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;-r.: .

A publicação de um Bolctln pülódtso do l[bldérlo dEJurtlça rurgc da necerp$dlç ds dlluaülr lltomagôcr' ih. trocrroxperiênclar, dc inielar rü dcbate mbre- os problcmar üaJusttça no nosso País, O iltrelto não eonrtltul pm rcctor doaparelho ile Estado, mar sln a rupercdrutura qrc tt$nla arrclaçõcr.em qualqucr arpecto da vlda roelal: a produçIo, oconsumo, a saúde, a Íamílla, o trabalho, oE conportanentogantl.socials, etc.

Por lsso é importante conheccr e Íazcr conhccer a Íoruacomo s[o aplicados o dlrcito e a turtlça qo norro Pafu.

Salr do departamcntalismo e ilo lcolamcnto, adqulrlr umaconsciêncla lurídlca unltárln, descnvolver uma sultura lurídlcimoçambicana que ultrapame qualquer lorma .de rcglonallrmo,rlo arpectoc lmportantes no fortaleclmento da nocra unldrilenaclonal.

Temos quc egtudar atentamcntq os problcmar. luealectam a nossa sociedade para enóontrar roluções oorrestase unltárlas no plano iurldlco. Mar crte erÍorço não pode crtarderllgailo de uma rellexão robre o notto pastailo hüctórlço,derde os prlmeiror passos pâra a conrtruçlo ds umc nova

lurtiça nag Zonas Llbertadas. Dc facto exlgtc uma contlnuHrdena cxperlêngla revoluci,onárla do nosso Povo der.le o tcnpoda Luta Atmada de llbertaçlo naclonal até hote, quando aguerra é declarada contra o intmlgo lnterno e é lançado uddesaflo higtórico psra, numa década, vcncer o subde$nvolvl'mento.

Como aflrma a Resoluçâo gobre a Justlça da YIII Semlodo Comlté Central rta FRELIMO: cSó a partir dc todo ertctrabalho de conheclmento ilar realldades s dar experlênclar donotso povo re poderó criar um Direlto trovo e pôr a Íulclonarum slstema de aplicação da iustiga que seia verdadelramentepopular e mogamblcano).

Escolhemos para erte Boletlm o nome de cJUSTIçAPOPULART. <Populan não rtgnlftca mals Íócll, mals vulÍlar,monor elaborado teoricamente; lustiça popular rignlÍlca uma

iustiça capaz ds reflectir as característlsas da socledade novae ar arpiragões do povo.

Asslm propomo'nos reflectir sobre a vlda dor nosso! Trlbu=nals e og gectoreg do lÌÍinlstérlo, propomo=nos Íalar ile dlreitoe rle iurisprudência, queremos dlvulgar e comentar ar trosra8leü, queremoE comparaÍ o notso direlto com o de outros

p1Íçs: debatlr quertõer teórlaar € qucÍõcr prátlcar: tudo luode lnqa totma slara o rlmples, para alue todor pomam partbolpar e enpenhar.lc.

Qucttmos aqul lenrbrar ar palavras que o Prcsldente $amoraMashel proferlu por ocadão da lnvcstldura do Govorno deTranrtgão em 20 de Setembro de 1974. Elar reprerentam uma

' ortertlçlo programática iá rtllectlda nn noEEa Organtzaç[oJniliclárla c rtprcrc4tam também uma valiosa orlentação paraa feltura do norrg Boletlm.

<O aparelho iudiclório deve sor rcorganiaado para quêa luúlga reia acouívcl e comprcensíyel ao cldarllooomüE da nossa terra. 0 slrtema burguêr envolvc,ua admlnlrtragão da lurtlça de uma complexldade úár=nccessl[rla, dc um furirdlclomo lnpenetrúvel àr mar.sar, de [m palavreado dellbcradamente coalugo cencoberto, de uma lentldlo e custog qne crlan umabarrelra entre o povo G a iuetlçal.

O Eelçtln pÍ@ka de una ampla partlcipação, porquc ró eepodcrá'tornar um lnstrumento vlvo e útll, na medlda em quc

' rcÍlita a varta e complexa realldade do Paft.

Tetrmos que dar acolhlmento a multas vozer para obterum (Bom) rle coniunto sobre o que é a Justiça em Moçambi.quc: temos {üe ouvlr ar vozes do Trlbunal Superior de Recurroe do Tribunal do Localldade, da Faculdadc de Dlrclto. dosCentrog Prislonais, dos Postos ile Reglsto, dos Tribunals Popu'lares Provinclalr, dpr outras estruturas rlo aparelho de Estado,do cldarlÍo somum.

Em tuma, temoa que acolher as contribulçóer de todos os

quc têm senslbiltdade e atençõo para com os problemas tla

Juetiça,'poh que clar oonstltuem o atlmento lnilirpcnrôvel à

vlda e bom êxlto da nossa rcvlsta.

Aprerentamog esta primelra publlcação perlódlca do Mlnts'

tério ila Jurtlça. o próprlo Mlnistérlo attume a tarcla dc

scleca[o e controle do scu conteúdo. or artl$or e contrlbnlçõcr

são da regponjab{ltdade dos seus autoros. São estas as condl-

çõer bóslca8 para que 8e instaure uma dlal&tlca na cultnra

lurídica que ertamos a crlar.

É o ponto de partida para a transÍormação do nogso Bole'

ttm en verdadeira Revista de dlrelto, doutrlna e lurlspru.dêncla.

I

{

,

FICHA TÉCNICA:REDACçÃO: Francesca Dagnino, Gita Honwana, Cláudio Nhandamo, João Carlos Trindade

SEDE: Rua Mateus S. Muthemba, 65 - Maputo

ARRANJO GRÁFICO: Direcção Nacional de Propaganda e Publicidade

IMPRESSÃO: Tipografia Minerva Centrat

CAPA: Reunião numa Localidade - f6fs de Moira Foriaz

N.o DE REGISTO DO INLD: 0200/INLD/80-\ul6puf6-República Popular de Moçambique

POPULARA EDIF|CAçÃO DA JUSTrçA

Apresentamos a seguir a Directiva do III Congresso sobrea Justiça, enquanto documento fundaqental para o nossosector.

A Consti tuição cla República Popular de Moçam-

bique estabeleceu uma ruptura com o passado

colonial e com o sistema capital ista. Ela define as

bases <le um Estado inteiramente novo, de Demo-

cracia Popularr, e traça princípios fundamentais para

Ír. ecl i f icacão cla Sociedade Social ista.

. \ construção da novÍÌ ordem legal é um processo

complexo, gue requer estudo. Isso expl ica o art igo

7r.n cla Consti tuição, que mantém em vigor a parte

clzr legislação anterior que não contraria a Consti-

tuição. Mas, ncsse rrÌesmo art igo, definimos a

necessidade cle modif icar e revogar todo o conjunto

de norrnas lcgzris postas em vigor no período colo-

nial. l )erste moclo, a Consti tuição, no que tem de

programático, impôs a necessidade de formulação

inteir irmente novzr cle tocla a estrutura legal do País.

Esta tzrrefa começara a ser executada na fase da

Trzrnsição. Pela natureza da fase, as leis clo período

rle Transição t iveram um carácter mais reformista

clue revolucionário. Mesmo assim, tomaram-se me-

t l i r las legislat ivas cle extrema importância para asse-

iïur:Ìr o excrcicio clo . poder pela FRELIMO, para

frustrar e combater manobras de sabotagern e

outras, peÌra pôr em funcionamento mecanismos

legais clue visavanr perrnit i r o controle cla Economia

pelo Estado, Í Ìsseg'urando a passagem a uma nova

ordem económica. A demolição do sistema legal do

colonial ismo iniciou-se, portanto, no período de

transição para se acelerar no próprio momento da

pi-oclanração cla Inclependência - vlyvyfs da Cons-

t i tu ição - e no per íodo Que ss lhe seguiu .

Essa demolição tem tomado, em certos casos, a

lorma cle inor-ações legislat ivas introduzidas passo

^ passo. Nas questões fundarnentais, a demolição

clo sistema legal colonial-capital ista tem assumido

a forma cle saltos qual i tat ivos que destruiram, até

uÌos al icerces, importantes construções legais do

Direito burguês colonial. São estes os casos bas

r-racional izações operaclas nos sectores do ensino,

sirúcle, just iça e propriedade dos prédios de rendi-

mento.

As experiências que já colhemos revelam que po-

dcmos continuar a combinar os dois métodos ut i l i -

zzrclos. I)er.emos combater ã tendência esquerdìsta

rle af irmar que as leis feitas no período colonial de-

venÌ .ser toclas abol idas num único momento. Uma

tal decisão conduzir-nos-ia a situações de anarquia

e cle crise de autoridade, que seriam uti l izadas pelo

inimigo e se voltarizrm contra o próprio poder da

al iança operário-camponesa

O processo cle formação de novas leis pode e deve

ser mais rapiclamente conduzido. Para que este

objectivo se real ize, é essencial que em cada mo-

mento, zrtravés das estruturas do Part iclo e das es-

truturas <io Estado, o Povo proponha aos órgãos

legislat ivos as transformações legais necessárias.

No estudo clas novas leis é part icularmente neces-

sário que o Part iclo dinamize a part icipação activa

e constante das largas rxassas na elaboração de

propostas e na discussão de projectos de lei.

Ao direito novo deve corresponder também uma

lineuagem nova orientaclz'r principalmente no sentido

cla simplicidade. Devemos encontrar a l inguagem

simples e popular que faci l i te o entendimento e

cl ivulgaç:ão clas leis pelas massas, sem prejudicar a

necessária ef icácia técnica. Temos de encontrar no-

vos métoclos de levar as leis ao conhecimento do

povo, para que possam ser inteiramente assumidas.

Impõe-se a clestruição da estrutura judicial exis-

tente, colrìo parte cla destruição do aparelho de Es-

tado colonial-capital ista em Moçarnbique. O novo

sistema judiciário deve exprimir o Poder da al iança

operário-camponesa e ref lect ir a Ditadura do Pro-

le tar iado.

Os órgãos funclamentais da nova estrutura judicial

são os Tri trunais Populares, gue se escalonarão desde

o Tribunal Supremo, até ao Tribunal Popular de

Localidade ou Aldeia Comunal. Os tr ibunais serão

compostos por elementos que exprimam o poder do

Povo.

A criação da nova legislação e a regulamentação

dos Tribunais Populares devem ter em conta as

experiências clo nosso Povo na prevenção do crime,

na resolução cle confl i tos sociais e na ieeducação

de reacc ionár ios e cr iminosos.

Neste contexto, as experiências das zonas liber.-

tadas são fundamentais. As transformações revolu-

cionárias englobaram a organização das estruturas

judiciais. Nas zonas l ibertadas, é o povo organizado

que faz os julgamentos. Em cada caso que se lhe

apresenta, ele anal isa-o, discute e aprofunda todas

as suas causas. Para os Tribunais Populares são

secunclárias zÌs circunstâncias meramente formais

cla infracção, cuja discussão tanto tempo ocupa nos

tribunais burgueses. Ao ltovo organizado, que julga

o crime e outros confl i tos. interessa acima de tudo

I*I

I1

o conhecimento das causas que determinaram a

acção do réu. Conhecidas as causas e anal isado o

seu signif icado, o Tribunal Popular tem então como

preocupação central encontrar os métodos. adequadog

para reeducar o infractor, tendo em vista a sua

reintegração na sociedade. A reeducação não signi-

f ica isolamento mas, muito pelo contrá,r io,"a inten-

sificação dos contactos com a vida do Povo, com

os hábitos do Povo, com o trabalho do Povo.

Libertar o infractor das influências que o levaram

a cometer o crime ou a desencadear o conflito, é o

objectivo da reeducação. No processo da reeducação

desempenha um papel fundamental a combinaçã,o da

crítica e auto-crítica políticas com o estudo político

e com a prática da produção colectiva.

Os Tribunais Populares das zonas l ibertadas são

o instrumento do Poder e também a escola onde o

Povo completa a sua formação política, ideológica

e cienti f ica. A sua preocupação essencial é o Homem

e a sua tarefa principal é o conhecimento, o estudo

e a el iminação das causas que levam o Homem a

assumir comportamentos anti-sociais.

Na organização dos Tribunais Populares, igual-

mente devem ser t idas em consideração as experiên-

cias clo nosso Povo, desde a tomacla cle posse do

Governo cle Transição. Estas experiências assutnen-t

um grande valor para o estudo e formulação cla

legislação que deve reger os novos Tribunais Popu-

lares. Elas mostram quanto a legislação colonial e

capital ista é profunclamcnte incompativel com as

tradições, modo de vìda e característ icas clzr noss:t

Socieclade e do nosso Povo.

A tarefa centrerl dos Tribunzris Populares é ma.nter

o respeito pela legal idade revolucionária e, para isso,

clevem controlar a legal idade clos actos clets pessoas,

inst i tuições e órgãos clo Estaclo.

' f ivemos já a necessidacle de, algut-t"t : ts vezes,

intervir energicermente contra actuzLções que violavam

:r legal iclacle revolucionária e princípios estabelecidos

na Consti tuição que consagram cl ireitos funclamen-

tais dos cidadãos.

Com a consoliclzrção do Estaclo t lzr l)ernocracia

Popular inst i tuirnos na Repúbliczt Popular de Mo-

çambique uma forma superior de legal idacle, a

legal idzrde revolucionária.

DE CoMc MIGUNGAcHANE BOISSA ESCAPOU Â PROVADO FOGO E DE COMO OS SEUS JULGADORES FORAM

JULGADOS.

Feit içar ia, cÍenças mágicas, Íazem parte duma

cultura obscurant ista e ant i -c ient í f ica ainda pro-

Íundamente enraizada na nossa sociedade. Surgem

numerosos casos de crímes cuia origem assenta

ern práticas e cÌenças obscurantistas; os nossos

:Íribunais devem perseguir os autores desses cri-

mes, não esquecendo que um dos seus papéis

Íundamentais é d educação e o esclarecimento

dos cidadãos. Aqui o Tr ibunal s i tua-se no centro

da questão cul tural e desempenha um PâPe! im-

portante nâ ruptura com a mentalidade e os

valores própr ios da sociedade tradic ional- Íeudal .

Esta é uma luta que o Tr ibunal deve travar em

cada caso que lhe é submetido.

O artigo que se segue pretende seÌ um exem-

plo disso.

(-'atuane, z6 rle Mzrio de Í979.

Zicota Mulambo e Zipumane Maquene são mora-

rlores clet Célula Malachote-Madubalo, Círculo Mugo-

\:ege, I-oczrlidzrcle cle Catuzrne, Distrito de Matutuíne.

Eram e são respeitados pela população pela sua

,,szrbe<loria,, (a sabecloria dos mais velhos e mais

antig'os que se traduz tantas vezes em ignorância),

pela slrzÌ digniclade, pela sua rectidão (a rectidão

clos que inocentemente pensam que a idade e os

cabelos br:rncos conferem um estatuto especial,

colocam um cidaclão acima de qualquer necessidade

cle zrprender, clão-lhe respostas para tudo).

Por isso, :r m:rl esclarecida população de Mugo-

vene transf-ormou-os cle umadoclasr>, errì secretário e

secret: ' rr io a.cl junto clo Círculo, confiando-lhes instru-

r-nentos clo exercício clo Pocler polí t ico na zona.

.\ssim, Zicotu e Zipumane, obedecenclo à voz e

vontacle r lo seu Povo, prenderam e julgaram Migun-

gzrchane Boissa, velha só, desamparada, viúva

<loente e fraca, que talvez por estes motivos foi

;rcuszrcla rle ser zÌ feiticeira cla zona e de matar

impiec losamente as suas v í t imas. Ci taram-se nomes:

<rEla matou o Popolo Gumende e o Mapambolasse

Massinga e rnais outros. Comeu-os. Não temos dú-.

v ic las r .

Na verdade, perante o pouco esclarecimento da-

quelas pessoas, a velha Migungachane t inha todas

as concl ições, preenchia os requesitos para ser fei-

t ice i ra .

A sentença foi dada; Zicota e Zipumane no

comando, agindo por todos, tracluzindo na prática

a vontade inequívoca cle 'quem

neles depositava

tanta conf iança. . .

. . \ sentença foi de <morte pelo fogor. Os mil ícias

juntaram lenha, trouxerarn cordas, amarraram a

brux:r, cumprindo ordens.

A sentença começou a ser executada, € â velha

Mietungachane, já sem dar conta do que se passava

à sua volta, sugestionada pelo delír io colect ivo, sen-

t indo nas narinas o cheiro cla própria carne cha-

muscacla, pedia clemência, confessando perante

todos ter prat icado feit içaria, ter morto vários e

comido outros tantos.

,\ lguém teve a lucidez de alertar as estruturas do

Círculo vizinho, e depois da Local iclade, e fel izmente

a velha foi poupada à terrível morte que lhe fora

resen'ada por aqueles com quem sempre convivera

e que conhecia, por aqueles que haviam chegado ao

ponto cle precisar uma vit ima para melhor al icerçar

as suas práticas e crenças obscurantistas.

Zrcota e Zipumane, como expoentes máximos e

ordenaclores de toda a acção (autores) foram detidos

e apareceram perante o Tribunal Popular Provincial

cle N4aputo páÌra serem julgados.

l4esmo após lxeses na Cadeia Central, fora do

ambiente da sua aldeia, privados da sua l iberdade,

não cleìxaram cle mostrar ao Tribunal o seu ar mais

digno, a sua inocente e sincera convicção na crença

cle que há feit iceiros sim senhor, e a Migungachane

era feit iceira, e por fazer mal ao Povo, devia ser

purrida para o bem de todod.

No inícìo não nos foi fáci l entender a

mas tentando. anal isar a fundo a nossa

concorclamos em que Zicota e Zipumane,

t le homicídio frustrado, não eram apenas

Zipumane, mas sim a grande maioria da

daquela Localiclade que acreditava que o

dera fora para o seu benefício.

Um problema de mental idade, um problema de

falta de esclarecimento, um problema de obscuran-

t ismo e ignorância. [Jm problema de sequelas da

sociedade tradicional-feudal (encorajadas pelo colo-

n ia l ismo por tuguês) .

Tornava-se-nos difícil tipificar o papel dos réus

à face da I-ei vigente. Eram autores, sim, mas não

apenas autores. Representavam a própria autoria.

Uma autoria colectiva que nascia à dimensão da

aldeia. O Tribunal deslocou-se a Catuane. O julga-

mento não seria certamente o clássico - julgamento,

com Íì clássica culpabi l idade e o clássico ónus da

prova. Tocla a situação transcendia o Cócl igo Penal

em vigor para crescer em seriedade à dimensão de

todo urn Povo que luta para se l ibertar das amarras

cle uma sociedacle velha, de valores decadentes. A

situacão não pocleria ser resolvicla apenas à base

do Código Penal. O Tribunal foi apoiado por estru-

turas clo Part iclo ao nível da Provincia e clo Distr i to.

l \o princípio da manhã do dia do julgamento aque-

las populações que t inham viajaclo toda a noite,

que t inham andaclo 40, 50, 7o qui lómetros até ao

local clo julgamento, olhavam-nos com desconfiança

quando lhes apresentamos os seus uchefes,, na qua-

l iclade de réus, quando lhes dissemos ao que vínha-

mos. Houve diálogo, part icipação viva, e embora

sentissemos ao f im do dia, que possivelmente as

suas con-n'icções obscurantistas estavam um pouco

abalaclas, os seus olhos diziam-nos ainda que muito

mais seria necessário fazer para os demover das

suas crenças.

Não obstante, após

biente foi de uvivas,

leitura da sentença o am-

canções.

Evidentemente, não resolvemos o problema de

obscurantismo na zona, nem tal pretendíamos, mas

ganhamos outra sensibi l idade para este t ipo de pro-

blema, que decerto nos ajuda a melhor desempenhar

a tarefa que nos foi confiada.

I{ igungachane Boissa sofreu queimaduras do 3.o

grau, mas sobreviveu.

Zrcota e Zipumane foram condenados a um ano

e a dez meses de prisão respectivamente. '

situação,

realidade,

acusados

Zicota e

população

que suce-

a

e

Também esta mulher podia ser Migungachane Boissa

GITA HONWANA

SOBRE A DECLA-ALGUMAS REFLEXÕRAçAO DOS DIRETTOS DA CRIANçA.

( ) r979 l 'o i o . \uo I r r tc r i r : rc ion i r l c l i r L l r i iLnçzr , t : o

: Ì r ' Ìo ün l quc, 1 l Í r I Ìcphbl ic : r l 'opu lzr r c lc \ Íoçarnb ique,

l 'oi cnran:rr la iL l)eclarzrção dos I) ireitos r l :r Criança.

Mu i t o j á f o i r l i t o e esc r i t o : Ì cL ì r c Í Ì c l es ta Le i e

r l l r sL lá Ì i rnpor tânc izr .

\ t is, encluzrnto jr-rr ist:rs, est:rt t .rc 'rs intcressaclos elï ì

sub l i r - rhzr r : r l r luns rLspectos c la Le i que poc lem re levar

n( ) l " ìosso âmbi to c le act iv ic lade.

[ Ìs t : r t1 ur l r : r Le i t l i r iq i ( la às cr iz rnç: rs ( . , tu ,

cri :rncrr. . . , , ) , r ìo1lì un-r:r l inguÍÌgenl concreta e intel i-

gír 'el pzirzr tot los. Mas o facto cle f :r lar r l i rectamente

ÈLs cr ianczrs não s ign i f iczr quc não ha ja out ros des-

t inzr tár ios : : r l i z is , F ixar - rc lo r l i re i tos , e ler pressupõe

r l r :s t in : r1 : i r ios con-r cor respbnc lcntcs c ler ,eres. Se ass im

rr:1o f<lssc, tornar-se-ier uff ìzì \ ' : rgáL enunciaçâo de

pr inc íp ios : rbs t r : rc tos ou s implcsmente progrermát icos,

serìr 211'3-r-rnru ef ic: icieL er possibi l ic l i rcle cle :rctuação.

I )or out ro l i rc lc l , z rpesÍ Ì r c le scr t i tu l : r r c le d i re i tos ,

;r cr i :rnç:zr! l1ìenos que toclos, tem nreios e cáÌpacidade

pr t ipr ios p : r r : r ex i .5 i r < la Í 'a rn i l i : r t ' r l i r soc ie t l : r r le zr su: r

r r l r l i z : rc i io .

l 'o r isso zrcharmos que os nossos Tr ibun i r is c leven ' r

rrpoclcr:rr-se clestar I-ei e concretiza-la náì suzÌ act ivi-

c l : rc le quot id iana.

Há prece i tos que por l t 'n r ser actuar los imecl ia ta-

tnct t te . Por cxemplo, o :Lr t .u I re for t : : r o pr inc ip io

t le igu:r lcl :rclc entre toclos os ciclacleios, af irrn:Lnclo que

toclets zrs criernçets tênr os l Ì lesnlos cl irci tos. i jsta nãcl

é nur ; r : r f i r tnucão re t lunc lunte c supér f lu l r , nzr nrcr l ic l i r

cl l l que :r in<la não for:rnr forr lalmcnte rer-o{aclers cl ir

l lossa leg is lacão nor l l l Í rs c l isc ; - inr inat . i r izLs cnt rc á ìs

cr iar - rczrs enqu: rn to f i lhos ls . ; í t i rnos e f i lhos i legí t i -

mos ; po r i s so o z r r t . o 2 r - ì 9 e t t r ï - . o 2 r ; 8 , en t re ou t ros

cont i r los no Código Cl iv i l , es t i ro en i conf l i to corn o

: Ì r ' t .o I c la I )ec larzrcâo.

O l r r t . ' ' 2 ( ì o ar t . " -1 rcspect i r : rmente, es t : rbe lecenr

o cl ireito r le c:rcl ir cr izrnczr à segurÍrnL'ár afectir ,- :r c

tn:rteri :r l no seio cl:r fzrmíl ia.

Os nossos Tr ibun l r is cr lc Í r rar ì l quot ic Ì i l rnzr r lente

crises famil iares : espiÌncÍÌr lrentos, fzr l ta cle assistên-

c i : t , rcg ' r - r l :Lç 'ão r lo por ler pr r terna l , l tec l i t los r le d ivór -

t- ' io.

Face áÌ estas situações, temos que clesenvolver

toclos os esforços para tentztr uma reconci l iação dos

cônjuges, ou pelo menos para que uma crise famil iar

i r revers íve l se ja reso lv i t la com o máximo de d ign i -

r lzrcle c r le respeito rnít tuo. São os f i lhos os que

sofrerl rnais dos confl i tos entre os pais e da des-

truição cle uma famíl ia; são os f i lhos a serem fre-

quentemente usaclos como meio de chantagem entre

os pa is .

O Tribunal tem que ser o <tutorr principalmente

dos sujeitos mais fracos e deve resolver as situações

tomzrndo em conta, sobretudo, o interesse moral e

nraterial dos f i lhos. Nunca um processo que diz

respeito à famíl ia pode ser udespachador.

Neste aspecto a experiência dos Tribunais de

Localiclade, os mais próximos da vida das pessoas,

os mais preocupaclos numa actividacle conci l iatória,

tem que ser assumicla como exemplo a cada nível

cla Organização Juciiciária.

De facto, muitzrs \-ezes, as pessorÌs recorrern ao

Tribunal, não porque querem mesmo dir-orciar-se ou

tomar clecisões clef init ivas, nÌas sìm porque procuram

um meicl pzrra resolver problemets que, sozinhos não

consÍlgl lerì l resolver, procuram um conselho, procu-

ri Ìr . ì ì urn:r erct iviclacle imparcial de mediação, procu-

rzì i ìr umuÌ autoridacle que tenha o poder cle exigir

LL satisf:rcâo dos cl ireitos.

( ) urrt ." i aponta dois problernas extremanrentc

del iczrr los: o direito zÌo nome e ÍÌ possibi l idade de

aclopção.

. \c tu : r ln tente , para - arS cr ianças nasc ic las fora do

cÍrszÌnrento, zÌ investigação de paternidade é dif íci l ,

subnrct ir lzi restr ict iv:rmente à existência de pressu-

postos, c()r-ìr o ónus da prova pesaclamente posto a

cargo clzr r1râe. ' \ch:rmos urgente solucionar este:

problerna, através duma reformulação legislat iva,

parÍÌ que zr investigação cle pzrternidacle se torne urn

proôesso rel:r t ivamente simples e rápido, e o direito

zìo nome não seja uma conquista tão dif íci l de

l r lc : tn<, 'ar .

( ( . . . Quzrnt lo não t iveres famí l ia , tens o d i re i to a

v i l 'e r numa fami l ia que te a l Ì ' ìe como um f i lho. . 'u '

Mas quais são actualmente as reais possibi l idades

tle uma criança ser adoptada? A legislação em vigor

torna o ptocesso cle adopção extremamente dif íci l ,

possível só zr um restr icto número de pessoas. Para

zrdoptar uma criança, quer dizer para integrâ'la com-

pletamente na famíl ia, é necessário ter mais de 35

anos cle idacle, estar casado há mais de dez anos,

e não ter f i lhos naturais; além disso, a integração

na famíl ia nãç é plena, na medida em que os f i lhos

acloptivos não são herdeiros da famíl ia adoptante,

nem têm com ela obrigações recíprocas alimentares.

O problema das crianças abandonadas é um dos

problemas mais dramáticos ao nível mundial (são

-roo milhões cie crianças abandonadas no mundo !) ;

a possrbilidatle ampla de adopção com certeza não

vai resolver it questão, mas no entanto seria iá'

algurna coiszr.

Muit lrs vezes ar esteri l idacle do casal é causa de

crise e t le separação. Uma ampla campanha para

fur,orecrr ' , .1 zrcolhimento das crianças abandonadas

no seio t lc uma farní l ia, acompanhada com uma le-

gislação : lclequacla, ir ia resolver muitos problemas

qLlcr r los crtsais sem f i lhos, querr sobretudo, das

crianças :r l tr tndonadas.

Nir :rusêr-rcia de ulÌìÍl ' Lei que regule eficazmente

a zrt lopçãro, o Tribunal dc Menores poderia, desde

j i i , auto ; - iz iLr a permanência c le cr ianças abandonadas

crrì fzrmíliats colrì conclições tais, que na futura

vigêr-rci:r t lunti t nova Lei, poderiam tornar-se adop-

tan tes .

iIf

I . 'RANCESCA DAGNINO

<<Tu, criança moçambicana, és a tazão principal da nossa luta

- a luta pelo socialismo. O Povo moçambicano queÍ que tu

sejas o homem e a mulher que vão cont inuar a nossa luta, que

vão viver uma vida noya, mais Íeliz do que aquela gue os'teus

pais vivem hoje. Uma vida de Pâ2, de bem-estar, de alegria,

de justiça.lr

(Extraído do preâmbulo da DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DA CRIANçA)

I

LOCALIDADE DE ZANDAMELA

UMA EXPERIENCIA DO TRIBUNAL POPULAR

Art.o 38 da Lei da Organização fudiciária:

<O Tribunal Popular de Localidade procuraráque em todas as questões que sejam levadas aoseu conhecimgnto as partes se reconciliem. desdeque isso não contrarie as disposições legais emvigor.

. . .o Tribunal Popular de Local idade julgará deacordo com o bom senso e com a justiça e tendoem conta os princípios que presidem à constru-ção da sociedade socia l is ta. . . . . .D

llustra a aplicação deste preceito à reportagemque se segue.

Em Dezembro do ano de 1978, foram criados no

Distr i to de Zavala, Província de Inhambane, 3 Tri-

bunais Populares de Local idade, o de Maculuva, o

de Muane e o de Zandamela.

Em meados do ano de ry7g deslocamo-nos ao

Tribunal- Popular da Localidade de Zandamela a

f im de podermos conversar com os juízes .e tomar-

rrÌos conhecimento do trabalho jâ realizado.

É quarta-feira, cerca das ro,3o horas quando al i

chegámos no sít io onde se edif ica a local idade de

Zandamela, mesmo à beira cla Estrada Nacional

n.o r, na povoação de Chissibuca. O local é coberto

de árvores de fruto, cajueirqs e mangueiras, que

projectam a sua sombra, protegendo quem al i se

encontra.

r\s edif icações de pau-a-pique estão em constru-

Ção, part icipando nela os habitantes dos diversos

Círculos que compõem aquela Local idade. Somos

informacios que ainda se não iniciou a construção

da Sede do Tribunal por terem siclo definidas prio-

r idades na ordem de construção, não senclo parajá priori tárias as obras do T. P. L.

No local encontram-se diversas pessoas que, como

de imecl iato nos é esclarecido, aguardam o julga-

mento do Jose Sitejane, camponês dos seus 45 anos,

que foi trazido ao Tribunal por na véspera de .tardehaver agredido o Fabião Bassiquete. O ofendido

está também presente, bem como alguns familiares

e amigos de ambos

José e Fabião habitam na Célula Canda onde

nasceram. Canda é, conforme declarações dos juízes,

o Círculo que maior número de problemas apresenta

ao Tribunal. Na sua maioria trata-se de agressões,

fogos postos, originados por embriaguês, pois al i

a mãe natureza foi benevolente e durante todo o ano

a agua.rdente corre bem.

Exìstem em abundância cajueiros, mangueiras,

papaeiras, laranjeiras, tangerineiras, cana de açúcar,

melancia e mais frutos dos quais, desde há muito,

o Candense extrai o sumo que é deixado fermentar

e o bagaço que se aproveita para fabricar a agvar-

dente. Cada famíl ia possui em sua casa uma reserva

de aguardente que serve para os períodos em que

não há frutos.

Para além do mais o habitante de Canda é facil-

mente excitável, recorrendo habitualmente e com a

rnaior facilidade ao cajado ou à azagaia para ferir.

Com aquela abundância de bebidas alcoólicas são

também frequentes suicídios. É, enfim, um Círculo

bem difíci l .

Depois de termos visi tado todo o local, preparamo--nos para assist ir à sessão de julgamento. Toda a

gente é convidada a part icipar. O Tribunal é com-

posto por S juízes dos quais um é mulher que per-

tence igualmente à O. M. M. da Local idade.

O Juiz Presidente apresenta a questão.

Na véspera, em terras do Círculo Canda, em casa

clo Mag'omane estavam o Fabião e o José a divertir--se após a jornada de trabalho no campo. Para

acompanhar o convívio, o anfitrião servira alguns

garrafões de aguardente de tangerina fresquinha e

forte. Após alguns copos, o Fabião e o' Josépuseram-se a discutir sobre banalidades, discussão

essa que fo i -se tornando mais acesa à 'medida que

o álcool embotava os cérebros. Em determinado

momento, o Fabião, munindo-se do cajado que tra- '

zia consigo, desferiu duas pancadas nas costas <lo

José, não tendo continuado devido à rápida inter-

venção dos presentes. Perante isso, o José apresen-

tara queixa no Tribunal. Todos estão atentos, e o

acusado, cabeça baixa, apresentara-se bastante

enverg'onhado, sentimento aumentado pela nossa

presença.

Ê, convidado a pronunciar-se, o que faz em voz

sumida, dizendo reconhecer o seu feito, mas atri-

buindo ao álcool a re5ponsabilidade do seu descon-

trolo. Acaba por pedir perdão aos Julzes e ao Joséde que é af inal amigo, prometendo emendar-se e

de futuro evitar at i tudes semelhantes.

O ofendido intervém dizenclo que levara o caso

a Tribunal por forma a qLle o trabião pudesse ser

ar l rnoest : r t lo , po is se nãr l f r l ra l t in ten 'cnção c lc ter -

t - - e i r< l s , 1 ;o t l c r i : t l r t t ! t c r - l h t ' c z t r t sa t l t l a n l o r t e . N t r

cnt : rn to t lec i : t r i t perc loá- lo .

São ouvit los os que clesejzìm pronuncierr-se, tendo-o

feito Lul r los responsáveis clo Grupo Dinzrmizador

rla ( lé1r,r l :r oncle habitanr os intervenientes, o qual

faz-lhes ulrì apelo no senticlo de beberem modera-

r lamente c rcfreanclo a suzÌ bel icosidade. Fala.- lhes

sobre o signif icett lo e o valor da Independência Na-

cion:r l , oncle tot los são ch:rrnaclos a part icipar e toclos

()s br:rcos são poucos.

. O F:rbião já lev:tntzt uI cabeç:r c enlbora com o

sernb lante sér io , esboça um sorr iso que the é

ret r ibuíc lo pe lo José. .

O ' I ' r ibLràal

<lelìbcra er.Ì l \-oz bztixzl. , após 'o

qucì

o seu Pres i r lente ' t ransmi te : r c lec isão. O Tr ibunal con-

gr:rtulet-se coln o ntot lo colrìo zt questão foi resolvicla,

cn. ì cspec i : r l : t pos ição assumida pe lo Jose que per-

r lo:rrzr. No eutanto, conto forztm chamaclos a intervir

os r r i l íc ias t l : t Céh-r la , c lec ic le o Tr ibunal que o

I ì l r l t iâo, con lo forma r le rne lhor : tssumir a impor-

tânci:r r lc um porte correcto, f icava obrigaclo a

clurante Llrì l nrês, nas reuniões semanais da Celula

: rux i l ia r os rn i l íc i : rs a organizarem ta l t raba lho '

. \ss inr i tcz tbou o ju lgarnento. Não há maìs para

: rque le t l i a . t :

( lonversantos então com os ju ízes perguntanc lo-

- lhes qu:r is os czÌsos lnais frequentes e as decisões

j i i tourzrcl: ts. Referetn-nos que cory frequêncirÌ surg'enl

casos conlo o :tcabailo cle julgi lr , com incidência

especial cle h:rbitztntes cla Célula cle Cancla' Já t ive-

r lrnt três CiÌsos r lr ' f1;gct- l tosto por zal lg2Ì, t l t t l czrso't l t '

I r t lu l t t l r io r u t ' ì l : Ì re iv in< l ic : tção c le possc c le ter r i ts '

Quanto íìo fogo-posto, o Tribunal clecicl ira que

()S seLls t Ìutores t leveriam ser obrigaclos :r reconstruir

i Ìs casas e os objectos <lestruidos pelo fogo deveriam

ser repostos. Como n lu l ta t inham s ido obr igados

p: r ra z t lém t lz rquela repos ição a const ru i r mais uma

cr Ìs Í Ì (< le p : ru- : r -p ique) como form: t c le fu turamente

vzr lor iz : r re t r t o sL lor : r lhe io .

Sobre o zrc lu l tér io c l izem-nos terem conseguido a

,"6s11çi l inç:ão <lo czrs:t l , o qual t inha q f i lhos todos

rnenores. Que e t lo seu conhecimento que eles afïora

v i ve rn i ' c l i zes .

() caso t l : ts terras era o seguinte :

I lx is t i ra um ve lho, propr ie tár io c ie grandes exten-

sõcs r le terretto. Em nreaclos dos anos sessenta, t tma

l 0

v iz in l " ra cn l iuvara pouco tempo após casar . Assrm.

irpt is r:onversacões, o r-elho cerlera-lhc umzÌs terras sob

: r conr l iç : i io r le e l : r lhe c l i r r L Ìm: Ì pequena p: r r te c lo que

conseguisse colher. A mulher clesbravou o rrato e

transformou-o numzì pequenzÌ herclade, com cajuei-

ros, r laru'ueiras e outras árvores cle frutos, man-

cl ioqueirzrs, rr-r i lho e verduras.

En t re tan to o ve lho f a l ece ra em rg7 r .A té o ano

r le 1978 os f i lhos do ve lho nzrda c l isseram. Porém,

(ìr-ì- ì VI:Lrç:o cle r979, pretenderam apoderar-se da

h,- 'rcla<le r l :r viúr,er pretextanclo que aquelas terras lhe

tinl ianr si<lo zrrrenrlaclas por seu pai e não oferecidas.

Lcr - :Lr lo o cz Ìso ao Tr ibunal , es te t lec ic l i ra que as

terras r ler, ' izrm continu:tr i r ser exploradas pela viúva

Lll l l Í Ì \ :( , 'z qr-re após a Inclependência a terra pertencia

:Lo Pol 'o e só clevizrm beneficiar clos seus frutos

: rc lue les que áÌ t raba lhassem.

(ìontzrra.nl-nos clas cl i f iculdacles iniciet is havidas

pzÌrÍ ì se conseguìr que os casos surgiclos no seio

r le populaq:ões fossem levat los ao Tr ibunal -

No enternto, mercê cle terem clecicl iclo efectuar as

scssrlcs nos cl izrs eÍÌ l que a estrutur:t polí t ica cla

Loczrl i t l l t<le rcuni:t , serviu-lhcs p2Ìr2Ì f :rzeretn t los res-

ponsáveis c los c l iversos Cí rcu los e Célu las, seus

rrgentes < l inamizac lores. Na ocas ião, não obstante

as qLlestões continuarerì a ser colocaclas zto Grupo

[) inamizzr<lor t lo local, este encarrega-se de as enca-

rninhzrr no Tribunal Popular cle Loczrl iclade.

Ficzrnros cleslumbrados com o moclo sério e cons-

ciente corrìo rIS cluestões erzÌnl <lecicl i t las' colÌ lo áÌs

pessoas acatavam as decisões e como se esforçavam

por conseguir t tnra reconci l iação'

. \1g'r-rns r los presentcs t l izet lr-nos t-t i to haver qual-

qLler p:trzt lelo ol l comparação com o moclo como

poucos anos : tn tes os régulos, indunas e madodas.

resolvizrnt as questões. Regozi javam-se por poderem

tle facto part icipar nat solução clos câSosr fazendo-se

: rss im uÌ jus t iça quc : Ì população sempre c lese jou '

I )esper l imo-nos t le re f l resso à c ic lade de Inham-

birne. I ìm nos a zrlegria cle nos ser claclo part icipar

t le l 'orrtra activzr no processo da ecl i f icação de uma

just iça que t lo Povo s i rva ( ) Povo. Não de ixamos

cle sentir a responsabil idacle que sobre nós impende,

cìue requer cl l le : i toclo o momonto estejamos atentos

e aptos :r contr ibtt ir para que o processo avance e

zr Just iça v ingue.

CLÁUDIO NHANDAMO

i!

/riI

lf

Direito ComparadoAFEGANISTÃo: A euEsrÃo Do LoBoLo

Dois aspectos da mulher Afegã. O governo de Babrak Karmal adoptou uma política de pru-dência quanto ao papel da mulher na sociedade Afegã. Apesar do decreto revolucionário de1978, ainda se cobram dotes de noivado (lobolo) que oscilam eníre 1800 a 3 500 dólares.

i .',

ÈÌ:

i,l!,i;,,

' i .

f.l

sdl-È:tÌ.

. \ prát ica r lo lobolo, os casamentos prematuros,

a suborrl inação cla mulher, no seio da famil ia e da

sociederde em geral, são graves problemas que afec-

tam a nossáÌ real idade social.

l i les consti tuem uma frente cle combate contra os

vestígios r lzr sociedade feurlal, contra uma faceta

rlo subclesenr.olvimento, para afirmar novos valores

rnoraris s culturais, fundados na igualdade e digni-

< lade r le todos os seres humanos, homens e mulheres.

Nós estamos a conduzir a luta contra as relações

famil iares cle t ipo patr iarcal-feudal, no plano da

educacâo clas massas, cr iando novas formas de

organização económica e social, elevando o nível cle

consciência e cle part icipação das mulheres, desco-

nhecenclo qualquer valor legal a (usos e costumes>

tribais que contradigam os princípios de igualdade

e não cl iscriminação entre todos os cidadãos moçam-

bicanos.

C)utros paises, com problemas similares, escolhe-

ranl outros instrumentos cle combate contra as

práticas feudais. Por exemplo, a República Demo-

crzit ica do ,\ feganistão chega a reprimir severamente,

com sancões penais , o seu lobo lo (TOIANA), os

casarnentos e noivados forçados e ds casamentos

prem:rturos, através da promulgação de um Decreto

que \rzÌmos reproduzir integralmente.

{

l 1

DECRETO N.o 7 - SOBRE A (TOIANAD E AS DESPESAS DE CASAMENTO E SOBREA ICUALDADE DE TIOMENS E MULHERES

, Este decreto é promulgado para implementar o art.o rz das Orientações Fundamentais dasTarefas Revolucionárias da República Popular do Afeganistão, como fim de asseg'urar iguais direi-tos de homens e mulheres no campo da Lei Civil, de eliminar as injustas relações patriarcais e feu-dais entre marido e mulher e de consolidar ainda mais sinceros laços familiares.

ARTIGO I

l. Ninguém poderá.prometer em casamento ou mesmo casar-se (NIKAH) com uma mulher a trocode dinheiro ou bens.

2. Ninguém poáerá obrigar o noivo a pagar dinheiro ou bens em ocasião do casamento (TOIAI{A).

ARTIGO 2

Ninguém poderá obrigar o noivo ou o seu tutor a oferecer roupas ou presentes para a noiva ou suafamília em ocasião do IDI, NAuRozI, BARATI, ou outras ocasiões.

A R T I G O 3

A noiva ou o spu tutor não poderão receber dinheiro ou bens a título de MAHAR, em meclida buperioraos ro darham consentidos pelo SHARIAT.

A R T I G O 4

O noivado e o casamento serão fundados no pleno consentimento das partes, nomeadamente:

l. Ninguérn pode obrigar alguém a casar.2, Ninguém pode impedir o livre consentimento de uma viúva ou poderá obrigá-la a casar por força

de laços de parentesco ou patriarcais.3. Ninguém pode impedir o casamento legal de uma outra pessoa com o pretexto da existência de

noivado, de ter efectuado despesas de noivado, our de qualquer maneira, usando a força.

A R T I G O 5

São proibiclos o noivado e o casamento de mulheres menores de 16 anos e de homens de 18 anos.

A R T I G O 6

l. Quem violar as normas deste decreto será punido com a pena de prisão de 6 meses até 3 anos.2. O dinheiro ou os bens que foram aceites em violação âs normas deste Decreto serão confiscados.

GLOSSÁRIO

TOIANA : pode traduzir-se pela palavra rrlobolo>. Esta prá-

tica é típica da sociedade tribal do Afeganistão e é seve-

ramente proibida pela religiáo islâmica.

NIKAH : cerimónia nupcial islâmica em que cada um dos nu-bentes tem que declarar 3 vezes a sua vontade de casarcom o outro.

ÍD[: festa religiosa islâmica; decorre depois da conclusâo doperíodo do jejum (Ramadão) e depois de cada peregrina-

ção à Meca. Durante esta festa normalmente as pessoastrocam entre si presentes e dádivas.

NAUROZI : festa religiosa islâmica em ocasiâo do primeiroclia do novo ano.

t2

BARATI : é a cerimónia qus acompanha o ingresso da esposana casa do marido.

MAHAR: quantia de dinheiro que, por ocasião do casamento,o marido oferece à esposa e que não pods ser gasto, cons-tituindo uma garantia para a mulher em caso de viuvezou de divórcio. O decreto .consente que seja mantida umaquantia simbólica a título de Mahar.

SHARIAT: é _o conjunto de normas jurídicas extraídas doslivros sacros muçulmanos (Corão s Suna) por antigossábios. Pode simplesmente ser definido como o <<direitoislâmicosr.

..O MEU MARIDO NÃO ME TRATA BEM ...CASOLJ-SE COM OUTRA MULHER''

l 'f .

ll( Extractos de um Registo dePopular de Localidade)'

Era um l ivro grande, com

preenchidas em letra grande

tuado a escrever muito.

Actas dum Trlbunal

as primeiras páginas

de alguém não habi-

Muitas palavras estavam escritas foneticamente:

npetir clivórcio,,, ele é um (pole-cârÌtâr. Nem havia

alguma referência à legislação, nem alguma lingua-

gem formal e complicada.

Mas o Registo de Actas do Tribunal Popular da

Aldeia Comunal de Muária (localidade sede - Me-

cufi , aproximadamente 4o km a sul de Pemba)

era bem claro. O leitor inteirava-se imediatamente

da natureza dos casos., dos testemunhos dados, das

soluções alcançatlas. Quase dois terços dos casos

tratavam de problemas familiares, e o que se segue

é uma selecção destes.

CASO N." 4 - Em zr l r lTg um mar ido pediu a

resti tuição de 3oo$oo pagos à sua mulher. No dia

seguinte, a mulher pediu o divórcio. O holnem

perguntou porquê. Ela respondeu porque está can-

sacla contigo, você é um polígamo e maltratou-me.

Quanclo você perguntou-me sobre o dinheiro, eu

respondi, i r ao Tribunal.

Por isso, ele foi ao Tribunal. Mas os julzes

cleciclirarn que a mulher tinha razão de pedir divórcio

porque ela se sentia emancipada como mulhefmoçambicana que era não querla sor exploÍtdt.O dinheiro foi pago para gastar, e não tem de ser

resti tuído por causa do divórcio.

O casal foi separado, o homem foi na (outra)

rnulher.

CASO N.o 6-g l r lZg. Homem quer despachar

a mulher dele, porque ela não ouve as suas ordens.

Ela anda com outros homens e não disse quem são.

Mulher responde: homem não tem interesse. nela,

porque ela está com bebé no colo, também quer

casar-se conl outra mulher, também, sempre bebe

e quando bêbedo acusa-a de andar com os homens,

que não é verdade.

O Tribunal decide: o homem tem de f icar com

a mulher, eles foram casados há muito tempo, tem

filhos e o Governo não aceita divórcio de qualquer

maneira ! O segundo problema foi de bebida, I o

Tribunal mandou as milicias para apanhar todos osinstrumentos de fazer bebidas, exi$iu a pessoa queas fez cumprir com um& tarsÍa duma semana.

CASO N." Z _ 8lr lZg. Mulher queixa-se que ohomem não a trata, porque casou-se com outramulher. O homem disse que estava cansado com

ela. Os juízes perguntaram: deixou a mulher e os

filhqs, qqem vai tratar deles? E perguntou a se-

gunda mulher: porque se casou com o homem já

casado? Ela respondeu que estava solteira e queria

ser casada.

Os juízes: porque não arranjou uma pessoa não

casada?

Respondeu: Eu não o vi.

Os luízes decidiram: houve uma fatta de cürl-

primento com a Qevolução. O homem tem do divor'

ciar I seÍiunda mulher e voltar à primeirs. Ele

ac,eitou, e a so$unda mulher <foi ensolteira>.

CASO N.o I - rylzlZg. Homem quer divorciar

sua mulher. Disse que estava cansado com ela, eles

não entendem bem. A mulher explica: o homem

abandonou a casa, foi-se a casa da sua mãe. O

problema era a fome, a colheita do milho cessava

e era pouco em 1978, porque antes de colher estes

produtos, colheram upobrosn (abóboras). Combina-

ram que o homem vendesse-os em Pemba. Ele foi

lá, obteve z 5oo$oo, mostrou a mulher e disse que

ia comprar um rádio. Ela respondia como vamos

comer, como vamos vestir? Depois de três dias, ele

comprou um rádio. A mulher disse que ela tinha

gosto do seu marido sempre.

O Tribunal decidiu: o homem não tinha razão de

divorclar, tinha de. continuar com ela com I Dobi-

lização dos responsáveis.

CASO N.o l l - rS lz lTg . A mulher que ixa que

o homem não a trata. O homem responde: Sim, eu

não a trata,, mas recusa dizèr mais. Os juízes per-

guntaram a mulher porque. Ela responde. Quandoeu me casei com o homem no ternpo colonial, eu

não sabia que ele já tinha outra mulher. Perguntei-o

sobre isso, dizendo que eu não queria ser a segunda

mulher.

,*lÁ*

13

Ele prometeu deixar a outra mulher. Naquele

tempo ele era cipaio. Mas em 1928, arranjou uma

terceira mulher. Eu perguntei-o, e ele disse que

podia casar-se com quem queria. Depois ele calou-se,

mas foi casado comigo, e terminóu a chegar a minha

casa. Eu estou cansado com estes problemas.

O Tr ibunal : O homem tem de d ivorc iar esta

mulher, não pode ter 3 mulheres, porque o homem

é pole-cama (polígamo) e em Moçambique e na

Alde ia não admi t iam a po l igamia. Mas o homem

cleixou dois f i lhos, por isso tem de fazer casa para

eles, e pagar z ooo$oo para ((balhas cabrizD a casa.

Já, fez. Cada mês tem de trazer dinheiro ganho nos

serviços aos f i lhos; se ele não cumprir, o Tribunal

vai mandar a mulher ao serviço para receber o

d inhei ro .

CASO N.o 12 - IJm camarada deixou a mulher

dele, e casou-se com uma outra mulher. O homem

expl icou: a minha mulher não me t ra ta mal , mas

eu queria por vontade casar-me com outra. O Tri-

bunal perguntou: Não ouve que na R. P. M. do

Rovuma ao Maputo um homem não pode deixar a

mulher e casar-se com outra mulher? O homem

responc leu: s im, eu ouv i , mas por vontade quer ia

casar-me com outra mulher.

Depois de terceira pergunta clo Tribunal, disse

eu errei, porque sempre foi declarado em Moçam-

bique não admit imos divórcio sem motivo (suste-

jado, , ( jus t i f icado, suf ic iente) , não podemos admi t i r

po l i gam ia .

O Tribunal perguntou a seguncla mulher: porque

aceitou o homem quando sabia que ele estava

casado ? Ela respondeu : Eu t inha vontade de fazer

isso. Casou-me, rrìas tarde depois lembrei-me de

que ele estava casado e que f iz um erro as mãos

da minha amiga.

O Tribunal: Não assist iu as reuniões em que foi

expl iczrclo que o homem não pode ter a segunda

mulher, será umer exploração?

A rlecisão do Tribunal: A segunda nrulher não

será casercla mais com o homem, tem de ser reedu-

cada por vinte cl ias no centro da Aldeia (a sentença

não d isse nada sobre o homem).

CASO N .o 13 -6 l z l 7g . O homem de i xou a mu-

lher e c:ì .sou-se com a seguntla mulher. O Tribunal:

como deixou a sua mulher e foi casar-se com outra

mulher quanclo sabia que nessa Revolução não quer

que um cidadão faça isso sem motivo sofist icado

l l us t i l i cac lo ) ?

- 1 4

O homertr: Só foi casar.

O Tr ibunal : Tem f i lhos, quem var i c r iá- los ! )

Chamou a seg'unda mulher e perguntou-a sobre ocasamento com um homem já casado. Ela disse que

o homem afirmava que não era casado.

Uns responsáveis clo Bzrirro disseram que não erzra pr imei rzL vez\ era terce i ra vez que c la faz ia isso.

O Tribunal clecidiu que a mulher t inha que ser

reeducada por vinte dias de trabalho no centro daA,ldeia, e o homem por 60 dias e não continuar

com e la .

CASO N . " l 5 - - Z l r l Zg . O ho rnen r que i xz r guc i rrnulher clorme com outro lrontent chefe clc cclucação

f ís ic : r no Dis t r i to . O homem nesou completzrmentc ,

r r rz Ìs z ì mulher d iz que s im. O Tr ibunal t l i z que estzr

situerção nâo pocle continuzrr, a rnulher ter-r-r que f ic:rr

colrì o seu mariclo. Mas o ln:rr ir io <lecicle qLle ele

não quer n-rais áÌ nrulher elzr porle ir caslrr-se colt ì

out ro i romem e o Tr ibunal responc le :

Bern, \ 'á Ìmos c l ivorc i l r r - \ 'os , porque er r Ì un- r c i rs ; :unento

polígamo, er:Ì a seguncla mulhcr. . \ceit :rral lr e sepuì-

r2 ì ram.

CASO N." 17 - O hornen-r c l issc quc zr mulher es-

t i tvzr a zrnclar com outros hor-nens. Ele clescobriu isso

por cÍÌusa r le uma doençzr quc' ele recebeu cleler doi-o

quanc lo ïaz i i r x i -x ì . , \ rnu lher d isse que s inr , faz ia

re lações sexuais com um homern que e la encont ravzr

nzr estrarl i Ì , sem sabcr o norrìe clele. Os juízes cri t i -

cam zÌ nrnlher corrìo LlmzÌ putzr, e os responsáveis

por inc l isc ip l ina, porque esta não erzr a pr imei ra vez

que ela fazia isso, nem a seguncla nem rÌ terceira.

Orclenarzrm uln cl ivórcio conforme a petição de ho-

rnelrì ! e cl isse qLle a mulher não pocl i :r encontrar

nada, excepto procLlrzrr :rquele homem com que fazia

re lac 'ões.

CASO N. ' 25 - zo l+129. Urna carmarzrc ler pec le ser

r l ivorci:rr l :r <lo seu rnari<1o <l izenrlo que ele acabotr

t le zr olhar ou cle í Ì ármzrr, e elzr não tent gost<t

clele. O hornem responcle, não falanclo muito, qut:

depois cle jantzi.r , ulrìa noite, quanclo elc estava :Ì

clormir, elzr ercorclou-o, c qu:rnclo eie se acorclou, elzr

c l isse: Olhzr , o meu mar ic lo , eu não tenho Í Ì l l lo r con-

t igo; : r mulher c l igzr que e la só quer c le ixar o hor lem.

- \ nru lher fo i aos responsáveis do ba i r ro , que

cl isser:rm que eles combatian-r o cl ivórcio.

Depois cla foi Í Ìo -fr ibunal. ()s juízes perguntzr-

ráì lr ì : Corno responsár,,eìs da Alcleia, estão a combater

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o cl ivórcio, no outro lado, estamos a apoiar o cl ivór-cio. Esta não é a primeira vez que ela pecl iu, gema seg'unda vez, nem a terceira vez.

Desde rg7i ela estava a pedir o divórcio. porque

nós não estamos sozinhos, \zamos levar o caso aol) istr i to.

(N" reunião com a nossa Brigada, a secretarialevantou este casor € o,delegado respondeu. A orien-tação era que o Tribunal devesse tentar reconciliarzÌs partes, dar- lhes uma semana parà pensarem. Seos problemas eram graves - como no caso men-cionaclo - clevizr dar um divt lrcio. Tratou doscasamentos não registaclos. Casamentos registadosc lev iam ser env iados ao Tr ibunal D is t r i ta l ) .

CO]U ENTÁRIO:

Este é um clocumento verdadeiramente histórico;const. i tui um exemplo do funcionamento dum dosprimeiros Tribunais Populares de Local idade naR. P. M., e dá uma ideia muito clara da maneiracomo os novos juízes populares estão a resolvercjs problemas famil iares através dos novos valoresrevolucionários. Eles não apl icam nem a velha legis-lação colonial-capital ista, nem a lei tradicional-feu-

dal, mzrs cleciclem os casos .,cle acordo com o boms e n s o e c o m a j u s t i ç a > .

A R. P. M. é um dos pioneiros no continenteafr icano na criacão dum sistema verdacleiramente

popular com basc na apl icação de princípios iguaispara toclos os cicladãos em todo o País. Estes ex-tractos testemunham a capacidade que os juízes

eleitos pela população têm de resolver os seus pro-blemas sociais através de princípios unitários erevolucionários.

Noutros paises afr icanos, existe uma plural idadede sistemas legais dentro de cada País, apl icando-senormalmente um sistema de origem europeia a umaeli te urbana; e um (ou vários) sistema tradicionalàs massas ; portanto a solução dum problema .de-

pencle mais da rel igião (muçulmana, cristã) ou etniadas partes do 'que doS factos provados.

Naqueles países as mulheres normalmente obtêmpouca protecção <izr lei , e os f i lhos pertencem a quemde <l ireito, independentemente dos seus verdadeirosin teresses.

l)um modo geral, os Regi516r de Acta clos Tri-bunais Populares testemunham um período de lutaprofunda entre o novo e o velho na R. P. M. Maisconcretamente: eles fornecem informações muitoval iosas sobre as activiclades e opiniões dos julzes

populares e dão aos responsáveis do Ministério da

Justiça uma ideia clara sobre quais são as novasorientações necessárias.

A elaboração e conservação destes Registos deveser considerada uma tarefa vital no processo da cria-

ção da Justiça Popular..

ALBIE SACHS

SOBRE A CONSTITUCIONALIDADE

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14

A questão pode iniciar-se com uma pergunta: de

que forma é apl icado o af i .o 19 da Consti tuição?

D i z e r q u e :

uToda a legislação anterior no que for contrário

à Consti tuição f ica automaticamente revogada.

A legislação anterior no que não for contrário

à Consti tuição mantém-se em vigor até que

seja modif icada ou revogada.,,

signif ica f ixar um princípio geral segundo o qual

na República Popular de Moçambique continuam

em vigor as leis herdadas do colonial ismo quando

não estejam em oposição com os novos princípios

que reg'em a sociedade moçambicana; signif ica a

opção de não cleixar perigosos vazios legislat ivos

à espera de novas leis.

Mas quando se pode dizer que uma norma é comcerteza contrária à Consti tuição? Há casos em queisso não levanta dif iculdades, como por exemplo oArt.o rTgo do Código Civi l que estabelece a indisso-lubi l idade dos casamentos catól icos face à lei civi l ,em aberta oposição com o art.o 19 da Consti tuição.

Mas há casos em que este juízo não é tão unívocoe simples e, sobretudo, não é de natureza jurídica,

mas sim polít ica e ét ica.

Por exemplo, o Código Penal contém algumas nor-mas cuja legit imidade consti tucional poderia ser posta

em séria dúvida, ou pelo menos em discussão: pen-semos nos artigos que têm como fundamento umadefesa implacável da propriedade pessoal (art." g77e art.o 425), ou os que são baseados sobre uma aberta

15

t l i scr imin: rç i ro r las mulhdres (ar t .o i9z e ar t .o 322 ,

ou aincla os que clemonstrzìm Llma concepção t ipica-

rnente burgueszr d : r farn í l ia (ar t .u +oo, ar t .o 4or e

r Ì r 1 . . " 356 , $ ún i co ) , e t c .

Em geral o Código Penal, promulgado há mais

rle ceff l anos em Portugal, ref lecte os princípios

mora is e jur íd icos da c lasse então no poder , uma

burguesia lat i funcl iár ia e clerical, uma das burguesias

lnzris zrtras:rclas cla Europa.

\,{uitos art igos foram revogados depois do z5 de

Abri l em Portugal, mas não o foram formalmente

er-n Moc:rmbique.

\ ião é então um problema abstracto, um sofisma

cle jur is tzrs , ter á Ì preocupação de como.se rea l iza o

conteúrlo clo zìrt .o Tg cla Consti tuição.

Interpretando qu:rnto é af irmaclo na própria Cons-

t i tuiçâo e n:r Lei <1e Orgzr.nização Judiciária, é pos-

sír 'el fazer hipóteses e deduções.

Por força clos art igos Zo, Zr e ZS da Consti tuição,

carla ' l -r ibunal

Popular de Distr i to ou de Província

(não cle Local iclacle oncle os cri térios não são os da

estr i t :r leq'al iclacle, mas clo bom senso e da just iça)

por le ju lezr r , por sua . in ic ia t iva ou a pedido do

Min is tér io Públ ico, qL ie uma norma se ja ant i -cons-

t i tucional e não apl icá-la no caso concreto. E então

chegar à decisão do processo como se aquela norma

rrão exist isse no orclenamento jurídico e, referindo-se

aos pr inc íp ios gera is , co lmatar a lacuna.

N'[as isso não signif ica revo5lar uma norma jurí-

t l iczr: naquele caso em que era apl icável, o Tribunal

porle clecicl ir não apl icá-la sem dar algum juizo defi-

nit ivo sobre a suÍì existência ou sobrevivência no

orden: rmento jur íc l ico .

I lm surnzr, zì horma não apl icada continua a exis-

t ir e em czÌso concreto os Tribunais têm que pronun-

cizrr-se sobre' zr consti tucional iclacle.

Será o juizo clos Tribunais uniforme!)

Ou mais poss ive lmente, haverá casos em que a

lÌ lesrì láÌ nornlzÌ será julgnda em harmonia e casos

em que será julgacla em oposição corrì os princípios

const i tuc ionais '?

Tuclo ' isso

com certeza não vai contr ibuir para uÌ

uniformiclzrcle de jurisprudência que é r lesejacla pela

I-ei r le Orqzrnizaçâo Judiciárier.

. \ outrzr :r l ternzrt iva é zr cle considerar como órgão

competente o Tribunal Popular Supremo.

IÌn-rbor:r esta competência não esteja expl ici ta-

rrrente f ixacla pela Lei rzf 78, pocle-se talvez deduzir

r las zr l íne: rs a) e f ) c lo ar t .o 18 c la mesma Lei .(ìonrpete zÌo Tribunal Popular Supremo uunifor-

miz:tr zr jur isprudêncizr,, : isso poi le signif icar tarnbém

pronuncizrr-se sobre questões controvert idas cle

const i tuc ional i t la r le .

Compete : r inc l : r ao 'Tr ibunal Popular Supremo

: tnu l : r r Í Ìs sentencas ,<mani festamente in ius tas ou

l 6

i lega is , , : uma sentença pode ser in jus ta ou i lega l

por razões r le d i re i to , quando é consequênc ia da

:rpl icac;ão de ulnÍÌ norma injusta ou i legal, nomea-

rl :rmt:nte <le uma nortrìa zrnt i-consti tucional.

Se, por força clas suas'funções inst i tucionais, atr i-

buirrros ao Tribunal Popular Supremo esta compe-

tência, fica ern aberto o problen-ra de como se pro-

cess?Ì urn juizo de consti tucional idade.

L. Ì rna so lução possíve l é a seguin te :

Quanclo num processo (quer penal, quer civi l) está

enì jn.gn :Ì apl iczrção cluma norma cuja legal iclade

consti tucionzrl pareça duviclosa, pode o Tribunal

clzrquelzr instâncier suspender o processo à espera

rluma pronúncizr clo Tribunal Supremo.

.\ questâo r lzr consti tucional idade pocle ser levan-

tzrc la pe lzrs par tes, ou pe los própr ios ju ízes; c le qual -

quer m:rne i ra sempre o Tr ibunal no seu conjunto

<leve pronunciar-se sobre o fundamento cla questão

e aval iar se está correcta e razoavelmente posta.

Isso perrer evitar que a questão de consti tucionzr-

l idac le e a subsequente suspensão de processo se

tornem meios di latórios ou meros expecl ientes pro-

cessu i r i s .

I ìst i t parece ser uma solução ra,zo' l lel dentro clos

princípios orientzrclores da Lei cle C)rganização Judi-c i á r i : r .

Cclrn efeito o 1-r ibunal Popular Supremo, enqu:rnto

órgiro máximo <la função judicial, reune todas as

qualiclacles r le competência técnico-jurícl ica s de capa-

ciclade polít ica necessárias para julgar questões tão

irnportantes como revogar definit ivamente uma nor-

rrìA cle cl ireito posit ivo.

É uma h ipótese de so lução. Outras podem ex is t i r

parzÌ resolver o problema apresentaclo, tenclo em

conta que o art.o Zg da Consti tuição corresponcle

a um: Ì esco lha correcta e rea l is ta : percorrer uma v ia

cle transição graclual no domínio clas leis, não ariabar

tle unl clia parzÌ outro com a legislação er-Ìr vigor

:rntes <la Inclepenclênci:r, não construir <ie forma

:rbstr ircta urx novo conjunto <ie leis, mers sim ecl i f icar

áì nova legal iclacle com base nzr prát ica concreta clos

Tr ibunais Populz t res.

Nzlas, neste processo cle transição, é preciso pro-

cLlrzÌr instrumentos idóneos para afastar clef init iva-

mente :rquelas norrrìzrs que repugnam a consciência

rlos cir lar lãos e estão completzrmente ultrapassadas

pelzr no\ ' Í Ì real iclade clas relações sociais na Repú-

b l ica Popular c le Moçambique.

Neste sentido o nosso Ministério está a elaborar

zÌ preparação cle um Código Penal (expurgado)) de

tocl:rs áÌs norl l l?Ìs nranifestarnente contrárias à Cons-

t i tuiç:âo ou tacitzrmente revogzrdars pelzr nova legis-

lacâo cla R. P. NI. Este trabzrlho consti tue o primeiro

passo ate à elaboração de ulrì Projecto cle novo

código Penal '

r 'naNcpscA DAGNIN'

..t{

Ì

,IAHSPRADEilCIA. - \corc l : rnr , enr conferêncizt , os ju izes c lzt ; . " Secção

( l r i n r i n l r l r l o T r ibuna l Popu lz r r P ro r r i nc ia l r l e Mapu to :

- () t l igno Nlzrgistraclo clo Ministério Público

junto < leste ' l ' r ibunal

z Ìcuszt o réu HERCLTLANO

l)ANl l ì I - NO\ 'E l ,A. casurc lo . z rux i l ia r de Ac lmin is-

tr irç:ão de :.u cl irsse t lo Hospit i t l Gcrzrl cla Mztchavzr,

r lc 22 :uros cle ir l :rcle, f i lho cle l)aniel Tovela e de

. \ rnr inr l : r Sarú l , nzr turzr l t le Zayzt la - InhzÌn lbane e

res i r ler - r te no l ìz r i r ro l -u is Clabrzr l cé lu la . ,E, , como

:ru tor r lc um cr ìme c ie desv io c le fundos do Estado.

p re r - i s t o c pun ido pe l zL I - e i n .o r l 79 , a r t . o r . o n .o r t

: r1 ínc: i c ) , co l Ì l i Ì e tgrzr r ' : tn te 2+.o < lo ar t .o 3r1. " c lo

Cór l i go Pena l ,

Porcluzrnto r lostrzrm os ztutos que :

- - ( ) z r rgu i< lo , senr lo rcsponsável d i recto pe l : r

cobrurncr r t lc rece i t r rs fe i tas r - ro Hospi ta l ( ie ra l c l : r

ì , [ :rch:Lr ' :r no períoclo clue nreclei:r entre Jzrneiro clci

r c )7c ) c Jane i ro < le r98o , com: r i n tenção c l o l osz t t l t '

1 ' r " rg i r - i ro cont ro lc < lestzr pc l : r rcspcct i r ' :L escr i turz tc- ro .

r i t . ' i l r r r t l o l r r l i l ' i c i os : r r t t t ' u1 r ' t l oc ru r t cn tos c c ' x t r : t v i l t n t l o

out ros, f r i ruc lu ìentz t t r rc t r te fo i subt rz t inc lo va lores : t ( , )

l ì s1 l r r ì o , < l i s so r cs i i | 1 l r r r t l o t ' s t c l ' i c i r r l e r s : r t l o cn ì

r l+ .+o. ) , . - )o I { l ' (cento c t r in t : r e quzr t ro rn i l c quzr -

t rocentos nret ic : r is ) , in rpor tânc i : r es ta que o argu ic lo

g:rstor-r (ìr Ìr seLl prclveito próprio.

( lorn cs tcs l 'unr l i rnrentos l 'o i o reL l pronunc i i tc lo .

l l : rn tcnc lo-se r 'á l i t lo o processo e regr , r l : r r : r ins tânc ia ,

fo i subnrc t ' i r lo zr ju lg : rnrcnto que se rea l izot t con l

i r r t t ' i r : r obsc ' r r â l r t - ' i ; r r l i r s l ' o r rn : r l i t l z r t l c s l eg : r i s ,

( ) r r !u r lc fenr lcu-sc pe la contest r rção escr i ta , á Ì l l re -

scnt : r t la pe lo seu t le fcnsc l r o f ic ioso, e pe lars c lec lz t ra-

r , 'ões quc qu is prestzLr , nas qu: t is , e e ìn ì substânc ia ,

confesson : t prá t ic i r c lo cr inre .

' fu< lo v is to , cL l l Ì lp r t : aprcc i : r r e r lec ic l i r .

Ì ) l r r l i scr - rssão r l :L cáÌusáÌ , resn l tou pror . i rda i r se-

gu in te ' rn i r tér iz r t le farc to :

- l inr . f . .Lneiro cle r97L) o réu foi colocado na

Secret:rr i :r t lo Hospitzr l Ger:r l t l : r Mzrchar-:r como

r t rx i l i z r r t lz r - \ r ln - r i r r is t rercão (1 t : 2 . " c larsse; Fo i - lhe a t r i -

buída a tarefar de efectuar a cobrança das receitas

arrecaclzrclers pelos centros e postos de saúcle depen-

clentes claquela unidade hospitalar; no desempenho

desszr act ividade, cabia-lhe receber o dinheiro e pas-

sar os respectivos talões cle recibo em tr ipl icado. -

clest inando-se o original ao centro ou posto r le serúde

que fzrzizr a entrega da receita, o clupl icaclo aos ser-

v icos t le f inzrnczrs ( juntzr r rente com : ì re l : rcão mo-

clelolts) e o tr ipl icaclo, constante do l ivro cle registos,

: ro : r rgu ic lo r lo própr io Hospi t : r l . Porénr , o réu nem

sempre ass in- t procec leu, confornre se v i r ia z ì 1 Ìpurar . . .

Efectivamente, tendo veri f iczrclo por t l iversrrs vezes

:r cxistêr-rcia r lc irregulzrr icl :rdes nir numerzrcâo clos

rec ibos, o subst i tu to r lo chefe c la Secretar iz r , S imiâo

Mnnhiça, col l leçou .r clescr>nfizrr que algo de :rnormzrl

se passzÌ \ ' i Ì ; ta l suspei ta v i r ia aunrentzr r quzrndo, já

l rc r to i lo f im c lo ano, o réu sc uusentou r le fér ias ,

l ' i c :Lr r r lo zr subst i tu í - lo o seu co lega Franc isco L isboa

- obserr, 'ando-se, entâo, ul11 zrumento substzrncial

r las rcceitzrs, relat i l 'amente aos meses :rnteriores ;

rr confinnaç.ão cl:r cxistência clc clesvios clc r l inheiro

r-rão sc fez esper:rr, pois o referir lo cheÍe cle se:cretarier

cor-rst:rtor-r f i rci lmente'estzr si tu:rção ao colÌ ìpzÌrzÌr os

o; - ig i r rz r is c le : r lguns rec ibos : rss iuet r los pe lo réu com

os rcspect ivos t l r " rp l ic : i t los .

. \ lert lr t l i ts ir-necl izrtanrente zrs cstruturas du t l i recção

r i o . ' c : ; p i t r L l c r l o sec to r c i c S i rh r l e a n í ve l t l a c i c l ade

c t i :L i ' ror ' ínc i : r , t l tc i t l iu -sc l ìon l t :z r r ur ' Ì l i Ì co t t - t issào,

cor- ist i l -uicla por c1u:rtro elcnrcr-rtos conl a tzrref:r r le

rc t l iz ,ar L ln l í r insptcçâo i r cscr i tur : tçâo t l i r contab i l i -

t l ade .

( ) r r su l t z r r l o r l c s t c t r i r l ; l r ' ho cs t r i c l l r r l r n t cn t t ' c x l t os to

ncì re l : r tc l r io junto z Ìos ( ru tos : r f ls . S, senc lo conf i r -

nr : rc lc l pe las t lec l r r racr ics r l t ' to< l : rs Í Ìs pessol rs ouv i< l : rs

l l o l ) r ( ) ce ss ( ) :

- . \ t r z rvés r i : r v i c i : r c :ão rk rs r l up l i cz r t l os r l os rec ibos

ou t l zL sL lz Ì o tn i ss : ìo pu l - : r c s i ; n i t l cs , o r ' r ' t Ì t l esv io r - t

r l o t l es t i no lega l , t l u rz tn te to t l o o á Ì r - ìo r l e 1979 , Í Ì

i rnportâr-rc ia tota l r le r - ì+.- looioo NÍT (cer-r to c t r int : t

qua t l -o n r i l c qu r r t i ' occn t t - r s me t i cz t i s ) , quc t l cve r ia rn

ter < lzrc lo cntr : rc l : r 1ìos coÍ ' res t lo Est : r t lo.

I l s te f z rc to fo i , u l i ás , con f i rn r : t r l o pe lo p ró ; r r i o reu ,

que ac l rn i t i u te r u t i l i z : i r l o t : t l t non tzu l te cm se r - r p róp r io

prr l r . 'e i to, gast i rnt lo-o n: t col ì lpr [ ì t lc- roupl t , < lc L l l l l

,3 ' r : r r ' : r r lor c respect ivzr colnnir , en.r v iztgens que re: t -

l i zou a te r r i r r l : t su : t n i t t u r r t l i t l z t t l e c e l l t oL l t ros f tns .

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l .I.il ii

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i i1 Ì

l íl ,rt áta,-'

t7

Igualmente se provou na audiência de julgamento

ter o réu clesencaminhado o l ivro de registo dos

recibos, referente ao' mesmo ano cle 1929, que se

encontra à suzr guzrrcla e conservação.

De facto, quando procecl izr à investigaçâo clos ori-

g ina is er r lup l icac los r los rec ibos emi t idos pe lo réu,

o subst i tu to r lo chefe c la secretar ia , S imão Mzrnhiça,

pecl iu-lhe que erpresentasse o l ivro r le registo que

continheL os tr ipl icados e o réu zÌpenas lhe fez a

entrcga <le uma folh:r, arrerncadzr desse l ivro, af ir-

manrlo que o l ivro propriamente dito clesaperrecera

rur is ter iosamente. . .

()ru, () réu erÍì o írnico f 'uncionário encarregaclo

r l i r cobr : r r rç : r < las rece i tas e , consequentemente, só

ele tr:r ir :r lhzrv:r corl ' Ì l ìquele l i r ro, exceptuanclo, claro

está, o curto períoclo ei-Ì l quc estcvc r le férias ar foi

subs t i t u í r l o p l k r l i r ; r n t . i s co L i sboa . ( l r r b i : r f l he , : Lss i r n .

lu t i l i zar o l iv ro , a ; r ru ivá- lo r lepo is < le conc lu ic lo e

l rpresentá- lo c1n: rnr lo so l ic i t r rc lo .

Ni .o i ro . ; p : r rec, l , po is ,

n l rcc i ' r o seu p: r r : rc le i ro ,

t i f i cu t i v c l s .

: rce i távc l quc l f i rme r lesco-

senl Í ìpresent:rr motivos jus-

ì+

l ' l r ;s t r : rnr - : ; : , r rss in- r , in te i ramente proverc los os fun-

tlzrnrcr-rtcl:.; clzr :tcusi,tção.

Conr :r sLlÍr concluta, prat icou o réu, em acumu-

lação reir l , Lln-r cr i l -r ' re cle desvio de fundos cle Estaclo,

prev is to e punido pe lo ar t .o r . " , i l .o r , er l inea. c) , c la

[ -e i n .o t l7g, de r r de Janei ro ; L l rn cr ime c le fa ls i f i -

cetcão, previsto c puniclo nos termos das cl isposições

conjueadas c los Ar t .o ' 2rg} e zr8 .o n .o 5 do Código

Penal; e um crime cle descerminho de documentos,

prev is to e punido pe lo ar t ,o 3r r .o c lo mesmo Código.

.\o efectuar ester qual i f icação juridica dos factgs,

ter -e o Tr ibunal em cons ideração o c l isposto no ar t .o

++7." r lo Cticl igo clo Processo Penal.

\ es l es t e r l nos :

- Consi( ler:rnclo qLre o réu manifcstou,, coln a sua

conclutzr Lurì profunclo cìesprezo pelo patr imónio do

Estzrclo l 'opular, o qual todos os ciclaclãos têm o

r lever r le respei tar ;

18

- Consicleranclo que o réu se serviu abusivamente

<ler sua qualiclacle cle trabalhaclor da F'unção Pública

para praticztr os crimes (circunstância agravante,

prev is t : r no n .o z4 do ar t .o 3q.o r lo Cóc l igo Penal ) .

.- Consi( lerarnclo ainda que o réu é clel inquente

prirnário, confessou zr, prát ica dos crimes e mostra-se

:rrrerpencl ido, tenclo manifestado expontaneamente a

sua intençãro cle repôr a importância desviada;

- Os Juízes cla 5." Secçáo Criminal do Tribunal

Popular Provincierl c ' le M:rputo, ,em nome da Repú-

bl ica Pupular cle Moçambique, condenam o réu

HERC'ULANO DANIEL NOVtrLA nas seguin tes

penas parce lares:

,- Pelo crime de desvio cle fundos clo ,Estado. na

pena de 4 (quat ro) anos de pr isão maior e 3 ( t rês)

nìeses de rnultzr, à taxa diárier de 6o,oo MT;

- Pelo crime cle clescaminho cle documentos. na

pcn: r r lc z (c1oìs) anos c le pr isão maior ;

-_ r)1' ls cr inre <le falsi f icerção, na pena de 6 (seis)

n'Ìcses clc prisão correccional e Llm mês de multa

L razào t le 6o,oo NI1- por dia.

[)roceclcnclo :ro cún-rulo juridico das penas, nos

termos c lo r r r t .o Lo2.o, n .o* r , 2 e { i r .o do Código

Penal, \ 'enr o réu conclenaclo na pena unitária de .. .

; ( c i nco ) anos de p r i são ma io r e . . . .

- + (quatro) meses de multa à taxa diária de

6o,oo NIT. Vai ainda condenado na indemnização

cle r34.4oo,oo MT (cento e tr inta e quatro mil e

quatrocentos meticais) a favor do Estado.

F ixam no mín imo o imposto de Just iça e em

qooloo NIT os eurolumenntos a favor clo defensor of i-

c ioso.

Itassem-se manclados de conclução do réu à cadeia.

Env iem-se bo le t ins ao Regis to Cr imina l .

Not i f ique-se.

Maputo, ' :ros 27 cle Agosto cie r98o.

Ass inac lo : João Car los Tr indade, Cecí l ia V i lancu-

los, Arminclo Saela N' lassema, Adelaide

Matsombe.

de

Proc. 19.992 V. S. Acórdão de 8/l0ll97g

Sumário: uTraduz veemente int imidação, como ele-

mento constitutivo do delito de violação,

o facto de alguém, invocando poderes

de curar, conseguir relações sexuais,

desig'nadamente fazendo cier que os

tratamentos rninistrados, não sendo

acompanhados daquelas relações, seriam

inúteis ou até desastrosos, na medida

em que não levariam a obtenção da

saúde, podendo até causar a morte. Na

circunstância, o Réu intitulara-se (evan-

gel ista zioner.

Acordam em conferência, no Tribunal da Relação

de Maputo:

FLORÊNCIO MACANDANE SIMBINE, ident i -

ficado nos autos, foi pronunciado e julgado em

processo de querela, no Tribunal da ent:io Comarca

de Gaza, como autor do crime de estupro previsto

e punido pelo art.o 3gz do Código Penal, na pessoa

nascida

em 196z, com o concurso das circunstâncias ag:ra-

vantes r.", 2.n, r6.t e e8.o do art.o 34 do mesmo

tliploma, tendo sido condenado na pena de dois anos

de prisão maior, com S ooo$oo de indemnização à

ofendida, zoo$oo a favor do defensor oficioso e no

mínimo de imposto de just iça.

O Digno Agente do Ministério Público interpôs

recurso, no cumprimento de instruções superiores,

e nas alegações afirrna-se concordante com a douta

sentença (porquanto nela se faz criteriosa apreciação

da leir, terminando por pedir a sua confirmação.

O Réu não contra-alegou.

Subido o recurso, o Exmo. Procurador da Repú-

blica emitiu o seu criterioso parecer a fls. 68 e 69dos autos, onde discorda da qualificação jurÍdica.

No seu entender estaríamos perante um crime deviolação por não ter sido verificada a <sedução>

que é elemento indispensável para preencher a tipi-

cidade do crime previsto no art.o 3gz do CódigoPenal. Tratar-se-ia antes de urn crime de violação

sob a forma continuada, não beneficiando o Réu

de quaisquer atenuantes, dado que desde há muitotempo se dedica ao exereício ilegal da medicina enão tem confessado prontamente o crime.

r\gravam as circunstâncias 5.. (ameaças), e 28. '(superioridade em razâo da idade) do art.o 34 doCódigo Penal.

Termina referindo que a pena aplicada se mostra

excessivamente leve, devendo não ser inferior a três

anos de prisão maior.

Requereu ainda se extraíssem fotocópias de fls. 9e 9v. e rrv., 12 e r2v. a serem enviadas ao Digno

Agente do Ministério Público do então Tribunal da

Comarca de Gaza, para instrução do proceclimento

criminal por exercÍcio ilegal da medicina dado que

na sentença em apreço se debruça exclusivamente

sob o outro crime.

Para os efeitos inclicaclos foram extraldos e entre-gues as referidas fotocópias. O Réu notificado nos

termos e para os efeitos do estabelecido no art.o 667

n.o 2 do Código do Processo Penal, não apresentou

resposta.

Tudo visto e ponderado:

Em noite não determinada do mês de Agosto der9ZZ, o Réu, em sua casa, manteve relações sexuais

com - que era então menor cler5 anos. A ofendida não queria manter relaçõessexuais e o Réu, valendo-se do ascendente queganhara sobre ela, quer por invocar a sua pretensaqualidade de nevangelista zioner, quer por se arro-gar a qualidade de saber curar pessoas, conseguiumanter relações sexuais, fazendo-lhe crer 9üe, senão aceitasse ser sua mulher, não sC; o tratamento,que lhe andava a ministrar, não daria bons resul-tados, como até podia provocar-lhe a morte. Nosdias imediatos ainda mantiveram relações por maisquatro vezes, sempre contra a vontade da ofendida.

Do auto de exame de f ls. 5 consta que a ofendidaestava desflorada, mas não se prova que tenha sidoo Réu o autor do clesfloramento.

Por outro lado, o vencer a vontade da ofendidafazendo-lhe crer que os <tratamentos> que lhe minis-trava não só não dariam resultado, como podiamaté causar-lhe a morte, caso não aceitassse ser suanrulher, isso integra o conceito jurídico de veementeintimidação que exclui a sedução. Logo o acto pra-ticado pelo Réu não está tipificado no art.o 3gz doCódigo Penal como consta da sentença.

Verif ica-se agravante 19 (noite), pois que natu-ralmente facilitou o alcance do objectivo do Réu.Irnprocede ag'ravante z8 (superioridade em razão daidade e do sexo) por serem elementos constitutivosdo tipo legal.

Não está provada a premeditação. (agravante r.").As ameaças proferidas porque integram o conceito

de veemente intimidação, que por sua vez é elementotípico do crime, não podcrão ser consicleradas isola-damente como agravante (S..).

19

Está provado que a ofendida recebia <tratamen-

tosD em casa do Reu e este, ao cometer o crime

em sua casa, atraiçoou a confiança que a ofendida

e os seus familiares nele clepositavam (agravante

r 6 . u ) .

Provado está que o crime foi cometido sob forma

continuada pois que violou por S vezes o mesmo

preceito incriminador, dentro de um espaço de tempo

curto, sendo a vít ima a mesma e o designio criminoso

o mesmo. Não é de considerar a atenuante do bom

comportamento anterior em virtude de ter f icado

provado que desde há muito vinha o Réu exercendo

ilegalmente a medicina, veri f icou-se no entanto a

falta cle antececlentes judiciários. O Réu nas suas

cleclarações a fls. 9 referiu tão somente que ulevou,

a ofendida a manter relações sexuais consigo, ocul-

tando a veemente int imidação empregue que é ele-

mento integrador do t ipo legal do crime cometido;

no entanto sempre o Réu confessa uma actividade

criminosa.

Por isso, só parcialmente beneficia da atenuante

9.u do art.o 39 clo Código Penal.

Nestes termos:

Acordam em julgar o Réu FLORÊNCIO MA-

CANDAÌ{E SIMBINE autor material do crime de

violação previsto e punido pelo art.o 393 do Código

Penal e, em nome da República Popular de Moçam-

bique elevam a pena para três anos e seis meses de

prisão maior e a indemnização para quinze mil es-

cudos, confirmando no mais a douta sentença em

recurso.

Imposto nesta instância - 4 ooo$oo.

Assinado: Victor Manuel Serraventoso JoãoManuel Mart ins Alberto Lopes de

Freitas (vencido, entendo que o crime

praticado foi o de atentado ao pudor

do art.o 39r do Código Penal; não con-

cordo com a elevação de indemnização

nem com a f ixação de imposto de just iça

nesta instância, por não haver lügar a

ele, em vista de o Réu não ter recor-

r ido ) .

Maputo, 8 cle Outubro de ry79.

Pros. 20.235 L. R. Acórdão de 3l ll2l7g

Sumário: <<É nula a sentença que, ao apreciar a ma-

téria de facto, se expressa numa remissão

indirecta para os factos constantes da

acusaçâo. Na verdade, a sentença deve

apreciar especificadamente os factos, jul-

gando-os provados e dist inguindo os que

são circunstâncias agravativas ou ate-

nuat ivas r .

Acordam em conferência no Tribunal Superior de

Recurso.

- ' \NTóNIO F IN IASSE, so l t e i r o , de 19 anos

de idade, motorista, natural de Inhambane,

residente à clata da prisão em Maputo, no

Quartel do Batalhão de Rádio Técnica.- Foi juleado e conclenado na z. ' Secção Cri-

minal <lo Tribunal Popular Provincial cle

Maputo na pena de 6 meses de prisão e 6

Ineses de multa a 5o$oo diários, na multa de

z ooo$oo e z5 ooo$oo de indernnização a

cada uma das vít imaS, 3 ooo$oo de imposto

rle just iça e zoo$oo ao defensor of icioso,

como autor do crime de homicídio involun-

tzir io previsto e punido nos termos do art.o

59 b) do Código da Est rada e a inda das

cont ravenções aos ar t igos 7 n .o r e n .o ro

clo mesmo diploma legal.- I ioi- lhe clccretacla inibição da faculdade de

conduzir por 3 meses, nos termos do art.o 6r

r. Ì .0 "

b) do Código da Estrada.

- Intcrposto rccurso por imperativo hierár-

quico, nele o Digno Agente do Ministério

PÍrbl ico conclui sol ici tando a confirmação da

sentença, por f .azer cri ter iosa apreciação dos

factos e correcta apl icação da lei.

- \s5f i1 instância o Exmo. Procurador da Re-

pública ofereceu o merecimento clos autos.

- Suscitacla a questão prévia de não se ter

cumpr ido o d isposto no ar t .o 45o n.o 3 do

C. P. P., foram os autos enviados à confe-

rênc ia ._- Tudo yisto.

Constata-se que na real idade ir. douta sentença em

recurso nâro cl iscrimina os factos que se julgaram

proverclos cl ist inguindo os que consti tuem a acusação

dos que são circunstâncias atenuantes ou ag'ravan-

tes, l imitando-se o Merit íssimo Juiz oa quo, a af\r-

lnar que considera reproduzidos os factos constantes

cla acusação, sendo estes os que foram provados.

Esta acusação constitui aberta violação da dispo-

sição legal que exprirne os requisitos ^ que deve

obedecer a sentença e, etnbora seja compreensível.

que a sobrecarga de serviço leve os Exmos. Juízes

rì preterir algumas formalidades acessórias, a ver-

clade é que os requisitos a que deve obedecer uma

sentença não consti tuem formalidades acessórias,

dado o funclamcntal interesse que se clest inam pro-

teger.

- Nestes terrtos, etnulam a douta decisi io em re-

curso a qual deverá ser substi tuída por outra que

obedeça aos preceitos legais apl icáveis.

- Sem custas.

Ass inados: Laura Rodr igues - V ic tor Manuel

Serraventoso - João Manuel Mart ins.

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