divisão abrange os capítulos um e dois. 

Depois do título e dá proclamação solene da sua autori-dade divina, o pregador denuncia as nações vizinhas de Israel, não por causa das injustiças cometidas contra o povo escolhido do Senhor, mas por causa dos crimes pra-ticados, umas contra as outras, na violação das leis hu-

manitárias que tôdas elas não podiam deixar de reconhe-cer. Prende o interêsse dos israelitas com a menção dos crimes de cada um dos vizinhos em particular. Condena severamente a crueldade das nações contra outros povos na guerra, como a violação de alianças e a escravização dos conquistados e várias outras formas de perversida-de. Os israelitas podiam dar os seus apoios,  enquanto o profeta condenava os seus inimigos. Ganhando o inte* rêsse e a simpatia dos ouvintes pela condenação justa de Damasco, Filístia, Tiro, Edom, Amom e Moabe, o pre-gador da justiçá denuncia também o reino de Judá, im ã  de Israel, porque tinha rejeitado a lei do Senhor e não guardava os seus estatutos. Começa cada um dêstes orá»

Page 30: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 30/201

Page 31: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 31/201

32 A . R . C R A B T R K E -

O epílogo, 9:1115, promete a restauração do taber-

náculo caído de Davi, e a renovação da felicidade do povo fiel na sua terra sob a proteção do Senhor.

O Estilo Literário de Amós

Estudantes cuidadosos do hebraico e das línguas se-míticas têm verificado que grandes porções da profecia do Velho Testamento foram escritas na forma de poesia. Não é fácil distinguir entre a prosa retórica dos hebreus e árabes e a sua poesia. Notase que o verso em hebraico dividese em secções pequenas com uma sílaba de cada frase acentuada. O verso, ou a linha, pode ter duas ou três destas pequenas secções, ou metros.  O paralelismo de dois versos, ou de duas linhas, é a construção mais co-

mum da poesia hebraica. Quanto ao ritmo, a tendência é para o tetrâmetro, isto é, dois versos com duas sílabas acentuadas em cada um, 2:2. O hexâmetro pode ter dois ou três versos, 3:3 ou 2.2:2. O pentâmetro tem dois ver-sos, com cinco sílabas acentuadas, 3:2 ou 2:3. Encon-trase raramente o heptâmetro, 3:2:2. O ritmo mais co-mum é 2:2 ou 3:3. Os poetas não se sentiam obrigados a limitarse a um só ritmo na poesia inteira. Há duas qualidades de ritmo. Quando os dois versos têm o mes-mo número de sílabas acentuadas, o ritmo é balançado. Mas os poetas gostavam de usar também o ritmo de idéias, ou de eco, fazendo desiguais o número das síla; bas acentuadas nos dois versos, 2:2 e 3:3. O ritmo ba-lançado é bem ilustrado no segundo versículo do primei-ro capítulo de Amós.

“yeová miççiyón yisság umirushalám yittén qoló veabhelú nêóth haroím veyabhésh rósh hakkarmél. ”

Page 32: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 32/201

O ‘LIV RO D E AMÓS a»

“O Senhor ruge de Sião, 

e de Jerusalém faz ouvir a suà voz; as pastagens dos pastores choram,, e secase o cume de Carmelo.”

Os escritores bíblicos gostavam de usar a aliteração na poesia, bem como na prosa, para embelezar a conbina ção dos sons.

Há três tipos de estilo literário na profecia,, usados em proporções variadas. Os oráculos, ou as mensagens proféticas, são geralmente apresentadas em linguagem poética, nas formas variadas de poesia. As paite bio-gráficas e narrativas aparecem em forma de prosa. A prosa biográfica é representada em Amós pelas conver-sas entre o profeta e o sacerdote, no capítulo sete e na parte introdutória das visões. Preservamos em nossa 

versão da profecia, através do comentário, as partes de prosa e de poesia.A linguagem de Amós é lacônica, incisiva,, direta, 

vigorosa e freqüentemente cintilante. O estilo, como no caso de todos os profetas, adaptase ao sentimento do autor e ao seu ensino da justiça entre 03  homens. Re-velase no livro não somente 0  talento literário do autor, 

como também a grandeza do seu espírito e da sua men-sagem . As ilustrações são escolhidas dentre as experi-ências do pastor, dentre as observações inteligentes da natureza, e dentre os característicos dos homens. O carro* cheio de feixes, 0  rugido do leão com a prêsa, os restan-tes do animal que 0  pastor tira da bôca do leão, a ave* caída no laço, os estragos do gafanhoto e do fogo devora-

dor são exemplos das figuras que usa com destreza e en-tendimento . Êle descreve nitidamente as fraquezas hu-manas, o egoísmo, o orgulho, a injustiça, e a crueldade de homens e mulheres, no desprêzo da dignidade da pes-soa e dos direitos do pobre. Tem conhecimento prático

Si

L. A. 3

Page 33: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 33/201

a ; r  .  GKABtfKEE

dos princípios básicos de argumentação'. Diz R. H. Pfeif fer, na  Introduction to the Old Testament:

“A sua grandeza como pensador religioso e re-formador é igualada pela sua capacidade extraor-dinária de escritor. Com a exceção de Isaías, nas 

. peças mais excelentes, nenhum dos profetas hè breus é igual na pureza da linguagem e na simpli-cidade clássica do estilo.”

Nos oráculos contra as nações, nos discursos e nas visões, o profeta demonstra conhecimento profundo de princípios retóricos. Amós é mestre no uso da linguagem ém transmitir ao povo os seus ensinos que tinha recebido do Senhor. Declara Julius A. Bewer, na The Literature óf the Old Testament:

“Notamos com grande surpresa o estilo literário de Amós. Todos os seus discursos são apresenta-dos em linhas cadenciosas e claras, geralmente em estrofes. Na exaltação do espírito do profeta as palavras correm de seus lábios na regularidade rít 

ç mica . Com Amós o poder poético combinase com a perícia retórica. ”

 A' Teologia de Amós

NènhUm escritor bíblico apresenta na sua obra li-terária uma teologia sistemática mas todos êles eram teólogos. Do ponto de vista do desenvolvimento da teo-logia, a mensagem de Amós é de importância especial, fi a mais antiga de uma série de obras religiosas que se destacám na literaturá do mundo. Pelo estudo cuidadoso 

da profecia, ficase cada vez mais impressionado com* as siias verdades de etèrno valor e de aplicação universal. Entendese mais claramente a teologia da profecia no ambien té histórico da sua produção, em contraste com <os conceitos teológicos do povo da época. A teologia.de

Page 34: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 34/201

O LIV RO D E . AMÓS 35

Amós é de valor permanente justamente porque se apre-

senta para reforçar os seus ensinos éticos, É o primei-ro dos grandes profetas que lidavam com os problemas religiosos relacionados com o declínio e á queda da reli-gião de nacionalismo. Até hoje o nacionalismo é a reli-gião principal de multidões de pessoas.

Antes de apresentar os ensinos teológicos, propria-mente ditos, apresentamos, primeiro alguns dos ensinos do profeta que ficam arraigados na teologia. O profeta 

revela a sua convicção profunda de que Deus se relacio-na com a vida humana. O seu conceito de Deus é o re-sultado da sua comunhão entranhada com o Espírito do Senhor. A religião verdadeira não pode ser divorcia-da das circunstâncias da história e da vida social entre os homens. A mensagem dêste homem de Deus visa não somente as opiniões falsas e o fracasso da religião do 

povo em geral, como também os sentimentos perversos nas práticas dos reis ê dos sacerdotes que se interessa-vam em justificar e agradar ao povo com o pleno apoio dos cultos cerimoniais de opressores e ladrões.

O profeta expõe com clareza, sem mercê, a teologia falsa dos seus contemporâneos que produziu a corrução moral de Israel como nação. Demonstrou a perversida-de e a hipocrisia da religião que procurava comprar os 

favores do Senhor por meio de ofertas, dízimos e festas, com o privilégio de continuar no desprêzo da dignidade humana das suas vítimas e na abominação do Senhor Deus da justiça.

O profeta Amós dá ênfase às seguintes doutrinas teológicas de eterno valor.

(1) O seu conceito ão Senhor Javé.  Não resta mai

dúvida de que o profeta era monoteísta. Mas esta decla-ração não expressa o profundo conceito que êle teve do Criador e Controlador (9:56). No exercício da sua von-tade, Javé põe em movimento os céus em cima e o mar embaixo (5:89). Como explico no comentário, é geral-

Page 35: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 35/201

36 A . R . C R A B TR EE

mente reconhecido agora que Amós é o autor dos cânti-

cos 4:13; 5:89; 9:56, que põem ênfase na majestade do Senhor, mas a grandeza e a glória de Deus são reco-nhecidas através da profecia nas atividades e nas mani-festações do seu poder e autoridade.

O Senhor Javé se apresenta como o Deus da história.  Maravilhosa como fôsse esta doutrina no oitavo século antes de Cristo, ela não se originou com Amós. Revelase no propósito da eleição de Israel, no Monte Si-nai, como nação sacerdotal entre as nações do mundo. O  goal   da história é o estabelecimento do reino de Deus entre todos os povos do mundo, O esquecimento, a ne-gligência, e a falta de dar a devida importância à sua nobre missão, foram o maior fracasso do povo escolhido i 

Mas o Senhor Javé, nas suas atividades na História, não é limitado pela escolha de Israel. Se o Senhor trou-

xe Israel do Egito, trouxe também os filisteus de Caftor e os sírios de Quir. Todos os povos estão sujeitos aos seus planos e propósitos.

“Pois eis que levantarei contra vós uma nação, ó casa de Israel, diz o Senhor dos Exércitos; e êles vos oprimirão desde a entrada de Hamate até o ribeiro de Arabá” (6:14) .

Assim o Senhor operava não somente entre os vizi-nhos de Israel, como é indicado nos capítulos 1 e 2, mas vai levantar a poderosa nação da Assíria como instru-mento do seu julgamento. As nações vizinhas de Israel tinham que prestar contas perante o tribunal da justiça divina. O Senhor determinou o curso dos eventos no Egi-to para a libertação de Israel. Nem os deuses do Egito, nem o Baal da Palestina poderiam impedir o Senhor na direção da história dos povos do mundo.

O Senhor Javé dos Exércitos é o Deus da natureza  física.  Tôdas as fôrças misteriosas, como os terremotos, as pestilências e as calamidades, como a sêca e a fome

Page 36: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 36/201

O LIVRO DE AMOS   37

sãò mánifestações da potência dò Senhor (4:1011). O poder soberano do Senhor foi reconhecido antes do tem-po de Amós (I Reis 8:12 da LXX), mas os contemporâ-neos do profeta deram ênfase somente às atividades di-vinas que pudessem servir ao seu próprio conforto físi-co. No declínio religioso, muitos dos israelitas tinham chegado ao ponto de vista dos cananeus, de que o seu Deus existia para servir à vontade do povo da sua esco-

lha. O profeta acentua o poder soberano do Senhor Javé, o Deus dos Exércitos, no céu e na terra, sôbre tôdas as nações e povos, e tôdas as fôrças físicas da natureza (4: 612; 7:13).

■“Não' sois vós para mim como os filhos de Etiópia, ó filhos de Israel? diz o Senhor.

Não fiz eu subir a Israel da terra do Egito, 

os filisteus de Caftor e os sírios de Quir?” (9:7).O Senhor Javé é o Deus da Justiça.  Êste é o atributo 

do Senhor mais acentuado na? profecia, porque o povo de Israel, na sua infidelidade e injustiça, estava desprezan-do e blasfemando da personalidade do Senhor, não sim-plesmente com a prática da injustiça, mas porque jul-gavam que tinham o apoio e o favor do Senhor nas in-

 justiças cruéis que praticavam. As riquezas que pos-suíam eram prova da sua iniqüidade, e não do favor di-vino. Os seus cultos religiosos eram uma abominação para o Senhor, porque foram oferecidos para comprar o favor divino e a participação do Senhor nas suas injus-tiças. É claro que esta doutrina da justiça do Senhor não se originou com Amós, mas foi apresentada em cir-cunstâncias que magnificaram a sua significação para a 

humanidade. “Não fará justiça o Juiz de tôda a terra?” (Gên. 18:25). O profeta Elias condenou severamente a injustiça de Acabe: “Mataste e apoderaste” (I Reis 21:19).

Êste grande Deus de justiça falou ao Israel injusto

Page 37: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 37/201

38 A.' R . :G RA BT RE E- s

epronünciou o seu destino inevitávél. ;Não há ninguém 

que possa escapar do juízo divino (2:1415).“Embora cavem até o Sheol, de lá o s tirará a minha mão; embora subam ao céu, de lá os farei descer.

Embora se escondam no cume do Carmelo, de lá buscálosei, e os tirarei; embora se escondam dos meus olhos no fundo do mar,de lá darei ordem à serpente é ela os morderá” (9:23).

Assim o profeta de Tecoa fala da majestade do úni-co Deus verdadeiro. O Senhor Deus dos Exércitos dos céus e da terra é o Criador da natureza e o Controlador da História. Ninguém pode fugir da presença dêle, nem 

escapar do seu julgamento.(2)  Deus se faz conhecido nas suas atividades e po

intermédio dos seus profetas.  Êle se revelou na liberta-ção e na escolha.de Israel, com o propósito de fazerse conhecido a tôdas as nações do mundo. Amós reconhe-ceu que Deus se revela nos eventos naturais. Os eventos cataclísmicos da natureza são revelações do poder de 

Deus (4:611). Êle deu a Israel “limpeza de dentes” e “falta de pão” para os admoestar e chamar ao arrependi-mento, “contudo não vos convertestes a mim, diz o Se-nhor.” A fome, a falta de chuva, o crestamento e a fer-rugem das hortas e vinhas, a pestilência da guerra, as pragas e o fogo eram manifestações do desprazer do Se-nhor para com Israel, admoestações e chamadas ao ar-rependimento, mas a nação infiel não quis se converter aó Senhor. . ' . : . :

Mas Deus se manifestou não somente na natureza» mas também nos eventos da História. Israel foi especial-mente favorecido pela. intervenção indisputável na: sua

Page 38: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 38/201

O LIVRO DE A^IÓS 39

vicJa;;n0  Egitó,’ no êxodo, :nas peregrinações pelo deserto e no estabelecimento do povo na Terra Prometida. Na 

escolha de Israel e na direção da sua história, o Senhor se revelou como o Controlador da história de todos os povos. A interpretação errada dos eventos da História foi uma grande .tragédia do povo escolhido.

Mas Deus não somente se revelou nos eventos da História; êle levantou profetas para interpretar o signi-ficado dos eventos,. Ost profetas corrigiram as interpre-

tações erradas dos eventos históricos feitas pelo povo. As grandes manifestações do novo interêsse pelos cultos cerimoniais no tempo de Jeroboão II foram interpreta-das erroneamente pelo povo como sendo o pleno cumpri-mento: da justiça. Mas o mensageiro do Senhor entendeu e explicou ao povo os seus grandes erros na interpreta-ção do significado da prosperidade material de Israel; i 

“Certamente o Senhor Javé náò faz coisa alguma sem revelar o seu conselho aos seus servos, os profetas.

Já rugiu o leão, quem não terá mêdo?

O Senhor Javé tem falado, . quem pode deixar de profetizar?” (3:78).

Deus se revela na natureza e nos eventos da histó-

ria, e levanta os seus servos, os profetas, para interpre-tar e explicar o significado de tais revelações. O profeta foi incumbido para chamar o povo' ao arrependimento e à volta ao Senhor . Quando o povo se recusou a ouvir as admoestações divinas, o profeta teve que anunciar a nulidade do concêrto e o julgamento iminente do, Senhor. E foi justamente isto que o profeta Amós fêz,

(3) A natureza da eleição.  Discutimos êste assuntno comentário, mas é um elemento importante na teologia de Amós. Nas relações sociais com os cananeus, os is-raelitas. foram influenciados pelo conceito do Senhor co

Page 39: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 39/201

40 A . R . C R A B T R É E >

ttio Déus nacional'. Ê sigrtificativò Amós não usar a êx pressão o Deus de Israel.  Mas o povo ficou imbuído da 

certeza de que o Senhor era o Deus de Israel, e que êle se interessava especialmente pelo povo da sua escolha. A pregação do julgamento e do castigo iminente de Is-rael pelo Senhor parecia incrível ao povo, com os seus preconceitos, e especialmente com o entendimento do sig nificado da sua eleição.

Esqueceramse de que foram eleitos para um servi-

ço especial, e não somente para gozar de privilégios o bênçãos especiais. Privilégios e bênçãos sempre acarre tafn responsabilidades. O profeta Isaías põe em relêvo êste ensino (5:17); e o Mestre ensina a mesma verdade na, parábola dos talentos (Mat. 25:1430) . Com o des-prezo da responsabilidade da eleição, Israel não somen-te anulou as bênçãos da sua escolha, mas trouxe sôbre si o julgamento severo do Senhor.

“De tôdas as famílias da terra só a vós vos tenho conhecido;  portanto,  visitarei sôbre vós tôdas as vossas iniqüidades” (3:2).

Jesus confirmou a lógica de Amós nos seguintes têrmos: “De qualquer, a quem muito é dado, muito será exigi-do” (LuC. 12:48, V. particular) . O motivo do Senhor na eleição de Israel é representado pela palavra hesed, amor não merecido.  Israel respondeu ao amor do Senhor com a promessa de hesed, amor leal,  que nasceu'no es-pírito de gratidão. Mas o seu primeiro amor ia se en-fraquecendo, e finalmente desfaleceu, e a infidelidade trouxe a destruição que Amós tinha que anunciar.

Assim Amós dá ênfase ao fato de que o povo eleito podia perder os privilégios e as bênçãos da eleição por 

Suà infidelidade, ficando assim como se nunca fôsse elei-to (Sal. 78:67). O profeta não tentou explicar o mis-tério dá eleição de Israel, mas não teve dificuldade em esclarecer por que esta nação eleita foi rejeitada pelo

Page 40: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 40/201

O L IVRO ’ DE AMÕS 41

Senhor. O Senhõr escolheu Israel a fim de realizar o 

propósito de estender as bênçãos do seu reino pór in-termédio dêle.Surge, então, uma pergunta sôbre o escopo da vi-

são de Amós. O profeta entendeu, ou não, que o propó-sito da eleição seria realizado por intermédio de um res-tante fiel? Se êle escreveu o epílogo da profecia, 9:1115, é claro que entendeu êste ensino esclarecido por Isaías 

e outros profetas subseqüentes. Mas muitos pensam que êste trecho foi acrescentado ao livro mais tarde por ou-tro escritor.

Os israelitas ligaram ao seu entendimento da elei-ção a sua esperança fervorosa da vinda do dia do Se-nhor. Baseandose na premissa falsa de que o povo es-colhido do Senhor era justo, especialmente em relação com outros povos, os contemporâneos de Amós julgavam que o Dia do Senhor traria para êles a vitoria completa sôbre todos os seus inimigos. Mas, longe de estar em condições de representar o ideal do reino de Deus, Israel está debaixo da condenação terrível da justiça divina. O mensageiro do Senhor abalou os seus ouvintès com a sua explicação do significado do Dia do Senhor.

“Ai de vós que desejais o Dia do Senhor!

Para que desejais o Dia dô Senhor?Ê dia de trevas e não de luz” (5:18) .

(4) O culto e a vida religiosa.  Discutimos o fracaso da religião de Israel em outra secção. Precisamos acrescentar apenas uma breve explicação sôbre o con-traste entre 0 interêsse e o entusiasmo dô povo pela re-ligião cerimoniosa (4:45; 5:2123; 8:14), e o fracasso 

absoluto na prática do amor e da justiça, que são o fru-to da verdadeira religião. Os cultos cerimoniosos fica-ram Completamente divorciados da prática dos princípios da religião na vida social. Em tôdas as formas do ceri monialismo o povo procurava agradar ao Senhor e ga-

Page 41: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 41/201

42 A. R. GRABTREE

nhar o seu favor, porém nas condições pessoais e egoístas que realmente negavam e desprezavam a justiça divina;

O homem de Tecoa proclamava o Senhor dos Exér-citos, o Deus que não se agradava de sacrifícios, festas, cânticos e bajulice, pois deseja a retidão e a justiça. O culto sem qualquer relação com a vida da justiça não tem valor nenhum . É blasf êmia contra Deus. Os homens que moravam em casas de luxo e praticavam os pecados de injustiça, avareza, corrução, embriaguês, imoralidade e 

hipocrisia insultavam o Senhor da justiça com a sua religiosidade (6:46) . O culto hipócrita era o. cúmulo dp seu pecado.. O Senhor requer do seu povo as virtudes ele-mentares de honestidade, integridade, justiça e consi-deração humana para com os fracos e necessitados.

O Senhor rejeita os cultos de festas, cerimônias é  sacrifícios que não representem o amor da verdade e o desejo de andar com Deus. “Pois assim diz o Senhor à 

casa de Israel :“Buscaime, e vivei :

mas não busqueis a Betei, , .e não entreis em Gilgal, 

nem passeis a Berseba. porque Gilgal certamente irá ao cativeiro, 

e Betél será desfeita em nada” (5:45).

O Senhor deseja do seu povo uma resposta de co-munhão pessoal com êle.“Antes corra o juízo como as águas, 

e a justiça como ribeiro perene” (5:24) .(5)  A natureza do pecado na teologia de Amos.  Pa

ra o profeta Amós, o pecado era a rebelião contra a bon-dade do Senhor. Êle usa freqüentemente a palavra  pesha 

para descrever o pecado contra Deus, a mesma palavra que significa rebelião política. Nã,o é apenas o ato per-verso que Amós condena; é a natureza pecaminosa que produz a revolta contra a bondade do Senhor . Deus re-

Page 42: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 42/201

O LIVRO DE AMÓS 43

dimiu a Israel, deulhe o Concerto de amor não merecido, 

com a terra prometida, e levantou entre o povo profetas e nazireus para ensinálo e guiálo no caminho de fideli-dade e justiça (2:911) . Mas Israel, levado pelo egoísmo na aquisição dos bens para. satisfazer os seus desejos, foi arrastado pelo espírito de avareza a praticar a opressão e a crueldade, e finalmente a rebelião absoluta contra a justiça divina e contra o seu próprio Deus.

O pecado de Israel caracterizouse pela decepção que 

produziu ,a hipocrisia e o otimismo enganador. Chegou ao cúmulo do pecado pela perversão do culto, no esforço de enganar a Deus, ou reduzilo ao seu nível da injusti-ça. Assim os israelitas eram muito religiosos, mas não permitiam que os seus cultos interferissem de qualquer màneira no pleno exercício da sua iniqüidade. Para êste mensageiro do Senhor, o pecado era o coração corrom-

pido.(6) A renovação da vida com o Senhor   A mensgem do homem de Tecoa não foi limitada à proclamação do desastre de Israel, em conseqüência da sua infidelida-de para com o Senhor, como dizem alguns comentaristas. Na pregação da justiça divina ao povo infiel daquela época, o profeta viu claramente a necessidade imperiosa de anunciar a,s conseqüências da infidelidade, mas êle não 

deixou de reconhecer e considerar a alternativa da injus-tiça.Um bom grupo de literatos pensa que Amos não es 

créveu o trecho 9:8b15, mas fora desta passagem ò pro-feta explica como Israel poderia renovar a vida de co-munhão com Deus . O Deus vivo e justo é a fonte de tôda vida, e como mensageiro do Senhor o profeta exortou o 

povo a buscar o Senhor e viver.  Os princípios da justiça eram verdades eternas que prendèram e seguraram o profeta pelá sua fôrça moral, mas a prática da justiça depende do conhecimento pessoal de Deus, e de comu-nhão com êle. “Buscai ao Senhor e vivei, pára que não

Page 43: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 43/201

44 a : r  . c r a b t r e e

irrompa como fogo na casà de José” (5:6). O povo car-regado de iniqüidade, e revoltoso contra a justiça, não pôde buscar ao Senhor. Não se pode buscar o Senhor sem o desejo de encontrálo no espírito de harmonia com a sua santidade, amor e justiça.

“Buscai o bem e não o mal, para que vivais: e assim o Senhor, o Deus dos Exércitos, estará con-vosco, como dizeis. Odiai o mal e amai o bem, 

e estabelecei a justiça na porta; talvez o Senhor, o Deus dos Exércitos, se compadeça do restante de José” (5:1415).

É impossível buscar a Deus sem reconhecer a ne-cessidade imperiosa de praticar a justiça em tôdas as relações humanas. As leis morais e os princípios de jus-tiça divina são eternos e imutáveis, e a violação delas traz 

a punição certa sôbre o desobediente. O profeta conhece a. misericórdia do Senhor, e explica como o povo pode escapar da destruição por meio do arrependimento pela sua arrogância e hipocrisia. O profeta assim expõe a operação das leis espirituais do Senhor, em perfeita har-monia com o seu amor e solicitude para com o povo da sua escolha,

(7)  A natureza do homem.  Como já notamos, o profeta não apresenta doutrinas sistemáticas, mas encerra-do em tôda parte da mensagem está o alto conceito do homem, indicado pela livre vontade de viver em harmonia com o Senhor, ou de se revoltar contra o Criador e Controlador do mundo. É uma criatura limitada pelo am-biente físico e pelas leis da criação, mas em virtude da sua relação com o Senhor é claramente a obra suprema 

do Criador. É capaz de receber e entender a revelação da vontade do Senhor nas relações sociais, e mediante as responsabilidades pessoais perante o Criador.

Na condenação severa dos sacerdotes e do seu siste-ma elaborado, de ofertas e festas solenes, o profeta acen-

Page 44: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 44/201

O LIVRO DE AMÓS • 45

tua a soberania do Senhor e a responsabilidade direta 

do homem para com êle. Na condenação severa da opres-são dos pobres e necessitados, o profeta reconhece a dig-nidade e o valor do homem como tal. Ao mesmo tempo êle reconhece como a arrogância, o orgulho, o egoísmo e outras formas de pecado podem operar no espírito do ho-mem para a destruição da sua personalidade.

No esforço de despertar a consciência deturpada do 

homem pela pregação da palavra de Deus, o profeta mos-tra que o homem é livre e responsável perante o Senhor. Como ficamos repetidamente surpreendidos pelos ensi-nos dêste profeta do século oitavo antes de Cristo, e do valor dêstes ensinos para os nossos dias! Podemos tam-bém notar os seus pensamentos sôbre a natureza, os ca-racterísticos e as potencialidades morais do homem, que têm importância para o psicólogo e o teólogo dos tempos 

modernos.

Page 45: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 45/201

Page 46: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 46/201

A M Ó STEXTO, EXEGESE E EXPOSIÇÃO

De vários pontos de vista esta profecia merece aten-ção especial. Sendo a mais antiga entre as profecias ca-nônicas, tem importância no estudo da história da reli-gião de Israel. O profeta também entendeu e denunciou 

a.s influências das crenças religiosas dos cananeus na vi-da espiritual dos israelitas.Enquanto a doutrina da justiça apresentada por 

Amós não é inteiramente original, o seu sistema ético, enraizado na justiça divina, é o esclarecimento bíblico da revelação divina, 400 anos antes da justiça filosófica desenvolvida pelos grandes pensadores gregos. A expe-

riência humana prova que a ética bíblica é mais podero-sa para resolver os problemas da injustiça social do que •qualquer raciocínio filosófico.

O profeta apresenta também um novo entendimen-to da natureza do Senhor Javé de Israel como o Deus de tôdas as nações. O Deus de Israel, segundo Amós, é o Senhor dos exércitos dos céus e da terra, das leis da natureza física, com autoridade sôbre todos os povos do 

mundo. Tem autoridade e poder sôbre tôdas as fôrças físicas e sôbre os movimentos e destinos das nações.

I. ORÁCULOS CONTRA AS NAÇÕES, 1:12:16

O sobrescrito dá o título do livro, o nome e a ocupa-ção do autor, e o lugar onde morava quando rècebeu a «çhamada divina.,

O Sobrescrito e o Tema ão Livro,  1:12

“As palavras de Amós que era entre os pastores o ; de Tecoa, que ele viu a .respeito de Israel,. no3 dias

Page 47: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 47/201

48 A. R . CRABTREE

de Uzias, rei de Judá, e nos dias de Jeroboão, filho 

de Joás, rei de Israel, dois anos antes do terre-moto . ”Amós precedeu, por poucos anos, o seu contemporâ-

neo Oséias. O profeta de Tecoa, com os seus oráculos e visões, foi reconhecido, desde o princípio do seu minis-tério, como mensageiro austero e corajoso. Mas o povo de Israel, sentindose seguro na prosperidade material que, segundo o seu ponto de vista, representava o apoio e o  favor do seu Deus como recompensa de seus sacri-fícios e festas religiosas, não quis ouvir a mensagem dura dêste pastor de Tecoa.

Alguns pensam que o sobrescrito foi preparado, pe-lo menos em parte, algum tempo depois de Amós, mas reconhecem que é apropriado e concorda com a mensa-gem do livro. Todavia, a frase, que era entre os pastores 

de Tecoa,  talvez fôsse interpolada entre  Amós  e que êle viu,  porque complica a estrutura do período.A frase, As  palavras de Amós que êle viu,  dá ên-

fase à original e é característica da sua mensagem, A palavra ntPl tem o sentido de ver, perceber, entender, distinguir   e receber   a mensagem do Senhor. O pro-feta assim declara que tinha experimentado no íntimo 

do seu espírito a comunhão com Deus e a verdade da mensagem que transmite aos seus ouvintes.Há evidências dentro da própria Bíblia de que os 

profetas précanônicos, ou pelo menos alguns dêles, fo-ram influenciados pelas práticas dos profetas dos povos vizinhos, especialmente no espírito de nacionalismo, e também pela idéia de que o espírito profético podia 'ser 

motivado pela música, e por meio de exercícios físicos como a dança (I Sam. 3.0:513) . Mas êste fato não jus-tifica a tendência de alguns escritores modernos de exa-gerar as semelhanças entre a profecia bíblica e os va-ticínios de outros povos, sem qualquer reconhecimento

Page 48: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 48/201

O LIVRO DE AMÓS   49

das qualidades distintivas da profecia do Velho Testa-mento. Os profetas précanônicos foram denominados 

videntes, CHV1Começando com Amós,òs profetas apre-sentam um novo conceito do profeta. Para os profetas canônicos a revelação do Senhor concorda perfeitamente com a ordem moral do mundo criadó e  dirigido por Deus, segundo o seu eterno propósito de estabelecer e aperfei-çoar o seu reino entre todos os povos do mundo. Os con-temporâneos dêstes mensageiros do Senhor freqüente-

mente julgavam que êstes não eram patriotas, e às vêzes os consideraram traidores da pátria, como no caso de Jeremias.

Amós exerceu o seu ministério no reinado de Jero boão II de Israel e de Uzias de Judá. Israel era mais for-te do que Judá nesta época, mas os dois reinos eram prós-peros durante a maior parte da primeira metade do sé-culo oitavo antes de Cristo. A palavra IpIUl em 7:14 pastor, significa que o profeta era o dono do rebanho que pastoreava, mas isto não quer dizer que fôsse rico, segundo Uma tradição dos judeus. O seu vocabulário in-dica que ganhou a vida pelo cuidado do seu rebanho.

Tecoa, conhecida agora como Tecu, fica 19 quilô-metros ao sul de Jerusalém, numa elevação de 920 me-tros, cercada de três lados por outeiros, com a vista do 

Mar Morto ao lado oriental. A região é conhecida como o deserto da Judéia.  É lugar pedregoso e desolado, mas produz pastagem limitada para ovelhas. A linguagem do profeta, como a de João Batista, que era da mesma re-gião, reflete a influência da aspereza do deserto.

1. O têrmo vidente  usavase ctímo  sinônimo de  profeta (chosê) . O vidente   tinha o dom de ver   e reconhecer   verdades divinas, 

enquanto o chosé   recebia em visões diretas do Senhor a re-velação da vontade divina, com a incumbência de transmitila  ao seu povo, embora lhe causasse perseguição e sofrimento, como no caso de Jeremias. Contudo, alguns dos videntes eram  profetas verdadeiros, e alguns dêles sofreram a perseguição.

L. A. 4

Page 49: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 49/201

50 A. R . CRABTREE

Amos recebeu a sua chamada “dois anos antes do terremoto” . O profeta Zacarias, 14:5, aparentemente se 

refere ao mesmo terremoto, assim indicando que fôra de intensidade excepcional, mas não se pode determinar o ano exato em que se deu. Sabese, por outras referências» que Amos profetizou, mais ou menos entre 760 e 747 a.C.:

“E êle disse:O Senhor brama de Sião, e de Jerusalém faz ouvir a sua voz; 

os prados dos pastores lamentam, e secase o cume de Carmelo” (1:2) .A estrofe poética é de quatro linhas, de ritmo ba-

lançado, com três acentos em cada linha. Ê semelhante, em parte, a Joel 3:16 a. Alguns pensam que os dois pro-fetas citam palavras de um profeta anterior. Outros pen-sam que á  estrofe foi interpolada por um redator da 

obra. Ê mais provável ser de Amós,2 pois serve perfei-tamente como lema da profecia inteira. Javé brama de Sião.  O contexto indica o tempo pre-

sente dos verbos. O têrmo Sião foi usado primeiro para designar o outeiro entre os vales Tiropoeon e Oedrom. Mais tarde designou o lugar do Templo de Salomão, e finalmente tôda a cidade de Jerusalém. Para os fiéis, até de Israel, Jerusalém era o centro da vida nacional. O profeta se apresenta em tôda parte como apenas o trans-missor da mensagem do Senhor (Ver Is. 2:2).

Ao manifestarse o poder do Senhor, tôda a nature-za física sente a sua influência. Em tôda parte do livro, o Deus de Israel é o Senhor de tôdas as fôrças físicas da natureza. Até os prados,  fY)&l, não as habitações dos pastores, lamentam.

A palavra Carmelo  significa  jardim   ou vinha  e re-2. Norm an H . Snaith, erudito no hebraico, na sua obra, The 

 Book of Am os,  defende a autenticidade do ver sícu lo. O livro é claramente uma exposição do versículo.

Page 50: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 50/201

O LIVRO DE AMÓS   51

ferese ao outeiro que se estende dos outeiros de Samaria até ao Mar Mediterrâneo. O cume do Carmelo èlevase 170 metros acima do pôrtõ de Haifa. O monte inteiro é de 24 quilômetros de cumprimento e, em alguns lugares, tem a altura de 560 metros. Ê um dos lugares mais bo-nitos e mais férteis da Palestina, mas as suas oliveiras e outras árvores frutíferas estão destinadas a murchar.

 Profecias contra os Povos Vizinhos de Israel,  1:32:5

A missão principal de Amós é a de proclamar a men-sagem do Senhor ao povo de Israel, mas os oráculos con-tra as nações vizinhas são teologicamente importantes. O julgamento do Senhor da justiça alcançará as nações inimigas de Israel. O anúncio do castigo divino dos ini-migos cruéis de Israel ganhou logo o interêsse, o apoio 

e o entusiasmo dos ouvintes. O Senhor Javé é o Juiz de todos os povos. O profeta recebeu atenção especial e pleno apoio, sem dúvida, enquanto falava do castigo di-vino dos inimigos de Israel. O profeta terá uma mensa-gem especial do Senhor para o seu próprio povo?

A cidade de Damasco era a capital do reino da Sí-ria. Por uma grande parte do século tinha havido guer-

ra entre a Síria e Israel. Começando com a Síria, o pro-feta declara que é inevitável o castigo divino contra as terríveis injustiças dêste povo.

 Juízo sobre Damasco,  1:35

“Assim diz o Senhor:Por três transgressões de Damasco, e por quatro, não revogarei a punição; porque trilharam a Gileade com trilhos de ferro. Assim mandarei fogo sôbre a casa de Hâzael, e êle consumirá as fortalezas de BenèHadâde.

Page 51: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 51/201

52 A. R. CRABTREE

Quebrarei o ferrôlho de Damasco e exterminarei os moradores do Vale de Ãven, 

e ao que tem o cetro de BeteÊden; e o povo da Síria será levado em cativeiro a Quir, diz o Senhòr” (1:35) .

A frase,  Por três transgressões e por quatro,  repeti-da nos capítulos um e dois, na condenação dos pecados dos vários povos, significa as transgressões habituais. Pelos pecados costumeiros, as nações tinham formado o 

seu caráter pecaminoso. A palavra é usada paradescrever a rebelião política. “Assim se rebelou Israel contra a casa de Davi” (I Reis 12:29) . Damasco, a ca-pital da Síria, tinha demonstrado o espírito revoltoso contra a justiça. O Senhor não fará voltar   para trás o castigo de Damasco. O Senhor da justiça não podia re-vogar a punição merecida.

No reinado de Hazael, e no de seu filho BeneHadade, os sírios cometeram barbaridades desumanas contra as pessoas capturadas na guerra. Afrontaram o Senhor, trilhando Gileade com trilhos de ferro. Sôbre os corpos dos cativos, prostrados no chão, os vencedores arrasta-ram instrumentos pesados de ferro, com dentes, usados para cortar palha e debulhar cereais, mutilando assim a carne convulsiva das vítimas.

O território da Síria já ficou reduzido no tempo de Amós, e a dinastia de Hazael estava em declínio, mas tudo que restava da casa de Hazael, e dos palácios e for-talezas de BeneHadade, seria destruído pelo fogo. O  ferrolho de Damasco,  figura da sua fôrça antiga, não terá valor nenhum na defesa contra a jüstiça do Senhor. O Vale do Éden  provàvelmente se refere à planície larga e 

fértil do Rio Abana, a fonte das riquezas, em grande pãrte, dos arameus. O que tem o cetro de Bete-Êden  fi-cou encarregado de defender a pátria. O profeta declara que as fortificações, os palácios e as cidades serão com-

Page 52: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 52/201

O LIV RO DE . AMÕS 53

pletamente destruídos, e os habitantes levados em cati-veiro a Quir, o lugar donde vieram originalmente (9: 

7) . A palavra significa cativeiro nacional. A profecia foi cumprida por TiglatePileser da Assíria, o primeiro conquistador na História que adotou a política brutal de genocídio, a destruição nacional dos povos conquistados .

 Juízo sôbre a Filístia,  1:68

“Assim diz o Senhor:

Por três transgressões de Gaza,e por quatro, não revogarei a punição; porque levaram em cativeiro um povo inteiro 

para o entregarem a Èdom.Assim mandarei fogo sôbre os muros de Gaza, 

e êle consumirá as suas fortalezas. Exterminarei os moradores de Asdodé, 

e ao que têm o cetro de Ascalom; volverei a minha mão contra Ecrom; e o resto dos filisteus perecerá,

diz o Senhor” (1:68) .

Desde o tempo de Samuel e Saul até às vitórias de Davi, os filisteus eram rivais dos israelitas no , esforço de tomar posse da terra de Canaã. A monarquia de Is-

rael foi fundada principalmente para unir o povo. na de-fesa contra os filisteus. Os filisteus vieram de Caftor, bem organizados e experimentados na guerra. Tentaram primeiro estabelecerse no Egito, mas derrotados, enfra-quecidos e expulsos do Egito, entraram no sul da Pales-tina com o propósito de subjugar os israelitas e tomar posse da terra. Parecia, por algum tempo, que estavam realizando o seu plano .

Gaza,  sendo a maior cidade dos filisteus, e situada no caminho entre a Síria e o Egito, como grande centro do tráfico de escravos, é mencionada primeiro. Os ha-bitantes de Gaza serão castigados  porque levaram em

Page 53: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 53/201

54 A. R . CRABTREE

cativeiro um povo inteiro e o entregaram a E\dom.  O he-braico não está claro. A palavra aparentemente significa um cativeiro pacifico,  ou a venda de pessoas de nações que viveram em paz com êles. Invadiram lugares populosos e levaram os habitantes para vendêlos aos edu meus. O  tráfico dos escravos foi muito comum nas civi-lizações antigas. Escravos construíram as pirâmides do Egito, e muitas outras obras das grandes nações. Os cativos de guerra foram escravizados para fazer tais 

obras. Mas os filisteus cativaram povos pacíficos, como o fizeram várias nações nos tempos modernos com o tráfico de africanos. Não demorou o castigo de Gaza, cidade antiga no caminho das caravanas de Damasco, Ti-ro, Jerusalém, para o sul até Arábia e Egito. Foi seve-ramente castigado no ano 734 a.C. pelo exército de Ti glatePileser.

A cidade de Asdode era o centro do culto de Dagom (I Sam. 5:17), bem fortificada, ao sul de Ecrom. O Rei Acazias recebeu do profeta Elias uma severa repreensão (II Reis 1:3), porque consultou o oráculo de BaalZe bube de Ecrom ao invés de consultar o Senhor. Asque lom, na costa, isolada das outras cidades dos filisteus, é mencionada em Juizes 14:19. O resto dos filisteus, in-clusive as suas arrogantes cidades, perecerá às mãos do 

Senhor da justiça. Juízo sobre Tiro,  1:910

“Assim diz o Senhor:Por três transgressões de Tiro, 

e por quatro, não revogarei a punição; porque entregaram todos os cativos a Edom, 

e não se lembravam da aliança de irmãos. Assim mandarei fogo sôbre o muro de Tiro, e êle consumirá as suas fortalezas” (1:910) .

A cidade de Tiro, a capital da Fenícia, era o grande

Page 54: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 54/201

O LIVRO DE AMÓS 55

centro comercial do mundo antigo. No capítulo 28 de 

Ezequiel, o profeta descreve o comércio de Tiro que enri-queceu o povo, e desenvolveu nêle o espírito de orgulho que quis até usurpar o trono de Deus. Mas nem a magni-ficência de Tiro poderia escapar ao julgamento do Se-nhor da justiça. Os palácios e as fortificações de Tiro, bem como os de Damasco e dos filisteus, seriam devora-dos pelo fogo. Os palácios, construídos pelos escravos, simbolizavam para o profeta a injustiça social de Israel 

e dos povos contemporâneos. Os fenícios, como os filis-teus, escravizaram os seus cativos e os venderam a Edom. Como os sírios, os israelitas e os edumeus, os fenícios eram semitas. •/

Os fenícios também não se lembravam da aliança dos irmã,os.3 Referese o profeta aparentemente às relações amistosas entre Salomão e Hirão (I Reis 5:12) . A re-

lação entre os israelitas e os fenícios no tempo de Davi e Salomão ofereceu vantagens para os dois povos (I Re’s 5:1318) .

 Juízo sobre E d o m 1:1112

“Assim diz o Senhor:Por três transgressões, de Edom, 

e por quatro, não revogarei a punição; porque perseguiu o seu irmão à espada, e baniu tôda a misericórdia,

3. D eterioram se as relações entre os fenícios e os israelitas de-pois da divisão do reino, e ainda mais com a vinda dc Jezabel  para a Samaria como a espôsa de Acabe. Alguns pensam  que êste juízo dos fenícios foi interpolado algum, tempo de-pois de Amós.

4 . Quase todos os comen taristas julgam que esta profecia con-tra Edom se refere à invasão de Judá pelos edumeus logo  depois da queda de Jerusalém em 586. Neste caso, foi inter-polada na profecia de Amós por um judeu/ talvez dépois da  volta do cativeiro.

V

Page 55: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 55/201

Page 56: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 56/201

\

 Juízo sobre os Amonitas,  1:1315

“Assim diz o Senhor:Por três transgressões dos amonitas, 

e por quatro, não revogarei a punição; porque rasgaram o ventre às grávidas de Gileade, 

para dilatarem os seus próprios têrmos.Assim meterei fogo aos muros de Rabá, 

e êle consumirá as suas fortalezas, 

com alarido no di,a da batalha, com tempestade no dia do turbilhão.O seu rei irá para o cativeiro,

êle e os seus príncipes juntamente,diz o Senhor” (1:1315).

O território dos amonitas ficava ao lado do Jordão, 

contíguo à terra de Israel na região de Gileade. Com as transgressões repetidas dos amonitas, êles rasgaram o ventre às grávidas de Gileade,  para dilatarem os seus têrmos.  É provável que os amonitas tenham cometido esta barbaridade quando Naás sitiou a JabesGileade (1 Sam. 11:1). Êste crime horrível foi cometido freqüen-temente pelos povos antigos em tempo de guerra (Os. 13: 

16; II Reis 15:16). Por causa dos crimes dos amonitas, o Senhor da justiça porá fogo ao muro de Rabá, cidade capital e fortaleza dos filhos de Amom. Os gritos de guerra do inimigo vitorioso meterão mêdo ao espírito dos amonitas, enquanto o invasor devastará a terra como redemoinho.

Pouco tempo depois de Amós, o grande exército de 

TiglatePileser III, da Assíria, invadiu as terras dêstea vários inimigos de Israel, saqueou as suas cidades, e le-vou em cativeiro os mais importantes de seus habitan-tes. Ainda no tempo de Neemias, os amonitas se mostra-vam hostis para com os israelitas (Neem. 4:3) .

O LIVRO DE AM õS 5?

Page 57: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 57/201

Page 58: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 58/201

O LIVRO DE AMÓS 59

os reduzir a cal.5  Para os judeus e as outras nações an-tigas, qualquer ofensa contra os mortos era um dos pio-res pecados que o homem podia cometer (Deut. 21:23;II Reis 23:16; Is. 14:19).

iMoabe será destruída pela guerra devastadora, o  foco consumirá os palácios e fortalezas ée Queriote.  Es-ta cidade geralmente se identifica com Ar (Núm. 21: 15; Is. 15:1), uma das cidades principais de Moabe. Ê 

mencionada na linha 13 da Pedra Moabita como sendo a sede de Quemós, ou do seu santuário.6 Assim como a cidade de Damasco representa a nação Síria, também Queriote representa a nação dos moabitas.  Moabe morrerá com grande estrondo, alarido e o som de trombeta. O sonido da trombeta representa a vitória sôbre a cidade vencida e destruída. Cortarei, ou exterminarei o juiz, o governador, e matarei todos os seus príncipes. Moabe é mais um dos países que a Assíria subjugou.

 Ameaças contra Judá,  2:45

“Assim diz o Senhor:Por três transgressões de Judá, 

e por quatro, não revogarei a punição; 

porque rejeitaram a lei do Senhor, e não guardaram os seus estatutos, antes se deixaram errar por suas próprias mentiras, 

após as quais andaram seus pais.Assim mandarei fogo sôbre Judá,

e êle consumirá as fortalezas de Jerusalém”(2:45).

Os oráculos contra os povos vizinhos serviam de ba-

5,' N ão há dúvida de que M essa sacrificou o seu próprio filho, e não o filho de Edom que capturou na batalha, segundo a  opinião de alguns.

6. Ver a  Arqueologia Bíblica  do autor, 2’ Ed., p. 142.

Page 59: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 59/201

60 A. 11. CRABTREE

se, e prepararam o caminho para a condenação severa dos 

pecados de Israel. As profecias contra as nações prova-velmente foram proferidas em dias sucessivos, no prin-cípio do ministério de Amós. Ao ouvirem estas mensa-gens, os israelitas não podiam deixar de reconhecer que o profeta estava transmitindo a mensagem do Senhor Javé, o Deus de Israel, sôbre a condenação justa dos pe-cados de seus inimigos. Tudo que o profeta disse sôbre os pecados e a condenação dos vizinhos recebeu o pleno 

apoio do povo de Israel. A mensagem seria aceita com especial satisfação por que representava o poder sobera-no do seu próprio Deiis.

Ê provável, todavia, que os ouvintes tenham reco-nhecido nos discursos do profeta um sinal de admoesta-ção para a nação de Israel. Se o profeta viu na agressão do poderoso exército da Assíria o transtorno dos inimi-

gos, qual seria, então, a sorte de Israel? O seu Deus so-berano protegeria o seu povo escolhido contra o poder militar da Assíria?

Vários estudantes da profecia pensam que esta pas-sagem sôbre o julgamento de Judá foi interpolada mais tarde na mensagem de Amós. Segundo esta opinião, am-bos os reinos, o do norte e o do sul, constituíram para Amós um só povo (3:2), e a sua mensagem foi dirigida 

aos dois reinos. Neste caso, esta passagem teria sida desnecessária do ponto de vista do profeta. Se esta men-sagem contra, Judá fôsse proferida por Amós, Israel sa-beria logo que o profeta ia condenar também os seus peca-dos. Se a passagem fôsse introduzida na profecia mais tarde, isto indicaria o grande prestígio de Amós nas ge-rações subseqüentes.

Além dos outros pecados, Judá tinha rejeitado a lei >JVnfi A palavra torah  usase em vários sentidos. Ê da do Senhor, e não tinha guardado os seus estatutos, 

raiz que significa ensinar.  Usase, às vêzes, no senti-do de incluir todo o Velho Testamento (Jo. 10:34; 12:34;

Page 60: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 60/201

O LIVRO DE AMÓS 61

15:25) . 0,s judeus designavam os primeiros cinco livros do Velho Testâménto como a Lei Mosaica. Os Dez Man-damentos geralmente se apresentam como o âmago da lei (Êx. 20:317; Deut. 5:621). Mas qualquer instru-ção ou direção do Senhor para o seu povo é reconhecida como torah  ou lei, e assim o têrmo chega a significar a revelação divina, Is. 2:3. Ê também reconhecida como lei a direção técnica dos sacerdotes sôbre a observação 

dos sacrifícios e cerimônias (Lev. 11:46; Jer. 2:8; Miq: 3:11) . A mensagem do profeta apresentase freqüente-mente como a lei do Senhor (Is. 1:10; 8:16) .  A lei do  Senhor,  às vêzes, é o equivalente de  palavras do Senhor. O sentido da palavra estatutos  é de vez em quando in-cluído no têrmo lei   (II Reis 17:19) . Esta palavra é usa-da também no sentido de  juízos, mandamentos, testemunhos,  ou como o equivalente de leis cerimoniais, morais  e civis  (Deut. 4:1; 5:1; 6:20; Deut. 7:15; 7:12,14).

Os profetas em geral condenam a Judá  porque re jeitaram a Lei do Senhor e não guardaram os seus estatutos  (Is. 5:24) . Nem os bons reis de Judá,  Asa, Josa fá, Joás e Amasias chegaram a tirar os altos do povo de Israel. Outros reis se opuseram ao culto do Senhor. Amós e os profetas subseqüentes entenderam mais clara-

mente do que os historiadores a justiça do Senhor e a apostasia do povo de Judá e Israel.Êles se deixaram errar por suas próprias mentiras. 

A frase as mentiras próprias  pode significar os ensinos dos profetas falsos, e aceitos àvidamente, porque êstes falsos mensageiros desculparam, ou justificaram astu-ciosamente, as transgressões e a idolatria do povo. Por-tanto, o julgamento virá sôbre Judá, mostrandose par-ticularmente contra as fortalezas de Jerusalém. Esta ameaça podia despertar os israelitas, pois Jerusalém re-presentava o povo escolhido do Senhor, o Deus verda-deiro das duas nações.

Davi capturou a cidade de Jerusalém dos jebuseus,

Page 61: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 61/201

62 A. R. CRABTREE

e ali estabeleceu a capital política e religiosa das tribos 

unidas. Nos reinos prósperos de Davi e Salomão, e com a construção do Templo, a cidade, já antiga e famosa, ganhou fama maior e mais duradoura, não obstante to-das as vicissitudes da sua história.

Assim o profeta condenou a injustiça dos vizinhos de Israel de acôrdo com a palavra do Senhor Javé, o Deus de Israel. Apresentou, pela primeira vez na história hu-mana, a gravidade dêste problema eterno da injustiça 

social, a praga de tôdas as nações, seja qual fôr a forma do seu govêmo, ou a estrutura da sua sociedade. A jus-tiça divina exige a justiça social entre os homens e en-tre as nações.

 Ameaças contra Israel,  2:616

Ê quase certo que o povo de Israel ouviu com gran-de alegria, logo no princípio, a condenação dos pecados cruéis de seus vizinhos, sem compreender o alcance do ensino ético do mensageiro do Senhor. Ouviu, sem dúvi-da, com profundo desapontamento a condenção severa da sua própria injustiça, depois de ter apoiado tão arden-temente a condenação e o castigo severo da injustiça dos outros povos. Um dos característicos do nacionalismo 

exagerado de qualquer nação é a tendência de condenar os pecados de outras nações, e ficar cego aos seus pró-prios delitos. A profecia de Amós, portanto, é uma ad-moestação para todos os povos, em tôdas as épocas da História, aplicável às injustiças sociais que operam cons-tantemente entre tôdas as classes, e freqüentemente en-tre povos assiduamente religiosos, como os israelitas. No 

período do seu declínio moral, o povo de Israel pratica-va escrupulosamente as cerimônias religiosas, e ao mes-mo tempo oprimia cruelmente os pobres e necessitados.

Enquanto os ouvintes, indignados, sentiamse emba-raçados, o mensageiro intrépido do Senhor enumerava e

Page 62: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 62/201

O LIVRO DE AMÓS 63

denunciava as injustiças que êles praticavam na revolta contra a justiça de Javé, o seu próprio Deus.

“Assim diz o Senhor:Por três transgressões de Israel,

e por quatro, não revogarei a punição; porque vendem o justo por dinheiro, 

e o necessitado por um par de sapatos” (2:6) .

Assim o profeta introduz a sua mensagem a Israel 

com a mesma fórmula que tinha usado nas profecias con-tra as nações,  Por três transgressões.  Mas emprega a declaração apenas uma vez nos vários discursos sôbre a rebelião, dêste povo privilegiado, contra o seu Deus. Co-meça imediatamente com a condenção dos pecados dos ricos contra os pobres, porque êles vendem o justo por  

 prata e o necessitado por um, par de sapatos.

Segundo a opinião de alguns comentaristas, o pro-feta se refere aos atos corrutos dos juizes na opressão dos pobres. Nos casos de litígio, os juizes começam a condenar o pobre, em favor do rico, por dinheiro, e as-sim ficam cada vez mais corrompidos. Finalmente êles chegam a praticar a. injustiça cruel contra o pobre por apenas o preço de um par de sapatos. Mas o verbo vender, 

"Dfi, é o mesmo usado no sentido de vender uma pessoa como escrava (Gên. 37:28; Êx. 21:16) . Êste é o signifi-cado natural do verbo neste versículo. O profeta se refe-re em outro lugar (5:12) à corrução dos juizes, mas aqui fala do credor que aproveita a vantagem de vender o de-vedor como escravo, de acôrdo com a injustiça social da época, para pagar uma pequena dívida. O justo  é aquê le que quis pagar a dívida, mas não podia dentro do pra-zo especificado, por causa da opressão dos pobres pelos ricos. Assim o rico ganancioso, sem compaixão, aperta-va o devedor até ao ponto de vendêlo logo que tivesse o direito legal de fazêlo.

Page 63: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 63/201

•64 A. R. CRABTREE

“Os que suspiram pelo pó da terra 

na cabeça dos pobres, e pervertem o caminho dos mansos; um homem e seu pai entram à mesma jovem 

para profanarem o meu santo nome” (2:7) .

Os que suspiram pelo pó da terra na cabeça dos  pobres  é a tradução correta do Texto Massorético do hebraico, mas o  sentido do hebraico não é claro. Lendo 

,  pisar   ao invés de , suspirar,  a Septuagintatraduz, Os que pisam no pé da terra a cabeça dos pobres. Esta tradução concorda melhor com a segunda linha, e desviam o caminho dos mansos .  Neste contexto mansos traduz melhor o sentido de do que aflitos.  Emcontraste com a prática dos opressores brutais, os man-sos esperam humildemente a direção e o cuidado divino. Parece que esta significação da palavra aqui, e no Sal. 

25:9, preparou a base para o grande preceito de Mat. 5:5. Os ricos e poderosos roubaram aos mansos os pri-vilégios e os direitos que lhes pertenciam, e assim os des-viaram da vereda na qual êles desejavam andar.

A segunda acusação contra o espírito revoltado de Israel é a do fato de que um homem e seu pai entravam à mesma jovem,  e assim profanavam o santo nome do 

seu Deus. Falta a palavra mesma  no hebraico, mas o artigo definido pode dar êste sentido. Êles entravam no mesmo santuário. O procedimento vergonhoso nos san-tuários é mais uma prova da perversidade de Israel, e da sua rebelião contra a vontade do Senhor Javé, o Deus de Israel. Afastandose da pureza dos ensinos da Lei do Senhor, o povo escolhido estava seguindo a prática abo-

minável de prostituição no Santuário, o lugar do culto, segundo a prática dos cananeus. Na adoração das fôrças <3a natureza, os cananeus concentravam o seu culto no processo da geração da vida. Alguns israelitas se deixa-ram seduzir por esta forma do culto pagão, mas não che-

Page 64: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 64/201

O LIVRO DE AMÒS   65

garam à baixeza da bestialidade que a literatura ugarí tica atribui a Baal, e que os seus sacerdotes praticaram abertamente.7 Mas a prostituição religiosa, tão repugnan-te para a verdadeira religião do Senhor (Deut. 23 : 17, no hebraico v. 18), já se tornara escandalosa entre os is-raelitas. Oséias fala até da prostituição de filhas israe-litas, nos lugares altos, e debaixo das árvores frondosas (4:1314) . Êle usa o têrmo queãhasha,  “prostituta sa-grada”, mas a palavra wofrah,  “môça”, usada por Amós 

significa a mesma coisa. Assim no seu culto paganizado, os israelitas profanavam o Santo Nome do Senhor Javé. O Nome do Senhor   significa a sua personalidade. Qual-quer ato que não está em harmonia com o caráter de Deus é profanação do seu Nome. Falase no Código d,e San tidade}  capítulos 17 a 26 de Levítico, sôbre muitos pe-cados que profanam o Nome do Senhor.

Nos atos de culto, os jovens e velhos, no espírito de leviandade, freqüentavam o mesmo santuário, e coabi-tavam com a mesma 'prostituta sagrada (queãhasha) .  Na sua insensibilidade espiritual, êles praticavam as for-malidades agradáveis à religião de seus vizinhos, os ca naneus. Na satisfação de seus desejos carnais, êstes is-raelitas perverteram o culto e corromperam o espírito religioso. Assim, na prostituição e no modo cruel de tra-

tar os pobres e fracos, os israelitas chegaram a desprezar o valor do homem criado à imagem de Deus.

“Êles se deitam ao lado de qualquer altar sôbre roupas recebidas em penhor; 

e na casa de seu Deus êles bebemo vinho dos que foram multados” (2:8).

Segundo a lèi (Êx. 22:2627, no Hebraico 25:26), o vestido,  recebido do próximo em penhor, tinhaque ser devolvido antes do pôr do sol, sendo o único

7. Cyrus H ; Gordon, Olã Testanvent Times, p . 88.

L. A. 5

Page 65: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 65/201

|56 A i ;R . CRA.BTREE;

cobertor do pobre. Amós emprega a palavra roupas, , vestidos ou cobertores de várias qualidades, to-

mados em penhor. Quando o devedor não as podia res-gatar dentro do prazo marcado, o credor aproveitavase sem demora da vantagem legal de possuílas e vendêlas com lucro.

O sentido da frase, o vinho dos que têm sido multados,  é também obscura. Parece que significa o vinho recebido em penhor,  e perdido ao credor porque não foi 

resgatado dentro do tempo marcado. E o vinho que o credor ganha do devedor infeliz, êle o bebe na casa do Senhor, provàvelmente com satisfação orgulhosa da sua própria astúcia. Assim, nos lugares de culto, êstes ho-mens aproveitavamse das leis injustas do país, pratican-do ao mesmo tempo os costumes perversos da época em orgias abomináveis nos cultos hipócritas.

Gomo o Deus de Israel se Revela na História, 2:9-12

“Todavia, eu destruí diante dêles o amorreu, cuja altura era como a dos cedros, e que era forte como os carvalhos; mas destruí o seu fruto por cima, 

e as suas raízes embaixo.

Também vos  fiz   subir da terra do Egito, e quarénta anos vos guiei no deserto, para possuir a terra do amorreu” (2:010).

Nos versículos 9 a 12 o profeta explica as ativida-des do Senhor na História em favor de Israel. O Senhor tinha liberto Israel do poder do Egito, e o guiado através do deserto para possuir a terra do amorreu. Tinha des-

truído os amorreus diante dêle. Assim o Senhor tinha re-velado a sua natureza ao povo de Israel, e lhe tinha de-monstrado o seu poder. E fizera tudo isto em contraste com a ingratidão e a perversidade do povo.

Page 66: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 66/201

O LIVRO DE . AMÕS <67

 Eu destruí diante dêles o ctmorreuJ A   palavra  Eu 

é enfática e positiva. Considerando a impossibilidade da libertação de Israel pelo próprio poder, críticos lançam dúvidas sóbre a autenticidade da história bíblica, porque não acreditam no milagre. Agora, a veracidade da his-tória do Êxodo de Israel do Egito é geralmente aceita. É fato de grande significação o de a Bíblia apresentar o primeiro entendimento da finalidade da história huma-na, na missão dêste povo escolhido. Ê também notável que nenhum conceito filosófico da História tem podido satisfazer o raciocínio humano. Portanto, muitos erudi-tos modernos perdem interêsse no estudo da História.

Os amorreus eram semitas, habitantes de Canaã jun-tamente com os jebuseus e outros povos. No período do Êxodo êles moravam nas montanhas (Núm. 13:29), e õs cananeus ocupavam a costa do Mediterrâneo e a terra ao lado do Jordão. Segundo a tradição, os amorreus eram de grande estatura (Núm. 13:32), intrépidos e valentes na guerra. A êste povo, forte como os carvalhos, o Se-nhor exterminou em favor dos israelitas. Amós cita e apoia a linguagem poética da tradição, para mostrar ao povo de Israel o imenso poder do Senhor e ao mesmo tempo preparálo para entender a sua própria impotência perante a potência da justiça divina. Na exterminação dos amorreus, o Senhor demonstrou o seu poder destrui-dor, mas logo em seguida Amós descreve a soberania de Deus em fazer o povo de Israel subir do Egito, e em guiá lo por quarenta anos através do deserto para possuir a terra dos amorreus.

“E dentre vossos filhos levantei profetas, e dentre os vossos jovens, nazireus.

8. N as escavaç ões de Mari e Nüzu, André Par rot achou m ilha-res de tábuas de barro, com   amplas descrições sôbre os amor 

r reus., Ver a  Arqueologia Bíblica  do autor,, p. 321.

Page 67: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 67/201

68 A . E . C R A B TR EE

Não é isto assim, ó filhos de Israel,diz o Senhor.

Mas vós aos nazireus destes a beber vinho, e aos profetas ordenastes, dizendo: Não profetizeis” (2:1112) .

O Senhor mostra o seu poder, a sua bondade e so-licitude, levantando, dentre os filhos de Israel, mestres para lhes interpretar a significação da sua escolha e en-sinarlhes o propósito divino na direção das atividades 

de todos os povos. Mas ao invés de mostrarse digno das bênçãos recebidas, Israel se esqueceu da majestade trans-cendente do poder e da grandeza do Senhor a quem devia a sua própria existência. Desprezaram os mensageiros que lhes interpretaram a vontade do Senhor, e corrom-peram os nazireus, separados e consagrados ao serviço divino. Os profetas explicaram ao povo que êles tinham 

recebido a sua incumbência diretamente do Senhor para lhe mostrar o caminho da verdadeira religião, admoestá lo contra os perigos da iniqüidade e orientálo no servi-ço de retidão e justiça. Não há nenhum paralelo na his-tória do profetismo iniciado por Amós, e representado nas profecias bíblicas. Deus revelava os seus conselhos aos profetas, e êles transmitiam o que tinham recebido para a orientação do povo.

Os nazireus eram homens consagrados ao serviço do Senhor. A raiz da palavra nazar,  significa d&ãicar   ou consagrar.  Êles assumiam o compromisso solene de não tomarem bebidas alcoólicas, de não cortar o cabelo, de evitar o contato com corpos de mortos, e de não comer qualquer coisa imunda. Acharam as leis para o govêrno de seus ideais no livro de Números 6:121.

 Pois não é assim, ó filhos de Israelf   Ninguém po-dia negar as acusações, porque os israelitas estavam pra-ticando abertamente, e sem escrúpulo, os pecados men-cionados. É o oráculo,  a declaração positiva do Se-

Page 68: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 68/201

O LIVRO DE AMÕS

nhor, o Deus de Israel, transmitido ao povo pelo mensa-

geiro divino.O Julga/mento Iminente de Israel,  2:1316

Depois de ouvir a exposição da sua iniqüidade, e a história do seu desprêzo da bondade do Senhor na orien-tação profética da vida nacional, o povo tinha que ouvir 

também a pena da infidelidade e da revolta contra a jus-tiça do seu Deus.“Eis que eu vos apertarei no vosso lugar, 

como se aperta um carro cheio de feixes.De nada valerá a fuga ao ágil,

e o forte não corroborará a sua fôrça, nem o valente salvará a sua vida.

E não ficará em pé o que leva o arco, nem o ligeiro de pé se livrará, nem tampouco o que vai montado a cavalo 

salvará a sua vida.E o mais corajoso entre os valentes 

fugirá nu naquele dia,diz o Senhor” (2:1316) ,

Bis que eu vos apertarei no vosso lugar.  Esta é a tradução mais exata do hebraico, mas a linguagem não satisfaz a alguns dos comentaristas, nem a todos os tradutores. Mas não consta que êles possam justificar as modificações do texto. As palavras pTX, oprimir,  e PIB» cambalear   ou oscilar,  sugeridas por alguns, não são melhores do que o texto p iy . apertar   ou  fazer pressão. Mas seja qual fôr o sentido exato da linguagem figura-

tiva do versículo, o contexto indica um desastre terrível. Os versículos 13 a 16 apresentamse como declarações en-fáticas, oráculo  do Senhor. É introduzida a declaração com ênfase pela palavra  Eis,  reforçada pelo pronome pes-soal do Senhor,  Eu,

Page 69: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 69/201

70 ■ A . R . C R A B T R E E

No transtorno inevitável, e no desbaratamento de Is-

rael perante o inimigo, a fuga do mais ligeiro de nada valerá; o mais forte não terá fôrças, e o mais valente não poderá sâlvarse a si mesmo.

Repetese no versículo 16 em palavras diferentes o pensamento do versículo anterior, para dar ênfase à im-possibilidade da salvação de Israel. A fuga é de fato uma debandada.  Naquele dia  significa no dia do Senhor   que o profeta descreve em 5:18.

Assim termina, nesta descrição do julgamento de Israel, a exposição básica da mensagem do livro. Não obstante as bênçãos recebidas do seu Deus, Israel não é melhor do que as nações vizinhas. Tinha pecado grave-mente contra o Senhor com o tratamento injusto e a opressão cruel dos pobres e necessitados para satisfazer à sua própria voracidade. O seu modo perverso de pro-

ceder já chegou até à profanação do Santo Nome do Se-nhor.O cúmulo das transgressões de Israel é a ingratidão 

e a infidelidade para com o seu Senhor que o salvou da escravidão e o guiou do Egito até Canaã, dandolhe a terra como herança. O Senhor também levantou mes-tres para ensinar e orientar o povo no caminho de reti-dão e justiça, mas Israel preferiu andar no caminho da perversidade.

O profeta explica como o Senhor tinha revelado o propósito da justiça, não somente na vida de Israel, mas também no castigo da crueldade dos seus inimigos e vi-zinhos. Assim, na operação inexorável da justiça divina; na direção de todos os povos, o Senhor Deus de Israel podia aproveitarse do poder agressivo do grande Impé-

rio da Assíria para transtornar os povos que recusaram ouvir a sua voz, e praticaram a crueldade desumana no tratamento para com os seus vizinhos. No caso de Israel, o procedimento dos homens que dirigiam a vida nacio-nal violou não somente os princípios básicos da justiça

Page 70: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 70/201

o Li v r o   d e   à m ò s 71

na vida política e social, mas demonstrou até nos cultos religiosos a sua avareza e sensualidade. Já se tornara impreterível a destruição de Israel.

Inesperadamente, òs israelitas, na prosperidade e sos sêgo, têm que responder às exigências da justiça do seu Senhor. Nem a fôrça física, nem a destreza na guerra pôde salvar a nação das conseqüências dos seus pecados.

Assim se apresentam, logo no princípio da profecia, 

os princípios básicos da sociologia do Velho Testamento.

 Israel Desprezou a Sóberafoia e a Autoridade Universal  do Senhor Javé} o Seu Deus.

O Deus justo exige no culto do seu povo a integrid a de para reconhecer e praticar a justiça nas suas rela-

ções sociais e nos seus negócios uns para com os outras.O culto cerimonial, as festas religiosas, as ofertas e sacrifícios oferecidos ao Senhor por homens que come-tem pecados desumanos contra o seu semelhante não têm mérito nenhum. São antes abominações que suscitam a ira do Senhor da justiça, o Deus de Israel.

Tôdas as nações e todos os homens são moralmente responsáveis perante o tribunal da justiça do Senhor.

Até as nações, que não tiveram o privilégio de re-ceber a revelação divina que Deus tinha dado a Israel, são moralmente responsáveis perante o tribunal do Se-nhor Soberano de todos os povos da terra.

Estas são convicções básicas do profeta, fundamen-tadas, em parte, nos ensinos conhecidos e apresentados pelos profetas anteriores. Ma,s o profeta recebeu as suas 

credenciais, a sua incumbência e a sua mensagem dire-tamente do Senhor. E, na sua pregação, a doutrina da  justiça de Deus é mais claramente entendida e explica-da, à luz da experiência pessoal de comunhão entranhada com o Espírito do Senhor e Governador dos céus e da terra. O profeta mostra como o Senhor da justiça con-

Page 71: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 71/201

72 A. R . CRABTREE

dena a nação de Israel, altamente privilegiada, mas es-cravizada por seus desejos pecaminosos.

A ênfase de Amós no julgamento divino de Israel, e no seu entendimento da operação do princípio moral na História, é uma das provas da grandeza de Amós, e do va-lor universal e eterno da sua mensagem.

II. TRÊS SERMÕES SÔBRE O DESTINO DE, ISRAEL,3:16:14

Na segunda parte do liv*ro, o profeta desenvolve o tema apresentado nos capítulos um e dois. Os ouvintes tinham ouvido, com surprêsa e decepção, as declarações do profeta sôbre o julgamento divino de Israel. Com as provas evidentes das bênçãos de Deus na prosperidade de Israel, e com os preconceitos teológicos do povo, pare-cialhe impossível que o Deus de Israel pudesse castigar o seu próprio povo. Política e economicamente, tudo ia maravilhosamente bem, especialmente para os dirigen-tes do govêrno e dos negócios nacionais. Como se podia imaginar a possibilidade de que o Senhor Javé pudesse fazer cair qualquer desastre sôbre o povo da sua esco-lha? Todavia, não se podia esquecer das palavras cor-tantes do mensageiro corajoso sôbre os delitos de Israel. 

Tinha falado com sinceridade, e tinha exaltado a subli-midade da justiça do Deus de Israel no castigo merecido de seus inimigos, e os ouvintes tinham apoiado jubilosa-mente a sua mensagem dura a respeito das outras na-ções.

Cegos até então pelo próprio egoísmo, quanto à in- justiça da opressão dos pobres e fracos pelos ricos e po-derosos, alguns ouvintes começaram a sentir a fôrça da mensagem dura do profeta, e a reconhecer algumasver-dades obstinadas na acusação de Israel.

Aproveitandose das dúvidas suscitadas no pensa-mento dos ouvintes, e da excitação da consciência ador-

Page 72: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 72/201

O LIVRO DE AMÓS 73

mecida por tanto tempo, o profeta procede no desenvol-vimento das acusações contra Israel, acentuando cada vez mais, nestes três discursos, a arrogância, a avareza, a injustiça, a hipocrisia, a ingratidão e a infidelidade do povo que tinha recebido tantas bênçãos imerecidas do seu Senhor e Salvador. Encontrase nestes capítulos o pri-meiro profundo esclarecimento da vindicação da justiça divina na época cataclísmica da história de Israel.

O Profeta Explica a Relação de Israel para com Deus,3:18.

“Ouvi esta palavra que o Senhor fala contra vós, o’ filhos de Israel, 

contra tôda a família que fiz subir da terra do Egito, dizendo:

De tôdas as famílias da terra a vós somente tenho conhecido, portanto eu vos punirei por tôdas as vossas ini qüidades” (3:12).

A primeira parte do versículo, Ouvi a palavra que o Senhor fala,  é o princípio de um novo discurso. Com estas palavras de admoestação o profeta procura desper-

tar o povo para entender a razão e o motivo da sua pre-gação, e que êle está transmitindo fielmente a mensagem do Senhor Javé, e não dizendo meramente as suas pró-prias palavras. Proferida nos dias prósperos de JeroboãoII, a mensagem representa um contraste notável entre o ponto de vista do Senhor e o dos israelitas, a respeito das relações existentes entre Deus e o povo da sua escolha. 

Há um contraste significativo entre a justiça divina e a injustiça de Israel. O profeta entende e explica o grande contraste entre a condição perigosa de Israel e a certeza dos poderosos do povo de estarem firmemente seguros em Sião.

Page 73: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 73/201

74’  A i   R . C R Á B T R E E '

Amós dirige a sua mensagem aos  filhos de Israel, 

que na profecia geralmente significa o Reino do Norte. Mas as palavras, contra tôda a família que fiz subir da terra dó Egito,  referemse também, òu abrangem o povo de Judá. Ê provável que esta frase tenha sido acrescen-tada por um redator subseqüente, indicada pela mudan-ça da pessoa, que eu  fiz subir. Judá sobreviveu à queda de Israel, devido à influência do profeta Isaías (II Reis 19:134), mas sempre ficava sob o mesmo julgamento 

da justiça divina.O profeta apresenta uma interpretação espantosa da eleição de Israel.  Alarmante é o contraste entre a ex-plicação profética e o ponto de vista de Israel sôbre o significado da eleição, fi repugnante o anúncio de que Israel, o povo escolhido de Deus, estará sujeito ao mes-mo julgamento divino que os povos vizinhos que , não re-conhecem o Senhor Javé como. seu Deus, e adoram a Baal e outros deuses.

Se o poderoso Império da Assíria ameaçasse a se-gurança de Israel, não seria mais forte ainda o Senhor Javé, o Protetor de Israel? Não protegeria o seu próprio povo, tão intimamente relacionado com êle pela liberta-ção do poder do Egito, e pela orientação histórica da sua vida nacional?

A resposta a êste modo de pensar é dura para os ou-vintes, e até para alguns leitores modernos da profecia, à luz dos ensinos bíblicos em geral, sôbre a doutrina da eleição. Mas o profeta invoca o princípio da justiça de que privilégios especiais também importam em respon-sabilidades maiores perante Deus.  Somente a vós vos tenho conhecido de tôdas as famílias da terra.  Os ou-vintes concordavam perfeitamente com esta declaração 

 profética.  Êles, porém, acrescentariam, “Portanto, vos perdoarei os vossos pecados.” Mas o profeta declara: “Portanto, eu vos punirei por tôdas as vossas iniqüida des”, a mensagem positiva do Senhor da justiça.

Page 74: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 74/201

O LIVRO D E . AMÕS 75

A frase, a vós vos tenho conhecido> expressa o pro-

fundo sentido da bondade do Senhor e da sua relação especial para com Israel, o que é indicado pela palavra w . Esta palavra fala da experiência íntima do amor imutável do Senhor, que salvou Israel da miséria no Egi-to e dêle fêz a sua própria nação, com uma incumbência nobre e honrosa. Tinha dirigido a vida nacional do povo através dos perigos que tinha de enfrentar, segundo as obras e os princípios revelados ao seu Libertador Moi-

sés. Assim Israel tinha recebido a plena instrução so-bre as atividades do poder do Deus da justiça, do Senhor da natureza e do Doador da vida. Assim também se ha-via manifestado a escolha de Israel, não somente pela promessa do Senhor, mas também pela entranhada co-munhão do propósito e da vida do Senhor na vida do seu povo.

Do profundo entendimento da natureza da justiça do Senhor, e de tudo que êle tinha feito em favor de Israel, o profeta reconhece, no esforço de reclamar c apoio e as bênçãos divinas na vida de avareza e injus-tiça, pelos israelitas poderosos e arrogantes, o acúmulo da injustiça. Portanto, foi inevitável a punição dos pe-cados que tinham pervertido o sentido da justiça, e até da natureza de Deus, assim anulando a própria relação espi-

ritual com o seu Deus. Declarase com ênfase, não so-mente o princípio da responsabilidade encerrado no pri-vilégio, mas expõese também a soberania do Senhor da  justiça.

A fôrça da mensagem de Amós é reforçada pela cer-teza de que êle tinha conhecimento da natureza e do pro-pósito do Senhor dos céus e da terra, e algum entendi, 

mento da história do destino espiritual do homem. Na sua teologia a eleição de Israel é fato de profunda signi-ficação, amplamente verificada pela História. Mas o pro-feta apresenta uma verdade ignorada pelo povo de Israel, e nem sempre entendida perfeitamente por alguns teólo-

Page 75: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 75/201

76 A. R . CRABTREE

gos modernos:  A eleição é sempre eticamente condicio

nada,  O profeta, é claro, dá ênfase especial sôbre o fra-casso moral do povo eleito. Mas é um ensino fundamen-tal da Bíblia o fato de que Israel foi escolhido pelo Se-nhor para prestar um serviço especial ao mundo. Mas quando Israel se esqueceu do princípio da justiça encer-rado na eleição, a doutrina gradualmente se tornou uma mera superstição.

Nos versículos 3 a S o profeta expõe as exigências da justiça divina.

“Andam dois juntos, sem estarem de acôrdo?

Ruge o leão no bosque sem que haja prêsa?

Levanta o leãozinho no covil a sua voz, se nada tenha apanhado?

Cai a ave no laço em terra,se não houver armadilha para ela?

Levantase o laço da terra, sem apanhar alguma coisa?” (3:35) .

Estudantes entendem os versículos 3 a 8 de pontos de vista diferentes. Alguns pensam que o profeta está apresentando um argumento para provar a sua autori-dade como mensageiro de Deus. Mas a defesa da auto-ridade do profeta simplesmente faz parte do argumento lógico contra o entendimento errado do acôrdo do Senhor com Israel. O profeta apresenta êstes exemplos da rela-ção entre a causa e o efeito, como a base do argumento lógico de que  Israel será destruído como nação,  por causa da sua infidelidade  para com o acôrdo que aceitou vo 

luntàriamente do seu Deus.A pergunta retórica,  Andam dois juntos sem estarem de acôrdo?  é dirigida ao povo infiel. Israel pode an-dar com o Senhor da justiça, no desprezo da justiça di-vina? Deus e Israel não podem andar juntos, enquanto

Page 76: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 76/201

O LIVRO DE AMÓS 77

Israel persistir na prática da injustiça. A Septuaginta lê 

, se não se conhecerem:, ao invés de VlJMJ, se não estiverem, de acôrdo.  Israel, na sua injustiça e hipocrisia se afastara para tão longe do Senhor, que não tinha co-nhecimento do Espírito de Deus. Mas o Texto Massoré tico é melhor.

A justiça divina, pela sua própria natureza, exige o castigo dos pecados e da infidelidade de Israel, porque o 

povo tinha violado o berith,  o Concêrto do Senhor, re-pudiando os compromissos solenes que tinham aceitado voluntariamente perante o Senhor. Isto significa a dis-solução do acôrdo entre Deus e Israel. Deus não muda na sua natureza, nem modifica os seus planos e propósitos para com a humanidade. A santidade, a justiça e o amor do Senhor operam constantemente em perfeita harmonia para a realização dos seus eternos propósitos. Israel jul-

gava que a pregação de Amós representava a mudança do propósito do Senhor na eleição de Israel. Mas Israel tinha pervertido tanto a sua própria natureza moral que não era mais possível andar com o Senhor da justiça. O profeta está se referindo ao }V"]3 , berith, entre o Senhor e Israel. Precisamos reconhecer que a rejeição de Israel, como nação, por causa da sua infidelidade, não cancelou, 

de modo algum, o propósito do Senhor na escolha de Is-rael. A amorável benignidade do Senhor para com Israel apresenta um exemplo permanente da operação da pro-vidência divina. A finalidade da eleição de Israel foi rea-lizada em parte na revelação apresentada na Palavra de Deus, e em parte no cumprimento da missão do Restante dos fiéis. Amós não desenvolveu a doutrina do Restante, mas reconheceu no fim da sua mensagem o propósito de 

Deus no levantamento do tabernáculo caído de Davi.Para ilustrar mais ainda a seqüência de causa e efei-to, no castigo dos pecados de Israel, o profeta apresenta exemplos do leão e da ave que êle tinha observado na sua experiência como pastor no deserto.

Page 77: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 77/201

78 a . r  ; c r a b t r e e

 Ruge o leão no bosque, sem que haja prêsa ?  A tra-

dução dos verbos pelo presente ao invés do futuro nestes versículos, talvez represente melhor a fôrça das ilustra-ções. De Teeoa, aldeia no outeiro pedregoso, vinte qui-lômetros ao sul de Jerusalém, Amós tinha observado cui-dadosamente a operação normal das leis do Senhor. Não fazia, como o homem moderno, uma distinção definitiva entre as leis da natureza física e as leis éticas do Senhor. Tôdas as leis do Deus dos céus e da terra são justas e 

inexoráveis. A experiência com a aspereza física do de-serto e o conhecimento da perversidade e da injustiça so-cial de Israel prepararam o espírito do homem de Deus para entender e interpretar o desastre iminente de Israel perante a justiça divina.

Quando o leão ruge está pronto para apanhar a prê-sa . A vítima já está nas garras da morte. A linguagem 

é forte para representar o destino calamitoso de Israel. Na visão do profeta, Israel está condenado perante o tri-bunal da justiça do Senhor, e o povo já está no poder da Assíria, o leão cujo rugido a vítima não quer ouvir nem entender. Fas soar o leãozinho no covil a sua voz, se nada tiver apanhado?  é a segunda linha do paralelismo que reforça a lógica, ou a seqüência de causa e efeito.

Outro exemplo do efeito que segue inevitavelmente a 

causa: Cai a ave no laço na terra, se não houver armadilha para ela? Levanta-se o laço da terra, sem que tenha apanhado alguma coisa?  Neste caso o presente dos verbos simplifica a linguagem. As duas partes do pa-ralelismo proclamam em palavras variadas, e pontos de vista diferentes, a ilustração do desastre do povo. No entendimento do profeta, a nação está completamente 

desmoralizada, caída, sem possibilidade de se levantar, apanhada no laço poderoso da Assíria. Nada acontece por acaso. Para qualquer efeito há sempre uma causa. É impossível escapar a punição justa do pecado. Há per-feito acôrdo entre o sentido da mensagem de Amós e a

Page 78: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 78/201

O LIVRO d e   AM óS 79

seguinte declaração do apóstolo Pauio: “Não vos enga-neis: de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará” (Gál. 6:7).

Nesta série de perguntas retóricas o profeta apre-senta ilustrações da seqüência de causa e efeito que os ouvintes não poderiam deixar de entender. As ilustra-ções são escolhidas para dar ênfase ao desastre iminente e inevitável de Israel, se êle persistir na infidelidade pa-

ra com o Senhor. Os ouvintes puderam concordar per-feitamente com a lógica das ilustrações de Amós, mas negaram que tivessem aplicação ao povo dè Israel. Ê o caso do ouvinte desviado que concorda com o sermão do pastor, mas aplica o ensino ao vizinho. A punição vem do Senhor da justiça, mas não sem avisar ao povo por intermédio do profeta.

“Tocase a trombeta na cidade, sem que o povo tenha mêdo?Sucede algum mal à cidade,

sem que o Senhor o tenha feito? (3:6) .

Quando se tocava inesperadamente a trombeta na cidade, o  povo estremecia de mêdo, sabendo que era o sinal de qualquer calamidade. A incerteza aflitiva da na-tureza do desastre, indicada pelo sinal, aumentou o ter-ror do povo. Tocavase a trombeta para dar o alarme contra animais destrutivos (Joel 2:1), ou para avisar, ao povo, do assalto do inimigo (Os. 5:8; Jer. 6:1; Ez. 33: 3). Por que, então, os ouvintes não ouvem as admoesta-ções do profeta, e não seguem a orientação do mensagei-ro do Senhor? A palavra mal,  njn.» neste versículo, não 

se refere ao mal moral, mas ao infortúnio, ou o desastre iminente (I Sam. 6:9; Jer. 1:14; Is. 45:7). O Senhor Javé é soberano, governador de tudo que acontece, do bem e do mal.

A estrutura do versículo sete não cabè bem no seu

Page 79: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 79/201

Page 80: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 80/201

O . UYRQUjQE. :AMÚS

revelação divina é o remate da natureza religiosa do homem. O caráter da:profecia bíblica é a pro-va final e suficiente da sua origem divina.” 2

Mas no caso de Israel, a natureza religiosa, alimen-tada por esperanças falsas, não podia receber' o conselho do Senhor . Não é fácil analisar satisfatoriamente as operações da inteligência do homem de Deus. Podemos entender as eternas verdades que êle proclama, mas co-

mo êle fica prêso ao Espírito do Senhor, na comunicação com o Senhor, e tem o discernimento espiritual de ouyir a mensagem de Deus para o povo, e de distinguila de seus próprios pensamentos, os teólogos não sabem explicar perfeitamente. Mas não temos dificuldade em entender que o Deus da justiça deu a sua mensagem a Israel, por intermédio do profeta de Tecoa, e que as verdades eter-nas da sua profecia têm mais aceitação hoje do que ti-

nham nos dias do reinado de Jeroboão II. A Destruição Total de Samaria, 3:912 ,

Os versículos 9 e 10 descrevem os pecados de opres-são e injustiça dos habitantes da cidade, e OS 11 e 12 fa-lam das conseqüências terríveis dos pecados do povo na destruição completa da grande e orgulhosa métrópolè‘. A 

cidade foi fundada por Onri, no outeiro de quase cem metros de altura, cercado por montanhas, em três lados. Apreciei o, sítio magnífico na visita recente às ruínas co-bertas quase que completamente pela terra. A cidade foi fortificada por Acabe. Tornouse mais tarde uma fortár leza poderosa, defendida com tanta fôrça que resistiu por três anos ao sítio do poderoso exército da Assíria.

“Fazei ouvir isto nas fortalezas de Asdode, e nos palácios da terra do Egito,. e dizei: Ajuntaivos sôbre os montes dé Samaria,

2 .  A Esperança Messiânica,  do autor, p . 10 . ,

L. A. 6

Page 81: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 81/201

82 A . R . C R A B TR EE

' . vêde os grandes tumultos dentro dela, 

e as opressões no meio dela.Êles não sabem fazer o que é reto, diz o Senhor, os que vão entesourando nos seus palácios a violência e o roubo” (3:910).

A Septuaginta traz Assíria ao invés de Asdode, mas Asdode representa a Filístia, inimiga poderosa de Israel por muitos anos. Israel tinha experiência amarga da 

injustiça e crueldade de ambos, a Filístia e o Egito. Estas nações, que não tinham o padrão moral de Israel, ficarão espantadas pelos crimes praticados dentro dos múros de Samaria, cidade capital de Israel. O hebrai-co traz o têrmo montes ao invés do monte da Septuaginta. Se montes  é o texto original, a palavra se refere aparen-temente aos montes Ebal e Gerizim. Do cume dêstes po-dia vér o monte de Samaria. Mas é mais provável que monte  seja o têrmo original, e se refira à própria Sama-ria. O singular cabe melhor no contexto e concorda com o uso em 4:1 e 6:1. Os tumultos  sao as discórdias, as agitações, as lutas sociais e as perturbações que resulta-ram cias atividades pecaminosas dos ricos e poderosos da cidade, da arrogância, e crueldade das suas injustiças, do suborno dos juizes, do roubo e da hipocrisia.

Os profetas chamam freqüentemente a atenção para o fato de que o povo hebraico, com todos os seus privi-légios religiosos, era mais pecaminoso do que os pagãos. O profeta ainda fala à consciência das pessoas religiosas dá nossa época que praticam assiduamente as suas for-malidades religiosas, ou assistem aos cultos nas suas igrejas nos domingos, e nos dias da semana cometem pe-

cados escandalosos no meio dos vizinhos que não profes-sam qualquer religião, mas dão testemunho da vida de honestidade e retidão. Infelizmente os incrédulos têm alguma razão na censura da vida de membros das igre-

 jas. ,fí r:. ■■■■. .. ,

Page 82: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 82/201

O LIVRO DE  AMÓS  83

Um dos resultados trágicos do pecado é a sua in-fluência na personalidade do pecador. Na cegueira espi-

ritual, êle vai ganhando entendimento prático do mal, enquanto o seu espírito fica gradativamente paralisado na incapacidade de perceber e praticar á retidão e a jus-tiça. O profeta reconhece que êste princípio opera na vi-da nacional, bem como na vida pessoal. O particípio he-braico descreve a ação linear, e diz, os que vão entesou rondo a violência e o roubo  inevitàvelmente sufocam a consciência. O profeta Jeremias também descreve o es-

tado dos que ficam espiritualmente asfixiados pela prá-tica, por muito tempo, do mal.

“Deveras o meu povo está louco, êles não me conhecem; 

são filhos néscios,e não têm entendimento; 

peritos são em praticar o mal,e não sabem fazer o bem” (4:22).

As coisas entesouradas freqüentemente se perdem, mas o espírito ganancioso cresce na sua natureza peca-minosa pela aquisição dos bens tão ardentemente dese- jados (Rom. 2:5).

“Portanto, assim diz o Senhor Javé:Um adversário cercará a terra,

derribará as tuas poderosas defesas, 

e os teus palácios serão saqueados.Assim diz o Senhor:Como o pastor livra 

da bôca do leão duas pernas, ou um pedaço de orelha, assim serão salvos os filhos de Israel, 

que habitem em Samaria,com apenas o canto dà cama e parte do leito”

(3:1112) .

Page 83: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 83/201

84 A . R . . C R A B T R E E

Há um ditado antigo que diz: “Os moinhos dos deu-

ses, moem devagar, mas trituram bem.” Na observação de muitos homens modernos, parece que a . providência de Deus, no castigo do pecado, opera muito devagar, ou deixa de manifestarse por qualquer maneira, até que ve-nha uma calamidade como a guerra para acordálos. Os profetas de Deus entendem melhor as leis da justiça di-vina que operam na história humana. Êste “Portanto” de Amós baseiase na exposição da história de Israel, e corresponde no seu rico significado aos “portantos” do apóstolo Paulo.

Apesar das grandes fortificações de Samaria, um ini-migo poderoso cercará a terra e fará descer   tôdas as suas poderosas defesas e apagará tôdas as suas esperan-ças ilusórias. Os magníficos palácios, construídos à cus-ta da opressão de vizinhos, e cheios de riquezas adquiridas 

pela rapina e roubo, vão ser completamente saqUeados e destruídos. Se a destruição de Israel resulta da situa-ção política da época, o profeta reconhece nisto a opera-ção das leis da justiça divina que operam constantemente na vida dos homens e na história das nações. Os podero-sos opressores dos pobres e fracos não podem escapar ao devido castigo da sua crueldade.

O profeta descreve o desastre dos opressores que mo-ram nos palácios, de luxo e esperam ganhar o favor de Deus com os seus ritos religiosos e o sacrifício de animais nos altares de Betei. Responde às perguntas que pudes-sem surgir no pensamento do povo. A destruição será completa? Ninguém escapará? Os nossos cultos e as nos-sas ofertas não têm valor?

Sim, a destruição nacional será completa. Como o 

pastor arranca da bôca do leão os restinhos do animal de-vorado, assim serão libertos os habitantes de Samaria, com wpenas o canto da cama e parte do leito.  É incerto o significado da palavra , parte,  mas aparentemen-te se refere a qualquer parte  do leito luxuoso do rico, tal

Page 84: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 84/201

0 : L1VKO D E ÀMÓS 85

vèk  sló  tecião dê sêâü,  com desehhòs artísticos, f abricado em Damasco. Mas alguns traduzem a palavra  perna  do leito. A referência chama a atenção para o contraste en-tre a vida abundante dos ricos e a Vida miserável dos pobres.

Há interpretações diferentes sôbre os habitantes li-bertos do desastre de Samaria. Pensam alguns que os' que se salvaram representam um restante dos fiéis ao 

Senhor, mas esta interpretação é forçada e não concorda com o pensamento da passagem. Êste profeta não fala do restante fiel, uma doutrina desenvolvida mais tarde. Israel foi completamente destruído como, nação, mas per-maneceram alguns fiéis entre os samaritanos è outros israelitas que sofreram da destruição nacional, mas so-breviveram.

O profeta recebe ordéní de Deus para ouvir e testi-ficar contra a casa de Jacó e anunciar o destino de Betei, o santuário dos reis e do povo de Israel. Não vejo razão para a declaração de Fosbroke 3 de que os versículos 13 a 15 interrompem a seqüência dos oráculos dirigidos a Sa-maria . Betel era a capital religiosa de Israel, como Sa-maria era a capital política. As duas capitais eram igual-mente corrutas, e os moradorès de Samaria praticavam1

a sua hipocrisia em Betel, bem como na cidade de Sama-ria. Foi em Betel que os hipócritas blasfemavam do No-me do Senhor no esforço de subornálo com òfertas e dízimos.

“Ouvi e dai testemunho contra a casa de Jacó, diz o Senhor Javé, o Deus dos Exércitos, 

que no diá em que eu. punir as transgressões de 

Israel, visitarèi também os ajtares de Bete!; e as pontas do altar serão cortadas, e cairão port terra” (3:1314). .

3. Hugbell É . W . Fosbroke, The Interpreters Bible,  Vol." VI, p.798 ■"''

Page 85: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 85/201

m  A. R. CRABTREE

A destruição dos altares de Betei apagará completa-

mente qualquer esperança de salvação por meio de uma religião hipócrita que chega a blasfemar do Nome de Deus.Como a cidade de Samaria representava a degene-

rescência política e moral de Israel, Betei era o foco da hi-pocrisia. Êste centro do culto era venerado  pela casa de 

 Jacó, por causa da experiência tida pelo patriarca naque-le lugar com Deus (Gên. 28:1022; 35:17). Havendo perdido o conceito espiritual de comunhão com Deus, Is-

rael, como as nações, julgava que poderia ganhar a pro , teção e as bênçãos do seu Deus por meio de sacrifícios de animais e de cultos cerimoniais, e assim ficar livre para continuar a prática de seus negócios pecaminosos. O cen-tro do culto nacional será tão completamente destruído como a càpital política. O Senhor da justiça demolirá o santuário com todos os seus acessórios.

As palavras  punir   ou visitar   e transgressões  re-petemse através da mensagem de Amós, e acentuam o tema da sua pregação. Alguns pensam que a pala-vra altares,  n ir a t» , deve ser mudada para o singular a fim de ficar em harmonia com o têrmo na segunda linha. Outros sugerem que a palavra original seria  pilar   ou c o h m a JISXD . Os pilares sagrados tinham uma influên-cia poderosa no culto de Israel, como se nota no estudo 

da profecia. A masseba, coluna,  é proibida em Deut. 16: 21 e Lev. 26:1. As palavras do profeta, as  pontas do altar serão cortadas e cairão por terra,  soaram aos ou-vidos do povo como blasfêmia. Foi destas pontas que o homem pegava em busca de refúgio do inimigo (I Reis 1:50). Os altares históricos de Betei, associados com Abraão e Jacó (Gên. 12:8; 35:7), tiveram uma santida-

de peculiar para os israelitas. Através da sua história, o povo tinha oferecido sacrifícios no altar de Betei (I Sam. 10:3; I Reis 12:2831; 13:1; Amós 9:1; Os. 4:15; 10: 1,2,8). O profeta Oséias falou de Betei, casa de Deus,  co-mo  Bete-Aven, casa de iniqüidade.

Page 86: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 86/201

O LIVRO DE AMÓS s t

“Derrubarei a easa de inverno com a casa de verão;

e as casas de marfim perecerão, e as grandes casas terão fim,diz o Senhor” (3:15).

As descobertas modernas dos arqueólogos nas ruínas de Samaria concordam perfeitamente com a descrição das casas de inverno e de verão do profeta. As ruínas de um dêstes palácios suntuosos mostram que foi construído 

com grandes pedras lavradas, tendo uma forte tôrre re-tangular, e um jardim espaçoso em redor. Os arqueólo-gos julgam que teria sido construído por Jeroboão II. Acharamse nas ruínas numerosos marfins. Muitos dês-tes ficaram em pedaços, mas alguns tinham a forma de placas e painéis que se embutiam na mobília e nas pare-des da casa. Foram gravados com figuras artísticas que representam a cultura da época: lótus, lírios, plantas, 

leões, veados, figuras de pessoas aladas, esfinges e fi-guras de deuses egípcios, como Isis e Horus.4Para os ricos, com o seu conceito pagão de Deus, 

desprêzo dos direitos humanos e a falsa noção de que os seus sacrifícios podiam ganhar os favores divinos, os magníficos palácios eram evidências visíveisdas bênçãos do Senhor. Mas o Senhor da justiça, o Deus dos céus e 

da terra, derrubará êstes palácios de luxo, adquiridos e mobiliados à custa das vítimas que tinham oprimido e roubado.

 A Avareza das Mulheres de Samaria,  4:13

’ “Ouvi esta palavra, vacas de Basã, que estais no monte de Samaria, 

as opressoras dos pobres, as esmagadoras doa necessitados, que dizeis a vossos maridos,Dai cá, para que bebamos!

4..  A Arqueologia B íb lica,  p. 200-201

Page 87: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 87/201

GÂZ   R   .  CRABTREE'

”v»vK / Jujflíij. © Senhor Javé pela sua; santidade:Eis que vêm dias sôbre vós, 

quando vos levarão com anzóis,• ^ até a última com fisga de pesca.

Saireis pelas, brechas,cada uma ,em frente de si; e sereis lançadas para Hermom,

, , , diz o Senhor” (4:13) í 

As mulheres elegantes, arrogantes, avarentas e aqui-sitivas, na sua perversidade, incitavam os maridos a opri-mir os pobres e esmagar os necessitados para satisfazer à suá vaidàde extravagante. Com os particípibs defini-tivos, o hebraico diz: as opressoras dos pobres, as esmagadoras dos necessitados.  Portanto elas sofrerão:jun: tâníente còm os homens o castigo da süa injústiça im-piedosa ! Ouvi esta palàvra, vacas de Basã.  Está brève:

mensagem, dirigida às senhoras, é a mais vitriólica con-denação dá injustiça dos israelitas pela exposição da jus-tiça divina'. Os israelitas pensavam de Basã, ao leste do Mar da Galiléia, como sendo terra de montanhas, de car-valhos, leões, gado de tamanho enorme e homens rudes é vigorosos, ’ gigantes, ou refains.  Ver Is. 2:13; Miq. 7:14; Déut. 32:14. O gado é representado como gòrdo é feroz. O pejorativo vacas de Basã  é bastante forté e pi-cante, mas indica também o poder e a influência das mulheres elegantes na corrução da vida social e econô-mica do povo de Israel.

O texto hebraico dêstes três versículos e,stá em con-fusão. Traz o masculino imperativo do verbo ouvir,  co-mo também o sufixo masculino com o têrmo maridos, còííi á !preposição sôbre  e com o sinal do objeto direto. As outras formas são femininas e concordam gramatical-mente com vacas de Basã.  Tambétn a' mudança abrupta da imagem de vacas,  no primeiro versículo, para a de 

 peixe,  no segundo, complica a construção. Mas apèàar da

Page 88: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 88/201

o:LIVRO' DE .AMÔS

mexplicávèl fálta de; concordância gramatical nos porme-nores,* 0 destino1das mulheres de Samaria é bastante cla-ro, pois é decretado pelo juramento do Senhor Javé. © Senhor tinha jurado pela sua santidade, o característico^ ou 0 atributo essencial, da sua natureza. Os dias da re-tribuição das transgressões das vacas de Basã  estavam: chegando, de acôrdo com a jüstiça divina.

’ No sítio e na destruição de Samaria, os inimigos vos levarãô com anzóis, até a última de vós, com fisga de  

 pesca.  A frase até a última de vós  é mais clara e traduz melhor o hebraico do que e as vossas restantes,  ou as vossas descendentes.  Esta última frase, de Almeida, não concorda com o sentido do contexto.

The Interpreter’s Bible  comenta: “Elas serão des-nudadas do seu vestuário de luxo, e jazerão mortas nas ruas, e varredores arrastarão os seus cadáveres ao mon-te de lixo. ” 5 Mas esta interpretação não concorda com o versículo três, nem se justifica como tradução.  Saireis cada uma em frente de si pelas brechas, e, sereis lançadas para Hermon.  Cada uma andará do lugar onde esteja prêsa, diretamente para a frente, e passará pelas bre-chas: nos muros da cidade, abertas pelo inimigo.  Hermom é   a transliteração da palavra hebraica, cuja significação é desconhecida. Não pode ser indentificada com qualquer 

lugar conhecido .Assim o profeta condena severamente a vida urba ria de Samaria, não porque os habitantes tinham aban-donado a vida pastoril,, mas porque os seus magníficos palácios, e a vida de luxo, representavam a sua arrogan-te injustiça na opressão desumana dos pobres que não ti-nham defesa. Amós era cidadão de Tecoa, um pastor em 

boas circunstâncias econômicas, e não pertencia à clas-se de oprimidos que defendia. Não se sabe como êle che-gou a conhecer as condições religiosas de Israel, mas é

5 . V ol. VT, p. 802 ' ’ í: ' ;

Page 89: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 89/201

90 A. R . CRABTREE

razoável supor que tinha feito viagens até Samaria e  

Betei, talvez para vender os frutos do seu trabalho. A terra não é muito grande, e os homens podiam atraves-sála sem dificuldade. Como pastor de inteligência extra-ordinária, treinado pelas experiências nas regiões mon-tanhosas de Tecoa, Amós tinha observado pessoalmente as graves desordens da sociedade em tôda parte. Com o conceito da majestosa justiça do Senhor Javé dos céus e da terra, o profeta vocacionado ficou perfeitamente habi-

litado para analisar as causas das condições horríveis da sociedade no reino de Israel.O problema era fundamentalmente teológico. O de-

sequilíbrio social foi devido à injustiça social, baseada no conceito pagão de Deus. O profeta ficou profundamente comovido com a falsa noção que o povo tinha do Senhor, epela prática sórdida de aquistar riquezas. Os opressores 

não somente desprezavam os direitos e a dignidade huma-na de suas vítimâs, mas blasfemavam também do Nome do Senhor da justiça.

Os Pecados que Acentuavam a Culpa de Israel,  4:45

O profeta mostra que Israel não entendeu os juízos providenciais de Deus na sua vida nacional para leválo ao arrependimento. Repetidamente o Senhor tinha in-dicado o seu desagrado para com a infidelidade do seu povo, pela fome, pela sêca e pelo crescimento e ferrugem, pela pestilência, pela guerra e pelo terremoto, mas Israel não quis arrependerse de seus pecados e voltar para Deus. Portanto, êles teriam que experimentar a retri-buição da justiça divina. Nos versículos 4 e 5 o profeta fala ironicamente:

“Vinde a Betei e transgredi, a Gilgal e multiplicai transgressões; 

trazei cada manhã os vossos sacrifícios, e os vossos dízimos de três em três dias.

Page 90: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 90/201

O LIVRO DE AMÓS 91

Oferecei sacrifício de louvores do que é levedado, 

e proclamai ofertas voluntárias, publicaias;Pois assim gostais de fazer, ó filhos de Israel,diz o Senhor Javé (4:45) .

É provável que o profeta estivesse falando direta-mente ao povo em Betei, na ocasião de uma das festas  religiosas, quando apresentava os seus dízimos e sacrifí-

cios. Assim a ironia era especialmente apropriada para desmascarar a hipocrisia dos festejadores. Os ouvintes tinham chegado a Betei para se regozijarem na exalta-ção de si;mesmos, o perigo que se manifesta freqüente-mente nos cultos da beleza que apelam aos sentidos físi-cos e não ao espírito de amor e adoração de Deus.

A palavra Gilgal significa Círculo  de pedras sagra-das. Mais de üm lugar na Palestina tinha êste nome. Talvez se refira aqui a Gilgal do vale do Jordão, perta de Jericó, associada com a travessia do Jordão na lide-rança de Josué (Jos. 4:1920). Mas pode indicar a Gil-gal perto de Betei, mencionada em II Reis 2:1; 4,38.

As frases sacrifícios cada manhã  e dízimos de três em três dias  exageram ironicamente o zêlo excessivo do povo no seu culto cerimonial. Esta tradução normal con-corda perfeitamente com o contexto. Mas o hebraico po-de significar de manhã e no terceiro dia . Esta versão re-presentaria o procedimento normal na oferta de sacrifí-cios e dízimos. Referese aos sacrifícios oferecidos anual-mente (I Sam. 1:3, 7, 21). O profeta convida os zelosos  no seu culto a oferecer os animais cada manhã ao invés de cada ano . Segundo Deut. 14:28, o povo devia apre-

sentar os dízimos do fruto do terceiro ano, ao fim de ca-da três anos. Ver também Núm. 18:2128. Esta passa-gem indica que o povo deve dar os dízimos de tudo para. o sustento dos sacerdotes e levitas. Depois da matança ritual do animal para o sacrifício, o povo celebrava uma

Page 91: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 91/201

92- a : r  . c r a e t r e e

fçsta, comendo a carne da vítima, e oferecendo ò sangue 

e a gordura ao Senhor.Continua o profeta na disposição irônica, exortando ao povo para aumentar mais o seu zêlo, queimando o pão levedado, raramente queimado, para fazer dêle um in-censo aromático, como oferta de louvor ou de graça. Se-gundo Lev. 2:11; 7:12, a lei proibia que qualquer fer-mento fôsse queimado por oferta aó Senhor. . Possivel-mente, o profeta está se referindo a um costume novo, em 

processo de desenvolvimento (Os. 3:1), com a idéia de que uma oferta de louvores preparada com fermento &o mel de uvas seria mais aceitável. As ofertas voluntá-rias normalmente expressavam o sentimento do coração* mas o; profeta insiste ironicamente em que o povo as pu-blicasse: “Pois assim gostais de fazer”, o que é inteira-mente contrário ao verdadeiro motivo de tais ofertas.

Assim Amós condena o motivo da religiosidade for-mal de Israel que fêz uso de ritos cerimoniais e sacrifí-cios como meio de ganhar a boa camaradagem do Se-nhor, para assim subordinálo à sua própria vontade na satisfação de seus desejos egoísticos. Revelava um en-tendimento inteiramente errado do caráter de Deus e do espírito de adoração ao Senhor dos céus e da terra. Os seus sacrifícios e o modo de oferecêlos representavam 

mais a influência do paganismo dos cananeus do que o espírito humilde de amor e gratidão ao Senhor Onipo-tente . Por meio dos sacrifícios Israel procurava fazer do Senhor um bom camarada, como um dêles. Queriam que o seu Deus ficasse subordinado aos planos e propósitos dêles, e assim apoiasse a satisfação dos prazeres egoísti-cos dêles, e a exibição da sua própria importância.

Se ficarmos admirados por esta mentalidade reli-giosa dos israelitas no tempo de Amós, convém examinar o nosso coração e o nosso conceito de Deus à luz dag nos-sas aspirações religiosas. Êste mensageiro de Deus fala não somente ao povo hipócrita da época, mas freqüente-

Page 92: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 92/201

O LIVRO DE AMÓS 93

mente aponta a superficialidade da vida espiritual das 

sociedades religiosas em todos os dias da história huma-na. Em contraste com êste conceito de Deus e a quali-dade da religião que produziu, o profeta procede a expli-cação das atividades do Senhor na revelação da sua eter-na e imutável justiça.

 Avisos e Admoestações da Providência Divina,  4:613

“Eu também vos dei limpeza de dentes em tôdas as vossas cidades, e falta de pão em todos os vossos lugares; contudo não voltastes a mim,

diz o Senhor,Eu também retive de vós a chuva,

quando ainda faltavam três meses até a ceifa; 

fiz que chovesse sôbre uma cidade, e que não chovesse sôbre outra; um campo recebeu a chuva,

e o campo que não recebeu a chuva secou; assim duas ou três cidades vaguearam a uma 

cidade, para beberem água, mas não se saciaram; contudo, não tendes voltado a mim,

diz o Senhor” (4:68) .

Nos versículos 6 a 8 o próprio Deus declara, por in-termédio do seu mensageiro, que a fome e a sêca falha-ram no propósito divino de despertar e atrair o povo es-colhido para o Senhor Javé dos Exércitos. Não obstan-te as dificuldades mencionadas pelos comentaristas, não há dúvida de que as citações do castigo discíplinador de 

Israel são elocuções autênticas do profeta Anaós. O ver-sículo sete oferece dificuldades na construção, mas d ênfase nos resultados desastrosos da sêca concorda com a experiência do povo. Os israelitas da época julgavam que quaisquer desastres que lhes sobreviessem seriam

Page 93: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 93/201

94 A. R . CRABTREE

mandados como castigo divino de seus pecados (II Sam. 21), mas Amós não menciona qualquer pecado que tives-se sido a ocasião dos infortúnios mencionados. Êstes de-sastres físicos mostram que o Senhor é soberano, não so-mente na vida e na história humana, mas também nas fôrças físicas do cosmos que trazem a morte e a destrui-ção. O profeta reconhece também o propósito disciplina dor das calamidades físicas que trazem o sofrimento e a aflição do espírito.

 Eu vos dei limpeza ãe dentes.  O pronome pessoal, ‘'SK , no princípio dêste versículo dá ênfase ao propósito do Senhor no castigo de Israel. Como os cananeus, Is-rael quis agradar ao seu Deus com sacrifícios, na espe-rança de receber dêle o socorro divino na aquisição de riquezas e na vida de luxo. Repudiando os compromis-sos solenes e as responsabilidades do Concêrto que tinha recebido voluntàriamente e com gratidão, depois do seu libertamento do Egito, Israel tinha perdido a capacidade de discernir a gravidade da sua revolta contra a justiça divina. Neste estado de ignorância, o povo não compre-endeu, nem era mais capaz de compreender, que nestas visitações de disciplina o Senhor lhe estava oferecendo o ensêjo de receber conhecimento mais profundo das gran-des atividades da prpvidência divina na sua vida nacio-

nal. Por outro lado, o profeta Amós tinha aprendido, nas montanhas de Tecoa, pela experiência das exigências da natureza física, a entregarse completamente ao cuidado do Senhor, e êste cometimento lhe dera um novo enten-dimento da vida.

Assim o mensageiro da justiça divina tinha experi-mentado também a compaixão do Senhor* revelada na de-claração, Contudo não voltastes a mim.  A preposição 

aqui significa até para  mim. Não convertestes com pletamente a. mim . Vacilastes entre mim e Baal. “Até quando ireis coxeando com duas opiniões diferentes?” . (I Reis 18:21; Jos. 24:15). Estas palavras, ou frases se-

Page 94: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 94/201

O LIVRO DE AMÓS <95

melhantes, encontramse freqüentemente no Velho Tes-tamento, representando sempre a fidelidade imutável do 

Senhor ;em contraste com a infidelidade de Israel (Os. 6:1; 14:1; Is. 10:21; 31:6; 44:22; 55:7; Jer. 3:1, 12, 22; 4:1; Deut. 4:30; 30:2,8; I Sam. 7:3; II Crôn. 6:24, 38;'Sal. 78:34; Mal. 3:7) . Notase na leitura destas re-ferências que em tôdas as épocas e vicissitudes da histó-ria de Israel, e por muitos dos seus mensageiros, o Se-nhor, no seu amor constante e imutável, oferece ao povo 

vacilante o ensêjo de arrependerse dos pecados de infi-delidade, e voltar ao regaço do seu Salvador. A palavra amíí*, voltastes,  com o têrmo equivalente, èmorpéfaiv (Atos 3:19; 9:35; 11:21 e I Tess. 1:9) contribuiu para o desenvolvimento do conceito do têrmo “conversão” no Novo Testamento.

Descrevem os versículos sete e oito os efeitos da sê ca.  Eu também retive de vós a chuva.  O pronome pes-soal  Eu  repetese com ênfase. Foi o próprio Senhor que reteve a chuva. A frase três meses antes da ceifa,  refe-rese à cessação prematura das chuvas que caíram na última parte' de fevereiro, ou nos primeiros dias de mar-ço, apenas um mês antes da ceifa. Sem estas chuvas no *seu tempo, a ceifa ficava destruída pela sêca.

O Senhor Javé assim demonstrou o seu poder de re-

ter a chuva numa cidade, dando ao mesmo tempo evidên-cia de seu poder de dar a chuva sôbre outra cidade vi-zinha.

Cambaleariam ou vaguearam por duas ou três cidades, indo a outra cidade, para beberem água, mas não se sa,ciamm.  Na falta de chuva, e no sofrimento do povo pór falta dágua para beber, Deus estava operando com o 

propósito de induzir a nação escolhida a reconhecer a sua infidelidade e voltar ao seu Senhor e Salvador. Con- tudú, não voltastes a mim.

“Ferivos com crestamento e ferrugem; , . : .

Page 95: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 95/201

96 A . R . C R A B TR EE

a multidão das vossas hortas, e das vossas vinhas, das vossas figueiras, e das vossas 

oliveiras, devoroua o gafanhoto; contudo, não Voltastes a mim, diz o Senhor.Enviei entre vós a peste, à maneira dó Egito; <

matei à espada os vossos jovens; levei presos os vossos cavalos; 

e fiz subir aos vossos narizes 

o mau cheiro dos vossos arraiais; contudo, não voltastes a mun,diz o Senhor” (4:910).

Nos versículos 9 e 10 o profeta explica que a quei-madura e a ferrugem das plantações, a destruição das hortas, das vinhas, das figueiras e das oliveiras, a peste e a guerra falharam no propósito de despertar o povo 

infiel ao arrependimento e à volta ao Senhor. O eresta mento descreve o efeito devastador do vento abrasador que veio do deserto. A ferrugem é uma doença que mata a clorofila das plantas e lhes rouba a vida.

Seguindo o texto modificado por Wellhausen, a IiSV traduz: “Eu devastei as vossas hortas e as vossas vi-nhas.” O Texto Massorético é complicado mas claro. 

O gafanhoto devastou as hortas e as vinhas, as figueiras e as oliveiras.  A peste, à maneira do Egito  indica a ma-lignidade das pestes que têm a sua origem no Egito : “do-enças malignas do Egito” (Deut. 7:15). A frase matei  os vossos jovens à espada  não se refere a qualquer bata-lha, ou a qualquer ocasião, mas ao longo conflito com a Síria quando Hazael e BeneHadade mataram numerosos 

 jovens de Israel (II Reis 8 a 12; 13:37) . Os cavalos fo-ram levados pelo inimigo. Em Êxodo 22:9 falase tam-bém de animais levados em cativeiro, usandose a mes-ma palavra que descreve o cativeiro dos homens.  E 'eu 

 fiz subir o fedor dos vossos arraiais aos vossos narizes.

Page 96: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 96/201

O LIVRO DE AMOS 97

A matança foi tão grande que o mau cheiro dos cadáve-

res não sepultados causou a peste que seguiu a guerra.“Subverti alguns dentre vós,

como Deus subverteu a Sodoma e Gomorra, e vós fôstes como tiçâo arrebatado do incêndio; 

contudo, não voltastes a mim,diz o Senhor” (4:11).

O ponto de comparação não é a maneira da subver ção de algwns dentre vós  e a destruição de Sodoma e Go-morra. As cidades foram destruídas por enxofre e fogo (Gên. 19:24,25), mas a devastação dentre vós foi re

 pentina,  talvez como o resultado de um terremoto forte, segundo a opinião geral. Alguns pensam que o profeta se refere à situação crítica no reinado de Jeoaeaz, quan-do Israel foi arrebatado como tição da fogueira. De qual-

quer maneira, o profèta está declarando que á nação foi quase exterminada. Era o castigo mais severo que o po-vo tinha recebido como admoestação da parte do Senhor. Mas o povo insensato não podia reconhecer o significado de qualquér admoestação da parte do Senhor .

Assim estas visitações divinas acentuaram a ceguei-ra de Israel, mostrando que o povo, na sua infidelidade, 

tinha perdido a capacidade de discernir ou reconhecer o propósito amorável do Senhor nestas admoestações. Ca-da uma das cinco estrofes começa com o verbo perfeito na primeira pessoa do singular, representando o próprio Senhor como quem está falando: Fui éu que vos feri; fui eu que vos dei a fome; fui éu que vos retive a chu-va; fui eu que enviei a peste; fui eu que vos subverti com 

a decadência. Israel desprezou o propósito divino de ca-da uma destas visitações, e não quis voltar ao seu Deus.

O Israel injusto tem que se encontrar com o seu Se-nhor, o Deus da justiça.

L. A. 7

Page 97: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 97/201

98 A. R . CRABTREE

“Portanto, assim te farei, ó Israel!

E porque te farei isso, preparate, ó Israel, para te encontrares com o teu Deus.

Pois, eis, que é êle quem forma os montes e cria os ventos, e declara ao homem qual é o seu pensamento, 

quem faz da manhã trevas, e pisa sôbre os lugares altos da terra; 

o Senhor, o Deus dos Exércitos, é o seu nome”(4:1213).

 Portanto,  visto que as visitações de disciplina (4:4 11) falharam no propósito divino de levar Israel ao ar-rependimento, êle tem que sofrer as conseqüências dos seus pecados de injustiça, da infidelidade para com o Se-

nhor e da obstinada recusa de reconhecer e responder aos apelos carinhosos da providência divina que lhe oferecia o privilégio de renunciar a rebelião e voltar ao seu Deus.

• Que ameaça é indicada pela palavra assim?  Qual será o sofrimento de Israel? O profeta não especifica. O cas-tigo não especificado pode ser mais terrível na imagina-ção do povo, justamente por esta razão.

Nos desastres mencionados pelos versículos anterio-res, o Senhor tinha mostrado ao povo escolhido os ca-racterísticos da fidelidade divina, do amor imutável e da 

 justiça inexorável do Senhor do Concerto. Os terrores do castigo divino já enumerados apresentamse como ad-moestações da punição final que Israel pode esperar. É impossível determinar o pensamento exato do profeta 

sôbre o castigo futuro dé Israel, mas é provável que o sofrimento do povo, na história subseqüente, fôsse maior do que o profeta esperava. Mas Israel tinha repudiado as suas responsabilidades para com o Concêrto do Sinai, e se tinha recusado a entender a realidade da providência

Page 98: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 98/201

O LIVRO DE AMÓS 99

carinhosa do Deus da justiça revelada na mensagem do mensageiro Amós. Inevitàvelmente chegará o momento quando terá que enfrentar o julgamento final do Senhor da justiça.

A ameaça indefinida do profeta foi plenamente cum-prida no sítio de três anos de Samaria pelo exército pode-roso de Salmanaser V e Sargão II da Assíria. É provável que o genocídio praticado contra Israel pelo conquista-dor represente um castigo mais terrível do que o profeta 

tivesse contemplado. Prepara-te, ó Israel, para te encontrares com o teu  Deus.  Nos desastres mencionados, Deus procurava fa-zer conhecidos certos atributos da sua personalidade que o povo se recusou a tomar em consideração. Não quis re-conhecer a verdadeira natureza da justiça do Senhor. Os homens injustos podiam se recusar a entender o signi-

ficado das operações da justiça divina na vida nacional, mas não podiam fugir do encontro iminente com o Senhor da justiça no castigo da nação infiel. A hora estava che-gando quando Israel teria que receber a punição mereci-da. Depois de tanta rebeldia, tanta obstinação e tanta ignorância voluntária da justiça divina, Israel será cha-mado para prestar contas perante o Senhor que o libertou da escravidão e o escolheu para ser o seu povo sacerdo-

tal. A possibilidade do arrependimento de Israel, ou pelo menos de um restante de Israel, não está positivamente excluída desta exortação, mas o pensamento do profeta é claro. O dia do arrependimento de Israel, como nação, tinha passado, e êle precisava ficar avisado e assim pre-parado para o encontro com o Senhor da justiça, e rece-ber a sentença final da condenação.

Depois de fazer uma explicação do versículo, Cal vino declara que não é impróprio apresentar a possibi-lidade do arrependimento de Israel.

“Preparate, então, para te encontrares com o teu

Page 99: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 99/201

ío ó ' a :  k   .  c r a b t r e e

Deus. Embora tu sejas digno de ser destruído, e 

embora o Senhor tenha áparentemente fechado a, porta da misericórdia, e o desastre té encontre em todos os lados, tu podes ainda mitigar a ira de Deus, na condição de ficares preparado para o encontro” 6

Ültimamente alguns estudantes desta profecia têm chamado uma atenção especial aos versículos 4:13; 5:8; 

9:56, reconhecendoos como porções de um hino anti-go. O Dr. John D. W. Watts, do Seminário Teológico de Ruschlikon, apresenta uma análise e exposição destas três passagens no capítulo três do seu monógrafo, Vision anã Prophecy in Amós.  Êle pensa que o hino é mais antigo do que a profecia de Amós, e que o próprio pro-feta citava estas passagens para reforçar a sua men-sagem .7 Outros julgam que estas doxologias foram escri-tas depois do tempo de Amós, e interpoladas na profecia, por um escritor algum tempo depois da época do profe-ta .8 Mas a teologia das passagens concorda perfeitamen-te com a da profecia em geral, e tem cabimento no con-texto .

Alguns alegam que o estilo dos versículos indica que não foram escritos por Amós, citando especialmente o uso 

freqüente dos particípios nas passagens. Mas Amós era poeta, e mostra em tôda parte da obra a destreza literá-ria em adaptar o estilo poético ao assunto que apresen-ta. Quando Amós quis descrever ação linear, êle usou particípios freqüentemente, como se vê nos versos 1 e 3 do capítulo cinco, logo em seguida.

A teologia do versículo, denominado doxologia por 

alguns, é o resumo dos pensamentos teológicos que se encontram em tôda parte da profecia, especialmente nos

6.  Commentaries on tlie Tivelve Minor Prophets,  Vol. II, p. 244.7. P . 51, e se g.8. Op.   c i í . / p . 808.

Page 100: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 100/201

O LIVR O D E , AMÓS 101

nomes de Deus, o. Senhor Javé, 3:7,11,13; 4:2,5, e em mui-tos outros lugares. Deus se apresenta através da profe-

cia como o Criador, como o Senhor das nações, das leis da natureza física e das leis éticas e morais.Assim, neste versículo, o Senhor Deus dos Exércitos 

é aquêle que forma os montes, cria os ventos e declara ao homem qual é o seu pensamento.  Em Jeremias 17:10 e o Sal. 139:2, o Senhor declara ao homem, por inter-médio de seus mensageiros, que êle esquadrinha o cora-

ção humano, e mostra o seu estado perante Deus. Êle jul-ga não somente os atos, como também os pensamentos e as emoções (3:10; 4:1) .

O Senhor Javé dos Exércitos é Aquêle que vai pi-sando os altos da terra. No seu egoísmo e na sua torpeza, Israel tinha reduzido o seu conceito do Senhor até ao pon-to de pensar que poderia comprar os seus favores e as 

suas bênçãos com cerimônias, festas, ofertas e dízimos. Assim o profeta procura acordar o povo pela apresenta-ção do Senhor Javé na sua grandeza, como o TodòPo deroso nos céus e na terra, o Onisciente e o Soberano nas obras da criação.

Canto Fúnebre, Anunciando a Destruição Iminente de  Israel,  5:13 '

“Ouvi esta palavra, que levanto como lamentação sôbre vós, 

ó casa de Israel:Caída é a virgem de Israel, para nunca mais se levantar; abandonada está na sua terra, ,não há quem a levante.Pois assim diz o Senhor Javé: A cidade que sai em número de mil, terá de resto cem, e a que sái em número de cem, terá dez, para a casa de Israel” (5:13) • , . . .

Page 101: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 101/201

102 A. R. CRABTREÉ

O profeta começa um novo discurso com as palavras, Chovi esta palavra. Pronuncia uma lamentação profunda-mente triste sôbre a nação caída. Êle deseja acordar, se fôr possível, o coração endurecido de seus ouvintes, e os levar ao arrependimento. Mas a lamentação indica que não tinha mais esperança. Esta mensagem, nos dias prósperos de Jeroboão II, representa o grande contraste entre o entendimento do povo em geral, e a revelação profética sôbre a condição moral e religiosa de Israel. 

Israel não podia compreender a significação da justiça divina. Não estava em condições de perceber como o Deus de Israel podia ficar profundamente dessatisfeito com o seu povo escolhido, tão próspero e tão religioso. Não tinha notado, até então, qualquer indício de que o Senhor pretendia mandar sôbre a nação os castigos ter-ríveis anunciados pelo profeta. Nestas circunstâncias, o mensageiro do Senhor reconheceu a necessidade impe-riosa de expor cada vez mais claramente os pecados, e o destino trágico do povo obstinado nas suas esperanças falsas. Acostumado a tapar os ouvidos contra qualquer repreensão desagradável, Israel ficou cada vez mais en-durecido .

!Mas o profeta fiel não podia deixar de apresentar o apêlo do Senhor Javé, o Deus dos Exércitos dos céus e 

da terra. Ouvi esta palavra que levanto como lamentação sôbrê vós, 6 oasa ãe Israel.  Se não há mais esperança para a nação caída, por que o profeta pronuncia a elegia, ou a lamentação, sôbre a queda do reino, quando ainda está em plena prosperidade? A poesia é exemplo perfei-to do hino fúnebre. Tem o ritmo geralmente usado nas poesias de lamentação, três acentos, seguidos pòr dois. Preservamse até na. tradução os característicos da ele-gia.

Üsase a forma completa do verbo cair  para acentuar o evento já realizado no plano de Deus, e do ponto de vista do profeta. A palavra hebraica, , cam,  indica

Page 102: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 102/201

O LIVRO DE AMÓS 103

uma morte violenta, especialmente a morte na batalha (II Sam. 1:10; Sal. 10:10; Prov. 11:28). O têrmo vir

 gem de Ismel   é usado aqui pela primeira vez, e mais tar-de em Jeremias 18:13; 31:4,21. Referese à castidade de Israel, no seu idealismo, como a nação escolhida, salva pela graça divina para servir como o povo messiânico do Senhor. A queda de uma virgem era uma grande tra-gédia em Israel. A tragédia de Israel, como nação, é mui-to mais lamentável. A frase  pura nunca mais se levantar   referese à nação como tal. Havia esperança de per-dão e misericórdia, para as pessoas que se arrependes-sem de seus pecados, mas estas teriam que sofrer como membros da nação pecaminosa.

A lamentação de Amós não é uma mera dramatiza-ção. Veio do coração entristecido pela contemplação da morte do povo tão privilegiado na sua história, na sua origem miraculosa, nas bênçãos divinas e na sua esco-

lha como nação messiânica. Está morrendo tràgicamente sem cumprir as promessas da sua vigorosa juventude, e sem cumprir a grande missão para a qual foi escolhida e orientada.

No versículo três, o profeta transmite a sentença divina sôbre a nação infiel. Descreve em têrmos concre-tos o desastre da queda mencionada no versículo anterior. Do exército de mil soldados que qualquer cidade possa mandar para a guerra em defesa da pátria, nove décimos serão tràgicamente exterminados . No tempo de Amós, os soldados foram chamados, segundo as áldéias e cida-des, mas, antes do reinado de Salomão, foram inscritos segundo as tribos e famílias. A linguagem é geral, fi-gurativa e representa o desastre que havia de cair sôbre qualquer grupo, ou grupos, de soldados que pudessem sair 

em defesa do reino contra o inimigo. Um destino comum cairá sôbre todos os grupos de defensores, grandes ou pequenos. Não há esperança para a nação infiel; o seu destino trágico está determinado.

Page 103: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 103/201

104 A. R. CRABTREE

Mais uma vez o profeta exortou os israelitas ao arrependimento, sabendo que o seii destino, como nação, 

 já está determinado. Mas enquanto Israel permaneceu, ele representava as doutrinas da justiça divina perante as nações, e assim precisava arrependerse dos seus pe-cados e demonstrar a fé como o povo do Senhor. O pro-feta sentiase incumbido de apresentarlhe ainda a es-

perança de perdão na condição de arrependimento e f é .Contraste entre a Religião de Israel e a Busca Genuína 

do Senhor,  5:46

“Pois assim diz o Senhor à casa de Israel: Buscaime, e vivei.

Mas não busqueis a Betei, e não entreis em Gilgal, nem passeis a Bersebâ; porque Gilgal certamente irá ao cativeiro, 

e Betei será desfeita em nada.Buscai ao Senhor e vivei,para que não irrompa como fogo na casa de José e devore, sem que ha ja em Betei quem o apague”

(5:46).O profeta não vacila na certeza de que está apre

sentando ao povo a mensagem do Senhor, e não simples-mente os seus próprios pensamentos. Mas o seu espírito apoia com tristeza a mensagem que proclama.  Pois assim  k liz o Senhor à casa de Israel.

Ê profundo o sentido dos dois imperativos, buscai-me, 

, e vivei,  *p|Tl • O profeta está pensando em co-mo Israel poderia evitar o perigo iminente da morte na-cional, e vivér em comunhão com o seu Deus. Mas as verdades eternas proferidas pelos profetas freqüente-

 Exortações e Denúncias,  5:415

Page 104: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 104/201

Page 105: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 105/201

106 A. R . CRABTREE

favor divino para continuar nas práticas cruéis da injus-

tiça. Pode viver e andar com o Senhor aquêle que deseja de coração ficar livre do domínio do pecado e viver em comunhão com a santidade e a justiça de Deus.

O culto dos israelitas nos santuários de Betei e Gil gal era incompatível com a busca genuína do Senhor, o Deus de Israel. O Senhor que os israelitas cultuaram nestes santuários não era mais do que uma caricatura 

do Deus santo e justo dos céus e da terra. O propósito egoísta no culto cerimonial de Israel em Betei e Gilgal reduziu o Deus Onipotente ao nível moral de Baal e dos outros deuses nacionais. Pelo culto vulgarizado nestes santuários, Israel tinha perdido o verdadeiro Deus, a fonte de vida. Na religião pervertida, os israelitas tinham prostituído o nobre nome de Betei. Oséias deu a Betei o nome que merecia,  Bete-Aven, casa de vaidade, idolatria 

(4:15; 10:5) . Betei, casa de Deus,  ficaria reduzida a nada.

Alguns pensam que a frase nem passeis a Berseba é uma interpolação. Os comentaristas mais recentes, apro-fundandose no estudo da profecia de Amós, não concor-dam com o modo de um grupo de críticos que vão ao ex-tremo na descoberta de passagens “que o profeta não po-

dia ter escrito”. É mais provável que o próprio profeta se referirá a certos israelitas, que no seu zêlo julgavam que o antigo santuário de Berseba, tão importante na vi-da de Abraão, Isaque e Jacó, era (Gên. 21:14, 31, 33; 26:23, 33; 28:10; 46:1) mais importante do que Betei e Gilgal. Nestas longas viagens êles podiam demonstrar o seu zêlo religioso. Mas o culto que procura ganhar o apoio do Senhor para a vida pecaminosa não tinha mais valor em Berseba do que tinha em Betei e Gilgal, ou qualquer outro lugar.

Havia uma aldeia ao oriente de Betei, chamada Bete Aven, que o povo de Betei desprezava (Jos. 7:2; 18:12; I Sam. 13:5; 14:23).

Page 106: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 106/201

O LIVRO DE AMÕS 107

É interessante a aliteração do Hebraico na declara-

ção : Gilgál certamente irá ao cativeiro,  “haggilga galeh vigleh”. Aquela declaração podia ficar gravada na me-mória dos ouvintes.

O profeta repete a exortação,  Buscai <ao Senhor e viv e i e acrescenta uma terrível ameaça:  para que não irrompa como fogo na casa ãe José e devore, sem que haja em Betei quem o apague. Ê a ira do Senhor contra a in-

 justiça que ameaça irromper e devorar a casa de José. A ira de Deus é representada pelo fogo em Deut. 32:22;  Ez.  22:21.

A frase  para que não  indica a possibilidade de que a destruição de Israel ainda podia ser evitada. Alguns comentaristas insistem em que esta idéia não concorda com o teor da profecia. Dizem que as exortações ao ar-rependimento, 5:46 e 5:1415, não podem ser de Amós 

porque êle tinha certeza de que a destruição de Israel já  era determinada, e portanto inevitável. Mas foi o pró-prio Israel que determinara a Sua destruição, pela rebe-lião contra Deus, e pela volta a Deus por arrependimento e fé poderia evitar a destruição. Se o profeta reconhecia que o destino de Israel, como nação, já fôra determinado, ainda havia a possibilidade de que alguns israelitas se 

pudessem arrepender dos seus pecados, e buscar ao Se-nhor e viver. É mais fácil crer que Amós escreveu estas exortações do qué achar circunstâncias em que fôssem acrescentadas por um escritor subseqüente, quando o perigo da destruição nacional estava se tornando cada vez mais evidente, ou depois que a nação foi destruída.

Amós, homem profundamente religioso, e mensageiro de Deus, sempre acreditava na possibilidade do arrepen-dimento do pecador. Êle persiste em apresentar as con-dições eternas e universais da salvação de pecadores . Assim a pregação persistente do profeta salvaguardava o seu conceito sôbre o amor de Deus e a fidelidade e jus-tiça do Senhor dos céus e  da terra.

Page 107: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 107/201

108 A. R. CRABTREE

Os nomes José e Efraim são usados, às vêzes, para 

distinguir o reino de Israel do reino de Judá, ou de Israel do sul (U Sam. 19:20; Ob. 18; Zac. 10:6; Amós 5:15; 6:6). Betei, o lugar principal do culto de Isráel, aqui é usado para significar o reino de Israel.

O Tratamento Cruel dos Pobres perante o Todo-Poderoso?5:713

“Vós que converteis o juízo em absinto, e deitais por terra a justiça!Aquêle que fêz a Plêiades e o Õriom, 

e torna a densa treva em manhã, e escurece o dia em  noite; 

que chama as águas do mar,e as derrama sôbre a superfície da terra;

Javé é o seu nome Que faz vir súbita destruição contra o forte, 

de sorté que venha destruição sôbre a fortaleza"(5:79).

Aquêles que praticam a injustiça e se recusam a ouvir a mensagem do Senhor trazem sôbre si o castigo do Deus soberano. Parece que o verso sete não tem evi 

. dente conexão com o anterior, nem com a doxologia, ou hino, que segue nos versículos oito e nove. O profeta gosta de usar particípios, apresentando em sucessão rá-pida um pensamento após outro, sem se preocupar muito com as conexões lógicas. Provàvelmente o particípio plu-ral, ides convertendo>ou tr<mstomanão,  D’’D5in , ligase, no pensamento do profeta, com a casa de José. Buscai 

ao Senhor, vós da casa de José que ides convertendo  o  juízo (justiça legal) em absinto. Êste é o ponto de vista da RSV e das versões em português, que procuram esta-belecer ligação com o apêlo no versículo anterior, tra-duzindo o particípio como vocativo, Vós que converteis.

Page 108: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 108/201

O LIVRO DE AMÕS 109

São os próprios juizes, encarregados da administração 

da justiça^ mas subornados pelos ricos, que deitam por terra a justiça, e convertem em absinto os direitos dos que não têm defesa.  Absinto, ou álosna,  é uma planta amarga, e o têrmo figurativo indica a amargura da in- justiça praticada contra os fracos, sem recursos para se ■defenderem. Nas suas invectivas Amós focaliza os prín-cipes, os juizes e os sacerdotes, mas a sociedade em geral foi arrastada ao nível moral de seus dirigentes.

Os comentaristas dos últimos anos têm estudado e discutido, com muito interesse, o texto da profecia de Amós, oferecendo emendas e modificações para esclare-cer certas dificuldades textuais. Mas enquanto êles dis-cordam uns dos. outros, precisamos examinar com cuida-do ras> mudanças'sugeridas. O Dr. John D. W. Watts oferece várias sugestões para esclarecer a falta de har-

monia entre os versículos sete e nove do Texto Masso rético. Êle modifica o texto do versículo 7 para ficar em harmonia com o contexto, e inclui o versículo como par-te do hino. As mudanças sugeridas pelo Dr. Watts re-sultam na seguinte versão dos versículos 6 a 9:

“Buscai a Javé e vivei,Para que não irrompa com fogo, 

que consuma sem apagador.O Senhor faz a justiça escoar do alto,E estabelece a (justiça para a terra;

Fazendo Plêiades e o õriom,Tornando a densa treva em manhã;

E escurecendo o dia em noite.Aquele que causa Tauro vencer Capela,

E faz Tauro acometer Vindemiatrix.

É êle, cujo nome é o Senhor.” 2Deixou fora a última parte do versículo 8 porque 

consta no trecho 9:56, e não faz falta aqui. A recons-

2 . Op. cit.,   p . 56

Page 109: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 109/201

110 A. R . CRABTREE

trução é engenhosa, e remove certas dificuldades do tex-

to. Surge, porém, o problema de se justificar tais mu-danças radicais, como estas, do Texto Massorético, sem o apoio de outros manuscritos. Fosbroke pensa que a doxologia é uma interpolação.3

O profeta proclama em têrmos sublimes o poder oni-potente do Senhor dos céus e da terra, para com os israe-litas que tinham procedido levianamente com o seu Deus. Explica aos seus ouvintes alguns característicos do Deus de Israel. O Senhor que f êz Plêiades e Õrion pode tra-zer a destruição completa sôbre o povo infiel. Plêiades é a constelação de sete estréias brilhantes. Estas duas constelações, Plêiades e Õriom, são mencionadas também em Jó 9:9; 38:31. Êstes dois grupos de estréias conspí-cuas representam o maravilhoso poder do Criador, e â grandeza da criação divina. Se a onipotência de Deus na 

natureza física é absoluta, certamente êle pode executar a justiça em cumprir a ameaça contra o povo infiel. Os israelitas daquela época, como muitos homens dos nossos dias, retiveram o nome de Deus, mas com a fé fraca e morrediça. O seu conceito de Deus é algo diferente do Criador e Governador dos céus e da terra.

Cientistas modernos sabem explicar a rotina das es-

tações, da sementeira e ceifa, do dia e da noite, pelas re-voluções da terra e os movimentos dos corpos celestiais, mas não sabem explicar o mistério da origem do poder que regula perfeitamente todos êstes movimentos para o bemestar da humanidade. O pensamento do profeta nes-te versículo corresponde mais ou menos com o do salmis-ta, 8:15. Ê também o Senhor quem chama as águas do mar e as derrama sôbre a face da terra. Ê o sol que le-vanta as águas do mar em vapores, e são os ventos e ou-tras fôrças que as distribuem sôbre a superfície da terra como chuva preciosa, mas tudo isto é controlado e diri-

3. Op. c it .}  p. 812

Page 110: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 110/201

O LIVRO DE AMÓS 111

gido pelo Governador do universo. No seu orgulho, o 

homem pode construir as suas fortalezas de defesa que considera indestrutíveis, mas o Senhor, no seu poder ir-resistível, pode devastálas. O Criador pode ocasionar a destruição súbita do forte e destruir as suas fortalezas.

O particípio hifil   do verbo balar,  >que traduzi-mos como o que faz vir súbitamente,  consta apenas mais quatro vêzes no Velho Testamento: Jó 9:27; 10:20; Sal. 39:14 e Jer, 8:18, traduzido de várias maneiras. Mas o significado de vir súbita  destruição, ou vir subitamente a destruição, cabe bem no contexto, e dizem os eruditos que concorda com o sentido do cognato arábico. O Se-nhor tem o poder de trazer súbita destruição contra o forte e sôbre as suas grandes fortificações.

O verso 7, segundo o Texto Massorético, concorda com a descrição dos pecados de Israel, condenados em 10 

a 13, e não tem ligação direta com o versículo seis ou oito. As instituições estabelecidas para manter a justiça tinham se convertido em veículos da injustiça.

O profeta continua com as denúncias das transgres-sões estúpidas de Israel:

“Odeiam ao que repreende na porta, e abominam ao que fala a verdade” (5:10) .

No hebraico o número da pessoa é mudada, às vê-zes, incoerentemente da segunda para a terceira. A SBB usa aqui a segunda pessoa, para concordar com a de-claração seguinte, mas nós conservamos as formas he-braicas. Os pecadores endurecidos odeiam a luz da ver-dade. Os opressores ricos dominaram os tribunais da jus-tiça que se assentavam no espaço em redor da porta da 

cidade para ouvir as contendas entre o povo e dar as suas decisões. Qualquer pessoa que tivesse a coragem de levantar a voz em protesto contra a injustiça dos opres-sores e dos juizes corrutos foi odiada e abominada. Êste pecado de odiar a verdade e abominar a justiça é caracte-

Page 111: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 111/201

112 A. R. CRABTREE

rístico dos poderosos carnais que têm o poder, em muitas circunstâncias, de impor a sua própria vontade para ga-

nhar o que êles cobiçam, sem qualquer compaixão para com as vítimas.  Ao que repreende na porta  pode signi-ficar o juiz honesto, o profeta, como Amos que foi de-nunciado e ameaçado pelo sacerdote em Betei, ou a vítima roubada pela decisão de um juiz injusto.

“Portanto, porque pisais aos pés o pobre, e dêle exigis tributo de trigo, 

tendes edificado casas de pedras lavradas, mas não habitareis nelas; 

tendes plantado vinhas desejáveis, mas não bebereis do vinho delas” (5:11).

O profeta declara que aquêles què se enriqueceram pela opressão dos pobres não terão o prazer de desfrutar 

dos benefícios do seu despojo. Porque pisais o pobre e edificais casas de pedras lavradas, ao custo das vítimas roubadas, não tereis aproveitamento das riquezas assim acumuladas.  Não habitareis nas casas lavradas.  Exigin-do tributo de trigo  do pobre referese à extorsão por par-te do juiz injusto, ou de qualquer dono de terra que exi-gia rendas exorbitantes do arrendatário (Lev. 25:37; Deut. 23:19). Estas referências indicam abusos em dar dinheiro à usura e víveres por amor de lucro.

Os que assim se enriqueceram pela prática constan-te da injustiça construíram para si casas de pedras la-vradas, sólidas, edificadas para durar eternamente. Es-tas se distinguiram das casas comuns, edificadas dè quais-quer pedras sôltas, ou de tijolos de barro sêco. “Os tijo-los ruíram por terra, mas tornaremos a edificar com pe-

dras lavradas” (Is. 9:10) . Ao invés de habitar nas casas confortáveis, e de desfrutar das riquezas acumuladas, êstes ricos e poderosos serão exilados da sua terra. Ti-nham plantado vides da melhor qualidade, na esperança

Page 112: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 112/201

O LIVRO DE AMÓS 113

de ter bom vinho para aumentar a alegria da vida abun-

dante. Mas na linguagem forte que causava a maior decepção possível, o profeta descreve o destino calami-toso do povo infiel.

O versículo 12 é mais uma denúncia da venalidade dos encarregados da administração da justiça e dos opres-sores dos pobres.

“Porque sei quão numerosas são as vossas trans-

gressões,e quão graves os vossos pecados: vós que afligis o justo, e tomais suborno, 

e rejeitais os necessitados na porta” (5:12).

O Senhor se apresenta como aquêle que conhece per-feitamente a ignorância, a fraqueza e a iniqüidade de Is-rael. Numerosas e multiformes são as vossas transgres-

sões, graves e poderosos os vossos pecados. Enquanto a repetição é um paralelismo, as duas palavras significam qualidades diferentes de iniqüidade.  A transgressão  é a rebelião deliberada; o  pecado  é o desvio habitual da jus-tiça. Os israelitas eram teimosos nas várias maneiras de mostrar o seu desprêzo da justiça, e poderosos nos modos de se desviarem do padrão divino de retidão.

Depois destas acusações gerais, o Senhor especifica, 

por intermédio do seu mensageira, exemplos das trans-gressões e pecados do povo infiel. Com o uso do particí pio, êle declara com ênfase que os transgressores e pe-cadores perseguem habitualmente o justo. A palavra afligir,  IIU, é forte na sua larga significação: constran ger, apertar, afligir, perseguir, tratar com inimizade.-  O injusto aborrece o justo. O Garáter do justo serve de 

repreensão à injustiça. O particípio do têrmo tomar, "»IP?. indica que os juizes ficaram acostumados a exigir dinheiro dos ricos antes de fazer as decisões contra ó 

 justo. A palavra traduzida para  peita  ou suborno,geralmente significa resgate, redenção,  ou o prêço de res

L. A. 8

Page 113: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 113/201

114 A. R. CRABTREE

gate, o prêço que o criminoso pagava pela redenção da vida (Êx. 21:30; Núm. 35:31) . A palavra significa aqui 

o  prêço, o suborno  oferecido ao juiz, como em I Sam. 12:3. Esta prática era contrária ao mandamento expres-so na lei de Núm. 35:31.

O escritor passa da segunda para a terceira pessoa, na declaração: êles rejeitam os necessitados na porta, mas referese às mesmas pessoas. O pecado contra os necessitados tornouse mais grave pelo modo de os re-pelirem quando desejavam defender os seus direitos. O hifil do  verbo H2D3 significa  fazer curvar, desviar, abai

 xar, oprimir.  Desprezaram não somente o direito do jus-to, mas desprezaram também a sua dignidade, o valor superior da sua pessoa.

“Portanto, o prudente guarda silêncio em tal tempo; porque é um tempo mau” (5:13) .

O versículo é considerado difícil por alguns comen-taristas. Fosbroke o considera como interpolação. É me-lhor traduzir os verbos pelo presente. Fosbroke insiste em que nyn significa naquele tempo,  e não em tal  tempo.1* Mas referese ao tempo que o profeta está des-crevendo. Êste é claramente o sentido do hebraico. A tradução de Keil e Delitzsch: “Portanto, quem tiver pru-

dência neste tempo,  guardará silêncio, pois o tempo é mau”, concorda essencialmente com a da RSV. O tempo era mau para o oprimido, mau para aquêle que hão fôsse prudente, e mau para o profeta. É claro que o profeta não está repreendendo o prudente. A prudência aconse-lhava silêncio, porque a corrução prevalecia de tal manei-ra que qualquer palavra dirigida aos malfeitores seria contraproducente e despertaria nêles maior obstinação.

Mas o profeta Amós, como Jeremias, não podia dei-xar de falar (Jer. 5:14) . O mensageiro de Deus em tal

í , Oy. cit.,   p. 815

Page 114: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 114/201

O LIVRO DE AMÕS 115

tempo não pode ser  prudente,  quanto ao cuidado da sua própria vida, por causa da sua responsabilidade como pro-feta, com a incumbência de entregar ao povo a mensa-gem do seu Senhor. Tinha que falar a palavra do Senhor quando o povo não quis ouvila, e quando os inimigos da verdade procuraram silenciálo por ameaças, persegui-ções, ou pela morte. A fidelidade ao Senhor, o amor da verdade, e o interêsse na libertação do povo da calami-dade impulsionam, impelem e obrigam o profeta a fa-

lar. Quando o homem prudente fica silencioso, tornase até maior a responsabilidade do profeta. Os oprimidos prudentes guardavam silêncio, porque as suas queixas poderiam trazer sôbre êles sofrimentos maiores da parte dos injustos sem compaixão. A sociedade era tão incor-rigível que não podia suportar a luz brilhante da palavra do Senhor. Há circunstâncias em que o profeta, e até o pastor, tem que falar, seja qual fôr a conseqüência, ou o perigo pessoal.

“Buscai o bem e não o mal, e assim o Senhor, o Deus dos Exércitos, estará convosco, como dizeis.Odiai o mal e amai o bem, 

e estabelecei o juízo na porta; talvez o Senhor, o Deus dos Exércitos,

se compadeça do restante de José” (5:1415). A Vida de Comunhão com Deus Ê Condiciona,l,  5:1415

Aparentemente o profeta ainda tem certeza do cas-tigo iminente de Israel como nação, e ao mesmo tempo sentese obrigado, como o anunciador de Deus, a pregar ao povo a mensagem de salvação. A exortação de buscar 

e amar o bem é quase a mesma dos versos 46, mas o profeta acentua mais neste apêlo a necessidade imprete rível do arrependimento do mal, e do amor ao bem, como condição de receber a graça salvadora do Senhor, o Deus dos Exércitos.

Page 115: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 115/201

Page 116: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 116/201

O LIVRO DE AMÓS 117

des o bem, assim, e só assim, o Senhor, o Deus dos Exér-citos estará convosco, como dizeis.”

Arrependeivos dos vossos graves e numerosos pe-cados e transgressões. Ao invés de odiar ao que vos re-preende na porta, amaio, porque êle é o mensageiro do bem. Ao invés de roubar e extorquir os bens dos fracos, mostrailhes compaixão. Para amar o bem é absoluta-mente necessária uma mudança radical no vosso modo de pensar, sentir e viver. Precisais amar a justiça. Is-

rael não podia buscar a Deus enquanto não entendesse a natureza de Deus. Êles precisavam responder ao Se-nhor com o cumprimento das promessas solenes que fi-zeram quando aceitaram o Concêrto do Sinai, com o amor e obediência, e com a entrega de si mesmos, sem reserva, ao seu Redentor. Violentos, rapinantes, fraudulentos, êles tinham que. abandonar tôdas estas práticas contra a jus-tiça, e começar a fazer amoràvelmente o bem, se real-mente quisessem receber o apoio e as bênçãos do Senhor.

Estabelecei o  juízo  na porta. Esta palavra  juízo não traduz o sentido de mishpat,  que significaaqui o julgamento legal absolutamente justo,  (righteous 

 judgment,  como se diz em inglês). Ê a justiça humana que se distingue da justiça que vem de Deus, isto é, a  justificação,  np-re. Os juizes de Israel ficaram encar-regados de julgar retamente,  como representantes fiéis do Senhor. A palavra hebraica significa o padrão divino da [justiça que os juizes tinham a obrigação de observar em tôdas as suas decisões. Mas a corrução prevalecia nos tribunais públicos que funcionavam na porta, e não havia mais amor à eqüidade na administração da justiça.

O primeiro passo no arrependimento necessário pa-

ra Israel seria o aborrecimento do mal. É um passo in-dispensável mas tem que ser completado pelo amor à 

 justiça, ao próximo e a Deus. Israel não podia abando-nar a prática do mal, porque achou o seu maior prazer

Page 117: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 117/201

118 A. R. CRABTREE

nos bens que adquiria por opressão, roubo e outras for-

mas da injustiça. Não podia praticar o bem sem o ver-dadeiro amor do bem. Israel precisava estabelecer a ad-ministração da justiça nos lugares públicos e na vida so-cial. A prática da justiça é a demonstração do arrepen-dimento por obras positivas, motivadas pelo amor.

A palavra talvez   indica que a medida da iniqüidade de Israel é tão grande que seria difícil para Israel de-monstrar a mudança radical da vida necessária para re-ceber o perdão divino. O restante de José   não se refere à condição de Israel no tempo do profeta, porque a na-ção se tinha recuperado das devastações que sofrera das invasões de Hazael e BeneHadade (II Reis 10:32,33; 12: 3,7), e tinha reconquistado dos sírios o seu território original (II Reis 13:23 e seg.; 14:2628). Amós apre-senta, nestas palavras, a esperança de que pelo menos um 

restante de José se arrependa e seja salvo.O Julgamento de Israel pelo Senhor dos Exércitos, 5:1625

Nesta secção o profeta discute a lamentação de Is-rael com a vinda iminente do Senhor; o engano do povo a respeito do Dia do Senhor, e a rejeição das ofertas apresentadas ao seu Deus.

“Portanto, assim diz Javé, o Deus dos Exércitos, o Senhor:

Em tôdas as praças haverá pranto, em tôdas as ruas dirão: Ai! Ai!

Chamarão o lavrador para o pranto, e pára o chôro os pranteadorès profissionais, 

e em tôdas as vinhas haverá pranto, porque passarei pelo meio de ti,diz ò Senhor” (5:1617).

O profeta declara que haverá pranto entre tôdas as

Page 118: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 118/201

O LIVRO DE AMÓS 119

classes dos israelitas. Os habitantes das cidades, os la-vradores e vinhateiros, e até os pranteadores profissio-nais, levantarão a.s vozes em lamentação. Isto referese ao desastre de Israel, que o profeta está anunciando pela terceira vez. Os israelitas ouvem repetidas exortações do mensageiro do Senhor sem qualquer sinal de arrependi-mento. O profeta explica de novo as conseqüências da rebelião e da infidelidade de Israel. Alguns pensam que a palavra T lt f,  Senhor, no versículo 16 foi originalmente 

a primeira pessoa do hifil   de 13“), e deve ser tra-duzida como eu causarei pranto.  Não há, porém, ne-nhuma necessidade desta mudança. A tradução do tex-to como está é clara, e o texto hebraico é característi-co das declarações proféticas.  Portanto, assim diz Javé, rrin\ o Senhor, Deus dos Exércitos.

Nas praças de tôdas as cidades, onde a injustiça ti-nha sido praticada, e em todos os mercados, onde enga-navam e roubavam, haveria profunda lamentação. Os pranteadores dirão “Ai! Ai!” ou “He! He!”, no hebrai-co. Estas palavras que expressam a tristeza do deses-pero variam em línguas diferentes. Mas sempre constam de palavras curtas, em voz de profunda tristeza, da par-te daqueles que não mjem a voz no côro dos pranteado-res profissionais, pagos pelo serviço. Mas não haverá 

nada profissional ou artificial no pranto sôbre a calami-dade terrível de Israel. Os que sabem lamentar   referese aos profissionais, mas no desastre vindouro êles terão motivo de chorar, sem qualquer esperança de receber di-nheiro pelo pranto que surge do seu próprio sofrimento.

Haverá pranto, até nas vinhas, onde se ouve normal-mente os cânticos de alegria. O profeta apresenta a ra-zão porque tôdas as classes da sociedade vão prantear. Ò Senhor vai passar pelo meio do povo. Normalmente, não havia nada mais desejável do que uma visita do Se-nhor ao seu próprio povo. Mas vai  passar pelo meio de 

 Israel como o Deus da justiça.  Parece uma alusão à pas-

Page 119: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 119/201

120 A. R . CRABTREE

sagem do Senhor pelo Egito quando matou os primogê-nitos das famílias egípcias (Êx. 11:4; cap. 12) . Naquela 

ocasião o Senhor passou por cima das casas de Israel, e poupou os seus filhos. Mas nesta ocasião, o motivo do Senhor, na passagem pela terra de Israel, é o de punir a injustiça do povo que tinha recebido tantas bênçãos e tantos favores do seu Deus. Pior ainda, êle recusou ou-vir a mensagem do Senhor que lhes ofereceu a graça de perdão, se se arrependesse de seus pecados e voltasse ao 

Senhor. Portanto, receberão o castigo justo da sua obs-tinada injustiça.

 A Esperança Falsa de Israel no Dia do Senhor,  5:1820

“Ai de vós que desejais o dia do Senhor!Para que desejais o dia do Senhor?Ê dia de trevas e não de lüz.

Como se um homem fugisse de diante do leão, e se encontrasse com êle o urso;oú se entrasse em casa, e encostasse a mão à 

parede, e o mordesse uma cobra.Não será, pois, o dia do Senhor trevas e não luz?Não será completa escuridão, sem nenhuma

claridade?” (5:1820).

Ós israelitas desejavam ardentemente a vinda do dia do Senhor. Esperavam que neste grande dia o Deus de Israel manifestasse o seu supremo poder sôbre os ini-migos do seu povo Israel, e fizesse dêle a nação soberana na terra. Esta esperança já se tornara em doutrina,  ba-seada no conceito do Senhor como o Deus supremo, e na escolha de Israel para ser o seu povo e o seu repre-sentante entre as nações da terra. Portanto, o dia tinha que vir quando o Senhor se vindicaria, juntamente com o povo da sua escolha, na destruição de todos os seus ini-migos e no estabelecimento de Israel como o seu pode-roso representante entre tôdas as nações da terra.

Page 120: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 120/201

O X.IVRO DE AMÓS 121

Os ensinos teológicos de Amós, e o teor da sua pro-fecia, indicam que êle concordava com as verdades bási-cas da esperança messiânica. Êle, porém, apresenta um ensino contrário à crença que prevalecia entre os israe-litas. Israel, por causa da infidelidade para com o Se-nhor, tinha perdido o direito de ser o representante de Deus entre as nações. Ao invés de triunfar sôbre os seus inimigos no dia do Senhor, Israel será castigado, devas-tado, humilhado e entregue ao seu inimigo. Assim o Se-

nhor Javé, o Deus da justiça, ficará vindicado perante Israel e perante as nações. Outras nações também serão punidas no dia do Senhor, não meramente por serem ini-migos de Israel, mas como transgressores da lei moral do Deus de tôdas as nações.

Êste desenvolvimento da doutrina da justiça divina, em relação a todos os povos da terra, resultou do conhe-cimento cada vez mais profundo do caráter de Deus pelos profetas, começando com Amós e Oséias. Os profetas subseqüentes lutaram com o mesmo problema de aplicar o seu conhecimento de Deus ao problema complicado do cativeiro de Judá. Guiados pelo conhecimento cada vez mais claro da revelação do caráter de Deus, os profetas, seguindo os ensinos básicos de Amós, mostram como o Deus dos. céus e da terra opera constantemente na his-

tória de tôdas as nações. Atua especialmente na vida dos fiéis para o progresso do seu reino entre todos os povos e para a realização do dia do Senhor, quando todos os rebeldes serão vencidos e o seu povo dentre tôdas as na-ções, regenerado pelo amor divino, se regozijará em ver o dia de triunfo do reino de Deus no mundo

Aquêles que desejavam o dia do Senhor no tempo de Amós tinham que receber a informação sôbre o verdadei-ro significado do dia para êles. Em certo sentido, o dia do Senhor está sempre conosco, porque estamos sendo  julgados constantemente pela justiça de Deus. O julga-mento divino é um aspecto básico do dia do Senhor da

Page 121: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 121/201

Page 122: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 122/201

O LIVRO DE AMÓS 123

Quantas vêzes êste livro condena as manifestações religio-

sas que não representam o desejo de praticar a justiça, nem o querer de conhecer e fazer a vontade do Senhor. A religião da beleza divorciada do amor de Deus e do próximo não tem valor algum. As festas e as assembléias solenes tinham desviado o povo da verdadeira adoração do Senhor. A tendência de alguns teólogos modernos de associar intimamente os profetas e os sacerdotes do 

Velho Testamento, no seu ponto de vista sôbre a religião, não tem nenhuma base na profecia de Amós. O profeta visitou os santuários dos sacerdotes, não porque estives-se em simpatia com êles, mas para condenar a sua influ-ência na corrução do povo.

A palavra 111*1 significa cheirar.  Os antigos pen-savam que os deuses gostavam de aspirar o aroma das suas ofertas, e notase a influência desta idéia em Gên. 

8:21 e Êx. 29:41; 30:38. A tradução não tenho prazer, ou não me agradarei   é melhor do que não cheirarei   de KJV. A aceitação da oferta pelo Senhor não é motivada pela qualidade da oferta, mas pela vontade do ofertante. A palavra jH,  festa,  é a palavra que se refere geralmente às grandes festas nacionais, como a Páscoa e Taberná-culos, enquanto que rtTiy significa as assembléias  para 

o culto (Deut. 16:8; Lev. 23:36; Núm. 29:35) . É usa-da aqui no  sentido de Isaías 1:13.“Ainda que me ofereçais holocaustos e as vossas 

ofertas cereais, não me agradarei dêles, nem atentarei para as ofertas pacíficas de vossos 

animais cevados” (5:22) .Não é o sistema de sacrifícios como tal que o profe-

ta condena, mas a uma formalidade apenas, que deixa de lado a lei moral.  No holocausto,  T O . o animal foi queimado no altar (Lev. 6:813). A oferta de cereais,, nna», manjares, farinha,  era originalmente um presente (Gên. 32:13; 43:11; I Sam. 10:27), mas quando os ou-

Page 123: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 123/201

124 A. R. CRABTREE

tros sacrifícios ficavam mais definitivamente indicados, esta oferta limitouse aos vegetais. Era oferecida fre-

qüentemente com os sacrifícios de animais. A oferta  pacífica.  é um dos sacrifícios mais primitivos. Osangue do animal era derramado no altar oü no chão; a gordura e outras partes eram queimadas no altar (I Sam. •2:15, 16; Lev. 3:16) .

Ê difícil traduzir o sentido forte do versículo 23.

“Afasta de mim o barulho dos teus cânticos;pois não atentarei às melodias das tuas harpas”

(5:23).

Tira de cima de mim  é deselegante mas expressa o sentido do hebraico. A preposição composta significa de cima de,  O infinitivo hifü  “©("T,  fazer desviar,  é uma 

■ordem enfática. Pois à música, h*)ttí > das tuas harpas 

não atentarei . A colocação do verbo atentarei   ou escutarei   no fim da declaração, põe em relêvo o repúdio defini-tivo do sistema de sacrifícios e festividades pelos quais Israel pretendia estabelecer e manter a sua relação com >o Senhor. A mentalidade do povo, revelada.no seu culto, mostra que considerava o seu Deus quase que como um dêles. Não entendeu, ou não quis entender, a soberania do SenhorJavé, o Deus dos Exércitos, nem o seu direito 

absoluto de receber do seu povo a obediência perfeita.Pouco se sabe da música do tempo de Amós. Cons-ta somente aqui a palavra  zimrah,  que significa música instrumental. A harpa, ou o saltério, até de dez cordas, foi usada para a música secular (Is. 5.12; Amós 6:5), e também para os cânticos religiosos (II Sam. 6:5; Sal. 33:2; 144:9).

“Antes corra a retidão como as águas, e a justiça cpmo ribeiro perene” (5:24).

Há várias interpretações dêste versículo. Alguhs in-

Page 124: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 124/201

O LIVRO DE AMÕS 12S

terpretam a declaração como ameaça da parte do Senhor,, 

que na sua ira vai mandar sôbre o povo um julgamento rápido e forte. Outros pensam que seja uma descrição da.  justiça vindoura do Messias. Alguns dizem que o Senhor promete dar curso livre aos hipócritas que sejam since-ros no seu culto . Outros pensam que os israelitas podem alcançar o ideal da justiça pelos seus próprios esforços. Do nosso ponto de vista, tôdas estas interpretações são forçadas. É claramente uma exortação, aconselhando o abandono das idéias pagãs de comprar o favor divino, para adotar a nova vida de retidão e justiça.

As duas palavras e PIpTi são sinônimas,no significado de justiça moral ou ética. Mas a primei-ra significa especialmente o julgamento reto dos tribu-nais e a prática da ética em tôdas as relações sociais. Êste conceito de retidão, ou de justiça, foi desenvolvido 

pelos filósofos gregos, quatro séculos depois de Amós, e sem referência aos seus deuses que freqüentemente eram caprichosos quanto à justiça. A segunda palavra é de origem bíblica, sempre associando o conceito da justiça que vem de Deus com a justificação, quando aplicada ao homem. A verdadeira justiça entre os homens tem que receber o apoio divino. O característico impreterível do homem justo é que tenha comunhão íntima com Deus, e o desejo de fazer a vontade de Deus. Tem que ser limpo de mãos e puro de coração (Sal. 24:4).

Esta distinção baseada na origem dos dois sentidos da justiça (justice and righteousness  ou retidão e justiça)  pràticamente não existe mais entre o povo em geral. Mas há uma distinção teológica entre as duas idéias na doutrina da justificação pela fé segundo o Novo Testa-

mento. É a diferença entre o homem moral, ético e justo nas suas relações sociais e o homem cristão, justificado pela fé e que pratica os ensinos do Novo Testamento, movido pelo amor e gratidão.

A palavra no fim da declaração, ’píltf, significa  pe-

Page 125: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 125/201

126 A. R. CRABTREE

rené,  não impetuoso.  Os ribeiros da Palestina correm impetuosamente no tempo das chuvas, mas nos períodos 

da sêca êles ficam fraquinhos, ou sem água alguma. O Senhor pede a justiça constante, perene.  A religião sem estas qualidades de retidão e justiça não é a religião bí-blica. A religião bíblica é vigorosa, constante,  fiel.

O versículo 25 é claramente uma pergunta que es-pera a resposta negativa.

“Apresentasteme sacrifícios e ofertas no deserto 

por quarenta anos, ó casa de Israel?” (5:25) .O Senhor tinha revelado o seu amor e o seu cuidado 

carinhoso na direção de Israe] através do deserto, quando o sistema elaborado de sacrifícios ainda não existia. Era impossível observar o sistema de sacrifícios durante o período de peregrinação no deserto. É mencionada apenas uma vez (Núm. 9:5) a celebração da Páscoa, o sacrifí-

cio mais importante dos hebreus, estabelecido no Egito para comemorar a libertação da escravatura. Talvez fos-se o único sacrifício apresentado pelos hebreus ao seu Senhor neste período de quarenta anos, não obstante as muitas especulações na interpretação desta pergunta. Amós não nega difinitivamente que os hebreus tivessem oferecido sacrifícios ao Senhor no deserto, mas qualquer sacrifício ou oferta ao Senhor no deserto era de impor-tância secundária em relação com o verdadeiro culto do coração.

O Exílio de Israel Ê Inevitável,  5:266:14

O profeta especifica e descreve a qualidade do casti-go que vai cair sôbre o reino de Israel. Sossegados e 

persistentes nas suas esperanças na vida de conforto, os israelitas serão exilados da sua terra.“Assim levará Sicute, vosso rei, e Quiüm, vosso deusestrêla, vossas imagens, que fizestes para vós

Page 126: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 126/201

O LIVRO DE AMÕS 127

mesmos. Portanto, vos levarei cativos, para além 

de Damasco, diz o Senhor, cujo nome é o Deus dos Exércitos” (5:2627) .

A declaração referese ao cativeiro de Israel, e o ver-bo deve ser traduzido para o futuro, e não para o perfei-to, como em Almeida e a SSB. O hebraico é difícil, co-mo se vê pelas diferenças nas versões. O versículo 26 não é a continuação do 25, mas o princípio de uma nova sec-

ção que trata mais especificamente do cativeiro e do cas-tigo de Israel. É um caso em que a tradução determina, em parte, a interpretação. Alguns pensam que as frases, as vossas imagens  e o vosso deus-estrêla  foram acrescen-tadas por algum leitor para ajudar na compreensão da passagem, mas não ajudam.

Sem entrar na discussão das várias explicações e 

interpretações, apresentamos ligeiramente o que nos pa-rece o sentido mais plausível do versículo. Ê geralmente reconhecido agora que 1TDD (Sicute), e fpD (Quium), eram deuses da Assíria, e objetos de culto de Israel no tempo de Amós.5 È claro que o profeta não está pen-sando na idolatria de Israel no deserto, como alguns en-tendem. Está falando ainda dos pecados de seus contem-porâneos. É provável que tenha no seu pensamento o período da peregrinação no deserto, quando o Senhor tratava com amor e carinho especial o povo da sua es-colha, não por causa de seus sacrifícios, mas em respos-ta ao clamor da sua miséria (Êx. 3:114). No tempo da Amós a impureza do culto dos eananeus, e de outras na-ções vizinhas, exercia uma grande influência na corrução da religião de Israel. O Deus da justiça está especialmen

5. Ha rpsr m enciona seis outras interpretações baseadas, em par-te, na modificação do texto, Op. c i t . ,   p. 139. Outros intérpre-tes duvidam de que os israelitas pudessem ter adorado deu-ses da Assíria. Mas o rei Acaz, pouco mais tarde, adorava qualquer deus em preferência ao Senhor.

Page 127: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 127/201

128 A. R. CRABTREE

te contra esta idolatria. Ê o culto que Israel está pres-tando aos deuses da Assíria, Sicute e Quium, que o pro-feta condena com sarcasmo neste versículo. Os pensamen-tos e os sentimentos religiosos revelados no culto de Is-rael às imagens e aos deuses da Assíria são uma das maio-res causas do desprêzo e da ira do Senhor. Esta grave infidelidade acrescentada à injustiça merece o mais se-vero castigo.

Na libertação de Israel, do Egito o Senhor levou o 

povo da sua escolha sôbre asas de águias (Êx. 19:4; Deut. 32:1112) . No cativeiro iminente, Israel carregará,  , os  ídolos da Assíria que adora (Ver Is. 46:1 e 

seg.). Todavia, devemos lembrar que Israel, depois do libertamento do Egito, era sempre obstinado, no período da peregrinação, no tempo dos juizes e através da Histó-ria. Os profetas com o entendimento cada vez mais pro-fundo do caráter de Deus compreendem melhor a ingra-tidão e os pecados de Israel.  Portanto, vos levarei cativos para além, de Damasco. A fórmula solene, diz o Senhor, cujo nome é o Deus \ãos Exércitos,  põe em contras-te notável o Senhor dos poderes dos céus e da terra com os ídolos impotentes da Assíria. O Nome dêle no fim do período hebraico fortalece a ênfase no contraste entre o poder onipotente do Senhor e a inépcia dos ídolos.

 A Corrução e a Indulgência Própria dos Chefes de Israel,6:17

O capítulo 6 termina a segunda parte do livro de Amós, com a série de condenações específicas de Israel, nos caps. 3 a 6, e a reiteração do castigo divino de seus pecados. No livro, The Book of the Twelve Prophets, George Adam Smith faz uma distinção 6 entre os peca-dos bárbaros das nações, nos caps. 1 e 2, e os pecados

6. V ol. I, 1* E d ., p . 175

Page 128: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 128/201

Page 129: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 129/201

130 A. R . CRABTREE

teressados somente no seu próprio conforto, êles fica-

ram persuadidos de que estavam perfeitamente seguros no monte de Samaria.O profeta, porém, reconhece que êles, sendo os me-

nos preparados para o dia do julgamento, iriam ficar na frente da procissão de Israel para o cativeiro. Êstes homens notáveis, com/penetrados, distinguidos, 'Opl são os cabeças do povo escolhido. Esta é a mesma pala-vra de Números 1:17, que significa homens de renome, ou conhecidos pelos nomes.  A frase a principal das nar  ções  referese ao fato histórico de que o Senhor esco-lheu Israel, nação escravizada, dentre todos os povos como a sua propriedade peculiar (Êx. 19:5) . As pala-vras aos quais vem a casa de Israel   definem com mais precisão a posição dêstes príncipes entre o povo de Is-rael. Os líderes desta categoria receberam antigamente 

a honra de dirigir os negócios dos israelitas, juntamen-te com Arão e Moisés. O profeta não está falando ironi-camente. Está reiterando mais uma vez a responsabi-lidade de Israel, como o povo escolhido do Senhor, es-pecialmente a dos homens em posições de confiança.

Há opiniões diferentes sôbre o autor, o texto e a interpretação do verso 2. Mas parece que o profeta está 

falando ainda mais sôbre a proeminência de Israel en-tre as nações, mencionando três cidades inferiores à ci-dade de Samaria, quanto ao tamanho do território e à prosperidade das nações que representam. Nenhuma ci-dade conhecida por Israel era mais florescente do que Samaria, mas os israelitas são ingratos e tratam com negligência, e até com leviandade, ao Senhor, o seu pró-prio Deus, que lhes deu a sua posição de honra entre as nações.

“Passai a Calne, e vêde; e dali ide à grande Hamate; depois descei a Gate dos filisteus.

Page 130: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 130/201

O LIVRO DE AMÓS 131

São êles melhores do que êstes reinos?Ou melhor o têrmo dêles do que o vosso têrmo?”

(6 :2)

Calne talvez seja Calne de Is. 10:9, no norte dã Síria. Hamate, no Orontes, ficava no reino da Síria (Ver Gên. 10:18), no limite setentrional do território pro-metido a Israel (Núm. 34:8). Nos reinados de Davi e Salomão, Hamate pertencia ao reino unido (II Sam. 8:9) e também a Israel no reinado de Jeroboão II (II 

Reis 14:25,28). Uniuse à Síria e Israel contra Salma naser III, e foi derrotada na batalha de Carcar em 853a.C. Gate, uma das cinco cidades dos filisteus, foi a que ficava mais perto do território de Judá (I Sam. 17:52).

Estas cidades não tinham caído completamente no tempo de Amós, e isto não é o ponto de vista na com-

paração delas com Samaria. Tinham perdido a sua gran-deza, e os reinos que representavam não eram maiores ou melhores do que os reinos de Judá e Israel. Portan-to, não há nenhuma razão de se tratar êste versículo como interpolação.  São êles melhores ão que êstes reinos?  é a tradução correta do Texto Massorético. A ver-são da SBB, sois melhores que êstes reinos?,  baseiase no texto sugerido na margem de Kittel, e aceito por al-guns intérpretes. A RSV prefere o Massorético. Na versão SBB, êstes remos  referese a Calne, Hamate e Gate, mas o Texto Massorético concorda melhor com o primeiro versículo. O argumento de Amós é que Israel está desprezando a sua posição de honra entre as nações pelo repúdio da responsabilidade perante o Senhor, de quem tinha recebido as suas bênçãos.

“Vós que afastais o dia mau e fazeis aproximar o assento da violência” (6:3).

O particípio  piei, vós que afastais> dá ên-

Page 131: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 131/201

132 A. R. CRABTREE

fase especial à mentalidade dos príncipes.  No  seu orgu-lho, e na certeza de estarem seguros no monte de Sama-

ria, os líderes políticos e religiosos recusam acreditar na mensagem profética e imaginam estar longe, muito longe, o dja mau. Se há de fato um dia mau, não é para êles; ou está no futuro remoto e não os atingirá. Mas o profeta lhes declara que êste modo de rejeitar desde-nhosamente a mensagem de Deus é mais uma prova da sua perversidade e servirá apenas para fazer chegar 

mais de perto o assento ãa violência. * Assim estão preparando para si o trono de violência. A violência, que os príncipes infiéis sofrerão, será mais severa do que a opressão injusta que êles tinham praticado con-tra os seus próprios patrícios.

“Que se deitam em camas de marfim,, e se espreguiçam sôbre os seus leitos, 

comem os cordeiros do rebanho, e os bezerros do cevadouro; que cantam à toa ao som da harpa, e, como Davi, inventam para si instrumentos de música” (6:45).

Estas acusações não são apenas expressões de des prêzo da vida luxuosa da parte de um pastor da clas-

se dos pobres. Os pecados de luxo e voracidade, que menciona, são característicos do egoísmo dos ricos na satisfação de seus apetites físicos a custa das vítimas da sua. injustiça. Os ricos gostavam de ostentar a sun tuosidade do seu modo de viver como prova de sua su-perioridade, confirmada pelas bênçãos e favores rece-bidos do Senhor. Para êles as camas imbutidas de mar-fim, e a comida dos cordeiros e bezerros escolhidos cons-

tituíam provas de que eram os favorecidos do Senhor,* Talvez se refira ao assento dós tribunais que praticavam a 

violência em vez fla justiga,, ou aos, conquistadores, os a,ssírios, que sera'o ainda mais violentos ria opressão do povo.

Page 132: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 132/201

O LIVRO DE AMõS 133

em virtude das ofertas e sacrifícios que lhe apresenta-

vam. Outras referências de Amós mostram que esta vi-da luxuosa foi acompanhada pelos pecados de lascívia e depravação. Comentando sôbre êstê versículo, George Adam Smith diz:

“Conhecemos esta estirpe de ricos. Estão sempre conosco. Vivem bem, e imaginam que são pro-

porcionalmente sábios e cultos. São politicamen-te zelosos, e ficam animados com a eleição dos representantes do governo, especialmente quando os interesses da sua classe estão em perigo. Apresentamse como exemplos de patriotas robus-tos e exuberantes. Falam eloqüentemente do co-mércio e do destino da pátria. Mas quanto à mi-

séria e o sofrimento dos pobres, o ordenado justo dos operários, a dissolução, a imoralidade e a embriaguez que ameaçam a vida nacional, êles não se incomodam.” 6 . . .

Dedilham a harpa, e acompanham o instrumento com cânticos imoderados. A palavra ,  falar imoderadamente,  é árabe, e não consta em qualquer outra 

parte do Velho Testamento. Há um tom de desdém na palavra do profeta. As palavras como Davi   não constam na Septuaginta. Alguns pensam que sejam uma interpolação; outros julgam que fôsse originalmente "n*1“ ;  gritar , bradar,  ao invés de TTÍ> Davi.  Parece que a referência à invenção de instrumentos de música é inapropriada neste lugar. Todavia, Keil e Delitzsch explicam o sentido do versículo da seguinte maneira: “Como Davi inventou instrumentos de cordas para hon-rar o Deus do céu, assim êstes príncipes inventaram o método de cantar, com a música instrumental, para o

6 . The Book of the Twelve Prophets,  Vol. I , 1? Ed. , p. 175

Page 133: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 133/201

134 A. R . CRÁBTREE

deus dêles, a barriga. ”7

É claro que Amós está conde-nando o orgulho desmedido dos inventores, e não neces sàriamente a invenção como tal.

“Que bebem vinho em bacias,e se ungèm com os óleos mais excelentes;mas não se afligem com a ruína de José” (6:6) .

Estes gulosos não quiseram beber de taças normal-

mente usadas. Usavam das bacias empregadas no Tem-plo para esfalhar o sangue de sacrifícios. A palavra Pltti  , bacia,  é a mesma que se encontra em Êx. 27:3; Núm. 4:14 e Zac. 9:15.

Nos tempos antigos, os homens se ungiram não so-mente durante as cerimônias de consagração, mas em qualquer ocasião de alegria, ou para o seu próprio con-

forto (Sal. 23:5; 90:10; Is. 61:3; Ecl. 9:8). Foi um costume higiênico, pois o óleo refrescava a pele e ser-via de proteção contra o pó e o calor. O povo negligen-ciava a unção somente quando ficava entristecido (II Sam. 12:20; 14:2). Os príncipes exigiam a melhor qua-lidade de óleos.

Preocupados com o seu conforto e os seus prazeres, 

os ricos de Israel não podiam ver nem entender a natu-reza do desastre terrível que havia de cair sôbre a nação infiel. Sé pudessem ter visto claramente como o mensa-geiro que o Senhor lhes tinha enviado, certamente.ter riam ficado entristecidos e perturbados, sem o desejo de ungirse com qualquer qualidade de óleo. Preocupados com os seus interêsses pessoais, não tinham tempo para 

pensar no dia do julgamento. A ruína, ou a brecha  de José, não se refere a qualquer intriga política dentro de Israel, mas à destruição de fora que ameaçava" a nação.

7 . Minor Prophets,  Vol I, p. 300

Page 134: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 134/201

O L.IVRO DE AMÓS 135

“Portanto, agora irão em cativeiro, 

na vanguarda dos cativos, e cessará a algazarra dos espreguiçadores”(6:7).

Aquêles que se julgavam os aristocratas entre o povo, com recursos abundantes, e que podiam satisfazer à vontade os seus apetites sensuais, vão manter ainda a posição na vanguarda na ocasião do cativeiro. Vão 

constituir as primeiras fileiras, logo na frente da pro-cissão dos cativos aturdidos a caminho do exílio. Com a partida dos espreguiçadores, cessará para sempre a algazarra de seus banquetes.

A palavra algazarra,  nHfà 7 descreve as gargalha-das, a gritaria, dos banqueteadores nas suas comemo-rações. O têrmo DTlTlD, espreguiçadores,  tem aqui o sentido moral, e pode ser traduzido devassos.

O Castigo do Orgulho de Jacó,  6:814

Israel, no seu orgulho, havendo tornado a justiça em veneno, sofrerá o castigo da poderosa nação que 0Senhor levantará contra êle.

“Jurou o Senhor Javé por si mesmo, 

diz 0  Senhor, o Deus dos Exércitos:Abomino a soberba de Jacó, odeio os seus palácios,e entregarei a cidade e tudo o que nela há” (6:8) .

Jacó se ufanava das coisas que o Senhor abomina-va. Afastarase para tão longe do Senhor que não po-dia mais entender a justiça divina, nem a qualidade da 

fé que agrada ao Deus dos Exércitos. É aumentada, neste versículo, a intensidade de expressão, e especifi-cado mais definitivamente o afastamento de Israel, do seu Deus, como também a sua revolta contra a retidão e justiça. Assim 0  profeta termina os seus discursos,

Page 135: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 135/201

136 A. R. CRABTREE

dando ênfase à justiça divina que exige a destruição com-

pleta de Israel. É deveras uma mensagem dura, mas quando interpretada à luz da infidelidade de Israel e à luz da consciência humana e do Novo Testamento, é cla-ro que a nação tinha que sofrer as conseqüências da sua revolta arrogante contra o Senhor, de quem tinha recebido os seus altos privilégios. Fora de costume, o profeta pronuncia aqui o castigo primeiro, e depois men-ciona os pecados que determinaram finalmente a destruição da nação.

 Jurou o Senhor por si mesmo.  Em 4:2 o Senhor ju-rou pela sua santidade. O sentido das duas declarações é essencialmente o,mesmo. A própria natureza de Deus, em todos os seus característicos e atributos, está contra tôdas as formas da injustiça. Dêste ponto de vista o ju-ramento do Senhor não era necessário, senão para dar 

ênfase à soberania divina na execução da justiça contra o povo arrogante que desprezava a prática da justiça nas suas relações humanas e na infidelidade quanto ao cumprimento dos compromissos, voluntàriamente acei-tos juntamente com as bênçãos e os privilégios do Con-certo . A santidade, a plenitude da natureza do Senhor,, está contra a arrogância dos rebeldes.

Temos que reconhecer que a forte expressão, eu abomino,  e o pronome pessoal eu,  como também o verbo odeio  são antropopatias,  a atribuição de sentimentos humanos ao Senhor. Temos que reconhecer a diferença entre o sentimento do ódio humano e a justiça divina, em perfeita harmonia com o seu santo amor. Pela sua própria natureza perfeita Deus é eternamente contra tô-das as formas de iniqüidade. As leis morais do mundo 

representam a natureza de Deus. Elas apoiam e recom-pensam o bem e condenam e castigam o mal.A palavra significa, em outros lugares, a gló

ria   de Jacó (Êx. 15:7), mas é usada também no senti-do de exaltação própria, soberba, arrogância (Ez. 16:

Page 136: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 136/201

O LIVRO DE AMÕS   137

49; Prov. 16:18) . Esta glória de Israel, a sua escolha 

e a sua missão, não lhe pertence como tesouro particular (Is. 2:10; Sal. 47:4), que o exaltava acima de outras nações. Foi escolhido para exercer o seu sacerdócio en-tre as nações e fracassara no cumprimento da sua res-ponsabilidade, e à medida qué se desvanecia a glória dasua missão, aumentava o seu orgulho nacional de palá-cios e cidades, que o levou à destruição (Is. 9:9; Os. 

5:5).O uso do nome  Jacó  ao invés de  Israel   tem alguma significação. Jacó, o egoísta, ganhou o nome  Israel, 'príncipe de Deus,  pela luta com o Senhor, mas Israel, como nação, na sua soberba, não podia reconhecer a necessidade imperiosa de lutar com Deus, e consigo mes-ma, para a salvação da sua vida. Foi o velho Jacó quem praticou a crueldade contra o seu irmão.

A cidade que tinha chegado ao auge de sua arro-gância e suficiência própria seria entregue às mãos do destruidor. O profeta descreve então os horrores e os sofrimentos terríveis do sítio e da destruição de Sama ria.

“Se numa casa ficarem dez homens, também ês ses morrerão. E quando o parente de um homem, 

o qual o há de queimar, toma os ossos para os trazer para forá da casa, e pergunta ao que esti-ver na parte mais interior da casa: Ainda há alguém contigo? e êle responder: Não há, então êste lhe dira: Calate, não devemos mencionar o nome do Senhor” (6:910).

Alguns pensam que esta descrição do sítio e da pes-

tilência, foi acrescentada por alguém que tinha sofrido a experiência amarga da pestilência que acompanhou a destruição de Samaria, e quis dar o seu testemunho para o entendimento da profecia sôbre o grande desastre. Mas o profeta Amós já mostrou que tinha entendimento

Page 137: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 137/201

138 A. E . CRABTREE

suficiente para apresentar esta descrição realística dos 

horrores e sofrimentos que geralmente acompanham a destruição da guerra. A cidade bem fortificada, arro-gante e obstinada em recusar a ouvir as admoestações divinas tem que conhecer pela experiência a verdade da mensagem que desdenhosamente tinha rejeitado.

O hebraico do versículo dez é difícil de se entender e traduzir satisfatoriamente. A versão SBB segue um 

texto modificado, e apresenta uma versão pouco diferen-te, mas não nos parece melhor do que o Massorético. Todavia, a incerteza do texto não enfraquece a impres-são cadavérica da cena. O parente mais achegado de um morto entra na casa imunda a fim de cumprir o último dever para com êle. Acha apenas uma só pessoa, es-condida no canto mais interior da casa, apavorada, com mêdo de fazer menção do Nome do Senhor, para que não recaia sôbre êle um julgamento ainda mais severo.

Não há certeza sôbre se o Parente é aquêle que vai queimar o cadáver, ou apenas incenso, ou se uma outra pessoa estaria com êle para prestar êste serviço, visto que as condições não permitiam o sepultamento. Os por-menores da descrição, todavia, não podem ser tão hor-ríveis como os sentimentos dos sobreviventes.

“Sucederá o mal na cidade, e o Senhor não o terá fei-to?” Nos tempos de calamidade aumentouse a crença supersticiosa na vingança de Deus, no coração das mes-mas pessoas que arrogantemente rejeitaram as admoes-tações e os apelos proféticos. Outro característico da religião superficial que o profeta tinha condenado, de uma religião de rotina, é o de na hora de calamidade 

não somente não ter valor, mas romper logo em pânico. O conceito do Senhor que pudesse ser propiciado por baju-lação na hora de maior necessidade do socorro espiritu-al é o de considerálo como Deus tão irado e perigoso, que nem se devia mencionar o seu nome.

Page 138: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 138/201

O LIVRO DE AMÕS 139

“Pois eis que o Senhor ordena, e será despedaçada em ruínas a casa grande e a casa pequena em lascas” (6:1 1 ) .

Esta é mais uma predição do transtorno nacional do povo infiel, A declaração ligase com a última linha do verso 8, uma indicação talvez de que os versículos 9 e 10  foram introduzidos por um escritor depois do tempo de Amós, Segundo a expressão, qwcmdo  o  Senhor entre gará a cidade, e tudo que nela há  (v .8), êle dará ordem à nação que vai levantar (v. 14), e esta destroçará as casas grandes e pequenas, assim fazendo uma destrui-ção total. Não há razão de se pensar, como alguns, que a casa grande se refere a Israel e a pequena a Judá, pois é claro que estáse falando do destino de Israel. Com o uso do particípio está ordenando,  o profeta con-

tinua a empregar particípios, como se estivesse acom-panhando os acontecimentos que descreve.“Correm cavalos no precipício?Lavrase o mar com bois?No entanto, haveis tomado o juízo em veneno, e 

o fruto da justiça em alosna”(6:12 ) .Os escritores do Velho Testamento não fazem dis-

tinção entre as leis físicas e as leis morais do mundo. A corrução da justiça é tão perigosa, e traz desastres tão grandes, como o esforço de fazer cavalos correr no precipício, ou o de lavrar o mar com bois, como se fôsse a superfície da terra.

É melhor dividir a palavra DTlpÜ em D11  “ipS. e traduzir para lavrar o mar com bois  ao invés de para 

lavrar-se ela.  Esta mudança importa apenas na mudan-ça da pontuação, que data do século oitavo cristão, quan-do as vogais foram inventadas. Israel vai experimentar ò desastre de tomar o juízo em veneno, como tinha fei-to sem escrúpulo nos seus tribunais e nas suas relações sociais.

Page 139: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 139/201

14.0 A, R., CRABTREE

“Vós que vos regozijais com LoDebar, 

e dizeis: Não é por nossa própria fôrça que nos apoderamos de Carnaim?” (6:13)

Referese ao orgulho de Israel no seu poder militar, pois os príncipes se ufanavam das vitórias de Jeroboão. II na reconquista do território que tinha perdido para a Síria. Mas para o profeta, êste poder militar não tinha significação diante do propósito do Senhor. Êle esco-

lhe dois dos lugares reconquistados, e relativamente in-significantes, para expor a fraqueza militar de Israel, em relação ao poder do inimigo que se levantará contra êle.

LoDebar é o nome de uma aldeia ao leste do Jor-dão, aparentemente na zona de Maanaim (II Sam. 17: 27), reconquistada por Jeroboão II. Carnaim era o outra, talvez AsteroteCarnaim (Gên. 14:5), na mesma região 

de LoDebar. Aparentemente, êle escolheu estas duas aldeias, entre os muitos lugares conquistados, para fa-zer um trocadilho dos nomes, “coisa de nada”, e “poder imaginário” . O profeta fala com ironia zombeteira do poder de Israel diante do poder do inimigo vindouro. Os chefes se ufanavam de nada  e se gabavam do seu  poder imaginário,  mas não eram capazes de oferecer qual-quer resistência contra o seu destino, já determinado 

pelas eternas leis da justiça.“Pois eis que levantarei contra vós uma nação, 

ó casa de Israel, diz o Senhor dos Exércitos; e êles vos oprimirão desde a entrada de Hamate 

até o ribeiro de Arabá” (6:14),. '

Terminamse com êste versículo os oráculos prin-

cipais dos capítulos 1 a 6 . E’ um resumo geral dos en-sinos do profeta sôbre as conseqüências da injustiça e da infidelidade de Israel. Ê o Senhor dos Exércitos, na sua irrevogável justiça, que levantará o inimigo destrui-dor de Israel como nação. A frase desde a entrada, de

Page 140: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 140/201

O LIVRO DE AMÓS 141

 Hamate até o ribeiro de Arabá  define as fronteiras, ou 

os limites do território do reinado de Jeroboão II. Se rá destruído o território inteiro de Israel (II Reis 14: 25) . Nesta nota, profundamente triste, o homem de Deus termina a explicação do desastre reservado para a na-ção infiel.

O conjunto do território ocupado pelos dois rei-nos, Israel e Judá, nesta época foi mais ou menos igual à área ocupada no reinado de Davi. O limite setentrio-

nal do território de Israel foi a entrada de Hamate, tal-vez o passo, ou o caminho, entre o Monte Hermon e o Líbano, pouco ao norte de Dã. A palavra Arabá geral-mente se refere à bacia do vale do Jordão até o golfo de Aquabá. Provavelmente se refira aqui ao ribeiro de el-Ashy  que separava Moabe e Edom, e entra na extre-midade meridional do Mar Morto. Jeroboão II ganhou 

todo êsse território ao leste do Jordão na luta com o reino decadente da Síria. Parecia incrível a profecia de Amos de que Israel pudesse perder de repente o seu grante território a qualquer inimigo.

III. UMA SÉRIE DE VISÕES, A CONTROVÉRSIA COMAMASIAS, O FIM DO MINISTÉRIO DE AMÕS, 

EPÍLOGO, CAPS. 79

Nestes capítulos o profeta explica o significado das suas visões, descreve a controvérsia com o sacerdote Amasias de Betei, repete alguns oráculos, e termina com o epílogo de esperança. As visões descrevem as ex-periências religiosas de Amós, a sua chamada ao minis-tério profético, e apresentam em resumo a mensagem 

do Senhor para o povo de Israel. Concordam com os en-sinos dos capítulos 1 a 6  do livro. Aparentemente Amós teve as visões antes de começar o seu ministério.

As primeiras quatro visões, capítulos 7 e 8, se dis-tinguem da quinta pelas palavras da introdução: “As-

Page 141: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 141/201

142 A . R . C R A B TR EE

sim o Senhor me fêz ver.” A última começa com as pa-lavras, “E,u vi o Senhor” . São diferentes também no conteúdo. O grupo de quatro simboliza o julgamento do Senhor já executado em parte contra Israel, e em parte o castigo que ainda há de cair sôbre a nação. A última visão (9:14) proclama a destruição completa do reino de Israel.

Do grupo das quatro visões, as primeiras duas (7: 1 6) se distinguem das outras duas (7 :79) pelo fato de 

que as primeiras apresentam, em resposta à interces-são do profeta, uma promessa de que o castigo mencio-nado não seria executado, enquanto nas outras duas o Senhor se recusa a modificar a punição, declarando: “Nunca mais passarei por êle.” Assim os dois pares de visões se distinguem um do outro pela mensagem e pelo propósito em vista. Esta diferença tem importância em relação com o significado, e o ambiente histórico das visões. As primeiras duas indicam um julgamento dis-ciplinar, enquanto a terceira e a quarta ameaçam a des-truição iminente do reino. A terceira é relacionada às primeiras duas pelas referências ao perdão. A quarta é semelhante às outras três quanto à forma, mas apenas confirma os ensinos das outras.

A quinta e última visão representa o destino final 

de Israel, com a sua destruição completa. As primeiras quatro visões constituem um prelúdio para esta. As-sim se nota um progresso no significado das visões. Ê claro que tôdas elas se relacionam intimamente com a vida espiritual de Amós. Ao mesmo tempo testificam da sua vocação profética, e constituem, em parte, as suas credenciais perante o povo. Ele declara que não era pro-

feta até que o Senhor o tirou de após o rebanho e lhe disse: “Vai e profetiza ao meu povo Israel.”As visões têm importância também em relação com 

os discursos proféticos. O significado das visões con-corda perfeitamente com as proclamações do profeta

Page 142: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 142/201

O LIVRO DE AMóS 143

nos capítulos 1 a 6 . Amós se apresenta nas visões co-mo profeta, especialmente no capítulo 8 . O Senhor in-terpretou explicitamente para o seu mensageiro o signi-ficado da terceira e da quarta visão. O profeta declara repetidamente através da profecia que está transmitin-do ao povo a mensagem recebida do Senhor.

1.  A Visão da Locusta,  7:13

“Assim o Senhor Javé me fêz ver: eis que êle

formava gafanhotos no princípio do rebento daerva serôdia; e eis que era a erva serôdia depois das ceifas do rei. E ao acabarem de comer aerva da terra, disse eu:

Õ Senhor Deus, perdoa, rogote!Como subsistirá Jacó?

Pois êle é pequeno.

Então o Senhor se arrependeu disso;Não acontecerá, disse o Senhor” (7:13).

A visão profética era um modo de apresentar a ver-dade religiosa, ou o ensino moral, na forma simbólica que o povo pudesse entender. Nestas visões o Senhor tomou a iniciativa e operou no espírito do profeta para produzir o entendimento do julgamento divino, ou do 

propósito das atividades de Deus na história do seu povo.O particípio focaliza a atenção na atividadedo Senhor no processo ainda incompleto de formar lo custas, que talvez, segundo o entendimento do pr®feta, ainda se achavam no estado larval. Havia várias espé-cies de locustas, e as  gobai,  mencionadas aqui, são âs mesmas de Naum. 3:17. A praga de qualquer uma dasespécies foi uma calamidade terrível, como se pode verificar pelas referências bíblicas (Êx. 20; Deut. 28:42; Joel 2:35; Naum. 3:1517). Segundo 4:9 o Senhor man-dou a locusta a fim de despertar o povo para reconhecer o êrro do seu caminho, e isto foi reconhecido pelo pro

Page 143: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 143/201

144   A .   R . CRABTREE

feta como ato de misericórdia. Neste caso o Senhor mos-trou misericórdia, detendo a praga em resposta à ora-

ção do seu mensageiro.A frase, no princípio ão rebento da erva serôdia^ 

significa o segundo crescimento da erva que brotava de pois de acabarem as ceifas do rei.  Alguns entendem que o primeiro crescimento da erva foi reservado como tri-buto do rei, como  forragem para os seus cavalos e mu-las (I Reis 18:5). Não há qualquer referência a esta 

forma de impôsto, mas o rei tinha o poder cie exigilo, se quisesse. Depois de levantar várias objeções contra esta interpretação, Keil e Delitzsch explicam que o rei é Deus. “O rei, que tinha ceifado a primeira erva, é o Senhor; e a ceifa da erva indica o julgamento que já ti-nha executado contra Israel.” 1  Também surgem dúvi-das sôbre esta interpretação. Convém lembrar que os pormenores da visão, como os da parábola, são de im-

portância secundária. O ensino principal da visão é cla-ro. "A praga era mais um sinal do destino do reino se-tentrional .

As locustas vieram na primavera, justamente quan-do as chuvas estavam regando os campos e a erva esta-va florescendo. O profeta viu na praga um sinal do pro-pósito do Senhor.

Há uma dificuldade no texto traduzido como ao acabarem de comer a erva da, terra,  ou Tendo eles comido de tôãa a erva ãa terra.  Kittel sugere uma pe-quena modificação do Texto Massorético. Ao invés de 

ÍTTTI. êle traz SílH “’(Tl» quando estavam acabando.  Mas a diferença não é importante. Se as locustas tivessem comido a erva tôda, com a sua re-tirada, e com as chuvas, a erva teria crescido ràpida mente de novo. A palavra traduzida para erva,  encon-trase em Gên. 1:11, e significa tôdas as plantas verdes.

1. O p . c i t  p . 307

Page 144: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 144/201

O LIVRO DE AMÓS 14S

A oração intercessória de Amós é mais uma demons-tração do seu amor ao povo.  Eu te peço  no hebraico é 

apenas uma partícula, quase o equivalente de  por favor. O profeta assim se identifica com o povo de Israel. Amós se revela nesta oração como verdadeiro profeta. Éle viu o povo, não como nação poderosa, com recursos sufici-entes para qualquer emergência, mas como nação po-bre, fraca, indefesa. Apesar do orgulho, da arrogância e  da vida luxuosa, Jacó era pequeno. Os recursos nacio-

nais e as riquezas materiais eram insuficientes para a nação fazer face ao desastre, na decadência moral.O Senhor é sempre imutável nos seus eternos pro-

pósitos. As declarações do seu arrependimento são an tropopatias, como em 5:6. É de acôrdo com a fidelidade e o propósito eterno do Senhor em responder às orações oferecidas em harmonia com a sua vontade. Amós re-cebeu a certeza de que Deus tinha respondido à sua ora-ção. A praga da locusta foi detida em virtude da ora-ção intercessória.

Devese interpretar a visão literalmente, ou consi-derar as locustas simbólicas das hordas dos assírios ? A interpretação mais natural é a de que Amós, com a ori-entação do Espírito do Senhor, estava interpretando a significação de uma praga real de gafanhotos, para o 

povo de Israel.2.  A Visão do Fogo Devorador,  7:46

O profeta declara, com ênfase, que o Senhor lhe mostrou a visão do fogo devorador, como lhe mostrara a visão de locustas. Então procede!

“Assim o Senhor Javé me fêz ver: eis o Senhor Deus estava chamando para contender com fogo, e êle devorou o grande abismo, e teria consumido a terra. Então disse eu:

Õ Senhor Deus, cessa, rogote;

L. A. 10

Page 145: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 145/201

Page 146: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 146/201

O LIVRO DE AMÓS 147

As primeiras duas visões correm paralelamente com 

as aflições mencionadas em 4:611. Elas são típicas dos esforços feitos para desviar a nação de seus maus ca-minhos .

3.  A Visão do Prumo,  7:79

“Assim o Senhor Javé me fêz ver; e eis que o Se-nhor estava junto a um muro feito a prumo; com um 

prumo na mão. Então o Senhor me disse, Que estás vendo, Amós? E eu disse: Um prumo. Então o Senhor disse:

Eis que estou colocando um prumo no meio do meu povo Israel! nunca mais passarei por êle.

Os altos de Isaque serão desolados, e destruídos os santuários de Israel; 

e levantarmeei com a espada contra a casa de Jeroboão” (7:79) .

Nas primeiras duas visões é posta em relêvo a ini-ciativa do Senhor. Mas aqui o profeta declara que o Senhor não somente lhe mostrou a visão, mas também se apresentou como o elemento principal dela. Israel 

está sendo provado pelo prumo da justiça. O muro feito ao prumo  é simplesmente um elemento essencial da vi-são. O Senhor não se apresenta como o construtor do muro. O muro simboliza apenas uma obra perfeita. Podese considerar Israel, segundo a eleição e o Concêr to de Sinai, salvo e vocacionado, como representante ideal do Senhor entre as nações.2  Todavia, êste conceito do Israel ideal não se apresenta explicitamente na visão.

O muro perpendicular e o prumo na mão do Se-nhor simbolizam apenas o conceito de retidão. O profe

2 .  A Esperança Messiânica,  do autor , Cap. I I

Page 147: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 147/201

148 A. R . CRABTREE

ta não compreendeu logo o ensino, ou a verdade que a visão apontava.

A palavra  prumo,  , não se encontra em qual-quer outra parte do Velho Testamento, e por algum tem-po os tradutores não entenderam o sentido da palavra. Em outras línguas semíticas a palavra significa chumbo.  Com esta definição do têrmo, associada com o muro, depreendese que, neste contexto, a palavra significa  prumo .

O  profeta estava fitando os olhos no prumo na mão do Senhor, aparentemente no esforço de compreender a sua significação, quando o Senhor lhe perguntou: Que estás vendo,  ntn,  Amós?  Oparticípio indica a intensi-dade do olhar do profeta. Há um contraste notável na menção suave e pessoal do nome do profeta e a calami-dade de Israel, prevista no singnificado da visão. Que estás vendo com a vista natural, Amós? A pergunta é 

preparatória, e'desperta no espírito do profeta o desejo ardente de compreender a verdade que a visão estava proclamando. Então o Senhor lhe esclarece o entendi-mento, dizendo ao seu espírito: “Estou colocando o pru-mo no meio do meu povo Israel.” Ai de Israel! Um pa-drão de justiça divina pôsto no seu meio! Que falta de retidão neste povo da escolha divina, que o prumo vai 

revelar!Nas visões anteriores o Senhor permitiu a interces-são do profeta, e atendeu ao seu pedido em favor de Is-rael. O prumo é para provar e para decidir. O Senhor da justiça não permite mais intercessão em favor de Is-rael. O seu destino está determinado. Então sabia Amós que Israel seria pôsto à prova, achado em falta, e sen-tenciado à destruição. A nação tinha caído além da pos-sibilidade de ser levantada. O Senhor nunca e jamais perdoará a perversidade e a infidelidade de Israel.

O prumo servia não somente para provar a exati-dão do muro. Usavase também como o prumo de ruína

Page 148: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 148/201

O LIVRO DE AMÕS 149

(Is. 34:11; 28:17; II Reis 21:13; Lam. 2:8). O pru-

mo apontava não somente a perversidade, como também o seu desastre iminente. Israel, como o muro, está pres-tes a cair.

Convém lembrar, no estudo das visões, de que elas concordam perfeitamente, no seu significado, com osoráculos dos caps. 1   a 6. O prumo de ruína  revelou aoprofeta não somente o destino irrevogável de Israel, mastambém lhe abriu o entendimento sôbre o modo de des-

truição. O transtorno completo de Israel inclui os altos de Isaque,  e todos os seus santuários. O nome de Isa que é usado aqui, e no versículo 16, como sinônimo de Israel, provavelmente para chamar a atenção ao grande contraste entre a piedade do patriarca e a infidelidade das dez tribos.

Havendo adotado os costumes dos cananeus na prá-

tica dos cultos nos lugares altos, os israelitas ficaram cada vez mais influenciados pela corrução das idéias falsas da religião pagã. Introduziram finalmente noscultos realizados em todos os santuários conceitos de baalismo no modo de cultuar o Senhor Javé, pensando que pudessem tratar o Senhor como bom colega, e assim ganhar os seus favores, sem se conformar com as suas exigências morais. Êle não se incomodaria com a reti-dão e justiça do povo, se recebesse o culto assíduo comofertas generosas. Até hoje há pessoas, nominalmente cristãs, que guardam em apartamentos separados ão espírito  o culto e a vida social.

Apresentase na primeira visão a locusta como ocastigo do povo infiel; na segunda o fogo devorador; na terceira a espada. Mas nesta visão do prumo apon-

tase claramente a destruição da dinastia de JeroboãoII. A destruição desta dinastia marcou definitivamente o princípio da queda rápida do reino. B provável que o profeta pensasse que a destruição da casa de Jeroboão coincidiria com a ruína completa de Israel. Mas a na-

Page 149: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 149/201

150 A. R . CRABTREE

ção permaneceu mais um pouco de tempo, na subjuga-ção miserável ao Império Assírio, sofrendo pouco tem-po depois a ruína prevista, a destruição completa como nação, justamente de acôrdo com a profecia de Amós. Assim Israel ganhou a distinção de ser a primeira na-ção da História que sofreu o extermínio nacional pelo inimigo.

4. O Conflito entre o Profeta e o Sacerdote de Betei,7:1017

Êste incidente biográfico é de profundo interêsse no estudo da religião em geral, e da profecia em parti-cular. Apresentamse na narrativa os personagens re-presentativos das instituições importantes da socieda-de . Não obstante as várias mudanças na estrutura so-cial dos povos, estas três instituições sempre se repre-sentam em todos os estágios do desenvolvimento social: o govêrno, o profetismo e o sacerdócio. Portanto, êste incidente nos apresenta um dos acontecimentos dramá-ticos e significativos da História. Há sempre rivalidade potencial entre estas instituições, e às vêzes os confli-tos rebentam na guerra. O govêrno é indispensável para 

o regulamento da sociedade em geral, mas sempre se es-força para controlar a religião em favor do Estado, e às vêzes para limitar as influências da religião. O sacer-dócio é sempre agressivo no esforço de usurpar funções e poderes governamentais, e de subjugar, controlar ou limitar a mensagem do profeta. O profetismo é o mais independente, o mais fiel à sua missão, e o maior con-tribuinte para o progresso moral e religioso da socie-dade. Há no Velho Testamento uma tensão constante en-tre o sacerdote e o profeta, e entre as idéias de sacrifí-cios e ofertas e as .do serviço, segundo os ensinos profé-ticos .

Amasias, o sacerdote de Betei, ficou assustado pela

Page 150: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 150/201

O LIVRO DE AMÕS   151

pregação de Amós. Sem entendimento das condições so-ciais e religiosas do povo, o sacerdote era incapaz de 

compreender a mensagem do profeta. Do ponto de vis-ta do seu entendimento limitado, e de seus próprios in terêsses, Amasias sentiuse justificado em acusar o pro-feta de conspiração contra o trono.

“Então Amasias, o sacerdote de Betei, mandou dizer a Jeroboão, rei de Israel: Amós tem cons-pirado contra ti, no meio da casa de Israel; a 

terra não pode sofrer tôdas as suas palavras”(7:10).

Sabendo das pregações abrasantes de Amós contra a hipocrisia dos sacerdotes (3:14; 4:45; 55; 2125) que tinham corrompido a religião e trazido a nação ao pre-cipício da ruína, foi êle quem não podia “sofrer tôdas as suas palavras”. Não obstante o esforço de alguns 

eruditos modernos de subestimar o conflito entre os sacerdotes e os profetas do Velho Testamento, é bem claro que Amós, Isaías, Jeremias e outros profetas acen-tuaram muito claramente a diferença entre o, cerimo nialismo desmoralizado, e a mensagem de Deus revela-da aos profetas.

Amasias acusou Amós de conspiração contra o rei 

Jeroboão. A acusação é bastante grave. Pode signifi-car que o profeta está chefiando uma revolução contra o rei. Ê certo que o sacerdote representa Amós como homem sedicioso, cuja pregação perigosa podia produ-zir uma conspiração contra o govêrno do rei. A acusa-ção é falsa, porque o sacerdote entendeu erradamente a pregação do profeta, e interpretou erradamente o seu motivo e a finalidade da sua mensagem. Falou a ver-dade quando declarou que a terra não podia sofrer tôdas as palavras de  Amós. Na sua rebelião contra Deus, Israel tinha chegado à condição de perversidade que nem podia reconhecer a mensagem de Deus, ou o homem de

Page 151: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 151/201

152 A. R.;CRABTREE

Deus. Tinha permanecido nas trevas por tanto tempo que não podia sofrer mais a luz brilhante da verdade. Amós não era inimigo de Joroboão, nem do povo de Is-rael, mas entendeu que o destino trágico do reino já se tornara inevitável. O profeta não tinha a mínima idéia de provocar uma revolta contra o rei. O povo, incluindo o rei e o sacerdote, seria vítima da sua infidelidade pa-ra com o seu próprio Deus.

“Porque assim diz Amós:Jeroboão morrerá à espada, e Israel certamente será levado cativo para fora da sua terra” (7:11) .

Citando a mensagem que tinha recebido do Senhor, Amós tinha dito, v. 9: “E levantarmeei com a espada contra a cam de Jeroboão Não há muita diferença entre as palavras do sacerdote e as do profeta. Portan-to, é difícil determinar se há sinceridade na acusação do sacerdote. Mas é difícil de se acreditar que era sincero em apresentar que Amós está aceitando a responsabili-dade da morte do rei. O sacerdote atribuiu isto à ini-mizade aberta do profeta contra o rei e contra o povo. Deixou de mencionar que Amós estava condenando os pe-cados da injustiça e da infidelidade do povo da escolha 

divina. Recentemente os russos se recusaram a t c m  tir a entrada de uma remessa de Bíblias na sua • V á ,  com a declaração de que “a Bíblia é um livro s j ; 1   vo.” A mensagem do Senhor é 'sempre subversiva para os inimigos da verdade. O sacerdote citou corretamen-te a segunda parte da mensagem de Amós, julgando que estas palavras, juntamente com a ameaça contra a vida do rei, seriam suficientes para incitálo contra Amós e para expulsálo de Israel. Não há qualquer indicação de que o rei se incomodasse com o relatório do sacerdo-te sôbre o profeta perigoso.

Ê provável que o rei tivesse mais respeito para com

Page 152: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 152/201

O LIVRO DE AMÓS 153

o profeta do que o sacerdote. Êle não podia esquecerse da influência benéfica do profeta Eliseu no reinado do seu pai Jeoás, e indiretamente no seu próprio reinado (II Reis 14:35) . Todavia, alguns pensam que Amasias tinha recebido o apoio do rei, e assim transmitiu a or-dem do trono ao profeta que foi expulso sem demora. Mas é apenas uma suposição. Certamente Amasias teria reforçado a sua mensagem dirigida ao profeta com a or-dem específica do rei, se tivesse recebido o apoio de 

Jeroboão.“E Amasias disse a Amós: Õ vidente, vaite, fo-ge para a tua terra de Judá, e ali come o teu pão, e ali profetiza; mas nunca mais profetizes em Be-tei, pois é o santuário do rei, e um templo do rei-no” (7:1213) .

Amasias insinua, sem declarar abertamente, que Amós estava falando com a autoridade do rei de Judá. Para êle, Amós era um visionário, com idéias extrava-gantes de males imaginários. Ao mesmo tempo, pode se acreditar que houvesse mêdo no coração de Amasias de que talvez Amós, apesar da sua extravagância, fôs se um verdadeiro homem de Deus.

As palavras dirigidas ao profeta são duras e insul-

tuosas. Vai-te.  É difícil para o interesseiro reconhe-cer o serviço sacrificial do homem honesto, para o in-sincero acreditar na sinceridade do homem verdadeiro.  Sai de Israel que vai muito bem, e não quer saber nada das tuas visões de calamidade.  Foge, sem demora, para a tua terra de Judá, e ali profetiza, e ali conta as tuas visões sôbre a destruição de Israel.  Ali come o teu pão, 

pois não és apenas um interesseiro?  Êste é o significado da insinuação do sacerdote, que mereceu a resposta du-ra de Amós.

 Betei é o santuário do rei, e o templo do reino.  As-sim Amasias procurava abalar a coragem de Amós por

Page 153: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 153/201

154 A. R . CRABTREE

meio de uma ameaça velada da parte do rei. Mas se es-

tivesse transmitindo a mensagem recebida do rei, teria reforçado as próprias palavras com a citação exata da ordem real, de acôrdo com o costume em tais casos. Mas, sendo Betei o centro da religião estadual, sob o patrocínio do rei, era aconselhável que o profeta saísse quanto antes, segundo a ordem do sacerdote.

Alguns comentaristas argumentam que Amós saiu, ou fôra expulso de Israel antes que pudesse terminar a sua mensagem profética, e a última parte da profecia fôra escrita mais tarde em Judá.3 Embora apresentados com habilidade os argumentos em favor desta opinião, parece mais provável que o intrépido mensageiro do Se-nhor terminou a sua missão antes de partir do reino de Israel. A sua resposta a Amasias certamente indica que não está disposto a seguir o conselho, carregado de amea-

ças, do sacerdote.“Então respondeu Amós a Amasias: Eu não era profeta, nem filho de profeta era eu, mas boieiro e cultivador de sicômoros, quando o Senhor me tirou de após o rebanho, e me disse: Vai, profe-tiza ao meu povo Israel” (7:1415).

Nenhuma forma do verbo ser   consta no hebraico do versículo 14, mas aqui é subentendido o verbo, e a for-ma que é claramente subentendida é era,  e não a forma do presente, sou,  de quase tôdas as versões. Parece quase impossível, até para os eruditos na língua, reco-nhecer que o tempo do verbo hebraico é determinado pe

3. O D r. W atts, O p . c i t . ,   p. 50. «A história de Betei nos explica  

por que tinha que haver dois livros. O ministério de Amós no  Reino Setentrional foi interrompido antes que Deus termi-nasse a sua mensagem concernente a Israel. As visões, pa-lavras e a secção biográfica dos últimos três capítulos fo-ram recolhidas por amigos aderentes, ou profetas colegas  de qualquer santuário do sul.»

Page 154: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 154/201

O LIVRO DE AMÕS 155

lo uso, ou pelo contexto, e não pela forma. Mas nem a forma do verbo consta aqui, e é difícil compreender por-que os trádutores usam sou  que apresenta uma contra-dição desnecessária na declaração do profeta. A pala-vra boieiro,  achada somente aqui, talvez fôsse co-piada erradamente de noqued,  “Ip*j,  pastor . A palavra d ? d , cultivador,  talvez se refira ao costume de furar o fruto do sicômoro para que amadurecesse, mas pode ser uma referência ao costume de colher o fruto como 

comida de pobres, e às vêzes de pastores.Amós evidentemente se ressentiu com a insinuação 

do sacerdote de que era profeta profissional, ou um dos filhos dos profetas, treinados na técnica de êxtase, e que tomaram parte ativa na revolução contra a casa de Onri (I Sam. 10:5; II Reis 3:15; 9:110). Negando que era um dos filhos dos profetas, Amós nega, com efei-to, a acusação do sacerdote que estava conspirando con-tra a casa de Jeroboão. Êle declara que estava ocupado com o seu trabalho de pastor quando o Senhor apode-rouse dêle e lhe deu a mensagem para o povo de Israel, e não podia deixar de transmitila. Nenhum dos profetas do Velho Testamento teve uma convicção mais firme, ou mais claramente definida, da chamada divina para pre-

gar a palavra de Deus ao povo, do que Amós.Longe de obedecer à ordem do sacerdote, Amós re-

trucou com uma pavorosa predição que envolveu a pes-soa e a família de Amasias.

“Ora, pois, ouve a palavra do Senhor.Tu dizes: Não profetizes contra Israel, 

e não pregues contra a casa de Isaque.Portanto, assim diz o Senhor:Tua mulher será uma prostituta na cidade, 

e os teus filhos e as tuas filhas cairão à espada, e a tua terra será repartida a cordel.

Page 155: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 155/201

156 A. R. CRABTREE

Quanto a ti, tu morrerás na terra imunda, e Israel certamente será levado cativo fora da

sua terra” (7:1617) .

Ê especialmente impressionante a antítese entre as palavras tu dizes  e assim diz o Senhor. O hifil   de é usado aqui pela primeira vez no sentido de  pregar  (Miq. 2:11; Ez. 21:2,7). Ê usado no sentido de soltar  a mensagem. A palavra do Senhor cai suavemente, co-

mo o orvalho, sôbre o servo obediente do Senhor, mas sôbre o rebelde e desobediente, pode ser uma améaça pesada.

A prostituição de mulheres, a matança de jovens, a repartição das propriedades, e o exílio dos líderes eram práticas comuns dos vitoriosos contra os conquistados. O profeta não diz que a espôsa do sacerdote se tornará 

prostituta voluntariamente, mas que será violada hor-rivelmente por fôrça, pelos inimigos conquistadores. Os filhos e as filhas de Amasias sofrerão o desastre ter-rível da guerra. Ãs vêzes as filhas foram tomadas co-mo esposas para os soldados, mas na conquista de Is-rael pelos assírios cruéis, o castigo dos conquistados vai ser excessivamente severo. A terra será medida a cor-del e dividida entre os inimigos, de acôrdo com o costume dos assírios depois do tempo de TiglatePileser (Comp.II Reis 17:24; Miq. 2:4; Jer. 6:12) . A política da As-síria visava a destruição completa das nações que ela conquistava. O sacerdote arrogante, que fechava os olhos contra as condições perigosas da sua freguesia, morrerá na terra imunda. Qualquer terra fora da Palestina, onde não se podia oferecer sacrifícios ao Senhor, foi imunda 

para os israelitas (I Sam. 26:19; II Reis 5:17) . Segundo a idéia popular da época, o Senhor não podia estar pre-sente onde não podia ser devidamente adorado (Os. 9:34).

Page 156: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 156/201

O LIVRO DE AMÓS 157

Na declaração sôbre o cativeiro de Israel, o profe-ta repete as palavras maldosas da acusação de Amasias. Assim aceita, em parte, a acusação do sacerdote, mas de um ponto de vista diferente do de Amasias. A citação destas palavras que representaram a substância da pre-gação de Amós, perante o acusador, demonstra a intre-pidez do mensageiro do Senhor. O cumprimento da pro-fecia, alguns anos depois, era tão maravilhoso que al-guns comentaristas julgam que esta declaração, atribuí-

da a Amós, foi acrescentada por um escritor depois da queda de Israel. Mas a afirmação concorda tão perfei-tamente com a mensagem de Amós que esta opinião não tem fôrça. O fato de que o sacerdote atribuiu a declara  ̂ção ao profeta indica que o corajoso mensageiro do Se-nhor repetiu de novo as mesmas palavras.

5.  A Visão do Cêsto de Frutos de Verão,  8:13

No símbolo do cêsto cheio de frutos de verão é a madureza dos frutos que proclama a mensagem proféti-ca a respeito de Israel. Como tinha chegado o fim dos frutos, chegara também o fim para o povo de Israel.

“Assim o Senhor me fêz ver: e eis um cêsto de frutos de verão. E perguntou: Que vês, Amós? 

E respondi: Um cêsto de frutos de verão. Então o Senhor me disse:Chegou o fim para o meu povo Israel: nunca mais passarei por êle.

E os cânticos do templo serão tiivos naquele dia, diz o Senhor Javé; muitos serão os cadáveres;

em todos os lugares serão lançados fora,. Silêncio!(8:13)

A narrativa indica que esta visão veio ao profeta depois do seu encontro com Amasias. Começa com as

Page 157: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 157/201

158 A . H . C R A B TR EE ' ;

mesmas palavras que introduzem as primeiras três vi-sões. Como no caso do prumo, o profeta evidentemente 

estava olhando intensamente ao cêsto de frutos, no es-forço de entender o que pudesse significar, quando o Senhor Javé lhe perguntou: “Que estás vendo,  Amós?” O vidente respondeu, “Kelub qayits.” A palavra encon-trase apenas uma vez fora desta passagem, em Jere-mias 5:27, onde significa  gaiola.  O têrmo evidentemen-te podia ser usado para significar receptáculo de vários 

objetos. O cêsto é vaso especialmente apropriado para conter frutos. A palavra Y'p, qayç,  significa verão  ou  fruta de verão.  É pronunciada quase como 'pp , qeç,  que significa  fim .  Então o Senhor lhe disse: “Já veio, 

ação completa, o  fim  do meu povo Israel. ” Está definitivamente determinado o fim de Israel como na-ção. A frase, o meu povo Israel,  relacionase com as pa-lavras a vós somente conheci,  de 3:2, e acentua a tragé-dia do povo altamente privilegiado que desprezou a nobre missão de ser o povo do Senhor   perante o mundo. O Deus da justiça tinha que destruir o seu povo, que por infidelidade deixou de ser o seu povo. Mais uma vez segue a terrível sentença final:  Nunca mais passarei  

 por êle.  Não é mais possível perdoar a sua rebelião.Os frutos de verão são os inferiores que amadure-

cem depois da colheita dos melhores, no fim da esta-ção. Parece que Amós teve a experiência das visões através do período do verão: as locustas na primavera, o fogo no tempo do calor, e os frutos de verão no fim da estação. •

A palavra chave desta visão é  fim. Ê o fim   do ano, e o  fim  do povo de Israel como o povo do Senhor e co-mo nação.

O v. 3 descreve alguns dos efeitos da destruição de Israel pelo inimigo . Os cânticos do templo se tornarão uivos  naquele dia. A palavra no hebraico, helilu,  é uma onomatopéia. Os uivos  do povo soarão como a pronún-

Page 158: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 158/201

O LIVRO DE AMÓS   159

cia de helilu.  De repente, os cânticos do povo no templo serão mudados em uivos de agonia e miséria. Amós es-

tá falando do templo em Betei, dedicado principalmente à idolatria, e aos cânticos que os israelitas tinham in-ventado, julgando, no seu orgulho, que estivessem se-guindo o exemplo de Davi.

Pensando na destruição terrível dos invasores, o profeta declara que haverá muitos cadáveres em tôda parte. O texto não está claro, mas acentua a agonia e 

o desespêro do restante dos vivos. Na presença de tan-tos mortos, até o silêncio será horrível.

6. Outro Discurso sobre a Iniqüidade e Destino de Israel,8:414.

Apresentamse nesta secção uma série de denúncias semelhantes às que já tinham vaticinado nos caps. 3 a 6 . 

Mais uma vez êle condena severamente a opressão dos pobue.s pelos ricos.

“Ouvi isto, vós que pisais os necessitados, e destruís os miseráveis da terra” (8:4) .

A SBB traduz: “Ouvi isto, vós que tendes gana  contra o necessitado, e destruís os miseráveis. ” Almeida diz: 

“Ouvi isto, vós que anelais o abatimento  do necessita-do, e destruís os miseráveis da terra.” A RSV tem: “Ou-vi isto, vós que  pisais  os necessitados, e trazeis ao fim os pobres da terra.” O KJV: “Ouvi isto, ó vó,s que tra gais  os necessitados, até fazendo esmorecer   os pobres da terra.” Não há muita diferença no sentido destas várias versões, mas mostram a dificuldade de traduzir o sentido exato do hebraico.

A palavra encontrase no plural em 2:7, tra-duzida por quase tôdas as versões por suspiram,  mas a RSV traduz a palavra  pisam  neste versículo também. A Septuaginta traduz a palavra  pisam  em 2:7, e  pisais  em

Page 159: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 159/201

160 A. R. CRABTREE

8:4. O infinitivo rTOtS^ significa  fazer cessar,  no sen-tido de trazer ao fim   ou destruir.  O versículo dá ênfase à condição miserável dos pobres e necessitados, causa-da pelos gananciosos no poder.

“Dizendo: Quando passará a lua nova, para que Vendamos o grão?E o sábado,para que abramos o mercado de trigo 

(diminuindo a efa, aumentando o siclo, e procedendo dolosamente com balanças engana-doras, para comprarmos os pobres por dinheiro, e os necessitados por um par de sapatos!), e vendamos o refugo do trigo?” (8:56) .

As palavras do parênteses representam a acusação dos negociantes pelo profeta, introduzida no meio da cita-ção das palavras dos interesseiros. A lua nova e o sá-bado, dias de culto e de descanso, em benefício dos ser-vos e trabalhadores, desagradavam os negociantes por-que prejudicavam o aumento das suas riquezas. “Co-mo em tôdas as outras passagens relevantes do Velho Testamento, temos aqui os interêsses do sábado ligados ao bemestar dos pobres. O quarto mandamento ordena 

o dia de descanso para todos, mas em benefício especial dos trabalhadores e dos servos. ” 4A instituição do sábado está sendo desprezada por 

êste grupo de interesseiros que pisavam os pobres devi-do ao seu amor ao dinheiro. No seu amor insaciável pelo dinheiro, os negociantes praticavam tôdas as formas pos-síveis de fraude, diminuindo a efa, a medida oficial, para 

obrigar o comprador a pagar por mais trigo, ou outra mercadoria, do que recebeu. Ao mesmo tempo êles au-mentavam o pêso do siclo oficial para assim extorquir

4. George A dam Sm i th , Op. cit., -p.  83

Page 160: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 160/201

O LIVRO DE AMÓS 161

do pobre comprador dinheiro além do preço da medida 

honesta (Comp. Gên. 23:16; Deut. 23:1315),As palavras aqui, “para comprarmos os pobres”,, complementam a frase em 2:6, “vender os pobres.” Com dinheiro na mão, podiam comprar barato o pobre deses-perado, e depois vendêlo caro, como vendiam o refugo do trigo. O desprêzo do valor infinito do homem cria-do à imagem de Deus é a raiz de muitos males.

“Jurou o Senhor pelo orgulho de Jacó;Certamente nunca me esquecerei de tôdas as suasobras” (8:7).

Em 6:8 o Senhor Deus jurou por si mesmo que abo-minava a soberba de Jacó. Mas aqui a glória de Israel, na sua própria excelência, é tão constante que o Senhor  jura pelo orgulho de Jacó. O orgulho de Jacó, ou de Is-

rael, ficou tão arraigado, e tão inalterável, que servia de base para o juramento do Senhor. Mas alguns en-tendem que o orgulho de Jacó, neste contexto, é sinôni-mo de Javé. Neste caso, a tradução mais apta de seria a excelência _, ou a glória de Jacó,  como na SBB. Assim a glória de Jacó  se refere à eleição de Israel, 3:2. Se o Senhor jurou pelo orgulho constante e inalterável  

de Jacó, ou  por si mesmo}  com referência à eleição de Israel, há certamente um tom de ironia na declaração», pois os israelitas tinham repudiado as responsabilida-des da eleição, e ao mesmo tempo se ufanavam inalterà velmente da sua própria glória.

As obras de Jacó  violavam tão arrogantemente a   justiça divina,'que a ameaça concorda perfeitamente com a profecia de Amós. Portanto, não há nenhuma razão 

para se atribuir a passagem a outro escritor admitindo se que teria acrescentado êste versículo à obra original de Amós, simplesmente porque não é especificado o de-sastre que Israel há de sofrer. A seguinte explicação de George Adam Smith mostra como a passagem repre-

L. A. 11

Page 161: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 161/201

162 A. R . GRABTREE

senta perfeitamente o pensamento e o estilo de Amós: 

“A fonte principal da inspiração do profeta é o seu sen-tido abrasador da indignação pessoal do Senhor contra crimes tão abomináveis. ” 5

A frase, não me esquecerei de tôãas as suas obras, significa que tais obras serão devidamente punidas, de acordo com a justiça divina. A Septuaginta tem tuas obras,  para concordar com “Ouvi isto, vós”, no v. 4.

“Não estremecerá a terra por causa disto, e não lamentará todo aquêle que habita nela, e tôda ela se levantará como o Nilo, e será agitada e abaixará como o Nilo do Egito?”

(8 :8 ) .

Assim se representam as fôrças da natureza física  em perfeita harmonia com a justiça divina, indignadas com a iniqüidade e a corrução de Israel. A frase  por  causa disto  apresenta o terremoto como o castigo da ava-reza e da injustiça dos negociantes que pisavam os po-bres e necessitados. A terra estremece por causa da re-volta dos iníquos contra o Senhor, enquanto se ouve a lamentação em tôda parte. O terremoto não é apenas um tremor momentâneo. A palavra , no imperfeito, des-

creve o movimento da terra para cima e para baixo, com-parado com o Nilo que vai se elevando por um período de um mês, e se baixando no mês seguinte. O sofrimen-to terrível do povo vai continuar, com grande lamenta-ção, por muito tempo. A linguagem poética, ou figurati-va, é necessária para descrever as convulsões do espírita •do povo, no desastre nacional.

O sinal de interrogação no princípio da primeira linha do hebraico, com a ligação de cada uma das três linhas seguintes pela conjunção vave,  indica que o ver-sículo inteiro deve ser lido como uma só pergunta. Sur-

■5. Op,. cit . ,   p . 184

Page 162: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 162/201

O LIVRO DE AMõS 163

gem dúvidas, às vêzes, a respeito da pontuação do he-braico. A SBB lê a primeira e a segunda linha como perguntas; a terceira e quarta como declaração. O sen-tido não é muito diferente. A pergunta retórica é mais enfática do que a simples declaração.

“E sucederá naquele dia, diz o Senhor Javé, Farei que o sol se ponha ao meiodia, e entenebrecerei a terra em dia claro.

Converterei as vossas festas em luto, e todos os vossos cânticos em lamentações; porei pano de saco sôbre todos os lombos, e calva sôbre tôdas as cabeças; farei que isso seja como luto por um filho único, e o seu fim como um dia de amargura” (8:910) .

Êstes versículos descrevem o efeito do julgamento 

divino sôbre os israelitas que desprezaram as leis mo-rais do Senhor. No julgamento da revolta de Israel con-tra a ordem moral da sociedade, o Senhor dos céus e da terra põe em operação as leis da ordem natural. Além do terremoto, com os seus horrores, vem também a es-curidão, com o pôr do sol ao meiodia. Alguns pensam que o profeta se refere ao eclipse do sol que ocorreu aos 

15 de junho de 763 a.C., no período do ministério de Amós, mas a palavra entrar,  significa claramentea entrada do sol,  ou o sol poente. O sol se põe ao meio- dia  para o homem quando morre de repente no meio da vida, Assim, a noite virá, com o sol poente, para Israel ao meiodia, no meio da sua prosperidade material e do seu orgulho . Na escuridão desnaturai haverá gran-de lamentação, O profeta tinha falado em 5:16 e 17 do pranto de tôdas as classes do povo de Israel, nas pra-ças, nas ruas e nas vinhas. Em:5:18 e 20 êle declara que o dia do Senhor   será um dia de trevas,  e não de luz   co-mo o povo esperava. Descreve também nestes dois ver-

Page 163: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 163/201

164 A. R . CRÀBTREE

sículos o castigo da infidelidade de Israel que lhe so-

brevirá no dia do Senhor .Vai cair de repente o julgamento divino sôbre a na-ção, e tôdas as suas festas de alegria se converterão em luto e os seus cânticos de júbilo em uivos e lamenta-ções. O povo punha pano de saco sôbre os lombos, e fazia calva a frente da cabeça quando ficava desespera-do. (Ver Is. 3:24) . Em Deut. 14:1 é proibido fazer 

calva por causa de algum morto, porque muitos pagãos praticavam o costume, e Israel deve ser um povo sepa-rado, um povo santo (Deut. 14:2) . Descrevese a la-mentação por um filho único em Jer. 6:26, como  pranto de amarguras.

“Eis que vêm os dias, diz o Senhor Javé, quando enviarei fome sôbre a terra; 

não a fome de pão, nem a sêde de água, mas de ouvir as palavras do Senhor. Perambularão de mar a mar, e do norte até ao oriente; correrão por tôda parte, procurando a palavra do Senhor, mas não a acharão” (8:1112).

Os versículos apresentam uma visão do julgamento do Senhor quando o povo não terá mais a luz e o con-forto da palavra de Deus. No seu sofrimento, o povo de-sejará ardentemente uma mensagem do Senhor para con-fortálo nas aflições e oferecerlhe de novo à orientação que tinha rejeitado. Mas a sua amargura no tempo da 

' punição será intensificada pela falta da revelação divina.O povo de Israel freqüentemente desprezou e rejei-

tou a orientação de seus mensageiros espirituais, mas o profeta Amós tinha sido para êles intolerável. Portan-to, um dos elementos trágicos do castigo da sua infide-lidade é que o Senhor lhe enviará a fome e a sêde de ou-vir a palavra de conselho divino. Na sua miséria o po-

Page 164: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 164/201

Page 165: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 165/201

166 A. R . CRABTREE

Geralmente as virgens e os jovens, no vigor da ju-

ventude, pensam nos prazeres da vida e deixam para, mais tarde o problema da sua relação para com Deus. Mas naquele dia, êste grupo mais vigoroso do povo, sub-mergido nas tristezas do desastre, desmaiará. Se os mais fortes desmaiam de sêde, quanto mais os fracos. Se os jovens tivessem participado do culto idólatra de Samaria, sentiriam profundamente a severidade do jul-gamento do Senhor.

O significado do vs. 14 não é muito claro. A flor  da sociedade de Israel tinha jurado por  Ãshinva.  Esta palavra é geralmente reconhecida agora como o nome de uma deusa da Siria, adorada em Samaria por alguns  judeus. Esta deusa foi conhecida pela colônia dos judeus de Elefantina no Egito, no quinto e no quarto século a .C .6 Conforme diz II Reis 17:30,  Ãshima  foi adorada 

também pelos homens de Hamate. Com a mudança de apenas uma vogal  Ãshima  toma o lugar de áshama  que significa “culpa”.

Como vive o teu deus, ó Dã,  referese ao bezerro de ouro naquele lugar, perto da base do Monte Hermon (I Reis 12:29). Keil e Delitzsch7 argumentam que a culpa de Samaria se refere à adoração do bezerro de ou-ro de Betei, como a cláusula seguinte se refere ao bezer-ro de Dã. Mas a palavra  Âshima  certamente significa o nome de uma deusa adorada em Samaria, e a culpa, áshama,  de adorar uma deusa falsa, na infidelidade para com o Senhor. Samaria, bem como Betei, era centro da idolatria de Israel. Ê muito provável que o povo da capital continuasse o culto no santuário de Betei. A culpa dos adoradores do bezerro de Dã era também a 

culpa dos idólatras de Betei, reconhecida por implicação.O juramento pelo caminho de Berséba  é geralmente

6 .  Arqueologia Bíbl ica  do autor, ps. 5961; 2857. Op. c it ,,  p . 319

Page 166: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 166/201

O LIVRO DE AMÓS 167

considerado semelhante ao juramento dos muçulmanos 

pelo caminho de Meca. Mas alguns seguem a versão da Septuaginta, “como vive o teu deus de Berseba”, mu-dando r n , caminho,  para T H , teu deus.

7.  A Visão Final da Terrível Destruição ão Reino de Israel,  9:14

Nesta quinta e última visão, o profeta declara que 

o próprio Senhor lhe apareceu junto ao altar, e lhe apre-sentou diretamente a mensagem que transmite ao povo. Nas visões anteriores o Senhor lhe mostrou os objetos, e no caso do prumo,  e do cêsto de frutos}  Deus lhe inter-pretou a sua significação.

“Vi o Senhor que estava em pé junto ao altar, e êle disse:

Fere os capitéis até que estremeçam os umbrais, e os faze em pedaços sôbre a cabeça de todos êles; e os sobreviventes matarei à espada; nenhum dêles fugirá, nenhum dêles escapará. Embora cavem até o Sheol, de lá os tirará a minha mão; embora subam ao céu, de lá os farei descer.Embora se escondam no cume do Carmelo, de lá buscálosei e os tirarei; embora se escondam dos meus olhos no fundo do mar, de lá darei ordem à serpente e ela os morderá. Embora vão para o cativeiro diante de seus ini-migos, ali darei ordem à espada, e ela os matará; e porei os meus olhos sôbre êles 

para o mal, e não para o bem” (9:14) .Impressionante é a repetição das frases nestes ver-

sículos que descrevem a impossibilidade de escaparem do julgamento divino.

Page 167: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 167/201

168 A. K, CRABTREE

O profeta viu ao Senhor junto ao altar de Betèl, o santuário principal do povo de Israel. A profecia da vi-

são é dirigida contra o reino, contra a casa real, contra os opressores injustos e também contra os santuários, pois o fracasso da religião foi a base e o princípio do declínio moral que resultou na injustiça e na infidelidade do povo escolhido quanto a representar os princípios do reino de Deus na terra.

No templo, como a habitação do Nome do Senhor, 

os israelitas viram o penhor da presença do Senhor e da permanência do reino de Israel. Portanto, a destrui-ção do templo representaria o término do reino de Is-rael como o povo do Senhor. A profecia da exterminação repentina do santuário, onde o povo estava prestando os seus cultos de costume ao seu Deus, foi recebida pelos ouvintes como mensagem inexplicável, incrível, absurda.

O profeta declara concisamente: Vi o Senhor.  As-sim esta visão se distingue das outras, introduzidas pe-las palavras, O Senhor me fêz ver.  Não se apresenta, como nos casos anteriores, qualquer objeto simbólico do desastre vindouro. O próprio Senhor tinha tomado a sua posição ao lado do altar para falar direta-mente ao seu mensageiro. Foi o altar de Betei, o centro do culto nacional do povo de Israel. Parece um tanto 

forçado o argumento de Keil e Delizsch 8 de que a men-sagem profética, apresentada nesta visão, é dirigida ao reino de Judá bem como ao de Israel. É verdade que o profeta tinha mencionado o reino de Judá em algumas das mensagens de ameaça, mas não há nada nesta visão para indicar que Amós viu a completa destruição re-pentina de Judá. O reino de Judá resistiu maravilhosa-mente ao poder militar de Senaqueribe, no esforço de tomar a cidade de Jerusalém nesta mesma campanha da Assíria (I Reis Caps. 1819) . O rei Ezequias, encoraja-

8 . Op. cit.,   p. 320

Page 168: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 168/201

O .LIV RO D E AMÓS 169

do pelo profeta Isaías, recusou entregar a capital de Ju dá ao exército formidável da Assíria, e o reino político 

permaneceu por mais 135 anos, para ser tomado em cir-cunstâncias diferentes, com resultados importantes para a  permanência do restante fiel e, por seu intermédio, o reino de Deus.

Não é mencionado o nome da pessoa incumbida de executar a ordem de  ferir   (ijn) os capitéis. A des-truição do santuário ainda esta no futuro. A ordem é evidentemente simbólica, e foi assim entendida pelo pro-feta. Mas não pode haver dúvida sôbre o significado do símbolo. O templo de Betei será completamente destruí-do. Quando os capitéis das colunas que seguram o te-to são esmagados, o edifício cairá. Estremecerão os umbrais, e o templo ficará completamente desmoronado, caindo em pedaços sôbre a cabeça de todos eles.  As pes-soas reunidas no edifício ficarão sepultadas nos escom-

bros. A fuga será impossível. A discrepância aparente na declaração de que “todos serão esmagados pelas ruí-nas” e “os fugitivos” é removida pela ênfase na destrui-ção completa.  Se,  por acaso, <alguns conseguissem fugir, 

 Deus persegui-los-ia e os destruiria à espada.  Não esca-pará nenhum dêles. Não é possível fugir da justiça de Deus.

Embora cavem, 

nnn,até o Sheol, a terra subterrâ-

nea, a habitação dos mortos (Is. 49:911; Jó 11:8, 26: 5 seg.), de lá os tirará a minha mão.  Esta linguagem da visão é hiperbólica para acentuar a impossibilidade de fugir da onisciência do Senhor dos céus e da terra, como também da certeza da destruição completa do rei-no setentrional.

Se os sobreviventes do desastre do templo pudessem 

subir até ao céu, de lá os faria descer o Senhor da jus-tiça .Se tentassem esconderse no Monte Carmelo, de 550 

metros de altura e cheio de cavernas, com florestas que

Page 169: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 169/201

170 A. R . CRABTREE

antigamente serviam de abrigo aos ladrões, o Senhor os buscaria e os tiraria.

Se fôsse possível esconderemse no fundo do mar,, o Senhor daria ordem à monstruosa serpente, o leviatã. tradicional, o monstro marinho (Is. 27:1; Jó 41:1; Sal. 104:26), e êle os morderia.

Se fôrem para o cativeiro diante dos inimigos, ali o Senhor dará ordem, à espada, e ela os matará.  Talvez o profeta se refira à crença de alguns israelitas de que Javé exercia autoridade sôbre o povo da Palestina, masr em qualquer outra terra êles seriam sujeitos ao deus que ali governasse. O exílio era considerado geralmente como castigo o mais severo possível, mas aqui a morte como punição é pior.

Assim êste trecho descreve gràficamente a onisci rência e a onipresença do Senhor da justiça, uma amea-ça terrível para os injustos e os revoltosos contra o seu Deus. No Salmo 139 o cantor descreve com temor, e com profunda reverência, êstes maravilhosos poderes do Se-nhor.

Deus tinha pôsto os olhos sôbre o povo de Israel, para dirigilo e orientálo na realização do seu propósito 

de estabelecer o seu reino e o seu govêrno no mundo. Mas Israel se revoltara contra o propósito divino, com a conseqüência terrível de que o Senhor põe os oihos sôbre êle, não mais para o bem, mas para o mal   (njn>  para o punir segundo os eternos princípios da justiça divina. Em tôdas as circunstâncias o povo fiel do Se-nhor pode ter certeza de que recebe a atenção especial 

do Senhor. São mais ricamente abençoados do que o po-vo do mundo, e também mais severamente punidos quan-do desprezam os seus privilégios e se revoltam contra a justiça divina.

Page 170: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 170/201

O LIVRO DE AMÓS 171

“O Senhor Javé dos Exércitos, êle que toca a terra, e ela se derrete, 

e todos os que habitam nela lamentam, e tôda ela sobe como o Nilo, 

e abaixa como o rio do Egito; é êle que edifica as suas câmaras superiorés nos 

céus, e funda a sua abóbada sôbre a terra; 

e o que chama as águas do mar,e as derrama sôbre a superfície da terra; o Senhor é o seu nome” (9:56) .

Êste hino, como os anteriores (4:13 e 5:89), des-creve a majestade transcendente de Deus como o criador e governador do mundo. Alguns comentaristas pensam que a teologia dos três hinos é muito desenvolvida para. 

êste período, e os tratam como interpolações na profe-cia, algum tempo depois de Amós. Mas nestes últimos, anos, estudantes eruditos como o Dr. John D. W. Watts3argumentam que foram escritos algum tempo antes de Amós, e citados por êle. E contra a posição de muitos, críticos, o Dr. Watts concorda com os arqueólogos W. F. Albright e G. Ernest Wright,10 de que o monoteísmo« 

foi desenvolvido antes do tempo de Amós, e que êstes hi-nos tiveram a sua origem no período entre Elias e o. profeta de Tecoa, para serem cantados durante os cultos nos santuários. Neste caso, a citação dos hinos por Amós concorda perfeitamente com a sua crítica severa dos cul-tos formais nos santuários. A teologia, perfeitamente or-todoxa, proclamada nos cultos, era desprezada na prá-tica da infidelidade religiosa.9. Op. cit.j pág.   6410.  G. E rne st Wright, God Who Acts, Biblical Theology a s  

 Recital,  Cap. II. W. F. Albright,  Archaeology <md the'   Religion of Israel,   p. 116

8 . O Terceiro Hino do Livro de Amós,  9:56

Page 171: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 171/201

172 A. R. CRABTREE

O v. 5 repete, em parte, 8:8 que representa as for-ças da natureza física em perfeita harmonia com as leis morais do Senhor. O Senhor Javé dos Exércitos, que põe os olhos sôbre Israel, é aquêle que toca a terra, e ela se derrete, aquêle que fica entronizado nos céus como o criador, sustentador e diretor de tôdas as fôrças físicas bem como das leis que operam na vida do homem e das nações.

A cosmologia do v. 6 concorda com a de Gên. 1:88. 

As câmaras superiores nos céus  levantamse acima da •abóbada  , aguda) cujas extremidades repousamsôbre a terra. Esta cosmologia não concorda com a ci-ência moderna, mas o ensino teológico do hino se har-moniza perfeitamente com as leis da ciência já conhe-cidas, ou que ainda possam ser verificadas, pois o Se-nhor se apresenta como o criador das leis físicas que encantam e preocupam os cientistas. É o Senhor Javé dos Exércitos que chama as águas do mar e as derrama sôbre a face da terra.

O vento, as águas, as montanhas, os corpos celestes testemunham do propósito do Senhor. Como todos os poderes recebem a sua direção do Senhor dos Exércitos, assim também a vida e a esperança do homem repousam nêle. Êstes três hinos, 4:13; 5:89; 956, concordam 

perfeitamente com a teologia da mensagem do livro, e testemunham da doutrina da criação e direção do cos-mos pelo Senhor dos Exércitos dos céus e da terra.

8. O Senhor Ê o Deus de Todos os Povos,  9:7

A tendência de ufanarse de privilégios especiais e de julgarse inerentemente superior em virtude de tais regalias é um característico da natureza humana. Qua-se todos os povos e tôdas as nações, bem como os gru-pos religiosos, têm também a tendência de dar demasia-da importância às suas experiências extraordinárias do

Page 172: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 172/201

O LIVRÓ DE AMÓS 173

pas.?ado. Israel, talvez mais do que qualquer outra na-

ção, sofreu por causa destas tendências.“Não sois vós para mim como os filhos da Etiópia, 

ó filhos de Israel? diz o Senhor.Não fiz eu subir a Israel da terra do Egito, 

os filisteus de Caftor e os sírios de Quir? (9 :7).

As duas perguntas levantam questões sérias sôbre 

convicções obstinadas de Israel. O profeta está decla-rando que todos os povos são iguais perante o Senhor? Alguns dizem que tal propósito seria uma contradição de 3:2: “De tôdas as famílias da terra somente a vós vos escolhi.” Mas esta declaração não quer dizer que Israel é superior às outras nações, senão no privilégio de ser o povo escolhido do Senhor para uma missão es-pecial. O teor da mensagem de Amós indica que os is-

raelitas mostravamse inabaláveis na convicção de que, em vista dos favores divinos recebidos no passado, era. inconcebível a tese do profeta de que Deus pretendia destruir o povo da sua própria escolha.

Que significa, então, a pergunta: “Não sois vós co-mo os filhos da Etiópia para mim?” Significa, ao menos, que a infidelidade de Israel tinha rompido e terminada 

a sua íntima relação com o Senhor, e em conseqüência disso Israel não tinha vantagem alguma sôbre os etíopes, na sua relação com Javé. A pergunta não indica qual-quer desprêzo dos etíopes, da parte do profeta, como di-zem alguns. Isaías (18:12) fala favoràvelmente dos etíopes. Considerando os ensinos teológicos de Amós, a pergunta é retórica, e assim enuncia positivamente que Javé é o Senhor de todos os povos e de todos os movi-

mentos da história das nações, e que todos os povos são iguais perante êle. O profeta entendeu que a eleição de Israel visava o estabelecimento do reino de Deus entre todos os povos do mundo, mas não discutiu esta finali-dade da eleição, como fizeram os profetas subseqüen-

Page 173: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 173/201

174 A. R . CRABTREE

tes, especialmente Isaías. Israel nunca poderia se es-quecer do favor especial do Senhor em fazêlo subir ao Egito e darlhe a terra de Canaã. Mas Javé, o Deus de Israel, também fêz subir os filisteus de Caftor e os siros de Quir. Êstes dois povos tinham sido inimigos de Isra-el, e na luta com êles Israel tinha sofrido. Foi, portan-to, mais uma declaração desagradável do profeta, para os seus ouvintes. Mas, com todos os favores divinos que tinha recebido do Senhor, chegou o tempo de Israel re-

conhecer que já tinha sacrificado as vantagens e as regalias da eleição por causa do repúdio das responsabi-lidades morais que aceitara com o Concêrto recebido do Senhor, por meio da infidelidade e revolta contra a ori-entação divina.

Israel precisava de aprender que o. Senhor Javé, o seu  Deus, é também o Deus de todos os povos. Nenhum povo, nem Israel, tinha o direito de pensar que era a única nação que podia gozar da comunhão com o Senhor. Q profeta Amós, na declaração de que outros povos, além de Israel, foram guiados pelo Senhor, é apenas um dos mensageiros divinos, embora o mais antigo dos pro-fetas canônicos, que apresentam o conceito da universali-dade do réino de Deus.

A soberania do Senhor na história humana é su-

bentendida em tôda parte da profecia, desde a ameaça da punição divina dos pecados das nações vizinhas de Is-rael. Até a nação cruel da Assíria será usada no poder do Senhor soberano para castigar a Israel cujas trans-gressões tinham cancelado a sua relação especial com o seu Deus.

Contudo, convém notar que o profeta não declara  jque qualquer outra nação vai ter exatamente as mes-mas relações com o Senhor que Israel tinha experimen-tado. Nenhum outro povo servirá, por exemplo, como veículo da revelação divina no mesmo sentido como o povo escolhido. Mas outros povos podem gozar de ple

Page 174: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 174/201

O LIVRO DE AMÕS 175

iia comunhão com o Senhor, com as mesmas bênçãos e 

os mesmos benefícios que Israel tinha experimentado, de acôrdo com a sua fidelidade aos princípios da justiça di-vina .

9. O Julgamento Disciplinar de Israel, e a Restauração do Reino Davídico,  9:815

Alguns comentaristas são dogmáticos em afirmar que êstes versículos não foram escritos por Amós, por-que não concordam com o tema da profecia de que Is-rael será completamente destruído. Mas nestes últimos anos um grupo de estudantes eruditos defende, com ar-gumentos ponderados, a autenticidade do trecho.

A mensagem de Amós, nos oráculos e nas visões, é que Israel, como nação, será destruído. Não há nenhu-

ma declaração no livro que contradiga os ensinos dêstes versículos, ou negue a salvação de um restante de fiéis. Nos oráculos e nas visões o profeta admoestava, prega-va o arrependimento e intercedia em favor de Israel. Devido à persistência das autoridades nacionais na de-sobediência e rebelião, o Senhor suspendeu as funções normais do Coneêrto, com as provisões de intercessão, 

arrependimento e perdão. Portanto, o profeta tinha que pronunciar a destruição do “reino pecador” (9:8), es-pecialmente da casa real e dos responsáveis pelo declínio moral e a infidelidade nacional. No cumprimento da sua missão profética, Amós lutava com a questão da esco-lha de Israel como o povo do Senhor. O castigo do repú-dio das responsabilidades do Coneêrto será mais do que a punição disciplinar: será a destruição completa.

Mas, além dêste ponto de vista dos oráculos e das visões, o profeta lutava com as suas convicções a res-peito da eleição de Israel. Embora não seja claro o fato de como êle resolveu o dilema, aqui no fim da sua men-sagem êle aparentemente percebeu que a solução do. pro

Page 175: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 175/201

176 A. R . CRABTREE

blemà estava no arrependimento do restante dos fiéis 

de Israel, a solução aceita e desenvolvida, com respeito ao mesmo problema de Judá, pelos profetas subseqüen-tes. Como diz o Dr. Watts:

“Notase que Amós precedeu o profeta Isaías com o conceito do restante (9:810), e o da esperan-ça da restauração davídica (9:1112) . Um núme-ro crescente de críticos eruditos está chegando a 

reconhecer a autenticidade dêstes últimos versí-culos.” 11“Eis, os olhos do Senhor Javé 

estão neste reino pecador, e eu o destruirei de sôbre a face da terra; 

mas não destruirei totalmente a casa de Jacó, diz o Senhor” (9:8).

Os olhos do Senhor Deus estão neste reino pecador. Õ uso da preposição 2 indica que o olhar do Senhor é desfavorável. A SBB assim traduz: , contraêste reino.  Assim a declaração concorda com o ensino geral da profecia. Vários comentaristas insistem em que o reino pecador   do versículo inclui o reino de Judá com o de Israel, mas o artigo definido indica que o profeta está se referindo ao reino de Israel, que tinha sido o assunto da sua discussão através da mensagem. Ê for* çado o argumento de que o profeta está falando dos dois reinos, Israel e Judá, na frase êste reino pecador. Eu o destruirei sôbre a face da terra  significa a destruição completa; o pensamento repetido muitas vêzes na pro-fecia, e aqui pela última vez.

O profeta usava a frase, a casa de Jacó,  várias vê-

zes, com referência ao reino de Israel (5:1,4,6; 6:8,14; 7:2,5,10,16; 8:7), e não há razão de se pensar que é usada aqui no sentido dos dois reinos. Está falando

11. Op. cit.,   p. 25

Page 176: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 176/201

O LIVRO DE AMÓS 177

ainda do reino de Israel. A declaração, não destruirei  

totalmente ta casa de Jacó,  não é uma contradição abso-luta da linha anterior. O hebráico freqüentemente üsa superlativos para dar ênfase, e não no sentido absoluto. Certamente a destruição do reino de Israel não significa a destruição absoluta de tôdàs as pessoas do reino. Hou-ve sobreviventes da destruição do reino de Israel, como no caso  da destruição do reino de Judá, mas não exata-mente no mesmo sentido.

“Pois eis que darei ordens, e sacudirei a casa de Israel 

entre tôdas as nações, assim como se sacode trigo no crivo, contudo, não  cairá sôbre a terra um só grão”

(9:9)v

 Eis que eu estou dando ordens.  O particípio inten-sivo, estou damdo,  com o pronome pessoal, dá ênfase à mensagem do Senhor. A palavra  Eis   chama a aten-ção pára a importância da ordem. Todos os israelitas, fiéis e iníquos, têm que  passar pela experiência dura.  Sacudirei a casa de Israel entre tôãas as nações.  A ira"* se entre tôãas as nações  consta nas profecias de Jere-mias (43:5) e Ézequiel (36:21), e talvez fôsse interpo-lada na profecia de Amós, pois êle visava o cativeiro de Israel pela nação poderosa da épóca, a Assíria.

Quando se sacode o trigo no crivo, a casca è os de-tritos caem na terra, mas os grãos de trigo ficam no crivo, limpos e separados das coisas que não prestam. Ô cativeiro, na providência divina, será um processo dé sacudir, disciplinar, purificar a nação de Israel. Todos 

os iníquos, imprestáveis e corrutores, desaparecerão no processo, mas nem um só grão de trigo perecerá. Os bons ficarão no crivo, no exílio, e ao invés de pere-cer, serão úteis no propósito e no plano do Senhor. A palavra 1TÍÜÍ geralmente significa seixo, pederneira>

L. A. 12

Page 177: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 177/201

178 A. R . CRABTREE

 pacote,  e vários intérpretes procuram explicar o sentido da passagem na base de uma ou de outra destas defi-nições da palavra. Mas o sentido de qualquer palavra é determinado, em parte, pelo uso do contexto. Aqui a palavra significa caroço  ou  grão.  Ê assim traduzida nas melhores versões. A dispersão do povo de Israel é com-parada ao movimento do crivo que separa o grão da casca. O dia do julgamento será um tempo de prova, de disciplina, de purificação. Os justos suportarão as 

provas mais duras e serão preservados, mas os iníquos perecerão.Esta declaração de que os justos dos israelitas se-

rão salvos não contradiz, na psicologia dos hebreus, os versos i a 4 que declaram a destruição completa de Is-rael. Antecipando a esperança falsa dos iníquos, de que êies’poder iam, de qualquer maneira, achar um meio de escapar da calamidade, o profeta esmagou esta confian-ça ilusória, sem mencionar as exceções ou os justos que serão salvos. /

Depois de apresentar a promessa de que a casa de Israel não será completamente aniquilada, senão os iní-quos' do govêmo nacional, o profeta promete que pela misericórdia do Senhor os justos serão salvos.

A profecia foi cumprida pela queda de Samaria em 

722, ou no princípio do ano 721 a C., e pelo cativeiro de Israel pelo poderoso exército militar da Assíria. O povo judaico ainda está sendo sacudido no crivo das na-ções, mas é muito provável que o profeta Amós visava apenas o cativeiro assírio.

“Todos os pecadores do meu povo morrerão à espada, os quais dizem: O mal não nos alcan-

çará, nem nos encontrará” (9:10) .O Senhor, no exército da justiça perfeita, castiga-

rá com a morte violenta os pecadores, que tinham esca-pado até então e no seu orgulho continuam a dizer: O

Page 178: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 178/201

Page 179: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 179/201

180 A. R. CRABTREE

veículos da revelação ajuda no entendimento e na in-

terpretação do Vélhõ Testamento.Às déz tribos de Israel deixaram de existir como nação, mas havia alguns grãos de trigo, alguns fiéis, que ainda eram herdeiros da promessa. Israel e Judá são reconhecidos entre os profetas e escritores do Velho Tes-tamento como um só poVo, o povo escolhido do Senhor. Com a destruição do reino pecador, ó futuro do reino de Deus dependeria do grupo dos fiéis dos dois reinos que tinham suportado as provas da destruição nacional, e ficaram fiéis através de tôdas as vicissitudes e sofri-mentos .

O profeta teve ainda para os fiéis uma mensagem de esperança. Os grãos de trigo que não pereceram com a cásca, purificados pela rigorosa disciplina, serão usa dôs ha realização do propósito do Senhor por intermé-

dio da casa de Davi. O profeta não fala da casa de Davi em termos da sua grande política. Assim como os pa-lácios magníficos representam a grandeza e o poder po-lítico do reino de Da,vi, o tabernáculo, a tenda de Davi caída, representa o estado espiritual do reino, e ao mes-mo tempo a esperança para o futuro. A promessa de levantar das suas ruínas a tenda baseiase na promessa de Deus feita a Davi quando êste desejava construir urna casa para a habitação do Senhor (II Sam. 7:1216).

A casa de Davi, no reinado de Uzias, contemporâ-neo de Jeroboão II de Israel e do profeta Amós, era po-liticamente forte. Mas, do./ponto de vista da fidelidade ao Senhor, Judá não era muito melhor do que Israel. A  tenda caída de Davi estava em ruínas. Muitos dos reis e do pòvo, desde a idolatria de Salomão, tinham se desvia-

do do Senhor. Mas os profetas de Judá, na sua prega-ção poderosa e nos apelos baseados na promessa do Se-nhor a Davi, conseguiram desenvolver um grupo (res-tante) dos fiéis ao Senhor para a realização do seu pro-pósito na eleição.

Page 180: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 180/201

Page 181: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 181/201

182 Á. R . C R Á B TR EE

àpehás éáeapou, graças ao poder da fé do profeta Isaías, e graígaS á orientação que êstè deu ao rei Ezequias, que se recusou a entregar Jerusalém, a última fortaleza de Judá, ao rei Senaqueribe. A salvação era de fato um milagre^

São os profetas Isaías e Míquéias que testificam das condições morais de Judá,.SIMABIBd SB|̂ repararei   as suas brechas,  há uma alusão ao fato de que o restante dos fiéis  

dos dois reinos, Israel e Judá, é unido sob o novo rei, Davi (Ver Os. 2:2; 3:5; Ez. 37:22). O sufixo prono-minal da palavra VriDTJ, as rumm dêle,  na segunda cláusula, referese claramente a Davi, cuja tenda o Se-nhor promete levantar com novo poder.

“Para que possuam o restante de Edom, 

e tôdas as nações que são chamadas pelo meu nome, diz o Senhor que está fazendo estascoisas” (9;Í2) .

• Alguns, nao entendendo que o epílogo da profecia é méãsiânico, insistem em que êste versículo revela o antagonismo costumeiro de Judá para, com Edom, e fa-la da conquista militar do restante dêste, e das nações 

que Davi tinha conquistado em o: nome do Senhor. Mas o profeta está falando da época messiânica, do reino es-piritual na; vida dos homens. Ê provável que os profetas do Velho Testamento nunca tenham chegado a pensar que o reino messiânico do futuro seria completamente separado do governo político do povo escolhido. Mas os profetas e salmistas concordam e insistem em que o go vêrno messiânico do Senhor no futuro será justo e pa-

cífico no Coração dos súditos voluntários, homens è na çõès (Is. 2:14; Miq. 4:14; Sal. 72).Fosbroke la e outros dizem que a frase tôdas as na-

Í 2 . Op. cii.,   V. 6, p. 851. Harper, Op. bit.,   p . 198.

Page 182: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 182/201

O LIVRO DE AMÓS 183

ÇÕes  significa apenas as nações que Davi tinha subjuga-

do, e a cláusula que são chamadas pelo meu nome  refe-rese somente às nações que assim levaram o nome ãe  Dm>i.  Cita as palavras de Joabe a Davi, II Sam. 12:28; e Is. 4:1, para provar a sua declaração. Àssim êle põe de lado o significado claro das palavras as nações chamadas pelo, meu nome, diz o Senhor que está fazendo estas coisas.  Àssim êle, Harper e outros negám o signi-ficado messiânico da passagem. Êle declara também que 

a Septuaginta, citada em Atos 15:1618, não concorda com o hebraico. Seria mais exato dizer que a Septuagin-ta não concorda com a leitura errada do hebraico por Fosbroke e Harper.

É fato que a Septuaginta não concorda exatamente com o Texto Massorético na primeira linha do versículo, mas concorda essencialmente quanto ao seu sentido. Diz 

a Septuaginta: “Para que busquem o restante de ho-mens”, ao invés de “Para que possuam o restante de Edom.” As mudanças são dèvidas à Semelhançá de pa-lavras: ao invês de a n # ; ttfTT ao invés de 

A Septuaginta concorda perfeitamente com os versículos seguintes que descrevem os característicos da 

 Idade Messiânica,  indicação que representa o texto ori-ginal. Fosbroke e outros rejeitam a versão da Septua-ginta aqui, mas quase sempre dão preferência ao texto grego quando concorda melhor com os seus preconceitos.

“Eis, vêm os dias, diz o Senhor, ;■quando o que lavra alcançará ao que sega, e o que pisa as uvas ao que lançava semente; 

os montes destilarão mosto,e todoé os outeiros se derreterão” (9:13).

Os escritores bíblicos descrevem a glória, da Idade Messiânica em linguagem poética, usando têrmos con-cretos para acentuar o rico sentido dos conceitos espi-rituais. Por exemplo, a volta dos fiéis do cativeiro ba

Page 183: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 183/201

184 A. R . CRABTREE

bilônico, “Os montes e outeiros romperão em cânticos diante de vós, e tôdas as árvores do campo baterão pal-

mas” (Is. 55:12). O escritor descreve neste versículo a produtividade maravilhosa da terra na época vindou-ra. Tão abundante será a ceifa que levará todo o tem-po da estação para recolher os produtos da lavoura, até à época de lavrar a terra para a plantação no ano se-guinte. Aquêle que lavra a terra em preparo para a plan-tação seguinte alcançará os segadores ainda preocupa-

dos com o recolhimento dos produtos abundantes. Os produtos das vinhas serão tão abundantes que o tra-balho dos pisadores das uvas continuará até o tempo de plantar as sementes para a próxima estação. Ver Lev. 26:5 Assim os poderes maravilhosos do Senhor Javé vão se manifestar na operação das leis físicas da nature-za, para trazer as suas bênçãos aos homens fiéis, como se manifestaram na punição dos infiéis (4:611). O Se-

nhor Javé não se identificava com as fôrças produtivas da natureza, como os deuses antigos. Êle é Criador e Controlador de tôdas as fôrças dos céus e da terra, de modo que domina e dirige estas fôrçás pára a realiza-ção dos seus propósitos justos e eternos.

“Restaurarei a fortuna do meu povo Israel, 

e êles reedificarão as cidades assoladas, e ne-las habitarão;plantarão vinhas e beberão o vinho delas, 

e êles farão pomares e comerão o fruto dêles.E eu os plantarei na sua terra, 

e nunca mais serão arrancados da sua terra que lhes dei,

diz o Senhor tèu Deus” (9:1415).

Há duas opiniões sôbre o significado das palavras, n p t f e  Z W ,  Alguns pensam que significam “res-

taurar a fortuna” ou “mudar a sorte”, como em Jó 42:

Page 184: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 184/201

O LIVRO DE AMÓS 185

10. Todavia, a palavra shebhuth  significa cativeiro,  e a cláusula pode ser traduzida para “Farei voltm do car  

tmeiro.”   Não há muita diferença entre as duas tradu-ções, pois os versículos que seguem concordam com qual-quer uma delas.

 Êles reedificarão as cidades assoladas.  O pensamen-to desta declaração ligase com o conceito da grande prosperidade no reino futuro do povo do Senhor, apre-sentado no versículo anterior. Os súditos do reino re-

edificado de Davi não serão afligidos com a sêca, ou com a destruição das vinhas e figueiras pela locusta (4:9). Não ficarão privados de habitar as casas que edificam, de comer dos frutos das plantações, ou de beber o vinho das vides que plantam (5:11) . Receberão as copiosas bênçãos da produtividade abundante do solo. Livres do mêdo de calamidades punitivas, serão felizes no gôzo da vida ricamente abençoada. Em perfeita paz e tranqüi-

lidade, êles gozarão das bênçãos materiais do seu labor, bebendo o vinho das vides que plantam, e comendo o fruto dos seus pomares.

O povo será plantado na terra que o Senhor lhes deu, e nunca mais será arrancado dela. A nação é justa em plena comunhão com o Senhor. O eterno favor de Deus é lhes confirmado pela promessa, diz o Senhor teu 

 Deus.

Page 185: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 185/201

S'

!■il

Page 186: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 186/201

PREGAÇÕES SÔBRE O LIVRO DE AMÕS

Todos os pregadores reconhecem as dificuldades na pregação sôbre os profetas. O preparo de um sermão sobre  qualquer assunto apresentado nas profecias exige conhecimento do profeta, do seu ambiente histórico, das condições religiosas de seus contemporâneos e dos des-

tinatários da sua mensagem. É preciso escolher os en-sinos proféticos de eterno valor e de aplicação univer-sal .

Quanto mais conhecimento o pastor tem dêstes as-suntos, mais rico e mais interessante será a sua prega-ção. Mas na pregação dos profetas, o pastor não deve tentar transmitir aos seus ouvintes tôda esta informa-

ção. O resumo, em poucas palavras introdutórias, do ambiente histórico do texto, deve despertar o interêsse dos ouvintes pela profecia. O pastor deve focalizar os ensinos práticos, as verdades de eterno valor e de apli-cação especial para os seus ouvintes. O estudante cui-dadoso ficará agradàvelmente impressionado com os nu-merosos assuntos de imenso valor nas profecias para a pregação pastoral e evangelística.

A Profecia de Amós é rica nos ensinos de profundo interêsse para o pastor e para o treinamento religioso dos seus membros. Apresentamos aqui apenas algumas dm   verdades eternas desta mensagem proferida para o tfeinamento religioso dos seus membros. Apresentamos aqui apenas algumas das verdades eternas desta mensa-gem proferida para o povo de Israel, no período crítico 

da sua história, oitocentos anos antes de Cristo. A Vocação de Amós

“Eu não era profeta, nem filho de profeta era eu,

Page 187: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 187/201

188 A. R. CRABTREE

mas boieiro, e cultivador de sicômoros, quando o Senhor me tirou de após o rebanho, e o Senhor me disse: Vai, profetiza ao meu povo Israel” (7:1415).

É fato de profunda significação o aparecimento dês te pastor de Tecoa no palco da História. Não se sabe explicar a cultura literária e religiosa dêste pastor do lugar solitário de Tecoa na região montanhosa da Ju déia. É claramente um gênio que evidentemente se apro-veitou de todos os meios para treinar as suas faculdades 

mentais e espirituais a serviço do Senhor.I.  A Chamada de Amós para o Ministério Profético. A chamada divina de Amós é clara e definitiva. “O Se-nhor me tirou de após o rebanho, e o Senhor me disse: Vai, profetiza ao meu povo Israel.” O caráter da men-sagem dêste pregador da justiça, proclamada ao povo de Israel há 27 séculos e transmitida às gerações subse-qüentes, é notavelmente apropriada para a sociedade moderna de todos os povos do mundo.

II. O Homem de Tecoa Proclamou e Defendeu a  Justiça de Deus.  Influenciado pela religião dos cananeus, e pela sua prosperidade material, o povo de Israel jul-gava que estava ganhando o favor divino por suas ofer-tas e pelo culto cerimonial; que Deus não se interessava nas relações humanas, enquanto recebia os sacrifícios e 

o culto do seu povo. Assim os israelitas da época eram muito religiosos, e pensavam que a sua religiosidade pa-gava bem o privilégio de praticar a injustiça e cruelda-de nas suas relações humanas para os seus próprios in terêsses. Era também o povo escolhido de Deus, e êle não podia deixar de proteger e abençoar a sua própria nação. No desenvolvimento destas falsas idéias sôbre religião, Israel chegou a pensar que pudesse reduzir Deus ao seu próprio nível de imoralidade e injustiça, e assim blasfemava do Santo Nome do Senhor. Êste era o cúmu-lo da sua infidelidade. O Senhor da justiça destruirá o povo rebelde.

Page 188: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 188/201

O LIVRO DE AMÓS J89

III.  A Justiça Divina Exige a Justiça Social.  Esta 

não era uma nova doutrina. Desde a redenção de Israel da opressão cruel do Egito, o Senhor tinha condenado, por intermédio dos profetas, a injustiça, denunciando se-veramente os reis e outros opressores dos pobres e in-defesos. O coração justo ama a justiça divina, e tem prazer em praticar a justiça com o seu semelhante. O pecado corrompe o coração. O culto ritual de Israel re-presentava a sua natureza pervertida. Cometiam o pe-cado da blasfêmia nos seus cultos religiosos. “Os ver-dadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em ver-dade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem” (João 4:23) . Não pode haver a verdadeira adoração do 

Senhor, sem o espírito de amor e obediência.IV. O profeta Amós Pregou ao Povo de Israel “que 

o salário do pecado é a morte.”   “Por três transgressões... 

e por quatro não revogarei a punição.” O que as naçõés semeiam, isso também ceifarão. As leis espirituais de Deus são imutáveis. Amós apresenta com fôrça a ver-dade da justiça divina. A história e a experiência hu-mana proclamam o castigo do pecado. Israel se re-cusou a ouvir as admoestações do mensageiro de Deus e a abandonar as suas falsas esperanças. Por causa dos seus pecados, da sua infidelidade e da obstinada recusa de arrependerse e converterse ao Senhor, a nação de Israel foi completamente destruída.

O Profeta Amós Se Encontra com o Sacerdote Amasias,7:1017

Estes dois homens representam a tensão entre a 

religião de serviço e a rèligiãio de sacrifícios  em tôdas as épocas da História. Para entendermos claramente êstes dois pontos de vista, precisamos conhecer a mensagem de Amós e as acusações que o sacerdote levantou con-tra êle. O sacerdote representa a religião do povo, a

Page 189: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 189/201

190 A. R . CRABTREE

religião nacional, que o profeta condena. A pregação de 

Amós foi um desafio, uma afronta ao sacerdote e à sua freguesia que incluiu a nação inteira, até o rei Jeroboão. Amós prega o Deus soberano, o Deus imutável, o Deus de justiça. O sacerdote de Betei representa o Deus do povo, o Deus que não se incomoda com as relações hu-manas enquanto recebe as ofertas generosas e a baju-lação do povo, o Deus de boa camaradagem. Tão per-turbadora era a pregação de Amós que o sacerdote sen-

tiuse obrigado a defender o povo.I.  Primeiro de Tudo, Amasias Mandou uma Mensa

 gem Assustadora ao Rei Jeroboão.  Como o representan-te da religião oficial, o sacerdote desejava agradar ao rei, a suprema autoridade da religião nacional de Israel. A mentalidade do sacerdote era incapaz de entender a verdade, na mensagem de Amós, de que a religião hi-

pócrita de Israel estava arrastando a nação para a des-truição completa.II.  Apresentou ao Rei uma Acusação Falsa contra 

 Amós.  “Amós tem conspirado contra t i .” Do ponto de vista do sacerdote, a acusação não foi falsa. Êle não entendeu, ou não quis entender, que Amós era mensa-geiro de Deus. Ê quase impossível para o homem de preconceitos obstinados entender qualquer verdade que contradiga o seu ponto de vista. Amasias reconheceu que a mensagem da justiça proclamada por Amós amea-çava a destruição de Israel, mas se recusou a acreditar que fôsse a mensagem de Deus. Não era a mensagem do Deus representado por Amasias. O Deus de Amasias estava fazendo o povo de Israel prosperar em recompen-sa do seu culto generoso. O profeta anunciador de de-

sastres deve ser expulso da terra. Quantas vêzes na his-tória da religião os sacerdotes e eclesiásticos têm per-seguido os pregadores do Evangelho. Desde 1948, os sacerdotes e eclesiásticos da Colômbia mataram 116 pro-testantes, simplesmente porque êstes pregaram o Evan-

Page 190: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 190/201

O LIVRO DE AMÓS 191

gelho da salvação pela graça de Deus e não por inter-

médio dos sacerdotes e eclesiásticos.- O Deus qwe Não Se Incomoda da Injustiça  So-cial: Àmasias estava a par da injustiça social de Israel. Mas para o sacerdote que se aproveitava dos cultos ricos e aparatosos do seu povo, a religião não se ligava cótu as relações humanas. A religião era o meio de se ganhai* o favor divino na aquisição de riquezas para a satisfa-ção dos seus desejos egoísticos. O culto brilhante e mag nificente da Missa que manipula o corpo e o sangue de Cristo para ganhar os favores divinos agrada à vista  dos homens, mas não representa o espírito humilde que se manifesta em adoração, amor e serviço. O profeta de Tecoa reconheceu que a religião de Israel, cultivada e desenvolvida pelos reis e sacerdotes, resultou em abai-xar o Deus dos céus e da terra ao nível da injustiça do 

povo. O acúmulo do pecado de Amasias e de seu povo era a hipocrisia e a blasfêmia do Santo Nome do Se-nhor.

0  Julgamento Divino,  1:2

“O Senhor ruge de Sião, e de Jerusalém faz ou-vir a sua voz.” O profeta Amós fala com franqueza e 

energia. Não é o único modo de entregar a mensagem do Senhor. Os profetas bíblicos não deixam de revelar al-guma fôrça da sua personalidade e as condições e ne-cessidades espirituais de seus ouvintes. O povo de Is-rael, no seu declínio religioso e moral, no tempo do rei-nado de Jeroboão II, precisava de um mensageiro do Senhor, como o homem de Tecoa.

I. O Senhor Rugiu de Sião pela Bôca do Seu Pr  feta Amos.  Deus levantou os grandes profetas do Ve-lho Testamento para orientar o seu povo e realizar, por intermédio dêles, o seu propósito na História. Assim êle preparou o pastor de Tecoa, na região escabrosa da

Page 191: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 191/201

192 a ; r  . c r a b t r e e

Judéia, para entregar a sua mensagem ao povo pecami-

noso de Israel. O Senhor iá falando ao povo nà violên-cia da natureza física, mas fala também ao povó nà pre-gação dura e urgente do seu mensageiro Amós. As cir-cunstâncias históricas e as condições religiosas de Israel 

 justificam a sinceridade do profeta nà exposição do pe-rigo da infidelidade para com o Senhor.

II. O Senhor Fêz Ou/vir a Suá Voz.  Deus fala de muitas e várias maneiras (Heb. 1:1), de acôrdo com as necessidades espirituais do povo. A arrogância, o orgu-lho, a injustiça e a falsa esperança de Israel tinham fe-chado o seu entendimento espiritual. Não havia outra maneira de falar ao povo que se achava nestas condi-ções, O profeta Oséias falou ao mesmo povo Còm bran-dura e compaixão, mas o povo tinha perdido a capaci-dade de entender e aceitar qualquer mensagem que con-denasse a sua infidelidade para còm 0 Senhor. Preferiam ficar fiéis ao Deus que tinham criado à sua própria imagem,.

III.  Esta Palavra, “Sião” Despertou as Lembranças da Providência de Deus na História de Israel.  Mas os privilégios da eleição divina e as bênçãos récebidas ao invés de despertarem a gratidão e o espírito de ar-

rependimento de Israel, tinham confirmado o povo no seu orgulho e arrogância, na sua falsa esperança, è as-sim êles fecharam o espírito nacional contra a mensa-gem do profeta. O profeta reconheceu que o espírito de infidelidade obstinada, firmado na falsa esperança da eleição e na prosperidade material, estava determinan-do a destruição inevitável de Israel como nação.

O Apêlo ao Senso Moral,  2:11

“Não é isto assim, ó filhos de Israel?” Todos os es-tudantes da profecia de Amós ficam impressionados com

Page 192: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 192/201

O LIVRO DE AMÓS   193

os seus apelos à inteligência, à lógica e ao senso moral dos seus ouvintes. Êste observador cuidadoso de causa e efeito  estava preparado pela experiência para explicar as conseqüências da avareza e injustiça de Israel.

I. O senso moral nos ensina que as leis espirituais de Deus são igualmente uniformes e operantes como as leis da natureza física.  A operação das leis físicas é mais evidente às nossas experiências diárias. Mas a cons-ciência do bem e do mal não deixã de reconhecer a ope-ração das leis morais de Deus na vida do homem, da fa-mília, da sociedade e das relações nacionais e interna-cionais.

II. O nosso senso moral nos ensina que Deus não no,s deixa eternamente nas trevas da ignorância.  Êle fala à nossa consciência no poder do seu Espírito, mas podemos nos recusar a ouvir a voz divina. Levantou os seus profetas e apóstolos para nos ensinar o seu amor e a sua vontade para a nossa vida. As Escrituras, in-cluindo o apêlo de Amós ao povo de Israel, falam áos nossos corações e nós ajudam a entender as nossas ne-cessidades espirituais no preparo do nosso espírito pa-ra receber o dom de perdão e da graça de Deus na Pes-soa de Cristo Jesus.

III. O nosso senso moral nos ensina que Deus não  faz acepção de pessoas.  Todos são recebidos na condi-ção de fé e arrependimento. Esta condição de sermos recebidos por Deus não se limita à nossa decisão mo-mentânea, mas determina a nossa comunhão com Deus durante a nossa vida inteira. O êrro fatal de Israel no tempo de Amós foi duplo. Julgava que pudesse ganhar, ou comprar as bênçãos do Senhor com a sua religiosi dâde. Tinha se esquecido das condições eternas e imu-táveis para a comunhão com Deus: arrependimento e fé, mãos limpas é coração puro.

Page 193: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 193/201

194 A. R . CRABTREE

 A Religião Meramente Cerimonial e a Religião Verdadeira,  4:45

Não houve falta de religião no reino de Israel no tempo de Amós. Podese dizer que  não há falta de reli-gião em qualquer parte do mundo em qualquer época da História, porque o homem é incuravelmente religioso, O povo de Atenas era muito religioso  quando o apóstolo Paulo visitou a cidade. O povo de Samaria e de Betei era demasiadamente religioso quando o profeta Amós lhe proclamava a mensagem do Senhor.

“Oferecei sacrifício de louvores do que é levedado, e proclamai ofertas voluntárias, publicaias; pois assim gostais de fazer, ó filhos de Israel, diz o Sénhòr Deus” (4:5). Estas palavras sarcásticas o profeta dirigiu ao povo de Israel, zombando da sua religião. São palavras graves que assim condenam a religião cerimonial do po-

vo infiel para com o Senhor.I.  A religião cerimonial de Israel procurou mane jar, manipular e influenciar m Senhor a fim de receber   © auxílio divino  na satisfação dps seus próprios in terêsses injustos. Não se interessava em conhecer e fa-zer a vontade do Senhor. Queriam agradálo com ri-cas ofertas e magníficos cultos para que não defendesse os fracos e indefesos que êles oprimiam e roubavam.

II.  As suas ofertas suntuosas agradaram aos seus sentidos físicos,  ao seu orgulho, à sua astúcia, ao seu egoísmo, ao seu sentido de superioridade em relação ao povo fraco em seu poder. Assim Israel degradou as suas vítimas, mas no processo êle se degradou a si mesmo ainda mais .

III.  Êste povo, materialmente próspero, amãamdo nas 

trevas do pecado e na prática da hipocrisia e blasfêmia, precisava ouvir a voz do mensageiro de Deus da justi-ça . .Escravizados pela injustiça, os israelitas tinham cria-do o seu Deus de acôrdo com a sua» própria fé. “Forquè'

Page 194: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 194/201

O LIVRO DE AMÓS 195

onde estiver o vosso tesouro, ai estará também o vosso 

coração” (Mat. 6:21) .IV.  Amós pregava a religião -de comunhão com Deus,com o Deus da revelação divina, com o Deus Santo e Justo. “Andarão dois juntos, se não estiverem de acor-do ?” A verdadeira religião é a comunhão com o verda-deiro Deus. Para estar em comunhão com Deus, o nos-so espírito tem que estar em harmonia com o Espírito de Deus em amor e justiça.

O Encontro Inevitável com Deus

“Contudo, não vos convertestes a mim, diz o Senhor” (4:6,8,10,11). “E porque isto te farei, preparate, o Israel, para te encontrares com o teu Deus” (4:12).

O profèta nos apresenta o Deus da justiça, e nos de-

clara que não podemos fugir ao julgamento da justiça divina.I.  Deus revela o seu propósito em nossas experiên

cias.  As experiências da vida nos oferecem conhecimen-to sôbre o caráter de Deus e sôbre o propósito divino em tais experiências. Como Israel foi admoestado por fome, sêca, e outras pragas, assim também as nossas experiências de sofrimento, doença e aflições podem ser 

reconhecidas como admoestações divinas. Tais experi-ências produzem queixas e rebelião contra Deus no co-ração do incrédulo; mas enriquecem a vida dos homens de fé.

II. O  propósito de Deus em nossas experiências é  sempre benéfico.  Recebemos constantemente as bênçãos da providência divina. Tudo que sustenta a nossa vida 

vem de Deus. Podemos reconhecer tôdas as experiên-cias, agradáveis e desagradáveis, como manifestações da providência de Deus, ou podemos fechar o nosso enten-dimento contra a sua significação.

III.  Israel se recusou a ouvir as admoestações di-

L. A. 14

Page 195: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 195/201

 j f %' Jvinas, mas não evitou'o encontro com Deus.  Quantas vêzes Israel se recusou a voltar a Deus em resposta às 

admoestações de Deus nas suas experiências! Mas se recusou ainda mais firmemente a ouvir a mensagem do profeta que o Senhor lhe mandou. No encontro inevitá-vel com Deus, Israel sofreu o castigo da sua desobedi-ência e da sua infidelidade. Sofreu a destruição comple-ta.

 Privilégio e Responsabilidade“De tôdas as famílias da terra, a vós somente co-

nheci; portanto, tôdas as vossas injustiças visitarei sô tíre vós” (3:2).

A eleição do povo fraco de Israel para ser a nação sacerdotal entre todos os povos do mundo foi uma bên-ção gloriosa e um privilégio supremamente honroso. Is-

rael sempre se ufanava da sua eleição, mas não quis lem-brarse das suas responsabilidades.I.  Israel desenvolveu o espírito orgulhoso em, vir

tude da sua eleição.  Os privilegiados têm a tendência de ficar orgulhosos, e de julgarse superiores aos outros, esquecendose ao mesmo tempo que privilégio envolve responsabilidade. Isaías ensinou êste princípio na pará-

bola da vinha (Cap. 5), e Jesus acentuou a mesma ver-dade na parábola dos talentos (Mat. 25:1430) . Israel chegou a pensar que a sua escolha o exaltou acima de outros povos. Êste é um perigo para todos os privile-giados .

II.  Isrwel desenvolveu também o espírito presunçoso, por causa da sua eleição.  Interpretou erradamente o grande amor de Deus. Julgava que a sua escolha e o 

concêrto de Deus para com êle lhe garantia incondicio-nalmente as bênçãos divinas. Esqueceuse de seus pró-prios compromissos para com Deus. Assim perderam o sentido da sua nobre missão perante Deus. Ficaram ce-

196 A. R. CRABTREE

Page 196: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 196/201

O LIVRO DE AMóS 197

gos quanto à gravidade das suas transgressões e à sua 

infidelidade.III.  Israel verificou a verdade de que o salário do pecado é a morte.  A nação eleita, com a sua incumbên-cia divina, ricamente abençoada na sua história, orgu-lhouse, desviouse, afastouse de Deus, e na sua avare-za e amor próprio revoltouse contra a justiça divina, e finalmente sofreu as conseqüências da sua infidelidade. Não se preparou para o encontro inevitável com Deus.'

“Buscai-me e Vivei”,  5.4

“Buscai ao Senhor, e vivei, para que não se lance na casa de José como um fogo e a consuma, e não haja em Betei quem o apague” (5:6).

Com as críticas irônicas da religiosidade de Israel, 

e as ameaças duras contra tôdas as formas de transgres-sões do povo, o profeta apresenta à nação infiel êste apê lo eloqüente do amor imutável de Deus.

I.  Buscai-me.  O profeta nunca vacila na certeza de que está transmitindo ao povo a mensagem do Senhor. Apesar do perigo terrível do afastamento de Israel do seu Deus da justiça, o profeta, representando a ordem do Espírito do Senhor no seu coração, apresenta nestas 

poucas palavras o verdadeiro caminho de salvação. Is-rael deve abandonar a falsa confiança no Deus de Betei. “Não busqueis a Betei, e não entreis em Gilgal, nem pas-seis a Berseba.” Mas “o Deus de Betei” é mais indul-gente, mais camarada. Êle aceita as ofertas do povo, e não condena a vida de luxo. Não se interessa pelas relações sociais do povo, enquanto recebe as ofertas e 

a adoração do povo. Esta falsa noção de Deus e da re-ligião era tão agradável e tão atraente que Israel não podia abandonála.

II.  Para que não irrompa na casa de José como um  fogo que consuma.  Estas são palavras de admoestação

Page 197: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 197/201

198 A. R . CRABTREE

contra os resultados fatais da carreira pecaminosa. O 

pensamento sôbre o julgamento de Deus não é agradá-vel, porque não podemos crer que a justiça e a injustiça, o bem e o mal recebam a mesma recompensa.

III.  Buscai a verdadeira vida com Deus.  “Assim o Senhor, o Deus dos Exércitos, estará convosco, como diteis” (5:14). O Deus dos céus e da terra, na sua ma-

 jestade e grandeza, quer a nossa vida, o nosso amor. O Senhor quer viver em nosso coração para que tenhamos 

a vida abundante, a vida de comunhão com êle, e de amor e fraternidade com o povo dêle. “A vida eterna é esta: que te conheçam a ti só por único Deus verdadei-ro” (João 17:3).

O Rio Perene da Justiça

“Antes corra o juízo como as águas, e a justiça co-mo ribeiro perene” (5:24) . Êste é um dos grandes tex-tos do Velho Testamento. Todos os pregadores de ex-periência reconhecem a dificuldade de pregar satisfa-toriamente sôbre as mais profundas passagens da Bíblia, mas não devem negligenciálas. Amós morava na ter-ra árida da Judéia, onde caíam as chuvas apenas em certos meses do ano, quando trouxeram uma vida nova 

para as plantas, para os animais e grande alegria e gra-tidão para os homens. Amós fala do ribeiro perene  ou do ribeiro poderoso?  Qualquer uma das versões é rica na descrição da justiça verdadeira.

I.  A vida de justiça liga-se com a justiça* divinComo o amor de Deus é a fonte do amor humano, assim a justiça de Deus é a fonte da justiça humana. Mais 

de três séculos depois de Amós, os grandes filósofos gre-gos desenvolveram o seu sistema filosófico da vida éti-ca. Mas o pastor de Tecoa, inspirado pelo Senhor dos Exércitos, criador das leis físicas e morais, entendeu que a justiça perene e poderosa do homem recebe a sua ins-

Page 198: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 198/201

O LIVRO DE AMÓS 199

piração e o seu poder dinâmico da comunhão entranhada 

com o Deus da justiça.II.  A vida de justiça é uma vida de atividade perene e poderosa.  A vida com Deus diminui tôdas as qua-lidades de atividade injusta até ao mínimo, mas aumen-ta grandemente as responsabilidades e atividades no ser-viço da justiça divina, nas atividades da igreja, na obra evangelística, missionária e benéfica. “Êle te declarou, ó homem, o que é bom; e que é o que o Senhor pede de ti, senão que pratiques a justiça, e ames a beneficência, e andes humildemente com o teu Deus” (Miq. 6:8) .

III.  A vida da justiça é governada pelo amor.  Na exposição do amor no Sermão do Monte, Jesus explica como o amor ao próximo se manifesta na prática da jus-tiça. Alguns pensam que haja a falta de amor nos sen-timentos e na pregação do profeta Amós, mas o valor 

que êle dava à pessoa do pobre e necessitado e o seu conceito da justiça social representam o mais profundo entendimento do verdadeiro amor. É verdade que o pro-feta condenou severamente a injustiça e a infidelidade. Mas o nosso Senhor Jesus Cristo, que nos trouxe a mais perfeita revelação do amor de Deus, condenou com a mesma severidade a infidelidade e a hipocrisia (Luc. 

11:3752).  A Visão de Deus

“Vi o Senhor, que estava em pé junto ao altar” (9: 1) . Não se sabe onde se achava Amós quando teve esta visão do Senhor, mas é muito provável que estivesse em Betei na ocasião quando o povo oferecia os seus sa-crifícios ao Senhor. O profeta reconhece em tôda parte 

da profecia que o povo de Israel estava longe do Senhor, até nos seus cultos. Em contraste com o ambiente hi-pócrita de Israel, o Senhor se apresenta ao profeta na majestade da sua inexorável justiça. Que aconteceria ao povo reunido no seu culto na igreja, se o Senhor apa

Page 199: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 199/201

Page 200: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 200/201

BIBLIOGRAFIA SELECIONADA

O LIVRO DE AMÓS 201

A. B. Davidson, The Prophet Amos,  1887

W. R. Harper,  Amos and Hosea, International Criticai  Commentary,  1905

S. R. Driver, The Books of Joel and Am,ós  (Cambridge  Bible),  1954

R. S. Cripps,  A Critical und Exegetical Commentary on  Amos,  Macmillan Co., 1959

George Adam Smith, The Booh of the Twelve Prophets, Harper and Brothers, 1940

Roland E. Wolf,  Meet Amos and Hosea,  Harper and Brothers, 1945

Norman H. Snaith, The Booh of Amos,  Epworth Press, 1946

Keil and Delitzsch,  Minor Prophets,  Vol. I, Erdmans Publishing Company, 1954

Hugbell E. W. Fosbroke, The Interpreter’s Bible,  V. VI, Abingdon Press, 1956

John D. W. Watts, Vision and Prophecy,  E. J. Brill, Leiden, Netherlands, 1958

Page 201: A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

8/13/2019 A. R. CRABTREE - O LIVRO DE AMÓS PA

http://slidepdf.com/reader/full/a-r-crabtree-o-livro-de-amos-pa 201/201

um grande pequeno livro da bíblia

O livro do profeta Amós, impropriamente classi-

ficado, com outros mais, entre os profetas menores, é

sem   dúvida um dos grandes livros da Bíblia embora não

o seja péla extensão de suas páginas, apenas nove ca-

pítulos. Cresce de vulto a importância dêsse livro quan■■

do consideramos que seu autor era homem humU#e,

sem letras, deixandonos, não obstante, uma das ptoVe 1K •   •* —%), , Vj

cias mais vigorosas e candentes nas palavras fiéis e ye,; j* »

i '*